Análise Vetorial Cap 1 - Kleber Machado PDF
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Machado
Sumário
1 Conceitos Iniciais 3
1.1 Vetores e o Sistema de Coordenadas
Retangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Produto Escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3 Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.4 Outros Produtos Envolvendo Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.5 Aplicações dos Conceitos Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.1 Diagonais de um Paralelogramo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.2 Medianas de um Triângulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.3 Lei dos Cossenos e Lei dos Senos para Triângulos Planos . . . . . . . . . . . . . . 44
1.5.4 Fórmula de Heron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.5.5 Equação Vetorial da Reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.5.6 Equação Vetorial do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.5.7 Equação Geral da Esfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.5.8 Desigualdades Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
1.5.9 Dependência e Independência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.5.10 Bases Recı́procas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
1.5.11 Formas Usuais Para Alguns Tipos de Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
I Força Gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
II Força Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
III Força Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
IV Força Elástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
1.5.12 Estática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
1.5.13 Leis de Conservação de Momento Linear e Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
1.6 Ferramentas Computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
1.7 Outros Sistemas de Coordenadas Úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
1.7.1 Sistema de Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
1.7.2 Sistema de Coordenadas Cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
1.7.3 Sistema de Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
1.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
2
Análise Vetorial
K. D. Machado
Apenas uso pessoal
SUMÁRIO
K. D. Machado
Capı́tulo 1
Neste capı́tulo estabeleceremos os conceitos iniciais necessários ao estudo do Cálculo Vetorial, nota-
damente a idéia de vetor, e introduzimos alguns sistemas de coordenadas de grande aplicação em Fı́sica.
b) Alguém pergunta para você onde fica o mercado. Você responde atenciosamente que, para chegar ao
mercado, a pessoa deve andar 15 m de onde está, em linha reta até a esquina mais próxima, dobrar à
esquerda na esquina, fazendo um ângulo de 90◦ com a direção inicial e caminhar mais 10 m em linha
reta.
As duas situações acima envolvem grandezas fı́sicas que são medidas na mesma unidade (em metros,
no SI), tendo portanto a mesma representação dimensional. No entanto, há algo que as diferencia. Se você
disser apenas que a pessoa deve andar 25 m, ela recebe uma informação incompleta, e não tem como chegar
ao mercado, pois surgem, imediatamente, algumas perguntas: 25 m em que direção e sentido? Numa única
direção e sentido ou os 25 m devem ser “parcelados”em mais de uma direção? Já se você falar para ela que a
rua tem 25 m de largura, a informação é completa, e ela entende perfeitamente o que você quer dizer. Então,
para algumas grandezas, informar apenas o valor numérico e a unidade de medida não basta para especificar
completamente a situação fı́sica. É preciso especificar também a orientação que a grandeza tem em relação
a algum ponto de referência, ou origem. No caso do mercado, você se orienta com relação ao lugar em que
você está, que faz o papel de origem. Tomando por base esse exemplo, vejamos como podemos tornar nossas
indicações de direção e sentido mais gerais e formais.
Para tentar resolver o nosso problema de como definir uma orientação, a primeira idéia que surge é
considerar uma reta, com algum ponto marcado para ser a origem, como na figura 1.1 abaixo.
A reta acima define uma direção x, orientada de forma que os valores de x crescem para a direita. Os
valores à direita da origem são positivos, enquanto que à esquerda eles são negativos. A origem corresponde
ao valor nulo de x. Esta reta pode representar a nossa rua, e os números estão associados às casas da rua.
Assim, considerando que a nossa casa está situada na origem, em x = 0, se alguém perguntar onde fica a
casa de João, diremos que fica em x = 10. Maria mora em x = −30, e as esquinas ficam em x = −35 e
4 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Figura 1.1: Uma reta orientada com uma origem, para um
sistema de orientação unidimensional.
x = 15 1 . Isto resolve o nosso problema de orientação, desde que nós só andemos pela nossa rua. Este é,
Agora temos duas direções possı́veis, x e y. Observe que os valores de y crescem para cima, e são
positivos acima da origem, e negativos abaixo dela. Para ir ao mercado, dizemos para a pessoa: vá até
x = 15, e, depois, até y = 10. No nosso sistema de eixos formado pelas duas retas orientadas, os lugares
importantes são representados por pontos, na forma P(x, y). O mercado corresponde a P(15,10), e a nossa
casa, a P(0,0). A reta x é chamada eixo das abcissas, enquanto a reta y é o eixo das ordenadas. Os valores
de x e y para um certo ponto P são as coordenadas de P. Para o mercado, suas coordenadas são x = 15 e
y = 10. Temos agora um problema em duas dimensões e, em princı́pio, nosso problema de orientação está
resolvido, se considerarmos esses dois eixos.
O sistema de eixos apresentado na figura 1.2 chama-se sistema de coordenadas cartesianas ortogonais,
pois é um sistema de coordenadas baseado em retas ortogonais entre si, ou seja, há um ângulo de 90◦ entre
elas, e o primeiro a propor um sistema deste tipo foi o filósofo René Descartes. Esse sistema não se restringe
a duas dimensões. Para nossas necessidades usuais, precisamos incluir um eixo que represente uma terceira
dimensão. O mercado, por exemplo, poderia ter dois andares e, considerando que a seção de laticı́neos fica
no segundo andar, terı́amos que informar esse fato à pessoa, para darmos a indicação completa da direção
a seguir. Para fazer isso, acrescentamos mais um eixo, em geral representado por z, que deve ser ortogonal
aos dois anteriores, como mostra a figura 1.3. Este eixo é chamado cota, e então estamos agora no espaço
fı́sico tridimensional, que é aquele em que a maioria dos fenômenos fı́sicos ocorre.
Note que não necessariamente os eixos do sistema de coordenadas têm que ser ortogonais. Quando são, algumas operações
tornam-se mais simples, conforme veremos mais tarde, mas cada problema fı́sico tem suas caracterı́sticas especı́ficas e a idéia é sempre
adaptar o sistema de coordenadas ao problema, e não o contrário. Outra questão refere-se à dimensionalidade do espaço. Podemos
definir sistemas de coordenadas em espaços de N dimensões, ou seja, não estamos limitados a N = 3, e um exemplo simples diz respeito
à Relatividade, em que temos N = 4 (três dimensões espaciais e uma temporal). Entretanto, obviamente não podemos representar
1 Note que não necessariamente nossa casa está exatamente a meio caminho entre as duas esquinas.
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 5
K. D. Machado
Os segmentos de reta orientados que aparecem na figura 1.4 são chamados vetores, e são uma cons-
trução matemática muito importante. A definição de vetor é a seguinte:
Definição 1.1. Um vetor é um segmento de reta orientado por uma flecha, que possui um tamanho e uma
orientação espacial. Representamos um vetor por uma letra com uma flecha em cima, como em ~a, ou B, ~ por
exemplo. Em certos casos, também podem ser usadas letras em negrito, como a ou B. Além disso, os vetores
têm algumas propriedades bastante interessantes. O tamanho ou módulo do segmento está relacionado ao
valor numérico da grandeza que ele representa. Na figura 1.4, o vetor horizontal, que vamos chamar de A, ~
~
é 1,5 vezes maior que o vetor vertical, que é o B, para representar que a pessoa anda na direção x uma
distância 1,5 vezes maior do que a que ela anda na direção y. A orientação deles é tal que a pessoa vai da
origem até x = 15 (com y = 0) e, depois, vai de (x = 15, y = 0) até o ponto P, em (x = 15, y = 10).
Esta orientação é dada pela direção e sentido dos vetores. A direção é especificada pela reta-suporte que
define o segmento de reta que representa o vetor. Isto permite dois sentidos possı́veis para o vetor. O sentido
desejado é obtido através da colocação da flecha na ponta do vetor, que indica o sentido correto para a
grandeza em questão. Assim, para o vetor A, ~ a direção é a direção x, e o sentido é para a direita. Já para o
~ a direção é a direção y, e o sentido é para cima. Além disso, considerando um dado vetor V
vetor B, ~ , que
tem um certo tamanho, uma certa direção e um certo sentido, todos os segmentos de reta paralelos à V ~,
6 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
de mesmo tamanho e orientados no mesmo sentido que V ~ , são completamente equivalentes ao vetor V
~ . Em
outras palavras, os vetores podem ser transportados pelo espaço para a posição que for mais conveniente,
desde que suas caracterı́sticas (módulo, direção e sentido) se mantenham intactas.
Outra propriedade dos vetores é que a ordem deles numa soma pode ser invertida sem problemas, e o
resultado final da soma é o mesmo. Por exemplo, o caminho até o mercado também poderia ser representado
pela figura 1.5 2
Assim, a soma de vetores é uma operação comutativa (como é também a soma de números), ou seja,
~+B
A ~ =B ~ + A.
~
Como se representa a soma de dois vetores? É simples: por um outro vetor, chamado de vetor-soma
ou vetor resultante, ou simplesmente resultante. O vetor resultante é obtido tomando a origem do primeiro,
~ é dado
e traçando um segmento de reta até a extremidade do segundo. Assim, no nosso caso, o vetor-soma C
~ ~ ~ ~ ~
por C = A + B = B + A, como mostra a figura 1.6.
~ eB
Figura 1.6: Representação da soma dos vetores A ~ pelo método do polı́gono.
Este modo de efetivar a soma de vetores é chamada método do polı́gono. Este método é um método
geométrico, pois envolve apenas Geometria. Observe que ele não permite que o módulo do vetor resultante
seja conhecido, a menos que o gráfico seja feito em escala em papel milimetrado, por exemplo, e depois,
utilizando uma régua, verificamos o tamanho do vetor. Além do método geométrico do polı́gono definido
acima, existe o método do paralelogramo, que também é baseado em Geometria. Neste método, para encontrar
a soma de dois vetores, primeiro as origens de ambos devem coincidir. Isso pode ser feito “transportando”
os vetores, mas mantendo a direção, o sentido e o módulo (tamanho) intactos. Depois, construimos um
paralelogramo, cujos lados são os vetores, como na figura 1.7. A diagonal maior deste paralelogramo é o
vetor-soma, cujo inı́cio está na origem dos vetores que estão sendo somados.
Para conhecermos o valor numérico do tamanho do vetor podemos usar um método analı́tico. O
~ é representado por |A|,
tamanho, ou módulo, do vetor A, ~ por |A| ou simplesmente por A, sem a flecha.
K. D. Machado
~ eB
Figura 1.7: Soma dos vetores A ~ pelo método do paralelogramo.
~ 2 = |A|
|C| ~ 2 + |B|
~ 2
ou seja,
q
~ =
|C| ~ 2 + |B|
|A| ~ 2
p
~ = 152 + 102
|C|
√
= 225 + 100
√ √
~ = 325 = 5 13 m
|C|
Quando os vetores formam um triângulo que não é retângulo, não é possı́vel usar o Teorema de
Pitágoras para encontrar o módulo do vetor. Neste caso, usamos a lei dos cossenos, que é
onde ~a = ~b + ~c, a = |~a|, b = |~b| e c = |~c |, θ é o ângulo entre os vetores quando estão dispostos como mostra
a figura 1.8, lembrando que 0 6 θ 6 π.
Observe que, na lei dos cossenos, estamos utilizando o primeiro método geométrico que foi definido,
o método do polı́gono, que é aquele em que colocamos o inı́cio do segundo vetor na ponta do primeiro. Se
utilizarmos o método do paralelogramo, o ângulo torna-se outro, como vemos na figura 1.9.
Nesta figura, vemos que o ângulo entre os vetores, quando eles são colocados na mesma origem, é
α. Se eles fossem colocados um na ponta do outro, o ângulo seria o ângulo θ da lei dos cossenos 1.1 vista
anteriormente. Entretanto, estes ângulos não são independentes um do outro, já que, da figura, é fácil
perceber que θ + α = π, ou θ = π − α. Colocando este ângulo na expressão 1.1, obtemos, para o módulo do
vetor ~a resultante da figura,
8 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ
= b2 + c2 − 2bc cos(π − α)
−1 0
2 2 z }| { z }| {
= b + c − 2bc(cos π cos α + sen π sen α)
a2 = b2 + c2 + 2bc cos α (1.2)
Quando o método do paralelogramo é utilizado, o sinal do termo que envolve o cosseno do ângulo é positivo,
enquanto que na lei dos cossenos dada pela equação 1.1, ele é negativo. A expressão 1.2 é derivada da lei dos
cossenos, mas ela não é esta lei. Aqui também temos 0 6 α 6 π.
Exemplo 1.1. Na figura 1.10, os vetores ~a e ~b fazem um ângulo α entre si. Qual o módulo do vetor
resultante ~c, para as condições dadas abaixo?
π
a) a = 3, b = 4, α = 2 rad (ou 90◦ ).
Neste caso, a lei dos cossenos modificada 1.2 torna-se
π
c2 = a2 + b2 + 2ab cos
2
c2 = a2 + b 2
que é o teorema de Pitágoras. Assim, o teorema de Pitágoras é um caso particular da lei dos cossenos mo-
dificada 1.2, que ocorre quando o ângulo α entre os vetores que estão sendo somados, quando utilizamos o
método do paralelogramos, é igual a π2 radianos. O valor numérico do módulo de ~c é
c2 = a2 + b 2
c2 = 3 2 + 4 2
c2 = 25
c=5
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 9
b) a = 6, b = 1, α = 0.
K. D. Machado
Quando α = 0, a lei dos cossenos 1.2 fica
c2 = a2 + b2 + 2ab cos 0
= a2 + b2 + 2ab
c2 = (a + b)2
c=a+b
c=7
c) a = 2, b = 8, α = π rad.
Se o ângulo α vale π radianos, então os vetores têm a mesma direção, mas têm sentidos contrários, e
são chamados anti-paralelos. Neste caso, a lei dos cossenos 1.2 torna-se
c2 = a2 + b2 + 2ab cos π
= a2 + b2 − 2ab
c2 = (a − b)2
A expressão acima pode ser simplificada, mas devemos lembrar que o módulo de um vetor é sempre não-
negativo por definição. Assim, temos que utilizar o módulo dos números, ou seja,
c = |a − b|
de forma que
(
a − b, a > b
c=
b − a, b > a
c = |a − b|
= |2 − 8|
c=6
O vetor ~c tem módulo 6, e seu sentido é o mesmo que o do vetor ~b, já que este tem módulo maior do que o
vetor ~a.
2π
d) a = b = 5, α = 3 rad.
Neste caso, os dois vetores têm mesmo módulo, e a lei dos cossenos 1.2 fornece
10 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
2π
c2 = a2 + a2 + 2a.a cos
3
1
= 2a2 − 2a2
2
= 2a2 − a2
c2 = a2
ou seja, o módulo do vetor ~c resultante é igual ao módulo dos vetores que estão sendo somados. Isto ocorre
Análise Vetorial
apenas para o caso de vetores de módulos iguais, com um ângulo de 2π 3 radianos entre si.
Quando existem mais de dois vetores, a soma pelo método geométrico do polı́gono é idêntica, como
na figura 1.11.
~ =A
Figura 1.11: Representação de D ~+B
~ + C.
~
Exemplo 1.2. Considere três vetores ~a, ~b e ~c. Dadas as seguintes condições, responda:
a) a = b = 4, c = 3. Qual é o vetor resultante de maior módulo, e como ele ocorre?
A resultante de maior módulo ocorre quando os vetores são todos paralelos e orientados no mesmo
sentido, de modo que a soma deles torna-se uma soma escalar, e assim, o vetor resultante d~ tem módulo
d=a+b+c
=4+4+3
d = 11
Para que o triângulo seja formado, o ângulo α deve ser tal que ocorra
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 11
K. D. Machado
c2 = a2 + b2 − 2ab cos α
sendo que, agora, devemos utilizar a lei dos cossenos 1.1, já que o método do polı́gono foi empregado. Assim,
temos
c2 = a2 + a2 − 2a2 cos α
2a2 cos α = 2a2 − c2
2a2 − c2
cos α =
2a2
2a2 − c2
α = arccos
2a2
ou, utilizando os valores numéricos,
2,36 − 4
α = arccos ≃ 0,335 rad
2,36
Continuando com nosso estudo das propriedades de vetores, partimos agora para a multiplicação de
um vetor por um número. O resultado dessa multiplicação é um outro vetor, cujo tamanho é o tamanho do
~ = kA
vetor inicial, multiplicado pelo número real 3 . Assim, o vetor B ~ pode ser maior do que A,
~ se |k| > 1;
~ se k = 1; e menor do que A,
igual a A, ~ se |k| < 1. Quando k < 0, a multiplicação resulta num vetor que
aponta no sentido contrário ao do vetor inicial. Quando k = 0, o resultado é um vetor nulo. A figura 1.13
ilustra os casos discutidos.
~ e A,
Quando efetuamos uma subtração de dois vetores B ~ isto é, B
~ − A,
~ na verdade o que ocorre é
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
uma soma do vetor B com o vetor C = −1A = −A, ou seja, B + C, onde C = −A. ~ Simplesmente invertemos
o sentido do vetor (ou vetores, se houver mais de um) que é precedido pelo sinal negativo, e fazemos uma
soma por qualquer um dos métodos já discutidos.
A propriedade de multiplicação por um número faz com que seja possı́vel definir algo semelhante
a uma unidade para vetores. Podemos considerar um dado vetor padrão e os outros vetores que fossem
paralelos a esse vetor padrão poderiam ser escritos como múltiplos desse vetor especial. Para facilitar,
podemos escolher este vetor padrão como tendo módulo unitário, sendo, portanto, um vetor unitário. Tais
~ que define uma certa
vetores são chamados versores, e sua representação é a seguinte: dado um vetor A,
3 É possı́vel definir a multiplicação de um vetor por um número complexo, o resultado é um vetor com partes real e imaginária,
dadas pela multiplicação das partes real e imaginária do número pelo vetor.
12 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
direção e sentido no espaço, o versor correspondente é simbolizado por Â. Para a figura 1.13, considerando
que |A|~ = 1, podemos escrever A ~ = Â, B ~ = 2Â, D
~ = 1 Â, C ~ = Â e E
~ = −Â. Matematicamente, um dado
2
versor é obtido do vetor correspondente através de
~
A
 = (1.3)
A
~
Vamos relembrar agora a figura 1.6. Nesta figura, temos duas direções bem definidas, x e y. Por uma
convenção amplamente adotada em Fı́sica e Matemática, o versor da direção x é representado por ı̂, enquanto
que o versor da direção y é representado por ĵ. Em três dimensões, além dos dois já citados, é preciso mais
um versor, de modo que o versor da direção z é representado por k̂. O conjunto destes versores forma uma
base para o espaço tridimensional, e esta base é representada por R3 = {ı̂, ĵ, k̂}. A figura 1.14 apresenta os
três versores. Observe que eles possuem módulo 1, e são mutuamente ortogonais. Quando isso ocorre, a base
é chamada de ortonormal.
~ = 15ı̂ e B
Assim, na figura 1.6, temos A ~ = 10 ĵ, e o vetor resultante é C
~ =A
~+B
~ = 15ı̂ + 10 ĵ.
Quando os vetores são escritos na forma V~ = Vx ı̂+Vy ĵ+Vz k̂, operações envolvendo vetores tornam-se
bastante simples de serem efetuadas. A sua soma consiste em somar algebricamente as componentes em ı̂, ĵ
e k̂, como se fossem números. Por exemplo, se tivermos os vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂,
o vetor-soma ~c é
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 13
K. D. Machado
~c = ~a + ~b
~c = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ + bx ı̂ + by ĵ + bz k̂
cx cy cz
z }| { z }| { z }| {
~c = (ax + bx ) ı̂ + (ay + by ) ĵ + (az + bz ) k̂ (1.4)
~c = cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂
C 2 = Cx2 + Cy2
ou
q
C= Cx2 + Cy2
~ = 15ı̂ + 10 ĵ, resulta em
que, para o caso do vetor C
√ √
C = 225 + 100 = 5 13
Se tivermos dois vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ e ~b = bx ı̂ + by ĵ, a sua soma é ~c = (ax + bx )ı̂ + (ay + by ) ĵ e, como
mostra a figura 1.15, o vetor resultante é a hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos são dados
por (ax + bx ) e (ay + by ). Assim, o seu módulo é dado por
p
c = |~c | = (ax + bx )2 + (ay + by )2
~ e B.
Figura 1.15: Representação da soma de dois vetores A ~ O
vetor resultante é a hipotenusa de um triângulo
retângulo, de catetos ax + bx e ay + by .
A expressão acima vale para qualquer número de vetores, não apenas dois. Quando se está em três
dimensões, o módulo de um vetor V~ = Vx ı̂ + Vy ĵ + Vz k̂ é dado por
14 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado ~|=
q
V = |V Vx2 + Vy2 + Vz2 (1.5)
e a prova é deixada como um exercı́cio para o leitor.
1. |~a|.
ax = 3 ay = 5 az = −2
e então,
a = |~a|
q
= a2x + a2y + a2z
p
= 32 + 52 + (−2)2
√
= 9 + 25 + 4
√
a = 38
2. â.
Para encontrar o versor â correspondente ao vetor ~a, devemos utilizar a equação 1.3, ou seja,
~a
â =
|~a|
3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂
= √
38
3 5 2
â = √ ı̂ + √ ĵ − √ k̂
38 38 38
Vamos verificar se de fato â tem módulo unitário. Para isso, utilizamos a expressão 1.5, isto é,
s
3 2 5 2 2 2
|â| = √ + √ + −√
38 38 38
r
9 25 4
= + +
38 38 38
r
38
=
38
|â| = 1
3. |~b|.
K. D. Machado
O módulo de ~b pode ser achado através da equação 1.5, sendo que as componentes de ~b são
bx = 2 by = −4 bz = 6
e assim,
4. b̂.
~b
b̂ =
|~b|
2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂
= √
2 14
1 2 3
b̂ = √ ı̂ − √ ĵ + √ k̂
14 14 14
5. ~a + ~b.
A soma dos dois vetores é bastante simples de efetuar, já que eles estão escritos numa base. Portanto,
~a + ~b = 3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂ + 2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂
= (3 + 2)ı̂ + (5 − 4) ĵ + (−2 + 6) k̂
~a + ~b = 5ı̂ + ĵ + 4 k̂
6. |~a + ~b|.
p
|~a + ~b| = 52 + 12 + 42
√
= 25 + 1 + 16
√
|~a + ~b| = 42
16 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Observe que o módulo da soma dos vetores não é igual à soma dos módulos dos vetores, já que
√ √ √
42 6= 38 + 2 14
7. ~a − ~b.
8. |~a − ~b|.
p
|~a − ~b| = 12 + 92 + (−8)2
√
= 1 + 81 + 64
√
|~a − ~b| = 146
Note que o módulo da diferença entre dois vetores também não é igual à diferença entre os módulos
dos vetores, pois
√ √ √
146 6= 38 − 2 14
Exemplo 1.4. Suponha que um vetor V~ seja uma função do tempo t, isto é, V~ = V~ (t), dada por
V~ (t) = 2ı̂ + t ĵ + t2 − 2 k̂
Calcule:
1. V~ (0).
O vetor V~ em t = 0 vale
V~ (0) = 2ı̂ − 2 k̂
2. V~ (2).
V~ (2) = 2ı̂ + 2 ĵ + 2 k̂
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 17
3. |V~ (t)|.
K. D. Machado
O módulo de V~ em qualquer tempo é dado por
q 2
|V~ (t)| = 2 2 + t2 + t2 − 2
p
|V~ (t)| = 4 + t2 + t4 − 4t2 + 4
4. Vˆ(t).
O versor Vˆ em qualquer tempo t é dado por
V~ (t)
Vˆ(t) =
|V~ (t)|
2ı̂ + t ĵ + t2 − 2 k̂
= √
t4 − 3t2 + 8
2 t t2 − 2
Vˆ(t) = √ ı̂ + √ ĵ + √ k̂ (1.6)
t4 − 3t2 + 8 t4 − 3t2 + 8 t4 − 3t2 + 8
Se o versor Vˆ não tem componente em z, então o fator que multiplica k̂ na equação 1.6 deve se anular,
ou seja,
t2 − 2
√ =0
t4 − 3t2 + 8
t2 − 2 = 0
√
t=± 2
√
Supondo que a contagem dos tempos começou quando t = 0, obtemos t = 2 como sendo o tempo em
que o versor Vˆ não tem componente em z. Ele fica, para este valor de t,
√
2 2 2−2
Vˆ(t) = √ ı̂ + √ ĵ + √ k̂
4−3×2+8 4−3×2+8 4−3×2+8
√
2 2
= √ ı̂ + √ ĵ
6 6
√ √
6 3
Vˆ(t) = ı̂ + ĵ
3 3
18 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Recordando as proposições do inı́cio deste capı́tulo, verificamos que algumas grandezas necessitam
de algo mais do que apenas o valor numérico e a unidade de medida. Assim, as grandezas em Fı́sica são
divididas em dois grupos: as grandezas escalares e as grandezas vetoriais. As grandezas escalares ficam
completamente definidas quando apenas o seu valor numérico e a unidade de medida são especificadas.
Exemplos dessas grandezas são a massa de um objeto, a largura de uma rua, a altura de um poste, o
volume de uma caixa d’água. Já as grandezas vetoriais compreendem aquelas que não ficam completamente
especificadas se for dado apenas o seu valor numérico e a sua unidade, requerendo, além disso, que a sua
direção e sentido sejam estabelecidos em relação a algum sistema de coordenadas. Um exemplo claro de uma
~r = xı̂ + y ĵ + z k̂ (1.7)
como mostra a figura 1.16. Além disso, a posição tem dimensão de comprimento, ou seja, [posição] = L, e,
no SI, é medida em metros (m).
P (x, y, z)
r
z^
k
x ^i O y
x y ^j
Existe um modo bastante útil de obter a posição de um ponto P de coordenadas cartesianas (x, y, z)
num dado sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares. Note que a origem O do sistema de coorde-
nadas está localizada em (0, 0, 0), e sua posição é dada por
~ = 0ı̂ + 0 ĵ + 0 k̂
O (1.8)
−−→
A posição do ponto P pode ser representada pelo vetor OP, que tem origem em O e aponta em direção a
P. Esse vetor vale, por 1.7 (veja também a figura 1.16),
−−→
~r = OP = xı̂ + y ĵ + z k̂
Lembrando que P=P(x, y, z) e O=O(0, 0, 0), vamos calcular
K. D. Machado −−→
OP = P − O = (x, y, z)
e esse vetor corresponde à posição do ponto P. Partindo disso, podemos definir agora uma outra grandeza
relevante, relacionada à posição. Ela consiste na posição relativa de um ponto em relação a outro. Considere
dois pontos A(xA , yA , zA ) e B(xB , yB , zB ), cujas posições são dadas, respectivamente, por
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂ (1.9)
K. D. Machado
Grandezas Escalares Grandezas Vetoriais
distância percorrida posição
comprimento velocidade
tempo aceleração
temperatura força
energia campo elétrico
massa campo magnético
Quando as grandezas são escalares, as operações matemáticas feitas com elas são relativamente simples,
pois envolvem apenas a soma, multiplicação, potenciação, etc., de números. Já quando as grandezas são
vetoriais, a soma é uma soma vetorial, que é um pouco mais complicada. Além disso, mesmo que duas
grandezas sejam medidas na mesma unidade, uma pode ser escalar e a outra vetorial, e isso tem que ser
levado em conta na hora de efetivar cálculos. Assim, no nosso problema inicial, a pessoa, para chegar à
padaria, percorre uma distância
√ escalar de 10
√ + 15 = 25 √ m. No entanto, seu deslocamento vetorial (utilizando
a equação 1.1) foi de apenas 102 + 152 = 325 = 5 13 ∼ = 18, 02 m, menor do que a distância efetivamente
percorrida. Um caso que demonstra a grande diferença que existe entre grandezas escalares e vetoriais é o de
uma pessoa que sai de um ponto A e anda num cı́rculo de raio R até voltar ao ponto A. Ela percorre uma
distância escalar de C = 2πR, que é o comprimento da circunferência. No entanto, como ela volta ao lugar
de onde saiu, seu deslocamento vetorial é nulo, pois o ponto final corresponde ao inicial.
Já que é possı́vel multiplicar um vetor por um número, será permitido multiplicar um vetor por outro?
A resposta é positiva, e na verdade existem dois modos de se fazer o produto de dois vetores: através de um
produto escalar e por meio de um produto vetorial. De fato, estas operações são extremamente importantes
em Fı́sica e Matemática. Vejamos inicialmente o produto escalar.
A~·B~ = |A||
~ B|
~ cos θ = AB cos θ (1.14)
de onde se vê que, de fato, o produto escalar de dois vetores resulta num número. O ângulo θ, para o produto
escalar, é definido como sendo o ângulo que os vetores formam entre si quando suas origens são colocadas
num ponto comum, como mostra a figura 1.17.
5 O produto escalar é um tipo de produto interno, e também é conhecido como produto ponto.
1.2. PRODUTO ESCALAR 21
K. D. Machado
~ e B.
Figura 1.17: Definição do ângulo θ para o produto escalar entre os vetores A ~
ı̂ ·ı̂ = 1 ĵ · ĵ = 1 k̂ · k̂ = 1 (1.15a)
ı̂ · ĵ = ĵ ·ı̂ = 0 ı̂ · k̂ = k̂ · ı̂ = 0 ĵ · k̂ = k̂ · ĵ = 0 (1.15b)
Como já foi dito, uma base que tenha as propriedades acima é chamada de ortonormal, porque, além
de os vetores da base serem ortogonais, eles têm módulo 1. Isto vale para qualquer sistema de coordenadas
ortonormal, não apenas o sistema de coordenadas retangulares. Em geral, deseja-se que a base para um
sistema de coordenadas qualquer seja ortonormal, para simplificar as operações vetoriais.
Quando dois vetores estão escritos numa mesma base ortonormal, o produto escalar entre eles é
bastante simples de se efetuar. Considere os vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂. O produto
escalar entre eles é dado por
~a · ~b = ax bx ı̂ ·ı̂ + ax by ı̂ · ĵ + ax bz ı̂ · k̂ + ay bx ı̂ · ĵ + ay by ĵ · ĵ
+ ay bz ĵ · k̂ + az bx k̂ ·ı̂ + az by k̂ · ĵ + az bz k̂ · k̂
ou ainda,
~a · ~b = ax bx + ay by + az bz (1.16)
pois utilizamos as equações 1.15a e 1.15b. Se ~a = ~b, temos
6 Uma matriz coluna é uma matriz que possui apenas uma coluna, enquanto que uma matriz linha possui apenas uma linha.
22 1. CONCEITOS INICIAIS
é escrito como
K. D. Machado
Vx
V~ = Vy (1.17)
Vz
Quando se faz o produto escalar de um vetor por outro, é preciso tomar a matriz transposta 7 do
primeiro vetor, o que resulta numa matriz linha, ou seja,
~·B
A ~ = |A||
~ B|
~ cos θ
A~·B~
cos θ =
AB
~·B
A ~
θ = arccos (1.19)
AB
~ eB
e, se os vetores A ~ forem escritos numa base ortonormal, os cálculos tornam-se muito simples de serem
efetuados. Se esta base for a base de coordenadas retangulares, dada por R3 = {ı̂, ĵ, k̂}, temos
~ = Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂
A ~ = Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
B
~ eB
Os módulos de A ~ são
p
A= A~·A
~
q
= Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂ · Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂
q
A = A2x + A2y + A2z
e
p
B= B~ ·B
~
q
= Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂ · Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
q
B = Bx2 + By2 + Bz2
7 A matriz transposta de uma matriz A é dada pela seguinte regra: At = A , onde i representa as linhas e j as colunas da
i,j j,i
matriz A, e Ai,j é o elemento da i-ésima linha e da j-ésima coluna de A. Por exemplo, se a matriz A for
1 2
A=
3 4
sua transposta será
1 3
At =
2 4
1.2. PRODUTO ESCALAR 23
~eB
O produto escalar entre A ~ é
K. D. Machado
~ ·B
A ~ = Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂ · Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
~ ·B
A ~ = Ax Bx + Ay By + Az Bz
e assim,
Ax Bx + Ay By + Az Bz
θ = arccos q
A2x + A2y + A2z Bx2 + By2 + Bz2
Exemplo 1.5. Considere dois vetores, dados por ~a = ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂ e ~b = ı̂ − ĵ − k̂. Qual o ângulo que estes
vetores formam entre si?
Para encontrar o ângulo, utilizamos a equação 1.19, isto é,
~a · ~b
θ = arccos
ab
O módulo de ~a é
√
a= ~a · ~a
q
= (ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂) · (ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂)
√
= 1 + 4 + 16
√
a = 21
enquanto o de ~b fica
√
a= ~a · ~a
q
= (ı̂ − ĵ − k̂) · (ı̂ − ĵ − k̂)
√
= 1+1+1
√
b= 3
K. D. Machado
~a · ~b
θ = arccos
ab
−5
= arccos √ √
21 3
5
= arccos − √
Análise Vetorial
Uma outra aplicação importante do produto escalar consiste na determinação da projeção de um vetor
sobre outro. Vamos supor que precisamos da componente de um vetor ~a na direção definida por um outro
vetor ~b. Para obter esta grandeza, devemos realizar o produto escalar entre o vetor ~a e o versor b̂, o que
resulta na componente de ~a na direção de ~b. Para demonstrarmos isto, vamos considerar a figura 1.18.
A componente de um vetor ~a na direção do vetor ~b é representada por a~b , e pode ser obtida se
lembrarmos que o cosseno de θ é dado pelo cateto adjacente, que é a componente a~b , dividido pela hipotenusa,
dada por a. Assim,
a~b
cos θ =
a
ou seja,
a~b = a cos θ
O cosseno do ângulo formado entre os dois vetores pode ser obtido através do produto escalar, como mostra
a equação 1.19
~a · ~b
θ = arccos
ab
ou
~a · ~b
cos θ =
ab
1.2. PRODUTO ESCALAR 25
K. D. Machado
e então, voltando à expressão para a componente do vetor, temos
~a · ~b
a~b = a
ab
ou
~a · ~b
a~b =
b
~b
Análise Vetorial
b̂ =
b
a~b = ~a · b̂ (1.20)
Se quisermos o vetor-componente de ~a na direção de ~b, devemos multiplicar a expressão acima pelo versor
b̂, que define a direção de ~b, ou seja,
Exemplo 1.6. Utilizando a decomposição de um vetor na direção de outro, mostre que os ângulos α, β e γ
da figura 1.19 estão relacionados através de
^ V
k
g
b
^i ^j y
a
K. D. Machado
Para o vetor-componente em y, obtemos
O vetor V~ é igual à soma de todas as suas componentes, pois o sistema de eixos no qual ele foi decomposto
é ortonormal, e assim,
V~ · V~ = (V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂) · (V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂)
o que resulta em
V 2 = V 2 cos2 α + cos2 β + cos2 γ
de modo que, dividindo a equação por V 2 , temos
Após estudar algumas aplicações envolvendo o produto escalar, vejamos agora o produto vetorial entre
dois vetores.
~ =A
C ~
~×B (1.24)
1.3. PRODUTO VETORIAL 27
K. D. Machado
~ temos que considerar o módulo, a direção e o sentido de C.
Com relação às caracterı́sticas de C,
~ 8
~ O
módulo do vetor C definido pelo produto vetorial acima é dado por
~ = |A
|C| ~ = |A||
~ × B| ~ B|~ sen θ (1.25)
sendo que o ângulo θ é definido da mesma forma que para o caso do produto escalar (veja a figura 1.17).
~ temos que os vetores A
Com relação à direção e ao sentido de C, ~eB ~ definem um plano no espaço. Por
~ ~
definição, o vetor que resulta do produto vetorial entre A e B deve ser ortogonal a este plano, e, portanto,
Note que o produto vetorial de dois vetores que tenham a mesma direção, ou seja, sejam um múltiplo
um do outro, é nulo, já que nesse caso eles não definem um plano e o ângulo θ entre eles é nulo ou vale π.
Quando os vetores são escritos numa base, como por exemplo a base R3 = {ı̂, ĵ, k̂}, o cálculo do produto
vetorial também é facilitado, como no caso do produto escalar. No entanto, inicialmente precisamos saber
como se faz o produto vetorial dos versores da base. O produto vetorial de um versor por ele mesmo é nulo,
pois são vetores paralelos, ou seja,
ı̂ × ı̂ = 0 ĵ × ĵ = 0 k̂ × k̂ = 0 (1.26)
Agora, considerando novamente a figura 1.14, vejamos o que ocorre quando efetuamos, por exemplo,
ı̂ × ĵ. O módulo do resultado vale
π
|ı̂ × ĵ| = |ı̂||ĵ| sen
2
ou seja,
|ı̂ × ĵ| = 1
K. D. Machado
Assim, o vetor resultante desse produto vetorial é na verdade um versor, já que possui módulo 1. Agora temos
que, como ı̂ e ĵ definem um plano, o plano xy, o vetor resultante do produto vetorial deve ser ortogonal a
esse plano, e só pode estar na direção z. Se considerarmos a regra da mão direita obteremos o sentido do
vetor como sendo o de z positivo. Lembrando que o versor k̂ possui as três caracterı́sticas descritas acima,
achamos, finalmente,
ı̂ × ĵ = k̂
Note que, quando uma base é escolhida de forma que os produtos vetoriais entre os vetores dessa base seguem uma regra de
mão direita, ela é chamada dextrógira. Pode-se definir uma regra da mão esquerda para produtos vetoriais, de uma forma similar ao
~ e B,
que foi feito para a regra da mão direita. Nesse caso, diz-se que o sistema é levógiro. Dados dois vetores A ~ num sistema dextrógiro
~ =A
teremos C ~ × B,
~ e num levógiro achamos D
~ =A
~ × B.
~ O leitor deve ser capaz de verificar que C
~ = −D.
~
~a × ~b = ax bx ı̂ × ı̂ + ax by ı̂ × ĵ + ax bz ı̂ × k̂ + ay bx ĵ × ı̂ + ay by ĵ × ĵ
+ ay bz ĵ × k̂ + az bx k̂ × ı̂ + az by k̂ × ĵ + az bz k̂ × k̂
ou ainda,
~a × ~b = ax by k̂ − ax bz ĵ − ay bx k̂ + ay bz ı̂ + az bx ĵ − az by ı̂
~a × ~b = (ay bz − az by )ı̂ + (az bx − ax bz ) ĵ + (ax by − ay bx ) k̂ (1.28)
O produto vetorial acima pode ser ordenado de uma forma mais concisa como um determinante de
uma matriz, na qual os elementos da primeira linha são os versores da base, na ordem ı̂, ĵ e k̂, os elementos
da segunda linha são as componentes do primeiro vetor e a terceira linha é dada pelo segundo vetor, ou seja,
ı̂ ĵ k̂
~a × ~b = ax ay az (1.29)
bx by bz
O produto vetorial possui uma interpretação geométrica bastante simples. Considere um paralelogramo
definido pelos pontos A, B, C e D, como mostra a figura 1.21. Os lados do paralelogramo são dados pelos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
vetores AB e AD, sendo que AB = DC e AD = BC.
K. D. Machado
h
sen θ = −−→
|AD|
de modo que podemos escrever
−−→
h = |AD| sen θ
Portanto, a área do paralelogramo fica
−−→ −−→
S♦ = |AB||AD| sen θ
−−→ −−→
Considere agora o módulo do produto vetorial entre os vetores AB e AD, dado pela equação 1.25,
−−→ −−→ −−→ −−→
|AB × AD| = |AB||AD| sen θ
−−→ −−→
Portanto, a área do paralelogramo formado por lados paralelos aos vetores AB e AD equivale ao módulo
do produto vetorial entre os dois vetores, ou seja,
−−→ −−→
S♦ = |AB × AD| (1.30)
Essa é a interpretação geométrica do produto vetorial. Assim, se dois vetores forem paralelos, eles não
definem um paralelogramo, de modo que o produto vetorial de dois vetores paralelos resulta num vetor nulo.
Podemos obter ainda um outro resultado importante. Considere que sejam dados três pontos, A, B e C, de
forma a definir um triângulo, como o mostrado na figura 1.22.
Da figura 1.22 vemos que a área do triângulo ABC corresponde à metade da área do paralelogramo definido
−−→ −−→
pelos vetores AB e BC, de modo que temos, então,
−−→ −−→
|AB × BC|
S△ = (1.31)
2
30 1. CONCEITOS INICIAIS
S♦ = |~a × ~b|
~a × ~b = 8ı̂ + ĵ + 8 k̂ + 4 k̂ + 4ı̂ − 4 ĵ
e então,
~a × ~b = 12ı̂ − 3 ĵ + 12 k̂
Portanto,
√ √ √
|~a × ~b| =
144 + 9 + 144 = 297 = 3 33
√
Portanto, a área do paralelogramo vale S♦ = 3 33 unidades de área 9 .
Exemplo 1.8. O lado que forma a base de um triângulo equilátero tem um comprimento ℓ = 3 m. Determine
a área desse triângulo através de um produto vetorial.
Para determinar a área do triângulo precisamos fazer algumas considerações. A primeira consiste em
supor que o triângulo está no plano xy, como mostra a figura 1.23 abaixo.
Note que um triângulo equilátero é aquele no qual todos os lados têm o mesmo comprimento e todos
os ângulos dos vértices são iguais. Conseqüentemente, o ângulo θ mostrado na figura vale 60◦ ou π3 rad.
Assim, para o lado horizontal podemos escrever
K. D. Machado
~a = ℓı̂ = 3ı̂ (1.32)
Para o vetor ~b, paralelo ao lado esquerdo do triângulo, podemos escrever
~b = ℓ cos π ı̂ + ℓ sen π ĵ
3 3
ou
|~a × ~b|
S△ =
2
Calculamos inicialmente o produto vetorial
ı̂ ĵ k̂
~a × b = 3
~ 0
√
0
3 3 3
0
2 2
ou
√
9 2
~a × ~b = k̂
2
Assim,
√
9 2
S△ =
4
é a área procurada.
Combinando produtos escalares e vetoriais podemos obter operações envolvendo três ou mais vetores.
Os mais importantes são apresentados a seguir.
K. D. Machado
Demonstração. Para verificar a relação 1.35, façamos primeiro o produto vetorial ~b × ~c, utilizando a equa-
ção 1.29,
ı̂ ĵ k̂
~b × ~c = bx by bz = (by cz − bz cy )ı̂ + (bz cx − bx cz )ĵ + (bx cy − by cx )k̂ (1.36)
cx cy cz
e obtemos
~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a = ~c · ~a × ~b (1.39)
conforme demonstramos abaixo.
Demonstração. A prova desta propriedade é bastante simples e utiliza a expressão 1.35. Vamos mostrar que
~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a. Para tanto, temos
ax ay az
~a · ~b × ~c = bx by bz
cx cy cz
Agora, vamos trocar a segunda linha com a terceira, o que, por uma propriedade do determinante de qualquer
matriz, troca o sinal do determinante. Assim,
ax ay az bx by bz
~a · ~b × ~c = bx by bz = − ax ay az
cx cy cz cx cy cz
K. D. Machado
e o determinante troca de sinal novamente. No entanto,
bx by bz
~b · ~c × ~a = cx cy cz
ax ay az
e assim
~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a
O produto misto também tem uma interpretação geométrica interessante. Considere um paralelepı́pedo
formado pelos pontos A, B, C, D, E, F, G e H, como mostra a figura 1.24.
O volume desse paralelepı́pedo é dado pela área da base multiplicada pela altura h relativa a essa base.
Já vimos que a área da base pode ser calculada através de um produto vetorial, ou seja, pela equação 1.30,
temos
−−→ −−→
S♦ = |AB × AD| (1.40)
Note que o produto vetorial resulta num vetor perpendicular ao plano formado pelos dois vetores. Vamos
chamar esse vetor de ~v . Assim, obtemos
−−→ −−→
~v = AB × AD (1.41)
Agora, da figura achamos também
h
cos θ = −−→
|AE|
ou seja,
−−→
h = |AE| cos θ (1.42)
Em seguida, devemos notar que
−−→ −−→
AE · ~v = |AE||~v | cos θ
34 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
ou, usando as expressões 1.40–1.42, encontramos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AE · (AB × AD) = |AB × AD|h
ou
−−→ −−→ −−→
AE · (AB × AD) = S♦ h
O lado direito da equação acima corresponde ao volume do paralelepı́pedo. Portanto,
Exemplo 1.9. Considere os vetores ~a = 2ı̂ − 4 k̂ e ~b = ĵ + k̂. Determine cx , cy e cz tal que um vetor
~c = cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂ pertença ao plano formado pelos outros dois.
Conforme vimos há pouco, se três vetores são coplanares o produto misto entre eles se anula, de modo
que vamos inicialmente calcular o produto misto entre ~a, ~b e ~c por meio da equação 1.35,
2 0 −4
~a · ~b × ~c = 0 1 1
cx cy cz
ou
~a · ~b × ~c = cz − 4cx − 2cy
Para que tenhamos vetores coplanares, o produto misto deve ser nulo, isto é,
cz − 4cx − 2cy = 0
ou
cz = 4cx + 2cy
Assim, qualquer vetor da forma
~c = cx ı̂ + cy ĵ + (4cx + 2cy ) k̂
pertence ao plano formado por ~a e ~b. Por exemplo, o vetor ~c = 2ı̂ + ĵ + 10 k̂ pertence ao plano desejado.
Vamos demonstrar a primeira delas, dada pela equação 1.45a, e a outra fica a cargo do leitor. Vamos à prova.
1.4. OUTROS PRODUTOS ENVOLVENDO VETORES 35
K. D. Machado
Demonstração. Já calculamos ~b × ~c anteriormente, na equação 1.36, que fica
ou ainda,
~a × (~b × ~c ) = (ay cy + az cz )bx − (ay by + az bz )cx ı̂
+ (ax cx + az cz )by − (ax bx + az bz )cy ĵ
+ (ax cx + ay cy )bz − (ax bx + ay by )cz k̂ (1.46)
~a · ~b = ax bx + ay by + az bz ~a · ~c = ax cx + ay cy + az cz (1.47)
~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c − ax cx )bx − (~a · ~b − ax bx )cx ı̂
+ (~a · ~c − ay cy )by − (~a · ~b − ay by )cy ĵ
+ (~a · ~c − az cz )bz − (~a · ~b − az bz )cz k̂
~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c )bx − (~a · ~b)cx ı̂
+ (~a · ~c )by − (~a · ~b)cy ĵ + (~a · ~c )bz − (~a · ~b)cz k̂
ou ainda,
K. D. Machado
Por fim, existe um último produto importante, chamado de identidade de Lagrange, que envolve o
produto escalar de dois vetores, os quais, por sua vez, são o resultado de produtos vetoriais. Para este
produto, existe a propriedade
ou
ou ainda,
ou
ou ainda,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 37
K. D. Machado
(~a × ~b) · (~c × d~ ) =
(az cz + ay cy + ax cx )(~b · d~ ) − az cz bz dz − ay cy by dy − ax cx bx dx
− (az dz + ay dy + ax dx )(~b · ~c) + az dz bz cz + ay dy by cy + ax dx bx cx
e, finalmente,
Da figura, temos
−−→ −−→ −−→
BA + AD = BD
ou
−−→ −−→ −−→
BD = AD − AB (1.51)
−−→ −−→
Então, como BP corresponde a uma fração de BD, temos
38 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
−−→ −−→ −−→ −−→
BP = rBD = r(AD − AB) (1.52)
onde r é um número real. Da figura, obtemos também
−−→ −−→ −−→
AB + AD = AC
−−→ −−→
O vetor AP também é uma fração de AC, ou seja,
s−r =0 →s=r
e
1
2s + 1 = 0 →s=r=
2
Conseqüentemente, as equações 1.52 e 1.53 tornam-se, respectivamente,
−−→ 1 −−→ 1 −−→ −−→
BP = BD = (AD − AB) (1.56)
2 2
e
−−→ 1 −−→ 1 −−→ −−→
AP = AC = (AB + AD) (1.57)
2 2
ou seja, as diagonais cortam-se ao meio, conforme querı́amos mostrar. Vejamos outra aplicação interessante.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 39
1.5.2
K. D. Machado
Medianas de um Triângulo
Desejamos agora mostrar que as medianas de um triângulo encontram-se num ponto comum, e que a
distância entre esse ponto e o vértice de onde parte a mediana vale dois terços do comprimento dela. Para
isso, considere a figura 1.26.
Note que, na figura, supusemos que as medianas não se encontram num mesmo ponto, e devemos provar que
os pontos G, H e I são coincidentes. Vamos escrever algumas relações para resolver o problema. Inicialmente
vemos que podemos escrever
−−→ −→ − → −−→
AG + GI + IF = AF (1.58)
−−→
Agora, temos que os três vetores do lado esquerdo da expressão acima são múltiplos do vetor AF. Vamos
definir então
r+s+t=1 (1.60)
De forma similar, temos
−−→ −→ − → −−→
EH + HI + IC = EC (1.61)
Novamente temos a questão da proporcionalidade entre os vetores do lado esquerdo da expressão acima e o
−−→
vetor EC. Definimos agora
x+y+z = 1 (1.63)
Por fim, seguindo os mesmos passo para a última mediana, temos
l+m+n=1 (1.66)
Nas equações 1.59, 1.62 e 1.65, os coeficientes l, m, n, r, s, t, x, y e z são números reais. Agora, vamos
considerar a soma vetorial
−−→ −−→ −−→
AG + GD = AD (1.67)
Note que a mediana é a linha reta que parte de um vértice e divide um lado em duas partes iguais. Portanto,
−−→ 1 −−→
AD = AC (1.68)
2
Assim, usando as equações 1.59, 1.65 e 1.68 em 1.67, encontramos
−−→ −−→ 1 −−→
rAF − lDB = AC (1.69)
2
Da figura, podemos escrever também
−−→ −−→ −→
AF = AB + BF
Mas, lembrando que AF é uma mediana,
−→ 1 −−→
BF = BC (1.70)
2
Portanto,
−−→ −−→ 1 −−→
AF = AB + BC (1.71)
2
Outra relação derivada da figura é
−−→ −−→ −−→
AD + DB = AB
que pode ser reescrita, mediante 1.68, como
−−→ −−→ 1 −−→
DB = AB − AC (1.72)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 41
K. D. Machado
Reunindo agora as equações 1.71 e 1.71 em 1.69, achamos
−−→ 1 −−→ −−→ 1 −−→ 1 −−→
r AB + BC − l AB − AC = AC
2 2 2
ou
−−→ r −−→ l −−→ 1 −−→
(r − l)AB + BC + AC = AC (1.73)
2 2 2
3r = 2
de forma que
2
r= (1.75)
3
e
2 1
=
l =1− (1.76)
3 3
Portanto, determinamos dois dos nove coeficientes desconhecidos. Vamos considerar agora a relação vetorial
−−→ −−→ −−→
EH + HB = EB
Note que, como CE é uma mediana, temos
−−→ 1 −−→
EB = AB (1.77)
2
Por meio das equações 1.62, 1.65 e 1.77, obtemos
−−→ −−→ 1 −−→
xEC + nDB = AB (1.78)
2
Combinando as expressões 1.72 e 1.74 encontramos
42 1. CONCEITOS INICIAIS
Assim, temos
1
x= (1.81)
3
e
2
n= (1.82)
3
Assim, determinamos mais duas incógnitas. A próxima relação vetorial importante é
−
→ −→ − →
IF + FC = IC (1.83)
Note que
−→ −→ 1 −−→
FC = BF = BC (1.84)
2
Mediante o uso das expressões 1.59, 1.62 e 1.84 na equação 1.83, achamos
−−→ 1 −−→ −−→
tAF + BC = z EC
2
Agora, reescrevemos essa expressão por intermédio das equações 1.71 e 1.80, ou seja,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 43
K. D. Machado
−−→ 1 −−→ 1 −−→ 1 −−→ −−→
t AB + BC + BC = z AB + BC
2 2 2
ou
que resulta em
t + 1 = 4t
ou
1
t= (1.85)
3
e
2
z= (1.86)
3
Combinando as equações 1.60, 1.75 e 1.85, obtemos
2 1
+s+ =1 →s=0
3 3
Considerando agora 1.66, 1.76 e 1.82, achamos
1 2
+m+ =1 →m=0
3 3
Por fim, de 1.63, 1.81 e 1.86, ficamos com
1 2
+y+ =1 →y=0
3 3
Reunindo todos os coeficientes obtidos, temos
2 1
r= s=0 t=
3 3
1 2
x= y=0 z= (1.87)
3 3
1 2
l= m=0 n=
3 3
De modo que as equações 1.59, 1.62 e 1.65 tornam-se
44 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
−−→ 2 −−→ −→ −
→ 1 −−→
AG = AF GI = 0 IF = AF
3 3
−−→ 1 −−→ −→ −→ 2 −−→
EH = EC HI = 0 IC = EC
3 3
−−→ 1 −−→ −−→ −−→ 2 −−→
DG = DB GH = 0 HB = DB
3 3
1.5.3 Lei dos Cossenos e Lei dos Senos para Triângulos Planos
Existem duas relações geométricas muito importantes em se tratando de trigonometria plana. Vamos
obtê-las considerando a figura 1.27 abaixo.
O triângulo da figura tem vértices nos pontos A, B e C, e seus lados medem a, b e c. Os lados formam
ângulos descritos por α, β e γ. Inicialmente, vamos considerar a seguinte relação vetorial:
−−→ −−→ −−→
AC + CB = AB
que pode ser reescrita como
−−→ −−→ −−→
CB = AB − AC
Vamos efetuar o produto escalar dessa equação com ela mesma, ou seja,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
CB · CB = (AB − AC) · (AB − AC)
ou
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|CB|2 = |AB|2 + |AC|2 − 2AB · AC
Como
temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 45
K. D. Machado
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AB = −BA AC = −CA BC = −CB
ou
−−→ −−→
|BA × BC| = ac sen β
−−→ −−→
|CB × CA| = ab sen γ
−−→ −−→
|AC × AB| = bc sen α
Exemplo 1.10. Verifique a lei dos cossenos e a dos senos para um triângulo equilátero de lado ℓ.
Um triângulo equilátero tem os três lados iguais e também os três ângulos internos são iguais entre si
e valem 60◦ . Verificando a lei dos cossenos, temos
?
a2 = b2 + c2 − 2bc cos α
ou
?
ℓ2 = ℓ2 + ℓ2 − 2ℓℓ cos 60◦
e então,
? 1
ℓ2 = 2ℓ2 − 2ℓ2
2
ou
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 47
K. D. Machado
ℓ2 = ℓ2
de modo que a lei dos cossenos é verificada. A lei dos senos é automaticamente verificada pois os lados são
todos iguais e os ângulos também.
a+b+c
s= (1.95)
2
e a, b e c são os tamanhos dos lados dos triângulos. Vamos demonstrar agora a fórmula de Heron.
Demonstração. Para iniciar a demonstração, considere novamente a figura 1.27, e a equação 1.88,
−−→ −−→ −−→
AB + BC + CA = 0
Podemos reescrever essa equação como
−−→ −−→ −−→
−AB = BC + CA
e, efetuando o produto escalar dessa expressão com ela mesma, temos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(−AB) · (−AB) = (BC + CA) · (BC + CA)
ou
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|AB|2 = |BC|2 + |CA|2 + 2BC · CA
ou ainda,
−−→ −−→
c2 = a2 + b2 + 2BC · CA (1.96)
Agora, devemos lembrar que a área do triângulo corresponde à metade da área definida pelo paralelogramo
formado por dois vetores que formam o triângulo, ou seja, relembrando a equação 1.31,
−−→ −−→
|AB × BC|
S△ =
2
de modo que achamos
−−→ −−→
2S△ = |BC × CA|
Multiplicando essa expressão por ela mesma, ficamos com
2 −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
4S△ = |BC × CA|2 = (BC × CA) · (BC × CA) (1.97)
Agora, vamos relembrar a expressão 1.48,
48 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (~a · ~c)(~b · d~ ) − (~a · d~ )(~b · ~c)
que fica, para o nosso caso,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(BC × CA) · (BC × CA) = (BC · BC)(CA · CA) − (BC · CA)(CA · BC)
ou
−−→ −−→ c2 − a2 − b2
BC · CA =
2
Com isso, a expressão 1.99 pode ser escrita como
c2 − a2 − b2 c2 − a2 − b 2
2
4S△ = ab + ab −
2 2
ou
2 2ab + c2 − a2 − b2 2ab − c2 + a2 + b2
4S△ =
2 2
ou ainda,
2 c2 − (a − b)2 (a + b)2 − c2
4S△ =
2 2
que pode ser escrita como
2 a+b+c c−a+b
4S△ = (a + b − c) (c + a − b) (1.100)
2 2
Lembrando agora a definição 1.95,
a+b+c
s=
2
temos
a + b + c = 2s
e
a + b = 2s − c a + c = 2s − b b + c = 2s − a
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 49
50 1. CONCEITOS INICIAIS
1.5.5
K. D. Machado
Equação Vetorial da Reta
Vamos obter uma representação vetorial para uma dada reta no espaço através do uso de vetores. Para
tanto, vamos considerar dois pontos A e B situados no espaço, com coordenadas cartesianas (xA , yA , zA ) e
(xB , yB , zB ), respectivamente, com relação a alguma origem O de um sistema de coordenadas cartesianas,
como mostra a figura 1.28.
−−→ −−→
Na figura vemos os vetores ~rA = OA e ~rB = OB, que são as posições dos pontos A e B com relação
−−→
a O, e a posição ~r = OP de um ponto P qualquer da reta. As posições dos pontos A e B podem ser escritas
como
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂ (1.101)
e
−−→
~rB = OB = xB ı̂ + yB ĵ + zB k̂ (1.102)
−−→
Lembrando que o ponto A é dado por A(xA , yA , zA ), podemos escrever o vetor OA através de
−−→
~rA = OA = A − O (1.103)
ou seja, utilizando as coordenadas de A e O,
−−→
~rA = OA = (xA , yA , zA ) − (0, 0, 0) = (xA , yA , zA )
ou, reescrevendo em termos dos versores da base de coordenadas retangulares,
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂
que é a equação 1.101. De forma análoga, podemos escrever para o vetor ~rB
−−→
~rB = OB = B − O (1.104)
e, para um ponto P qualquer do espaço, de coordenadas (x, y, z), temos que a posição ~r desse ponto é dada
por
−−→
~r = OP = P − O (1.105)
o que resulta em
K. D. Machado −−→
que é a equação 1.7 vista anteriormente. Voltando à figura 1.28, vemos que o vetor AB é um vetor que é
−−→
paralelo à reta que passa por A e B 10 . O vetor AP é também um vetor que é paralelo à reta, e ele é um
−−→
múltiplo do vetor AB, de modo que podemos escrever
−−→ −−→
AP = t AB (1.107)
sendo que o parâmetro t é um número real qualquer. Agora, podemos escrever também, considerando a
figura 1.28,
~r = A + t (B − A) (1.109)
ou como
x − xA y − yA z − zA
t= t= t=
xB − xA yB − yA zB − zA
de modo que
K. D. Machado
x − xA y − yA z − zA
= = (1.114)
xB − xA yB − yA zB − zA
que é outra forma da equação paramétrica da reta. Note que estamos em três dimensões. Se nossa reta estiver
num plano, numa geometria bidimensional, então os pontos A e B terão apenas duas coordenadas, e nesse
caso a equação vetorial da reta 1.112 torna-se
y − yA = m(x − xA ) (1.119)
ou ainda, reescrevendo essa equação como
y = mx − mxA + yA
e definindo o coeficiente linear b através de
b = yA − mxA (1.120)
temos
y = mx + b (1.121)
que é a famosa equação geral da reta em duas dimensões. O coeficiente linear b corresponde ao ponto em que
a reta corta o eixo y (eixo das ordenadas), o que ocorre quando x = 0. O coeficiente angular m corresponde
à tangente do ângulo θ que a reta faz com o sentido positivo do eixo dos x (eixo das abcissas) medido no
sentido anti-horário, conforme ilustra a figura 1.29 abaixo. Vejamos agora alguns exemplos de aplicação das
idéias acima.
Exemplo 1.12. Obtenha a equação vetorial da reta que passa pelos pontos A(1,0,2) e B(2,-1,3).
Inicialmente, vamos determinar um vetor que pertence à reta, dado por
−−→
AB = B − A
ou
−−→
AB = (2, −1, 3) − (1, 0, 2) = (1, −1, 1) (1.122)
Então, usando o ponto A para escrever a equação vetorial, temos, da equação 1.109,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 53
K. D. Machado
~r = (1 + t, −t, 2 + t)
que pode ser escrita em termos da base cartesiana como
~r = (1 + t)ı̂ − t ĵ + (2 + t) k̂ (1.123)
que é a equação vetorial da reta que passa por A e B, como pode ser explicitamente verificado se fizermos
−−→
t = 0 ⇒ ~r = ı̂ + 2 k̂ = (1, 0, 2) = OA
−−→
t = 1 ⇒ ~r = 2ı̂ − ĵ + 3 k̂ = (2, −1, 3) = OB
Exemplo 1.13. Determine a equação de uma reta que seja perpendicular à reta obtida no exemplo anterior,
sendo que a reta a ser obtida deve passar pelo ponto C(4,-2,1) e deve cruzar a reta daquele exemplo.
O primeiro passo consiste em verificar se o ponto dado pertence ou não à reta descrita pelas equações 1.123
e 1.124. Note que xC = 4, o que, pela equação 1.124, faz com que t = 3. Entretanto, isso forneceria yC = −3
e zC = 5, o que não corresponde ao ponto C. Assim, C não pertence à reta obtida anteriormente. Para
obtermos uma reta perpendicular à reta dada, vamos considerar um vetor pertencente a ela como sendo
dado por
~v = (vx , vy , vz ) = vx ı̂ + vy ĵ + vz k̂ (1.125)
Agora, lembramos que um possı́vel vetor paralelo à reta original é dado por 1.122,
−−→
AB = (1, −1, 1)
−−→
Se ~v e AB devem ser perpendiculares, então deve ocorrer
54 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado −−→
~v · AB = 0
ou
~r⊥ = C + t⊥~v
onde t⊥ é o parâmetro associado à reta perpendicular, cujos pontos estão nas posições ~r⊥ . Usando a
equação 1.126, achamos
vy t⊥ − vx t⊥ = 2 − t − (t − 3)
ou
(vy − vx )t⊥ = 5 − 2t
e assim, a última equação em 1.129 pode ser resolvida para achar t, por meio de
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 55
K. D. Machado
t + 1 = 5 − 2t
ou
4
t=
3
o que faz com que o ponto D de intersecção das duas retas seja dado por
5 2 7
vx = vy = − vz = −
3 3 3
Note que a relação 1.126 é satisfeita pelo vetor ~v obtido acima. Por fim, a equação da reta perpendicular
à reta do exemplo anterior, que passa pelo ponto C e ainda intercepta a reta inicial torna-se, fazendo uso
de 1.127,
5 2 7
~r⊥ = 4 + t⊥ ı̂ − 2 + t⊥ ĵ + 1 − t⊥ k̂ (1.130)
3 3 3
que equivale às equações paramétricas
5
x⊥ = 4 + t⊥
3
2
y⊥ = −2 − t⊥
3
z ⊥ = 1 − 7 t⊥
3
Após esses exemplos, podemos passar a outro assunto importante em Geometria.
K. D. Machado
Nesse caso, a questão relevante é que podemos chegar a um ponto qualquer P(x, y, z) do plano partindo
de qualquer um dos pontos dados através de um caminho que seja feito paralelamente a dois vetores que
estejam no plano e que sejam não colineares. Por exemplo, a figura 1.31 ilustra dois possı́veis caminhos feitos
−−→ −−→
a partir do ponto A seguindo por segmentos paralelos aos vetores AB e AC e que terminam no ponto P.
−−→
Na figura, vemos que podemos partir de A, seguir ao longo da reta paralela ao vetor AB até atingir o
−−→
ponto D e, a partir daı́, seguir pela reta paralela ao vetor DP até atingir o ponto P. Note que a reta DP
é paralela à reta AC, e o ponto E pertence à reta AC. Outra possibilidade consiste em partir de A, seguir
pela reta AC até atingir o ponto E e, a partir desse ponto, prosseguir ao longo da reta EP, que é paralela,
−−→
por construção, à reta AB, terminando então em P. Devemos lembrar que o vetor AD é um múltiplo do
−−→ −−→ −−→
vetor AB, e que o vetor AE é um múltiplo do vetor AC. Além disso, temos também
As expressões 1.133–1.135 são formas diferentes da equação vetorial do plano, envolvendo dois parâmetros,
−−→ −−→
t e u, um ponto qualquer do plano (A) e dois vetores quaisquer do plano, não-colineares (AB e AC),
os quais são conhecidos porque conhecemos os pontos B e C. Podemos obter as equações paramétricas se
considerarmos que ~r = (x, y, z), de modo que, da expressão 1.135, temos
x = xA + t(xB − xA ) + u(xC − xA )
y = yA + t(yB − yA ) + u(yC − yA ) (1.136)
z = zA + t(zB − zA ) + u(zC − zA )
Considerando a primeira equação em 1.136, podemos fazer
x − xA = t(xB − xA ) + u(xC − xA )
ou
x − xA xC − xA
t= −u (1.137)
xB − xA xB − xA
Usando 1.137 para escrever t na segunda equação em 1.136, temos
h x−x xC − xA i
A
y = yA + −u (yB − yA ) + u(yC − yA )
xB − xA xB − xA
ou
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) u =
(y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA )
58 1. CONCEITOS INICIAIS
e, finalmente,
K. D. Machado
(y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA )
u= (1.138)
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
o que faz com que 1.137 torne-se
x − xA (y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA ) xC − xA
t= −
xB − xA (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) xB − xA
(x − xA )(yC − yA ) − (y − yA )(xC − xA )
t= (1.139)
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
Agora usamos as equações 1.138 e 1.139 na última equação em 1.136, ou seja,
h (x − x )(y − y ) − (y − y )(x − x ) i
A C A A C A
z = zA + (zB − zA )
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
h (y − y )(x − x ) − (x − x )(y − y ) i
A B A A B A
+ (zC − zA )
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
Temos assim,
(z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) =
(x − xA )(yC − yA ) − (y − yA )(xC − xA ) (zB − zA )
+ (y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA ) (zC − zA )
ou
(z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) =
(x − xA ) (yC − yA )(zB − zA ) − (yB − yA )(zC − zA )
+ (y − yA ) (xB − xA )(zC − zA ) − (xC − xA )(zB − zA )
ou ainda,
(x − xA ) (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA )
+ (y − yA ) (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA )
+ (z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) = 0 (1.140)
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 59
ax + by + cz = d (1.143)
que é conhecida como equação geral do plano, sendo que os coeficientes a, b, c e d são dados através das
equações 1.141 e 1.142, e envolvem três pontos que pertencem ao plano e que sejam não-colineares. Outro
modo de obtê-la consiste em considerar novamente a equação 1.140, que pode ser reescrita de uma forma
mais interessante. Primeiro, considere que
−−→
AB = B − A = (xB , yB , zB ) − (xA , yA , zA ) = (xB − xA , yB − yA , zB − zA ) (1.144)
e que
−−→
AC = C − A = (xC , yC , zC ) − (xA , yA , zA ) = (xC − xA , yC − yA , zC − zA ) (1.145)
Além disso, temos também que, observando a figura 1.31, achamos
−−→
AP = P − A = (x, y, z) − (xA , yA , zA ) = (x − xA , y − yA , z − zA ) (1.146)
−−→ −−→
Assim, o produto vetorial de AB com AC resulta em
ı̂ ĵ k̂
−−→ −−→
AB × AC = xB − xA yB − yA zB − zA
xC − xA yC − yA zC − zA
−−→ −−→
AB × AC = (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA ) ı̂
+ (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA ) ĵ
+ (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) k̂ (1.147)
−−→ −−→ −−→
Agora, efetuando o produto misto AP · AB × AC obtemos, usando as equações 1.146 e 1.147,
60 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
−−→ −−→ −−→
AP · AB × AC = (x − xA )ı̂ + (y − yA ) jvec + (z − zA ) k̂
n
· (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA ) ı̂
+ (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA ) ĵ
o
+ (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) k̂
Exemplo 1.14. Considerando os pontos A(2, 1, −2), B(0, 3, 2) e C(1, −1, 2), obtenha a equação vetorial do
plano que passa por eles.
Primeiramente vamos obter dois vetores que pertencem ao plano. O primeiro vetor é
−−→
AB = B − A = (0, 3, 2) − (2, 1, −2) = (−2, 2, 4) (1.149)
O segundo vetor fica
−−→
AC = C − A = (1, −1, 2) − (2, 1, −2) = (−1, −2, 4) (1.150)
Considerando o ponto B do plano, podemos escrever a equação vetorial do plano que passa pelos três pontos,
dada por 1.133, como
−−→ −−→
~r = B + tAB + uAC
ou, substituindo 1.149 e 1.150,
K. D. Machado
−−→
PQ = Q − P = (x, y, z) − (x0 , y0 , z0 ) = (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) (1.151)
Se ~v é um vetor perpendicular ao plano, então deve ocorrer que o produto escalar de ~v com qualquer vetor
do plano deve se anular. Portanto, devemos ter
−−→
~v · PQ = 0
ou, usando 1.151,
(a, b, c) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0
que fica
ax + by + cz = d
que possui a mesma forma que a equação geral do plano dada por 1.143. Note que isso indica que, dado
um vetor qualquer ~v = (a, b, c), os planos que são perpendiculares a esse vetor terão como equação geral de
plano uma equação similar à obtida acima, ou seja, os coeficientes de x, y e z serão dados pelas respectivas
componentes do vetor ~v nessas direções. O termo independente d dependerá do ponto P por onde o plano
deve passar, e é ele que diferencia um plano perpendicular a ~v de outro. Ele será dado por
−−→
d = ~v · OP
62 1. CONCEITOS INICIAIS
1.5.7
K. D. Machado
Equação Geral da Esfera
Vejamos agora como obter a equação geral de uma esfera de raio R cujo centro se localiza no ponto C
dado pelo vetor ~c = x0 ı̂+y0 ĵ+z0 k̂. Devemos lembrar que a esfera é o local geométrico definido pelo conjunto
de pontos P do espaço tridimensional que estão todos a uma mesma distância R do centro C da esfera. Essa
condição será usada para obter a equação geral da esfera. Para definirmos quantidades relevantes, considere
a figura 1.32.
Na figura, vemos um ponto qualquer P da esfera, cuja posição é dada pelo vetor
−−→
~r = OP = xı̂ + y ĵ + z k̂ = (x, y, z)
A posição relativa de P em relação ao centro C da esfera é dada pelo vetor
−−→
CP = P − C = (x, y, z) − (x0 , y0 , z0 ) = (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = ~r − ~rC (1.152)
O módulo desse vetor corresponde à distância entre C e P, que é o raio da esfera. Assim, devemos ter
−−→
|CP| = R
ou, elevando ao quadrado,
−−→
|CP|2 = R2
O módulo ao quadrado do vetor é dado pelo produto escalar dele com ele mesmo, de modo que
(x − x0 , y − y0 , z − z0 ) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = R2
que fica
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 = R2 (1.154)
A equação 1.153 representa a forma geral da equação vetorial da esfera de raio R e centro C situado em
~c = (x0 , y0 , z0 ), enquanto a expressão 1.154 corresponde à equação geral da esfera. Em duas dimensões, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 63
K. D. Machado
um caso importante para essa equação, que corresponde à equação geral de uma circunferência. Considerando
que a circunferência esteja num plano paralelo ao plano xy, fazemos z = z0 = 0 na expressão acima e obtemos
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = R2 (1.155)
que descreve uma circunferência de raio R e centro C(x0 , y0 ) num plano paralelo ao plano xy. Note que
estamos usando o sistema de coordenadas retangulares. Estas equações mudam se mudarmos o sistema de
coordenadas, conforme veremos depois. Vejamos agora um exemplo.
q
−−→ −−→ −−→
|CA| = CA · CA
q √ √
= (1, 0, 3) · (1, 0, 3)
√
= 1+3
−−→
|CA| = 2
Após estudarmos algumas equações de figuras geométricas importantes, vamos passar a algumas de-
sigualdadas vetoriais de grande aplicação.
Demonstração. Para mostrar a desigualdade de Cauchy dada pela equação 1.156, vamos escrever um vetor
~c tal que
~c = ~a + α~b (1.157)
Agora, vamos considerar o produto escalar de ~c com ele mesmo. O resultado dessa operação é
64 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
~c · ~c = c2
Agora, temos que o módulo de ~c deve ser não-negativo, ou seja,
c2 > 0
Portanto,
~a · ~b
α=− (1.159)
b2
sendo que devemos ter b 6= 0. Nesse caso, a inequação 1.158 torna-se
~a · ~b ~ (~a · ~b )2 2
a2 − 2 ~a · b + b >0
b2 b4
ou
(~a · ~b )2 (~a · ~b )2
a2 − 2 + >0
b2 b2
ou ainda,
a2 b2 − (~a · ~b )2 > 0
de modo que
a2 b2 > (~a · ~b )2
ou, extraindo a raiz quadrada,
K. D. Machado
Exemplo 1.17. Verifique a desigualdade de Cauchy para os vetores ~a = 2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂ e ~b = −3ı̂ − ĵ + 2 k̂.
Vamos calcular primeiro
a2 = 4 + 25 + 9 = 38
Agora, determinamos
~a · ~b = −6 + 5 + 6 = 5
Assim, temos
√ √ √
|~a · ~b| = 5 |~a||~b| = 38 14 = 2 133
Após a desigualdade de Cauchy, podemos passar à desigualdade de Schwarz, que estabelece que, dados
dois vetores ~a e ~b, deve ocorrer
~a · ~b 6 |~a||~b| (1.160)
Vejamos sua demonstração.
Demonstração. Para demonstrar a desigualdade de Schwarz 1.160, vamos considerar o vetor
K. D. Machado
~c · ~c = α2 a2 + β 2 b2 + 2αβ~a · ~b
de modo que
b2 a2 + a2 b2 − 2ab~a · ~b > 0
ou
ab > ~a · ~b
Reescrevendo ligeiramente essa expressão, temos
~a · ~b 6 |~a||~b|
que é a desigualdade de Schwarz 1.160, agora demonstrada. Note que se a ou b forem nulos, então a desi-
gualdade torna-se trivialmente uma igualdade.
√
~a · ~b = 5 |~a||~b| = 2 133
e a desigualdade é satisfeita.
A última desigualdade a ser demonstrada é a desigualdade triangular, que estabelece que, dados dois
vetores ~a e ~b, devemos ter
11 Lembre-se que a = |~a| > 0 e b = |~b| > 0, de modo que o sinal da desigualdade não é alterado ao dividirmos os dois lados da
equação por ab.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 67
K. D. Machado
Demonstração. Começamos a demonstração definindo
~c = ~a + ~b
e calculando
~c · ~c = (~a + ~b ) · (~a + ~b )
ou
~a · ~b 6 |~a||~b|
Portanto, podemos escrever
a+~b|2
|~ a|+|~b|)2
(|~
z }| { z }| {
a2 + b2 + 2~a · ~b 6 a2 + b2 + 2|~a||~b|
ou
Exemplo 1.19. Usando novamente os vetores dados no exemplo 1.17, verifique se eles satisfazem a desi-
gualdade triangular.
Vamos determinar o vetor
~c = ~a + ~b
ou
√ √
|~a| = 38 |~b| = 14
e assim,
68 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado √ √
|~a| + |~b| = 38 + 14 ≈ 9, 9
e então,
Definição 1.2 (Combinação Linear). Considere um conjunto consistindo de n elementos formado pelos
vetores {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn }. O vetor V~ dado por
Exemplo 1.20. Dados {~v1 , ~v2 , ~v3 }, onde ~v1 = ı̂ + 2 k̂, ~v2 = 2 ĵ e ~v3 = 4 ĵ − k̂, e os coeficientes a1 = 1,
a2 = −2 e a3 = 2, obtenha o vetor V~ que é combinação linear dos vetores dados com estes coeficientes.
Precisamos calcular o vetor V~ tal que
V~ = ı̂ + 2 k̂ − 4 ĵ + 8 ĵ − 2k̂
ou ainda,
V~ = ı̂ + 4 ĵ
é uma combinação linear dos vetores dados com os coeficientes definidos acima.
Após definirmos uma combinação linear, podemos falar sobre dependência e independência linear.
Definição 1.3 (Dependência Linear ou LD). Considere um conjunto de vetores dado por {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn },
que geram um vetor V~ por meio de uma combinação linear com coeficientes a1 , a2 , . . . , an , ou seja,
K. D. Machado
Exemplo 1.21. Verifique se os vetores ~v1 = ı̂, ~v2 = ĵ e ~v3 = 2ı̂ − 3 ĵ são LD.
Precisamos verificar se a equação 1.166,
a1 ı̂ + a2 ĵ + a3 (2ı̂ − 3 ĵ) = 0
o que é satisfeito se
a1 = −2a3 a2 = 3a3
Portanto, para qualquer conjunto de coeficientes (−2a3 , 3a3 , a3 ), a combinação linear resulta no vetor nulo.
O resultado (0, 0, 0) é possı́vel, mas também (−2, 3, 1), por exemplo, de modo que os vetores são linearmente
dependentes, ou LD.
Definição 1.4 (Independência Linear ou LI). Considere um conjunto de vetores dado por {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn },
que geram um vetor V~ por meio de uma combinação linear com coeficientes a1 , a2 , . . . , an , ou seja,
K. D. Machado
a1 = 0 a3 = 0 a2 = 0
Como todos os coeficientes devem ser necessariamente nulos para termos uma combinação linear nula, os
vetores são linearmente independentes, ou LI.
~j = δij
~vi · V (1.171)
Agora, considere as equações
~1 = 0
~v2 · V ~1 = 0
~v3 · V
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 71
K. D. Machado
Essas duas expressões indicam que V ~1 é ortogonal tanto a ~v2 como a ~v3 , de modo que ele deve ser paralelo
ao vetor que resulta de ~v2 × ~v3 . Assim, considerando que ele possa ser um múltiplo desse vetor, temos
~1 = t ~v2 × ~v3
V
onde t é um coeficiente. Com isso, a relação
~v1 · V~1 = 1
~1 = ~v2 × ~v3
V (1.172)
~v1 · ~v2 × ~v3
Agora, considerando 1.171, podemos escrever
~2 = 0
~v1 · V ~2 = 0
~v3 · V
~2 é ortogonal ao plano formado por ~v1 e ~v3 , o que faz com que possamos escrever
ou seja, V
~v2 · V~2 = 1
ou
~2 = ~v3 × ~v1
V (1.173)
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 , vemos que ele satisfaz as relações
Por fim, para o vetor V
72 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
~3 = 0
~v1 · V ~3 = 0
~v2 · V
de modo que ele é ortogonal ao plano formado por ~v1 e ~v2 . Portanto,
~3 = s ~v1 × ~v2
V
onde s é um outro coeficiente, obtido da relação
~3 = ~v1 × ~v2
V (1.174)
~v1 · ~v2 × ~v3
Portanto, a base recı́proca de uma base {~v1 , ~v2 , ~v3 } é dada pelas equações 1.172–1.174, isto é,
~1 = ~v2 × ~v3
V (1.175a)
~v1 · ~v2 × ~v3
~2 = ~v3 × ~v1
V (1.175b)
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 = ~v1 × ~v2
V (1.175c)
~v1 · ~v2 × ~v3
É interessante notar que a idéia de base recı́proca é muito utilizado em Fı́sica do Estado Sólido, especifi-
camente em Cristalografia. Um caso particular importante ocorre quando a base é a base de coordenadas
retangulares, ou seja, {ı̂, ĵ, k̂}. Nesse caso, temos
ı̂ · ĵ × k̂ = ı̂ ·ı̂ = 1
e as equações 1.175 tornam-se
~1 = ĵ × k̂
V
ı̂ · ĵ × k̂
~2 = k̂ × ı̂
V
ı̂ · ĵ × k̂
~3 = ı̂ × ĵ
V
ı̂ · ĵ × k̂
ou seja,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 73
K. D. Machado
~1 = ı̂
V
~2 = ĵ × ı̂
V
~3 = k̂
V
Conseqüentemente, a base recı́proca da base retangular é ela própria. Note que a base recı́proca da base
~2 × V
V ~3
Análise Vetorial
~v1 = (1.176a)
~1 · V
V ~2 × V~3
~3 × V
V ~1
~v2 = (1.176b)
~1 · ~v2 × V~3
V
~1 × V
V ~2
~v3 = (1.176c)
~1 · V
V ~3
~2 × V
~2 × V~3 ) = 1
(~v2 × ~v3 ) · (V
Portanto, a expressão 1.177,
1
1=
~1 · V
(~v1 · ~v2 × ~v3 )(V ~3 )
~2 × V
ou
~1 · V
(~v1 · ~v2 × ~v3 )(V ~3 ) = 1
~2 × V
de modo que
~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V (1.178)
~v1 · ~v2 × ~v3
ou seja, o volume do paralelepı́pedo definido pelos vetores da base recı́proca é o inverso (ou recı́proco) do
volume do paralelepı́pedo definido pelos vetores da base inicial, o que também justifica o nome de base
recı́proca. Considere agora que escrevemos um vetor qualquer V~ na base original, que é uma base qualquer,
não necessariamente ortogonal, mediante
K. D. Machado
onde os ai , i = 1, . . . , 3 são coeficientes apropriados. Com o uso da base recı́proca podemos determinar estes
~1 da base recı́proca, ou seja,
coeficientes. Considere o produto escalar entre essa equação e o vetor V
ou
1 0 0
z }| { z }| { z }| {
ou ainda,
Análise Vetorial
V~ · V
~ 1 = a1
Efetuando o produto escalar da equação 1.179 sucessivamente com V~2 e V~3 , é imediato mostrar que
ai = V~ · V
~i (1.180)
que é a expressão que fornece os coeficientes ai da combinação linear 1.179. De forma similar, podemos
escrever o vetor V~ em termos da base recı́proca, ou seja,
V~ = A1 V ~3
~1 + A2 V~2 + A3 V (1.181)
onde Ai , i = 1 . . . , 3 são coeficientes apropriados à base recı́proca. Nesse caso, efetuando o produto escalar
dessa expressão com ~v1 , temos
ou
1 0 0
z }| { z }| { z }| {
~ ~ ~ ~3 · ~v1
V · ~v1 = A1 V1 · ~v1 +A2 V2 · ~v1 +A3 V
ou ainda,
V~ · ~v1 = A1
Procedendo do mesmo modo para os outros coeficientes, temos
Ai = V~ · ~vi (1.182)
É importante notar que, se a base recı́proca for idêntica à original, como ocorre com a base retangular, então
os coeficientes ai e Ai serão idênticos. Considere agora que queremos efetuar o produto escalar entre dois
vetores V~ e U~ . Ao estudarmos o produto escalar, na seção 1.2, vimos que um modo simples de representá-lo
consiste em utilizar matrizes, na forma dada pela equação 1.18,
bx
~a · ~b = ax ay az · by = ax bx + ay by + az bz
bz
Note que o primeiro vetor aparece transposto. O significado disso é que o primeiro vetor (~a) deve ser escrito
em termos da base recı́proca à base em que o segundo vetor (~b) está expresso. Portanto, se quisermos obter
o produto escalar entre os vetores V~ e U~ , ou seja, V~ · U~ , devemos escrever um deles na base original e o
outro na base recı́proca. Como o produto escalar é comutativo, podemos optar por escrever qualquer um dos
dois numa das bases. Por exemplo, considere que
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 75
K. D. Machado
V~ = A1 V~1 + A2 V~2 + A3 V~3 (1.183a)
U~ = b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 (1.183b)
onde os coeficientes Ai e bi são obtidos por meio das expressões 1.180 e 1.182, podemos obter o produto
escalar V~ · U~ mediante
ou
Análise Vetorial
V~ · U~ = A1 b1 V ~1 · ~v3 + A2 b1 V
~1 · ~v1 + A1 b2 V~1 · ~v2 + A1 b3 V ~2 · ~v2
~2 · ~v1 + A2 b2 V
+ A2 b3 V ~3 · ~v1 + A3 b2 V
~2 · ~v3 + A3 b1 V ~3 · ~v3
~3 · ~v2 + A3 b3 V
V~ · U~ = A1 b1 + A2 b2 + A3 b3 (1.184)
que é similar à forma dada em 1.16, válida para coordenadas retangulares. Podemos também considerar que
os vetores são escritos como
e assim,
ou, desenvolvendo os produtos, já usando a relação 1.171 para efetuar as devidas simplificações, obtemos
U~ · V~ = a1 B1 + a2 B2 + a3 B3 (1.186)
Os produtos escalares dados pelas expressões 1.184 ou 1.186, apesar de envolverem coeficientes diferentes,
resultarão no mesmo valor. Quando a base recı́proca é idêntica à original, como ocorre com a base de
coordenadas retangulares, os coeficientes ai e Ai são iguais, bem como bi e Bi , e não é preciso fazer distinção
entre eles. Com relação ao produto vetorial entre os vetores, temos, escrevendo-os na mesma base 12 ,
12 Note que, em princı́pio, poderı́amos ter calculado os produtos escalares entre V~ e U~ usando as formas dadas pelas
equações 1.187. Nesse caso, terı́amos
V~ · U~ = (a1 ~v1 + a2 ~
v2 + a3 ~
v3 ) · (b1 ~
v1 + b2 ~
v2 + b3 ~
v3 )
ou, desenvolvendo,
K. D. Machado
V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.187a)
U~ = b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 (1.187b)
de modo que
V~ × U~ = a1 b1~v1 × ~v1 + a1 b2~v1 × ~v2 + a1 b3~v1 × ~v3 + a2 b1~v2 × ~v1 + a2 b2~v2 × ~v2
+ a2 b3~v2 × ~v3 + a3 b1~v3 × ~v1 + a3 b2~v3 × ~v2 + a3 b3~v3 × ~v3
V~ × U~ = (a1 b2 − a2 b1 )~v1 × ~v2 + (a1 b3 − a3 b1 )~v1 × ~v3 + (a2 b3 − a3 b2 )~v2 × ~v3 (1.188)
Agora, relembramos as equações 1.175, que definem uma base recı́proca em termos da base original,
~1 = ~v2 × ~v3
V
~v1 · ~v2 × ~v3
~2 = ~v3 × ~v1
V
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 = ~v1 × ~v2
V
~v1 · ~v2 × ~v3
Portanto, a expressão 1.188 torna-se
~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V
~v1 · ~v2 × ~v3
obtemos, efetuando algumas manipulações,
~1
V
V~ × U~ = (a2 b3 − a3 b2 )
~1 · V~2 × V~3
V
V~2 V~3
+ (a3 b1 − a1 b3 ) + (a1 b2 − a2 b1 )
~1 · V
V ~3
~2 × V ~1 · V
V ~3
~2 × V
K. D. Machado
V~ ~2
V ~3
V
1 1
~ ~
V ×U = a a2 a3 (1.190)
~1 · V
V ~3 1
~2 × V
b1 b2 b3
Note que as formas dadas pelas equações 1.189 e 1.190 acima são similares às dadas pelas expressões 1.28
e 1.29, válidas para coordenadas retangulares. De fato, lembrando que a base recı́proca da base retangular
é ela mesma, e ela está normalizada, vemos que as expressões 1.189 e 1.190 recaem nas equações 1.28 e 1.29
quando a base {ı̂, ĵ, k̂} é utilizada. Outro fato a comentar é que, nas expressões 1.189 e 1.190, os vetores V~ e
Exemplo 1.23. Uma base é definida pelos vetores ~v1 = ĵ, ~v2 = ı̂ + ĵ e ~v3 = ı̂ + k̂. Considerando essa base,
pede-se sua base recı́proca, os coeficientes do vetor V~ = 2ı̂ − 3 ĵ + k̂ nas duas bases e os produtos escalar e
vetorial entre os vetores V~ e U~ = ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂, feitos nestas bases.
O primeiro passo consiste em determinar a base recı́proca de
Para isso, usamos as relações 1.175. Inicialmente vamos calcular, usando a expressão 1.35,
0 1 0
~v1 · ~v2 × ~v3 = 1 1 0 = −1 (1.194)
1 0 1
78 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Agora, determinamos, mediante 1.29,
ı̂ ĵ k̂
~v2 ~v3 = 1
× 1 0 = ı̂ − k̂ − ĵ
1 0 1
ou
~1 = ı̂ − ĵ − k̂
V
−1
~2 = −ı̂ + k̂
V
−1
~3 = −k̂
V
−1
ou
~1 = −ı̂ + ĵ + k̂
V (1.198a)
~2 = ı̂ − k̂
V (1.198b)
~3 = k̂
V (1.198c)
~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V
~v1 · ~v2 × ~v3
Aqui é interessante ressaltar um aspecto importante. Na seção 1.3, definimos a regra da mão direita para produtos vetoriais,
a qual fornece a direção e sentido do produto vetorial entre dois vetores no espaço. Essa regra vale apenas para sistemas dextrógiros.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 79
K. D. Machado
Um sistema dextrógiro, definido por uma base {~
v1 , ~ v3 }, é aquele em que ocorre ~
v2 , ~ v2 × ~
v1 · ~ v3 > 0, ou seja, o produto misto dos três
vetores da base é positivo quando os vetores que formam o produto misto são considerados na mesma ordem em que aparecem na
definição da base, e corresponde ao volume do paralelepı́pedo descrito pelos vetores da base. Quando o produto misto é negativo, ou
seja, ~ v2 × ~
v1 · ~ v3 < 0, temos uma base levógira, e um sistema de coordenadas levógiro, no qual o produto vetorial segue uma regra
da mão esquerda, que é idêntica à regra da mão direita, só que se usam os dedos da outra mão. Em princı́pio, a menos que seja
explicitamente dito, todas as bases usadas em sistemas fı́sicos são bases dextrógiras.
V~ = 2ı̂ − 3 ĵ + k̂
Análise Vetorial
ai = V~ · V
~i
a1 = V~ · V
~1 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (−ı̂ + ĵ + k̂) = −2 − 3 + 1 = −4
a3 = V~ · V
~3 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (k̂) = 1
2ı̂ − 3 ĵ + k̂ = a1 ĵ + a2 ı̂ + a2 ĵ + a3 ı̂ + a3 k̂
que fica
a3 = 1 a2 = 1 a1 = −4
em acordo com o obtido anteriormente. Os coeficientes na base recı́proca são obtidos de forma semelhante.
Primeiro escrevemos V~ por intermédio de
80 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
V~ = A1 V
~1 + A2 V~2 + A3 V
~3 (1.202)
Em seguida, usamos a relação 1.182,
Ai = V~ · ~vi
de modo que achamos
V~ = −3V
~1 − V
~2 + 3V
~3 (1.203)
Após termos obtido o vetor V~ em termos das duas bases, o próximo passo é escrever o vetor U~ , dado por
U~ = ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂
em termos das duas bases. Em relação à base original, temos
b1 = U~ · V
~1 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (−ı̂ + ĵ + k̂) = −1 − 2 + 5 = 2
O coeficiente b2 fica
b2 = U~ · V
~2 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (ı̂ − k̂) = 1 − 5 = −4
e o coeficiente b3 torna-se
b3 = U~ · V
~3 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (k̂) = 5 = 5
U~ = B1 V ~3
~1 + B2 V~2 + B3 V (1.206)
Em seguida, usamos a relação 1.182, e achamos, para B1 , o valor
K. D. Machado
Portanto, a expressão 1.206 torna-se
U~ = −2V
~1 − V
~2 + 6V
~3 (1.207)
que expressa o vetor U~ em termos da base recı́proca. Podemos efetuar agora o produto escalar V~ · U~ .
Considerando V~ na base original, dado por 1.201, e U~ na base recı́proca, dado por 1.207, temos
V~ · U~ = 8 − 1 + 6 = 13
Análise Vetorial
Considerando agora V~ na base recı́proca, dado por 1.203, e U~ na base original, dado por 1.205, obtemos
V~ · U~ = (−3V
~1 − V
~2 + 3V
~3 ) · (2~v1 − 4~v2 + 5~v3 )
ou
V~ · U~ = −6 + 4 + 15 = 13
Note que, conforme dissemos anteriormente, o resultado final para o produto escalar independe de qual vetor
está escrito em qual base. Vejamos agora o produto vetorial, que é dado pela expressão 1.190,
V ~2 V
~1 V ~3
1
V~ × U~ = a1 a2 a3
~1 · V
~3
~2 × V
V b1 b2 b3
Portanto, considerando as expressões 1.199, 1.201 e 1.205, temos
V~1 V ~2 V ~3
1
V~ × U~ = −4 1 1 = −(5V~1 + 2V~2 + 16V
~3 − 2V
~3 + 4V
~1 + 20V
~2 )
−1
2 −4 5
ou
V~ × U~ = −9V
~1 − 22V
~2 − 14V
~3
Podemos expressar esse resultado em termos da base retangular se usarmos as equações 1.198, de modo que
V~ × U~ = −13ı̂ − 9 ĵ − k̂ (1.208)
Note que também podemos efetuar o produto vetorial considerando que V~ e U~ estejam expressos na base
~i }. Nesse caso, a expressão 1.190 fica
{V
~v1 ~v2 ~v3
1
V~ × U~ = A1 A2 A3
~v1 · ~v2 × ~v3
B1 B2 B3
ou, usando 1.203 e 1.207,
~v1 ~v2 ~v3
1
V~ × U~ = −3 −1 3 = −(−6~v1 − 6~v2 + 3~v3 − 2~v3 + 18~v2 + 3~v1 )
−1
−2 −1 6
82 1. CONCEITOS INICIAIS
ou ainda,
K. D. Machado
V~ × U~ = 3~v1 − 12~v2 − ~v3
Substituindo os valores dos ~vi , dados pela equação 1.193, temos
Análise Vetorial
Exemplo 1.24. Uma rede cristalina bastante comum e importante é dada pela rede cúbica de face centrada
(CFC), que é formada por células cúbicas contendo elementos nos seus vértices e também nos centros das
faces, como mostra a figura 1.33. Alguns exemplos de cristais que se organizam nesse sistema são os formados
por cristais de nı́quel (Ni), de prata (Ag), de chumbo (Pb), de ouro (Au), etc. A célula da rece CFC é descrita
por vetores de base dados por
a
~a1 = (ĵ + k̂) (1.209a)
2
a
~a2 = (k̂ + ı̂) (1.209b)
2
a
~a3 = (ı̂ + ĵ) (1.209c)
2
onde a é o parâmetro de rede, que corresponde à aresta do cubo, como mostra a figura 1.34. Determine os
vetores da base recı́proca à base CFC.
Para determinar a base recı́proca da rede CFC, vamos precisar das equações 1.175. Inicialmente vamos
calcular
0 a a
2 2
a a a3 a3 a3
~a1 · ~a2 × ~a3 = 0 = + = (1.210)
2 2 8 8 4
a a
0
2 2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 83
K. D. Machado
onde usamos as equações 1.209. Agora, vamos calcular os vetores da base recı́proca. Iniciamos com a equa-
ção 1.175a,
que fica
2
~b1 = 4 a (ĵ − ı̂ + k̂)
a3 4
ou
que fica
2
~b2 = 4 a (k̂ − ĵ + ı̂)
3
a 4
ou
K. D. Machado
~b3 = 13 a (ĵ + k̂) × a (k̂ + ı̂)
a 2 2
4
ou ainda,
2
~b3 = 4 a (ı̂ − k̂ + ĵ)
3
a 4
~b1 = 2 ĵ + k̂ − ı̂ (1.214a)
a 2
~b2 = 2 ı̂ + k̂ − ĵ (1.214b)
a 2
~b3 = 2 ı̂ + ĵ − k̂
(1.214c)
a 2
onde apenas reescrevemos os vetores de uma forma que será mais interessante posteriormente. O exercı́cio ??
trata de outra rede cúbica relevante, a rede cúbica de corpo centrado (CCC).
I Força Gravitacional
A primeira forma de força que vamos considerar consiste na força gravitacional produzida por uma
partı́cula pontual 1, de massa m1 , sobre uma partı́cula pontual 2, de massa m2 , situada a uma distância d
de m1 . A figura 1.35 ilustra as grandezas relevantes.
K. D. Machado
A força gravitacional entre as duas partı́culas é atrativa, e orienta-se de tal modo que ela é paralela à reta
que une as duas partı́culas. O módulo da força gravitacional é dado por
Gm1 m2
F= (1.215)
d2
onde G é a constante de gravitação universal, que vale, no SI,
Da figura, vemos que a distância entre as partı́culas é dada pelo módulo do vetor ~r12 , ou seja,
d = |~r12 | = r12
A força produzida pela partı́cula 1 sobre a 2 é paralela e no sentido oposto ao de ~r12 . Podemos criar um
versor r̂12 mediante a equação 1.13, ou seja,
Assim, temos que F ~ k r̂12 . Com essa informação, e com o módulo da força sendo dado por 1.215, podemos
escrever a força gravitacional produzida pela partı́cula 1 sobre a partı́cula 2 por meio de
~2→1 = −F
F ~ 1→2
K. D. Machado
1. Determine a força gravitacional que um objeto exerce sobre o outro. Todas as unidades são do SI.
2. Supondo que o objeto de massa 3m seja afastado para uma distância 3d, quais os novos valores para
as forças gravitacionais?
Para responder o item 1, vamos considerar como objeto 1 aquele que tem massa m, e o objeto 2 é o
que tem massa 3m. Vamos inicialmente calcular a força exercida por 1 sobre 2, mediante 1.218, isto é, como
r12 = d e r̂12 = ı̂,
~1→2 = − Gm(3m) ı̂
F
d2
ou
2
~1→2 = − 3Gm ı̂
F (1.220)
d2
A força de 2 sobre 1 fica, por sua vez, usando r̂21 = −ı̂,
Agora, considere que o objeto 2 seja transferido para uma distância 3d do objeto 1. Nesse caso, a força
de 1 sobre 2 fica
~1→2 = − Gm(3m) ı̂
F
(3d)2
ou
2
~1→2 = − Gm ı̂
F (1.222)
3d2
enquanto a força de 2 sobre 1 fica
K. D. Machado 2
~2→1 = Gm ı̂
F (1.223)
3d2
Em termos dos módulos das forças, a razão entre a situação final e a situação final é
Gm2
Ffinal 3d2
= 3Gm2
Finicial
Ffinal Gm2 d2 1
Análise Vetorial
= =
Finicial 3d2 3Gm2 9
onde usamos as equações 1.220 e 1.222. Vejamos outro exemplo interessante.
Exemplo 1.26. Um objeto esférico de massa m1 = 2 kg está situado em A(1, 1, 1). Um segundo objeto
esférico, de massa m2 = 4 kg, está situado em B(2, −2, 3). Determine a força gravitacional exercida por um
sobre o outro. Todas as unidades são do SI.
Para determinar a força gravitacional, inicialmente vamos precisar determinar posição relativa entre
eles, para, em seguida, obter a distância de separação. Precisamos usar a equação 1.11 para determinar a
posição relativa, ou seja,
−−→
~rAB = AB = (2 − 1)ı̂ + (−2 − 1) ĵ + (3 − 1) k̂
ou
~rAB = ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂
de modo que
√ √
rAB = |~rAB | = 1 + 9 + 4 = 14 m
Assim, o versor r̂AB fica
~rAB ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂
r̂AB = = √
rAb 14
Agora, utilizando a equação 1.218 para determinar a força da esfera 1 sobre a 2, achamos
88 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Exemplo 1.27. Determine a força gravitacional exercida pela Terra sobre a Lua quando a Lua está no
perigeu e no apogeu, sabendo que a massa da Terra vale MT = 5,97 × 1024 kg, a massa da Lua é de
ML = 0,073 × 1024 kg, a distância entre elas no perigeu vale dp = 0,363 × 106 km e a distância no apogeu é
de da = 0,406 × 106 km 13 .
Vamos iniciar determinando a força gravitacional para o perigeu, que é a posição em que Terra e Lua
estão mais próximas, e que fornece, portanto, o maior valor para a força. Nesse caso, usando a equações 1.215
e 1.216 para determinar o módulo da força, temos, lembrando de usar as grandezas no SI,
p
FT→L = 2,206 × 1020 N (1.224)
Note que a Lua exerce uma força de mesma intensidade sobre a Terra. Vetorialmente poderı́amos escrever
~p
F 20 p
T→L = −2,206 × 10 r̂T-L (1.225)
onde r̂pT-L é um versor orientado da Terra para a Lua, no perigeu. Para o apogeu, situação na qual é máxima
a distância entre Terra e Lua, temos
~a
F 20 a
T→L = −1,763 × 10 r̂T-L (1.227)
onde r̂aT-L é um versor orientado da Terra para a Lua, no apogeu. Note que há uma diminuição em 20% na
força gravitacional exercida pela Terra sobre a Lua entre os dois extremos de aproximação. De forma similar,
há a mesma diminuição na força exercida pela Lua sobre a Terra.
~ asso-
Ligado ao conceito de força gravitacional, podemos introduzir a idéia de campo gravitacional G,
ciado a cada massa e definido operacionalmente mediante
~M→m
F
G~ = lim (1.228)
m→0 m
onde F ~M→m é a força gravitacional produzida por um objeto de massa M (chamado de massa geradora
ou massa-fonte) sobre outro objeto, de massa m (chamado de massa de prova ou massa-teste). Na defini-
ção 1.228, ao dividir a força pela massa m, obtemos uma grandeza que é independente de m, estando
associada apenas à massa geradora M . Utilizando a expressão 1.218, podemos obter o campo gravitacional
produzido por uma massa pontual M mediante
− GMm
r2
r̂Mm
G~ = lim Mm
m→0 m
13 Estes dados foram obtidos da NASA (National Aeronautics and Space Administration), e estão disponı́veis em
http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/factsheet/
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 89
que fica
K. D. Machado
GM
G~ = − 2 r̂ (1.229)
r
onde r é a distância entre o objeto de massa M e o ponto do espaço em que queremos o campo, e r̂ é o versor
posição-relativa, que parte de M em direção ao ponto onde queremos o campo. Note que, se um objeto de
massa m for colocado num campo gravitacional, surge uma força gravitacional sobre ele, dada por
r =R+d
onde d é a distância do ponto até a superfı́cie do astro e R é o raio do mesmo. Como R ≫ d, podemos
aproximar
r =R+d≈R (1.231)
e a equação 1.229 pode ser aproximada por
GM
G~ = − 2 n̂ (1.232)
R
onde n̂ é um versor normal à superfı́cie do astro, para fora do mesmo. Como G, R e M são fixos, a fração que
aparece em 1.232 tem um valor numérico caracterı́stico para cada astro. No caso da Terra (suposta sendo
uma esfera perfeita), temos, no SI,
GMT
gT = ≈ 9,80 m/s2 (1.233)
RT2
e então, podemos escrever
~ = m~g
F (1.235)
Note que essa expressão só vale se a condição 1.231 for válida. Podemos agora passar a alguns exemplos
interessantes. A tabela 1.2 será útil nesses exemplos.
Exemplo 1.28. Determine o campo gravitacional produzido pel Sol, cuja massa vale MS = 1,989 × 1030 kg,
sobre a Terra, quando a Terra está no periélio.
Para determinar o campo gravitacional pedido, vamos utilizar a equação 1.229, ou seja,
GMS
G~S = − 2 r̂pS-T
rS-T
onde r̂S-T é um versor orientado do Sol em direção à Terra, no periélio. Considerando os dados da tabela 1.2,
temos
K. D. Machado
Planeta Massa
(×1024 kg)
Periélio
(×106 km)
Afélio
(×106 km)
Dist. média ao Sol
(×106 km)
Mercúrio 0,330 46,0 69,8 57,9
Vênus 4,87 107,5 108,9 108,2
Terra 5,97 147,1 152,1 149,6
Marte 0,642 206,6 249,2 227,9
Júpiter 1899 740,5 816,6 778,6
Saturno 568 1352,6 1514,5 1433,5
ou
gT ≈ 9,80 m/s2
ou seja, o campo gravitacional da Terra sobre este livro, sobre o leitor, sobre quaisquer objetos próximos a
ela, é cerca de 1600 vezes mais intenso que o campo gravitacional produzido pelo Sol sobre esses objetos. É
importante ter em mente esses valores e ordens de grandeza. Vejamos mais um exemplo relevante.
Exemplo 1.29. Dois planetas do sistema solar tem a máxima aproximação entre si quando ambos estão
(aproximadamente) em seus periélios. Supondo essa condição, determine os campos gravitacionais produzidos
pelos planetas dados na tabela 1.2 e pela Lua (no perigeu) sobre a Terra e, consequentemente, sobre objetos
sobre ela. Compare os valores obtidos com o campo gravitacional produzido pela própria Terra sobre objetos
próximos a ela.
Vamos iniciar os cálculos determinando, a partir dos dados na tabela 1.2, as distâncias entre a Terra
e os outros objetos. A distância Terra-Mercúrio fica
K. D. Machado
Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 4,73 × 107
GV 2,07 × 10−7
Em seguida, vamos calcular o campo produzido por Marte, mediante
GMMa p
G~Ma = − 2 r̂
rMa-T Ma-T
K. D. Machado
G~S = −2,61 × 10−8 r̂pS-T
e, em módulo,
GMU p
G~U = − 2 r̂
rU-T U-T
ou
−11 24
6,67 × 10 × 86, 8 × 10
G~U = − r̂pU-T
(2594,2 × 109 )2
e então,
ou
K. D. Machado
−11 24
6,67 × 10 × 0,0125 × 10
G~P = − r̂pP-T
(4287,9 × 109 )2
ou ainda,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 95
II Força Elétrica
K. D. Machado
A próxima força que podemos considerar é a força eletrostática que surge entre dois objetos pontuais
com cargas Q1 e Q2 , considerados estáticos ou, pelo menos, que se movam com velocidades muito pequenas
quando comparadas com a velocidade da luz c, separadas por uma distância r. Experimentalmente se observa
que a força eletrostática F~1→2 produzida por Q1 sobre Q2 é dada, no SI, por
1 Q1 Q2
F~1→2 = 2 r̂12 (1.247)
~r2 − ~r1
R̂ = (1.250)
|~r2 − ~r1 |
obtemos
1 Q1 Q2
F~1→2 = R̂ (1.251)
4πε R2
É interessante notar que a força eletrostática dada por 1.247 guarda semelhança matemática com a força
gravitacional entre duas massas pontuais dada por 1.218,
Exemplo 1.30. Um próton tem carga Qp = e, onde e = 1,6 × 10−19 C, e massa mp = 1,67 × 10−27 kg. Um
elétron tem uma carga Qe = −e e massa me = 9,11 × 10−31 kg. Determine a força elétrostática e a força
gravitacional produzidas pelo próton sobre o elétron quando eles estão separados por uma distância de 1 Å,
e compare os módulos das duas forças.
Iniciamos determinando a força gravitacional produzida pelo próton sobre o elétron, mediante 1.218,
1 Q1 Q2
F~2→1 = 2
~1→2
(−r̂12 ) = −F (1.248)
4πǫ r12
96 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
onde r̂pe é um versor orientado do próton para o elétron. Incluindo os valores numéricos, temos
−11
~p→e = − 6,67 × 10 × 1,67 × 10−27 × 9,11 × 10−31
F r̂pe
(1 × 10−10 )2
ou
Exemplo 1.31. Duas cargas pontuais estão colocadas nas posições A(0, 0) e B(L, 0). As cargas são iguais,
e valem ambas Q. Uma terceira carga q, de mesmo sinal que Q, é colocada na posição C( L2 , y), conforme
a figura 1.38. Todas estão estáticas. Determine a força elétrica resultante sobre a carga q como função de
y. Para qual valor de y a força é mı́nima? Para qual valor é máximo? Ache os valores mı́nimo (Fmin ) e
máximo (Fmax ) para o módulo da força elétrica resultante.
Para poder determinar as forças necessárias, vamos precisar definir alguns termos, como mostra a
figura 1.39.
Vamos iniciar determinando a força F~13 que a carga na origem exerce sobre a carga q. Para isso,
precisamos de
L L
~r13 = ~r3 − ~r1 = ( , y) − (0, 0) = ( , y)
2 2
ou seja,
L
~r13 = ı̂ + y ĵ (1.252)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 97
K. D. Machado
Lı̂ + 2y ĵ
r̂13 = p (1.254)
L2 + 4y 2
Agora, podemos utilizar a expressão 1.247 para a força elétrica,
1 Q1 Q2
F~1→2 = 2 r̂12
4πǫ r12
e, usando 1.253 e 1.254,
98 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado 1 qQ
F~13 = 2 r̂13
4πǫ0 r13
ou
1 qQ Lı̂ + 2y ĵ
F~13 = L2 +4y 2
p
4πǫ0 L2 + 4y 2
4
1 4qQ
F~13 = (Lı̂ + 2y ĵ) (1.255)
Análise Vetorial
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32
Para determinar a outra força, devemos determinar
L L
~r23 = ~r3 − ~r2 = ( , y) − (L, 0) = (− , y)
2 2
ou seja,
L
~r23 = − ı̂ + y ĵ (1.256)
2
Precisamos do módulo, que é
r p
L2 L2 + 4y 2
r23 = + y2 = (1.257)
4 2
e também do versor correspondente, ou seja,
~r23 − L ı̂ + y ĵ
r̂23 = = √2 2 2
r23 L +4y
2
ou
−Lı̂ + 2y ĵ
r̂23 = p (1.258)
L2 + 4y 2
Utilizando a expressão 1.247 para a força elétrica e também 1.257 e 1.258, achamos
1 qQ
F~23 = 2 r̂23
4πǫ0 r23
ou
1 qQ −Lı̂ + 2y ĵ
F~23 = L2 +4y 2
p
4πǫ0 L2 + 4y 2
4
ou ainda,
1 4qQ
F~23 = (−Lı̂ + 2y ĵ) (1.259)
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 23
A força resultante é dada pela soma das equações 1.255 e 1.259, ou seja,
F~ = F~13 + F~23
que fica
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 99
K. D. Machado
1 4qQ 1 4qQ
F~ = (Lı̂ + 2y ĵ) + (−Lı̂ + 2y ĵ)
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32 4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32
ou
4qQ y
F~ = ĵ (1.260)
πǫ0 (L + 4y 2 ) 23
2
12y 2
1− =0
4y 2 + L2
ou ainda,
L
ymax = ± √
2 2
e o valor Fmax é
√L
4qQ 2 2 4qQ
Fmax = L 2 3 = √
πǫ0 (4 8 + L ) 2
2 3 3πǫ0 L2
De forma similar ao que ocorre no caso gravitacional, a força eletrostática F~ é produzida por um
campo elétrico (eletrostático) que está associado a cada carga. Assim, o campo elétrico de um objeto com
carga Q atua sobre um objeto com carga q produzindo a força F~Q→q , e o campo elétrico produzido por q
gera a força F~q→Q ao agir sobre Q. Operacionalmente define-se o campo elétrico produzido pela carga Q
mediante
F~Q→q
E~Q = lim (1.261)
q→0 q
onde supõe-se que q é uma carga de prova positiva. Adaptando a equação 1.247, obtemos
1 1 Qq
E~Q = lim r̂Qq
q→0 q 4πǫ r2
onde r̂Qq é um versor que aponta do objeto de carga Q para a posição onde situa-se a carga-teste q. Efetuando
o limite, temos
1 Q
E~Q = r̂Qq
4πǫ r2
ou, eliminando o ı́ndice Q por ser redundante,
1 Q
E~ = r̂ (1.262)
4πǫ r2
que expressa o campo elétrico de uma carga pontual produzido em sua vizinhança. Vejamos um exemplo de
aplicação.
100 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Exemplo 1.32. Determine o campo elétrico produzido por uma carga pontual Q = 6,4 µC situada, no vácuo,
em A(0, 1, −2) sobre o ponto B(1, −1, 0). As coordenadas estão dadas em centı́metros.
Inicialmente vamos determinar o vetor posição relativa de B em relação a A, ou seja,
~rAB ı̂ − ĵ + 2 k̂
r̂AB = = √
rAB 6
Note que o versor é adimensional. Para determinar o campo elétrico, usamos 1.262,
1 Q
E~B = 2 r̂AB
4πǫ0 rAB
ou, lembrando de usar unidades SI,
1 6,4 × 10−6 ı̂ − ĵ + 2 k̂
E~B = −12
√ √
4π × 8,85 × 10 ( 6 × 10−2 )2 6
que fica
~
~F = Q ~v × B (1.263)
onde ~v é a velocidade medida para a carga Q no sistema de referência considerado. Como ~F é o resultado
de um produto vetorial, é perpendicular aos dois vetores do produto, de modo que ~F ⊥ ~v e ~F ⊥ B. ~ Note
que não é suficiente que exista um campo magnético na região considerada, é necessário que a carga Q se
mova nessa região e que, além disso, a velocidade da carga tenha uma orientação tal que não seja paralela
ao campo magnético B, ~ posto que, se ~v k B,
~ ocorre ~F = 0 por causa do produto vetorial. Tais condições
são diferentes daquelas necessárias para haver força elétrica. No caso elétrico, basta haver campo elétrico E~
para que uma carga sinta uma força F~ = QE~ sobre ela, independente de se mover ou não, ou da direção e
sentido do movimento. A dependência com a velocidade que aparece em 1.263 estabelece, explicitamente, a
necessidade de estabelecer claramente qual o referencial utilizado para o cálculo da força, pois referenciais
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 101
K. D. Machado
diferentes medem, em geral, velocidades diferentes para o mesmo objeto, conforme veremos na seção ??. De
fato, efeitos magnéticos são intrinsecamente relativı́sticos, e a soma das forças elétrica e magnética agindo
num dado sistema, ou seja,
F~ = F~ + ~F (1.264)
é a grandeza que permanece invariante quando consideramos referenciais diferentes. A força dada por 1.264
é chamada de força de Lorentz. Vejamos um exemplo de aplicação.
~
~F = Q ~v × B
que fica
ou
ou ainda,
cujo módulo é
√
F = 3,2 × 10−3 × 16 + 9 + 1
ou
F = 1,6 × 10−2 N
IV Força Elástica
Existe ainda uma outra força que costuma aparecer com frequência em problemas fı́sicos. Tal força é
a força elástica produzida por uma mola, elástico, etc. Esta força pode ser modelada, de forma aproximada,
por uma expressão razoavelmente simples. Fenomenologicamente, a força produzida por uma mola que tem
um comprimento original (não-deformada) L0 e um comprimento L ao ser deformada, envolve a deformação
∆L = L − L0 , sendo que a mola está estirada quando L > L0 (∆L > 0) e comprimida quando L < L0
(∆L < 0). A força produzida pela mola, em seus extremos, é proporcional ao módulo de ∆L, ou seja, a |∆L|,
de modo que o módulo da força é dado por
F = K |∆L| (1.265)
que é conhecida como lei de Hooke, e onde K é uma constante associada com as propriedades mecânicas
(elásticas) da mola. Supondo que uma das extremidades da mola esteja fixa num dado ponto, enquanto a
outra pode se mover ao longo de uma reta e esteja conectada a algum objeto, como mostra a figura 1.40,
podemos escrever uma expressão vetorial para a força mediante
102 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
~F = −K (x − x0 )ı̂ (1.266)
onde representamos a reta ao longo da qual a mola pode se mover pelo eixo x, sendo a origem situada no
extremo fixo da mola, x0 (x0 > 0) corresponde à coordenada x do extremo livre quando a mola não está
deformada, e x é a posição do extremo livre num instante de tempo qualquer (ou seja, ∆L = x − x0 ). Assim,
quando x > x0 , a mola está esticada, e a força produzida pela mola sobre um objeto preso ao extremo
livre estará orientada puxando o objeto em direção à origem. Quando x < x0 , a mola está comprimida, e
empurra o objeto para longe da origem. Note que o outro extremo da mola produz uma força de mesmo
módulo, direção, mas sentido oposto, agindo nesse caso sobre o ponto em que a mola está fixada. Além
disso, a expressão 1.266 é válida desde que ∆L, também chamado elongação, não seja muito grande e o
limite elástico da mola não seja atingido. Outro ponto é a definição do eixo como sendo o eixo x, o que foi
feito apenas por comodidade, e a escolha pode ser adaptada para o problema especı́fico. Vejamos agora um
exemplo de aplicação.
Exemplo 1.34. Uma mola está disposta na vertical, como mostra a figura 1.41, e suspende um objeto de
massa M que está em equilı́brio próximo à superfı́cie da Terra, onde a aceleração gravitacional vale ~g. A
mola tem uma constante de mola K. Determine a elongação ∆L da mola na situação mostrada.
K. D. Machado
Para resolver o problema, devemos considerar que existem duas forças atuando sobre o objeto, uma
produzida pela mola (força elástica) e a outra produzida produzida pela Terra (força gravitacional). Na
situação de equilı́brio, a soma das duas deve se anular. A força gravitacional produzida pela Terra, em
pontos próximos a ela, é dada por 1.235,
~ = M~g
F
~F = −K (y − y0 ) ĵ
~F = −K∆L ĵ (1.268)
A força resultante deve ser nula, de modo que a soma de 1.267 e 1.268 deve se anular, ou seja,
M g ĵ − K∆L ĵ = 0
ou
(M g − K∆L) ĵ = 0
M g − K∆L = 0
ou
Mg
∆L = (1.269)
K
Esse exemplo nos sugere um modo de determinar a constante K de uma mola qualquer. Vamos reescrever a equação 1.269 como
Mg
K= (1.270)
∆L
Nessa forma vemos que podemos determinar K pendurando objetos de massa M conhecida (o que pode ser feito por meio de uma
balança) e medindo a elongação ∆L apresentada pela mola. Esse método é conhecido como método estático.
Após apresentarmos alguns tipos relevantes de forças comuns em problemas fı́sicos, vamos passar a
outro tópico importante, que trata justamente de problemas envolvendo forças.
104 1. CONCEITOS INICIAIS
1.5.12 Estática
K. D. Machado
Uma aplicação muito importante dos conceitos vistos consiste no estudo da Estática de corpos rı́gidos,
envolvendo a determinação das forças e torques atuando sobre os diversos constituintes de estruturas, como
vigas, cabos, engastes, etc. A idéia fı́sica básica é que tais objetos devem permanecer em equilı́brio estático
e, para que isso ocorra, devemos ter uma força resultante nula sobre os objetos, isto é,
X
F~R = F~i = 0 (1.271)
É interessante relembrar que torque é uma grandeza vetorial, assim como força, e é dado por
T~ = ~r × F~ (1.273)
onde F~ é a força aplicada a um dado ponto do espaço, situado na posição ~r em relação a uma dada origem.
Assim, em geral o torque de uma força depende da origem escolhida, pois ~r depende da origem em questão.
Vamos estudar agora um exemplo simples de aplicação dessas equações.
Exemplo 1.35. Um suporte é formado por três barras e sustenta estaticamente uma caixa de massa m = 10
kg por meio de um cabo inextensı́vel, conforme mostra a figura 1.42. O suporte está fixo no chão e as conexões
entre as barras, que têm massas desprezı́veis, são feitas por pinos rebitados. Determine a força produzida
pelo pino C na barra BC. Considere que o módulo da aceleração da gravidade vale g = 9, 8 m/s2 .
Podemos estudar detalhadamente esse problema que é relativamente simples, de modo a desenvolver-
mos as idéias que serão utilizadas para problemas mais complexos. No presente caso, temos um problema
bidimensional, onde as forças terão, no máximo, duas componentes. A primeira consideração a fazer é que o
suporte não ficaria numa situação estática se ele não fosse engastado no chão, ou seja, parte da barra vertical
deve perfurar o solo. Isso pode ser claramente percebido se considerarmos uma origem no ponto de contato
da barra com o solo, representado pelo ponto E. Nesse caso, as forças externas agindo no suporte como um
todo são a força exercida pelo cabo no ponto D, que é igual ao peso do objeto suspenso, e as eventuais forças
produzidas pelo solo. O módulo do peso do objeto é dado por
P = mg = 10 × 9, 8 = 98 N
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 105
K. D. Machado
Considerando um eixo y vertical com sentido positivo para cima, podemos escrever 16
P~ = −98 ĵ
Portanto, para que o suporte satisfaça a condição 1.271, é necessário que o solo produza uma força vertical
sobre ele dada por
F~s = 98 ĵ (1.274)
Note que a soma das forças horizontais é nula, mas elas geram um torque que tende a girar a barra
no sentido anti-horário, se opondo, portanto, ao torque gerado pelo peso do objeto suspenso.
É interessante ressaltar que, ao fazer um projeto de uma estrutura, os engenheiros devem determinar com precisão as forças
que vão agir sobre ela, incluindo possı́veis efeitos não esperados, como ventos, chuva, etc, que podem alterar as condições do problema.
Uma chuva torrencial, por exemplo, pode alterar a resistência mecânica do solo, fazendo com que ele não exerça mais as forças e
torques necessários para manter o equilı́brio estático, de modo que a estrutura pode desabar. Outra questão consiste em não extrapolar
16 Note que, a menos que seja dito explicitamente em contrário, sempre usaremos unidades do SI.
106 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
os limites de uso dos equipamentos. Por exemplo, nossa estrutura foi projetada para uma carga de 10 kg. Se uma massa de 20 kg for
suspensa, ela fatalmente ruirá, já que o solo não foi preparado para essa solicitação.
Continuando com nossa discussão, vamos agora “desmembrar”nosso suporte para estudarmos cada
uma das barras separadamente, o que nos permitirá determinar a força produzida pelo pino C na barra BC.
Note que devemos lembrar que cada barra está em equilı́brio estático, e que elas interagem através dos pinos.
Assim, temos um esquema como o apresentado na figura 1.44 abaixo.
Note que temos três barras e o objeto que é suspenso pelo cabo inextensı́vel. As barras interagem
por pares de forças de ação e reação, e devemos considerar todas as forças e torques exercidos pelas outras
barras, pelo solo e pelo cabo em cada barra. O torque do solo, já calculado acima, tende a girar a barra no
sentido anti-horário, conforme mostrado na figura, próximo ao ponto E. Outra questão refere-se à barra BC,
na qual agem apenas duas forças. Nesse caso, é preciso que a linha de ação das forças passe pela reta definida
pelos dois pontos nos quais atuam forças. Podemos mostrar isso facilmente considerando a figura 1.45.
Na figura vemos uma barra de formato qualquer onde são aplicadas forças nos pontos A e B. Estando a
barra em equilı́brio estático, devemos ter
F~A + F~B = 0
ou seja,
F~A = −F~B
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 107
K. D. Machado
de modo que as forças devem ser paralelas uma à outra. Devemos satisfazer também a equação do torque
resultante. Nesse caso, escolhendo qualquer um dos dois pontos como origem, vemos que o torque produzido
pela força que age no ponto escolhido se anula, pois ~r = 0 nesse caso. Assim, o torque gerado pela outra
força, que está aplicada no outro ponto, deve se anular já que o torque resultante deve ser nulo, o que só
ocorre se a força estiver na direção da reta definida pelos dois pontos pois, neste caso, ~r k F~ e ~r × F~ = 0.
Como as duas forças devem ser paralelas entre si, temos que as duas forças devem ser paralelas à reta que
une os dois pontos, em acordo com o que desenhamos na figura 1.44.
~rB = −3 ĵ (1.278)
Portanto, reunindo as equações 1.275–1.278, temos
980 k̂ − 3FBx k̂ = 0
ou ainda,
980
FBx = N
3
Sabendo-se essa componente, é imediato achar a componente F~Ax , já que apenas essas duas forças estão
agindo na barra AE na direção x, e a sua soma, que é a força resultante na direção x, deve se anular.
Portanto,
980
F~Ax = ı̂
3
Podemos determinar FBy utilizando trigonometria. Note na figura 1.44 que a força F~B é paralela à barra
BC, a qual faz um ângulo θ com a direção x. Este ângulo pode ser determinado mediante o cálculo de sua
tangente, ou seja, utilizando a figura 1.42,
K. D. Machado −−→
|AB| 3
tg θ = −−→ =
|AC| 4
Este ângulo é o mesmo que F~B faz com a horizontal (ângulos opostos pelo vértice). Portanto,
FBy
tg θ =
FBx
FBy = 245 N
F~Ay − 245 ĵ + 98 ĵ = 0
Portanto,
F~Ay = 147 ĵ
Note que o sentido arbitrado para essa força na figura 1.44 foi o contrário do sentido correto. A força F~A
fica, então,
980
F~A = ı̂ + 147 ĵ (1.280)
3
Por fim, podemos determinar agora a força exercida pelo pino C na barra BC. Da figura 1.44, obtemos
−F~B + (−F~C ) = 0
ou
F~C = −F~B
e então, usando a expressão 1.279,
980
F~C = ı̂ + 245 ĵ (1.281)
3
sendo que devemos lembrar que a força do pino na barra BC é dada por −F~C , ou seja,
980
F~pino = −F~C = − ı̂ − 245 ĵ (1.282)
3
Considerando os módulos das forças, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 109
K. D. Machado r
980 2
FA = + 1472 ≈ 358 N
3
r
980 2
FB = + 2452 ≈ 408 N
3
FC = FB ≈ 408 N
Exemplo 1.36. Considere uma barra de comprimento L e massa desprezı́vel, presa pelo centro a um suporte,
como mostra a figura 1.46. A haste possui esferas com cargas iguais a Q em seus extremos, que ficam sobre
esferas com cargas 2Q e Q, como mostra a figura. Um objeto de massa m é suspenso a uma distância X do
centro da haste. Considerando estas informações, responda:
1. Qual é o valor de X para que a barra permaneça horizontal? O módulo da aceleração da gravidade no
local vale g, e a força entre as cargas nas extremidades opostas da barra pode ser desprezada. As cargas
estão imersas em ar, de modo que ǫ = ǫ0 .
2. Qual é o valor da força exercida pelo apoio sobre a haste no ponto de apoio?
3. Qual o valor da distância d para que a força exercida pelo ponto de apoio se anule?
Iniciando pelo item 1, temos que, para a barra permanecer na horizontal, é preciso que os torques
gerados pelas forças se anulem, de forma que o torque total seja zero. A força elétrica entre as cargas em A
e B é repulsiva e vale, utilizando a equação 1.247,
110 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado 1 Q×Q
F~A→B = ĵ
4πǫ0 d2
ou
1 Q2
F~A→B = ĵ (1.283)
4πǫ0 d2
A força entre as cargas em C e D também é repulsiva, e fica
1 2Q2
F~D→C = ĵ (1.284)
4πǫ0 d2
A força exercida pelo objeto suspenso vale
F~ = −mg ĵ (1.285)
Para o cálculo do torque, usamos a equação 1.273,
T~ = ~r × F~
e vamos colocar a origem do sistema de eixos no ponto de apoio. Assim, temos, para o torque gerado pela
força produzida sobre a carga em B,
L
~rB = − ı̂ (1.286)
2
e
L 1 Q2
T~B = − ı̂ × ĵ
2 4πǫ0 d2
ou
1 Q2 L
T~B = − k̂ (1.287)
4πǫ0 2d2
Considerando agora a carga em C, temos
L
~rC = ı̂ (1.288)
2
e
L 1 Q2
T~C = ı̂ × ĵ
2 4πǫ0 d2
ou
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 111
K. D. Machado 1 Q2 L
T~C = k̂ (1.289)
4πǫ0 d2
Por fim, o torque gerado pelo objeto suspenso é obtido de
~rX = X ı̂ (1.290)
e
1 Q2 L 1 Q2 L
− k̂ + k̂ − mgX k̂ = 0
4πǫ0 2d2 4πǫ0 d2
ou ainda,
h 1 Q2 L i
− mgX k̂ = 0
4πǫ0 2d2
Efetuando o produto escalar dessa equação com k̂, e manipulando, temos
1 Q2 L
= mgX
4πǫ0 2d2
ou
1 Q2 L
X=
4πǫ0 2mgd2
Para responder ao item 2, devemos ter a condição de equilı́brio estático para forças sendo satisfeita,
de modo que a resultante sobre a haste deve ser nula. Chamando de N ~ a força exercida pelo apoio sobre a
haste, temos
~ + F~A→B + F~D→C + F~ = 0
N
ou, utilizando as equações 1.283–1.285,
2 2
~ = − 1 Q ĵ − 1 2Q ĵ + mg ĵ
N
4πǫ0 d2 4πǫ0 d2
e então,
h 1 3Q2 i
~ = mg −
N ĵ
4πǫ0 d2
~ = 0, ou seja,
Para o item 3, devemos ter N
112 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
h 1 3Q2 i
mg − ĵ = 0
4πǫ0 d2
de modo que
1 3Q2
mg =
4πǫ0 d2
ou
Vejamos agora mais um ponto importante no que se refere a aplicações envolvendo vetores.
Definição 1.5 (Lei de Conservação do Momento Linear). Num sistema sujeito a força externa resultante
nula, o momento linear total do sistema se conserva.
Definição 1.6 (Lei de Conservação do Momento Angular). Num sistema sujeito a torque externo resultante
nulo, o momento angular total do sistema se conserva.
Note que as condições são parecidas, uma envolvendo a força externa aplicada ao sistema, a outra
envolvendo o torque externo aplicado. O momento linear de uma partı́cula é dado por
~p = m~v (1.292)
sendo o produto da massa pela velocidade da partı́cula. Um dado sistema, formado por muitas partı́culas,
tem um momento linear dado pela soma dos momentos lineares de cada partı́cula, ou seja,
X X
P~ = p~i = mi~vi (1.293)
i i
Essa soma, em geral, é diferente para diferentes instantes de tempo, visto que os momentos lineares de cada
partı́cula podem mudar com o tempo de forma, em princı́pio, independente uns dos outros. Porém, se o
sistema estiver sujeito a uma força externa resultante nula, a lei de conservação do momento linear indica
que a soma dada em 1.293 é independente do tempo, ou seja, as partı́culas dentro do sistema interagem,
eventualmente alterando seus momentos lineares individuais, mas a soma permanece constante ao longo do
tempo, enquanto a força externa resultante permanecer sendo nula. Tal sistema é dito isolado com relação
a forças externas.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 113
K. D. Machado
No caso da outra lei de conservação, primeiro precisamos definir o momento angular de uma partı́cula
com relação a uma dada origem O, o qual é dado por
As partı́culas tem velocidades iniciais ~v1,i e ~v2,i antes da colisão. Elas colidem num dado ponto e,
após a colisão, as partı́culas tem velocidades finais ~v1,f e ~v2,f . Por hipótese, a força resultante externa sobre
o sistema é nula. Determine uma equação envolvendo as velocidades finais e iniciais das partı́culas.
Este exemplo simples mostra o poder da lei de conservação do momento linear. Note que não sabemos
nada sobre as forças que uma das partı́culas exerce sobre a outra durante a colisão mas, mesmo assim, somos
capazes de relacionar as velocidades finais adquiridas por elas com as velocidades iniciais. Vamos iniciar
calculando o momento linear inicial do sistema, ou seja,
mi vi2
Ki = (1.299)
2
Por exemplo, considere que a energia cinética das partı́culas do sistema se mantenha constante durante a
colisão. Essa colisão é chamada de choque elástico, de modo que ocorre
Ki = Kf (1.300)
onde Ki é a energia cinética total inicial, antes da colisão, e Kf é a energia cinética total final, depois da
colisão. Para o nosso sistema, temos
2 2 2 2
M1 v1,i M2 v2,i M1 v1,f M2 v2,f
+ = +
2 2 2 2
ou
2 2 2 2
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + M2 v2,f (1.301)
Vamos agora manipular a equação 1.298, isolando v2,f , isto é,
M1 M1
v2,f = v1,i + v2,i − v1,f (1.302)
M2 M2
ou
M1
v2,f = (v1,i − v1,f ) + v2,i (1.303)
M2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 115
K. D. Machado
Elevando essa expressão ao quadrado, temos
2 M12 M1
v2,f = 2 (v1,i − v1,f )2 + 2 2
(v1,i − v1,f )v2,i + v2,i (1.304)
M2 M2
Substituindo 1.304 em 1.301, obtemos
hM2 M1 i
2 2 2 1
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + M2 (v1,i − v1,f )2 + 2 2
(v1,i − v1,f )v2,i + v2,i
M22 M2
M12
Análise Vetorial
2 2 2
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + (v1,i − v1,f )2 + 2M1 (v1,i − v1,f )v2,i + M2 v2,i
2
M2
ou ainda,
2 2 M1
v1,i = v1,f + (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
que pode ser escrito também como
2 2 M1
v1,i − v1,f = (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
ou
M1
(v1,i − v1,f )(v1,i + v1,f ) = (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
ou ainda,
M1
v1,i + v1,f = (v1,i − v1,f ) + 2v2,i
M2
de modo que
M1 M1
v1,i + v1,f = v1,i − v1,f + 2v2,i
M2 M2
ou
M1 M1
v1,f + v1,f = v1,i − v1,i + 2v2,i
M2 M2
ou ainda,
M M
1 1
+ 1 v1,f = − 1 v1,i + 2v2,i
M2 M2
o que resulta em
M1 + M2 M1 − M2
v1,f = v1,i + 2v2,i
M2 M2
ou
M2 M1 − M2 M2
v1,f = v1,i + 2 v2,i
M1 + M2 M2 M1 + M2
ou, finalmente,
M1 − M2 2M2
v1,f = v1,i + v2,i (1.305)
M1 + M2 M1 + M2
116 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Multiplicando essa equação por ı̂, ficamos com
M1 − M2 2M2
v1,f ı̂ = v1,i ı̂ + v2,i ı̂
M1 + M2 M1 + M2
ou
M1 − M2 2M2
~v1,f =~v1,i + ~v2,i (1.306)
M1 + M2 M1 + M2
M1 M1 + M2 − (M1 − M2 ) 2M1
v2,f = v1,i + v2,i 1 −
M2 M1 + M2 M1 + M2
que fica
M1 2M2 M1 + M2 − 2M1
v2,f = v1,i + v2,i
M2 M1 + M2 M1 + M2
ou
2M1 M2 − M1
v2,f = v1,i + v2,i (1.307)
M1 + M2 M1 + M2
Multiplicando por ı̂, achamos
2M1 M2 − M1
v2,f ı̂ = v1,i ı̂ + v2,i ı̂
M1 + M2 M1 + M2
ou, finalmente,
2M1 M2 − M1
~v2,f = ~v1,i + ~v2,i (1.308)
M1 + M2 M1 + M2
Assim, numa colisão elástica entre duas partı́culas, as velocidades finais são dadas em função das velocidades
iniciais por meio de 1.306 e 1.308,
M1 − M2 2M2
~v1,f = ~v1,i + ~v2,i (1.309a)
M1 + M2 M1 + M2
2M1 M2 − M1
~v2,f = ~v1,i + ~v2,i (1.309b)
M1 + M2 M1 + M2
Note que há uma simetria entre as equações 1.309, envolvendo a troca dos ı́ndices 1 e 2 entre si. Vejamos
agora alguns casos particulares importantes. Se a partı́cula 2 está inicialmente parada, ou seja, ~v2,i = 0,
temos
M1 − M2
~v1,f = ~v1,i (1.310a)
M1 + M2
2M1
~v2,f = ~v1,i (1.310b)
M1 + M2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 117
K. D. Machado
Nesse caso, se M1 > M2 , as duas partı́culas movem-se no mesmo sentido após a colisão, sendo que v2,f > v1,f .
Se M1 < M2 , a partı́cula 1 retorna. Se M1 = M2 , a partı́cula 1 para e a 2 adquire a velocidade inicial de 1,
ou seja, v2,f = v1,i , havendo apenas uma “troca”de velocidades entre elas.
Se M1 ≫ M2 , então podemos desconsiderar M2 em comparação com M1 , e as equações 1.310 ficam
2M2
~v1,f ≈ ~v1,i + ~v2,i (1.314a)
M1
~v2,f ≈ 2~v1,i − ~v2,i (1.314b)
É importante ressaltar que todos os resultados acima são para colisões elásticas unidimensionais entre
duas partı́culas de massas M1 e M2 . Se a colisão não for elástica, então outras equações são obtidas. O
exercı́cio ?? estuda um desses casos. Vejamos agora um exemplo bidimensional envolvendo a lei de con-
servação do momento linear.
Exemplo 1.38. Considere duas partı́culas de massas M1 e M2 que colidem como mostra a figura 1.48. A
colisão é bidimensional, e o sistema está isolado com relação a forças externas. Determine os módulos das
velocidades finais em função das velocidades iniciais.
118 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
A figura 1.48 mostra as várias grandezas relevantes, em particular os ângulos que serão necessários
para o desenvolvimento das equações. O primeiro passo é escrever vetorialmente as velocidades em termos
desses ângulos. Para ~v1,i , temos
Portanto, como a lei de conservação do momento linear é válida, já que o sistema está isolado, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 119
K. D. Machado
P~i = P~f
ou seja,
ou
(M1 v1,i cos α + M2 v2,i cos β)ı̂ + (M2 v2,i sen β − M1 v1,i sen α) ĵ
= (M1 v1,f cos γ + M2 v2,f cos δ)ı̂ + (M1 v1,f sen γ − M2 v2,f sen δ) ĵ
Dessa expressão obtemos duas equações escalares, multiplicando respectivamente por ı̂ e por ĵ, ou seja,
Agora, vamos manipular a equação 1.317a para isolar v2,f , isto é,
ou ainda,
ou então,
120 1. CONCEITOS INICIAIS
M1 cos α cos β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ cos δ
M1 cos α cos β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ cos δ
cos β tg δ + sen β M1 cos α tg δ − sen α
− v2,i − v1,i
sen δ + cos δ tg γ M2 sen δ + cos δ tg γ
ou ainda,
M1 cos α tg δ − tg α cos β tg δ + tg β
v2,f = 1− v1,i + 1− v2,i
M2 cos δ tg δ + tg γ cos δ tg δ + tg γ
Efetuando mais uma manipulação,
M1 cos α tg γ + tg α cos β tg γ − tg β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ tg δ + tg γ cos δ tg δ + tg γ
e, por fim,
1
v1,f = v1,i (1.321a)
cos γ + sen γ cotg δ
M1 1
v2,f = v1,i (1.321b)
M2 cos δ + sen δ cotg γ
Ki = Kf
e uma relação entre os ângulos, ou entre as massas, é obtida. Esse exercı́cio fica para o leitor (veja o
exercı́cio ??). Vejamos agora um exemplo envolvendo a conservação do momento angular.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 121
K. D. Machado
Para desenvolvermos exemplos utilizando a lei de conservação do momento angular, vamos precisar
introduzir algumas relações úteis e uma grandeza importante e necessária a estes problemas, que é o momento
de inércia I. O momento de inércia é uma grandeza que, em problemas envolvendo rotações, faz o papel
da massa nas translações. Ele está associado à forma como a massa de um objeto está distribuı́da em
torno de um dado eixo, de modo que objetos com mesma massa, mas com formas diferentes de distribuição
Essa expressão vale quando o eixo de rotação do objeto está fixo, e a origem para o cálculo de ~ℓ está nesse
eixo. O momento de inércia I é dado em relação a esse eixo fixo e, nessa expressão, é uma grandeza escalar.
Veremos, no capı́tulo ??, que o momento de inércia é na verdade um tensor que, em alguns casos simples,
pode ser representado por um escalar I, valendo então a expressão 1.322. Note a semelhança entre essa
equação e a expressão 1.292,
~p = m~v
que define o momento linear de uma partı́cula de massa m e velocidade ~v .
O momento de inércia de uma partı́cula pontual de massa m em relação a um eixo é dado
I = md2 (1.323)
onde d é a distância ao eixo em torno do qual a partı́cula se move (e não a distância até a origem do sistema de
coordenadas). A partir desse valor, é possı́vel determinar os momentos de inércia de vários objetos, conforme
veremos na seção ??. Podemos agora investigar um exemplo envolvendo a conservação do momento angular
e as relações vistas acima.
Exemplo 1.39. Um projétil, com massa m e velocidade ~v1 , atinge a borda de um disco maciço de um
carrossel horizontal, de raio R e massa M , inicialmente parado, como mostra a figura 1.49. O projétil
encrusta-se no disco, que começa a girar com velocidade angular de módulo ω. Sabe-se que, na colisão, age
uma força no eixo do carrossel, mas essa força não produz torque se a origem do sistema de referência
for considerada no eixo, de modo que o sistema não está sujeito a torques externos, apesar de estar sujeito
a uma resultante externa. Determine o módulo de ~v1 em termos das grandezas relevantes do problema. O
momento de inércia de um disco de raio R e massa M em relação a um eixo que passa pelo seu centro e é
2
perpendicular ao plano do disco é I = MR2 (veja o exemplo ??, pág. ??).
Como foi dito que o torque externo é nulo em relação a uma origem definida em algum ponto do eixo
do carrossel, vamos utilizar o centro do disco como origem, de modo que o sistema está isolado com relação
a torques externos e o momento angular não varia durante os processos internos que ocorrem no sistema.
Além disso, o eixo que passa no centro do disco será nosso eixo de rotação, o que faz com que o momento
de inércia do disco seja conhecido. A lei de conservação do momento angular fica, então,
L~i = L~f
ou, expressando os momentos angulares em termos de suas parcelas,
K. D. Machado
~ℓi,disco = 0 (1.325)
Para obter o momento angular do projétil em relação à origem no centro do disco, precisamos utilizar a
equação 1.294,
~ℓO = ~rO × p~
A posição do projétil, em qualquer ponto antes da colisão, pode ser escrita, utilizando os eixos definidos na
figura 1.49, como
~rprojétil = −R ĵ + xı̂
onde x 6 0 (x = 0 corresponde ao ponto de colisão). Como p~projétil = m~v1 = mv1 ı̂, temos
ou
~ℓ = I ~ω
que fica
~ℓf,disco = Idisco ω k̂
ou
2
~ℓf,disco = M R ω k̂ (1.327)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 123
K. D. Machado
Para o momento angular final do projétil, vamos considerá-lo como pontual, de modo que podemos utilizar
a equação 1.323 para o momento de inércia de uma partı́cula, e assim achamos
~ℓf,projétil = Iprojétil ω k̂
ou
M R2
mv1 R k̂ = mR2 ω k̂ + ω k̂
Análise Vetorial
2
ou
M
mv1 k̂ = R m + ω k̂
2
Efetuando o produto escalar com k̂, ficamos com
M + 2m
mv1 = Rω
2
de modo que
M + 2m
v1 = Rω (1.329)
2m
Note que, por meio de 1.329, é possı́vel estimar a velocidade do projétil, se for possı́vel determinar a velocidade
angular do disco, além das massas do disco e do projétil. Por outro lado, sabendo-se a velocidade do projétil,
o disco do carrossel passará a girar com uma velocidade angular (em módulo)
1 2m
ω=
v1 (1.330)
R M + 2m
O resultado acima será usado novamente no exemplo ?? (pág. ??). Vejamos mais um exemplo importante.
Exemplo 1.40. O sistema mostrado na figura 1.50 consiste numa vareta horizontal fina e leve, de massa m e
comprimento L, suspensa pelo seu centro em um eixo de rotação vertical. A vareta tem duas pequenas esferas
de massa M cada uma colocadas simetricamente em relação ao seu centro, e inicialmente gira livremente
com uma velocidade angular de módulo ω0 , como indicado na figura, pois o eixo de rotação é muito bem
lubrificado. As massas estão fixadas em suas posições por pinos, e distam d0 do centro. Num certo momento,
os pinos quebram, e as massas escorregam pela vareta. Determine o módulo ω da velocidade angular em
função da distância d das esferas ao centro e das outras grandezas relevantes ao problema.
Como o eixo está girando livremente, não há torques externos atuando sobre o sistema, de modo que
podemos utilizar a lei de conservação do momento angular nesse caso. Temos, então,
L~i = L~f
e os momentos angulares inicial e final são dados pelos momentos angulares das duas esferas e da vareta, ou
seja,
~ℓi,1 + ~
ℓi,2 + ~ℓi,vareta = ~ℓf,1 + ~ℓf,2 + ~ℓf,vareta (1.331)
Vamos utilizar a equação 1.322,
124 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
~ℓ = I ~ω
para relacionar os momentos angulares com a velocidade angular. Para as esferas, utilizamos a equação 1.323,
já que elas podem ser consideradas como partı́culas, de modo que, inicialmente,
~ℓi,1,2 = M d2 ω0 k̂ (1.332)
0
~ℓf,1,2 = M d2 ω k̂ (1.333)
onde o eixo z é perpendicular ao plano da figura, orientado para fora. Para a vareta, vamos precisar de seu
momento de inércia, que vale, de acordo com o exemplo ?? (pág. ??),
mL2
I= (1.334)
12
Assim, inicialmente temos
2
~ℓi,vareta = mL ω0 k̂ (1.335)
12
e depois,
2
~ℓf,vareta = mL ω k̂ (1.336)
12
Utilizando as equações 1.332–1.336 em 1.331, obtemos
mL2 mL2
M d20 ω0 k̂ + M d20 ω0 k̂ + ω0 k̂ = M d2 ω k̂ + M d2 ω k̂ + ω k̂
12 12
ou
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 125
K. D. Machado
mL2 mL2
2M d20 + ω0 k̂ = 2M d2 + ω k̂
12 12
Efetuando o produto escalar com k̂ ficamos com
> x:=2;
x := 2
Note que as linhas que você deve digitar são precedidas pelo sinal de maior (>), enquanto as linhas que
correspondem à saı́da do Maple são centralizadas e não há o sinal de maior. Para definirmos x como sendo
o número 2, utilizamos o sinal de igual (=) precedido pelos dois pontos (:), ou seja, :=. Além disso, a linha
termina com um ponto-e-vı́rgula (;), que é o que indica ao Maple que essa linha de comando terminou.
Podemos conferir se x efetivamente vale 2 digitando
18 Exceto, é claro, noções elementares, como ligar o computador e executar o programa Maple.
126 1. CONCEITOS INICIAIS
> x;
K. D. Machado
2
Conforme esperado, a saı́da do Maple confirma que nossa variável x vale 2. Se quisermos liberar a variável
de seu valor, usamos o comando
unassign
como abaixo
> x;
x
No Maple, as variáveis podem ter nomes como equacao, soma_parcial, joao, xy10, xy_10, nome_muito_longo,
etc. Entretanto, algumas formas não podem ser usadas, como palavras com hı́fen (nome-separado, por √ exem-
plo), e nomes de variáveis pré-definidas, como Pi (que é o número π), I (que é o número complexo i = −1),
e nomes de funções, como exp, que é a função exponencial ex . À medida que formos avançando, apresenta-
remos mais funções importantes e de uso comum.
O próximo passo consiste em definir um vetor no Maple. O Maple possui “bibliotecas”que acrescentam
funções extras às suas funções básicas, e os comandos associados a cálculos vetoriais estão definidos numa
dessas bibliotecas, chamada de VectorCalculus. Assim, inicialmente precisamos “carregar”essa biblioteca,
o que é feito com o comando
> with(VectorCalculus);
o que produz a saı́da
Warning, the assigned names <,> and <|> now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected: *,
+, -, ., D, Vector, diff, int, limit, series
19 Não confundir com um resultado que vale 0 (zero). Numa saı́da nula, o Maple executa o comando, mas não apresenta nada
na tela como resposta.
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 127
K. D. Machado
preciso definir o sistema de coordenadas. Podemos definir agora um vetor tridimensional ~a = ax ı̂+ ay ĵ+ az k̂
por meio de
> a:= <a_x,a_y,a_z>;
a := a x ex + a y ey + a z ez
Note que o vetor é definido de forma que suas componentes cartesianas são listadas entre os sinais de menor
que (<) e maior que (>), separadas por vı́rgulas. O Maple mostra o resultado usando versores ei , onde i
Norm(V)
help(comando)
onde comando é o comando ou função sobre a qual queremos informações. Por exemplo,
> help(Norm);
fornecerá uma descrição do comando Norm, incluindo alguns exemplos de uso. Pode ser usado, também, um
ponto de interrogação (?) antes do comando, ou seja,
> ?Norm;
Podemos agora passar a outro comando importante no que diz respeito a vetores. Já vimos que uma operação
importante envolve o produto escalar de dois vetores, definido em geral pela equação 1.14,
~·B
A ~ = |A||
~ B|~ cos θ = AB cos θ
128 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
ou, em coordenadas retangulares, pela equação 1.16,
~a · ~b = ax bx + ay by + az bz
No Maple, podemos efetuar produtos escalares usando a função
DotProd(V1,V2)
DotProduct(V1,V2) e V1.V2
Ambos calculam produtos escalares, assim como DotProd. Exemplificando a última forma, temos
> a.b;
a xb x +a yb y +a z b z
Outro produto importante, conforme já vimos, é o produto vetorial, cujo módulo é dado por 1.25,
~ = |A
|C| ~ = |A||
~ × B| ~ B|~ sen θ
CrossProd(V1,V2)
CrossProduct(V1,V2) e V1 &x V2
solve(equaç~
ao, variável)
> modulob:=Norm(b);
K. D. Machado
o que resulta em
√ √ 2
modulob := 5 b x
Vamos agora definir uma variável auxiliar bxr tal que o modulo de ~b seja 1, ou seja,
> b_xr:=solve(modulob=1,b_x);
> b_xr[1];
√
5
5
onde acrescentamos ao nome da variável, bxr , o número 1 entre colchetes, ou seja, bxr [1], para indicar a
primeira solução. A segunda solução, de maneira análoga, é obtida através de
> b_xr[2];
√
5
−
5
Podemos agora selecionar a primeira raiz para bx , fazendo
> b_x:=b_xr[1];
√
5
b x :=
5
de modo que ~b se torna
> b;
√ √
5 2 5
êx − êy
5 5
Podemos conferir o módulo de ~b através de
> Norm(b);
1
e verificamos que obtivemos um versor unitário ortogonal ao vetor ~a, conforme pretendı́amos inicialmente.
O leitor deve agora utilizar a segunda raiz para obter o outro versor unitário ortogonal a ~a. Vejamos agora
um outro exemplo muito interessante.
Exemplo 1.42. Uma prateleira retangular ABCD para colocação de vasos de flores foi presa a uma parede
como mostra a figura 1.51.
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 131
K. D. Machado
A prateleira retangular está suspensa por meio de dois cabos EG e CH e duas dobradiças I e J. Os
cabos, que são inextensı́veis, foram presos a ganchos G e H, que são iguais e cuja altura pode ser desprezada
com relação às outras dimensões do problema. As dobradiças também têm dimensões muito menores que as
outras dimensões relevantes, podendo ser desprezadas, e sabe-se que as dobradiças não produzem forças na
direção x indicada na figura (direção axial das dobradiças). A chapa é uniforme e possui uma massa M = 2
kg. Sabe-se que os cabos suportam tensões máximas de 250 N cada um. Além disso, as dobradiças, que são
iguais, foram projetadas para tensões máximas de 400 N. Um vaso de flores de massa m = 6 kg foi colocado
sobre a prateleira em F, conforme indicado. Verifique se, nessas condições, o sistema satisfaz os requisitos
de segurança. Considere que o módulo da aceleração da gravidade vale g = 9, 8 m/s2 .
Para responder a pergunta feita, ou seja, se o vaso de flores colocado ultrapassa as normas de segurança,
vamos supor que um vaso de massa m seja colocado na posição considerada e vamos determinar qual o maior
valor possı́vel seguro para essa massa. Para tanto, precisamos inicialmente considerar todas as forças agindo
no sistema, que é a prateleira retangular. Aqui precisamos lembrar que cabos, fios, cordas, etc, só podem ser
submetidos a forças de tração, pois eles não oferecem resistência a forças compressivas. Além disso, a força
deve estar paralela a estes elementos. Com relação ao peso da prateleira, ele deve agir no seu centro, pois
ela é homogênea. Então, considerando novamente a figura 1.51, só que agora desenhando apenas as forças,
temos a figura 1.52 abaixo.
132 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Na figura, P~ representa o peso da prateleira, e P~v , o peso do vaso. Ambos são verticais. As dobradiças
produzem forças nas direções y e z, dadas por F~Iy e F~Iz , para a dobradiça I, e F~Jy e F~Jz , para a dobradiça J,
e os cabos produzem forças F~C e F~E . Vamos usar o Maple para resolver esse problema. Iniciamos carregando
o pacote de cálculo vetorial, ou seja,
> with(VectorCalculus):
Note que a saı́da não será mostrada na tela. Em seguida, definimos o peso da prateleira mediante
> P:=<0,0,-196/10>;
Observe que usamos valores na forma de frações ao invés de números decimais, para favorecer a visualização
dos resultados. Como saı́da, temos
−98
P := (
) êz
5
Definimos também o peso do vaso de massa m por meio de
> Pv:=<0,0,-m*g>;
Pv := −m g êz
Podemos escrever a força produzida pela dobradiça I como
K. D. Machado
de modo que um vetor paralelo à reta EG é
> rGE:=rG-rE;
−1 3
rGE := ( ) êx − êy + êz
20 10
d fica
e assim, o versor EG
versorGE:=rGE/Norm(rGE);
K. D. Machado %
Esse comando equivale à saı́da do último cálculo efetuado pelo Maple, seja ele qual for. O comando
%%
fornece a saı́da do antepenúltimo comando executado. A partir de agora, o valor de FEm será
Análise Vetorial
√ √
FCm 965 437
FEm =
965
Em seguida, achamos uma relação que envolve FIy e FJy , conforme se vê se considerarmos a segunda
componente da força resultante, ou seja,
> F[2];
√
10 FCm 965
FIy + FJy −
193
Essa componente, que é a componente em y, deve ser nula, o que permite encontrar FIy em termos de FJy
e FCm , isto é,
> solve(F[2]=0,FIy);
√
10 FCm 965
−FJy +
193
> FIy:=%;
√
10 FCm 965
FIy := −FJy +
193
Portanto, agora temos
√
10 FCm 965
FIy = −FJy +
193
Efetuamos o mesmo processo para a componente em z da força resultante, que é
> F[3];
√
98 14 FCm 965
− − m g + FIz + FJz +
5 965
Ela fornece FIz em termos de FJz e FCm , ou seja,
> solve(F[3]=0,FIz);
√
98 14 FCm 965
+ m g − FJz −
5 965
> FIz:=%;
√
98 14 FCm 965
FIz := + m g − FJz −
5 965
Portanto, agora temos
√
98 14 FCm 965
FIz = + m g − FJz −
5 965
136 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Precisamos determinar ainda outras equações, e para isso devemos considerar relações envolvendo torques,
o que necessita da definição de origens apropriadas para os cálculos. Podemos obter algumas relações inte-
ressantes usando como origem para o cálculo de torques o ponto J. Nesse caso, precisamos definir
> rI:=<105/100,0,0>;
21
rI := êx
20
e
K. D. Machado rF :=
9 6
êx + êy
20 5
e, em relação a J, este ponto fica em
> rFJ:=rF-rJ;
7 6
rFJ := êx + êy
20 5
> TJ[1];
√
18 FCm 965 147 6 m g
− −
965 10 5
vemos que podemos determinar FCm em termos de m, ou seja,
> simplify(solve(TJ[1]=0,FCm));
√
(49 + 4 m g) 965
60
> FCm:=simplify(%);
138 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado FCm :=
√
(49 + 4 m g) 965
60
de modo que achamos
√
(49 + 4mg) 965
FCm =
60
> TJ[2];
539 m g 19 FJz
Análise Vetorial
− − +
200 10 20
e, a partir dela, podemos achar FJz , ou seja,
> solve(TJ[2]=0,FJz);
539 2 m g
+
190 19
> FJz:=%;
539 2 m g
FJz := +
190 19
Por fim, a terceira componente de T~J é
> TJ[3];
19 FJy 343 28 m g
− + +
20 15 15
o que faz com que achemos FJy , por meio de
> solve(TJ[3]=0,FJy);
1372 112 m g
+
57 57
> FJy:=%;
1372 112 m g
FJy := +
57 57
Com isso, todas as forças estão em função de m, a massa do vaso, conforme podemos ver considerando
> FE;
49 m g 49 4 m g 49 2 m g
(− − ) êx + (− − ) êy + ( + ) êz
60 15 3 3 10 5
> FI;
637 26 m g 1519 11 m g
( + ) êy + ( − ) êz
38 19 285 285
> FJ;
1372 112 m g 539 2 m g
( + ) êy + ( + ) êz
57 57 190 19
> FC;
49 m g 49 98 8 m g
( + ) êx + (− − 2 m g) êy + ( + ) êz
60 15 2 15 15
ou seja,
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 139
K. D. Machado
49 mg 49 4mg 49 2mg
F~E = − + ı̂ − + ĵ + + k̂
60 15 3 3 10 5
637 26mg 1519 11mg
F~I = + ĵ + − k̂
38 19 285 285
1372 112mg 539 2mg
F~J = + ĵ + + k̂
57 57 190 19
49 mg 49 98 8mg
subs(valores,equaç~
oes)
oes: equação ou conjunto de equações onde os valores das incógnitas devem ser substituı́dos.
equaç~
Assim, substituindo o valor de g na expressão para o módulo de F~E obtido pelo comando Norm, achamos
> moduloFE:=subs(g=9.8,Norm(FE));
√ p
437 (49 + 39.2 m)2
moduloFE :=
60
A tensão máxima no cabo preso em E vale 250 N, de modo que podemos obter o valor máximo de m
por meio de
> solve(moduloFE=250,m);
17.05477831, −19.55477831
Apenas a raiz positiva faz sentido, então a massa máxima para o vaso, para esse cabo, fica em torno de
m = 17 kg. Considere agora o módulo da força na dobradiça I,
> moduloFI:=subs(g=9.8,Norm(FI));
√
100527469 + 0.1447668544 109 m + 0.5847721936 108 m2
moduloFI :=
570
Essa dobradiça suporta uma força máxima de intensidade 400 N, portanto,
> solve(moduloFI=400,m);
28.57451794, −31.05012906
e massa máxima para essa dobradiça é de m = 28, 6 kg. Entretanto, o cabo EG limita a massa máxima em
17 kg, de modo que se este cabo estiver em segurança, a dobradiça também estará. Vamos verificar agora a
outra dobradiça, em J. O módulo de F~J é
> moduloFJ:=subs(g=9.8,Norm(FJ));
√
190853089 + 0.3030830320 109 m + 0.1208183200 109 m2
moduloFJ :=
570
e assim, a massa máxima vale
> solve(moduloFJ=400,m);
140 1. CONCEITOS INICIAIS
evalf(variável)
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 141
K. D. Machado
que apresenta o valor em números decimais (ponto flutuante) da variável. Resumindo tudo, temos
~r = xı̂ + y ĵ
A distância do ponto P à origem é dada pelo módulo de ~r, que vamos representar por ρ, ou seja,
p
ρ = |~r | = x2 + y 2 (1.340)
Podemos usar essa distância para especificar o ponto P no plano. A questão é que, se fornecermos apenas a
distância ρ, especificaremos um conjunto de pontos que estão a essa distância da origem, o que resulta numa
circunferência de raio ρ. Para definir completamente o ponto P precisamos de mais alguma coordenada, e
essa coordenada corresponde ao ângulo θ que aparece na figura 1.53 abaixo.
O ângulo θ é o ângulo entre o segmento de reta OP e o eixo x, sendo que o sentido anti-horário é considerado
como sendo positivo 21 . Assim, um ponto, em coordenadas polares, é representado por P(ρ, θ). Da figura,
vemos que as relações entre as coordenadas polares e as cartesianas são dadas por
21 No caso do ângulo ser negativo, a interpretação é de que ele está sendo medido no sentido horário a partir do sentido positivo
do eixo x. Nesse caso, para ilustrar um exemplo, um ângulo θ = − π2 corresponde ao ângulo θ = 3π 2
.
142 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado y
P(x, y) = P(r,q)
r
r (t)
p
ρ= x2 + y 2 (1.341a)
y
θ = arctg (1.341b)
x
Podemos obter também as relações inversas entre as coordenadas cartesianas e as coordenadas polares,
mediante
x = ρ cos θ (1.342a)
y = ρ sen θ (1.342b)
Com o uso das equações 1.341 e 1.342 podemos expressar um ponto qualquer dado numa das coordenadas
em termos da outra.
Exemplo 1.43. Os pontos abaixo são dados em coordenadas retangulares. Transforme-os para coordenadas
polares.
1. A(2, 2).
2. B(−4, 0).
√
3. C(−1, 3).
√
4. D( 3, −1).
√ √
5. E( 2, 3).
Para converter os pontos acima para coordenadas polares, usamos as equações 1.341. Começamos com
o ponto A. Nesse caso, temos
√ √ 2 π
ρA = 4+4=2 2 θA = arctg =
2 4
√
Portanto, o ponto fica A(2 2, π4 ). Vejamos agora o ponto B. Nesse caso, temos
√ 0
ρB = 16 + 0 = 4 θA = arctg =π
−4
e o ponto se torna B(4, π). Para o próximo ponto, podemos utilizar o Maple, como forma de ilustrar seu uso.
Nesse caso, precisaremos do comando
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 143
Em seguida, usamos o comando MapToBasis para converter o ponto C para coordenadas polares, achando
> MapToBasis(<-1,sqrt(3)>,’polar’);
√ 2π
4 er +
eθ
3
Note o uso do sistema de coordenadas polar em MapToBasis. Outras opções comuns são cylindrical e
spherical, e o Maple tem muitos outros sistemas pré-definidos. Efetuando uma simplificação,
> simplify(%);
2π
2 er + eθ
3
de modo que, em polares, obtemos C(2, 2π
3 ). Continuando, temos, para D,
> MapToBasis(<sqrt(3),-1>,’polar’);
√ π
4 er − eθ
6
ou
> simplify(%);
π
2 er − eθ
6
ou seja, achamos D(2, − π6 ), o que equivale a D(2, 2π − π6 ) = D(2, 11π
6 ). Por fim, para E temos
> MapToBasis(<sqrt(2),sqrt(3)>,’polar’);
ou
√ √
√ 3 2
5 er + arctan( ) eθ
2
√ √
e temos E( 5, arctg 26 ).
144 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Além de transformar um conjunto de coordenadas no outro, é importante também podermos relacionar
as bases dos dois sistemas de coordenadas. O sistema de coordenadas retangulares tem a base R2 = {ı̂, ĵ},
formada por dois versores ortogonais ı̂ e ĵ. O sistema de coordenadas polares também precisa de uma base
com dois vetores, e tanto melhor se ela for ortonormal. Vamos escolher um dos versores de modo que ele seja
paralelo ao segmento de reta OP que une a origem ao ponto P considerado, com sentido de O para P, como
mostra a figura 1.54 abaixo. O outro versor será ortogonal a este, orientado de forma a seguir o crescimento
do ângulo θ, como mostra a figura.
Temos, então, os versores ρ̂ e θ̂, e precisamos agora expressá-los em termos da base R2 . Para isso, vamos
utilizar a equação 1.23, que estabelece como escrever um vetor qualquer V~ em termos dos seus cossenos
diretores, isto é,
cos2 αρ + cos2 βρ = 1
de modo que
cos2 βρ = 1 − cos2 αρ
ou
| cos βρ | = | sen αρ |
Agora, da figura vemos que, quando θ ∈ [0, π], αρ = θ, e βρ ∈ [0, π2 ], de modo que cos βρ = sen αρ = sen θ.
Quando θ ∈ [π, 2π], αρ = 2π − θ, o que faz com que αρ ∈ [0, π]. Além disso, βρ ∈ [ π2 , π]. Nesse caso, também
ocorre cos βρ = sen θ, pois ambos são negativos. Então, podemos escrever, para qualquer θ e βρ ,
cos βρ = sen θ
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 145
cos2 αθ + cos2 βθ = 1
ou
cos2 βθ = 1 − cos2 αθ
ou ainda,
3π
cos αθ = cos( − θ) = − sen θ
2
e
3π
− θ) = − cos θ
sen αθ = sen(
2
Como nesse intervalo cos βθ é negativo, achamos, da equação 1.346,
cos βθ = cos θ
3π
O intervalo seguinte ocorre quando θ ∈ [π, Nesse caso, αθ = 3π
2 ].
π
2 − θ, de modo que αθ ∈ [0, 2 ]. Para βθ ,
π
temos βθ ∈ [ 2 , π]. Portanto, temos os mesmos resultados do intervalo anterior, ou seja,
cos αθ = − sen θ
e
cos βθ = cos θ
Por fim, para o último intervalo, isto é, para θ ∈ [ 3π
2 , 2π], temos αθ = θ −
3π
2 , de modo que αθ ∈ [0, π2 ], e
βθ ∈ [0, π2 ]. Então,
146 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado 3π
cos αθ = cos(θ − ) = − sen θ
2
e
3π
sen αθ = sen(θ − ) = cos θ
2
e, novamente, podemos escrever,
É importante notar que os versores ρ̂ e θ̂ dependem do ângulo θ considerado, de modo que a base de
coordenadas polares não é uma base fixa, como a base retangular. Para cada θ há um conjunto de versores
ρ̂ e θ̂ associado, e isso tem que ser levado em conta quando precisarmos efetuar derivadas desses versores,
por exemplo.
Podemos escrever essa equação de uma forma mais interessante, na forma de um produto de matrizes,
ou seja,
ρ̂ cos θ sen θ ı̂
= (1.349)
θ̂ − sen θ cos θ ĵ
Esquematicamente, podemos representar essa equação mediante
ρ̂ cos θ sen θ ı̂
P̃ = T̃R2 →P = R̃2 = (1.351)
θ̂ − sen θ cos θ ĵ
são matrizes que representam, respectivamente, a base polar, a matriz de transformação da base retangular
para a base polar, e a base retangular. Note que as duas bases são ortogonais, e o determinante da matriz
de transformação vale
cos θ sen θ
det T̃R2 →P = =1
− sen θ cos θ
Assim, a matriz T̃R2 →P é uma matriz ortogonal. Matrizes ortogonais têm uma propriedade importante, que
relaciona sua transposta com sua inversa, isto é, para uma matriz ortogonal vale
ou
K. D. Machado
T̃R-12 →P P̃ = I˜R̃2
onde I˜ é a matriz identidade. Então, achamos
Podemos agora escrever a posição de um ponto P no sistema de coordenadas polares. Observando as figu-
ras 1.53 e 1.54, e lembrando que a coordenada ρ é a distância entre o ponto P e a origem, vemos que a
posição de um ponto em coordenadas polares é dada, simplesmente, por
~r = ρ ρ̂ (1.356)
Esse resultado pode ser obtido formalmente se considerarmos as equações 1.342 e 1.355, lembrando que
~r = xı̂ + y ĵ
Fazendo as devidas substituições, temos
~r = ρ ρ̂
que é a equação 1.356. Note que a escrita do vetor posição torna-se simples, mas existe um preço a pagar.
Essa questão será vista na seção ??. Vejamos agora um exercı́cio que fornece um resultado interessante.
Exemplo 1.44. Considere dois pontos no plano, descritos pelas posições ~r1 e ~r2 . Obtenha o produto escalar
~r1 · ~r2 em coordenadas polares.
Esse exemplo é importante porque mostra que é preciso ter um certo cuidado ao realizar operações
vetoriais quando não estamos usando o sistema de coordenadas cartesianas. As posições dos pontos são
mostradas na figura 1.55.
Note, na figura, que cada ponto possui seu versor ρ̂ correspondente. As posições podem ser escritas mediante
Queremos calcular
148 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado y
r1 P1
P2 r2 ^
r q2 ^
r
2 1
q1
O x
ou
Para efetuar o produto escalar, vamos escrever os versores em termos da base R2 , usando a equação 1.348a,
isto é,
ou
ou então,
Note que esse é um resultado esperado, pois, da definição de produto escalar dada em 1.14, temos
K. D. Machado z
P(x, y, z) = P(r, q, z)
r
z
Q
x
É importante notar que a coordenada ρ não é mais o módulo do vetor posição ~r. O segmento OP,
quando projetado no plano xy, dá origem ao segmento OQ. O comprimento desse segmento é a coordenada
ρ, e o ângulo θ é o ângulo que esse segmento faz com o sentido positivo do eixo x, medido no sentido anti-
horário. A coordenada z é a altura do ponto P em relação ao plano xy. Assim, as coordenadas cilı́ndricas,
em termos das coordenadas retangulares, são dadas por
p
ρ= x2 + y 2 (1.360a)
y
θ = arctg (1.360b)
x
z=z (1.360c)
Com as transformações inversas
x = ρ cos θ (1.361a)
y = ρ sen θ (1.361b)
z=z (1.361c)
Precisamos também da base de coordenadas cilı́ndricas. Dois versores da base são os mesmos da
base de coordenadas polares, e o terceiro versor vem de coordenadas retangulares. A figura 1.57 ilustra a
base de coordenadas cilı́ndricas. Como os versores ρ̂ e θ̂ são os mesmos da base polar P, temos, usando as
equações 1.348, as seguintes equações de transformação entre a base cilı́ndrica e a base retangular:
K. D. Machado z
^
k
^j
^i y
q r
^
^
q
Além disso, vamos verificar a ortogonalidade, começando com ρ̂ e θ̂, isto é,
ρ̂ · ρ̂ = 1 ρ̂ · θ̂ = 0 ρ̂ · k̂ = 0
θ̂ · ρ̂ = 0 θ̂ · θ̂ = 1 θ̂ · k̂ = 0 (1.363)
k̂ · ρ̂ = 0 k̂ · θ̂ = 0 k̂ · k̂ = 1
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 151
K. D. Machado
Precisamos efetuar agora os produtos vetoriais entre os versores da base. O primeiro resultado imediato é
que
ρ̂ × ρ̂ = 0 θ̂ × θ̂ = 0 k̂ × k̂ = 0
já que um dado vetor é paralelo a si próprio. Vamos calcular agora, usando as equações 1.362a e 1.362b, o
produto
ρ̂ × θ̂ = cos2 θ k̂ + sen2 θ k̂ = k̂
O próximo produto usa as equações 1.362a e 1.362c, isto é,
ρ̂ × ρ̂ = 0 ρ̂ × θ̂ = k̂ ρ̂ × k̂ = −θ̂ (1.364a)
θ̂ × ρ̂ = −k̂ θ̂ × θ̂ = 0 θ̂ × k̂ = ρ̂ (1.364b)
k̂ × ρ̂ = θ̂ k̂ × θ̂ = −ρ̂ k̂ × k̂ = 0 (1.364c)
Voltando às equações 1.362, podemos escrevê-las na forma matricial, isto é,
ρ̂ cos θ sen θ 0 ı̂
θ̂ = − sen θ cos θ 0 ĵ (1.365)
k̂ 0 0 1 k̂
Esquematicamente, podemos representar essa equação mediante
ρ̂ cos θ sen θ 0 ı̂
C̃ = θ̂ T̃R3 →C = − sen θ cos θ 0 R̃3 = ĵ (1.367)
k̂ 0 0 1 k̂
152 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
são matrizes que representam, respectivamente, a base cilı́ndrica, a matriz de transformação da base retan-
gular para a base cilı́ndrica, e a base retangular. Note que as duas bases são ortogonais, e o determinante da
matriz de transformação vale
cos θ sen θ 0
det T̃R3 →C = − sen θ cos θ 0 = 1
0 0 1
T̃RT3 →C C̃ = I˜R̃3
de modo que
R̃3 = T̃RT3 →C C̃
e, utilizando as relações 1.367
ı̂ cos θ − sen θ 0 ρ̂
ĵ = sen θ cos θ 0 θ̂ (1.368)
k̂ 0 0 1 k̂
Explicitando os termos, achamos
De posse das equações 1.361 e 1.369 podemos escrever a posição de um ponto em coordenadas
cilı́ndricas, lembrando que, em retangulares,
~r = xı̂ + y ĵ + z k̂
Das figuras 1.56 e 1.57, é fácil ver que
~r = ρ ρ̂ + z k̂ (1.370)
Esse resultado pode ser obtido formalmente de forma análoga àquela utilizada para coordenadas polares.
Vejamos agora um exemplo importante.
Exemplo 1.45. Obtenha o produto escalar entre as posições ~r1 e ~r2 de dois pontos quaisquer escritas em
coordenadas cilı́dricas, como mostra a figura 1.58.
Da figura, vemos que as posições são dadas por
K. D. Machado z
z1
P1
z2
P2
r1
r2
ou
Exemplo 1.46. O campo gravitacional de um cilindro longo de comprimento L, raio R e massa M dis-
tribuı́da de forma homogênea em seu volume é dado, em coordenadas cilı́ndricas, por
~ r ) = − 2GM ρ̂ ,
G(~ ρ>R (1.372)
ρL
onde o eixo z está paralelo ao eixo do cilindro e ρ é a distância entre um ponto do espaço e o eixo do cilindro.
Determine o campo gravitacional gerado por um cilindro com M = 80 kg, R = 25 cm e L = 1,80 m a uma
distância de 50 cm de seu eixo.
O cálculo pedido é relativamente simples e imediato. Convertendo as grandezas para o SI, e aplicando
a equação 1.372, ficamos com
2 × 6,67 × 10−11 × 80
G~ = − ρ̂
0,5 × 1,80
ou
G~ = −1,19 × 10−8 ρ̂
e, em módulo, temos
K. D. Machado
GMa = 1,210 × 10−8 m/s2
o que indica que o cilindro considerado produz, a 50 cm de seu eixo, aproximadamente o mesmo efeito
gravitacional que Marte, sendo maior, portanto, que o de Mercúrio, Urano, Netuno e Plutão. Note que, se a
distância entre o cilindro e o ponto considerado for menor, o campo 1.373 acima aumenta, o mesmo ocorrendo
se a massa for maior ou se o comprimento L diminuir. Além disso, como o campo gravitacional do cilindro
cai com o inverso da distância a partir do eixo, se a distância aumentar 10 vezes, ou seja, passar para 5 m, o
Partimos agora para o próximo sistema de coordenadas tridimensional de grande aplicação em Fı́sica.
K. D. Machado z
| r | sen q
P(x, y, z) = P(r, q, f)
r
q
Q
x
Esse ângulo é medido no plano xy, e restringe o ponto P a estar num semi-plano perpendicular ao plano xy
e limitado pelo eixo z.
Com relação às coordenadas esféricas, é importante ressaltar alguns pontos. Primeiro, a convenção de se adotar os ângulos θ e
φ como aparecem na figura 1.59 é amplamente utilizada em Fı́sica, mas em Matemática, em alguns casos, pode ocorrer uma inversão
entre esses dois ângulos, de modo que θ passa a ser φ e φ passa a ser θ. Segundo, de acordo com nossa convenção, o ângulo azimultal φ
corresponde ao ângulo θ do sistema de coordenadas polares e cilı́ndricas. Terceiro, os domı́nios das coordenadas são r > 0, 0 6 θ 6 π
e 0 6 φ 6 2π. Como última observação, o Maple segue a convenção matemática para o sistema de coordenadas esféricas predefinido
nele, ou seja, um ponto em coordenadas esféricas é representado, no Maple, por P(r, φ, θ). Assim, ao usarmos esse sistema, podemos
proceder de dois modos. Seguimos a convenção do Maple ou criamos um sistema de coordenadas esféricas que siga a convenção fı́sica.
Precisamos agora das equações de conversão entre o sistema de coordenadas esféricas e retangulares.
Da figura 1.59, vemos que
p
r= x2 + y 2 + z 2 (1.374a)
p
x2 + y 2
θ = arctg (1.374b)
z
y
φ = arctg (1.374c)
x
As relações inversas, que transformam coordenadas retangulares em coordenadas esféricas, são dadas por
Exemplo 1.47. Os pontos abaixo estão escritos em coordenadas retangulares. Obtenha as coordenadas
esféricas correspondentes.
156 1. CONCEITOS INICIAIS
√
1. A(1, 1, 2).
K. D. Machado
2. B(3, 0, 3).
3. C(3, −4, 0).
4. D(0, −1, 0).
5. E(−2, −4, −5).
SetCoordinates(sistema[coordenada1, coordenada2,...])
que muda o sistema de coordenadas em uso para o sistema definido em sistema, sendo que alguns tipos co-
muns pré-definidos são cartesian (retangulares em duas ou três dimensões), polar (polares), cylindrical
(cilı́ndricas) e spherical (esféricas, na ordem P(r, φ, θ)), e coordenada1, coordenada2, etc, são as coorde-
nadas de cada sistema. Por exemplo, para definir o sistema de coordenadas retangulares em três dimensões,
executamos
> SetCoordinates(cartesian[x,y,z]);
o que resulta em
cartesian x, y, z
Podemos conferir o sistema em uso mediante o comando
GetCoordinates()
isto é,
> GetCoordinates();
o que fornece
cartesian x, y, z
Com relação ao comando SetCoordinates e aos sistemas de coordenadas, é importante destacarmos que esse comando apenas
muda de um sistema de coordenadas para outro, do atual em uso para o novo, chamado de sistema, o qual pode ser um sistema de
coordenadas previamente definido pelo Maple ou criado pelo usuário. Quando o sistema é um pré-definido, não é necessário utilizar
as coordenadas do sistema entre colchetes, exceto quando se trata do sistema de coordenadas retangulares, pois o nome do sistema
(cartesian) é o mesmo em duas ou três dimensões. Assim, para definir o sistema de coordenadas cilı́ndricas, é suficiente executar
> SetCoordinates(cylindrical);
K. D. Machado cylindrical r, θ, z
O outro comando relevante é o comando que permite definir um sistema de coordenadas de acordo
com a necessidade. Em particular, podemos definir um sistema de coordenadas esféricas de acordo com nossa
convenção usual, utilizando, para isso, o comando AddCoordinates. Esse comando tem a seguinte forma:
AddCoordinates(sistema[coord1,coord2,...],[eq1,eq2,...], opç~
ao)
> with(VectorCalculus):
Warning, the assigned names ‘<,>‘ and ‘<|>‘ now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected:
‘*‘, ‘+‘, ‘-‘, ‘.‘, D, Vector, diff, int, limit, series
Agora, como sabemos que r deve ser não-negativo, 0 6 θ 6 π e 0 6 φ 6 2π, podemos definir estas faixas de
valores para as coordenadas, mediante o comando
assume(restriç~
oes)
onde restriç~
oes indicam as restrições para o domı́nio das variáveis. No presente caso, temos r > 0, 0 6 θ 6 π
e 0 6 φ 6 2π, isto é,
esfericas
Podemos agora definir o sistema de coordenadas a ser usado como sendo o sistema de coordenadas esféricas
por nós criado, ou seja,
> SetCoordinates(esfericas[r,theta,phi]);
esfericas r ˜, θ˜, φ˜
e, conferindo, temos
> GetCoordinates();
o que resulta em
esfericas r ˜, θ˜, φ˜
158 1. CONCEITOS INICIAIS
K. D. Machado
Note que as coordenadas aparecem com um til (˜) ao lado porque sobre elas foram feitas as considerações de-
finidas no comando assume. Passando agora à escrita dos pontos em coordenadas esféricas, temos, utilizando
o ponto B,
> simplify(MapToBasis(<3,0,3>,’esfericas’));
√ π
3 2 er + eθ
4
√ π
> simplify(MapToBasis(<-2,-4,-5>,’esfericas’));
√ √
3 5 er + (−arctan( 2 5 5 ) + π) eθ + (arctan(2) − π) eφ
Usando o comando evalf para simplificar a expressão, temos
> evalf(%);
6.708203931 er + 2.411864998 eθ − 2.034443936 eφ
ou seja, aproximadamente temos E(6,7; 2,4; −2,0).
Devemos considerar agora a base para o sistema de coordenadas esféricas. Como o ângulo φ é equi-
valente ao θ de coordenadas polares, um versor da base de coordenadas esféricas corresponde ao θ̂ de
coordenadas polares, lembrando que esse versor pertence ao plano xy. Outra escolha natural consiste em
considerar algo equivalente ao versor ρ̂ em polares, ou seja, um versor orientado da origem para o ponto P,
representado por r̂. O terceiro versor deve ser ortogonal aos dois primeiros. A figura 1.60 apresenta a base
de coordenadas esféricas.
|r̂x |
cos αr =
|r̂|
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 159
K. D. Machado z
^
f
^
r
^ ^
k q q
^
rz ^
r
q
O
ar br r^y
r^x r^xy y
f
x
onde r̂x é o vetor componente de r̂ na direção x. Podemos reescrever essa equação como
|r̂x | |r̂xy |
cos αr =
|r̂xy | |r̂|
sendo que r̂xy é o vetor componente de r̂ no plano xy. Da figura 1.61, vemos que
|r̂x | |r̂xy |
cos φ = sen θ =
|r̂xy | |r̂|
de modo que
K. D. Machado
Podemos obter o versor θ̂ de uma forma similar. Primeiro, notamos, na figura 1.62, que o ângulo diretor γ
corresponde, para θ̂, ao ângulo θ + π2 , de modo que
z
q
q^xy
f O gq
π
cos γθ = cos(θ + ) = − sen θ
2
Com relação ao ângulo αθ , temos
|θ̂ x |
cos αθ =
|θ̂|
sendo que θ̂x é o vetor componente de θ̂ na direção x. Podemos reescrever essa equação como
|θ̂x | |θ̂xy |
cos αθ =
|θ̂xy | |θ̂|
onde θ̂ xy é o vetor componente de θ̂ no plano xy. Da figura 1.62, achamos
|θ̂ x | |θ̂ xy |
cos φ = cos θ =
|θ̂ xy | |θ̂|
K. D. Machado
que são as equações que relacionam a base E de coordenadas esféricas com a base retangular. Note que, no
sistema de coordenadas esféricas, a posição de um ponto é dada simplesmente por
~r = |~r | r̂ = r r̂ (1.380)
onde r = |~r | é a distância do ponto à origem e r̂ é o versor que aponta da origem para o ponto considerado.
Novamente aqui há um preço a pagar pela simplicidade com que a posição é escrita, conforme veremos
oportunamente.
θ̂ · θ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) · (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂)
ou
r̂ · θ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) · (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂)
o que resulta em
r̂ · φ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) · (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou
θ̂ · φ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) · (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou
K. D. Machado
Assim, comprovamos que a base do sistema de coordenadas esféricas E é ortogonal. Vejamos agora os produtos
vetoriais entre os versores da base. É imediato que
r̂ × r̂ = 0 θ̂ × θ̂ = 0 φ̂ × φ̂ = 0
r̂ × θ̂ = sen θ cos θ cos φ sen φ k̂ + sen2 θ cos φ ĵ − sen θ cos θ sen φ cos φ k̂
− sen2 θ sen φı̂ + cos2 θ cos φ ĵ − cos2 θ sen φı̂
ou
r̂ × φ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) × (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
isto é,
θ̂ × φ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) × (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou
r̂ × r̂ = 0 r̂ × θ̂ = φ̂ r̂ × × φ̂ = −θ̂ (1.381a)
θ̂ × r̂ = −φ̂ θ̂ × θ̂ = 0 θ̂ × × φ̂ = −r̂ (1.381b)
φ̂ × r̂ = θ̂ φ̂ × θ̂ = −r̂ φ̂ × × φ̂ = 0 (1.381c)
Podemos escrever as equações de transformação 1.379 numa forma matricial, do mesmo modo como
fizemos para o caso de coordenadas cilı́ndricas, de modo que
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 163
K. D. Machado
r̂ sen θ cos φ sen θ sen φ cos θ
ı̂
θ̂ = cos θ cos φ cos θ sen φ − sen θ ĵ (1.382)
φ̂ − sen φ cos φ 0 k̂
De forma esquemática, podemos escrever
r̂ ı̂
Análise Vetorial
sen θ cos φ sen θ sen φ cos θ
Ẽ = θ̂ T̃R3 →E = cos θ cos φ cos θ sen φ − sen θ R̃3 = ĵ (1.384)
φ̂ − sen φ cos φ 0 k̂
o que resulta em
K. D. Machado
sin(θ) cos(φ) sin(θ) sin(φ) cos(θ)
T := cos(θ) cos(φ) cos(θ) sin(φ) −sin(θ)
−sin(φ) cos(φ) 0
Note que, para definirmos a matriz, listamos seus elementos de modo que elementos em colunas adjacentes são
separados por uma barra vertical (|). Cada linha da matriz é ordenada entre sinais de menor (<) e maior (>),
Determinant(M)
Transpose(M)
para obter a matriz transposta da matriz qualquer M. No presente problema, queremos achar
> Transpose(T);
Obtemos, então,
sin(θ) cos(φ) cos(θ) cos(φ) −sin(φ)
sin(θ) sin(φ) cos(θ) sin(φ) cos(φ)
cos(θ) −sin(θ) 0
e verificamos que as duas matrizes são iguais, como deveria ser. Vamos multiplicar agora T̃R-13 →E pela
equação 1.383, ou seja,
R̃3 = T̃RT3 →E Ẽ
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 165
K. D. Machado
Utilizando agora as equações 1.384, temos
ı̂ sen θ cos φ cos θ cos φ − sen φ r̂
ĵ = sen θ sen φ cos θ sen φ cos φ θ̂
k̂ cos θ − sen θ 0 φ̂
É importante relembrar que os versores r̂, θ̂ e φ̂ não são fixos, ao contrário dos versores da base retangular.
Vejamos agora alguns exemplos de aplicação.
1. V~ = xı̂ + y ĵ + z k̂.
2. U~ = zı̂ + x ĵ + y k̂.
ou
ou ainda,
V~ = r r̂
Passando agora à função U~ , vamos utilizar o Maple para efetuar a conversão. Primeiro precisamos
definir o sistema de coordenadas esféricas, conforme mostramos no exemplo 1.47, ou seja,
> with(VectorCalculus):
Warning, the assigned names ‘<,>‘ and ‘<|>‘ now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected:
‘*‘, ‘+‘, ‘-‘, ‘.‘, D, Vector, diff, int, limit, series
166 1. CONCEITOS INICIAIS
>
K. D. Machado
assume(r>= 0, 0<= theta, theta<=Pi,0<=phi,phi< 2*Pi);
> AddCoordinates(esfericas[r,theta,phi],[r*sin(theta)*cos(phi),
> r*sin(theta)*sin(phi),r*cos(theta)]);
esfericas
Agora vamos definir a função, ou campo vetorial, U~ . Para isso, utilizamos o comando
O comando VectorField cria um campo vetorial utilizando o sistema de coordenadas definido em sistema
(notar que o nome do sistema deve estar entre apóstrofos), o qual utiliza as coordenadas coord1, coord2,
Análise Vetorial
.... As componentes do campo vetorial são dadas entre os sinais de < e >, na ordem comp1, comp2, ...,
onde comp1 é a primeira componente, comp2 é a segunda, e assim sucessivamente. Assim, para definir o
campo vetorial U~ = zı̂ + x ĵ + y k̂, temos
> U:=VectorField(<z,x,y>,’cartesian’[x,y,z]);
U := z ex + x ey + y ez
Em seguida, usamos o comando MapToBasis, isto é,
> simplify(MapToBasis(U,’esfericas’[r,theta,phi]));
ou seja,
K. D. Machado z
P1
r1
P2
q1
q2 r2
O
f2 y
ou
r̂1 · r̂2 = sen θ1 sen θ2 cos φ1 cos φ2 + sen θ1 sen θ2 sen φ1 sen φ2 + cos θ1 cos θ2
ou ainda,
r̂1 · r̂2 = sen θ1 sen θ2 (cos φ1 cos φ2 + sen φ1 sen φ2 ) + cos θ1 cos θ2
que fica
É interessante notar que, sendo Θ o ângulo entre ~r1 e ~r2 quando tomados na mesma origem, o produto
escalar entre eles é, formalmente, dado por
Vimos nesse capı́tulo vários tópicos essenciais sobre vetores, definimos algumas operações elementares
entre eles, introduzimos uma ferramenta computacional importante, o Maple, a qual será utilizada ao longo
do livro e definimos três sistemas de coordenadas curvilı́neas extremamente importantes, além do sistema
de coordenadas retangulares. No próximo capı́tulo passamos ao estudo das derivadas vetoriais, incluindo
sempre aplicações.
168 1. CONCEITOS INICIAIS
1.8 Exercı́cios
K. D. Machado
1.1 ~ = 2ı̂ − 4 ĵ − 3 k̂, B
Sendo dados os vetores A ~ = 4ı̂ + 2 ĵ + 8 k̂, C
~ = −2ı̂ − 8 ĵ + 2 k̂ e D
~ = 9ı̂ + ĵ − 6 k̂,
22
calcule
a) Os módulos dos vetores.
b) Todas as possı́veis somas utilizando dois dos vetores, e os respectivos módulos.
c) Todas as possı́veis somas utilizando três dos vetores, e os respectivos módulos.
mostre, utilizando produtos escalares, que cos(θ − δ) = cos θ cos δ + sen θ sen δ.
1.5 Expresse os pontos abaixo, dados em coordenadas retangulares, em termos de coordenadas polares.
1. A(1, 1).
2. B(−3, 0).
3. C(0, 4).
4. D(−3, −4).
5. E(2, −5).
22 Note que você pode usar o Maple na resolução dos exercı́cios, se preferir.