Direito Empresarial IV
Direito Empresarial IV
Direito Empresarial IV
Tema I
Notas de Aula1
1. Contrato de comissão
Este contrato é regulado no CC, nos artigos 693 e seguintes, que serão abordados
pontualmente. Trata-se de um contrato muito antigo, já tendo sido presente no Código
Comercial de 1850, vindo agora regulado no CC.
Neste contrato, uma pessoa dá instruções a outra, para que ela realize compra ou
vende de bens no interesse da primeira, mas em nome próprio. Note, então, que é bastante
similar ao contrato de mandato, no qual há esta exata dinâmica de entrega de poderes, mas
no mandato o procurador pratica atos no interesse do mandante, mas também em nome do
mandante, e não em nome próprio, como na comissão – o comissário atua no interesse do
comitente, mas em nome próprio.
Segundo elemento característico da comissão, que o diferencia do mandato, é que
neste segundo o mandante pode conferir ao mandatário poderes para praticar qualquer ato,
enquanto no contrato de comissão os poderes são estritos, para a realização de uma compra
ou de uma venda. O objeto da comissão é exclusivamente a compra ou venda.
Veja o artigo 693 do CC:
“Art. 693. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens
pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente.”
A expressão “à conta do comitente” não significa que este é quem vai pagar pelo
serviço desenvolvido pelo comissário, e sim que os atos de compra ou venda serão
executados à ordem, às instruções do comitente. O comissário faz os atos em seu próprio
nome, em atenção aos interesses do comitente. Por exemplo, a compra ordenada será paga
pelo comissário, e depois reembolsada pelo comitente (a não ser que o contrato estabeleça
um adiantamento de recursos do comitente ao comissário, o que é possível).
Realizadas as operações, de compra ou de venda, o comissário prestará contas de
suas atividades, entregando o que tiver que entregar, e receberá a remuneração contratual
correspondente a seus serviços. Este pagamento, no comum, recebe o próprio nome do
contrato: a remuneração do comissário é também chamada de comissão.
O contrato de comissão, então, forma vínculo jurídico entre duas pessoas, comitente
e comissário. Ocorre que o objeto deste contrato, como visto, é a celebração com terceiros
de contratos de compra e venda, em que o comissário figurará como comprador ou
vendedor. Há duas relações jurídicas distintas, portanto. Firmando esta dinâmica, veja o
artigo 694 do CC:
“Art. 694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem
contratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas,
salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes.”
1
Aula ministrada pelo professor Alexandre Ferreira de Assumpção Alves, em 4/12/2009.
Como se vê, o comitente não é comprador ou vendedor junto aos terceiros. Como
dito, o comissário é quem pactua os contratos em nome próprio. Por isso, qualquer
perturbação na relação de compra ou venda deve ser resolvido entre comissário e terceiros,
nunca envolvendo o comitente – é a mera atenção ao princípio da relatividade dos
contratos.
Contudo, como se vê no próprio final do artigo supra, o comissário, parte comum a
ambos os contratos – o de comissão e o de compra e venda –, pode ceder seus direitos de
comprador ou de vendedor a qualquer das partes. Vejamos um exemplo: comissário adquire
um bem em nome próprio, passando-o ao comitente, mas o bem é alvo de posterior evicção.
Na dinâmica regra, o comitente não teria ação de evicção em face do terceiro vendedor, já
que não travou com ele nenhuma relação jurídica – quem firmou o contrato de compra foi o
comissário. Se, outrossim, o comissário cedeu seus direitos para o comitente, este, evicto,
torna-se legitimado para agir diretamente contra o terceiro vendedor.
Exemplo com os pólos invertidos: se o comitente é vendedor, e o comissário pactua
venda com terceiro comprador. Havendo perturbação quanto à coisa, o terceiro só terá ação
contra o comissário, em regra, que firmou a venda em nome próprio. Contudo se este cedeu
seus direitos ao terceiro, o comprador poderá, agora, avançar contra o comitente,
diretamente, subrogado na posição do comissário a si cedida.
O caput do artigo 696 do CC, supra, oferece os elementos para a exata delineação
da responsabilidade civil do comissário, que é expressamente imputada no parágrafo único
deste mesmo dispositivo, ao dizer que responderá o comissário, salvo motivo de força
maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.
Embora o legislador não tenha falado em ação ou omissão culposa ou dolosa, a
responsabilidade do comissário perante o comitente é subjetiva. A relação é contratual
paritária, não de consumo nem de risco, e a presunção que este contrato implica é de que o
comissário atuou corretamente, cabendo comprovar que sua atuação, se causou prejuízo, foi
por violação do dever de diligência, que engloba tudo que se falou sobre a boa-fé objetiva –
confiança, prudência, experiência e atenção aos usos do mercado.
O artigo 697 do CC elimina qualquer dúvida que pudesse existir acerca da natureza
subjetiva da responsabilidade do comissário:
“Art. 697. O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem
tratar, exceto em caso de culpa e no do artigo seguinte.”
que o terceiro vai efetuar – o comitente só pode demandar o comissário, e não o terceiro,
como indicaria a solidariedade ali mencionada. Em suma, duas são as impropriedades neste
artigo (frutos de ter ele sido transcrito integralmente do Código Comercial, sem as devidas
correções): não há solidariedade; e não há negociação em nome do comitente, mas sim em
nome próprio do comissário.
“Art. 701. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada
segundo os usos correntes no lugar.”
“Art. 708. Para reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das
comissões devidas, tem o comissário direito de retenção sobre os bens e valores em
seu poder em virtude da comissão.”
Vale dizer que esta remuneração e o reembolso contam com uma vantagem em caso
de insolvência ou falência do comitente: são créditos com privilégio geral, e não meramente
quirografários. Veja o artigo 707 do CC:
2. Contrato de corretagem
Este contrato está regulado no CC, nos artigos 722 a 729, que serão pontualmente
observados.
O CC trata, em suas previsões, do contrato de corretagem livre. Corretores livres
são aqueles que não têm registro profissional como corretores, ou seja, são os não-
profissionais da corretagem. Há os corretores profissionais, que são registrados nos
respectivos órgãos de classe – como os corretores de imóveis, que são registrados no Creci
(Conselho Regional de Corretores de Imóveis), ou os corretores de seguros, registrados na
Susep (Superintendência de Seguros Privados). Sendo corretores profissionais, as regras
aplicáveis primariamente serão as especiais, dedicadas a cada classe, e não o CC – o qual
pode ser aplicado subsidiariamente, e de forma que não contrarie a legislação especial.
Assim, os preceitos do CC são destinados a dispor regras gerais sobre corretagem
livre, praticada por não-profissionais, como se pode depreender do artigo 729 do CC:
“Art. 729. Os preceitos sobre corretagem constantes deste Código não excluem a
aplicação de outras normas da legislação especial.”
imóveis, aplicável prioritariamente quando esta for a relação. Quando, eventualmente, estas
leis forem omissas, o CC pode ser invocado, suprindo lacunas.
O artigo 722 do CC traz a definição do contrato de corretagem: trata-se de uma
mediação estrita. Veja:
“Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude
de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência,
obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções
recebidas.”
Mediação estrita é aquela em que o mediador não conclui o negócio: ele não tem
poderes para concluir o negócio nem mesmo como mandatário de seu cliente. O corretor,
aqui, simplesmente aproxima as partes, que contratarão entre si sem que ele tome qualquer
parte efetiva no contrato, nem mesmo como mandatário de uma delas. Esta é, de fato, a
maior diferença do contrato de corretagem para aqueles contratos de agenciamento e
representação, que serão vistos adiante, em que a mediação é ampla, ou seja, o agente ou o
representante podem receber poderes para concluir o negócio em nome de seu cliente,
como mandatários.
O corretor livre, do CC, é um profissional liberal, colaborador independente, sem
relação de emprego com aqueles a quem presta o serviço. Lato sensu, é um prestador de
serviços, tendo que ser lido o conceito legal acima de forma apenas a deixar claro que não
há o contrato de prestação de serviços típico – o que não afasta a natureza da prestação do
corretor, que é um serviço lato sensu.
O contrato de corretagem é específico, e não é regido como o contrato nominado de
prestação de serviços, mesmo que a corretagem seja um serviço. O corretor, para fins de
incidência do CDC, por exemplo, é um fornecedor de serviços, e não um fornecedor de
produtos – a noção de serviço do CDC não é restrita ao contrato típico de prestação de
serviços, como se sabe2.
Embora a corretagem seja completamente diferente da comissão – o corretor apenas
aproxima as partes, não concluindo negócios, como o faz o comissário –, há um ponto em
comum: o corretor, assim como o comissário, atua seguindo as orientações emanadas do
cliente. Há, também na corretagem, a necessária atenção à boa-fé objetiva e aos deveres de
diligência. O artigo 723 do CC dá esta nota:
O artigo 724 do CC, por exemplo, determina que a remuneração que não for
expressamente definida será paga conforme os usos do mercado:
“Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada
entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais.”
“Art. 725. A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o
resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em
virtude de arrependimento das partes.”
medida de plena justiça, eis que a venda passou ao largo de qualquer atuação empenhada do
corretor, não se justificando sua remuneração.
Nos casos de corretagem com exclusividade com prazo estipulado, se a negociação
se deve aos trabalhos do corretor, ainda que concluída após o término do prazo, é devida a
remuneração.
O que este dispositivo fixa é que se o negócio almejado se firmar por conta do
trabalho do corretor, mesmo que posteriormente à sua dispensa (quando o prazo da
corretagem for indeterminado) ou à extinção do contato de corretagem por expiração do
prazo para ele estabelecido, a comissão será devida ao corretor. Nada mais justo e óbvio,
ante a própria dinâmica da relação de corretagem: trabalho feito deve ser trabalho pago,
mesmo que o fechamento do negócio seja posterior à extinção do contrato de corretagem.
Se o corretor faz a aproximação entre o comprador e o dono do imóvel e o negócio
se concretiza, ele faz jus à comissão. Veja abaixo um relato sobre casuística que chegou ao
STJ, e a decisão da Terceira Turma do STJ que, por maioria, acompanhou o entendimento
da relatora ministra Nancy Andrighi:
“Duas clientes recorreram contra ação de cobrança de corretor que alegava ter
direito a receber R$ 112.750, equivalentes a 10% do valor da compra do imóvel a
título de comissão por intermediação de venda de imóvel. Em primeira instância, o
valor da comissão foi reduzido para 1% do valor do negócio, considerando que,
apesar de o corretor ter feito a aproximação entre as partes, não teria ajudado na
negociação.
O corretor apelou e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) decidiu
aumentar a comissão para 6%. O TJRS considerou que o corretor havia oferecido o
imóvel para as clientes e que a demora para o fechamento do negócio não foi de
responsabilidade deste. Considerou, porém, que o valor do imóvel tornaria a
comissão de 10% excessiva.
As clientes recorreram ao STJ, afirmando haver dissídio jurisprudencial (julgados
com diferentes conclusões sobre o mesmo tema), havendo o entendimento de que o
intermediador deve participar da negociação para receber a comissão. Além disso,
a concretização do negócio deveria ocorrer dentro do prazo estabelecido
contratualmente.
Na sua decisão, a ministra Nancy Andrighi apontou que nos próprios autos foi
apontada a importância do trabalho do corretor para a concretização do negócio. A
ministra afirma que avaliar a qualidade ou relevância desse trabalho exigiria a
análise de provas, o que é vedado pela Súmula 7 do próprio Tribunal. “Ainda que
assim não fosse, cumpre destacar que o principal e mais árduo trabalho do corretor
é efetivamente aproximar as partes, pois, a partir de então, assume papel
secundário”, acrescentou.
“Para que seja devida a comissão, basta a aproximação das partes e a conclusão
bem sucedida de negócio jurídico. A participação efetiva do corretor na negociação
do contrato é circunstância que não desempenha, via de regra, papel essencial no
Questão 1
Resposta à Questão 1
Como o contrato conta com a cláusula del credere, o comissário garante a prestação
inadimplida pelo terceiro comprador. Por isso, a decisão foi correta: é justamente para que o
comissário responda pela prestação do terceiro que existe esta cláusula del credere, trazida
no artigo 698 do CC.
Repare que, mesmo que o artigo 698 do CC fale em insolvência, a correta leitura da
cláusula del credere é a que impõe a responsabilidade do comissário por qualquer
inadimplemento do terceiro.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Reposta à Questão 3
Tema II
Notas de Aula3
Estes contratos também têm por objetividade a mediação entre partes, para a
pactuação de outros negócios, assim como na corretagem. Mas enquanto no contrato de
corretagem a mediação é estrita – o corretor só aproxima os interessados, como visto, não
tomando parte no negócio final –, na agência e na representação a mediação é ampla, ou
seja, o mediador – agente ou representante – pode participar do contrato final como
mandatário. Este é o principal diferencial destes contratos em relação à corretagem.
O contrato de agência, ao contrário do de corretagem, não vinha previsto no Código
Comercial, nem no CC de 1916. É contrato legalmente novo, portanto. Já quanto ao
contrato de representação comercial, antes do CC de 2002, a Lei 4.886/65 veio
regulamentar a profissão do representante comercial autônomo, e o contrato de
representação comercial.
Esta lei teve forte influência do Código Civil italiano, sendo este diploma
comparado a fonte inspiradora básica do contrato de representação ali tratado. Surge, aqui,
um questionamento que é a mais polêmica das questões sobre este tema: em que diferem os
contratos de representação e agência?
De fato, os pontos em comum entre a representação comercial e a agência são
muitos. Vejamos, então, as características de cada um, para ao final traçar as diferenças.
Diz o artigo 710 do CC:
“Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e
sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante
retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-
se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.
Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o
represente na conclusão dos contratos.”
“Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá
resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo
compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente.
Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da
razoabilidade do prazo e do valor devido.”
“Art . 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato
de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais
de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à
concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento
de importância igual a um têrço (1/3) das comissões auferidas pelo representante,
nos três meses anteriores.”
Como se vê no artigo 720 do CC, quando o contrato de agência for por prazo
indeterminado, o proponente pode denunciá-lo a qualquer tempo, desde que o faça com
antecedência de ao menos noventa dias, e que a denúncia não seja interferente no prazo
compatível com a natureza do negócio agenciado e com o investimento feito pelo agente.
Em suma, se o agente investe no contrato, e não tem tempo para colher o mínimo retorno, a
denúncia é indevida, mesmo se respeitado o prazo de noventa dias.
Já no artigo 34 da Lei 4.886/65, exige-se que para haver direito ao pré-aviso da
denúncia do contrato de prazo indeterminado, este tenha vigorado por no mínimo seis
meses. Além disso, o aviso prévio, na representação, é de meros trinta dias, e não seis
meses, como na agência. E mais: se a parte quiser findar o contrato de representação sem
atender ao pré-aviso, pode substituir esta notícia pelo pagamento de uma indenização,
correspondente a um terço das comissões pagas nos três últimos meses – substitutividade
que inexiste no CC para o contrato de agência, em que a denúncia tem que ser sujeita ao
aviso prévio, incabível opção por indenizar.
“Art. 711. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais
de um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente
assumir o encargo de nela tratar de negócios do mesmo gênero, à conta de outros
proponentes.”
É neste artigo que fica lançada a mais clara diferença entre agência e representação:
aqueles que quiserem se intitular representantes comerciais deverão ser registrados nos
respectivos conselhos regionais, exigência inexistente no contrato de agência.
O que se percebe, portanto, é que a atividade de representação comercial é uma
profissão regulamentada, regida por órgãos de classe regionalizados, jungidos a um
conselho federal.
Ora, se o agente não está obrigado a se registrar, como está o representante, são
situações jurídicas diversas, e como tal devem ser tratadas. Sendo assim, os agentes não
podem ter as vantagens que os representantes – como no caso do privilégio na falência –, se
não se encontram exatamente na mesma situação jurídica. São pessoas diversas, em
situações diversas.
Trocando em miúdos, o objetivo do legislador foi fazer da agência algo bastante
similar à corretagem: como visto, pode haver corretagem regulamentada, aquela do corretor
profissional, mas nada impede a corretagem livre, do corretor não-profissional, regrada no
CC. No cotejo entre a agência e a representação, esta é a dinâmica: enquanto o agente é
livre, o representante é registrado, e com isso se diferenciam as relações, pois o agente não
tem as prerrogativas do representante, assim como o corretor profissional não tem as
prerrogativas do corretor livre.
Destarte, o contrato de agência – que é aquele regido pelo CC, pois que celebrado
pelo agente livre – segue as regras do CC, enquanto o contrato de representação, celebrado
por pessoa registrada como representante comercial, observa as regras da Lei 4.886/65.
assim, quanto à pessoa, se ela for registrada como representante, seu contrato será sempre
de representante, e vice-versa – a pessoa não registrada será sempre tida por agente, quando
buscar os objetos que a lei prevê para este contrato.
Assim como há vantagens em ser representante, tal como o privilégio na falência,
há desvantagens: ele deve pagar encargos ao órgão de classe, e sujeitar-se aos regulamentos
deste órgão.
2. Contrato de distribuição
O artigo 710 do CC, já transcrito, prevê em sua parte final que o contrato de agência
será transformado em contrato de distribuição quando o agente tiver à sua disposição a
coisa a ser negociada.
A diferença é bem simples: no contrato de distribuição, o distribuidor não é
mandatário: é depositário com poderes para vender a coisa a ser negociada, em nome
próprio, e em seguidas passar o valor ajustado ao distribuído. O distribuidor é agente, com a
prerrogativas de vender as coisas por sua conta e risco, e não como mandatário.
Como não se trata de relação de emprego, a competência para lides neste campo é
da justiça estadual, na forma do artigo 39 da Lei 4.886/65:
“Art. 39. Para julgamento das controvérsias que surgirem entre representante e
representado é competente a Justiça Comum e o foro do domicílio do
representante, aplicando-se o procedimento sumaríssimo previsto no art. 275 do
Código de Processo Civil, ressalvada a competência do Juizado de Pequenas
Causas. (Redação dada pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992).”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
b) A resposta depende das provas: se restar provado que a venda foi realizada
forma da área de abrangência da delimitação de exclusividade, realmente não
houve infração, e a ré tem razão.
Questão 2
O encerramento dá ensejo à rescisão, como dispõe o artigo 36, “d”, da Lei 4.886/65:
Quanto à indenização de um doze avos, o artigo 27, “j”, da mesma lei, já transcrito,
só há direito se a extinção do contrato se der com justa causa. Como o contrato da
casuística dói assim extinto, é-lhe devida esta indenização, assim como as remunerações
pendentes e o aviso prévio, na forma do artigo 34, também do mesmo diploma e já
transcrito.
Os juros e correção monetária são devidos, na forma da regra geral destes encargos,
do artigo 395 do CC, e com a previsão especial do artigo 32, § 2°, da Lei 4.886/65:
Questão 3
Resposta à Questão 3
Em breve síntese, a tese da autora é de que houve quebra da boa-fé objetiva, porque
a ré incutiu-lhe expectativa legítima de que o contrato teria continuidade por longo período,
e, faltando com lealdade, resiliu-o de forma súbita e altamente prejudicial à autora. Do
outro lado, há a tese da ré de que o contrato continha a cláusula resilitória e, pacta sunt
servanda, seu direito potestativo em resilir está perfeitamente consoante com a diretrizes
jurídicas contratuais.
O TJ/SP julgou a questão, na Apelação Cível 728.549.090-0 , como se vê:
“Apelação 7285490900. Relator(a): Moura Ribeiro. Comarca: Guarulhos. Órgão
julgador: 11ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 15/01/2009. Data de
registro: 31/03/2009.
Ementa: Contrato de distribuição rompido unilateralmente por parte da distribuída
por resilição - Pretensão indenizatória julgada improcedente - Inconformismo da
distribuidora ponderando que implementou vultosas despesas em favor da
distribuída para incremento das vendas e com sucesso, não podendo suportar a
injusta extinção do contrato - Incidência do art. 160, I, do CC/16 - Incidência da
Lei n° 6. 729/79 e da Lei n° 4.886/65, que foi alterada pela Lei n" 8.420/92 -
Contrato de distribuição que não se confunde com o de representação porque
naquele, como na hipótese, o lucro resulta das vendas que o distribuidor faz por
sua conta e risco - Abuso de direito reconhecido - Inviabilidade da resilição sem
composição dos danos porque quem os causa deve repará-los. Agravo retido
conhecido em parte e não provido - Recurso provido.”
Tema III
Notas de Aula4
4
Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 2/12/2009.
Há que se traçar a sutil diferença entre este contrato e a venda com reserva de
domínio: neste, o vendedor passa a posse ao adquirente, mas reserva-se o domínio, a
propriedade, a qual só será entregue ao comprador ao final dos pagamentos de todas as
parcelas, pela primeira vez. Na alienação fiduciária, por um breve momento, o devedor foi
proprietário, entregando o bem em garantia imediatamente; na compra e venda com reserva
de domínio, o devedor, adquirente, jamais foi proprietário, só o sendo quando quitar a
integralidade do preço.
De acordo com Fábio Ulhoa Coelho, a alienação fiduciária trata-se de contrato que
instrumentaliza o mútuo, sendo mutuário o fiduciante e mutuante o fiduciário.
Há três espécies de alienação fiduciária, hoje. A alienação pode ser comum, de
mercado financeiro, ou de imóveis. A comum é regida nos artigos 1.361 e seguintes do CC;
a do mercado financeiro, na Lei 4.728/65, com tratamento processual no Decreto-Lei
911/69; e a de imóveis na Lei 9.514/97. Os dispositivos serão abordados pontualmente, a
seu tempo.
Há uma certa divergência sobre quem pode ou não figurar como credor fiduciário.
Este sempre foi um ponto controvertido. Vejamos como a matéria era tratada, antigamente.
Em uma interpretação ampla, minoritária, capitaneada por Celso Marcelo de
Oliveira, qualquer pessoa natural ou jurídica poderia figurar como credor fiduciário.
Quando se tratar de bens imóveis, a Lei 9.514/97 determina que pode ser credor
fiduciário qualquer pessoa jurídica ou natural, e não precisa ser integrante do Sistema
Financeiro Imobiliário (que é o regido pela mencionada lei), mas a emissão dos
certificados de recebíveis imobiliários (título que representa um valor mobiliário) para
securitização de recebíveis, seria restrita às empresas que estão autorizadas a atuar neste
Sistema.
No TJ/RJ, também este dispositivo foi julgado inconstitucional pelo Órgão Especial,
pelos mesmos motivos pelos quais declarou inconstitucional o § 1° do artigo 1.361 do CC.
Assim, é firme o entendimento, no TJ/RJ, de que o duplo registro é necessário.
A questão é muito controvertida Veja alguns julgados em sentidos opostos,
começando pelos que dispensam o duplo registro:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO 2009.002.26587. TJ/RJ. AGRAVO DE
INSTRUMENTO - BUSCA E APREENSÃO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA -
DESNECESSIDADE DE REGISTRO DO CONTRATO DE ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA EM CARTÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS, EM SE
TRATANDO DE VEÍCULO. I A legislação em vigor, quanto ao contrato de
alienação fiduciária, seguindo o entendimento dos Tribunais, distingue o tipo de
bem móvel a que incide este ato negocial, para efeitos de registro em cartório de
títulos e documentos.II - Em regra, constitui-se o contrato com o registro em
referido cartório. Excepcionalmente, em se tratando de veículo automotor, basta o
registro na repartição de trânsito competente.III- Construção advinda do
entendimento constante da súmula nº 92, do STJ, que não conflita com o art. 236,
da C.R.F.B., bem como do disposto no art. 1.361, § 1º, do N.C.C. Precedentes do
STJ.VI- Mora comprovada pelo envio de carta com AR positivo no endereço
constante do contrato. Súmula nº 55 deste Tribunal. Recurso a que se dá
provimento parcial de plano, nos termos do art. 557, § 1º - A, do CPC, para afastar
“Súmula 28, STJ: O contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por
objeto bem que integrava o patrimônio do devedor.”
Mesmo assim, a questão ainda vem sendo discutida no STJ, sem infirmar a súmula
supra, contudo. Veja o Ag.Rg. no REsp. 843.132:
Esta discussão restou superada com a edição da Lei 9.514/97, que espancou
qualquer questionamento acerca da possibilidade de alienação fiduciária de bens imóveis.
Como são alienáveis, sem mais dúvidas, os bens imóveis, o raciocínio que hoje deve ser
feito sequer é o dos julgados acima: não é porque as pertenças são essencialmente móveis
que são alienáveis fiduciariamente, e sim porque, mesmo se consideradas imóveis, nada
impede que bens nesta qualidade sejam alienados fiduciariamente. De fato, quer porque têm
essência de móveis, quer porque imóveis podem ser objeto deste contrato, nada impede a
alienação fiduciária de pertenças.
Vale dizer que o STJ permite que o bem nesta condição seja mantido na posse do
devedor, se ele comprovar duas condições: que o bem é imprescindível, a qualquer título
(se for uma indústria, por exemplo, que é essencial à continuidade da produção); e que está
de boa-fé, o que se prova pelo depósito da parte incontroversa do débito. Do contrário, o
bem será retirado da posse do devedor. Veja:
“Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.”
Questão 1
Resposta à Questão 1
De início, vale dizer que o contrato, registrado ou não, é exigível entre as partes: o
registro só se presta a criar oponibilidade contra terceiros, mas não entre as partes, pois o
contrato vincula aqueles que o subscrevem. Mesmo que a propriedade fiduciária se
constitua no registro do pacto, o contrato não registrado ainda existe, e é exigível. Neste
sentido, veja o REsp. 875.634:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
O argumento de que o instituto deve estar sempre disponível serve para a espécie de
alienação fiduciária regida pelo CC, e para a de bens imóveis, eis que qualquer pessoa
jurídica pode ali figurar como credora fiduciária. Porém, sendo da modalidade regida pela
Lei de Mercado de Capitais, Lei 4.728/65, o artigo 66-B determina que o credor fiduciário
precisa ser pessoa jurídica e fiscalizada pelo Bacen (instituições financeiras), ou consórcios
de automóveis, como entende o STF.
A respeito, veja o RE 111.219:
Tema IV
Notas de Aula5
1. Alienação fiduciária
“Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 1° O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro
de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2° A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.”
Se não for dado cumprimento ao contrato, cabe a restituição do bem. Se o bem não
for restituído, por não ter sido encontrado, cabe a restituição do equivalente em dinheiro,
mas há quem defenda que somente caberá ao credor fiduciário habilitar-se como credor
quirografário.
Mas veja que, por razoabilidade, mesmo que o cartório esteja enviando notificação
para fora de sua área de abrangência, se o ofício se situar no mesmo Estado, em Município
próximo, será válida a notificação. A respeito, veja os Agravos de Instrumento
2009.002.21020 e 2009.002.20578, do TJ/RJ:
Repare que, para esta corrente, a restrição seria apenas para o cartório de notas, não
alcançando o RTD para notificações. Veja outro julgado do TJ/RJ, entendendo também que
o RTD não sofre limitações pela territorialidade:
“Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora
o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em
nome do fiduciário.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu representante legal
ou procurador regularmente constituído, será intimado, a requerimento do
fiduciário, pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo
de quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data do pagamento,
os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os
encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao
imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação.
(...)”
purgar a mora – mesmo sabendo-se que se se entender que devem ser pagas as parcelas
vincendas, o que há é vencimento antecipado, e não purga da mora.
“Art 5º Se o credor preferir recorrer à ação executiva ou, se fôr o caso ao executivo
fiscal, serão penhorados, a critério do autor da ação, bens do devedor quantos
bastem para assegurar a execução.
Parágrafo único. Não se aplica à alienação fiduciária o disposto nos incisos VI e
VIII do Art. 649 do Código de Processo Civil. (Redação dada pela Lei nº 6.071, de
1974).”
De acordo com o STJ, são necessários três requisitos para que o devedor fiduciário
inadimplente, regularmente inscrito nos cadastros desabonadores do crédito, tenha seus
dados retirados de tais cadastros: deve ajuizar a ação respectiva, hábil a discutir a dívida
integral ou parcialmente; deve demonstrar que há verossimilhança em sua alegação,
coadunando-se, qualquer que seja a sua tese, com a jurisprudência dominante nas Cortes
Superiores; e deve haver o depósito de parte incontroversa, se houver, ou a prestação de
contracautela exigida pelo magistrado. A respeito, veja o REsp. 527.618:
“Súmula 380, STJ: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe
a caracterização da mora do autor.”
Vale dizer que nos juizados especiais cíveis, majoritariamente, tem sido dispensada
qualquer caução, se percebida verossimilhança, para concessão da liminar em prol do
devedor.
Tendo o credor fiduciário optado pela busca e apreensão, quando cabível, se esta
obtiver sucesso, mas o bem não for suficiente para adimplir toda a obrigação, a cobrança de
saldo remanescente não pode ser feita pela via executiva. Veja o REsp. 265.256:
“Súmula 384, STJ: Cabe ação monitória para haver saldo remanescente oriundo de
venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em garantia.”
Acerca da comissão de permanência, então, vê-se que ela não pode ser cumulada
com nada, na prática. Mas o STJ tem entendido que quando a comissão de permanência for
o único encargo cobrado de forma abusiva, não haverá improcedência da busca e
apreensão. Veja o EREsp. 860.460:
O que o STJ tem entendido como causa à improcedência da busca e apreensão, por
encargos indevidos, é referente aos encargos indevidos cobrados antes da ocorrência da
mora – porque tais abusos é que, em tese, contribuíram para a própria existência da mora.
Como a comissão de permanência é um encargo que, devida ou indevidamente cobrado, só
tem lugar após o surgimento da mora, não há que se falar em improcedência da busca e
apreensão, portanto.
Sobre a configuração da mora, aquele REsp. 1.061.530, há pouco transcrito, oferece
boa explanação, na orientação “2”, à qual se remete.
Quanto ao anatocismo, capitalização de juros, o STJ entende cabível, se previsto no
contrato e se posterior à MP 2.170/01, como se vê no Ag.Rg. no REsp. 992.272:
contratos firmados posteriormente à sua entrada em vigor, desde que haja previsão
contratual.
5. No concernente à comissão de permanência, é lícita a sua cobrança após o
vencimento da dívida, devendo observar a taxa média dos juros de mercado,
apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa de juros contratada para o
período da normalidade. Não pode, entretanto, ser cumulada com a correção
monetária nem com os juros remuneratórios, nos termos das Súmulas 30, 294 e
296 do STJ. Destaca-se que a cobrança da comissão de permanência não pode
coligir com os encargos decorrentes da mora, como os juros moratórios e a multa
contratual.
6. Alegações do agravante nada acrescentaram, no sentido de infirmar os
fundamentos do decisum agravado.
7. Agravo regimental não provido.”
“Súmula 379, STJ: Nos contratos bancários não regidos por legislação específica,
os juros moratórios poderão ser convencionados até o limite de 1% ao mês.”
1.7. Peculiaridades da alienação fiduciária de bens imóveis
investidor estaria garantido, pois não seriam arrecadados na falência desta os bens em
regime fiduciário).
A alienação fiduciária pode ser firmada em instrumento particular, mas deve este ser
que averbado no RGI.
O saldo remanescente sempre será entregue ao fiduciário; portanto, não há violação
ao artigo 53 do CDC.
Se o imóvel estiver locado, poderá ser denunciado o contrato para despejo em trinta
dias, salvo autorização, por escrito, do fiduciário. É preciso que haja cláusula expressa e
destacada nesse sentido. A denúncia deverá ser realizada em até noventa dias da
consolidação do bem no patrimônio. O fiduciante terá que pagar todas as obrigações,
inclusive de natureza tributária. Deve-se avaliar as benfeitorias realizadas pelo fiduciante.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A decisão foi incorreta, pois deveria ter deferido a execução nos próprios autos.
A respeito, veja o Ag.Rg. no REsp. 760.415:
Questão 2
BANCO GRYPHUS S/A. ajuizou ação de busca e apreensão de bem móvel em face
de MARINALVA. A ação foi extinta sem resolução do mérito por inobservância de
condição especial da ação, qual seja, indevida comprovação da mora do devedor, que se
deu mediante publicação de edital de protesto pelo Cartório competente. Correta a decisão
do magistrado?Analise a questão sob todos os aspectos.
Resposta à Questão 2
O STJ entende apenas que a mora deverá ser comprovada por carta expedida pelo
RTD ou protesto do título. Neste sentido, veja o REsp. 1.093.501:
Para além disso, a entrega da notificação para comprovar a mora sequer exige a
assinatura do próprio destinatário. Veja o Ag.Rg. no REsp. 659.582:
“AGRG NO RESP 659.582/RS. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO
ESPECIAL. BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
COMPROVAÇÃO DA MORA. ENTREGA DA NOTIFICAÇÃO. ENDEREÇO
DO DEVEDOR. É válida, para efeito de constituição em mora do devedor, a
entrega da notificação em seu endereço, não se exigindo que a assinatura constante
do referido aviso seja a do próprio destinatário. Agravo improvido. (Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe
26/11/2008).”
Marco Aurélio Bezerra de Melo entende que a notificação deveria ser pessoal, pois
é um gravame muito severo para ser noticiado fictamente. Mas é posição isolada.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Questão Extra
Tema V
Notas de Aula6
em uma perspectiva mais antiga, era classificado como locação de serviços, mas hoje é um
contrato autônomo, completamente tipificado e delineado na ordem legal, especialmente no
CC e em outros diplomas especiais. A base legal é o Código Civil, nos artigos 734 a 742; o
Código Comercial, nos artigos 629 a 632 (percurso de água); o Código Brasileiro de
Aeronáutica, Lei 7.565/86; e o Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
Serão abordados, separadamente, os contratos de transporte de coisas e de pessoas,
porque cada uma destas modalidades tem tratamento diferenciado na legislação. Isto porque
o contrato de transporte de pessoas envolve o percurso propriamente dito como foco,
enquanto o de coisas foca no percurso e no depósito destas: há um contrato misto de
percurso e depósito, envolvendo responsabilidade pela guarda da carga desde a sua
recepção pelo transportador até sua entrega no destino.
A tipificação geral, hoje, vem no CC, a partir do artigo 730. As disposições gerais
para as duas modalidades de contratos de transporte, de pessoas e coisas, estão nos artigos
730 a 733 deste Código, que serão abordados pontualmente:
“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
e honorários de advogado.”
Quando não há contrato, porque a gratuidade desnatura o contrato de transporte, a
relação que se analisa é extracontratual, despertando a responsabilidade aquiliana, que é
essencialmente subjetiva. É por isso que a verificação da onerosidade no transporte é
fundamental, pois é desta definição que se saberá se a responsabilidade é objetiva ou
subjetiva.
Sendo gratuito o transporte prestado, veja o que diz o artigo 736 do CC:
“Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos
nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o
justificarem.”
“Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e
terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os
acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 7, de 1995)
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as
condições em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegação interior
poderão ser feitos por embarcações estrangeiras. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 7, de 1995).”
O artigo 732, supra, traz a expressão “quando couber” para limitar a aplicabilidade
dos preceitos especiais ao contrato de transporte. Este cabimento é aferido pelo seguinte
critério: se a norma especial ou internacional representar um retrocesso perante a norma
civil do contrato de transporte, será inaplicável; se representar um progresso, terá lugar.
No conflito entre o CC e o CDC, a situação se resolve pela simples regra da
especialidade. O Código Civil deve ser aplicado com prevalência sobre o Código de Defesa
do Consumidor sempre que regular diretamente uma relação de consumo, isto é, quando o
fato é necessariamente uma relação de consumo e o Código Civil dispôs a seu respeito,
editando regra específica.
É simples: o CDC se aplica a todo e qualquer contrato, mas o CC deve ser
observado nas normas em que se perceber maior especialidade. Voltando ao exemplo do
artigo 739 do CC, não se pode considerar que seja uma afronta ao direito consumerista a
Se fosse observado o CDC apenas, o não uso do serviço pelo consumidor imporia
restituição integral, e não seria possível esta retenção a título de multa. Esta retenção é uma
medida legítima, eis que há um prejuízo para o transportador, que poderia ter ofertado
aquele lugar ou espaço para outras pessoas.
Outro exemplo é o da negativa de transporte de determinadas coisas, que seria
impensável diante das normas protetivas do consumidor – pois a negativa de serviço, em
regra, é uma ofensa à relações de consumo –, mas que se torna perfeitamente possível ante
a expressa previsão do artigo 746 do CC:
“Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada,
bem como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e
outros bens.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O transporte gratuito é feito por simples cortesia ou amizade; logo, refoge das
normas legais sobre o contrato, como dispõe o caput do artigo 736 do CC. A onerosidade,
visto que há vantagens para ambos os contratantes, é essencial ao contrato de transporte. Se
o transportador dele receber vantagens indiretas, mesmo que não tenha havido qualquer
remuneração, o contrato não será considerado gratuito, na forma do parágrafo único deste
artigo citado.
A verdade é que o artigo em tela deixa claro que o transporte realmente gratuito não
é sequer um contrato, e por isso a relação extracontratual desperta responsabilidade
subjetiva, e não objetiva, como o é no contrato.
Questão 2
Marta de Goés ajuizou ação indenizatória em face de Tenho Tempo Serviços Aéreos
S/A., pleiteando indenização por danos materiais decorrentes do cancelamento de vôo
internacional e danos morais. O evento ocorreu em 2004 e a ação foi proposta em 2008. A
ré requereu a extinção do processo sem resolução do mérito, por entender prescrita a
pretensão com base na Convenção de Varsóvia, à época vigente. O juiz julgou procedente
o pedido. Na fundamentação da sentença, o julgador entendeu que, no conflito entre as
normas do Código de Defesa do Consumidor e da Convenção de Varsóvia sobre a
prescrição, prevalecem as normas mais favoráveis do Código. Em sede recursal, a ré
sustenta que a decisão recorrida ofende os arts. 5º, §2º, e 178, da Constituição da
República. Argumenta que prevalecem, no âmbito interno, as normas estabelecidas em
tratados internacionais, pois estes têm hierarquia superior às leis. Por outro lado, a
Convenção de Varsóvia é lei especial, e o CDC é lei geral, e aquela se sobrepõe a este,
como determina a Lei de Introdução ao Código Civil. Deve ser provido o recurso? Analise
o caso em todos os aspectos.
Resposta à Questão 2
“Resp nº 742447. 3ª Turma. Rel. Min. Ari Pargendler. Decisão por maioria; J.
20/03/2007.
CONSUMIDOR. PRESCRIÇÃO. TRANSPORTE AÉREO DE PESSOAS. A
reparação de danos resultantes da má prestação do serviço pode ser pleiteada no
prazo de cinco anos. Recurso especial não conhecido.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
Embora o CDC não preveja a culpa concorrente da vítima como causa de redução
do valor indenizatório (apenas a culpa exclusiva, como causa excludente da
responsabilidade), o Código Civil admite expressamente tal possibilidade, no parágrafo
único do artigo 738:
Tema VI
Notas de Aula7
Proteção e Defesa do Consumidor, quando for o caso. Vale dizer que é possível, como
orienta a moderna interpretação jurídica, que haja o diálogo entre estas fontes, quando
necessário.
O contrato de transporte de coisas se inicia quando se dá a entrega da coisa ao
transportador, que emite um título representativo daquela entrega – o conhecimento de
transporte. Este título comprova que a coisa está depositada com o transportador, que por
ela será responsável até a entrega ao destino.
Havendo qualquer dano na coisa, a responsabilidade recai sobre o transportador,
portanto. Por isso, é legítima a rejeição da prestação de serviço se a coisa não puder ser
transportada com a segurança a que o transportador estiver afeito. Por exemplo, se a
mercadoria precisa ser mantida a baixa temperatura, e o transportador não possui meios de
mantê-la nestas condições, pode rejeitar o serviço, ou exigir um acondicionamento
específico. Se aceitar, assume a responsabilidade. Veja a cláusula de incolumidade neste
contrato, prevista no artigo 749 do CC:
O prazo de dez dias, aqui, prevalece sobre os prazos do CDC, de trinta dias para
bens duráveis ou noventa para não duráveis. A regra é mais específica, e como dito, sempre
que o CC for mais específico, este terá prevalência.
O transporte de coisas feito de forma gratuita, por um transportador profissional,
ainda assim é um contrato de transporte, e por isso a responsabilidade é a mesma dos casos
em que haja a cobrança. Isto porque a aceitação do transportador em prestar o serviço de
forma gratuita não se dá por mera cortesia, sendo certa a presença de alguma vantagem
indireta nesta aceitação.
As cláusulas limitativas da responsabilidade, porém, seguem a regra dos artigos
743, 750 e 752 do CC, combinados:
“Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua
natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se
confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e
endereço.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Cia. Master Brasil de Eletrônicos ajuizou ação de indenização por danos materiais
no equivalente ao valor da carga de sua propriedade, e por danos morais, a arbitrar,
porque teve sua credibiliade e nome prejudicados junto aos clientes, especialmente junto à
destinatária da carga, sua antiga revendedora. A ação foi proposta contra Transportadora
Rápido Ltda., em razão do não-cumprimento do contrato de transporte que a autora
firmara com a transportadora, não tendo esta realizado a entrega da carga ao
destinatário, nem devolvido a mercadoria recebida para fins de transporte. Em
contestação, a ré negou sua responsabilidade civil de indenizar, alegando que cumpriu o
contrato, mas que houve roubo da carga durante o transporte e enquanto seu caminhão
passava lentamente por quebra-molas, sendo o motorista rendido com arma de fogo, sem
que tivesse facilitado a ação dos meliantes, tudo como ficou registrado no Boletim de
Ocorrência Policial que anexou. Alegou que possui seguro para perda do veículo e para
danos a terceiros, por isso não tem legitimidade para figurar no pólo passivo da ação, pois
nesse caso a responsabilidade é da seguradora. Alegou que somente a pessoa natural ou
física pode sofrer ou reclamar por danos morais, sendo juridicamente impossível tal pleito
da autora. Requereu sua exclusão da lide, e, caso não excluída, a extinção do processo em
razão de sua ilegitimidade. No mérito, requereu fosse julgado improcedente o pedido.
Decida as questões postas pela autora e pela ré, como juiz da causa, abordando sintética e
separadamente cada questão, com a devida fundamentação e justificação.
Resposta à Questão 3
Vale ressaltar, porém, que quando o roubo se tornar previsível, e se evidenciar falta
de cautela suficiente, este poderá até ser considerado fortuito interno, não afastando a
responsabilidade.
Quanto à legitimidade passiva, nos termos do § 3º do artigo 787, do Código Civil, o
segurado é parte legítima para figurar no pólo passivo da ação movida pelo terceiro em
Tema VII
Notas de Aula8
8
Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 1/12/2009.
“Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
(...)”
“Art. 3º: A constituição e o funcionamento das pessoas jurídicas que tenham como
objeto principal de sua atividade a prática de operações de arrendamento mercantil,
denominadas sociedades de arrendamento mercantil, dependem de autorização do
Banco Central do Brasil.”
Como se vê, para ser arrendador, é fundamental que haja a autorização do Bacen, e
a sociedade que assim pretenda operar deve ser necessariamente uma S/A. Na praxe, estes
requisitos nem sempre são observados, porém – mas tecnicamente são exigíveis.
Para ser arrendatário, porém, é claro que não há qualquer requisito legal a ser
preenchido, sendo um contrato como qualquer outro.
As sociedades empresárias de arrendamento mercantil são equiparadas às
instituições financeiras. Veja o REsp. 900.527:
1.2. Classificação
Esta definição da natureza do contrato significa, por exemplo, que o arrendador não
pode, por exemplo, emitir duplicatas referentes ao contrato de leasing, porque a duplicata é
título causal, só podendo ser emitida em razão de compra e venda ou prestação de serviços.
Como o leasing é misto, não permite a emissão destes títulos.
valor residual que corresponderá ao preço do bem, pois as parcelas pagas ao longo do
contrato representaram a contraprestação pelo uso do bem, ou seja, o aluguel.
Ocorre que este preço seria muito alto, e a opção de compra se tornaria muito
onerosa, tornando-se desvantajosa. Por isso, é permitido aos contratantes pactuar a diluição
do valor residual pelo iter contratual, antecipando em cada parcela um percentual do valor
residual, o que passa a ser o VRG. Assim, ao final, o valor residual propriamente dito será
muito menor, favorecendo a realização da opção de compra, ao final – o que é bom para
ambos, arrendatário e arrendante.
Voltando à diferença entre o leasing financeiro e o operacional, o VRG pode ser
cobrado apenas no financeiro: é vedada sua cobrança no leasing operacional. Isto não
impede, contudo, o exercício da opção de compra, mas esta se torna mais dispendiosa ao
final, eis que o valor residual será mais alto.
Na praxe, o leasing operacional não caminha para a natural aquisição do bem, como
acontece no leasing financeiro. O exercício da opção de compra é quase que o destino certo
do leasing financeiro, enquanto no operacional é uma raridade. Assim o é porque no
leasing operacional, em regra, os bens são muito específicos, tornando-se obsoletos muito
rapidamente, ou necessitando de manutenção constante e altamente especializada
(máquinas de fotocópias, aeronaves, embarcações). Daí se colhe outra peculiaridade prática
do leasing operacional: é quase sempre atrelado a um contrato acessório de prestação de
serviços de manutenção, ante a especialidade técnica desta (como se vê no próprio artigo
6°, I, supra). O valor remuneratório pode estar embutido na parcela mensal, dependendo da
autonomia das partes.
Vale ressaltar que o leasing, de qualquer modalidade, representa, contabilmente,
uma despesa operacional para o arrendatário: é um pagamento de aluguel que está fazendo.
Ao exercer a opção de compra, o arrendatário estará incorporando o bem ao seu patrimônio,
deixando de ser despesa para ser ativo – computando-se como tal para efeitos tributários.
Por não ser possível a cobrança do VRG no operacional, a prestação paga por mês é
a título puro de locação. Por isso, normalmente o aluguel cobrado é maior, porque a chance
de venda do bem ao final é muito menor. No leasing financeiro, ao contrário, a
possibilidade de cobrança do VRG, ao lado da parcela de locação, permite que esta seja
menor, pois quanto mais diluído o valor residual, mais fácil será a aquisição do bem ao
final, o exercício da opção de compra.
O prazo é também um diferenciador entre as modalidades operacional e financeiro,
como se vê no artigo 8° da Resolução 2.309/96 do CMN:
1.5. Lease-back
Veja que no acórdão acima há um voto vencido, em que se entende que há, sim esta
descaracterização do leasing, transformando-o em compra e venda, quando há a
antecipação do VRG. Veja trecho:
“No caso presente, na medida em que houve o pagamento antecipado a título de
VRG (Valor Residual Garantido), descaracterizado o contrato de arrendamento
mercantil para de compra e venda parcelada, devendo os respectivos encargos ser
definidos (...)”
Vale mencionar que esta questão já foi tão controvertida que o STJ emitiu duas
súmulas exatamente opostas, a posterior cancelando a anterior, sendo que o primeiro
entendimento era justamente este do voto vencido acima. Veja os verbetes 263 e 293 da
súmula do STJ:
“Súmula 293, STJ: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.”
Veja que a súmula 263, supra, era quase sempre desfavorável ao arrendatário e ao
arrendador. Ao arrendador, prejudicavas seu meio judicial de reaver o bem, em caso de
inadimplemento: não poderia haver busca e apreensão, pois na compra e venda não há mais
a sua posse indireta, que há no leasing, locação que é. Ao arrendatário, a compra e venda
representa inserção do bem no ativo, e não despesa operacional, como representa o leasing
– sofrendo tributação pelo imposto de renda, ao invés de desconto nesta tributação.
Fica estabelecido, então, que a antecipação do VRG não desnatura o leasing. Surge,
porém, um argumento inovativo da Fazenda Pública (a quem a conversão em compra e
venda interessa, eis que incidirá IR), quando a situação revelar que resta apenas um valor
ínfimo para o valor residual, ou seja, quase todo ele foi antecipado – entende que isto é uma
compra e venda maquiada. Esta tese não é encampada pela jurisprudência, como se pode
ver no REsp. 897.536, donde se colhem também os argumentos da Fazenda:
Da mesma forma, nada impede que o VRG seja antecipado de forma diferente da
usual, que é a diluição mensal. Pode haver a antecipação em uma única parcela inicial, ou
em intermediárias, não se desnaturando por isso o leasing. A Fazenda Pública não poderá
descaracterizar o leasing para compra e venda pelo simples fato de que se ajustaram valores
diferenciados nas prestações, porque não há dispositivo legal que delimite como se opera a
antecipação do VRG. Neste sentido, veja o REsp. 510.159:
Como dito, é claro que o bem precisa ser devolvido ao arrendante para que o VRG
seja restituível. Veja a Apelação Cível 2008.001.19439, do TJ/RJ:
Isoladamente, Arnoldo Wald diz que o VRG jamais deve ser devolvido ao
arrendatário, mesmo mediante restituição do bem e compensação dos débitos. Assim
entende porque esta devolução, supostamente, violaria a base econômico-financeira do
contrato, o seu equilíbrio, pois todo o cálculo da prestação é feito justamente com base na
manutenção do VRG e na probabilidade de opção de compra ao final. Diz ele, ainda, que se
a devolução for a regra, o contrato será inviável, porque as arrendadoras terão que majorar
muito o valor da parcela paga a título de aluguel, de forma a reduzir o seu risco de prejuízo
no contrato, quando da resolução. É posição isolada, porém.
A devolução pode ser realizada nos próprios autos da ação de reintegração de posse
em que o consumidor seja réu, ou é preciso ajuizar ação própria? A questão é bastante
controvertida. Entendendo que sim, veja a Apelação Cível 2008.001.48502, do TJ/RJ:
Defendendo que não é possível esta restituição na ação possessória, veja a Apelação
Cível 2008.001.57155, do mesmo Tribunal:
9
Pelo ensejo, vale ver a súmula 103 do TJ/RJ, que fala da constituição em mora do devedor arrendatário:
Como se trata de questão patrimonial, deve ser alegada expressamente pelo devedor,
em contestação, não sendo cognoscível de ofício.
Entende o STJ que só é legitimado o banco quando a discussão recair sobre aspectos
do contrato, e não sobre o bem, eis que a relação de consumo entre o arrendatário e o
terceiro fornecedor, mesmo que por equiparação (pois quem compra é a arrendadora) a ele
dirige a responsabilização.
Contudo, se se interpretar esta relação à luz da boa-fé objetiva, buscando verificar
os deveres anexos da relação, poder-se-ia exigir um comportamento proativo do banco
quando da aquisição do bem, o que gera sua responsabilidade. Veja: se o banco for adquirir
um bem para si, decerto tomará todas as cautelas necessárias para que este bem esteja em
perfeitas condições; porque não se portará assim quando adquirir bem para o terceiro
arrendatário? É com este fundamento que o TJ/RJ, na Apelação Cível 2008.001.57725,
entendeu que o banco deveria ser considerado parte legítima para a ação movida pelo
arrendatário. Veja:
Como se vê nas citações da ementa acima, o STF tem o mesmo entendimento. Veja
o Ag.R. no RE 194.255:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Não há que se falar em restituição em dobro: a devolução é simples, pois o VRG era
perfeitamente devido quando fora pago. A respeito, veja o REsp 439486:
Questão 2
Resposta à Questão 2
In casu, porém, o montante dos juros é quase o dobro disso, indicando possível
abusividade, se no cotejo com as taxas cobradas normalmente no mercado este patamar for
muito superior. É a média do mercado que indica o que é ou não abusivo: o limite é o da
razoabilidade.
No que toca às parcelas vincendas, estas só podem ser cobradas quando o bem não
for restituído.
Veja, sobre o caso, o Ag.Rg no REsp. 434.437:
Questão 3
Resposta à Questão 3
a) Sim, por meio do lease-back ou de retorno. A vantagem é que por meio do seu
próprio ativo imobilizado a sociedade conseguiria obter capital de giro com
taxas mais baixas, haja vista o baixo risco de inadimplemento dos contratos de
leasing, diante da garantia dada ao credor. O bem dado em garantia fica na posse
do devedor, com a expectativa de voltar ao seu ativo no final do contrato diante
da possibilidade de recompra.
b) Sim, por meio da modalidade de leasing operacional. Durante a vigência do
contrato a arrendadora é obrigada a prestar serviço de manutenção em relação ao
bem objeto do negócio, sem olvidar que todos os pagamentos são lançados
como despesas e o total das parcelas jamais poderá ultrapassar setenta e cinco
por cento do valor de mercado do bem, com possibilidade de renovação do
contrato com substituição da máquina por um modelo mais moderno. Veja o
artigo 7º, VII, da Resolução 2.309/96:
Tema VIII
Notas de Aula10
1. Contrato de factoring
“Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante a
aplicação do percentual de oito por cento sobre a receita bruta auferida
mensalmente, observado o disposto nos arts. 30 a 35 da Lei nº 8.981, de 20 de
janeiro de 1995. (Vide Lei nº 11.119, de 205)
§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este artigo será de:
(...)
III - trinta e dois por cento, para as atividades de: (Vide Medida Provisória nº 232,
de 2004)
(...)
d) prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia,
mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a
pagar e a receber, compra de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a
prazo ou de prestação de serviços (factoring).
(...)”
Se o título for endossado “não à ordem”, terá efeitos de cessão de crédito, quando
então, indiscutivelmente, o cedente não é responsável solidário se não assumir
expressamente esta responsabilidade.
Seguindo-se a corrente majoritária, a assunção de risco pelo faturizador é elemento
necessário do contrato, sob pena de descaracterizá-lo. Sendo assim, as sociedades de
faturização, sabedoras de que o risco é seu, tentam minorar tal perigo de padecer
inadimplência, exigindo uma confissão de dívida do faturizado, ou mesmo uma nota
promissória em branco, que, em caso de inadimplemento do título endossado, serão
cobrados do faturizado. A jurisprudência refuta esta possibilidade, como se vê na Apelação
Cível 2008.001.13662, do TJ/RJ:
“APELAÇÃO CIVEL. INSTRUMENTO DE CONFISSÃO DE DÍVIDA QUE,
NA VERDADE, OBJETIVA ASSEGURAR O DIREITO DE REGRESSO.
TENTATIVA DE TRANSMUTAR A NATUREZA DO CONTRATO DE
FACTORING. Torna-se incabível, em razão da própria natureza do contrato de
factoring, a ação que objetive o regresso do faturizador em face dos faturizados, eis
que faz parte do risco do empreendimento. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. APELACAO CIVEL 2008.001.13662. JDS. DES. FABIO
DUTRA - Julgamento: 22/07/2008 - PRIMEIRA CAMARA CIVEL.”
Como dito, responde o faturizado de forma pro solvendo apenas por vícios na
origem do título ou quando der causa ao não recebimento. Neste sentido, veja a Apelação
Cível 2006.001.42814, do TJ/RJ:
1.1. Classificação
O contrato de fomento mercantil pode ser classificado como bilateral, pois há dois
pólos, duas partes convergentes para o mesmo fim; por isso, é também consensual, com
obrigações e direitos recíprocos; comutativo, mediante remuneração; oneroso, por um
serviço ou uma venda de forma continuada; e é personalíssimo, ou intuitu personae.
Entretanto, segue-se um contrato comercial atípico, como a melhor doutrina prefere. Apesar
da atipicidade, o contrato de factoring tem objeto próprio e características que o identificam
como tal.
Tais elementos são encontrados em um contrato de factoring: aquisição de créditos
ou prestação de serviço descriminado; riscos para o faturizador de receber os valores
cedidos pelo faturizado-cliente; cláusula expressa de não regresso contra o cedente dos
créditos; liberdade de escolha por parte do faturizador das faturas ou títulos devido ao risco
existente; a cobrança de comissão ou taxa de remuneração.
1.2. Modalidades
Arnaldo Rizzardo, em sua obra “Factoring”, terceira edição, editora RT, página 58,
assim diz:
Não é necessário qualquer tipo societário específico para ser faturizador, tampouco
registro ou autorização do Bacen ou qualquer órgão. Contudo, é necessário que haja o
registro da sociedade no CRA, como se vê no REsp. 874.186 e no REsp. 1.013.310:
A sociedade de factoring que agiu de boa-fé não responde pelo protesto indevido,
ainda que decorrente de uma operação envolvendo duplicata “fria”. Neste sentido, veja a
Apelação Cível 2008.001.01110, do TJ/RJ:
protesto indevido, devendo por ele responder. Porém, a questão é restrita apenas à análise
da presença da boa-fé, como no caso supra.
A faturizadora responderá pelo protesto indevido, contudo, quando for negligente na
análise do título sem aceite decorrente de uma operação envolvendo duplicata fria. Veja a
Apelação Cível 2008.001.35020, do TJ/RJ:
“Processo: 0011183-78.2005.8.19.0004 (2008.001.35020). 1ª Ementa –
APELACAO. DES. CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ - Julgamento:
16/09/2008 - DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL.
APELAÇÃO CÍVEL. DUPLICATA MERCANTIL. PROTESTO E
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. ENDOSSO. FACTORING.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. TEORIA DO RISCO DO
EMPREENDIMENTO. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. A empresa faturizadora
que recebe o título por endosso sem garantia, que é negligente na análise do título
sem aceite, deve responder pelo protesto indevido. A quantia a ser arbitrada a título
de dano moral deve ser compatível com a reprovabilidade da conduta, a extensão
do dano, a capacidade econômica do causador do dano e as condições do ofendido.
Apelo provido.”
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
A transferência é feita por endosso, mas o entendimento é de que este endosso é sem
garantia, respondendo o faturizado apenas por vícios na origem do título ou quando der
causa ao não recebimento – sua responsabilidade é pro soluto, em regra. Como não é o
caso, o faturizado não pode ser demandado.
Veja o REsp. 330.014:
Questão 3
Resposta à Questão 3
A nota promissória não pode ser exigida: é um abuso de direito porque o faturizador
está, com isto, desonerando-se da assunção do risco que é inerente ao contrato de
faturização. Repare que, no caso, o faturizador teria regresso contra o faturizado, sequer
precisando do expediente irregular da exigência da nota promissória, porque o vício na
origem do título faz o faturizado responsável, eis que é pro soluto sua responsabilidade.
Pela corrente clássica, portanto, a nota promissória seria inexigível. Todavia, há
corrente moderna, capitaneada por Humberto Gomes de Barros, que entende que esta nota
promissória será lícita, pois a transferência de risco não é imanente ao contrato de
faturização. Veja o REsp. 419.718:
“REsp 419718 / SP. DJ 22/05/2006 p. 191. FALÊNCIA. NOTA PROMISSÓRIA.
RELAÇÕES DECORRENTES DO CONTRATO DE DESCONTO DE TÍTULOS.
FACTORING.
- Nota promissória emitida para o resgate de duplicatas frias objeto de factoring.
Tal promissória é título hábil para instruir pedido de falência.
- É lícita a recompra de títulos "frios" transferidos em operação de factoring.”
Tema IX
Notas de Aula11
Destarte, para caracterizar uma entidade financeira, a pessoa jurídica deve ter em
seu objeto social as três operações ali mencionadas: a captação de recursos de terceiros
atuação típica dos bancos comerciais, que assim procedem quando captam recursos por
meio de cédulas de depósito bancários, recibos de depósito bancário, poupanças,
investimentos de toda sorte, ou mesmo contas correntes de pessoas físicas ou jurídicas; a
intermediação dos recursos, entre partes diversas; e a aplicação dos recursos captados – os
empréstimos concedidos pelo banco a tomadores.
Se a instituição não realiza estas três operações, não se enquadra na definição de
entidade financeira. Destarte, a administradora de cartões estaria alheada deste conceito,
porque ela não faz, em momento algum, captação de recursos de terceiros. Tampouco faz
intermediação e aplicação de recursos, que sequer captou. A atividade da administradora é
uma prestação de serviços, autorizando as pessoas vinculadas àquele cartão a fazer
aquisições junto à rede de fornecedores credenciados, para isso concedendo um empréstimo
que pagará a compra à vista, concedendo prazo para receber de volta o crédito dado.
Antes do reconhecimento (estranho) pelo STJ de que se tratam de instituições
financeiras, as administradoras, que estavam adstritas à Lei de Usura, faziam uso do
seguinte expediente, quando do inadimplemento do valor a si devido pelo titular, para a
finalidade de cobrar juros mais altos do que doze por cento ao ano: impunham no contrato a
famigerada cláusula mandato, que consistia numa autorização para que a administradora
buscasse empréstimo no mercado financeiro para quitar o valor inadimplido pelo titular, o
que geraria a necessidade de pagar ao mercado os juros que este cobra, estes sim superiores
ao da Lei de Usura, porque concedidos por instituições financeiras que não se subsumiam
ao regime deste diploma.
Muito se discutia sobre a validade desta cláusula, e o TJ/RJ posicionava-se
majoritariamente em favor da sua validade. Entendia a Corte que não se tratava de cláusula
potestativa pura, mas sim de uma cláusula que poderia ter aplicação afastada pelo próprio
consumidor, titular do cartão, a quem era dado simplesmente não usar o cartão, ou adimplir
o cartão da forma que lhe conviesse, ou seja, ele mesmo buscar no mercado o empréstimo
necessário para pagamento da conta.
De qualquer forma, hoje o STJ tem seu posicionamento pacificado na súmula acima
transcrita. Com isso, porém, não acabaram as discussões, pois logo surgiu um
questionamento: se as administradoras são instituições financeiras, porque não são
registradas no Bacen, se todas as pessoas jurídicas deste nicho devem sê-lo? Por isso,
gerou-se tese de que seriam, todas, entidades irregulares, o que tem grave repercussão no
que pertine aos crimes contra o sistema financeiro nacional, especialmente notado no artigo
16 da Lei 7.492/86:
“Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida
mediante declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição
de valores mobiliários ou de câmbio:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
entre três e cinco por cento da venda. Trata-se, portanto, de uma cessão onerosa dos
créditos daquele estabelecimento ao banco emissor.
Outra relação da estrutura é a que empreendem o banco emissor e o titular do
cartão. O contrato é de prestação de serviços, em que o banco emissor se compromete junto
ao titular a garantir o uso deste cartão para pagamento de despesas no mercado,
computando-as em uma fatura a ser paga adiante no tempo – é o crédito propriamente dito.
O titular paga uma tarifa anual de adesão ao sistema, e também pela renovação do contrato.
Quarta relação jurídica se estabelece entre o estabelecimento credenciado e o titular
do cartão, relação esta que é de compra e venda ou obtenção de serviços, com a só
diferença de que não há desembolso imediato de recursos pecuniários para tanto – eis que
quem pagará é o banco emissor. O estabelecimento comercial não poderá, porém, cobrar a
dívida do titular do cartão, porque, como dito, o contrato entre estabelecimento e banco
emissor implica em cláusula de cessão onerosa dos créditos, e por isso a titularidade
daquela cobrança, daquele crédito de que o titular do cartão é devedor, passa ao banco. O
estabelecimento recebe a promessa, pelo banco emissor, de que todos seus créditos surtidos
de compras com o cartão serão adquiridos ao fim do período contratual, que geralmente é
de um mês. Quem é credor do titular, portanto, é o banco emissor, não como mandatário do
estabelecimento, mas em nome próprio – adquiriu aquele crédito, como dito.
O banco emissor, portanto, não pode deixar de pagar ao estabelecimento a venda
realizada, porque é sua obrigação contratual assumir aquele crédito como seu. Pode,
todavia, negar-se à aquisição de créditos que porventura sejam frutos de fraudes, atos
ilícitos em geral, quando a venda indevida for imputável ao estabelecimento – como
quando há falha na identificação do titular, que era um estelionatário, por exemplo.
As anomalias atinentes ao objeto da compra e venda ou prestação do serviço –
vícios redibitórios, falhas do produto ou fatos do serviço – são resolvidas apenas entre o
consumidor e o estabelecimento. Como dito, há um contrato normal de fornecimento
consumerista entre estes dois elementos.
Veja que quem corre o maior risco de toda a intermediação é o banco emissor: é ele
quem, na maior parte das vezes, vê-se prejudicado pelo inadimplemento do consumidor. É
o crédito que ele adquiriu que será inadimplido, quando assim o for. Por isso é que,
supostamente, se justificam as elevadas taxas de juros do mercado, por conta do alto risco
assumido pelo banco emissor.
É claro que, diante da regulamentação da seara consumerista, todos os membros da
cadeia – estabelecimento credenciado, bandeira e banco emissor – podem ser colocados no
pólo passivo de uma ação reparatória referente a qualquer defeito nas prestações. Mesmo
que a bandeira, por exemplo, se alegasse ilegítima em uma ação indenizatória por vício do
produto adquirido, o STJ tem entendido que há solidariedade entre todos os membros da
cadeia de fornecimento, a qualquer título. Quanto à bandeira, por exemplo, a justificativa
seria a má eleição de um de seus credenciados, que forneceu produto defeituoso, dando azo
à ação.
1.1. Anatocismo
quase de forma uníssona, que os juros de mercado não são abusivos, pois há prévia
divulgação da taxa, e ninguém é forçado a se utilizar do cartão como meio de pagamento.
Quanto à questão do anatocismo, porém, a discussão ainda persiste, mesmo que
tenha sido reeditada em 2001 a MP 2.170, que autoriza, no artigo 5°, tal prática de juros
sobre juros:
O STJ tem aplicado a súmula 121 do STF, além do Decreto 22.626/33. Veja o artigo
4° da Lei de Usura, apontado pela decisão supra:
“Art. 4º. E proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a
acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.”
“Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros
vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar
a quitação por conta do capital.”
O valor restante em aberto seria, então, o principal sem os juros, que foram pagos
quando o devedor pagou o mínimo. Assim sendo, a cobrança do mês seguinte poderia
sofrer acréscimo regular dos juros, que estariam incidindo apenas sobre o principal: como o
pagamento mínimo realizado no mês anterior quitou os juros, pela regra de imputação, os
novos juros estariam incidindo apenas sobre o principal, e não sobre um montante
composto pelo principal somado a juros prévios.
Realmente, nesta dinâmica, não há anatocismo, mas é claro que, não havendo
sequer o pagamento mínimo pelo titular do cartão, este volta a estar presente, ressuscitando
a discussão sobre se é permitido ou não.
Sobre o tema, veja a Apelação Cível 2007.001.26266, do TJ/RJ:
O envio de cartão ao consumidor, sem solicitação por parte deste, não lhe pode
gerar ônus, a não ser que aceite e use o cartão. Há casos correntes em que não só há o envio
não solicitado, como há o extravio do plástico antes mesmo de chegar ao consumidor, e,
com o uso impago, há a inscrição indevida do nome do destinatário em cadastros
desabonadores do crédito, sendo que jamais houve sequer o recebimento do cartão. Nestes
casos, o dano moral é patente.
Havendo o furto do cartão, comunicado ao banco emissor, qualquer débito realizado
indevidamente não pode ser posto à conta do titular furtado – a incumbência de impedir o
débito, desde a comunicação, é do emissor. Se não há apronta comunicação do furto pelo
cliente, há uma certa discussão, porque mesmo que a incumbência de conferir a assinatura
do cliente no ato da compra seja do fornecedor, a falta da comunicação pesa um pouco
contra o titular furtado. Vale dizer que a prova de que não houve comunicação não pode ser
imposta ao consumidor, pois seria uma prova diabólica: havendo indício de que comunicou,
o ônus fica invertido, cabendo ao banco provar que não houve esta comunicação.
É de se ressaltar que o mero envio do cartão não solicitado não gera, por si só, o
dano moral. É preciso que tenha havido uma perturbação qualquer que suplante o
corriqueiro aborrecimento. A questão é casuística.
A oferta de seguro sobre o cartão de crédito, que é praticamente imposta sobre o
titular, consiste em uma verdadeira venda casada. É uma imposição contratual indevida,
permitindo o desfazimento da cláusula.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Veja também o REsp. 450.902, em que se aplica a súmula 596 quando há cláusula
mandato:
Questão 2
Resposta à Questão 2
A cláusula mandato não ofende o ordenamento jurídico. O TJ/RJ conta até mesmo
com entendimento sumulado, como se vê em seu enunciado 77:
senão abonar a sua má-fé Não havendo lei especial que disponha em contrário, a
cobrança de juros sobre juros é ilegal, pois que afronta o artigo 4º do Decreto
22.626/33 e a Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal, subsistente mesmo após o
advento da Súmula 596 Provimento parcial.”
Vale dizer, porém, que com o fim das administradoras autônomas, na prática não há
mais qualquer utilidade na cláusula mandato, porque a própria administradora hoje é
instituição financeira, ela mesmo financiando o saldo devedor a juros de mercado –
dispensada a busca pelo crédito em nome do titular, portanto.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema X
Notas de Aula12
12
Aula ministrada pelo professor José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, em 27/11/2009.
Muito mais do que um contrato de cessão de uso da marca, porém, a franquia gera
uma verdadeira parceria de múltiplos propósitos. Além de ceder o direito de uso da marca,
o franqueador se compromete também a pactuar três contratos acessórios a esta cessão: o de
marketing, o de engineering, e o de management. Destarte, é correto dizer que só se
identifica uma franquia típica quando há cessão da marca, marketing, engineering e
management.
O marketing envolve a divulgação dos produtos e serviços, a pesquisa de mercado,
as técnicas promocionais, e tudo o mais que com isto se relacione. Para custeio destas ações
de marketing, os franqueados, toda a rede, pagam mensalmente um percentual que varia de
dois a três por cento do faturamento, formando o fundo de marketing, bojo de onde será
retirado o valor para pagar as medidas publicitárias. Com isso, a divulgação fica mais fácil
e acessível.
O engineering consiste na estruturação física do estabelecimento, partindo do
principal aspecto, que é a escolha do ponto, até a melhor distribuição do mobiliário dentro
do estabelecimento. O franqueador é quem instrui o franqueado acerca da viabilidade do
ponto escolhido, a relação entre o preço do aluguel e a expectativa de clientela. A
ambientação do estabelecimento, a estruturação física do maquinário, tudo isto faz parte do
engineering. Para a estruturação do estabelecimento, o franqueador pode realizar ele
mesmo as obras necessárias, ou indicar fornecedores de produtos e serviços habilitados
para tanto.
Por fim, o management é o grupo de técnicas de gestão, de administração do
negócio. O franqueador, experiente no ramo em que atua, passa todas as técnicas de
“Art. 7º A sanção prevista no parágrafo único do art. 4º desta lei aplica-se, também,
ao franqueador que veicular informações falsas na sua circular de oferta de
franquia, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.”
franqueado estaria se valendo de todo o know how apreendido, com o fim de estabelecer
negócio apartado daquele que lhe forneceu tal ciência negocial.
Na circular, precisam ser previstos todos os custos iniciais imagináveis do negócio,
como se vê no artigo 3°, VII, da Lei 8.955/94. Ali se vê a previsão da taxa de franquia, que
é um pagamento inicial único por período de franquia, pago no início ou na renovação,
apenas pela adesão ao sistema do franqueador. No inciso VIII do mesmo dispositivo, vem a
previsão das taxas periódicas, dentre as quais se destacam os royalties, variantes entre três e
cinco por cento do faturamento, verba paga a título de uso da marca.
Veja que na franquia os interesses econômicos são convergentes: franqueador e
franqueado saem ganhando quando o negócio vai bem, porque a maior parte da
remuneração do franqueador vem de percentuais sobre o faturamento – quanto maior este,
maior o lucro e a remuneração.
O inciso VIII, “d”, ainda fala em um seguro a ser contratado pelo franqueado, que
não se refere apenas aos bens da estrutura do negócio, mas também ao seguro de
responsabilidade civil perante consumidores: franqueado e franqueador são responsáveis
solidários por quaisquer danos causados aos consumidores, na forma do CDC. Sobre a
responsabilidade civil do franqueador e franqueado, veja o seguinte julgado do TJ/RJ,
bastante relevante:
“0005173-68.2005.8.19.0052 (2007.001.27994) - APELACAO - 1ª Ementa DES.
CAMILO RIBEIRO RULIERE - Julgamento: 03/10/2007 - DECIMA SETIMA
CAMARA CIVEL.
FRANQUIA
DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGACOES ASSUMIDAS PELO
FRANQUEADO. EFEITOS EM RELACAO A TERCEIROS.
RESPONSABILIDADE DO FRANQUEADOR. OBRIGACAO DE INDENIZAR
Responsabilidade civil. Indenizatória. Danos morais e materiais. Curso de Inglês -
Franchising. Descumprimento das obrigações assumidas pelo franqueado, e
fechamento precipitado de curso de inglês em Município do interior.
Responsabilidade do franqueador. Lei n. 8.955/1994 e artigo 25, parágrafo 1. do
Código de Defesa do Consumidor. O franqueador é o fornecedor aparente e deve
zelar pela manutenção do nome e obrigações assumidas pelo franqueado, com
terceiros, que raramente têm ciência de se tratar de contrato de franquia, mas
imaginam que estão contratando, efetivamente, com o titular de uso da marca.
Valor dos danos morais que não observou os critérios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Provimento parcial da apelação.”
passar-se à oferta externa. Pode ser, também, que não haja exclusividade alguma, o que
pode se demonstrar um perigo para o franqueado.
O inciso XI tem relação com o esforço de padronização da franquia: ali se prevê que
os bens e matérias-primas devem ser adquiridos de fornecedores aprovados pelo
franqueador.
O inciso XII trata praticamente de todo o know how a ser passado pelo franqueador
ao franqueado. Ali estão previstas as mais relevantes referências aos contratos auxiliares de
management e engineering.
O inciso XIV deste dispositivo trata de uma questão fundamental: as cláusulas
relativas à extinção do contrato de franquia. Em regra, os contratos de franquia impõem a
devolução de todo o material referente ao know how e segredo de indústria ao franqueador,
e a quarentena em relação à abertura de concorrência, pelo ex-franqueado, contra a rede de
franquia que integrava. A intensidade das restrições varia de acordo com o contrato, sendo
temporal ou territorial, ou ambas: não poderá abrir negócio similar em determinado raio, e
por determinado tempo, após a expiração do contrato de franquia. Esta cláusula de restrição
de não concorrência, diga-se, é muito forte nos contratos de franquia.
O artigo 4° da Lei 8.955/94, acima transcrito, determina que a circular deve ser
ofertada em prazo mínimo de dez dias ao potencial franqueado, a fim de que ele possa
instruir-se sobre tudo que lhe é oferecido, sobre todos os detalhes do negócio. Denomina-se
este período de prazo de reflexão, após o qual pode haver a incondicionada desistência de
firmar o negócio.
Veja um julgado relevante, do TJ/RJ, referente à lealdade na relação entre
franqueador e franqueado:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A responsabilidade é solidária, decorrendo dos artigos 2º, 25, § 1°, e 34 deste codex:
“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”
Questão 2
REMÉDIO BARATO Ltda. ajuizou uma ação de cobrança cumulada com perdas e
danos em face de FARMAVIDA COMÉRCIO Ltda., alegando que a ré, apesar de já não
pertencer ao rol de seus franqueados, continuava utilizando a sua marca. Ressalte-se que a
rescisão contratual entre o franqueador e a franqueada se deu em razão do não-
pagamento da "taxa" de franquia por parte da franqueada. Solucione a questão,
fundamentando-a.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XI
Notas de Aula13
A ação renovatória é o grande ponto de discussão neste tema, justamente por seu
escopo ser o de proteger um elemento fundamental da relação de empresa: o ponto. Veja
que, de início, cumpre dizer que o termo “locação empresarial” é insuficiente para
descrever a relação em questão, porque não só na locação empresarial se dá o direito de
renovação compulsória do contrato: basta que seja locação não-residencial.
O direito potestativo à renovação compulsória não está limitado à locação
empresarial, sendo aplicável a todas as locações não-residenciais. Como exemplo de
locação não-residencial que ao mesmo tempo é também não-empresarial, temos qualquer
locação imobiliária empreendida por sociedades simples, não empresárias – como um
escritório de advocacia, por exemplo.
E veja que existem até mesmo locações dedicadas à moradia que não são
residenciais: como exemplo, a locação feita pela pessoa jurídica para a moradia de um dos
sócios, gerente ou empregado, o que interessa diretamente à atividade de empresa. Assim,
enquadra-se, no direito à renovação compulsória, a locação com fim empresarial, mas
também aquela celebrada por sociedades simples, destinadas à atividade industrial, e
também na hipótese em que o locatário é uma pessoa jurídica, e o imóvel é destinado à
moradia de membro da sociedade ou de empregados.
13
Aula ministrada pelo professor Fábio de Oliveira Azevedo, em 3/12/2009.
“Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a
renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo
mínimo e ininterrupto de três anos.
1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou
sucessores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação
somente poderá ser exercido pelo sublocatário.
2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades
de sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio,
o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade.
3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio
sobrevivente fica sub - rogado no direito a renovação, desde que continue no
mesmo ramo.
4º O direito a renovação do contrato estende-se às locações celebradas por
indústrias e sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde
que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo.
5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de
um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do
prazo do contrato em vigor.”
O inciso I do artigo 51, supra, diz que a renovatória só tem lugar quando o contrato
a renovar tiver sido celebrado por escrito e com prazo determinado. Isto significa que, em
caso de pactuação ou prorrogação por prazo indeterminado, o direito de renovação
compulsória simplesmente inexiste.
Em todas as locações previstas na lei – residencial, não-residencial e por temporada
–, findando-se o prazo pactuado originalmente, sem que novo contrato seja produzido, ou
sem que a renovação compulsória tenha tido lugar (quer porque não era cabível, quer
porque o locatário não a pleiteou habilmente), o contrato passa a viger por prazo
indeterminado, e não se extingue, como se poderia pensar.
O prazo que enseja a renovação compulsória, como dito, deve ser de cinco anos, na
forma do inciso II do artigo supra: haverá renovação por mais cinco anos, sucessivamente.
Quando o contrato já for pactuado, inicialmente, por cinco anos, não há maiores problemas
na verificação deste requisito; problema surge é quando há a soma dos prazos de diversos
contratos entre as partes, especialmente ante a exigência de curso ininterrupto dos cinco
anos.
Vejamos um exemplo: locatário pactua com locador contrato de três anos; ao seu
final, ocorre um intervalo de seis meses, até a feitura de novo contrato de três anos.
Pergunta-se: há direito à renovação compulsória, neste caso?
Trata-se do instituto do acessio temporis: a soma dos contratos ininterruptos deve
preencher os cinco anos que a lei impõe como requisito, mas isto não pode ensejar a fraude
ao escopo da lei. Se, no caso, o intervalo é claramente dedicado à frustração do direito à
renovação, a soma dos prazos deve desconsiderar tal intervalo, ou seja, há, sim direito à
renovação por preenchimento do prazo, no exemplo dado. Aplica-se, aqui, o artigo 45 da
Lei de Locações:
“Art. 45. São nulas de pleno direito as cláusulas do contrato de locação que visem
a elidir os objetivos da presente lei, notadamente as que proíbam a prorrogação
prevista no art. 47, ou que afastem o direito à renovação, na hipótese do art. 51, ou
que imponham obrigações pecuniárias para tanto.”
O inciso III do artigo em questão determina que só faz jus à renovação compulsória
o locatário que esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e
ininterrupto de três anos.
Também quanto a este requisito se aplica o entendimento de que pequenos
intervalos na exploração do bem não descaracterizam a continuidade que é imposta como
requisito. Fosse tão rígida a leitura, qualquer cessação temporária das atividades ensejaria a
perda do direito à renovação compulsória, o que não é o escopo da lei. Por exemplo, não
poderia o locatário sequer fechar as portas para reformar o imóvel, sob pena de perder o
direito.
É preciso verificar, portanto, apenas se a mesma atividade foi desenvolvida no
imóvel, pelo tempo mínimo de três anos, porque é o prazo que o legislador encontrou como
necessário ao estabelecimento de um ponto reconhecível pelo mercado, e por isso
merecedor de proteção.
Veja um exemplo peculiar: suponha que haja um contrato de locação de cinco anos
para o desenvolvimento de comércio de calçados. No curso do contrato, no segundo ano, o
locatário pretende alterar seu negócio para um restaurante, sendo autorizado pelo locador.
Caberá, perfeitamente, a renovação compulsória, porque ao fim dos cinco anos haverá
preenchimento de três anos em uma mesma atividade, formado o ponto do restaurante.
O estudo dos shopping centers será alvo de tema próprio, mas cabe aqui adiantar
algumas peculiaridades referentes às locações.
Durante muito tempo, discutiu-se se a relação entre o empreendedor do shopping e
o lojista era ou não uma relação locatícia. Diversas foram as teorias, da que reputava esta
relação como sui generis à que identificava-a como locação, passando até mesmo pelo
entendimento de que se tratava de uma espécie de sociedade. Capanema entende que, a
partir da edição da Lei 8.245/91, a discussão recebeu uma pá de cal legislativa: é uma
locação, na forma do artigo 54:
I - por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que
importarem na sua radical transformação; ou para fazer modificações de tal
natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade;
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo de
comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o
locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do mesmo
ramo do locatário, salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio, com
as instalações e pertences.
2º Nas locações de espaço em shopping centers, o locador não poderá recusar a
renovação do contrato com fundamento no inciso II deste artigo.
3º O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos
lucros cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização
do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão de proposta de
terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da
entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas
pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar.”
Preenchidas as condições para o direito à renovação, o locador de loja em shopping
center simplesmente não pode alegar aquelas defesas ali mencionadas. Vale adiantar que se
o shopping não for tecnicamente um shopping, e sim um centro comercial (o que ocorre nos
chamados shoppings vendidos, conforme se verá), a relação de locação segue a regra geral,
sem estas peculiaridades.
Em breve síntese, veja que a regra, portanto, é que o direito à renovação
compulsória não é absoluto, porque há as exceções legais previstas no artigo 52, supra, que
permite ao locador recusar a renovação, mesmo preenchidos os requisitos. A retomada para
uso próprio, constante do inciso II do artigo supra, por exemplo, é uma hipótese cabível de
recusa ao direito de renovação preenchido. Na locação celebrada entre lojista e
empreendedor de shopping center, portanto, a renovação é absoluta, eis que não se aplica o
artigo 52 em comento – é expressamente vedada esta aplicação, como diz o § 2° do
dispositivo em questão. Segundo Sylvio Capanema, este dispositivo só é aplicável ao
chamado shopping center típico, o locado, não se aplicando ao shopping vendido.
Casos Concretos
Questão 1
Na locação de uma loja para expansão dos negócios de uma sociedade empresária
foi incluída, observando o prazo quinquenal, a locação de um apartamento anexo, do
mesmo locador, para moradia do gerente do estabelecimento, além de eventual uso de um
de seus cômodos para depósito de mercadorias. O dito apartamento é incluído na ação
renovatória aforada no prazo legal. O locador contesta o pedido de inclusão por entender
incabível a utilização do instituto para imóveis de uso residencial. Procede a defesa?
Justificar.
Resposta à Questão 1
“Art. 55. Considera - se locação não residencial quando o locatário for pessoa
jurídica e o imóvel, destinar - se ao uso de seus titulares, diretores, sócios,
gerentes, executivos ou empregados.”
Destarte, quer pela previsão legal acima, quer porque a locação é mista com
preponderância do fim empresarial, a renovação compulsória se impõe.
Questão 2
Mônica Lopez ajuizou ação renovatória de contrato de locação comercial, que tem
por objeto certo imóvel situado em Ipanema. Como causa de pedir, entre outros
Questão 3
Ourizona 360 Graus Promoções S/A. intentou ação de despejo por denúncia vazia
proposta em face de Elouard Ayorano, com base em contrato particular de Licença
Especial de Uso de Stand, através do qual ajustaram a locação do stand 109 no Shopping
Center Velouté pelo período de 720 dias, prorrogado até a data de 08/12/2007, quando o
locatário recebeu notificação para desocupação voluntária. O locatário em sua
contestação resistiu à pretensão, impugnando a existência de locação, já que a ocupação
do stand deriva de contrato de exploração de licença de posse do imóvel, o que torna
inaplicável a Lei nº 8.245/91. Portanto, nessa linha de raciocínio, a ocupação do imóvel se
dá em virtude de uma licença e, por isso, não seria locatário, mas licenciado ou
autorizado. Em réplica, o autor aduz que o contrato, apesar de ostentar o nome de Licença
Especial de Uso de Stand, tem conteúdo inequívoco de contrato de locação. A cláusula 2ª
do ajuste define o objeto como "a locação de uma área correspondente ao stand 109...".
Em outras cláusulas há previsão de substituição de fiadores ou formulação de novas
exigências. O texto restante define regras, fixa responsabilidades, estabelece prazos, valor
mensal a ser pago e encargos contratuais. Pergunta-se: A pretensão do autor está ou não
albergada pela Lei de Locações? Como decidiria a questão?
Resposta à Questão 3
O contrato em questão nada mais é do que uma simples locação, apesar do nomen
fantasioso criado pelo locador, pois estão presentes os pressupostos essenciais genéricos e
específicos deste tipo de contrato, dentre os quais o bem objeto da locação, em
contrapartida ao preço que representa a remuneração ao contratante proprietário. Aplica-se,
portanto, sem dúvida, a Lei de Locações, sendo possível o despejo, devendo ser procedente
se comprovados os requisitos da denúncia vazia.
Tema XII
SHOPPING CENTERS. Aspectos jurídicos do shopping center. Conceito. Estrutura do negócio jurídico.
Personagens. Aplicação da Lei Nº 8.245/91. Res Sperata. Aluguel mínimo, décimo terceiro aluguel,
publicidade, cobrança de estacionamento e questões afins.
Notas de Aula14
1. Shopping center
14
Aula ministrada pelo professor Fábio de Oliveira Azevedo, em 3/12/2009.
sendo que em parte dele se configurou um condomínio geral voluntário (as sete lojas são
condominiais de seus três proprietários)15.
Havendo condomínio geral voluntário, há solidariedade legal, na forma do artigo 2º
da Lei de Locações, ativa e passiva:
Por haver esta solidariedade ativa, qualquer dos credores, sozinho, pode ajuizar uma
ação de cobrança, por todo o montante devido, o que implicará apenas em rateio interno
entre os condôminos, quando recebida a sentença favorável e o bem material, o pagamento.
Da mesma forma, se todos os credores, condôminos, quiserem ajuizar uma ação de
despejo, ou uma revisional de aluguéis, por exemplo, não há problema: todos comporão o
pólo ativo. Haverá um imbróglio é quando algum dos condôminos credores não quiser agir
em despejo ou revisão: a revisão das cláusulas contratuais ou sua extinção pressupõe
resultado que alcançará a todos; se um deles não quer litigar, a sentença não o alcançará.
Por isso, a solução processual conhecida é citar-se o condômino que não quer litigar para
compor o pólo passivo, a fim de que a sentença o alcance, não subvertendo, assim, a
eficácia subjetiva da coisa julgada.
O shopping center, ao contrário do entendimento leigo, não cobra luvas. O que há,
no shopping, são dois fundos empresariais diferentes, um sobrefundo. Fundo empresarial é
um complexo de bens materiais e imateriais que habilita e materializa a atividade
empresarial (marcas, patentes, equipamentos, aviamento, etc.). No shopping, cada lojista
tem seu próprio fundo empresarial, mas existe também um fundo empresarial maior, que
pertence ao próprio shopping como um todo.
Tome-se um exemplo: a Mc’Donalds que funciona dentro do shopping Rio Sul tem
todo o seu fundo empresarial, composto por sua marca, sua imagem, seu público próprio,
seus bens móveis, etc; o shopping Rio Sul, em si, também tem seu próprio fundo
empresarial, consistindo na sua própria marca, seus equipamentos, ar condicionado,
segurança, iluminação, estacionamento, etc.
O que se passa, quando há a instalação de uma loja em um shopping, é um
pagamento inicial pelo lojista ao shopping justamente pelo direito de uso deste fundo de
empresa, o sobrefundo do shopping – e não o pagamento de luvas, que, no ordinário, é a
“compra” do ponto em locações empresariais comuns (o que é perfeitamente legal, só
15
Os litígios envolvendo relações pertinentes ao shopping, em regra, são imobiliários, de responsabilidade
civil, ou por alguma violação contratual. Tem sido comum a alegação, em iniciais de lojistas contra o
respectivo locador, de que o fracasso de sua empreitada se deve à má condução do estabelecimento em geral,
algo como um descaso pelo sucesso do lojista. Ora, esta alegação tem sido rejeitada, porque o shopping tem a
particularidade do aluguel variável, que é aquele em que o lojista paga um valor mínimo ou um percentual de
seu faturamento, o que for maior. Se o faturamento majorará o aluguel, é claro que o locador tem todo
interesse no sucesso do locatário. É claro que, se se identificar alguma atuação ou omissão desidiosa
determinante para o fracasso do locatário, esta tese poderá ser acolhida, mas não basta dizer que o fracasso
deve-se apenas ao desinteresse geral que o shopping desperta nos clientes, como tem sido feito.
sendo vedada a cobrança de luvas na renovação, mas não na aquisição). E o nomen deste
pagamento inicial é res sperata.
Pode haver caso em que a locação cumule pagamento de luvas, se há ponto
formado, e também da res sperata, sem que se configure qualquer abuso, porque as causas
de uma e outra não se confundem. A res sperata é uma remuneração ao locador pela
utilização do fundo empresarial do shopping, e não apenas do ponto, razão pela qual é mais
ampla, e de escopo diverso, do que as luvas – que são a remuneração pelo ponto que se
adquire, somente.
O próprio nome do contrato em que se paga a res sperata é bastante revelador de
seu escopo: chama-se cessão de uso do fundo empresarial, revelando com clareza seu
objeto. O contrato é perfeitamente comutativo, e não aleatório: de um lado, há a obrigação
de pagar o preço; de outro, a obrigação de colocar o fundo empresarial à disposição do
lojista, obrigação de meio que consiste em planejar, organizar e manutenir o bom
andamento deste sobrefundo, a fim de que a estrutura seja atrativa ao público. E veja que a
obrigação do shopping é de meio: ele tem que envidar esforços para captar o público,
mantendo um bom fundo empresarial (uma boa marca, um bom nome, uma boa segurança e
limpeza, etc.), mas se o público mesmo assim não vier, sua obrigação não restou
descumprida – o sobrefundo foi mantido e posto à disposição do lojista, tendo cumprido a
prestação.
Pelo ensejo, vale explicar o motivo do nome deste instituto ser res sperata. Res
sperata significa “coisa esperada”. Este pagamento, originalmente, se destinava a financiar
a própria instalação do sobrefundo, a sua criação, a construção das áreas comuns, do
ambiente, da marca do shopping, etc. Daí o nome: tudo isto era uma “coisa esperada”
daquele futuro locatário que paga em face do shopping que estava se instaurando. O futuro
locatário remunerava, desde já, o fundo empresarial cujo uso lhe será entregue no futuro.
Por isso, a locação contraída em um shopping já a pleno vapor, em pleno
funcionamento, não é mais causa de uma “coisa esperada”, tecnicamente: a coisa já é posta,
o sobrefundo já existe e está à disposição de quem vier a se tornar lojista naquele espaço.
Prevalece com vigor a autonomia privada, nos contratos de shopping center, e por
isso a previsão contratual, quase regra, de que há o décimo terceiro aluguel, é válida. A
jurisprudência entende que é possível esta cobrança porque é equilibrada a relação em um
período notoriamente de maior faturamento para os lojistas, com as compras de fim de ano.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
“Súmula 130, STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano
ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.”
Questão 3
Resposta à Questão 3
“Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a
sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”
Pelo ensejo, vale mencionar aqui uma séria discussão que ganha corpo hoje nas
Cortes Superiores, sobre os efeitos do reconhecimento da exceptio non adimpleti
contractus. O STJ tem entendido que quando ocorre esta situação, o que se dá é o
surgimento de inexigibilidade da prestação da parte previamente alvejada pela
inadimplência, ou seja, ela fica dispensada de pagar sua prestação até o momento em que a
outra parte pague a sua própria. Haveria uma espécie de suspensão da eficácia do contrato.
De outro lado, há quem defenda que o reconhecimento desta exceção gera extinção do
contrato – o que parece ser a conclusão induzida pelo CC. Contudo, a primeira posição é
mais salutar, eis que homenageia o princípio da conservação dos negócios jurídicos.
Tema XIII
Notas de Aula16
A atuação dos bancos está inserida dentro do sistema financeiro nacional, e há hoje
duas normas principais para classificar e disciplinar as instituições financeiras: a Lei
4.595/64, especialmente seu artigo 17; e a Lei Complementar 105/01, que trata de regras de
sigilo financeiro. Veja o artigo 17 do primeiro diploma:
16
Aula ministrada pelo professor Bruno Vaz de Carvalho, em 26/11/2009.
Uma forma que as operadoras de cartões tinham para burlar a limitação dos juros,
antes da LC 105/01 considerá-las como instituições financeiras, abrindo o limite de juros tal
qual é aberto aos bancos, era a inclusão, em seus contratos com os consumidores titulares
de cartões, da famigerada cláusula mandato. Consistia, esta cláusula, na entrega de poderes
à administradora para buscar no mercado empréstimos em nome do titular do cartão, a fim
de financiar o pagamento do valor devido por este à administradora. Ao assim proceder,
buscando o financiamento do cliente no mercado, estes valores seriam colhidos junto a
instituições financeiras, a juros livres.
Com a qualificação de instituição financeira dada às operadoras, esta dinâmica se
alterou: com a liberação dos juros legais da Lei de Usura, as operadoras não mais
necessitam da associação aos bancos, podendo, elas mesmas, financiar os débitos de seus
clientes.
Além de bancos e operadoras de cartões, as cooperativas de crédito também são
instituições financeiras. Daqui por diante, porém, vamos ater-nos ao estudo dos bancos
comerciais, alvo deste tema. Há bancos atuantes em diversos segmentos do mercado
financeiro, não necessariamente sendo-lhes permitida a atuação em todos os nichos,
simultaneamente. Há bancos de emissão, bancos de investimento, bancos de
desenvolvimento, e os bancos comerciais ou de depósito, que serão aqui focados.
Há algumas instituições de relevo na sistemática financeira nacional. A primeira é o
Conselho Monetário Nacional, órgão da administração pública sem personalidade jurídica
própria, integrado pelo ministro da justiça, pelo ministro do planejamento, pelo presidente
do Banco Central do Brasil, e conta com corpo técnico na área financeira. A principal
função deste conselho é traçar a política monetária nacional, tendo dentre suas atribuições a
fixação de um teto para os juros que as instituições financeiras podem cobrar (o que não foi
feito até hoje). Vale ressaltar que é esta atribuição normativa, ainda não exercida, o
principal argumento de que dispõem as instituições financeiras para não estarem adstritas
ao limite legal da Lei de Usura ou do próprio Código Civil: estão adstritas aos juros
impostos pelo Conselho, e como este jamais estabeleceu o teto, simplesmente não há limite
normativo aos juros de instituições financeiras.
É fato que o Conselho emite uma série de resoluções ditando as normas gerais do
sistema, tais como as regras de transparência nas relações bancárias, em atenção ao direito
consumerista. Contudo, a mais relevante das normas, que seria o patamar máximo de juros,
jamais foi editada.
Há também, no sistema, o já citado Bacen, banco de emissão que tem como
principal atribuição a exclusividade na emissão da moeda nacional, de curso forçado. O
Bacen é uma autarquia federal (com personalidade própria, portanto).
Atuantes no mercado, desempenhando-o, há instituições financeiras públicas e
privadas, que diferem apenas quanto à composição de seu capital e quadros funcionais,
além de que as instituições públicas representam uma intervenção estatal no domínio
econômico. A Caixa Econômica Federal – as caixas econômicas em geral – são instituições
que atuam em todo o mercado, apesar de terem como fundamento de interesse público o
fomento à poupança popular. A CEF é uma empresa pública federal, com personalidade
jurídica de direito privado, o que a impede de ter qualquer benefício que a favoreça perante
as demais instituições financeiras privadas, para não desequilibrar o mercado.
Este é o desenho, bem resumido, do sistema financeiro nacional, que conta com
uma complexa rede de entidades, umas regulando e outras celebrando os contratos
bancários, que serão abordados doravante.
2. Contratos bancários
“Art. 119 - São considerados banqueiros os comerciantes que têm por profissão
habitual do seu comércio as operações chamadas de Banco.”
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
42, de 19.12.2003)
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.”
“Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função
social do contrato.”
A autonomia contratual conta com dois vieses, o subjetivo e o objetivo. No que diz
respeito aos contratos bancários, a liberdade de escolha, viés subjetivo, a princípio, não é
deferida ao banco, na medida em que uma das características das operações bancárias, além
do seu conteúdo peculiarmente econômico, é o fato de serem operações em massa: o banco
não pode, como fornecedor de produtos e serviços que é, se recusar a contratar com o
consumidor que preencha as condições para tanto, os requisitos objetivos para tal
contratação.
O viés objetivo da liberdade c]de contratar diz respeito ao conteúdo do contrato: há
autonomia para estabelecer o quê se quer contratar, e, a não ser no que diz respeito a
determinadas normas de ordem pública, sobre as quais não é dado às partes transigir, a
disciplina contratual é supletiva, servindo-se para omissões de cláusulas expressas por parte
dos contratantes. Nos contratos bancários, a liberdade de conteúdo é bastante relativa,
havendo apenas algumas vedações que serão abordadas pontualmente. Se, do ponto de vista
subjetivo, a liberdade dos bancos é limitada – têm que contratar com quem preenche os
requisitos –, do ponto de vista objetivo, a liberdade é bastante ampla.
Liberdade objetiva de contratar não é tão ampla assim do outro ponto de vista
pactual: os consumidores não têm tal intensidade de liberdade na definição do quê contratar
com os bancos. Os contratos são, praticamente todos, de adesão. Vale explicar, porém, que
esta é uma característica saudável das operações massificadas, sem a qual seria impossível
o alcance de mercado que os bancos proporcionam. Sem esta padronização, o acesso aos
produtos e serviços bancários seria absurdamente reduzido, pois a puntuação de cada
contrato tornaria as relações entre banco e clientes demasiadamente morosa e burocrática.
Contudo, o contrato de adesão carrega um ônus a quem o elabora, como se sabe:
havendo dubiedades, a interpretação é em prol do aderente, em detrimento do aderido –
nada que impeça a relação de ser saudável, porém. Estes contratos, como são referentes a
relações de consumo, guardam também toda a protetividade desta seara, além da tendência
ao aderente. Por exemplo, as cláusulas restritivas de direitos do consumidor, aderente,
precisam vir em destaque.
A grande maioria dos contratos bancários não tem tipificação legal. São atípicos e
inominados. Assim o são os contratos de desconto, de conta-corrente, de cofre bancário, de
cartão de crédito, etc. Os financiamentos, outrossim, são típicos e nominados, contando
com regulamentação bastante detalhada: são contratos de mútuo feneratício especiais,
extraordinários. Segundo o CC, o mútuo celebrado com instituição financeira tem a
presunção de juros devidos, como se vê no artigo 591 do CC:
endossante o valor que lhe foi adiantado, mais os juros consubstanciados no desconto, se
não receber o título por inadimplemento do devedor cambiário.
O argumento dos bancos para afastar esta aplicação era o de que a atividade
bancária responderia a um microssistema normativo específico, o da Lei 4.595/64, não se
submetendo à regência do CDC. Diziam os bancos que se o seu objeto negocial era
justamente a intermediação do capital, nunca poderia ser considerado, ele próprio,
fornecedor, porque ninguém se apresenta conformado ao conceito de destinatário final de
seu produto, o dinheiro.
É claro que a tese bancária não encontrou amparo. A ADI que os bancos ajuizaram
contra este § 2°, supra, foi julgada improcedente, reconhecendo a constitucionalidade da
norma. Mas veja que a decisão do STF não significa que o CDC se aplique plena e
irrestritamente aos contratos bancários: se aplica, sem dúvida, quanto às proteções
consumeristas, como a necessidade de transparência, vedação de cláusulas abusivas,
inversão do ônus da prova, mas a matéria que é regulada expressamente pelo Bacen e pelo
Conselho Monetário Nacional – como a fixação de juros – continua afeta a estes entes do
sistema, bem como as demais normas do microssistema financeiro, como a própria Lei
4.595/64.
Os contratos do Sistema Financeiro de Habitação, por exemplo, não sofrem
incidência do CDC: a matéria é tão detalhadamente regulada que não se aplica em nada o
codex consumerista. Há, neste caso, um microssistema próprio bem definido para a relação,
e já é protetivo dos mutuários, em certa monta.
A correlação entre os microssistemas, de fato, é algo que vem sendo defendido por
autores modernos, o chamado de diálogo das fontes. Os sistemas não são excludentes, em
regra, salvo exceções como esta do SFH. São, na verdade, interpenetráveis, devendo ser
aplicado aquilo de cada um que revelar o direito, sem colidir com a regulamentação
expressa porventura dedicada em um ou outro sistema.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem
taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados
segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional.”
O artigo 406 não revogou a Lei de Usura, porque este artigo só tratou do
juros moratórios, e não necessariamente o mútuo terá juros apenas de mora, mas
sim compensatórios, remuneratórios.
Embora este limitador dos juros tenham até mesmo entendimento
sumulado no TJ/RJ, como se vê na súmula 95 deste Tribunal, O STJ tem
admitido a aplicação da taxa Selic aos contratos de mútuo, com a ressalva de
que, aplicando-se esta taxa, não se pode cumular com a correção monetária, que
já vem nela embutida. Veja a súmula mencionada:
“Súmula 95, TJ/RJ: JUROS MORATÓRIOS. ART. 406. NOVO CÓDIGO CIVIL.
CRITÉRIO DE INCIDÊNCIA. CRITÉRIO DE FIXAÇÃO.
‘Os juros, de que trata o art. 406, do Código Civil de 2002, incidem desde sua
vigência, e são aqueles estabelecidos pelo art. 161, parágrafo 1º, do Código
Tributário Nacional’.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
A inscrição nos cadastros desabonadores, por si só, é uma atitude lícita, só sendo
causadora de dano quando, por qualquer motivo, for considerada indevida. Veja a súmula
90 do TJ/RJ:
O STJ tem entendido que o mero ajuizamento de uma ação, portanto, não é
suficiente para impor a retirada do autor dos cadastros protetivos do mercado, sendo
necessária a prova de que é indevida a inscrição – prova perfunctória quando se tratar de
análise antecipatória da tutela – e, ainda, do depósito de parte incontroversa do valor de que
o autor é devedor, se somente se insurge contra parte da dívida, como no caso, em que
apenas questiona a parte referente à abusividade dos juros.
Destarte, não basta a mera distribuição da ação, sendo necessária a verossimilhança
de que é indevido, e o depósito de eventual parcela incontroversa – para a liminar –, e a
certeza de que é indevida, para o provimento final. Sendo realmente indevida, a
indenização será o caminho, pelos eventuais danos materiais e morais.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIV
Notas de Aula17
17
Aula ministrada pelo professor Bruno Vaz de Carvalho, em 26/11/2009.
A ação do banco pelo uso do cheque especial, do crédito por ele concedido – o
famigerado limite bancário para saque ou cobertura de cheques – é uma problemática
severa nesta relação. Até algum tempo atrás, a abertura de uma conta corrente com limite
de crédito pré-autorizado era realizada com a pactuação do contrato e, simultaneamente, a
subscrição de uma nota promissória em branco em favor do banco (o que, relembre-se, é
perfeitamentye válido, pois pode o credor de boa-fé preencher os campos brancos do
título). Inadimplido o contrato, ou seja, usado o limite e não pago, este valor devido seria
lançado na nota promissória, e então executado este título executivo extrajudicial.
Ocorre que esta dinâmica gerava uma série de problemas, a começar pela forma de
cálculo do valor devido pelo correntista, ante a difícil definição da natureza do contrato. Se
fosse classificado como mútuo, contrato real, a mera disponibilização dos valores ao uso já
seria suficiente para gerar encargos, como os juros remuneratórios. É claro que esta
dinâmica não ocorre no cheque especial: a mera disponibilização do valor não gera dever
de restituir este com os juros, pois é necessário que o correntista efetivamente se valha do
limite disposto para sobre ele incidirem juros – não se utilizando dos valores, não há dever
de restituí-los, muito menos com juros acrescidos.
Por isso, o que se entende é que não há, de fato, a entrega dos valores pelo banco
pela mera disponibilização destes na conta. Até que o correntista efetivamente se utilize do
limite, quando então ocorre a real tradição dos valores, não há quaisquer encargos devidos.
Assim, o entendimento que tem prevalecido, sobre este aspecto do contrato de conta
corrente, é que se trata de um contrato de mútuo sob condição suspensiva: o contrato de
mútuo está firmado, mas só tem eficácia quando há a utilização do valor disponibilizado em
conta pelo correntista.
Firmado o contrato e emitida a nota promissória, se o correntista o tornasse eficaz,
ou seja, usasse o limite, e não o pagasse, o banco preencheria no título de crédito o valor
devido – principal somado aos juros do período –, e apresentaria este para execução. Ocorre
que o STJ, posto diante de irresignações diversas dos correntistas assim executados, passou
a entender que a nota assim emitida não tinha liquidez suficiente para a execução, pois
careceriam da autonomia necessária em relação ao contrato de conta corrente, e este
documento que lhe serviria de causa é altamente ilíquido. Veja a súmulas 258 do STJ:
Este contrato bancário é também atípico, como a maioria dos contratos desta seara.
Há uma forte discussão doutrinária sobre sua natureza jurídica, pois seu objeto é o direito
de guardar documentos, valores, bens de toda sorte, no cofre localizado dentro da
instituição financeira: a prestação oferecida pela instituição financeira é a disponibilização
do espaço físico, pelo que os bancos classificam este contrato como uma espécie de
locação.
Qualificando-se como locação, ao locador só se impõe a obrigação de garantir o uso
do bem, do local. Não haveria o dever de assegurar a integridade dos bens ali guardados,
porque este dever de segurança não é próprio da locação. Ocorre que esta é, provavelmente,
o principal objetivo de quem busca contratar o uso de um cofre bancário: garantir a
segurança sobre aquilo que ali colocar, além do interesse em manter o sigilo sobre o
conteúdo do cofre.
O uso do cofre também não se trata de um contrato de depósito, pois a posse do
conteúdo jamais é transferida à instituição financeira. Afinal, quem tem a chave e o acesso
aos bens é o contratante, e somente ele, justamente pelo interesse no sigilo sobre o
conteúdo ali colocado. Não há como ter posse se sequer se sabe o que é a res.
A doutrina maior, e a jurisprudência, têm classificado este contrato como uma
locação com prestação de serviço de segurança, ou seja, objeto misto, em que se impõem
como obrigações do banco a tolerância do uso do local, do cofre, e a segurança de seu
conteúdo. Por isso, e sendo uma relação inserida na esteira do direito consumerista, o banco
responde objetivamente pelos bens ali postos pelo cliente, em responsabilidade objetiva
típica, a qual comporta apenas as excludentes de nexo e dano clássicas – fortuito externo e
fato da vítima.
Vale ressaltar que o contrato de uso de cofre não se confunde com o contrato de
penhor, ou o mútuo com garantia pignoratícia. Os bens dados em garantia ficam
depositados junto ao banco mutuante, a fim de servir ao adimplemento do contrato, caso o
mutuário não pague o empréstimo. A diferença fundamental, além do próprio objeto do
contrato, é que em caso de perecimento do bem posto em penhor, a indenização material (e
também moral) tem parâmetros sólidos, eis que o bem entra na guarda do banco com a
prévia avaliação de seu valor, a fim de se estabelecer a potencialidade garantidora daquele
bem sobre o mútuo. No uso do cofre, como se garante o sigilo sobre o conteúdo, em caso
de perecimento (furto ou roubo, por exemplo) o banco não sabe o que havia no interior do
cofre, prejudicando a fixação da indenização.
Esta questão da indenização pela perda do bem é, de fato, a mais problemática neste
tipo de contrato. Os contratos deste tipo, em regra, contêm ínsitos uma declaração do
contratante de que os bens que ali coloca não excedem a um determinado valor, o que tende
a solucionar parte dos problemas, porque até aquele valor a indenização é possível,
reservando-se a instituição o direito de não indenizar acima do valor declarado – cláusula
que, a todo ver, é perfeitamente legítima, porque se o valor superar um determinado
patamar, o banco condiciona a aceitação do uso do cofre à pactuação de um seguro contra o
perecimento, por parte do cliente. Assim, declarado um valor máximo de indenizabilidade,
se o cliente alegar que o bem perdido superava tal montante, é porque declarou valor falso,
não agindo com lealdade contratual. Por isso a cláusula é legítima: é uma norma de
proteção contratual perfeitamente razoável, eis que a instituição não conhece os bens
colocados no cofre.
A prova do conteúdo é fundamental, e seu ônus incumbe ao contratante, eis que só
ele pode ter a ciência de que bens depositou no cofre. Inverter o ônus da prova é criar prova
maligna, de impossível produção pelo banco. Não é porque o contratante fez a declaração
de que os bens não superam o teto indenizável que subscreveu no pacto que aquele teto é,
automaticamente, o valor da indenização. Na verdade, o que se estabelece com esta
cláusula não é um montante descritivo do valor dos bens, que será o quantum automático da
indenização em caso de perecimento; o que se estipula é um teto indenizável, mas a
indenização concreta ainda depende de prova, pelo depositante, do valor dos bens que ali
colocou. É simples: a cláusula delimita o máximo que será indenizável pelo banco, mas
ainda é preciso prova de que aquele bem tinha o exato valor que se reclama.
Vale ressaltar que a jurisprudência, por vezes, desconsidera esta cláusula limitadora
da indenização, o que não é uma posição que revela muita justiça, ante a quebra de uma
cláusula que não se mostra abusiva, como se viu.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
A respeito, veja o REsp. 333.211, que não leva em consideração o teto indenizatório
fixado no contrato:
Questão 2
MARIA JOSÉ celebrou contrato de utilização de cofre com o BANCO SOUZA S/A,
depositando suas jóias de família. Em 18 de agosto de 2003 ocorreu um roubo nas
dependências da instituição financeira. A depositante ajuizou ação de responsabilidade
civil em face do banco depositante, com fulcro nos arts 927, parágrafo único do Código
Civil e art. 14 do CDC, sustentando a responsabilidade objetiva do banco, tendente a
ressarci-la em valor correspondente ao valor das jóias. Procede o pedido da autora?
Resposta justificada.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
traçado na Lei 6.024/74, que versa sobre a liquidação das instituições financeiras, sendo
seus créditos preferenciais.