O Culto Cristão PDF
O Culto Cristão PDF
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2013
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O CULTO CRISTÃO
Pr. Kenneth Eagleton
Introdução
O culto cristão é um assunto vasto e intrigante. É entendido e praticado de maneiras
bastante diversas nas diferentes vertentes do Cristianismo (“Cristianismo” é usado aqui
como termo abrangente que inclui as religiões católica, ortodoxas, protestantismo em
todas as suas subdivisões e certas seitas como Mormonismo e Testemunhas de Jeová).
Mesmo dentro de qualquer uma das vertentes, como o evangélico, por exemplo, existe
muita diversidade. Esta diversidade leva à confusão. Não se sabe mais o que é tradição e
o que é bíblico. Dúvidas existem quanto à validade da introdução de novas formas de
adoração. Um dos motivos comuns de desentendimento entre igrejas evangélicas
(mesmo das que compoem uma mesma denominação) é a divergência quanto à maneira
de conduzir o culto público e o seu conteúdo.
O estilo de culto público e adoração de uma igreja passou a ser fator importante para as
pessoas na escolha que fazem quanto à igreja que irão frequentar. “A grande força
motora para a transferência de membros entre igrejas já não é mais o aspecto
doutrinário, geográfico ou o ensino bíblico, mas o estilo de adoração e culto” 1. Por isso,
em vez de simplesmente copiarmos o que outras igrejas fazem nos cultos, precisamos
fazer uma reflexão.
Don Saliers e outros já diziam que “adoração e teologia caminham juntas e grande parte
de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de
adoração)”2. A maneira de adorar a Deus no culto público vai moldando no adorador os
seus conceitos sobre Deus, sua posição diante dele e a função da igreja. O contrário
também é verdadeiro; a teologia influencia a forma de adorar a Deus. Se começamos
com conceitos errados a respeito de Deus, de nossa posição diante dele e da função da
igreja, isto determina como adoraremos a Deus.
Este curso nos ajuda a refletir sobre o significado do culto cristão, sua liturgia, sua
história, suas diferentes tradições, os componentes do culto público e algumas práticas
polêmicas.
Definições
Culto:
Culto é a adoração ou veneração a uma divindade ou o conjunto de rituais que se usa
nesta adoração. O culto cristão é a adoração prestada pelos cristãos a Deus na sua
trindade. Além da adoração, o culto serve para edificar o cristão e anunciar a Palavra de
Deus. Este culto pode ser particular ou público. Neste curso concentramo-nos no culto
público.
Liturgia:
Liturgia provém do grego clássico, leitourgía, que significa função ou obra pública
prestada ao estado, a um indivíduo ou a uma divindade. “A liturgia tornou-se assim
manifestação do culto público, sancionado e codificado no conjunto das cerimônias, das
fórmulas e dos ritos necessários para expressá-lo. Esse significado permanece até
hoje”3.
O Novo Dicionário Aurélio define liturgia como “o culto público e oficial instituído por
uma igreja”. O Dicionário Aulete Digital a define como “conjunto de práticas e elementos
religiosos instituídos por uma igreja para se prestar culto a Deus; RITUAL”.
A primeira descrição que temos do culto público dos cristãos se encontra em Atos 2:42-
47, quando a Igreja ainda estava engatinhando e se limitava a cidade de Jerusalém. Ali
percebemos alguns elementos do culto: coletivamente recebiam instrução dos apóstolos
(perseveravam na doutrina dos apóstolos), oravam (no templo e nas casas), louvavam a
Deus e participavam de refeições em comum. Durante estas refeições se celebrava a
Ceia do Senhor (1 Co 11:20-22).
A forma do culto dos primeiros cristãos parece ter recebido muita influência do culto
hebraico realizado no templo e principalmente nas sinagogas, mas sem alguns dos
4 Tradução: Justino Mártir, Primiero Livro de Apologias, capítulo LXVII, disponível na internet em inglês:
http://earlychristianwritings.com/text/justinmartyr-firstapology.html, acessado em 01/08/2009
O culto se profissionalizou, sendo todo ele realizado pelos sacerdotes com o auxílio de
ajudantes consagrados para isso, inclusive a parte cantada. Aos fiéis remaneceu
simplesmente a assistência passiva e, ocasionalmente, a participação na cerimônia de
recebimento da hóstia. O culto passou a ser centrado na morte de Cristo, na eucaristia
(sacrifício do corpo de Cristo a cada missa). Com o uso obrigatório da língua latina nas
missas, poucos fora de Roma entendiam o que era dito ou cantado. Com o tempo, as
leituras bíblicas foram suprimidas nas missas e finalmente a Igreja Católica proibiu aos
fiéis de possuírem a Bíblia em casa. A liderança da igreja passou a reinvindicar
autoridade sobre a própria Bíblia, colocando-se como superior a ela e como única
autorizada a interpretá-la. Na Idade Média, uma taxa passou a ser cobrada dos fiéis para
comprar o perdão dos pecados (indulgências).
igreja oriental desenvolveu a liturgia que vemos hoje nas Igrejas Ortodoxas. A igreja
ocidental desenvolveu a liturgia que vemos hoje na Igreja Católica Romana. Apesar de
algumas divergências regionais, houve esforço para se uniformizar a liturgia em todas
as igrejas. Lecionários (livros com leituras bíblicas e sermões) e missais (livros com as
orações da missa) foram confeccionados e usados em todas as igrejas.
A Reforma Protestante deflagrou por causa de uma onda cada vez maior de insatisfação
com o rumo da Igreja Católica Romana, o comportamento imoral e o abuso de poder de
grande parte do clero. O movimento da Reforma procurou voltar às Escrituras e fazer
uma limpeza de tudo o que não era bíblico. Foi um movimento de purificação e
simplificação da igreja, retornando aos padrões bíblicos. A Reforma foi caracterizada
por cinco expressões em latim: sola scriptura (somente as Escrituras), solus Christus
(somente Cristo), sola gratia (somente a graça), sola fide (somente pela fé) e soli Deo
gloria (somente glória a Deus): somente a Bíblia consiste em regra de fé e prática;
somente a graça de Deus pode alcançar o homem com a salvação; a salvação é somente
pela fé em Cristo e devemos dar glória somente a Deus.
2. proskuneō (grego – das palavras pros, “para” ou “em direção”, e kuneō, “beijar”) –
se prostrar, se curvar. Um ato de rendição ou reverência frequentemente
praticado no oriente. É a palavra mais usada no NT para adoração (Mt 4:10; Jo
4:21-24; 1 Co 14:25).
4. latreuō – (grego) servir, render serviço religioso (Fp 3:3; At 7:42; 24:14; Hb
10:2). É a origem da palavra “liturgia”.
Princípios bíblicos
Veremos a seguir alguns princípios bíblicos ligados à adoração e ao culto cristão.
5 VINE, W. E.; UNGER, Merrill; WHITE, Jr., William, Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New
Testament Words (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1985), p. 295 e 686
2. O culto deve ser oferecido com todo o coração, amor e vontade. Culto por obrigação
ou por rotina ou rito não tem valor – Is 29:13; Os 6:6; Mt 15:8-9.
6. O culto não depende de lugar físico ou geográfico (Jo 4:21). O culto cristão não é
realizado em templo como no AT. O “templo” (prédio) de uma igreja cristã não é
sagrado. Deus está presente em todo lugar. O culto pode ser celebrado em prédio
próprio, alugado, casa ou mesmo debaixo de uma árvore. A ideia de um Deus
territorial, limitado pela geografia, encontra-se nas religiões pagãs ou animistas.
Fazer oração ou culto no monte (montanha) não tem mais poder do que em outro
local. Esta ideia também se encontra no paganismo (Torre de Babel, Gn 11:4; lugares
altos das religiões pagãs, 1 Re 13:33).
Em verdade: a adoração tem que ser correta, de acordo com a Palavra de Deus e
Jesus Cristo (os dois são chamados de “verdade”). A Bíblia = verdade escrita (Jo
17:17); Jesus = verdade viva (Jo 14:6).
6 WARREN, Rick, Uma Vida com Propósitos (São Paulo: Editora Vida, 2002), p. 73
7 WARREN, p. 90
Nos cultos públicos a atenção deve estar voltada para Deus. As distrações devem
ser evitadas (barulhos desnecessários, movimentação desnecessária, conversas
paralelas, etc.)
11. O perdão e a purificação são importantes no preparo do culto: exemplo dos ritos do
AT (Ex 40:30-32); Mt 5:23-24; 1 Co 11:27-29.
12. A adoração nos momentos em que Deus parece distante ou quando não entendemos
o porquê das coisas. Exemplos de Davi (Sl 102:1-11), Jó (Jó capítulo 19: ele se vê
abandonado por Deus, mas continua o adorando) e Elias (1 Re 19:9-14).
Desvios na adoração
Influência do sentimentalismo: ênfase nos sentimentos8. Uma ênfase exagerada
nas emoções leva a crer que quando existem emoções fortes (choro, comoção),
isto vem de Deus. Uma adoração movida pelo Espírito teria muitas manifestações
emocionais. Uma adoração compenetrada e racional é vista como fria e sem a
presença do Espírito.
Influência da confissão positiva10. Nessa crença, uma palavra dita com fé teria o
poder de criar uma nova realidade. “Declarar” ou “profetizar bençãos” por uma
pessoa com fé teria o poder de criar a situação positiva desejada. Por outro lado,
proferir uma maldição também teria o poder de fazê-lo acontecer.
Ainda nesta linha, o cristão adquire certos direitos como “filho do Rei” e deve
tomar posse das promessas divinas e reclamar seus direitos. Os direitos são
exigidos com autoridade e, na prática, Deus passa de Senhor a servo e tem
obrigação de satisfazer o que o cristão vê como promessas. Essas promessas
geralmente se encontram na área da prosperidade financeira, da cura e da
proteção física. O cristão se vê no direito de exigir estas bênçãos.
povo cristão”. Igrejas que têm introduzido práticas novas e estranhas à Bíblia
justificam-nas pelo fato de estarem atraindo grandes públicos. Isso demonstraria
que a benção de Deus deve estar sobre eles.
Ênfase na experiência sobrenatural. Existe hoje, em muitos meios, uma sede pela
experiência sobrenatural visível. Há uma busca constante pelo milagre, pela cura
sobrenatural, pelos sinais e maravilhas. Cria-se uma expectativa de que se não
houver alguma manifestação visível do sobrenatural, Deus não esteve presente
ou não esteve agindo. Igrejas anunciam cultos baseados nas curas e milagres que
Deus irá fazer. Os cânticos e orações dos fiéis pedem sempre um milagre. Este
desvio na adoração não leva em conta que Deus está sempre presente e, na
grande maioria das vezes, age de acordo com as leis da natureza que ele mesmo
criou e através dos seres humanos. A sua intervenção sobrenatural (fora das leis
da natureza) são excepcionais e de acordo com a sua vontade, para o seu
propósito, não de acordo com a hora marcada pelo homem. Em vez de buscar um
milagre de Deus devemos buscar o Deus do milagre.
c. Canto. A Bíblia ensina que devemos cantar como uma das formas de cultuar a
Deus. Temos muitos exemplos de personagens da Bíblia que cultuaram a
Deus com seus cânticos. Muitos compuseram cânticos para agradecer a Deus
12 WEBBER, Robert E., “Preconditions for Worship Renewal”, Evangelical Journal, 9 (1991): 5.
13 Valdeci dos SANTOS
Alguns cristãos hoje não aceitam o uso de certos instrumentos (como bateria
e guitarra nos países do ocidente e uma espécie de xilofone na África) sob
alegação de que esses instrumentos estão intimamente ligados à música que
desonra a Deus (rock) ou que é usada na adoração de espíritos malignos (no
caso da África).
e. Estilo de música. Uma das questões envolvendo a música do culto cristão que
mais tem dividido o povo de Deus nos dias de hoje é a questão do estilo de
música. Existe um ou mais estilos de música que são mais aceitáveis a Deus
na adoração (música sacra do hinário, por exemplo)? Existe algum estilo de
música que não glorifica a Deus (rock, funk ou samba, por exemplo)? O que é
que torna a música cristã? O ritmo? A letra? Ou os dois? Estas questões têm
sido o combustível para debates apaixonados.
2. Leitura da Palavra de Deus. Tanto no Antigo como no Novo Testamento vemos que
a leitura da Palavra de Deus em público sempre fez parte do culto. Moisés e o rei
Josias leram a Lei a toda a congregação de Israel (Ex 24:7; 2 Re 23:2), Jeremias
mandou ler a Palavra de Deus no Templo (Jr 36:8), Esdras leu as Escrituras ao povo
de Israel (Ne 8:2-8, 18), Jesus a leu na sinagoga (Lc 4:16-20) e as epístolas dos
apóstolos eram lidas nas igrejas (Cl 4:16). A leitura da Palavra de Deus deve ter
primazia no culto. Esta leitura tem tomado várias formas nas diferentes tradições:
4. Oração. Momentos de oração fazem parte do culto público cristão. Orar é falar com
Deus. A oração pode ser de dedicação do culto a Deus, louvor, gratidão, confissão de
pecados, intercessão por outras pessoas e também de pedidos pessoais ou do grupo.
Muitos cultos separam um período do culto para a oração. Pedidos de oração são
mencionados de público ou coletados em algum recipiente.
b. Prática da oração:
d. Olhos fechados. Por que se fecham os olhos ao orar? Pode-se orar de olhos
abertos?
c. A Igreja Batista Livre aceita a posição dos demais grupos Batistas como
descritos acima, mas acrescenta uma terceira ordenança: o Lavar dos Pés dos
b. Dança. Em Salmo 150:3-6 somos instruídos a louvar o Senhor com uma série
de recursos: cânticos, instrumentos musicais e danças (v. 4). Miriã e várias
mulheres louvaram ao Senhor com danças quando os israelitas foram libertos
do exército de Faraó (Ex 15:20-21), Davi dançou diante do Senhor em meio a
muito júbilo e som de instrumentos musicais quando a arca foi levada para
Jerusalém (2 Sm 6:14-16; 1 Cr 15:28-29).
Pelo fato da adoração ser individual e ao mesmo tempo corporativo no caso do culto
público, nunca iremos agradar a todas as pessoas. Invertendo este pensamento, nem
todas as formas de arte ajudam todas as pessoas a adorar a Deus. Já estamos
cansados de saber disso. A pregação que abençoou um irmão fez o outro dormir. A
música que abençoou um grupo desagradou outro. A decoração que ficou
maravilhosa para uma irmã foi criticada por outra. Nem todos vão gostar. O gosto
também é muito cultural, mesmo dentro de um mesmo grupo étnico.
Quando fazemos afirmações do que agrada ou desagrada a Deus, creio que temos
que tomar muito cuidado, a não ser que Ele tenha expressamente afirmado isto na
sua Palavra. Creio que muitas vezes julgamos o que agrada a Deus pelo que nos
agrada; isto é, as nossas preferências. Este critério limita o nosso Deus e ignora a Sua
apreciação pela diversidade.
8. Testemunho. Nós somos testemunhas do Senhor Jesus Cristo (Is 43:10-12) e fomos
por ele instruídos que, no poder do Espírito Santo, seremos suas testemunhas até os
confins da terra (At 1:8). O evangelho do Reino será pregado como testemunho a
todas as nações (Mt 24:14). Jesus declarou que seremos levados até diante de
governadores para servirmos de testemunhas (Mt 10:18). Os apóstolos foram
testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo (At 4:33). Todos nós devemos dar
testemunho do evangelho e do que Jesus Cristo fez e está fazendo em nossa vida.
Muitas igrejas dão oportunidade aos fiéis para dar um testemunho durante o culto.
Às vezes os testemunhos são de conversão e, às vezes, relativos às lutas e às bênçãos
de Deus em suas vidas.
1 Coríntios 14 nos dá instruções para o uso dos dons no culto público. O conteúdo do
culto deve edificar a igreja (v. 4-6), mas o falar em línguas no culto não a edifica.
Paulo dá instruções à igreja de Corinto dizendo que se o dom for usado no culto,
deve ser com interpretação de outra pessoa que recebeu um dom miraculoso e,
quando muito, duas ou três pessoas sucessivamente (v. 27). Se não respeitarem
estas regras, devem se calar (v. 28). Não é isso que se vê nas igrejas de hoje.
10. Introdução de elementos judaicos. Muitas igrejas hoje têm introduzido o uso de
elementos judaicos na liturgia do culto, tais como a minorá (candelabro judaico de
sete hastes), uma réplica da arca (passagem da arca pelo meio do povo), o chofar
(trombeta oriental confeccionada com chifre de carneiro), etc. A volta ao uso desses
elementos é um equívoco completo. As leis cerimoniais judaicas, juntamente com o
sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, foi substituída pela Nova Aliança de
Jesus. Um retorno às leis cerimoniais do Antigo Testamento seria uma judaização do
Cristianismo, coisa que o apóstolo Paulo combateu nas igrejas do primeiro século. Os
que pregavam tais coisas eram conhecidos como judaizantes, pessoas que
desejavam fazer os convertidos gentios adotarem a cultura judaica.
O ato de contribuir faz parte do culto público da maioria das igrejas cristãs. Algumas
igrejas colocam um gazofilácio (recipiente para recolher contribuições com fenda na
parte superior) à entrada do local de cultos para que o fiel faça a sua contribuição ao
entrar, sem que a contribuição faça parte da liturgia. A maioria das igrejas
evangélicas inclui um tempo especial para as contribuições na liturgia do culto. Isto
se faz de duas formas principais. Durante um ofertório instrumental ou um cântico,
um recipiente é passado em todas as fileiras de assentos para recolher as
contribuições sem que o fiel tenha que sair do seu lugar. Uma variação deste método
é que durante o ofertório ou cântico, o fiel se desloca até o gazofilácio colocado à
frente da congregação para depositar a sua contribuição.
Não são os locais ou objetos que são sagrados, mas as pessoas é que são santas.
Portanto, os cemitérios não são sagrados, o prédio onde se reúne a igreja não é
sagrado e nem o palco (ou altar) de onde se dirigem os cultos. Aliás, na igreja bíblica
não existe altar. As menções a “altar” no Novo Testamento se referem ao sistema
sacrificial da Antiga Aliança. O “altar” das referências do livro de Apocalipse se
encontra no céu. A única referência que talvez não se aplique a estes dois casos é Hb
13:10: “Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no
tabernáculo”. No contexto, o autor está fazendo um contraste metafórico com o altar
do Antigo Testamento, referindo-se a um altar espiritual, não a um espaço físico na
igreja. Cinco versículos depois ele diz: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus,
sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (v. 15),
demonstrando assim que não se trata de um altar físico.
2. Ritos no culto cristão. Existe lugar para ritos no culto cristão? Rito é um “conjunto
de regras e cerimônias que devem ser cumpridas em uma religião”15. A Nova Aliança
aboliu os ritos das leis cerimoniais da Antiga Aliança. Jesus deseja uma adoração
feita em espírito; uma adoração feita com o coração, não baseado no rito. Existem
algumas cerimônias que devem ser realizadas no culto cristão, como as ordenanças,
mas isso pelo valor interno que tem para o fiel, não pelo rito em si.
Nas igrejas protestantes e evangélicas, não é necessário ter uma pessoa ordenada
para celebrar o culto. Muitos dirigentes não ordenados participam da condução do
culto. O Novo Testamento ensina que somente Jesus Cristo é mediador entre Deus e
o homem (1 Tm 2:5). Nenhum celebrante de culto tem esta autoridade. Todos os
fiéis têm o direito de entrar diretamente na presença de Deus através de Jesus
Cristo, sem depender de outro indivíduo (conhecido como o sacerdócio de todo o
cristão). Todos os fiéis são “sacerdotes” (1 Pe 2:9). A tradição neopentecostal tem se
desviado deste princípio ao apresentar os seus pastores como “o homem de Deus”,
fazendo dele o canal das bênçãos de Deus e tornando a sua oração uma oração mais
poderosa. Ele (ou ela) seria o instrumento de Deus para conferir “cobertura
espiritual” contra os demônios e a maldição e uma posição privilegiada para receber
a bênção de Deus, exigindo-se uma obediência cega ao líder para poder permanecer
debaixo desta cobertura.
O Novo Testamento nos ensina que o pastor foi constituido pelo Espírito Santo para
servir o rebanho de Deus, pastoreando-o, edificando-o e protegendo-o dos falsos
mestres (Jo 21:15; At 20:28-31; Ef 4:11-12). Existe um perigo muito grande quando
se coloca o pastor em uma posição de superioridade espiritual. A pompa, as regalias
e o prestígio levam facilmente a um orgulho espiritual e a um esquecimento de sua
posição de servo. O pastor deve se proteger destas armadilhas. Em algumas
tradições o celebrante do culto se veste de toga, estola e/ou usa gola branca de
cunho clerical. Mesmo o uso de terno pelo pastor às vezes se torna um artifício para
separá-lo dos fiéis. Algumas vezes o pastor fica isolado do restante da congragação
durante a primeira parte do culto, sem participar, até próximo ao momento em que
trará a mensagem. Todos esses gestos criam uma distância entre o pastor celebrante
do culto e os fiéis, o que deve ser evitado.
4. Participação ativa nos cultos. Quem pode ter participação ativa nos cultos? Nas
igrejas protestantes e evangélicas a resposta a esta pergunta é muito variada.
Algumas igrejas têm um controle rígido, só permitindo que algumas pessoas seletas
A maioria das igrejas exige que o ministrante das ordenanças (ou sacramentos) e do
ofício do casamento seja um pastor ordenado. O pastor pode pedir ajuda aos
diáconos, anciãos ou presbíteros para ajudar na ministração da Ceia do Senhor.
Cultos ecumênicos. Cultos ecumênicos são cultos celebrados com outras denominações
ou religiões. O culto ecumênico inter-religiões é aquele celebrado não só com outras
denominações cristãs, mas também com outras religiões não cristãs. Exemplo: culto
com a presença de representantes evangélicos, católicos, muçulmanos, budistas, hindus,
etc. O culto ecumênico cristão é aquele celebrado somente com membros de outras
tradições cristãs como: evangélicos, pentecostais, liberais, católicos e ortodoxos. Outro
tipo de culto ecumênico é o evangélico, onde se celebra somente com outras
denominações que possuem a fé evangélica em comum: Batista, Presbiteriana,
Assembléia de Deus, Cristã Evangélica, Congregacional, etc.
Pode haver cooperação entre igrejas evangélicas, igrejas liberais e a Igreja Católica em
questões como ação social, militância contra ou a favor de legislação de interesse de
todas as igrejas cristãs?