Olericultura A Arte de Produzir Hortaliças
Olericultura A Arte de Produzir Hortaliças
Olericultura A Arte de Produzir Hortaliças
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À OLERICULTURA
1
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
2
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 1.1. Erosão laminar promovida pelo uso excessivo de máquinas agrícolas em
solo de topografia acidentada cultivado com hortaliças em São José do Rio Pardo, SP.
Note o “pé de grade” (solo compactado abaixa da camada arada). Foto: José Maria
Breda Júnior.
VARIEDADE (var): pode ter dois significados. Um deles é quando duas espécies,
muito semelhantes, diferem entre si em alguma característica, normalmente relativa à
reprodução; nesse caso se refere à variedade botânica. Exemplo: o repolho pertence à
espécie Brassica oleracea var. capitata (com cabeça), enquanto que a couve-comum à
espécie Brassica oleracea var. acephala (sem cabeça).
O outro emprego para variedade (var.) seria no aspecto diferencial relativo a materiais
propagativos comercializados por empresas ou utilizados pelos agricultores, dentro de
uma mesma espécie e/ou variedade botânica. Exemplo: tomate var. Santa Cruz; tomate
var. Santa Clara.
3
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
b. mão de obra:
No cultivo de hortaliças são utilizados muitos TRATOS CULTURAIS artesanais
impossíveis de serem mecanizáveis. Portanto, por serem realizados manualmente,
implicam em elevado gasto de mão de obra. Estima-se que, no cultivo do tomateiro
destinado ao consumo in natura (tomate de mesa), gasto médio de 800 DH/ha; na
cultura do alho, apenas na operação de implantação da cultura, há um gasto estimado de
40 DH/ha.
Embora esse gasto com mão de obra contribua para com o aumento do custo de
produção, o cultivo de hortaliças se torna importante atividade no aspecto social por
gerar, além de alimentos saudáveis, postos de trabalho evitando o fluxo das pessoas para
as cidades (veja capítulo 3).
TRATOS CULTURAIS: São todas as práticas de cultivo exigidas pelas culturas como,
por exemplo: tutoramento, podas, amarrio, amontoa etc. (veja cap. 9).
4
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
c. insumos:
O cultivo de hortaliças envolve o uso de tecnologias avançadas com a utilização de
produtos (insumos) de elevado valor. Dentre esses insumos podemos mencionar: uso de
sementes híbridas; uso de material vegetativo propagativo de elevada sanidade; uso de
defensivos agrícolas e de fertilizantes minerais e orgânicos.
Em razão da grande respostas das oleráceas à utilização desses insumos, normalmente
há elevado investimento por unidade de área cultivada resultando em alto custo de
produção (veja Tabela 1).
d. água:
As hortaliças, pela própria definição, são essencialmente herbáceas, apresentando
elevado conteúdo de água em seus tecidos, além de sistema radical pouco profundo.
Também, em seu cultivo, são empregadas elevadas populações de plantas que,
associado à elevada à taxa de crescimento dessas espécies, proporciona alto índice de
área foliar (IAF) resultando em grande perda de água por transpiração. Portanto, a água
é insumo fundamental no cultivo de hortaliças; sem água para irrigação é praticamente
impossível cultivar hortaliças.
IAF (índice de área foliar) é a razão entre a área total das folhas da planta / área de solo
disponível à planta.
A água tem se constituído em um dos fatores que mais tem limitado o cultivo de
hortaliças em determinadas áreas. Além da disponibilidade em grande quantidade, essa
deve ter qualidade aceitável para uso agrícola, principalmente no cultivo de folhosas
(veja Aula 4) que, normalmente, são consumidas cruas.
5
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
6
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
7
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
Vimos nesse capítulo que a olericultura é um ramo da fitotecnia dedicado ao cultivo de
hortaliças. Essa atividade apresenta particularidades que a distingue das demais
atividades fitotécnicas, tais como uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, água e
insumos, ocupação de pequena área cultivada e elevada produtividade. Há também
dificuldades na produção devido à suscetibilidade a fatores bióticos e abióticos e na
comercialização, o que torna a atividade de alto risco financeiro.
Resumo
• Olericultura significa cultivo de hortaliças. É um termo utilizado na ciência que trata
do ensino, pesquisa e cultivo de espécies herbáceas utilizadas na alimentação, que são
as oleráceas, olerícolas ou simplesmente hortaliças;
• Oleráceas, olerícolas ou hortaliças são espécies vegetais essencialmente herbáceas
destinadas à alimentação. O profissional que as cultiva ou produz é chamado olericultor;
• Verduras, legumes, hortifrutigranjeiros, hortigranjeiros e hortifrutis são vocábulos
populares relacionados às hortaliças que, juntamente com a sigla FLV (Frutas, Legumes
e Verduras), são imprecisos e pouco esclarecedores;
• A atividade de exploração de hortaliças é de alto risco financeiro, devido à
suscetibilidade das oleráceas a fatores abióticos e bióticos durante seu cultivo, alta
perecibilidade pós-colheita, custo de produção elevado e ausência de preço mínimo,
sendo os preços determinados pela lei de mercado (oferta e demanda).
Referências bibliográficas
AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: AgraFNP. 2009. 497 p.
FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na
produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV. 421 p.
FONTES PCR. (editor). 2005. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
ABH Informa. http://www.abhorticultura.com.br/ >Acesso em 02 nov. 2009.
CNPH. Serviços. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/ >Acesso em: 02 nov.
2009.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento. Serviço de Proteção de
Cultivares. http://www.agricultura.gov.br/ > Acesso em 02 nov. 2009.
JORNAL ENTREPOSTO. http://www.jornalentreposto.com.br/agricola/hortifruti/1193-
a-expansao-do-flv-nos-supermercados/ Acesso em 27 março 2012.
8
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 2
1. Exploração diversificada:
Nesse tipo de exploração há cultivo de grande número de espécies olerícolas e em área
relativamente pequena, normalmente menor que 10 hectares. Portanto, há grande
diversificação de espécies olerícolas e, normalmente, utilização de mão de obra familiar.
É um tipo de exploração que ocorre próximo aos grandes centros consumidores, nos
chamados de “cinturões-verdes”. Exemplo típico é a região de Mogi das Cruzes em SP.
12
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
2. Exploração especializada:
Aqui surge a figura do especialista no cultivo de determinadas hortaliças; dedicam-se ao
cultivo de uma a três espécies. São agricultores mais aceitos às inovações tecnológicas,
com visão empresarial e emprego de tecnologias mais avançadas, como uso de pivô
central para irrigação e de mecanização em diversas etapas do cultivo. Isso lhes permite
cultivar áreas mais extensas, podendo chegar a 400 ha/ano, ou mais, com apenas uma
hortaliça. Normalmente preferem explorar hortaliças menos perecíveis que toleram
transporte por maiores distâncias. Exemplo dessa natureza são os cultivos com tomate,
batata, cebola e cenoura no Alto Paranaíba, MG, no oeste paulista e no cerrado goiano.
3. Exploração industrial:
Denomina-se de exploração industrial a atividade de produção de hortaliças destinadas
ao processamento na agroindústria de alimentos. Esse tipo de exploração é semelhante à
especializada, com número restrito de espécies cultivadas em grandes áreas de cultivo e
grau de tecnificação até mais elevado que aquele. A diferença entre esses dois tipos de
exploração é o destino da produção e a forma de como é praticada a comercialização.
Na exploração especializada os produtos obtidos são destinados ao mercado de
consumo in natura (sem processamento industrial); normalmente são comercializados
nas centrais de abastecimento (CEASAS e CEAGESP), devido ao elevado volume,
comparado à exploração diversificada. Também é o produtor quem escolhe quando,
quanto e o que plantar e a quem e onde vender seu produto.
Na exploração industrial quem irá definir a espécie ou mesmo variedade ou cultivar a
plantar, a área, quando e quanto plantar será agroindústria de alimentos. Nesse tipo de
exploração o cultivo é feito sob contrato prévio com a agroindústria de alimentos
visando fornecer matéria prima para processamento de acordo com a capacidade
operacional instalada da indústria.
13
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
14
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
15
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Alface é exemplo de hortaliça com dificuldade para cultivo a céu aberto no norte do
Brasil (durante o ano todo) e no sudeste (período de verão), devido a chuvas intensas ou
no inverno no sul devido à geadas.
16
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
17
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
18
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
Não importa qual seja o tipo de exploração, o consumidor atual está preocupado, além
do ambiente, com a qualidade das olerícolas que ele consome. Comer bem, barato e de
forma que não agrida a natureza é primordial para todos. Sendo assim, a função
primordial do olericultor é buscar produtos diferenciados, a preços competitivos e sem
agressão ao ambiente.
Resumo:
19
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
AGRIANUAL. 2009. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: AgroFNP. 497 p.
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
20
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 3
Por outro lado, infelizmente, principalmente a população mais carente e com menor
grau de instrução, não conseguiu, até o momento, assimilar a importância das hortaliças
21
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Tabela 3.1. Situação da produção de hortaliças no Brasil em 2006. Fonte: CNPH, 2009
(adaptado).
Empreg
Hortaliças Prod. Área Produt. Participação (%) Valor Safra Kg/hab/ano** os
R$/t milhões % Disp. Cons
(mil t) (mil ha) (t/ha) Prod. Área R$ mil
Batata 3.125,93 140,80 22,20 17,81 18,25 614,17 1.919,85 16,65 16,74 5,27 422,41
Tomates* 3.278,07 56,64 57,88 18,68 7,34 535,00 1.753,77 15,21 17,55 5,00 253,38
Cebola 1.174,75 57,21 20,53 6,69 7,42 734,44 862,78 7,48 6,29 3,47 171,63
Batata-Doce 513,65 45,33 11,33 2,93 5,88 641,80 329,66 2,86 2,75 0,75 136,00
Cenoura 750,05 25,55 29,36 4,27 3,31 927,50 695,67 6,03 4,02 1,75 229,95
Alho 87,75 10,46 8,39 0,50 1,36 4.828,33 423,68 3,67 0,47 0,40 31,38
Inhames 236,00 25,74 9,17 1,34 3,34 335,53 79,19 0,69 1,26 0,42 231,62
Melão 500,02 21,37 23,40 2,85 2,77 396,51 198,26 1,72 2,68 0,36 192,29
Melancia 1.505,13 80,64 18,66 8,58 10,45 608,33 915,62 7,94 8,06 2,46 241,92
Outras
Hortaliças 6.378,00 305,57 20,87 36,34 39,61 682,12 4.350,56 37,74 34,15 916,70
TOTAL 17.549,34 771,36 22,75 100,00 99,73 11.529,03 93,96 29,00 2.827,28
*Tomates = somatório de tomate industrial e tomate de mesa.
**IBGE (2003): população estimada 182.956 mil; POF = Pesquisa Orçamento Familiar.
Como podemos visualizar na Tabela 3.1, tomates (mesa e industrial), batata, melancia e
cebola, em ordem decrescente, são as quatro hortaliças com maiores volumes em
produção. Em valor produzido, foram batata, tomates, melancia e cebola; em área:
batata, melancia, cebola e tomates; em produtividade: tomates, cenoura, melão e batata.
22
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
bulbilhos que são vendidos para consumo são os que empregamos para implantação da
cultura, pois alho não produz semente.
23
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Todavia o Brasil teve saldo positivo nesse comércio para tomates, cenoura, gengibre,
melão, melancia, milho-doce, Capsicum e pepinos. Tomates, cenoura, pepinos e milho-
doce devido às exportações para MERCOSUL (tomate, pepino e milho-doce também
processados). Gengibre, melão, melancia e Capsicum, exportados para a Europa. O
gengibre que o Brasil exporta é praticamente todo produzido no Espírito Santo,
enquanto que melão e melancia são produzidos no nordeste do Brasil, sobretudo nos
estados do Rio Grande do Norte e Ceará.
Capsicum
Capsicum se refere ao gênero que engloba várias espécies dentro da família botânica
das solanáceas (mesma da batata e do tomate). Nesse gênero estão contidos os
pimentões e as pimentas (veja classificação no capítulo 4).
Atenção!
A importância das hortaliças não se restringe à apenas na geração de renda com a
produção, mas exercem enorme importância para determinados municípios quanto ao
aspecto social, como é o caso de melão e melancia no nordeste do Brasil.
24
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Portanto, além de gerar ocupação no campo, evitando problemas sociais nas cidades, a
olericultura gera renda para as propriedades e município e fornece alimento saudável
tanto para os cidadãos das cidades como dos próprios produtores.
Atividade olerícola é a “construção civil do campo” em termos de gerar postos de
trabalho e consumir mão de obra.
25
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 3.2.
Importância social das
hortaliças. Detalhe do
envolvimento de mão
de obra no transplante
de mudas de cebola
para o campo no oeste
paulista. Foto: José
Maria Breda Júnior.
Valor nutricional:
As hortaliças são importantes fontes de proteínas, lipídeos, carboidratos, fibra alimentar,
cinzas, minerais e de vitaminas (B1, B2, B6, Niacina e vitamina C). Algumas também
apresentam efeito medicinal e outras atividades de alimento funcional.
A composição química dos alimentos, hortaliças no caso do presente caso, pode variar
com fatores do ambiente de cultivo (local, época, solo, manejo etc.) e da constituição
genética (variedade ou cultivar). Em razão, disso, um grupo de especialistas brasileiros
da área de alimentos, desenvolveu o projeto TACO (Tabela Brasileira de Composição
de Alimentos), coordenado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação
(NEPA) da UNICAMP, com financiamento do Ministério da Saúde – MS e Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à FOME – MDS. Essa é uma iniciativa para
proporcionar dados de grande número de nutrientes em alimentos nacionais e regionais
obtidos por meio de amostragem representativa e análises realizadas por laboratórios
com competência analítica comprovada por estudos interlaboratoriais, segundo critérios
internacionais.
Com base na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, listamos a seguir aquelas
hortaliças que mais se destacam, em relação às demais, quanto aos componentes
químicos. Assim temos:
Energéticas: alho, batata, baroa, batata doce, batata (frita), inhame, coentro
(desidratado), couve manteiga (refogada), taro.
Fonte protéica: abóbora cabotian ou cabotiá (tetsukabuto), agrião, alface lisa, alho,
almeirão, batata (frita), beterraba, brócolis, inhame, catalonha, cebola, cebolinha,
coentro (desidratado), couve manteiga, couve-flor, espinafre, taro, manjericão, mostarda
(folha), salsa, serralha, taioba, tomate extrato, vagem.
Lipídeos: almeirão, couve manteiga e espinafre (refogados), batata (frita) e coentro
(desidratado).
26
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Carboidratos: abóbora cabotiá (tetsukabuto), alho, baroa, batata doce, batata (frita,
cozida, sauté), beterraba, inhame, coentro (desidratado), taro e tomate (extrato).
Fibra alimentar: todas são boa fonte com destaque maior para batata (frita), inhame,
coentro (desidratado), couve manteiga e taioba.
Cinzas: aipo, alho, almeirão, baroa, batata frita, beterraba, inhame, catalonha, cenoura,
coentro (desidratado), couve manteiga, espinafre, manjericão, mostarda (folha), salsa,
serralha, taioba, tomate (extrato, purê, molho).
Cálcio: agrião, aipo, almeirão, brócolis, catalonha, cebolinha, chicória, coentro
(desidratado), couve manteiga, espinafre, manjericão, mostarda (folha), salsa, serralha e
taioba.
Magnésio: cebola, coentro (desidratado), espinafre, manjericão e salsa.
Manganês: beterraba, coentro (desidratado), couve manteiga, nabo, salsa
Fósforo: agrião, alho, batata (frita), brócolis, coentro (desidratado), couve-flor, taro,
mostarda (folha), salsa, serralha.
Ferro: agrião, almeirão, catalonha, coentro (desidratado), manjericão, mostarda (folha),
salsa, serralha, taioba, tomate (extrato, molho, purê).
Sódio: batata (frita), beterraba, tomate (extrato, molho, purê).
Potássio: alho, baroa, batata (frita), beterraba, catalonha, chicória, coentro
(desidratado), couve manteiga, taro, tomate (extrato).
Cobre: aipo, catalonha, alho, baroa, coentro (desidratado), salsa, serralha, tomate
(extrato) e taro.
Zinco: alho, coentro (desidratado), salsa e serralha.
Tiamina (B1): alho, couve manteiga e batata (frita).
Riboflavina (B2): agrião, almeirão, brócolis, serralha e taioba.
Piridoxina (B6): abóbora, acelga, aipo, alho, batata, catalonha, cebola e salsa.
Niacina: almeirão, baroa, batata doce, batata (frita), catalonha, cenoura e tomate
(extrato e purê).
Vitamina C: acelga, batata doce, batata, brócolis, coentro (desidratado), couve
manteiga, couve-flor, mostarda (folha), pimentões (verde, amarelo, vermelho) e tomate
(cru).
Como visto no item anterior, as hortaliças são fonte de diversas substâncias que têm a
função de nutrir as células do nosso corpo (efeito nutricional). Todavia, algumas
hortaliças, além de fornecerem nutrientes responsáveis por nutrir às células, apresentam
compostos ou substâncias que exercem efeitos fisiológicos em nosso organismo, além
daqueles de nutrir. Esses efeitos, normalmente, estão relacionados com a proteção das
27
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Alimento funcional:
Os alimentos funcionais são produtos que contêm em sua composição alguma
substância biologicamente ativa que, ao ser adicionada a uma dieta usual, desencadeia
processos metabólicos ou fisiológicos resultando em redução do risco de doenças e
manutenção da saúde.
Todavia, em razão da ação desses compostos ainda estarem sendo submetidos à
comprovação científica, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem
preferido utilizar a denominação de “Alimentos com Alegações de Propriedades
Funcionais e ou de Saúde”. Para maiores informações sobre esse assunto, consulte em:
http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno.htm. Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcionais e ou de Saúde.
Tabela 3.3. Composto bioativo, fonte (hortaliça) e efeito fisiológico com alegação de
atividade funcional.
Composto Hortaliças Efeito fisiológico
Ácido fenólico Agrião, berinjela, Atividade antioxidante. Inibição de
brócolis, cenoura, nitrosaminas (substância cancerígena).
morango, pimenta,
repolho, salsa, tomate
28
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Prebióticos:
São carboidratos complexos (considerados fibras alimentares) resistentes às ações das
enzimas salivares e intestinais. Ao alcançarem o cólon, produzem efeitos benéficos à
microflora colônica, induzindo efeitos favoráveis à saúde.
Probióticos:
São suplementos alimentares, normalmente utilizados em alimentos industrializados,
que contêm bifidobactérias ou bactérias benéficas para a melhora do balanço intestinal
por meio da colonização do intestino por outras espécies, do controle do colesterol, das
diarréias e da redução do risco do desenvolvimento do câncer. Tem função de estimular
o sistema imunológico e alterar o mecanismo microbiano.
29
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Simbióticos:
São alimentos com característica de função dos dois grupos, pré e probióticos.
Com base nas características das hortaliças e na classificação acima, as hortaliças são
enquadradas como prebióticos, ou seja, tem em sua constituição compostos que
produzem efeitos benéficos à microflora colônica, induzindo efeitos favoráveis à saúde.
Alho, aspargo, alcachofra, cebola, chicória (raiz) e tomate são exemplos de hortaliças
que apresentam frutooligossacarídeos que têm ação prebiótica comprovada. Tem como
efeitos na regulação do trânsito intestinal e da pressão arterial, redução do risco de
câncer e dos níveis de colesterol total e de triglicerídeos, bem como redução da
intolerância à lactose.
Conclusão
As hortaliças são importantes em termos econômico, social e nutricional. Econômico
por gerar renda movimentando toda a economia envolvida com a produção e
comercialização das hortaliças. Social, ou sócio-econômico, por gerar postos de
trabalho, evitando o êxodo das pessoas do campo em direção às cidades e, ao mesmo
tempo gerando renda para essas pessoas e alimentos saudáveis para todos. E nutricional,
por se constituírem em fontes de nutrientes (carboidratos, minerais, vitaminas,
proteínas, fibras etc.) indispensáveis ao nosso organismo e, muitas delas, exercendo
efeito funcional ou de proteção da ação de agentes que podem desencadear danos ou
doenças.
Resumo
as hortaliças não são simplesmente “mato” como muitas pessoas as enxergam;
elas possuem valores econômico, social e nutricional;
são importantes para a economia do país por gerar produtos e movimentar toda a
economia envolvida com a produção e comercialização das hortaliças;
a quantidade de hortaliças produzida e ofertada é maior do que a consumida nos
lares, o que se deve, principalmente, às perdas no processo de transporte,
comercialização e armazenamento, além do fato de muitas serem exportadas in
natura e/ou processadas industrialmente;
o consumo de hortaliças é muito baixo, por isso precisamos incentivar os
brasileiros a comerem de forma mais saudável;
as olerícolas podem variar em termos de produção física, área cultivada,
produtividade (produção obtida dividida pela área plantada) e valor da produção;
para algumas hortaliças como batata, cebola, alho, mostardas, morango e ervilha,
a balança de comércio exterior é negativa para o Brasil, ou seja, as importações
superam as exportações;
desempenham enorme importância social e econômica (sócio-econômica) por
gerarem postos de trabalho, renda e alimento saudável;
30
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
ANJO DFC. 2004. Alimentos funcionais em angiologia e cirurgia vascular. J. Vasc. Br.,
v.3, n.2:145-154.
CARVALHO PGB; MACHADO CMM; MORETTI CL; FONSECA MEN. 2006.
Hortaliças como alimentos funcionais. Horticultura Brasileira v.24,n.4:397-404.
Site recomendado
ABH Informa. http://www.abhorticultura.com.br/ >Acesso em 02 nov. 2009.
ANVISA. http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno.htm. Alimentos com
Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde. >Acesso em 12 nov. 2009.
CNPH.http://www.cnph.embrapa.br/paginas/hortalicas_em_numeros/hortalicasem
numeros.htm. >Acesso em: 03 nov. 2009.
UNICAMP. http://www.unicamp.br/nepa/taco/tabela.php?ativo=tabela Acesso em 12
nov. 2009.
31
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 4
32
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
33
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
34
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Tabela 4.1. Espécies de hortaliças mais cultivadas no Brasil dentro de cada classe e
família botânica.
I- Classe Monocotiledônea
Família Alliaceae (Amarilidaceae/Liliaceae)
Alho Allium sativum
Alho-porró Allium ampeloprasum var. porrum
Alho-rei Allium ampeloprasum var. holmense
Cebola Allium cepa
Cebolinha ou cebola de folha Allium schoenoprasum / A. fistulosum
Nirá ou cebolinha chinesa Allium tuberosum
Famíla Araceae
Mangarito Xanthosoma maffafa
Taioba Xanthosoma sagittifolium
Taro (Inhame no Centro-Sul do Brasil) Colocasia esculenta
Famíla Dioscoreaceae
Inhame (Carás) Dioscorea spp. (D. alata; D. cayenesis; D.
rotundata; D. bulbifera; D. trifida)
Famíla Liliaceae
Aspargo Asparagus officinalis
Famíla Marantaceae
Araruta ou maranta Maranta arundinacea
Famíla Zingiberaceae
Cúrcuma ou açafrão da Índia Curcuma longa (Curcuma domestica)
Gengibre Zingiber officinale
35
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Família Convolvulaceae
Batata-doce Ipomoea batatas
Famíla Cucurbitaceae
Abóboras Cucurbita moschata
Abobrinha italiana Cucurbita pepo
Buchas Luffa spp. (L. cilindrica; L. acutangula; L.
aegyptica )
Cabaça Lagenaria siceraria
Chuchu Sechium edule
Maxixe Cucumis anguria
Melancia Citrullus lanatus
Melões sem cheiro Cucumis melo grupo inodorus
Melões aromáticos Cucumis melo grupo cantalupensis
Morangas Cucurbita maxima
Pepino Cucumis sativus
36
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Famíla Malvaceae
Quiabo Abelmoschus esculentus
Famíla Rosaceae
Morango Fragaria x ananassa
Famíla Solanaceae
Batata Solanum tuberosum ssp. tuberosum
Berinjela Solanum melongena
Jiló Solanum gilo
Pimentas Capsicum spp. (C. frutescens; C. chinense; C.
annuum; C. baccatum; C. pubescens)
Pimentão Capsicum annuum
Tomate Solanum lycopersicum*
Tomate cereja Solanum lycopersicum var. cerasiforme
* Essa é a nova classificação do tomateiro, que era denominada Lycopersicon esculentum.
Note, na tabela 4.1, que para algumas famílias botânicas, existe mais de uma
denominação, como da Familia Alliaceae, por exemplo. Nesse caso, o que está contido
dentro do parênteses (Amarilidaceae/Liliaceae) se refere a antiga classificação.
Observem que na classificação taxonômica a grafia é extremamente importante. A
espécie, que é composta de gênero + epíteto específico, tem origem latina e ambos,
gênero e epíteto específico, devem ser grafados em itálico, e o gênero tendo a primeira
letra maiúscula. Quando o gênero já foi mencionado imediatamente antes da citação de
uma outra espécie do mesmo gênero, podemos simplificar a grafia do gênero grafando
apenas a 1ª letra, em maiúsculo e itálico, seguida de ponto (.) e do novo epíteto
específico (em minúsculo e itálico). Ex.: Allium cepa; A. sativum.
Quando a espécie tem o complemento variedade botânica ou subespécie, após o epíteto
específico grafa-se var. ou spp. (minúsculo, sem itálico, simplificado e com ponto),
seguido da variedade ou subespécie, em minúsculo, grafada em itálico. Para grupo,
utiliza-se os mesmos princípios, somente que o termo grupo é sem simplificar. Veja o
caso dos melões.
Chama atenção o morangueiro que tem como classificação Fragaria x ananassa; o x
entre gênero e espécie é em razão do morangueiro ser um híbrido natural entre duas
37
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
38
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
As hortaliças de estação fria são aquelas hortaliças que apresentam preferência, durante
a maior parte do seu ciclo, a temperatura média entre 16 e 18o C. As hortaliça de estação
quente são aquelas hortaliças que apresentam preferência, durante a maior parte do seu
ciclo, a temperatura média entre 18 e 30o C.
Hortaliças de meia estação ou de clima ameno são, na realidade, variedades ou
cultivares de determinadas hortaliças que toleram um pouco mais o frio ou o calor. Na
maioria das vezes são cultivares de hortaliças de clima frio que foram melhoradas para
cultivo em condições de temperatura média um pouco mais elevada. Esse assunto será
abordado com maior profundidade no capítulo 5.
39
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 4.1. Da esquerda para a direita, na parte de cima: rizomas de taro e de gengibre e
raízes tuberosas de mandioquinha-salsa; parte de baixo: tubérculos de inhame e de
batata e inflorescência de couve-flor. Foto: Mário Puiatti
40
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Essa classificação tem utilidade limitada por ser ambígua devido a duplicidade de forma
ou maneiras que algumas hortaliças são preparadas e usadas. A taioba, por exemplo, se
utiliza a folha (hortaliça herbácea), mas o rizoma também pode ser consumido (hortaliça
tuberosa); abóbora se consome o fruto (hortaliça fruto), mas as hastes também são
consumidas em algumas regiões (hortaliça herbácea). Todavia essa classificação é
muito empregada no processo de comercialização, como cotação de produtos nas
CEASAS, além de estudos em pós-colheita.
4. Classificação das plantas com relação aos fatores do clima para completar o
ciclo de vida ou biológico:
De acordo com a resposta das hortaliças aos fatores do clima para completar o seu ciclo
de vida ou biológico (nascer, crescer, florescer e senescer), as hortaliças são
classificadas em bienal, anual e perene.
Atenção!
Cuidado com o termo bienal ou bianual, pois esse subentende o envolvimento de dois
anos. Isso é verdadeiro para o hemisfério norte, onde as baixas temperaturas ocorrem na
mudança do ano civil. No hemisfério sul, que é o caso do Brasil, naturalmente as baixas
temperaturas ocorrem no meio do ano civil e uma hortaliça bienal poderá crescer,
florescer, frutificar e senescer sob condições de campo dentro de um mesmo ano civil.
41
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Hortaliças anuais:
São aquelas que passam da fase vegetativa para a fase reprodutiva por fatores outros do
clima que não seja a baixa temperatura. A alface, por exemplo, é uma espécie anual que
passa para a fase reprodutiva por efeitos de temperatura elevada e fotoperíodo longo.
Todas as hortaliças que não são bienais tem comportamento de anual.
Hortaliças perenes:
São hortaliças semelhantes às anuais, ou seja, não passam para a fase reprodutiva por
efeito de baixas temperaturas. A diferença é que essas espécies têm vários ciclos
vegetativos e reprodutivos até senescerem (morrerem). Exemplo de hortaliça perene é o
aspargo que pode viver mais de 10 anos vegetando e florescendo até morrer.
42
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
43
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 4.2. Boro (B) em couve-flor. A esquerda queima das bordas e curvatura das
folhas devido à toxidez de B em plantas na fase inicial de crescimento; a direita, medula
oca ou podridão da medula causada pela deficiência de B na planta. Foto: Mario Puiatti
44
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
higrófita. Não temos nenhuma hortaliça classificada como xerófita, embora melão e
melancia sejam espécies que não toleram excesso de água e produzem frutos com maior
teor de açúcar sobre condições de ligeiro estresse hídrico na fase de amadurecimento
dos frutos. Hortaliças tuberosas, tais como batata, cebola e alho, também devem ter a
irrigação suspensa nos 15 a 20 dias que antecedem a colheita.
Esse tipo de classificação é importante em termos de escolha de área de plantio, tais
como inclinação, drenagem etc., e da época de plantio para se evitar problemas,
sobretudo com excesso de umidade de solo.
Conclusão:
Existem diversas formas de classificação das hortaliças; nenhuma delas sozinha é
completa no tocante a todas as informações de que precisamos para o cultivo,
comercialização e armazenamento das hortaliças. Dentre todas elas, a classificação
taxonômica é, certamente, a mais exata, tem aplicabilidade universal, é de fácil uso,
45
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na
produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV. 421 p.
Site recomendado
ABH Informa. http://www.abhorticultura.com.br/ >Acesso em 02 nov. 2009.
CEAGESP. Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
http://www.ceagesp.gov.br/ > Acesso em 04 jan. 2010.
CEASAMINAS. Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A
http://www.ceasaminas.com.br/ > Acesso em 04 jan. de 2010.
CNPH. 2010.
http://www.cnph.embrapa.br/paginas/sistemas_producao/cultivo_da_cebola/preparo_do
_solo.htm
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento. Serviço de Proteção de
Cultivares. http://www.agricultura.gov.br/ > Acesso em 02 nov. 2009.
46
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 5
Crescimento e desenvolvimento
Embora, no dia a dia, sejam usados como sinônimos, nos sentidos biológico e
fisiológico esses termos não tem o mesmo significado. Crescimento está relacionado
com alternações facilmente mensuráveis durante o ciclo de vida de uma planta, como
altura, peso, diâmetro, volume etc.; enquanto que desenvolvimento se refere às
alterações quase imperceptíveis pelas quais a planta passa nos estádios até completar o
seu ciclo de vida, como mudanças bioquímicas e fisiológicas que levam a planta a
passar do estádio vegetativo para o estádio reprodutivo.
Ciclo cultural e ciclo biológico: entenda a diferença.
O ciclo cultural corresponde ao período de tempo da implantação da cultura ao final da
colheita. Por colheita entende-se a obtenção da estrutura (órgão) objeto da exploração,
que pode ser flor, fruto, semente, folha, caule, raiz tuberosa, bulbo, tubérculo etc. (veja
capítulo 4). O ciclo cultural é uma das medidas mais antigas e útil empregada para uma
avaliação e predição de quando (a época) em que as culturas poderiam ser cultivadas.
Normalmente corresponde ao período de tempo sem ocorrência de geadas ou neve.
Entende-se por ciclo biológico o período de tempo no qual a planta completa o seu ciclo
de vida (senesce), deixando descendentes, que podem ser sementes ou estruturas
vegetativas reprodutivas (assunto a ser abordado no capítulo 6). Portanto não se deve
confundir ciclo cultural com ciclo biológico, pois quase sempre diferem um do outro,
estando o ciclo cultural dentro do ciclo biológico.
47
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
TEMPO:
É o estado da atmosfera com respeito à temperatura, umidade, radiação solar,
movimento do ar e de outros fenômenos metereológicos, por um curto período de
duração.
CLIMA:
É a média comportamental do tempo, num local específico, sobre um período de muitos
anos. Portanto, o clima exerce influência sobre as condições de tempo. O clima pode, ou
poderá, pré-determinar se uma determinada espécie olerícola irá crescer e se
desenvolver em determinado local e época, ou seja, o crescimento e desenvolvimento de
uma planta são dependentes diretamente das condições do tempo durante o seu ciclo de
vida.
Dentre os fatores do clima, temperatura, luz, água e umidade relativa são os que mais
influenciam o crescimento e desenvolvimento das hortaliças, os quais serão abordados a
seguir.
1. TEMPERATURA:
A temperatura exerce profundo efeito sobre todos os organismos vivos, favorecendo ou
limitando o crescimento desses, além influenciar na distribuição de plantas na face da
terra.
Embora a terra seja uma esfera em rotação, e a fonte de energia seja o sol, a distribuição
global da radiação e, conseqüentemente, da temperatura varia com as condições
geográficas. Devido à inclinação da terra formando um ângulo de 23o26’ (eclípita) no
plano de sua órbita ao redor do sol, porções de terra recebem diferentes quantidades de
insolação, variando com a época do ano e latitude. Assim, cada latitude recebe uma
porção de insolação ao longo do dia e do ano. Além disso, a temperatura em qualquer
ponto sobre a terra é governada também pela sua proximidade de outras massas de terra
e pelas correntes de ar, principalmente das oceânicas. Por essas razões, o mapa de
temperatura não é uniforme ao redor da terra. A zona equatorial é consistentemente
quente, enquanto que regiões polares consistentemente frias, comparadas às latitudes
intermediárias.
Eclipta:
É o ângulo (23o26’) formando entre os planos da órbita da terra no sistema solar
(eclíptica) e eixo da terra perpendicular ao equador celeste.
48
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
comprimento do dia são mais uniformes, com pequenas variações ao longo do ano,
tornando as estações do ano quase que indistintas, como é o caso de regiões tropicais.
A temperatura também varia ao longo do dia. Essas flutuações térmicas diárias ocorrem
devido ao movimento de rotação da terra, uma vez que durante a noite a radiação solar
não é recebida e ocorrem perdas, a partir da superfície da terra, da radiação recebida
durante o dia. Assim, a cada dia tem-se uma temperatura máxima, que ocorre por volta
do meio dia e uma mínima, que ocorre ao nascer do sol. Temperatura também decresce
com o aumento da altitude, normalmente 0,6°C para cada 91,5 m de elevação acima do
nível do mar.
Termoperiodicidade:
Denomina-se de termoperiodicidade a variação da temperatura ao longo de determinado
período de tempo. Quando essa variação de temperatura ocorre ao longo das estações do
ano, denomina-se de termoperiodicidade estacional e quando ocorre ao longo de um
dia (24 horas), de termoperiodicidade diária.
49
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
50
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Vernalização:
Para hortaliças bienais como couve-flor e alho, a exposição à baixa temperatura induz
ao florescimento. Esse estímulo é chamado de vernalização. Em alho o frio é importante
também para formar os bulbilhos (dentes).
51
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
O processo de vernalização pode se artificial, ou seja, a planta, ou parte dessa, pode ser
submetida a baixa temperatura em câmara fria e depois plantada no campo para obter
sementes. Essa técnica é muito utilizada por empresas produtoras de sementes para
hortaliças bienais (vide capítulo 4), como é o caso de cenoura, beterraba, cebola e
repolho.
52
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
tem sido observado que quando a temperatura do ar está acima de 38°C, a temperatura
do fruto alcança acima de 50°C. Fruto exposto a tais condições torna-se danificado
devido à queimadura de sol. Esse tipo de injúria é denominado de escaldadura.
Aclimatação ou Endurecimento:
As hortaliças podem ser um tanto “modificadas” (aclimatadas), tornado-as
relativamente tolerantes ao frio ou ao calor submetendo-as, gradualmente, a
temperaturas cada vez mais baixas ou mais altas, respectivamente. Esse processo é
denominado de aclimatação ou endurecimento. Causa uma adaptação das células às
baixas ou altas temperaturas e, dessa forma, os tecidos das plantas vão se tornando
aclimatados ao frio ou ao calor. Na natureza, para hortaliças perenes (veja cap. 4), tal
processo tem início naturalmente no outono e primavera de cada ano, respectivamente.
O endurecimento é um processo muito utilizado por produtores de mudas de hortaliças
(veja cap. 6). Nesse caso, as mudas são submetidas a estresse gradual de água, privação
de nutrientes ou exposição à luz plena ao se aproximar da época do transplante das
mudas para o local de cultivo definitivo tornando as mudas “preparadas” para enfrentar
as condições edafoclimáticas mais adversas que irão encontrar no campo de cultivo.
2. LUZ:
A luz solar (energia radiante) é requerida pelas plantas para realização da fotossíntese;
por conseguinte, é outro componente do ambiente essencial para a vida das plantas.
Pode ser medida em termos de qualidade (comprimento de onda), quantidade ou
duração (fotoperíodo) e intensidade (irradiância).
53
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 5.4. Espectro eletromagnético da luz solar com o espectro de luz visível em
destaque. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Radia%C3%A7%C3%A3o_eletromagn%C3%A9tica
54
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 5.5. Alface é uma espécie anual que é induzida a florescer sob fotoperíodo
longo. A esquerda planta no estado vegetativo e a direita com as hastes florais. Foto:
Mario Puiatti
55
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
56
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
3.A ÁGUA
Ciclo hidrolítico:
Água é essencial para os processos vitais. Na terra está sob três fases: líquida, gasosa ou
sólida. A conversão de uma fase para a outra (ciclo hidrolítico) é dependente da
temperatura, que, por sua vez, é sustentada pela energia solar.
A evaporação, a partir de reservatórios de água e da terra, e a transpiração, a partir da
superfície das plantas, irão constituir a fase de vapor. Quando transformada em líquido
ou sólido, cai na superfície da terra como chuva, neve ou granizo. Quando ocorre
condensação sobre a superfície forma o orvalho.
Umidade do ar:
Uma das formas de se medir a umidade presente na atmosfera (atm) é pela umidade
relativa (UR). A UR é um importante fator para o crescimento e desenvolvimento das
plantas por causa da forte influência que exerce sobre a transpiração. Baixa UR tende a
aumentar a transpiração, enquanto alta UR tem efeito oposto. Alta UR, embora leve a
economia de água, pode exercer efeito negativo no cultivo de muitas hortaliças por
favorecer o aumento de incidência de doenças provocadas por bactérias e fungos.
Outro aspecto relacionado à UR é o orvalho que pode resultar da perda de calor a partir
da superfície das folhas, por radiação, durante a noite. O ponto de orvalho é a
temperatura na qual o vapor de água está no ponto de saturação. Se a temperatura no
ponto de orvalho estiver acima de 0°C, o vapor d’água condensado é líquido, formando
o orvalho; entretanto, se a temperatura da superfície estiver abaixo de 0°C, geada ou
gelo é formado por sublimação do vapor, causando grandes danos à maioria das
hortaliças.
57
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Evapotranspiração:
É o termo usado para descrever a perda combinada de água da superfície do solo
(evaporação) e da superfície cuticular das folhas das plantas (transpiração). É expressa
como a taxa de perda d’água a partir de uma área e, essa medição, é útil na estimativa de
requerimento de água para o crescimento das plantas. Temperatura, UR, vento, área
foliar e superfície do solo, são fatores que influenciam a evapotranspiração.
Hortaliças e a água:
A falta d’água é um dos principais fatores responsáveis pela queda de produtividade de
hortaliças. Por isso, a disponibilidade de água em quantidade e qualidade deve ser um
dos primeiros aspectos a serem observados quando se pretende implantar um cultivo de
hortaliças.
A água compõe de 80-95% do peso da massa de matéria fresca das hortaliças, sendo que
os 5-20% restantes são produzidos via fotossíntese, que também necessita de água.
Além disso, a planta absorve muito mais água que a incorporada em suas células, visto
que grande parte é perdida via transpiração, que, com dito anteriormente, é importante
para o fluxo de nutrientes e abaixamento de temperatura.
A água é importante em todas as fases ou estádios de desenvolvimento das hortaliças;
todavia, normalmente, o estádio de florescimento, para a maioria das hortaliças que
florescem, é o estádio crítico em que estresse hídrico leva a perda de produtividade.
Para a maioria das hortaliças mesófitas, pouco ou nenhum estresse hídrico durante todo
o período de crescimento usualmente resulta em maior produção e produto de melhor
qualidade. Exceto para hidrófitas (caso do agrião), o alagamento deve ser evitado, pois
essa condição restringe oxigênio para as raízes e afeta o crescimento.
58
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
59
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
Dentre os fatores do clima, temperatura, luz, água (umidade relativa) são os que mais
influenciam o crescimento e desenvolvimento das hortaliças.
Resumo
•As hortaliças são espécies muito sensíveis aos fatores do clima;
•Dentre os fatores do clima, temperatura, luz e água (umidade relativa) são os que mais
interferem no crescimento e desenvolvimento das hortaliças;
•Os fatores do clima quando não atendem às necessidades da espécie olerícola para o
crescimento e desenvolvimento são a causa da escassez da oferta e da pior qualidade das
hortaliças ofertadas;
•Para obtermos sucesso na exploração olerícola devemos conhecer as exigências da
espécie e/ou variedade de hortaliça quanto aos fatores do clima e as condições
climáticas do local e época em onde iremos cultivá-la.
Referências bibliográficas
60
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
WIEN HC. (Ed.). 1997. The physiology of vegetables crops. New York: CAB
International, 662 p.
LORENZ, O.A.; MAYNARD, D.N. Handbook for vegetable growers. New York:
JOHN WILLEY & SONS. 1988. 457p.
Site recomendado
61
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 6
PROPAGAÇÃO DE HORTALIÇAS
63
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
64
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Dormência
Dizemos que a semente, ou mesmo um órgão vegetativo utilizado na propagação, está
dormente quando não mostra nenhum sinal de reassumir o crescimento quando as
condições ambientes são favoráveis a esse crescimento. Quando a semente ou órgão
vegetativo tem potencial para germinar ou brotar (reassumir crescimento), mas não o
faz devido às condições ambientais desfavoráveis, dizemos que esses estão em
quiescência ou em repouso.
65
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Na Tabela 6.1 são apresentadas hortaliças propagadas por sementes, ou frutos, bem
como aspectos relacionados ao gasto de sementes para implantação de cultivos com
essas hortaliças.
Tabela 6.1. Hortaliças e Necessidade de Sementes para Implantação de 1 ha.
Espécie/ Espaçamento Sementes Plantas ou Germinação
Variedade (m) Nº/g g/ ha covas/ha Temp.°C Dias
Abóbora tipo seca 5,0 x 5,0 7 a 10 150 400 25 5a8
Abóbora tetsukabuto 3,0 x 2,0 5a7 500 1667 25 5a8
Abobrinha 1,5 x 0,5 6a8 5.700 13.334 25 5a8
Abobrinha menina 3,0 x 3,0 6a8 480 1.110 25 5a8
Agrião* 0,20 x 0,05 3.700 480 684.000 20 5a8
Alface americana* 0,35 x 0,35 900 160 55.835 21 6a7
Alface crespa* 0,30 x 0,30 900 220 76.000 21 6a7
Alface lisa* 0,30 x 0,30 900 220 76.000 21 6a7
Alface mini* 0,25 x 0,20 1.400 210 140.000 21 6a7
Berinjela 1,5 x 0,8 200 70 8.334 27 10 a 15
Beterraba* 0,20 x 0,10 55 16.150 342.000 22 10 a 15
Brócoli ramoso 1,0 x 0,5 200 170 20.000 20 a 23 6 a 10
Brócoli cabeça única 0,70 x 0,4 200 310 35.710 20 a 23 6 a 10
Cebola* 0,30 x 0,10 340 1.850 228.000 21 8 a 10
Cebolinha* 0,30 x 0,30 500 420 76.000 21 8 a 10
Cenoura* 0,25 x 0,05 450 4.300 547.200 22 a 25 8 a 12
Chicória* 0,30 x 0,30 550 400 76.000 20 a 25 10 a 14
Coentro* 0,25 x 0,05 110 14.250 547.200 22 a 28 10 a 18
Couve 1,2 x 0,4 160 200 20.834 22 a 25 6 a 10
Couve Bruxelas 0,8 x 0,5 150 280 25.000 20 a 23 6 a 10
Couve Chinesa 0,7 x 0,3 300 300 47.610 20 a 25 6 a 10
Couve Flor de Inverno 0,8 x 0,5 250 200 25.000 20 a 22 6 a 10
Couve Flor de Verão 0,8 X 0,5 200 260 25.000 20 a 25 6 a 10
Ervilha Torta 1,0 x 0,6 5 14.400 16.667 20 a 22 6 a 10
Feijão Vagem 1,0 x 0,6 4 14.400 16.667 22 a 28 6a7
Há Daikon* 0,20 x 0,05 50 35.500 684.000 20 a 25 6 a 10
Jiló 1,2 x 0,8 450 60 10.410 27 a 30 10 a 14
Melancia 3,0 x 2,0 15 210 1.667 22 a 28 8 a 14
Melão 2,0 x 0,3 25 910 16.667 24 a 28 8 a 12
Pak Choi* 0,25 x 0,25 500 580 109.440 20 a 24 6 a 10
Pepino Aodai 1,0 x 0,6 35 720 16.667 20 a 22 7 a 10
Pepino Caipira 1,2 x 0,6 35 600 13.889 23 a 25 7 a 10
Pepino Indústria 1,2 x 0,3 35 1.400 27.778 23 a 25 7 a 10
Pimenta 1,2 x 0,7 150 125 11.905 24 a 26 10 a 14
Pimentão 1,0 x 0,6 140 260 20.000 25 a 30 10 a 14
Quiabo 1,0 x 0,4 20 4.060 25.000 25 a 28 10 a 14
Rabanete* 0,25 x 0,04 80 22.200 684.000 20 a 24 4a7
Rábano* 0,6 x 0,10 50 7.300 126.667 20 a 25 6 a 10
Repolho 0,8 x 0,40 250 325 31.250 20 a 25 6 a 10
Rúcula* 0,2 x 0, 05 610 2.900 684.000 20 a 25 6 a 10
Salsa* 0,3 x 0,10 660 930 228.000 20 a 25 6 a 10
Tomate Caqui 1,2 x 0,70 310 62 11.905 22 a 28 8 a 14
Tomate Longa Vida 1,2 x 0,70 330 58 11.905 22 a 28 8 a 14
Tomate Indústria 1,2x0,4x0,4 350 240 52.080 22 a 28 8 a 14
1ha (hectare) = 10.000 m2; *Plantio em canteiros com utilização de 70% da área. Valores são
aproximados.
66
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
67
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Em alho, o bulbilho é o material propagativo uma vez que o alho não produz semente
botânica. Os bulbilhos apresentam dormência, cujo grau varia com o clone de alho,
demorando de dois a cinco meses para brotar.
Tubérculo:
O tubérculo é um tipo especial de estrutura de caule modificado, intumescido, que
funciona como órgão de armazenamento subterrâneo. Um tubérculo tem todas as partes
de um caule típico, porém é mais “inchado”.
Dentre as hortaliças temos a batata (Solanum tuberosum) e os inhames (Dioscorea spp. -
“carás”) como exemplos de tubérculos, os quais também apresentam dormência e, tal
qual os bulbos, essa deve ter dado início a superação para poder ser plantado. A batata-
doce (Ipomea batatas) é uma hortaliça herbácea perene, que tem como órgão de
armazenamento o tubérculo, denominada popularmente de raiz tuberosa.
Figura 6.4. Propagação vegetativa. Da esquerda para a direita, bulbo de alho com
bulbilhos, tubérculos de batata e de inhame (Dioscorea spp.) utilizados na propagação
dessas culturas. Foto: Mário Puiatti
Rizoma:
Os rizomas são estruturas de caule especializadas nos quais o eixo principal da planta
cresce, normalmente, horizontal abaixo da superfície do solo. Apresenta nós e entrenós;
em cada nó se insere uma bainha foliar envolvendo o caule e formando a folhagem da
planta ao expandir-se; ao desintegrarem-se, essas folhas, deixam uma cicatriz no ponto
de inserção identificando o nó, dando aparência de segmentada. Ao redor dos nós se
desenvolvem raízes adventícias e pontos de crescimento lateral (gemas).
Embora se considere que rizomas não tem dormência verdadeira, essa estruturas
apresentam repouso muito forte que pode ser confundido com dormência. Taro
(Colocasia esculenta), taioba (Xanthosoma sagittifolium), açafrão (Curcuma domestica
ou C. longa), gengibre (Zingiber officinale), araruta (Maranta arundinacea) e aspargo
(Asparagus officinalis) são exemplos de hortaliças que possuem rizomas, os quais, além
de usados na alimentação e/ou como condimento, são utilizados na propagação
comercial dessas culturas.
Nas cebolinhas de folha japonesa (Allium fistulosum) e chinesa - nirá - (Allium
tuberosum), os rizomas ocupam o lugar dos bulbos como estrutura de armazenamento,
os quais são separados da touceira na obtenção das “mudas”.
68
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 6.6. Propagação vegetativa. Da esquerda para a direita: brotações basais (“mudas”) de
alcachofra, brotações axilares de couve e rizomas de nirá utilizados na propagação dessas
culturas. Foto: Mário Puiatti
69
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Os estolhos são caules oriundos de brotações laterais, longos, apoiados sobre o solo e
que, de espaço em espaço, formam gemas com raízes e folhas assegurando a
propagação vegetativa (mudas).
Rebento:
A batata-baroa ou mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza) é propagada de forma
vegetativa por rebentos. Esses rebentos são porções de caule intumescidas formadas a
partir de gemas axilares de um caule primário. Esses rebentos não têm dormência.
Na tabela 6.2 são apresentadas as hortaliças nas quais comumente empregamos a
propagação vegetativa, assim como as estruturas empregadas.
70
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
71
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão:
Na propagação das hortaliças podemos empregar estruturas sexuadas (propagação
sexuada) ou utilizar estruturas vegetativas, denominada de propagação assexuada ou
vegetativa. Na propagação sexuada são empregadas sementes ou fruto contendo
semente, daí a denominação de propagação seminífera. A escolha do tipo de propagação
depende da espécie, se essa possui ou não estrutura sexuada, e da produção que essa
estrutura irá propiciar. Especialmente na propagação vegetativa, devemos ter muito
cuidado na escolha da estrutura propagativa em razão da possibilidade de transmissão
de fitopatógenos.
Resumo:
.As hortaliças podem ser propagadas por estruturas originadas de órgãos reprodutivos,
que são as sementes, e/ ou por estruturas vegetativas;
.Denomina-se de propagação seminífera àquelas hortaliças que são propagadas por
estruturas originadas de órgãos reprodutivos (sexuada) e de propagação vegetativa
àquelas propagadas por estruturas assexuadas;
.Para cada tipo de propagação, existem vantagens e desvantagens que devem ser
avaliadas pelo agricultor ou técnico em cada circunstância;
72
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
CARVALHO NM; NAKAGAWA J. 2000. Sementes: ciência, tecnologia e produção.
Jaboticabal: FUNEP, 588p.
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
73
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 7
Pegamento
Termo utilizado para designar que a muda transplantada se adaptou ao local em que foi
transplantada e que continuará a crescer e se desenvolver normalmente até planta
completar o seu ciclo cultural ou de vida.
74
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
75
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
O manejo da irrigação deve ser cuidadoso, freqüente, mas com baixo volume, até
próximo o transplante das mudas para o local de cultivo, quando procede-se a
aclimatação ou endurecimento das mudas (veja cap. 5).
76
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
77
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
radicular e a menor competição da parte aérea por luz em razão do maior espaço
disponível.
Raízes adventícias
São todas as raízes que não se originam da radícula do embrião ou da raiz principal por
ela formada.
78
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
encher o copinho com o substrato. No caso de se utilizar tubo de PVC como molde, não
há a necessidade de se retirar o molde para o enchimento do copinho, pois o PVC tem a
vantagem de auxiliar no enchimento do copinho, agilizando o processo.
Depois de preenchidos os copinhos, esses são dispostos um ao lado do outro; colocam-
se as sementes em leve depressão feita com o dedo indicador e cobre-se com substrato
seguindo-se as irrigações conforme no método da sementeira. Pode-se também colocar
sapê sobre os copinhos, com objetivo de evitar formação de crosta e manter a umidade
uniforme na camada superficial. Deve-se retirar o sapê quando as plântulas iniciarem a
emergência. O transplante para o local de cultivo definitivo é realizado quando as
mudas tiverem 4 folhas definitivas (sem contar as cotiledonares). O papel jornal do
copinho não deve ser retirado no transplante; deve-se apenas tomar o cuidado de cobrir
totalmente o papel jornal com o solo para evitar o ressecamento do papel jornal (perda
da água para a atmosfera por capilaridade), o que poderá dificultar a passagem das
raízes através do papel jornal.
Como substrato para preenchimento dos copinhos pode-se utilizar a mesma mistura que
é feita para o enchimento do leito do viveiro ou acrescentar solo mais argiloso para
evitar que o torrão do copinho se esboroe (desmanche) na operação de transplante.
Esse método pode ser utilizado para todas as hortaliças que permitem o transplante de
mudas por proporcionar mudas vigorosas (tanto parte aérea quanto as raízes) e
pegamento facilitado devido o torrão que protege o sistema radicular do estresse do
transplante. Todavia, em razão dos custos referentes aos gastos com mão de obra para
feitura e enchimento dos copinhos, esse método tem sido utilizado somente para
solanáceas (tomate, pimentão e jiló; especialmente para tomate de mesa) e cucurbitáceas
(abóboras, melancia e melão). Para solanáceas utiliza-se copinho com 8 x 6 cm (altura x
diâmetro); para as cucurbitáceas, em razão do crescimento mais exuberante e da
fragilidade do sistema radicular, se utiliza copinhos de 10 x 8 cm (altura x diâmetro).
Método da barrela:
Esse método é simples, mas muito artesanal e é, basicamente, utilizado por alguns
produtores de tomate de mesa.
Consiste em se preparar um molde de madeira formando um quadrado de 0,5 x 0,5 m
com 0,05 m de altura. Esse molde é colocado sobre solo firme e preenchido com uma
mistura tipo “massa de bolo” ou “argamassa”. Essa mistura é obtida com solo de
barranco (argiloso) e esterco de gado bovino curtido (2:1 - v:v). Caso necessário coloca-
se calcário (cerca de 50 g) e fosfato (50 g de superfosfato simples). Depois de
misturada, acrescenta-se água até formar uma pasta (“argamassa”); essa “argamassa” é
colocada dentro do molde ficando com espessura de 0,05 m. Com auxílio de uma régua
de madeira e de uma faca, fazem-se cortes transversais e longitudinais nessa
“argamassa” formando cubos com 0,05 m de aresta. Sobre cada cubo, faz-se pequena
depressão (pode ser com o dedo indicador), onde são colocadas as sementes (1 a 3,
dependendo do poder germinativo e do número de plantas que se queira deixar por
79
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
cubo) e cobre-se com fina camada de esterco de gado bovino curtido. Pode-se cobrir
com sapê até a emergência das plântulas, assim como é feito para sementeira e copinho
de jornal.
As mudas serão transplantadas conforme é feito com aquelas produzidas no método do
copinho de papel jornal. Os cortes feitos na “argamassa” permitem a separação dos
bloquinhos (cubos), cada qual com o número de mudas que se deseja. Normalmente,
para tomate de mesa, deixam-se duas mudas por cubo.
Os cuidados no transplante devem ser os mesmos observados para o copinho de papel
jornal, cobrindo-se, nesse caso, totalmente o “cubo de argamassa”.
Embora propicie mudas excelentes, é um método muito trabalhoso e artesanal. Assim
como o método do copinho de papel jornal, além do gasto com mão de obra para
confecção, tem a dificuldade do grande volume e peso a transportar para o campo de
cultivo definitivo.
Método da bandeja
Esse método utiliza bandejas confeccionadas com poliestireno expandido (isopor) com
dimensões externas padrão (67,5 x 34,5 cm), variando a altura e o número de células em
função do tamanho das células. Para hortaliças as bandejas mais utilizadas contêm de 72
a 288 células. Essas bandejas, depois de preenchidas com substrato, recebem as
sementes (normalmente 1 semente/célula) e são dispostas, uma ao lado da outra, em
estruturas com cerca de 60 cm acima do nível do solo, em casa de vegetação.
As células são em formato piramidal invertido, com pequena abertura na parte inferior.
A abertura tem a finalidade de drenar o excesso de água e, pela injúria provocada pelo
ar na raiz principal quando essa alcança a abertura, estimular a emissão de raízes
secundárias. Esse formato propicia o crescimento das raízes abarcando todo o substrato,
além da retirada da muda da célula no momento do transplante para o local de cultivo.
Para o preenchimento das células das bandejas existem diversas marcas de substratos
comerciais que devem ser leves, porosos, com boa capacidade de retenção de água e que
80
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
81
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Atenção!
Antes da sua utilização, a espuma fenólica deverá ser lavada em água corrente em
abundância para eliminar todos os resíduos ácidos resultantes do processo de fabricação.
Caso não seja feito, esses resíduos poderão prejudicar a germinação e emergência das
plântulas e o crescimento das mudas.
Figura 7.6. Implantação de cultivo de hortaliça pelo sistema de “plantio direto” em São
José do Rio Pardo, SP. A esquerda máquina adaptada para “plantio” (semeadura) direto
de cebola na palhada de milho. A direita detalhe de plântulas de cebola e de restos de
palhada em campo implantado por esse método. Foto: José Maria Breda Júnior
83
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão:
As hortaliças podem ser propagadas por sementes e/ou estruturas vegetativas. Quando
propagadas por estruturas vegetativas a instalação dos cultivos é feita com o plantio
dessas estruturas diretamente no local de cultivo. Quando propagadas por sementes, os
cultivos podem ser instalados por semeadura direta no local de cultivo e/ou pelo
transplante das mudas. Nesse último caso, as mudas podem ser produzidas em
sementeira, em sementeira e viveiro ou em recipientes. Ultimamente tem-se utilizado
com sucesso a instalação dos cultivos por semeadura direta sem, contudo, proceder o
preparo do solo da forma convencional; a esse sistema tem-se denominado de plantio
direto.
Resumo:
•As hortaliças podem ser propagadas por partes vegetativas (propagação assexuada) ou
por sementes (propagação seminífera);
•Os cultivos com hortaliças propagadas assexuadamente são implantados diretamente
no campo sem a necessidade de se “produzir” (formar) as mudas;
•Os cultivos com hortaliças propagadas sexuadamente podem ser implantadas no campo
por semeadura direta ou por transplantação de mudas;
•Vários fatores influenciam na escolha do sistema de implantação dos cultivos com
hortaliças propagadas por sementes, sendo que as características inerentes à espécie a
determinante;
•Existem vários métodos de produção de mudas de hortaliças para implantação pelo
sistema de transplantação de mudas;
84
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na
produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV. 421 p.
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
85
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 8
aplicados. Portanto, se a amostragem não for realizada de maneira correta, ela estará
representando de maneira inadequada aquele solo. Por consequência, a interpretação e
recomendações serão equivocadas podendo trazer prejuízos econômicos ao produtor e
até danos ao ambiente.
A amostragem deverá ser realizada com boa antecedência da época do plantio
considerando que, caso o solo necessite de calagem, a aplicação de calcário deverá ser
feita, no mínimo, 60 dias antes do plantio. Esse período de tempo é importante para que
possa ocorrer a reação do calcário no solo promovendo a “correção” do mesmo.
Seleção da área:
A amostragem do solo se inicia pela seleção da área a ser amostrada. Para que a amostra
seja representativa, a área amostrada deve ser o mais homogênea possível. Para que se
obtenham áreas homogêneas, a gleba deve ser subdividida em talhões homogêneos
levando-se em conta os seguintes aspectos: vegetação; topografia (encosta, baixada,
morro etc.); características perceptíveis do solo (cor, textura, drenagem etc.) e histórico
da área (cultivos anteriores, uso de corretivos e fertilizantes etc.).
Coleta das amostras:
Uma vez definidos os talhões, procede-se a coleta das amostras. Cada ponto coletado
significa uma amostra simples. Como forma de melhor representar aquele talhão, se
recomenda fazer coleta de várias amostras simples que, após devidamente misturadas,
irão constituir uma amostra composta. Essa amostra composta é que será levada para
análise em laboratório.
O número de amostras simples que comporão a amostra composta depende do tamanho
do talhão e da uniformidade desse talhão, lembrando que, quanto maior o número de
amostras simples maior a possibilidade de estarmos representando melhor aquele talhão
e, conseqüentemente, a gleba como um todo.
Também é importante observar a distribuição espacial e o volume das amostras simples
a serem coletadas. É indicado se fazer o caminhamento em zig-zag pelo talhão e o
volume coletado de cada amostra simples deve ser semelhante.
A amostragem do solo pode ser feita em qualquer época do ano, todavia recomenda-se
que essa seja feita quando o solo estiver com umidade suficiente para conferir-lhe
friabilidade (capacidade de ser desmanchada), o que facilita a coleta.
Instrumentos de coleta:
Existem vários instrumentos que podem ser utilizados para coleta de amostras de solo.
Dentre esses, os mais comuns são trados tipo caneca, tipo holandês e tipo sonda. Esses
instrumentos podem ser encontrados a venda em casa de produtos do ramo. Todavia,
com auxílio de uma enxada, enxadão ou pá de corte e de uma faca ou facão pode-se
obter amostra perfeita de solo.
Com a pá, enxada ou enxadão, abre-se um buraco com uma das paredes mais na vertical
possível e na profundidade desejada; na parede vertical corta-se uma fatia longitudinal
de cerca de 3 a 5 cm de espessura; com essa fatia de solo aderida ao enxadão ou à pá,
87
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 8.1. Instrumentos que podem ser utilizados para a coleta de amostras de solo
para análises laboratoriais. Da esquerda para a direita: enxada, enxadão, pá reta, trado
tipo caneca, facão, trado holandês, trado tipo sonda, marreta, balde para coleta e
homogeneização das amostras simples e sacos plásticos (dentro do balde) para
acondicionar as amostras compostas. Foto: Mario Puiatti
Profundidade da amostra:
Para a maioria das culturas olerícolas as amostras simples são coletadas na camada de
solo de 0 a 20 cm de profundidade. Opta-se por essa profundidade em razão do maior
volume do sistema radicular das hortaliças se encontrarem nos 20 cm superficiais de
solo.
Processamento da amostra:
As amostras simples são reunidas em recipiente limpo, preferencialmente de plástico
(balde), para evitar contaminação com metais. As amostras simples devem ser
destorroadas e misturadas (homogeneizadas) para obter amostra composta com cerca de
250 cm3. Não se recomenda peneirar a amostra de solo, mas apenas destorroar.
88
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
A amostra composta, após secar a sombra, deverá ser acondicionada em saco plástico,
ser devidamente identificada indicando a gleba de solo e enviada ao laboratório de
análises de solo.
Figura 8.2. Esquema de perfil de um solo mostrando os horizontes. Note que a camada
superior, correspondentes aos horizontes O, A e B tem coloração mais escura
evidenciando maior fertilidade (presença de matéria orgânica). Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Solo#Perfil_e_horizontes
Os laboratórios têm uma ficha que deverá ser preenchida informando detalhes da área,
cultivos anteriores e cultivo a ser realizado. Essas informações ajudam os técnicos a
entenderem os resultados da análise e servem de base para sugestão de possíveis
adubações a serem realizadas.
Freqüência da amostragem:
A freqüência de amostragem do solo dependerá da intensidade de utilização (cultivos)
desse solo. O ideal seria realizar a amostragem e análise antes de todo cultivo. Todavia,
por razões práticas e de custo, no cultivo de hortaliças se recomenda fazê-la pelo menos
uma vez ao ano.
Apresentação dos resultados da análise de solo:
Na página seguinte são apresentados os resultados das análises químicas e física de
amostras de solo da hipotética “gleba da grota” do “Sítio Jacatupé”. Esse modelo é
utilizado como padrão pelos laboratórios de análise de solos do Estado de Minas Gerais.
Outros Estados usam modelo semelhante. Nessa análise deve conter características
identificadoras do Laboratório, da propriedade e da gleba cuja amostra composta está
representando, os resultados encontrados da análise e a assinatura do engenheiro
agrônomo responsável.
89
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
P-
SB CTC(t) CTC(T) V m ISNa MO Zn Fe Mn Cu B S
rem
cmolc/dm3 % dag/kg mg/L mg/dm3
9,67 9,67 12,97 75 0 0,36 3,7 37,8 18,7 56,0 54,2 2,0 0,3
pH em água, KCl e CaCl - Relação 1:2,5 CTC (t) - Capacidade de Troca Catiônica
Efetiva
P - Na - K - Fe - Zn -Mn - Cu - CTC (T) - Capacidade de Troca Catiônica a
ExtratorMehlich 1 pH 7,0
Ca -Mg -Al - Extrator: KCl - 1mol/L V= Índice de Saturacão de Bases
H + Al - ExtratorAcetato de Cálcio m= Índice de Saturação de Aluminio
0,5mol/L - pH 7,0
B - Extrator água quente ISNa - Índice de Saturação de Sódio
S - Extrator - Fosfato monocálcico emácido Mat. Org. (MO) - Oxidação: Na2Cr2O7 4N
acético + H2SO4 10N
SB = Soma de Bases Trocáveis P-rem= Fósforo Remanescente
------------------------------------------------
Ciclano de Tal
Engenheiro Agrônomo
90
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Atenção!
Esses valores de referência para os níveis de acidez e de nutrientes (baixo, bom, alto
etc.) são disponibilizados na literatura pertinente. Sugere-se buscar essa informação em
Ribeiro et al. (1999).
Cálculo da calagem:
Vamos exemplificar como se fossemos cultivar meloeiro, utilizando os métodos
empregados em Minas Gerais, conforme Ribeiro et al. (1999). Em Minas Gerais são
usados dois métodos para cálculo da necessidade de calagem: a) “Método da
neutralização da acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e de Mg trocáveis” e b)
“Método da Saturação por Bases”.
91
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
92
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Como os cálculos por esse método indicam necessidade de calagem, e em razão das
exigências do meloeiro quanto ao pH de solo e saturação por bases, devemos optar por
esse método e procedermos a correção do solo.
PRNT
É um sigla que significa Poder Relativo de Neutralização Total. O PRNT é calculado
para os materiais calcários em comparação ao poder de neutralização do carbonato de
cálcio puro (CaCO3), considerando o poder de neutralização do CaCO3 igual a 100. A
maioria dos calcários apresenta PRNT variando de 80 a 95%.
Portanto, se encontrarmos um calcário no comércio com PRNT igual a 85%, teria que
aplicar 0,77 t/ha desse calcário (0,6485 x 100/85) e incorporar.
A incorporação deve ser a profundidade de 20 cm, pois esses cálculos são programados
para a quantidade de calcário a ser aplicada para correção do solo à profundidade de 20
cm, que é suficiente para as hortaliças (Veja coleta de amostra de solo).
93
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 8.3. A aplicação de calcário (calagem) pode ser feita de maneira manual em
pequenas propriedades (foto a esquerda), ou por máquinas (foto a direita) na agricultura
empresarial.
Fonte: http://www.itesp.sp.gov.br/br/info/noticias/ntc_300.aspx ( a esquerda);
Fonte:http://www.editoravalete.com.br/site_alcoolbras/edicoes/ed_87/ed_87_b.html (a
direita).
Cálculo da adubação:
O cálculo da adubação (quantidade de adubos a serem aplicados) deve ser realizado
com base na análise de solo (o que o solo tem a oferecer) e nas exigências da cultura a
ser explorada.
Lixiviação
Lixiviação significa a remoção de materiais em solução (nutrientes e/ou minerais) pela
passagem da água através do solo no movimento para baixo (percolação) levando-os
além da zona de desenvolvimento das raízes, podendo alcançar o lençol freático.
No caso dos nutrientes, preocupação especial tem sido dedicada ao elemento N, o qual
lixivia facilmente podendo contaminar mananciais de água, sobretudo, as águas
subterrâneas. Portanto, além do gasto desnecessário com adubos levando a prejuízos de
ordem econômica, podemos causar danos ao ambiente, caso a aplicação seja realizada
de forma inadequada.
94
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Realizados os cálculos do que e quanto aplicar, vamos definir quando aplicar esses
adubos.
Na adubação de plantio, cerca de 10 dias antes do transplante das mudas, vamos aplicar:
as 30 t de esterco; os 120 kg de P2O5; os 80 kg de sulfato de magnésio; 10 kg de K2O
(10% da dose total) e 20 kg de N (20% da dose total). Esses adubos deverão ser muito
bem misturados ao solo e, caso não chova, fazer irrigação para promover a reação com
o solo.
O restante do K (90%) e do N (80%) será aplicado em cobertura, em aplicações
semanais, iniciando 15 dias após o transplante das mudas. O K será parcelado em seis
vezes, colocando 10, 10, 10, 15, 15 e 30% da dose, respectivamente, em cada aplicação;
o N será parcelado em cinco vezes, colocando 15, 15, 20, 20 e 10% da dose,
respectivamente.
Não devemos nos esquecer de fazer irrigação após cada aplicação das parcelas dos
fertilizantes em cobertura para promover a dissolução dos adubos e infiltração dos
nutrientes no solo até a zona em que se encontra o sistema radicular das plantas.
Atenção!
Uma forma muito prática de se fazer as aplicações de adubos solúveis, como é o caso
das fontes de N e K, é fazê-la via fertirrigação. Em meloeiro, bem como em outras
hortaliças cultivadas em casa de vegetação, como tomateiro e pimentão, essa tem sido
uma prática bastante usada aproveitando-se do sistema de irrigação por gotejamento.
Nesse caso, as aplicações são realizadas diariamente procedendo-se, logicamente, a
diluição da dose de cobertura pelo número de aplicações a serem realizadas.
95
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Fertirrigação
Consiste na aplicação de fertilizantes (aqueles mais solúveis em água) juntamente com a
água de irrigação.
Mesmo com todos esses cuidados, temos que permanecer atentos observando
diariamente o estado nutricional das plantas e, caso necessário, temos que recorrer à
aplicação de fertilizantes via foliar (pulverização nas folhas). A eficiência da nutrição
via foliar é baixa e somente é usada para alguns nutrientes na tentativa de minimizar os
problemas nutricionais gerados por adubação deficitária via sistema radicular.
96
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
As plantas (hortaliças) necessitam de nutrientes para crescer, desenvolver e produzir. O
solo nem sempre apresenta os nutrientes em quantidade necessária para as plantas. Para
sabermos o quanto de nutrientes o solo tem para fornecer para as plantas necessitamos
realizar as análises química e física de amostras de solo. Podemos utilizar vários
instrumentos para proceder a coleta de amostras de solo. O importante que a amostra
seja representativa da gleba ou área que queremos cultivar. Com base na análise de solo
e em informações disponíveis na literatura específica sobre a necessidade em pH e de
nutrientes para cada hortaliça, procedemos a correção ou calagem do solo (aplicação de
calcário) e às adubações de fundação (plantio) e de cobertura e, em alguns casos,
fertilização via foliar.
Resumo:
•A amostragem correta de solo para análises da composição química e física é um dos
primeiros passos a serem tomados quando pretendemos cultivar hortaliças;
•Existem instrumentos específicos para serem utilizados para coleta de amostras de
solo, que são os trados tipo caneca, tipo holandês e tipo sonda. Todavia, com auxílio de
uma enxada, enxadão ou pá de corte e de uma faca ou facão pode-se obter amostra
perfeita de solo;
•A amostragem do solo deve ser muito criteriosa, pois essa amostra deverá representar
de forma fiel as características químicas e físicas daquele talhão e servirá como base
para cálculos das quantidades de calcário e de fertilizantes a serem aplicados para as
culturas;
•Existem metodologias para se calcular a necessidade ou não da calagem e a quantidade
de calcário a ser aplicada para a correção do solo;
•A correção do solo deve ser feita com antecedência para permitir às plantas a
disponibilidade de nutrientes e o crescimento do sistema radicular;
•Com base na análise do que o solo apresenta em termos de nutrientes necessários ao
crescimento e desenvolvimento das hortaliças e em informações na literatura
especializada sobre a necessidade que essas espécies têm em relação a esses nutrientes,
procedemos os cálculos da quantidade e forma de aplicação dos nutrientes deficitários;
•Com base no crescimento da cultura e nas características dos adubos, a aplicação dos
fertilizantes é feita no plantio (fundação) e/ou em cobertura;
•Os fertilizantes devem ser aplicados na quantidade e época corretas para evitarmos
danos ao ambiente além de gastos desnecessários.
97
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Referências bibliográficas
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
http://www.cnph.embrapa.br/paginas/sistemas_producao/cultivo_da_cebola/preparo_do
_solo.htm >Acesso em: 04 julho. 2010.
98
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 9
Denomina-se de tratos culturais todas as atividades que são realizadas durante o cultivo
das hortaliças. Essas também são denominadas de manejo cultural.
São vários, os tratos culturais; a quantidade e o tipo de trato cultural variam com a
espécie de hortaliça, tipo de propagação, nível de tecnologia empregado e sistema de
implantação e de condução adotados nos cultivos.
Tratos Culturais:
1) Semeadura:
A semeadura consiste no ato de se semear, ou seja, de se depositar a semente no solo ou
substrato apropriado para dar início ao processo de germinação da semente, originando
a plântula e a muda que resultará na futura planta. Portanto, semeadura somente é
empregada para espécies de propagação seminífera (veja cap. 6 e 7).
A semeadura não deve ser muito profunda. Existe uma regra geral de que a
profundidade deve ser, no máximo, o dobro do maior diâmetro da semente.
Plântula
Denominamos de plântula aos estádios iniciais do desenvolvimento de um vegetal
originado da semente. Corresponde, normalmente, ao estádio de folhas cotiledonares.
Em inglês, o termo correspondente é “seedling”.
Muda
Corresponde ao estádio do desenvolvimento de um vegetal apropriado para ser
transplantado para o local de cultivo definitivo. No caso de obtido via semente, este é
determinado pelo tamanho (altura, diâmetro do caule, número de folhas) que reflete em
termos de quantidade de massa de matéria seca que essa muda apresenta permitindo a
continuidade do seu crescimento e desenvolvimento após transplantada para o local de
cultivo. A muda pode ser obtida em sementeira, viveiro ou recipientes (veja cap. 7).
99
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
1) Repicagem:
Denomina-se de repicagem a transplantação intermediária, ainda no estádio de plântula,
de um local onde a semente havia sido semeada (sementeira), para outro local que não
seja o local de cultivo definitivo (viveiro). É uma transplantação não definitiva e que
tem como objetivo obter muda mais vigorosa.
A repicagem é empregada no sistema de semeadura com transplantação indireta, e
somente para aquelas espécies olerícolas que são beneficiadas por esse transplante
precoce. Dúvidas? Dê uma relembrada nos capítulos 6 e 7!.
100
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
3) Endurecimento ou aclimatação:
Prática cultural que consiste em se expor as plantas, na fase de produção de mudas, à
condições estressantes em termos de temperatura, água e nutrientes (veja cap. 5). O
objetivo da aclimatação é de promover acúmulo de matéria seca nas mudas de forma
que as mesmas venham a tolerar mais as condições adversas que irão enfrentar quando
transplantadas para o campo de cultivo definitivo. O endurecimento é prática comum na
produção de mudas nas etapas que antecedem a transplantação das mudas para o local
de cultivo.
101
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
4) Escarificação:
As irrigações e/ou chuvas, promovem a desagregação das partículas de solo formando
uma “crosta” impermeável aos gases e à água na camada superficial do solo, dificultado
a emergência das plântulas. À operação de quebra dessa crosta denominamos de
escarificação do solo. Essa operação é importante por permitir a troca dos gases
presentes dentro do solo, perto das raízes, com os gases da atmosfera. Além disso, é
importante por permitir a penetração da água no solo.
Figura 9.4. A esquerda crosta formada na superfície do solo devido à ação da água de
irrigação com detalhe da plântula de cenoura emergindo na rachadura; centro: solo
sendo escarificado com detalhe do escarificador (a esquerda). Fotos: Mário Puiatti
5) Enxertia:
A enxertia é uma técnica que tem sido utilizada em hortaliças das famílias solanácea
(tomate, principalmente) e cucurbitáceas (pepino, principalmente).
O objetivo da enxertia é de associar alguma característica importante do sistema
radicular da planta que servirá de cavalo (porta enxerto) com características desejáveis
do cavaleiro (enxerto). Em hortaliças a enxertia tem sido usada para contornar
problemas de doenças de solo e/ou de tolerância à baixa temperatura de solo com cavalo
que confere essas características.
Em pepino a escolha do porta-enxerto é importante pois esse irá determinar o maior ou
menor brilho dos frutos produzidos. Frutos com mais brilho tem maior aceitação. O
brilho está relacionado com cerosidade na epiderme dos frutos (maior grau de
cerosidade proporciona menor brilho).
Quer saber mais sobre enxertia? Consulte:
http://www.sakata.com.br/index.php?action=catalogo&local=br&cultura=4&language=
pt ; http://www.sementesfeltrin.com.br/produtos.php?id=66;
http://www.takii.com.br/portaenxerto2010.html
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782003000600028
102
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cucumis_melo_grafted_ontocucurbita_ficifolia_root.jpeg.
Domínio Público
6) Tutoramento:
As hortaliças, por definição, são plantas herbáceas. Além disso, são suscetíveis à
fitopatógenos, principalmente a parte aérea. Isso implica em cultivá-las sem o contato
direto da parte aérea com o solo, que é onde se encontram muitos micro-organismos
fitopatogênicos. Para isso utilizam-se suportes (tutores), que podem ser bambu ou fios
de naylon, para conduzi-las com a parte aérea sem contato com o solo. Essa técnica é
chamada de tutoramento. Portanto, o tutoramento tem como objetivo evitar o contato
direto da parte aérea com o solo, reduzindo a incidência de doenças e facilitando o
controle de patógenos e de insetos pragas, prolongando a vida útil da planta (ciclo
cultural) e proporcionando frutos com melhor aspecto e qualidade.
Fitopatógenos
São micro-organismos que utilizam os vegetais como hospedeiros (fornecedores de
alimento), causando-lhes doenças. Dentre os fitopatógenos temos bactérias, fungos,
vírus e nematóides. Alguns são bastante específicos, ou seja, tem apenas determinada
espécie ou espécies de uma família botânica como hospedeira; outros são menos
específicos e podem causar danos em várias espécies vegetais.
103
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 9.5. Da esquerda para a direita, acima: tutoramento tipo cerca cruzada com
bambu em tomate de mesa e em ervilha e tutoramento na vertical com bambu em
tomate de mesa. Abaixo: tutoramento com fitilho na vertical em pepino e na horizontal
em pimentão e, com bambu na vertical em pimentão. Foto: Mario Puiatti
104
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
8) Amarrio ou amarração:
As hortaliças cujo caule não suporta o peso da parte aérea da planta, e nas quais se faz
uso do tutoramento, necessitam de terem sua(s) haste(s) presa(s) a esse suporte (tutor)
durante o cultivo. À operação de fixação dessa(s) haste(s) ao tutor denomina-se de
amarrio ou amarração. Esse amarrio tem por objetivo impedir que a parte aérea da
planta entre em contato com o solo. É uma prática associada ao tutoramento e que deve
ser realizada à medida que a planta vai crescendo, ou seja, não é uma única operação
como ocorre com o tutoramento. Amarrio é prática exigida nas culturas do tomateiro de
mesa, pimentão e melão e pepino tutorados.
9) Amontoa:
Amontoa consiste em se chegar solo à base das plantas. É uma prática imprescindível
no cultivo da batata como forma de proteger os tubérculos da incidência da luz. A
incidência de luz sobre os tubérculos leva a síntese de clorofila (esverdeamento) e de
um alcalóide tóxico aos humanos que é a solanina. Além de proteger os tubérculos da
luz, a amontoa favorece o crescimento dos tubérculos por proporcionar condições
físicas de solo mais favoráveis; além disso, tem também a função de incorporar os
adubos aplicados em cobertura do solo (adubos nitrogenados e potássicos).
Em outras culturas olerícolas, podem-se fazer leves amontoas como forma de incorporar
adubos aplicados durante o crescimento (adubação de cobertura). Todavia, em batateira
amontoa é realizada apenas uma vez, por volta de 30 dias após a emergência das hastes,
correspondendo ao início da emissão dos tubérculos.
105
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 9.6. A esquerda, planta de tomate de mesa tutorada com bambu indicando o amarrio da
planta ao tutor (seta acima do laço com fita branca de nylon em formato de oito deitado) e
cicatriz na axila foliar (seta de baixo) devida a desbrota (retirada de brotação lateral). A direita,
poda apical ou capação (seta) em meloeiro cultivado em casa de vegetação. Foto: Mário Puiatti
Esverdeamento
Tubérculo é caule modificado e, assim como todo caule, se exposto à luz, pode
sintetizar clorofila. O problema maior em tubérculos de batata não seria a clorofila em
si, mas a síntese do alcalóide solanina que ocorre concomitantemente com a síntese de
clorofila.
Figura 9.7. Máquina “frezadora”, tracionada por trator, realizando a amontoa em batateira; ao
lado, detalhe de tubérculo de batata com esverdeamento devido exposição à luz a solar. Foto:
Mário Puiatti
106
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
pepino. Mesmo naquelas em que há presença de flores com os dois sexos (flores
hermafroditas) como em melões e tomate, é importante a presença de agentes
polinizadores para promover a deiscência dos grãos de pólen sobre o estigma e
promover a polinização.
Dentre os agentes polinizadores, as abelhas melíferas são as mais eficientes. Em razão
da atividade dessas ocorrer principalmente na parte da manhã, devemos evitar fazer o
uso de irrigações por aspersão e/ou pulverizações fitossanitárias na parte da manhã,
além de utilizar inseticidas menos danosos a elas.
Em espécies como abóbora híbrida tipo tetsukabuto, e em tomate e em melão cultivados
em casa de vegetação, devido a baixa atividade de abelhas, pode-se promover a
polinização manual. Na abóbora híbrida tipo tetsukabuto, a polinização natural (abelhas)
ou manual pode ser substituída pela aplicação, nas flores femininas, de fitohormônio
sintético (substância reguladora de crescimento); esse tipo de polinização denomina-se
de frutificação hormonal ou frutificação induzida.
Quer saber mais sobre frutificação induzida? Consulte:
http://www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/versaomodelo/html/1999/cot/cot_12.
shtml
Figura 8. Da esquerda para a direita: acima flores unissexuais masculina (esquerda) e feminina
(direita) em melancia e flor de pepino sendo polinizada por abelha melífera. Abaixo, flor
feminina de abóbora tipo tetsukabuto na antese (abertura floral) apta para ser polinizada ou
receber a aplicação de fitohormônio sintético; a direita o fruto em desenvolvimento após 15 dias
da aplicação do fitohormônio na antese. Foto: Mário Puiatti
107
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Partenocarpia
Algumas cultivares de pepino apresenta somente flores femininas e a frutificação pode
ocorrer na ausência de polinização e da fertilização (fecundação). Esse desenvolvimento
do ovário na ausência de polinização e de fertilização dos óvulos denomina-se de
partenocarpia.
11) Penteamento:
Hortaliças que tem caule rastejante, como as cucurbitáceas, quando cultivadas sem
tutoramento podem crescer desordenadamente dificultando tratos culturais que
envolvem o caminhamento dentro a cultura, como nas pulverizações. À operação de
movimentação das ramas dessas plantas promovendo o direcionamento de crescimento
e liberando áreas de trânsito na cultura ou liberando sulcos de irrigação, denomina-se de
penteamento.
108
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
109
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 9.11. Irrigação por microaspersão em alface (esquerda) e por pivô central em
alho no cerrado (direita). Foto esquerda: Mário Puiatti; Foto a direita: Marco Antônio
Lucini
110
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 9.12. Irrigação por gotejamento em meloeiro (a esquerda) com detalhe da gota
d’água a direita. Foto: Mário Puiatti
111
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 9.13. Infestação por plantas daninhas nas entre linhas das culturas de couve de folha
(esquerda) e da batateira (direita). Foto: Mário Puiatti
15) Mulching
O uso de “mulching” (cobertura de solo) com produto natural (palha de feijão, bagaço
de cana, palhas ou capim seco) ou com plástico preto, tem sido uma prática cultural
muita utilizada em cultivos com hortaliças, sobretudo no sistema de agricultura familiar
e/ou agricultura orgânica. O mulching tem como função evitar o contato da parte aérea
diretamente com o solo o que reduz doenças; além disso, mantem a umidade do solo
mais uniforme, reduzindo a perda de água para a atmosfera por evaporação, reduzindo
os gastos com irrigação. Também exerce controle sobre a emergência de muitas plantas
daninhas, o que reduz gastos com mão de obra nas capinas ou com produtos químicos
(herbicidas) para o controle dessas. Quer saber mais? Consulte:
http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2008/cot_63.pdf
112
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
113
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
Na atividade de exploração de hortaliças utiliza-se mão de obra de maneira intensa, o
lhe dá um caráter social importante. A razão principal para isto é a necessidade de se
proceder, durante todas as etapas do cultivo, vários tratos culturais realizados
manualmente. Isso ocorre devido às características das plantas olerícolas, tais como alta
densidade populacional, hábito de crescimento e sistemas de condução diferenciado das
plantas, que dificultam ou impedem a utilização de máquinas. A quantidade, a época e o
tipo de trato cultural variam com a espécie de hortaliça, tipo de propagação, nível de
tecnologia empregado e sistema de implantação e de condução adotados nos cultivos.
Resumo:
•Tratos culturais, também denominado de manejo cultural, são todas as atividades que
são realizadas durante o cultivo das hortaliças;
•Os principais tratos culturais realizados no cultivo de hortaliças são: semeadura,
repicagem, transplante, desbaste de plântulas, endurecimento ou aclimatação de mudas,
escarificação, enxertia, tutoramento, podas (desbrotas, capação e desbaste de frutos),
amarrio, amontoa, polinização, penteamento, giro de frutos, manejo da irrigação,
controle de plantas daninhas, mulching e práticas fitossanitárias;
•A quantidade, a época e o tipo de trato cultural variam com a espécie de hortaliça, tipo
de propagação, nível de tecnologia empregado e sistema de implantação e de condução
adotados nos cultivos;
•A maioria dos tratos culturais realizados no cultivo de hortaliças é manual em razão da
dificuldade de se usar mecanização dada às particularidades de cada espécie olerícola;
Referências bibliográficas
FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na
produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV. 421 p.
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
GOTO R; SANTOS RHS; CAÑIZARES KAL. (Orgs.). 2003. Enxertia em hortaliças.
Botucatu: Fundação Editora da UNESP. 86p.
Site recomendado
ABH Informa. http://www.abhorticultura.com.br/ >Acesso em 02 nov. 2009.
CNPH. Serviços. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/ >Acesso em: 02 nov.
2009.
114
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
CAPÍTULO 10
Nos capítulos anteriores falou-se sobre aspectos relacionados ao cultivo das hortaliças
até chegar à colheita. Nesse capítulo vamos abordar um tema muito importante que é a
colheita, a classificação, conservação pós-colheita e comercialização das hortaliças, pois
não basta apenas produzir, mas temos que conservar ao máximo possível a qualidade
das hortaliças depois de colhidas, para podermos fornecer uma hortaliça de excelente
qualidade.
1-PONTO DE COLHEITA:
Como visto nos capítulos anteriores, existe grande número de espécies olerícolas
exploradas comercialmente no Brasil. Cada espécie tem a sua peculiaridade no tocante
ao cultivo e a forma de ser consumida. Portanto, a espécie de hortaliça e forma como
será utilizada no consumo irão definir o ponto de colheita da estrutura ou órgão
vegetal.
Ponto de colheita
Corresponde ao estádio de desenvolvimento da estrutura ou órgão vegetal mais indicado
para a colheita.
115
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
116
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
117
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Fruto imaturo
Significa que o fruto ainda está em fase de crescimento e de desenvolvimento, ou seja,
se deixado na planta ele ainda passará por várias transformações aumentado peso e
sofrendo alterações na sua composição. Nessas ocorrem alterações na resistência dos
tecidos, alterações no sabor no metabolismo de carboidratos culminando, na maioria dos
frutos, com alterações visuais na coloração externa e interna.
Sementes de frutos imaturos ainda não estariam fisiologicamente maduras, ou seja, não
estariam viáveis para serem utilizadas na propagação da espécie.
“Estouro da cabeça”
Em repolho, na fase de fechamento da cabeça, as folhas vão se superpondo uma sobre
as outras. A força exercida de dentro para fora da cabeça pelas novas folhas em
formação é tão forte que promove a cisão das folhas surgindo uma rachadura. A esse
fenômeno denomina-se de “estouro da cabeça”.
Mancha de encosto: refere-se à coloração, inicialmente esbranquiçada (daí também
chamada de “barriga branca”, da porção dos frutos que ficam em contato com o solo.
Essa coloração esbranquiçada é devida a ausência de formação do pigmento clorofila
que não é sintetizado na ausência de luz. Com a passagem do fruto para a fase final de
maturação, normalmente é expressa nessa porção, uma coloração amarelado-alaranjada
devida aos pigmentos carotenóides.
118
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
“Cor de cana”: diz-se que os frutos de tomate estão cor de cana quando iniciam a
mudança de coloração de verde para amarelada, cor essa característica de colmos de
cana-de-açúcar quando maduros.
Planta estalada
Para cebola utiliza-se o termo “estalada” para indicar aquelas plantas em que a parte
aérea tombou sobre o solo. Não se utiliza o termo tombamento em razão do termo
tombamento ser utilizado para designar a morte de plântulas que ocorre em muitas
hortaliças causada por fungos de solo (normalmente Pythium sp.) que, ao danificar a
região do coleto das plântulas, causa o tombamento dessa.
O estalo se deve ao processo de secamento natural (senescência) da porção do
pseudocaule, que é formado pelas bainhas foliares, com grande parte das folhas (limbo
foliar) ainda verdes. Assim, o pseudocaule não suporta o peso das folhas e a parte aérea
da planta tomba sobre o solo.
119
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
2.1-Classificação
A Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000, institui a classificação de produtos vegetais,
seus subprodutos e resíduos de valor econômico e dá outras providências (veja no site
http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1351
Essa Lei é regulamentada pelo DECRETO Nº 6268, DE 22 DE NOVEMBRO DE
2007 (veja no site http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=18238).
De acordo com Art. 3º da Lei acima, entende-se por classificação o ato de determinar as
qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto vegetal, com base em padrões
oficiais, físicos ou descritos. Em seu Parágrafo único, desse Art., diz que “Os padrões
oficiais de produtos vegetais, seus subprodutos e resíduos de valor econômico serão
estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento”.
Esses “padrões oficiais” estão estabelecidos na Portaria Nº 381, DE 28 DE MAIO DE
2009, cuja ementa é a seguinte: “Estabelece os critérios e os procedimentos técnicos
para a elaboração, aplicação, monitoramento e revisão do padrão oficial de classificação
120
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Em seu Anexo diz que os produtos vegetais serão classificados em Grupos, Classes ou
Calibres e respectivas subdivisões, Tipos ou Categorias, conforme o caso, observadas as
peculiaridades de cada produto vegetal. Para cada hortaliça, existe Portaria, que
disciplina a classificação. Assim, tomando como exemplo o tomate de mesa, a Portaria
Nº 85, DE 06 DE MARÇO DE 2002, estabelece Regulamentos Técnicos de Identidade
e Qualidade para a Classificação (Veja http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-
consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=6736). Resumidamente
vamos apresentar os principais pontos dessa Portaria:
O tomate será classificado em grupos, subgrupos, classes ou calibres e tipos ou graus de
seleção ou categorias.
GRUPOS: refere-se ao formato do fruto, OBLONGO ou REDONDO.
SUBGRUPOS: refere-se à coloração do fruto, em função do seu estágio de maturação.
CLASSES OU CALIBRES: de acordo com o maior diâmetro transversal do fruto.
TIPOS OU GRAUS DE SELEÇÃO OU CATEGORIAS:
Referem-se aos defeitos, expressos em porcentagem (%), permitidos em uma
embalagem.
2.2-Embalagens
Entende-se por embalagem o recipiente em que as hortaliças são acondicionadas.
Tomando o tomate como exemplo, temos que esses deverá ser acondicionado em
embalagens novas, limpas, secas e que não transmitam odor ou sabor estranho ao
produto. A capacidade, em peso líquido de produto, deve ser de até 22 kg (vinte e dois
quilogramas).
2.3-Marcação ou Rotulagem
As especificações de qualidade do produto, contidas na marcação ou rotulagem, no
nível de atacado, deve trazer, no mínimo, as seguintes indicações: Identificação do lote;
Grupo; Subgrupo; Classe ou calibre; Tipo ou grau de seleção ou categoria; Safra de
produção; Identificação do responsável pelo produto (nome ou razão social e endereço
completo); Peso líquido; Órgão responsável pela fiscalização da classificação (MAPA).
Notem que a Legislação é bastante detalhada e, às vezes, até difícil de ser colocada em
prática devido às variações que os produtos olerícolas podem apresentar de um cultivo
para o outro. Diferentemente de uma linha de produção de uma indústria, os produtos
vegetais são de natureza biológica que tem grande interação com o ambiente de cultivo.
121
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
As embalagens tem sido motivo de muita polêmica devido muitas delas não atender a
principal função que é de proteção dos produtos. Muitos estudos estão sendo realizados
para definição de tamanho, forma e material das embalagens destinadas às hortaliças.
Todavia não tem sido fácil encontrar um tipo de embalagem que contemple aspectos de
proteção e higiene dos produtos, aspecto ambiental e custo das embalagens com a
aceitabilidade por parte dos produtores, transportadores e comerciantes.
122
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
123
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
De modo geral as hortaliças herbáceas, são mais perecíveis que as hortaliças fruto e
essas mais que as hortaliças tuberosas. Todavia isso dependerá de cada estrutura e do
estádio de desenvolvimento de quando for colhida.
Injúria mecânica:
São resultados de abrasões, cortes e impactos que danificam a organização das
superfícies e rompem a integridade dos tecidos permitindo perda de água e o
extravasamento (saída) de solutos levando, respectivamente, a murcha e criando
condições propícias para o crescimento de fungos causadores de deterioração.
As hortaliças sofrem injúria mecânica desde a colheita até chegar a mesa do
consumidor. Manejo, embalagens e transporte inadequados, são responsáveis pelas
injúrias mecânicas sofridas pelas hortaliças.
Perda de água
A perda de água, levando ao murchamento, é um grande problema na perda de
qualidade pós-colheita das hortaliças. Em hortaliças herbáceas como a alface, brócolis,
salsa e cebolinha, o limite máximo aceitável é de 4% de perda em peso de matéria
124
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Com relação a de perda em peso de matéria fresca das hortaliças, podemos fazer a
seguinte abordagem relativa aos órgãos de interesse comercial:
Folhas: Tem poucas reservas de carboidratos; tem elevada superfície específica; alta
taxa respiratória; alta suscetibilidade a danos mecânicos e infecção por micro-
organismos.
Hastes: Comparado às folhas tendem a ter mais reservas de carboidratos, menor relação
superfície/volume e, embora com maior taxa respiratória, tem maior potencial de
armazenamento que as folhas.
Flores e inflorescências: Pouca reserva de carboidratos; alta taxa respiratória e relação
superfície/volume. Produtos altamente perecíveis.
Frutos: apresentam grande variação morfológica. Também variam quanto ao padrão
respiratório (climatéricos e não climatéricos). Tem taxa respiratória relativamente alta,
baixa relação superfície volume e grau variado de ponto de consumo.
Frutos climatéricos e não climatéricos
Frutos climatéricos tem como característica um pico de liberação de CO2, seguido de
um pico de liberação de etileno, comportamento esse que não é observado em frutos não
climatéricos.
Normalmente, em razão dessa liberação de etileno, os frutos climatéricos, uma vez
alcançado a maturação fisiológica (ponto no qual as sementes são viáveis), continuam o
processo de amadurecimento mesmo após retirados da planta. Como isso não acontece
com frutos não climatéricos, esses devem ser colhidos no seu ponto de consumo. Dentre
as hortaliças fruto, considera-se como climatéricos apenas o tomate e os melões do
grupo cantaloupe.
125
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
126
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Figura 10.7. Melão produzido por empresa privada em Mossoró, RN. Da esquerda para a
direita; no alto tanque com água para a recepção dos frutos e máquina de higienização. Centro,
saída dos frutos da máquina, classificação, embalagem e identificação dos frutos. Abaixo,
paletização das caixas e armazenamento em câmara fria de melão destinado a exportação com
detalhe da temperatura de armazenamento para cada tipo de melão. Foto: Mário Puiatti.
127
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
Conclusão
As hortaliças constituem um número muito grande de espécies, das quais se utilizam
estruturas variadas, tais como folhas, hastes, inflorescência, frutos, raiz tuberosa, bulbo,
tubérculo etc. O ponto de colheita, ou estádio de desenvolvimento da hortaliça no qual a
estrutura ou órgão é colhido, é dependente da natureza dessa estrutura e da forma como
essa será consumida posteriormente. A maioria das hortaliças apresenta curto período de
conservação pós-colheita, sendo o manejo pós-colheita de fundamental importância para
tentar manter a qualidade dessa hortaliça por maior período possível.
Resumo:
•O ponto de colheita ou estádio de desenvolvimento da estrutura ou órgão da hortaliça
no qual é colhido é dependente da espécie de hortaliça e da forma de como será
utilizada no consumo;
•Visuais, físicos, químicos e matemáticos são métodos para se determinar o ponto de
colheita de hortaliças;
•Uma vez colhidas, as hortaliças devem ser padronizadas (classificadas) e
acondicionadas em embalagens de acordo normas estabelecidas pelo MAPA;
•As hortaliças são muito perecíveis. A perecibilidade varia com a estrutura e o estádio
de desenvolvimento dessas. De modo geral, as hortaliças herbáceas são mais perecíveis
e as tuberosas as menos perecíveis;
•A conservação pós-colheita está ligada a fatores intrínsecos (morfologia, constituição e
composição) e extrínsecos (manejo, injúria mecânica, injúria por frio etc.);
•O controle do ambiente, em termos de temperatura e de umidade relativa, é importante
em termos de prolongar a vida de prateleira das hortaliças, sendo que a cadeia do frio no
Brasil ainda é muito deficitária para utilização no armazenamento de hortaliças;
•Existem vários canais de comercialização de hortaliças. A escolha da forma a
comercializar depende, basicamente, da espécie de hortaliça, do volume produzido, tipo
de exploração e do destino da produção.
Referências bibliográficas
CHITARRA,MIF; CHITARRA AB. 2005. Pós-colheita de frutos e hortaliças:
fisiologia e manuseio. 2. ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA.
128
Olericultura: a arte de produzir hortaliças
FONTES PCR. (editor). 2009. Olericultura: teoria e prática. Visconde do Rio Branco:
Suprema Gráfica e Editora. 486 p.
Site recomendado
ABH Informa. http://www.abhorticultura.com.br/ >Acesso em 02 nov. 2009.
CEASAMINAS.http://www.ceasaminas.com.br/
CEASADF.http://www.ceasa-df.org.br/
CEASARJ.http://www.ceasa.rj.gov.br/
CEAGESP.http://www.ceagesp.gov.br/
Hortibrasil.http://www.hortibrasil.org.br/jnw/index.php?option=com_content&view=art
icle&id=138&Itemid=110
129