COPROCESSAMENTO
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COPROCESSAMENTO
Belo Horizonte
2010
© FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE
EQUIPE TÉCNICA
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LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
2 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU) .......................................................................... 2
2.1 Definição e classificação dos RSU................................................................................... 2
2.2 Caracterização dos RSU.................................................................................................. 4
2.3 Gerenciamento dos RSU ................................................................................................. 6
2.4 Tecnologias de tratamento de RSU ................................................................................. 8
2.4.1 Recuperação de biogás de aterro ................................................................................. 9
2.4.2 Biometanização ............................................................................................................ 9
2.4.3 Incineração ................................................................................................................. 10
3 INDÚSTRIA CIMENTEIRA ............................................................................................... 11
3.1 Processo de fabricação de cimento ............................................................................... 11
3.2 Coprocessamento.......................................................................................................... 14
3.3 Sistema de controle das emissões atmosféricas............................................................ 16
4 COPROCESSAMENTO DE RSU ..................................................................................... 19
5 ASPECTOS ECONÔMICOS DO COPROCESSAMENTO DE RSU ................................. 21
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................................... 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 24
ANEXOS ............................................................................................................................. 27
Resolução Conama n° 264, de 26 de agosto de 1999... ................................................... 27
Deliberação Normativa COPAM nº 154, de 25 de agosto de 2010. .................................. 36
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1 INTRODUÇÃO
No estado de Minas Gerais, a gestão dos resíduos sólidos urbanos vem sendo amplamente
difundida entre os municípios, através de campanhas junto ao executivo municipal, normas
e regulamentos que direcionam e incentivam a adoção de tecnologias e processos para uma
destinação final ambientalmente adequada. A Política Nacional de Resíduos Sólidos,
recentemente promulgada, é um exemplo, pois disciplina a necessidade do gerenciamento
de resíduos e responsabiliza o poder público, o setor empresarial e a coletividade pela
efetividade das ações estabelecidas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas define como resíduos sólidos os resíduos nos
estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e varrição. Ficam incluídos nesta definição os
lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos
e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor
tecnologia disponível (ABNT, 2004).
Essa definição é regulamentada pela norma ABNT NBR 10004, que ainda classifica os
resíduos sólidos nos seguintes grupos (ABNT, 2004):
• Resíduos perigosos (classe I) – são aqueles que apresentam periculosidade ou
constem nos anexos A e B desta norma ou apresentem uma das seguintes
características: inflamabilidade; corrosividade; reatividade; toxicidade e;
patogenicidade.
• Resíduos não perigosos, não inertes (classe IIA) – são aqueles que não se
enquadram nas classificações de resíduos classe I ou de resíduos classe IIB, nos
termos dessa norma. Os resíduos classe IIA podem ter propriedades, tais como:
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
• Resíduos não perigosos, inertes (classe IIB) – são quaisquer resíduos que, quando
amostrados de uma forma representativa, segundo norma ABNT NBR 10007, e
submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada, à
temperatura ambiente, conforme norma ABNT NBR 10006, não tiverem nenhum de
seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor,
conforme anexo G desta norma.
A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos. Segundo esse
critério, os diferentes tipos de resíduos podem ser agrupados em cinco classes (IBAM,
2001):
• Resíduo doméstico ou residencial: são os gerados nas atividades diárias em casas,
apartamentos, condomínios e demais edificações residenciais.
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Recentemente, foi promulgada a Lei Federal n° 12.30 5/2010, que institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos e dispõe sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos
geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. Tem-se como
definições dessa Lei (BRASIL, 2010):
Observa-se que essa Lei apresenta uma definição de resíduos sólidos muito semelhante à
da norma ABNT NBR 10004, com a particularidade do acréscimo de “gases contidos em
recipientes” no grupo dos resíduos sólidos. Outra determinação importante dessa Lei é a
descrição do termo resíduo sólido urbano, que engloba apenas os resíduos domiciliares e
de limpeza urbana.
As características dos resíduos podem variar em função dos aspectos sociais, econômicos,
culturais, geográficos e climáticos, ou seja, os mesmos fatores que também diferem as
sociedades e as cidades. A análise desse resíduo pode ser realizada segundo suas
características físicas, químicas e biológicas (IBAM, 2001).
Já as características químicas dos resíduos sólidos podem ser obtidas através dos dados
referentes a (IBAM, 2001):
• Poder calorífico: indica a capacidade potencial de um material desprender
determinada quantidade de calor quando submetido a queima. O poder calorífico
médio do resíduo domiciliar se situa na faixa de 5.000 kcal/kg.
• Potencial hidrogeniônico (pH): indica o teor de acidez ou alcalinidade dos resíduos,
situando-se, em geral, na faixa de 5 a 7.
• Composição química: consiste na determinação dos teores de cinzas, matéria
orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo, resíduo mineral total, resíduo
mineral solúvel e gorduras.
• Relação carbono/nitrogênio (C/N): indica o grau de decomposição da matéria
orgânica do resíduo nos processos de tratamento e disposição final, sendo
determinada, em geral, na ordem de 35/1 a 20/1.
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Vale destacar que existem controvérsias quanto ao poder calorífico inferior dos RSU, pois
algumas pesquisas indicam valores de 1300 kcal/kg (BARBOSA, 2005), 1572 kcal/kg
(POLLETO, 2007) e 3536,80 kcal/kg (CANÇADO et al, 2007), sendo esses dados inferiores
aos estimados pelo IBAM. Dessa forma, faz-se necessária uma avaliação prévia dos
resíduos a coprocessar para garantir a viabilidade da operação e atendimento à legislação
vigente.
Essa variação na geração per capita de RSU ocorre, segundo Cheremisinoff (2003), em
função de três principais fatores: perfil socioeconômico, grau de urbanização e tamanho da
residência. No entanto, o efeito do perfil socioeconômico na geração de RSU é incerto. Na
medida em que as sociedades se tornam, em média, mais ricas, há maior consumo de bens,
acarretando o aumento da geração de resíduos. As zonas rurais geralmente possuem
menores taxas de geração per capita comparadas com as zonas urbanas.
A reciclagem é um processo pelo qual os resíduos (cacos de vidros, papel, papelão, metal,
plásticos etc.) tornam-se matérias-primas de um processo industrial para a fabricação de
novos produtos de composição similar. Quando um produto é reciclado, a função e a forma
original são alteradas. Há uma tendência mundial para maximizar a reciclagem como uma
das soluções para o problema global de eliminação de resíduos (JARAMILLO, 2003).
Incineração mass-burn:
- sem recuperação de energia
- com recuperação de energia como a eletricidade
Incineração e outros tratamentos - com recuperação de energia como calor e potência (CHP)
térmicos com recuperação de energia
como a eletricidade ou calor. Pirólise/Gaseificação
Recuperação de metais para reciclagem Combustão em leito fluidizado do combustível derivado de
resíduo (CDR)
Co-processamento do CDR em fornos de cimenteira e
plantas de potência
Tratamento mecânico e biológico com Com aterramento da fração rejeitada
recuperação de metais para reciclagem Com incineração da fração rejeitada
Compostagem com composto Sistemas abertos
recuperado para uso na Sistemas fechados
agricultura/horticultura
Compostagem caseira
Com geração de potência
Digestão anaeróbica Com recuperação de calor e potência (CHP)
Para uso na agricultura
Papel e papelão
Vidros
Plásticos
Reciclagem Ferro e aço
Alumínio
Tecidos
Resíduos de equipamentos eletro-eletrônicos
Fonte: EUROPEAN COMISSION (2001).
Das tecnologias de tratamento de resíduos abordadas pela Comissão Européia, podem ser
citadas como principais a recuperação de biogás de aterro, a biometanização e a
incineração, que estão resumidas a seguir. Essas tecnologias se viabilizam pela destinação
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Em aterros sanitários, o gás gerado pela decomposição da matéria orgânica presente nos
resíduos sólidos é, em geral, lançado para a atmosfera. O biogás ou gás de aterro é um
subproduto da decomposição anaeróbica de resíduos sólidos pela ação de
microorganismos, constituído por uma composição típica de 40 a 70% de metano (CH4), 30
a 60% de gás carbônico (CO2), 0 a 1% de nitrogênio, 0 a 3% de gás sulfídrico (H2S) e outros
gases (IBAM, 2007a).
Considerando sua composição e seu elevado poder calorífico, o biogás se apresenta como
uma potencial fonte energética renovável. Segundo o IBAM (IBAM, 2007b) projetos com
aproveitamento do biogás para queima no flare ou produção de energia geram receita com a
venda de créditos de carbono no mercado internacional, propiciando incentivos para
melhorias do projeto e operação dos aterros sanitários e para a implementação de uma
gestão municipal adequada dos RSU.
Para possibilitar a recuperação energética, o IBAM informa que os aterros sanitários devem
considerar: um sistema de impermeabilização superior, destinado a evitar a fuga do biogás
para a atmosfera; poços de drenagem de biogás, para otimizar a coleta e o tratamento dos
gases; redes de dutos para encaminhar o biogás dos poços à unidade geradora de energia;
bombas a vácuo para compensar as perdas de carga nas tubulações e garantia da vazão
regular do biogás e; grupos geradores, constituídos por motores a combustão interna ou
caldeiras e turbinas, utilizando o biogás como combustível (IBAM, 2007b).
2.4.2 Biometanização
2.4.3 Incineração
3 INDÚSTRIA CIMENTEIRA
Segundo a US.EPA (2003), três zonas de temperaturas podem ser distinguidas em um forno
de clínquer: Na zona 1 - alimentação da farinha - a faixa de temperatura varia de ambiente a
600°C. Nessa região, a umidade contida na matéria-p rima é evaporada. A segunda zona de
temperatura é conhecida como zona de calcinação. A calcinação ocorre quando os gases
quentes do forno dissociam o carbonato de cálcio, contido no calcário, em óxido de cálcio.
Nessa região do forno, o intervalo de temperaturas é entre 600 e 900°C. A zona 3 é
conhecida como zona de sinterização; a zona de queima é a parte mais baixa e mais quente
do forno. Nela, as temperaturas ultrapassam 1500°C e induzem a reação do óxido de cálcio
com silicatos, ferro e alumínio, contidos nas matérias-primas, para formação do clínquer. Os
combustíveis usados no forno são, basicamente, coque de petróleo e moinha de carvão
vegetal. A Figura 2 mostra o esquema do gradiente de temperatura e tempos de residência
nas zonas do forno de clínquer.
13
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Para garantir a reatividade do clínquer após a saída do forno, sua temperatura deve ser
reduzida bruscamente em um resfriador de grelhas; além disso, os gases quentes gerados
nesse resfriador podem ser aproveitados no maçarico principal ou no pré-calcinador. O pré-
calcinador é uma instalação equipada com um maçarico, que tem por objetivo promover o
pré-aquecimento da farinha, de forma a permitir a admissão de uma maior quantidade de
material a ser calcinado no forno.
aditivos, o que possibilita um aumento da produção sem elevação proporcional nos custos
de fabricação.
O cimento obtido com a moagem é transferido para um silo, de onde é extraído a granel ou
direcionado para a ensacadeira, para posterior expedição.
3.2 Coprocessamento
O estado de Minas Gerais é o maior produtor nacional de cimento, sendo responsável por,
aproximadamente, 25% do total nacional. Essa produção é feita em 10 unidades industriais
e todas possuem licença ambiental para coprocessar resíduos.
Cabe destacar que essa atividade é uma prática crescente no mundo, como pode ser
observado na Tabela 2. No Brasil, de modo geral, o percentual de substituição de
combustíveis e matérias-primas é de, aproximadamente, 15% (SNIC, 2010). Nos países
desenvolvidos, a disponibilidade de resíduos industriais é superior à do Brasil,
principalmente em função da maior quantidade de indústrias de transformação existentes
nesses países.
Os pontos de alimentação dos resíduos no forno são, basicamente (FIGURA 3): (1)
juntamente com a farinha; (2) na caixa de fumaça (entrada do forno); (3) no maçarico
principal; (4) no pré-calcinador.
O controle dos poluentes é feito com a verificação dos elementos presentes nos resíduos,
cuja concentração é normatizada de forma que as emissões decorrentes do
coprocessamento de resíduos que os contenham situem-se abaixo dos padrões máximos
estabelecidos para as emissões atmosféricas (Resolução CONAMA n° 382/2006).
Figura 4 - Forno rotativo com ciclone pré-aquecedor e coletor de material particulado dos gases.
Fonte: KARSTENSEN (2010).
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4 COPROCESSAMENTO DE RSU
Dessa forma, tendo em vista que o coprocessamento de resíduos sólidos urbanos de origem
domiciliar somente foi regulamentado em 2010, essa prática ainda não é utilizada em Minas
Gerais.
Segundo a US.EPA (GREER et al apud US.EPA, 2003), testes de queima têm mostrado, de
forma consistente, que a eficiência de destruição e remoção dos constituintes dos resíduos
coprocessados, atingem um percentual de 99,99 a 99,9999% para os resíduos orgânicos
estáveis. Além desse, outros aspectos positivos podem ser apresentados, sob a ótica
ambiental, tais como:
• Diminuição da disposição dos RSU em aterros sanitários, aumentando
consequentemente sua vida útil.
• Aproveitamento do poder calorífico do resíduo para geração de energia térmica.
• Destruição térmica dos resíduos sem geração de escórias e/ou cinzas.
• Não há necessidade de investimentos adicionais em um forno de clínquer, já
adequado ao coprocessamento de resíduos.
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A Tabela 3 apresenta a geração per capita dos resíduos sólidos urbanos para cidades
brasileiras.
Na Tabela 4, são apresentados os valores de geração diária de RSU para alguns municípios
do estado de Minas Gerais, localizados próximos às cimenteiras.
22
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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
No estado de Minas Gerais grande parte dos municípios ainda dispõe seus resíduos em
lixões (54,04%), enquanto 16,41% destes utilizam aterro sanitário ou UTC licenciadas – o
que corresponde a mais de 50% da população do estado (MYR, 2009), de onde se conclui
pela necessidade do incremento de soluções para equacionamento adequado da gestão de
resíduos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n° 12305, de 2 de agosto de 2010. Insti tui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos; altera a Lei n° 9605, de 12 de fevereiro d e 1998; e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 ago. 2010, seção I, p. 3.
EUROPEAN COMISSION. Waste management options and climate change: final report.
European Comission, DG Environment, 2001. 224p.
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ANEXOS
Define procedimentos, critérios e aspectos técnicos específicos de licenciamento ambiental para o co-
processamento de resíduos em fornos rotativos de clínquer para a fabricação de cimento.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, no uso das competências que lhe são
conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6
de junho de 1990, alterado pelo Decreto nº 2.120, de 13 de janeiro de 1997, e tendo em vista o
disposto em seu Regimento Interno, e
Considerando a necessidade de serem definidos procedimentos, critérios e aspectos técnicos
específicos de licenciamento ambiental para o co-processamento de resíduos em fornos rotativos de
clínquer, para a fabricação de cimento, resolve:
Capítulo I
Das Disposições Gerais
Art. 1o Esta Resolução aplica-se ao licenciamento de fornos rotativos de produção de clínquer para
atividades de co-processamento de resíduos, excetuando-se os resíduos: domiciliares brutos, os
resíduos de serviços de saúde, os radioativos, explosivos, organoclorados, agrotóxicos e afins.
Art. 2o O co-processamento de resíduos deverá atender aos critérios técnicos fixados nesta
Resolução, complementados, sempre que necessário, pelos Órgãos Ambientais competentes, de
modo a atender as peculiaridades regionais e locais.
Art. 3o As solicitações de licença para o co-processamento de resíduos em fábricas de cimento já
instaladas somente serão analisadas se essas estiverem devidamente licenciadas e ambientalmente
regularizadas.
Art. 4o A quantidade de resíduo gerado e/ou estocado, deverá ser suficiente para justificar sua
utilização como substituto parcial de matéria prima e/ou de combustível, no sistema forno de
produção de clínquer, após a realização e aprovação do Teste de Queima.
Art. 5o O co-processamento de resíduos em fornos de produção de clínquer deverá ser feito de modo
a garantir a manutenção da qualidade ambiental, evitar danos e riscos à saúde e atender aos padrões
de emissão fixados nesta Resolução.
Art. 6o O produto final (cimento) resultante da utilização de resíduos no co-processamento em fornos
de clínquer, não deverá agregar substâncias ou elementos em quantidades tais que possam afetar a
saúde humana e o meio ambiente.
Art. 7o Os clínqueres e cimentos importados deverão obedecer ao disposto no caput do art. 5o e no
inciso VIII do art. 15, desta Resolução.
Capítulo II
Dos Procedimentos
Seção I
Dos Critérios Básicos para a Utilização de Resíduos
Art. 8o São considerados, para fins de co-processamento em fornos de produção de clínquer,
resíduos passíveis de serem utilizados como substituto de matéria prima e ou de combustível, desde
que as condições do processo assegurem o atendimento às exigências técnicas e aos parâmetros
fixados na presente Resolução, comprovados a partir dos resultados práticos do plano do Teste de
Queima proposto.
§ 1o O resíduo pode ser utilizado como substituto matéria-prima desde que apresente
características similares às dos componentes normalmente empregados na produção de clínquer.
incluindo neste caso os materiais mineralizadores e/ou fundentes.
§ 2o O resíduo pode ser utilizado como substituto de combustível, para fins de reaproveitamento
de energia, desde que o ganho de energia seja comprovado.
Seção II
Do Licenciamento Ambiental
Art. 9o As Licenças Prévia, de Instalação e de Operação para o co-processamento de resíduos em
fornos de produção de clínquer serão requeridas previamente aos Órgãos Ambientais competentes,
obedecendo os critérios e procedimentos fixados na legislação vigente.
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§ 1o Para as fontes novas, poderão ser emitidas Licenças Prévias, de Instalação e Licença de
Operação que englobem conjuntamente as atividades de produção de cimento e o co-
processamento de resíduos nos fornos de produção de clínquer.
§ 2o Para as fontes existentes, já licenciadas para a produção de cimento, o licenciamento
ambiental específico para o co-processamento somente será concedido quando a unidade
industrial, onde se localizar o forno de clínquer, tiver executado todas as medidas de controle
previstas na sua Licença de Operação.
§ 3o O processo de licenciamento será tecnicamente fundamentado com base nos estudos a
seguir relacionados, que serão apresentados pelo interessado:
I - Estudo de Viabilidade de Queima – EVQ;
II - Plano de Teste em Branco;
III - Relatório de Teste Branco;
IV - Plano de Teste de Queima – PTQ;
V - Relatório de Teste de Queima; e
VI - Análise de Risco.
Seção III
Do Estudo de Viabilidade de Queima - EVQ
Art. 10. O EVQ será apresentado ao Órgão Ambiental devendo conter, no mínimo, as seguintes
informações:
I - dados referentes à fábrica de cimento (nome, endereço, situação com relação ao
licenciamento ambiental);
II - objetivo da utilização do(s) resíduo(s); e
III - dados do(s) resíduo(s):
a) descrição sucinta do processo gerador do resíduo e fluxograma simplificado com a
indicação do ponto de geração do mesmo;
b) caracterização quali-quantitativa dos resíduos contendo:
1. estado físico do(s) resíduo(s);
2. quantidade gerada e estocada;
3. poder calorífico inferior;
4. viscosidade, no caso de líquidos;
5. composição provável do(s) resíduo(s);
6. teor de metais pesados, cloro total, cloretos e enxofre;
7. teor de cinzas e umidade;
8. classificação do(s) resíduo(s), conforme a Norma ABNT – NBR 10.004; e
9. descrição do sistema de armazenamento de resíduo(s);
IV - descrição do processo/equipamentos, incluindo:
a) descrição do processo de produção inerente ao forno e fluxograma do processo
produtivo com indicação dos pontos de alimentação (matéria-prima e combustível), bem
como perfil de temperaturas;
b) características e especificações dos equipamentos utilizados na produção de
clínquer;
c) lay-out dos equipamentos;
d) descrição do sistema proposto de alimentação de resíduos;
e) forno selecionado para a queima de resíduos;
f) tempo de residência para gases e sólidos, com memória de cálculo;
g) características e especificações dos equipamentos que serão modificados ou
adicionados em relação aos inicialmente existentes; e
h) desenho esquemático incluindo modificações, com indicação dos pontos de
amostragem e parâmetros a serem monitorados.
V – em relação à matéria-prima:
a) relação das matérias-primas empregadas na produção do clínquer e suas características
físico-químicas;
b) descrição dos sistemas de alimentação e homogeneização da matéria-prima;
c) taxa de alimentação (t/h); e
d) descrição do processo de realimentação/descarte do particulado retido nos
equipamentos de controle da poluição atmosférica.
VI – em relação ao combustível:
a) caracterização dos combustíveis (tipo, poder calorífico inferior e teor de enxofre) e
consumo (t/h); e
29
feam
2. características físico-químicas;
3. composições básicas, constando teores de matéria orgânica e cinzas; e
4. taxas de alimentação
b) resíduo:
1. origem, quantidade gerada e estocada;
2. poder calorífico inferior, composição provável, composição elementar e
identificação e quantificação das substâncias eventualmente presentes, avaliadas com
base no processo gerador do resíduo e que constem das listagens quatro e cinco e seis
da NBR-10004 da ABNT;
3. taxa de alimentação pretendida;
4. teores de metais;
5. teores de cloro total/cloreto;
6. teores de fluoretos, enxofre, cinzas e umidade;
7. seleção dos “Principais Compostos Orgânicos Perigosos - PCOPs”; e
8. descrição dos procedimentos de mistura de resíduos anteriores à queima.
c) combustíveis:
1. tipo;
2. Poder Calorífico Inferior – PCI;
3. teores de enxofre, cinzas e umidade; e
4. consumo (massa/tempo).
V - condições operacionais propostas para o Teste de Queima, incluindo tempo de residência
para gases e sólidos, com memórias de cálculo;
a) para o caso da alimentação de resíduos em ponto que não seja a extremidade de
temperatura mais elevada do forno rotativo, deverá ser demonstrado que haverá condições
adequadas e suficientes de tempo de residência, temperatura e concentração de O2, no
percurso dos gases, a partir do ponto de alimentação do resíduo, para garantir o nível de
eficiência de destruição do(s) PCOP(s) definido(s);
b) para a alimentação de resíduos em regime de batelada (em latões, bombonas, pacotes,
ou sem cominuição prévia de quantidades maiores – como, possivelmente, no caso de
pneus), o volume de cada batelada e a freqüência de suas alimentações deverão ser
estabelecidos de modo a garantir que a rápida volatilização dos compostos introduzidos no
sistema não promova reduções das concentrações de O2, abaixo das quais seja
comprometida a eficiência do processo de destruição térmica destes compostos.
VI - descrição do sistema de controle de emissões atmosféricas, de seus equipamentos e de
suas condições operacionais;
VII - descrição do destino final dos resíduos gerados no sistema de controle de emissões
atmosféricas: no caso de existirem etapas de tratamento deste sistema que gerem efluentes
líquidos, descrever seus equipamentos e operações, seus parâmetros e condições
operacionais e sua proposta de monitoramento para sistemas de tratamento destes efluentes.
O mesmo se aplica para os efluentes líquidos gerados em operações de limpeza de pisos e
equipamentos, bem como as águas pluviais contaminadas;
VIII - descrição do sistema de análise e controle de qualidade do clínquer, sob o ponto de vista
ambiental;
IX - descrição e desenhos esquemáticos de localização de todos os pontos de medição e
coleta de amostras para monitoramento da unidade e dos sistemas de controle de emissões e
descrição dos sistemas de gerenciamento destes dados;
X - lista de parâmetros a serem monitorados na operação do sistema forno, em todas as
etapas do co-processamento, relacionando equipamentos utilizados no monitoramento;
XI - lista de parâmetros a serem monitorados em todas as etapas do processo, incluindo, entre
outros, metodologias e equipamentos de coleta e análises, seus limites de detecção,
freqüências de coletas de dados de amostragem e de medições para: combustíveis, matérias-
primas, resíduo e correntes de reciclo e de descarte (material particulado, resíduos sólidos
gerados, efluentes gasosos e efluentes líquidos);
XII - descrição do sistema de intertravamento, das condições em que ocorrem a interrupção e a
retomada da alimentação dos resíduos;
XIII - estimativa dos níveis de emissão resultantes da adoção da taxa de alimentação
pretendida, com base no balanço de massa, contemplando os dados de entrada (matéria-
prima, combustível, resíduo e reciclos.) e de saída (clínquer, gases da exaustão, material
particulado retido no ECP e particulado nos gases emitidos para atmosfera.);
XIV - cronograma do teste de queima;
31
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3
MP
70 mg/Nm farinha seca, corrigido a 11% de O2
(base seca)
THC (expresso como propano) 20 ppmv, corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
Mercúrio (Hg)
0,05 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
Chumbo (Pb)
0,35 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
Cádmio (Cd)
0,10 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
Tálio (TI)
0,10 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
(As+Be+Co+Ni+Se+Te)
1,4 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
3
(As+Be+Co+Cr+Cu+Mn+Ni+Pb+Sb+Se+Sn+Te+Zn)
7,0 mg/Nm corrigido a 7% de O2 (base seca)
* As concentrações de CO na chaminé não poderão exceder a 100 ppmv em termo de média horária.
Art. 29. Os limites de emissão dos poluentes poderão ser mais restritivos, a critério do Órgão
Ambiental local, em função dos seguintes fatores:
I - capacidade de dispersão atmosférica dos poluentes, considerando as variações climáticas e
de relevo locais; ou
II - a intensidade de ocupação industrial e os valores de qualidade de ar da região .
Art. 30. Os limites de emissão para os parâmetros SOx e NOx deverão ser fixados pelos Órgãos
Ambientais competentes considerando as peculiaridades regionais.
Seção IX
Do Monitoramento Ambiental
Art. 31. Os relatórios de auto-monitoramento serão encaminhados ao Órgão Ambiental competente
de acordo com a freqüência solicitada.
Art. 32. A taxa de alimentação do resíduo, definida no Teste de Queima, deve ser controlada através
de avaliação sistemática do monitoramento das emissões provenientes dos fornos de produção de
clínquer que utilizam resíduos, bem como da qualidade ambiental na área de influência do
empreendimento.
Art. 33. Deverão ser monitorados de forma contínua os seguintes parâmetros: pressão interna,
temperatura dos gases do sistema forno e na entrada do precipitador eletrostático, vazão de
alimentação do resíduo, material particulado (através de opacímetro), O2, CO, NOx e / ou THC
quando necessário.
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Art. 34. Deverão ser monitoradas, de forma não contínua, os seguintes parâmetros: SOx, PCOPs,
HCl/Cl2, HF, elementos e substâncias inorgânicas listados nos arts. 28, 29 e 30 desta Resolução.
Art. 35. O monitoramento de quaisquer outros poluentes com potencial de emissão poderá ser
exigido, a critério do Órgão Ambiental competente.
Art. 36. O controle das características dos resíduos deverá ser feito através de amostragem não
contínua, fundamentado na análise dos seguintes parâmetros: PCOPs, elementos e substâncias
inorgânicas, enxofre, flúor, série nitrogenada e cloro.
Art. 37. O monitoramento dos efluentes líquidos deverá obedecer os parâmetros fixados na legislação
pertinente.
Art. 38. O monitoramento ambiental da área de entorno deverá ser definido caso a caso, com base na
avaliação de riscos à saúde humana, ao meio ambiente e os decorrentes de emissões não
acidentais.
Seção X
Das Unidades de Mistura e pré-condicionamento de resíduos
Art. 39. As Unidades de Mistura e Pré-condicionamento de Resíduos são passíveis de licenciamento
pelo Órgão Ambiental competente e, para tanto, deverão apresentar as seguintes informações:
I - nome (razão social), endereço e localização da instalação;
II - descrição dos principais produtos ou serviços prestados;
III - planta, em escala, mostrando a localização das áreas de recepção, laboratórios,
estocagem, manuseio e/ou disposição de resíduos, bem como os locais destinados a futuras
áreas de manuseio, estocagem e disposição;
IV - descrição dos procedimentos de recepção, amostragem e análises, estocagem, manuseio
e disposição de resíduos gerados;
V - caracterização e classificação dos resíduos recebidos, quantificação de cada resíduo e uma
descrição geral dos procedimentos para cada um;
VI - laudos de análises químicas e físicas de cada resíduo e cópia do plano de análise, os
quais deverão estar devidamente assinados por técnico responsável;
VII - descrição dos procedimentos e equipamentos de segurança;
VIII - plano de contingência;
IX - descrição dos procedimentos, estruturas ou equipamentos a serem usados na unidade
para prevenir:
a) riscos em operações de descarregamento;
b) vazamentos das áreas de manuseio de resíduos perigosos para áreas adjacentes
ou para meio ambiente:
c) riscos de enchentes;
d) efeitos ocasionados pelas falhas nos equipamentos e interrupção de fornecimento
de energia elétrica;
e) exposição indevida de pessoas aos resíduos sólidos; e
f) liberação de gases para o ambiente.
X - descrição das medidas para prevenção de ignição acidental ou reações de resíduos
inflamáveis, reativos ou incompatíveis;
XI - descrição do transporte interno de resíduos, inclusive com indicação em planta das vias de
tráfego interno;
XII - plano de encerramento das atividades e, se aplicável, de pós-encerramento; e
XIII - projetos dos sistemas de tratamento de efluentes líquidos, se aplicável.
Art. 40. O responsável pela unidade deverá registrar toda anormalidade envolvendo derramamento
ou vazamento de resíduos, bem como fornecer, a critério do Órgão Ambiental competente, estudo
para avaliação de eventuais danos ocorridos ao meio ambiente.
Art. 41. O recebimento de resíduos deverá ser documentado, através de registros que serão
disponibilizados para o Órgão Ambiental competente.
Seção XI
Do Plano de Treinamento de Pessoal
Art. 42. O pessoal envolvido com a operação das unidades de mistura, pré-condicionamento e co-
processamento de resíduos deverá receber periodicamente treinamento específico com relação ao
processo, manuseio e utilização de resíduos, bem como sobre procedimentos para situações
emergenciais e anormais durante o processo.
Seção XII
Dos Procedimento para Controle de Recebimento de Resíduos
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Art. 43. Os resíduos a serem recebidos pela unidade de mistura e/ou pela instalação responsável por
sua utilização deverão ser previamente analisados para determinação de suas propriedades físico-
químicas e registro das seguintes informações:
I - a origem e a caracterização do resíduo;
II - métodos de amostragem e análise utilizados, com respectivos limites de detecção, de
acordo com as normas vigentes;
III - os parâmetros analisados em cada resíduo; e
IV - incompatibilidade com outros resíduos.
Art. 44. As análises deverão ser repetidas, sempre que necessário, para assegurar a confiabilidade
da caracterização do resíduo.
Seção XIII
Do Armazenamento de Resíduos e da Análise de Risco
Art. 45. Os resíduos deverão ser armazenados de acordo com os dispositivos legais vigentes.
Art. 46. O transporte de resíduos ou de mistura de resíduos para as unidades de co-processamento,
deverá ser realizado de acordo com os dispositivos legais vigentes.
Art. 47. O Estudo de Análise de Risco integrará o processo de Licenciamento Ambiental e será
realizado pelo empreendedor de acordo com os procedimentos e normas estabelecidas pelo Órgão
Ambiental competente, contemplando avaliação dos riscos decorrentes tanto de emissões acidentais
como de emissões não acidentais.
Seção XIV
Das Disposições Finais
Art. 48. Para os fins do disposto nesta Resolução, são adotadas as definições do Anexo I.
Art. 49. A presente Resolução deverá ser revisada num prazo máximo de três anos, contados a partir
da sua publicação.
Art. 50. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
José Sarney Filho
(D.O.U., 20.03.2000, Seção I, pág. 80
Anexo I
DEFINIÇÕES
Clínquer: Componente básico do cimento, constituído principalmente de silicato tricálcico, silicato
dicálcico, aluminato tricálcico e ferroaluminato tetracálcico.
Combustível primário: Combustível alimentado pelo maçarico/queimador principal do forno na zona
de combustão primária, sendo comumente utilizado carvão, óleo ou gás.
Combustível secundário: Combustível alimentado na zona de combustão secundária, podendo ser
utilizado, além dos combustíveis primários, outros alternativos, como: casca de arroz e serragem,
entre outros.
Co-processamento de resíduos em fornos de produção de clínquer: Técnica de utilização de resíduos
sólidos industriais a partir do processamento desses como substituto parcial de matéria-prima e / ou
de combustível no sistema forno de produção de clínquer, na fabricação de cimento.
Equipamento de Controle de Poluição–ECP: Equipamentos destinados a controlar as emissões
atmosféricas resultantes das operações industriais.
Estudo de Viabilidade de Queima–EQV: estudo teórico que visa avaliar a compatibilidade do resíduo
a ser co-processado com as características operacionais do processo e os impactos ambientais
decorrentes desta prática.
Farinha: Produto intermediário para a produção de clínquer, composto basicamente de carbonato de
cálcio, sílica, alumina e óxido de ferro, obtidos a partir de matérias primas tais como, calcário, argila e
outras.
Forno rotativo de produção de clínquer: Cilindro rotativo, inclinado e revestido internamente de
material refratário, com chama interna, utilizado para converter basicamente compostos de cálcio,
sílica, alumínio e ferro, proporcionalmente misturados, num produto final denominado clínquer.
Monitoramento Ambiental: Avaliação constante das emissões provenientes dos fornos de produção
de clínquer que co-processam resíduos, bem como da qualidade ambiental na área de influência do
empreendimento.
Plano do Teste de Queima–PTQ: Plano que contempla dados, cálculos e procedimentos relacionados
com as operações de co-processamento propostas para o resíduo.
Pré-aquecedor: Região do sistema forno constituída por um conjunto de ciclones, onde a farinha é
alimentada, sendo pré-aquecida e parcialmente calcinada pelo fluxo de gases quentes provenientes
do forno rotativo, em contra corrente.
Pré-calcinador: Dispositivo secundário de queima onde ocorre uma pré-calcinação da matéria-prima.
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O Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM, tendo em vista o disposto no art. 214, SS 1º,
IX, da Constituição do Estado de Minas Gerais, no uso das atribuições que lhe confere o art. 5º, I, da
Lei nº 7.772, de 8 de setembro de 1980, e nos termos do art. 4º, incisos I, II, IV e VII da Lei Delegada
ndeg. 178, de 29 de janeiro de 2007, e no art. 4º, incisos II, III, IV e VII, art. 8º, inciso V e art. 10,
inciso I de seu regulamento, Decreto nº 44.667, de 03 de dezembro de 2007 e;
Considerando a necessidade de normatizar os procedimentos referentes ao licenciamento ambiental
de coprocessamento de resíduos sólidos, líquidos ou semi-sólidos, de Classe I e Classe II, de acordo
com a norma ABNT NBR 10004, em fornos de clínquer no Estado de Minas Gerais,
DELIBERA:
Art. 1º – Para efeito de aplicação dessa Deliberação Normativa são estabelecidas as seguintes
definições:
I – Coprocessamento: a utilização de resíduos para substituição de matérias-primas e/ou
aproveitamento energético em fornos de clínquer;
II – Unidades de Mistura e Pré-condicionamento de Resíduos (UMPCR): unidades onde se realiza o
preparo e/ou mistura de resíduos oriundos de diversos processos industriais, resultando em produtos
com determinadas características, para serem utilizados no coprocessamento em fornos de clínquer.
III – Licença de Operação para coprocessamento de resíduos: é a Licença de Operação concedida
para a atividade de coprocessamento de resíduos em fornos de clínquer, quando os resultados do
teste de queima comprovarem a capacidade do forno de destruir resíduos, respeitados os limites de
entrada e de emissão definidos na legislação.
IV – Plano do Teste de Queima – PTQ: plano que contempla dados, cálculos e procedimentos
relacionados com as operações de coprocessamento propostas para o resíduo.
V – Teste em Branco: conjunto de medições realizadas no forno em funcionamento normal, operando
sem a alimentação de resíduos, para avaliação das condições operacionais da unidade de produção
de clínquer e do atendimento às exigências técnicas fixadas pelo órgão ambiental.
VI – Teste de Queima: conjunto de medições realizadas na unidade, operando com a alimentação de
resíduos para avaliar a compatibilidade das condições operacionais da instalação de produção de
clínquer, com o atendimento aos limites de emissões e demais exigências técnicas estabelecidos na
presente Deliberação.
VII – Resíduos domiciliares pré-tratados ou tratados: são os resíduos brutos que passaram por
sistemas de triagem e/ou tratamento.
VIII – Resíduos equivalentes para coprocessamento: são resíduos cuja análise de massa bruta
demonstre que as concentrações de seus elementos são iguais ou inferiores àquelas listadas na
Licença de Operação para coprocessamento de resíduos, conforme tabelas 5 (cinco) e 6 (seis).
Art. 2º – A utilização do forno de clínquer para coprocessamento de resíduos dependerá das Licenças
Prévia, de Instalação e de Operação concedidas pelo COPAM.
SS 1º As licenças a que se refere este artigo somente serão concedidas quando a unidade industrial
onde se localizar o forno de clínquer dispuser de Licença de Operação do Conselho Estadual de
Política Ambiental – COPAM para a atividade de fabricação de cimento e também tiver cumprido
todas as medidas de controle ambiental estabelecidas naquela licença.
SS 2º Para proceder ao coprocessamento a que se refere o caput deste artigo, deverá ser
comprovada a capacidade de destruição do(s) resíduo(s) no forno de clínquer através da realização
do teste de queima, previamente aprovado pela Superintendência Regional de Meio Ambiente –
SUPRAM.
SS 3º A comprovação a que se refere o SS 2º deste artigo ensejará a concessão de licença de
operação para coprocessamento de resíduos com concentração de elementos igual ou inferior à
verificada no teste, respeitados os limites de entrada e emissão definidos nessa Deliberação
Normativa.
Art. 3º – Para a obtenção da Licença de Operação para o coprocessamento de resíduos em fornos de
clínquer deverá ser apresentado Plano de Controle Ambiental – PCA contendo, no mínimo:
I – Declaração de Origem e Destino do(s) resíduo(s) antes do início da operação de
coprocessamento;
II – Gerador (es) do(s) resíduo(s) e respectiva(s) Licença(s) de Operação;
III – Descrição suscinta do(s) processo(s) gerador(es) do(s) resíduo(s) e fluxograma(s) simplificado
com a indicação do ponto de geração do(s) mesmo(s);
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IV – Resultados dos ensaios de amostra bruta, incluindo os teores de metais, Poder Calorífico Inferior
e, quando se tratar(em) de resíduo(s) substituto(s) de matéria(s)-prima(s), os teores de óxidos que
justifiquem tal substituição;
V – Quantidades gerada(s) e estocada(s);
VI – Descrição do sistema de armazenamento de resíduo(s) na UMPCR e/ou na unidade onde será
realizada a operação de coprocessamento;
VII – A taxa de alimentação do(s) resíduo(s);
VIII – A(s) Ficha(s) de Emergência do(s) resíduo(s);
IX – Metodologia de coprocessamento utilizada com definição dos pontos de alimentação dos
resíduos;
X – Condições normais de operação do forno de clínquer, incluindo temperatura de operação do
forno, alimentação de farinha crua (t/h) e performance esperada para os sistemas de controle;
XI – Plano do Teste de Queima;
XII – Estudo de dispersão atmosférica contemplando os principais componentes dos resíduos e
comparando-os aos padrões de qualidade do ar previstos, como referência, na Tabela 3 (três) do
Anexo I desta Deliberação Normativa;
XIII – Apresentar programa de monitoramento atmosférico e do clínquer;
XIV – O coprocessador deverá apresentar no PCA manual de procedimentos, operação, segurança e
emergência;
XV – Apresentar os resultados do Teste em Branco do forno;
Parágrafo único. O caput desse artigo não se aplica aos resíduos equivalentes.
Art. 4º – O interessado acordará junto à SUPRAM, que acompanhará as operações, data para a
realização do Teste de Queima.
Art. 5º – A campanha de monitoramento dos efluentes atmosféricos relativa à Licença de Operação,
deverá conter, no mínimo, os parâmetros listados nas tabelas 1 (um) e 2 (dois) do Anexo I desta
Deliberação Normativa, com periodicidade trimestral.
Parágrafo único. O lançamento dos efluentes atmosféricos referentes ao teste de queima deverá ser
monitorado ao longo de todo o teste com amostragem isocinética.
Art. 6º – Os testes de lixiviação do clínquer deverão ser realizados com periodicidade trimestral e
arquivados por um período de no mínimo 3 (três) anos.
Art. 7º – Os resultados dos monitoramentos atmosféricos e as análises do clínquer deverão ser
encaminhados trimestralmente ao órgão ambiental.
Parágrafo único. A periodicidade, em função dos resultados verificados, poderá ser modificada pelo
COPAM, se devidamente justificada.
Art. 8º – Os resíduos a serem coprocessados em forno de clínquer deverão observar os padrões de
concentração, inclusive quando se tratar de resíduos provenientes de UMPCR, conforme o disposto
na Tabela 4 (quatro), Anexo I desta Deliberação Normativa.
Parágrafo único. Para a comprovação do disposto no caput, no ato de recebimento dos resíduos, a
empresa coprocessadora deverá exigir laudo de laboratório credenciado, observando as
Deliberações Normativas do COPAM 89/2005, 120/2008 e 140/2009, com Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART do Responsável Técnico responsável pela coleta e análise do
resíduo, que deverá ser encaminhado trimestralmente a SUPRAM.
Art. 9º – Para atividade de coprocessamento, o forno de clínquer deverá atender às seguintes
condições gerais:
I – Deverá estar implantado monitoramento contínuo, com encaminhamento “on-line” para o órgão
ambiental das informações registradas. Os parâmetros que deverão ser monitorados continuamente
são: MP, NOx, SOx, O2 e THC;
II – Os sistemas de alimentação de resíduos deverão estar equipados com intertravamento elétrico
que interrompa imediatamente a alimentação dos mesmos, quando ocorrer:
a) queda da temperatura de operação normal de trabalho;
b) ausência de chama no queimador;
c) queda do teor de O2 no sistema;
d) mau funcionamento dos monitores de O2 e temperatura;
e) inexistência de depressão no forno;
f) falta de energia elétrica ou queda brusca de tensão;
g) alimentação deficiente de farinha;
h) emissões acima do padrão, conforme critérios estabelecidos em legislação específica.
SS 1º Para os empreendimentos que não dispõem de monitoramento continuo para HCl e HF, será
realizada campanha de monitoramento pelo órgão ambiental às expensas do empreendedor.
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SS 2º Os parâmetros definidos no item I poderão ser modificados pelo COPAM, em função dos
resultados observados em um período de no mínimo de 3 (três) anos, se devidamente justificado.
Art. 10 – Os resíduos a serem coprocessados deverão apresentar Poder Calorífico Inferior – PCI
mínimo de 2000 kcal/kg.
SS 1º Somente os elementos Ca, Si, Al, Fe, F, S, K e Na, presentes nos resíduos, caracterizam
substituição de matéria prima fundente e/ou mineralizador, no entanto, sua utilização só poderá ser
realizada se respeitados os limites de emissão. A sua utilização só poderá ser realizada quando a
concentração desses elementos for superior a 45% em peso, além de respeitar os limites de emissão.
SS 2º O enxofre somente poderá ser considerado substituto de matéria prima para aquelas unidades
onde a sua ocorrência for comprovada junto com o calcário.
Art. 11 – Não será permitido o coprocessamento de resíduos domiciliares brutos, dos serviços de
saúde, radioativos, explosivos, organoclorados, agrotóxicos e afins, conforme regulado pela
Resolução CONAMA 264/99.
Art. 12 – Os resíduos domiciliares pré-tratados ou tratados poderão ser coprocessados, desde que
atendam o disposto no artigo 11 e respeitando os limites de emissão.
Parágrafo único. Para estes resíduos será permitido PCI mínimo de 1.500 kcal/kg.
Art. 13 – O transporte rodoviário de resíduos perigosos Classe I, segundo a ABNT NBR 10004/2004,
para fins de coprocessamento em fornos de clínquer ou processamento em Unidades de Mistura e
Pré-condicionamento de Resíduos, deverá ser realizado por empresa transportadora que possua
Autorização Ambiental de Funcionamento ou Licença de Operação, conforme Termo de Referência
específico para elaboração de Plano de Controle Ambiental -PCA.
Art. 14 – A mistura de resíduos “blend” a ser encaminhada para o coprocessamento deverá atender
aos padrões de entrada no forno e limites de emissão preconizados nessa deliberação.
Art. 15 – O coprocessamento de resíduos em fornos de clínquer deverá observar os padrões de
emissão de efluentes atmosféricos previstos nas Tabelas 1 (um) e 2 (dois) do Anexo I desta
Deliberação Normativa.
Art. 16 – Para que a SUPRAM reconheça equivalência de resíduos para inclusão em processos de
coprocessamento já licenciados, deverão ser atendidos os limites dos parâmetros constantes nas
Tabelas 5 (cinco) e 6 (seis) do Anexo I desta Deliberação Normativa, sempre com concentrações
iguais ou inferiores àquelas estabelecidas na Licença de Operação para coprocessamento de
resíduos.
SS 1º Quando o critério de equivalência for utilizado como substituto de combustível, não será
necessário verificar o primeiro item da tabela 6. No caso da equivalência como substituto de matéria
prima, não será necessário verificar o primeiro item da tabela 5.
SS 2º A taxa de alimentação de resíduos equivalentes, isolada ou conjuntamente, poderá ultrapassar
a taxa prevista na Licença de Operação existente, desde que informada e que os limites de emissão
sejam observados.
SS 3º A equivalência será reconhecida por meio de anuência da SUPRAM, comunicada ao
interessado e registrada no processo da Licença de Operação correspondente, sem necessidade de
novo Teste de Queima.
SS 4º Não sendo verificada a equivalência, a SUPRAM comunicará a decisão ao interessado.
Art. 17 – A revalidação da Licença de Operação para coprocessamento do resíduo original deverá
contemplar todos os resíduos equivalentes agregados.
Art. 18 – Os valores para ressarcimento dos custos de análise dos processos de licenciamento, bem
como para inclusão de resíduos equivalentes para coprocessamento de que trata o Art. 16 desta
Deliberação Normativa, serão estabelecidos em Resolução SEMAD específica.
Art. 19 – A alimentação de resíduos para coprocessamento no moinho de carvão/coque somente
poderá ser efetuada após licenciamento dessa unidade para tal fim e para cada resíduo
especificamente.
Art. 20 – Excepcionalmente, operações de coprocessamento poderão ser autorizadas pelo órgão
ambiental, independente das restrições desta deliberação, inclusive aquelas referentes ao PCI e
substituição de matéria prima, nos seguintes casos:
I – Solicitações das polícias Federal, Civil e Militar, para destruição de armas e entorpecentes;
II – Solicitações da ANVISA para destruição de medicamentos vencidos;
III – Outras solicitações, a critério do COPAM.
Parágrafo único – Os custos relativos às hipóteses previstas neste artigo serão de responsabilidade
dos solicitantes.
Art. 21 – Esta Deliberação Normativa entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.