TRABALHO A Fotografia Aérea
TRABALHO A Fotografia Aérea
TRABALHO A Fotografia Aérea
CAPITULO 1
INTRODUÇÃO
Já tinham sido feitas experiências no campo da fotografia com processos ópticos e químicos
antes do sec. IXX, no entanto é a invenção de Louis Daguerre (com a ajuda de Nicéphore Niepce)
que em 1839 marcou o maior avanço no desenvolvimento da fotografia (negativo de Daguerre ou
“Daguerre type”).
Um novo estágio foi alcançado, quando em 1851 o negativo em vidro húmido se tornou sensível
à luz, o que reduziu o tempo de exposição para apenas 2 segundos, mas implicava e existência de
uma câmara escura portátil para uma revelação imediata do negativo.
A primeira fotografia aérea é atribuída a Gaspard Félix Tournachon, que em Outubro de 1858
utilizou um balão de ar quente para tirar uma fotografia à capital Francesa. Infelizmente estas fotos
não sobreviveram ao passar do tempo e actualmente a mais antiga fotografia ainda existente,
documenta Boston e data de 1860.
Em 1871 é atingida uma nova meta na história da fotografia com a invenção do negativo seco
por Richard Maddox, consistindo em placas de vidro revestidas por uma emulsão gelatinosa
composta por diferentes químicos. Estas placas fotográficas eram muito mais sensíveis à luz e
permitiam um tempo de exposição de menos de um segundo. Adicionalmente estas placas podiam
ser reveladas muito mais tarde, não sendo necessário ter presente uma câmara escura portátil.
Devido a estas duas razões a fotografia aérea podia agora começar a ser explorada em larga
escala. É a partir deste ponto que balões e dirigíveis são constantemente utilizados como
plataformas de câmaras de fotografia aérea.
É também atribuída a Wilbur Wright a primeira fotografia aérea tirada em avião em 1909,
fotografia essa tirada sobre Itália. A partir desse momento uma nova plataforma fotográfica aérea
seria explorada em todas as suas vertentes sendo então massivamente utilizada durante a primeira
guerra mundial.
A primeira fotografia aérea efectuada em Inglaterra com fins exclusivamente arqueológicos, foi
tirada a Stonehenge pelo Tenente P. H. Sharpe em 1906 utilizando um balão como plataforma
fotográfica, (Deuel 1969). Estas fotos revelam-se importantes porque mostram marcas nos campos
cultivados que culminaram na altura em novas descobertas arqueológicas.
No entanto noutras partes da Europa a fotografia aérea já tende a caminhar nesta direcção. Em
Itália muitos monumentos e sítios arqueológicos foram fotografados no período de 1899-1911 sobre
a direcção de Giacomo Boni.
A importância da fotografia aérea aplicada a este campo era na altura muito pouco relevante,
mas num dos importantes trabalhos sobre arqueologia aérea “Aerial Archaeology in Britain” (Riley
1996), Derrick Riley diz:
Poder-se-á dizer que o início da fotografia aérea arqueológica foi o resultado do ímpeto dado
à aviação em consequência da primeira guerra mundial e ao grande número de voos efectuados
durante este conflito. Independentemente do grande desenvolvimento do avião da câmara fotográfica
e das técnicas utilizadas nas películas no virar do sec. IXX.
Fig. 1-1: Exemplo de fotografia aérea para fins militares tirada sobre Oosttaveern Wood 1917
(Fonte: Flanders Fields Museum).
Noutros teatros de guerra algumas descobertas arqueológicas importantes foram feitas por
iniciativa dos Franceses, Britânicos e Alemães. Na época uma importante descoberta feita através da
fotografia aérea é atribuída ao alemão Carl Schuchhardt, com fotos das linhas Romanas de Dobrujda
(Roménia) em 1918.
Theodor Wiegand é de entre todos os pioneiros neste campo, bem conhecido pela criação do
“DEUTSCH-TURKISCHEN DENKMALSCHUTZKAMMANDO” (Departamento para a protecção
de monumentos). Este departamento, que na realidade era uma unidade que fazia parte do exército
Turco baseou todo o seu trabalho na fotografia aérea de sítios arqueológicos, situados
maioritariamente no deserto do Negev, fotografias essas, fornecidas pelo piloto e fotógrafo alemão,
Tenente Falke.
Não há grande dúvida que foi a segunda guerra mundial que providenciou o estímulo para o
desenvolvimento da fotografia aérea de observação. Durante os quatro anos de duração deste
conflito e devido as exigências da guerra, a aviação sofreu um desenvolvimento que se pode
classificar de vertiginoso, assim como as técnicas de reconhecimento aéreo que paralelamente
acompanharam este avanço consequente das necessidades do presente.
A recente história da fotografia aérea pode ser sumariamente referida como sendo a génese
entre a observação aérea militar, (“ver para lá da colina”), o nascimento da fotografia e a
invenção do avião.
Num curto período após a Segunda Grande Guerra, o método da fotografia aérea tornou-se
estável, e muitas iniciativas, principalmente no Reino Unido, foram iniciadas. Entre eles o mais
relevante é a observação aérea da Universidade de Cambridge levada a cabo por parte da Royal
Commission on the Historical Monuments of England.
È legitimo perguntar, porque nos devemos concentrar no uso da fotografia aérea para fins
arqueológicos? A resposta é simples. As imagens aéreas históricas contêm grande quantidade de
informação que pode ser aplicada em diferentes campos. Estas fotos são uma grande fonte de
informação para a prospecção arqueológica. Não sendo a maioria delas tiradas com fins destinados a
prospecção arqueológica, podemos no entanto detectar marcas no solo ou nas culturas que nos
podem guiar à descoberta de muitos novos sítios.
A maioria destas fotos foi tirada antes da grande expansão das vilas e das cidades e da
implementação da agricultura intensiva. Como resultado é possível fazer um levantamento de sítios
arqueológicos que consequentemente estarão actualmente completamente destruídos. Estas fotos são
também uma excelente fonte de informação para o estudo do desenvolvimento paisagístico, quer
urbano quer rural na Europa.
O uso de fotografias históricas que foram tiradas com fins militares dão-nos as mesmas
vantagens que as que referimos no assunto anterior. Mas se olharmos para as fotos aéreas da
Segunda Guerra Mundial, podemos encontrar literalmente centenas de milhares de fotografias em
diferentes colecções espalhadas pelo mundo inteiro e cuja qualidade é superior às restantes, devido
as avançadas técnicas utilizadas pelos militares.
Fig.2-1: Exemplo de fotografia aérea tirada durante a Segunda Guerra Mundial sobre Poperinge.
(Pode-se notar a grande diferença de qualidade em relação à fig. anterior.
Pela primeira vez na história da Europa uma batalha tinha sido travada a uma escala industrial.
Ao mesmo nível foram tiradas fotografias aéreas ao longo das várias linhas de frente, criando assim
uma quase completa cobertura de fotografia aérea. Estes factos permitem estudar estas paisagens em
grande pormenor.
Se observarmos algumas das fotos aéreas obliquas recentemente tiradas de alguns destes locais
de conflito podemos reconhecer os traços bem visíveis “marcas na agricultura” de sistemas de
trincheiras em Lichtervelde, Bélgica (Fig. 3-1) ou de uma trincheira nas dunas da costa Belga (Fig.4-
1).
A fotografia aérea tem sido em larga escala uma fonte inestimável de pesquisa não invasiva na
Europa durante quase um século. O grande número de fotografias tiradas durante e imediatamente
após o final da Segunda Guerra Mundial são só por si um valioso recurso e desde então, começaram
a aparecer os chamados “arqueólogos voadores” tripulando aeronave ligeira e até mesmo
helicópteros. Eles voavam à procura quer de novas ruínas quer de marcas na agricultura que os
levasse à descoberta de novos sítios arqueológicos.
As horas e as estações do ano em que se fazem este tipo de voos depende das
características daquilo que se pretende pesquisar. As marcas na agricultura (crop marks) que são
mais visíveis durante o crescimento das sementeiras. Estruturas arquitectónicas ainda de pé que
requerem fotos tiradas durante a hora do dia em que o sol se encontra com uma inclinação em
relação à linha do horizonte ao ponto de provocar sombra no terreno, consequente das pequenas
deformações do terreno.
CAPITULO – 2
IMAGENS VERTICAIS
Estas são frequentemente tiradas com uma máquina fotográfica fixa montada num avião de
pesquisa aérea, militar ou civil. A aeronave voará a uma altura fixa de maneira a tirar fotos à
vertical do terreno (inclinação inferior a 4º) produzindo fotografias a uma certa escala (normalmente
1:10.000 e 1:25.000 mas também poderão ser de 1:30.000 e 1:50.000).
Verticais Estereoscópicas
Uma das características dos seres humanos, entre outros, é terem a possibilidade de ver aquilo
que os rodeia em três dimensões. A terceira dimensão ou percepção de profundidade, resulta do
facto de se captarem imagens do mesmo objecto, simultaneamente de dois ângulos diferentes. De
facto, através dos nossos dois olhos, captam-se duas imagens ligeiramente diferentes de cada
objecto e essas imagens fundem-se no cérebro numa imagem tridimensional.
A partir de duas imagens sucessivas do mesmo local, recolhidas a partir de pontos diferentes,
com cerca de 60% de sobreposição longitudinal entre si, obtém-se aquilo a que se chama de
estereopar. Quando observadas simultaneamente, e cada uma por um dos olhos do observador,
geram paralaxe estereoscópica que transmite a noção de profundidade (3D) entre pontos de
observação e proporciona a percepção das três dimensões do terreno (relevo), quando visto através
de um estereoscópio, permitindo deste modo fazer observações rigorosas.
(Estereoscópios são instrumentos ópticos que tornam possível a visão tridimensional das
fotografias aéreas).
visão estereoscópica:
terreno.
Fig. 3-2: Exemplo de fotografia vertical simples que mostra uma escombreira de remoção
clandestina de materiais arqueológicos romanos na Quinta da Torre D’aires
IMAGENS OBLÍQUAS
Esta é a forma mais comum de fotografar estruturas arqueológicas e onde a máquina fotográfica
não está fixa. Dependendo do grau de inclinação do eixo óptico, pode obter-se uma perspectiva, ou
seja, uma visão panorâmica do terreno. Esta perspectiva apresenta-nos os objectos de uma forma
mais familiar dado que a nossa visão do mundo é em perspectiva, facilitando assim a sua análise.
Isto resulta numa foto angular tirada a um dado local, é tirada a uma menor altitude e este tipo de
foto produz uma maior detalhe do que na vertical. Este tipo de imagens tem o inconveniente de não
permitir distinguir bem as periferias e carecem de uniformidade de escala. A sua utilização é mais
adequada em aprofundamento de estudos em locais já conhecidos do que na identificação de novos
elementos. Elas não permitem visão estereoscópica e empregam-se como complemento das imagens
verticais anteriormente referidas.
Fig. 4-2: Exemplo de fotografia obliqua que neste caso mostra a destruição sistemática de solo
arqueológico na Quinta da torre D’aires (Hipotético local da localização da cidade romana de
Balsa).
CAPITULO 3
A FOTO INTERPRETAÇÃO
A foto interpretação (analise e interpretação de fotografias), é uma ferramenta que nos ajuda a
examinar as imagens fotográficas do terreno com propósitos diversos, aqui são analisados algumas
das possibilidades de aliar a fotografia aérea à arqueologia. Já foi amplamente demonstrada a
grande utilidade que a fotografia aérea tem para a prospecção arqueológica, mas toda a informação
que é registado no papel fotográfico necessita de ser entendida, para se poder analisar da existência
ou não de sinais no terreno que nos levara a novas descobertas cientificas.
Pode então definir o conceito de foto interpretação como sendo, o acto de examinar imagens
com o fim de identificar objectos, áreas ou fenómenos e ajuizar do seu significado.
Uma vez delimitada a área de estudo, e antes de proceder a interpretação da fotografia aérea
será oportuno realizar uma investigação bibliográfica das características geológicas e
geomorfológicas da região, assim como fazer uma investigação histórica arqueológica da mesma.
Pois será extremamente importante obter toda a informação possível referente as ocupações
populacionais contemporâneas e passadas, assim como dos sistemas de mobilidade utilizados, das
condições climatéricas, da fauna, da flora, etc.
Ao fim de realizar estes estudos prévios, necessários e essenciais, deve-se passar então ao
estudo concreto de interpretação da fotografia aérea para elaboração da foto carta com fins
arqueológicos. Nesta altura deve-se proceder ao relacionamento de pontos de “mapeamento” das
Marcas na agricultura
“Marcas na agricultura” (crop marks) pode ser definido como sendo, a detecção de sinais no
terreno que nos poderá levar à descoberta de infra-estruturas soterrados que não estando visíveis,
implicam alterações de crescimento na vegetação de um dado local. Ou seja, a camada arqueológica
do subsolo causa variações no crescimento das culturas, devido à variação na retenção da humidade
no solo. Antigas valas ou muros soterrados causam uma observável diferença no crescimento e na
cor da vegetação e é mais claramente visível em grandes e homogéneas áreas de cultura.
MURO OU
PAREDE
Como sugere o nome, “marcas de seca” aparecem durante os períodos de maior calor ou de falta
de precipitação prolongada. Terá de ser o arqueologia a determinar o grau de seca do terreno e a
interpretar a sua morfologia tendo em conta as áreas mais compactas do subsolo que são as que
retêm menor quantidade de humidade, tais como muros, estradas, etc. É possível ver estas marcas
claramente em áreas relvadas como também em áreas cultivadas, entretanto a janela de
oportunidade para ver e identificar estes locais é só durante um período de tempo particularmente
quente.
Um sítio com estruturas que tenham um baixo perfil em relação ao terreno poderá ser facilmente
visível no chão, no entanto pode ser imperceptível através de fotografia aérea, com o solo a
apresentar altos na sua superfície como único sinal de estruturas enterradas. Este tipo de estruturas
normalmente só sobreviverão em áreas que não estiveram sujeito a cultivo, onde são utilizados
regularmente arados e niveladoras. Assim, locais de planalto, terrenos apenas utilizados para o
pastoreio, baldios etc., serão os locais mais indicados para utilizar este tipo de prospecção.
Estes locais não são de fácil detecção através de fotos verticais devido ao ângulo de incidência da
objectiva que não permite ver o ligeiro relevo do terreno.
A luz clara é essencial para melhor se detectar este tipo de sítios. A luz límpida e clara das
manhãs e no Inverno do fim da tarde aplicam ao terreno contrastes de sombra e luz, que facilitam
grandemente a detecção deste tipo de estruturas.
Assim a foto interpretação é o ramo da teledetecção que nos ajuda a examinar as imagens
fotográficas do terreno com o propósito de identificar os diferentes componentes naturais de origem
antrópica da paisagem. Com estas técnicas obtemos informações para analisar elementos
geológicos, natureza e uso do solo, tipos de cobertura vegetal; aspectos arqueológicos, existência de
muros, calçadas, etc.
A sua grande utilidade deriva principalmente do fácil e económico manejo dos dados em relação
à grande quantidade de informação que pode proporcionar. Os projectos arqueológicos que utilizam
a análise da fotografia aérea incluem nos seus planos a utilização desta técnica com fins variados,
tais como a identificação de sítios arqueológicos, o relevantamento de antigos sítios arqueológicos,
o parcelamento de áreas com fins arqueológicos, etc.
Ser multi-temporais;
Ser multi-sensoriais.
Facilidade em ampliar;
humana (4 ou 5 linhas por mm) dado o elevado poder de resolução dos filmes
CAPITULO 4
Tomo como um dos muitos exemplos de como a fotografia aérea pode ser útil e esclarecedora
no campo da arqueologia, o sítio romano de “Villa de los Casares” situado na vizinha Espanha
(onde a fotografia aérea para fins arqueológicos é amplamente utilizada) a cerca de 3 km de
Armuña, Segovia.
Este local era já desde a alguns anos referenciado como possível “aglomerado de construções
da época romana”, mas não havendo nada especifico que o provasse foi ficando no esquecimento
até que em Abril de 1989, Alonzo Zamara, Director do Museu de Segóvia, tirou várias fotografias
aéreas onde se apercebiam diferenças de coloração no terreno, algumas hipotéticas construções
confusamente delimitadas, mas sem descobrir nada especifico.
Julio del Olmo efectua o mesmo tipo de voo, (durante o Inverno e a Primavera de 1994-1995)
conseguindo fotografias que aclararam e complementaram as fotografias realizadas 6 anos antes,
permitindo uma leitura (foto interpretação) mais clara do local, fig. 1-4, permitindo assim a
descoberta desta tão arqueologicamente importante Villa Romana.
Supõe-se que esta villa tenha sido construída numa época de grande intensidade da cultura
cerealífera na zona.
Durante a 2ª campanha de escavações em 2007, foi posto a descoberto um mosaico com nove
metros de comprimento num excelente estado de conservação, fazendo prever a importância dos
achados que futuras escavações poderão trazer à luz do dia.
Fig. 1 - 4: Vista aérea dos vestígios da “Villa de Los Casares”, em Armuña, Fotografia aérea de
Julio del Olmo Martín, tirada em 1994.
Fig. 2 - 4: Planta da Villa de los Casares. Segundo a obra “La villa de los Casares (Armuña,
Segovia): Propostas de leitura. Congresso Internacional La Hispania de Teodosio. Vol 2, 1997”.
CAPITULO 5
Este será um dos muitos exemplos onde se pode observar a evolução (nesta situação específica,
pela negativa) de uma escavação arqueológica através da fotografia aérea. Aqui observamos como
na generalidade muitos dos sítios arqueológicos são “devorados” pelo avanço urbanístico.
Fig. 1– 5 Sítio arqueológico de São Marcos: fotografia aérea (obliqua) das valas abertas
durante a campanha de 1984.
BIBLIOGRAFÍA
Nuevos Elementos de Ingeniería Romana – III Congreso de las Obras Públicas Romanas. Astorga
2006
Junta de Castilla y León – Colegio de Ingenieros T. de O. P. TRAIANVS, 2006: ET, p. 313-340