Do Oriente Ao Ocidente - Brasil
Do Oriente Ao Ocidente - Brasil
Do Oriente Ao Ocidente - Brasil
DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL
DE LUSITANISTAS
VOLUME IV
VOLUME IV
ESTUDOS DA AIL SOBRE O BRASIL
TÍTULO
De Oriente a Ocidente:
estudos da Associação Internacional de Lusitanistas
Volume IV – Estudos da AIL sobre o Brasil
COPYRIGHT
DESIGN
FBA
C A PA
Março 2019
ISBN
978-972-8827-95-3
As atividades da
A S S O C I A Ç Ã O I N T E R N A C I O N A L D E L U S I TA N I S TA S
CA SA M E N T O E TU TE LA DE LI BE R TOS
N O P ÓS-A BOLI Ç ÃO ( PALMAS - P R , BR AS I L , 1 8 8 8 - 1 9 0 0 ) 117
Daniele Weigert
É DIP O N O BR AS I L: R AÇ A, TR AG É DI A E A D ET UR PA Ç Ã O
DO N ATUR ALI S MO N ’O M ULAT O , DE AL UÍ S I O A ZEV ED O 137
David Bailey
M O M E N TOS DE G LOBALI Z AÇ ÃO DO TE AT R O
BRA SILE IRO : C AR LOS G OME S E BOAL 161
Erica Fontes
CO MU N I DADE S I N C OMU N S : G É N ES E E C R I S E
DO C OMU M N A C U LTU R A BR AS I L EI R A D O S ÉC . X X 173
Ettore Finazzi-Agrò
O P R OG R AMA N AC I ON AL BI BLI O T EC A N A ES C O L A
(P N B E ) E A F OR MAÇ ÃO DE LE I TO R ES N O B R A S I L :
UM E S TU DO DAS R E P R E S E N TAÇ Õ ES S O C I A I S
E M NAR R ATI VAS DO AC E RV O 201 3 243
Mirian Hisae Yaegashi Zappone
RE SI S TÊ N C I AS N A AMAZ ÔN I A – V I S Õ ES D A FL O R ES TA
N A D I TADU R A C I V I L- MI LI TAR BR A S I L EI R A 263
Pedro Mandagará
A O BR A F I C C I ON AL DE R U BE M F O N S EC A E O C I N EM A 277
Petar Dimitrov Petrov
P ON TOS F OR A DA C U RVA: O QU E R ES I S T E
N A L I TE R ATU R A BR AS I LE I R A C ONT EM PO R Â N EA 293
Regina Dalcastagnè
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1 Espinosa nos propõe uma terapia cognitiva dos afetos para atingir a
felicidade suprema (Tratado da Correção do Intelecto, parágrafos 1, 2, 16 e 18),
que se configura como um processo reflexivo sobre a causa primeira dos nossos
afetos, incitando-nos a percorrer o caminho imaginação (projeção/ilusão) Æ
razão (junção dos aspectos cognitivos e afetivos) Æ felicidade (libertação dos
afetos tristes) e, assim, conferir alegria estruturante à existência humana.
2 A citação EIII refere-se à parte III da Obra Ética, prop significa proposição
e esc significa escólio. Em todas as citações referentes a este texto E significará a
Obra Ética e o número subsequente o livro ou parte da Ética.
3 Nas proposições 43 e 44 da Ética IV, é apontada a necessidade de distinguir-
mos as qualidades das emoções e sentimentos, dada a existência de alegrias e
tristezas/medos bons e ruins. O medo bom seria que aquele promove um refrear
para que possamos refletir sobre a origem de determinado afeto e podermos pas-
sar à ação – no sentido espinosano do termo. O qual é muito diferente do medo
ruim, que causa paralisia permanente, padecimento, depressão, diminuição da
potência. A alegria má é aquela eufórica, explosiva, efêmera que, ao fi ndar, não
deixa nenhum contributo para compreendermos melhor, sendo esta distinta da
alegria constituinte da ordem da potência que nos permite compreender melhor
tanto a nós mesmos, como as coisas externas a nós/do mundo.
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A C A RTA-DE P OI M E N TO DE PAT R ÍCI A
GA LVÃO: PODE R DA E SCR I TA,
NA R R AÇ ÃO DE SI E DE SCON S T RUÇ ÃO
DE I M AGE N S M I TOLÓGIC A S
Alessia Di Eugenio
Università di Bologna
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Meu Geraldo,
Seria melhor que tudo fosse deglutido e jogado fora. [...] Talvez
não valesse a pena a gente passear retrospectivamente. Sempre
sua forma dentro de uma narração, de um sentido definido, a escrita que quer ir
até ‘os limites do corpo’, na proximidade das zonas mais escondidas da consciên-
cia, baseia-se em fragmentos, estilhaços de pensamentos, emoções, que apare-
cem exatamente quando se cria uma dispersão de sentido. […] Não prevê técnicas
nem códigos particulares. Ao mesmo tempo, pode se dizer que atravessa os ‘gêne-
ros’, produzindo deslocamentos, modificações da linguagem, novas constelações
de sentido. […] Além disso, devolver à história, à cultura, à política, paixões e
acontecimentos considerados estranhos a elas – o ‘outro’, o impolítico, o não-his-
tórico etc. – pode ser uma maneira de entrar numa relação inédita com a socie-
dade em que vivemos, induzir sentido de responsabilidade e desejo de mudança.
O resultado é, portanto, duplo: na história pessoal e nas relações sociais”.
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E continua:
Há muitos dias não escrevo. [...] Tenho hesitado. Para que escre-
ver? Para que tudo isso? Penso em desistir. Talvez não termine
nunca. Essa pergunta-resposta para todas as perguntas e todas
as respostas: “Para quê? Para quê?”. Aliás, eu nem sempre pode-
ria escrever. Tudo, sem esse intervalo, sairia certamente mais
confuso e incompreensível. É tão difícil retroceder quando isso
significa uma passagem violenta de um estado para outro. Passar
de novo pelo mesmo caminho de trevas percorrido... Pensei em
estabelecer uma ordem cronológica para facilitar a expressão.
Ainda assim é difícil. Nem sempre posso localizar o fato dentro
do tempo. (Galvão, 2005, p. 64)
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força. Onde irei empregar esta força? É preciso dar esta força”
(Galvão, 2005, p. 77). E essa força tem uma componente
sacrificial que, no entanto, não é classificável num sentido
exclusivamente negativo e demolidor. Nos poucos trechos em
que ela fala da sua experiência na prisão, não se atém ao coti-
diano de presa política mas escreve:
Não vou relatar aqui os sofrimentos por que se passa numa pri-
são de mulheres. Faria uma má descrição e os sofrimentos físicos
só foram sentidos na hora. A gente se esquece deles. Eu, princi-
palmente. A prisão não tinha importância para mim, a não ser
no que se referia à paralisação do trabalho começado. Sempre
pensei que na cadeia também se podia lutar. Atormentava-me a
falta de comunicação, a ausência de notícias de companheiros.
Não sentia nenhuma humilhação. E, no fundo, talvez sentisse
alegria com o sofrimento que era proporcionado por minha luta.
(Galvão, 2005, p. 90-91)
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5 David Jackson escreve que “A sua vasta produção foi reunida, num projeto
que demorou de 1990 a 2010, a partir da organização e análise de inúmeros
arquivos e da colaboração de vários assistentes” (2011, p. 33), mas esta pesquisa
ainda aguarda publicação em livro.
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SOBR E FLOR E S, FOGO E LUZ: SE XUA LIDA DE ,
A LT E R I DA DE E R E SI ST Ê NCI A E M CL A R ICE
L I SPEC TOR , C A IO F E R NA N DO A BR EU
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Aposta-se na força das coisas que foram sendo deixadas para trás,
não na expectativa nostálgica de recuperá-las tal qual foram,
mas na perspectiva ousada de com elas criar uma atualidade
inacabada e aberta. No horizonte dessas novas constelações
entretempos, produzir zonas de contato com o que é considerado
já morto torna-se uma maneira de alargar o alcance da vida para
incluir, também, aquilo que é jogado para fora de sua circunscri-
ção. (Bines, 2015, p. 231)
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7 Não foi tratado aqui, mas em “Sargento Garcia”, Isadora, cujo canto invade
o espaço em que o sargento e Hermes fazem sexo, e que é uma personagem
transgênero.
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E SPAÇO PÚ BL ICO E COM PA RT I L H A M E N TO
– A RUA COMO E N T R E M E IO DA CU LT U R A
U R BA NA E M R E PR E SE N TAÇÕE S DE JORGE
A M A D O E DE C A E TA NO V E L O SO
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B IB L IO G R A F I A
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F ICÇ ÃO E M ON DA S CU RTA S:
OS R A DIODR A M A S I N É DI TOS
DE A N TÔN IO C A L L A DO NA BBC
(1943 -1947 ) 1
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2 Esse material inédito foi editado por mim e encontra-se no prelo. Será
publicado em forma de livro pela Editora Autêntica, Belo Horizonte, Brasil.
Ainda sem data prevista de lançamento.
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Um bom exemplo do tipo de radiodrama que Callado produzia
para a BBC é Correio Brasiliense, transmitido pelo Serviço Latino
Americano em 2 de setembro de 1943. O título faz referência
ao que é considerado um dos primeiros jornais a circularem no
Brasil, publicado em Londres de 1808 a 1822 pelo jornalista
Hipólito da Costa, e enviado para o Brasil por navio para ser dis-
tribuído clandestinamente. O tom liberal e as críticas contra a
monarquia portuguesa eram as razões para o jornal ser editado
em Londres, como forma de escapar da censura portuguesa
no Brasil. O jornal teve um papel histórico fundamental na
difusão de ideias liberais no Brasil e apoiou claramente movi-
mentos por elas inspirados, como a Revolução Pernambucana
de 1817 e as movimentações politicas que pavimentaram o
caminho para a Independência do Brasil em 1822.
O roteiro se inicia com um narrador em terceira pessoa
tecendo uma série de considerações sobre a importância da
difusão das ideias e seus reflexos nos fenômenos históricos,
usando como exemplo o caso da influência dos ideais das
Revoluções Francesa e Americana na Independência do Brasil.
Esse parece ser apenas o gancho para introduzir um elemento
essencial ao argumento do roteiro: as históricas relações entre
o Reino Unido e o Brasil. Callado se refere ao papel de figu-
ras como John Taylor e Lord Cochrane na Independência do
Brasil, já que a Inglaterra apoiava naquele momento as forças
brasileiras que se batiam contra as tropas portuguesas. Nesse
sentido, o narrador declara: “Há os ingleses que lutaram no
Brasil e os brasileiros que lutaram pela Independência do Brasil
na Inglaterra”, referindo-se à atuação de Hipólito da Costa.
A estrutura do roteiro consiste em um narrador que coor-
dena a ação através de diálogos que se desdobram em dois
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JE AN E MA R I E
Outro excelente exemplo é o caso de Jean e Marie, radiodrama
transmitido no dia 14 de julho de 1943, no aniversário da
Revolução Francesa. Os dois protagonistas que dão nome ao
roteiro são um casal vivendo em território francês sob ocu-
pação alemã. Já nas primeiras linhas do enredo, temos Jean
recitando um verso do poema de Verlaine “Il Pleure dans mon
coeur” (Verlaine, 1973), dando o tom da narrativa, marcada
pelas digressões poéticas de Jean e suas citações de Mallarmé
e Verlaine, em contraste com as súplicas de Marie para que o
poeta se junte à resistência contra a ocupação nazista.
Jean é descrito como um poeta que não deseja se envol-
ver com a política e que não se importa em interagir com
os nazistas que ocupam a cidade, ocasionalmente até mesmo
recebendo visitas de um capitão da SS em sua casa. Tal rela-
ção com Herr Schwartz leva seu vilarejo a acreditar que Jean
colabora com os nazistas. Suas elucubrações poéticas são
encaradas por Marie como mero escapismo, e a questão do
engajamento do artista é trazida à tona em inúmeras passa-
gens do texto. Marie não pode suportar a ideia de que seu
marido, se não é um colaborador de fato, comporta-se como
alguém cuja apatia trai a memória da revolução de 1789.
A tensão na narrativa cresce até o ponto em que os conci-
dadãos de Jean, com o apoio de Marie, o acusam de traição.
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C O N CL U S Ã O
Os roteiros inéditos escritos por Antônio Callado nos anos
1940 e encontrados recentemente têm potencial para lançar
uma luz nova sobre sua produção, sobretudo, levando em
consideração três aspectos: datação, temática e estilo. Em
primeiro lugar, a simples descoberta desses radiodramas dos
anos 1940 significa um choque com as cronologias oficiais,
que mostram a estreia de Callado na literatura como tendo se
dado apenas nos anos 1950, com a peça de teatro O Fígado de
Prometeu, de 1951, e o romance Assunção de Salviano, de 1954.
Isso se dá porque os biógrafos e estudiosos da obra de Callado,
até então, haviam se dedicado muito pouco ao trabalho de
investigação nos arquivos, produzindo análises que se basea-
vam apenas em seus romances publicados e em entrevistas.8
Além disso, um aspecto constantemente ignorado pela
fortuna crítica de Callado é o papel de seus anos na Inglaterra
para o desenvolvimento de sua temática. Uma análise prévia
dos radiodramas encontrados, sistematizada em outra publi-
cação, mostra que vários dos elementos temáticos que o autor
desenvolverá ao longo de sua obra já aparecem nos roteiros
dos anos 1940.9 Assim, analisando esses radiodramas em com-
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C A SA M E N TO E T U T E L A DE L I BE RTOS
NO P ÓS -A BOL IÇ ÃO ( PA L M A S -PR , BR A SI L ,
18 8 8 -19 0 0)
Daniele Weigert
Universidade de São Paulo
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JO AN A E S EU S F I L H OS T U T ELADO S
Joana Baptista de Paula casou-se em 1892 com o italiano
Miguel Arcangelo Spinelli. No registro de casamento do casal,
não há citação alguma de que Joana era uma ex-escrava, por
isso seu matrimônio, como tantos outros, não foi contabi-
lizado, por este trabalho, como sendo um matrimônio de
liberto no pós-abolição, devido à falta de referências claras a
isso. Uma pequena suspeita de seu passado escravo pode ser
levantada pelo fato de sua mãe ter sido identificada apenas
pelo primeiro nome (a finada Eva). Isso, contudo, poderia ter
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5 Sobre este tema, ver: PAPALI, Maria Aparecida. Escravos, Libertos e órfãos:
a construção da liberdade em Taubaté (1871-1895). São Paulo: Annablume, 2003.
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C O N S I DER A ÇÕES F I N A I S
A tutela só revela a face da liberdade aos ex-escravos e seus
filhos no pós-abolição. Aos menores era imposta uma condi-
ção de quase escravidão, haja vista que eles se tornavam mão
de obra barata, utilizada por seus tutores desde a tenra idade,
sob a alegação de que estavam ensinando aos menores uma
profissão, algo que lhes favoreceria no futuro. Entretanto, rara-
mente cumpriam sequer o compromisso de ensiná-los a ler e
a escrever, e quando seus menores tornavam-se problemáti-
cos, pediam desoneração do cargo de tutor, demonstrando o
total descaso com seus tutelados.
As mulheres tinham sua reputação colocada em xeque por
serem mães solteiras, passando pela degradante condição de
terem que entregar seus filhos, ou, se desejassem ficar próximas
a eles, deveriam se submeter a trabalhar para os tutores, tor-
nando-se reféns da maternidade e dos ecos da escravidão que,
mesmo depois da abolição, prendiam-nas aos seus senhores.
Os casos de filhos sendo retirados das mães solteiras deve ter
disseminado o temor nas mulheres que, por essa razão, possi-
velmente, pressionaram seus parceiros ou pretendentes a com
elas se casarem. As relações legítimas matrimoniais, àquela
época, não eram só uma preferência, mas uma necessidade.
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Fontes
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É DI P O NO BR A SI L: R AÇ A , T R AGÉ DI A
E A DE T U R PAÇ ÃO D O NAT U R A L I SMO
N’O M U L ATO, DE A LU Í SIO A Z EV E DO
David Bailey
University of Manchester
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3 Ver, por exemplo, Josué Montello, Aluísio Azevedo e a polêmica d’O Mulato
(Rio de Janeiro: José Olympia, 1975).
4 Dorothy Loos, The Naturalistic Novel of Brazil (Nova Iorque: Hispanic
Institute in the United States, 1963), pp. 148-9 (tradução nossa).
5 Ver, por exemplo, David Brookshaw, Race and Colour in Brazilian Literature
(Londres: The Scarecrow Press, 1986), pp. 37-53, e Elizabeth A. Marchant,
“Naturalism, Race, and Nationalism in Aluísio Azevedo’s O Mulato, Hispania,
Vol. 83, No. 2 (Setembro de 2000), pp. 445-453, para uma abordagem parecida da
questão do género. Iremos contemplar ambas estas vozes mais tarde.
6 Aluísio Azevedo, O Mulato (São Paulo: Klick Editora, 1999), pp. 79-80. As
referências de páginas, doravante, remetem a esta edição.
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7 António Cândido, “De Cortiço a Cortiço”, Novos Estudos, CEBRAP, n.º 30,
Julho de 1991, pp. 111-129 (p. 127).
8 António Carlos Santos, “O naturalismo sob o olhar modernista: Cândido e
a crítica a Aluísio Azevedo”, in Crítica Cultural (Palhoça, Santa Catarina), Vol. 6,
n.º 2 (julho-dezembro de 2011), pp. 557-563.
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quase dez anos depois, mas não é de todo impossível que Eça,
que acompanhava a literatura brasileira com interesse – pelo
menos quando escritores plagiavam a sua obra10 – tenha tirado
algumas influências d’O Mulato. As semelhanças entre os dois
livros são importantes para a presente análise, portanto ire-
mos resumir a história d’O Mulato de forma a que as saliente.
Mesmo excluindo a possibilidade de uma dívida literária por
parte de Eça, uma comparação entre os dois livros revela-se
iluminadora ao considerar os enfoques diferentes do natura-
lismo português e brasileiro. Antes de mais, convinha lembrar
que Os Maias conta a história de Carlos da Maia e o seu amor
por Maria Eduarda, irmã de quem é separado na infância com
a fuga da sua mãe. A mãe de Carlos, Maria Monforte, é des-
prezada pela família Maia por ser filha de um traficante de
escravos, estando a rejeição implicada na sua determinação
de fugir. Décadas depois, e após meses de amor perfeito entre
Carlos e Maria, a consanguinidade é finalmente descoberta,
embora apenas por acaso, num momento de revelação trágica
que destrói as promessas de mudança social e realização pes-
soal perseguidas na juventude.
O romance de Azevedo, por sua vez, começa com a che-
gada de Raimundo à cidade de São Luís, tal como Os Maias se
inicia com a chegada de Carlos de Maia a Lisboa. Raimundo
é formado, como Carlos, nas ideias mais modernas da época,
sendo aluno da Universidade de Coimbra, admirando a ciên-
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14 Marchant, p. 450.
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15 Ver Terêncio, Andria, com introdução por George Shipp (Bristol: Bristol
Classical Press, 1960).
16 Marchant, p. 448.
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23 Cândido, p. 115.
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C O NC L U S Õ ES
Por que será que Azevedo emprega o modelo naturalista
com tanta hesitação, recorrendo à tragédia e ao mito? Para
responder a esta pergunta, parece necessário repensar uma
afirmação que se encontra de forma consistente na crítica
d’O Mulato: que Raimundo constitui um personagem ideali-
zado, transcendendo os ditados das teorias essencialistas da
“degeneração”, e confirmando a política de branqueamento
realizada no Brasil nos finais do século XIX, que dava prefe-
rência à imigração europeia para branquear e assim “salvar” a
população brasileira.24 Podemos ver, nos trechos revestidos de
mitos mais acima, uma ruptura entre a linguagem fantasma-
górica do narrador e a atitude de Raimundo, que observa os
fenómenos à sua volta exclusivamente com o olhar “racional”
do positivismo. “Considerou de si para si que os sertanejos
tinham toda a razão nos seus medos legendários e crenças
fabulosas”, pensamento esse que serve para que Raimundo
se posicione intelectualmente acima dos maranhenses pro-
vincianos, sem acesso aos mais modernos modos, ou talvez
modas, de pensar. Raimundo, com efeito, rejeita todos os
costumes e superstições do Maranhão, o que observamos
também quando fica a bocejar, morrendo de tédio, ao ouvir
um amigo da família contar as celebrações típicas de São Luís
(pp. 89-95), ou ainda quando se ri de Maria Bárbara por falar
em pragas (p. 104). Raimundo, ao contrário do narrador, con-
sidera os mitos maranhenses pitorescos mas, afinal, vazios de
mérito intelectual. Por isso, o verdadeiro conflito de ideias
n’O Mulato não se realiza entre o narrador e os maranhenses,
24 Marchant, p. 448.
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25 MacNicoll, p. 239.
26 Veja Roberto Schwarz, ”As ideias fora do lugar”, em As ideias fora de
lugar: Ensaios selecionados (São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2014),
pp. 47-65.
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MOM E N TOS DE GL OBA L I Z AÇ ÃO
D O T E AT RO BR A SI L E I RO:
C A R L OS G OM E S E BOA L
Erica Fontes
Universidade Federal do Piauí
1 . IN T RO DU ÇÃ O
O presente artigo investiga momentos específicos da história
recente (transcorridos, mais especificamente, entre os séculos
XIX e XXI), quando o Brasil iniciou, através de dois artistas
com experiência profissional no exterior, uma tímida divul-
gação mundial de sua cultura teatral. Essa exportação cultural
se deu, em um primeiro momento no século XIX, através
da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes, baseada em texto
homônimo de José de Alencar. O espetáculo foi apresen-
tado inicialmente em Milão (Teatro alla Scala) e a partir dessa
primeira apresentação partiu para a Austrália. Mais recente-
mente, nos séculos XX e XXI, outro importante expoente
da divulgação do teatro brasileiro foi Augusto Boal, propa-
gador de sua própria metodologia teatral (principalmente o
Teatro do Oprimido) por intermédio de eventos, peças e tra-
balhos com grupos do mundo todo que começaram a seguir
seus ensinamentos prevendo, através do teatro, um exame e
consequente alteração da dinâmica de poder da sociedade.
Apesar de Boal ter iniciado seus estudos formais em teatro
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2 . C A R L O S G O M ES N O EX T ER IO R
Em sua dissertação de mestrado, Ricardo Pistori analisa A in-
fluência da literatura brasileira na ópera lírica italiana: Il Guarany,
de Antônio Carlos Gomes. O pesquisador examina a vida e
obra do maestro brasileiro que encenou a primeira obra tea-
tral brasileira no exterior.
Carlos Gomes nasceu em Campinas em 1836 em uma
família pobre, cujo pai – Antônio Carlos Gomes, conhecido
como Maneco Músico – educou sozinho os vários filhos e ini-
ciou com eles uma banda, início do contato de Carlos Gomes
com o mundo dessa arte. Carlos Gomes mudou-se para o Rio
entre 1859 e 1860 para investir na carreira musical, já que as
possibilidades profissionais da Corte eram muito superiores
às de uma cidade do interior de São Paulo. O teatro lírico
nesse momento possuía posição de destaque na vida cultural
da Corte, experimentada por Carlos Gomes quando chegou
ao Rio. No teatro exigiam-se certas posturas e comportamen-
tos que definiam quem pertencia ou não a determinada classe
social, e Carlos Gomes viu-se obrigado a ter um comporta-
mento elitizado para conseguir as oportunidades que queria.
Após anos de estudo no Conservatório Nacional de Música
e decorrentes as primeiras composições, destaques e pre-
miações, Gomes foi à Europa para perseguir seu sonho de
ser músico com visibilidade internacional. Formou-se pelo
Conservatório de Milão e passou a ser tido como o mais bem-
-sucedido compositor teatral do período, a partir da sua obra
“Se as minga”. Apesar de as obras dos autores italianos não
terem sido muito apresentadas, as de Gomes, ao contrário,
eram bastante requeridas. Il Guarany experimentou sucesso
estrondoso e o consagrou internacionalmente a partir da
Itália.
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3 . E XÍL IO E G L O B A L I Z A ÇÃ O
No curso Teatro e globalização, o professor Christopher Balme
defende que a globalização não foi iniciada após a Segunda
Guerra Mundial, mas que as inovações em tecnologia e indús-
tria fizeram com que os meios de transporte recebessem vários
avanços que possibilitassem um grande fluxo de pessoas.
Portanto, muito anteriormente à Segunda Grande Guerra já
havia pessoas em trânsito, saindo de seus países e estabelecen-
do-se em outros, o que Balme aponta respectivamente como
desterritorialização e reterritorialização, lembrando os pen-
samentos também registrados em seu livro Decolonizing the
Stage: Theatrical Syncretism and Post-Colonial Drama.
O estudo do desenraizamento humano e ruptura per-
manente é o foco do trabalho de vários estudiosos da
contemporaneidade. Um deles, Edward Said, em seu ensaio
“Reflexões sobre o exílio”, aponta diferenças entre exilados,
refugiados, expatriados e emigrados, mas reconhece que, ape-
sar de inicialmente a condição de exilado significar expulsão,
o exilado é de fato todo indivíduo impedido de retornar para
a terra que considera sua casa (2003, p. 54). Ainda nas pala-
vras de Said: “No fim das contas, o exílio não é uma questão
de escolha: nascemos nele, ou ele nos acontece” (2003, p. 57).
Para Said os exilados sempre são diferentes, se sentem órfãos
(2003, p. 55). E se ocupam em muitos momentos com a com-
pensação da perda das raízes (2003, p. 54). São seres nômades,
divagadores, em busca de algo que não sabem como encon-
trar. Outro estudioso do tema, Stuart Hall, afirma ainda que
o deslocamento geográfico, cultural e individual das pessoas
traz para elas uma “crise de identidade” (2014, p. 10).
De fato, muitas vezes o indivíduo não está ligado a uma
terra física, mas a uma terra imaginada, quase intocável, que
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4 . G L O B AL I Z A ÇÃ O N O T R A B A L H O DE BO AL
Assim como no trabalho de Gomes, a presença de Boal no exte-
rior favoreceu a divulgação da cultura brasileira. Em sua obra
O exílio de Augusto Boal: reflexões sobre um teatro sem fronteiras,
Clara de Andrade ocupa-se precisamente com as contribuições
do exílio para a vida profissional de Boal. O trabalho de Boal
teve alcance mundial tão grande que várias personalidades
internacionais do teatro se posicionaram contra sua prisão em
1971, através de carta redigida pelo dramaturgo Arthur Miller
e assinada por Richard Schechner e Peter Brook, entre outros
(Andrade, 2014, p. 22). É importante salientar também que a
experiência do exílio na vida de Boal foi essencial para a cons-
trução da cena teatral para além da cena tradicional, o que o
dramaturgo já defendia na teoria, questionando a estrutura
usual dos espetáculos. Ao experimentar outros espaços físicos,
entre eles a prisão, Boal pareceu mais motivado para alterar a
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E CR I SE DO COM U M NA CU LT U R A
BR A SI L E I R A D O SÉ C . X X
Ettore Finazzi-Agrò
Università di Roma – La Sapienza
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por Juscelino, tanto assim que tudo, nas duas crônicas, parece
conjugar-se numa espécie de futuro do passado: “Brasília
começou com uma simplificação final de ruínas” (1999,
p. 41). E antimoderno na sua impressionante modernidade
expressiva foi, com certeza, também Guimarães Rosa, outro
genial escritor que, sem falar de modo direto de Brasília,
nos forneceu, sobretudo nas Primeiras estórias, um quadro
bastante crítico daquela comunidade imune que nascia e se
firmava em volta da “grande cidade” em construção. No caso
dele, se conhecem as suas simpatias para um conservado-
rismo que resguardasse o caráter arcaico da cultura brasileira,
mas, para além do seu posicionamento ideológico, aquilo que
importa é, na ótica da origem e da crise da comunidade, o seu
tratamento da construção de uma coletividade dentro de uma
sociedade regida por normas primitivas.
Já abordei essa questão em diversos ensaios – e num
artigo recente, em particular (Finazzi-Agrò, 2014) –, mas é
bom lembrar mais uma vez como, no momento em que o
Brasil tentava se apoderar de um novo sentido de comuni-
dade, Guimarães Rosa coloca esse assunto numa perspectiva
remota, se referindo ao surgimento do comum no interior de
uma “história primeira”, de um contexto primário em que
vigora uma legalidade vingativa e rudimentar. De resto, que
o escritor mineiro tenha desde o início apresentado casos e
causos em que a única forma de convivência é marcada pela
violência e pelo sagrado (para retomar o título de um famoso
livro de René Girard), é evidente: basta pensar apenas em
“O duelo” e em “A hora e a vez de Augusto Matraga”, incluídos
em Sagarana. Essa reflexão sobre a passagem de uma sociedade
regida apenas pela força e pelo banimento para uma comu-
nidade regulamentada pela lei, se torna, porém, central, no
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E DUC AÇ ÃO A M BI E N TA L PA R A
OS R E CU R SOS H Í DR ICOS:
U M A E X PE R I Ê NCI A NA E SCOL A
DA COM U N I DA DE DO COM PL E XO
D O A L E M ÃO, R IO DE JA N E I RO
INT RO D UÇÃ O
O planeta Terra tem a sua superfície coberta por 75% de água.
Essa água é a principal fonte de sobrevivência dos seres que a
habitam. Há pouco tempo esse recurso passou a ser conside-
rado como bem limitado, o que aumentou a preocupação com
a sua escassez. Ferraro (2013) chama atenção para o problema
da atual crise da água e coloca a necessidade de se criar meca-
nismos que enfrentem o desafio da governança hídrica como
um dos principais conflitos da sociedade contemporânea.
A Agência Nacional de Águas (Ana, 2015) destaca que a
água doce, necessária para diversos usos, está em torno de 3%
do total de água do planeta. O dado é preocupante, pois mos-
tra o potencial avanço da escassez e também evidencia como
as ações da sociedade atual tem impactado negativamente na
qualidade deste bem natural.
Segundo dados da Agência Nacional de Águas, o Brasil
possui uma boa quantidade de água. Estima-se que o país pos-
sua cerca de 12% da disponibilidade de água doce do planeta.
Mas a distribuição natural desse recurso não é equilibrada.
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1 . E M B A S A M EN T O T EÓ R I CO
O modelo produtivo praticado pela sociedade, desde a cha-
mada Revolução Industrial se apresenta cada vez mais
insustentável e incapaz de resolver as verdadeiras necessida-
des humanas. Ele é ainda mais ineficiente quando se trata
da preservação dos bens ambientais, que servem para dar ao
homem as condições de sobrevivência e de continuar produ-
zindo a partir daquilo que ele retira da natureza.
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1.1. A E S C OLA E A E DU C AÇ ÃO A M B I EN TA L
Para Brandão (1981, p. 12), a educação não acontece somente
na escola, ela também “ocorre em redes e estruturas sociais
por meio de transferência de saber entre gerações”. Philippi Jr
e Silva Neto (2011) entendem que a busca por soluções para
as questões ambientais envolve a reunião de diversos saberes
e destaca o direito à informação como elemento crucial para
a busca de soluções.
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2 . M E T O DO L OG I A DE PES QU I S A
A pesquisa-ação é um tipo particular de pesquisa participante
e foi o método de pesquisa escolhido para este trabalho. Além
de ser uma metodologia participativa que aproxima a teoria
da prática durante o processo de investigação do fenômeno
(ENGEL, 2000), a pesquisa-ação se apresenta como uma
alternativa de resposta à ideia de implementação da teoria
educacional na prática da sala de aula e na busca de soluções
envolvendo alunos, escola e professores.
Ela é utilizada quando a resolução de problema ocorre
mediante ações definidas por pesquisadores e sujeitos envol-
vidos na ação (Vergara, 2008).
A metodologia de pesquisa utilizada contemplou pro-
cedimentos pedagógicos e estratégias de sensibilização,
mobilização, promoção da interdisciplinaridade e interativi-
dade entre os alunos. Para viabilizar essas estratégias foram
utilizadas técnicas e materiais pedagógicos, como jogos, dinâ-
micas, cinematecas, visitas técnicas, gincanas, oficinas de
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2.1. FA SE S DA P E S QU I S A
Com o objetivo de estruturar a aplicação das técnicas desen-
volvidas, controlar o cronograma e avaliar os resultados de
cada uma das fases, essa pesquisa foi organizada em quatro
fases: preparação, diagnóstico, ação e avaliação.
A fase de preparação teve o objetivo de reunir os compo-
nentes do projeto que compuseram a equipe de trabalho no
Colégio Estadual Professor José de Souza Marques, CEJSM,
levando-se em consideração a complexidade do tema Recursos
Hídricos e a construção do produto final, base de captação de
água da chuva. Para estabelecer os primeiros contatos com a
escola, foi necessário estabelecer reuniões com a Direção da
instituição e professores.
A segunda fase, diagnóstico, teve o objetivo de observar a
forma pela qual os alunos percebiam os problemas relaciona-
dos com a água em seu dia a dia. Para a coleta de dados foi elabo-
rado um questionário, denominado “Questionário Interativo”.
A terceira fase foi a da ação e teve três etapas: sensibiliza-
ção; formação e multiplicação.
Por fim, na quarta fase foram concentradas as medidas e
resultados sustentáveis da escola, onde foi apresentada a pro-
posta de construção da base de captação de água da chuva
que visa contribuir com o abastecimento da escola.
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3 . RE S U LTA DOS
Observou-se que todos os alunos da escola, e não apenas o
grupo que participou efetivamente do projeto, tiveram um
certo grau de envolvimento nas atividades propostas. O grupo
destacado para participação nas atividades teve uma variação,
em número, durante todo o processo, mas se manteve coeso
e interessado em todas as atividades. Algumas atividades
despertaram interesse não só dos alunos envolvidos, como
também tiveram a adesão de todas as turmas e turnos.
A fase final do projeto foi concentrada na implementação
das medidas sustentáveis que buscaram sanar os problemas
ambientais, como a falta de água, problema que comprometia
a dinâmica escolar, interferindo no calendário e na continui-
dade do projeto pedagógico.
Um exemplo de medida sustentável criada nessa fase foi
o projeto da base de captação de água da chuva. Foram fei-
tas medições, cálculos do controle e aferição dos volumes de
água receptados e reutilizados. Como instrumento didático
pedagógico a ser incorporado às estratégias de estudos sobre
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C O NS ID E R A ÇÕES F I N A I S
A educação ambiental precisa se preocupar com as questões
sociais, sob pena de ser um discurso vazio, que não atinge
aqueles que mais precisam dela, logo é imperioso discutir essas
questões, trazendo à baila a crise hídrica no Brasil e tendo
como fundamento encontrar meios para conscientização e
mudança de atitude da população no que tange à conserva-
ção e à preservação dos recursos hídricos como garantia da
qualidade de vida no planeta.
A educação ambiental se apresenta como pressuposto
para essa condição e ainda é apontada por estudiosos como
imprescindível para garantia da sustentabilidade dos recur-
sos hídricos, uma vez que leva ao questionamento sobre o
uso dos bens naturais, notadamente a água, no processo de
produção.
Durante todo o processo, foram observados o envolvi-
mento dos alunos com o tema, revelando que a Educação
Ambiental trabalhada nas escolas adquire força agregadora,
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M I LTON H ATOU M: R E DE SE N H A N DO
F RON T E I R A S E M U M A CI DA DE
E M T R A N SIÇ ÃO
Kátia Bezerra
University of Arizona
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M I LT O N H A T O U M : R E D E S E N H A N D O F R O N T E I R A S
M AN AU S : A PA R I S DA S S ELVA S ?
Como dito anteriormente, a Manaus que surge no romance
de Hatoum se materializa através da esfera do cotidiano de
uma família de imigrantes libaneses. Embora os imigrantes
sírio-libaneses não se classifiquem entre os maiores grupos de
imigração (português, italiano e espanhol), entre 1890 e 1914
cerca de 60 mil imigrantes chegaram ao Brasil e de 1920 até a
crise econômica dos anos 30 aproximadamente 42 mil sírio-
cidade (Dias, 2007, p. 51). Estima-se que, na década de 60, existiam quase 1.950
casas flutuantes com cerca de 11.400 habitantes (Souza, 2016, p. 125).
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BR A SI L E I R A CON T E M P OR Â N E A :
U M T E R R I TÓR IO QUA SE SE M PR E
CON T E S TA DO( R)
C O NS ID E R A ÇÕES I N I CI A I S
Em se tratando de vozes dissonantes em relação à matriz regu-
ladora do campo literário nacional, a literatura brasileira é um
território contestado, em que a busca pelo direito à expres-
são permeia os discursos de escritoras/es e críticas/os, os quais
acabam por fazer emergir “vozes autorizadas” e “vozes não
autorizadas”. Sendo assim, tendo em vista o lugar subalterno
que a mulher vinha ocupando na sociedade até que os femi-
nismos lhe pudessem garantir a igualdade de direitos em
relação ao sexo dominante, a literatura de autoria feminina,
igualmente e a priori, vinha sendo recebida no cenário das
Letras, dominado por parâmetros ditados pelas “altas litera-
turas”, como uma dessas vozes “não autorizadas”. Todavia, o
surgimento de novos aportes teóricos no campo dos estudos
literários, nas últimas décadas, impulsionou o “deslocamento
substancial da definição de literatura como arte para a noção
de literatura como produção estético-escritural, matéria sig-
nificante situada no domínio da cultura” (Schmidt, 2012), e,
com isso, as abordagens da literatura produzida por mulheres.
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P RIM EI R A PA R T E
A massa crítica resultante do crescente número de pesquisas
realizadas no âmbito dos estudos literários feministas – con-
figurado por meio de dissertações de mestrado e teses de
doutorado defendidas em múltiplas instituições de ensino
brasileiras, livros e artigos científicos publicados em cole-
tâneas e em revistas especializadas, dentre outras formas
de divulgação1 – aponta, recorrentemente, para o fato de a
literatura de autoria feminina brasileira vir empreendendo
importantes fraturas nas representações femininas tradicio-
nais, calcadas no binômio natureza vs. cultura, indissociável
da relação mulher/natureza e, nesse sentido, se configurando
como importante instrumento de resistência à opressão da
mulher.
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Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher,
e mulher brasileira, de educação acanhada e sem trato e conver-
são dos homens ilustres [...] com uma instrução misérrima [...] e
pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo. […] Afinal, a
quem se dirigiriam os prefácios das mulheres escritoras? Parece
evidente que a qualquer leitor, homem ou mulher. No entanto, a
lê-los mais nas entrelinhas, os prefácios “femininos” teriam um
leitor específico a conquistar: o homem de letras, o crítico literá-
rio. Isso é observável nos trejeitos de que sofrem tais prefácios.
Raros se fazem ficcionais. Quase todos se colocam como “depen-
dentes”. Raríssimos são plataformas de combate como acontece
na obra de Maria Firmina dos Reis. Os prefácios das escritoras
não pretendem ser um guia de leitura. Ao lado da constância das
fórmulas de humildade, trazem uma escondida voz feminina:
consciência da falta de condições para a mulher poder escrever
na época, carência de educação, de instrução e leitura para se
tornar uma boa escritora. (p. 268)
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S E G U N DA PA R T E
Para nos subsidiar nessa que consiste na última etapa dessas
reflexões, tomamos os resultados da pesquisa desenvolvida
sob nossa coordenação na Universidade Estadual de Maringá,
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10 Alguns exemplos: A chave de casa e Dois rios, de Tatiana Salém Levi; Azul
corvo e Rakushisha, de Adriana Lisboa; A vendedora de fósforos e Corpo estranho, de
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Sim, muito 20,6% (87) 19,0% (80) 0,5% (2) 40,1% (169)
Sim, pouco 18,3% (77) 14,2% (60) 0,0% (0) 32,5% (137)
Não 5,5% (23) 3,3% (14) 0,0% (0) 8,8% (37)
Sem indícios 10,2% (43) 8,5% (36) 0,0% (0) 18,7% (79)
TOTAL 54,5% (230) 45,0% (190) 0,5% (2)
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Sem indícios 10,0% (42) 13,5% (57) 0,0% (0) 23,5% (99)
Outro desfecho 18,3% (77) 12,3% (52) 0,2% (1) 30,8% (130)
Final em aberto/
10,2% (43) 7,8% (33) 0,2% (1) 18,3% (77)
ambíguo
Outro tipo de
8,8% (37) 9,2% (39) 0,0% (0) 18,0% (76)
morte
Objetivos
8,5% (36) 8,1% (34) 0,0% (0) 16,6% (70)
alcançados
Happy end
4,0% (17) 3,3% (14) 0,0% (0) 7,4% (31)
romântico
Objetivos frustrados 4,3% (18) 2,1% (9) 0,0% (0) 6,4% (27)
Assassinato 1,9% (8) 3,1% (13) 0,0% (0) 5,0% (21)
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Freq. %
Família 44 43,1%
Amor 36 35,3%
Sexualidade/desejo 28 27,5%
Deslocamentos (exílio, imigração, diáspora, viagem) 23 22,6%
Morte/doença 21 20,6%
Identidade/construção de si 21 20,6%
Memória 18 17,7%
Literatura/metanarrativas 17 16,7%
Questionamentos existenciais 16 15,7%
Questões de gênero 16 15,7%
Criminalidades/imposturas/violências/subversões sociais 11 10,8%
Amizade 10 9,8%
Questões sociais e ideológicas (classes) 9 8,8%
Religiosidade/transcendentalismo 6 5,9%
Universo virtual 5 4,9%
Questões políticas (ditaduras, democracias, socialismo,
3 2,9%
capitalismo)
Questões étnico-raciais 2 2,0%
Identidade nacional 2 2,0%
TOTAL 102
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AL G U M A S CO N CL U S Õ ES
Trata-se, sem dúvidas, de variantes, que repercutem nas cons-
tantes e tendências da subjetividade feminina verificada
no modo de representação das personagens e, portanto, no
conceito de literatura de autoria feminina contemporânea,
as que aqui ensaiamos, levando-nos, consequentemente,
a inferir que se escritoras não brancas, pobres, com grau de
escolaridade mais modestos, moradoras de comunidades peri-
féricas também publicassem nas editoras aqui consideradas,
certamente, constataríamos um perfil de personagem mais
heterogêneo. No entanto, é sabido que quando tais escrito-
ras conseguem publicar, elas o fazem por meio de editoras
de pequeno porte ou por iniciativa particular – as chamadas
edições do/a autor/a.
Seja como for, se, por um lado, o quadro das represen-
tações de personagens do recorte em questão deixa de fora,
como na literatura contemporânea em geral, segmentos
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O PROGR A M A NACIONA L BI BL IO T E C A
NA E SCOL A ( PN BE) E A FOR M AÇ ÃO
DE L E I TOR E S NO BR A SI L: U M E S T U DO
DA S R E PR E SE N TAÇÕE S SO CI A I S
E M NA R R AT I VA S D O ACE RVO 2 013
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R E SI S T Ê NCI A S NA A M A ZÔN I A
– V I SÕE S DA F L OR E S TA NA DI TA DU R A
CI V I L -M I L I TA R BR A SI L E I R A 1
Pedro Mandagará
Universidade de Brasília
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RESISTÊNCIAS NA AMA ZÔNIA – V I S ÕE S DA F L OR E S TA
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E a gente num podia ir pra roça mais também... porque... eles [os
militares] proibia! porque as vez, os “pessoal da mata”... [os guer-
rilheiros] eles falava que era os “pessoal da mata” podia matar
nós lá no mato né?... Nós num podia caçar também... E aí nós
falamo assim:
– Como é que nós vamo então sobreviver agora?
Porque... naquele tempo índio num fazia roçona grande, né?
e era pouca... assim era só um pedacinho assim que eles fazia
roça.., roçava e... plantava mandioca. E aí... aí... num podia sair!
(2017, p. 9)
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RESISTÊNCIAS NA AMA ZÔNIA – V I S ÕE S DA F L OR E S TA
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RESISTÊNCIAS NA AMA ZÔNIA – V I S ÕE S DA F L OR E S TA
B IB L IO G R A F I A
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A OBR A F ICCIONA L DE RU BE M
FON SE C A E O C I N E M A
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A OBR A FICCIONA L DE RUBEM FONSECA E O CI N EM A
cia física da presença dos atores”; há, por assim dizer, uma
“limitação estética da resposta, dessa redução do espectador
ao papel de consumidor, enquanto que o leitor é também um
produtor” (pp. 15-16).
No entanto, estas atitudes não devem ser entendidas
como pressuposto para se defender a ideia da ausência de
diálogos possíveis entre a escrita literária de Rubem Fonseca
e a linguagem fílmica. Muito pelo contrário: a leitura mais
atenta da ficção fonsequiana permite-nos detectar a pre-
sença de determinadas técnicas da sétima arte relacionadas
com a chamada narratividade, ou seja, com a possibilidade
de organização de uma diegese por um enunciador. Mais
concretamente, os empréstimos cinematográficos na ficção
de Rubem Fonseca situam-se a dois níveis: os das chamadas
“mostração” e “narração” (Gaudreault et al., 1995, pp. 32 e
ss.), da responsabilidade de um “meganarrador”, “grand-ima-
gier” ou “grand-image maker” fílmico, ao qual corresponde o
narrador literário.
Assim, no que diz respeito à “mostração”, esta tem a ver
com uma pretensa objectividade, característica específica do
sistema semiótico do cinema narrativo ou ficcional. No caso
da prosa de Rubem Fonseca, a referida objectividade consubs-
tancia-se numa escrita de índole realista e fundamenta-se na
estratégia do showing, cujos alicerces principais são a narra-
tivização, o distanciamento narrativo e a dramatização do
representado.
Relativamente à narrativização, tomem-se como exemplo
alguns contos de Rubem Fonseca das colectâneas Os prisionei-
ros (1963), A coleira do cão (1965), Lúcia McCartney (1967), Feliz
ano novo (1975) e O cobrador (1979), com as suas característi-
cas de concisão narrativa, reduzido número de personagens
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P ON TO S FOR A DA C U RVA :
O QU E R E SI S T E NA L I T E R AT U R A
BR A SI L E I R A CON T E M P OR Â N E A
Regina Dalcastagnè
Universidade de Brasília
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não dobra esquina”. Por isso, não podemos nos encastelar nas
universidades e continuar falando do mesmo, daquilo que
está ao alcance de nossos dedos, de nossa pálida imaginação.
É preciso ensaiar outros passos, para longe do conhecido e
do repisado, dobrar a esquina para ver o que nossos olhos
não alcançam, perseguir pelas calçadas e becos uma outra
narrativa, um outro Brasil (descompensado, despreparado,
violento, mas também alegre e esperançoso).
Isso significa, é claro, abandonar o conforto da Rua
do Ouvidor – ou a “perspectiva do alpendre”, nos termos
de Roberto Ventura1. Ilustro essa possibilidade a partir da
experiência de uma colega, professora do departamento
de Antropologia da Universidade de Brasília. Trabalhando
com crianças que vivem nas ruas da cidade, ela elaborou
um projeto com a intenção de entender a sua perspectiva.
A ideia era entregar a cada criança uma máquina fotográfica
(dessas feitas de lata) e pedir que ela registrasse aquilo que
a oprimia. Como era esperado, surgiram fotos de policiais,
garçons e vendedores, figuras responsáveis por enxotá-las
dos lugares por onde costumam circular. Mas um conjunto
de imagens destoava de tudo isso – eram fotografias de uma
parede vazia, com um prego espetado no meio. Uma vez
que as fotos não faziam sentido, chamaram o menino para
conversar sobre o assunto. Ao contrário do que pensavam,
ele tinha entendido o que queriam e explicou sua opção:
era engraxate, mas não tinha autorização para trabalhar em
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Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
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o urubu
corpo de delito é
a expressão usada
para os casos de
infração em que há
no local marcas do evento
infracional
fazendo do corpo
um lugar e de delito
um adjetivo o exame
consiste em ver e ser
visto (festas também
consistem disso)
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B IB L I OG R A F I A
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SE RTÃO... SE RTÕE S: A PA L AV R A
– DE PE RO VA Z DE C A M I N H A
A GU I M A R Ã E S ROSA 1
Telma Borges
Unimontes – Brasil
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Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata,
nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a
terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como
os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os
achávamos como os de lá. (Caminha, [s. d.], p. 14)
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O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que
situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem,
fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de
Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que
tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de
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fechos, onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com
casa de morador, e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado
do arrojo de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas,
hoje, que na beira dele tudo dá – fazendões de fazendas, almar-
gem de vargens de bom render, as vazantes, culturas que vão de
mata em mata, madeiras de grossura, até virgens dessas lá ainda
há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim,
cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão
de opiniães... o sertão está em toda parte. (Rosa, 2001, p. 23-24)
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ESTE LIVRO FOI
COMPOSTO EM CARATERES STONE SERIF,
DESENHADOS POR SUMMER STONE, E IMPRESSO
E M PA P E L C R E M E 90 G E C A PA E M C R O M O D U O 200 G ,
N A P A P E L M U N D E S M G , E M V I L A N O VA D E F A M A L I C Ã O , N O M Ê S
DE MARÇO DE 2019, 35 ANOS APÓS A FUNDAÇÃO DA
A S S O C I A Ç Ã O I N T E R N A C I O N A L D E L U S I TA N I S TA S
P E L O L U S I TA N I S TA R . A . L AW T O N ,
EM POITIERS.