Garantia Pecas PDF
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Tudo o que
precisa de saber
sobre garantias
A questão das garantias continua a levantar muitas dúvidas e interpretações nem sempre consensuais.
Pedimos ajuda ao ao Centro de Arbitragem do Setor Automóvel (CASA) que explica, de acordo com a lei
mas numa linguagem prática, o que precisa de saber sobre esta questão, que tem influência diária no seu
negócio. Guarde e partilhe com os seus parceiros de negócio.
{ TEXTO CLÁUDIO DELICADO }
A
s perguntas aqui respondidas fo- -se de qualquer modo de um bem de consumo, com vista ao lucro.
ram apresentadas pela Revista Pós- sem encargos adicionais para o consumidor, Se não se verificarem estas duas condições, em
Venda e resultam de um trabalho de no caso do bem não corresponder às condi- simultâneo, não se aplica a Lei das Garantias
pesquisa elaborado pela Revista, que ções enumeradas na declaração de garantia (exs: empresa de venda ambulante que faz
procurou reunir as questões mais importan- ou na respectiva publicidade. uma reparação numa oficina, com aplicação
tes para todos os intervenientes da cadeia B) Se a peça vai ser utilizada/aplicada no veí- de peças; taxista que compra a peça a uma
produção/distribuição/venda de peças, so- culo de uma empresa, aplicam-se as regras empresa, porque vai aplicá-la num veículo
licitando ao Centro de Arbitragem do Setor do Código Civil (CC) referentes ao contrato que utiliza na sua actividade profissional de
Automóvel (CASA) informação jurídica e res- de compra e venda (artºs 874º e seguintes do transporte de passageiros).
posta às mesmas. CC) e à venda de coisas defeituosas (artºs 913º
CC e seguintes). Qual é o prazo de garantia nestes dois casos?
1. Qual é o prazo de garantia na venda de pe- 1. Se o utilizador final da peça é um consu-
ças? Até quanto tempo após a compra é pos- O que entende a Lei por consumidor? midor: o prazo de garantia são 2 anos. Se as
sível apresentar uma reclamação? Consumidor é a pessoa a quem sejam forneci- peças vendidas forem usadas, o prazo pode
O prazo de garantia na venda de peças, bem dos bens, prestados serviços ou transmitidos ser reduzido para 1 ano, se houver acordo das
como o prazo para reclamar, depende de saber quaisquer direitos, destinados a uso não pro- partes (artº 5º n.º 2 LG).
quem é o utilizador final da peça: é consumi- fissional, por pessoa que exerça com carácter 2. Se o comprador/utilizador final da peça é
dor ou não? A legislação aplicável nas relações profissional uma actividade económica que uma empresa ou se destina o veículo a uso
com consumidores é diferente da que se apli- vise a obtenção de benefícios. profissional (exs: supermercado, taxista, par-
ca nas vendas a empresas ou profissionais: Ou seja, para se aplicar a Lei das Garantias ticular que utiliza um carro registado em nome
A) Se o utilizador final da peça for um consu- (LG) é necessário que: de uma empresa): o prazo de garantia é de 6
midor, ou seja, se a peça for aplicada no veícu- > o comprador da peça ou o carro onde a peça meses, a não ser que as partes tenham acor-
lo de um consumidor, aplica-se o D.L. 67/2003 vai ser aplicada seja de uma pessoa que uti- dado um prazo mais favorável, ou que os usos
de 8 de Abril, alterado pelo D.L. 84/2008, de 21 liza o veículo para a sua vida privada/fami- estabeleçam prazo maior (artº 921º CC).
de Maio, a chamada Lei das Garantias (LG). liar( e não na actividade profissional), e que Pode suceder que a empresa vendedora, ou
Para esta Lei, a «garantia» é o compromisso > o vendedor, ou a empresa que faz a repara- o fabricante do motor, ou de qualquer outra
ou declaração assumida pelo vendedor ou pelo ção no âmbito da qual é aplicada a peça, seja peça, dê um prazo de garantia maior. Mas, nes-
produtor, perante o consumidor, de reembolsar uma empresa (empresário em nome individual se caso, não estamos a falar de uma garantia
o preço pago, substituir, reparar ou ocupar- ou sociedade), no exercício da sua actividade, legal, que é obrigatória, mas de uma garantia
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Prazos de Garantia
APLICADAS em veículos de CONSUMIDORES
>Compradas pelo consumidor no aftermarket
>Compradas por oficinas
1 denúncia
ANO
Por acordo
das partes
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VISÃO GARANTIAS
voluntária, que a empresa dá a quem compra O ponto fundamental os interesses do consumidor final. A garantia
as suas peças. Esta situação ocorre com fre-
quência no sector automóvel. Como sabemos, para definir os prazos é dada ao consumidor final, e não à oficina.
Já no caso das peças compradas pela oficina se
há veículos que são comercializados com a e direitos da garantia destinarem a ser aplicadas no veículo de uma
garantia legal de 2 anos e outros em que o empresa ou de alguém que destina o veícu-
fabricante dá garantias de 3, 5 ou mais anos. é saber quem é o lo a uso profissional, o prazo de garantia será
Estas são garantias voluntárias.
As garantias voluntárias valem nos termos
utilizador da peça: de 6 meses, excepto acordo das partes noutro
sentido, ou caso dos usos determinarem prazo
em que foram contratadas, ou seja, segun- consumidor final ou diferente. Pode também existir uma garantia
do aquilo que estiver expressamente indi-
cado nas suas cláusulas, manuais ou livros, profissional voluntária do fabricante com um prazo maior.
incluindo as exclusões que possam vir neles 4. Há diferenças nos prazos de garantia para
indicadas, desde que não limitem os direitos peças elétricas/eletrónicas e outras?
dos consumidores que decorrem da lei e os Não existe qualquer diferença de prazo, ou de
direitos que não podem ser reduzidos ou li- regime legal, baseado no tipo de peça que se
mitados por força da Lei. compra. A Lei das Garantias só faz distinção
NIPC da empresa. Se uma pessoa ou empresa entre bens imóveis (casas, apartamentos,
E qual é o prazo para reclamar em garantia, indica uma identificação que não lhe perten- terrenos) ou bens móveis (todos os outros).
nestes dois casos? ce, a situação poderá ter várias implicações a Relativamente aos bens móveis, todos têm
1. Se o utilizador final da peça é um consumi- nível legal, fiscal e até criminal. o mesmo prazo de garantia: um carro, uma
dor: o prazo para reclamar é até 2 anos após a Se existir uma divergência entre quem está embraiagem, o óleo, umas pastilhas de tra-
compra, ou 1 ano, se a peça for usada e o pra- identificado na factura como comprador e a vão, um motor.
zo de garantia tiver sido reduzido por acordo quem efetivamente se destina a peça, e ocor- A garantia é o certificado de que a peça ven-
das partes. rer um litígio sobre o prazo de garantia, ca- dida tem as qualidades e permite o desem-
Mas a reclamação tem que ser feita pelo con- berá ao Tribunal definir que consequências penho e as utilizações habitualmente dadas
sumidor, à empresa que vendeu a peça ou à legais advêm da situação, para a relação de aos bens do mesmo tipo e está em conformi-
oficina que fez o serviço de colocação da mes- compra e venda que se estabeleceu nessas dade com o que pode ser esperado com base
ma, até 2 meses após tomar conhecimento que condições, nomeadamente, se se aplica ou no contrato e nas informações e declarações
o defeito existe. Se o consumidor não fizer a não a Lei das Garantias. públicas referentes ao bem, nomeadamente,
denúncia neste prazo, perde todos os direitos Para que a empresa que vende a peça saiba a na rotulagem, manuais de utilização e publi-
previstos na Lei das Garantias para essa si- quem se destina a peça vendida, em termos de cidade feita à peça, que têm que ser verda-
tuação em concreto (artº 5º-A, nº 1 e 2 da LG). utilização final, poderá solicitar ao comprador deiras, sob pena do produto ser considerado
2. Se o comprador/utilizador final da peça é que indique o veículo ao qual a peça se desti- não conforme com o contrato. Isto pode ser
uma empresa ou se destina o veículo a uso na. Esse registo facilita a prova da garantia a assegurado relativamente a todas as peças,
profissional: pode reclamar no prazo de 6 me- dar, caso exista algum conflito: 2 anos (se for seja uma peça de grande durabilidade e não
ses após a compra da peça. para uso particular) ou 6 meses (se for para sujeita a qualquer acção de manutenção, seja
Neste caso, a denúncia dos defeitos deve ser uso profissional). uma peça que precisa de manutenção ou ain-
feita no prazo de 30 dias após o conhecimento da, uma peça que se gasta pelo uso, como a
do defeito (artºs 916º e 921º, nºs 2 e 3 CC). 3. Se as peças forem compradas por uma ofi- embraiagem, o óleo ou as pastilhas de travão.
cina a um retalhista, para serem colocadas No sector automóvel existem peças que estão
E se o vendedor ou a oficina não responderem no veículo de um consumidor, existe alguma sujeitas a manutenção, ou seja, precisam de
favoravelmente ao comprador? diferença no prazo de garantia? verificação e/ou intervenção quando neces-
1. Se for um consumidor: tem 2 anos, a contar A garantia como conjunto de direitos e deveres sário para manter a durabilidade e funciona-
da data em que fez a denúncia, para exercer os que estão estabelecidos na chamada Lei das mento preconizados pelo fabricante, isso não
seus direitos, ou seja, pôr uma acção em tribu- Garantias para as situações em que o veículo significa que não tenham garantia. Para além
nal (arbitral ou judicial) (artº 5º-A, n.º 3 da LG). onde a peça vai ser aplicada é de um consu- disso, existem peças que habitualmente são
2. Se o comprador/utilizador final da peça for midor, é a mesma caso a peça seja comprada designadas por “peças de desgaste” ou “con-
uma empresa, deve exercer os seus direitos directamente pelo consumidor ao balcão de sumíveis”, quer isto dizer que se gastam pelo
em tribunal (arbitral ou judicial) no prazo de 6 peças do aftermarket independente, no bal- uso, mas também estas têm que ser vendidas
meses a contar da denúncia (artº 916º e 921º CC). cão de peças de um concessionário de marca, com garantia.
ou se fizer uma reparação numa oficina: tem Todas as peças têm que ser vendidas com as
2. E se o consumidor pedir factura em nome sempre 2 anos de garantia e, se for uma peça qualidades indicadas e têm que ter o desem-
e com o NIF de uma empresa? usada, poderá ter o prazo de garantia redu- penho e ser adequadas às utilizações habi-
A factura, em princípio, prova entre quem se zido para 1 ano. tuais dos bens do mesmo tipo e estarem con-
estabelece a compra e venda: identifica a em- Nos casos em que a peça é comprada por uma formes às descrições feitas pelo vendedor ou
presa que vende e a pessoa ou empresa que oficina, para ser aplicada no veículo de um con- pelo fabricante pois, se não forem, têm que ser
compra. Se o comprador for um consumidor, sumidor, não há qualquer alteração no prazo reparadas ou substituídas, ou podem levar à
deve constar o seu nome e NIF, se o compra- de garantia, que continua a ser de 2 anos, por- resolução do contrato ou à redução do preço.
dor for uma empresa, deve constar o nome e que a garantia é conferida por lei para proteger Mas isto não significa que todas as peças te-
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GRÁFICO REFERENTE À PERGUNTA 6
Perante Perante
o vendedor o fabricante
nham que durar 2 anos no carro do cliente, tempo de garantia? ção ao consumidor.
podem até durar apenas 1 ano, ou menos, se A resposta a esta pergunta depende, antes de A má utilização ou a violação de um plano de
apresentarem as qualidades e o desempenho mais, de saber a que tipo de utilizador final é manutenção que seja necessário para asse-
habituais nos bens do mesmo tipo e essa for a vendida a peça. gurar a vida útil da bateria podem afastar a
durabilidade prevista de acordo com a utili- Sendo estas baterias essencialmente desti- garantia.
zação habitualmente dada aos bens do mes- nadas a ser aplicadas em veículos pesados,
mo tipo. O que não pode acontecer é que, por industriais e tractores, é necessário esclare- 6. Que direitos tem o consumidor que compra
falta de qualidade, desempenho ou inade- cer, se o proprietário do veículo que a adquire uma peça defeituosa?
quação para a utilização habitual, ou por in- destina o veículo ao seu uso privado ou a uma Para repor a conformidade da peça, o con-
formações erradas, as desconformidades se actividade profissional. sumidor tem, perante o vendedor, 4 direitos:
manifestem num prazo de 2 anos após a sua Se a pessoa que tem uma máquina industrial reparação da peça, substituição da peça, re-
compra e utilização. ou um tractor agrícola, a utiliza num terreno, dução do preço ou resolução do contrato (artº
Por exemplo, se o óleo não tiver a viscosida- em que pratica agricultura exclusivamen- 4º, nº 1 da LG).
de preconizada pelo fabricante para aquele te para consumo próprio e da sua família, e Relativamente ao fabricante, o consumidor
tipo de óleo, poderá pôr em causa o processo compra esta bateria, nessa circunstância, tem direito à reparação da peça ou à sua subs-
de lubrificação do motor e então não estará esta pessoa é um consumidor e esta bate- tituição (artº 6º, nº 1 da LG).
em conformidade com o contrato e deve ser ria terá 2 anos de garantia, nos termos da Lei O consumidor tem ainda direito, relativa-
substituído. As pastilhas de travão, se não das Garantias. mente aos dois – vendedor e fabricante – à
tiverem as características e especificações Mas se a bateria for comprada por uma indemnização de danos que tenha sofrido e
indicadas pelo fabricante, poderão levar ao Sociedade Agrícola, que pratica agricultura que possa comprovar.
empenamento dos discos de travão e não para vender produtos agrícolas, a garantia é
permitir a eficácia de travagem assegurada a que decorre das regras do Código Civil e será 7. E se a peça defeituosa for comprada por
pelo fabricante e, nesse caso, também não de 6 meses (artºs 916º e 921º CC). uma empresa?
estão em conformidade e devem ser subs- Se as baterias estiverem sujeitas a manuten- A empresa tem direito à reparação ou à subs-
tituídas em garantia. Isto não significa que o ção para assegurar o funcionamento previs- tituição da peça, relativamente ao vendedor
óleo e as pastilhas de travão tenham sempre to pelo fabricante, essa informação deve ser (artºs 914º e 921º, nº 1 CC).
que durar 2 anos. transmitida ao comprador, nomeadamente no Neste caso, a empresa não tem estes direitos
Outro exemplo de um bem que tem ciclos de manual de utilização ou no contrato, e então contra o fabricante. No entanto, actualmente
vida definidos, que podem não se prolongar até será obrigatório ao utilizador cumprir o pla- verifica-se, quase generalizadamente, que os
dois anos, mas que assegura 2 anos de garan- no de manutenção. fabricantes dão 2 anos de garantia nos bens
tia, são as lâmpadas de leds, que vulgarmente Por outro lado, se a bateria tiver as qualidades que produzem (a chamada garantia contra-
utilizamos nas nossas casas. Já nas situações e o desempenho habitual dos bens do mesmo tual de que falámos na resposta à pergunta 1),
em que a peça se gaste permaturamente por tipo, mas o seu ciclo de vida depender da uti- também na venda a empresas. Se assim for, a
causa de uma má utilização, não será pos- lização da mesma, e for previsível que possa empresa pode reclamar do fabricante no âm-
sível exercer direitos ao abrigo da garantia. durar menos de dois anos, não existe qual- bito da garantia contratual.
quer desconformidade, desde que tenham
5. As baterias de mais de 100Ah têm menos sido cumpridos todos os deveres de informa- 8. Qual o prazo que o vendedor tem para fa-
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VISÃO GARANTIAS
Reparação Substituição
Indemnização
da peça de peça
zer a reparação ou substituição da peça, se o contra o fabricante a não ser que lhe tenha uma garantia de 2 anos. As empresas de pe-
comprador for um consumidor, uma empre- adquirido directamente a peça, caso em que ças do aftermarket independente assumem
sa ou um taxista? aquele assumirá o papel de vendedor apli- aqui a posição de “retalhista”, referida no artº
Se o utilizador final da peça for um consumi- cando-se assim as normas do Código Civil 1º-B, e), 2ª parte da Lei das Garantias, ou seja,
dor, a empresa tem 30 dias, a contar da data (artº 916 e 921ºCC), ou nos casos em que o fa- são “vendedores independentes que actuam
da reclamação e entrega da peça, para fazer bricante tenha dado uma garantia contratual. apenas na qualidade de retalhistas”, por isso
a reparação ou a substituição da mesma (artº Em qualquer dos casos, não existe um prazo não respondem perante o consumidor;
4º, nº 2 da LG). previsto na lei, pelo que se aplica o que disse- » Se a peça for comprada por uma oficina,
A violação deste prazo pode levar à instaura- mos na resposta à pergunta anterior. num balcão de peças de um concessionário
ção de um processo de contra-ordenação pela de marca, para ser aplicada no veículo de um
ASAE, condenando a empresa ao pagamento 10. Que responsabilidade tem a empresa que consumidor, o consumidor pode reclamar
de coimas de € 250 a € 2.500, se o vendedor vende as peças? directamente contra a oficina, contra o con-
for uma pessoa singular e de € 500 a € 5.000, A responsabilidade de cada um dos operado- cessionário que vendeu a peça e contra o fa-
se o vendedor for pessoa colectiva (artº 12º- res económicos – balcão do aftermarket in- bricante da peça, e todos estão obrigados a as-
A, nº 1 a) da LG). dependente, balcão de peças de um conces- segurar uma garantia de 2 anos. Neste caso, o
A empresa pode ainda ser condenada às se- sionário de marca, ou oficina, são diferentes: concessionário que vende peças assume pe-
guintes sanções acessórias: » Se a peça for comprada por um consumidor rante o consumidor a posição de “represen-
a) Encerramento temporário das instalações numa empresa de peças – seja do aftermar- tante do produtor”, referida no artº 1º-B, e), 1ª
ou estabelecimentos; ket independente, seja de um concessioná- parte da Lei das Garantias, é uma pessoa “que
b) Interdição do exercício da actividade; rio de marca – o consumidor pode reclamar actua na qualidade de distribuidor comercial
c) Privação do direito a subsídio ou benefício directamente contra a empresa de venda de do produtor e ou centro autorizado de servi-
outorgado por entidade ou serviço público. peças (independente ou de marca) e contra o ço após-venda” e, por isso, é responsável nos
(artº 12º-B, nº 1 da LG). fabricante, e todos respondem perante o con- termos do nº 3 do artº 6º da Lei das Garantias.
Se o utilizador final da peça for uma empresa sumidor, por uma garantia de 2 anos; » Se a peça for comprada por uma oficina,
ou um profissional (taxista ou outro profis- » Se a peça for comprada por uma oficina, num num balcão de peças de um concessionário de
sional que utilize o veículo na sua actividade balcão de peças do aftermarket independente, marca ou no aftermarket independente, para
profissional), o Código Civil não estabelece para ser aplicada no veículo de um consumi- ser aplicada no veículo de uma empresa, es-
nenhum prazo para a empresa vendedora fa- dor, o consumidor só pode reclamar directa- tes só podem reclamar directamente contra a
zer a reposição da conformidade. Nesse caso, mente contra a oficina e contra o fabricante oficina, não podendo exigir responsabilidade
a empresa deverá estabelecer um prazo para da peça, e ambos estão obrigados a assegurar à empresa de venda de peças e a peça tem a
ser feita a reparação ou a substituição, sem o garantia de 6 meses, excepto se outro prazo
que, não poderá ser indemnizada pelos even- mais favorável tiver sido estipulado através
tuais prejuízo que a situação lhe possa causar. de uma garantia contratual.
9. E o fabricante: qual o tempo máximo que tem A garantia nas peças 11. Existe alguma forma do vendedor se des-
para dar resposta a um pedido de garantia?
Se a peça foi adquirida por um consumidor, o
usadas é de dois anos e responsabilizar?
Nas vendas a consumidores, o vendedor é
fabricante tem os mesmos 30 dias que o ven- só com o acordo entre sempre responsável, ainda que desconheça
dedor para responder, contados a partir da a existência do defeito, e para afastar a sua
denúncia feita pelo consumidor. as duas partes pode responsabilidade, terá que provar uma des-
Se a peça foi adquirida por uma empresa o fa-
bricante não está vinculado a qualquer prazo
passar para um ano tas situações:
» que o consumidor, no momento em que foi
de resposta, até porque a lei não prevê a pos- celebrado o contrato, tinha conhecimento do
sibilidade de uma empresa exercer direitos defeito ou não podia ignorá-lo,
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» que a peça foi mal instalada, que pode fazer para responsabilizar a empre- pelo exercício daqueles direitos.”
» que foi feita uma utilização anormal ou uso sa que lhe vendeu a peça? Para isso, “O profissional pode exercer o di-
indevido da peça. Se a oficina satisfizer os direitos do consumi- reito de regresso na própria acção interposta
Na venda a profissionais (empresas, taxis- dor, ou for condenada em tribunal a fazê-lo, pelo consumidor” (artº 8º, nº 1).
tas), é necessário distinguir duas situações: pode exigir a responsabilidade da empresa a
» relativamente à garantia de bom funcio- quem comprou a peça, através de uma acção Existe algum prazo para o fazer?
namento: o vendedor também responde in- em tribunal, aproveitando a própria acção Para exercer estes direitos, a oficina que ad-
dependentemente de culpa sua ou de erro do apresentada pelo consumidor ou apresen- quire a peça tem que respeitar dois prazos, para
comprador (artº 912º, nº 1 CC), tando uma acção autónoma, para exercício apresentação da acção em tribunal:
» mas se a empresa invocar que a peça está do seu direito de regresso. » deve fazê-lo até 2 meses após a data em que
defeituosa, o vendedor pode afastar a sua res- É o que está previsto no artº 7º da Lei das satisfez o direito ao consumidor,
ponsabilidade se demonstrar que desconhe- Garantias: quem “tenha satisfeito ao consu- » até 5 anos após a compra da peça
cia, sem culpa, o vício ou a falta de qualidade midor um dos direitos previstos no artigo 4.º
da peça vendida (artºs 913º e 914º CC). bem como a pessoa contra quem foi exercido 13. E o retalhista, tem algum direito peran-
o direito de regresso gozam de direito de re- te o distribuidor? E o distribuidor perante o
12. A oficina que responda perante o consu- gresso contra o profissional a quem adquiri- fabricante?
midor pela garantia de uma peça aplicada o ram a coisa, por todos os prejuízos causados O retalhista que vendeu a peça à oficina, tem
Compradas em Compradas em
retalhista independente concessionários Fabricante Oficina
(pela oficina) de marca (pela oficina)
Não
Reparação Substituição
tem Indemnização
da peça de peça
direitos
Reparação Substituição
Indemnização
da peça da peça
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VISÃO GARANTIAS
Consumidor
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ANOS ANOS
Retalhista Fabricante
direito de regresso contra o distribuidor. E o que impliquem custos de mão-de-obra, es- a) o defeito resultar exclusivamente de de-
distribuidor, por sua vez, tem direito de re- ses custos não lhe podem ser exigidos, por clarações do vendedor sobre a peça e sua
gresso perante o fabricante. Para receberem isso, terão que ser suportados pelo vendedor utilização;
aquilo que tiveram que pagar à oficina, ou ao ou pelo fabricante. b) o defeito resultar exclusivamente de má
retalhista, respectivamente, terão que inter- Também não podem ser exigidos ao consu- utilização;
por acção em tribunal, nos mesmos termos midor, custos de transporte da peça ou de ou- c) não tenha colocado a peça em circulação;
expostos na resposta anterior, para a oficina. tros materiais que seja necessário substituir d) se possa considerar que, tendo em conta as
por causa do defeito da peça. circunstâncias, o defeito não existia no mo-
14. O fabricante/fornecedor é obrigado a pa- Por outro lado, se o consumidor tiver outros mento em que colocou a peça em circulação;
gar custos de mão de obra caso os mesmos danos por causa do defeito da peça, por exem- e) não tenha fabricado a peça nem para venda
existam? plo, se o veículo ficar parado e o consumidor nem para qualquer outra forma de distribui-
Se o utilizador final for um consumidor, a Lei tiver que recorrer a outros meios de trans- ção com fins lucrativos, ou não a tenha fabri-
das Garantias determina que: porte para fazer as suas deslocações habi- cado ou distribuído no quadro da sua activi-
» “Em caso de falta de conformidade do bem tuais, de táxi, de combóio, de avião, ou atra- dade profissional;
com o contrato, o consumidor tem direito a que vés do aluguer de outro automóvel, todos os f) tenham decorrido mais de 10 anos sobre a
esta seja reposta sem encargos” (artº 4º, nº1) danos que tiver podem ser pedidos a título de colocação da peça em circulação.
» “A expressão «sem encargos», utilizada no indemnização.
n.º 1, reporta-se às despesas necessárias para Se o utilizador final da peça for uma empre- 16. Existe alguma diferença na garantia de
repor o bem em conformidade com o contra- sa, pode pedir uma indemnização dos danos peças que foram aplicadas no âmbito de uma
to, incluindo, designadamente, as despesas que tenha por ter feito aquele contrato. Mas, já reparação e peças que não foram aplicadas?
de transporte, de mão-de-obra e material” não terá direito à indemnização se o vendedor Não existe qualquer diferença. A garantia
(artº 4º, nº 3). desconhecia sem culpa a existência do defeito refere-se à peça e é indiferente a situação de
Portanto, o consumidor pode optar por uma (art.ºs 915º e 251º CC). ter sido aplicada ou não. Se, sem aplicação, é
das 4 opções previstas na lei para repor a con- possível ver que a peça tem um defeito, então
formidade: reparação, substituição, redução 15. Existe alguma situação em que o fabri- os direitos, ao abrigo da Lei das Garantias, ou
do preço ou resolução do contrato, sem qual- cante se possa opor ao exercício de direitos do Código Civil, são os mesmos.
quer custo para si. Se o consumidor optar pelo consumidor?
pela reparação ou pela substituição da peça O produtor pode opor-se ao exercício dos di- 17. E no caso do cliente pretender fazer uma
e para isso for necessário realizar tarefas reitos pelo consumidor quando: devolução de uma peça que não tem defeito,
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apenas porque já não tem interesse na mesma? Nas peças novas a tenha informado o consumidor que a devo-
Neste caso, é necessário responder previa-
mente a duas questões: garantia é de dois anos lução corre por conta dele.
2. Se a peça foi comprada por um consumidor,
1. Como foi comprada a peça: ao balcão, ou se forem aplicadas ao balcão: não existe, para a empresa vende-
on-line ou por telefone? dora, nenhuma obrigação legal de receber a
2. Quem a comprou: um consumidor ou uma no veículo de um peça, por devolução.
empresa?
porque existe um regime legal próprio para
consumidor e de seis 3. Se a peça foi comprada por uma empresa ou
por alguém que destina o veículo a uso pro-
as vendas à distância, feitas a consumidores, meses num veículo de fissional (ex: taxista) ao balcão, on-line ou
que visa promover a transparência das práti-
cas comerciais e salvaguardar os interesses empresa por telefone: a empresa compradora não tem
qualquer direito a devolver a peça, nem a em-
dos consumidores. presa vendedora tem a obrigação de aceitar a
1. Se a peça foi comprada por um consumi- devolução da mesma.
dor on-line ou por telefone é considerado O que tem vindo a acontecer é que as empre-
um contrato celebrado à distância e rege-se sas adoptam práticas/políticas comerciais
pelo D.L. nº 24/2014 de 14 /2, alterado pela Lei (artº 3º, f) do D.L. nº 24/2014 de 14 /2, alterado de devoluções de peças ou outros bens, mas
47/2014 de 28/7. pela Lei 47/2014 de 28/7). estas não são obrigatórias. Se tiverem polí-
Contrato à distancia é “um contrato celebrado Neste caso, o consumidor tem direito de livre tica de devoluções, então deverão aceitar a
entre o consumidor e o fornecedor de bens ou resolução do contrato, no prazo de 14 dias a devolução da peça, nas condições previstas
o prestador de serviços sem presença física contar do dia em que adquira a posse física do na política de devoluções.
simultânea de ambos, e integrado num siste- bem. A empresa vendedora deve reembolsar
ma de venda ou prestação de serviços organi- o consumidor de todos os pagamentos rece- 18. Em caso da não aplicação da peça é legí-
zado para o comércio à distância mediante a bidos, incluindo os custos de entrega do bem. timo recusar a devolução pelo facto das em-
utilização exclusiva de uma ou mais técnicas Os custos de devolução correm por conta do balagens se encontrarem sujas/manipuladas
de comunicação à distância até à celebração consumidor, excepto se o vendedor se pron- ou eventualmente abertas?
do contrato, incluindo a própria celebração” tificar a suportar esses custos, ou caso não Se a peça tiver sido comprada por um con-
Consumidor
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ANOS
ANOS
Oficina Fabricante
independente
ou da marca
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VISÃO GARANTIAS
Nas vendas
à distância Nas vendas
(on-line, ao balcão
telefone)
sumidor, on-line, ou por telefone, existe uma Quando há uma das embalagens terem sido abertas.
longa lista de situações, previstas no artº 17º
do Decreto- Lei das vendas à distância em
venda de peças entre Para o caso de vendas a empresas, se o vende-
dor de peças tiver práticas/políticas comer-
que o consumidor não pode exercer o direi- empresas não há ciais de devoluções de peças, deve estabelecer
to de livre resolução do contrato e devolver o e divulgar junto dos clientes quais são as re-
bem. De todas as situações referidas, parece- qualquer direito legal à gras pelas quais se regem essas devoluções.
-nos que apenas se poderão aplicar à venda
de peças, as previstas nas alíneas c) e h), ou
devolução das peças, Nesses casos, a empresa pode estabelecer que
não aceita devoluções de bens em embalagens
seja, os casos de: salvo por acordo sujas/manipuladas ou abertas. O importante
» “c) Fornecimento de bens confecionados de
acordo com especificações do consumidor ou
comercial é que informe de modo claro quais as condi-
ções em que aceita as devoluções.
manifestamente personalizados”;
» “h) Fornecimento de gravações áudio ou
vídeo seladas ou de programas informáticos
selados, a que o consumidor tenha retirado
o selo de garantia de inviolabilidade após a
entrega” (pode ser o caso de DVD’s para GPS Se tem dúvidas ou alguma questão adicio-
dos automóveis). nal sobre garantias envie um email para
A lei não prevê a possibilidade de recusa de de- info@posvenda.pt ou passe por www.pos-
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