ARTIGO EfeitosCrisePoliticaEtica PDF
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Resumo: Temos como objetivo neste artigo analisar os efeitos da crise política e ética instalada no Brasil
sobre as instituições e a economia. Nessa avaliação será considerada a possível conexão que existe entre o
funcionamento adequado das instituições no Brasil, o aumento da corrupção no governo e no parlamento e
o crescimento econômico. Verificamos nessa avaliação que a fragilidade das instituições pode levar o
Estado brasileiro, em médio prazo, a enfrentar uma crise de governabilidade, levando-se em consideração
as condições sistêmicas inadequadas de exercícios do poder por parte do Estado para o atendimento das
demandas da sociedade brasileira. Concluímos que a sociedade necessita se mobilizar para exigir que o
próximo presidente da república priorize na sua agenda de governo a realização de uma profunda reforma
do Estado brasileiro, com mudanças estruturais nas áreas política, judiciário, tributária, previdenciária e
trabalhista, orientadas para preservar as instituições e estimular o desenvolvimento socioeconômico.
The Effect of the Crisis Politics and Ethics on the Institutions in Brazil
Abstract: We have as objective in this article to analyze the effect of the crisis politics and ethics installed
in Brazil on the institutions. In this evaluation the possible connection will be considered that exists enters
the adequate functioning of the institutions in Brazil, the increase of the corruption in the government and
the parliament and the economic growth. We verify in this evaluation that the fragility of the institutions
can take the Brazilian State, in average stated period, to face a governability crisis, taking itself in
consideration inadequate the systemic conditions of exercises of the power on the part of the State for the
attendance of the demands of the Brazilian society. We conclude that the society needs if to mobilize to
demand that the next president to the republic prioritizes in its agenda of government the accomplishment
of a deep reform of the Brazilian State, with structural changes in the areas politics, judiciary, tax,
providence and member of labor party, guided to preserve the institutions and to stimulate the
socioeconomic development.
Observa-se que, a crise política e ética instalada no Brasil nos dois últimos anos
do governo Lula (2005 e 2006), decorrente de desvios cometidos por diversos
dirigentes do governo federal e membros do parlamento, conforme revelam as
pesquisas de opinião pública, vêm provocando efeitos danosos sobre a
credibilidade das instituições, dos políticos e dos governantes. As evidências de
condutas tipificadas como inadequadas por essas autoridades estão assinaladas
nos relatórios: da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito que apurou o
“mensalão” e na denúncia formulada pelo procurador-geral da república ao
Supremo Tribunal Federal[1]. Na sua denúncia o procurador-geral sustenta que
houve a criação de uma “sofisticada organização criminosa que se estruturou
profissionalmente para negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do
Partido dos Trabalhadores (PT) e também custear gastos de campanha e outras
despesas do PT e de seus aliados”. De forma emblemática, a quadrilha
denunciada ao STF é composta por quarenta indivíduos.
A partir deste cenário, temos como principal objetivo neste artigo, analisar os
efeitos da crise política e ética instalada no Brasil sobre as instituições e a
economia. Nessa avaliação será considerada a possível conexão que existe
entre o funcionamento adequado das instituições no Brasil, o aumento da
corrupção no governo e no parlamento e o crescimento econômico. Nesse
esforço vamos também buscar analisar, como objetivo específico, se existe uma
relação entre a fragilidade das instituições e o não encaminhamento do pedido
de “impeachment” do presidente república ao parlamento brasileiro. Registre-se
que, o impeachment é um processo político em que o crime fundamental é falta
de decoro para o exercício do cargo [2]. Para isso, torna-se relevante trazer para
este debate o papel e a relevância das instituições para o país, bem como os
principais fatores econômicos, sociais e políticos que estão relacionados com
essa crise.
As instituições, para Douglass North (1990) [3], podem ser entendidas como as
regras do jogo em uma sociedade ou as limitações criadas pelo homem, que
dão forma a interação humana. Dessa maneira, estruturam incentivos no
intercambio humano, seja no âmbito político, social ou econômico. Registre-se
que, as instituições formais de comportamento são representadas pela
constituição, leis, regulamentos e direitos de propriedade; e, as informais são as
sedimentadas nos costumes, modos, tradições, códigos e valores.
Nesse sentido, a corrupção tem sido percebida por diversos autores, como um
sintoma de que alguma coisa está errada na administração do Estado.
Instituições criadas para governar as relações entre cidadãos e o Estado estão
sendo utilizadas para alcançar o enriquecimento pessoal por meio dos
benefícios do suborno.
Salário real – cresc. ano (IBGE, %) -3.8 -5.0 1.5 2.5 6.0
INFLAÇÃO
TAXAS DE JUROS
FINANÇAS PÚBLICAS
Dívida líquida total (R$bi, dez) 881.1 913.1 959.8 1023.1 1093.1
Dívida líquida total (US$bi, dez) 249.4 316.1 361.6 437.1 465.1
Dívida líquida total (% do PIB, dez) 55.5 57.2 51.7 51.6 50.9
BALANÇO DE PAGAMENTOS
Período 1994-2006
1994 5,85
1995 4,20
1996 2,70
1997 3,30
1998 0,10
1999 0,80
2000 4,40
2001 1,31
2002 1,93
2003 0,54
2004 4,94
2005 2,30
2006* 3,60
* projeção: IPEA.
É relevante destacar que para analisar a influência recíproca que existe entre as
instituições formais que compõem o sistema político e a cultura política relativa
às crenças, valores, comportamentos e práticas dos cidadãos, diversas
pesquisas têm sido realizadas na busca de retratar as percepções e
representações dos brasileiros em relação à política (Latinobarometro, Ibope,
Datafolha, etc.). Essas pesquisas revelam que entre as principais causas da
crescente insatisfação dos brasileiros com as instituições democráticas se
destacam aqueles relativos às percepções sobre os direitos e os problemas do
país, ou seja, em sua quase totalidade os entrevistados se consideram pouco ou
nada respeitados em seus direitos e liberdades. Fica evidenciado que essa
insatisfação dos brasileiros com o funcionamento da democracia decorre, entre
outros fatores, da incapacidade do Estado brasileiro de responder de forma
adequada às demandas da sociedade.
Conclusão
A fragilidade das instituições, aqui assinaladas, nos permite argumentar, tendo
como motivação a pergunta “a crise política e ética instalada no país está
afetando a consolidação das instituições e afetando o desempenho da economia
brasileira?”, que o Estado brasileiro, em médio prazo, pode vir a enfrentar uma
crise de governabilidade. Nesse contexto, estamos levando-se em consideração
as condições sistêmicas inadequadas de exercícios do poder por parte do
Estado para o atendimento das demandas da sociedade brasileira. Vislumbra-se
que o somatório dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios
políticos de execução das metas definidas estão aquém dessas expectativas.
Referências Bibliográficas
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1978.
[1] Veja o teor do Relatório Final da C.P.M.I. “dos Correios” e da denúncia do Procurador-Geral
da República ao Supremo Tribunal Federal, contra o Ex-Ministro José Dirceu e mais 39 (trinta e
nove) apontados cúmplices. Nesses documentos, aos denunciados, individualmente, são
endereçadas acusações de crimes eleitorais, desvio de recursos públicos e de entidades
privadas da Administração Pública, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção ativa,
corrupção passiva, evasão de divisas e formação de quadrilha (Inquérito 2.245, Relator Ministro
Joaquim Barbosa). Essa crise atingiu, também, o Parlamento brasileiro com as revelações dos
desvios na aprovação das ementas do orçamento da União (CPI das Sanguessugas, 2006).
[2] O crime de responsabilidade tem dupla face, material e formal: a jurídica e a política. No
plano material, a configuração dos crimes de responsabilidade está definida no artigo 85 da
Constituição Federal. A norma constitucional se complementa com a tipificação consagrada na
Lei 8.492/92, na qual se estatui que se comete ato de improbidade administrativa não só por
ação, mas também por omissão (art. 10, dentre outros).
[3] NORTH, Douglass C. Institutions, Institutional Change, and Economic Performance, New
York: Cambridge University Press, 1990.
[4] O PIB per capita do Brasil cresceu apenas 0,8% em 2005. O PIB per capita é definido como a
divisão do total do PIB pela população residente. Em 2005, a população residente do país atingiu
aproximadamente, 184,2 milhões de habitantes, o que representa um crescimento populacional
de 1,4% em 2005, segundo estimativa da Coordenação de População e Indicadores Sociais do
IBGE.
[5] O IPEA (Boletim Conjuntural, 2006), sinaliza que para sustentar taxas de crescimento do PIB
de 5% ao ano a taxa de investimento teria de ser da ordem de 25% do Produto Interno Bruto
(PIB), valor que se compara a uma taxa de 18% do PIB em 2003. Essa análise revela que a
economia brasileira investiu muito pouco nos últimos anos, em média 19,5% do PIB entre 1995 e
2002, e que isso tende a criar desequilíbrios diante de uma aceleração forte do crescimento
como a que se observa na atual recuperação.
[6] Veja o teor do voto do relator da OAB, Sérgio Ferraz, a favor do pedido de impeachment do
Presidente da República. Revista Consultor Jurídico, 8 maio 2006. Disponível em
www.conjur.com.br.