A Física Na Cozinha
A Física Na Cozinha
A Física Na Cozinha
A FÍSICA NA COZINHA
BRASÍLIA
JUNHO DE 2008
A FÍSICA NA COZINHA
RESUMO
Este projeto tem como finalidade analisar o funcionamento dos fornos: a gás, elétrico e microondas;
seu procedimento físico-químico; além de comentar as curiosidades e superstições particulares de
cada. Por não se tratar de um trabalho inovador, o ponto referencial deste busca a ligação da
experimentação à teoria, o que justifica a análise contida neste trabalho para melhor desenvolvimento
das atividades cotidianas e ampliação do conhecimento acerca da ciência física. Buscou-se a análise
da eficiência de cada forno, sendo essa verificada pelo Teste de Fervura da Água – TFA, que mostra
como resultado o aparelho ideal para economia financeira, ambiental e de tempo, ponto primordial
atualmente, juntamente com uma revisão histórica.
2
INTRODUÇÃO
3
REFERENCIAL TEÓRICO
4
O avanço veio com a industrialização, e com ela novas tecnologias, como a
descoberta do gás para uso de energia e a eletricidade que vieram auxiliar e facilitar o uso
dos aparelhos domésticos.
No Brasil, Barão de Mauá foi o primeiro a introduzir a iluminação pública a gás no Rio
de Janeiro, ao ganhar a concorrência aberta pelo governo em 1849, numa sociedade com a
Inglaterra pela expansão do emprego do gás natural. Até o início do século XX, esta
iluminação era restrita aos espaços urbanizados, mas já era possível encontrar, desde 1892,
fornos e fogões de uso doméstico alimentados por gás. As instalações foram expandidas
mais rapidamente no tempo da República Velha até os primeiros anos da década de 30.
Ao longo das décadas de 50 e 60, a distribuição do gás foi absorvida pelas
companhias estatais. Naquele mesmo período em Portugal iniciara a produção do gás
butano, também chamado de GAZCIDLA1, na refinaria SACOR2, e o “gás de botija”3
começara a ser exportado para utilização doméstica e industrial. Os fogões que não
precisavam da lenha eram conhecidos como “máquinas de petróleo”, figura 3, somente
usados para fazer café ou chá. Esta máquina não foi muito utilizada, pois foi considerada
como uma máquina perigosa.
1
Gazcidla era o nome do gás butano comercializado pela CIDLA (Combustíveis Industriais e Domésticos).
2
SACOR - Sociedade Anônima Concessionária da Refinação de Petróleos foi criada em 1936 em Portugal.
3
Gás de botija é uma expressão usada em Portugal, o equivalente no Brasil é botijão de gás.
5
A maior parte das invenções dos eletrodomésticos foram registradas nos séculos XIX
e XX. O fogão elétrico foi inventado em torno de 1891. Não teve uma boa aceitabilidade pelo
mundo a fora. No Brasil, houve uma tentativa de comercialização entre 1920 e 1940, mas
devido a difícil manutenção e o alto preço do produto, não houve uma boa resposta no
mercado.
Após 1950 em paralelo aos aparelhos a gás iniciou-se a comercialização de fornos e
fogões elétricos pela empresa General Electric. Esta trouxe também a dificuldade de
inserção por causa da concorrência recente do fogão a gás. A partir de 1960, empresas
como a Brastemp e Cônsul começavam a comercializar fornos e fogões, difundindo o uso
dos aparelhos elétricos.
Outro eletrodoméstico de interesse neste trabalho é o forno de microondas. Este
descoberto ao acaso pelo engenheiro Percy Lebaron Spencer. Em 1939, Albert Wallace Hull
desenvolveu o magnetron, que gera microondas para radares de longo alcance e, dez anos
depois, Percy, de forma acidental (CARVALHO, 2005) percebeu que o leite se aquece
próximo ao magnetron, esta propriedade foi então utilizada na construção de fornos.
No mercado norte americano, segundo INMETRO (apud MOREIRA, 2001, p. 20) em
1947, chegaram as primeiras unidades de forno microondas, que mediam 1,68m de altura e
pesavam em torno de 340kg, custando aproximadamente cinco mil dólares. Em 1960,
começaram a projetar fornos mais convenientes para uso doméstico mas, somente em
1975, a venda dos fornos de microondas nos Estados Unidos superaram os de fogões a
gás, com a característica principal, a praticidade e rapidez na cozinha.
No governo Collor (com o Plano Collor) a entrada dos fornos de microondas ocorreu
de fato pois, na época, houve facilitações quanto às importações.
6
O FUNCIONAMENTO
Forno a gás
7
A evolução para o forno e fogão a gás deve-se ao fato de poluir menos, comparados
aos fogões à lenha, seu isolamento em fibra de cerâmica torna-os leves e perfeitamente
isolados. A vantagem do forno a gás está na facilidade de controle de temperatura, pela
variação da entrada de combustível, e ainda, pelos queimadores não atingirem diretamente
as panelas e os refratários com a chama.
Quanto à eficiência desses fornos, Dutt e Ravindranath (apud SANGA, 2004, p. 21)
mostram três testes padronizados para verificar a o bom funcionamento dos fogões:
1. Teste de fervura de água (TFA)
2. Teste de cozimento controlado (TCC)
3. Teste de desempenho na cozinha (TDC)
O teste TFA demonstra que uma quantidade determinada de água é fervida
lentamente, sendo registrado as variações de temperatura da água e o consumo de
combustível. A eficiência será calculada pela razão entre o calor absorvido pela água na
panela, o calor da água vaporizada - no caso o calor latente e o poder calorífico superior do
combustível (PCS).
Segundo Sanga, PCS é a quantidade de calor liberada pela combustão completa de
uma unidade em volume ou massa de um combustível, quando queimado completamente
em uma determinada temperatura, levando-se os produtos da combustão, por resfriamento,
à temperatura da mistura inicial na qual o vapor da água é condensado e o calor
recuperado. Desta forma, a equação que normatiza a eficiência dos fornos e fogões é:
E absorvido + E latente (1)
η=
PCS
onde, η é o rendimento do fogão, E absorvido é a energia absorvida, Elatente é a energia
8
Essa etiqueta exibe um sistema de classificação por letras de "A" a "E", sendo o
produto mais eficiente com a classificação "A" e o menos eficiente com a classificação "E". A
análise é realizada pelo rendimento médio dos queimadores e pelo consumo do forno. Há
também uma Portaria MME-MCT-MDIC n.º363/2007, que regulamenta os índices mínimos
de eficiência energética de fornos e fogões a gás, conforme a tabela 1:
Por esta mesma Portaria, os métodos de ensaio e cálculo dos índices de eficiência
energética do forno a gás podem ser verificados:
1) o Consumo de Manutenção é a medida da quantidade de gás por unidade de tempo que,
na combustão no queimador do forno é necessária para manter, no centro geométrico do
forno vazio, a elevação de 210ºC acima da temperatura ambiente. O ensaio para
determinação do consumo de manutenção do forno é realizado com gás de referência em
condições ambientes controladas;
2) o Método de Ensaio é o descrito na Norma Brasileira ABNT NBR 13723 - Aparelho
doméstico de cocção a gás, Parte 2: Uso Racional de Energia, da ABNT, considerando a
interpretação descrita no Regulamento de Avaliação da Conformidade para Fogões e
Fornos a Gás do INMETRO;
3) o Índice de Consumo (IC) é calculado conforme descrito no Regulamento de Avaliação da
Conformidade para Fogões e Fornos a Gás do INMETRO; e
4) Índice de Eficiência (IE) é calculado segundo a equação I E = 100% − I C .
4
Mesa de Cocção é a parte superior do fogão onde se encontra os queimadores (bocas).
9
Forno elétrico
10
Forno microondas
11
3. Em cada cavidade surge um campo elétrico devido a presença de capacitores e a
quantidade de elétrons, sendo que em uma das cavidades existe uma antena que
retira energia do sistema.
Figura 7: Magnetron
Fonte: http://www.if.ufrgs.br/~ivomai/artigos/micoondas/man_mcr.pdf
4. As microondas emitidas pelo magnetron são dispersas por um difusor, como uma
hélice de ventilador (figura 8).
5. A radiação é emitida por filamento
aquecido e potência elevada.
6. A radiação é absorvida pela água,
gorduras e açúcares, por isso aquecem
os alimentos e não os pratos e
travessas, sendo estes últimos
Figura 8: Forno microondas aquecidos por condução.
Fonte: arquivo pessoal da autora
7. O alimento a ser aquecido ou cozido é
composto por moléculas, sendo as polares responsáveis pelo alinhamento do campo
elétrico, conforme figura 9, o qual muda de posição de acordo com a freqüência
12
emitida e este processo leva as demais moléculas a acompanharem o movimento,
assim gera-se o aquecimento.
8. O aquecimento no forno é praticamente uniforme, ou seja, não há perda de energia,
o alimento é aquecido e por condução seu recipiente pode aquecer. O tempo de
cozimento é reduzido e o interior do forno se mantém frio.
Figura 9: Polarização de moléculas de água devido ao campo elétrico das Microondas. Na molécula de
água, as esferas pretas representam o Oxigênio “O” e as esferas brancas o Hidrogênio “H”.
Fonte: http://www.liec.ufscar.br/ceramica/curiosidades/microondas.php
9. As paredes do forno microondas são de metal, mas não afetam o aquecimento pois
as microondas são refletidas por estas paredes (aqui justifica-se o perigo de usar
vasilhames metálicos, pois ao emitir radiação sobre o mesmo serão provocadas
faíscas).
10. Recipientes de metal não podem ser utilizados para o cozimento no forno
microondas, pois as microondas são refletidas pelo metal.
11. O alimento ao ser bombardeado pelas microondas aquece no seu interior, mas não
ocorre evaporação, fazendo com que pontos do alimento tenham temperaturas
diferentes. Aqui é possível destacar, que o processo de aquecimento do alimento
engloba os três processos de transmissão de calo - condução, convecção e
radiação.
12. A reflexão das ondas eletromagnéticas formam um padrão no interior da câmara,
classificando as ondas, em relação a sua interferência, como construtivas e
destrutivas sendo possível justificar o fato das partes do alimento estarem mais
aquecidas do que outras.
13. O prato giratório tem como função manter o alimento aquecido de forma mais
homogênea.
13
14. A porta do forno microondas é um dispositivo de segurança, que impossibilita o
funcionamento do forno com a porta aberta, desta forma as ondas ficam confinadas
e não causam risco à saúde.
15. A tela metálica, que reveste a porta do forno, é protegida por duas placas de vidro,
sendo a espessura da tela muito menor que uma microonda e maior que o
comprimento de onda da luz visível, por esse motivo é possível observar o que
ocorre no interior da câmara. Utilizando a freqüência de 2,45GHz pode-se obter o
comprimento de onda na faixa de 0,12m, o que ressalta a veracidade e
funcionalidade da tela do forno microondas.
Tabela 2: Níveis de referência para exposição do público a campos elétricos e magnéticos variáveis no
tempo. (valores eficazes, não perturbados).
Densidade de potência de
Faixas de Intensidade de Intensidade de Campo B
-1 -1 onda plana equivalente Seg
freqüência Campo E (V.m ) campo H (A.m ) (µT) -2
(W.m )
Até 1 Hz - 3,2 x 104 4 x 104 -
1-8 Hz 10 000 3,2 x 104/f2 4 x 104/f2 -
8-25 Hz 10 000 4 000/f 5 000/f -
0,025 – 08 kHz 250/f 4/f 5/f -
0,8 – 3 kHz 250/f 5 6,25 -
3 – 150 kHz 87 5 6,25 -
0,15 – 1 MHz 87 0,73/f 0,92/f -
1 – 10 MHz 87/f1/2 0,73/f 0,92/f -
10 – 400 MHz 28 0,073 0,092 2
400 – 2 000 MHz 1,375f1/2 0,0037f1/2 0,0046f1/2 F/200
2 – 300 GHz 61 0,16 0,20 10
Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/nota_tecnica_014_cemf.pdf
14
TESTE DE EFICIÊNCIA DOS FORNOS
Materiais e métodos
15
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A curva obtida:
16
O experimento trouxe resultados muito peculiares, que podem ser observados nos
gráficos acima:
• No forno elétrico, por volta de 81ºC, houve um pico de temperatura. Aos 12 minutos,
o multímetro que media a temperatura pulou de 81ºC para 100ºC; então o multímetro
foi desligado e ligado novamente, e a temperatura medida passou a ser 73 ºC e a
temperatura continuou a crescer normalmente. A explicação mais provável para este
comportamento deve ser por causa de uma região mais aquecida no interior do
vasilhame, ou seja, uma bolha de água deslocada com temperatura mais elevada do
que noutra região. O mesmo fato ocorreu com os fornos de microondas, mas
somente após atingir 100ºC, como a intenção era colher dados apenas até a fervura,
não foi demonstrado no gráfico os picos correspondentes.
• Com relação aos fornos a gás, pode-se observar que o tempo de fervura do forno 2 é
muito superior ao tempo de fervura do forno 1. O forno 2 tem uma idade muito maior
que o forno 1 (um fogão que tinha acabado de ser comprado), então concluiu-se que
no forno 2 gastava-se muito gás, logo, um desperdício econômico e ambiental muito
grande.
• O microondas foi o mais rápido, sendo que o forno mais novo teve um tempo de
fervura bem menor. Mesmo que a potência de trabalho do segundo forno seja um
pouco maior, só este fato não justifica o seu melhor rendimento. Acredita-se que o
tempo de uso, ou seja, o desgaste seja a explicação mais plausível.
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• Ao analisar a potência de cada forno pelo tempo gasto em cada um, foi construído o
gráfico 2, Temperatura x Energia Consumida. A energia consumida é obtida
multiplicando o tempo gasto pela potência de cada forno. Verifica-se claramente a
melhor eficiência dos fornos microondas.
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INDO ALÉM
Mito ou verdade
Esse tópico foi inserido por curiosidade sobre as superstições de cada forno citado neste
trabalho, de forma a procurar uma justificativa com base científica a cada umas das
perguntas, que deparamos no dia-a-dia. A fundamentação das respostas foi retirada dos
livros (com modificações):
• O que Einstein disse ao seu cozinheiro: A ciência na cozinha (inclui receitas).
WOLKER, Robert L. Tradução de Helena Londres. Editora: Jorge Zahar. Rio de
Janeiro, 2003;
• Um cientista na cozinha. THIS, Hervé. Tradução de Marco Bagno. Editora: Ática. São
Paulo, 2006; e
• Da página Além do Sistema Solar, acessado em 29/05/2008 e disponível em:
http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/aprendendo-basico/alem-do-sistema-solar/alem-do-
sistema-solar.htm.
19
suficiente de moléculas se encontram num ponto e formam uma bolha de vapor), e tudo
ferve subitamente. (WOLKER, p. 226)
20
CONCLUSÃO
21
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, familiares e amigos por me apoiarem e serem pacientes. Ao meu
orientador Paulo Brito por estar sempre dirimindo minhas dúvidas. Ao professor Armando
por demonstrar confiança em mim. Aos demais professores por compartilharem seus
conhecimentos. Aos técnicos do laboratório por aguçarem meu interesse por meio dos
experimentos. E a Deus por nunca me abandonar.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DONATO, H. História dos usos e dos costumes do Brasil – 500 anos de vida cotidiana. São
Paulo: Melhoramentos, 2005.
FRANÇA BARBOSA, Alessandra Andrade. et al. Gás Natural: Breve história do energético
no mundo e sua aplicação em São Paulo. Fundação Energia e Saneamento – São Paulo.
2008.
MORAIS CAPECCHI, Maria Cândida Varone de. DE CARVALHO, Anna Maria Pessoa.
DA SILVA, Dirceu. Relações entre o discurso do professor e a argumentação dos alunos em
uma aula de Física. ENSAIO – Pesquisa em Educação em Ciências. V. 2, n.º 2, Dezembro
2002.
REGEDOR, Ana Flores. HENRIQUES, Sofia Teives. Energia no quotidiano: um olhar das
nossas avós. 2004
SANTORO MOREIRA, Maria Fernanda. Você usa todas as funções de seu microondas?
Análise ergonômica dos sistemas operacionais de fornos de microondas. Florianópolis,
2001. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia de Produção), Universidade Federal de
Santa Catarina.
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WOLKER, Robert L. O que Einstein disse ao seu cozinheiro: A ciência na cozinha (inclui
receitas). Editora: Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 2003.
Disponível em:
<http://www.inmetro.gov.br/imprensa/releases/forno_fogao.asp> 02 mar. 2008.
Disponível em:
<http://www.comciencia.br/reportagens/transgenicos/trans19.htm> 02 mar. 2008.
Disponível em:
<http://www.sindigas.com.br/sala_imprensa/cartilha/download/> 14 maio 2008.
Disponível em:
<http://www.burgoseletronica.net/magnetron.htm> 14 maio 2008.
Disponível em:
<http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/aprendendo-basico/alem-do-sistema-solar/alem-do-sistema-
solar.htm> 29/05/2008.
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