Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
I. Introdução.
a) KERYGMA: anúncio;
b) MISTAGOGIA: iniciação litúrgica (Sacramentos, Lit. Horas, Ano Litúrgico);
c) EPIFANIA: testemunho de vida.
Liturgia e História
Com a experiência de Abraão (Gn 12) registra-se uma nova etapa em nossa história: o
Deus que se manifesta no cosmo (ainda que de forma impessoal) se revela agora também
intervindo na história pessoal do Abraão e de sua descendência; com ele e os demais Patriarcas
desenvolve-se uma passagem progressiva de uma monolatria genérica a um monoteísmo sempre
mais reconhecido como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. De agora em diante o culto
continua a celebrar (lembrança e atualização) os eventos salvíficos de Deus que salva o cosmo,
mas acrescenta-lhe um novo sentido, ao celebrar as intervenções de Deus na história de seu
povo. Para celebrar o Deus de seus Pais Israel não inventou novos ritos, mas acrescentou novos
significados. O ato central continua sendo o sacrifício: o sábado caldeo-babilônico é consagrado
ao Deus de Abraão; a festa da primavera – a Páscoa – continua a celebrar a volta da vida à
natureza, a partida dos rebanhos rumo aos prados verdejantes das alturas, o período da vida
nômade. Antes de celebrar a Páscoa do Êxodo já existia em Israel a celebração da Páscoa (Ex
5,1-3;10,8). Esta fase nômade da Páscoa é representada ainda hoje no sacrifício do cordeiro e
pelas ervas amargas.
1. Nos escritos Paulinos sobressaem estes elementos da vida litúrgica dos primeiros
cristãos:
A celebração da Páscoa, que tem suas raízes cósmico-naturalistas, adquire uma nova
significação no nível histórico, chegando a ser um memorial para as sucessivas gerações.
Memorial cuja organização segue a tríplice dimensão: passado, presente e futuro, à espera de
um novo Êxodo definitivo. A berakah ou bênção judaica, típica do povo judaico, exprime uma
percepção original da realidade divina. Em sua estrutura formal, inclui como prólogo uma
explosão admirativa (bendito seja Iahweh) e uma explicitação dos motivos desse louvor, com a
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recordação das grandes obras que Deus realizou em favor do seu povo; comporta de hábito um
duplo tema básico, a criação e a história da salvação. Nessa criação da alma de Israel, a berakah
ou bênção judaica, temos de ver a matriz da eucaristia cristã.
Mas o culto que Iahweh espera do seu povo não pode limitar-se ao louvor formal, ao
gesto puramente exterior, nem a uma atitude interna de adoração, isolados da vida (cf. Dt 10,12-
13; Js 24). Pressupõe uma atenta escuta da Palavra de Deus e um prolongamento lógico na
fidelidade prática à aliança. O encontro com Iahweh libertador na história, sua celebração
agradecida no culto e a resposta coerente na fidelidade à aliança constituem três momentos
básicos e em perfeita continuidade dentro da vida do povo de Israel. É certo que no decorrer da
história, demasiadas vezes o povo estabeleceu um divórcio prático entre estes componentes. Os
profetas atacam com veemência um culto vazio e formalista, que procura encobrir e justificar,
diante de Deus, os crimes sangrentos e as profundas injustiças no plano social (Am 5,21-24; Is
29,13; Os 6,6; Mq 6,5-8; Is 1,10-17; Is 58,1-8; Jr 7,1-15; Eclo 34, 18-26...). Uma pequena
mostra do que deve ser o verdadeiro culto, encontramos em Dn 3,38-41. A prática da lei é em si
mesmo o novo culto (Eclo 35,1-10). Esta utopia não poderá concretizar-se se o próprio Deus
não se comprometer a transformar os corações pela raiz, a purificar o interior do homem
derramando profusamente seu espírito e capacitando-o a um novo culto (Jr 31,31-34; Ez 36,25-
27), aberto à comunidade de todos os povos.
Jesus de Nazaré vive e atua dentro do sistema de culto do seu povo. Freqüenta a reunião
sinagogal dos sábados, “segundo seu costume” (Lc 4,16; Mc 1,21-39; 3,1-6; Mt 4,23; 9,35;12,9;
13,54...); participa regularmente também, como um judeu piedoso de sua época, do culto do
templo e das festas anuais de peregrinação (Lc 2,41-42; Jo 2,13; 5,1; 7,2-14; 10,22-23...). Mas
por outro lado Jesus transgride com freqüência, inclusive de modo provocativo, essa ordem
cultual de Israel, manifestando sua liberdade soberana sobre ela, manifestando assim, sua
vontade reformadora, como um prolongamento e uma plenificação da tradição profética. O
valor ou a nulidade do culto dependem do amor e do perdão ao irmão (Mt 5,23-24; Mt 15,5-9,
retomando a crítica aos culto de Is 29,13). Longe de uma mentalidade que busca atribuir
virtualidades mágicas à reiteração de gestos rituais (Mc 7,11, Mt 15,5) e à multiplicação de
palavras nas orações (Mt 6,7), Jesus proclama, no diálogo com a samaritana, um culto em
espírito e verdade (Jo 4,20-24), que Deus espera de seus verdadeiros adoradores e que Jesus não
se limita a ensinar, mas também o vive pessoalmente em toda a sua existência.
A passagem da antiga para a nova Aliança, não se fez num piscar de olhos, foi
necessário mais de uma geração para que as primeiras comunidades cristãs se separem
definitivamente de Israel e do seu culto. Isto se deu com a destruição do templo, no ano 70.
Várias passagens mostram que Paulo continuava a freqüentar o templo. Foi o judaísmo oficial
que decidiu excluir os partidários “da seita” do Nazareno. O fundamento do novo culto é Jesus
Cristo e o seu evangelho. Se a profissão de fé judaica confessa “o Senhor, nosso Deus é o único
Senhor”, a comunidade primitiva aclama que “Jesus é o Senhor” (Fl 2,11). Cristo é a realidade
íntima e perene da celebração litúrgica e que, em conseqüência, a liturgia é o exercício da fé e a
epifania de Cristo na fé. A existência íntegra do fiel no mundo, vivida na fidelidade ao espírito
de Cristo, pode chegar a converter-se em “culto espiritual”, no culto perfeito dos últimos tempos
(cf. Rm 12,1ss).
designa, no NT, a assembléia litúrgica como lugar em que se manifesta a própria existência da
Igreja. O rito de introdução nessa assembléia é o batismo “em nome do Senhor Jesus”, que é
constituído de três elementos: evangelização, fé (metanoia) e batismo (At 2,41; 8,12; 18,8...).
Ao ler At 2,42-47, podemos perceber o dia a dia dos primeiros cristãos. A descrição
desse “sumário” inclui os quatro elementos seguintes: o ensinamento dos apóstolos e a
comunhão fraterna (koinonia), a fração do pão e as orações. Pode-se concluir que a assembléia
cúltica reflete e reproduz as dimensões fundamentais de toda comunidade cristã que busca o
seguimento fiel do seu Mestre.
a) Os primeiros cristãos, conforme narram os Atos, “partiam o pão nas casas, tomando as
refeições com alegria e simplicidade de coração” (At 2,46). É sem dúvida o ponto
culminante da assembléia litúrgica, no qual a cristologização do culto adquire sua maior
densidade. No séc. I, a Eucaristia é celebrada junto com uma refeição, especialmente
nas comunidades de origem judaica. Este já era considerado um rito religioso próprio,
que distinguia os primeiros cristãos (em sua grande maioria oriundos do judaísmo) do
restante dos judeus. Ora, o testemunho dado pelo Apóstolo Paulo em 1 Cor 10,16; 11,23
nos assegura que, nessa reunião tipicamente cristã, já muito primitivamente, “partia-se o
pão” e “abençoava-se o vinho”. O Sentido ritual desta celebração apresentava-se, já
desde a era apostólica, da seguinte forma: 1. Memorial: o rito cria uma presença
salvífica do Senhor (Lc 24,1-35; Jo 20,20 e 24,29); a ceia do Senhor e a proclamação e
a memória da morte do Senhor, que se tornou presente no rito. Na fração do pão se dá a
presença da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo; 2) Sacrifical: já a Didaqué
(escrito que data de fins do séc. I de nossa era e, portanto, bem próximo do Novo
Testamento) vai ensinar que os fiéis “reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e
agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja
puro” (Did XIV).; e 3) Eclesial: é das palavras do Apóstolo Paulo que vai emergir a
eclesialidade deste rito; “embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos
deste único pão”(1Cor 10,17). A Fração do Pão, podemos assim dizer, nos dá indícios
de uma primeira celebração pascal, realizada em âmbito familiar (At 2,46;20,7), e sua
periodicidade era, muito provavelmente, semanal, sendo realizada aos domingos,
conforme nos indicam os textos de At 20,7 e da Did XIV.
b) Junto com a refeição há o ensinamento dos apóstolos: as comunidades primitivas
começavam por uma didaché, que compreende a recordação das palavras e ações de
Jesus. Eram, basicamente, as instruções para os neoconvertidos e constituíam o pleno
processo de EVANGELIZAÇÃO, cujos três pilares fundamentais, conforme já
sinalizamos, podem ser identificados com o KERYGMA (anúncio da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus), MISTAGOGIA (introdução aos mistérios/sacramentos da
iniciação cristã: batismo, confirmação e eucaristia) e EPIFANIA (testemunho do que
foi assimilado no anúncio e experimentado nos sacramentos). Era, ainda, caracterizado
pela explicação das escrituras a luz dos eventos cristãos, sob uma ótica eminentemente
pascal (isto podemos verificar, por exemplo, nos textos de At 2,29-36; 7,1-54; 8,26-40)
e também pela pregação apostólica, traduzida, fundamentalmente, pelo corajoso
anúncio da Paixão, Morte e Ressurreição como evento catalisador da salvação operada
por Deus por meio de Jesus Cristo (At 2,22-24; 3,12-15; 4,9-12; 5,29-33).
c) a comunhão fraterna (koinonia): a refeição em grupo e o serviço de ajuda mútua (coleta
de donativos para os mais necessitados). Percebemos nitidamente esta preocupação com
a conexão entre refeição comunitária e ajuda aos pobres em 1Cor 11,17-34. Essa
conexão interna entre a refeição comunitária e o serviço de ajuda mútua permaneceu
cristalizado num duplo relato arquetípico: o relato da ceia e o da multiplicação dos pães,
ambos unidos pelo mesmo gesto de Jesus, que preside à refeição, dá graças, parte o pão
e o distribui. Por esta razão, a refeição cristã deve dar prosseguimento e prolongar a
multiplicação dos pães. A palavra Koinonia, bem como diaconia, designam no NT a
comunhão de mesa e, ao mesmo tempo, o serviço de ajuda mútua. Este serviço era
conhecido e habitual no judaísmo do séc. I e exibia diversas formas: o dízimo dos
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Enquanto que nos primeiros séculos as características do culto cristão são ainda vagas e
tênues, a partir do século III se mostram muito mais vigorosas e claras. Existe um certo
desenvolvimento da literatura litúrgica. Observam-se novos impulsos criadores de novas formas
litúrgicas, em resposta às necessidades das comunidades cristãs – cada vez mais robustas na
Igreja universal. Duas realidades essenciais marcam o cristianismo: o batismo e o martírio,
marcados por uma forte consciência eclesial. Os temas como mater ecclesia, sponsa Christi,
retornam com freqüência nos autores do século III. Nos primeiros séculos a celebração
eucarística conhece um tríplice momento evolutivo:
1) A ceia de Cristo celebrada pelo próprio Jesus Cristo, durante um banquete situado entre
dois ritos, preexistentes, mas transformados por Jesus – rito do pão e do cálice.
2) A época apostólica logo realizou um esclarecimento, reunindo esses dois ritos e
situando-os no fim do banquete.
3) Mais tarde ocorre uma mudança transcendental (talvez a maior de toda a história): o
abandono do banquete como suporte da celebração. Assim desaparecem as mesas, com
exceção a do presidente, caem em desuso os termos neotestamentários “fração do pão”
e “ceia do Senhor”; a oração de ação de graças, já unificada, se enriquece
progressivamente e alcança uma excepcional importância, a ponto de dar o nome à
celebração em seu conjunto.
“No dia que se chama do Sol, celebra-se uma reunião de todos os que habitam nas
cidades e nos campos. Nela se lêem, à medida que o tempo o permita, as Memórias dos
Apóstolos ou os escritos dos profetas. Em seguida, quando o leitor termina, o
presidente, em suas próprias palavras, faz uma exortação e um convite para que
imitemos esses belos exemplos. Levantamo-nos seguidamente todos de uma vez e
elevamos nossas preces; quando terminam, como já dissemos, oferecem-se pão, vinho e
água e o presidente, segundo suas forças, também eleva a Deus suas preces e
eucaristias e todo o povo aclama dizendo: Amém. Prosseguindo vem a distribuição e
participação dos alimentos eucaristizados e o seu envio, por meio dos diáconos, aos
ausentes. Os que tem bens e querem, cada um segundo sua livre determinação, dão o
que bem lhe parece; e o que é recolhido é entregue ao presidente, que com ele socorre
órfãos e viúvas, aos que, por enfermidades ou outras causas, estão necessitados, aos
que estão nos cárceres, aos forasteiros de passagem. Em uma palavra, ele se constitui
provedor dos quantos se acham em necessidade. Celebramos essa reunião no dia do
Sol por ser o primeiro dia, no qual Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o
mundo, bem como por ser o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre
os mortos” (Apologias 65 e 67).
Por volta de 215, na Tradição Apostólica atribuída ao presbítero romano Hipólito, pela
primeira vez encontramos alguns textos litúrgicos na regulamentação eclesiástica. Ele, como
representante dos círculos conservadores, procura preservar a tradição de falsificações. Mesmo
tradicional, ele reconhece o direito de livre formulação por parte do Bispo, se este se julgar à
altura. Ele deixou escrita uma fórmula de oração eucarística. A sua oração foi adaptada aos
nossos tempos e é mais ou menos a atual Oração Eucarística nº 2.
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A instituição catecumenal é uma das mais acabadas realizações da Igreja nos séc. II e
III; é o desenvolvimento estruturado do que estava, em germe, presente no Novo Testamento.
Motivos de sua instituição: a importante ação evangelizadora e a forte vontade de manter a
“qualidade” dos novos convertidos e das jovens comunidades cristãs; mas também a ameaça
crescente das seitas heréticas. Segundo Hipólito, o catecumenato vem a ser um longo tempo de
formação religiosa, que costuma durar três anos e que se caracteriza por um duplo exame: a)
Entrada no catecumenato: admissão e triagem dos candidatos. Estes devem ter como fiador
(padrinho) um cristão conhecido, que possa dar garantia inicial da vontade de conversão do
aspirante; b) Formação doutrinal: período de catequese, garantida pelos “doutores”, que podem
ser tanto eclesiásticos como leigos; c) Preparação precedente ao batismo: o candidato, pela
ajuda do fiador dá provas de sua conversão a Cristo, através da prática do amor, na visita aos
doentes e na ajuda às viúvas. Ritos:
“No momento em que o galo canta, serão feitas orações, em primeiro lugar sobre a
água... Eles se desnudarão, e serão batizadas, primeiramente, as crianças. Todos os
que puderem falar por si mesmos o farão. Com relação aos que não possam, seus pais
falarão, ou algum membro da família. Depois serão batizados os homens e, por fim, as
mulheres... No momento fixado para o batismo, o bispo dará graças sobre o óleo... E o
presbítero, tomando cada um dos que recebem o batismo, lhe ordenará que renuncie
dizendo: “Renuncio a ti, Satanás, a toda a tua pompa e a todas as tuas obras”. Depois
que cada um tiver renunciado, (o presbítero) o unge com óleo de exorcismo, dizendo:
“Que todo espírito maligno se afaste de ti”. Dessa maneira, o confiará desnudo ao
bispo ou ao presbítero que se encontra perto da água para batizar. Um diácono
descerá com ele dessa maneira. Quando o que é batizado tiver descido na água, aquele
que batiza lhe dirá, impondo-lhe a mão: “Crês em Deus Pai Todo-poderoso?” e aquele
que é batizado dirá, por sua vez: “Creio”. E então (aquele que batiza), tendo a mão
posta sobre sua cabeça, o batizará uma vez. E depois dirá: “Crês em Jesus Cristo,
Filho de Deus, que nasceu do Espírito Santo da Virgem Maria, foi crucificado sob
Pôncio Pilatos, morreu e ressuscitou ao terceiro dia vivo dentre os mortos, subiu aos
céus e está sentado à direita do Pai; que virá julgar os vivos e os mortos?” e quando (o
que é batizado) tiver dito: “Creio”, será batizado pela segunda vez. Novamente (o que
batiza) dirá: “Crês no Espírito Santo, na Santa Igreja?” O que é batizado dirá:
“Creio”, e assim será batizado pela terceira vez. Depois, quando tiver subido, será
ungido pelo presbítero com o óleo de ação de graças com estas palavras: “Unjo-te com
óleo santo em nome de Jesus Cristo”. Assim, cada qual, tendo-se enxugado, voltará a
vestir-se e, depois disso entrarão na igreja...
Hipólito menciona repetidas vezes uma série de ritos pós-batismais realizados pelo
bispo: imposição das mãos com invocação, unção com óleo de ação de graças, marca na testa e
beijo da paz. Depois os neófitos se unem à comunidade dos fiéis e participam com eles da
eucaristia.
A partir da segunda metade do séc. III, as casas não comportando mais o número de
novos cristãos, passa-se a construir recintos próprios para o culto, com uma forma diferente das
moradias. É o despertar de uma arquitetura cristã.
A igreja tem diante de si a imensa tarefa de transformar o mundo pagão num mundo
cristão. A nova situação não traz só benefícios, mas também problemas. A liberdade e a
tranqüilidade de que agora goza influem na qualidade de seus numerosos adeptos. São
abundantes as infiltrações do paganismo na base e as intromissões políticas nos dirigentes da
Igreja. Além das esplêndidas “Basílicas”, construídas sobretudo, com a ajuda do imperador e de
membros da sua família, os Bispos são equiparados aos mais altos funcionários do Império. É
imposta a celebração do domingo, protegida pela lei do Estado. Na segunda parte do séc. IV
delineia-se a estrutura definitiva do ano litúrgico, com a ciclo pascal e natalício.Os formulários
litúrgicos começaram a ser redigidos na segunda a metade do séc. IV (350) e vão até pelo fim
do século VII (680). Muitas fórmulas começaram a aparecer. Algumas até com falhas. Santo
Agostinho, pelo fim do séc. IV, se admira de que até bispos usavam fórmulas de orações
escritas por autores incompetentes e até heréticos.
Durante mais de três séculos, a liturgia de Roma foi celebrada em grego. A latinização
da Igreja de Roma realizou-se de maneira progressiva, passando necessariamente por uma época
de bilingüismo. A passagem do grego para o latim viria a ser efetuada no pontificado do papa
Dâmaso (366-384). Até o séc XX elas permaneceriam no latim. Durante o período que vai do
séc. VI ao VIII, as liturgias latinas apresentam-se regionalmente diversificadas, não tendo ainda
a liturgia de Roma a predominância que adquiriria nos períodos seguintes. Os Padres, como
Santo Agostinho e São Gregório Magno, tem consciência das diferenças litúrgicas e afirmam
que estas não quebram a unidade da fé.
Gregório Magno – nobre e solidamente formado nas artes e no direito, eleito prefeito
de Roma, renuncia e torna-se monge. Eleito bispo, desenvolveu uma ação pastoral muito atenta
à psicologia e às necessidades do povo. Deu muita importância à liturgia como meio de
catequizar o povo, como manifestam suas homilias. Desejoso de que toda a liturgia servisse de
fato de alimento espiritual para aquele povo simples e inculto, realizou com grande liberdade
uma profunda renovação litúrgica, orientada para esta finalidade pastoral. Realizou diversas
reformas no lecionário, no sacramentário e no antifonário. Na área do canto e da expressão
musical, reforçou a schola cantorum, e com isso, o lado espetacular da liturgia cara ao povo.
Situada entre o presbitério e o povo, a schola serve de ponte entre os fiéis e o sacerdote. A obra
litúrgica de Gregório Magno, pensada e organizada para o povo de Roma, também teve êxito
fora de Roma. Diante disso, ele manifesta um grande espírito de liberdade no que toca a
inculturação e adaptação. Respondendo à Agostinho, enviado para evangelizar a Inglaterra, que
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expressa sua dúvida acerca do que seguir, pois constata “que, sendo uma mesma fé, não
obstante são diferentes os costumes, e uma é a organização da missa na Igreja romana e outra
diferente nas Igrejas da Gália”, ele diz:
“Tem sempre presente a tradição da Igreja Romana, na qual foste educado, e ama-a
sempre. Mas a mim me agrada que, se encontras na Igreja Romana, ou nas da Gália,
ou em qualquer outra, alguma coisa que possa agradar mais a Deus onipotente tu a
recolhas com todo o cuidado e o leves à Igreja da Inglaterra, ainda tão jovem na fé,
juntando tudo quanto hajas podido reunir das diversas Igrejas. Pois tens de amar, não
as coisas pelos lugares, mas os lugares pelas coisas boas que há neles. Assim, pois,
escolhe de cada Igreja o que é de piedoso, de religioso e de reto e, tendo tudo isso
reunido como num ramalhete, oferece-o como tradição à mente dos ingleses”.
Neste momento crítico, a Igreja franco-germânica salva a liturgia romana para a própria
Roma e para o mundo inteiro. No ano 754, Pepino, O Breve, decreta a adoção da liturgia
romana em todo o Império Franco. Os motivos dessa introdução da liturgia romana devem ter
sido vários: politicamente buscava-se uma unidade mais profunda de todo o Império por meio
de uma liturgia única e uniforme..., combater as liturgias regionais, especialmente a gálica. O
rito romano, usado só em Roma e arredores, vem a ser com Carlos Magno (coroado imperador
do Império Franco-germânico, no ano 800) o Rito usado em quase todo o ocidente. Carlos
Magno, movido pelo apreço que ele tinha pela liturgia e considerando-se custódio da doutrina e
defensor da fé cristã por volta do ano 783, pediu ao Papa Adriano I um sacramentário
autenticamente romano. Ele tinha a idéia de unificar o Reino no seu culto. No entanto, alguns
lugares conservaram seus ritos como Milão (Ambrosiano), Aquiléia, Ravena, Gália, Espanha.
Da época Carolíngea até São Gregório VII, acontece o deslocamento do centro de vitalidade da
liturgia romana de Roma à sede da Corte imperial, dos Carolíngeos e posteriormente dos
Otonianos. A divisão do império franco a partir do séc. IX terá, como conseqüência,
desenvolvimentos litúrgicos divergentes entre a parte oriental e a parte ocidental do império.
Na história da Europa, esse período que vai da morte de São Bento (548) à de São
Bernardo (1156) costuma ser chamado “era monástica” ou “séculos beneditinos”. A fundação
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de Cluny, em 909, terá uma excepcional importância na renovação monástica dos séculos X-XI,
chegando a ser, ao longo do século XI, o centro espiritual da cristandade. Cluny vai difundir sua
liturgia nos mosteiros que dele dependem e estará na origem de uma liturgia menos ligada as
igrejas diocesanas. Neste período multiplicam-se as Ordens religiosas de monges e cônegos
regulares (cistercienses, cartuchos), cuja liturgia está ligada à comunidade-mãe. Os séculos IX e
XI viveram uma forte controvérsia sobre o modo de explicar a presença real de Cristo na
eucaristia. Acentuou-se a tensão entre o “realismo” e o “simbolismo”. Pascásio de Radberto
(Monge de Corbie), no seu tratado sobre a eucaristia (De corpore et sanguine Domini, em torno
de 831-833), exagera no realismo da presença de Cristo na eucaristia afirmando que:
Gregório VII, em sua reforma litúrgica teve também como perspectiva a moralização do
clero. Neste contexto explica-se o específico interesse pela liturgia, interpretada, porém, como
atividade própria e quase exclusiva do ministério sacerdotal. A liturgia em verdade, exige, de
quem tem o dever de presidi-la, dignidade e coerência de vida. A retaguarda eclesiológica de
toda a reforma gregoriana tem características hierárquicas e ao mesmo tempo jurídicas. Os fiéis
tinham se afastado pouco a pouco da liturgia clericalizada de maneira muito profunda. Gregório
VII não se propõe a diminuir a preponderância clerical da liturgia nem a tornar mais fácil sua
compreensão. Os objetivos que ele tem são: aumentar o apreço pelo sacerdócio; cultivar o
sentido do mistério diante da ação litúrgica e abrir espaços para as devoções, ainda que sob a
roupagem litúrgica.
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No final do séc. XV, Breslau, tinha para duas Igrejas, 236 padres altaristas. Isso tudo
incorreu em sérios abusos. Já no séc. XII, Pedro Cantor advertia: Fazem falta menos igrejas,
menos altares, menos sacerdotes, mas melhor escolhidos”. Isto acarreta uma multiplicação
desmesurada de altares laterais dentro das Igrejas. Em torno do ano 1500, certas catedrais
possuíam mais de 40 altares. Não faltaram reações e resistências em relação ao predomínio das
missas privadas. Destaco a exortação feita por Francisco de Assis aos seus frades: “Advirto os
meus irmãos e exorto-os no Senhor que, nos lugares onde moram, seja celebrada uma só missa
por dia, segundo a forma da Santa Igreja. E se houver vários sacerdotes no lugar, contente-se
um sacerdote, por amor à caridade, com ouvir a missa do outro” (Carta a toda a Ordem 30-31).
É o período em que o povo não comunga mais. Se contenta em ver a eucaristia. Os padres
adotam o costume de elevar a hóstia (1200 – Paris). O que antes era assembléia, caridade,
sacrifício e comunhão, se reduz em adoração das espécies eucarísticas. De modo semelhante,
Corpus Christi se converte na festa méis importante do ano litúrgico, solenemente superior até
mesmo à Páscoa...
O século que se situa entre dois Concílios ecumênicos, o de Vienne na França (1311-
1312) e o de Constância (1414-1418), marca a manifestação progressiva de uma acentuada
decadência da vida e da espiritualidade litúrgicas. O fato não deve surpreender se considerarmos
os efeitos desastrosos naquele século do exílio de Avinhão (1305-1377) e do cisma ocidental.
Verifica-se uma separação, considerada providencial para alguns, entre hierarquia e fiéis: a
primeira voltada para uma vida mundana e os outros abrigados numa ardente piedade popular.
Os reformadores e o culto.
Nos três períodos sucessivos do Concílio, esteve muito presente o tema sacramental,
como réplica às proposições dos reformadores. Na sessão VII (3/3/1547), e como complemento
da doutrina sobre a justificação, aprovam-se os cânones sobre os sacramentos em geral, sobre o
batismo e a confirmação. Na sessão XIII (11/10/1551), examinam-se o decreto e os cânones
sobre a eucaristia, vista da perspectiva da presença real. Na sessão XIV (25/11/1551), é tratada a
doutrina sobre o sacramento da penitência e da extrema-unção. Na parte conclusiva do Concílio,
na sessão XXI (16/7/1562), são aprovados os decretos sobre a comunhão sob as duas espécies e
sobre a comunhão das crianças; na sessão XXII (17/9/1562), retorna-se ao tema da eucaristia,
desta feita sob o ângulo de sua dimensão sacrificial, fortemente combatido pelos protestantes.
Na sessão XXIII (15/7/1563), trata-se dos sacramentos restantes: a ordem e o matrimônio. Na
sessão XXII, imediatamente depois do decreto sobre o sacrifício da missa, é aprovado o
Decretum de observandis et evitandis in celebrationes missae. Já no início do concílio, 20 de
julho de 1547, fora formada uma comissão especial para recopilar os abusos que ocorriam no
sacrifício da missa. Do lado dos abusos, deviam se destacar propostas concretas para a sua
eliminação. A comissão teve de elaborar o seu projeto varas vezes, para torna-lo aceitável à
assembléia conciliar.
No decreto que veio a ser aprovado em 17 de setembro, faz-se recair sobre os bispos a
principal responsabilidade pela liturgia da missa. O Concílio que já estava reunido havia
demasiado tempo, confiou ao Papa, na sessão XXV, a reforma do missal e do breviário.
A questão da língua litúrgica foi abordada na sessão XXII, abrindo uma pequena possibilidade
para a língua vulgar, mas conservando a língua latina como expressão da unidade da Igreja e
remédio eficaz contra as heresias:
“Embora a missa contenha uma grande instrução do povo fiel, não pareceu aos Padres
que fosse conveniente celebra-la de ordinário em língua vulgar (cânon 9). Por essa
razão, mantido em toda parte o rito antigo de cada Igreja e aprovado pela Santa Igreja
Romana, mãe e mestra de todas as Igrejas, a fim de que as ovelhas de Cristo não
padeçam fome nem os pequeninos peçam pão e não haja quem reparta, ordena o santo
Concílio aos pastores e a quantos caiba a cura de almas, que freqüentemente, durante
a celebração das missas, diretamente ou representados, exponham algo acerca do que
se lê na missa e, entre outras coisas, declarem alguns mistérios desse santíssimo
sacrifício, em especial aos domingos e dias festivos.
A reforma dos livros litúrgicos não tardou a ser realizada. Pio V editou o Breviarium
romanum (1568) e o Missale romanum, que deveria ser a única forma para todas as Igrejas
(1570); Clemente VIII, o Pontificale romanum (1596) e o Cerimoniale episcoporum (1600) e,
Paulo V, o Rituale romanum (1614). Sisto V, criou, em 1588, a Sagrada Congregação dos Ritos
com a missão de vigiar para que o modo prescrito da celebração da missa e das demais partes da
liturgia sejam rigorosamente observados. Inicia-se a era dos rubricistas.
latim, língua estranha ao povo, contribui sobremaneira para que o culto já não seja, sobretudo,
participação ativa da comunidade no mistério de Cristo, mas, no máximo, sua representação
quase teatral, que anima a oração pessoal e subjetiva do fiel. O culto permanece, como na Idade
Média, uma prerrogativa do clero e da hierarquia.
O iluminismo
Bento XIV (1740-1758), ainda como bispo de Bolonha, ensaiou alguma reforma, sem
êxito. As liturgias das dioceses da França, que se multiplicam de maneira anárquica ao longo
do século XVIII, não receberam o assentimento da Santa Sé. O Sínodo de Pistoia – Itália
(1786), restringiu-se a condenações doutrinais e à sinalização de alguns pontos a reformar no
campo litúrgico, como: um só altar em cada templo, participação dos fiéis, abolição da cobrança
da missa, redução das procissões, música simples, grave e adaptada ao sentido das palavras,
ornamentação que não ofenda nem distraia o espírito, reforma do breviário e do missal, um
novo ritual, redução de excessivo número de festas, leitura em um ano da Sagrada Escritura no
ofício, etc. A maioria dessas questões encontrou eco no Concílio Vaticano II. Para a época do
Iluminismo, a liturgia se reduz a um meio de educação destinado à humanização do indivíduo;
mas já não é entendida como “adoração de Deus em espírito e verdade”.
Em reação a uma religião confinada aos limites da pura razão, o século XIX reafirma o
princípio da revelação, do dogma e da tradição, assim como o respeito devido à hierarquia. Esta
valorização da Tradição tem o seu reflexo na liturgia: o gosto pelas orações latinas, pelas
cerimônias e rubricas, bem como o entusiasmo pela música gregoriana caracterizam essa época
da Restauração.
Esse movimento ainda não patrocina a participação do povo na ação litúrgica; o culto
cristão chega a ser considerado como realidade intangível e misteriosa, obra perfeitíssima do
Espírito, ao abrigo da toda evolução histórica, envolto pelo halo protetor da língua sagrada: a
língua latina. Neste contexto, surge a figura, sob tantos aspectos meritória, do abade Próspero
Guéranger (1805-1875). Adversário acérrimo das “liturgias neogalicanas” surgidas no século
anterior, Guéranger exige um retorno incondicional aos livros autênticos da liturgia romana
pura. Autor de grandes obras como Institutions liturgiques e L’année liturgique, D. Guéranger,
no entanto, é partidário de uma explicação completa dos textos e cerimônias do culto diante do
povo; segundo ele, o culto deve manter-se sempre encoberto para o povo cristão pelo véu de
mistério.
A mentalidade de Guéranger pode ser condensada nas seguintes teses: a liturgia é por
excelência a oração do Espírito na Igreja, é a voz do corpo de Cristo, da esposa orante do
Espírito; há na liturgia uma presença privilegiada da graça; nela se encontra a mais genuína
expressão da igreja e de sua tradição; a chave de inteligência da liturgia é a leitura cristã do
Disciplina: Liturgia I
16
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Antigo Testamento, bem como a do Novo apoiada no Antigo. A Igreja como corpo e esposa de
Cristo contrasta com a piedade individualista pós-tridentina que Guéranger critica.
Dia 25 de janeiro de 1959, menos de três meses depois de sua eleição, João XXIII,
manifestou aos Cardeais reunidos no Mosteiro de São Paulo, seu desejo de convocar um
concílio. (Motivos: abuso e comprometimento da liberdade, a recusa da fé em Cristo, a busca
dos pretensos bens da terra, a atividade do príncipe das trevas, que é também príncipe deste
mundo, a luta contra a verdade e o bem, a divisão entre as duas cidades, o esforço da confusão,
a debilitação das energias do espírito, a tentação e a atração das vantagens de ordem material
que o progresso da técnica moderna engrandece e exalta...). Os Cardeais foram tomados de
surpresa. Os concílios são convocados, normalmente, para resolver problemas de ordem
doutrinal (heresias, etc). Falando aos assistentes da Ação Católica Italiana, no dia 09/08/59, ele
diz: “A idéia do concílio não amadureceu como um fruto de prolongada consideração, mas
como uma flor de inesperada primavera”. No motu próprio de 05/06/60, diz: “Consideramos
inspiração do Altíssimo a idéia de convocar um Concílio Ecumênico, que desde o início de
nosso pontificado se apresentou à nossa mente como flor de inesperada primavera”. No dia
25/12/61, na solene bula de indicção Humanae Salutis, exprime-se nestas palavras: “Acolhendo
como vinda do alto uma voz íntima no nosso espírito, julgamos estar maduro o tempo para
oferecermos à Igreja Católica e ao mundo o dom de um novo Concílio Ecumênico”.
Concílio Ecumênico, em que hão de participar os Sagrados Pastores do Orbe Católico para
tratarem dos graves problemas da religião, principalmente para (1) conseguirem o incremento
da Fé Católica e (2) a saudável renovação dos costumes no povo cristão e para (3) a
disciplina eclesiástica se adaptar melhor as necessidades dos nossos tempos”. Se
compararmos a celebração da Liturgia há 50 anos e pensarmos como ela se apresenta hoje,
perceberemos uma imensa transformação. Quando, em dezembro de 1961, através da bula
"Humanae salutis", o Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II (XXI Concílio
Ecumênico da Igreja Católica), sua intenção primeira era apresentar um documento relativo a
discussões sobre o tema da Igreja. No entanto, por razões diversas os padres conciliares
ocuparam-se sobre a Sagrada Liturgia. As grandes finalidades do Concílio foram assim
expressas:
Após fervorosa novena ao Divino Espírito Santo, ao som dos sinos de todos os países
do mundo, num ambiente de intensa comoção espiritual e de grande entusiasmo, inaugurou-se
solenemente, na manhã do dia 11 de outubro de 1962, Festa da Maternidade Divina de Maria
Santíssima, na Patriarcal Basílica de São Pedro, o XXI Concílio Ecumênico, chamado de
Concílio Vaticano II, o concílio mais ecumênico de toda a história. Estavam presentes na
celebração de abertura, 2540 bispos, provenientes de todos os continentes, sendo que 204 destes
eram bispos do Brasil. Faltaram uns 30, por motivo de idade ou de doença. Já no dia 22 de
outubro começaram os debates em torno da liturgia em geral e da renovação litúrgica (24/10),
língua litúrgica (26/10), participação ativa na liturgia (27/10), o princípio da adaptação (29/10),
concelebração (30/10), Liturgia da Palavra (31/10), Liturgia dos Sacramentos (06/11), o
breviário (09/11)...
A Sacrosanctum Concilium.
uma fonte, se deriva a graça para nós e com a maior eficácia é obtida aquela santificação dos
homens em Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as
demais obras da Igreja (SC 10).
a) é uma ação sagrada: quer dizer: ação de uma comunidade – Igreja onde Cristo age. É
sagrada pois comunica Deus e por ela no comunicamos com ele. E aí entra a fé e o
amor.
b) Ritos sensíveis: esta comunicação com Deus, por Cristo e em Cristo se faz através de
sinais e símbolos, isto é, de forma sacramental.
c) O múnus sacerdotal de Cristo: É ele (Cristo) quem age e continua a realizar a obra da
salvação de modo que todos possam realizar a sua vocação sacerdotal recebida no
Batismo. A ação sagrada é de Cristo. Ele é o sacerdote principal – o oferente e a oferta.
d) Na Igreja e pela Igreja: Cristo não age sozinho mas se faz presente na e pela ação da
Igreja toda
e) Para a santificação do homem e a glorificação de Deus: estes são os dois movimentos
de cada ação litúrgica: o movimento de Deus para o homem – santificação. E o
movimento do homem para Deus – a glorificação.
PROÊMIO
CAPÍTULO I
seu corpo, a Igreja. Por isso a sua eficácia não é igualada por nenhuma outra ação da
Igreja sob o mesmo título e grau.
8. A liturgia é escatológica
9. A liturgia não esgota toda ação da Igreja: antes de celebrar é preciso a fé e a conversão
10. A liturgia é o cume e a fonte: toda pastoral tem por finalidade levar os fiéis a se
reunirem juntos para participar da Missa e do Louvor Divino. Deles deriva a maior
eficácia para santificar as pessoas e glorificar a Deus
11. É dever dos pastores vigiar sobre o respeito das normas, para a validade dos atos
litúrgicos e para que os fiéis participem consciente, ativa e frutuosamente
12. A vida espiritual se separe da liturgia, mas todos os outros momentos do existir devem
se tornar um culto agradável a Deus
13. As devoções não litúrgicas e a piedade popular sejam conforme as Leis da Igreja. Tais
exercícios devem ser afinados aos tempos do ano litúrgico, condigam com a liturgia,
dela derivem e para ela encaminhem o povo, pois a liturgia por sua própria natureza em
muito os supera
14. Todos têm direito e obrigação de serem levados à participação plena, consciente e ativa
da liturgia, pois é a primeira e necessária fonte do verdadeiro espírito cristão. Isto,
porém depende dos pastores. Por isso se cuide da formação litúrgica do clero.
15. Nos seminários, casas de estudo e faculdades teológicas sejam formados mestres em
liturgia
16. A liturgia esteja entre as disciplinas indispensáveis e principais e seja apresentada no
aspecto da teologia, história, espiritualidade, pastoral e direito. As outras disciplinas
procurem ser conexas com a liturgia
17. Os seminários e casas religiosas adquiram formação litúrgica, conhecendo o significado
dos ritos e dos símbolos. Toda vida e casas religiosas seja impregnada do espírito
litúrgico
18. Os sacerdotes entendam o que celebram e o vivam
19. Promovam com afinco e paciência a vida litúrgica dos fiéis
20. As celebrações transmitidas na rádio e televisão sejam decorosas e discretas
21. A liturgia consta de uma parte divina imutável e de uma parte humana mutável
22. A liturgia consta de parte imutáveis e mutáveis. A reforma das cerimônias e dos textos
pretende tornar transparente o que significam. Cabe a Santa Sé Toda Reforma da
liturgia
23. Toda reforma proceda de cuidadosa investigação histórica, teológica e pastoral. Toda
reforma derive organicamente da liturgia precedente e evite inovações inúteis. Evite-se
diferenças na mesma região
24. Os textos e os ritos tomem sua significação na Sagrada Escritura
25. Sejam reformados os livros litúrgicos pelos especialistas
26. As ações litúrgicas não são privadas, mas de toda Igreja, manifestando-a e afetando-a
27. A celebração comunitária é preferível à individual
28. Cada qual faça o que lhe compete
29. Os ajudantes, os leitores, comentaristas, cantores, etc são ministros litúrgicos e devem
ser preparados para sua função
30. Responder, cantar, salmodiar, fazer gestos e silêncio são meios para participar
31. São previstas partes que cabem aos fiéis
32. Não se permita acepção de pessoas
33. Toda liturgia tem força educativa
34. Os ritos sejam transparentes
Disciplina: Liturgia I
21
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
35. As palavras sejam conexas com os ritos: amplie-se o uso da Bíblia (leituras mais
variadas); a homilia é parte integrante da liturgia e deve haurir seus conteúdos na Bíblia
e na Liturgia; na liturgia façam-se esclarecimentos discretos; incentive-se a celebração
da Palavra de Deus, sobretudo quando falta o padre
36. Seja conservado o Latim: use-se o a língua vulgar quando for útil; compete à autoridade
territorial determinar o uso da língua vulgar; a tradução deve ser aprovada pela
autoridade eclesial territorial
37. A adaptação aos costumes dos povos não admita confusão com conteúdos supersticiosos
e esteja de acordo com as normas do espírito da liturgia cristã
38. Cuide-se da unidade do Rito Romano nas adaptações, por escrito e ordenadamente
39. As adaptações devem ser aprovadas pela autoridade competente e segundo a
Constituição Litúrgica
40. Nas adaptações mais profundas: sejam admitidos elementos da tradição popular que
sejam valiosos, com aprovação da Santa Sé; a Santa Sé dará diretrizes e orientações;
Preparem-se especialistas nas missões
41. O Bispo é o sumo sacerdote da grei, dele depende a vida dos fiéis, por isso enfoquem-se
as celebrações presidias pelo Bispo com seus presbíteros
42. Nas paróquias favoreça-se a celebração do domingo
43. A promoção da vida Litúrgica é como uma passagem do Espírito Santo em sua Igreja
44. Para favorecer a promoção da vida litúrgica seja instituída a Comissão Litúrgica
Nacional
45. Para favorecer a promoção da vida litúrgica seja instituída a Comissão Litúrgica
Diocesana
46. Para favorecer a promoção da vida litúrgica sejam instituídas as Comissões de música
sacra e de arte sacra
47. O nosso Salvador instituiu na última Ceia o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu
Sangue, para perpetuar o Sacrifício da cruz e confiou à Igreja o memorial da sua morte
e ressurreição;
48. A Igreja procura que os cristãos participem na ação sagrada consciente, ativa e
piedosamente por meio duma boa compreensão dos ritos e orações: sejam instruídos
pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor; dêem graças a Deus;
aprendam a oferecer-se a si mesmos; que progridam na unidade com Deus e entre si,
para que finalmente Deus seja tudo em todos.
49. Para que o Sacrifício da missa alcance plena eficácia pastoral, mesmo quanto ao seu
rito, o sagrado Concílio, determina o seguinte:
50. O Ordinário da missa deve ser revisto, que os ritos se simplifiquem; sejam omitidos
todos os que se duplicaram ou menos ùtilmente se acrescentaram; restaurem-se, porém,
alguns que desapareceram com o tempo.
51. Prepare-se para os fiéis, com maior abundância, a mesa da Palavra de Deus;
52. A homilia não deve omitir-se, sem motivo grave, nas missas dos domingos e festas de
preceito, concorridas pelo povo.
53. Deve restaurar-se, especialmente nos domingos e festas de preceito, a «oração comum»
ou «oração dos fiéis», recitada após o Evangelho e a homilia
54. A língua vernácula pode dar-se, nas missas celebradas com o povo, um lugar
conveniente, sobretudo nas leituras e na «oração comum» e, segundo as diversas
circunstâncias dos lugares, nas partes que pertencem ao povo
Disciplina: Liturgia I
22
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
83. Jesus Cristo ao assumir a natureza humana, trouxe a este exílio da terra aquele hino que
se canta por toda a eternidade na celeste mansão: Ele une a si toda a humanidade e
associa-a a este cântico divino de louvor, continua esse múnus sacerdotal por
intermédio da sua Igreja, que louva o Senhor sem cessar e intercede pela salvação de
todo o mundo especialmente pela recitação do Ofício divino.
84. O Ofício divino destina-se a consagrar o curso diurno e nocturno do tempo: é
verdadeiramente a voz da Esposa que fala com o Esposo ou, melhor, a oração que
Cristo, unido ao seu Corpo, eleva ao Pai.
85. Todos os que rezam assim, cumprem, por um lado, a obrigação própria da Igreja, e, por
outro, participam na imensa honra da Esposa de Cristo, porque estão em nome da Igreja
diante do trono de Deus, a louvar o Senhor.
86. Os sacerdotes, dedicados ao sagrado ministério pastoral, recitarão com tanto mais fervor
o Ofício divino, quanto mais conscientes estiverem de que devem seguir a exortação de
S. Paulo: «Rezai sem cessar» (1 Tess. 5,17).
87. Para permitir nas circunstâncias atuais uma melhor e mais perfeita recitação do Ofício
divino, pareceu bem ao sagrado Concílio estabelecer o seguinte sobre o Ofício do rito
romano.
88. Sendo o objetivo do Ofício a santificação do dia, deve rever-se a sua estrutura
tradicional, de modo que, na medida do possível, se façam corresponder as «horas» ao
seu respectivo tempo, tendo presentes também as condições da vida hodierna em que se
encontram sobretudo os que se dedicam a obras do apostolado.
89. Por isso, na reforma do Ofício, observem-se as seguintes normas: a) As Laudes, oração
da manhã, e as Vésperas, oração da noite, tidas como os dois polos do Ofício quotidiano
pela tradição venerável da Igreja universal, devem considerar-se as principais Horas e
como tais celebrar-se; b) As Completas devem adaptar-se, para condizer com o fim do
dia; c) As Matinas, continuando embora, quando recitadas em coro, com a índole de
louvor nocturno, devem adaptar-se para ser recitadas a qualquer hora do dia; tenham
menos salmos e lições mais extensas; d) Suprima-se a Hora de Prima; e) Mantenham-se
Disciplina: Liturgia I
24
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
na recitação em coro as Horas menores de Tércia, Sexta e Noa. Fora da recitação coral,
pode escolher-se uma das três, a que mais se coadune com a hora do dia.
90. Que todos, ao recitarem-no, o espírito corresponda às palavras; para melhor o
conseguirem, procurem adquirir maior instrução litúrgica e bíblica, especialmente
quanto aos salmos.
91. Distribuam-se os salmos por mais longo espaço de tempo que uma semana apenas.
92. Quanto às leituras, sigam-se estas normas: a) Ordenem-se as leituras da Sagrada
Escritura de modo que se permita mais fácil e amplo acesso aos tesouros da palavra de
Deus; b) Faça-se melhor selecção das leituras a extrair das obras dos Santos Padres,
Doutores e Escritores eclesiásticos; c) As «Paixões» ou vidas dos Santos sejam
restituídas à verdade histórica.
93. Restaurem-se os hinos, segundo convenha, na sua forma original. Se convier, admitam-
se também outros que se encontram nas coleções hinológicas.
94. Que ao rezá-las se observe o tempo que mais se aproxima do verdadeiro tempo de cada
um das Horas canónicas.
95. As Comunidades com obrigação de coro têm o dever de celebrar, além da Missa
conventual, diàriamente e em coro, o Ofício divino
96. Os clérigos não obrigados ao coro, se já receberam Ordens maiores, são obrigados a
recitar diàriamente, ou em comum ou individualmente, todo o Ofício
97. Podem os Ordinários, em casos particulares e por causa justa, dispensar os seus súbditos
da obrigação de recitar o Ofício no todo ou em parte, ou comutá-lo.
98. Os membros dos Institutos de perfeição, que, por força das constituições, recitam
algumas partes do Ofício divino, participam na oração pública da Igreja.
99. Aconselha-se aos clérigos não obrigados ao coro, que convivem ou se retinem, que
rezem em comum ao menos alguma parte do Ofício divino.
100. Cuidem os pastores de almas que nos domingos e festas mais solenes se celebrem em
comum na igreja as Horas principais, especialmente Vésperas. Recomenda-se também
aos leigos que recitem o Ofício divino.
101. O Ordinário poderá conceder a faculdade de usarem uma tradução em vernáculo.
102. A santa mãe Igreja, no dia a que chamou domingo, celebra a da Ressurreição do
Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades,
unida à memória da sua Paixão. Distribui todo o mistério de Cristo pelo correr do ano,
da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz
esperança e da vinda do Senhor: assim, oferece aos fiéis as riquezas das obras e
merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo,
para que os fiéis, em contato com eles, se encham de graça.
103. Na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com
especial amor a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus.
104. A Igreja inseriu também no ciclo anual a memória dos Mártires e outros Santos.
105. Em várias épocas do ano e seguindo o uso tradicional, a Igreja completa a formação
dos fiéis servindo-se de piedosas práticas corporais e espirituais, da instrução, da oração
e das obras de penitência e misericórdia. Por isso, aprouve ao sagrado Concílio
determinar o seguinte:
106. Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja
celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor
ou domingo, fundamento e o centro de todo o Ano Litúrgico.
107. Reveja-se o ano litúrgico e se acaso forem necessárias adaptações aos vários lugares
108. Oriente-se o espírito dos fiéis em primeiro lugar para as festas do Senhor, de
preferência sobre as festas dos Santos.
109. Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois
aspectos característicos do tempo quaresmal: os elementos batismais próprios da liturgia
quaresmal e os elementos penitenciais.
Disciplina: Liturgia I
25
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
110. A penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e
individual. Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a
parte na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao
Sábado santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com
elevação e largueza de espírito.
111. A Igreja, segundo a tradição, venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como
as suas imagens.
112. A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à
ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como factor de comunhão,
quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita
no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades
requeridas.
113. A ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com
canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação activa do povo.
114. Guarde-se e desenvolva-se com diligência o património da música sacra. Promovam-se
com empenho as «Scholae cantorum».
115. Dê-se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos
de ambos os sexos, bem como noutros institutos e escolas católicas, à formação e
prática musical.
116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este
na ação litúrgica o primeiro lugar.
117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano;
118. Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos
exercícios piedosos e sagrados como nas próprias acções litúrgicas, segundo o que as
rubricas determinam.
119. Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria.
Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do
sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole.
120. Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos. Podem utilizar-se no
culto divino outros instrumentos.
121. Os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a
cultivar a música sacra e a aumentar-lhe o património. Os textos destinados ao canto
sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada
Escritura e nas fontes litúrgicas.
122. A santa mãe Igreja amou sempre as belas artes e preocupou-se com muita solicitude
em que as alfaias sagradas contribuissem para a dignidade e beleza do culto, aceitando
no decorrer do tempo, na matéria, na forma e na ornamentação, as mudanças que o
progresso técnico foi introduzindo.
123. Seja cultivada livremente 'na Igreja a arte do nosso tempo, a arte de todos os povos e
regiões, desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos
edifícios e ritos sagrados.
124. Ao promoverem uma autêntica arte sacra, prefira-se uma beleza que seja nobre.
Aplique-se isto mesmo às vestes e ornamentos sagrados.
125. Mantenha-se o uso de expor imagens nas igrejas à veneração ds fiéis.
126. Para emitir um juízo sobre as obras de arte, escute-se parecer da Comissão de arte
sacra e de outras pessoas particularmente competentes
127. Cuidem os Bispos de, por si ou por sacerdotes idóneos e que conheçam e amem a arte,
imbuir os artistas do espírito da arte sacra e da sagrada Liturgia.
Disciplina: Liturgia I
26
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Medellín (1968)
“A liturgia é ação de Cristo Cabeça e de seu Corpo que é a Igreja. Contém, portanto, a
iniciativa salvadora que vem do Pai pelo Verbo no Espírito Santo, e a resposta da
humanidade naqueles que se enxertam pela fé e pela caridade, no Cristo, recapitulador
de todas as coisas. A liturgia, momento em que a Igreja é mais perfeitamente ela
mesma, realiza, indissoluvelmente unidas, a comunhão com Deus e entre os homens, e
de tal maneira que a primeira é a razão da segunda. Se antes de tudo procura o louvor
da glória e da graça, também está consciente de que todos os homens precisam da
Glória de Deus para serem verdadeiramente homens” (Medellín – Lit. 9,2).
Puebla (1979)
Os bispos pedem que, nas ações da pastoral litúrgica, seja empregada a seguinte
metodologia: a) tome-se a piedade popular como ponto de partida para conseguir que a fé ganhe
maturidade e profundidade; para isso deve-se basear na palavra de Deus e no sentido de
pertença à Igreja (960); b) apresentar a devoção à Maria e aos Santos como a realização neles da
Páscoa de Cristo e recordar que deve conduzir à vivência da Palavra e ao testemunho de vida
(963); c) a liturgia não esgota toda atividade da Igreja; recomende-se os exercícios piedosos do
Disciplina: Liturgia I
28
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Povo Cristão contanto que sejam conformes às normas e Leis da Igreja, derivem da Liturgia e a
ela conduzam.
917. O Pai, por Cristo e no Espírito, santifica a Igreja e, por ela, o mundo;
mundo e Igreja por sua vez, por Cristo e no Espírito, dão glória ao Pai.
918. A liturgia, como ação de Cristo e da Igreja, é o exercício do sacerdócio de Jesus
Cristo; é o ápice e a fonte da vida eclesial. É um encontro com Deus e os irmãos; banquete e
sacrifício realizado na Eucaristia; festa de comunhão eclesial, na qual o Senhor Jesus;
por seu mistério pascal, assume e liberta o Povo de Deus e, por ele, toda a humanidade, cuja
história é convertida em história salvífica, para reconciliar os homens entre si e com Deus.
A liturgia é também força em nosso peregrinar, para que se leve a bom termo, mediante o
compromisso transformador da vida, a realização plena do Reino, segundo o plano de
Deus.
920. O homem é um ser sacramental; no nível religioso, exprime suas relações com
Deus num conjunto de sinais e símbolos; Deus, igualmente, os utiliza quando se comunica
com os homens. Toda a criação é, de certa forma, sacramento de Deus, porque no-lo revela.
921. Cristo “é imagem de Deus invisível” (Cl 1,15). Como tal, é o sacramento
primordial e radical do Pai: “aquele que me viu, viu o Pai” (Jo 14,9)
922. A Igreja é, por sua vez, sacramento de Cristo para comunicar aos homens a
vida nova. Os sete sacramentos da Igreja concretizam e atualizam esta realidade sacramental
para as diversas situações da vida
927. Nenhuma atividade pastoral pode-se realizar sem referência à liturgia. As
celebrações litúrgicas supõem uma iniciação à fé, mediante o anúncio evangelizador, a
catequese e a pregação bíblica; esta é a razão de ser dos cursos e encontros pré-sacramentais
Santo Domingo
A América Latina passara por diferentes mudanças desde 1979, data da última
conferência. Havia-se alterado a situação política das repúblicas latino-americanas, passando de
ditaduras de distintas matizes a regimes políticos mais ou menos democráticos. Constatara-se a
derrocada do “socialismo real” e afirmava-se o neoliberalismo de cunho anglo-saxão. A
violência do narcotráfico se estendia, em convivência com algumas guerrilhas. Nos anos 80 se
acentuara a urbanização, evidenciando a miséria de grandes parcelas de população aglomeradas
nas grandes cidades. Na Mensagem que os bispos da IV Conferência dirigiram aos povos
da América Latina, diz-se expressamente que a Nova Evangelização foi a idéia central de todo o
trabalho da Conferência. Todos os fiéis, especialmente os leigos e os jovens, são convocados
para a Nova Evangelização. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano quis
traçar linhas fundamentais de um novo impulso evangelizador, que ponha Cristo no coração e
nos lábios, na ação e na vida de todos os latino-americanos.” Em seu discurso inaugural, João
Disciplina: Liturgia I
29
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“De fato, mediante o testemunho de uma Igreja cada vez mais fiel à sua identidade e
mais viva em todas as suas manifestações, os homens e os povos poderão continuar a
encontrar Jesus Cristo e, n’Ele, a verdade da sua vocação e da sua esperança, o
caminho em direção à humanidade melhor.Todos os evangelizadores também deverão
dar uma atenção especial à catequese. No início do meu pontificado quis dar um novo
impulso a esta tarefa pastoral mediante a exortação apostólica Catechesi Tradendae e,
recentemente, aprovei o Catecismo da Igreja Católica, que recomendo como o melhor
dom que a Igreja pode fazer aos seus bispos e ao povo de Deus. Trata-se de valioso
instrumento para a nova evangelização, no qual se compendia toda doutrina que a
Igreja deve ensinar. Confio igualmente que o Movimento Bíblico continue
desenvolvendo sua benéfica tarefa na América Latina e que a Sagrada Escritura nutra
cada vez mais a vida dos fiéis, para o que se faz imprescindível que os agentes de
pastoral se aprofundem incansavelmente na Palavra de Deus, vivendo-a e
transmitindo-a aos demais com fidelidade, ou seja, tendo em conta a Tradição viva de
toda Igreja e a analogia da fé (DV 12). Da mesma forma o Movimento Litúrgico deverá
dar um impulso renovado impulso à vivência íntima dos mistérios da nossa fé, levando
ao encontro de Cristo ressuscitado na liturgia da Igreja. É na celebração da Palavra e
dos Sacramentos, mas sobretudo na celebração da Eucaristia, fonte e coroa de toda
vida da Igreja e de toda evangelização, que se realiza nosso encontro salvífico com
Cristo, a quem nos unimos misticamente formando a Igreja (cf LG 7). Por isso exorto-
vos a dar um novo impulso à celebração digna, viva e participada das assembleias
litúrgicas, com esse profundo sentido da fé e da contemplação dos mistérios da
salvação, tão enraizados em vossos povos” ( Papa João Paulo II, discurso inaugural por
ocasião da IV Conferência Geral do Episcopado Latino Americano).
A Santa Igreja encontra o sentido de sua convocação na vida de oração, louvor e ação
de graças que o céu e terra dirigem a Deus por suas obras grandes e maravilhosas (Ap 15, 3s;
7,9-17). Esta é a razão pela qual a liturgia é o cume ao qual tende toda atividade da Igreja e, ao
mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força (SC 10). Mas a liturgia é ação do Cristo
total, Cabeça e Membros, e como total deve expressar o sentido mais profundo de sua oblação
ao Pai: obedecer, fazendo de toda a sua vida a revelação do amor do Pai pelos homens. Assim
como a celebração da última ceia está essencialmente unida a vida e ao sacrifício de Cristo na
Cruz e o faz cotidianamente presente pela salvação de todos os homens, assim também os que
louvam a Deus reunidos em torno do cordeiro são os que mostram em suas vidas os sinais
testemunhais da entrega de Jesus (Ap 7,13). Por isso o culto cristão deve expressar a dupla
vertente da obediência ao Pai (glorificação) e da caridade para com os irmãos (redenção), pois a
glória de Deus é o homem vivo. Com isso, longe de alienar os homens, liberta-os e faz irmãos.
O serviço litúrgico assim realizado na Igreja tem por si mesmo um valor evangelizador,
que a Nova Evangelização deve situar em luar de destaque. Na liturgia, Cristo Salvador se faz
presente hoje. A liturgia é o anúncio e realização dos feitos salvíficos (SC 10) que nos chegam a
tocar sacramentalmente; por isso convoca, celebra e envia. É exercício da fé , útil tanto para
quem tem uma fé robusta quanto para quem a tem frágil e, inclusive, para o não crente (1 Cor
14,24-25). Sustenta o compromisso da promoção humana, enquanto orienta os fiéis a assumirem
sua responsabilidade na construção do reino, para que seja manifestado que os fiéis cristãos,
sem ser deste mundo, são a luz do mundo (SC 9). A celebração não pode ser algo separado ou
paralelo à vida (cf 1 Pd 1,15).
Por fim, é especialmente pela liturgia que o evangelho penetra no coração das culturas.
Toda celebração litúrgica de cada sacramento tem também um valor pedagógico; a linguagem
dos sinais é o melhor veículo para que a mensagem de Cristo penetre nas consciências das
pessoas e daí se projete no ethos de um povo, em suas atitudes vitais, em suas instituições e em
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
todas as suas estruturas. Por isso as formas das celebrações litúrgicas devem ser capazes de
expressar o mistério que se celebra e, por sua vez, serem claras e intelegíveis aos homens e
mulheres de nosso tempo.
1113: Toda vida litúrgica da Igreja gravita em torno do sacrifício eucarístico e dos sacramentos.
1114-1116: I. Os Sacramentos de Cristo
1117-1121: II. Os sacramentos da Igreja
1122-1126: III. Os Sacramentos da Fé.
1127-1129: IV. Os Sacramentos da Salvação.
Disciplina: Liturgia I
31
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
1179-1186: IV. Onde celebrar? = o culto”em espírito e em verdade”(Jo 4,24) da Nova Aliança
não está ligado a um lugar exclusivo. A igreja-edifício é um sinal externo que manifesta a
presença da IGREJA-TEMPLO-ESPIRITUAL, morada de Deus com o homem.
II propôs uma renovação eclesial e uma correspondente renovação litúrgica, incluindo o espaço
da celebração.
O altar deve ser o centro focal ao qual toda a assembleia se dirige, e deve aparecer
claramente a sua qualidade de altar do sacrifício da cruz, além do seu ser a mesa do Senhor à
qual os seus discípulos são convidados. Historicamente, o altar sempre foi o lugar mais
venerável, que sempre mereceu a suprema dignidade como lugar onde se realiza o mistério de
Cristo e da Igreja. Ele é símbolo do verdadeiro e místico altar que é Cristo. Ele é o coração de
uma igreja. Pela sua importância, por ocasião da dedicação de uma igreja, a sua consagração
constitui a parte central. Sendo a eucaristia o sacramento principal da vida da Igreja, o altar
resume em si o mistério do culto cristão de glorificação de Deus e santificação das pessoas.
Neste sentido, o altar é o lugar especial de encontro de Deus com a comunidade, através do
sacrifício pascal de Jesus Cristo. Participar da mesa do Senhor implica estar em comunhão com
ele (1Cor 10,16-21). Reunir-se em torno do altar significa reunir-se com Cristo. “A participação
do corpo e sangue de Cristo nada mais é do que nós nos transformarmos no que tomamos”.
Na celebração da dedicação, temos quatro ritos de consagração do altar que têm como
finalidade expressar com sinais visíveis a ação que Deus realiza na Igreja, especialmente quando
ela celebra a eucaristia. O objetivo destes ritos é evidenciar que o altar é o símbolo central da
igreja destinada a celebrar a eucaristia. O rito da unção com o óleo do Crisma quer significar
que o altar é sinal de Cristo, o Ungido do Pai. Por isso, o altar é motivo de muitos sinais de
veneração como a inclinação, o beijo, a incensação. O incenso é queimado sobre o altar para
significar que o sacrifício de Cristo sobe a Deus em odor de suavidade (ODEA, IV, 22b). Antes
de mais nada o altar é uma mesa, a mesa da refeição, sobre a qual o sacerdote, representando o
Cristo Senhor, realiza o que Jesus fez na quinta-feira santa quando instituiu o seu memorial.
A dignidade do altar decorre justamente do fato de ser ele a mesa da ceia do Senhor. A
comunidade que se reúne em sua volta segue o mandato de Jesus na última ceia: “Fazei isto em
memória de mim”. Assim, oferecendo Cristo ao Pai, a comunidade também se oferece ao Pai,
por Cristo, no Espírito. O altar é então ao mesmo tempo mesa do sacrifício e da ceia pascal do
Senhor.
O altar não é apenas um objeto útil para a celebração da eucaristia. Ele é o sinal da
presença de Cristo, sacerdote, altar e cordeiro. O Missal Romano chama à atenção sobre a
importância da centralidade do altar (IGMR 299). Ele deve chamar a atenção de toda a
assembléia. É ele que deve aparecer. O presidente da celebração não pode ofuscar o lugar de
destaque que é do Cristo, simbolizado no altar. “O altar é o centro das ações de graças
oferecidas pela Eucaristia, para o qual de algum modo todos os outros ritos da Igreja
convergem. Por se realçar que no altar se celebra o memorial do Senhor e se dá aos fiéis seu
Corpo e Sangue, os escritores eclesiásticos foram levados a vê-lo como sinal do próprio Cristo.
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Por isso tornou-se comum a afirmação: ‘O altar é Cristo’”(ODEA IV.4). O altar pode ser fixo
ou móvel. Contudo, é aconselhado que o altar seja fixo, o que melhor simboliza o Cristo, a
rocha firme e forte (IGMR 298). Também, em vista do simbolismo e da dignidade que o altar
representa e do caráter da assembléia litúrgica, é fundamental que ele seja único, seguindo assim
o antigo princípio eclesial: um só Senhor, uma só mesa do Senhor, uma só comunidade.
Oração: “Diante do Altar, símbolo do vosso sacrifício pascal e mesa da vossa família, ensinai-
nos Senhor Jesus a sermos nós mesmos um altar, onde a vida se torna um culto agradável a
Deus. Enviai sobre nós o Espírito Santo: que ele faça de nós uma oblação santa, uma hóstia
pura, um cálice vivo para a honra do Pai e a salvação de muitos. Amém”
O ambão deve ser e se mostrar como o púlpito do qual ressoa a Palavra para toda a
assembleia, "a tribuna posta em um lugar elevado", segundo o trecho bíblico que testemunha,
pela primeira vez, esse elemento essencial para a assembleia nascida da Palavra (cf. Ne 8, 1-12).
Deve fazer sinal ao Cristo presente na sua Palavra, "pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a
Sagrada Escritura" (Sacrosanctum Concilium, 7). Além da mesa do altar, há no presbitério uma
outra mesa, chamada oficialmente de ambão, do qual se faz a proclamação da palavra de Deus.
A origem grega de ambão é “anabeinein” que significa “subir”. A OLM assim recomenda: “No
espaço da igreja deve haver um lugar elevado, fixo, dotado de conveniente disposição e
nobreza, que corresponda à dignidade da palavra de Deus e ao mesmo tempo recorde com
clareza aos fiéis que na Missa se prepara tanto a mesa da palavra de Deus como a mesa do corpo
de Cristo” (OLM 32).
Por sua vez, a Introdução do Missal Romano recomenda que “a dignidade da palavra de
Deus requer, na igreja, um lugar próprio para a sua proclamação. Durante a liturgia da palavra, é
para lá que deve convergir espontaneamente a atenção dos fiéis” (IGMR 309). O Missal orienta
ainda que, “em princípio, este lugar deve ser um ambão estável e não uma simples estante
móvel. Tanto quanto a arquitetura da igreja o permita, o ambão dispõe-se de modo que os
ministros possam facilmente ser vistos e ouvidos pelos fiéis” (IGMR 309). O destaque que se
deve dar ao lugar da palavra decorre da convicção de que Cristo está verdadeiramente presente
quando a Palavra da escritura é proclamada (SC 7). Daí ser importante também dar o devido
destaque ao Evangeliário, que na liturgia é levado em procissão até o altar, simbolizando a
relação entre a presença de Cristo na palavra e na eucaristia e depois até o ambão, onde é
incensado e beijado.
Oração: “Senhor Jesus, diante do Ambão, mesa da Palavra de Deus e símbolo do vosso
sepulcro vazio, vinde ao nosso encontro, como à Madalena, e fazei de nós testemunhas vivas da
vossa Palavra, semente do Espírito que gera os filhos da ressurreição. Amém.”
A cátedra, embora ligeiramente elevada, deveria permanecer lá onde pode ser lida a
presidência do bispo e, ao mesmo tempo, lá onde o bispo se mostra também como o primeiro
ouvinte da Palavra, ela é o lugar daquele que guia a assembléia cristã e a preside na pessoa de
Cristo e em nome da Igreja. Toda a celebração litúrgica requer naturalmente o serviço da
presidência exercida pelo bispo ou por meio dos seus presbíteros. Quem preside fala e age em
nome de Cristo. O bispo preside como vigário de Cristo e sucessor dos apóstolos. A cátedra que
está na igreja adquire seu sentido na fé da Igreja. Por sua vez aquele que senta na cátedra é o
que garante a fé da Igreja. A sucessão apostólica não é só transmissão de poderes, mas
especialmente testemunho da fé apostólica. Quanto ao lugar da sede, o Missal Romano diz que
o seu lugar mais apropriado é de frente para o povo no fundo do presbitério, a não ser que a
estrutura do edifício sagrado ou outras circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada
distância torna difícil a comunicação entre o sacerdote e a assembléia. No que diz respeito ao
aspecto, a sede do presidente deve ser única e não tenha forma de trono (IGMR 310).
Oração: “Senhor Jesus, diante da cátedra, símbolo da vossa presença de chefe e de mestre do
vosso povo que aqui se reúne, dai - nos entender os sinais do vosso serviço. Derramai sobre os
vossos servos que falam em vosso nome e agem com o vosso poder apesar de suas fraquezas e
pecados. Amém.”
construída com arte e com material adequado, apresentando limpeza perfeita, e oferecendo,
também a possibilidade de servir no caso de imersão de catecúmenos. Para realçar o significado
de sinal, pode-se também construir uma fonte de modo a fazer a água jorrar viva, como de uma
verdadeira fonte. Deve-se ainda possibilitar, conforme as necessidades da região, a calefação da
água”.
O Lugar da Assembléia
O Lugar da Reconciliação
O Sacrário ou Tabernáculo
“é muito desejável que os fiéis recebam o Corpo do Senhor com hóstias consagradas na própria
Missa” (IGMR 85). O Ritual da Sagrada Comunhão fora da Missa também explicita bem a
distinção entre altar e tabernáculo e diz que a presença de Cristo nas espécies eucarísticas é fruto
da celebração da Missa. “O fim primário e primitivo da reserva eucarística fora da Missa é a
administração do viático; os fins secundários são a distribuição da comunhão e a adoração de
nosso Senhor Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento”.
A IGMR recomenda que “de acordo com a estrutura de cada igreja e os legítimos
costumes locais, o Santíssimo Sacramento seja conservado num tabernáculo, colocado em lugar
de honra da igreja, suficientemente amplo, visível, devidamente decorado e que favoreça a
oração. Normalmente o tabernáculo seja um único, inamovível, feito de material sólido e
inviolável não transparente, e fechado de tal modo que se evite ao máximo o perigo de
profanação. Convém, além disso, que seja abençoado antes de ser destinado ao uso litúrgico,
segundo o rito descrito no Ritual Romano” (IGMR 314). Assim, pelo que se pode concluir da
Orientação do Missal e das conclusões de diversas Conferências Episcopais, o lugar do
tabernáculo deve ser uma capela especial, onde também poderá haver missas feriais e outras
celebrações da palavra. Este lugar deve favorecer a oração pessoal e a devoção eucarística. A
devoção à eucaristia é um exercício do caráter sacerdotal do povo de Deus de uma igreja
particular que o leva a uma participação mais profunda do mistério pascal. Seria, portanto,
aconselhável que a devoção à eucaristia fosse encorajada e aprofundada, como compromisso de
viver a comunhão no mundo.
O Círio Pascal
Desde os primórdios o homem percebeu na chama um dom divino para vencer as trevas
da noite e o frio do inverno. Os cristãos na noite de Páscoas iniciam sua grande vigília ao redor
da chama do círio, celebrando o Cristo que ressuscita para dissipar as trevas do coração e da
mente. Apesar de não haver nenhuma indicação no ODEA, considera-se importante prever na
catedral e em todas as igrejas um lugar para o Círio Pascal. Ele é importante pelo seu
simbolismo cristológico e pela sua função na vigília pascal, em outras vigílias, na celebração
dos sacramentos e nas celebrações da palavra. Colocado no candelabro, ele tem forma de
coluna que faz alusão ao povo que saiu do Egito, caminhando pelo deserto, com o próprio Deus
à sua frente de dia numa coluna de nuvem e de noite numa coluna de fogo (Ex 13, 21). O Círio
Pascal é símbolo do Cristo ressuscitado que vence as trevas. Ele é aceso com o fogo novo na
vigília pascal e indica a vida nova que começa a partir da ressurreição. Assim, as demais luzes
ou velas acesas no espaço litúrgico têm como ponto de partida a luz do Círio Pascal, memória
da Páscoa de Cristo. Quanto ao lugar da colocação do Círio Pascal, os bispos da Itália sugerem
que o lugar próprio do Círio Pascal é junto à estante da palavra, permanecendo aí durante o
tempo pascal.
ano e tudo o que nele fizermos; "A Ele o tempo e a eternidade a glória e o poder pelos
séculos sem fim. Amém".
4º - Cinco grãos de incenso em forma de cravos, nas cinco cavidades previamente feitas
no meio do Círio, dispostas em forma de Cruz. Esse cerimonial simboliza as cinco
chagas de Nosso Senhor nas quais penetraram os aromas e perfumes levados por Santa
Maria Madalena e as santas mulheres ao sepulcro. O incenso é uma substância
aromática que queimamos em louvor a Deus, sua fumaça, subindo, simboliza nosso
desejo de permanente união a Ele e de que nossa vida, nossas ações e nossas orações
sejam agradáveis ao Senhor. Ela representa também, nossa oração, que desejamos
chegue a Deus, como suave perfume de amor. Esses grãos simbolizam ainda as cinco
chagas gloriosas do Cristo Ressuscitado que lhe possibilitaram amar-nos totalmente,
conforme Ele mesmo dissera: "Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos" (Jo
15, 13):"Por suas santas chagas, suas chagas gloriosas, Cristo Senhor nos proteja e nos
guarde. Amém".
No início de cada celebração eucarística afirmamos que foi “o amor de Cristo que nos
uniu”; relacionar, portanto, liturgia e vida cotidiana, liturgia e existência cristã decide se a
religião se torna ou não robusta e se a vida se transforma de fato em verdadeira adoração a
Deus. Nós celebramos a liturgia de maneira correta e fecunda quando toda a nossa vida vai se
tornando cada vez mais eucaristia e louvor; e nós nos tornamos cada vez mais capazes de
celebrar a liturgia quando ordenamos a nossa vida à luz da estrutura e das leis fundamentais da
Liturgia. Ora, segundo a mentalidade e linguagem cristã primitiva podemos até dizer: a
celebração dos sacramentos e em particular da eucaristia só atinge seu objetivo quando nos
tornamos, por assim dizer, sacramento. A nossa vida deve refletir essa realidade: “Exorto-vos,
portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva,
santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1). De fato, na liturgia a Igreja
experimenta a lei da própria vida, o sentido da própria existência, que é o de conformar-se
radicalmente com Cristo: “e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos,
renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom,
agradável e perfeito”(Rm 12,2). Cristo revela-se o perfeito adorador de Deus em toda a sua vida
e sobretudo no mistério salvífico de sua morte, que celebramos em todos os sacramentos.
Somente na união muito íntima com Cristo podemos verdadeiramente adorar a Deus com toda a
nossa existência, com o nosso coração e com as nossas obras. Na verdade, Cristo nos envia do
Pai o Espírito Santo. E o Espírito Santo nos torna capazes de realizar o dom pleno de nós
mesmos e o louvor dos lábios que quer tornar-se louvor de todas as nossas aspirações e de toda
a nossa conduta. A liturgia é o melhor manual de vida cristã, que não se contenta com ensinar à
nossa inteligência, mas visa plasmar o nosso caráter. Nesse sentido é importante identificarmos
aquelas que são as principais características do culto cristão, que por assim dizer é:
a) Culto trinitário e filial: quando Cristo aparece “na plenitude dos tempos”, sua conduta e
sua palavra levam de novo a orientação e o sentido fundamental do culto para o
contexto da Aliança. Mas Jesus revela também a plenitude do culto que Deus quer, ou
seja, um culto filial que é dom do Pai por meio de Cristo e sob a ação do Espírito
Santo.Esse culto tem com núcleo a inserção da própria vida na obediência ao Filho
Jesus Cristo, mediante a fé n’Ele e a prática do amor fraterno, que desembocam na
oração filial e na ação ritual, tudo na presença do Espírito Santificador. O culto cristão é
atualização e imitação permanente da consagração de Jesus ao Pai no Espírito Santo.
c) Culto espiritual, ou seja, no Espírito Santo: o Espírito da verdade faz com que os
homens adorem o Pai em comunhão com Cristo-Verdade, unidos a Ele e, por meio dele,
ao Pai. O Espírito Santo, Senhor que dá a vida e que procede do Pai e do Filho, e com o
Pai e o Filho é adorado e glorificado, santifica os discípulos na verdade.
d) Culto eclesial: os cristãos se reúnem em assembleia santa para invocar sobre eles
próprios e sobre o pão e cálice da comunhão a presença onipotente do Senhor e a ação
do Espírito Santo. A comunidade ora em nome de Jesus e atualiza sua oferenda
sacerdotal para a salvação de todos os homens, dá a Deus o culto verdadeiro e
apresenta-se no meio do mundo como sinal ou sacramento da união com Deus e da
unidade de todo o gênero humano.
De fato, Cristo o Senhor é o Emanuel, o Deus-conosco (cf Mt 1,23), que colocou sua
tenda no meio dos homens(cf Jo 1,14) para morar com eles e comunicar-lhes o dom da presença
divina. Vamos agora nos fixar nos diferentes modos da presença do Senhor, segundo a doutrina
do Vaticano II:
a) Assembleia dos fiéis: o Vaticano II, quando menciona a presença de Cristo na
comunidade dos fiéis, relaciona expressamente essa presença com a oração e o louvor;
“está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia. Ele que prometeu onde dois
ou três estiverem reunidos em meu nome aí estarei no meio deles”(Mt 18,20). Trata-se
pois de uma presença ligada a assembleia litúrgica, reunida em nome do Senhor, o que
equivale a dizer tendo em vista o culto ao nome do Senhor. As aparições do
ressuscitado significam o cumprimento dessas promessas. Concluído o período dessas
manifestações do Senhor, a fidelidade às assembleias de oração ficará como uma
constante na comunidade primitiva (At1,14;2,1-42;4,24) e também durante os primeiros
séculos do cristianismo essa consciência era muito forte: “quando ensinas, persuade o
povo a ser fiel à reunião da assembleia...não vos enganeis a vós mesmos, não priveis
Nosso Senhor de seus membros, não desarticuleis o seu Corpo”(Didascalia
Apostolorum,13). Ora, os cristãos são aqueles que o Pai procura para ressuscitar e que
são assim por ele encontrados na assembleia litúrgica, pois formam o Corpo de Cristo.
b) Palavra proclamada: “presente está pela sua Palavra, pois é ele mesmo que fala quando
se leem as Sagradas Escrituras na igreja”(SC 7), pois “na liturgia Deus fala ao seu povo,
Cristo ainda anuncia o evangelho(SC 33). Essa presença litúrgica do senhor na palavra
proclamada encontra sua raiz nas próprias palavras da Sagrada Escritura, visto que
destina-se a comunicar a luz e a vida do Verbo encarnado, criar e salvar, continuando a
História da Salvação. A certeza que a Igreja tem dessa presença do Senhor na
proclamação da Palavra leva-a a não omitir nunca e leitura litúrgica da escritura.
c) Pessoa do ministro: o ministro age in persona Christi, pois aquele que agora oferece
pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz(SC 7). O
ministro do sacramento não faz as vezes de Cristo como se estivesse ausente, mas
estando este presente e atuante por meio do ministro, na ordem do sinal, pois é o Cristo
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
mesmo que age sacramentalmente numa celebração litúrgica; o agente dessa presença é
o Espírito Santo, com o qual ele foi ungido no sacramento da ordem.
d) Sacramentos: os sacramentos são ações de Cristo, sendo ele seu único autor e seu ator
principal. De fato, os sacramentos são acontecimentos de salvação pelos quais Deus
intervém na vida dos homens, através de seu Filho Jesus Cristo e no Espírito Santo, na
Igreja. Todo sacramento é um ato de Cristo, que recebeu do Pai e comunicou a seus
apóstolos “todo poder no céu e na terra”(Mt 28,18). Todo sacramento é veículo
simbólico e eficaz de Cristo e do poder de seu Espírito (presença dinâmica) e contém a
eficácia das ações salvíficas de Cristo, pois é ele mesmo que se faz presente(presença
mistérica)
"O ano todo coroais com vossos dons, os vossos passos são fecundos; transborda a
fartura onde passais, brotam pastos no deserto. As colinas se enfeitam de alegria, e os campos,
de rebanhos; nossos vales se revestem de trigais: tudo canta de alegria!" (Sl 64, 12-14)
O homem primitivo estava atento aos diversos ritmos do ano e percebia algo de divino
neles. Aos poucos, o homem foi sacralizando as diversas “passagens” de Deus durante o ano, no
ritmo cíclico das estações, por exemplo. Quando Deus se revela a Israel, esse ritmo não é
rompido, mas é compreendido à luz da sua fé. O povo de Israel tinha também um ritmo cíclico
de celebrações litúrgicas que se repetiam cada ano, tornando presente de forma cúltica as
diversas passagens de Deus pela sua história. Israel entendeu que essa repetição, apesar de ser
cíclica, não era fechada e morta em si, mas aberta a futuras e novas intervenções de Deus na
história. Israel entendeu também que essas repetições tornavam presente de forma misteriosa
aqueles fatos que poderiam simplesmente ter ficado no passado. Os cristãos herdaram do povo
judeu a celebrar de forma memorial as intervenções de Deus na história.
O culto da Igreja surgiu para celebrar a Páscoa de Cristo. Os primeiros cristãos não
possuíam um “ano litúrgico” propriamente dito. A vida dos primeiros cristãos tinha como centro
a Páscoa, celebrada semanalmente no “domingo” e também anualmente no “Grande Domingo”.
Depois outras celebrações vão sendo assimiladas e o mistério pascal de Cristo passa a ser
celebrado não somente de forma “concentrada” na Páscoa, mas em cada uma de suas facetas
(sem deixar de estar inteiro em cada uma delas) no decorrer do ano.
Aos poucos, vão surgindo os chamados “tempos litúrgicos” e as “festas”: A Páscoa logo
se desenvolve num Tríduo e depois passa a se desdobrar em 50 dias (o santo Pentecostes); Para
preparar melhor a iniciação cristã que era realizada na Páscoa e também os penitentes que eram
reconciliados na quinta-feira santa surgiu a Quaresma; Surgem, também, as celebrações dos
mártires, aqueles que tornaram viva a Páscoa de Cristo no seu testemunho; O culto da Virgem
Maria; O Natal (para combater a festa pagã do chamado “sol invicto”, mostrando que Jesus é o
verdadeiro “Sol” que nasceu do alto); O Advento, para preparar o Natal, e também o chamado
“Tempo Comum” ou “Tempo Durante o Ano”.
Assim se formou o ano litúrgico como temos hoje: Iniciamos no Advento (marcado pela
cor roxa), passamos depois ao Natal e a Epifania (dourado ou branco – sentido festivo);
Seguimos pelo Tempo Comum (Cor verde) Entramos na Quaresma (roxo – sinal de penitência);
Depois no Grande Período Pascal (dourado ou branco – sentido festivo), que termina com a
Solenidade de Pentecostes (vermelho – Espírito Santo); Voltamos ao Tempo Comum, que dura
até a Festa de Cristo Rei, que coroa todo o ano litúrgico. As festas dos mártires, dos santos e da
Virgem Maria são celebradas no decorrer de todo o ano litúrgico. Em cada um destes
“mistérios” é, na verdade, o único Mistério Pascal de Cristo que está sendo celebrado.
1. A oração pública e comunitária do povo de Deus é com razão considerada uma das principais
funções da Igreja. Daí que, logo no princípio, os batizados «eram assíduos ao ensino dos
Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações» (At 2, 42). Da oração unânime da
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
comunidade cristã nos dão repetidos testemunhos os Atos dos Apóstolos. 1 Que também os fiéis
se costumavam entregar à oração individual em determinadas horas do dia, provam-no
igualmente os documentos da primitiva Igreja. Depois foi-se introduzindo muito cedo, aqui e
além, o costume de consagrar à oração comunitária alguns tempos especiais, por exemplo, a
última hora do dia, ao entardecer, no momento em que se acendiam as luzes, e a primeira hora
da manhã, quando, ao despontar o astro do dia, a noite chega ao seu termo. Com o decorrer dos
tempos, foram-se ainda santificando pela oração comunitária outras horas, que os Padres viam
insinuadas na leitura dos Atos dos Apóstolos. Assim, os Atos falam-nos dos discípulos reunidos
[para a oração] à terceira hora; 2 o Príncipe dos Apóstolos «sobe ao terraço da casa para orar,
por volta da sexta hora» (10, 9); «Pedro ... e João sobem ao templo, para a oração da hora nona»
(3, 1); «a meio da noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus» (16, 25).
2. Estas orações, feitas em comunidade, foram-se progressivamente organizando, até que vieram
a constituir um ciclo horário bem definido. Esta Liturgia das Horas, ou Ofício Divino, embora
enriquecida de leituras, é antes de mais oração de louvor e de súplica: oração da Igreja, com
Cristo e a Cristo.
I. A ORAÇÃO DE CRISTO
3. Vindo ao mundo para comunicar aos homens a vida divina, o Verbo que procede do Pai como
esplendor da sua glória, «Sumo Sacerdote da Nova e Eterna Aliança, Cristo Jesus, ao assumir a
natureza humana, introduz nesta terra de exílio o hino que eternamente se canta no Céu».3
Desde aquele momento, ressoa no coração de Cristo o louvor divino expresso em termos
humanos de adoração, propiciação e intercessão. E tudo isto Ele apresenta ao Pai, como Cabeça
da nova humanidade, Mediador entre Deus e os homens, em nome de todos, para benefício de
todos.
4. O próprio Filho de Deus, que é «um com o Pai» (cf. Jo 10, 30) e que, ao entrar no mundo,
disse: «Eu venho, ó Deus, para cumprir a tua vontade» (Hebr 10, 9; cf. Jo 6, 38), quis-nos deixar
também exemplos da sua oração. E assim é que os Evangelhos no-l’O apresentam com muita
frequência a orar: quando pelo Pai é revelada a sua missão,4 antes de chamar os Apóstolos,5
quando bendiz a Deus na multiplicação dos pães,6 no monte, aquando da sua transfiguração,7
quando opera a cura do surdo-mudo 8 e ressuscita a Lázaro,9 antes da confissão de Pedro,10
quando ensina os discípulos a orar 11 ao regressarem os discípulos da sua missão,12 ao
abençoar as criancinhas,13 quando roga por Pedro.14 A sua atividade quotidiana vemo-la
estreitamente ligada à oração, como que nasce da oração;15 levanta-Se alta madrugada 16 ou
fica pela noite além, até à quarta vigília,17 entregue à oração a Deus.18 Temos, além disso,
justos motivos para crer que tomava parte nas orações que publicamente se faziam nas
sinagogas, onde «tinha por costume» 19 ir aos sábados, ou no templo, ao qual chamava casa de
coração,20 e bem assim nas orações que os piedosos israelitas costumavam fazer diariamente
em particular. Recitava também às refeições as tradicionais «bênçãos» a Deus, como
expressamente vem narrado na multiplicação dos pães,21 na última Ceia,22 na ceia de
Emaús;23 e (na última Ceia) cantou os salmos com os discípulos24. Até aos derradeiros
momentos da sua vida — próximo já da Paixão,25 na última Ceia,26 na agonia,27 na Cruz 28
— o Divino Mestre apresenta-nos a oração como sendo a alma do seu ministério messiânico e
do termo pascal da sua vida. Assim, «nos dias da sua vida mortal, apresentou orações e súplicas,
entre clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido pela sua piedade»
(Hebr 5, 7); e, mediante a oblação perfeita consumada na ara da cruz, «realizou a perfeição
definitiva daqueles que são santificados» (Hebr 10, 14); finalmente, ressuscitado de entre os
mortos, continua sempre vivo a interceder por nós.29
Preceito da oração
5. Aquilo que Jesus fez, isso mesmo ordenou fizéssemos nós. «Orai» — diz repetidas vezes —
«rogai», «pedi»,30 «em meu nome».31 E até nos deixou, na oração dominical, um modelo de
oração.32 Inculca a necessidade da oração,33 oração humilde,34 vigilante,35 perseverante e
cheia de confiança na bondade do Pai,36 feita com pureza de intenção, consentânea com a
natureza de Deus.37 Os Apóstolos, por sua vez, apresentam-nos com frequência, em suas
Epístolas, fórmulas de oração, mormente de louvor e ação de graças, e exortam-nos a orar no
Espírito Santo,38 pela mediação de Cristo,39 ao Pai,40 com perseverança e assiduidade;41
sublinham a eficácia da oração para alcançar a santidade;42 exortam à oração de louvor,43 de
ação de graças,44 de súplica,45 de intercessão por todos os homens.46
6. Vindo o homem inteiramente de Deus, é seu dever reconhecer e confessar a soberania do seu
Criador. Assim o fizeram, através da oração, os homens piedosos de todos os tempos. Mas a
oração dirigida a Deus tem de estar ligada a Cristo, Senhor de todos os homens, único
Mediador,47 o único por quem temos acesso a Deus.48 Ele une a Si toda a comunidade dos
homens,49 e de tal forma que entre a oração de Cristo e a de toda a humanidade existe uma
estreita relação. Em Cristo, e só n’Ele, é que a religião humana adquire valor salvífico e atinge o
seu fim.
7. É totalmente peculiar e profunda a união que existe entre Cristo e aqueles que, pelo
sacramento da regeneração, Ele assume como membros do seu Corpo que é a Igreja. Deste
modo, partindo da Cabeça, por todo o Corpo se difundem todas as riquezas pertencentes ao
Filho: a comunicação do Espírito, a verdade, a vida, a participação na sua filiação divina, que se
manifestava em toda a sua oração enquanto viveu no meio de nós. O sacerdócio de Cristo é
também participado por todo o Corpo da Igreja. Os batizados, mediante a regeneração e a unção
do Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo;50 e por esta forma,
ficam habilitados a exercer o culto da Nova Aliança, culto este proveniente, não das nossas
forças, mas dos méritos e dom de Cristo. «Nenhum dom poderia Deus ter feito aos homens mais
valioso do que este: ter-lhes dado por Cabeça o seu Verbo pelo qual criou todas as coisas, e tê-
los unido a Ele como membros seus; ter feito com que Ele seja ao mesmo tempo Filho de Deus
e Filho do homem, um só Deus com o Pai e um só homem com os homens. Deste modo, quando
falamos a Deus na oração, não podemos separar d’Ele o Filho; e, quando ora o Corpo do Filho,
não pode separar de Si mesmo a Cabeça. E assim, é Ele próprio, o Salvador único do seu Corpo,
Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, quem ora por nós, ora em nós e a Ele nós adoramos.
Ora por nós, como nosso Sacerdote; ora em nós, como nossa Cabeça; a Ele oramos, como nosso
Deus. Reconheçamos, pois, n’Ele a nossa voz, e a voz d’Ele em nós».51 E é nisto que assenta a
dignidade da oração cristã: em participar da piedade mesma do Filho Unigênito para com o Pai
e daquela oração que Ele, durante a sua vida cá na terra expressou por palavras e continua
agora, sem interrupção, em toda a Igreja e em cada um dos seus membros, em nome e para
salvação de todo o gênero humano.
8. A unidade da Igreja orante é realizada pelo Espírito Santo, o mesmo que está em Cristo,52
em toda a Igreja e em cada um dos batizados. «É o próprio Espírito que vem em auxílio da
nossa fraqueza”; é Ele que «ora por nós com gemidos inefáveis» (Rom 8,26); é Ele mesmo,
como Espírito do Filho, que infunde em nós «o espírito da adoção filial, no qual clamamos:
Abba, Pai» (Rom 8,15; cf. Gal 4,6; 1 Cor 12,3; Ef 5,18; Jud 20). Nenhuma oração, portanto, se
pode fazer sem a ação do Espírito Santo, o qual, realizando a unidade de toda a Igreja, conduz
pelo Filho ao Pai.
Consagração do tempo
10. Cristo disse: «É preciso orar sempre, sem desfalecimento” (Lc 18,1). E a Igreja, seguindo
fielmente esta recomendação, não cessa nunca de orar, ao mesmo tempo que nos exorta com
estas palavras: «Por Ele (Jesus), ofereçamos continuamente a Deus o sacrifício de louvor» (Hebr
13,15). Este preceito é cumprido, não apenas com a celebração da Eucaristia, mas também por
outras formas, de modo particular com a Liturgia das Horas. Entre as demais ações litúrgicas,
esta, segundo a antiga tradição cristã, tem como característica peculiar a de consagrar todo o
ciclo do dia e da noite.56
11. Ora, uma vez que o fim da Liturgia das Horas é a santificação do dia e de toda a atividade
humana, a sua estrutura teve que ser reformada, no sentido de repor cada uma das Horas, tanto
quanto possível, no seu tempo verdadeiro, tendo em conta o condicionalismo da vida
moderna.57
Por isso, «já para santificar realmente o dia, já para rezar as próprias Horas com fruto espiritual,
importa recitá-las no momento próprio, quer dizer, naquele que mais se aproxime do tempo
verdadeiro correspondente a cada Hora canônica”.58
12. A Liturgia das Horas alarga aos diferentes momentos do dia 59 o louvor e ação de graças, a
memória dos mistérios da salvação, as súplicas, o antegozo da glória celeste, contidos no
mistério eucarístico, «centro e vértice de toda a vida da comunidade cristã».60 A própria
celebração eucarística tem na Liturgia das Horas a sua melhor preparação, porque esta suscita e
nutre da melhor maneira as disposições necessárias para uma frutuosa celebração da Eucaristia,
quais são a fé, a esperança, a caridade, a devoção, o espírito de sacrifício.
Santificação do homem
14. Na Liturgia das Horas, opera-se a santificação do homem64 e presta-se culto a Deus, por
forma a estabelecer uma espécie de intercâmbio, um diálogo entre Deus e o homem: «Deus fala
ao seu povo, ... e o povo responde a Deus no canto e na oração».65 Aqueles que tomam parte na
Disciplina: Liturgia I
44
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Liturgia das Horas podem colher dela abundantíssimos frutos de santificação, em virtude da
palavra de Deus que nela ocupa lugar importantíssimo. Efetivamente, é da Escritura Sagrada
que são tiradas as leituras; aos salmos se vão buscar as palavras de Deus cantadas na sua
presença; duma forte inspiração bíblica estão repassadas todas as preces, orações e cânticos.66
Não só quando se lê «aquilo que foi escrito para nossa edificação» (Rom 15,4), mas também
quando a Igreja ora e canta, é alimentada a fé dos participantes e os seus corações elevam-se
para Deus, a fim de Lhe oferecerem a homenagem espiritual e d’Ele receberem a graça em
maior abundância.67
15. Na Liturgia das Horas, a Igreja exerce a função sacerdotal da sua Cabeça, «oferecendo
ininterruptamente 68 a Deus o sacrifício de louvor, ou seja, o fruto dos lábios que glorificam o
seu nome».69 Esta oração é «a voz da Esposa a falar ao Esposo, e também, a oração que o
próprio Cristo, unido ao seu Corpo, eleva ao Pai”.70 Consequentemente, «todos os que assim
rezam desempenham, por um lado, o ofício da própria Igreja, e, por outro, participam da excelsa
honra da Esposa de Cristo, enquanto estão, em nome da Igreja, diante do trono de Deus, a cantar
os divinos louvores ».71
16. Cantando os louvores de Deus nas Horas canônicas, a Igreja associa-se àquele hino de
louvor que por toda a eternidade é cantado na celeste morada.72 Ao mesmo tempo antegoza as
delícias daquele celestial louvor que João nos descreve no Apocalipse e que ressoa
ininterruptamente diante do trono de Deus e do Cordeiro. Realiza-se a nossa estreita união com
a Igreja celeste, quando «concelebramos em comum exultação os louvores da Divina Majestade,
quando todos os que fomos resgatados no sangue de Cristo, de todas as tribos, línguas, povos e
nações (cf. Ap 5, 9), congregados numa só Igreja, engrandecemos a Deus, uno e trino, no
mesmo cântico de louvor».73
Esta liturgia celeste, já os profetas a anteviram na vitória do dia sem noite, da luz sem trevas:
«Já não será o sol a tua luz durante o dia, nem a claridade da lua será a tua luz durante a noite,
porque o Senhor será a tua luz eterna» (Is 60,19; cf. Ap 21,23.25). «Será um dia contínuo,
conhecido somente do Senhor, sem alternância do dia e da noite; ao entardecer, brilhará a luz»
(Zac 14,7). Ora, «a última fase dos tempos chegou já para nós (cf. 1 Cor 10,11); a restauração
do mundo encontra-se irrevogavelmente realizada e, em certo sentido, antecipada já no tempo
presente».74 Pela fé somos instruídos acerca do sentido da própria vida temporal, de tal modo
que vivemos, com a criação inteira, na expectativa da manifestação dos filhos de Deus.75 Na
Liturgia das Horas, proclamamos a nossa fé, exprimimos e fortalecemos a nossa esperança, e
tomamos parte já, de certo modo, na alegria do louvor perene, do dia que não conhece ocaso.
Súplica e intercessão
17. Mas, na Liturgia das Horas, a par do louvor divino, a Igreja expressa igualmente os votos e
anseios de todos os cristãos; mais ainda: roga a Cristo e, por Ele, ao Pai pela salvação do mundo
inteiro.76 E esta voz não é somente a voz da Igreja; é também a voz de Cristo, uma vez que
todas as orações são proferidas em nome de Cristo – «por Nosso Senhor Jesus Cristo». Deste
modo, a Igreja prolonga aquelas preces e súplicas que o mesmo Cristo fazia nos dias da sua vida
mortal;77 daí, a sua particular eficácia. Não é, portanto, somente pela caridade, pelo exemplo,
pelas obras de penitência, mas também pela oração, que a comunidade eclesial exerce uma
verdadeira maternidade para com as almas, no sentido de as conduzir a Cristo.78 Isto diz
respeito principalmente a todos aqueles que receberam mandato especial de celebrar a Liturgia
das Horas, isto é: os bispos e presbíteros, que têm por dever de ofício orar pela grei que lhes está
confiada e por todo o povo de Deus,79 os outros ministros sagrados e os religiosos.80
18. Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas contribuem, através duma misteriosa
fecundidade apostólica, para o incremento do povo de Deus.81 Efetivamente, o objetivo do
trabalho apostólico é conseguir que «todos aqueles que pela fé e pelo batismo se tornaram filhos
de Deus se reúnam em assembléia, louvem a Deus na Igreja, participem no sacrifício, comam a
Ceia do Senhor».82 Por esta forma, os fiéis exprimem na sua vida e manifestam aos outros «o
mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja, que tem como característica
peculiar o ser ... visível e dotada de riquezas invisíveis, ardorosa na ação e dedicada à
contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina».83 Por outro lado, as leituras e as
preces da Liturgia das Horas são fonte de vida cristã. Esta vida alimenta-se na mesa da Escritura
Sagrada e nas palavras dos Santos e robustece-se na oração. O Senhor, sem o qual nada
podemos fazer,84 quando O invocamos, dá eficácia e incremento às nossas obras;85 e assim,
dia após dia, vamos sendo edificados como templo de Deus no Espírito,86 até atingirmos a
medida da idade perfeita de Cristo;87 ao mesmo tempo, vamos robustecendo as nossas energias
para podermos anunciar Cristo àqueles que estão fora.88
19. Para que esta oração seja própria de cada um daqueles que nela tomam parte, seja fonte de
piedade e da multiforme graça divina e sirva também de alimento à oração pessoal e à atividade
apostólica, importa celebrá-la com dignidade, atenção e devoção, e fazer com que o espírito
concorde com a voz.89 É necessário que todos cooperem com a graça divina, para que não a
recebam em vão. Buscando a Cristo e esforçando-se por aprofundar o seu mistério na oração,90
louvem a Deus e elevem as suas súplicas com o mesmo espírito com que orava o Divino
Salvador.
a) Celebração comunitária
20. A Liturgia das Horas, tal como as demais ações litúrgicas, não é ação privada, mas pertence
a todo o corpo da Igreja, manifesta-o e afeta.91 O caráter eclesial da celebração aparece-nos
com toda a sua clareza – e, por isso mesmo, é sumamente recomendável – quando realizada,
com a presença do próprio Bispo rodeado dos seus presbíteros e restantes ministros,92 por uma
Igreja particular, «na qual está presente e operante a Igreja de Cristo, una, santa, católica e
apostólica».93 Esta celebração, quando levada a efeito, mesmo sem a presença do Bispo, por
um cabido de cônegos ou por outros presbíteros, far-se-á sempre atendendo à verdade das Horas
e, tanto quanto possível, com a participação do povo. O mesmo se diga dos cabidos das
colegiadas.
21. As outras assembleias de fiéis, entre as quais há que destacar as paróquias como células da
diocese, localmente constituídas sob a presidência dum pastor como substituto do Bispo, e que
«dalgum modo representam a Igreja visível estabelecida por toda a terra»,94 celebrem as Horas
principais, quanto possível, na igreja e em forma comunitária.
22. Sempre que os fiéis são convocados e se reúnem para celebrar a Liturgia das Horas, pela
união das vozes e dos corações manifestam a Igreja que celebra o mistério de Cristo.95
23. É função daqueles que receberam as ordens sacras ou foram investidos dalguma especial
missão canônica96 organizar e dirigir a oração da comunidade. «Devem, por isso, esforçar-se
para que todos aqueles que estão entregues aos seus cuidados sejam unânimes na oração».97
Procurarão convidar os fiéis e formá-los mediante uma catequese adequada para a celebração
comunitária das partes mais importantes da Liturgia das Horas, mormente nos domingos e
festas.98 Hão-de ensiná-los a fazer desta participação uma oração autêntica.99 Para isso, terão
que os ajudar, através duma formação apropriada, a penetrar no sentido cristão dos salmos, por
Disciplina: Liturgia I
46
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
forma a serem levados, pouco a pouco, a saborear e utilizar mais amplamente a oração da
Igreja.100
24. As comunidades de cônegos, de monges, de monjas e de outros religiosos, que, por força da
Regra ou das Constituições, celebram integral ou parcialmente a Liturgia dasHoras, quer
segundo o rito comum quer segundo o seu rito particular, representam a Igreja orante dum modo
muito especial. Estas comunidades reproduzem de uma forma mais completa a imagem da
Igreja a cantar ininterruptamente, numa só voz, os louvores divinos; além disso, cumprem
também o dever de «trabalhar», antes de mais pela oração, «para a edificação e crescimento de
todo o Corpo Místico de Cristo e para o bem das igrejas particulares».101 Isto se aplica de
modo especial aos que se entregam à vida contemplativa.
25. Os ministros sagrados e todos os clérigos não obrigados por outro título à celebração
comunitária, quando vivam em comunidade ou se encontrem juntos, procurem celebrar em
comum pelo menos algumas das partes da Liturgia das Horas, mormente Laudes pela manhã e
Vésperas à tarde.102
26. Aos religiosos de ambos os sexos não obrigados à celebração comunitária e aos membros de
qualquer Instituto de perfeição, recomenda-se encarecidamente que se reúnam em comum, ou
entre si ou juntamente com o povo, para celebrar a Liturgia das Horas ou alguma parte da
mesma.
27. Os grupos de leigos, onde quer que se encontrem reunidos, seja qual for o motivo destas
reuniões — oração, apostolado ou outro motivo — são igualmente convidados a desempenhar
esta função da Igreja,103 celebrando alguma parte da Liturgia das Horas. Importa, de fato, que
aprendam acima de tudo a adorar a Deus Pai em espírito e verdade104 na ação litúrgica, e se
lembrem que, através do culto público e da oração, eles podem atingir todos os homens e
contribuir muito para a salvação do mundo inteiro.105 Convém, finalmente, que a família, qual
santuário doméstico da Igreja, não se contente com a oração feita em comum, mas, dentro das
suas possibilidades, procure inserir-se mais intimamente na Igreja, com a recitação dalguma
parte da Liturgia das Horas.106
28. A Liturgia das Horas está, de modo muito particular, confiada aos ministros sagrados. E
assim, cada um deles está obrigado a celebrá-la, mesmo na ausência de povo, fazendo, claro
está, as necessárias adaptações. Efetivamente, os ministros sagrados são deputados pela Igreja
para celebrar a Liturgia das Horas, para que esta função de toda a comunidade seja
desempenhada ao menos através deles, de uma forma certa e constante, e se continue na Igreja,
ininterruptamente, a oração de Cristo.107 O Bispo é, de modo eminente, o representante visível
de Cristo e o sumo sacerdote do seu rebanho. Dele, em certo sentido, deriva e depende a vida
dos seus fiéis em Cristo.108 Portanto, deve ser ele, entre os membros da sua Igreja, o primeiro
na oração. E esta sua oração, quando recita a Liturgia das Horas, é feita sempre em nome da
Igreja e a favor da Igreja que lhe está confiada.109 Os presbíteros, unidos ao Bispo e a todo o
presbitério, fazem também, dum modo especial, as vezes de Cristo sacerdote, 110 e participam
da mesma função, orando por todo o povo a eles confiado e pelo mundo inteiro.111 Todos estes
desempenham o ministério do bom Pastor que roga pelos seus para que tenham a vida e sejam
consumados na unidade.112 Na Liturgia das Horas, que a Igreja lhes propõe, não somente
encontrarão uma fonte de piedade e alimento para a oração pessoal,113 mas também um meio
de alimentar e desenvolver, pela riqueza da contemplação, a sua ação pastoral e missionária,
para alegria de toda a Igreja de Deus.114
29. Por conseguinte, os bispos, os presbíteros e todos os outros ministros sagrados, que
receberam da Igreja o mandato (cf. n. 17) de celebrar a Liturgia das Horas, estão obrigados a
Disciplina: Liturgia I
47
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
celebrar diariamente o ciclo completo destas mesmas Horas, guardando, quanto possível, a sua
correspondência com a respectiva hora do dia.
Primeiramente, darão a devida importância àquelas Horas que constituem, por assim dizer, o
fulcro desta Liturgia, isto é, Laudes e Vésperas. Estas Horas procurem não as omitir, a não ser
por motivo grave. Serão também fiéis em celebrar o Ofício das Leituras, que é por excelência
uma celebração litúrgica da palavra de Deus. Por esta forma se desempenharão cada dia do
múnus que por título peculiar lhes incumbe, que é o de acolher a palavra de Deus, a fim de se
tornarem mais perfeitos discípulos do Senhor e mais profundamente saborearem as insondáveis
riquezas de Cristo.115 Para melhor santificarem o dia, terão a peito rezar também a Hora Média,
bem como Completas, com as quais terminam o «serviço divino» e se encomendam ao Senhor
antes de recolher ao leito.
30. É da máxima conveniência que os diáconos permanentes recitem todos os dias pelo menos
parte da Liturgia das Horas, conforme a Conferência Episcopal determinar.116
31. a) Os cabidos das catedrais e das colegiadas recitarão no coro as partes da Liturgia das
Horas a que, seja pelo direito comum seja pelo direito particular, estão obrigados. E cada um
dos membros destes cabidos, além das Horas que são obrigatórias para todos os ministros
sagrados, está obrigado a recitar individualmente aquelas Horas que são celebradas pelo
respectivo cabido.117
b) As comunidades religiosas obrigadas à Liturgia das Horas, e cada um dos respectivos
membros, celebrarão as Horas segundo o que estiver determinado pelo seu direito particular,
salvo o prescrito no n. 29 para os que receberam as Ordens sacras. As comunidades obrigadas
ao coro, essas celebrarão diariamente o ciclo integral das Horas.118 Fora do coro, os membros
(destas comunidades) recitarão as Horas em conformidade com o seu direito particular, salvo
sempre o prescrito no n. 29.
32. Às restantes comunidades religiosas e a cada um dos seus membros, recomenda-se que,
tanto quanto lho permitirem as condições em que se encontram, celebrem algumas partes da
Liturgia das Horas, porque esta é a oração da Igreja, que faz de todos os que andam dispersos
um só coração e uma só alma.119 Igual recomendação é feita aos leigos.120
c) Estrutura da celebração
33. A Liturgia das Horas é regulada segundo leis próprias. Nela se combinam, de uma forma
particular, elementos comuns às outras celebrações cristãs. Na sua estrutura geral, inclui
sempre: primeiramente o hino, depois a salmodia, a seguir uma leitura, longa ou breve, da
Sagrada Escritura, finalmente as preces. Tanto na celebração comunitária como na recitação
individual, a estrutura essencial é sempre a mesma: diálogo entre Deus e o homem. Todavia, a
celebração comunitária manifesta mais claramente a natureza eclesial da Liturgia das Horas.
Pelas aclamações, pelo diálogo, pela salmodia alternada, etc., favorece também a participação
ativa de todos, segundo a condição de cada um. Além disso, respeita melhor as diferentes
formas de expressão.121 Consequentemente, sempre que seja possível uma celebração
comunitária, com a assistência e participação ativa dos fiéis, esta deve preferir-se à celebração
individual e como que privada. 122 Além disso, na recitação coral e comunitária, convém,
quanto possível, que o Ofício seja cantado de acordo com a natureza e função de cada uma das
suas partes. Deste modo se porá em prática a recomendação do Apóstolo: «A palavra de Cristo
permaneça em vós em toda a sua riqueza, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros
com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a
Deus a vossa gratidão » (Col 3,16; cf. Ef 5,19-20).
NOTAS
1 Cf. At 1,14; 4,24; 12,5. 12; cf. Ef 5, 19-21.
2 Cf. At 2,1-15.,
3 Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.° 83.
4 Lc 3, 21-22.
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
5 Lc 6, 12.
6 Mt 14, 19; 15, 36; Mc 6, 41; 8, 7; Lc 9, 16; Jo 6, 11.
7 Lc 9, 28-29.
8 Mc 7, 34.
9 Jo 11, 41 ss.
10 Lc 9, 18.
11 Lc 11, 1.
12 Mt 11 25 ss.; Lc 10, 21 ss.
13 Mt 19, 13.
14 Lc 22, 32.
15 Mc 1, 35; 6, 46; Lc 5, 16; cf. Mt 4, 1 par.; Mt 14, 23.
16 Mc 1, 35.
17 Mt 14, 23. 25; Mc 6, 46. 48.
18 Lc 6, 12.
19 Lc 4, 16.
20 Mt 21, 13 par.
21 Mt 14, 19 par.; 15, 36 par.
22 Mt 26, 26 par.
23 Lc 24, 30.
24 Mt 26, 30 par.
25 Jo 12, 27 s.
26 Jo 17, 1-26.
27 Mt 26, 36-44 par.
28 Lc 23, 34. 46; Mt 27, 46; Mc 15, 34.
29 Cf. Hebr 7, 25.
30 Mt 5, 44; 7, 7; 26, 41; Mc 13, 33; 14, 38; Lc 6, 28; 10, 2; 11, 9; 22, 40. 46
31 Jo 14, 13 s.; 15, 16; 16, 23 s. 26.
32 Mt 6, 9-13; Lc 11, 2-4.
33 Lc 18, 1.
34 Lc 18, 9-14.
35 Lc 21, 36; Mc 13, 33.
36 Lc 11, 5-13; 18, 1-8; Jo 14, 13; 16, 23.
37 Mt 6, 5-8; 23, 14; Lc 20, 47; Jo 4, 23.
38 Rom 8, 15. 26; 1 Cor. 12, 3; Gal 4, 6; Jud 20.
39 2 Cor 1, 20; Col. 3, 17.
40 Hebr 13, 15.
41 Rom 12, 12; 1 Cor 7, 5; Ef 6, 18; Col 4, 2; 1 Tess 5, 17; 1 Tim 5, 5; 1 Pedro 4, 7.
42 1 Tim 4, 5; Tiago 5, 15 s.; 1 Jo 3, 22; 5, 14 s.
43 Ef 5, 19 s.; Hebr 13, 15; Ap 19, 5.
44 Col 3, 17; Fil 4, 6; 1 Tes 5, 17; Tim 2, 1.
45 Rom 8, 26; Fil 4, 6.
46 Rom 15, 30; 1 Tim 2, 1 s.; Ef 6, 18; 1 Tess 5, 25; Tiago 5, 14. 16.
47 1 Tim 2, 5; Hebr 8, 6; 9, 15; 12, 24.
48 Rom 5, 2; Ef 2, 18; 3, 12.
49 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.° 83.
50 Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n.° 10.
51 S. Agostinho, Enarrat. in Psalm. 85, 1: CCL 39, 1176.
52 Cf. Lc 10, 21, quando Jesus «exultou no Espírito Santo e disse: Eu te bendigo, ó Pai...».
53 Cf. At 2, 42 gr.
54 Cf. Mt 6, 6.
55 Cf. Conc. Vat II, Const. Sacrosanctum Concilium, n.° 12.
56 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, nn. 83-84.
57 Cf. Ibid., n. 88.
58 Cf. Ibid., n. 94.
59 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, n. 5.
60 Conc. Vat. II, Decr. Christus Dominus, n. 30.
61 Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 5.
62 Cf. Ibid., nn. 83 e 98.
63 Ibid., n. 7.
64 Ibid., n. 10.
65 Ibid., n. 33.
66 Ibid., n. 24.
67 Cf. Ibid., n. 33.
68 1 Tess. 5, 17.
69 Cf. Hebr 13, 15.
70 Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 84.
71 Ibid., n. 85.
72 Cf. Ibid., n. 83.
73 Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 50; cf. Const. Sacrosanctum Concilium, nn. 8 e 104.
74 Cf. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 48.
75 Cf. Rom. 8, 19.
76 Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 83.
77 Cf. Hebr 5, 7.
78 Cf. Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, n. 6.
79 Cf. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, n. 41.
80 Cf. infra, n. 24.
Disciplina: Liturgia I
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
5) Quais são as três grandes fases históricas da Liturgia? As três fases da Liturgia são: a) Pré
Bíblica; b) do Antigo Testamento e c) do Novo Testamento.
7) Quais elementos da vida litúrgica emergem dos textos do NT? Em Paulo: o Batismo, a
Eucaristia, a Oração Comunitária (=Liturgia das Horas), a celebração do Domingo e da Páscoa-
Pentecostes (=Ano Litúrgico) Nos Evangelhos Sinóticos, Atos dos Apóstolos e escritos
Joaninos: uma vivência litúrgica já afirmada, o sentido cristológico dos Salmos, alusão às
Orações Horárias no Templo, nas Sinagogas e nas casas; o quarto Evangelho tem como pano de
fundo o Ano Litúrgico.
8) Porque podemos dizer que o Evangelho de João tem como pano de fundo o Ano
Litúrgico? Essa afirmação deriva do fato de que, do quarto Evangelho, emergem discursos que
se relacionam à vida sacramental das comunidades primitivas, como as catequeses sobre o
Batismo e os discursos sobre a Eucaristia.
10) Quando e porque, em Roma, a língua litúrgica passou do grego para o latim? Essa
mudança ocorreu com o Papa S Dâmaso (363-384), pois o povo de Roma, da Itália e de todo
Ocidente não entendia mais o grego e o próprio papa, devido a sua origem espanhola, utilizava o
Latim na Liturgia, pela vizinhança com Cartago.