Resenha Do Filme "Milk: A Voz Da Igualdade"
Resenha Do Filme "Milk: A Voz Da Igualdade"
Resenha Do Filme "Milk: A Voz Da Igualdade"
ATIVIDADE AVALIATIVA
RESENHA DO FILME “MILK: A VOZ DA IGUALDADE”
construção de identidade da comunidade gay de São Francisco (EUA) na década de 70. Nesse
cenário, uma figura de grande importância é Harvey Milk, ativista do movimento gay, que lutava
Antes de chegar à cidade de São Francisco, Milk deixa seu emprego a fim de, junto ao
seu companheiro, abrir uma loja de artigos fotográficos na cidade. Passado um tempo, percebe-se
que aquele espaço figurava uma espécie de gueto onde a comunidade gay poderia se refugiar, haja
vista que, cada vez mais, Milk incorporava as defesas políticas da comunidade. Sempre atuante em
seu distrito e representando um grande número de pessoas, se candidata por três vezes, até que na
última, é eleito supervisor da cidade de São Francisco. Nesse processo de seguidas candidaturas,
algo interessante pode ser visto: Milk precisa de adequar, corta os cabelos, tira a barba, passa a usar
ternos etc. Para acessar um ambiente é preciso, no mínimo, seguir as regras impostas por ele, caso
contrário, você será, como propõe Judith Butler (2000), um “corpo abjeto”.
independente de cargos ou aparência, o lugar de abjeção. O curioso, então, é perceber como, para
sujeitos considerados abjetos, a cobrança pelo reenquadramento se torna uma constante e qualquer
falha na performance soa como indicativo de desvio. E aqui, a performance se mostra como outra
categoria importante. Também muito utilizada por Butler (2017), a performatividade diz respeito à
Harvey Milk serve como exemplo da categoria de performatividade quando, para além
do vestuário, precisa trabalhar toda uma série de elementos que vão ser demonstrativos do gênero
ao qual se identifica e é identificado: a luta é por direitos dos homossexuais, mas os signos da
masculinidades precisam estar presentes para que ele possa ser aceito como político. Esse processo
conceito do que é “ser gay” também vai sendo construído discursivamente, a partir da interação
com outros membros da comunidade homossexual – à época, como mostra o filme, até
participavam das discussões pessoas lésbicas e transsexuais, mas o movimento não se identificava
heteronormativo. Milk, junto dos outros ativistas, estavam, àquela época, definindo o que era
Carole Vance (1995) mostram documentos datados do século XVIII onde os casos de relações
sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram classificadas como uma parafilia genérica e não como
homossexualidade, já que essa categoria não existia. Foram os movimentos por liberdade sexual das
décadas de 60 e 70, tais qual o encabeçado por Harvey Milk, quem construíram a identidade gay o
ainda hoje, causava incômodo. Um corpo homossexual, um corpo abjeto, não poderia estar no
espaço em que ocupava. Inúmeras foram as manifestações de ódio e intolerância contra as pautas
levantadas por Milk que, certo dia, um político conservador o assassinou na Assembleia da cidade.
O desenrolar do assassinato não é mostrado no filme, mas nas cenas onde os dois aparecem em
interação, o incômodo do assassino, Dan White, é visível. A ele, era inconcebível a ideia de Milk ser
gay e ter um cargo político. O discurso sobre a sexualidade produz essas reações porque liga a
orientação sexual ao gênero, criando padrões normativos, e tornando abjetas todas as formas que
destoam dessa regra. Pessoas que têm pênis são homens, logo, devem se relacionar apenas com
pessoas que têm vagina, que devem ser mulheres – o oposto se repete. Sendo assim, esquece-se que
toda essa naturalidade apresenta, na verdade, um forte componente que é mediado socialmente.
Esse esquecimento produz consequências desastrosas na vida daqueles que são marcados pelos
traços da abjeção.
Lugares de exclusão são definidos, profissões são definidas, espaços sociais, e todo um
arcabouço de segregação se forma, para demarcar o lugar dessas pessoas. Quando chega-se a casos
REFERÊNCIAS
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In: LOURO, Guacira
Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p.
151172.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 15 ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro, Edições
Graal, 2016.