DOSSIE IPHAN - Cirio de Nazaré
DOSSIE IPHAN - Cirio de Nazaré
DOSSIE IPHAN - Cirio de Nazaré
{ Círio de Nazaré}
dossiê iphan i { Círio de Nazaré }
dossiê iphan i { Círio de Nazaré }
presidente da república Elaboração do dossiê para Biblioteca do Instituto Histórico
Luiz Inácio Lula da Silva e Geográfico/RJ
Registro do Círio de Nazaré
Basílica de Nazaré
ministro da cultura
equipe técnica iphan Cúria Metropolitana
Gilberto Gil Moreira
departamento do Coleção Particular Victorino
presidente do iphan Chermont de Miranda
patrimônio imaterial
Luiz Fernando de Almeida
Supervisão pesquisa iconográfica
chefe de gabinete Ana Cláudia Lima e Alves – gerente de registro Flávio Nassar
Thays Pessotto Zugliani Ana Gita de Oliveira – gerente de identificação Coaracy Luana do Carmo Elleres
Maria das Dores Freire – consultora Ana Carolina Sarmento Ferreira
procuradora-chefe federal,
apoio Maria Luiza Faria Nassar
interina
Fabíola Nogueira Gama Cardoso Tatiana Lima
Tereza Beatriz da Rosa Miguel
2 a superintendência regional pesquisa histórica e cronologia
diretora de patrimônio imaterial
Coordenação-geral Claudia Aline Pires
Márcia Sant’Anna
Maria Dorotéa de Lima Elielson Rodrigues da Silva
diretor de patrimônio material Gilmar Matta da Silva
e fiscalização, interino Márcio Couto Henrique
apoio administrativo
Cyro Corrêa Lyra Paulo Roberto Rodrigues Benjamin
Sirley Nascimento Santana
diretor de museus Raimundo Nonato Cardoso apoio
e centros culturais Lucimar Florêncio de Castro Arquidiocese de Belém
José do Nascimento Junior Arquivo Público do Pará
revisão e organização
dos registros audiovisuais Basílica de Nossa Senhora de Nazaré
diretora de planejamento
Nívia de Morais Brito Biblioteca Arthur Vianna
e administração
Diretoria da Festividade de Nazaré
Maria Emília Nascimento Santos
equipe externa Grêmio Literário Português
coordenadora-geral de pesquisa, Consultoria de antropologia Instituto Histórico e Geográfico
documentação e Referência Raymundo Heraldo Maués Museu da Universidade Federal do Pará
Lia Motta Museu do Círio
elaboração do texto
Márcio Couto Henrique Sol Informática
coordenadora-geral de promoção
do patrimônio cultural Maria Dorotéa de Lima
Grace Elizabeth Raymundo Heraldo Maués
(*) Cf. Círios, letra de Vital Lima e Marco Aurélio. CD Canto vital, Belém, Basa, s/d.
“Meu filho vês aquela claridade
É a cidade na escuridão
O barco singra as águas e pulsa feito um coração
Cheio de alegria
Bálsamo, bênção
O círio de Nazaré
Tu verás será menino algo pra não se esquecer
pra colar no teu caminho
feito o som de uma viola que te fez chorar baixinho
Quando vires a senhora ficarás pequenininho.” *
(*) Cf. Círios, letra de Vital Lima e Marco Aurélio. CD Canto vital, Belém, Basa, s/d.
SUMÁRIO A HISTÓRIA
11 O Círio é uma parada na vida
40 Uma procissão de carros, motos
e bicicletas
O CÍRIO COMO OBJETO DE
REGISTRO
14 A promessa e o milagre 42 Procissão pelo rio 67 Registro de memória, tradição
16 Um culto popular 43 Procissão dos motoqueiros e identidade
19 Festa religiosa ou festa profana? 44 A celebração da descida 71 Elementos essenciais
22 O Primeiro Conflito: 45 Revivendo as “fugas” da imagem
a questão nazarena 46 O terço da alvorada 76 CONCLUSÃO
24 O Segundo Conflito: 47 O Círio das crianças
a questão da corda 48 Encerrando a festa 78 Notas
26 O Terceiro Conflito: 50 A festa e seu arraial
a questão dos padres e posseiros 53 Almoço do Círio, o Natal 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do Araguaia dos paraenses
56 Um espetáculo de cultura 82 ANEXO I O Território do Círio
O CÍRIO CONTEMPORÂNEO popular
29 Lá vem vindo a procissão 57 Lá vem vindo o arrastão 84 ANEXO II Linha do Tempo
31 A corda e a berlinda 58 A festa das filhas da Chiquita
33 O milagre da barca e a marujada 60 Computadores para as
35 Nos carros, as alegorias melhores redações
36 A missa do mandato 60 Instrumentos musicais para as
37 Visitas da santa aos fiéis melhores canções
38 Traslado da imagem 61 A feira de brinquedos de miriti
para Ananindeua 62 Organização e gestão do Círio
SUMÁRIO A HISTÓRIA
11 O Círio é uma parada na vida
40 Uma procissão de carros, motos
e bicicletas
O CÍRIO COMO OBJETO DE
REGISTRO
14 A promessa e o milagre 42 Procissão pelo rio 67 Registro de memória, tradição
16 Um culto popular 43 Procissão dos motoqueiros e identidade
19 Festa religiosa ou festa profana? 44 A celebração da descida 71 Elementos essenciais
22 O Primeiro Conflito: 45 Revivendo as “fugas” da imagem
a questão nazarena 46 O terço da alvorada 76 CONCLUSÃO
24 O Segundo Conflito: 47 O Círio das crianças
a questão da corda 48 Encerrando a festa 78 Notas
26 O Terceiro Conflito: 50 A festa e seu arraial
a questão dos padres e posseiros 53 Almoço do Círio, o Natal 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do Araguaia dos paraenses
56 Um espetáculo de cultura 82 ANEXO I O Território do Círio
O CÍRIO CONTEMPORÂNEO popular
29 Lá vem vindo a procissão 57 Lá vem vindo o arrastão 84 ANEXO II Linha do Tempo
31 A corda e a berlinda 58 A festa das filhas da Chiquita
33 O milagre da barca e a marujada 60 Computadores para as
35 Nos carros, as alegorias melhores redações
36 A missa do mandato 60 Instrumentos musicais para as
37 Visitas da santa aos fiéis melhores canções
38 Traslado da imagem 61 A feira de brinquedos de miriti
para Ananindeua 62 Organização e gestão do Círio
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 11
promesseiros
na corda.
foto: luiz braga.
página ao lado
detalhe de cartaz,
milagre de d. fuas
roupinho, ¡ª™¢,
acervo de basílico
de nazaré.
A HISTÓRIA
H á 211 anos, o estado do Pará,
mais particularmente a capital,
Belém, literalmente pára por
hoje avenida Nazaré, em Belém
do Pará, um caboclo agricultor
e caçador chamado Plácido José
ocasião do Círio de Nossa Senhora dos Santos.2 Levado pela sede,
de Nazaré. No chamado dia do O CÍRIO É acabou descobrindo entre pedras
Círio, o trânsito é interditado nas UMA PARADA cobertas de trepadeiras, às margens
ruas centrais da capital, as lojas do igarapé Murutucu (localizado
fecham, as ruas pelas quais a
NA VIDA atrás da atual Basílica de Nazaré),
procissão passa são profusamente uma espécie de nicho natural com
decoradas, janelas, portas e sacadas uma pequena imagem da Virgem
são ocupadas pelos moradores de Nazaré (a imagem, hoje tida
atentos à passagem da imagem da como a original, tem 38,5
santa. Muitos chegam até a comprar históricos. É difícil separar centímetros de altura). Plácido
roupa nova para vestir no dia o mito da história apoiada em levou-a para casa e, no dia
do Círio. Nas palavras de Angelim documentos. Sabe-se que a seguinte, ao acordar, viu que havia
Netto, “trabalha-se no Pará o ano devoção à Nossa Senhora de desaparecido. Assustado, correu
todo, sofrendo as necessidades, para Nazaré começou, no Brasil e no até o local onde a encontrara e
em outubro vestir uma roupa nova Pará, em uma localidade percebeu que a imagem havia
e almoçar como um príncipe no dia denominada Vigia (hoje sede “voltado” para o mesmo lugar.
do Círio. O Pará, sem a festa de de município) e de lá deve ter O fenômeno repetiu-se várias
Nazaré, não seria Pará”.1 atingido a capital, Belém. vezes, até que o governador da
A origem do Círio e da Festa Por volta de 1700, reza a época (a lenda não esclarece o seu
de Nazaré está envolta em lendas tradição, caminhava nas matas da nome) mandou que a imagem fosse
ou mitos, que se misturam a fatos então tortuosa estrada do Utinga, levada para a capela do Palácio do
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promesseiros
na corda.
foto: luiz braga.
página ao lado
detalhe de cartaz,
milagre de d. fuas
roupinho, ¡ª™¢,
acervo de basílico
de nazaré.
A HISTÓRIA
H á 211 anos, o estado do Pará,
mais particularmente a capital,
Belém, literalmente pára por
hoje avenida Nazaré, em Belém
do Pará, um caboclo agricultor
e caçador chamado Plácido José
ocasião do Círio de Nossa Senhora dos Santos.2 Levado pela sede,
de Nazaré. No chamado dia do O CÍRIO É acabou descobrindo entre pedras
Círio, o trânsito é interditado nas UMA PARADA cobertas de trepadeiras, às margens
ruas centrais da capital, as lojas do igarapé Murutucu (localizado
fecham, as ruas pelas quais a
NA VIDA atrás da atual Basílica de Nazaré),
procissão passa são profusamente uma espécie de nicho natural com
decoradas, janelas, portas e sacadas uma pequena imagem da Virgem
são ocupadas pelos moradores de Nazaré (a imagem, hoje tida
atentos à passagem da imagem da como a original, tem 38,5
santa. Muitos chegam até a comprar históricos. É difícil separar centímetros de altura). Plácido
roupa nova para vestir no dia o mito da história apoiada em levou-a para casa e, no dia
do Círio. Nas palavras de Angelim documentos. Sabe-se que a seguinte, ao acordar, viu que havia
Netto, “trabalha-se no Pará o ano devoção à Nossa Senhora de desaparecido. Assustado, correu
todo, sofrendo as necessidades, para Nazaré começou, no Brasil e no até o local onde a encontrara e
em outubro vestir uma roupa nova Pará, em uma localidade percebeu que a imagem havia
e almoçar como um príncipe no dia denominada Vigia (hoje sede “voltado” para o mesmo lugar.
do Círio. O Pará, sem a festa de de município) e de lá deve ter O fenômeno repetiu-se várias
Nazaré, não seria Pará”.1 atingido a capital, Belém. vezes, até que o governador da
A origem do Círio e da Festa Por volta de 1700, reza a época (a lenda não esclarece o seu
de Nazaré está envolta em lendas tradição, caminhava nas matas da nome) mandou que a imagem fosse
ou mitos, que se misturam a fatos então tortuosa estrada do Utinga, levada para a capela do Palácio do
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 12 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 13
imagem original
de nossa senhora
de nazaré, coleção
manuel barata,
ihg rio de janeiro.
página ao lado
carro do foguetes
durante a
procissão, revista
“a semana”, ¡ª™¡.
imagem original
de nossa senhora
de nazaré, coleção
manuel barata,
ihg rio de janeiro.
página ao lado
carro do foguetes
durante a
procissão, revista
“a semana”, ¡ª™¡.
De origem portuguesa, a abismo por intercessão de Nossa presidente da província ocorreram O primeiro Círio foi acompanhado presidente da província inaugurou
devoção a Nossa Senhora de Nazaré Senhora de Nazaré. O fidalgo, no mesmo ano, o que demonstra por quase dois mil soldados, além a feira que mandara montar
tem uma longa história. Diz-se em agradecido, passou a propagar a um indício da popularidade da população civil de Belém e do no arraial. Foi também lançada,
Portugal que a imagem que deu devoção em Portugal. da devoção à imagem, bem como interior da província. solenemente, a pedra fundamental
origem a esse culto foi esculpida A primeira “parada na vida” evidencia a preocupação dos Participavam ainda do cortejo, da igreja de pedra e cal que deveria
A PROMESSA E por São José, tendo a própria dos paraenses proporcionada pelo poderes instituídos, Estado além do presidente da província, ser erguida no lugar da ermida,
O MILAGRE Virgem por modelo, e teria sido Círio de Nazaré ocorreu em 1793. e Igreja, no sentido de exercer os vereadores da Câmara e o vigário sob a responsabilidade
pintada por São Lucas. Depois de Dois anos antes, o então presidente o controle sobre ela. Alvo das geral, substituindo o bispo, que da irmandade de Nossa Senhora
muitas idas e vindas, nos primeiros da Província do Pará, Francisco de atenções e dos interesses da Coroa viajara para Portugal. À frente, de Nazaré.5 Esse primeiro Círio
anos do cristianismo, esta imagem Sousa Coutinho, ávido por e da Igreja, a devoção popular desfilava um esquadrão de revivia a lenda: a imagem da santa,
chegou às mãos de São Jerônimo e fomentar o comércio regional à Nossa Senhora de Nazaré cavalaria com seus clarins, levada na véspera para a capela
de Santo Agostinho, tendo ido paraense, resolveu organizar uma caminhava para uma futura anunciando ao povo a aproximação do Palácio do Governo, refazia seu
E timologicamente, a expressão
“círio”, do latim cereus,
significa uma grande vela de cera.
parar na Península Ibérica e depois
nas mãos do monge Romano e do
rei Rodrigo, dos visigodos,
grande feira na qual os produtos
agrícolas e extrativistas de toda a
província seriam expostos e
institucionalização.
Em junho de 1793, pouco antes
da feira, o presidente da província
do cortejo. Ao centro, fidalgos
a cavalo formavam alas, entre as
quais desfilavam as grandes damas
caminho mítico, no dia seguinte,
até o local do primitivo achado.
Ainda hoje esse movimento de ir
Em Portugal, os círios derrotado pelos mouros na batalha comercializados. Estrategicamente, adoeceu e fez uma promessa: locais, sentadas nas almofadas de e vir da imagem da santa repete-se
representavam um ajuntamento de de Guadalete. Abandonada numa Sousa Coutinho determinou que se recuperasse a saúde e pudesse seus palanquins. nas procissões da trasladação e do
pessoas que se organizavam para, gruta pelo rei fugitivo, a imagem a feira deveria ocorrer no final inaugurar a grande feira, levaria a Naquele primeiro Círio Círio, a primeira antecedendo a
em romaria, ir ao Santuário de ficou perdida durante séculos, do segundo semestre de 1793, imagem até o palácio do governo a imagem da santa foi transportada segunda, do mesmo modo que foi
Nossa Senhora de Nazaré. até ser encontrada por pastores, na mesma época em que os e, de lá, esta seria conduzida, em no colo do vigário geral, em um realizado por Souza Coutinho.
Posteriormente, as velas de cera ou reavivando-se o seu culto a partir devotos costumavam homenagear procissão, de volta à igrejinha. carro puxado por juntas de bois,
círios levados pelos romeiros nessas do século xii, depois do famoso a Virgem de Nazaré. Sousa Coutinho se recuperou e, como se fazia em Portugal. Quando
peregrinações passaram a milagre de D. Fuas Roupinho, A oficialização da devoção pela no dia 8 de setembro de 1793, o cortejo chegou à ermida da santa,
denominar a própria romaria.4 fidalgo português salvo de cair num Igreja e a feira organizada pelo cumpriu a promessa feita. foi rezada uma missa, após o que o
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 14 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 15
De origem portuguesa, a abismo por intercessão de Nossa presidente da província ocorreram O primeiro Círio foi acompanhado presidente da província inaugurou
devoção a Nossa Senhora de Nazaré Senhora de Nazaré. O fidalgo, no mesmo ano, o que demonstra por quase dois mil soldados, além a feira que mandara montar
tem uma longa história. Diz-se em agradecido, passou a propagar a um indício da popularidade da população civil de Belém e do no arraial. Foi também lançada,
Portugal que a imagem que deu devoção em Portugal. da devoção à imagem, bem como interior da província. solenemente, a pedra fundamental
origem a esse culto foi esculpida A primeira “parada na vida” evidencia a preocupação dos Participavam ainda do cortejo, da igreja de pedra e cal que deveria
A PROMESSA E por São José, tendo a própria dos paraenses proporcionada pelo poderes instituídos, Estado além do presidente da província, ser erguida no lugar da ermida,
O MILAGRE Virgem por modelo, e teria sido Círio de Nazaré ocorreu em 1793. e Igreja, no sentido de exercer os vereadores da Câmara e o vigário sob a responsabilidade
pintada por São Lucas. Depois de Dois anos antes, o então presidente o controle sobre ela. Alvo das geral, substituindo o bispo, que da irmandade de Nossa Senhora
muitas idas e vindas, nos primeiros da Província do Pará, Francisco de atenções e dos interesses da Coroa viajara para Portugal. À frente, de Nazaré.5 Esse primeiro Círio
anos do cristianismo, esta imagem Sousa Coutinho, ávido por e da Igreja, a devoção popular desfilava um esquadrão de revivia a lenda: a imagem da santa,
chegou às mãos de São Jerônimo e fomentar o comércio regional à Nossa Senhora de Nazaré cavalaria com seus clarins, levada na véspera para a capela
de Santo Agostinho, tendo ido paraense, resolveu organizar uma caminhava para uma futura anunciando ao povo a aproximação do Palácio do Governo, refazia seu
E timologicamente, a expressão
“círio”, do latim cereus,
significa uma grande vela de cera.
parar na Península Ibérica e depois
nas mãos do monge Romano e do
rei Rodrigo, dos visigodos,
grande feira na qual os produtos
agrícolas e extrativistas de toda a
província seriam expostos e
institucionalização.
Em junho de 1793, pouco antes
da feira, o presidente da província
do cortejo. Ao centro, fidalgos
a cavalo formavam alas, entre as
quais desfilavam as grandes damas
caminho mítico, no dia seguinte,
até o local do primitivo achado.
Ainda hoje esse movimento de ir
Em Portugal, os círios derrotado pelos mouros na batalha comercializados. Estrategicamente, adoeceu e fez uma promessa: locais, sentadas nas almofadas de e vir da imagem da santa repete-se
representavam um ajuntamento de de Guadalete. Abandonada numa Sousa Coutinho determinou que se recuperasse a saúde e pudesse seus palanquins. nas procissões da trasladação e do
pessoas que se organizavam para, gruta pelo rei fugitivo, a imagem a feira deveria ocorrer no final inaugurar a grande feira, levaria a Naquele primeiro Círio Círio, a primeira antecedendo a
em romaria, ir ao Santuário de ficou perdida durante séculos, do segundo semestre de 1793, imagem até o palácio do governo a imagem da santa foi transportada segunda, do mesmo modo que foi
Nossa Senhora de Nazaré. até ser encontrada por pastores, na mesma época em que os e, de lá, esta seria conduzida, em no colo do vigário geral, em um realizado por Souza Coutinho.
Posteriormente, as velas de cera ou reavivando-se o seu culto a partir devotos costumavam homenagear procissão, de volta à igrejinha. carro puxado por juntas de bois,
círios levados pelos romeiros nessas do século xii, depois do famoso a Virgem de Nazaré. Sousa Coutinho se recuperou e, como se fazia em Portugal. Quando
peregrinações passaram a milagre de D. Fuas Roupinho, A oficialização da devoção pela no dia 8 de setembro de 1793, o cortejo chegou à ermida da santa,
denominar a própria romaria.4 fidalgo português salvo de cair num Igreja e a feira organizada pelo cumpriu a promessa feita. foi rezada uma missa, após o que o
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 16 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 17
jogos de azar e brinquedos no Ao longo do tempo, o Círio de da província Justino Ferreira Uma única vez, em 1891, o Círio da Irmandade de Nazaré, adotando- Também em 1855 irrompera
parque de diversões. A própria Nazaré, em Belém, sofreu diversas decidiram que a procissão sairia saiu da igreja de Santo Alexandre, se também outras medidas que em Belém a epidemia de cólera,
festividade funcionou modificações: quanto à data e ao não mais do palácio do governo, também localizada na praça da Sé.14 restringiam o uso de carros, cavalos trazida pela galera Defensor, vinda
originariamente como feira de horário de realização; e quanto à mas da Catedral da Sé. Nos primeiros círios realizados e foguetes no cortejo. de Portugal com 304 passageiros,
produtos regionais. Em suma, organização do cortejo, ao qual Dom Macedo Costa foi um em Belém a imagem da santa era Estas medidas, que agradaram sendo que 36 destes morreram na
a festa também faz parte da foram agregados diversos elementos árduo defensor do fim do regime conduzida no colo dos bispos, à maioria do povo, provocaram, travessia. Os doentes caíam nas ruas
homenagem dos devotos à santa, novos e alegorias, embora seu do padroado, que colocava a Igreja sendo mais tarde introduzida a porém, certo descontentamento e nas igrejas, famílias inteiras
já que, além de lhes agraciar com o itinerário tenha se mantido sem Católica sob os auspícios da berlinda, no interior da qual ficava entre pessoas abastadas, pois eram contaminadas. A epidemia
milagre, ela ainda os brinda com grandes alterações. No início, monarquia portuguesa, e também a imagem, que era transportada significavam simplificação e grassava sem poupar uma casa;
música, dança, espetáculo.12 não havia data certa para a festa, um ferrenho lutador contra num carro puxado por juntas de “empobrecimento” da procissão. as embarcações ficavam ao léu,
O Círio é uma procissão podendo esta ser realizada em a autonomia dos devotos do bois. Em certos anos, quando o Mais tarde surgiriam muitas pois tripulações eram dizimadas;
especial, que não aparece em todas setembro, outubro ou novembro. catolicismo popular. Estes fatores Círio percorria a área do mercado polêmicas por causa da corda, o comércio fechava as portas.
as festas de santos. Em suas A romaria era vespertina e até podem tê-lo motivado a transferir Ver-o-Peso, havia dificuldade para que um bispo da primeira metade O bispo Dom José Afonso de
origens lusitanas, já no século mesmo noturna, daí o uso de velas. a saída da procissão para a Catedral o carro passar por causa da água do século xx – Dom Irineu Joffily – Moraes Torres promoveu orações,
xviii, os círios apresentavam A partir de 1854, em função das da Sé, favorecendo seu controle que transbordava da baía, tentou suprimir, provocando uma recitações de terços, bênçãos do
mais um caráter de espetáculo, chuvas que comprometeram o Círio sobre ela. Em 1901, o bispo inundando e enlameando a rua, grande reação popular. Depois, a Santíssimo, recomendando sempre
organizados por corporações no ano anterior, a procissão passou Dom Francisco do Rêgo Maia fixou que não possuía calçamento. corda perdeu a finalidade inicial, a confiança em Nossa Senhora
religiosas que, em setembro, a ser realizada no horário matinal. o segundo domingo de outubro Por isto surgiu a idéia, em 1855, passando a ser utilizada somente de Nazaré, celebrada mais uma vez
durante a festa anual da santa, Entre 1793, data do primeiro como a data oficial do Círio. de passar uma grande corda em para separar o “núcleo estruturado”, naquele ano, apesar da epidemia,
dirigiam-se à vila de Nazaré. Círio, e 1882, o cortejo saía do No ano de 1973, quando era volta da berlinda, para que o povo no qual iam a berlinda, as autoridades que só seria debelada alguns meses
Na ocasião do desfile dos círios, palácio do governo. Em 1882, governador do Pará o engenheiro pudesse ajudar a puxá-la, a fim de e os convidados, da “massa depois, em fevereiro de 1856.16
o povo se juntava para apreciar sua o bispo Dom Macedo Costa (que Fernando Guilhon, o Círio saiu que o carro transpusesse melhor o indiferenciada” que acompanhava
passagem, em meio ao repique dos esteve à frente do bispado do Pará novamente da Capela do Palácio, atoleiro. Somente 13 anos depois o Círio.15 Hoje, até mesmo essa
sinos e ao foguetório.13 entre 1861 e 1890) e o presidente que havia sido restaurada. a corda foi oficializada pela diretoria função da corda desapareceu.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 20 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 21
jogos de azar e brinquedos no Ao longo do tempo, o Círio de da província Justino Ferreira Uma única vez, em 1891, o Círio da Irmandade de Nazaré, adotando- Também em 1855 irrompera
parque de diversões. A própria Nazaré, em Belém, sofreu diversas decidiram que a procissão sairia saiu da igreja de Santo Alexandre, se também outras medidas que em Belém a epidemia de cólera,
festividade funcionou modificações: quanto à data e ao não mais do palácio do governo, também localizada na praça da Sé.14 restringiam o uso de carros, cavalos trazida pela galera Defensor, vinda
originariamente como feira de horário de realização; e quanto à mas da Catedral da Sé. Nos primeiros círios realizados e foguetes no cortejo. de Portugal com 304 passageiros,
produtos regionais. Em suma, organização do cortejo, ao qual Dom Macedo Costa foi um em Belém a imagem da santa era Estas medidas, que agradaram sendo que 36 destes morreram na
a festa também faz parte da foram agregados diversos elementos árduo defensor do fim do regime conduzida no colo dos bispos, à maioria do povo, provocaram, travessia. Os doentes caíam nas ruas
homenagem dos devotos à santa, novos e alegorias, embora seu do padroado, que colocava a Igreja sendo mais tarde introduzida a porém, certo descontentamento e nas igrejas, famílias inteiras
já que, além de lhes agraciar com o itinerário tenha se mantido sem Católica sob os auspícios da berlinda, no interior da qual ficava entre pessoas abastadas, pois eram contaminadas. A epidemia
milagre, ela ainda os brinda com grandes alterações. No início, monarquia portuguesa, e também a imagem, que era transportada significavam simplificação e grassava sem poupar uma casa;
música, dança, espetáculo.12 não havia data certa para a festa, um ferrenho lutador contra num carro puxado por juntas de “empobrecimento” da procissão. as embarcações ficavam ao léu,
O Círio é uma procissão podendo esta ser realizada em a autonomia dos devotos do bois. Em certos anos, quando o Mais tarde surgiriam muitas pois tripulações eram dizimadas;
especial, que não aparece em todas setembro, outubro ou novembro. catolicismo popular. Estes fatores Círio percorria a área do mercado polêmicas por causa da corda, o comércio fechava as portas.
as festas de santos. Em suas A romaria era vespertina e até podem tê-lo motivado a transferir Ver-o-Peso, havia dificuldade para que um bispo da primeira metade O bispo Dom José Afonso de
origens lusitanas, já no século mesmo noturna, daí o uso de velas. a saída da procissão para a Catedral o carro passar por causa da água do século xx – Dom Irineu Joffily – Moraes Torres promoveu orações,
xviii, os círios apresentavam A partir de 1854, em função das da Sé, favorecendo seu controle que transbordava da baía, tentou suprimir, provocando uma recitações de terços, bênçãos do
mais um caráter de espetáculo, chuvas que comprometeram o Círio sobre ela. Em 1901, o bispo inundando e enlameando a rua, grande reação popular. Depois, a Santíssimo, recomendando sempre
organizados por corporações no ano anterior, a procissão passou Dom Francisco do Rêgo Maia fixou que não possuía calçamento. corda perdeu a finalidade inicial, a confiança em Nossa Senhora
religiosas que, em setembro, a ser realizada no horário matinal. o segundo domingo de outubro Por isto surgiu a idéia, em 1855, passando a ser utilizada somente de Nazaré, celebrada mais uma vez
durante a festa anual da santa, Entre 1793, data do primeiro como a data oficial do Círio. de passar uma grande corda em para separar o “núcleo estruturado”, naquele ano, apesar da epidemia,
dirigiam-se à vila de Nazaré. Círio, e 1882, o cortejo saía do No ano de 1973, quando era volta da berlinda, para que o povo no qual iam a berlinda, as autoridades que só seria debelada alguns meses
Na ocasião do desfile dos círios, palácio do governo. Em 1882, governador do Pará o engenheiro pudesse ajudar a puxá-la, a fim de e os convidados, da “massa depois, em fevereiro de 1856.16
o povo se juntava para apreciar sua o bispo Dom Macedo Costa (que Fernando Guilhon, o Círio saiu que o carro transpusesse melhor o indiferenciada” que acompanhava
passagem, em meio ao repique dos esteve à frente do bispado do Pará novamente da Capela do Palácio, atoleiro. Somente 13 anos depois o Círio.15 Hoje, até mesmo essa
sinos e ao foguetório.13 entre 1861 e 1890) e o presidente que havia sido restaurada. a corda foi oficializada pela diretoria função da corda desapareceu.
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procissão do
círio no largo
de sant’ana,
acervo imgb -
rio de janeiro.
O PRIMEIRO
CONFLITO: abaixo:
construção da
A QUESTÃO basílica de nazaré.
NAZARENA
procissão do
círio no largo
de sant’ana,
acervo imgb -
rio de janeiro.
O PRIMEIRO
CONFLITO: abaixo:
construção da
A QUESTÃO basílica de nazaré.
NAZARENA
página ao lado
caricatura sobre a
festa do círio,
jornal “o puraquê”,
¡•¶•.
O SEGUNDO
CONFLITO:
A QUESTÃO DA
CORDA
página ao lado
caricatura sobre a
festa do círio,
jornal “o puraquê”,
¡•¶•.
O SEGUNDO
CONFLITO:
A QUESTÃO DA
CORDA
manifestações
políticas durante
a procissão.
O TERCEIRO foto: luiz braga.
CONFLITO:
A QUESTÃO DOS
PADRES E
POSSEIROS
DO ARAGUAIA
manifestações
políticas durante
a procissão.
O TERCEIRO foto: luiz braga.
CONFLITO:
A QUESTÃO DOS
PADRES E
POSSEIROS
DO ARAGUAIA
página ao lado
fiéis na corda. ao
fundo casario da
doca do ver-o-peso.
foto:
francisco costa.
LÁ VEM VINDO A
PROCISSÃO
O círio contemporâneo
A s festividades do Círio de
Nazaré – a chamada quadra
nazarena – começam bem antes
como a romaria rodoviária, a romaria
fluvial e a romaria dos motoqueiros.
Dias antes da procissão,
São montados palcos ao longo
do trajeto, onde ocorrem
homenagens à Nossa Senhora de
da procissão principal, realizada a avenida Nazaré, no trecho da Nazaré, como apresentações
no segundo domingo de outubro, praça da República até a Basílica, de corais, canto lírico e hinos
e se prolongam durante 15 dias. é decorada com arcos, utilizando- de louvor à Santa. Quase toda
Da procissão propriamente dita, se motivos que homenageiam a a cidade participa da procissão,
que corresponde ao traslado santa e que são escolhidos por meio de uma forma ou de outra.
da imagem de Nossa Senhora de de concurso. Caixas de som são Mesmo os que ficam em casa
Nazaré da Catedral da Sé, no estrategicamente colocadas nos acompanham-na pela televisão
bairro da Cidade Velha, local postes e mangueiras, ao longo ou pelo rádio. Os jornais locais
em que Belém nasceu, até a praça do trajeto, para a sonorização da fazem edições especiais, com
Santuário, no bairro de Nazaré. procissão. Também são construídas cadernos dedicados exclusivamente
O percurso, de cerca de cinco arquibancadas na praça da ao evento, oferecendo pôsteres
quilômetros, é feito nos limites da República, pela avenida Presidente coloridos da imagem da santa.
área mais antiga e mais urbanizada Vargas, sendo os espaços vendidos A publicidade gira em torno do
da cidade de Belém, passando pela aos fiéis e turistas que quiserem acontecimento. O nome da santa
rua Padre Champagnat, pela assistir a procissão de forma mais e o fato de aquele ser um dia
avenida Portugal, pelo boulevard cômoda. Centenas de vendedores especial são evocados. Todos
Castilhos França, e pelas avenidas ambulantes espalham-se por todo ressaltam que este é o “maior dia
Presidente Vargas e Nazaré. o trajeto, oferecendo produtos dos paraenses” e, para alguns,
Em anos recentes, o trajeto foi como água mineral, sucos, “o Natal dos paraenses”.
sendo ampliado, agregando uma refrigerantes, cerveja, brinquedos Para poder acompanhar as
série de outras celebrações, tais de miriti e fitinhas do Círio. mudanças ocorridas no ritual
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 29
página ao lado
fiéis na corda. ao
fundo casario da
doca do ver-o-peso.
foto:
francisco costa.
LÁ VEM VINDO A
PROCISSÃO
O círio contemporâneo
A s festividades do Círio de
Nazaré – a chamada quadra
nazarena – começam bem antes
como a romaria rodoviária, a romaria
fluvial e a romaria dos motoqueiros.
Dias antes da procissão,
São montados palcos ao longo
do trajeto, onde ocorrem
homenagens à Nossa Senhora de
da procissão principal, realizada a avenida Nazaré, no trecho da Nazaré, como apresentações
no segundo domingo de outubro, praça da República até a Basílica, de corais, canto lírico e hinos
e se prolongam durante 15 dias. é decorada com arcos, utilizando- de louvor à Santa. Quase toda
Da procissão propriamente dita, se motivos que homenageiam a a cidade participa da procissão,
que corresponde ao traslado santa e que são escolhidos por meio de uma forma ou de outra.
da imagem de Nossa Senhora de de concurso. Caixas de som são Mesmo os que ficam em casa
Nazaré da Catedral da Sé, no estrategicamente colocadas nos acompanham-na pela televisão
bairro da Cidade Velha, local postes e mangueiras, ao longo ou pelo rádio. Os jornais locais
em que Belém nasceu, até a praça do trajeto, para a sonorização da fazem edições especiais, com
Santuário, no bairro de Nazaré. procissão. Também são construídas cadernos dedicados exclusivamente
O percurso, de cerca de cinco arquibancadas na praça da ao evento, oferecendo pôsteres
quilômetros, é feito nos limites da República, pela avenida Presidente coloridos da imagem da santa.
área mais antiga e mais urbanizada Vargas, sendo os espaços vendidos A publicidade gira em torno do
da cidade de Belém, passando pela aos fiéis e turistas que quiserem acontecimento. O nome da santa
rua Padre Champagnat, pela assistir a procissão de forma mais e o fato de aquele ser um dia
avenida Portugal, pelo boulevard cômoda. Centenas de vendedores especial são evocados. Todos
Castilhos França, e pelas avenidas ambulantes espalham-se por todo ressaltam que este é o “maior dia
Presidente Vargas e Nazaré. o trajeto, oferecendo produtos dos paraenses” e, para alguns,
Em anos recentes, o trajeto foi como água mineral, sucos, “o Natal dos paraenses”.
sendo ampliado, agregando uma refrigerantes, cerveja, brinquedos Para poder acompanhar as
série de outras celebrações, tais de miriti e fitinhas do Círio. mudanças ocorridas no ritual
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 30 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 31
A CORDA E A
BERLINDA
A CORDA E A
BERLINDA
gravura
representando
escaler com
crianças
na procissão,
jornal “o liberal”.
disputado pelos romeiros. Além a corda e, seguros nela, seguiram há um ano e no dia do Círio
desta recordação, os promesseiros atrás da berlinda. Quando a corda de 2002, na procissão, voltaram
da corda levam para casa os pés chegou à praça Santuário, em a se falar”.26
cansados e doloridos, cheios de frente à Basílica de Nazaré, Nas proximidades da praça
bolhas, assim como os ferimentos restavam poucos devotos no local, Santuário, em frente ao Colégio O MILAGRE
causados pelo esforço realizado e uma vez que a missa já havia Santa Catarina, na avenida DA BARCA E A
a satisfação da promessa cumprida, terminado duas horas antes, Nazaré, a berlinda é liberada e os
seja por mais um ano, pela o que redundou em muitas críticas promesseiros dão um espetáculo
MARUJADA
primeira ou pela única vez. à organização e à própria igreja. à parte: visivelmente emocionados,
A corda, entretanto, tem seu Os romeiros madrugam em com os olhos cheios de lágrimas,
lado polêmico e se constitui num frente ao mercado de peixe do ajoelham-se, levantam os braços e,
espaço de tensão permanente entre Ver-o-Peso, local em que a corda de mãos dadas, rezam, enquanto
devotos e clérigos. No Círio de
1999, em função da lentidão da
procissão, promesseiros da frente
é estendida já na madrugada do dia
do Círio. Esta é feita de fibras de
juta, sendo grossa o suficiente para
a berlinda com a imagem
da santa passa entre eles, para
alcançar o altar no centro da
A origem das numerosas barcas
e das crianças vestidas de
marinheiros que acompanham
da corda e diretores encarregados suportar a tensão a que é praça Santuário. o Círio está ligada, de um lado, ao
da segurança da romaria decidiram submetida durante a procissão. fato de Nossa Senhora de Nazaré,
baixar a corda para que a berlinda É um espaço da fé, do pagamento desde Portugal, ser uma espécie
pudesse sair e continuar o seu da promessa, da devoção, da dor de santa protetora dos homens
trajeto. Na avenida Presidente exacerbada, mas também da união do mar, tendo sua devoção se
Vargas, a berlinda foi desatrelada. dos corpos e dos espíritos. Em desenvolvido numa aldeia
A notícia espalhou-se entrevista realizada com pagadores de pescadores. Por outro lado,
rapidamente entre os devotos de promessa, uma devota relatou remete a um caso mais específico:
que decidiram não abandonar que “um pai não falava com a filha ao “milagre” ocorrido em 1846,
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gravura
representando
escaler com
crianças
na procissão,
jornal “o liberal”.
disputado pelos romeiros. Além a corda e, seguros nela, seguiram há um ano e no dia do Círio
desta recordação, os promesseiros atrás da berlinda. Quando a corda de 2002, na procissão, voltaram
da corda levam para casa os pés chegou à praça Santuário, em a se falar”.26
cansados e doloridos, cheios de frente à Basílica de Nazaré, Nas proximidades da praça
bolhas, assim como os ferimentos restavam poucos devotos no local, Santuário, em frente ao Colégio O MILAGRE
causados pelo esforço realizado e uma vez que a missa já havia Santa Catarina, na avenida DA BARCA E A
a satisfação da promessa cumprida, terminado duas horas antes, Nazaré, a berlinda é liberada e os
seja por mais um ano, pela o que redundou em muitas críticas promesseiros dão um espetáculo
MARUJADA
primeira ou pela única vez. à organização e à própria igreja. à parte: visivelmente emocionados,
A corda, entretanto, tem seu Os romeiros madrugam em com os olhos cheios de lágrimas,
lado polêmico e se constitui num frente ao mercado de peixe do ajoelham-se, levantam os braços e,
espaço de tensão permanente entre Ver-o-Peso, local em que a corda de mãos dadas, rezam, enquanto
devotos e clérigos. No Círio de
1999, em função da lentidão da
procissão, promesseiros da frente
é estendida já na madrugada do dia
do Círio. Esta é feita de fibras de
juta, sendo grossa o suficiente para
a berlinda com a imagem
da santa passa entre eles, para
alcançar o altar no centro da
A origem das numerosas barcas
e das crianças vestidas de
marinheiros que acompanham
da corda e diretores encarregados suportar a tensão a que é praça Santuário. o Círio está ligada, de um lado, ao
da segurança da romaria decidiram submetida durante a procissão. fato de Nossa Senhora de Nazaré,
baixar a corda para que a berlinda É um espaço da fé, do pagamento desde Portugal, ser uma espécie
pudesse sair e continuar o seu da promessa, da devoção, da dor de santa protetora dos homens
trajeto. Na avenida Presidente exacerbada, mas também da união do mar, tendo sua devoção se
Vargas, a berlinda foi desatrelada. dos corpos e dos espíritos. Em desenvolvido numa aldeia
A notícia espalhou-se entrevista realizada com pagadores de pescadores. Por outro lado,
rapidamente entre os devotos de promessa, uma devota relatou remete a um caso mais específico:
que decidiram não abandonar que “um pai não falava com a filha ao “milagre” ocorrido em 1846,
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abaixo
fiel com réplica
de barco de miriti na NOS CARROS,
cabeça. foto:
francisco costa.
AS ALEGORIAS
abaixo
fiel com réplica
de barco de miriti na NOS CARROS,
cabeça. foto:
francisco costa.
AS ALEGORIAS
página anterior,
abaixo
carro dos anjos na
festa do círio de
™ºº¢. foto:
francisco costa.
Em primeiro lugar, trata-se de uma Em 1986, o padre Luciano Anualmente são produzidos mais No final das peregrinações
procissão que se desdobra em duas. Brambilla, sentindo a necessidade de 120 mil exemplares do livro das as imagens são sorteadas entre os
A primeira, a trasladação da imagem, de um ato que marcasse o início da peregrinações, sob a coordenação proprietários das casas que
é realizada à noite, à luz de velas preparação das novenas de peregrinação, da diretoria de evangelização. receberam a visita da Virgem.
(círios), e vai da capela do Colégio resolveu criar a missa do mandato. A missa do mandato inicia o ciclo As peregrinações da imagem
Gentil Bittencourt até a igreja da A MISSA DO Desde então, essa celebração marca de preparação para o Círio. VISITAS DA acontecem nos diversos bairros de
Sé. A procissão principal, o Círio MANDATO oficialmente o primeiro ato da Começa às 20 horas, com uma SANTA AOS FIÉIS Belém e no interior do estado
propriamente dito, acontece no dia festividade nazarena. Alguns dias após procissão de caráter solene, que do Pará, mais propriamente nas
seguinte, pela manhã, à luz do dia a missa acontece a manhã de ganha o interior da Basílica de casas dos devotos que se dispõem
(sem que os círios sejam acesos, formação para dirigentes das Nazaré e prossegue até o altar-mor, a receber a visita da santa. São
embora algumas pessoas os levem peregrinações, uma preparação ao com um cortejo formado por também realizadas em repartições
como promessa, no mesmo novenário por meio de palestras e acólitos segurando objetos rituais públicas, hospitais e escolas.
tamanho da pessoa beneficiada
com a graça), quando a imagem
retorna pelo mesmo caminho até
A procissão do Círio foi crescendo
ao longo do tempo, até chegar
às proporções gigantescas de hoje.
explicação da sistemática dos encontros.
É realizada em um dos salões do
Centro Social de Nazaré e conta com
(crucifixo, naveta, turíbulo),
representantes do Apostolado da
Oração empunhando bandeiras,
A s peregrinações de Nossa Senhora
de Nazaré são realizadas
durante o mês de setembro quando,
As famílias que aceitam a visita
da imagem de Nossa Senhora de
Nazaré recebem-na em suas casas
a praça Santuário, em frente à Aos poucos foram sendo a participação de representantes de os guardas de Nazaré, a diretoria da festa, levadas pelos fiéis mandatários, com um dia de antecedência.
Basílica de Nazaré. acrescentadas novas celebrações à quase todas as paróquias de Belém. os padres concelebrantes e, diversas imagens percorrem toda As imagens são conduzidas por
Além disso o Círio é uma Festa de Nossa Senhora de Nazaré e Após essa preparação, os padres ao final, o arcebispo. Todos os a arquidiocese de Belém, grupos de vizinhos em romaria,
procissão que, ao contrário das novos espaços de culto e devoção que barnabitas distribuem para todas fiéis presentes recebem o mandato promovendo momentos de reflexão, segurando velas acesas. É freqüente,
demais, inaugura – em vez de compõem o Círio em sentido amplo. as paróquias imagens de Nossa – juntamente com uma pequena oração e louvor à santa. Os devotos após as orações, o oferecimento
encerrar – a festa da santa. Essas celebrações, de caráter Senhora de Nazaré, livros das imagem de Nossa Senhora acompanham as romarias pelos aos peregrinos, pelas famílias
religioso, começam em agosto e se peregrinações e cartazes do Círio. de Nazaré – para conduzir bairros auxiliados pelo livro das que recebem a imagem, de um
prolongam até o mês de outubro, A distribuição estende-se também a evangelização nos diversos peregrinações, que trata do Círio e da lanche com café, biscoitos,
quando se encerra a quadra nazarena. às paróquias do interior do estado. bairros de Belém. figura de Nossa Senhora de Nazaré. bolos, mingau e refrigerantes.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 36 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 37
página anterior,
abaixo
carro dos anjos na
festa do círio de
™ºº¢. foto:
francisco costa.
Em primeiro lugar, trata-se de uma Em 1986, o padre Luciano Anualmente são produzidos mais No final das peregrinações
procissão que se desdobra em duas. Brambilla, sentindo a necessidade de 120 mil exemplares do livro das as imagens são sorteadas entre os
A primeira, a trasladação da imagem, de um ato que marcasse o início da peregrinações, sob a coordenação proprietários das casas que
é realizada à noite, à luz de velas preparação das novenas de peregrinação, da diretoria de evangelização. receberam a visita da Virgem.
(círios), e vai da capela do Colégio resolveu criar a missa do mandato. A missa do mandato inicia o ciclo As peregrinações da imagem
Gentil Bittencourt até a igreja da A MISSA DO Desde então, essa celebração marca de preparação para o Círio. VISITAS DA acontecem nos diversos bairros de
Sé. A procissão principal, o Círio MANDATO oficialmente o primeiro ato da Começa às 20 horas, com uma SANTA AOS FIÉIS Belém e no interior do estado
propriamente dito, acontece no dia festividade nazarena. Alguns dias após procissão de caráter solene, que do Pará, mais propriamente nas
seguinte, pela manhã, à luz do dia a missa acontece a manhã de ganha o interior da Basílica de casas dos devotos que se dispõem
(sem que os círios sejam acesos, formação para dirigentes das Nazaré e prossegue até o altar-mor, a receber a visita da santa. São
embora algumas pessoas os levem peregrinações, uma preparação ao com um cortejo formado por também realizadas em repartições
como promessa, no mesmo novenário por meio de palestras e acólitos segurando objetos rituais públicas, hospitais e escolas.
tamanho da pessoa beneficiada
com a graça), quando a imagem
retorna pelo mesmo caminho até
A procissão do Círio foi crescendo
ao longo do tempo, até chegar
às proporções gigantescas de hoje.
explicação da sistemática dos encontros.
É realizada em um dos salões do
Centro Social de Nazaré e conta com
(crucifixo, naveta, turíbulo),
representantes do Apostolado da
Oração empunhando bandeiras,
A s peregrinações de Nossa Senhora
de Nazaré são realizadas
durante o mês de setembro quando,
As famílias que aceitam a visita
da imagem de Nossa Senhora de
Nazaré recebem-na em suas casas
a praça Santuário, em frente à Aos poucos foram sendo a participação de representantes de os guardas de Nazaré, a diretoria da festa, levadas pelos fiéis mandatários, com um dia de antecedência.
Basílica de Nazaré. acrescentadas novas celebrações à quase todas as paróquias de Belém. os padres concelebrantes e, diversas imagens percorrem toda As imagens são conduzidas por
Além disso o Círio é uma Festa de Nossa Senhora de Nazaré e Após essa preparação, os padres ao final, o arcebispo. Todos os a arquidiocese de Belém, grupos de vizinhos em romaria,
procissão que, ao contrário das novos espaços de culto e devoção que barnabitas distribuem para todas fiéis presentes recebem o mandato promovendo momentos de reflexão, segurando velas acesas. É freqüente,
demais, inaugura – em vez de compõem o Círio em sentido amplo. as paróquias imagens de Nossa – juntamente com uma pequena oração e louvor à santa. Os devotos após as orações, o oferecimento
encerrar – a festa da santa. Essas celebrações, de caráter Senhora de Nazaré, livros das imagem de Nossa Senhora acompanham as romarias pelos aos peregrinos, pelas famílias
religioso, começam em agosto e se peregrinações e cartazes do Círio. de Nazaré – para conduzir bairros auxiliados pelo livro das que recebem a imagem, de um
prolongam até o mês de outubro, A distribuição estende-se também a evangelização nos diversos peregrinações, que trata do Círio e da lanche com café, biscoitos,
quando se encerra a quadra nazarena. às paróquias do interior do estado. bairros de Belém. figura de Nossa Senhora de Nazaré. bolos, mingau e refrigerantes.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 38 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 39
detalhe da banca
de vendedor de
réplicas da imagem
de nossa senhora de
nazaré. foto:
francisco costa.
TRASLADO
página ao lado
transladação da
DA IMAGEM PARA
imagem na noite ANANINDEUA
que antecede
o círio. foto:
francisco costa.
detalhe da banca
de vendedor de
réplicas da imagem
de nossa senhora de
nazaré. foto:
francisco costa.
TRASLADO
página ao lado
transladação da
DA IMAGEM PARA
imagem na noite ANANINDEUA
que antecede
o círio. foto:
francisco costa.
página ao lado
percursos das
procissões do círio.
UMA PROCISSÃO
DE CARROS,
MOTOS E
BICICLETAS
página ao lado
percursos das
procissões do círio.
UMA PROCISSÃO
DE CARROS,
MOTOS E
BICICLETAS
página ao lado
romaria fluvial.
foto: luiz braga.
PROCISSÃO
PELO RIO
página ao lado
romaria fluvial.
foto: luiz braga.
PROCISSÃO
PELO RIO
Participam desta procissão os padres principal do Círio vestidas de eram as esposas dos diretores que
barnabitas, a guarda da santa, anjos, nos carros, nos ombros organizavam o círio das crianças, desde
a Confraria de Nossa Senhora de e nos colos de mães e de pais. a decoração até os atos litúrgicos.
Nazaré, os sacristãos e as Aparecem também vestidas de A partir de 2000, o padre
comunidades da paróquia de Nossa marujos ou usando mortalhas em Francisco Silva, pároco de Nazaré,
Senhora de Nazaré. O percurso do pagamento de promessas. Vão à passou esta responsabilidade para a
cortejo é variável, com o intuito de igreja rezar e participam das comissão de culto e pastoral. Desde 1999
abranger o maior número possível brincadeiras do arraial. Por isso, os carros do anjo custódio e do
de ruas no entorno da basílica. a diretoria da festa teve a idéia de
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 46 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 47
Participam desta procissão os padres principal do Círio vestidas de eram as esposas dos diretores que
barnabitas, a guarda da santa, anjos, nos carros, nos ombros organizavam o círio das crianças, desde
a Confraria de Nossa Senhora de e nos colos de mães e de pais. a decoração até os atos litúrgicos.
Nazaré, os sacristãos e as Aparecem também vestidas de A partir de 2000, o padre
comunidades da paróquia de Nossa marujos ou usando mortalhas em Francisco Silva, pároco de Nazaré,
Senhora de Nazaré. O percurso do pagamento de promessas. Vão à passou esta responsabilidade para a
cortejo é variável, com o intuito de igreja rezar e participam das comissão de culto e pastoral. Desde 1999
abranger o maior número possível brincadeiras do arraial. Por isso, os carros do anjo custódio e do
de ruas no entorno da basílica. a diretoria da festa teve a idéia de
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basílica de nazaré
durante a festa
do círio.
foto: luiz braga.
basílica de nazaré
durante a festa
do círio.
foto: luiz braga.
página ao lado
pimenta de cheiro ALMOÇO DO
usada no tempero do
pato-no-tucupi.
CÍRIO, O NATAL
DOS PARAENSES
página ao lado
pimenta de cheiro ALMOÇO DO
usada no tempero do
pato-no-tucupi.
CÍRIO, O NATAL
DOS PARAENSES
vendedor ambulante
de brinquedos de
miriti. foto:
francisco costa
vendedor ambulante
de brinquedos de
miriti. foto:
francisco costa
menino vendendo
brinquedos de
miriti. ao fundo
torre do mercado
do peixe.
COMPUTADORES INSTRUMENTOS A FEIRA DE
PARA MUSICAIS PARA página ao lado
brinquedos de BRINQUEDOS
AS MELHORES AS MELHORES miriti, detalhe.
foto: francisco DE MIRITI
REDAÇÕES CANÇÕES costa.
C om o objetivo de despertar
o interesse e ampliar o
conhecimento em torno do Círio,
espetacular do Círio de Nazaré:
“Os que estão na corda viram um
único corpo que dança, flutua
O festival da canção mariana, ou Fescan,
acontece bienalmente na
concha acústica da praça Santuário,
teve cobertura ao vivo da tv Nazaré
(pertencente à arquidiocese).
A entrega dos prêmios é feita no
E sta feira, que ocorre no sábado
e no domingo do Círio,
acontece nas praças do Carmo
batelões, canoas a vela, lanchas),
objetos do trabalho cotidiano
(pilões), aviões e figuras humanas.
a diretoria de evangelização da Festa de ao redor de Nossa Senhora. em frente à Basílica de Nazaré. encerramento da Festividade de e Frei Caetano Brandão (Largo É comum ver-se promesseiros
Nazaré organiza, desde 1995, o Os que atravessam rios e cidades Foi criado em 1991 pela comissão de Nazaré. Nos primeiros anos da Sé). Desde 1905 os brinquedos de conduzindo esses brinquedos
concurso de redação. O público-alvo do se fundem em um só pensamento, culto e pastoral da diretoria da festa, tendo do festival a premiação era em miriti constituem uma das principais durante a procissão principal do
evento é formado por alunos do numa só emoção. Os que caem como finalidade propiciar um dinheiro, mas atualmente os tradições do Círio de Nazaré.41 Círio, como forma de pagamento
ensino médio e vestibulandos. de joelhos, os que choram, momento de encontro de vencedores ganham instrumentos O miriti, material utilizado na de promessa, ou seja,
Os estudantes vencedores, assim os que criticam, os que amam, evangelização e descontração musicais. fabricação dos brinquedos, transformando-os em ex-votos.
como seus professores, recebem todos os personagens entram para os jovens. é retirado da palmeira do mesmo Os brinquedos de miriti, que chegam
computadores como prêmio. nessa coreografia de fé É uma atividade musical em nome, que cresce nas regiões de a ser exportados para outros estados
O evento começa a ser e devoção.”40 O concurso é que jovens católicos, em sua várzea da Amazônia. Trata-se e até para o exterior, são utilizados
preparado no primeiro semestre divulgado pelas redes de rádio maioria, apresentam músicas de um material leve e maleável, não somente no lazer infantil,
de cada ano, quando são enviadas e tv, por meio de cartazes e em homenagem a Nossa Senhora, mas que exige uma técnica especial mas também como objetos de
as primeiras cartas para as escolas pela internet. ainda que haja participantes de para ser trabalhado. decoração. Além de serem
de ensino médio, estimulando a todas as idades. As composições Os artesãos que fabricam os encontrados na feira de brinquedos de
participação dos estudantes. Cada devem ser de cunho mariano, ou brinquedos são originários do miriti são vendidos também por
instituição de ensino (pública conter aspectos do Círio de Nazaré. município de Abaetetuba, próximo ambulantes, expostos em
ou particular) pode inscrever seus O festival acontece no primeiro a Belém. Os brinquedos, pintados girândolas42 ao longo de todo
alunos, desde que tenham final de semana após a procissão em cores alegres, reproduzem o trajeto da procissão principal
professores que os acompanhem. do Círio. Na sexta-feira ocorre a aspectos da realidade ou do do Círio.
A redação vencedora do concurso primeira eliminatória, no sábado imaginário amazônico, como
em 2002 expressou com bastante a segunda e, no domingo, a grande animais (botos, cobras, tatus,
propriedade a emoção e o caráter final que, no ano de 2002, pássaros), embarcações (montarias,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 60 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 61
menino vendendo
brinquedos de
miriti. ao fundo
torre do mercado
do peixe.
COMPUTADORES INSTRUMENTOS A FEIRA DE
PARA MUSICAIS PARA página ao lado
brinquedos de BRINQUEDOS
AS MELHORES AS MELHORES miriti, detalhe.
foto: francisco DE MIRITI
REDAÇÕES CANÇÕES costa.
C om o objetivo de despertar
o interesse e ampliar o
conhecimento em torno do Círio,
espetacular do Círio de Nazaré:
“Os que estão na corda viram um
único corpo que dança, flutua
O festival da canção mariana, ou Fescan,
acontece bienalmente na
concha acústica da praça Santuário,
teve cobertura ao vivo da tv Nazaré
(pertencente à arquidiocese).
A entrega dos prêmios é feita no
E sta feira, que ocorre no sábado
e no domingo do Círio,
acontece nas praças do Carmo
batelões, canoas a vela, lanchas),
objetos do trabalho cotidiano
(pilões), aviões e figuras humanas.
a diretoria de evangelização da Festa de ao redor de Nossa Senhora. em frente à Basílica de Nazaré. encerramento da Festividade de e Frei Caetano Brandão (Largo É comum ver-se promesseiros
Nazaré organiza, desde 1995, o Os que atravessam rios e cidades Foi criado em 1991 pela comissão de Nazaré. Nos primeiros anos da Sé). Desde 1905 os brinquedos de conduzindo esses brinquedos
concurso de redação. O público-alvo do se fundem em um só pensamento, culto e pastoral da diretoria da festa, tendo do festival a premiação era em miriti constituem uma das principais durante a procissão principal do
evento é formado por alunos do numa só emoção. Os que caem como finalidade propiciar um dinheiro, mas atualmente os tradições do Círio de Nazaré.41 Círio, como forma de pagamento
ensino médio e vestibulandos. de joelhos, os que choram, momento de encontro de vencedores ganham instrumentos O miriti, material utilizado na de promessa, ou seja,
Os estudantes vencedores, assim os que criticam, os que amam, evangelização e descontração musicais. fabricação dos brinquedos, transformando-os em ex-votos.
como seus professores, recebem todos os personagens entram para os jovens. é retirado da palmeira do mesmo Os brinquedos de miriti, que chegam
computadores como prêmio. nessa coreografia de fé É uma atividade musical em nome, que cresce nas regiões de a ser exportados para outros estados
O evento começa a ser e devoção.”40 O concurso é que jovens católicos, em sua várzea da Amazônia. Trata-se e até para o exterior, são utilizados
preparado no primeiro semestre divulgado pelas redes de rádio maioria, apresentam músicas de um material leve e maleável, não somente no lazer infantil,
de cada ano, quando são enviadas e tv, por meio de cartazes e em homenagem a Nossa Senhora, mas que exige uma técnica especial mas também como objetos de
as primeiras cartas para as escolas pela internet. ainda que haja participantes de para ser trabalhado. decoração. Além de serem
de ensino médio, estimulando a todas as idades. As composições Os artesãos que fabricam os encontrados na feira de brinquedos de
participação dos estudantes. Cada devem ser de cunho mariano, ou brinquedos são originários do miriti são vendidos também por
instituição de ensino (pública conter aspectos do Círio de Nazaré. município de Abaetetuba, próximo ambulantes, expostos em
ou particular) pode inscrever seus O festival acontece no primeiro a Belém. Os brinquedos, pintados girândolas42 ao longo de todo
alunos, desde que tenham final de semana após a procissão em cores alegres, reproduzem o trajeto da procissão principal
professores que os acompanhem. do Círio. Na sexta-feira ocorre a aspectos da realidade ou do do Círio.
A redação vencedora do concurso primeira eliminatória, no sábado imaginário amazônico, como
em 2002 expressou com bastante a segunda e, no domingo, a grande animais (botos, cobras, tatus,
propriedade a emoção e o caráter final que, no ano de 2002, pássaros), embarcações (montarias,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 62 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 63
abaixo
antiga diretoria,
com dom irineu
joffily.
de confreiros e religiosos para Embora da composição da na ocasião dos diversos eventos que
gerir as festividades em honra à diretoria oficialmente só participem compõem a festividade. Esta guarda
Nossa Senhora de Nazaré. os homens, o trabalho é, na atua uniformizada, porém
A Irmandade de Nazaré aos poucos realidade, feito pelo casal, cabendo desarmada. Sua função é evitar,
foi perdendo sua importância, até às mulheres a organização de vários pelo convencimento, excessos que
ORGANIZAÇÃO E ser substituída por uma diretoria, aspectos do ritual, entre eles possam ocorrer nos eventos,
GESTÃO DO CÍRIO instituída em 1910. a decoração da berlinda e as funcionando como um elemento
Atualmente quem organiza o providências para a confecção disciplinador durante a procissão.
Círio e a Festa de Nazaré, desde do manto que, todos os anos, veste Em 1995, por questões de
suas primeiras manifestações, com a imagem da santa. Neste último segurança, houve uma alteração
a missa do mandato, até o seu término, caso, a encarregada de sua no ponto de fixação ou atrelamento
com o recírio, é a diretoria da festa, confecção produz vários modelos da corda na berlinda, para evitar que
abaixo
antiga diretoria,
com dom irineu
joffily.
de confreiros e religiosos para Embora da composição da na ocasião dos diversos eventos que
gerir as festividades em honra à diretoria oficialmente só participem compõem a festividade. Esta guarda
Nossa Senhora de Nazaré. os homens, o trabalho é, na atua uniformizada, porém
A Irmandade de Nazaré aos poucos realidade, feito pelo casal, cabendo desarmada. Sua função é evitar,
foi perdendo sua importância, até às mulheres a organização de vários pelo convencimento, excessos que
ORGANIZAÇÃO E ser substituída por uma diretoria, aspectos do ritual, entre eles possam ocorrer nos eventos,
GESTÃO DO CÍRIO instituída em 1910. a decoração da berlinda e as funcionando como um elemento
Atualmente quem organiza o providências para a confecção disciplinador durante a procissão.
Círio e a Festa de Nazaré, desde do manto que, todos os anos, veste Em 1995, por questões de
suas primeiras manifestações, com a imagem da santa. Neste último segurança, houve uma alteração
a missa do mandato, até o seu término, caso, a encarregada de sua no ponto de fixação ou atrelamento
com o recírio, é a diretoria da festa, confecção produz vários modelos da corda na berlinda, para evitar que
página ao lado
saída da procissão
da catedral da sé
de belém.
foto: luiz braga.
REGISTRO DE
MEMÓRIA,
TRADIÇÃO
E IDENTIDADE
O círio como
objeto de registro
“
E m termos de comparação,
o Círio é a correspondência
humana da pororoca”. Com estas
Nazaré é um elemento fundamental
da identidade do paraense. Como
disse o jornalista Angelim Netto,
a dinâmica da história.
O reconhecimento de um bem
de natureza imaterial como
palavras o escritor Eidorfe Moreira em artigo para o jornal Folha do Norte patrimônio cultural brasileiro,
definiu o Círio de Nazaré.43 em 1926: “Trabalha-se no Pará o por meio do Registro, atribui a ele
Nas palavras de outro escritor, ano todo, sofrendo as necessidades, valor representativo da cultura
Leandro Tocantins, muitos para em outubro vestir uma roupa e da identidade brasileiras.
romeiros “não conseguem romper nova e almoçar como um príncipe Ao chancelar determinada
os caminhos tomados de gente e no dia do Círio. O Pará, sem a manifestação cultural com esse
ficam em lugares onde possam festa de Nazaré, não seria Pará”.45 título, a União assume tanto a
juntar-se ao caudal humano, que, Diante da grandiosidade e responsabilidade de acompanhar
à semelhança de um rio imenso, importância de uma manifestação os possíveis desdobramentos
“vai recebendo nas ruas e travessas de mais de 200 anos, é e reflexos desse ato sobre o bem,
a contribuição de afluentes desnecessário falar em extinção. quanto o compromisso com a sua
volumosos de romeiros”.44 É claro que muitos aspectos do preservação. Compromisso este
Para muitos, o Círio é o dia Círio sofreram alterações ao longo que se traduz na sua divulgação
do retorno à terra natal, do dos anos, o que não poderia ser e valorização, e também na
reencontro com amigos, familiares diferente em se tratando de um recomendação de ações para
e com a cidade de Belém. fenômeno cultural. Mas não é sua salvaguarda.
Da mesma forma que no resto do possível afirmar, como o fez Clóvis Se não há razão para
mundo se diz “Feliz Natal!”, no Meira, que “a tradição preocupações com o
Pará se diz “Feliz Círio!”, “um bom desapareceu”.46 A tradição desaparecimento do Círio de Nazaré,
círio pra você!” Por tudo isso, transformou-se, recriou-se, há uma série de medidas que podem
pode-se afirmar que o Círio de atualizou-se, acompanhando ser adotadas para sua preservação e
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página ao lado
saída da procissão
da catedral da sé
de belém.
foto: luiz braga.
REGISTRO DE
MEMÓRIA,
TRADIÇÃO
E IDENTIDADE
O círio como
objeto de registro
“
E m termos de comparação,
o Círio é a correspondência
humana da pororoca”. Com estas
Nazaré é um elemento fundamental
da identidade do paraense. Como
disse o jornalista Angelim Netto,
a dinâmica da história.
O reconhecimento de um bem
de natureza imaterial como
palavras o escritor Eidorfe Moreira em artigo para o jornal Folha do Norte patrimônio cultural brasileiro,
definiu o Círio de Nazaré.43 em 1926: “Trabalha-se no Pará o por meio do Registro, atribui a ele
Nas palavras de outro escritor, ano todo, sofrendo as necessidades, valor representativo da cultura
Leandro Tocantins, muitos para em outubro vestir uma roupa e da identidade brasileiras.
romeiros “não conseguem romper nova e almoçar como um príncipe Ao chancelar determinada
os caminhos tomados de gente e no dia do Círio. O Pará, sem a manifestação cultural com esse
ficam em lugares onde possam festa de Nazaré, não seria Pará”.45 título, a União assume tanto a
juntar-se ao caudal humano, que, Diante da grandiosidade e responsabilidade de acompanhar
à semelhança de um rio imenso, importância de uma manifestação os possíveis desdobramentos
“vai recebendo nas ruas e travessas de mais de 200 anos, é e reflexos desse ato sobre o bem,
a contribuição de afluentes desnecessário falar em extinção. quanto o compromisso com a sua
volumosos de romeiros”.44 É claro que muitos aspectos do preservação. Compromisso este
Para muitos, o Círio é o dia Círio sofreram alterações ao longo que se traduz na sua divulgação
do retorno à terra natal, do dos anos, o que não poderia ser e valorização, e também na
reencontro com amigos, familiares diferente em se tratando de um recomendação de ações para
e com a cidade de Belém. fenômeno cultural. Mas não é sua salvaguarda.
Da mesma forma que no resto do possível afirmar, como o fez Clóvis Se não há razão para
mundo se diz “Feliz Natal!”, no Meira, que “a tradição preocupações com o
Pará se diz “Feliz Círio!”, “um bom desapareceu”.46 A tradição desaparecimento do Círio de Nazaré,
círio pra você!” Por tudo isso, transformou-se, recriou-se, há uma série de medidas que podem
pode-se afirmar que o Círio de atualizou-se, acompanhando ser adotadas para sua preservação e
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para maior segurança daqueles que É preciso conviver com o sagrado perceber que “relembrar o passado promessa de cumprir uma parte representando casas, barcos, partes
acompanham o Círio e a trasladação, e com o profano. Afinal, eles não é crucial para nosso sentido de do trajeto de joelhos, segurando-os do corpo, animais, materiais de
bem como as demais programações se excluem, complementam-se identidade: saber o que fomos pelos braços, limpando o caminho construção, mostrando ao mesmo
religiosas e culturais que integram a e fazem parte dessa grandiosa confirma o que somos. Nossa ou abanando-os para aliviar o tempo os males e as alternativas
festa. Uma procissão que conta com manifestação que a cada ano parece continuidade depende calor. Os romeiros que chegam encontradas para a resolução de
a participação de cerca de um milhão aumentar sua “área de captação”, inteiramente da memória”.48 do interior logo encontram seus problemas.
e meio de pessoas num só dia, expressão utilizada por Eidorfe Nele, os paraenses sintetizam sua acolhimento na casa de alguém, A procissão principal do Círio
constitui um desafio sob qualquer Moreira ao referir-se à área de identidade não apenas ao evocar muitas vezes desconhecido. de Nazaré é um desfile etnográfico.
aspecto. Sobretudo quando ela abrangência da procissão, cujos uma seqüência de reminiscências, A trajetória de cada devoto é, Diante do descaso dos poderes
acontece há mais de 200 anos sobre limites geográficos são imprecisos, mas ao serem envolvidos em uma ao mesmo tempo, única e coletiva, constituídos, diante da profunda
o mesmo espaço físico, sobretudo quando começam a ser teia de retrospecção unificadora. uma vez que expressa o conjunto desigualdade social que marca o
independentemente da quantidade vistos com interesse turístico.47 As lembranças coletivas são dos problemas e das aflições país, muitos buscam auxílio na fé.
de pessoas que dela participam. está na participação popular. Todos os anos os jornais editam mobilizadas para sustentar comuns à coletividade dos A religiosidade que caracteriza
Como organizar tanta gente? Como São os devotos, os romeiros e cadernos especiais narrando as identidades associativas duradouras. paraenses e mesmo dos brasileiros. o Círio de Nazaré é marcada pela
evitar que as pessoas se machuquem, os promesseiros os maiores origens do Círio e os principais O Círio também desperta e Identificam-se na devoção experiência da angústia, da dor,
principalmente porque as ruas de responsáveis pela continuidade conflitos ao longo da história; reforça o valor da solidariedade elementos comuns à cultura mas também da esperança, da fé no
Belém se tornam pequenos caminhos da tradição nesses 211 anos. a televisão convida especialistas no entre as pessoas que dele nacional, tais como a religiosidade poder supra-humano da Virgem de
no dia da procissão? Como avaliar É importante incentivar ações de tema para responder quase sempre participam, aguçando o sentido popular marcada pela peculiar Nazaré. Nas palavras de Leandro
o limite desse espaço físico em educação patrimonial, por meio do as mesmas perguntas, como a de comunhão. Enquanto muitos relação sagrado-profano, o culto Tocantins, “a cidade cria, no
relação ao número máximo de sistema educacional e das próprias importância da imagem de Maria devotos distribuem água ao longo dos santos, bem como a idéia de domingo do Círio, uma nova alma.
pessoas em condições de segurança paróquias, para que valorizem a na vida das pessoas, o significado da da procissão, outros auxiliam os comunhão nacional, para além Transfigura-se. Perde o seu modo
para ambos? festa do Círio também como corda, das promessas, a força da fé. que desmaiam de emoção ou que de todas as singularidades de ser cotidiano”.49
Não se pode perder de vista patrimônio cultural, e não apenas De fato, o Círio de Nazaré é um são sufocados pelo calor. Há ainda regionais. Na procissão vêem-se Delimitar o objeto de registro
que a força da manifestação sob o enfoque religioso. ritual da memória. Ele nos permite aqueles que ajudam os que fizeram os promesseiros carregando ex-votos como patrimônio histórico e
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para maior segurança daqueles que É preciso conviver com o sagrado perceber que “relembrar o passado promessa de cumprir uma parte representando casas, barcos, partes
acompanham o Círio e a trasladação, e com o profano. Afinal, eles não é crucial para nosso sentido de do trajeto de joelhos, segurando-os do corpo, animais, materiais de
bem como as demais programações se excluem, complementam-se identidade: saber o que fomos pelos braços, limpando o caminho construção, mostrando ao mesmo
religiosas e culturais que integram a e fazem parte dessa grandiosa confirma o que somos. Nossa ou abanando-os para aliviar o tempo os males e as alternativas
festa. Uma procissão que conta com manifestação que a cada ano parece continuidade depende calor. Os romeiros que chegam encontradas para a resolução de
a participação de cerca de um milhão aumentar sua “área de captação”, inteiramente da memória”.48 do interior logo encontram seus problemas.
e meio de pessoas num só dia, expressão utilizada por Eidorfe Nele, os paraenses sintetizam sua acolhimento na casa de alguém, A procissão principal do Círio
constitui um desafio sob qualquer Moreira ao referir-se à área de identidade não apenas ao evocar muitas vezes desconhecido. de Nazaré é um desfile etnográfico.
aspecto. Sobretudo quando ela abrangência da procissão, cujos uma seqüência de reminiscências, A trajetória de cada devoto é, Diante do descaso dos poderes
acontece há mais de 200 anos sobre limites geográficos são imprecisos, mas ao serem envolvidos em uma ao mesmo tempo, única e coletiva, constituídos, diante da profunda
o mesmo espaço físico, sobretudo quando começam a ser teia de retrospecção unificadora. uma vez que expressa o conjunto desigualdade social que marca o
independentemente da quantidade vistos com interesse turístico.47 As lembranças coletivas são dos problemas e das aflições país, muitos buscam auxílio na fé.
de pessoas que dela participam. está na participação popular. Todos os anos os jornais editam mobilizadas para sustentar comuns à coletividade dos A religiosidade que caracteriza
Como organizar tanta gente? Como São os devotos, os romeiros e cadernos especiais narrando as identidades associativas duradouras. paraenses e mesmo dos brasileiros. o Círio de Nazaré é marcada pela
evitar que as pessoas se machuquem, os promesseiros os maiores origens do Círio e os principais O Círio também desperta e Identificam-se na devoção experiência da angústia, da dor,
principalmente porque as ruas de responsáveis pela continuidade conflitos ao longo da história; reforça o valor da solidariedade elementos comuns à cultura mas também da esperança, da fé no
Belém se tornam pequenos caminhos da tradição nesses 211 anos. a televisão convida especialistas no entre as pessoas que dele nacional, tais como a religiosidade poder supra-humano da Virgem de
no dia da procissão? Como avaliar É importante incentivar ações de tema para responder quase sempre participam, aguçando o sentido popular marcada pela peculiar Nazaré. Nas palavras de Leandro
o limite desse espaço físico em educação patrimonial, por meio do as mesmas perguntas, como a de comunhão. Enquanto muitos relação sagrado-profano, o culto Tocantins, “a cidade cria, no
relação ao número máximo de sistema educacional e das próprias importância da imagem de Maria devotos distribuem água ao longo dos santos, bem como a idéia de domingo do Círio, uma nova alma.
pessoas em condições de segurança paróquias, para que valorizem a na vida das pessoas, o significado da da procissão, outros auxiliam os comunhão nacional, para além Transfigura-se. Perde o seu modo
para ambos? festa do Círio também como corda, das promessas, a força da fé. que desmaiam de emoção ou que de todas as singularidades de ser cotidiano”.49
Não se pode perder de vista patrimônio cultural, e não apenas De fato, o Círio de Nazaré é um são sufocados pelo calor. Há ainda regionais. Na procissão vêem-se Delimitar o objeto de registro
que a força da manifestação sob o enfoque religioso. ritual da memória. Ele nos permite aqueles que ajudam os que fizeram os promesseiros carregando ex-votos como patrimônio histórico e
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 70 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 71
cultural do Círio de Nazaré não foi menor densidade histórica, foram utilizados nessa caracterização. A procissão principal As imagens original A trasladação
uma tarefa fácil, pois não se pode incorporados à tradição de tal A dinâmica própria do Círio A procissão principal do Círio e peregrina Realizada atualmente no segundo
reduzir uma celebração de mais de forma que é impossível pensar o mostrará, nos anos vindouros, de Nossa Senhora de Nazaré As imagens de Nossa Senhora de sábado de outubro, a trasladação é
200 anos a apenas algumas de suas Círio de Nazaré sem eles. Neste se tais elementos continuarão ou corresponde ao traslado da imagem Nazaré estão sempre presentes nos a procissão que antecede o Círio.
manifestações, já que todas as caso estão, por exemplo, o almoço não sendo essenciais ou se serão peregrina da Catedral da Sé, no lares, escritórios, comércios, feiras É quando a imagem de Nossa
celebrações e demais bens do Círio e os brinquedos de miriti. substituídos por outros. bairro da Cidade Velha, até a praça e mercados, mas é durante o Círio Senhora de Nazaré é conduzida
associados ao evento constituem o O reconhecimento destes bens A dinâmica dessas mudanças Santuário, no bairro de Nazaré. de Nazaré que se tornam o centro do Colégio Gentil, até a Catedral da
Círio de Nazaré em sua completude como patrimônio cultural não depende unicamente do Mesmo que não seja uma das mais de todas as atenções. A ligação Sé, de onde sairá na manhã
atual. É possível reconhecer, brasileiro não tem caráter Iphan, da diretoria da Festa de Nazaré, antigas procissões da cidade e que simbólica dos devotos com Deus se seguinte na procissão do Círio.
entretanto, que alguns desses bens cristalizador, ou seja, não se quer do clero ou dos devotos. Mas as Nossa Senhora de Nazaré não seja faz, principalmente, via imagem de Muito embora tenha sofrido
vinculados à festividade apresentam dizer com isto que somente tais mudanças ocorrem, queiramos a padroeira oficial de Belém, é, Nossa Senhora de Nazaré e não via modificações em seu percurso ao
características especiais. bens representam o que há de ou não, como fruto do embate sem dúvida, a romaria que clero, fenômeno comum no longo dos anos, esta celebração
Em relação à inserção no tempo essencial no Círio de Nazaré e que permanente entre os diversos mobiliza o maior número de catolicismo popular brasileiro. acompanha o Círio de Nazaré
da longa duração, encontram-se os por isso não poderão ser alterados. sujeitos envolvidos na realização pessoas, extrapolando as fronteiras Como expressão dessa relação desde sua origem, em 1793. Pelo
elementos que possuem uma Muito pelo contrário, pela do evento, num permanente geográficas do município, do direta, os fiéis confeccionam fato de ser realizada à noite, a
continuidade histórica suficiente legislação do registro, estes deverão processo de negociação e conflito, estado e até da região. Além disso, mantos para vestir a imagem, procissão ganha um brilho especial,
para que se possa considerá-los ser revistos no máximo a cada dez de alianças e rupturas. É essa a pelo seu valor cultural, o Círio envolvem-na em fitas decorativas, pois milhares de pessoas a
como essenciais à festa de Nazaré, anos para reavaliação e atualização. lógica das transformações. consegue transpor as barreiras decoram a berlinda que a conduz etc. acompanham com velas acesas,
como a procissão do Círio, É possível que não haja da religião, constituindo atração Assim, as imagens original e peregrina como pagamento de promessas,
a imagem da santa, a trasladação e a unanimidade quanto à inclusão ou mesmo para aqueles que de Nossa Senhora de Nazaré são rezando contritas, entoando o hino
corda. Destes, alguns acompanham exclusão de um ou outro bem no têm outras crenças, como já elementos essenciais da celebração de Nossa Senhora de Nazaré.
o Círio desde suas origens. conjunto das celebrações essenciais foi comentado. do Círio e seu principal símbolo de Esta procissão, em conjunto
Em segundo lugar, estão aqueles do Círio de Nazaré, mas é preciso fé, devoção e tradição. com o Círio propriamente dito,
elementos que, muito embora de não perder de vista os critérios realizado no dia seguinte, pela
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cultural do Círio de Nazaré não foi menor densidade histórica, foram utilizados nessa caracterização. A procissão principal As imagens original A trasladação
uma tarefa fácil, pois não se pode incorporados à tradição de tal A dinâmica própria do Círio A procissão principal do Círio e peregrina Realizada atualmente no segundo
reduzir uma celebração de mais de forma que é impossível pensar o mostrará, nos anos vindouros, de Nossa Senhora de Nazaré As imagens de Nossa Senhora de sábado de outubro, a trasladação é
200 anos a apenas algumas de suas Círio de Nazaré sem eles. Neste se tais elementos continuarão ou corresponde ao traslado da imagem Nazaré estão sempre presentes nos a procissão que antecede o Círio.
manifestações, já que todas as caso estão, por exemplo, o almoço não sendo essenciais ou se serão peregrina da Catedral da Sé, no lares, escritórios, comércios, feiras É quando a imagem de Nossa
celebrações e demais bens do Círio e os brinquedos de miriti. substituídos por outros. bairro da Cidade Velha, até a praça e mercados, mas é durante o Círio Senhora de Nazaré é conduzida
associados ao evento constituem o O reconhecimento destes bens A dinâmica dessas mudanças Santuário, no bairro de Nazaré. de Nazaré que se tornam o centro do Colégio Gentil, até a Catedral da
Círio de Nazaré em sua completude como patrimônio cultural não depende unicamente do Mesmo que não seja uma das mais de todas as atenções. A ligação Sé, de onde sairá na manhã
atual. É possível reconhecer, brasileiro não tem caráter Iphan, da diretoria da Festa de Nazaré, antigas procissões da cidade e que simbólica dos devotos com Deus se seguinte na procissão do Círio.
entretanto, que alguns desses bens cristalizador, ou seja, não se quer do clero ou dos devotos. Mas as Nossa Senhora de Nazaré não seja faz, principalmente, via imagem de Muito embora tenha sofrido
vinculados à festividade apresentam dizer com isto que somente tais mudanças ocorrem, queiramos a padroeira oficial de Belém, é, Nossa Senhora de Nazaré e não via modificações em seu percurso ao
características especiais. bens representam o que há de ou não, como fruto do embate sem dúvida, a romaria que clero, fenômeno comum no longo dos anos, esta celebração
Em relação à inserção no tempo essencial no Círio de Nazaré e que permanente entre os diversos mobiliza o maior número de catolicismo popular brasileiro. acompanha o Círio de Nazaré
da longa duração, encontram-se os por isso não poderão ser alterados. sujeitos envolvidos na realização pessoas, extrapolando as fronteiras Como expressão dessa relação desde sua origem, em 1793. Pelo
elementos que possuem uma Muito pelo contrário, pela do evento, num permanente geográficas do município, do direta, os fiéis confeccionam fato de ser realizada à noite, a
continuidade histórica suficiente legislação do registro, estes deverão processo de negociação e conflito, estado e até da região. Além disso, mantos para vestir a imagem, procissão ganha um brilho especial,
para que se possa considerá-los ser revistos no máximo a cada dez de alianças e rupturas. É essa a pelo seu valor cultural, o Círio envolvem-na em fitas decorativas, pois milhares de pessoas a
como essenciais à festa de Nazaré, anos para reavaliação e atualização. lógica das transformações. consegue transpor as barreiras decoram a berlinda que a conduz etc. acompanham com velas acesas,
como a procissão do Círio, É possível que não haja da religião, constituindo atração Assim, as imagens original e peregrina como pagamento de promessas,
a imagem da santa, a trasladação e a unanimidade quanto à inclusão ou mesmo para aqueles que de Nossa Senhora de Nazaré são rezando contritas, entoando o hino
corda. Destes, alguns acompanham exclusão de um ou outro bem no têm outras crenças, como já elementos essenciais da celebração de Nossa Senhora de Nazaré.
o Círio desde suas origens. conjunto das celebrações essenciais foi comentado. do Círio e seu principal símbolo de Esta procissão, em conjunto
Em segundo lugar, estão aqueles do Círio de Nazaré, mas é preciso fé, devoção e tradição. com o Círio propriamente dito,
elementos que, muito embora de não perder de vista os critérios realizado no dia seguinte, pela
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detalhe da
berlinda.
devotas. foto:
foto: luiz braga.
paulo benjamin.
A berlinda Com o passar dos anos, esse O recírio Por sua antiguidade e pela entre o tradicional e o moderno,
Introduzida na procissão em 1855, espaço passou a ser disputado como Há mais de um século incorporado grande afluência popular o recírio é a moda e os costumes das diversas
a berlinda é o nome dado ao andor fonte de status e foram muitas as às festividades do Círio, o recírio outro dos elementos essenciais do épocas já atravessadas pela festa de
onde é transportada a imagem críticas dos devotos, pois o inchaço marca o encerramento da quadra Círio de Nazaré. Nossa Senhora de Nazaré.
peregrina durante a trasladação e o da corda tornava a procissão mais nazarena. É quando a imagem Historicamente, Círio e arraial estão
Círio. Foi plenamente assimilada lenta. Todas as tentativas de peregrina de Nossa Senhora de O arraial associados e não há como separá-
pelos fiéis como parte importante “organizar” ou “disciplinar” Nazaré retorna para o Colégio Presente em toda festa de santo, los para efeito do Registro, já que
e integrante da procissão, o espaço, entretanto, foram Gentil, de onde saiu para a o arraial não poderia faltar no Círio ambos atendem à questão da
formando com a imagem da santa e infrutíferas, seja pela reação dos trasladação no sábado que antecede de Nossa Senhora de Nazaré, ocorrência no tempo e também
com a corda a tríade mais devotos, seja pela própria dificuldade a procissão do Círio. Ato religioso acompanhando-o desde suas da tradição.
importante e indissociável do de se organizar mais de um milhão final da festividade de Nazaré, origens. É um local de comércio,
cortejo e um elemento essencial de pessoas durante uma procissão. o recírio tem início com a missa na de festa e ponto de encontro de O almoço do Círio
manhã, revive o mito das “fugas” do Círio de Nazaré. Atualmente, a corda é um dos praça Santuário, onde ocorre a devotos e não devotos durante toda O almoço do círio é uma das principais
da imagem da santa quando elementos mais característicos incineração das súplicas depositadas a quadra nazarena. Espaço da comida, tradições do Círio de Nazaré,
encontrada por Plácido, em 1700. A corda do Círio de Nazaré. Os seus 400 a aos pés da imagem original da santa da bebida, do jogo, da diversão, muito embora o início de sua
Uma não existe sem a outra, logo, Entre a utilização da corda pela 450 metros parecem insuficientes na Basílica de Nazaré, é marcado pelo aspecto profano da prática não seja datado. Depois
ambas são essenciais e primeira vez (1855) no Círio de diante da quantidade de mãos simbolizando o envio desses festa, mas entendido pelo devoto da procissão principal do Círio,
complementares desde suas origens. Nazaré e sua oficialização pela dispostas a segurá-la. Ela simboliza pedidos para o céu. Ao final da como parte da expressão de sua as famílias se reúnem nos lares para
igreja (1868), 13 anos se passaram. a ligação dos promesseiros com missa tem início a procissão que, devoção. Em função disso, é uma grande confraternização e
Aos poucos ela foi ganhando novos Nossa Senhora de Nazaré. É diante após percorrer algumas vias nas também um espaço de conflito também para saborear os deliciosos
significados para os devotos, sendo dessa sacralização conferida pelo imediações da basílica, dirige-se entre devotos e membros do clero. pratos típicos da cozinha regional
que todas as iniciativas de povo que se pode definir a corda para o Colégio Gentil, onde todos O arraial também nos permite paraense, especialmente o pato-
modificação relativas à corda como um dos elementos essenciais os presentes serão abençoados pelo acompanhar as mudanças, no-tucupi e a maniçoba. É, ao
receberam forte reação dos devotos. do Círio de Nazaré. arcebispo de Belém. o conflito entre o velho e o novo, mesmo tempo, prática religiosa,
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detalhe da
berlinda.
devotas. foto:
foto: luiz braga.
paulo benjamin.
A berlinda Com o passar dos anos, esse O recírio Por sua antiguidade e pela entre o tradicional e o moderno,
Introduzida na procissão em 1855, espaço passou a ser disputado como Há mais de um século incorporado grande afluência popular o recírio é a moda e os costumes das diversas
a berlinda é o nome dado ao andor fonte de status e foram muitas as às festividades do Círio, o recírio outro dos elementos essenciais do épocas já atravessadas pela festa de
onde é transportada a imagem críticas dos devotos, pois o inchaço marca o encerramento da quadra Círio de Nazaré. Nossa Senhora de Nazaré.
peregrina durante a trasladação e o da corda tornava a procissão mais nazarena. É quando a imagem Historicamente, Círio e arraial estão
Círio. Foi plenamente assimilada lenta. Todas as tentativas de peregrina de Nossa Senhora de O arraial associados e não há como separá-
pelos fiéis como parte importante “organizar” ou “disciplinar” Nazaré retorna para o Colégio Presente em toda festa de santo, los para efeito do Registro, já que
e integrante da procissão, o espaço, entretanto, foram Gentil, de onde saiu para a o arraial não poderia faltar no Círio ambos atendem à questão da
formando com a imagem da santa e infrutíferas, seja pela reação dos trasladação no sábado que antecede de Nossa Senhora de Nazaré, ocorrência no tempo e também
com a corda a tríade mais devotos, seja pela própria dificuldade a procissão do Círio. Ato religioso acompanhando-o desde suas da tradição.
importante e indissociável do de se organizar mais de um milhão final da festividade de Nazaré, origens. É um local de comércio,
cortejo e um elemento essencial de pessoas durante uma procissão. o recírio tem início com a missa na de festa e ponto de encontro de O almoço do Círio
manhã, revive o mito das “fugas” do Círio de Nazaré. Atualmente, a corda é um dos praça Santuário, onde ocorre a devotos e não devotos durante toda O almoço do círio é uma das principais
da imagem da santa quando elementos mais característicos incineração das súplicas depositadas a quadra nazarena. Espaço da comida, tradições do Círio de Nazaré,
encontrada por Plácido, em 1700. A corda do Círio de Nazaré. Os seus 400 a aos pés da imagem original da santa da bebida, do jogo, da diversão, muito embora o início de sua
Uma não existe sem a outra, logo, Entre a utilização da corda pela 450 metros parecem insuficientes na Basílica de Nazaré, é marcado pelo aspecto profano da prática não seja datado. Depois
ambas são essenciais e primeira vez (1855) no Círio de diante da quantidade de mãos simbolizando o envio desses festa, mas entendido pelo devoto da procissão principal do Círio,
complementares desde suas origens. Nazaré e sua oficialização pela dispostas a segurá-la. Ela simboliza pedidos para o céu. Ao final da como parte da expressão de sua as famílias se reúnem nos lares para
igreja (1868), 13 anos se passaram. a ligação dos promesseiros com missa tem início a procissão que, devoção. Em função disso, é uma grande confraternização e
Aos poucos ela foi ganhando novos Nossa Senhora de Nazaré. É diante após percorrer algumas vias nas também um espaço de conflito também para saborear os deliciosos
significados para os devotos, sendo dessa sacralização conferida pelo imediações da basílica, dirige-se entre devotos e membros do clero. pratos típicos da cozinha regional
que todas as iniciativas de povo que se pode definir a corda para o Colégio Gentil, onde todos O arraial também nos permite paraense, especialmente o pato-
modificação relativas à corda como um dos elementos essenciais os presentes serão abençoados pelo acompanhar as mudanças, no-tucupi e a maniçoba. É, ao
receberam forte reação dos devotos. do Círio de Nazaré. arcebispo de Belém. o conflito entre o velho e o novo, mesmo tempo, prática religiosa,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 74 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 75
berlinda chegando
à basílica de nazaré
onde termina
a procissão. foto:
francisco costa.
CONCLUSÃO
O reconhecimento de um bem
de natureza imaterial como
patrimônio cultural brasileiro, por
e federais que recebem atribuições
na procissão ou nas demais
celebrações e eventos associados à
daqueles que acompanham o Círio
e a trasladação, bem como as demais
programações religiosas e
responsáveis pela continuidade da
tradição nesses 211 anos.
O Círio de Nazaré é um
meio do Registro, atribui a ele festividade e que podem, de alguma culturais que integram a festa. acontecimento que envolve, direta
valor representativo da cultura e da maneira, contribuir para a sua Uma procissão que conta com ou indiretamente, toda a população
identidade brasileiras. continuidade. a participação de cerca de um paraense, estendendo ainda sua
Ao chancelar determinada Diante da grandiosidade e milhão e meio de pessoas num influência para além dos limites do
manifestação cultural com esse importância de uma manifestação só dia, constitui um desafio sob estado do Pará. É mais do que um
título, a União assume tanto a de mais de 200 anos, não se pode qualquer aspecto. mero fenômeno religioso,
responsabilidade de acompanhar os falar em extinção. Apesar de O Círio atrai turistas, faz lotar podendo ser observado e
possíveis desdobramentos e reflexos muitos aspectos do Círio terem hotéis e restaurantes, movimenta a compreendido sob diversos pontos
desse ato sobre o bem, quanto sofrido alterações ao longo dos economia da cidade. Não há como de vista: religioso, estético,
o compromisso com a sua anos, não se pode dizer que a negar que isto traz benefícios para turístico, cultural, sociológico,
preservação. Compromisso este tradição tenha desaparecido. o município, mas o importante é antropológico etc.
que se traduz na sua divulgação Ela simplesmente transformou-se, estar atento para que os interesses No Círio, o sagrado e o profano
e valorização, e também na recriou-se, atualizou-se, econômicos não venham a não se excluem, complementam-se,
recomendação de ações para acompanhando a dinâmica desvirtuar o caráter popular e e ambos fazem parte dessa grandiosa
sua salvaguarda. da história. sagrado da manifestação, pois é ele manifestação.
Tais recomendações destinam-se Se não há razão para o responsável pela sua longevidade
a todos que, direta ou preocupações com o e força vital. Não se pode perder
indiretamente, desempenham desaparecimento do Círio de de vista que a força da manifestação
algum papel na gestão e Nazaré, há uma série de medidas está na participação popular.
organização do Círio, inclusive que podem ser adotadas para sua São os devotos, os romeiros e os
os órgãos municipais, estaduais preservação e para maior segurança promesseiros os grandes
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berlinda chegando
à basílica de nazaré
onde termina
a procissão. foto:
francisco costa.
CONCLUSÃO
O reconhecimento de um bem
de natureza imaterial como
patrimônio cultural brasileiro, por
e federais que recebem atribuições
na procissão ou nas demais
celebrações e eventos associados à
daqueles que acompanham o Círio
e a trasladação, bem como as demais
programações religiosas e
responsáveis pela continuidade da
tradição nesses 211 anos.
O Círio de Nazaré é um
meio do Registro, atribui a ele festividade e que podem, de alguma culturais que integram a festa. acontecimento que envolve, direta
valor representativo da cultura e da maneira, contribuir para a sua Uma procissão que conta com ou indiretamente, toda a população
identidade brasileiras. continuidade. a participação de cerca de um paraense, estendendo ainda sua
Ao chancelar determinada Diante da grandiosidade e milhão e meio de pessoas num influência para além dos limites do
manifestação cultural com esse importância de uma manifestação só dia, constitui um desafio sob estado do Pará. É mais do que um
título, a União assume tanto a de mais de 200 anos, não se pode qualquer aspecto. mero fenômeno religioso,
responsabilidade de acompanhar os falar em extinção. Apesar de O Círio atrai turistas, faz lotar podendo ser observado e
possíveis desdobramentos e reflexos muitos aspectos do Círio terem hotéis e restaurantes, movimenta a compreendido sob diversos pontos
desse ato sobre o bem, quanto sofrido alterações ao longo dos economia da cidade. Não há como de vista: religioso, estético,
o compromisso com a sua anos, não se pode dizer que a negar que isto traz benefícios para turístico, cultural, sociológico,
preservação. Compromisso este tradição tenha desaparecido. o município, mas o importante é antropológico etc.
que se traduz na sua divulgação Ela simplesmente transformou-se, estar atento para que os interesses No Círio, o sagrado e o profano
e valorização, e também na recriou-se, atualizou-se, econômicos não venham a não se excluem, complementam-se,
recomendação de ações para acompanhando a dinâmica desvirtuar o caráter popular e e ambos fazem parte dessa grandiosa
sua salvaguarda. da história. sagrado da manifestação, pois é ele manifestação.
Tais recomendações destinam-se Se não há razão para o responsável pela sua longevidade
a todos que, direta ou preocupações com o e força vital. Não se pode perder
indiretamente, desempenham desaparecimento do Círio de de vista que a força da manifestação
algum papel na gestão e Nazaré, há uma série de medidas está na participação popular.
organização do Círio, inclusive que podem ser adotadas para sua São os devotos, os romeiros e os
os órgãos municipais, estaduais preservação e para maior segurança promesseiros os grandes
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1. Cf. netto, Angelim. A Festa de 11. Segundo Almeida Pinto (1906, p. 23. Cf. del priory, Mary. Festas e 31. A chamada imagem peregrina é “Brinquedos de Miriti”. In Cultura
Nazareth e o Arcebispo Joffily. Folha do Norte, 90), Plácido destinou a posse da imagem utopias no Brasil colonial. São Paulo: a que atualmente sai na trasladação e na Amazônica: uma poética do imaginário, Belém:
Belém, 1926. da santa a Antônio Agostinho por ter Brasiliense, 1994, p. 104. procissão principal do Círio, já que a cejup, 1995.
2. Plácido José dos Santos é um reconhecido nele “maior devoção e 24. Cf. da matta, Roberto. Carnavais, imagem que foi encontrada por Plácido, 43. Cf. moreira, Eidorfe. Visão
personagem histórico controvertido, mas piedade” e , após a morte de Plácido, este Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema identificada como a “Original”, permanece geo-social do Círio. Belém: Imprensa
de existência documentada. Era filho do mudou-se para o local da devoção. brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. o ano inteiro na Basílica de Nazaré. Universitária, 1971.
português Manuel Ayres de Souza e 12. Cf. coelho,Geraldo. op.cit. p. 121. 25. Cf. alves, Regina. Círio de Nazaré: 32. Entrevista concedida pelo Padre 44. Cf. tocantins, Leandro. Santa
NOTAS sobrinho de um dos primeiros capitães- 13. Cf. boga, Mendes. D. Fuas Roupinho da taba marajoara à aldeia global. Dissertação de Luciano , Belém, 16/08/2002. Maria de Belém do Grão Pará: instantes e evocações da
mor do Grão-Pará, Ayres de Souza e o Santuário da Nazaré. Lisboa: Sociedade Mestrado em Comunicação e Cultura 33. Na verdade, apesar de muitos cidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Chichorro. Sua esposa era paraense e se Industrial de Tipografia, Ltda, 1948, p. Contemporânea, Programa de Mestrado devotos acreditarem que a imagem peregrina Brasileira, 1963.
chamava Ana Maria Pinto da Gama. 51-52. Institucional em Comunicação e Cultura permanece no Colégio Gentil Bittencourt, 45. Cf. netto, Angelim. A Festa de
Moravam na região conhecida como 14. Cf. montarroyos, Heraldo. Contemporâneas, Universidade Federal do ela fica mesmo na Basílica de Nazaré, sob Nazaré e o arcebispo Joffily. Belém: Folha do
estrada do Maranhão (hoje bairro de Festas Profanas e Alegrias Ruidosas. Belém: Pará/ Universidade Federal da Bahia. os cuidados do pároco. Norte,1926.
Nazaré). Conferir Círio de Nazaré, informações Falângola, 1992. Belém, 2002. 34. Entrevista concedida pelo padre 46. meira, Clóvis. “O Círio no
úteis e importantes. Belém, Diretoria da Festa 15. Cf. alves, Isidoro. O Carnaval 26. Depoimento da professora Isa Luciano Branbilla. Belém, 17 de setembro presente e no passado”. A Província do Pará.
de Nazaré, 2000. Devoto: Um estudo sobre a Festa de Nazaré, em Carmem durante entrevista focal. Belém, de 2002. Alacid Nunes foi governador do Belém: 17/18 de novembro de 1996, cad. 3.
3. Cf. maués, Raymundo Heraldo. Belém. Petrópolis: Vozes, 1980. 15/09/2002. Pará entre 1966 e 1971. 47. Cf. moreira, Eidorfe. Visão
Padres, Pajés, Santos e Festas: catolicismo popular e 16. Cf. beltrão, Jane Felipe. Cólera: o 27. A canção “Esse rio é minha rua” 35. Entrevista concedida pelo padre Geo-Social do Círio. Belém, Imprensa
controle eclesiástico. Belém: cejup, 1995, p, 54. flagelo da Belém do Grão-Pará. Belém: Museu foi gravada por Fafá de Belém, pela Luciano Brambilla. Belém, 17 de setembro Universitária, 1971, p. 16
4. Cf. coelho, Geraldo. Uma Crônica Paraense Emílio Goeldi/UFPA, 2004. Polygran e por Paulo André, pela de 2002. 48. Cf. lowenthal, David. “Como
do Maravilhoso. Legenda, Tempo e Memória no culto 17. Cf. rocque, Carlos. op. cit. Continental. Conferir oliveira, 36. Os recursos financeiros para a conhecemos o passado”. Revista Projeto
da Virgem de Nazaré. Belém: Imprensa Oficial p. 63-64. Alfredo. Ruy Guilherme Paranatinga Barata. construção da praça foram viabilizados pelo história. São Paulo: PUC, número 17,
do Estado, 1998, p. 126. 18. Cf. lustosa, D. Antônio de Belém, cejup, 1990, p. 172. presidente João Figueiredo, atendendo novembro, 1998, pp. 83.
5. Cf. almeida pinto, Antônio Almeida. Dom Macedo Costa (Bispo do Pará). 28. A barraca da santa é uma ampla solicitação do padre Luciano Brambilla, 49. Cf. tocantins, Leandro. Op. cit.
Rodrigues de. “O bispado do Pará”. Rio de Janeiro: Cruzada da Boa edificação, ao lado da Basílica de Nazaré, junto com a diretoria da festa e com o apoio 50. KERBEY, J. Orton. Op. cit.
Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, Imprensa, 1939. onde se promovem leilões e jantares, do deputado federal Jorge Arbage. A descrição da procissão feita por Kerbey
Tomo V. Belém: Typ. e Encadernação 19. Cf. henrique, Márcio Couto. pagos como num restaurante, preparados 37. Entrevista concedida pelo padre (1911), mesmo tratando como ridículas e
do Instituto Lauro Sodré, 1906, “O Senhor do Céu não é o Senhor da por organizações ou movimentos católicos, Luciano Brambilla. Belém, 17 de setembro exóticas algumas dessas alegorias, menciona
p. 39-40 e 89-90. Terra: a experiência religiosa dos escravos com a finalidade de angariar fundos, ao de 2002. a presença ao longo do cortejo, além da
6. Cf. rocque, Carlos. História do nas irmandades paraenses (1839-1889)”. longo da quadra nazarena Em toda festa de 38. Entrevista focal realizada na corda e da berlinda com a santa, de carros
Círio e da Festa de Nazaré. Belém: Mitograph, Monografia de conclusão de curso santo, no Pará, existe a barraca do santo residência da senhora Lucila Alves da com figuras representando milagres,
1981, p. 42. apresentada ao Departamento de História ou da santa, com essa finalidade. Conceição. Belém, 15 de setembro de 2002. barcos, caixões de pessoas que
7. Cf. vianna, Arthur. “Festas da ufpa para obtenção dos graus de Os recursos angariados servem para o 39. Idem. presumivelmente teriam ressuscitado por
populares do Pará; i – A Festa de Licenciatura e Bacharelado em História. custeio da própria festa, para as despesas 40. Cf. Livro das peregrinações. Belém: milagres da Virgem, carros de anjos e votos
Nazareth”. Annaes da Bibliotheca e Archivo Belém, ufpa, 1997. da paróquia ou para outras finalidades Arquidiocese de Belém, 2003, p. 3. de cera. O relato do cônsul nos mostra que
Público do Pará, Tomo iii. Belém: secult, 20. Cf. rocque, Carlos. op. cit. pp. relacionadas com o culto católico. 41. vianna, Arthur.Festas populares há cerca de um século esses elementos já
1968, p. 235. 85-121. 29. Entrevista concedida por Odon do Pará”; i – A Festa de Nazaré. Belém: integravam a procissão do Círio.
8. Cf. A boa nova, Belém, 21. Cf. nassar, Flávio. op. cit. Carlos, organizador do Traslado da Annaes da Biblioteca e Archivo Público
17/11/1874, p. 4. 22. Cf. maués, Raymundo Heraldo. imagem em Ananindeua. Belém, 17 de do Pará, Tomo iii, secult,1968.
9. vianna, Arthur. Op. Cit, p. 235. “Um julgamento político: notas sobre o outubro de 2002. 42. Espécie de cabide, fabricado com
10. Cf. nassar, Flávio. Você acha que se caso dos padres e posseiros do Araguaia”. 30. Entrevista concedida por José dos o próprio miriti, onde são expostos os
deveria tombar a corda como Patrimônio Cultural do Comunicações do ISER 1(2): 31-38, Rio de Santos Ventura, da Diretoria da Festa de brinquedos para venda. Conferir
Estado? O Liberal, Belém, 1997. Janeiro, 1982. Nazaré. Belém, 12 de setembro de 2002. loureiro, João de Jesus Paes.
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1. Cf. netto, Angelim. A Festa de 11. Segundo Almeida Pinto (1906, p. 23. Cf. del priory, Mary. Festas e 31. A chamada imagem peregrina é “Brinquedos de Miriti”. In Cultura
Nazareth e o Arcebispo Joffily. Folha do Norte, 90), Plácido destinou a posse da imagem utopias no Brasil colonial. São Paulo: a que atualmente sai na trasladação e na Amazônica: uma poética do imaginário, Belém:
Belém, 1926. da santa a Antônio Agostinho por ter Brasiliense, 1994, p. 104. procissão principal do Círio, já que a cejup, 1995.
2. Plácido José dos Santos é um reconhecido nele “maior devoção e 24. Cf. da matta, Roberto. Carnavais, imagem que foi encontrada por Plácido, 43. Cf. moreira, Eidorfe. Visão
personagem histórico controvertido, mas piedade” e , após a morte de Plácido, este Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema identificada como a “Original”, permanece geo-social do Círio. Belém: Imprensa
de existência documentada. Era filho do mudou-se para o local da devoção. brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. o ano inteiro na Basílica de Nazaré. Universitária, 1971.
português Manuel Ayres de Souza e 12. Cf. coelho,Geraldo. op.cit. p. 121. 25. Cf. alves, Regina. Círio de Nazaré: 32. Entrevista concedida pelo Padre 44. Cf. tocantins, Leandro. Santa
NOTAS sobrinho de um dos primeiros capitães- 13. Cf. boga, Mendes. D. Fuas Roupinho da taba marajoara à aldeia global. Dissertação de Luciano , Belém, 16/08/2002. Maria de Belém do Grão Pará: instantes e evocações da
mor do Grão-Pará, Ayres de Souza e o Santuário da Nazaré. Lisboa: Sociedade Mestrado em Comunicação e Cultura 33. Na verdade, apesar de muitos cidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Chichorro. Sua esposa era paraense e se Industrial de Tipografia, Ltda, 1948, p. Contemporânea, Programa de Mestrado devotos acreditarem que a imagem peregrina Brasileira, 1963.
chamava Ana Maria Pinto da Gama. 51-52. Institucional em Comunicação e Cultura permanece no Colégio Gentil Bittencourt, 45. Cf. netto, Angelim. A Festa de
Moravam na região conhecida como 14. Cf. montarroyos, Heraldo. Contemporâneas, Universidade Federal do ela fica mesmo na Basílica de Nazaré, sob Nazaré e o arcebispo Joffily. Belém: Folha do
estrada do Maranhão (hoje bairro de Festas Profanas e Alegrias Ruidosas. Belém: Pará/ Universidade Federal da Bahia. os cuidados do pároco. Norte,1926.
Nazaré). Conferir Círio de Nazaré, informações Falângola, 1992. Belém, 2002. 34. Entrevista concedida pelo padre 46. meira, Clóvis. “O Círio no
úteis e importantes. Belém, Diretoria da Festa 15. Cf. alves, Isidoro. O Carnaval 26. Depoimento da professora Isa Luciano Branbilla. Belém, 17 de setembro presente e no passado”. A Província do Pará.
de Nazaré, 2000. Devoto: Um estudo sobre a Festa de Nazaré, em Carmem durante entrevista focal. Belém, de 2002. Alacid Nunes foi governador do Belém: 17/18 de novembro de 1996, cad. 3.
3. Cf. maués, Raymundo Heraldo. Belém. Petrópolis: Vozes, 1980. 15/09/2002. Pará entre 1966 e 1971. 47. Cf. moreira, Eidorfe. Visão
Padres, Pajés, Santos e Festas: catolicismo popular e 16. Cf. beltrão, Jane Felipe. Cólera: o 27. A canção “Esse rio é minha rua” 35. Entrevista concedida pelo padre Geo-Social do Círio. Belém, Imprensa
controle eclesiástico. Belém: cejup, 1995, p, 54. flagelo da Belém do Grão-Pará. Belém: Museu foi gravada por Fafá de Belém, pela Luciano Brambilla. Belém, 17 de setembro Universitária, 1971, p. 16
4. Cf. coelho, Geraldo. Uma Crônica Paraense Emílio Goeldi/UFPA, 2004. Polygran e por Paulo André, pela de 2002. 48. Cf. lowenthal, David. “Como
do Maravilhoso. Legenda, Tempo e Memória no culto 17. Cf. rocque, Carlos. op. cit. Continental. Conferir oliveira, 36. Os recursos financeiros para a conhecemos o passado”. Revista Projeto
da Virgem de Nazaré. Belém: Imprensa Oficial p. 63-64. Alfredo. Ruy Guilherme Paranatinga Barata. construção da praça foram viabilizados pelo história. São Paulo: PUC, número 17,
do Estado, 1998, p. 126. 18. Cf. lustosa, D. Antônio de Belém, cejup, 1990, p. 172. presidente João Figueiredo, atendendo novembro, 1998, pp. 83.
5. Cf. almeida pinto, Antônio Almeida. Dom Macedo Costa (Bispo do Pará). 28. A barraca da santa é uma ampla solicitação do padre Luciano Brambilla, 49. Cf. tocantins, Leandro. Op. cit.
Rodrigues de. “O bispado do Pará”. Rio de Janeiro: Cruzada da Boa edificação, ao lado da Basílica de Nazaré, junto com a diretoria da festa e com o apoio 50. KERBEY, J. Orton. Op. cit.
Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, Imprensa, 1939. onde se promovem leilões e jantares, do deputado federal Jorge Arbage. A descrição da procissão feita por Kerbey
Tomo V. Belém: Typ. e Encadernação 19. Cf. henrique, Márcio Couto. pagos como num restaurante, preparados 37. Entrevista concedida pelo padre (1911), mesmo tratando como ridículas e
do Instituto Lauro Sodré, 1906, “O Senhor do Céu não é o Senhor da por organizações ou movimentos católicos, Luciano Brambilla. Belém, 17 de setembro exóticas algumas dessas alegorias, menciona
p. 39-40 e 89-90. Terra: a experiência religiosa dos escravos com a finalidade de angariar fundos, ao de 2002. a presença ao longo do cortejo, além da
6. Cf. rocque, Carlos. História do nas irmandades paraenses (1839-1889)”. longo da quadra nazarena Em toda festa de 38. Entrevista focal realizada na corda e da berlinda com a santa, de carros
Círio e da Festa de Nazaré. Belém: Mitograph, Monografia de conclusão de curso santo, no Pará, existe a barraca do santo residência da senhora Lucila Alves da com figuras representando milagres,
1981, p. 42. apresentada ao Departamento de História ou da santa, com essa finalidade. Conceição. Belém, 15 de setembro de 2002. barcos, caixões de pessoas que
7. Cf. vianna, Arthur. “Festas da ufpa para obtenção dos graus de Os recursos angariados servem para o 39. Idem. presumivelmente teriam ressuscitado por
populares do Pará; i – A Festa de Licenciatura e Bacharelado em História. custeio da própria festa, para as despesas 40. Cf. Livro das peregrinações. Belém: milagres da Virgem, carros de anjos e votos
Nazareth”. Annaes da Bibliotheca e Archivo Belém, ufpa, 1997. da paróquia ou para outras finalidades Arquidiocese de Belém, 2003, p. 3. de cera. O relato do cônsul nos mostra que
Público do Pará, Tomo iii. Belém: secult, 20. Cf. rocque, Carlos. op. cit. pp. relacionadas com o culto católico. 41. vianna, Arthur.Festas populares há cerca de um século esses elementos já
1968, p. 235. 85-121. 29. Entrevista concedida por Odon do Pará”; i – A Festa de Nazaré. Belém: integravam a procissão do Círio.
8. Cf. A boa nova, Belém, 21. Cf. nassar, Flávio. op. cit. Carlos, organizador do Traslado da Annaes da Biblioteca e Archivo Público
17/11/1874, p. 4. 22. Cf. maués, Raymundo Heraldo. imagem em Ananindeua. Belém, 17 de do Pará, Tomo iii, secult,1968.
9. vianna, Arthur. Op. Cit, p. 235. “Um julgamento político: notas sobre o outubro de 2002. 42. Espécie de cabide, fabricado com
10. Cf. nassar, Flávio. Você acha que se caso dos padres e posseiros do Araguaia”. 30. Entrevista concedida por José dos o próprio miriti, onde são expostos os
deveria tombar a corda como Patrimônio Cultural do Comunicações do ISER 1(2): 31-38, Rio de Santos Ventura, da Diretoria da Festa de brinquedos para venda. Conferir
Estado? O Liberal, Belém, 1997. Janeiro, 1982. Nazaré. Belém, 12 de setembro de 2002. loureiro, João de Jesus Paes.
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A Boa Nova, Belém, 17/11/1874. ______ Dois séculos de Fé. Belém: e bacharelado em história. m au és, R. Heraldo. Belém: Universidade Federal do
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Rodrigues de. “O bispado do ______ Corda do Círio, marca de fé, vamos _____ “O Povo no Círio: imagens da sobre o caso dos padres e rocque, Carlos. Grande enciclopédia
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boga, Mendes. D. Fuas Roupinho e o Irmandades paraenses (1839-1889). Projeto história. São Paulo: puc, pública e a festa sagrada: manifestações
Santuário da Nazaré. Lisboa: Monografia de conclusão de número 17, novembro, 1998. culturais e territorialidades móveis no
Sociedade Industrial de curso apresentada ao lustosa, D. Antônio de Círio de Nossa Senhora de Nazaré em
Tipografia, Ltda, 1948. Departamento de História Almeida. Dom Macedo Costa (Bispo Belém do Pará. Trabalho de
bonna, Mízar. Círio. Painel de vida. da ufpa para obtenção dos do Pará). Rio de Janeiro: Cruzada Conclusão de Curso,
2ª ed. Belém: Secult, 1992. graus de licenciatura da Boa Imprensa, 1939. Departamento de Geografia.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 80 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 81
A Boa Nova, Belém, 17/11/1874. ______ Dois séculos de Fé. Belém: e bacharelado em história. m au és, R. Heraldo. Belém: Universidade Federal do
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Goeldi/ufpa , 2004. a experiência religiosa dos escravos nas conhecemos o passado”. Revista pantoja, Vanda M. L. A praça
boga, Mendes. D. Fuas Roupinho e o Irmandades paraenses (1839-1889). Projeto história. São Paulo: puc, pública e a festa sagrada: manifestações
Santuário da Nazaré. Lisboa: Monografia de conclusão de número 17, novembro, 1998. culturais e territorialidades móveis no
Sociedade Industrial de curso apresentada ao lustosa, D. Antônio de Círio de Nossa Senhora de Nazaré em
Tipografia, Ltda, 1948. Departamento de História Almeida. Dom Macedo Costa (Bispo Belém do Pará. Trabalho de
bonna, Mízar. Círio. Painel de vida. da ufpa para obtenção dos do Pará). Rio de Janeiro: Cruzada Conclusão de Curso,
2ª ed. Belém: Secult, 1992. graus de licenciatura da Boa Imprensa, 1939. Departamento de Geografia.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 82 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 83
romaria fluvial e
o mercado do peixe.
foto: francisco
costa.
ANEXO 1:
O TERRITÓRIO
DO CÍRIO
romaria fluvial e
o mercado do peixe.
foto: francisco
costa.
ANEXO 1:
O TERRITÓRIO
DO CÍRIO
1653 Os jesuítas iniciam o culto à 1720 Construção da primeira realizar anualmente uma festa em
Nazaré em Vigia, Pará. ermida, na casa do próprio Plácido. louvor à Nossa Senhora de Nazaré.
A devoção nazarena teve início
em Vigia, mas o Círio como 1721 D. Bartolomeu do Pilar, 1790 Concedida a autorização para
romaria que leva a imagem de um bispo do Pará, teria visitado a realização da festa de Nazaré.
local para outro veio a acontecer a ermida na cabana de Plácido. Francisco de Souza Coutinho
neste município somente a partir assume a presidência da província
da metade do século xix, vários 1730-1744 Construção da segunda e visita o arraial de Nazaré.
anos após a institucionalização do ermida, de taipa, por Plácido e
Círio belenense. Ou seja, apesar da pelo devoto Antônio Agostinho. 08/09/1793 Realização do
devoção nazarena vigiense ser mais primeiro Círio em Belém, devido
antiga, foi na capital que se 1773 D. João Evangelista visita a ao pagamento da promessa do
realizou o primeiro Círio de imagem na ermida e providencia presidente da província.
Nazaré do Pará. para que seja levada com pompa para Para obter a cura de uma doença,
Portugal, a fim de ser restaurada. Francisco de Souza Coutinho
1700 Plácido “encontra” a prometeu transportar a imagem em
imagem de Nazaré, às margens 31/07/1774 Retorno da imagem a procissão do palácio do governo até
do igarapé Murutucu. Início da Belém. D. João Evangelista convoca à ermida da santa, carregando ele
veneração em Belém. A casa a cidade para, num ato solene, mesmo um círio. Ao se recuperar,
de Plácido ficava na estrada do trasladar a imagem do porto até a sua convocou os habitantes do interior
Maranhão, ponto de parada para ermida. Na ocasião, o governo doa para a festividade, a fim de realizar
muitos viajantes, o que fez com uma jeira de terra à imagem, no no arraial uma feira de produtos
que a imagem em pouco tempo se local onde é aberto o largo, e o bispo regionais. A imagem foi
tornasse conhecida. solicita a Portugal autorização para transportada num carro de bois,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 84 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 85
1653 Os jesuítas iniciam o culto à 1720 Construção da primeira realizar anualmente uma festa em
Nazaré em Vigia, Pará. ermida, na casa do próprio Plácido. louvor à Nossa Senhora de Nazaré.
A devoção nazarena teve início
em Vigia, mas o Círio como 1721 D. Bartolomeu do Pilar, 1790 Concedida a autorização para
romaria que leva a imagem de um bispo do Pará, teria visitado a realização da festa de Nazaré.
local para outro veio a acontecer a ermida na cabana de Plácido. Francisco de Souza Coutinho
neste município somente a partir assume a presidência da província
da metade do século xix, vários 1730-1744 Construção da segunda e visita o arraial de Nazaré.
anos após a institucionalização do ermida, de taipa, por Plácido e
Círio belenense. Ou seja, apesar da pelo devoto Antônio Agostinho. 08/09/1793 Realização do
devoção nazarena vigiense ser mais primeiro Círio em Belém, devido
antiga, foi na capital que se 1773 D. João Evangelista visita a ao pagamento da promessa do
realizou o primeiro Círio de imagem na ermida e providencia presidente da província.
Nazaré do Pará. para que seja levada com pompa para Para obter a cura de uma doença,
Portugal, a fim de ser restaurada. Francisco de Souza Coutinho
1700 Plácido “encontra” a prometeu transportar a imagem em
imagem de Nazaré, às margens 31/07/1774 Retorno da imagem a procissão do palácio do governo até
do igarapé Murutucu. Início da Belém. D. João Evangelista convoca à ermida da santa, carregando ele
veneração em Belém. A casa a cidade para, num ato solene, mesmo um círio. Ao se recuperar,
de Plácido ficava na estrada do trasladar a imagem do porto até a sua convocou os habitantes do interior
Maranhão, ponto de parada para ermida. Na ocasião, o governo doa para a festividade, a fim de realizar
muitos viajantes, o que fez com uma jeira de terra à imagem, no no arraial uma feira de produtos
que a imagem em pouco tempo se local onde é aberto o largo, e o bispo regionais. A imagem foi
tornasse conhecida. solicita a Portugal autorização para transportada num carro de bois,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 86 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 87
no colo do capelão do palácio, 1803 Introdução da alegoria 1840 Segunda restauração da 1853 Uma forte chuva na hora do Substituição do palanquim que 1868 Oficialização da corda pela
sendo acompanhada por cerca de de D. Fuas Roupinho (que gerou imagem, ocorrida em Portugal. Círio dispersa a multidão, tornando conduzia a imagem e seu portador comissão encarregada dos festejos.
dez mil pessoas. O bispado do Pará o início da devoção à Nazaré em a procissão uma parada militar, visto por uma berlinda.
estava em vacância. Portugal) na procissão, por ordem 1843 A partir desse ano iniciam-se que as tropas foram obrigadas a Já não existe a feira de produtos 1877 O jornal Diário de Belém publica
Itinerário: palácio presidencial, da rainha Maria i. os anúncios de sortes e loterias prosseguir conduzindo a imagem. regionais no arraial. matéria que fala de apresentações
margem do igarapé do Piry, Casa das da festa. A corda é utilizada pela “indecorosas” e “blasfemas”
Canoas (Ver-o-Peso), rua da Praia 1826 Introdução do carro dos 1854 O papa Pio x concede primeira vez, para retirar a berlinda ocorridas no pavilhão de Flora, o que
(avenida Quinze de Novembro), foguetes ou carro precursor na 1846 Ocorre o milagre do brigue indulgência plenária para de um atoleiro. fez Dom Macedo Costa ordenar a
Convento de Santo Antônio, procissão, com bandeiras de São João Batista: alguns todo aquele que acompanhar imediata suspensão dos festejos.
estrada da Campina (Presidente todas as nações católicas. marinheiros se salvam do naufrágio o Círio descalço. 1858 O Círio ocorre em 10/10. A ermida trancada é invadida e
Vargas), Largo da Pólvora (praça da do brigue num pequeno escaler O Círio é realizado a 22/10, Anunciam-se diversas atrações para ocorrem ladainhas e toques de
República), estrada do Maranhão 1835 Cabanos tomam o arraial de após invocar a proteção da Virgem pela manhã, devido aos o arraial, incluindo botequins, sinos. Dom Macedo recusa-se a
(Nazaré) até o arraial. Nazaré e a cidade de Belém. Único de Nazaré. Os sobreviventes acontecimentos do ano passado. bailes de máscaras, cosmoramas, aprovar a lista da mesa regedora da
Nos anos seguintes a festa passou ano em que não ocorreu o Círio. prometeram carregar o brigue polioramas e choques elétricos. festa no ano seguinte, por conter
a ser organizada pela Confraria de durante o Círio. 1855 Uma epidemia de cólera nomes de pessoas que participaram
Nossa Senhora de Nazaré. 1839 O pastor protestante Daniel assola a cidade, mas ainda assim 1860 Fundação da sociedade do na invasão da ermida. A irmandade de
P. Kidder descreve o Círio. 1848 realiza-se o Círio, sendo incluído descanso, que alugava cadeiras para Nazaré toma as chaves da ermida e
1799 Francisco de Souza A procissão passava pelo meio da O naturalista inglês Henry Walter na procissão o escaler do brigue aqueles que desejassem ver, depõe o pároco, que transfere a
Coutinho inicia a construção floresta, pois a área ao redor da Bates descreve o Círio. Segundo São João Batista. Muitos vêem a sentados, o movimento do arraial. paróquia para a capela do hospital
de uma nova ermida. estrada de Nazareth ainda não era Bates, entre as festas religiosas do epidemia como um castigo da D. Luís i. O governo provincial
urbanizada. A ermida se assemelhava Pará, a de Nazaré era a mais Virgem, por não ter sido cumprida 1867 Proíbe-se o jogo no arraial apóia a irmandade.
1800 ou 1802 Inauguração a uma casa comum, e as famílias que importante, tendo a presença de a promessa de carregar o brigue na por meio de edital do subdelegado. A irmandade de Nossa Senhora de Nazaré
da nova ermida, junto com as ficavam no local durante a festa todas as autoridades civis, inclusive procissão. A aglomeração popular era responsável pela execução da festa
solenidades do Círio. construíam barracas ao seu redor. o presidente da província. aumenta o número de mortos. desde 1794, mas, segundo o bispo,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 86 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 87
no colo do capelão do palácio, 1803 Introdução da alegoria 1840 Segunda restauração da 1853 Uma forte chuva na hora do Substituição do palanquim que 1868 Oficialização da corda pela
sendo acompanhada por cerca de de D. Fuas Roupinho (que gerou imagem, ocorrida em Portugal. Círio dispersa a multidão, tornando conduzia a imagem e seu portador comissão encarregada dos festejos.
dez mil pessoas. O bispado do Pará o início da devoção à Nazaré em a procissão uma parada militar, visto por uma berlinda.
estava em vacância. Portugal) na procissão, por ordem 1843 A partir desse ano iniciam-se que as tropas foram obrigadas a Já não existe a feira de produtos 1877 O jornal Diário de Belém publica
Itinerário: palácio presidencial, da rainha Maria i. os anúncios de sortes e loterias prosseguir conduzindo a imagem. regionais no arraial. matéria que fala de apresentações
margem do igarapé do Piry, Casa das da festa. A corda é utilizada pela “indecorosas” e “blasfemas”
Canoas (Ver-o-Peso), rua da Praia 1826 Introdução do carro dos 1854 O papa Pio x concede primeira vez, para retirar a berlinda ocorridas no pavilhão de Flora, o que
(avenida Quinze de Novembro), foguetes ou carro precursor na 1846 Ocorre o milagre do brigue indulgência plenária para de um atoleiro. fez Dom Macedo Costa ordenar a
Convento de Santo Antônio, procissão, com bandeiras de São João Batista: alguns todo aquele que acompanhar imediata suspensão dos festejos.
estrada da Campina (Presidente todas as nações católicas. marinheiros se salvam do naufrágio o Círio descalço. 1858 O Círio ocorre em 10/10. A ermida trancada é invadida e
Vargas), Largo da Pólvora (praça da do brigue num pequeno escaler O Círio é realizado a 22/10, Anunciam-se diversas atrações para ocorrem ladainhas e toques de
República), estrada do Maranhão 1835 Cabanos tomam o arraial de após invocar a proteção da Virgem pela manhã, devido aos o arraial, incluindo botequins, sinos. Dom Macedo recusa-se a
(Nazaré) até o arraial. Nazaré e a cidade de Belém. Único de Nazaré. Os sobreviventes acontecimentos do ano passado. bailes de máscaras, cosmoramas, aprovar a lista da mesa regedora da
Nos anos seguintes a festa passou ano em que não ocorreu o Círio. prometeram carregar o brigue polioramas e choques elétricos. festa no ano seguinte, por conter
a ser organizada pela Confraria de durante o Círio. 1855 Uma epidemia de cólera nomes de pessoas que participaram
Nossa Senhora de Nazaré. 1839 O pastor protestante Daniel assola a cidade, mas ainda assim 1860 Fundação da sociedade do na invasão da ermida. A irmandade de
P. Kidder descreve o Círio. 1848 realiza-se o Círio, sendo incluído descanso, que alugava cadeiras para Nazaré toma as chaves da ermida e
1799 Francisco de Souza A procissão passava pelo meio da O naturalista inglês Henry Walter na procissão o escaler do brigue aqueles que desejassem ver, depõe o pároco, que transfere a
Coutinho inicia a construção floresta, pois a área ao redor da Bates descreve o Círio. Segundo São João Batista. Muitos vêem a sentados, o movimento do arraial. paróquia para a capela do hospital
de uma nova ermida. estrada de Nazareth ainda não era Bates, entre as festas religiosas do epidemia como um castigo da D. Luís i. O governo provincial
urbanizada. A ermida se assemelhava Pará, a de Nazaré era a mais Virgem, por não ter sido cumprida 1867 Proíbe-se o jogo no arraial apóia a irmandade.
1800 ou 1802 Inauguração a uma casa comum, e as famílias que importante, tendo a presença de a promessa de carregar o brigue na por meio de edital do subdelegado. A irmandade de Nossa Senhora de Nazaré
da nova ermida, junto com as ficavam no local durante a festa todas as autoridades civis, inclusive procissão. A aglomeração popular era responsável pela execução da festa
solenidades do Círio. construíam barracas ao seu redor. o presidente da província. aumenta o número de mortos. desde 1794, mas, segundo o bispo,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 88 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 89
jamais tinha sido regulamentada pela 1880 À véspera do Círio, praça e rua de Santo Antônio, rua
Igreja. Alguns dos membros da mesa soluciona-se a questão entre a da Trindade, praça de Sant’Anna,
regedora eram maçons, e isso irmandade e o arcebispo, rua de São Vicente, travessa dos
acirrou a intolerância do bispo para decidindo-se que a lista da mesa Mirandas, praça de Pedro ii,
com a mesa e vice-versa, devido aos regedora das festividades seria estrada de Nazareth, até à igreja.
ecos da questão religiosa. composta de uma comissão civil e
uma eclesiástica e que os festeiros 1890 O Círio sai da Igreja de
1878 Perpetuação da questão nazarena; acatariam as orientações de Dom Santo Alexandre. A capela
a nova matriz de Nazaré é concluída, Macedo Costa. O Círio se realiza do palácio é fechada devido
e o presidente da província sem problemas, com a presença do à posse dos republicanos.
determina que o prédio seja arcebispo e seu cabido na
entregue à Irmandade. O bispo procissão. 1891 Itinerário: Igreja de Santo
proíbe a realização do Círio. Ocorre Dom Macedo Costa Alexandre, largo da Sé, rua
o Círio Civil, sem a participação de determina que a imagem deve ir Dr. Assis, travessa da Vigia, praça
padres, mas com grande pompa, a sozinha na berlinda. da Independência, avenida e rua
6/10, o que é considerado pela Quinze de Novembro, praça
Igreja Católica uma profanação. 1885 Atrelam-se cavalos à berlinda, Visconde do Rio Branco, rua da
mas, na hora da procissão o povo Indústria, largo e rua de Santo
1879 A Assembléia provincial retira os cavalos e faz questão Antônio, rua da Trindade, rua
aprova projeto autorizando a de puxá-la. do Rosário, travessa Quinze de
entrega da nova igreja à diocese, Itinerário: frente do Palácio, Agosto, largo da Pólvora, estrada
mas o presidente da província não travessa da Rosa, praça da Sé, e largo de Nazaré.
sanciona a lei. calçada do Colégio, travessa da
Realiza-se o segundo Círio Civil. Companhia, rua da Imperatriz,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 88 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 89
jamais tinha sido regulamentada pela 1880 À véspera do Círio, praça e rua de Santo Antônio, rua
Igreja. Alguns dos membros da mesa soluciona-se a questão entre a da Trindade, praça de Sant’Anna,
regedora eram maçons, e isso irmandade e o arcebispo, rua de São Vicente, travessa dos
acirrou a intolerância do bispo para decidindo-se que a lista da mesa Mirandas, praça de Pedro ii,
com a mesa e vice-versa, devido aos regedora das festividades seria estrada de Nazareth, até à igreja.
ecos da questão religiosa. composta de uma comissão civil e
uma eclesiástica e que os festeiros 1890 O Círio sai da Igreja de
1878 Perpetuação da questão nazarena; acatariam as orientações de Dom Santo Alexandre. A capela
a nova matriz de Nazaré é concluída, Macedo Costa. O Círio se realiza do palácio é fechada devido
e o presidente da província sem problemas, com a presença do à posse dos republicanos.
determina que o prédio seja arcebispo e seu cabido na
entregue à Irmandade. O bispo procissão. 1891 Itinerário: Igreja de Santo
proíbe a realização do Círio. Ocorre Dom Macedo Costa Alexandre, largo da Sé, rua
o Círio Civil, sem a participação de determina que a imagem deve ir Dr. Assis, travessa da Vigia, praça
padres, mas com grande pompa, a sozinha na berlinda. da Independência, avenida e rua
6/10, o que é considerado pela Quinze de Novembro, praça
Igreja Católica uma profanação. 1885 Atrelam-se cavalos à berlinda, Visconde do Rio Branco, rua da
mas, na hora da procissão o povo Indústria, largo e rua de Santo
1879 A Assembléia provincial retira os cavalos e faz questão Antônio, rua da Trindade, rua
aprova projeto autorizando a de puxá-la. do Rosário, travessa Quinze de
entrega da nova igreja à diocese, Itinerário: frente do Palácio, Agosto, largo da Pólvora, estrada
mas o presidente da província não travessa da Rosa, praça da Sé, e largo de Nazaré.
sanciona a lei. calçada do Colégio, travessa da
Realiza-se o segundo Círio Civil. Companhia, rua da Imperatriz,
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 90 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 91
1892 A grande atração do arraial 1909 Euclides Faria compõe Vós Sois deveria ocorrer no último domingo
foi um boi gigantesco, apelidado o Lírio Mimoso, hino oficial do Círio. de outubro.
“boi-monstro”, que ao fim da festa
foi sacrificado e comido. 1910 Chegada dos carrosséis 1920 Inaugura-se a Basílica de
Itinerário: largo da Sé, rua americanos, a grande atração Nazaré atual e a imagem original é
Dr. Assis, travessa da Atalaia, do arraial. transferida para lá.
rua Dr. Malcher, travessa da Vigia, Organizada oficialmente a diretoria
praça da Independência, avenida da festa, acabando a irmandade, 1922 Separam-se homens para um
e rua de Santo Antônio, rua da que até então organizava a festa. lado da corda e mulheres para o
Trindade, rua do Rosário, travessa outro. Na saída da trasladação, a
Quinze de Agosto, largo da 1916 Introduz-se na romaria um imagem tombou dentro da berlinda.
Pólvora, estrada e largo de Nazaré. carro especialmente para recolher
as promessas, para que estas não 1923 O vigário de Nazaré exige
1901 Dom Francisco do Rêgo sejam arremessadas no carro dos que os fiéis tragam cera de boa
Maia fixou o segundo milagres, com a alegoria de Dom qualidade. A Igreja de Nazaré
domingo de outubro como Fuas e do brigue São João Batista. recebe título de Basílica.
a data oficial do Círio. Pela primeira vez, o espaço
dentro da corda foi utilizado pelas 1924 Separa-se uma corda para os
1902 Número estimado de pessoas autoridades. homens e outra para as mulheres.
que assistiram ao Círio: 25 mil.
1918 Devido à epidemia de gripe 1926 Expedida por D. Irineu
1907 Três salões de cinematógrafo espanhola, a diretoria da festa adia a Joffily, arcebispo do Pará, a Circular
no arraial. conclusão dos festejos nazarenos, no 5 definia basicamente o seguinte:
assim como a Festa de Nazaré, que instituição de cortejo dividido em
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 90 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 91
1892 A grande atração do arraial 1909 Euclides Faria compõe Vós Sois deveria ocorrer no último domingo
foi um boi gigantesco, apelidado o Lírio Mimoso, hino oficial do Círio. de outubro.
“boi-monstro”, que ao fim da festa
foi sacrificado e comido. 1910 Chegada dos carrosséis 1920 Inaugura-se a Basílica de
Itinerário: largo da Sé, rua americanos, a grande atração Nazaré atual e a imagem original é
Dr. Assis, travessa da Atalaia, do arraial. transferida para lá.
rua Dr. Malcher, travessa da Vigia, Organizada oficialmente a diretoria
praça da Independência, avenida da festa, acabando a irmandade, 1922 Separam-se homens para um
e rua de Santo Antônio, rua da que até então organizava a festa. lado da corda e mulheres para o
Trindade, rua do Rosário, travessa outro. Na saída da trasladação, a
Quinze de Agosto, largo da 1916 Introduz-se na romaria um imagem tombou dentro da berlinda.
Pólvora, estrada e largo de Nazaré. carro especialmente para recolher
as promessas, para que estas não 1923 O vigário de Nazaré exige
1901 Dom Francisco do Rêgo sejam arremessadas no carro dos que os fiéis tragam cera de boa
Maia fixou o segundo milagres, com a alegoria de Dom qualidade. A Igreja de Nazaré
domingo de outubro como Fuas e do brigue São João Batista. recebe título de Basílica.
a data oficial do Círio. Pela primeira vez, o espaço
dentro da corda foi utilizado pelas 1924 Separa-se uma corda para os
1902 Número estimado de pessoas autoridades. homens e outra para as mulheres.
que assistiram ao Círio: 25 mil.
1918 Devido à epidemia de gripe 1926 Expedida por D. Irineu
1907 Três salões de cinematógrafo espanhola, a diretoria da festa adia a Joffily, arcebispo do Pará, a Circular
no arraial. conclusão dos festejos nazarenos, no 5 definia basicamente o seguinte:
assim como a Festa de Nazaré, que instituição de cortejo dividido em
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 92 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 93
alas de colégios e associações pias, 1931 Dom Irineu Joffily deixa o 1938 O arraial começa a funcionar
substituição dos carros por andores, Arcebispado do Pará. A pressão uma semana antes do início da
abolição da corda, da marujada, dos popular, aliada à intervenção festa. Os barraqueiros chegam a
promesseiros vestidos de anjos populista do interventor Magalhães sugerir que a festa se prolongue
e santos, de cavalos, carros e Barata resulta no retorno da corda e para que obtenham maior lucro.
automóveis, determinação de que as da berlinda ao Círio. A corda é
promessas deviam ser entregues na restaurada, porém mais reduzida, 1947 Descendentes da família
basílica, e não levadas na procissão. sendo puxada em comissões de 40 a imperial brasileira tomam parte
Sendo as mudanças muito 50 pessoas. no Círio.
contestadas, este foi considerado um Itinerário: praça da Sé, Pedro Ainda se anuncia a sociedade
dos Círios mais violentos de que se Rayol, praça. D. Pedro ii, do descanso.
tem notícia. É enviado um abaixo- dobrando no Ver-o-peso em
assinado ao arcebispo pedindo direção ao boulevard da República, 1949 Chegam a Belém grandes
a manutenção das tradições. até a avenida Quinze de Agosto, aviões trazendo artistas para o arraial
praça da República e avenida e romeiros para o Círio de Nazaré.
1928 Durante a procissão, alguns Nazaré até a basílica.
guardas civis cometeram violências 1951 Os trajetos da transladação e do
contra o povo, ao entrar a 1936 Jogos proibidos no arraial. Círio são modificados para que a
procissão na rua João Alfredo. Primeira homenagem do imagem passe em frente aos
Itinerário: rua Pedro Rayol, Sindicato dos Estivadores. palácios da administração estadual
João Alfredo, rua Santo Antônio, e municipal para ser homenageada.
avenida Quinze de Agosto, praça da 1937 Estimativa de mais de 200 Itinerário: rua Pedro Rayol,
República e avenida Nazaré. mil pessoas no préstito. praça. D. Pedro ii (passando em
frente aos palácios do governo e
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 92 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 93
alas de colégios e associações pias, 1931 Dom Irineu Joffily deixa o 1938 O arraial começa a funcionar
substituição dos carros por andores, Arcebispado do Pará. A pressão uma semana antes do início da
abolição da corda, da marujada, dos popular, aliada à intervenção festa. Os barraqueiros chegam a
promesseiros vestidos de anjos populista do interventor Magalhães sugerir que a festa se prolongue
e santos, de cavalos, carros e Barata resulta no retorno da corda e para que obtenham maior lucro.
automóveis, determinação de que as da berlinda ao Círio. A corda é
promessas deviam ser entregues na restaurada, porém mais reduzida, 1947 Descendentes da família
basílica, e não levadas na procissão. sendo puxada em comissões de 40 a imperial brasileira tomam parte
Sendo as mudanças muito 50 pessoas. no Círio.
contestadas, este foi considerado um Itinerário: praça da Sé, Pedro Ainda se anuncia a sociedade
dos Círios mais violentos de que se Rayol, praça. D. Pedro ii, do descanso.
tem notícia. É enviado um abaixo- dobrando no Ver-o-peso em
assinado ao arcebispo pedindo direção ao boulevard da República, 1949 Chegam a Belém grandes
a manutenção das tradições. até a avenida Quinze de Agosto, aviões trazendo artistas para o arraial
praça da República e avenida e romeiros para o Círio de Nazaré.
1928 Durante a procissão, alguns Nazaré até a basílica.
guardas civis cometeram violências 1951 Os trajetos da transladação e do
contra o povo, ao entrar a 1936 Jogos proibidos no arraial. Círio são modificados para que a
procissão na rua João Alfredo. Primeira homenagem do imagem passe em frente aos
Itinerário: rua Pedro Rayol, Sindicato dos Estivadores. palácios da administração estadual
João Alfredo, rua Santo Antônio, e municipal para ser homenageada.
avenida Quinze de Agosto, praça da 1937 Estimativa de mais de 200 Itinerário: rua Pedro Rayol,
República e avenida Nazaré. mil pessoas no préstito. praça. D. Pedro ii (passando em
frente aos palácios do governo e
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 94 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 95
da prefeitura), avenida Portugal, imagem original para substituir a do 1968 Pela primeira vez em um
avenida Quinze de Novembro, Colégio Gentil Bittencourt, que é século, a imagem original fica
travessa Frutuoso Guimarães, muito diferente da original. exposta durante a quinzena para
boulevard Castilhos França, veneração pública. Três ministros
avenida Quinze de Agosto, praça 1964 Berlinda que vai na procissão é da República presentes, além de
da República, avenida Nazaré nova, mas semelhante à antiga, outras autoridades.
até a basílica. conduzida em uma carreta adaptada
para esse fim. 1970 O presidente do Brasil,
1961 No período que compreende Emílio Garrastazu Médici assiste
a trasladação e o Círio é decretada a 1966 Aproximadamente à trasladação e ao Círio.
“lei seca”. Jogos de azar novamente 400 mil pessoas participam deste
proibidos no arraial. Círio; início da utilização 1971 Rompe-se a corda com as
dos crachás para quem ia dentro da autoridades, e estas se misturam
1963 Envia-se a berlinda tradicional corda; corda começa a ser controlada com o povo. Assembléia Legislativa
para São Miguel do Guamá e usa-se por apito. do Pará, por meio da Lei 4.371,
na trasladação e no Círio uma nova, Pela primeira vez é utilizada na de 15/12, declara Nossa Senhora de
de linhas simples, o que provoca procissão a imagem peregrina, cópia Nazaré padroeira do Pará e rainha
grande descontentamento. da imagem encontrada por Plácido. da Amazônia.
Governador envia carta à diretoria Encomendada pelo vigário Miguel
da festa pedindo a volta da berlinda Giambelli ao escultor italiano 1972 Início das peregrinações da
antiga. Último anúncio de teatro Giacommo Mussner, substituiu imagem nas casas dos paroquianos.
no arraial durante a quinzena, a imagem do Colégio Gentil
espetáculo da Rádio Marajoara. Bittencourt que, até o ano
Encomendada uma cópia da anterior, saíra na procissão.
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da prefeitura), avenida Portugal, imagem original para substituir a do 1968 Pela primeira vez em um
avenida Quinze de Novembro, Colégio Gentil Bittencourt, que é século, a imagem original fica
travessa Frutuoso Guimarães, muito diferente da original. exposta durante a quinzena para
boulevard Castilhos França, veneração pública. Três ministros
avenida Quinze de Agosto, praça 1964 Berlinda que vai na procissão é da República presentes, além de
da República, avenida Nazaré nova, mas semelhante à antiga, outras autoridades.
até a basílica. conduzida em uma carreta adaptada
para esse fim. 1970 O presidente do Brasil,
1961 No período que compreende Emílio Garrastazu Médici assiste
a trasladação e o Círio é decretada a 1966 Aproximadamente à trasladação e ao Círio.
“lei seca”. Jogos de azar novamente 400 mil pessoas participam deste
proibidos no arraial. Círio; início da utilização 1971 Rompe-se a corda com as
dos crachás para quem ia dentro da autoridades, e estas se misturam
1963 Envia-se a berlinda tradicional corda; corda começa a ser controlada com o povo. Assembléia Legislativa
para São Miguel do Guamá e usa-se por apito. do Pará, por meio da Lei 4.371,
na trasladação e no Círio uma nova, Pela primeira vez é utilizada na de 15/12, declara Nossa Senhora de
de linhas simples, o que provoca procissão a imagem peregrina, cópia Nazaré padroeira do Pará e rainha
grande descontentamento. da imagem encontrada por Plácido. da Amazônia.
Governador envia carta à diretoria Encomendada pelo vigário Miguel
da festa pedindo a volta da berlinda Giambelli ao escultor italiano 1972 Início das peregrinações da
antiga. Último anúncio de teatro Giacommo Mussner, substituiu imagem nas casas dos paroquianos.
no arraial durante a quinzena, a imagem do Colégio Gentil
espetáculo da Rádio Marajoara. Bittencourt que, até o ano
Encomendada uma cópia da anterior, saíra na procissão.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 96 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 97
1975 Os brinquedos eletrônicos 1979 O presidente do Brasil, João 1982 Inauguração do Conjunto
dominam 80% do Arraial. Proibida Figueiredo, acompanha o Círio. Arquitetônico de Nazaré – can, ou
a venda de bebidas de alto teor Estimativa de participantes: 700 mil. praça Santuário, no dia 8/10; arraial
alcoólico. Estimativa de 1980 Aproximadamente 800 mil se muda do largo para as transversais;
participantes: 400 mil. Criação pessoas participam da procissão. manifestações do Movimento para a
da guarda de Nossa Senhora, com a Lançamento de carimbo Libertação dos Presos do Araguaia
responsabilidade de conduzir comemorativo do Círio de Nazaré. durante a procissão; número de
e guardar a berlinda e zelar pela Os crachás para entrar na corda são participantes: 800 mil.
disciplina da corda e do arraial. substituídos por convites especiais
distribuídos pela diretoria da festa. O 1983 Introdução da corrida do Círio,
1976 Participação de papa João Paulo II abençoa o povo em 6/10; o carro dos foguetes é
aproximadamente 500 mil pessoas paraense com a imagem de Nossa retirado da procissão, devido ao
no Círio. Senhora de Nazaré. perigo de atingir prédios e
mangueiras, substituindo-o por
1977 Paratur monta arquibancadas 1981 Três cordas no Círio: a que toque de clarins e banda. A corda
na avenida Presidente Vargas para puxa a berlinda, a das autoridades e a mede 300 metros. Pelo terceiro
turistas assistirem à procissão; que fica ao redor dos carros dos ano consecutivo, o Movimento pela
presença de arcebispos de outros milagres. Início da atuação da Cruz Libertação dos Presos do Araguaia
estados, bem como de autoridades. Vermelha no apoio ao Círio; manifesta-se durante a procissão.
manifestações do Movimento para a
1978 Realização da primeira festa Libertação dos Presos do Araguaia
das filhas da Chiquita. durante a procissão.
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1975 Os brinquedos eletrônicos 1979 O presidente do Brasil, João 1982 Inauguração do Conjunto
dominam 80% do Arraial. Proibida Figueiredo, acompanha o Círio. Arquitetônico de Nazaré – can, ou
a venda de bebidas de alto teor Estimativa de participantes: 700 mil. praça Santuário, no dia 8/10; arraial
alcoólico. Estimativa de 1980 Aproximadamente 800 mil se muda do largo para as transversais;
participantes: 400 mil. Criação pessoas participam da procissão. manifestações do Movimento para a
da guarda de Nossa Senhora, com a Lançamento de carimbo Libertação dos Presos do Araguaia
responsabilidade de conduzir comemorativo do Círio de Nazaré. durante a procissão; número de
e guardar a berlinda e zelar pela Os crachás para entrar na corda são participantes: 800 mil.
disciplina da corda e do arraial. substituídos por convites especiais
distribuídos pela diretoria da festa. O 1983 Introdução da corrida do Círio,
1976 Participação de papa João Paulo II abençoa o povo em 6/10; o carro dos foguetes é
aproximadamente 500 mil pessoas paraense com a imagem de Nossa retirado da procissão, devido ao
no Círio. Senhora de Nazaré. perigo de atingir prédios e
mangueiras, substituindo-o por
1977 Paratur monta arquibancadas 1981 Três cordas no Círio: a que toque de clarins e banda. A corda
na avenida Presidente Vargas para puxa a berlinda, a das autoridades e a mede 300 metros. Pelo terceiro
turistas assistirem à procissão; que fica ao redor dos carros dos ano consecutivo, o Movimento pela
presença de arcebispos de outros milagres. Início da atuação da Cruz Libertação dos Presos do Araguaia
estados, bem como de autoridades. Vermelha no apoio ao Círio; manifesta-se durante a procissão.
manifestações do Movimento para a
1978 Realização da primeira festa Libertação dos Presos do Araguaia
das filhas da Chiquita. durante a procissão.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 98 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 99
1985 José Sarney, presidente da 1988 Estabelecimento definitivo 1992 Pela primeira vez, a berlinda
República, assiste ao Círio em do itinerário atual da trasladação, vai à frente da procissão. Por ser
Belém; Sindicato dos Estivadores que é o mesmo do Círio, no este o ano do aniversário de
faz homenagem surpresa a sentido inverso. 200 anos do Círio, é a
Tancredo Neves; ocorrem na 1989 Criação da romaria rodoviária. imagem original que sai às ruas;
procissão protestos pela reforma é inaugurado o marco
agrária, pelos direitos dos negros 1990 Início do círio das crianças. comemorativo; estimativa de
e propaganda política. Criação da romaria dos motoqueiros; 2 milhões de pessoas na procissão.
a imagem achada por Plácido, sua
1986 O museu do Círio é coroa e seus mantos foram 1993 Realização do primeiro
inaugurado em 9/10; início tombados pelo governo estadual, auto do Círio.
da romaria fluvial, por iniciativa da por meio da Lei 5.629, de 20/12.
Paratur. Realização da primeira 1995 Realização do primeiro
missa do mandato. 1991 As autoridades não concurso de redação.
acompanham mais o Círio dentro
1987 Protestos durante a da corda; estimativa de mais de um 1999 Introdução do arrastão do boi
procissão, pela reforma agrária e milhão de pessoas na procissão. pavulagem na programação cultural
contra o envio de lixo nuclear para Presença do príncipe Antônio da Festa de Nazaré.
a Serra do Cachimbo. Orléans de Bragança; realização do
primeiro festival da canção mariana.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 98 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 99
1985 José Sarney, presidente da 1988 Estabelecimento definitivo 1992 Pela primeira vez, a berlinda
República, assiste ao Círio em do itinerário atual da trasladação, vai à frente da procissão. Por ser
Belém; Sindicato dos Estivadores que é o mesmo do Círio, no este o ano do aniversário de
faz homenagem surpresa a sentido inverso. 200 anos do Círio, é a
Tancredo Neves; ocorrem na 1989 Criação da romaria rodoviária. imagem original que sai às ruas;
procissão protestos pela reforma é inaugurado o marco
agrária, pelos direitos dos negros 1990 Início do círio das crianças. comemorativo; estimativa de
e propaganda política. Criação da romaria dos motoqueiros; 2 milhões de pessoas na procissão.
a imagem achada por Plácido, sua
1986 O museu do Círio é coroa e seus mantos foram 1993 Realização do primeiro
inaugurado em 9/10; início tombados pelo governo estadual, auto do Círio.
da romaria fluvial, por iniciativa da por meio da Lei 5.629, de 20/12.
Paratur. Realização da primeira 1995 Realização do primeiro
missa do mandato. 1991 As autoridades não concurso de redação.
acompanham mais o Círio dentro
1987 Protestos durante a da corda; estimativa de mais de um 1999 Introdução do arrastão do boi
procissão, pela reforma agrária e milhão de pessoas na procissão. pavulagem na programação cultural
contra o envio de lixo nuclear para Presença do príncipe Antônio da Festa de Nazaré.
a Serra do Cachimbo. Orléans de Bragança; realização do
primeiro festival da canção mariana.
dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 100 dossiê iphan i { Círio de Nazaré } 101
2000
Realizou-se o Círio mais demorado
de todos os tempos. A imagem da
Virgem de Nazaré chegou à basílica
às 15:45h. A corda ficou atrelada à
berlinda o tempo todo, tanto na
trasladação como no Círio.
2000
Realizou-se o Círio mais demorado
de todos os tempos. A imagem da
Virgem de Nazaré chegou à basílica
às 15:45h. A corda ficou atrelada à
berlinda o tempo todo, tanto na
trasladação como no Círio.
isbn 85-7334-024 x
Bibliografia: p. 80-81.
isbn 85-7334-024 x
Bibliografia: p. 80-81.