F EP2 - Sara Melo - 7003386 PDF

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TPG daiGuarda
Polytechnic
of Guarda

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

Licenciatura em Farmácia

Relatório Profissional 1

Sara Regína Fernandes Meio

junho 12015
Escola Superior de Saúde

Instituto Politécnico da Guarda

RELATÓRIO DE ESTÁGIO
PROFISSIONAL II

SARA REGINA FERNANDES MELO

RELATÓRIO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE LICENCIADO EM FARMÁCIA

junho|2015
Escola Superior de Saúde

Instituto Politécnico da Guarda

CURSO FARMÁCIA - 1º CICLO

4º ANO / 2º SEMESTRE

RELATÓRIO DE ESTÁGIO
PROFISSIONAL II

ESTÁGIO EM FARMÁCIA HOSPITALAR

SARA REGINA FERNANDES MELO Nº7003386

SUPERVISOR: FÁTIMA MENDES

ORIENTADOR: ANABELA SANTOS


SIGLAS/ABREVIATURAS

AO - Assistente Operacional
APCER - Associação Portuguesa de Certificação
APF - Armazém de Produtos Farmacêuticos
CFLV - Câmara de Fluxo Laminar Vertical
CHNM - Código Hospitalar Nacional do Medicamento
CHP - Centro Hospitalar do Porto
CMIN - Centro Materno-Infantil do Norte
CNFT - Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica
CTX - Citotóxicos
DC - Distribuição Clássica
DCI - Denominação Comum Internacional
DEFI - Departamento de Ensino, Formação e Logística
DID - Distribuição Individual Diária
e.g. - exempli gratia (por exemplo)
EPI - Equipamento de Proteção Individual
FF - Forma Farmacêutica
FEFO - First Expired First Out
FH - Farmácia Hospitalar
FHNM - Formulário Hospitalar Nacional do Medicamento
GHAF® - Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia
HDH - Hospital de Dia de Hematologia
HDO - Hospitala de Dia de Oncologia
HJU - Hospital Joaquim Urbano
HLS - Hospital Logistics System
HSA - Hospital de Santo António
INCM - Impressa Nacional – Casa da Moeda
INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P.
MDM - Mapas de Distribuição de Medicamentos
MFH - Manual de Farmácia Hospitalar
NP - Nutrição Parentérica
PDA® - Personal Distribution Assistant
PUM - Políticas de Utilização de Medicamentos
RSN - Reposição de Stocks Nivelados
SAM® - Sistema de Apoio ao Médico
SF - Serviços Farmacêuticos
SFH - Serviços Farmacêuticos Hospitalares
SIGV - Soluções Injetáveis de Grande Volume
RA - Reações Adversas
TF- Técnico de Farmácia
TDT - Técnico de Diagnóstico e Terapêutica
UCIP - Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente
UFA - Unidade de Farmácia de Ambulatório
UFO - Unidade de Farmácia de Oncologia
UHDP - Unidade Hospitalar de Dia Polivalente
UPE - Unidade de Preparação de Estéreis
UPNE - Unidade de Preparação de Não Estéreis
AGRADECIMENTOS

Desde já agradeço ao Centro Hospitalar do Porto - Hospital de Santo António, EPE,


em especial aos Serviços Farmacêuticos, pela autorização da realização do Estágio
Profissional II nas suas instalações.
Agradeço a todos os profissionais que me acompanharam nesta etapa, por sempre se
mostrarem disponíveis para transmitir os seus conhecimentos, pela dedicação, preocupação e
confiança que me concederam, contribuindo imenso para o enriquecimento dos meus saberes
e para a minha evolução tanto a nível técnico-científico como a nível pessoal e social.
Um especial agradecimento à minha supervisora Fátima Mendes pela receção calorosa
e pelo acompanhamento diário durante o meu percurso, às técnicas Anabela Serafim, Cláudia
Oliveira, Luísa Margarida e aos técnicos Hélder Nunes e Luís Magalhães que me
acompanharam nos diversos setores dos Serviços Farmacêuticos, bem como aos auxiliares da
farmácia pela simpatia e boa disposição. Por fim, um enorme agradecimento às minhas
colegas estagiárias, Jéssica Jorge da Escola Superior de Saúde da Guarda, Tânia Barbosa da
Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, Sara Batista da Escola Superior de
Tecnologia de Saúde do Porto e Sanna Beckstrom na Universidade HINT Namsos (Norway)
pelos bons momentos proporcionados que muito deixaram saudades.

A todos o meu mais sincero obrigado!


“Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir.”
(Steve Jobs)
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Edifício Dr. Luís de Carvalho……….………………...……………...………..pág.11

Figura 2: Sistemas Automáticos………………..…….…………………..………………pág.16

Figura 3: Setores de Farmacotecnia………………………………...…………...……….pág.38

Figura 4: Câmara de Fluxo Laminar Vertical Classe II B2 …………………………..….pág.43

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela I: Horário de funcionamento dos SF do HSA……………………………..……..pág.13

Tabela II: Circuitos de Distribuição Clássica………………..…...………………..……..pág.27


ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

1. CENTRO HOSPITALAR DO PORTO (CHP)............................................................... 11

2. SERVIÇOS FARMACÊUTICOS HOSPITALARES DO HSA, EPE .......................... 12

2.1. LOCALIZAÇÃO EXTERNA ........................................................................................... 13

2.2. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO ............................................................................... 13

2.3. RECURSOS HUMANOS ................................................................................................. 14

2.4. SISTEMA INFORMÁTICO E EQUIPAMENTOS .......................................................... 14

4. CIRCUITO DO MEDICAMENTO .................................................................................. 19

4.1. APROVISIONAMENTO E GESTÃO DE STOCKS ....................................................... 19

4.2. SELEÇÃO E AQUISIÇÃO ............................................................................................... 20

4.3. RECEÇÃO DE ENCOMENDAS ..................................................................................... 21

4.4. ARMAZENAMENTO ...................................................................................................... 23

4.4.1. Controlo de Prazos de Validade .................................................................................. 25

4.5. DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................................... 25

4.5.1. Distribuição Clássica .................................................................................................... 26

4.5.2. Distribuição Individual Diária .................................................................................... 29

4.6. REPOSIÇÃO DE STOCKS NIVELADOS ...................................................................... 34

4.7. CIRCUITOS ESPECIAIS DE DISTRIBUIÇÃO .............................................................. 36

4.8. DISTRIBUIÇÃO EM REGIME DE AMBULATÓRIO ................................................... 37

5. FARMACOTECNIA .......................................................................................................... 39

5.1. UNIDADE DE REIDENTIFICAÇÃO E REEMBALAMENTO ..................................... 39

5.2. UNIDADE DE PRODUÇÃO DE NÃO ESTÉREIS ........................................................ 41

5.3. PREPARAÇÃO DE FÓRMULAS FARMACÊUTICAS ESTÉREIS .............................. 42

5.3.1. Unidade de Preparação de Estéreis ............................................................................ 42

5.3.2. Unidade de Farmácia Oncológica ............................................................................... 45


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 49

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/BIBLIOGRAFIA .............................................. 51

8. ANEXOS ............................................................................................................................. 53

9. PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO ................ 69


INTRODUÇÃO

Os Serviços Farmacêuticos (SF) são os serviços que têm como principal objetivo
garantir e melhorar a qualidade dos Cuidados de Saúde prestados aos doentes hospitalares,
assegurando a terapêutica medicamentosa, a qualidade, eficácia e segurança dos
medicamentos garantindo o controlo integral do circuito do medicamento e ainda promover o
crescimento técnico mediante a colaboração em ações de investigação científica e de ensino.
Estes são dotados de autonomia técnica e científica, estando sujeitos à orientação geral dos
órgãos de administração dos hospitais, os quais respondem pelos resultados dos seus
exercícios.
No plano de estudos do segundo semestre do quarto ano letivo do Curso de Farmácia
da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico da Guarda, insere-se a Unidade
Curricular de Estágio Profissional II, que constitui uma importante vertente na integração à
vida profissional e na formação do estudante permitindo que este aprenda no seio da equipa
multidisciplinar de saúde e em contato direto com o utente
Desta forma, o meu estágio foi realizado nos SF do Centro Hospitalar do Porto -
Hospital de Santo António, EPE sob a supervisão da Técnica Fátima Mendes e sob a
orientação pedagógica da docente Anabela Santos. O estágio teve a duração de 500 horas e
decorreu entre o dia 23 de fevereiro e o dia 12 de junho, com o horário estabelecido das 8
horas e 30 minutos às 16 horas.
Os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica (TDT), especificamente da aérea de
Farmácia - Técnico de Farmácia (TF), desenvolvem um conjunto diversificado de atividades
de acordo com o seu estatuto legal, estabelecido no Decreto-Lei n.º 564/99, de 21 de
dezembro, relacionadas com o “circuito do medicamento, tais como análises e ensaios farmacológicos,
interpretação da prescrição terapêutica e de fórmulas farmacêuticas, sua preparação, identificação e
distribuição, controlo da conservação, distribuição e stocks de medicamentos e outros produtos, informação e
aconselhamento sobre o uso de medicamentos” [1]. Em contexto hospitalar, intervêm em todas as
fases da distribuição dos medicamentos, salvaguardando o controlo integral do circuito do
medicamento para que haja uma monitorização correta, cuidadosa e o mais racional possível
para evitar qualquer erro que possa pôr em causa a saúde do doente, a própria saúde e a dos
que o rodeiam.
O Estágio Profissional II é a unidade curricular em que a aprendizagem se desenvolve
em contexto real e que visa favorecer a integração das aprendizagens que vão sendo

9
desenvolvidas ao longo do curso, de modo que o perfil do estudante vá ao encontro das
competências necessárias para o desempenho das diferentes funções do TF numa Farmácia
Hospitalar (FH). Assim, o estudante deverá demonstrar as seguintes competências e objetivos
profissionais:
 Conhecer e caracterizar a organização física e funcional de uma FH e identificar os
objetivos associados a cada setor;
 Aplicar os conhecimentos teóricos e teórico-práticos sobre situações de efetivação
própria, auxiliando a integração das aprendizagens que vão sendo desenvolvidas ao
longo do curso;
 Desenvolver capacidades científicas e técnicas que permitam a realização de
atividades subjacentes à profissão do TF, no enquadramento da FH;
 Desenvolver e aperfeiçoar a capacidade, autonomia e rigor na execução de tarefas;
 Aplicar os princípios éticos e deontológicos subjacentes à profissão;
 Desenvolver e avaliar planos de intervenção adequadamente integrados numa equipa
multidisciplinar;
 Desenvolver o espírito de iniciativa e de equipa assim como espírito crítico e sentido
de responsabilidade;
 Responder aos desafios profissionais com inovação, criatividade e flexibilidade.

O estágio também desenvolve as capacidades do estudante a nível social, profissional


e cultural, preparando o estudante para dar resposta às exigências da sociedade e promovendo
a socialização e integração profissional.
O presente relatório tem então como finalidade descrever, sucintamente, todo o
processo de adaptação, aprendizagem e aperfeiçoamento resultante deste período de estágio,
tendo como principal objetivo consolidar todos os conhecimentos teóricos e teórico-práticos
adquiridos assim como compreender a realidade do funcionamento de uma FH.

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1. CENTRO HOSPITALAR DO PORTO (CHP)

O CHP é um Hospital Central e Escolar que visa a excelência em todas as suas


atividades, numa perspetiva global e integrada da saúde. Atualmente integra o Hospital de
Santo António, EPE (HSA), o Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN) e o Hospital
Joaquim Urbano (HJU).
O HSA conta com mais de duzentos e vinte anos de existência e representa uma
entidade de referência na prestação de cuidados de saúde diferenciados para a população e
para os utentes. Para tal, desenvolve uma política de qualidade institucional promovendo a
qualidade e a segurança dos seus serviços através do desenvolvimento de projetos de melhoria
contínua, de natureza transversal ou focalizados nas estruturas intermédias de gestão e
prestação de cuidados de saúde com o objetivo de garantir a satisfação dos seus utentes e dos
profissionais de saúde. Além disso, também privilegia e valoriza o ensino pré e pós-graduado
e incentiva a investigação com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da ciência e
tecnologia da saúde [2].
O HSA localiza-se no Largo Professor Abel Salazar e é constituído por três edifícios,
dos quais fazem parte o Edifício Neoclássico, Edifício Dr. Luís de Carvalho e o Edifício das
Consultas Externas, estando organizado por vários departamentos e serviços clínicos (Figura
1). Estes departamentos/serviços clínicos são unidades funcionais com objetivos próprios,
integrados nos objetivos definidos para o HSA, sendo alguns exemplos deles o Departamento
de Medicina, o Departamento de Cirurgia, o Departamento de Aprovisionamento e Logística,
o Departamento de Ensino, Formação e Logística (DEFI), Serviço de Gestão de Doentes,
Comissões de Apoio técnico, entre outros.

Figura 1 Edifício Dr. Luís de Carvalho


11
2. SERVIÇOS FARMACÊUTICOS HOSPITALARES DO HSA, EPE

Os Serviços Farmacêuticos Hospitalares (SFH), regulamentados pelo Decreto-Lei n.º


44 204 de 2 de Fevereiro, constituem uma estrutura importante nos cuidados de saúde
dispensados em meio hospitalar, tendo por objetivo um conjunto de atividades farmacêuticas
exercidas em organismos hospitalares ou serviços ligados aos mesmos. Estes serviços
constituem departamentos com autonomia técnica, sujeitos à orientação geral dos órgãos da
administração, perante os quais respondem pelos resultados do seu exercício, sendo que em
cada região e em cada zona hospitalar devem ser estabelecidos meios convenientes para uma
eficiente colaboração funcional e científica dos mesmos. A direção dos SFH é
obrigatoriamente assegurada por um farmacêutico hospitalar [3].
Os SFH são o serviço que, nos hospitais, assegura a terapêutica medicamentosa dos
doentes, a qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos, integra as equipas de cuidados
de saúde e promove ações de investigação científica e de ensino [4].
Os SFH surgem assim como um serviço de abrangência assistencial técnico-científica
e administrativa, onde desenvolve diversas funções relacionadas com a gestão e o circuito
(seleção, aquisição, aprovisionamento, armazenamento e distribuição) dos medicamentos
experimentais bem como os demais medicamentos já autorizados e produtos farmacêuticos;
produção de medicamentos e a análise do produto acabado e das matérias-primas;
colaboração na prescrição de Nutrição Parentérica (NP) e a sua preparação; prestação de
cuidados e serviços incluindo Farmácia Clínica, Farmacocinética e Farmacovigilância;
informação de medicamentos; participação nos Ensaios Clínicos e em Comissões de Apoio
Técnico (Farmácia e Terapêutica, Ética para a Saúde, Controlo da Infeção Hospitalar, entre
outras); colaboração na elaboração de protocolos terapêuticos e o desenvolvimento de ações
de formação. Os SFH também são os principais responsáveis pela implementação e
monitorização da política de medicamentos definida pelo Formulário Hospitalar Nacional do
Medicamento (FHNM) e pela Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica (CNFT) [4].
O planeamento e a instalação dos SFH considera um conjunto de premissas,
nomeadamente quanto ao tipo de Hospital (central, distrital, especializado), lotação do
hospital, movimento assistencial previsto para o hospital, desenvolvimento informático do
hospital, funções acrescidas solicitadas e quanto à existência de distribuição de medicamentos
a doentes em regime de ambulatório.

12
Os SF do HSA estão organizados de forma a rentabilizar os seus recursos materiais e
humanos, oferecendo condições necessárias ao armazenamento e controlo de medicamentos e
permitindo o desenvolvimento de todas as atividades inerentes à dispensa dos mesmos, de
forma organizada e sistemática, como podemos verificar no ANEXO 1.
Os SF do HSA são uma entidade certificada a nível dos sistemas de gestão da
qualidade (NP EN ISO 9001:2008) pela APCER (Associação Portuguesa de Certificação) [6-
RG].

2.1. LOCALIZAÇÃO EXTERNA

Os SF do HSA localizam-se no piso 0 do edifício Neoclássico do HSA, sendo


constituído por diversos setores devidamente organizados de acordo com as normas referidas
no MFH (Manual de Farmácia Hospitalar) [4]. O Armazém de Soluções Injetáveis de Grande
Volume (SIGV) localiza-se externamente no piso 0 do edifico Dr. Luís de Carvalho, bem
como a Unidade de Farmácia Oncológica (UFO) no piso 1.

2.2. HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO

Com o intuito de assegurar uma resposta a todas as necessidades dos utentes, seja a
qualquer hora e a qualquer momento, os SF partilham de um horário idealizado para o bom
funcionamento de todos serviços (Tabela I). No turno da tarde os serviços são assegurados por
dois TF e um farmacêutico e o turno da noite por um farmacêutico.

Tabela I Horário de Funcionamento dos SF do HSA

Horário de Dias úteis Sábados Domingos e Feriados


Funcionamento
Sistemas de Turno da manhã: 8h às 16h Das 8h às 16h Das 8h às 16h
Distribuição Turno da tarde: 15h às 23h Das 14h às 22h Das 14h às 22h
UFO Das 8:30h às 16:30h Encerrado** Encerrado**
UFA* Das 9h às 17h Encerrado*** Encerrado***
*Unidade de Farmácia de Ambulatório (UFA)
** Encontra-se dois TF em regime de prevenção
*** Encontra-se um farmacêutico em regime de prevenção

13
2.3. RECURSOS HUMANOS

Sendo o HSA uma organização tão bem qualificada é essencial que todos os seus
setores sejam compostos por um número de recursos humanos suficiente para o
funcionamento eficiente de cada serviço. Como tal, os SF compreendem uma vasta equipa de
profissionais, nomeadamente, farmacêuticos, TF e Assistentes Operacionais (AO).
A atividade de alguns profissionais nem sempre se restringe exclusivamente a um
setor específico, podendo estes estar sujeito à execução de diferentes tarefas. Tal se verifica
nos SF do HSA, onde existe uma planificação de atividades promovendo assim uma
rotatividade de funções, quer entre os diferentes setores de trabalho quer dentro dos mesmos
setores. Assim os SF do HSA são constituídos por uma Diretora do Serviço, uma Técnica
Coordenadora, vinte farmacêuticos, vinte e seis TF, e treze AO.
Durante a realização do estágio Profissional II, e confrontando com experiências
antecedentes, verifiquei que o número elevado de profissionais num mesmo serviço pode
muitas vezes convergir em atritos pessoais e profissionais entre eles, pelo que considero muito
importante o espírito de equipa aliado a uma boa organização e disponibilidade para a
interajuda entre todos os profissionais. Também considero importante referir que a
planificação mensal das atividades de cada profissional é muito positivo, uma vez que os TF
são dotados de um amplo leque de funções numa FH pode revelar uma certa vantagem, tanto
do ponto de vista financeiro como do ponto de vista da gestão de recursos humanos, pois pode
evitar possíveis falhas nos conhecimentos teórico-práticos dos TF, consequente do raro
contato com os diferentes setores dos SF.

2.4. SISTEMA INFORMÁTICO E EQUIPAMENTOS

A evolução da tecnologia tem vindo a revolucionar e a melhorar a qualidade da


prestação de cuidados de saúde e rapidamente tem ganho domínio em todos os campos
envolvidos com a prestação desses serviços. A informatização e automação nos serviços
hospitalares desempenham um importante papel na realização de diversas operações
relacionadas com as funções diárias de cada profissional de saúde.
O sistema informático utilizado pelos SF do HSA é o Gestão Hospitalar de Armazém e
Farmácia (GHAF®). Este sistema apresenta várias funcionalidades tendo como principais
funções a transferência de produtos entre armazéns (internos e “satélites”), processamento de
14
prescrições (por serviço e cama), satisfação de pedidos de produtos feito pelos diversos
serviços, registo dos consumos, movimentos da UFA, entre outros. Informaticamente a gestão
dos diferentes armazéns é feita através de códigos identificativos:
 1 - Distribuição Individual Diária (DID);
 1001 - Armazém de Produtos Farmacêuticos (APF);
 1003 - Unidade de Farmácia de Ambulatório;
 1004 - Unidade de Farmácia Oncológica;
 1006 - Unidade de Produção (Unidade de Produção de Não Estéreis (UPNE), Unidade
de Produção de Estéreis (UPE), Unidade de Reidentificação e Reembalamento);
 1_MJD - Maternidade Júlio Dinis (atual CMIN) - armazém satélite;
 1_HJU - Hospital Joaquim Urbano - armazém satélite.
A importância da tecnologia para o HSA está bem evidenciada nos equipamentos
automáticos existentes nos seus serviços, podendo ser considerado um dos pioneiros na
experimentação de alguns sistemas semiautomáticos no país. Estes equipamentos facilitam
imenso a distribuição dos medicamentos em farmácia hospitalar contribuindo para uma
resposta mais rápida e eficiente às necessidades dos serviços clínicos do hospital. Os
automatismos existentes no HSA são os seguintes:
 Pharmapick® - consiste num inovador sistema semiautomático desenhado para
responder integralmente às exigências logísticas do circuito do medicamento em meio
hospitalar. Este equipamento encontra-se instalado na DID e intervém no “picking” de
alguns medicamentos.
 Pyxis MedStation® - sistema de dispensa automática composto por um conjunto de
armários controlados eletronicamente e geridos por um software em comunicação com
as aplicações informáticas existentes no hospital. Este sistema localiza-se em dois
serviços clínicos, nomeadamente os Cuidados Intensivos e no Bloco Operatório, e é
utilizado apenas por profissionais autorizados para o seu efeito.
 BlisPack® - consiste num sistema que acondiciona e identifica automaticamente
algumas formas orais sólidas individualizadas, mantendo o seu acondicionamento
primário original (blister) garantindo assim as características iniciais de fabrico.
 PDA® (Personal Distribution Assistant) - sistema equiparado a um computador de
reduzidas dimensões que interconecta com um computador pessoal através de uma
rede informática sem fios. Este sistema é utilizado pela Distribuição Clássica (DC) e

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Reposição de Stock Nivelados (RSN) tendo como principal função auxiliar a
distribuição de medicamentos aos serviços clínicos.
 Auto-PrintTM – consiste num equipamento que permite o reembalamento e
reidentificação de formas orais sólidas individualizadas que necessitem de condições
específicas de armazenamento (e.g. proteção da luz) ou em casos de necessidade de
fracionamento de comprimidos. Apenas são reembalados os medicamentos que não
possuam os critérios estabelecidos para o reembalamento pela BlisPack® ou quando a
quantidade individualizada necessária desse medicamento é mínima.

Na minha perspetiva, a utilização de sistemas automatizados de distribuição em FH


contribui para o aumento da produtividade na distribuição dos medicamentos e possibilita a
diminuição da ocorrência de erros, melhorando assim a segurança dos doentes bem como a
gestão de stocks e custos com medicamentos no hospital.

Figura 2 Sistemas Automáticos: A - Pharmapick®; B - PDA®;


C - Pyxis MedStation®; D – BlisPack®; E - Auto-PrintTM;

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3. PROJETO HOSPITAL LOGISTICS SYSTEM

Com vista na otimização e rentabilidade de recursos e na excelência da logística dos


processos hospitalares, tem vindo a ser implementado no serviço de aprovisionamento do
HSA um sistema de melhoria contínua, denominado HLS (Hospital Logistics System),
baseado em princípios e ferramentas cuja qualidade e fiabilidade estão comprovadas no
universo industrial. Este projeto tem como alicerce a filosofia Kaizen, que significa melhoria
contínua da organização através da gestão da mudança. [5]. A estruturação deste projeto é
feita através de uma casa da melhoria contínua (ANEXO 2), tendo como base os princípios
orientadores Kaizen e a gestão da mudança, como pilares as duas grandes áreas de
intervenção (Melhoria de Processos e Inovação de Processos) e como telhado o grande
objetivo do projeto: a excelência operacional [6].

 Melhoria de Processos - Kaizen Office [6]

O pilar da melhoria de processos consiste na reestruturação de processos inerentes a


alguns departamentos e de processos administrativos. A implementação dessa reestruturação
foi efetuada com base na ferramenta Kaizen Office que consiste numa estrutura de níveis aos
quais correspondem determinados objetivos (ANEXO 3).
Ao longo destes níveis são aplicadas algumas ferramentas que facilitam o alcance dos
objetivos definidos. Até hoje estão implementadas a ferramenta dos 5S e o Kanban. Os 5S são
uma ferramenta Kaizen que visa a organização básica do posto de trabalho. Esta assenta em
cinco regras que têm como principal objetivo a melhoria das condições de trabalho, sendo a
Triagem (Seiri), Arrumação (Seiton), Limpeza (Seiso), Normalização (Seiketsu) e Disciplina
(Shitsuke). O Kanban é uma ferramenta Kaizen muito eficaz na gestão de stocks de
medicamentos e produtos farmacêuticos na FH. Este sistema consiste num cartão (ANEXO 4)
que possui um conjunto de informações que, quando colocado corretamente, irá garantir que o
produto seja encomendado no correto momento, como explicarei sucintamente mais à frente.
Através do envolvimento de todos os colaboradores na tarefa de melhoria contínua,
este processo pretende definir e eliminar fontes de desperdício nos processos operacionais e
logísticos, de modo a aumentar a produtividade e a qualidade de serviço diminuindo o tempo
despendido.

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 Inovação de processos – Kaizen Logistics [6]

No pilar da inovação de processos, o objetivo definido envolve a alteração da


metodologia de distribuição interna de material, tendo em vista essencialmente, a redução de
custos e racionalização de recursos. Para isso, foi criado um sistema de abastecimento cujo
principal objetivo é a redução dos stocks de produtos farmacêuticos nos serviços, eliminação
de ruturas e o aumento da qualidade do serviço prestado.
Como tal, aplicou-se o sistema de dupla caixa que se baseia na utilização de duas
caixas para um determinado produto com uma quantidade definida. Os utilizadores devem
consumir sempre da mesma caixa, retirando-a quando esta estiver vazia (ANEXO 4). A
quantidade definida para cada caixa é calculada de modo a que a segunda caixa não fique
vazia antes que a primeira seja reabastecida e baseada na análise de mapas de consumos desse
produto. Qualquer produto que circular neste sistema necessita de estar devidamente
identificado com a etiqueta do serviço e etiqueta Kanban.

O HLS foi criado de modo a inovar um conjunto de processos que antigamente eram
caracterizados por um enorme desperdício no hospital sendo visível que a introdução do
mesmo se tenha traduzido num aumento da eficácia e eficiência dos processos refletindo-se na
satisfação dos utentes e dos profissionais de saúde.
O HLS esteve sempre presente em todas as atividades que realizei durante este estágio.
Contudo, ainda há um longo caminho a percorrer até o objetivo do HLS, atingir a excelência.
Apesar da reestruturação de alguns processos e da melhoria contínua de alguns serviços, ainda
existem muitos serviços clínicos em que o HLS não está implementado, por falta de verbas,
disponibilidade dos profissionais encarregues do desenvolvimento do projeto, entre outros
motivos. Também verifiquei que muitos profissionais questionam as bases e os princípios
deste projeto e desvalorizam alguns processos envolvidos, assim como os objetivos a atingir.
Por isso, acho importante o desenvolvimento de reuniões entre todos os profissionais, que
tenham como objetivo o desenvolvimento de mais etapas, que possibilitem a discussão de
opiniões sobre as metodologias de trabalho nos serviços, assim como soluções para problemas
encontrados, e que incentivem a dedicação dos profissionais ao contínuo desenvolvimento
deste projeto.

18
4. CIRCUITO DO MEDICAMENTO

O principal objetivo da gestão de medicamentos é a satisfação das necessidades


terapêuticas dos doentes através da utilização dos recursos disponíveis com segurança,
eficiência e qualidade através da prestação de cuidados de saúde acessíveis e equitativos, com
um nível profissional ótimo, que tenha em conta os recursos disponíveis e consiga a adesão e
satisfação do doente [7].
Para que tal aconteça, é necessário que o medicamento efetue um percurso planificado
pelas diferentes áreas funcionais dos serviços que garanta o bom uso e dispensa dos
medicamentos em perfeitas condições aos doentes do hospital, denominado circuito do
medicamento, representado no ANEXO 5.

4.1. APROVISIONAMENTO E GESTÃO DE STOCKS

A função de aprovisionamento, em contexto hospitalar, tem vindo a destacar-se pela


sua importância e necessidade, sendo um fator preponderante para que os SF disponham de
todos os produtos que os utentes necessitam em condições adequadas no que respeita à
quantidade, qualidade, custo, timing e segurança. Assim, para os SF garantirem um
aprovisionamento adequado, realizam uma boa gestão física, administrativa e económica dos
stocks.
A gestão administrativa de stocks controla os fluxos de informação e fiabiliza os dados
recolhidos, ao mais baixo custo através da gestão eficiente do processo de receção, do registo
correto e funcional das movimentações, do controlo de inventário permanente, gestão
eficiente do processo do reaprovisionamento e do controlo contabilístico de stocks.
A gestão económica dos stocks não se centra na aplicação de métodos de gestão, mas
na seleção do melhor método para cada artigo, conforme a sua identidade, as suas
características de consumo, de preço e de prazo de validade, e os custos associados à
armazenagem, reabastecimento e rutura.
Uma boa gestão física de stocks passa por três passos: análise de consumo, reposição
de stocks e armazenamento adequado ao stock, acompanhado por um controlo dos prazos de
validade. Os medicamentos e outros produtos farmacêuticos estão classificados no plano de
gestão de acordo com os seguintes parâmetros:
19
 Relevância para a prestação de cuidados;
 Consumo;
 Valor económico.
Nos SF, a gestão física de stocks de medicamentos e produtos farmacêuticos tem por
base o sistema Kanban, que permite uma fácil e rápida elaboração da lista de pedidos
traduzindo-se numa redução de stocks e diminuindo o número de ruturas. Para tal, o Kanban
possui quatro informações: o código interno do produto e a designação (Denominação
Comum Internacional (DCI), Forma Farmacêutica (FF) e dosagem) do produto, o ponto de
encomenda e a quantidade a encomendar (ANEXO 4). Este cartão é colocado de modo a que o
TF responsável pelo picking o visualize totalmente quando o stock for igual ao ponto de
encomenda. Nesse instante, deve retirar o Kanban e colocá-lo na caixa de produtos a
encomendar. No final do dia o farmacêutico responsável pela elaboração da lista de
encomendas tem a certeza que os cartões presentes na caixa de produtos a encomendar
correspondem aos produtos cujo stock se encontra abaixo do ponto de encomenda.

4.2. SELEÇÃO E AQUISIÇÃO

A seleção de medicamentos é um processo contínuo e evolutivo que requer um


conhecimento aprofundado das características farmacológicas e fármaco-económicas dos
medicamentos tendo como objetivo a aquisição dos medicamentos mais adequados às
necessidades terapêuticas específicas dos utentes e a sua melhoria da qualidade de vida.
A seleção deve ter por base o FHNM, e a adenda ao mesmo. De acordo com o Despacho nº.
13885/2004, de 25 de junho, o FHNM é uma publicação oficial elaborada pela comissão
técnica especializada do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de
Saúde I.P.) que, à luz de um determinado conjunto de critérios, seleciona os medicamentos
considerados aconselháveis para a utilização hospitalar [8]. A utilização de medicamentos não
constantes no FHNM (designados extra-formulário) depende da respetiva inclusão na adenda
ao formulário, sendo que os medicamentos a incluir são da responsabilidade e consideração
da CFT do hospital e cuja avaliação já haja sido efetuada pelo INFARMED em sede de
comparticipação [8].
A aquisição de medicamentos é da responsabilidade dos farmacêuticos devendo ser
efetuada com a colaboração e supervisão da Direção dos SF em articulação com as equipas de
administração e aprovisionamento [4]. Os farmacêuticos responsáveis pela aquisição devem
20
assegurar que o processo é transparente, profissional e ético, de modo a promover a equidade
e o acesso, e assegurar a responsabilização perante as entidades legais e administrativas
relevantes [9]. A elaboração da lista de medicamentos e produtos a adquirir é realizada através
do sistema Kanban, que define o ponto de encomenda e a quantidade a encomendar de cada
produto. Esses valores estão predefinidos especificamente para cada medicamento ou produto
farmacêutico sendo baseados numa avaliação aprofundada de um conjunto de critérios
relativos aos mesmos, como a classificação do produto (A, B ou C), históricos de consumo e
recursos disponíveis. A classificação ABC, consiste na separação dos produtos farmacêuticos
em grupos, em função da sua rotatividade, com o objetivo de simplificar o processo da gestão
de stocks. Segundo esta classificação, os produtos farmacêuticos podem ser divididos nas
seguintes classes: Classe A – engloba o grupo de produtos de maior rotatividade que
correspondem a 20% dos produtos; Classe B – representa um grupo de rotatividade e valor
intermédio, correspondendo a cerca de 30% dos produtos; Classe C – agrupa os produtos de
menor rotatividade, correspondendo a 50% do total dos produtos [6].

4.3. RECEÇÃO DE ENCOMENDAS

A receção de encomendas é efetuada numa sala ampla de acesso direto ao exterior e de


fácil acesso ao APF, estando devidamente equipada para o desenvolvimento eficiente de todas
as atividade inerentes à receção de produtos farmacêuticos.
A receção é realizada por um TF, auxiliado por um AO, que tem como função
assegurar que todos os produtos se encontram de acordo com os requisitos de compra
especificados. Para tal, procede-se inicialmente à conferência da guia de remessa com a nota
de encomenda, verificando-se o número de volumes e a integridade física das embalagens. De
seguida, é efetuada uma análise quantitativa e qualitativa dos produtos rececionados, onde é
conferida a quantidade recebida e a identificação do produto (DCI, dosagem, FF, lote), o
prazo de validade e o tipo de acondicionamento, respetivamente. Após esta análise, as
embalagens dos medicamentos, produtos farmacêuticos ou dispositivos médicos são
agrupadas em grupos de 10 e identificadas com o respetivo Kanban, sendo posteriormente
enviadas para o APF para se proceder à arrumação dos mesmos, tendo sempre em atenção os
critérios técnicos associados a alguns produtos (condições especiais de armazenagem,
segurança especial de medicamentos). Os medicamentos que possuem critérios especiais de

21
armazenamento ou de segurança são conferidos prioritariamente e exigem alguns cuidados
específicos de verificação, tais como:
 Medicamentos termolábeis devem ser conferidos em primeiro lugar e logo que
possível serem armazenados na câmara frigorífica;
 Medicamentos CTX (Citotóxicos) exigem o manuseamento com equipamento de
proteção (luvas de nitrilo) e sempre separados dos restantes produtos;
 Matérias-primas são obrigatoriamente acompanhadas de um boletim de análise que
comprove a satisfação das exigências previstas na sua monografia, assim como o lote e
o prazo de validade da matéria-prima em questão [10];
 Medicamentos hemoderivados exigem a verificação dos certificados de análise e dos
certificados de aprovação pelo INFARMED, que ficam arquivados junto com a
respetiva fatura em dossiers específicos [4];
 Medicamentos estupefacientes e substâncias psicotrópicas são conferidos e enviados
para o farmacêutico responsável pela gestão dos mesmos, sendo armazenados em sala
própria com acesso condicionado.
Quando um produto não corresponde ao produto encomendado, ou não possui as
condições exigidas, que se encontre danificado, ou que o prazo de validade demonstre ser
inferior a 6 meses, é possível preencher uma ficha de não conformidade ou uma nota de
devolução. Posteriormente, o TF responsável pela receção do respetivo produto regulariza a
devolução com o fornecedor da melhor forma, implicando a entrega de outros produtos ou a
troca pelo mesmo produto.
Após a realização destes procedimentos, enviam-se a guia de remessa e a fatura
(ANEXO 6) anexadas à nota de encomenda (devidamente carimbadas, datadas e assinadas
pelo TF responsável) para o setor de aprovisionamento, onde se procederá à entrada dos
produtos no sistema informático e respetiva faturação.
Infelizmente não me foi possibilitada a passagem pelo setor da receção de
encomendas. Contudo, a minha passagem pelo armazém dos SIGV deu-me a oportunidade de
ter uma noção generalizada das atividades realizadas na receção, uma vez que o procedimento
é idêntico, apesar de não ser necessário alguns cuidados específicos que referi.

22
4.4. ARMAZENAMENTO

O armazenamento dos medicamentos e produtos farmacêuticos constitui um processo


de grande importância nos SF, pois deste depende a garantia de estabilidade e segurança dos
produtos armazenados e consequentemente a qualidade e eficiência de todo o sistema da
distribuição. Neste sentido, o armazenamento deve ser feito de modo a garantir as condições
necessárias de espaço, luz, temperatura (inferior a 25ºC) (valores monitorizados por um
sistema de controlo e registo automático de funcionamento contínuo – termohigrómetro) e
segurança dos medicamentos e produtos farmacêuticos [4]. Nos SF as condições de
armazenamento são igualmente respeitadas, dando-se prioridade aos produtos que necessitam
de condições especiais de conservação e de segurança, como:
 Medicamentos termolábeis - armazenados em câmaras frigoríficas com sistema de
controlo e registo de temperatura e sistema de fechadura de segurança;
 Medicamentos fotossensíveis - armazenados em locais protegidos da luz e em
embalagens apropriadas;
 Produtos inflamáveis - armazenados em local individualizado e devidamente
identificados;
 Estupefacientes e psicotrópicos - armazenados em local individualizado com
fechadura de segurança e prateleiras que permitam a arrumação dos medicamentos de
forma correta (separados e rotulados).

O armazenamento de medicamentos e de produtos farmacêuticos deve garantir um


aproveitamento racional do espaço físico assim como uma organização de rápido e fácil
acesso ao produto pretendido, seguindo sempre que possível uma ordem lógica de arrumação
por ordem alfabética de DCI, seguido da dosagem, FF e Código Hospitalar Nacional do
Medicamento (CHNM – regime obrigatório de codificação dos medicamentos nos hospitais e
noutros serviços do Serviço Nacional de Saúde, estabelecido pela Portaria n.º 155/2007, de 31
de janeiro) [11].
O armazenamento de medicamentos e produtos farmacêuticos nos SF do HSA
procede-se da seguinte forma:
a) Verificar a localização do medicamento através da informação presente no Kanban;
b) Verificar o prazo de validade do medicamento existente (se o prazo de validade for
diferente, arrumar o medicamento com o prazo de validade mais curto à frente e/ou
mais à direita do restante respeitando a regra First Expired First Out (FEFO);
23
c) Colocar o Kanban conforme o ponto de encomenda do medicamento.

De maneira a satisfazer da melhor forma as necessidades de cada setor dos SF e para


garantir a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos e dos produtos farmacêuticos ao
longo das fases do circuito do medicamento, podem ser considerados os seguintes armazéns:

Armazém de Produtos Farmacêuticos


Neste armazém são armazenados a maioria dos medicamentos e produtos
farmacêuticos que são rececionados diariamente nos SF constituindo o principal armazém de
fornecimento a que recorre a maioria dos setores dos SF. Nesta área as soluções de grande
volume encontram-se perto da área de receção e estão arrumadas em paletes (de modo a
facilitar a sua arrumação por representarem um tipo de material de elevada carga), os
medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos que não necessitem de
refrigeração estão distribuídos por várias estantes com prateleiras seguindo uma organização
diferenciada, como podemos verificar no ANEXO 1. Por último os produtos termolábeis
encontram-se armazenados numa câmara frigorífica com temperaturas de conservação
compreendidas entre 2º C a 8º C (possui um alarme que é acionado quando ocorre uma
alteração abrupta da temperatura).

Armazém de Citotóxicos/Citostáticos
Os CTX são armazenados maioritariamente numa sala específica localizada na UFO
(localizada no edifício Dr. Luís de Carvalho) e minoritariamente no APF.

Armazém de Soluções Injetáveis de Grandes Volume


Este armazém localiza-se no edifício Dr. Luís de Carvalho e possui uma organização
diferente dos restantes armazéns. A arrumação dos produtos farmacêuticos é feita por paletes,
não sendo possível uma organização por ordem alfabética de DCI, justificada pela
impossibilidade de efetuação de manobras no espaço físico disponível. Contudo, os produtos
encontram-se organizados segundo o método FEFO e pelo sistema HLS (Kanban).
O armazém de SIGV é um setor independente onde é possível efetuar todas as etapas
do circuito destes produtos, desde a sua encomenda e receção até a sua distribuição.

No APF existem ainda armazéns satélite que correspondem ao CMIN e ao HJU, uma
vez que os SF do HSA suportam as necessidades de caráter farmacêutico a todas as unidades
de saúde pertencentes ao CHP.

24
A UFO e a UFA possuem armazéns “avançados” onde fazem a gestão de um stock
próprio de medicamentos e produtos farmacêuticos pertencentes a esses setores, de modo a
facilitar e melhorar o funcionamento destas unidades.

4.4.1. Controlo de Prazos de Validade

Uma das vertentes na gestão de stocks está relacionada com o controlo dos prazos de
validade dos produtos farmacêuticos. Entende-se por prazo de validade o período “durante o
qual as características físicas, químicas, microbiológicas, galénicas, terapêuticas e toxicológicas não
se alteram ou sofrem eventuais modificações dentro de limites aceitáveis e bem definidos” [12].
Apesar de no processo de receção de encomendas já se proceder à confirmação dos prazos de
validade e na altura de armazenamento dos medicamentos e produtos farmacêuticos obedecer-
se à regra FEFO, este procedimento pode não ser suficiente. Por este motivo, é feito um
controlo mais rigoroso que consiste na emissão de uma lista, emitida pelo sistema informático
GHAF®, de medicamentos e produtos farmacêuticos cujos prazos de validade terminem nos
três meses seguintes à data da emissão da lista. Todos os produtos cujo prazo de validade
expire na data anteriormente referida são identificados com um cartão com a indicação do
prazo de validade do mesmo (“Atenção P.V. __/__”).
Após a verificação de todos esses produtos é feita uma atualização dos prazos de validade
no sistema informático e contactam-se os fornecedores para serem estabelecidos possíveis
acordos de devoluções de produtos.

4.5. DISTRIBUIÇÃO

A distribuição é o denominador comum e a face mais visível da atividade farmacêutica


hospitalar representando um processo fundamental no circuito do medicamento. Este é um
processo que permite assegurar uma utilização segura, eficaz e racional do medicamento
realizado em estreita ligação com os serviços do hospital quer para o internamento quer para o
regime de ambulatório [13].
Os principais objetivos dos SF do HSA, na distribuição, são assegurar a validação da
prescrição, monitorizar e cumprir integralmente o plano terapêutico do utente, disponibilizar a
medicação correta, na quantidade e dosagem correta, diminuir erros associados à dispensa e

25
administração, reduzir o tempo do pessoal de enfermagem dedicado às tarefas administrativas
e manipulação dos medicamentos e ainda racionalizar os custos da terapêutica.
Nos SF do HSA são considerados vários tipos de sistemas distribuição de
medicamentos:
 Distribuição Tradicional ou Clássica;
 Sistema de Reposição de Stocks Nivelados;
 Distribuição Individual Diária;
 Distribuição de Soluções Injetáveis de Grande Volume;
 Distribuição de Antisséticos e Desinfetantes;
 Circuitos Especiais de Distribuição;
 Distribuição a doentes em Regime de Ambulatório.

Durante o estágio tive oportunidade de participar em todos os tipos de sistemas de


distribuição de medicamentos e produtos farmacêuticos, pelo que considero importante referir
que em todos estes setores se encontram normas e instruções de trabalho com ilustrações
elucidativas que facilitam a compreensão de todas as etapas a efetuar em cada setor, assim
como a presença de sinaléticas que visam garantir a utilização segura dos medicamentos de
risco (e.g. soluções concentradas de eletrólitos).

4.5.1. Distribuição Clássica

A DC foi um do primeiros sistemas de distribuição a ser implementados nos SF das


instituições de saúde, mantendo-se até hoje um sistema bastante solicitado. Este sistema de
distribuição tem como principal finalidade o fornecimento de medicamentos para a reposição
de stocks existentes em alguns serviços clínicos hospitalares, controlados pelos profissionais
de saúde do serviço (enfermeiros), em quantidade previamente estabelecida de acordo com as
necessidades do serviço clínico e por um determinado período de tempo. A DC pode
funcionar como um sistema de distribuição independente ou como sistema complementar e de
apoio à DID.
Todos os sistemas de distribuição apresentam vantagens e desvantagens, e na DC
destacam-se como principais vantagens a possibilidade de dispensar medicamentos e produtos
farmacêuticos de grandes volumes (e.g. anti-séticos e desinfetantes, meios de contraste de
diagnóstico, entre outros), a reduzida utilização de recursos materiais e da intervenção de
poucos profissionais de farmácia, minimizando os custos e possibilitando a administração
26
imediata da medicação prescrita. Em contrapartida, evidenciam-se como desvantagens a
gestão incorreta de stocks nas enfermarias que gere uma acumulação de medicamentos
traduzindo-se em desperdícios desnecessários, assim como a possibilidade crescente de
ocorrência de erros de administração, uma vez que não ocorre interpretação nem validação da
prescrição pelo farmacêutico nem controlo da qualidade de armazenamento dos
medicamentos.
No HSA, a DC é feita junto do APF, dada a proximidade com os produtos, sendo
efetuada para vários serviços que, pelas suas características e necessidades especiais, recebem
medicação por este sistema de distribuição. Para melhorar a qualidade e eficiência deste
sistema de distribuição, foram criados três circuitos diferentes de distribuição com atividades
diversificadas, estando cada circuito a cargo de um TF (Tabela II).

Tabela II Circuitos da Distribuição Clássica

CIRCUITO A CIRCUITO B CIRCUITO C


HJU MJD Reabastecimento de “stocks
UFO UFA avançados” da DID
Bloco Neoclássico Pedopsiquiatria Antisséticos e Desinfetantes
Cuidados Intensivos Viatura de Emergência Médica Distribuição de Produtos de
Urgência Bloco DR. Luís de Carvalho Contraste entre outros
Unidade de Cuidados Bloco Ortopedia
Intermédios da Urgência Bloco Neurocirurgia
DC dos serviços em DID Bloco Cirurgia Ambulatória
Unidade de Cuidados Intensivos
Polivalente (UCIP)
Hospital de Dia Polivalente
Serviço de Técnicas Endoscópicas
Serviço de Imagiologia
Fisioterapia
Consultas

O enfermeiro chefe do serviço clínico é o responsável pela gestão de stocks e por


efetuar os pedidos de reposição de medicação aos SF, através de requisições efetuadas por via
informática (transmitido pelo GHAF® - ANEXO 7) ou via manual, referindo a DCI do
produto, dosagem, via de administração e quantidade necessária (não podendo exceder o
limite pré-definido). Assim que uma requisição chega aos SF, o TF responsável pelo respetivo
serviço deve conferir a medicação requisitada verificando as quantidades requeridas e a
existência de possíveis erros no pedido. É muito importante a verificação do stock disponível
de determinado produto no APF, uma vez que este pode não ser suficiente para satisfazer

27
todos os pedidos diários dos vários serviços, estando sujeito a ajuste de quantidades
dispensadas.
A solicitação de medicamentos e produtos farmacêuticos pode também ser feita
através do envio do cartão Kanban que possui a informação da identificação do produto e do
serviço (número de centro de custo), CHNM, quantitativo de reposição e localização. Este
método de requisição é utilizado no Circuito B, nomeadamente nos serviços clínicos UFA e
UCIP, e consiste na reposição do respetivo quantitativo do produto a que o Kanbam pertence,
sendo enviado para o respetivo serviço devidamente identificado.
Uma das formas de proceder-se à satisfação das requisições é através do PDA®. O
PDA® é um equipamento de automação que durante o processo de dispensa, vai emitindo as
quantidades a fornecer de determinado produto, através da leitura ótica do CHNM de
determinado produto, fazendo assim o seu débito direto através do processo picking, tornando
o processo de dispensa mais rápido, facilitando o trabalho do TF.
Quando uma requisição contém produtos termolábeis, estes são colocados dentro de
uma mala térmica, juntamente com um acumulador de gelo, e são devidamente identificadas
com a etiqueta de aviso de existência de medicação de frio com a descrição do serviço a que
se destina, permanecendo na câmara frigórifica até ao seu transporte.
Depois de toda a medicação estar preparada e conferida, é devidamente acondicionada
nas caixas de transportes para o AO efetuar a distribuição pelos serviços clínicos, tendo em
atenção se existe algum aviso de medicação termolábil.
Após terminada a dispensa dos produtos, procede-se ao débito dos mesmos ao
respetivo serviço e à impressão, em duplicado, da folha de débito, ficando uma para arquivar
na farmácia e outra que irá acompanhar a requisição até ao respetivo serviço clínico.
Quando algum medicamento requisitado não esteja de momento disponível no stock
dos SF, é necessário justificar o motivo do não fornecimento, a fim de alertar o responsável
do serviço a falta do mesmo.
Relativamente à dispensa de antisséticos e desinfetantes (e.g.: pastilhas de trocloseno e
álcool a 70º), esta é realizada através de uma requisição manual amarela ou pelo método de
reposição HLS, que consiste na reposição por substituição de caixas vazias por caixas com o
quantitativo do produto definido (sistema de dupla caixa). As requisições manuais possuem
uma lista de produtos com as respetivas quantidades necessárias (ANEXO 8).
A solicitação de SIGV pode ser efetuada informaticamente pelo GHAF®, por
requisição manual ou por reposição de HLS (sistema de dupla caixa). A dispensa destes

28
produtos é feita no armazém de SIGV. O procedimento de distribuição faz-se da mesma
forma que para os diferentes circuitos do APF. Numa situação de um produto em falta, o
serviço requisitante é informado e inquirido quanto à urgência da satisfação desse pedido. Se
o pedido for urgente, faz-se inicialmente uma pesquisa dos serviços clínicos que possuem esse
produto no seu stock físico e que não necessitem do mesmo. Se tal não for possível, efetua-se
um pedido de empréstimo a outro hospital.

4.5.2. Distribuição Individual Diária

A DID é um método coordenado de dispensa e controlo de medicamentos que tem


como objetivo a distribuição dos mesmos por doente, na forma unitária, por um período de
vinte e quatro horas [14]. Este sistema garante uma maior segurança e eficiência, permitindo o
acompanhamento fármaco-terapêutico individual do doente, diminuindo os erros associados e
facilitando o melhor controlo de stocks e de custos.
A DID funciona num setor próprio dos SF e está dividida nos seguintes campos de
trabalho:

 Pharmapick®
Sistema semiautomático que auxilia a maioria da dispensa na DID e armazena
produtos de maior consumo pelos serviços (referência A). Este sistema de dispensa dispõe de
várias gavetas automáticas, cujo tamanho varia de acordo com o tamanho e rotatividade do
medicamento que armazena, e dois ecrãs táteis com toda a informação necessária para efetuar
uma correta dispensa.
O sistema informático do Parmapick® encontra-se conectado com o sistema
informático GHAF®, transmitindo entre eles toda a informação da prescrição eletrónica. A
dispensa de medicamentos através deste sistema faz-se por medicamento, pelo que quando
uma gaveta fica disponível com determinado medicamento é fornecida a informação no ecrã
da quantidade total a retirar e o respetivo destino, disponibilizando uma lista por produto com
os serviços a que de destina, número de cama, nome do utente e quantidade.
Este sistema apresenta várias vantagens pois permite diminuir o espaço de
armazenamento de medicação, por comportar um elevado stock de medicamentos, e por
diminuir o tempo despendido em deslocações à procura da medicação.

29
 Células
Representam o stock de medicamentos e produtos farmacêuticos de maior consumo
pelos serviços clínicos que as integram. Para que um medicamento faça parte de uma célula,
este deve ser classificado como uma referência A para o conjunto de serviços que integram
essa célula. As células funcionam como stock de apoio ao Parmapick®.
As gavetas das células encontram-se organizadas na vertical, por ordem alfabética de
DCI, ordem crescente de dosagem e FF. Cada gaveta possui um rótulo que a identifica,
contendo as seguintes informações: CHNM, localização, DCI, FF, dosagem, ponto de
encomenda e quantidade a encomendar. Todas as gavetas possuem um duplicado para que
exista uma fácil e imediata reposição no momento da dispensa. As gavetas das células vazias
são repostas diariamente no final da dispensa pelo TF responsável, recolhendo todas as
gavetas e deslocando-se ao supermercado da DID (stock avançado de medicamentos de maior
consumo) para proceder ao seu enchimento, de acordo com as quantidades estipuladas.
Cada célula apresenta gavetas com diferentes dimensões (pequena, média e grande),
consoante a maior ou menor rotatividade e armazenam maioritariamente comprimidos (e.g.
ácido fólico, alprazolam, entre outros), cápsulas (e.g carbonato de cálcio, tacrolímus, entre
outros), ampolas (e.g. ampicilina, tramadol, entre outros) e pensos transdérmicos (e.g.
nitroglicerina).

 Torre
Contempla o stock avançado de medicamentos e produtos farmacêuticos de menor
consumo pelos serviços que integram a DID. Para que um medicamento faça parte da torre,
este deve estar classificado como uma referência B. As dimensões das gavetas são idênticas às
das células, assim como a sua organização e identificação, excetuando o facto de as gavetas
estarem divididas com um compartimento amovível que funciona como Kanbam do produto.
Sempre que o TF se desloque à torre e que a quantidade de produto para a dispensa
atinja o respetivo Kanban, este deve recolhê-lo e colocá-lo na caixa de reposição de Kanbans.

 Produtos Farmacêuticos de Aplicação Tópica


Armário com gavetas localizado junto à torre que armazena colírios e pomadas
oftálmicas (e.g. tobramicina, oxitretaciclina, entre outros), cremes e pomadas (e.g. ácido
fusídico), pensos de hidrogel e nebulizadores (e.g. salbutamol). A organização, identificação e
processo de reposição do stock são idênticos à da torre.

30
 Material de Penso

Situados junto à medicação tópica, estão armazenados numa estante com várias
prateleiras em caixas devidamente identificadas com o CHNM, a sua constituição e
dimensões (e.g. pensos hidrocolóides, hidropolímeros). A dispensa do material de penso pode
ser feito pela DID, pela DC, e também através de requisições manuais transportas pelos AO
diretamente do serviço clínico com a devida justificação.

 Soluções Orais

As soluções orais estão armazenadas numa estante separadas dos outros medicamentos
por apresentarem uma FF específica e pela maioria estar acondicionada em embalagens de
grandes dimensões (e.g. nístatina, solução eletrolítica para lavagem gastrointestinal, entre
outros).

 Frigorífico

 Nutrição Entérica e Parentérica

A nutrição encontra-se armazenada em caixas Kanban, devidamente protegidas luz e


organizadas de forma a evitar que os produtos de maiores dimensões não se encontrem numa
posição de difícil alcance. A reposição da nutrição é feita por reposição em HLS (sistema de
dupla caixa).

Compete ao farmacêutico interpretar e validar a prescrição médica (através da


aplicação do Circuito do Medicamento_CdM), tendo como principal objetivo otimizar os
resultados da farmacoterapia através do uso racional dos medicamentos, maximizando a sua
efetividade e reduzindo o risco de aparecimento de Reações Adversas (RA), ao menor custo
possível. Este é um processo chave na cadeia terapêutica e deve ser realizado sempre que
ocorra uma alteração/atualização do perfil farmacoterapêutico do utente.
Todas as prescrições médicas devem ser validadas tendo em conta os seguintes itens:
 FHNM, Adendas e Deliberações da CNFT
É através destas ferramentas que as Instituições de Saúde estabelecem as Políticas de
Utilização de Medicamentos (PUM) que melhor servem uma dada população de utentes.
Durante a validação das prescrições médicas, o farmacêutico deve assegurar o cumprimento
destas PUM, de forma a promover a segurança e eficácia da terapêutica farmacológica.

31
 Características do utente
O conhecimento de certas características específicas de cada utente, bem como da sua
situação clínica, são essenciais para um correta validação da prescrição.
Durante a validação, o farmacêutico deve ter em conta as seguintes informações,
sempre que estas estejam disponíveis: idade, dados antropométricos, alergias, diabetes, função
renal, função hepática e integridade do trato gastrointestinal.
 Características do medicamento
Em relação a cada medicamento prescrito para cada utente especifico, o farmacêutico
deve avaliar:
 Necessidade do medicamento - o medicamento deve ter as suas indicações aprovadas e
o utente deve ter um problema de saúde manifestado ou risco de o manifestar;
 Adequabilidade do medicamento - o medicamento deve ser o adequado ao doente em
causa (avaliar RA, contra-indicações, interações medicamentosas);
 Adequabilidade da posologia - o medicamento para tratar determinado problema de
saúde deve ser utilizado na posologia adequada, ou seja, na dosagem, frequência de
administração e na duração do tratamento;
Sempre que uma prescrição eletrónica é validada através do CdM, o registo da
validação é feito automaticamente, podendo para cada prescrição ser consultado o histórico de
validação. As prescrições em formato de papel devem ser rubricadas pelo farmacêutico que as
validou.
Após a validação das prescrições médicas, cabe ao farmacêutico a impressão dos
Mapas de Distribuição de Medicamentos (MDM), também designados por “listagens”,
existindo um para cada serviço clínico. Estes podem ser emitidos de duas formas distintas:
 Por cama: organização da medicação por utente permitindo analisar o perfil
farmacoterapêutico do utente. Neste MDM constam assim os seguintes dados:
identificação do utente (nome, nº de processo, serviço clínico e nº de cama),
designação do medicamento (DCI, dosagem, FF), dose, frequência, via de
administração e duração de tratamento (quando aplicável).
 Por medicamento: organização das camas para as quais vai ser necessária a
medicação (organizados por ordem alfabética de DCI do medicamento), não permite
acompanhar o perfil farmacoterapêutico do utente.

Na DID recorre-se maioritariamente aos MDM por medicamento, exceto quando se


efetuam as “diferenças” (alterações da terapêutica do utente). Apesar dos MDM por cama
32
representar o processo mais correto e seguro para o utente, o primeiro possibilita uma
dispensa mais rápida, evitando deslocações desnecessárias e assim rentabilizar o tempo para
desempenhar outras tarefas.
Após a emissão dos MPM de cada serviço clínico, procede-se à impressão das
etiquetas identificadoras de cada gaveta de unidose da mala de distribuição (indicação do
nome completo do utente, do nº da cama e do processo e do respetivo serviço) e são enviadas
informaticamente as prescrições de medicamentos de referência A para o Pharmapick®. Os
medicamentos e produtos farmacêuticos de referência B e C (todos os medicamentos que o
Pharmapick® não armazena) são emitidos em MDM por medicamento, estando um TF
responsável por preparar estas referências recorrendo aos diferentes stocks de apoio da DID.
A dispensa em DID constitui uma oportunidade para o TF intervir no circuito do
medicamento contribuindo com os seus conhecimentos técnicos para diminuir os erros de
medicação e aumentar a segurança do utente. Caso o TF detete alguma incoerência nos MPM,
deve efetuar em impresso próprio um “Registo de Intervenções Técnicas” (ANEXO 9),
referindo a justificação da mesma, e entregar ao farmacêutico de forma a poderem ser
avaliadas.
Ao longo da dispensa, podem ocorrer algumas situações particulares que requerem
uma atenção acrescida por parte do TF, nomeadamente:
 Medicamentos termolábeis: a dispensa destes medicamentos é feita em envelopes
identificados com uma etiqueta de indicação de conservação no frio e com o serviço
clínico, o nome do doente, o nº da cama e a quantidade do medicamento. A dispensa
dos medicamentos termolábeis é realizada imediatamente antes da saída dos carros de
distribuição.
 Medicamentos anti-infeciosos: a prescrição destes medicamentos é efetuada para um
tempo limite pré-definido, regra geral 7 dias. Caso haja necessidade de haver
continuidade do tratamento, o médico terá de realizar uma nova prescrição que
justifique a sua continuidade. O consumo indevido e indiscriminado dos anti-
infeciosos pode desencadear o aparecimento de resistências microbiológicas, bem
como a ocorrência de RA graves.
 Produtos de grandes dimensões: quando uma gaveta não tem a capacidade de
suportar o acondicionamento de todos os produtos farmacêuticos, estes são
devidamente identificados e colocados na gaveta geral do carro de distribuição.

33
 Rutura de stock: quando ocorre uma rutura de stock, o TF efetua uma anotação numa
folha destinada a esse efeito, para que o TF responsável pela reposição de stocks dê
prioridade a esses produtos.

Imediatamente antes da entrega da medicação nos serviços clínicos, são efetuadas


manualmente as atualizações à unidose (“diferenças”), decorrentes das alterações
farmacoterapêuticas ocorridas entre o momento da dispensa e o momento da distribuição ou
por altas ou entradas de novos utentes (ANEXO 10). Assim que as diferenças terminem e os
carros fiquem prontos para ser entregues, estes são ser fechados à chave, de forma a garantir a
segurança do transporte.
Sempre que o TF termine a dispensa, assim como as respetivas diferenças, deve
assinar num impresso próprio o seu nome bem como a hora a que esse serviço ficou pronto
para ser entregue.
Para além das tarefas já referidas, o TF tem a responsabilidade de proceder à
revertência da medicação devolvida pelos serviços clínicos certificando-se que o
medicamento permanece na sua embalagem primária, sem que tenha sido utilizado e que se
encontre em boas condições e dentro do prazo de validade. No caso de todos estes
pressupostos estarem assegurados, o processamento informático é feito através do GHAF®,
sendo efetuada a devolução da medicação ao respetivo centro de custo do serviço clínico.
A medicação SOS (e.g. captopril 25mg cp, metoclopramida 10mg cp, paracetamol
500mg cp, entre outros) é distribuída por serviço clínico e não por doente. Existe uma gaveta
identificada na mala do carro de distribuição com a medicação SOS contendo as quantidades
estipuladas.
Ainda sob a responsabilidade do TF está a reposição dos diferentes stocks de apoio à
DID e as requisições urgentes dos serviços clínicos. Estas atividades correspondem ao TF do
“guichet”. Se a medicação em falta estiver disponível, é enviada para o respetivo serviço
clínico, caso contrário é deixada a informação junto ao computador para que o TF do turno
seguinte tenha conhecimento da medicação em falta.

4.6. REPOSIÇÃO DE STOCKS NIVELADOS

A distribuição por RSN é um sistema de distribuição utilizado para vários serviços,


que também são auxiliados pela DC e pela DID.

34
Cada unidade hospitalar abrangida por este tipo de distribuição possui uma
determinada quantidade de medicamentos pré-definida pelos SF e grupos de medicamentos
específicos que variam de acordo com as necessidades do serviço clínico (ANEXO 11).
Das vantagens que a RSN apresenta destaca-se a melhor gestão de stocks, bem como a
integridade e qualidade dos medicamentos (controlo de prazos de validade, organização e
condições de armazenamento), isto porque o TF tem total controlo da quantidade e
viabilidade dos medicamentos. Além disso, a existência de stocks nivelados é vantajoso para
os serviços, uma vez que este funciona como medicação de recurso para quando existir algum
problema na distribuição de medicamentos, contribuindo para a prestação de cuidados de
saúde melhorados, por disponibilizar mais tempo aos profissionais para se dedicarem às
necessidades do utente. Já como desvantagem, não há acompanhamento do perfil
farmacoterapêutico do doente, aumentando a possibilidade de ocorrência de erros de
medicação.
A RSN pode ser feita de duas formas:
 Stock fixo: o TF responsável desloca-se ao setor da DID onde se encontra o computador
que emite a listagem dos medicamentos com necessidade de reposição, preparando logo
de seguida a medicação e acondicionando-a numa caixa que posteriormente o AO irá
transportar até ao serviço. Quando o TF tiver disponibilidade, desloca-se ao serviço para
efetuar a reposição. A vantagem deste sistema é a inexistência de stocks em duplicado,
traduzindo-se num menor impacto económico. Contudo, as deslocações aos serviços por
parte do TF, apresenta ser uma desvantagem.
 Stock móvel: neste tipo de RSN existe stock em duplicado. Em dias pré estabelecidos, os
stocks são trocados, sendo que aquele que existe no serviço clínico regressa aos SF, para
posterior reposição de acordo com as quantidades estabelecidas. Neste método a
reposição é imediata, permitindo que a medicação esteja sempre disponível, diminuindo o
tempo de execução para o TF relativamente ao método anterior. Como o stock se
apresenta em duplicado, a probabilidade de os prazos de validade serem ultrapassados é
maior, requerendo uma maior atenção por parte do TF.

O Pyxis MedStation® funciona como um aramzém satélite integrada no sistema de RSN,


existindo equipamentos em dois serviços clínicos do HSA. Relativamente aos stocks, as
quantidades estabelecidas de cada produto em stock é feita pelos profissionais da farmácia,
existindo assim o stock mínimo e máximo, ou seja, quando um determinado produto é inferior

35
ao stock mínimo estipulado, é feita a sua reposição até atingir o stock máximo. A quantidade
do stock só é debitada quando for consumido pelo serviço clínico onde de encontra o Pyxis®.

4.7. CIRCUITOS ESPECIAIS DE DISTRIBUIÇÃO

No HSA existem medicamentos, que pelas suas características particulares, exigem


um maior controlo da sua utilização e da sua dispensa necessitando de circuitos especiais de
distribuição. Entre as características particulares deste medicamentos estão o risco de
transmissão de doenças infecto-contagiosas, os elevados custos de aquisição e o risco de
dependência e consumo ilícito, entre outros fatores. Deste grupo de medicamentos estão
incluídos os estupefacientes e psicotrópicos e os hemoderivados.
A dispensa de medicamentos estupefacientes e psicotrópicos compete ao farmacêutico
e está regulada pelo Decreto-Lei nº 15/93 de 22 de janeiro [15].
Por imposição legal e pelas características destes medicamentos, é necessário um
circuito especial de distribuição mista. A distribuição mista inicia-se com a prescrição médica
por doente, sendo no entanto a dispensa feita por serviço clínico quando o stock do mesmo se
encontra com níveis mínimos, procurando repor as quantidades que já foram consumidas.
A prescrição destes medicamentos é realizada em impresso próprio, Modelo nº 1509
da Impressa Nacional – Casa da Moeda (INCM), modelo de receita médica relativa a
substâncias e preparações compreendidas nas tabelas I a II (tabela de plantas, substâncias e
preparações sujeitas a controlo) [15, 16], devendo ser sempre assinada pelo médico do serviço
requisitante, apresentando todos os campos preenchidos. Todas as prescrições de
medicamentos estupefacientes e psicotrópicos devem estar numeradas e conter um carimbo
que identifique inequivocamente o respetivo centro de custos. Quando entregues aos SF,
devem fazer-se acompanhar do impresso “Registo de Receção de Prescrições de
Estupefaciente e Psicotrópicos” que deve ser preenchida por um farmacêutico ou TF (na
ausência do primeiro) e deve acompanhar a medicação de volta ao serviço requisitante.
A dispensa de hemoderivados está associada a um circuito especial que dá
cumprimento ao Despacho Conjunto nº 1051/2000 (2ª série) de 14 de setembro, publicado no
Diário da República nº 251 de 30 de outubro 2000 que regula o registo de medicamentos
derivados do plasma, seguindo um sistema especial de distribuição, mais propriamente a
distribuição personalizada, a qual consiste em dispensar a medicação por doente e para um
período de tempo definido [17]. Isto acontece devido à natureza destes medicamentos que, por
36
serem derivados do plasma humano, acarretam risco biológico, sendo sempre acompanhados
de certificados de análise emitidos pelo INFARMED e que asseguram a sua segurança.
Compete ao farmacêutico a dispensa de medicamento hemoderivados destinados aos
doentes internados nos diferentes serviços clínicos, nomeadamente aos Blocos Operatórios e
ao Serviço de Urgência. A prescrição é realizada em impresso Modelo nº 1804 da INCM [17].
Compete ao serviço clinico prescritor enviar autocolantes identificativos do doente a que se
destina o medicamento hemoderivado em quantidade suficiente, de forma a assegurar que
cada unidade dispensada é identificada com o nome do doente.
A dispensa destes medicamentos é acompanhada pelo preenchimento do quadro C do
impresso, sendo realizado o registo do nº de lote dispensado, bem como o nº do Certificado de
Autorização de Utilização do respetivo lote.
De forma a assegurar a rastreabilidade informática do lote de medicamentos
hemoderivados dispensados a cada doente através do CdM, o farmacêutico deve realizar o
débito assim que possível.

4.8. DISTRIBUIÇÃO EM REGIME DE AMBULATÓRIO

A dispensa de medicamentos a doentes em regime ambulatório, por parte dos SF do


HSA, surge da necessidade de se fazer face a situações de emergência em que o fornecimento
dos mesmos não possa ser assegurado pelas farmácias comunitárias; da necessidade de
vigilância e controlo de determinadas patologias crónicas, e terapêuticas prescritas em
estabelecimentos de cuidados de saúde diferenciados, em consequência de efeitos secundários
graves; da necessidade de assegurar a adesão dos doentes à terapêutica; e também pelo facto
da comparticipação de certos medicamentos só ser a 100% se forem dispensados pelos SF do
hospital [4].
Desta forma, para melhorar a prestação de cuidados de saúde, em qualidade,
oportunidade e comodidade para o cidadão, torna-se necessário permitir que as farmácias
hospitalares possam ser autorizadas a dispensar medicamentos, com fundamento em critérios
clínicos e em razões de natureza social, nas ocorrências de atendimento em serviço de
urgência [18], e no momento da alta, sempre que se justifique.
Indo ao encontro das boas práticas de farmácia hospitalar, os SF do HSA dispõem de
uma área destinada à dispensa dos medicamentos prescritos a doentes em regime de

37
ambulatório, facilmente acessível ao exterior e isolada do restante serviço, por forma a
garantir a privacidade do doente e a confidencialidade das informações prestadas [4].
A UFA é constituída por uma sala de espera com atendimento por ordem de chegada,
com a existência de um equipamento de senhas, a sala de atendimento onde se encontram três
balcões e o armazenamento dos medicamentos, quer em prateleiras de gavetas rolantes, quer
em frigoríficos (para medicação cuja conservação deve permanecer no intervalo de 2 a 8ºC).
Para a dispensa destes medicamentos é necessária uma prescrição médica através de
sistemas de prescrição eletrónica, como determina o Despacho n.º 13382/2012, de 4 de
outubro, emitida por um médico do CHP [19]. A prescrição eletrónica apresenta as vantagens
de garantir a adesão a formulários, ou linhas orientadoras de prescrição, e diminuir o número
de erros associados [4]. A prescrição médica deve ter a identificação do doente e do médico,
do local da prescrição, data de emissão, e identificação da substância prescrita por DCI,
dosagem, FF, posologia. Além disso, deve conter a indicação da duração da terapêutica ou a
data da próxima consulta, de forma a fornecer informação acerca do número total de unidades
do medicamento a dispensar ao doente [19]. Em caso de qualquer dúvida, que não permita a
validação da prescrição, o médico deve ser contatado.
O farmacêutico valida a dispensa dos medicamentos prescritos através de consulta dos
elementos relevantes do processo clinico do utente devendo, preferencialmente, registar a
dispensa nesse mesmo processo [19]. No ato da dispensa deve ser confirmado o medicamento,
verificado o estado físico da embalagem, o rótulo, o prazo de validade e o registo do respetivo
lote. O farmacêutico também é responsável pela transmissão de todas as informações
necessárias à utilização correta dos medicamentos dispensados a esclarecer todas as dúvidas
dos utentes.
Os regimes especiais de comparticipação de dispensa em farmácia de ambulatório
estão definidos no ANEXO 12 por patologia especial definidos pela respetiva legislação em
vigor.

38
5. FARMACOTECNIA

Segundo o Programa do Medicamento Hospitalar do Ministério da Saúde, a


farmacotecnia é um setor dos SF onde é efetuada a preparação de formulações de
medicamentos necessários ao hospital [20].
A existência do setor de farmacotecnia permite garantir uma resposta às necessidades
específicas de determinados utentes através da personalização da terapêutica (adaptação do
medicamento ao perfil fisiopatológico do utente), assegurando uma maior qualidade e
segurança na preparação de medicamentos e uma gestão mais racional de recursos.
No HSA, o setor de farmacotecnia integra as unidades representadas na Figura 1.

FARMACOTECNIA

ESTÉREIS NÃO ESTÉREIS

UNIDADE DE UNIDADE DE UNIDADE DE UNIDADE DE


FARMÁCIA PREPARAÇÃO PRODUÇÃO DE REIDENTIFICAÇÃO E
ONCOLÓGICA DE ESTÉREIS NÃO ESTÉREIS REMBALAMENTO

Figura 3 Setores de Farmacotecnia

5.1. UNIDADE DE REIDENTIFICAÇÃO E REEMBALAMENTO

O acondicionamento de medicamentos de forma unitária constitui uma peça essencial


dos sistemas de distribuição de medicamentos em dose unitária dentro de um hospital [21].
No HSA, o setor de reembalagem possibilita a reidentificação e individualização de
formas farmacêuticas orais sólidas de maneira a assegurar a segurança e qualidade do
medicamento, tendo como principais objetivos [22]:
 Permitir que os SF disponham o medicamento, na dose prescrita e de forma
individualizada, permitindo assim a agilização do processo da DID;
 Reduzir os riscos de contaminação do medicamento e erros de administração;
 Garantir uma identificação do medicamento (DCI, dosagem, FF, lote e prazo de
validade) facilmente visível e percetível;
39
 Proteger o medicamento reembalado face a agentes ambientais, mantendo a
estabilidade físico-química e microbiológica do mesmo.

A reembalagem de medicamentos é realizada numa sala apropriada, que se encontra


equipada com dois sistemas de automação que tornam este processo mais rentável,
nomeadamente a Blispack® e a máquina semiautomática Auto-PrintTM que possibilita a
reembalagem de formas farmacêuticas orais sólidas fracionadas e/ou fotossensíveis.
A Blispack® simplifica o processo de reembalamento de medicamentos em dose
unitária assegurando a sua identificação através de um sistema de código de barras que pode
ser configurado para suprir as necessidades hospitalares (e de integração com futuros sistemas
electrónicos) [23].
No ANEXO 13 está representado um exemplar da identificação de um medicamento.
A Auto-PrintTM é utilizada para várias situações de necessidade de reembalamento, tais
como:
 Medicamentos acondicionados na sua embalagem primária que não apresentem
identificação individual adequada e facilmente visível;
 Medicamentos que estejam acondicionados em embalagens que não permitem a sua
individualização sem a sua manipulação (e.g. frascos);
 Medicamentos que necessitem de fracionamento (procedimento que permite obter
frações da dosagem do medicamento, possibilitando a utilização de dosagem não
disponíveis no mercado, sem prejuízo para as propriedades físico-químicas e
biofarmacêuticas da formulação (comprovado pelo Resumo das Características do
Medicamento (RCM));
 Medicamentos que necessitem de condições especiais de armazenamento (proteção da
luz).

No primeiro caso, como se mantém o acondicionamento original (embalagem


primária), este é reembalado e identificado com o prazo de validade de origem (definido pelo
laboratório).
Nos casos restantes, a atribuição do prazo de validade vai de acordo com as
recomendações da U.S. Pharmacopeial 2008-2009 [24]: “ a validade dos medicamentos sólidos e
líquidos não estéreis reembalados, em material de reembalagem para unidose, é de um ano ou a data
de validade da embalagem original (no caso desta ser inferior a um ano), exceptuando as situações
em que o laboratório produtor dê indicações específicas nesta matéria”.

40
No final do dia procede-se à impressão da listagem diária de registo de medicamentos
reembalados, para que um TF verifique se os medicamentos reembalados estão conforme as
normas de procedimento específicas.

5.2. UNIDADE DE PRODUÇÃO DE NÃO ESTÉREIS

A preparação de medicamentos manipulados não estéreis surge para satisfazer a


terapêutica de doentes específicos ou as necessidades de determinados serviços hospitalares.
A legislação que regula a preparação de medicamentos manipulados é o Decreto-Lei
n.º 95/2004, de 22 de abril, que regula o regime jurídico a que devem obedecer a prescrição e
a preparação de medicamentos manipulados, e a Portaria n.º 594/2004, de 2 de junho, que
aprova as boas práticas a observar na preparação de medicamentos manipulados em farmácia
de oficina e hospitalar [25, 10].
Os pedidos que chegam à Unidade de Preparação de Não Estéreis (UPNE) podem
chegar através do sistema informático (através do GHAF®) provenientes dos serviços clínicos
e do sistema Kanban provenientes do APF (e.g. antisséticos e desinfetantes) e caixas Kanbam
provenientes da DID (e.g. dietas modulares).
De forma a garantir a qualidade do produto final, o TF deve iniciar o seu trabalho
regendo-se por regras básicas de higiene e segurança, que compreende o uso do fardamento
correto (bata branca, touca, máscara e luvas), a desinfeção da bancada de trabalho com
compressas humedecidas em álcool a 70º antes e depois de cada preparação e a colocação de
folha vegetal esterilizada sobre o campo de trabalho, sendo rejeitada após cada preparação.
Após reunir todas as condições de trabalho necessárias, o TF procede à avaliação dos
pedidos, definindo os prioritários para que o farmacêutico emita as ordens de preparação
(ANEXO 14) e imprima os rótulos identificativos do produto final. De seguida, o TF segue as
seguintes ordens de trabalho:
1. Preparar o campo de trabalho com todas as matérias-primas e materiais necessários,
registando o lote, prazo de validade e laboratório de cada matéria-prima;
2. Preparar o manipulado de acordo com o procedimento descrito na ordem de
preparação. O farmacêutico é responsável por supervisionar todos os passos da
preparação;
3. Proceder aos ensaios de verificação indicados na ordem de preparação, verificando se
os valores estão conforme as especificações da Farmacopeia VII;
41
4. Se o produto final estiver conforme procede-se ao acondicionamento em embalagem
primária, caso não possua as condições especificadas é rejeitado.
5. Proceder à rotulagem confirmando sempre as informações do rótulo e se são
necessárias condições específicas de acondicionamento (e.g. produtos termolábeis
necessitam da identificação “Conservar no Frio”);
6. Arrumar e desinfetar o campo de trabalho;
7. Realizar os débitos das matérias-primas (informaticamente e manualmente) e
satisfazer os pedidos informaticamente (através de débitos aos centro de custos dos
serviços clínicos ou por transferência de armazém);
8. Arquivar a ordem de preparação.
A atribuição de lotes internos permite uma identificação própria ao manipulado,
permitindo a sua rastreabilidade caso seja necessário. Assim, cabe ao farmacêutico atribuir
um lote para cada preparação possuindo uma abreviação da identificação do manipulado (e.g.
SOHDC10: solução de hidrato de cloral a 10%), um número atribuído automaticamente pelo
sistema informático (nº da sessão do produto) e as iniciais do operador e do supervisor da
preparação.

5.3. PREPARAÇÃO DE FÓRMULAS FARMACÊUTICAS ESTÉREIS

O fabrico de preparações estéreis requer cuidados especiais de esterilidade, higiene e


segurança, de modo a minimizar a contaminação microbiológica e a existência de pirogénios
[4]. Assim, no HSA as preparações são feitas em áreas limpas e separadas em que a entrada
de pessoal e dos materiais é feito por antecâmaras. As áreas limpas são mantidas num estado
de limpeza convencionado e alimentadas com ar devidamente filtrado, de acordo com o
descrito no Estatuto do Medicamento [26].
Nos SF do HSA a preparação de fórmulas farmacêuticas estéreis ocorre em dois
setores: Unidade de Preparação de Estéreis (UPE) e UFO.

5.3.1. Unidade de Preparação de Estéreis

A NP foi desenvolvida para doentes intolerantes ou que não recebem adequadamente


nutrientes por administração oral ou entérica. Este tipo de nutrição é a última a ser
considerada quando se pretende fornecer um aporte calórico adequado a um utente, por ser a

42
menos fisiológica, uma vez que os nutrientes administrados ultrapassam as fases de ingestão,
digestão, absorção e a primeira passagem de metabolização hepática [27]. Por esse motivo, o
principal objetivo da NP é manter o estado nutricional do utente e possibilitar o rápido retorno
à alimentação por via oral ou entérica.
A NP é prescrita de acordo com as necessidades calóricas individuais dos doentes,
baseadas, por exemplo, na idade, no sexo, no peso, na situação clínica e nos valores dos
parâmetros analíticos. Os componentes imprescindíveis na nutrição artificial são os
macronutrientes (proteínas, lípidos e hidratos de carbono) e os micronutrientes (vitaminas e
eletrólitos).
A UPE é um setor de circulação restrita e está subdividido em três zonas diferenciadas, a
fim de garantir todas as condições de esterilidade e segurança das preparações. Estas zonas
estão classificadas conforme o grau de contaminação e ao longo da sua passagem apresentam
alguns procedimentos a efetuar por parte dos operadores:

 Zona negra (exterior): o operador deve retirar a bata e os adornos provenientes do


exterior e sentar-se no banco corrido, colocar os protetores de calçado e torcer o dorso
para que já só pise a zona seguinte;
 Zona cinzenta (antecâmara): efetuar uma lavagem assética das mãos com sabão
líquido, colocar a touca, máscara e bata cirúrgica. Desinfetar higienicamente as mãos
com solução antissética (clorohexidina a 4%) e calçar o 1º par de luvas de látex
esterilizadas;
 Zona branca (sala de preparação): entrar na sala de preparação e colocar o 2º par de
luvas de reforço e desinfetar as mãos com
álcool a 70º antes de iniciar a preparação.

A sala de preparação encontra-se em pressão


positiva para evitar a entrada de qualquer fonte de
contaminação e está equipada com uma Câmara de
Fluxo Laminar Vertical (CFLV) classe II B2 (Figura
2). Esta câmara é específica para preparações estéreis
de medicamentos que apresentam toxicidade, pelo
que o seu fluxo protege tanto o manipulado como o
manipulador. Contudo, a utilização da mesma neste Figura 4 Câmara de Fluxo Laminar
Vertical classe II B2 (Direcção-Geral das
setor tem apenas como objetivo proteger o instalações e equipamentos de saúde
(2005). Classificação, Seleção e Instalação
de Câmaras de Fluxo de ar Laminar; 43
Ministério da Saúde)
preparado, visto que as matérias-primas utilizadas são isentas de toxicidade, não pondo em
risco a segurança do preparador. A CFLV deve estar ligada alguns minutos antes de se iniciar
a manipulação.
Na zona branca existe uma bancada com stock móvel de medicamentos e material
clínico necessário para a manipulação, que é preparado e desinfetado com álcool a 70º por um
AO no dia anterior. Na zona de acondicionamento do produto final, existe uma balança que
permite a pesagem das preparações, para se proceder ao controlo de peso, que não pode ser
superior ou inferior a 5% dos valores predefinidos.
Antes de iniciar a preparação da NP e dos outros estéreis é necessário ter em atenção
alguns aspetos:
 Borrifar todo o material clínico e os constituintes com álcool a 70º antes da sua entrada
para o interior da CFLV;
 Colocar no interior da CFLV um campo de trabalho, gazes embebidas em álcool a 70º
e um contentor amarelo tipo IV para colocar o material contaminado, bem como
material cortante e perfurante;
 Utilizar seringas de volume adequado e spikes com filtro de partículas caso exista
necessidade de ser efetuada a reconstituição de liofilizados;
 Empregar a técnica assética (conjunto de procedimentos que se realizam com o fim de
minimizar a possibilidade de contaminação microbiana);
 Verificar se a ordem corresponde ao rótulo identificativo. A emissão das ordens é feita
por um farmacêutico de apoio.

Na UPE do HSA realizam-se as seguintes preparações:


 Aditivação de micronutrientes a bolsas standard tricompartimentadas (aminoácidos,
glicose e lípidos);
 Preparação de bolsas personalizadas de NP para a neonatologia;
 Fortificação de colírios (adição de antimicrobianos a colírios já existentes);
 Desdobramentos: manipulados cuja finalidade é individualizar o volume de fármaco
em doses únicas de administração (preparação em menores quantidades de heparinas,
morfinas, antimicrobianos, entre outros).
Para a adição dos nutrientes é utilizado um circuito fechado com rampa constituído
por conetores e torneiras. A adição dos diferentes constituintes deve seguir uma ordem pré-
estabelecida de forma a garantir a estabilidade da preparação (ANEXO 15), sendo essa adição
da responsabilidade dos farmacêuticos. O TF fica a cargo de efetuar as medições de todas as
44
soluções. A solução constituída por lípidos e vitaminas solúveis é preparada em separado por
questões de estabilidade, sendo adicionada à bolsa pelo enfermeiro imediatamente antes da
administração. No caso de se tratar de uma aditivação a uma bolsa standard, é necessário no
final da preparação proceder-se à quebra de ligação entre a parte lipídica e os restantes
constituintes da bolsa. Ao longo da preparação deve ser feita uma verificação de integridade
das preparações através de um controlo visual pois a presença de precipitação, cristalização e
alteração da cor pode representar um indicativo de instabilidade da preparação.
No final da preparação é necessário proceder-se ao acondicionamento e à identificação
da mesma, onde inicialmente é feita uma identificação primária com um rótulo que identifica
a preparação, procedendo-se de seguida ao acondicionamento com papel de alumínio
(proteção da luz) e à identificação com um segundo rótulo com informação adicional
(identificação do utente, do serviço requisitante, data de preparação e prazo de validade) e por
último acondicionar numa manga plástica de termosselagem (ANEXO 16).
Para um maior controlo microbiológico das preparações, são efetuadas todos os dias
ensaios de esterilidade (primeira preparação, preparação aleatória ao longo do dia e última
bolsa) e são enviados devidamente identificados com o processo do utente para o Serviço de
Microbiologia.
A desinfeção da CFLV é da responsabilidade do TF e é efetuada todos os dias, antes e
depois das preparações, utilizando compressas embebidas em álcool a 70º efetuando uma
desinfeção de cima para baixo, e de dentro para fora. Antes de iniciar a produção, a CFLV
deve ser ligada 30 minutos antes para deixar o fluxo estabilizar. No final do dia são ligados os
raios UV para efetuar a esterilização. Uma vez por semana, a CFLV é desinfetada com
hipoclorito de sódio a 0,5%.
As bolsas de nutrição produzidas diariamente têm como destino o HSA, a CMIN,
doentes em regime de ambulatório do CHP e ainda para o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa
(Penafiel).

5.3.2. Unidade de Farmácia Oncológica

A quimioterapia desempenha um papel cada vez mais importante no tratamento de


doenças neoplásicas, verificando-se a necessidade crescente da manipulação de medicamentos
CTX a nível hospitalar.
O aumento do número de casos de doentes oncológicos chegados aos hospitais nos
últimos anos obrigou à criação de infra-estruturas, especialização de profissionais e

45
desenvolvimento de tratamentos eficazes para assegurar o máximo de qualidade de vida ao
doente oncológico. Contudo, existe uma preocupação crescente em relação à preparação deste
tipo de medicamentos, devido aos riscos ocupacionais que podem originar da exposição a que
profissionais de saúde envolvidos estão sujeitos. O Decreto-Lei nº 301/2000 regula a proteção
dos trabalhadores contra riscos ligados à exposição a agentes cancerígenos durante o trabalho,
implementando medidas que visam preservar a segurança e saúde dos profissionais que
intervêm no circuito dos CTX.
A UFO localiza-se no edifício Dr. Luís de Carvalho, demonstrando vantagens devido à
localização no mesmo piso que o Hospital de Dia de Oncologia (HDO). Este setor é
responsável por preparar medicamentos de quimioterapia e produtos adjuvantes para os
serviços do HDO (serviço com mais prescrições diárias), Hospital de Dia de Hematologia
(HDH), Unidade Hospitalar de Dia Polivalente (UHDP), CMIN e Serviço de Internamento.
Tal como a UPE, esta unidade está subdividida em três zonas:
 Zona negra: sala de apoio onde se encontram armazenados todos os medicamentos e
material clínico. O TF deve vestir o fato de bloco e socos de borracha. Calçar os
protetores de calçado;
 Zona cinzenta: efetuar uma lavagem assética das mãos e colocar o Equipamento de
Proteção Individual (EPI): touca, máscara com filtro P3, óculos de proteção, bata
reforçada de baixa permeabilidade. Desinfetar higienicamente as mãos com solução
alcoólica com antissético residual e calçar o 1º par de luvas de látex esterilizadas;
 Zona branca: sala de preparação equipada com uma CFLV com filtros HEPA (High
Efficiency Particulate Air), um computador, um frigorífico e armários com todo o
material clínico necessário para a manipulação. Nesta sala existe um transfer que faz
ligação com a zona negra, onde são preparados, por um farmacêutico, os
medicamentos que vão ser utilizados e enviados num tabuleiro juntamente com o
rótulo. Todo o material colocado no transfer deve ser previamente desinfetado com
álcool a 70º assim como o próprio transfer. A sala apresenta uma pressão negativa,
para proteger as áreas subjacentes caso ocorra algum derrame significativo.

Antes de se iniciar as preparações os operadores devem colocar o 2º par de luvas de


látex reforçado de alta proteção e delimitar a área com um campo de preparação de CTX –
com uma superfície superior muito absorvente e uma superfície inferior totalmente
impermeável, servem para facilmente recolher eventuais derrames.

46
A prescrição médica de CTX é feita em modelo próprio para doentes em regime de
internamento (modelo de prescrição verde) e doentes em regime de ambulatório (modelo de
prescrição rosa). As doses e posologias a administrar são calculadas tendo em conta todo o
historial clínico e estrutura física do doente. A prescrição é feita de acordo com os protocolos
instituídos e aprovados pela Comissão de Coordenação Oncológica do CHP.
Após análise e validação da prescrição de CTX, o farmacêutico elabora a ordem de
preparação e os respetivos rótulos. Independentemente do tipo de preparação, na ordem
devem constar os dados identificativos do doente; a identificação do fármaco e volume a ser
utilizado; indicação do solvente de reconstituição a utilizar, no caso de se tratar de um
liofilizado; via de administração do fármaco; indicação do volume final; condições de
armazenamento (Temperatura Ambiente (TA), 2-8 ºC, Proteção da Luz (PL) e o tempo
durante o qual a preparação se mantém estável).
A UFO encontra-se informatizada com o programa Sistema de Apoio ao Médico
(SAM®) que permite averiguar a lista de doentes para os quais é necessário preparar a
medicação. À medida que vão aparecendo as “luzes verdes” no SAM® (significa que a
terapêutica de determinado doente está aprovada), o farmacêutico na sala de apoio prepara os
CTX e, juntamente com a ordem de preparação e rótulos, envia pelo transfer para a sala
branca onde se encontra um TF de apoio que prepara todo o material clínico necessário para o
TF operador iniciar a preparação.
Os procedimentos a efetuar durante a preparação são idênticos aos da preparação de
estéreis anteriormente referidos, com a especial atenção para a técnica assética com pressão
negativa e dupla verificação. A primeira consiste numa técnica que constitui a base da
manipulação de CTX quando é imprescindível o uso de agulhas. A técnica da pressão
negativa deve evitar que o frasco fique sobrepressão, caso contrário podem ocorrer derrames
e/ou aerossolização de CTX na superfície de trabalho, pelo que esta técnica evita a
contaminação do meio ambiente e do operador. Deste modo, apenas profissionais que
demonstrem competências em técnica assética com pressão negativa estão habilitados a
manipular este tipo de fármacos. A dupla verificação deve ser aplicada nas etapas críticas do
processo de produção e consiste na verificação dos volumes de fármacos medidos.
A maior parte das preparações feitas na UFO são bólus, que consistem na aspiração de
uma certa quantidade de fármaco para uma seringa que é vedada e posteriormente
administrada diretamente no doente, bombas infusoras de libertação prolongada e também,
muito frequentes, soluções diluídas em cloreto de sódio ou glucose. Os fármacos que não

47
forem gastos na sua totalidade podem ser reutilizados, desde que haja garantia de estabilidade
e que sejam corretamente reutilizados.
Após terminada a manipulação, um TF identifica corretamente as preparações,
processo idêntico à UPE, existindo igualmente dois rótulos identificativos e ainda rótulos
biohazard (próprios de CTX).
Todas as ordens de preparação são acopladas à prescrição médica do doente para se
manter atualizado o histórico clínico do mesmo. Todos estes dados são colocados em arquivo
por ordem alfabética do doente, para facilitar a sua consulta.
Uma questão que não pode ser descurada no circuito do CTX é a gestão dos resíduos
produzidos, não só pela proteção da saúde dos trabalhadores e da população em geral, mas
também pelo reconhecimento do importante papel que representa na preservação do ambiente.
O controlo de stock da UFO é contabilizado semanalmente, e é feita a requisição ao
APF através do sistema informático. Quando os CTX chegam à UFO e caso algum contenha
um novo lote, é necessário registá-lo informaticamente. A receção e o armazenamento de
CTX são efetuadas com luvas de nitrilo.

48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estágio Profissional II do Curso de Farmácia, reveste-se de importância


fundamental para os alunos, não só pela possibilidade de cimentar e aplicar a teoria até agora
adquirida como também, na prática, verificar o impacto dos nossos conhecimentos, entretanto
adquiridos, em plena execução de procedimentos em contexto da Farmácia Hospitalar. No
meu caso específico, tive o privilégio de, durante cerca de 4 meses, estagiar naquele que é
considerado o melhor hospital central da cidade do Porto.
Ao longo do estágio fui evoluindo, na medida em que adquiri bastantes conhecimentos
e práticas, assim como evolui imenso o meu sentido de prontidão, concentração e de
curiosidade. Devo isso os excelentes profissionais que me acompanharam durante este
percurso, que me ajudaram e ensinaram a ultrapassar as dificuldades, exigindo cada vez mais
de mim contribuindo bastante para o meu crescimento pessoal.
Nas instalações dos Serviços Farmacêuticos tive oportunidade de contatar com a maior
parte dos seus setores constituintes, participando nos diferentes sistemas de distribuição de
medicamentos e realizando praticamente todas as tarefas manuais executadas nestes setores,
tendo também oportunidade de observar e até mesmo participar na produção de
medicamentos estéreis e não estéreis.
Na minha opinião, os serviços que mais gostei foram a Distribuição Unitária e a
Unidade de Farmácia Oncológica, pois deixaram-me completamente à vontade para participar
nas atividades efetuadas nestes setores, e por sentir uma preocupação acrescida por parte dos
profissionais na minha evolução e na incrementação de novos conhecimentos sobre as
instruções de trabalho e precauções a ter no desenvolvimento das atividades. Também gostei
mais do ambiente na Distribuição Unitária porque existe maior movimentação de pessoas.
Apenas irei fazer uma apreciação crítica à Distribuição Unitária, onde penso que seria
extremamente necessário a mudança de algumas gavetas das malas dos serviços e uma
identificação mais cuidada das mesmas, uma vez que algumas gavetas se encontram em mau
estado de conservação, o que pode causar desperdícios devido à insegurança das mesmas, e a
identificação deveria ser colocada numa proteção plastificada mais segura, pois acontece com
alguma frequência a chegada das malas de distribuição aos serviços com gavetas sem a
identificação, o que pode induzir em erros de administração a utentes por parte dos
profissionais de enfermagem.

49
Por fim, resta-me referir que o balanço deste estágio foi positivo, pois permitiu
aprofundar e adquirir novos conhecimentos e experiências, e principalmente a criação de
laços de amizade com vários colegas de estágio e profissionais da farmácia.

50
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/BIBLIOGRAFIA

[1] Ministério da Saúde (Dezembro 1999). Decreto-Lei n.º 564/99: A carreira de técnico de
diagnóstico e terapêutica.
[2] Resenha histórica do Centro Hospitalar do Porto - Hospital de Santo António, EPE.
Disponível na internet: http://www.chporto.pt/. (Acedido a 27.Maio.2015).
[3] Legislação Farmacêutica Compilada (Fevereiro 1962). Decreto-Lei n.º 44 204:
Regulamento geral da Farmácia hospitalar.
[4] Brou, M. H., Feio, J. A., Mesquita, E., Ribeiro, R. M., Brito, M. C., Cravo, C., et al.
(2005). Manual da Farmácia Hospitalar.
[5] Kaizen Insitute. Disponível na internet: http://pt.kaizen.com. (Acedido a 2.Junho.2015).
[6] Fontes, N. (2005). Hospital Logisticks System: Kaizen Institute. Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto.
[7] Plano Nacional de Saúde 2011-2016. Estratégias para a Saúde: III.3) Eixos Estratégicos –
Qualidade em Saúde. Ministério da Saúde.
[8] Legislação Farmacêutica Compilada (Junho 2004). Despacho nº. 13885/2004: Formulário
Hospitalar Nacional de Medicamento – Obrigatoriedade de utilização.
[9] Ordem dos Farmacêuticos (Setembro 2010). Normas conjuntas FIP/OMS para as Boas
Práticas de Farmácia: Diretrizes para a qualidade dos serviços farmacêuticos.
[10] Legislação Farmacêutica Compilada (Junho 2004). Portaria n.º 594/2004: Aprova as boas
práticas a observar na preparação de medicamentos manipulados em farmácia de oficina e
hospitalar.
[11] Legislação Farmacêutica Compilada (Janeiro 2007). Portaria n.º 155/2007: Cria o
Código Hospitalar Nacional do Medicamento.
[12] INFARMED – Estabilidade de medicamentos. Disponível na internet:
https://www.infarmed.pt. (Acedido a 13.Junho.2015).
[13] Crujeira, R., Furtado, C., Feio, J., Falcão, F., Carinha, P., Machado, F. et al. (Março de
2007). Programa do Medicamento Hospitalar.
[14] ACSS (2011), Boas Práticas na Área do Medicamento Hospitalar. Disponível em:
http://www.min-saude.pt. (Acedido a 15.Junho.2015).
[15] Legislação Farmacêutica Compilada (Janeiro 1993). Portaria n.º 15/93: Regime jurídico
do tráfico e consumo de estupefacientes e psicotrópicos.

51
[16] Legislação Farmacêutica Compilada (Junho 1998). Portaria n.º 981/98: Execução das
medidas de controlo de estupefacientes e psicotrópicos.
[17] Legislação Farmacêutica Compilada (Setembro 2000). Despacho conjunto n.º
1051/2000: Registo de medicamentos derivados do plasma.
[18] Legislação Farmacêutica Compilada (Setembro 2000). Decreto-Lei n.º 206/2000:
Dispensa de medicamentos pela farmácia hospitalar por razões objectivas.
[19] Legislação Farmacêutica Compilada (Outubro de 2012). Despacho n.º 13382/2012:
Determina que a prescrição de medicamentos, para dispensa em regime de ambulatório pelas
farmácias hospitalares, é obrigatoriamente realizada através de sistemas de prescrição
eletrónica.
[20] Crujeira, R., Furtado, C., Feio, J., Falcão, F., Carinha, P., et al. (Março 2007). Programa
do Medicamento Hospitalar. Ministério da Saúde - Gabinete do Secretário de Estado da
Saúde.
[21] Morgado, M., Rolo, S., Cerezo, A. (2005) Reembalagem de medicamentos sólidos orais.
Publicación oficial de la organización de farmacéuticos ibero-latinoamericanos (vol. 15 – nº
4).
[22] Zubizarreta, M., Esteban, M., Rodríguez, A., López-Coterilla, A. (2003)
Acondicionamiento de medicamentos en dosis unitarias: ¿Reenvasar o reetiquetar?
Publicación oficial de la organización de farmacéuticos ibero-latinoamericanos (vol. 13 – nº
1).
[23] Grifols Engineering – We know how. Disponível na internet:
http://www.grifolsengineering.com. (Acedido a 11.Junho.2015).
[24] U.S. Pharmacopeial 2008-2009. Disponível na internet: http://www.usp.org. (Acedido a
11.Junho.2015).
[25] Legislação Farmacêutica Compilada (Abril 2004). Decreto-Lei n.º 95/2004: Regula a
prescrição e a preparação de medicamentos manipulados.
[26] Legislação Farmacêutica Compilada (Agosto 2006). Decreto-Lei n.º 176/2006: Estatuto
do Medicamento.
[27] Caramona, M., Esteves, A., Gonçalves, J., Macedo, T., Osswald, W., et al. (Março 2011)
Prontuário Terapêutico. Infarmed -Ministério da Saúde.

52
8. ANEXOS

53
ANEXO 1 – Protótipo da organização dos Serviços Farmacêuticos do HSA

A – Entrada e Sala de Espera de Utentes


B – Unidade de Farmácia de Ambulatório
C – Gabinete da Diretora dos Serviços Farmacêuticos
D – sala de reuniões/Biblioteca
E – Gabinete Farmacêutico
F – Gabinete Farmacêutico
G – Unidade de Produção de Não Estéreis
H – Gabinete da área de Produção
I – Unidade de Preparação de Estéreis
J – Armazém de Antisséticos e Desinfetantes
K – Zona de Receção de Medicamentos/Produtos
Farmacêuticos
L – Armazém de Produtos Farmacêuticos
M – Sala de Reembalamento
O – Área de Distribuição Individual Diária
P – Sala de Pessoal/Copa
Q – Cacifos
S – Câmara Frigorífica
1 – Soluções de Grande Volume
2 – Nutrição Entérica e Parentérica
3 – Material de Penso
4 – Produtos de Contraste, Colírios e Pomadas Oftálmicas,
gotas auriculares, soluções nasais, manipulados e antídotos
5 – Medicação Geral
6 – Medicação Específica da UFA

54
ANEXO 2 – Casa do Hospital Logistics System (HLS)

ANEXO 3 – Estrutura do KAIZEN Office

55
ANEXO 4 – Cartão Kanban e Caixa Kanban

Anexo 5 – Esquema Circuito do Medicamento

56
ANEXO 6 – Fatura e Guia de remessa | Receção de encomendas exteriores

57
58
Anexo 7 – Requisição de medicamentos/produtos farmacêuticos ao APF

59
ANEXO 8 – Requisição manual de Antisséticos e Desinfetantes

60
ANEXO 9 - Registo de Intervenções Técnicas

61
ANEXO 10 – Lista alterações de medicação na DID

62
ANEXO 11 – Requisição de Reposição de Stocks Nivelados

63
ANEXO 12 - Regimes especiais de comparticipação de dispensa em farmácia de ambulatório

Patologia Especial Âmbito Comp. Legislação

Despacho n.º 18419/2010, de


2/12, alterado pelo Despacho
Artrite reumatóide;
n.º 1845/2011, de 12/01,
Espondilite anquilosante; Lista de medicamentos referidos
Declaração de Rectificação n.º
Artrite psoriática; Artrite no anexo ao Despacho n.º
100% 286/2011, de 31/01, Despacho
idiopática juvenil 18419/2010, de 2 de Dezembro
n.º 17503-A/2011, de 29/12,
poliarticular e Psoríase em
Despacho n.º 14242/2012, de
placas
25/10 e Despacho n.º
9082/2014, de 07/07

Fibrose quística Medicamentos comparticipados 100% Despacho n.º 24/89, de 2/2

Despacho n.º 3/91, de 08/02,


alterado pelo Despacho n.º
11619/2003, de 22/05,
Despacho n.º 14916/2004, de
Doentes insuficientes Medicamentos incluídos no anexo
02/07, Rectificação nº
crónicos e transplantados do Desp. n.º 3/91, de 08 de
100% 1858/2004, de 07/09,
renais Fevereiro
Despacho nº 25909/2006, de
Lista de Medicamentos
30/11, Despacho n.º
10053/2007 de 27/04 e e
Despacho n.º 8680/2011 de
17/06

Medicamentos contendo ferro Despacho n.º 10/96, de 16/05;


para administração intravenosa; Despacho n.º 9825/98, 13/05,
Medicamentos (DCI): Eprex alterado pelo Despacho n.º
(epoetina alfa); Neorecormon 6370/2002, de 07/03,
Doentes insuficientes
(epoetina beta); Retacrit (epoetina 100% Despacho n.º 22569/2008, de
renais crónicos
zeta); Aranesp (darbepoetina 22/08, Despacho n.º
alfa); Mircera 29793/2008, de 11/11 e
(Metoxipolietilenoglicol-epoetina Despacho n.º 5821/2011, de
beta). 25/03

Medicamentos antiretrovíricos
indicados para o tratamento da
Indivíduos afectados pelo
infeção pelo VIH/sida no termos e 100% Despacho nº 6716/2012
VIH
condições referidas no Despacho
nº 6716/2012

Deficiência da hormona de
crescimento na criança; Medicamentos contendo hormona
Síndrome de Turner; de crescimento nas indicações
Despacho n.º 12455/2010, de
Perturbações do terapêuticas referidas no 100%
22/07
crescimento; Síndrome de Despacho n.º 12455/2010, de 22
Prader-Willi e Terapêutica de Julho
de substituição em adultos

Esclerose lateral Lista de medicamentos referidos Despacho n.º 8599/2009,


100%
amiotrófica (ELA) no anexo ao Despacho n.º de 19/03, alterado pelo

64
Patologia Especial Âmbito Comp. Legislação

8599/2009, de 19 de Março Despacho n.º 14094/2012, de


16/10

Síndrome de Lennox-
Taloxa 100% Desp. 13 622/99, de 26/5
Gastaut

Medicação antiespástica, anti-


Paraplegias espásticas depressiva, indutora do sono e
familiares e ataxias vitamínica , desde que prescrita
Despacho n.º 19 972/99 (2.ª
cerebelosas hereditárias, em consultas de neurologia dos 100%
série), de 20/9
nomeadamente a doença de hospitais da rede oficial e
Machado-Joseph dispensada pelos mesmos
hospitais

Despacho n.º 6818/2004, de


10/03, alterado pelo Despacho
n.º 3069/2005, de 24/01,
Despacho n.º 15827/2006, de
23/06, Despacho n.º
19964/2008, de 15/07,
Despacho n.º 8598/2009, de
Lista de medicamentos referidos 26/03, Despacho n.º
Profilaxia da rejeição
no anexo ao Despacho n.º 14122/2009, de 12/06,
aguda de transplante renal 100%
6818/2004 (2.ª série), de 10 de Despacho n.º 19697/2009, de
alogénico
Março 21/08, Despacho n.º
5727/2010, de 23/03,
Despacho n.º 5823/2011, de
25/03, Despacho n.º 772/2012,
de 12/01, Declaração de
retificação n.º 347/2012, de
03/02 e Despacho n.º
8345/2012, de 12/06

Despacho n.º 6818/2004, de


10/03, alterado pelo Despacho
n.º 3069/2005, de 24/01,
Despacho n.º 15827/2006, de
23/06, Despacho n.º
19964/2008, de 15/07,
Despacho n.º 8598/2009, de
Lista de medicamentos referidos 26/03, Despacho n.º
Profilaxia da rejeição
no anexo ao Despacho n.º 14122/2009, de 12/06,
aguda do transplante 100%
6818/2004 (2.ª série), de 10 de Despacho n.º 19697/2009, de
cardíaco alogénico
Março 21/08, Despacho n.º
5727/2010, de 23/03,
Despacho n.º 5823/2011, de
25/03, Despacho n.º 772/2012,
de 12/01, Declaração de
retificação n.º 347/2012, de
03/02 e Despacho n.º
8345/2012, de 12/06

Profilaxia da rejeição Lista de medicamentos referidos 100% Despacho n.º 6818/2004, de

65
Patologia Especial Âmbito Comp. Legislação

aguda do transplante no anexo ao Despacho n.º 10/03, alterado pelo Despacho


hepático alogénico 6818/2004 (2.ª série), de 10 de n.º 3069/2005, de 24/01,
Março Despacho n.º 15827/2006, de
23/06, Despacho n.º
19964/2008, de 15/07,
Despacho n.º 8598/2009, de
26/03, Despacho n.º
14122/2009, de 12/06,
Despacho n.º 19697/2009, de
21/08, Despacho n.º
5727/2010, de 23/03,
Despacho n.º 5823/2011, de
25/03, Despacho n.º 772/2012,
de 12/01, Declaração de
retificação n.º 347/2012, de
03/02 e Despacho n.º
8345/2012, de 12/06

Boceprevir;
Peginterferão alfa 2-a;
Portaria n.º 158/2014, de
Peginterferão alfa 2-b;
Doentes com hepatite C 100% 13/02, alterada pela Portaria
Ribavirina;
n.º 114-A/2015, de 17/02.
Sofosbuvir;
Ledipasvir + Sofusbuvir.

Despacho n.º 11728/2004, de


17/05; alterado pelo Despacho
n.º 5775/2005, de 18/02,
Lista de medicamentos referidos
Rectificação n.º653/2005, de
no anexo ao Despacho n.º
Esclerose múltipla (EM) 100% 08/04, Despacho
11728/2004 (2.ª série), de 17 de
n.º10303/2009, de 13/04,
Maio
Despacho n.º12456/2010, de
22/07 e Despacho n.º
13654/2012, de 12/10

Lista de medicamentos referidos Desp. n.º 3837/2005, (2ª série)


Doentes acromegálicos no anexo ao Desp. n.º 3837/2005, 100% de 27/01; Rectificação nº
(2ª série) de 27/01 652/2005, de 06/04

Lista de medicamentos referidos


Doença de Crohn ou Colite Despacho n.º 9767/2014, de 21
no anexo ao Despacho n.º 100%
Ulcerosa de julho
9767/2014, de 21 de julho

Hiperfenilalaninemia Kuvan 100% Despacho n.º 1261/2014

66
ANEXO 13 - Identificação de medicamentos pela Blispack®

Anexo 14 – Ordem de Preparação da UPNE

67
Anexo 15 – Lista de soluções de micro e macronutrientes

Anexo 16 – Rótulo identificativo de uma bolsa de NP

68
9. PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO: ANÁLISE E
INTERPRETAÇÃO

O perfil farmacoterapêutico dos utentes permite aos profissionais de farmácia aplicar


os seus conhecimentos sobre problemas de saúde e medicamentos com o objetivo de atingir
resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos doentes.
As instituições de saúde hospitalares caracterizam-se essencialmente pelo tratamento
da maioria das patologias graves e por utilizarem tratamentos agressivos e de elevado custo.
Os gestores e as comissões especializadas destas instituições têm como objetivo fundamental
a promoção do uso racional dos medicamentos, assim como, a racionalização da utilização
dos recursos existentes. Neste propósito, encontram-se os agentes de intervenção – médico
prescritor, Comissão de Farmácia e Terapêutica e Farmacêutico e Técnico de Farmácia [1].
Os Técnicos de Farmácia, desenvolvem um conjunto diversificado de atividades de
acordo com o seu estatuto legal, estabelecido no Decreto-Lei n.º 564/99, de 21 de Dezembro,
relacionadas com o “circuito do medicamento, tais como análises e ensaios farmacológicos,
interpretação da prescrição terapêutica e de fórmulas farmacêuticas, sua preparação, identificação e
distribuição, controlo da conservação, distribuição e stocks de medicamentos e outros produtos,
informação e aconselhamento sobre o uso de medicamentos” [2].
O técnico de farmácia desempenha um papel predominante na monitorização da
qualidade e segurança da dispensa e utilização dos medicamentos, detetando falhas da
farmacoterapia e identificando/prevenindo resultados negativos associados à medicação,
através do aumento da eficácia terapêutica farmacológica ou da prevenção das reações
adversas, reduzindo assim, a mortalidade e morbilidade associados aos medicamentos [1].
A importância do perfil farmacoterapêutico torna necessária a formação contínua e
atualização de todos os profissionais de saúde envolvidos nesta área, com vista na obtenção
do máximo benefício terapêutico para o utente e racionalização de recursos.
No plano de atividades do Estágio Profissional II realizado nos serviços farmacêuticos
do Centro Hospitalar do Porto - Hospital de Santo António, EPE, sob a supervisão da técnica
Fátima Mendes e sob a orientação pedagógica da docente Anabela Santos, foi proposta a
elaboração de um perfil farmacoterapêutico. Assim, tive a oportunidade de selecionar um
perfil farmacoterapêutico pertencente a um utente internado num serviço clínico aleatório do
hospital, pelo que selecionei o Serviço de Medicina Interna, nomeadamente a Medicina B.

69
A Medicina Interna é a especialidade médica que estuda o doente como um todo,
tendo em conta as relações entre os órgãos e sistemas do corpo humano.
Esta especialidade tem um papel fundamental na articulação entre as várias
especialidades que poderão ser necessárias para um diagnóstico ou tratamento médico e,
também, em situações críticas onde ocorrem problemas simultâneos em vários órgãos. É por
definição uma especialidade de cuidados a adultos e faz parte de um dos grandes pilares do
funcionamento dos Hospitais, especialmente nas urgências, nas consultas e no internamento.
A Medicina Interna é a mãe de todas as especialidades não cirúrgicas, sendo os
Internistas especialistas em diagnósticos difíceis e complexos quando a patologia afeta vários
órgãos ou sistemas, ou não é clara a origem da doença.
Nestes termos, o internista tem um papel essencial na equipa médica pluridisciplinar, na
medida em que tende a ser o melhor conhecedor da fisiopatologia global do doente
hospitalizado [3].
O perfil farmacoterapêutico escolhido pertence a um indivíduo do sexo masculino com
62 anos de idade, que iniciou a terapêutica no dia 03-06-2015 com a prescrição médica
representada na Tabela I.

Tabela 1 Perfil Farmacoterapêutico

Via de Forma
Medicamento Dose SOS|Frequência
Administração Farmacêutica
Furosemida Via oral Comprimido 40mg 24h/24h
Obs. ao pequeno- Dias Admin.: 2/2
almoço dias
Pantoprazol Via oral Comprimido 20mg Jejum

Ramipril Via oral Comprimido 5mg 24/24h

Finasterida Via oral Comprimido 5mg Jejum

Propiltiouracilo Via oral Comprimido 50mg Pequeno-Almoço

Paricalcitol Via oral Cápsula 1µg Pequeno-Almoço

Ácido Acetilsalicílico Via oral Comprimido 100mg Almoço

Tansolusina Via oral Comprimido de 0.4mg Ceia


libertação
prolongada
Nifedipina Via oral Comprimido de 30mg 24/24h
Obs. Ao jantar libertação
prolongada

70
Prednisolona Via oral Comprimido 40mg Pequeno-Almoço
Obs. após pequeno-
almoço
Atorvastatina Via oral Comprimido 20mg 24/24h

Através da análise do perfil farmacoterapêutico representado na Tabela I verifica-se


que o utente apresenta indícios de várias patologias relacionadas com o aparelho
cardiovascular, geniturinário, sistema endócrino e aparelho locomotor. A medicação prescrita
está indicada para o tratamento da hipertensão arterial, hipercolesterolemia, hiperplasia
benigna da próstata, hipertiroidismo e tratamentos adjuvantes à sintomatologia destas
patologias.
A Hipertensão Arterial constitui um dos principais fatores de risco de doenças
coronárias, de insuficiência cardíaca, dos acidentes vasculares cerebrais, e de
nefroangioesclerose [4]. Na maior parte dos casos, não há uma causa conhecida para a
hipertensão arterial, embora em algumas situações seja possível encontrar uma doença
associada que é a verdadeira causa da hipertensão arterial. Como por exemplo a apneia do
sono, a doença renal crónica, a hipertensão renovascular, a doença tiroideia e paratiroideia [5].
A hereditariedade e a idade são dois fatores a ter também em atenção. Em geral, quanto mais
idosa for a pessoa, maior a probabilidade de desenvolver hipertensão arterial. Cerca de dois
terços das pessoas com idade superior a 65 anos são hipertensas.
Os anti-hipertensores representam assim um importante grupo de substâncias na
prevenção da elevada morbilidade e mortalidade [4]. Para o tratamento da hipertensão arterial
do paciente, foi prescrito um tratamento combinado de três anti-hipertensores de diferentes
classes, nomeadamente o Ramipril comprimidos de 5mg, Nifedipina comprimidos de 30mg e
Furosemida comprimidos de 40mg. O ramipril é um inibidor da enzima de conversão da
angiotensina e por isso um anti-hipertensor de 1ª linha. É também utilizado com sucesso no
tratamento da Insuficiência Cardíaca. A nifedipina é um bloqueador de entrada de cálcio e a
furosemida um diurético de ansa e está indicado para a hipertensão arterial e também na
redução do edema pulmonar causado por Insuficiência Cardíaca [4].
A hipercolesterolemia é um importante fator de patogénese das doenças
cardiovasculares de natureza arteroesclerótica, sendo frequentemente recomendável o recurso
a fármacos. Destes, são de referir especialmente as estatinas e os fibratos. A Atorvastatina
comprimidos de 20mg foi o antidislipidémico prescrito. A atorvastatina é um inibidor de

71
redutase de HMG-CoA (estatina), que condiciona uma redução de colesterol LDL. A sua
importância deve-se também às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias [4].
No perfil farmacoterapêutico deste utente também foi prescrito Ácido Acetilsalicílico
comprimidos de 100mg, um antiagregante plaquetário que atua no sistema sanguíneo
prevenindo oclusões tromboembólicas agudas de circulação arterial, por reduzirem a
agregação das plaquetas e inibirem a formação de trombos. O ácido acetilsalicílico é o
fármaco de escolha para a profilaxia do tromboembolismo arterial ou doença cardiovascular
de longa duração. A prescrição deste medicamento ao utente pode estar relacionado com as
doenças cardiovasculares e hipertensão, estando indicado a toma diária deste medicamento a
indivíduos com mais de 50 anos de idade e que apresentem estas patologias [4].
A Hiperplasia Benigna da Próstata consiste num aumento das dimensões da próstata
que provoca gradualmente o bloqueio da uretra e assim uma perturbação do fluxo urinário. A
hipertrofia benigna da próstata é uma patologia comum cuja incidência aumenta com a idade
(a partir dos 50 anos). A sintomatologia urinária que acompanha a hipertrofia benigna da
próstata vai desde o aumento da frequência/urgência de urinar e nictúria até à obstrução
urinária [4, 6].
O tratamento farmacológico destina-se ao controlo da sintomatologia e, se possível, à
inibição da evolução da hipertrofia. Este tratamento constitui um recurso justificado quando a
sintomatologia é moderada e como forma de protelar o recurso à cirurgia. No arsenal
terapêutico para o tratamento da hipertrofia benigna da próstata destacam-se os antagonistas
adrenérgicos alfa-1, os inibidores de 5-alfa-reductase e alguns extratos de plantas. Para o
tratamento desta patologia foram prescritos dois medicamentos, nomeadamente a Finasterida
comprimido de 5mg e Tansulosina comprimido de libertação prolongada de 0.4mg. A
associação destes medicamentos é uma opção em doentes que apresentem maior volume
prostático e com inflamação prostática [4].
A Finasterida é um inibidor 5-alfa-reductase tipo II. Estes bloqueiam a conversão de
testosterona no seu metabolismo mais ativo, a 5-alfa-dihidrotestoterona. A inibição do
metabolismo da testosterona leva a uma redução do tamanho da próstata, embora este efeito
nem sempre seja acompanhado por melhorias sintomáticas no fluxo urinário [4].
A Tansulosina está indicada para a diminuição da sintomatologia urinária associada a
esta patologia, uma vez que, os antagonistas adrenérgicos alfa-1 relaxam os elementos
contráteis do tecido hiperplásico da próstata, melhorando a velocidade do fluxo urinário e
diminuindo a obstrução, sem comprometer a contratilidade da bexiga [4].

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O Hipertiroidismo é caracterizado pela hiperatividade da tiróide. O Propiltiouracilo
comprimidos de 50mg está indicado para o tratamento paliativo de hipertiroidismo
interferindo na síntese da hormona tiroideia, através da depleção de iodo na glândula tiróide e
redução a conversão da triroxina em triidotironina no tecido periférico. Estas características
permitem o tratamento sintomático de hipertiroidismo [4].
A prescrição de Paricalcitol cápsulas de 1 µg pode estar indicado como tratamento
adjuvante ao propiltiouracilo, uma vez que está indicado para a prevenção e tratamento do
hiperparatiroidismo secundário da insuficiência renal crónica. O paracalcitol é um
medicamento que atua no osso e no metabolismo do cálcio, e representa uma forma de
vitamina D [4].
No perfil farmacoterapêutico está ainda prescrito um corticosteroide, a Prednisolona
comprimidos de 40mg. A prednisolona é um corticosteroide de síntese usado principalmente
pelas suas propriedades anti-inflamatórias. A prescrição deste medicamento pode estar
relacionada com a sintomatologia da hiperplasia benigna da próstata (inflamação prostática).
A prescrição de Pantoprazol comprimidos de 20mg pode estar indicada para o
tratamento ou prevenção de algumas reações adversas provocadas pelo tratamento com ácido
acetilsalicílico, uma vez que este pode provocar azia, dispepsia, dor epigástrica, gastrite e
ocasionalmente úlcera péptica. O pantoprazol é um inibidor da bomba de protões que inibe a
secreção ácida por inibem a ATPase de H+ e K+. está indicado para o tratamento da doença de
refluxo gastroesofágico e dos sintomas associado, assim como manutenção e prevenção das
recidivas da esofagite de refluxo [4].
Ao longo da análise do perfil farmacoterapêutico verifiquei que alguns medicamentos
prescritos possuem interações medicamentosas, como o ramipril quando administrado
concomitantemente com corticosteroides (prednisolona) há um risco aumentado da ocorrência
de alterações hematológicas.
A furosemida deve ser utilizada com precaução em doentes com hiperplasia benigna
da próstata, podendo a frequência de administração, descrita na Tabela I, de 2/2 dias ser
justificada por este facto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS/BIBLIOGRAFIA

[1] Lopes, Ana Rita et al. Boas Práticas de Farmácia Hospitalar no Âmbito da Infeção
VIH/SIDA. 2008.
[2] Ministério da Saúde (Dezembro 1999). Decreto-Lei n.º 564/99: A carreira de técnico de
diagnóstico e terapêutica.
[3] Diários da República (Maio de 1986). Despacho 10/86: Determina as normas para o
estabelecimento, definição e caracterização da rede hospitalar nacional e consequente
estabelecimento da carta hospitalar portuguesa.
[4] Caramona, M., Esteves, A. P., Gonçalves, J., Macedo, T., Mendonça, J., Osswald, W.,
Pinheiro, R. L., Rodrigues, A., Sepodes, B., Teixeira, A. A. (2013). Prontuário Terapêutico
2013. INFARMED.
[5] Portal da Saúde – Hipertensão Arterial. Disponível na internet:
http://www.portaldasaude.pt/ (Acedido a 21.Junho.2015).
[6] Portal da Saúde – Hiperplasia Benigna da Próstata*. Disponível na internet:
http://www.portaldasaude.pt/ (Acedido a 21.Junho.2015).

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