Aula 12 A Triunidade de Deus PDF
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1. O Conceito de Trindade
[1] A.A. Hodge, Esboços de Teologia, São Paulo, PES, 2001, p. 220.
183. O termo latino Trinitas foi usado primeiro por Tertuliano, por volta do ano
220 – Eccl. Hist., Mosheim, vol 1, p. 121, nota 1” [2].
Outra palavra que mudou de sentido ao longo do seu uso teológico foi o termo
grego hypostasis. Etimologicamente ele significa a mesma coisa que a sua forma
latina “susbstância” (sub-stare) ou seja, “estar sob” ou “debaixo de”, daí a ideia
de “aquilo que subjaz” a alguma coisa, ou a “essência” de alguma coisa. É termo
bíblico, usado com a ideia de confiança ou firme convicção em 2 Coríntios 9.4;
11.17 e Hebreus 1.3; 3.13; 11.1. O uso de Hebreus 1.3 é o mais literal,
etimologicamente, pois fala da fé como o “fundamento” ou a “essência” das
coisas que se esperam. A.A. Hodge diz que até meados do século IV a palavra,
quando empregada em relação à Trindade, trazia a ideia de substância e é nesse
sentido que ela é usada nos Credos de Niceia, em 325 A.D. Assim, afirmava-se
que na Trindade há só uma hypostasis. Como alguns a usassem, todavia, como
sinônimo de pessoas, a palavra passou a ter esse sentido, por consenso, a partir
de Atanásio. Hoje ela é usada na forma adjetivada para designar a união de duas
naturezas em uma só pessoa em Cristo, com o nome de união hipostática [4].
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Esse modo distinto de existência, que constitui a única essência divina coordenadamente
em três pessoas separadas, é um mistério infinito que não podemos compreender e que,
por isso, nos é impossível definir adequadamente, e só podemos conhecê-lo até onde nos
é revelado. Tudo o que sabemos a respeito é que essa distinção, chamada personalidade,
abrange todas essas propriedades incomunicáveis, que pertencem eternamente ao Pai, ao
Filho e ao Espírito Santo, separadamente, e não a todos em comum; que ela é a base para
Eles Se congregarem em conselhos, para Se amarem mutuamente e para atuarem uns sobre
os outros, isto é, para interagirem, como, e.g., para o Pai enviar o Filho, e para o Pai e o
Filho enviarem o Espírito Santo, e para o uso dos pronomes pessoais Eu, Tu, Ele, na
revelação que qualquer das Pessoas faz de Si e das outras [ 5].
[2] Ibid.
[3] A.A. Hodge cita Turretino (Tomo 1, locus 2, perg. 23) como exemplo desse uso (op.
cit., p. 221). [4] Ver A.A. Hodge, op. cit., pp. 221-222. [5] Ibid, pp. 222-223.
Outros termos usados para expressar teologicamente as relações entre as
pessoas da Trindade são “Trindade Ontológica” e “Trindade Econômica”. Por
Trindade Ontológica se quer dizer as distinções eternas e imanentes de
propriedades que as pessoas da Trindade guardam entre si, no que diz respeito
ao seu próprio ser ou essência (daí o termo “ontológica”). Assim, atribui-se ao Pai
as propriedades de “exclusividade” e
“paternidade”, por gerar eternamente o Filho e inspirar eternamente o Espírito.
Ao Filho, a propriedade de “filiação”, por ser eternamente gerado do Pai e
inspirar eternamente, com o Pai, o Espírito. Ao Espírito é atribuída a propriedade
de “processão” ou “procedência”, por proceder eternamente do Pai e do Filho. A
Confissão de Fé de Westminster assim formula essas distinções: “Na unidade da
Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai,
Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem
procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente
procedente do Pai e do Filho”. Tais propriedades são deduzidas de passagens como
1 João 5.18 e João 15.26
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Da mesma forma, quando Jesus fala que vai enviar, da parte do Pai, o Espírito
da verdade, que dele procede, não sabemos se ele estava realmente se referindo
a uma propriedade distintiva do Espírito ou se estava apenas dizendo que o envio
do Espírito procede do Pai. Os teólogos e as confissões reformadas, em geral, têm
entendido a expressão como se referindo a uma qualidade distintiva do Espírito
[6], mas parece mais
[6] A Confissão Belga, em seu Artigo 8, diz: “A Trindade: Um Só Deus, Três Pessoas: o Pai, o Filho
e o Espírito Santo2). Conforme esta verdade e esta palavra de Deus, cremos em um só Deus1), que
é um único ser, em que há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo 2). Estas são, realmente e
desde a eternidade, distintas conforme os atributos próprios de cada Pessoa. O Pai é a causa, a
origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis3). O Filho é o Verbo, a sabedoria e a
imagem do Pai. O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é a eterna força e o poder 5). Esta
distinção não significa que Deus está dividido em três, pois a Sagrada Escritura nos ensina que
cada um destes três, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria existência, distinta por
seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três pessoas são um só Deus. É claro, então, que
o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; que, também, o Espírito Santo não é o Pai ou o Filho.
Entretanto, estas Pessoas, assim distintas, não são divididas nem confundidas entre si. Porque
somente o Filho se tornou homem, não o Pai ou o Espírito Santo. O Pai
natural entender a passagem como falando da procedência do Espírito em seu
caráter funcional de consolador, e, portanto, de natureza econômica. Seja como
for, o que é certo é que nem filiação nem procedência significam dependência ou
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Alguns dos verbos usados no AT para a ação de Deus estão no plural, assim
como alguns pronomes a eles relacionados. Em Gênesis 1.26 lemos: “Também disse
Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. É interessante
que o primeiro verbo está no singular, “disse Deus”, embora Elohim seja plural.
Mas o segundo verbo, que descreve aquilo que os teólogos têm chamado de
“conselho da Trindade” na criação, está no plural, “façamos”, e da mesma forma
os pronomes das expressões “nossa imagem” e “nossa semelhança”. De igual
forma, alguns têm visto nestas expressões o “plural de majestade”, análogo ao
plural de modéstia que hoje usamos quando nos referimos a nós mesmos em
expressões como “temos a satisfação de anunciar”, ou coisa semelhante. Já vimos
que esse tipo de uso não é encontrado na
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jamais existiu sem seu Filho6) e sem seu Espírito Santo, pois todos os três têm igual eternidade, no
mesmo ser. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um só em verdade, em poder, em
bondade e em misericórdia.
1) 1Co 8:4-6. 2) Mc 3:16,17; Mt 28:19. 3) Ef 3:14,15. 4) Pv 8:22-31; Jo 1:14; Jo 5:17-26; 1Co 1:24; Cl 1:15-
literatura do AT. Nem poderia Deus estar falando com os anjos, pois eles não
participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e
semelhança deles. O melhor modo de se entender essas formas plurais é ver nelas
o ensino, ainda que embrionário, da doutrina de que Deus não subsiste em uma
só pessoa.
4) Recebe títulos divinos como em Isaías 9.6: “Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”, em Miqueias 5.2: “E tu,
Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá
o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da
eternidade” e em Jeremias 23.6: “Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro;
será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Yahweh –
tsidkenu, cf. aula 5).
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3) Foi prometido para ser derramado sobre toda a carne no futuro, o que
aconteceu no Pentecostes (Jl 2.28–29; Is 32.13; 44.3; Ez 36.26–27).
É preciso admitir que sem a revelação do Novo Testamento não seria possível a
alguém formar a ideia da Trindade de modo claro, tanto que os judeus eram e
ainda são unitarianos (só creem em uma pessoa divina). Mas, à luz da nova
revelação do NT, a verdade desse fato pode ser vista como já presente na
revelação antiga (AT).
a) Em relação ao Filho
2) Ele é chamado de "Deus": “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e
ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco) (Mt 1.23); “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1); “deles são
os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos,
Deus bendito para todo o sempre. Amém!” (Rm 9.5); “aguardando a bendita esperança e
a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13); “mas
acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro
do seu reino” (Hb 1.8); “aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do
nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1). Os apóstolos também reconheceram
a sua divindade: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado
entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho,
Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20); “Respondeu-lhe Tomé:
Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28), etc.
3) Ele recebe títulos divinos: “Senhor” (só o nome “Senhor Jesus Cristo”
ocorre 62 vezes no NT, como em Rm 1.7 e 1Co 1.2), “salvador” (Lc 1.47 e mais 40
outras ocorrências), “Alfa e Omega” (Ap 21.5-6);”Rei” (2Pe 1.11; 1Co15.25; Ap
11.15); “soberano” (Jd 4), etc.
[8] Devemos nos lembrar que os autores do NT eram judeus, com exceção de Lucas, e tinham o
AT como sua Escritura.
4) Ele recebe a adoração que só é devida a Deus: Mt 8.2; 14.33; Fp 2.11; Hb
1.6; Ap 1.5-6; 5.8-14; 7.10.
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6) Ele realiza obras divinas como: perdoar pecados (Mt 9.6), ressuscitar e
vivificar os mortos espiritualmente (Jo 5.21); receber as orações dos homens (At
7.60; Rm 10.13; 2Co 12.8-9), conceder a vida eterna (Jo 10.28), enviar o Espírito
Santo (Jo 16.7,14), santificar (Ef 5.26), julgar (2Co 5.10; Mt 25.31-32; Jo 5.22), etc.
b) Em relação ao Espírito
2) Ele é chamado de "Deus" em Atos 5. 4: “Então, disse Pedro: Ananias, por que
encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando
parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não
estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste
aos homens, mas a Deus”. Para Pedro, em sua declaração inspirada, o Espírito
Santo é Deus.
[9] A blasfêmia contra o Espírito tem sido considerada pelos estudiosos como uma incredulidade
deliberada, ou seja, a recusa deliberada da aceitação de Jesus como o Messias e Salvador, depois
de todas as evidências dadas por Deus, como aconteceu com os judeus incrédulos, que tinham as
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Escrituras e as obras de Cristo como testemunhas de sua origem divina e de sua messianidade. É
o pecado contra o único remédio que pode salvar o pecador: a fé em Cristo (At 4.12). É pecado
contra o Espírito porque é ele (o Espírito) quem convence “o mundo do pecado, da justiça e do
juízo” (Jo 16.8).
5) Que o Espírito Santo é uma pessoa, e não apenas uma força ou influência
divina, pode ser comprovado pelas atividades que realiza e sentimentos que tem,
alguns já vistos acima, tais como:
a) Por ocasião do batismo de Jesus: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que
se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E
eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt
3.16-17). Aqui temos o Filho sendo batizado, o Espírito descendo sobre ele em
forma de pomba e o Pai fazendo a declaração do seu amor a ele.
d) No ensino da diversidade dos dons: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito
é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há
diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos” (1Co
12.4-6). Aqui três termos diferentes são usados para quem dá os dons, “Espírito”,
“Senhor” e “Deus”, sugerindo as três pessoas da Trindade.
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Estes textos são suficientes para mostrar que a doutrina da Trindade é ensinada
no Novo Testamento. Quando afirmamos que esse ensino não é explícito é apenas
no sentido em que não há uma “formulação teológica” da Trindade, assim como
não há uma “formulação teológica” de quem é Deus. Mas a doutrina está
claramente revelada no NT.
3. Formulação da Doutrina
Isto significa que o Pai não é o Filho e nem o Espírito, o Filho não é o Pai e nem
o Espírito, e o Espírito não é o Pai e nem o Filho. A distinção de pessoas é
fundamental para se entender as relações existentes entre elas, que encontramos
na Bíblia. Daí a necessidade de fazer-se diferenciação entre dois aspectos dessa
distinção: o ontológico e o econômico (ou mediatorial). Ontologicamente elas se
distinguem apenas nas suas propriedades e relações como “pessoas separadas
uma das outras” (sedes autônomas de personalidade), na qualidade de Pai, Filho
e Espírito Santo, sem haver qualquer subordinação ou dependência entre si.
Economicamente ou mediatorialmente, elas se distinguem em funções, que
implicam, às vezes, subordinação. É nesse sentido mediatorial que Jesus se
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apresenta como subordinado ao Pai (Jo 4.34; 5.30; 1Co 15.28) e o Espírito como
subordinado ao Pai e ao Filho (Jo 15.26; 16.7).
C. Há um só Deus
Nosso espaço não permite uma discussão aprofundada das várias heresias que
surgiram tentando explicar o mistério da Trindade. Iremos aqui apenas
apresentar duas. O fato é que sempre que se quis explicar ou racionalizar o
assunto, acabou-se em desvio do ensino bíblico, por negar um ou mais pontos da
revelação. De um modo geral, quem nega a Trindade é chamado de unitariano,
mas existem diferentes formas de unitarianismo:
A. O Modalismo
[10] Cf. J. James Kennedy, Quem é Deus, Editora Cultura Cristã, 2000, p. 99. Recomendo a
leitura desse pequeno livro por sua linguagem simples e acessível.
[11] Nossas orações devem ser dirigidas ao Pai (Mt 6.6,9), em nome de Cristo (Jo 14.13-14) e
confiadas na intercessão do Espírito (Rm 6.26) É assim que a Bíblia nos ensina a orar, ainda que
não oramos a uma só pessoa, mas à Trindade. Também nossa adoração ou culto deve ser dirigido
às três pessoas da Trindade e não a uma, em particular, ou de modo preferencial. Como nas
relações econômicas o Pai representa a
é conhecido também como “sabelianismo” (por causa de Sabélio, um pregador
do século III que ensinou a heresia) e “monarquianismo modalista”, não só por
causa do ensino modalista, mas por causa da ênfase em um só “monarca”
absoluto e soberano.
B. O Arianismo
O nome vem de Ário, bispo de Alexandria (c. 250-336 d.C.). Ário negava a plena
divindade do Filho e do Espírito Santo. Para ele, o Filho foi criado antes do
restante da criação e, portanto, não é eterno. É superior ao restante da criação,
mas não igual ao Pai em atributos. Cria que o Filho é “semelhante” ao Pai em
natureza, mas não “igual” ou “da mesma natureza” do Pai. Sua “base bíblica”
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foram os textos que supostamente afirmam que o Filho foi “gerado” pelo Pai,
como João 1.14; 3.16, 18; 1João 4.9 e, principalmente, Colossenses 1.15, onde Cristo
é chamado de “o primogênito de toda a criação” [12]. A heresia ariana foi
condenada no Concílio de Niceia (325 d.C.) que afirmou que o filho é “da
essência do Pai, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não
criado, sendo da mesma substância do Pai” [13]. O Concílio de Constantinopla,
em 381, acrescentou a expressão “antes de todas as eras” após “gerado do Pai”
para deixar claro que esse “gerar” não tem sentido temporal, mas eterno [14].
Outras heresias com relação a essa doutrina surgiram e foram combatidas pela
Igreja, e muitas ainda estão aí, presentes em nossos dias. Isto serve para
demonstrar que não tem sido fácil, ao longo da história da Igreja, aceitar de modo
sereno e confiante uma doutrina tão misteriosa, mas ao mesmo tempo tão
verdadeira, das Escrituras.
Aplicação prática
Trindade, dirigimo-nos a ela quando nos dirigimos ao Pai (Jo 4.23). Não estamos com isto
querendo dizer que Deus só ouve a oração feita desta forma ou que só assim se adora a Deus.
Mas estamos dizendo que quando exaltamos uma pessoa, em nosso culto, em detrimento das
outras, estamos demonstrando um conceito errado de Deus e da sua triunidade. Toda ação de
qualquer pessoa da Trindade, em particular, é uma ação de Deus.
[12] O sentido da palavra “primogênito”, no contexto desta passagem, não é o de “primeiro
criado”, como requer a etimologia, mas o de “o mais importante” ou “o que tem a primazia”,
conforme o contexto. Conforme a legislação mosaica, um filho primogênito seria o principal
herdeiro dos bens deixados por seu pai (Dt 21.17). Todavia, a primogenitura em Israel era
um direito que poderia inclusive ser transferido Foi o caso de Jacó, que comprou de seu irmão
o direito da primogenitura, embora ele não fosse o primeiro nascido de Isaque, e mesmo o
caso de Isaque que, embora tenha herdado direito até maior do que o de primogênito (ele
herdou tudo cf. Gn 24.36), não era filho único de Abraão e nem o primeiro. Primogenitura,
com relação a Cristo, assim como geração, nada tem a ver com criação ou início de existência,
mas com direitos e prerrogativas. No v. 18 de 1 Colossenses é explicado o sentido da
primogenitura de Cristo “para em todas as coisas ter a primazia”. Também em Hebreus 1.6,
quando o termo é usado para Cristo, o contexto é o de honra e adoração, não o de nascimento:
“E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o
adorem”. Uma boa explicação desse uso bíblico do termo podemos encontrar no Salmo 89.27,
onde Deus diz que vai fazer de Davi (prefigurando a Cristo e seu reino messiânico) o seu
primogênito: “Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra”. Davi não
era o primogênito de sua família, mas Deus o faria o “seu primogênito”, o mais “elevado
entre os reis da terra”. Certamente Deus não estava falando apenas de Davi, mas do seu
próprio Filho.
[13] Citação de W. Grudem, op. cit., p. 179, extraída de Philip Schaff, Creeds of Christendom, 3 vs.
(Grand Rapids: Baker, 1983), 1:28-29).
[14] Ibid.
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Não é uma questão secundária acreditar ou não na Trindade. Jesus deixou claro
que quem não honra o Filho também não honra o Pai (Jo 5.23) e que quem não
crê no Filho está sob a ira de Deus (Jo 3.35) porque não crê no testemunho do Pai
sobre ele (Jo 3.33; 5.37). Se ambos fossem a mesma pessoa, bastaria honrar o Pai
que automaticamente estar-se-ia honrando o Filho. Bastaria ter o Pai para se ter
o Filho. Crer na pessoa do Filho é uma questão que decide o futuro eterno de
alguém. João disse que “Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho.
Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus
dá acerca do seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de
Deus não tem a vida” (1Jo 5.10-12). Por outro lado, se Jesus é uma pessoa menor do
que Deus, como creem os arianos, não podemos confiar na sua obra expiatória e
nem adorá-lo. A Bíblia, então, não faz sentido quando diz que todo o joelho deve
se dobrar diante do seu nome (Fp 2.10) e que ele é digno de “receber o poder, e
riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.12). Como vimos,
a Bíblia ensina tanto a divindade do Filho quanto a do Espírito. Se o Filho e o
Espírito não são pessoas divinas, não temos um Deus verdadeiro para crer. Seu
testemunho é falso. Não nos sobra alternativa: ou cremos na Trindade ou não
podemos crer no Deus do Cristianismo.
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