Apostila GeradoresVapor PDF
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ESCOLA DE MINAS
Departamento de Engenharia Mecânica
SISTEMAS TÉRMICOS
O ciclo a vapor, também conhecido como ciclo Rankine, foi concebido como modelo básico
para as instalações geradoras de energia a partir da produção de vapor. Da termodinâmica se sabe
que o ciclo de Carnot, assim denominado em homenagem ao engenheiro francês Nicolas Leonard
Sadi Carnot (1796-1832), é o que apresenta maior rendimento ao operar entre dois reservatórios
de temperaturas constantes, uma alta e outra baixa. Esse ciclo seria constituído de dois processos
isentrópicos (1-2 e 3-4) e dois processos isotérmicos (2-3 e 4-1), conforme a Figura 1.
2 3
4
1
Sabe-se que o ciclo de Carnot não se aplica na prática, uma vez que admite que todos os
processos possam ser invertidos, isto é, admite-se que seja reversível. O ciclo a vapor não pode ser
entendido, então, como a aproximação prática real do ciclo de Carnot, porque:
O processo (1-2) envolve o bombeamento de uma parcela mista, parte líquido e parte vapor (o
ponto 1 se encontra na região saturada), o que dificilmente seria conseguido por uma bomba
sem consequências negativas;
O processo (3-4) ocorre sem que o vapor se encontre no estado superaquecido, o que seria
prejudicial para as palhetas do sistema rotativo existente na turbina a vapor que o irá receber.
Por tais motivos, o ciclo a vapor apresentado na Figura 2 se revela como uma alternativa
1 4
s
FIGURA 2: Diagrama temperatura - entropia de um ciclo a vapor
A queda da pressão de condensação de um nível P4 para outro nível P4’ resulta em maior
potência gerada na turbina a vapor, uma vez que pela Primeira Lei da Termodinâmica:
h 3 h 4s tv m
We, mec m v P3 P4 (1)
Para o ponto 4, sendo substituída pela entalpia (pressão) do ponto 4' na queda de pressão (Figura
4a); como P4’ < P4 (o mesmo acontecendo com a entalpia), a diferença de entalpia aumenta com a
redução de pressão. Esse aumento de potência é limitado, na prática, pelo aumento da umidade do
vapor, cujo título não deve ser reduzido além de 95% sob pena de vir a ocasionar a deterioração
das palhetas da turbina a vapor.
Uma vez que o rendimento térmico da instalação a vapor é obtido pela relação entre a
potência líquida (diferença entre a potência mecânica gerada na turbina a vapor e a potência
mecânica consumida na bomba) e o fluxo térmico fornecido pelo combustível na caldeira:
W W W
liq
t tv bb (2)
Qcald m comb PCI
Ocorre aumento da eficiência com a diminuição da pressão de rejeição do vapor na turbina.
Por outro lado, seja um aumento de pressão do vapor vivo, como descrito na Figura 4b, com
passagem de certo nível P3 para outro maior (P3’).
Nesse caso, o trabalho líquido será o mesmo (ou seja, mesma diferença de entalpia em ambos
os casos) porém o calor rejeitado irá diminuir de um valor correspondente a (h4 – h4’), assim como
o calor fornecido ao ciclo (h3 – h3’), aumentando dessa forma a eficiência do ciclo. O título do
vapor (x) que deixa a turbina diminui quando a pressão de entrada aumenta (x4’ < x4).
Em resumo, o aumento de eficiência do ciclo a vapor é obtido pelo aumento da pressão
de vapor vivo na caldeira ou pela redução da pressão de pressão na saída da turbina a vapor.
É importante assinalar que nos ciclos reais, como consequência da Segunda Lei da
Termodinâmica, ocorre sempre um deslocamento positivo na entropia dos processos de
bombeamento do fluido (processo 1-2) e na sua expansão (processo 3-4); bombas recalcam fluidos
em tubulações sob efeito do atrito no que se convencionou chamar “perda de carga” e, por sua vez,
ocorrem perdas por atrito no vapor gerado na caldeira quando de sua passagem dentro das partes
rotativas da turbina a vapor. Por essa razão se convencionou computar as eficiências desses
componentes (bombas e turbinas) a partir das equações que seguem:
W h h4
Para a turbina a vapor: tv tv
3 (3)
h 3 h 4s h 3 h 4s
h h1 h 2s h1
Para a bomba: b 2s (4)
W h 2 h1
bb
Conforme pode ser observado na Figura 5, em que as diferenças do numerador são menores
do que as do denominador. Vale lembrar que o emprego da eficiência do componente (bomba,
turbina, compressor e outros) somente se faz necessário quando não se dispõe de um dos estados
termodinâmicos reais.
FIGURA 6: Ciclo a vapor com reaquecimento (a) esquema; (b) diagrama T-s.
fluido atinja a linha de líquido saturado ou liquidus (parte esquerda da curva em forma de sino no
diagrama T - s, até o topo, que corresponde ao ponto crítico) o mesmo é aquecido enquanto
permanece na fase líquida, sendo sua temperatura muito inferior à do processo de vaporização,
com consequente diminuição do rendimento do ciclo.
FIGURA 7: Ciclo a vapor com reaquecimento (a) esquema; (b) diagrama T-s.
Vapor Saturado: vapor produzido na temperatura de ebulição à sua pressão absoluta. Têm-
se o vapor saturado úmido (quando contém partículas de água em suspensão) e o vapor saturado
seco (que é o caso contrário).
Calor Sensível: pode ser definido como a quantidade de calor que um grama de uma
substância pura deve receber ou ceder para que nela aconteça a variação de um grau de
temperatura.
Calor Latente: pode ser definido como a quantidade de calor necessário para converter um
grama água líquida em vapor seco à mesma temperatura e pressão (o calor latente decresce com o
aumento da pressão absoluta do vapor).
Entalpia Total: pode ser calculada pela soma do calor sensível e do calor latente.
2.2.1. Definição
Geradores de vapor são equipamentos que permitem a geração de formas de energia térmica
de amplo uso, tanto em nível industrial quanto comercial ou residencial, a saber o vapor e a água
quente de pressão elevada a partir do calor liberado pela queima de um combustível ou pelo calor
recuperado de outras fontes (geralmente gases quentes). Os grupos de caldeiras que aproveitam o
calor dos gases de escape de fornos ou de outros produtos da tecnologia que liberam energia
térmica são denominadas caldeiras de recuperação. Caldeiras especiais, que se presta a abastecer
com vapor consumidores residenciais em edifícios ou casas nos países com invernos rigorosos,
são chamadas de caldeiras de calefação. As caldeiras podem fazer uso de combustíveis sólidos,
líquidos ou gasosos, o que lhes garante uma excelente flexibilidade operacional, além de poderem
estar associadas aos ciclos de vapor de unidades nucleares. Dependendo do tipo de combustível,
variam as características de projeto e os componentes básicos da instalação de vapor.
2.2.2. Emprego
O uso do vapor produzido nas caldeiras assume as mais variadas aplicações, como secagem,
cozimento, geração de energia, lavagem de utensílios, desinfecção, aquecimento ambiental,
pasteurização (a parte referente ao aquecimento), dentre outros. Encontrado nos mais variados
setores, tais como industrial, terciário e residencial (notadamente nos países de clima frio, e no
Brasil no sul do país e em certas localidades de temperatura mais baixa, como Campos do Jordão),
sua forma mais usual é a estacionária, porém pode ocorrer de se verificar o emprego de caldeiras
em sistemas móveis, tal como as antigas locomotivas a vapor, certas embarcações navais de grande
porte e mesmo existe o registro de pequenas caldeiras compactas transportadas em caminhões.
2.2.3. Classificação
Caldeiras de Recuperação: são aqueles geradores que não utilizam combustíveis como
fonte geradora de calor, aproveitando o calor residual de processos industriais (gás de escape de
motores, gás de alto forno, de turbinas, entre outros).
Caldeiras de Água Quente: são aqueles em que o fluido não vaporiza, sendo o mesmo
aproveitado em fase líquida (calefação, processos químicos).
Geradores Reatores Nucleares: são aqueles que produzem vapor utilizando como fonte de
calor a energia liberada por combustíveis nucleares (urânio enriquecido).
1) Pressão de Regime: a máxima pressão de vapor, considerada como limite superior quando do
projeto.
2) Pressão de Prova: pressão de ensaio hidrostático a que deve ser submetido a caldeira (NR-13,
item 13.10)
3) Capacidade de Evaporação: são as partes metálicas em contato, de um lado com a água e
vapor da caldeira e, do outro, com os produtos da combustão. A medição desta área se faz pelo
lado exposto às chamas.
4) Superfície de Grelhas ou Volume da Fornalha: juntamente com o item anterior, determina a
potência da caldeira. Maior será a potência quanto maior for o volume da caldeira.
5) Outros: peso, superfície dos superaquecedores de vapor, economizadores de água de
alimentação, aquecedores de ar, volume das câmaras de água e vapor, eficiência térmica desejável,
variação da demanda, espaço necessário ou disponível, amortização do investimento.
1. Projeto e Construção: sua forma e método de construção deverão ser simples, proporcionando
elevada segurança em funcionamento. Todas as partes deverão ser de fácil acesso ou desmontagem
para facilitar a limpeza interna e consertos ordinários.
2. Vaporização específica, grau de combustão e capacidade: deverão ser projetadas de forma
que, com o mínimo peso e volume do gerador, seja obtida a máxima superfície de aquecimento.
3. Peso e espaço: estes fatores devem se combinar para que as caldeiras se adaptem ao espaço a
elas destinado.
A Figura 10 mostra uma caldeira flamotubular vertical com a indicação de cada componente.
14 15 16 17
13
1. Cinzeiro
2. Bomba de água
3. Grelha plana
12 4. Registro de purga
18
5. Parede interna
6. Fornalha imersa
7. Casco cilíndrico
19
11 8. Isolamento térmico
9. Tampa de inspeção
20 10. Tubos de gases
10 11. Válvula de segurança com alavanca
21 12. Coletor de fuligem
13. Chaminé
22
14. Duto de gases
23 15. Defletor de gases
9 16. Coletor de gases
24
17. Tampas de limpeza
8 25 18. Manômetro com sifão
26 19. Válvula principal de vapor
20. Espelho superior
27
21. Visor de nível
7 28 22. Placa de identificação
6 29 23. Registro de alimentação de água
24. Válvula de retenção
5
25. Registro de vapor
4 26. Injetor de água e vapor
30 27. Espelho inferior
3 28. Câmara de água
31 29. Tampa de carga
30. Peneira de sucção
2 31. Porta do cinzeiro (regulador de ar)
3. Caldeira de Vapor (Tambor de Vapor): constituída por um vaso fechado à pressão contendo
água que será transformada em vapor.
5. Cinzeiro: local de deposição das cinzas e restos de combustível que caem da fornalha.
6. Condutos de Fumo: são canais que conduzem os gases da combustão até a chaminé.
7. Economizador: utilizando o calor residual dos gases, aquece a água de alimentação. Além de
melhorar o rendimento da unidade, sua instalação minimiza o choque térmico entre a água de
alimentação e a já existente no tambor.
8. Fornalha: principal equipamento para a queima do combustível. Entre as suas funções estão
incluídas: a mistura ar-combustível, a atomização e vaporização do combustível e a
conservação de uma queima contínua da mistura.
9. Grelhas: utilizadas para amparar o material dentro da fornalha, podendo ser fixas, rotativas e
inclinadas.
11. Reaquecedor: tem função equivalente à dos superaquecedores. A sua presença torna-se
necessária quando se deseja elevar a temperatura do vapor proveniente de estágios
intermediários de uma turbina.
12. Retentor de Fuligem: tem como função separar a fuligem, resultante da queima não
estequiométrica do combustível, dos gases antes dos mesmos saírem pela chaminé.
13. Superaquecedor: consiste de um ou mais feixes tubulares, destinados a aumentar a
temperatura do vapor gerado na caldeira.
19. Pressostatos: são dispositivos de segurança que comandam o regime de trabalho das caldeiras,
de acordo com a pressão do vapor.
20. Purificadores de Vapor: são dispositivos auxiliares que tem a finalidade de minimizar o
arraste de umidade, sais e sólidos em suspensão.
21. Válvulas de Segurança: têm como função promover o escape do excesso do vapor caso a
pressão de trabalho venha a ser ultrapassada e os outros dispositivos não atuem.
22. Válvulas: têm como função interromper ou regular a passagem de um fluido. Tipos de
Válvulas: de retenção (colocadas nas linhas de vapor e óleo para evitar o refluxo); de extração
de fundo – dreno (permite a retirada de impurezas da água que se deposita no fundo do tambor
de vapor); de descarga lenta (tem como função assegurar uma perfeita vedação no sistema);
solenoide (comandada eletricamente, abre ou fecha a passagem de um fluido); de alívio (para
retirar o excesso de pressão no aquecedor de óleo das caldeiras); de escape de ar (controla a
saída ou entrada de ar na caldeira, no início e no fim das operações); de serviço (tem seção
correspondente a 10% da válvula principal. Tem como função garantir o acionamento de
23. Visor de Nível: é um tubo de vidro colocado no tambor de vapor, que tem por finalidade dar
ao operador a noção exata da altura onde se encontra a água da caldeira.
v h tot h l
Qm (5)
B. Rendimento Global
É definido com a relação entre o calor transmitido e a energia produzida pelo combustível:
v h tot h l
m
g 100% (6)
m c PCI
Sendo: mc a vazão mássica de combustível queimado (kg/h) e PCI o poder calorífico inferior
do combustível (kcal/kg).
C. Velocidade de Combustão
A velocidade de combustão expressa a quantidade de combustível queimado por metro
quadrado (m2) de superfície de aquecimento por hora, ou a quantidade (kg) de combustível
queimado por metro cúbico (m3) de volume de câmara por hora.
D. Fator de Vaporização
É a relação entre o calor absorvido por um quilograma de água de alimentação nas condições
da caldeira e o calor absorvido por um quilograma de água a 100ºC ao vaporizar.
E. Vaporização Equivalente
É definido como sendo a vazão de água a 100ºC, em [kg/h], que se vaporiza na caldeira:
v h tot h l
m
VE (7)
543,4
F. Balanço Térmico
Consiste na elaboração de uma tabela contendo o calor absorvido pelo gerador (desejado) e
as perdas ocorridas na combustão. A Figura 11 apresenta o fluxo de energia em um sistema de
caldeira.
G. Calor Absorvido
É a parcela da energia (calor) que a água e vapor absorveram, a qual se deseja maximizar. É
calculado da seguinte forma:
v
HL
m
h h l (8)
c tot
m
Sendo: HL o calor absorvido pela água e vapor por quilograma de combustível [kcal/kg], mv
e mc as vazões mássicas de vapor e combustível respectivamente [kg/h].
H. Perdas de Calor
São parcelas de calor liberado na combustão não utilizadas na produção de vapor. As
mesmas podem ser classificadas da seguinte forma:
Ocasionais: são perdas devido a erros de projeto, de equipamento ou de operação, as quais
devem ser minimizadas. Exemplos: perdas no isolamento e nos ventiladores.
Normais: são perdas previstas pelo projeto. Exemplos: cinzas, porta da fornalha, etc.
H2 m
u h"g h'L (9)
H 3 9 H2 h"g h'L (10)
O
m as m sg C1 8 H 2 2 (13)
8
4 CO 2 O 2 7 ,00 m c C m r Cr
m sg
3 CO 2 CO mc
(14)
mr
Cr A (15)
mc
m c C m r Cr
C1 (16)
mc
Sendo: msg o peso dos gases secos na saída da caldeira [kg ou kg/h], mc o peso do
combustível [kg ou kg/h]; mr o peso das cinzas [kg ou kg/h]; C a porcentagem de carbono no
combustível [%]; Cr a porcentagem de carbono não queimado nas cinzas [%]; C1 o peso do
carbono queimado por quilograma de combustível [kg ou kg/h]; A a porcentagem de cinzas.
H 5 msg Cp Tg Ta (17)
Sendo: H5 as perdas devido aos gases secos da chaminé [kcal/kg]; Cp o calor específico
médio dos gases [ 0,24 kcal/kg.K].
CO
H6 5689 ,6 C1 (18)
CO 2 CO
8148 m r C e
H7 (19)
mc
Sendo: mr o peso das cinzas e escórias [kg]; Ce o peso do carbono não queimado [kg/kgcinzas].
O. Outras Perdas
Estas perdas se referem ao calor dissipado pelas paredes da câmara, ao calor sensível dos
gases ao saírem para a atmosfera, ao calor sensível das cinzas, à variação de carga na caldeira, etc.
Ela nada mais é do que a diferença entre o poder calorífico do combustível e o calor absorvido
pela caldeira mais as perdas.
H 8 PCI H L H 2 H 3 H 4 H 5 H 6 H 7 (20)
Também conhecidas como Pirotubulares, Fogotubulares ou, ainda, como Tubos de Fumaça,
são aquelas nas quais os gases da combustão (fumos) atravessam a caldeira no interior de tubos
que se encontram circundados por água, cedendo calor à mesma.
2.2.6.1. Classificação
Existem vários métodos de classificação das caldeiras flamotubulares (segundo o uso, a
capacidade, a pressão, a posição da fornalha, a posição dos tubos, os tamanhos, etc.). Assim, pode-
se dividi-las em:
Verticais:
• Com fornalha externa
• Com fornalha interna
Horizontais:
• Com fornalha externa
• Multitubulares
• Com fornalha interna
• Com uma tubulação central (Cornovaglia)
• Com duas tubulações (Lancashire)
• Locomotivas e Locomóveis
• Escocesas
• Marítimas
• Estacionárias
• Compactas
A. Caldeira Cornovaglia
Tem funcionamento simples, é constituída por uma tubulação por onde circulam os gases
produtos da combustão, transmitindo calor para a água, que o circunda, por contato de sua
superfície externa. É, em geral, de grandes dimensões ( 100 m2), tem baixo rendimento térmico
e, devido ao seu tamanho, tem sua pressão máxima limitada a 10 kgf/cm2. Sua capacidade
específica varia de 12 a 14 kg de vapor por m2 de superfície.
B. Caldeira Lancashire
Também conhecida como Caldeira Lancaster, é a evolução da caldeira anterior, possuindo 2
(3 ou 4) tubulões internos, alcançando superfície de aquecimento de 120 a 140 m2, conforme pode
ser visto na Figura 12. Alguns tipos atingem de 15 a 18 kg de vapor por m2 de superfície de
aquecimento. Tanto a Caldeira Cornovaglia, como a Lancashire, está caminhando para o desuso
devido às unidades modernas mais compactas.
C. Caldeiras Multitubulares
A substituição dos tubulões das caldeiras anteriores por vários tubos de pequeno diâmetro
deu origem à caldeira flamotubular multibular. São encontrados com duas ou três voltas de chama,
i.e., os gases de combustão fazem duas ou três voltas no interior da caldeira. Os diâmetros dos
tubos variam entre 2 ½” e 4”, de acordo com a aplicação. Não permitem o uso de fornalha interna,
sendo completamente revestida de alvenaria. Sua grande vantagem é permitir a utilização de
qualquer combustível, mas devido ao alto custo do refratário, despesas de manutenção e alto custo
de instalação, este tipo de caldeira vem tendo sua aplicação industrial diminuída. Sua capacidade
máxima é de 600 kg de vapor por hora com pressão máxima de 16 kg/cm2.
E. Caldeiras Escocesas
É o tipo mais moderno e evoluído de caldeiras flamotubulares (Figura 14). Não exige gastos
com instalações especiais ou custosas colunas de aço ou alvenaria, bastando uma fundação simples
e nivelada, as ligações com a fonte de água, eletricidade e esgoto para entrar imediatamente em
serviço. Têm controle eletrônico de segurança e funcionamento automático arrancando tão logo
sejam ligados os interruptores. A caldeira consta de um corpo cilíndrico que contém um tubulão
sobre o qual existe um conjunto de tubos de pequeno diâmetro. Tem geralmente uma câmara de
combustão de tijolos refratários na parte posterior, a que recebe os gases produtos da combustão,
e os conduz para o espelho traseiro. Essas unidades operam com óleo ou gás (banha derretida),
sendo a circulação garantida por ventiladores (tiragem mecânica). As unidades compactas
alcançam elevado rendimento térmico, garantindo 83%. São construídas até a máxima produção
de 10 ton de vapor por hora a uma pressão máxima de 18 kg/cm2. Sua vaporização específica
atinge valores da ordem de 30 a 34 kg de vapor por m², dependendo da perda de carga oferecida
pelo circuito. Os gases circulam com grande velocidade, 20 a 25 m/s, permitindo a obtenção de
elevado índice de transmissão de calor. A perda por radiação é muito baixa, não ultrapassando
1%.
desenvolvidos nos tubos pelas altas pressões são de tração ao invés de compressão, como ocorre
nas flamotubulares, e também pelo fato dos tubos estarem fora do corpo da caldeira obtemos
superfícies de aquecimento praticamente ilimitadas. Os objetivos a que se propõe uma caldeira
aquotubular abrangem uma grande faixa e em vista disto temos como resultado muitos tipos e
modificações, tais como tubos retos, tubos curvos de um ou vários corpos cilíndricos, enfim a
flexibilidade permitida possibilita vários arranjos.
2.2.7.1. Classificação
As caldeiras aquatubulares podem ser classificadas de diversas maneiras, porém neste
trabalho, a divisão será em:
Caldeiras de tubos retos
Caldeiras de tubos curvos
Caldeiras de circulação forçada
devido a possuírem fácil acesso aos tubos para fins de limpeza ou troca, causarem pequena perda
de carga, exigirem chaminés pequenas, e porque também todos os tubos principais são iguais
necessitando de poucas formas especiais.
A Figura 16 mostra um exemplo de caldeira aquatubulares com tubos retos e tambor
longitudinal. Os tubos de água, normalmente de 4, são inclinados com ângulo de aproximadamente
22º, sendo ligados nas extremidades aos coletores também chamados câmaras onduladas,
formando com o tubulão um circuito fechado por onde circula a água que entra pela parte inferior
do tambor, desce pelo interior do coletor posterior e sobe pelos tubos inclinados onde se forma o
vapor. A mistura de vapor e água ascende rapidamente pelo coletor frontal retornando ao tambor
onde tem lugar a separação entre o vapor e a água.
Estas caldeiras podem ser adaptadas à produção de energia e possuem um apreciável volume
de água, fator importante para várias aplicações. Sua superfície de aquecimento varia de 67 a 1.350
m², com pressões de até 45 kg/cm² para capacidades variando de 3 a 30 toneladas de vapor por
hora. Seu inconveniente se restringe no fato de que os tubos terminam em coletores cujas paredes
devem estar em esquadro com a linha central dos tubos para que as juntas de vapor possam se
encaixar aos extremos dos tubos contra as paredes dos coletores, e por possuírem baixa
Foi Mark Benson da Siemens alemã o autor deste tipo de caldeira, que se caracterizava pelo
fato de não utilizarem bomba de recirculação ou tambor, trabalhando com pressões supercríticas,
exigindo assim um controle rigoroso. Aproveitando calor do superaquecedor (~4%) para a água
de alimentação, a Sulzer apresentou seu modelo trabalhando com uma pressão a 140 kgf/cm² e
com aparelhos para controlar o superaquecimento desejado através do controle da combustão e da
circulação de água. Baseados no modelo da Sulzer, a La Mont e a Velox desenvolveram seus
modelos chamados de “circulação favorecida” por possuírem uma bomba de recirculação que
trabalha no primeiro caso com pressões superiores à da caldeira de 40 psi em média, tendo
aplicação satisfatória em caldeiras de recuperação consumindo menos de 1% da energia produzida.
Na caldeira Velox, que alcança rendimento térmico de até 90% e por isto vem adquirindo
grande aceitação na Europa, os gases da câmara de combustão são comprimidos de 1 a 2 kg/crn2
por meio de um ventilador acionado por uma turbina a gás que utiliza os gases de escape da
caldeira. Devido a compressão, há um aumento da densidade dos gases e de sua velocidade até
valores próximos a 200 m/s, melhorando-se assim a transmissão de calor em alguns casos com
coeficientes 15 vezes maiores que nos casos comuns. Por este motivo a caldeira requer
aproximadamente um quarto (1/4) do espaço e pesa um sétimo (1/7) do valor de geradores
convencionais de mesma capacidade de produção de vapor. Outras vantagens atribuídas a este
tipo são uma resposta rápida aos controles e rápida entrada em funcionamento (5 a 7 minutos),
alcançando uma vaporização específica de até 500 kg/h de vapor por m².
A Figura 18 representa uma caldeira de circulação forçada com recirculação. O vapor
produzido e a água sem vaporizar entram em um cilindro vertical no qual canais centrífugos
dirigem a água para o fundo e o vapor saturado sobe pelo centro. A água volta a entrar na bomba
de circulação de onde é injetada no gerador de novo.
Um gerador deste tipo produz aproximadamente 2.750 kg/h de vapor ocupando um espaço
de 2,1 x 2,1 m. As caldeiras de circulação forçada devido, entre outras coisas, a serem mais leves,
formarem vapor praticamente seco ou superaquecido e instantaneamente, ocuparem menor espaço
e possuírem grandes coeficientes de transmissão de calor, pareciam tomar conta completamente
do mercado, porém o seu uso apresentou certos inconvenientes como supersensibilidade, paradas
constantes por mínimos problemas, etc., o que levou La Mont a elaborar juntamente com Vorkauf
outro tipo sem bomba de alimentação (circulação natural), porém com tubulão ligado aos tubos de
grande diâmetro que por sua vez se ligam ao feixe de troca de calor de tubos com diâmetros
menores (Figura 19). Este tipo teve grande aceitação dos usuários pois aproveitou as vantagens
das caldeiras de circulação forçada e eliminou os defeitos das mesmas.
Pré-Aquecedor de Ar: Tem por finalidade aquecer o ar que será alimentado na fornalha,
de modo a conseguir um aumento na temperatura do processo de combustão e melhorar a
transferência de calor por radiação. Com isto também se consegue aumento na eficiência
do equipamento e economia de combustível. A Figura 20 mostra uma foto com detalhe ao
pré-aquecedor de ar.
Economizador: Tem por objetivo pré-aquecer a água que alimentará a caldeira usando o
calor dos gases de combustão que saem do equipamento. Consegue-se, assim, melhor
rendimento na produção de vapor, respostas mais rápidas e economia de combustível. A
Figura 21 mostra fotografias de um economizador instalado e em detalhe os tubos aletados
no interior do equipamento.
Ciente de todos os detalhes mencionados considera-se ideal para geração de vapor uma água
com as seguintes características:
o Menor quantidade possível de sais e óxidos dissolvidos
o Ausência de oxigênio e outros gases dissolvidos
o Isenta de materiais em suspensão
o Ausência de materiais orgânicos
o Temperatura elevada
o pH adequado (faixa alcalina)
A alimentação de água com boa qualidade elimina, antecipadamente, grande parte dos
problemas que normalmente ocorrem em geradores de vapor. Posteriormente, fica a cargo do
tratamento químico interno a manutenção da qualidade da água no interior da caldeira. É errônea
a associação da qualidade da água para consumo humano (potabilidade) com a água para geração
de vapor. O padrão para potabilidade da água é baseado, principalmente, na presença de
microrganismos. Assim, uma água boa para beber não implica, necessariamente, em uma água boa
para gerar vapor.
Geralmente, nas águas superficiais e subterrâneas que são usadas nos processos industriais,
encontramos as seguintes substâncias dissolvidas:
Dureza, representada basicamente pelos íons cálcio e magnésio (Ca2+ e Mg2+),
principalmente os sulfatos (SO42-), carbonatos (CO32-) e bicarbonatos (HCO3-).
Sílica solúvel (SiO2) e silicatos (SiO32-) associados a vários cátions.
Óxidos metálicos (principalmente de ferro), originados de processos corrosivos.
Diversas outras substâncias inorgânicas dissolvidas.
Material orgânico, óleos, graxas, açúcares, material de processo, contaminantes de
condensados, etc.
Gases, como oxigênio, gás carbônico, amônia, óxidos de nitrogênio e enxofre.
Materiais em suspensão, como areia, argila, lodo, etc.
Para evitar que todas essas impurezas adentrem ao sistema gerador de vapor, deve-se
proceder a um tratamento preliminar na água de reposição da caldeira. Além disso, o uso de
condensados como parte da alimentação também é recomendado e será discutido no item seguinte.
São procedimentos recomendados para execução na água de reposição das caldeiras, visando
retirar as impurezas e evitar as consequências de sua presença. O tratamento preliminar atua
primeiramente sobre as impurezas mais grosseiras, tais como turbidez, sólidos em suspensão e
material orgânico. Depois, dependendo da necessidade, são feitos tratamentos mais sofisticados
para eliminação do material dissolvido.
Apesar de toda tecnologia disponível, muitos usuários de caldeiras não fazem pré-tratamento
de água, o que é extremamente desaconselhável e dificulta enormemente o trabalho do tratamento
químico interno (quando é feito). Não é raro encontrarmos caldeiras alimentadas com água bruta,
diretamente de fontes como rios, represas e poços.
Um tratamento preliminar que também deve ser executado é a remoção de oxigênio e outros
gases dissolvidos na água, através de uma desaeração. Este fato será abordado mais adiante, no
capítulo referente à corrosão. Prosseguindo, os métodos mais empregados para tratamento
preliminar da água são:
1
Considera-se o conceito de “coagulação” como sendo a neutralização das cargas elétricas das partículas presentes
na água. A floculação é o aglutinamento dessas partículas, formando um floco grande o suficiente para ser removido
por decantação (ou flotação). Um mesmo produto pode fazer a função de floculante e coagulante.
Dependendo da finalidade a que se propõem, os processos de troca iônica para água são:
FIGURA 24: Ilustração de um processo de abrandamento por troca iônica (ciclo hidrogênio).
Consiste em fazer a água previamente filtrada passar por dispositivo normalmente cilíndrico
denominado “permeador”, onde os sais presentes na água são retidos por membranas seletivas
especialmente fabricadas (vide Figura 26). A água pura é eliminada radialmente pelo permeador,
enquanto que a parcela de água não permeada é descartada a uma concentração mais elevada de
sais. Este fato constitui uma das desvantagens do sistema, além do alto custo e da necessidade de
se operar com vários permeadores em paralelo para obtenção de uma vazão razoável.
INCRUSTAÇÃO: A água encontrada na natureza nunca é pura, apresentando uma vasta gama de
substâncias dissolvidas. Muitas destas substâncias são sais e óxidos apresentando solubilidades
diferentes e influenciadas basicamente pela temperatura, concentração e pH. Com a vaporização
de água na caldeira, há um aumento na concentração das substâncias dissolvidas que
permaneceram na fase líquida. Se forem ultrapassados os limites de solubilidade destas
substâncias, as mesmas podem se precipitar de forma aderente nas superfícies de troca térmica
(tubos do feixe de convecção, tubos de parede d’água, tubo da fornalha, tubulões, etc.) constituindo
as incrustações. Outras substâncias também podem se incrustar ou depositar na caldeira, tais como
produtos de corrosão na seção pré e pós-caldeira, sólidos em suspensão, material orgânico advindo
de contaminações e produtos insolúveis originados de reações químicas na água (incluindo excesso
de produtos para condicionamento químico). A Figura 27 mostra uma foto de um tubulão com
incrustação devido a sais dissolvidos na água. A Figura 28 mostra a incrustação devido à corrosão.
CORROSÃO: Corrosão pode ser definida como a destruição da estrutura de um metal através de
reações químicas e/ ou eletroquímicas com o ambiente em que o mesmo se encontra. Podemos
dizer que a corrosão é uma forma natural dos metais voltarem ao estado original em que eram
encontrados na natureza, tais como nos minérios (óxidos); isto ocorre porque, nesta forma, os
metais apresentam-se da maneira mais estável possível do ponto de vista energético. Seria como o
exemplo de uma bola no alto de uma montanha: a bola tenderia a descer pela mesma, até atingir
um estado de energia (potencial gravitacional, no caso) mais baixo possível. As sérias
consequências dos processos de corrosão têm se tornado um problema de âmbito mundial,
principalmente em relação aos aspectos econômicos.
Alguns métodos para a prevenção da corrosão em geradores de vapor podem ser citados
como:
a) Desmineralização da água por meio de resinas catiônicas e aniônicas.
b) Desaeração mecânica da água por intermédio de desaeradores trabalhando com vapor em
contracorrente.
c) Desaeração química da água usando sulfito de sódio catalisado ou hidrazina.
d) Correção do pH da água para a faixa alcalina, a fim de evitar corrosão ácida e acelerar a
formação do filme de óxido de ferro protetor.
e) Tratamento do vapor condensado para neutralizar ácido carbônico e eliminar ataque ao
ferro pelo cobre e níquel.
f) Resfriamento lento da caldeira, quando a mesma é retirada de operação, a fim de evitar
choques térmicos.
g) Em caldeiras de baixa pressão, com temperaturas inferiores a 200ºC, pode-se eliminar a
desmineralização e desaeração em muitos casos não dispensando, todavia, o uso de água
clarificada.
FIGURA 27: Tubulão superior de caldeira aquatubular contendo elevada quantidade de lama de
origem argilosa (água bruta).
C. Peso do ar gasto:
O
mas msg C1 8 H2 2
8
0 ,08
m as 10 ,494 0 ,5822 8 0 ,04
8
BALANÇO TÉRMICO
Sím-
Parcela Cálculo [kcal/kg] %
bolo
Calor absorvido pela caldeira HL 0 ,748 6608 4942,78 74,80
Perdas umidade do combustível H2 0,08 709 23,5 54,84 0,83
Perdas hidrogênio do
H3 9 0,04 709 23,5 246,78 3,73
combustível
Perdas umidade do ar H4 0,7 0,01815 10,15 0,46 233 23,2 12,45 0,19
Perdas gases secos da chaminé H5 10,494 0,24 233 23,2 528,39 8,00
0 ,01
Perdas combustão incompleta H6 0 ,13 0 ,015689 0 ,5822 236,58 3,58
Perdas combustível contido nas 8148 190 ,7 0 ,18
H7 308,03 4,66
cinzas 908
Outras perdas H8 Por diferença 278,15 4,21
TOTAL 6608,00 100