Disco de Freio Artigo PDF
Disco de Freio Artigo PDF
Disco de Freio Artigo PDF
históricos e tecnológicos
Omar Maluf Dirceu Spinelli
Doutor em Engenharia de Materiais - USP Pós-Doutorado - University of Sheffield, SHEFFIELD, Inglaterra
e-mail: omarramo@sc.usp.br Professor da Escola de Engenharia de São Carlos - USP
e-mail: dspinell@sc.usp.br
Mauricio Angeloni
Doutorando em Engenharia de Materiais - USP Waldek Wladimir Bose Filho
e-mail: mauricio_angeloni@yahoo.com.br Pós-Doutorado - University Of Tennessee At Knoxville, U.T.K*,
Estados Unidos
Alan Rodrigo Gualberto Professor da Escola de Engenharia de São Carlos - USP
Mestrando Engenharia de Materiais - USP e-mail: wladek@sc.usp.br
Professor do Centro Universitário Anhanguera - Unidade
Pirassununga
e-mail: alan@cdcc.sc.usp.br
Resumo
No final do século XIX surgiu a necessidade da criação de sistemas de frenagem para os recém inventados veículos
automotivos. A partir de então, e durante o século XX, deu-se o desenvolvimento destes aparatos que utilizam diversos
componentes, dentre eles, o disco de freio. Foi após o início da segunda guerra mundial, em 1938, que o avanço tecnológico dos
sistemas de freio, em termos de projetos e materiais, ganhou grande impulso devido à demanda da indústria aeronáutica.
Historicamente, o primeiro material usado na fabricação dos discos de freio foi o ferro fundido cinzento que é um material
adequado às características que se exige para o fim a que se destina, ou seja: boa condutividade térmica; boa resistência à
corrosão; baixo ruído; baixo peso; longa durabilidade; atrito estável; baixa taxa de desgaste e boa relação custo/benefício. A partir
daí e ao longo de mais de cem anos foram desenvolvidos um grande número de materiais para este fim, mas o que ainda continua
sendo o mais usado é o ferro fundido cinzento que é barato e fácil de produzir. Atualmente muita ênfase tem sido dada ao estudo
da resistência à fadiga das ligas de ferro fundido cinzento através de modelamentos, com o intuito aumentar a vida útil do
componente. Embora este tipo de análise apresente resultados significativos, existe a necessidade de trabalhos experimentais que
os validem, ou seja, há necessidade do componente ser estudado sob condições reais e não apenas virtuais.
Introdução
144
de Londres Î 1930; nos automóveis hoje em dia.
• Resina flexível desenvolvida com elementos A geometria, a dimensão e a composição química
aglutinantes de formulação mais complexa Î dos freios afetam o fluxo de calor, a durabilidade, as
reforço de freios a tambor Î 1930; características de ruídos e a facilidade de manutenção
• Metal ligado com resina Î aplicação na indústria afetam o desempenho dos dois tipos principais de
de aeronaves Î 1950; sistemas de freios existentes, a tambor e a disco.
• Fibras de vidro, de minerais, metálicas, de Comparados com os sistemas de freios a tambor,
carbono e, também sintéticas para dar aos semi- os sistemas de freio a disco tem resistência superior ao
metais desempenho melhor que o dos amiantos desgaste e são de manutenção mais fácil, principalmente
(inicio da discussão sobre a segurança do amianto) em função de sua geometria (HALDERMAN,
Î automóveis e caminhões Î 1960; MITCHELL, 2000). Dentre os vários componentes dos
• Compostos sem amianto Î freios a tambor e sistemas de freio este estudo deverá ater-se somente ao
equipamentos para o carro Î 1980; disco e sua evolução nas ultimas décadas. Para o leitor
• Sugestão do uso de fibra de carbono Î freios interessado em um conhecimento mais profundo dos
automotivos Î 1991. sistemas de frenagem automotiva como um todo,
recomenda-se o livro de Halderman and Mitchell (2000).
É desnecessário dizer que os projetos dos
primeiros freios de Lanchester e Sperry (1995) foram Discos de Freio
substancialmente modificados durante o século XX, em
particular, quanto aos materiais usados e métodos de Composição Química
atuação que foram sendo melhorados. Até o início da
segunda guerra mundial, em 1938, o desenvolvimento Como já visto, as duas principais funções de um
dos sistemas de frenagem ocorreu de maneira lenta e disco de freio são a transmissão de uma considerável
gradual. A partir de então, de acordo com Harper (1998) força mecânica e a dissipação do calor produzido na
houve um rápido e consistente avanço motivado pela operação. Para carros de passeio a temperatura de
demanda da indústria da aviação. Para as aeronaves, trabalho, dependendo da severidade e do número de
foram desenvolvidos discos de freio do tipo-embreagem frenagens, pode estar situada entre a temperatura
(clutch-type), onde o contato, das pastilhas com o disco, ambiente e, em alguns casos até 700º C. Esta grande
ocorria em uma região anular, que se estendia sobre a faixa acaba por gerar altos gradientes de temperatura
maior parte da região angular do disco e este contato é no disco, o que ocasiona problemas de fadiga térmica.
o que gerava o atrito. O conceito é diferente do usado, No entanto, o componente também está sujeito à ação
atualmente, nos discos de freio tipo-ponto (spot-type) de uma carga mecânica cíclica aplicada pela pastilha
de veículos de passeio onde à região de contato ocorre durante a frenagem, contribuindo para o desgaste do
na região média superior do disco. mesmo. Portanto, em condições reais de trabalho o disco
Idealmente, os materiais a serem utilizados em está sujeito a uma solicitação de fadiga termomecânica
sistemas de frenagem devem atender as seguintes e não apenas térmica (MACKIN, 2002).
exigências: boa condutividade térmica; boa resistência à De um ponto de vista teórico, vários materiais
corrosão; baixo ruído; baixo peso; longa durabilidade; seriam capazes de atender a solicitação. No entanto,
atrito estável; baixa taxa de desgaste e boa relação custo/ por razões de melhor estabilidade de comportamento,
benefício. custo da matéria prima e facilidade comparativa de
Para atender as propriedades requeridas, muitas produção, o ferro fundido é um material muito usado
vezes é necessário combinar muitos materiais com (BREMBO).
diversas formas e dimensões. Hoje em dia, existem mais Usam-se outros tipos de materiais para frenagens
de 2000 tipos de materiais diferentes que são usados a partir de altas solicitações em que o componente é
em componentes de freio comerciais (WEINTRAUB, submetido a altíssimas temperaturas. Por exemplo,
1998). materiais compósitos com matriz de carbono são
A evolução dos discos de freio do tipo-ponto empregados na produção de discos de freio para carros
(spot-type) em automóveis pode ser traçada pelo de competição e aeronaves. Apresentam excelentes
desenvolvimento da Corporação Dunlop, Girdling, e desempenho a quente, mas o custo de fabricação e a
Lockheed em 1950 (HARPER, 1998; NEWCOMB, forma de utilização os inviabiliza para uso em veículos
1969), cujos discos eram muito similares àqueles usados automotivos comuns. Outro exemplo são os discos de
145
freio de ferro fundido com adição de titânio, elemento ferros fundidos cinzentos, com ou sem adição de
que aumenta a resistência do componente, mas diminui elementos químicos, conforme pode ser observado na
o valor do coeficiente de atrito, o que pode ser um grande Tabela 1.
problema quando se tem uma curta distância de
frenagem. A Figura 3 ilustra a queda no coeficiente de
atrito com o aumento na porcentagem de titânio no disco
(BREMBO).
147
Resistência à Abrasão
A dependência linear era esperada, pois aumentar
o percentual de C ou CE é a maneira mais rápida de O valor da difusividade da fase ferrita é maior que
melhorar a grafitização no ferro fundido cinzento. Em o da microestrutura perlítica. Desta maneira, com o que
amostras de disco de freio acorreu um aumento de 25% já foi visto, se poderia concluir que a melhor liga de ferro
na difusividade com um aumento de 0,40% no CE fundido para a produção de discos de freio seria uma de
(JIMBO ET AL., 1990; JIMBO ET AL., 1996; cinzento que apresentasse veios de grafita mais longos
YAMADA, KURIKUMA, 1998). sobre uma matriz ferrítica. Isto não é verdade, pois além
A taxa de solidificação influi na morfologia dos do tipo da matriz influenciar pouco o processo de
veios de grafita, portanto diferentes configurações nos difusividade (FITZGEORGE, POPE, 1959; OMEROD,
moldes de fundição, tais como número de machos, tipo 1978), o disco tem que apresentar uma boa resistência
de areia de moldagem e processo ou novo projeto do mecânica, principalmente à abrasão. Por esse motivo a
componente pode resultar em modificação, ainda que maioria dos discos de freio usados nos chamados carros
pequena, na morfologia dos veios de grafita. de passeio é produzida com ferros fundidos cuja
Sabendo como a morfologia da grafita influi na microestrutura apresenta veios de grafita sobre matriz
transferência de calor, pode-se avaliar como uma variação perlítica. A perlita por ser composta de lamelas da fase
de processo durante a fundição dos discos pode alterar ferrita intercaladas com lamelas da fase cementita
seus desempenhos, pois como já foi visto uma (Fe3C), muito dura, é um microconstituinte que confere
propriedade tridimensional importante para a à matriz maior dureza e ao componente, por
transferência de calor é a relação área superficial da conseqüência, maior resistência mecânica
grafita/volume. Hoje em dia existem programas de (FITZGEORGE, POPE, 1959; OMEROD, 1978).
computador, que através da analise de imagens Para evitar que componentes produzidos a partir
bidimensionais são capazes de medir os parâmetros de ligas de ferro fundido cinzento, com composições
morfológicos dos veios de grafita, dividindo o perímetro químicas idênticas, apresentem propriedades mecânicas
(P) pela área (A) por ele encerrada, como pode ser visto diferentes é necessário que a taxa de solidificação seja a
na Figura 8. Sabe-se, também, que quanto maior o mesma, de forma que não se altere a microestrutura.
comprimento dos veios, maior a difusividade e a Para tanto os parâmetros de moldagem, fusão e
condutividade. (JIMBO ET AL., 1996; PALMER, vazamento devem ser rigorosamente controlados a cada
BCIRA, 1960). nova produção.
Caso as composições químicas venham a ser
alteradas, através da adição de elementos de liga, alterar-
se-ão as propriedades mecânicas. Resumindo, para se
alterar as propriedades mecânicas dois fatores são de
vital importância: velocidade de resfriamento e
composição química.
Apesar de ser possível produzir ferros fundidos
148
de boa qualidade, sem adição de elementos de liga, revestimento e do disco, sugerindo que o disco foi
apenas controlando com rigor o carbono, livre e quimicamente ativado com o revestimento durante a
combinado; os teores de silício e manganês e a técnica frenagem.
de fabricação são usuais a adição de elementos de liga Libsch e Rhee (1979) relataram os efeitos da
para a obtenção não só de maiores resistências com o variação na composição química sobre o desgaste do
carbono equivalente mais elevado, como também porque disco. Mostraram que pequenas mudanças no nível dos
as microestruturas resultantes são menos susceptíveis à elementos de liga mudaram o nível de desgaste do
variação da espessura das peças. Praticamente todos revestimento e do disco.
os elementos de liga tendem a aumentar a resistência à Anderson (1992) relatou que veios de grafita finos
tração e a dureza, sendo os mais eficientes, nesse sentido, reduzem o desgaste do disco e do revestimento.
para o ferro fundido cinzento, o manganês, o vanádio, o Zhang et al. (1993) estudaram as propriedades
molibdênio, o cromo e o cobre. O Mn promove a tribológicas do ferro fundido em termos da concentração
formação de microestrutura perlítica, aumentando a de fósforo e morfologia da grafita e observaram que um
resistência mecânica e a dureza; o V é forte formador ferro fundido contendo fósforo e com morfologia da
de perlita e refinador de grafita; o Mo aumenta a grafita compacta (vermicular), apresentou alto coeficiente
resistência mecânica a quente, à fluência e à corrosão; o de atrito e baixa perda de massa por desgaste.
Cr aumenta a resistência à abrasão e à corrosão e o Cu Cho et al. (2003) investigaram as características
é um forte estabilizador da perlita. do ferro fundido cinzento em relação às quantidades de
O efeito de endurecimento provocado por fase, grafita e ferrita, e do micro-constituinte perlita,
elementos de liga em solução sólida na ferrita pode ser controlando a microestrutura, pela variação na quantidade
visto na Tabela 2. (MILAM ET AL., 2004). de carbono (carbono equivalente) e velocidade de
Observa-se que apesar de todos os elementos resfriamento. Eles notaram que a quantidade de ferrita
aumentarem a dureza da liga, aqueles que formam livre e de perlita no disco de ferro cinzento não afeta o
soluções sólidas intersticiais, têm este efeito mais coeficiente de atrito. E mais, observaram um aumento
pronunciado que os substitucionais. do coeficiente de atrito com o aumento percentual da
área de grafita.
Fadiga
153