Fundamentos Da Psicologia Jurídica
Fundamentos Da Psicologia Jurídica
Fundamentos Da Psicologia Jurídica
MATERIAL DIDÁTICO
FUNDAMENTOS DE PSICOLOGIA
JURÍDICA
Impressão
e
Editoração
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
UNIDADE 1 – BREVE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ............................................ 9
1.1 Funcionalismo ................................................................................................ 12
1.2 Psicologia da forma (Gestalt) ......................................................................... 13
1.3 Behaviorismo.................................................................................................. 15
1.4 Psicanálise ..................................................................................................... 16
1.5 Psicologia social ............................................................................................. 18
UNIDADE 2 – TEORIAS DA PERSONALIDADE ................................................ 20
2.1 O que é personalidade ................................................................................... 20
2.2 Desenvolvimento da personalidade ............................................................... 22
2.3 Teorias psicodinâmicas .................................................................................. 24
2.4 Teorias comportamentalistas ......................................................................... 31
2.5 Personalidade, psicologia social e psicologia jurídica .................................... 34
UNIDADE 3 – FATORES QUE INTERFEREM NAS REAÇÕES DO INDIVÍDUO 41
3.1 Constituição corporal ...................................................................................... 42
3.2 Temperamento X caráter................................................................................ 45
3.3 Cognição ........................................................................................................ 48
UNIDADE 4 – DIREITO E PSICOLOGIA: UMA UNIÃO POSSÍVEL ................... 56
UNIDADE 5 – CONCEITUAÇÃO DE PSICOLOGIA JURÍDICA E CAMPO DE
ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL ......................................................................... 61
5.1 O que é psicologia jurídica ............................................................................. 61
5.2 Campos de atuação da Psicologia Jurídica.................................................... 64
UNIDADE 6 – ÉTICA NA PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................ 70
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 78
3
INTRODUÇÃO
Esse é um ponto que precisa ser ressaltado, para se evitar possíveis divergências
de interpretação.
Entende-se, de maneira bem simplificada, que o Título Profissional de
Especialista é concedido pelo CFP, conforme regulamentado pela Resolução
014/00 (CFP, 2000). Por outro lado, os cursos de pós-graduação são aqueles
oferecidos por instituições reconhecidas pelo MEC (como o nosso caso).
Diferentemente do título de Especialista, que visa um título profissional, num
curso de pós-graduação – como este que você está cursando – o título é
acadêmico.
Em relação à formação acadêmica do psicólogo jurídico, a citação a
seguir complementa o que já foi falado e responde claramente ao nosso
questionamento: “Por que a especialização em psicologia jurídica?”:
profissão até os dias de hoje. Entende-se que a psicologia pode ser aplicada
diretamente pelo profissional da psicologia em diferentes contextos, como, por
exemplo, clínico, educacional, hospitalar, jurídico, dentre outros, ao mesmo tempo
que pode servir de subsídio para o entendimento do funcionamento psíquico do
ser humano. Por isso, a psicologia é uma disciplina que serve como base para a
formação de outros profissionais que também lidam com seres humanos – sejam
das áreas da saúde, educação ou humanas, por exemplo – e carregam, desde os
seus primórdios, as bases na filosofia e na fisiologia – assim como a psicologia –
como pudemos observar nesse breve histórico.
A palavra “Psicologia” remete ao grego psyché, que significa “alma”, e
logos, que significa “razão”. Assim, inicialmente compreende-se psicologia como o
estudo da alma (MAIA, 2008).
Schultz e Schultz (1992) elucidam que para a sua efetivação enquanto
ciência e profissão – tal como se estabeleceu nos dias de hoje – a psicologia
sofreu influência da fisiologia e da filosofia.
“Sabe-se que a psicologia se desenvolveu no fim do século XIX como
fruto da filosofia e da fisiologia experimental” (HALL, LINDZEY, 1984, p.3).
Descartes (1596-1650) inaugurou a psicologia moderna ao sugerir que a
mente influencia o corpo, ao mesmo tempo em que o corpo pode exercer sobre a
mente uma influência maior do que até então se supunha, o que é um grande
avanço, pois, desde as ideias de filósofos clássicos, como Platão, acreditava-se
que a mente (ou alma) e o corpo possuíam naturezas diferentes. Observa-se que
aqui já não se fala mais em alma, como na definição clássica de psicologia, mas
em mente (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992).
um material de renome na área, cuja primeira edição data de 1932 e é uma obra
que sempre ganha novas edições devido à sua grande importância. Porém,
ressaltamos que não iremos aprofundar no estudo de todas essas escolas,
apenas as que se mostrem mais relevantes para nós no momento, pois não
podemos desconsiderar que em grande parte de sua trajetória profissional, o
autor não esteve no Brasil (o que pode modificar o foco), além do que, com o
passar dos anos, novas tendências também foram surgindo. Assim, pretendemos
discorrer de forma mais aprofundada sobre poucas escolas, escolhidas por serem
relacionadas à psicologia jurídica, mas também por serem uma tendência na
psicologia brasileira atual. A tabela a seguir mostra essas correntes psicológicas:
1.1 Funcionalismo
[...] o ato delituoso é também uma estrutura (Gestalt) que não pode ser
esmiuçada ou decomposta – como fazem os juristas – para ser
deduzida. Toda tentativa de “análise” do delito, no sentido clássico, está
sujeita a chegar a conclusões errôneas e assim, por exemplo, ante a um
crime é completamente errado perder tempo em considerar se o
indivíduo deu uma punhalada a mais ou a menos, se elas foram ou não
“necessariamente mortais” etc.; a situação deve ser, antes, concebida
em suas origens e ser focalizada sem solução de continuidade até o
desenlace. É o que fazem alguns defensores hábeis, mas lhe falta para
merecer o qualificativo de científico não só a “objetividade” como
também a “técnica” necessária para a recoleção, compreensão e
avaliação dos mal denominados “antecedentes do delito” (MIRA Y
LÓPEZ, 2015, p.21).
1.3 Behaviorismo
Nessa subseção, pretendemos apenas apresentar a escola behaviorista e
a contribuição de um de seus principais teóricos para a evolução da psicologia
jurídica. Na seção a seguir, retomaremos ao estudo desse tema, porém voltado
para a dinâmica da personalidade.
“Behaviorismo – nasceu nos Estados Unidos, com Watson, elevando o
status de ciência à psicologia.” (MAIA, 2008, p.16).
Seu fundador foi Watson (1878-1958), mas teve também outros nomes de
grande importância, Skinner (1904-1990) e Pavlov (1849-1936). O behaviorismo
ou comportamentalismo enfatiza o papel do ambiente no comportamento
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1992; GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).
O behaviorismo ou comportamentalismo preconiza uma abordagem mais
científica da psicologia e, em linhas gerais, enfatiza o papel das forças ambientais
no comportamento humano. Os primeiros estudos dos behavioristas
(comportamentalistas) aconteceram em laboratórios de psicologia, com animais.
(GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005).
Para o behaviorismo há dois tipos de comportamento que merecem
destaque para nós: o respondente e o operante. Segundo Schultz e Schultz
(1992), no comportamento respondente “a resposta comportamental é suscitada
por um estímulo observável específico” (p.281), enquanto que no
condicionamento operante “a resposta do organismo é aparentemente
espontânea – no sentido de não estar relacionada com nenhum estímulo
observável” (p.281).
Pavlov não representou apenas o behaviorismo, mas também a corrente
denominada psicologia neuro-reflexológica, linha essa que contribuiu com a
evolução da psicologia jurídica. Seu estudo baseia-se no estudo sistemático dos
16
1.4 Psicanálise
Daremos bastante ênfase no estudo da Psicanálise ainda nesta apostila,
quando iremos expor a dinâmica da personalidade do indivíduo. Agora
pretendemos apenas explanar brevemente sobre essa importante escola e
associar alguns de seus conceitos à psicologia jurídica.
“Psicanálise – nasceu com Freud, na Áustria, a partir da sua prática
médica. Postula o inconsciente como objeto de estudo. Enfatiza que
determinados impulsos instintivos seriam de origem sexual” (MAIA, 2008, p.16).
Ao contrário das escolas psicológicas da época que enfatizavam o estudo
do consciente, Freud propôs um novo ponto de vista ao considerar a importância
do inconsciente na dinâmica da personalidade e no surgimento das neuroses.
Além disso, postulou que a sexualidade é o cerne de grandes conflitos
inconscientes.
Freud deduziu que grande parte do comportamento humano é
determinada por processos mentais que operam abaixo do nível do
conhecimento consciente, no nível do inconsciente. Freud acreditava que
as forças mentais inconscientes muitas vezes entravam em conflito, o
que produzia desconforto psicológico e, em alguns casos inclusive,
alguns transtornos mentais aparentes (GAZZANIGA; HEATHERTON,
2005, p.53).
as artes, a ciências etc. -, estão ancoradas num desejo sexual indestrutível que
constitui o núcleo do inconsciente”
Homem Mulher
Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma
pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser
uma parte do corpo ou todo ele. A finalidade é reduzir a necessidade até
que mais nenhuma ação seja necessária, e dar ao organismo a
satisfação que ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de
energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é
determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O
objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a
satisfação da finalidade original (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.8).
Fonte: adaptado de Gazaninga e Heatherton (2005); Hall e Lindzey (1984); Fadiman e Frager
(1986); Myra e López (2015).
dos mesmos em nosso dia a dia frente às pequenas ameaças às quais estamos
expostos. Entretanto, no caso de situações que podem realmente ferir o indivíduo
do ponto de vista físico ou psicológico, a ameaça torna-se real e o psiquismo, de
forma inconsciente, tenta se adaptar às situações adversas de forma a evitar o
sofrimento.
não desculpam os seus atos, porém ele estava correto ao explicar que as
pessoas estavam ignorando o poder do contexto, da situação, como explicação
para as suas ações hediondas (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). A partir
desse exemplo, concluímos que ao se deparar com ações hediondas, a psicologia
deve levar em consideração aspectos da personalidade do indivíduo e também
situacionais.
A psicologia social alerta para um fenômeno que deve ser levado em
consideração pelo psicólogo jurídico: a desindividuação. Caracteriza-se por um
fenômeno de baixa autoconsciência – ou seja, as pessoas não estão prestando
atenção sobre os seus padrões pessoais – no qual os indivíduos perdem sua
individualidade e passam a seguir padrões grupais. As pessoas desindividuadas
fazem coisas que, muitas vezes, não fariam sozinhas e essas coisas podem ser
ruins ou não. Exemplos de comportamento de desindividuação são tumultos
ocasionados por fãs quando próximas de seu ídolo; saques após desastres,
dentre outras (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005).
Num estudo realizado no departamento de psicologia da Universidade de
Stanford transformaram o porão da instituição num presídio fictício e dividiram
aleatoriamente os alunos em dois grupos: guardas ou prisioneiros. O estudo teve
que ser abortado após seis dias, pois os alunos apresentaram desindividuação e
reagiram de forma muito características, de acordo com os papéis
desempenhados: enquanto os guardas mostraram-se agressivos, muitos
prisioneiros reagiram com apatia e indiferença (GAZZANINGA; HEATHERTON,
2005).
Outro ponto que merece ser destacado é o conceito de normas sociais.
Compreendem-se como normas sociais os padrões esperados de conduta que
influenciam no comportamento do indivíduo e dos grupos, pois indicam qual
comportamento é adequado para cada situação. Dessas normas sociais,
observamos dois tipos de comportamento: a conformidade e a submissão. A
conformidade consiste em alterar as suas próprias opiniões ou comportamentos
para se adequar aos outros e explica, por exemplo, o fato de membros de um júri
seguirem a opinião do grupo ao invés de defenderem sua própria opinião. A
submissão é definida como a tendência do indivíduo a concordar com coisas
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Fonte: adaptado de Gazzaninga e Heatherton (2005); Rosenthal e Affonso (2006); Terra (2012).
a) Constituição Corporal.
Herdados... b) Temperamento.
c) Inteligência.
Mistos... d) Caráter.
e) Experiência Anterior
Fatores gerais responsáveis de Situações Análogas.
pela reação pessoal em um
dado momento f) Constelação.
g) Situação Externa
Adquiridos... Atual.
i) Modo de Percepção
da Situação.
Infância Adolescência
Crianças fáceis: ciclos regulares de sono e Bem ajustado: padrões da infância mantêm-se
alimentação; boa capacidade de adaptação relativamente estáveis.
a mudanças.
Fonte: adaptado de Chess e Tomas; Silva e Santon (1996 apud GAZZANINGA; HEATHERTON,
2005).
3.3 Cognição
Em linhas gerais, compreende-se a cognição como o ato de pensar. O
cérebro representa a informação que chega até ele (via órgãos dos sentidos e
vias motoras, por exemplo) e a cognição manipula essas representações.
A área da psicologia que estuda esse campo não é a psicologia jurídica,
mas a psicologia cognitiva, que é “o estudo de como as pessoas percebem,
aprendem, lembram-se e pensam sobre a informação” (STERNBERG, 2010, p.1).
Em linhas gerais, pode-se afirmar que a Psicologia Cognitiva preocupa-se com os
processos internos envolvidos em extrair sentido do ambiente e decidir que ação
deve ser apropriada. São processos cognitivos a atenção, a percepção, a
aprendizagem, a memória, a linguagem, a resolução de problemas, o raciocínio e
o pensamento. Não iremos discorrer aqui sobre todos os processos cognitivos,
apenas os que se associam diretamente com a psicologia jurídica. Dentre esses,
Mira y López (2015) caracteriza a inteligência como herdada, enquanto que as
demais funções cognitivas como funções psíquicas diferenciáveis que vêm a
constituir o indivíduo.
Talvez, numa leitura inicial dessa subseção, você irá se perguntar: “Qual
a relação dos processos cognitivos com a práxis do psicólogo jurídico?”
Reforçamos que alguns temas básicos – como as linhas que foram delineadas no
percurso histórico da psicologia, a personalidade e os processos cognitivos são
conteúdos que servem como base para outros estudos mais aprofundados que
precisam ser desenvolvidos a posteriori. Esses temas são de relevância não
apenas para o psicólogo jurídico, mas para a equipe diretamente relacionada à
área jurídica que deseja realizar uma especialização na área, assim como para
psicólogos que atuam em áreas afins.
Além disso, como enfatizamos na introdução, esse curso não será voltado
para a área de testes psicológicos devido aos motivos já elucidados. Entretanto,
muitos psicólogos jurídicos lidam, em seu dia a dia, com o uso de testes e
avaliações psicológicas que poderão, além de investigar aspectos da
personalidade do indivíduo, avaliar instâncias como esses processos cognitivos –
o que pode ser extremamente necessário para a elaboração de um laudo
psicológico.
49
a) Memória
O que pode fazer a memória humana falhar frente a uma situação tão
séria que, em países como os EUA, pode levar o réu à pena de morte ou resultar
em prisão perpétua? Mesmo no caso do Brasil, cujas penas aplicáveis não
incluem a pena de morte ou a prisão perpétua, a condenação de um inocente e as
implicações de ser preso num ambiente extremamente adverso pode ser
suficiente para desencadear uma série de desajustes psicossociais no acusado
injustamente.
52
[...] alguns psicólogos (por exemplo, Egeth, 1993; Yuille, 1993) e muitos
promotores acreditam que as provas existentes, baseadas em grande
parte em estudos de testemunha ocular simulado em vez de relatos reais
feitos por testemunhas oculares não são suficientemente sólidas para
arriscar ir contra a credibilidade do testemunho ocular, quando tal
testemunho poderia resultar na prisão de um criminoso verdadeiro,
impedindo a pessoa de cometer mais crimes (STERNBERG, 2010,
p.215).
Lago et al. (2006) elucidam, sobre o fenômeno das falsas memórias, que o
ser humano é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram e
isso pode se dar devido à repetição de informações consistentes e inconsistentes
no depoimento das vítimas sobre determinado exemplo.
b) Inteligência
[...] inteligência é a capacidade para aprender com a experiência,
usando processos metacognitivos para incrementar a aprendizagem e a
capacidade de adaptar-se ao meio ambiente que nos cerca. Pode exigir
adaptações diferentes no âmbito de contextos sociais e culturais
diferentes (STERNBERG, 2010, p.474).
Nesse sentido, Mira y López (2015) elucida que existe, na infância, uma
predisposição à delinquência por ignorância, ou seja, a criança pode tornar certas
atitudes por desconhecimento da moralidade, o que tende a se desenvolver com
o passar dos anos. Quando essa falta de compreensão da responsabilidade moral
persiste na juventude ou na idade adulta, torna-se a melhor explicação de muitos
atos delituosos – fato que também será explorado em outro momento do curso.
55
considerar que é este mesmo homem quem protagoniza o ato jurídico passível de
julgamento (CARVALHO, 2007).
Lago et al. (2009) reforçam que, na Antiguidade e Idade Média, a loucura
era um fenômeno bastante privado. A partir do século XVII, os doentes mentais
passaram a ser excluídos da sociedade, todos aqueles que representavam algum
tipo de ameaça à razão e à moral da sociedade passaram a ser confinados em
manicômios. Posteriormente houve a desinstitucionalização. Não iremos entrar
em detalhe sobre esse fato, apenas é importante relacionarmos a loucura à
psicologia jurídica, já que muitos doentes mentais podiam cometer crimes e a
avaliação psicológica dos mesmos pareceu uma estratégia importante para se
aplicar possíveis penas. A associação da doença mental com a incidência de
delitos é uma área de interesse para a psicologia jurídica e será elucidada num
outro momento.
Até a Idade Média, a religião desempenhava função primordial na
discriminação e julgamento das atitudes do homem. O Direito passou a buscar
maior diversidade de leis que organizassem os vários contratos estabelecidos
entre as pessoas e que também considerassem os progressos ocorridos em
outras ciências, os quais poderiam auxiliar na compreensão de comportamentos
desviantes e criminais. A psiquiatria forense foi uma dessas ciências que auxiliou
na análise de crimes por ser uma possibilidade para identificar alterações das
funções mentais que poderiam estar relacionadas ao ato em julgamento,
entretanto, os psiquiatras não dispunham de instrumentos para uma avaliação
mais específica (CARVALHO, 2007).
Por outro lado, no final do século XIX, a Psicologia foi reconhecida como
ciência e vinha predominantemente pesquisando e desenvolvendo
instrumentos para a investigação da memória, pensamento, entre outras
funções mentais. É dessa forma que a Psicologia se aproximou do
Direito, auxiliando nos processos periciais que forneciam subsídios ao
juiz na determinação da pena a ser cumprida (CARVALHO, 2007, p.21).
deixou de ser a única estratégia adotada pelo psicólogo, mas sim um dos
recursos que o profissional lança mão quando precisa realizar uma avaliação
(LAGO et al., 2009).
Gonzaga et al. (2007, p.27) fornecem uma definição mais ampliada para a
psicologia jurídica. Segundo eles, a Psicologia Jurídica é uma área específica da
Psicologia que surge da inter-relação com o Direito, tanto no âmbito teórico
quanto no prático. Nesse encontro interdisciplinar, Souza (1998, p.6) afirma:
das partes em
litígio ou em
julgamento”
(ARANTES,
2004).
Institutos Psiquiátricos Atuação junto a doentes mentais que cometeram
Forenses algum delito.
Sistema penitenciário;
Varas de família;
Varas Cíveis;
Forças Armadas;
Ministério Público;
Chaui (1995) compreende a ética como “[...] filosofia moral, isto é, uma
reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais”
(p.339). Aqui deparamo-nos com outro ponto a ser compreendido: “a moral.
Segundo a mesma autora, moral consiste nos [...] valores concernentes ao bem e
ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos” (p.
339).
Art. 9º
– É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger,
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou
organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.
Art. 10
– Nas situações em que se configure conflito entre as exigências
decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios
fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o
psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na
busca do menor prejuízo.
Parágrafo único
– Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo
deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
Art. 11
– Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar
informações, considerando o previsto neste Código (CFP, 2005).
Em síntese: a citação mostra que, caso seja obrigado por lei a revelar
dados que tenha conhecimento em decorrência de sua atividade profissional, o
psicólogo precisará quebrar o sigilo para não arcar com consequências judiciais,
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Assim, até aqui foi possível observar que um dos pontos cruciais que
regem o trabalho do psicólogo é o sigilo profissional e, mesmo em ambientes
jurídicos, o assistido goza desse direito, salvo nas exceções elucidadas, nas quais
o psicólogo deve cuidar para expor o cliente da menor forma possível para os
demais profissionais envolvidos. Deve-se ressaltar que a exposição indevida pode
causar danos morais ao indivíduo ou deixá-lo ainda mais exposto a situações de
violência, ou seja, ocasionaria mais danos além daqueles aos quais o sujeito já
está exposto.
Art. 1º.
Em todas as práticas no sistema prisional, o psicólogo deverá respeitar e
promover:
a) os direitos humanos dos sujeitos em privação de liberdade, atuando
em âmbito institucional e interdisciplinar;
b) processos de construção da cidadania, em contraposição à cultura
de primazia da segurança, de vingança social e de disciplinarização
do indivíduo;
c) desconstrução do conceito de que o crime está relacionado
unicamente à patologia ou à história individual, enfatizando os
dispositivos sociais que promovem o processo de criminalização;
d) a construção de estratégias que visem ao fortalecimento dos laços
sociais e uma participação maior dos sujeitos por meio de projetos
interdisciplinares que tenham por objetivo o resgate da cidadania e a
inserção na sociedade extramuros (CFP, 2010b).
REFERÊNCIAS
BRITO, Leila Maria Torraca de. Anotações sobre a Psicologia jurídica. Psicol.
cienc. prof. [online], v.32, n.spe, p. 194-205, 2012.
MEDEIROS, Giane Amanda. Por uma ética na saúde: algumas reflexões sobre a
ética e o ser ético na atuação do psicólogo. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 22, n.
1, p. 30-37, Mar. 2002 .
HIV com lesão ventro-mesial. Psic. Rev. São Paulo, v. 15, n.2, p 197-210,
novembro 2006
STERNBERG, Robert. Psicologia Cognitiva. 5. ed. São Paulo: Cenage Learning, 2010.