Aula de Inglês. Luciano Amaral Oliveira.
Aula de Inglês. Luciano Amaral Oliveira.
Aula de Inglês. Luciano Amaral Oliveira.
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formação de professores de inglês é um processo complexo.
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.\... Exige do indivíduo uma gama variada de conhecimentos. Se esse
indivíduo for brasileiro, as coisas ficam ainda mais complicadas
() contexto atual, em que alguns cursos de letras t;I0 Brasil ainda ~ LUCIANO AMARAL ,OLIVEIRA\.
"em um trabalho eficiente na formação de professores.'
III
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com o objetivo de ajudar a preencher êssa lacuna ~a formaçã~. dos li-
-nciados em inglês e também de suprir a falta de materiais qu~abor-
'111teoria e prática e auxiliem o professor a cumprir com o objetivo de
ixinnr com qualidade seus alunos que vem a lume este Aula de inglês:
) planejamento à avaliação. Porque formar-se professor exige domínio
IS arcas abordadas em cada um dos capítulos deste livro e domínio da
IgU<l inglesa. Mais importante: exige do professor a humildade de reco-
u-ccr que não sabe tudo e a disposição para estar sempre aprendendo.
do planejamento à avaliação
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LUCIANO AMARAL OLIVE1RA
EDITOR:
Marcos Marcionilo
CONSELHO EDITORIAL:
Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Angela Paiva Dionisio [UFPE]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
Kanavillil Rajagopalan [UNICAMP]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre rUFES] o planejamentoà avaliação
Rachei Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Roberto Mulinacci [Universidade de Bolonha]
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Roxane Rojo [UNICAMP]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Slrio Possenti [UNICAMP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
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'rAbO
Direção: ANDR~IA
CUSTÓDIO
Capa e diagramação: TElMACUSTÓDIO
Revisão: KARINA
MOTA
Imagem da capa: 123RF.COM
051A
Para
Direitos reservados à
PARABOLA EDITORIAL
Rua Dr. Mário Vicente, 394 -Ipiranga Ivone
04270-000 São Paulo, SP
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zida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou Luciana
mecânico, 'incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema
ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial lida.
ISBN: 978-85-7934-106-9
1 A logística da aula 17
1.1 O planejamento da aula .19
1.2 O gerenciamento da sala de aula 30
4 O ensino da leitura 97
4.1 A coerência textual 100
4.2 O papel das atividades de pré-leitura 105
4.3 Miero-habilidades de leitura 110
Sumário 7
4.4 'I'r0s controvérsias:a leitura em voz alta, o uso de textos
autênticos e o uso de textos literários 122
lntrcduçãn 1~)
14 fluiu clu II1gl0s: do planejamento à avaliação
A logística da aula
nício
do semestre letivo: novas turmas, novos alu-
damente minha aula para pedirem emprestados CDS e marcadores de ANTICIPATED POSSIBLE
TIME STAGE OBJECTIVES PROCEDURES MATERIAL
quadro branco. Eles provavelmente não prestaram atenção a esse ele- PROBLEMS SOLUTIONS
ta a próxima seção.
TEACHER'S
DESK
Você planejou sua aula, elaborou seu plano e agora está na sala, se o professor adota o Community Language Learrunq", ele fica atrás
que precisa estar sob seu total controle para que você consiga mate- dos alunos durante a realização das atividades porque essa posição é
rializar o que planejou. Para isso, você tem de considerar os elementos supostamente menos intimidatória para eles.
que fazem parte do GERENCIAMENTO DA SALA DE AULA. Vinculada às possibilidades que o layout flexível oferece, encon-
O primeiro elemento a considerar é o AMBIENTE FÍSICO em que tra-se a questão do AGRUPAMENTO dos alunos. Às vezes, eles tra-
a aula será realizada. A parte principal desse ambiente é o layout da balham individualmente; muitas outras vezes, trabalham com mais al-
sala. A disposição das carteiras dos alunos e da mesa do professor é guém. O professor precisa ficar atento ao agrupamento que faz para
importante para as diversas tarefas a serem realizadas: o professor a realização das atividades, a fim de evitar que os alunos pratiquem
pode querer formar duplas, trios ou quartetos. Assim, o semicírculo sempre com os mesmos colegas. O caso extremo dessa situação são os
é o layout mais prático e o que dá mais possibilidade de movimenta- casais de namorados que estudam na mesma turma: eles não querem
ção ao professor. E as escolas públicas e a maioria dos institutos de se desgrudar por nada deste mundo. Mas o grude apaixonado não deve
idiomas oferecem essa possibilidade aos professores. Há institutos de falar mais alto do que as necessidades de agrupamento, pois variar
idiomas, no entanto, que não dão opção aos professores no que diz as duplas, os trios e os quartetos é salutar porque oferece aos alunos
respeito à manipulação do posicionamento das cadeiras: eles possuem oportunidades de lidarem com a diversidade.
uma grande mesa em torno da qual se acomodam alunos e professor. Há formas diferentes de fazer o agrupamento: o professor decide
As imagens a seguir ilustram os dois layouts. Note que o layout flexível quem vai trabalhar com quem; ele faz um sorteio; ele estabelece um
apresentado está no formato canônico, mas ele pode ser desfeito para critério específico para o agrupamento (por exemplo, as duplas podem
atividades em grupo. ser formadas por pessoas que têm o mesmo signo ou que torcem pelo
Usualmente, no momento de dar instruções e de fazer apresen- mesmo time, o que leva os alunos a fazerem perguntas entre si); os
tações e explicações, o professor posíciona-se em frente ao quadro alunos escolhem com quem desejam trabalhar. O importante é que o
branco, atrás ou em frente da sua mesa, para ter uma visão global da professor decida previamente, no seu planejamento, qual será a forma
turma e, assim, nunca perder o contato visual com seus alunos. No de agrupamento para cada atividade, a fim de não desperdiçar tempo
momento da realização das atividades em duplas, ele circula, para, da aula tentando gerenciar o agrupamento.
acocora-se, curva-se, enfim, procura a melhor posição para monitorar
o trabalho dos alunos. Entretanto, a depender do método de ensino
Para obter maiores informações sobre o Community Language Learning, veja o capl
adotado, a posição pode ser previamente determinada. Por exemplo, tulo 3 do livro Métodos de ensino de inglês: teorias, práticas, ideologias (Oliveira, 2014).
ria das atividades propostas pelo professor. Os adolescentes é que deve estar-se perguntando: "Como assim? O corpo do professor?". Pois
tendem a se opor mais. Se você decidir, por exemplo, elaborar uma é. Não estou fazendo referência aqui a seu peso ou a seu modo de se
de fala do professor. Por isso, vale a pena ele lhes ensinar os gestos que STUDENT: I went to the movies.
utilizará em sala. Há gestos que já estão tradicionalizados nas aulas TEACHER: Vou went to the movies. What film did you see?
de inglês. Por exemplo, para indicar pretérito, o professor aponta para
STUDENT: The Fabu/ous Oestiny of Ame/ie Pou/ain.
trás com o polegar; para indicar que o verbo na 3a pessoa do singular
TEACHER: The Fabu/ous Oestiny of Ame/ie Pou/ain? Did you like it?
tem um S na forma afirmativa, o professor mostra três dedos. Indepen-
dentemente de quais gestos o professor use, o importante é que seus STUDENT: Iloved it.
alunos os entendam e se acostumem com eles. TEACHER: Vou loved it. Great!
Aliás, vale lembrar: a FALA DO PROFESSOR é outro elemento fun- Esse professor fica ecoando as respostas do aluno sem nenhu-
damental para o gerenciamento da sala de aula. Ela funciona não ape- ma necessidade. E isso deve ser evitado. Repetir algo que um alu-
nas como um meio de organização da aula, mas também como input no diz pode ser uma forma de correção: a repetição pode levar o
para os alunos.
Embora muito útil, a fala do professor é fonte de muitas discus-
Para conhecer mais sobre o Silent Way e sobre a suggestopedia, veja o capítulo 3 de
sões. De um lado, há quem defenda a ideia de que o tempo de fala do Métodos de ensino de inglês: teorias, práticas, ideologias (Oliveira, 2014).
46 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habilldntlu 4/
utilizam como sinônimos, o que demonstra a dificuldade de se diferen- se instaura entre o ensino búsico da língua e o treinamento no uso
ciarem estratégias de habilidades. Sobre esses dois conceitos, tecerei, de estratégias: se decidir realizar o treinamento sistemático dos seus
a seguir, algumas considerações para que possamos tratar dos conhe- alunos no uso de estratégias, o professor acabará tendo menos tem-
cimentos necessários para o desenvolvimento das quatro habilidades po para o ensino de inglês propriamente dito. Renandya cita Michacl
linguísticas. Na sequência, abordarei o conceito de esquemas mentais Swan para corroborar esse ponto:
e os processos de decodificação da informação. Finalizarei este capí-
Ao mesmo tempo em que o treinamento no uso de estratégias pode ser
tulo tratando da integração dessas habilidades.
útil e contribuir para a independência do aprendiz, ele pode ser levado
a extremos não construtivos; e tal treinamento não substitui o ensino
2.1 Pequena confusão conceitual: básico da língua (Swan, 2008 apud Renandya, 2012: 4).
estratégias ou habilidades?
Embora Renandya esteja falando especificamente do treinamento
o início dos anos1990 presenciou um modismo que tomou conta no uso de estratégias de compreensão oral, suas considerações são ex
de vários cursos de inglês no Brasil: o treinamento dos aprendizes no tensíveis ao treinamento dos aprendizes no uso das outras estratégias.
uso de estratégias. Havia a crença de que tal treinamento os levaria E essas duas razões explicam o declínio do interesse pelo treinamento
a níveis mais avançados de proficiência na língua inglesa. E a crença no uso de estratégias. Afinal, não apenas continuam inexistindo evi
continuou como crença, pois, até hoje, não há um estudo longitudinal, dências oriundas de pesquisas que comprovem a relação causal entre
não impressionista, que tenha sido feito para estabelecer uma relação esse treinamento e o desenvolvimento da proficiência, mas também
causal entre o desenvolvimento da proficiência e o treinamento no uso persiste a questão da alocação do tempo de aula.
de estratégias. Não por acaso, o interesse pelo treinamento no uso de Assim como Renandya, diversos outros teóricos contribuíram
estratégias arrefeceu, embora o termo estratégia tenha se mantido ra- com essa profusão de artigos e livros sobre estratégias. Que professor
zoavelmente popular entre professores de inglês, cristalizando-se em de inglês nunca ouviu falar de estratégias? O termo estratégia já foi ou
suas mentes. vido ou lido por quase todos, senão por todos os professores, mesmo
Em 2012, Willy Renandya publicou um artigo cujo título é bastan- que não saibam exatamente o que ele significa.
te instigante no que diz respeito à suposta utilidade do treinamento Curiosamente, muitos professores falam de estratégias, mas, na
de aprendizes com um baixo grau de proficiência no uso de estraté- maioria das discussões em torno do treinamento dos aprendizes no
gias de compreensão oral: "Five Reasons why Listening Strategy Ins- uso de estratégias, uma questão muito importante escorrega para o
truction Might not Work with Lower Proficiency Learners", A vagui- segundo plano e por lá fica, inerte e silenciosa: a definição de estra-
dade da frase lou: proficiency não pode ser ignorada aí, mas podemos tégia. É esse escorrego a causa da tal confusão na cabeça de profes-
intuitivamente considerar baixa proficiência aquela dos aprendizes sores que menciono no início deste capítulo. Por exemplo, a busca por
que se encontram nos níveis iniciantes e intermediários. Dentre as informações específicas em um texto e a inferência a partir de uma
cinco razões apresentadas, destaco duas. A primeira é a falta de evi- conversa são estratégias ou micro-habilidades? Depende. Há alguns
dência empírica de que o treinamento no uso de estratégias funcione. professores e teóricos que as consideram estratégias, enquanto ou-
De acordo com Renandya, há estudos que demonstram uma correla- tros as consideram micro-habilidades. Assim fica difícil, né?
ção entre o uso de estratégias e o nível de proficiência. Entretanto, O termo estratégia costuma ser usado com tanta inconsistên
"como correlação não é causação, não se pode dizer, com alto grau cia que encontramos definições como esta no site do National Capital
de certeza, que o uso de estratégias leve a uma proficiência elevada" Language Resource Center: "Estratégias de compreensão oral são téc
(Renandya, 2012: 3). A segunda razão é a competição por tempo que nicas ou atividades que contribuem diretamente para a comprecnsao
48 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro hablliclfl(lI 4
recordação do input oral'". Conceber estratégias como técnicas ou que vocc já percebeu o problema aí, né? Em inglês, há duas palavras
atividades é difícil de aceitar. A mesma inconsistência marca o uso do que podemos traduzir como 'habilidade': skiLL e ability. O MacmiL/cttt
termo habiLidade. Eis uma definição, formulada por Debra Peterson I)ictionary define skiLL como sendo "the ability to do something weU,
(2014), que evidencia isso: "Uma habilidade de compreensão é uma ati- usuaLLy as a result of experience and training"3 e define ability como
vidade que os alunos realizam com o propósito de aprender aspectos sendo "the fact of being able to do somethínq'". Talvez isso aponte um
do texto como a ideia principal ou causa e efeito". Conceber habilida- aminho para traduzirmos a definição oferecida por Liu, se traduzir'
des como atividades é complicado e difícil de aceitar. Além do mais, mos skill como 'habilidade' e abiLity como 'capacidade': "Habilidade é a
se o propósito em questão é aprender algo, então estamos falando de apacidade que foi automatizada e que opera amplamente de maneira
estratégias e não de habilidades. inconsciente, enquanto estratégia é um procedimento realizado com o
Peter Afflerbach, Paul David Pearson e Scott Paris (2008: 364) di- objetivo de resolver um problema".
vulgaram os resultados de uma pesquisa sobre estratégias de leitura e Já Afflerbach, Pearson e Paris oferecem as seguintes definições d
habilidades de leitura que evidenciam essa inconsistência: "Os termos estratégias de leitura e de habilidades de leitura, reforçando o ponto
habilidades e estratégias são parte do vocabulário usado pelos profes- que defendo:
sores para descrever o que eles ensinam e o que as crianças aprendem.
Contudo, apesar do uso frequente no discurso profissional, os termos Estratégias de leitura são tentativas deliberadas e direcionadas a uma
são usados inconsistentemente". Acredito que a inconsistência decorre meta para controlar e modificar os esforços do leitor para decodifica r
o texto, entender as palavras e construir sentidos para o texto. Habili-
do fato de estratégias e habilidades estarem fortemente imbricadas,
dades de leitura são ações automáticas que resultam na decodificação rv
estreitamente relacionadas.
na compreensão com velocidade, fluência, e geralmente ocorrem sem a
E aí? O que fazer para evitar essa confusão terminológica? Fiquei
consciência acerca dos componentes ou controle envolvidos (Afflerbach;
pensando nisso e em como ajudar você a se situar nessa história. En-
Pearson; Paris, 2008: 368). I
tão, visitei alguns artigos na busca de posições mais esclarecedoras
sobre o tema e percebi que parece haver unanimidade quanto ao ele- Ao participarem da discussão acerca das estratégias e habili-
mento que diferencia estratégias de habilidades: o grau de consciên- dades, Afflerbach, Pearson e Paris (2008) não se limitaram a tentar
cia do indivíduo no momento de realizar atos linguísticos, como ler e diferenciá-Ias. Eles forneceram uma aproximação entre elas: o fato
escrever. Clark Chinn e Lisa Chinn (2014), por exemplo, afirmam que de o ensino das estratégias poder e dever levar os alunos a trans-
as habilidades são diferentes das estratégias "por serem realizadas de formarem-nas em habilidades, mais especificamente em micro-habi-
forma automática, enquanto as estratégias geralmente exigem que os lidades, em ações fluentes e automáticas. Em outras palavras, para
indivíduos pensem a respeito de qual estratégia estão usando". esses teóricos, as estratégias são ações planejadas e conscientes usa-
Liu (2010: 154) faz uma revisão da literatura sobre estratégias e
das por um indivíduo para atingir determinado propósito e as habi-
habilidades e chega à mesma conclusão, que transcrevo em inglês para
lidades são ações automáticas e inconscientes das quais o indivíduo
apontar outro problema termino lógico que enfrentamos ao lidar com
lança mão para atingir esse mesmo propósito. Consequentemente, no
essa discussão em português: "A skiLLis an ability which has been uu-
entendimento deles, uma mesma ação pode ser uma estratégia num
tomatized and operates largely subconsciously, whereas a strategy is
a conscious procedure carried out in order to solve a problem". Creio
Confira essa definição em: <http//www.macmillandictionary.com/dictionary/
american/skill#skill_ 4>; acesso: 5 jun. 2015.
Cf. o texto Strategies for Developing Listening Skills. Disponível em: <http.zywww. 4 Confira essa definição em: <http//www.macmillandictionary.com/dictionary/
nclrc.org/essentials/listening/stratlisten.htm>; acesso: 5 jun. 2015. american/ability#ability_5>; acesso: 5 jun. 2015.
50 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO2 I Sobre o ensino das quatro habilidad !lI
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momento do processo de aprendizagem e transformar-se numa habi- [...] é frequentemente difícil para os pesquisadores empregarem o rnéto
lidade num momento posterior do processo de aprendizagem por se do padrão de observação. Portanto, muito da pesquisa sobre as estraté-
tornar uma ação automática. gias de aprendizagem de línguas depende da boa vontade e da capacida-
Vejamos um exemplo disso. Um professor que dá aulas a uma tur- de dos aprendizes de descreverem seus comportamentos internos, tanto
ma de iniciantes ensina a seus alunos a buscarem informações espe- cognitivos quanto afetivos (emocionais).
íficas em um texto escrito. Ele lhes diz que devem ter claro em suas Em outras palavras, as pesquisas sobre estratégias não podem ser
mentes as informações que precisam localizar no texto para, então, realizadas por meio da observação direta porque estamos falando aqui
estabelecerem palavras-chave que servirão de norte para sua busca, de processos mentais. Por isso, elas dependem da boa vontade e da
mostrando-lhes ser desnecessário, nesse caso, ler o texto em sua to- capacidade dos aprendizes de falarem sobre tais processos. E isso não
Lalidade. Nesse momento, podemos afirmar que o professor está reali- é algo muito interessante para a credibilidade das pesquisas, embora
ando um trabalho de apresentar aos alunos uma estratégia de leitura. não as torne desmerecedoras de credibilidade.
Com o passar do tempo, espera-se que eles automaticamente sigam A impossibilidade de observação direta não é suficiente para ig-
esse plano de ação para buscarem informações específicas em um tex- norarmos o que já se pesquisou e escreveu sobre as estratégias. Pelo
to escrito. Se eles fizerem isso, podemos afirmar que aquela estratégia contrário, devemos aproveitar o que for útil para ajudar nossos alunos
se transformou em uma micro-habilidade. a aprenderem inglês da maneira mais eficaz possível. E isso se mate-
Em suma, fica claro que a questão da consciência e da automa- rializa no nosso planejamento de aula: sempre que houver uma opor-
ção é o que distingue estratégia de habilidade. Logo, é seguro afirmar tunidade, o professor deve incluir na sua aula um componente de trei-
que as estratégias representam intenções, processos deliberadamen- namento no uso de estratégias. Mas é importante não perder de vis-
te planejados, controlados e conscientes, enquanto que as habilidades ta que, embora viável, isso provoca uma competição por tempo entre
representam ações, processos automáticos e inconscientes. Creio que o treinamento sistematizado no uso de estratégias, que requer aulas
isso ajuda você a sair daquela confusão teórica. inteiras para ser realizado, e o ensino básico de inglês, que também
Contudo, embora muito se tenha pesquisado acerca da relação requer aulas inteiras. Por isso, o treinamento pode ser salutarmente
entre o treinamento no uso de estratégias e a proficiência no uso da incidental e acontecer nos momentos da aula em que seus alunos apre-
língua, e embora muito se tenha escrito sobre estratégias, há um pon- sentem alguma dificuldade que crie uma oportunidade para o profes-
to cego que não pode ser desconsiderado: a natureza escorregadia do sor falar sobre uma estratégia útil para superar tal dificuldade.
conceito de estratégia por não estar sedimentado em uma fundamen- Nas discussões sobre estratégias, geralmente elas são divididas em
tação teórica sólida. Sima Khezrlou (2012: 50), citando Peter Skehan e metacognitivas e cognitivas. Jennifer Livingston (2014) define estraté-
Zóltan Dõrnyeí, lembra que "é questionável a possibilidade de as estra- gias metacognitivas como os "processos sequenciais que um indivíduo
tégias cognitivas serem determinadas em termos de comportamentos usa para controlar atividades cognitivas e assegurar que uma metacog-
observáveis, específicos e universais que poderiam ser ensinados ou nitiva (e.g., entender um texto) seja atingida. Esses processos ajudam a
avaliados". Khezrlou (2012: 51) complementa: "A ambiguidade e a vaguí- regular e a supervisionar o aprendizado e consistem no planejamento e
dade que marcam a natureza das estratégias de aprendizagem de lín- no monitoramento de atividades cognitivas e na verificação dos resul-
guas leva a uma controvérsia a respeito dos vários modos de percebê- tados dessas atividades". Já Chinn e Chinn (2014) definem estratégias
-Ias em diferentes tarefas sob condições diversas". Rebecca Oxford e cognitivas como os "processos mentais ou procedimentos usados para
Judith Burry-Stock (1995: 153), defensoras notórias do treinamento no atingir uma determinada meta cognitiva". Grosso modo, podemos r"-
LISO de estratégias, não negam esse problema: sumir essas definições desta forma: as estratégias metacognitivas suo
Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habillclll(lu !l,
empregadas pelo aprendiz para garantir que as estratégias cognitivas A organização do vocabulário é um exemplo de estratégia cogní-
por ele empregadas sejam bem-sucedidas. Já as estratégias cognitivas tiva essencial para a internalização de itens lexicais. Quando comecei
S<lO aquelas empregadas por ele para aprender com sucesso. a estudar inglês, eu tinha um caderno em que organizava listas de pa-
A busca consciente de oportunidades de aprendizagem e de prá- lavras por categorias semânticas. No período de recesso e nas férias,
tica é um exemplo de estratégia metacognitiva. Há aprendizes que eu visitava as listas e as traduzia para saber se lembrava de tudo. Fiz
têm a iniciativa de procurar tais oportunidades, mas há aqueles que isso durante quatro anos, o que me ajudou muito a internalizar itens
acreditam que apenas ir às aulas basta para aprenderem inglês. É aí lexicais. Entretanto, há aprendizes que não sabem que organizar o vo-
que o professor entra em cena, sugerindo a seus alunos que busquem cabulário ao qual são apresentados e revisá-lo sistematicamente são
oportunidades como, por exemplo, atividades extras que o instituto de estratégias importantes para seu aprendizado. Por isso, o professor
idiomas ofereça: aulas de conversação e de música; eventos em que a precisa orientar seus alunos a fazerem isso.
língua inglesa seja utilizada; o uso da legenda em inglês ou a retirada Outro exemplo de estratégia cognitiva é o resumo de conteú-
da legenda de filmes e séries a que assistem em casa. Ao fazer isso, ele dos. Manter um caderno em que se coloquem resumos dos assuntos
ajudará aqueles alunos que não têm consciência da importância dessa gramaticais estudados e das informações sobre os gêneros textuais
estratégia a se tornarem conscientes delas. estudados é importante para a fixação dos assuntos no momento de
Outro exemplo de estratégia metacognitiva é o planejamento para revisá-los. E a revisão estruturada é outra estratégia cognitiva. O pro-
fessor tem o papel importante de incentivar seus alunos a tomarem
a realização de tarefas. O professor precisa orientar seus alunos acerca
conhecimento dessas estratégias.
de como estudar para melhor aproveitar o curso de inglês. Ele pode
Um último exemplo de estratégia cognitiva é a repetição de pala-
lhes sugerir, por exemplo, que reservem um tempo todo dia para as
vras e frases, algo importantíssimo para o desenvolvimento da fluência
atividades extrac1asse e que sempre tenham em mente um objetivo na
do aprendiz. Obviamente, isso é algo a ser feito fora da sala de aula
realização de leituras e na produção textual.
como parte do seu aprendizado. De novo, vem à tona o caso dos alu-
O monitoramento do desempenho e a avaliação da aprendizagem
nos que acreditam que só precisam ir às aulas para aprenderem inglês
são outros exemplos de estratégias metacognitivas. Eu tive um aluno
e, assim, acabam não usando o tempo fora da aula para intensificar o
particular que estava se preparando para realizar o TOEFL. Eu costu-
processo de aprendizagem. E o professor precisa conversar com seus
mava lhe designar atividades para casa. Ele não apenas era disciplina-
alunos sobre essa estratégia cognitiva.
do, pois realizava todas elas, como também lançava mão dessas estra-
Creio serem suficientes, para nossos propósitos, as considerações
tégias metacognitivas. Ele me dizia sempre na aula seguinte: "Fiz essa
que teci até aqui. Os capítulos 3, 4, 5 e 6 tratam, cada um, de uma das
atividade, acertei tantas questões e errei tantas questões. Entendi por quatro habilidades linguísticas e, neles, abordo algumas micro-habi-
que errei as questões tal e tal, mas ainda tenho dúvidas sobre isso e lidades envolvidas em cada uma delas, mas evito falar de estratégias.
aquilo". Era fantástica a autonomia dele. A seguir, discuto outra questão muito importante: os tipos de co-
Infelizmente, muitos aprendizes não são assim - alguns, por pre- nhecimentos necessários para que os aprendizes desenvolvam as qua-
guiça e falta de vergonha acadêmica na cara; outros, por não terem tro habilidades linguísticas.
consciência dessas estratégias. Eu já tive alunos para quem perguntei
como estavam indo no curso que me responderam: "Você é que é o
2.2 Conhecimentos necessários para o desenvolvimento
professor. Você é quem tem de dizer como eu estou". Novamente, é aí
das quatro habilidades
que o professor entra em cena, reservando uma aula ou parte de algu-
mas aulas para ajudar seus alunos a se tornarem conscientes da neces- Começo esta seção com uma pergunta: o que significa: 0tJ.t.J!)
sidade de eles próprios monitorarem e avaliarem seu aprendizado. cn.tMld:W-r'-g-;fn? Não sabe? Hum ... E se eu colocar isso em letras do
1'4 Aula do inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro hnbllldlltlUA Ia
nosso alfabeto'? Vejamos: AnaLa no o namae wa nan desu ka? Se, por têm mais chances de tomarem a iniciativa para criarem oportunidades
acaso, você continua sem saber o que isso significa, eis uma pergunta de aprendizagem. Conforme vimos na seção anterior, o professor tem
que significa basicamente a mesma coisa, em outra língua, que pode o importante papel de motivar seus alunos a utilizarem estratégias
ajudar você: KaKsac 30ByT?Se isso não ajuda, eis a forma de dizer a cognitivas que contribuam para a construção de seus conhecimentos
mesma coisa numa terceira língua: Wie heifien Sie? E aí? Sabe o que linguísticos, como, por exemplo, a elaboração de listas de palavras e
ssas perguntas significam? de expressões idiomáticas, o uso de gramáticas pedagógicas e o uso
Minha intuição me diz que algumas leitoras e alguns leitores sa- de dicionários para o aprendizado da pronúncia (algo que atualmente
bem que essas perguntas equivalem a What's your name? em japonês, é facilitado pelos dicionários online, que disponibilizam não apenas os
em russo e em alemão respectivamente. Vou além e arrisco-me a afir- significados e a transcrição fonética das palavras, mas também o áudio
mar que a maioria das leitoras e dos leitores deste livro não sabia disso. de sua pronúncia).
E essa maioria não sabia por uma razão específica: ela não possui os Não há dúvida da importância do papel dos conhecimentos lin-
CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS necessários para decodificar pala- guísticos no desenvolvimento da competência comunicativa do apren-
vras escritas em japonês, em russo ou em alemão. diz. Contudo, tais conhecimentos são insuficientes: mesmo os apren-
Os conhecimentos linguísticos englobam os conhecimentos se- dizes com alto grau de conhecimentos linguísticos podem ter dificul-
mânticos, lexicais, morfológicos, sintáticos e fonológicos acerca de de- dades para compreender ou para produzir um texto falado ou um tex-
terminada língua. Isto é básico: sem conhecimentos linguísticos sobre to escrito. E por que isso acontece?
uma língua, a pessoa não consegue ler, escrever, falar ou compreender Vejamos um exemplo que pode nos indicar o caminho de respos-
enunciados produzidos nessa mesma língua. Nenhum professor de in- ta a essa pergunta. Imaginemos que o texto a seguir, retirado de um
glês há de discordar disso. material de divulgação da empresa havaiana Snorkel Bob, disponível
Obviamente, um cidadão japonês, um russo e um alemão ou um no site <www.snorkelbob.corn>, seja apresentado a aprendizes de nível
austríaco, mesmo sendo analfabetos, entenderiam, respectivamente, avançado que vivem em uma pequena cidade interiorana e que nunca
cada uma das perguntas no primeiro parágrafo se as ouvissem. Isso tiveram a oportunidade de viajar a uma cidade litorânea:
quer dizer que uma pessoa analfabeta tem conhecimentos linguísticos
para compreender textos falados e para falar, mas não possui conhe-
Welcome to snorkelbob.com and the best masks, fins and
cimentos linguísticos para ler ou escrever. Portanto, podemos pensar
snorkels in the world. You want to make reservations here for
em graus de conhecimentos linguísticos, que, por sua vez, indicam ní- your Hawaii adventure too? Worry not!
veis distintos de competência comunicativa. Por exemplo, um turista
que esporadicamente vai à Inglaterra precisa ter um grau de conheci- My masks, fins and snorkels come from decades of testing in the
mentos da língua inglesa inferior ao grau de conhecimentos da língua largest research facility on Planet E.YES! I, Snorkel 8ob, learned
inglesa que um aprendiz precisa ter para fazer o doutorado em uma what to do from 3 million snorkelers through the 80's and 90's
universidade britânica. and OO's.These mask skirts are crystal sili-
É importante o professor ajudar seus alunos a se conscientizarem cone - surgical grade! I, Snorkel 8ob, can
do papel que os conhecimentos linguísticos desempenham na cons- spend a clam or 2 more and STILL build
trução da competência comunicativa. Afinal, quanto mais palavras e cheaper than the mass producers - like,
estruturas sintáticas eles internalizarem e aprenderem a usar, mais say, U.S. Divers building for Costco. Do
conseguirão entender textos falados e escritos e mais conseguirão ex- you really want to snort seawater and call
pressar-se oralmente e por escrito. Tendo consciência disso, os alunos it economical? Or would you rather have a SUMOTM
6 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro hobilidados 57
m.isk that WOf1'tyellow, that will stay solt as silk and snug your snorkeltcnha originado o estrangeirismo snorkel, já parte integrante
muo with hardly an oz of pressure? do vocabulário do português brasileiro e que já está dicionarizado,
Did I, Snorkel Bob, mention high-density polymers, no pvc,
os alunos que não sabem o que é mergulho de snorkel encontrariam
compression-molded sub-frames (c-m s-f) and Optic sphero-
dificuldades para entenderem o texto de Snorkel Bob, um empresário
sis (Os)? AND I, Snorkel Bob'll warrant these masks for 2 years
havaiano.
(save your receipt). At 2 feet or 200, the SUMOTM, SEAMOTM,
Esses mesmos alunos provavelmente teriam dificuldades para
MIDMOTM, SEAMO BETIATM and LI'L MO BETIATM top the mo- compreender um texto falado, como o diálogo que apresento a seguir,
dality graphs. NOBODY GIVES YOU MORE BANG FOR YOUR
por falta de conhecimentos linguísticos e enciclopédicos:
BUCK THAN ME, SNORKEL BOB! THE-
SE MASKS WILL OUTLlVE YOU, EVEN IF - Hi, Sean.
YOU DON'T DROWN!
- Hey, dude. What's up?
MOFLEXTM Fins are simply the best per-
- Not much. I'm on my way to Molokai. l'rn going snorkeling.
forming snorkel fins anywhere. And the
I hear there's a lot of different fish and eels there.
patent pending MoflO2™ Snorkel feels
like breathing in a forest compared to - Oh, yeah. And the coral reefs there are awesome! You're
the stuffy elevator available with any ganna lave it. Have fun!
other snorkel. I, Snorkel Bob, have no re-
MOFLEXTMFINS - Thanks, mano Take care.
ceptionist, no water cooler, no secretary
and no dictation. lt's only her, Catfish, and me, Snorkel Bob, get- - See ya.
ting it right with real value for you.
8 1\1110do inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro hnllllldllclll6 59
lntuitivamcntc, posso afirmar que os professores leriam dificuldad o professor precisa preparar seus alunos para ela. Abordarei isso deta-
('111redigir a maior parte desses gêneros. E por que haveria dificulda- lhadamente nos capítulos dedicados a cada uma das habilidades, mas,
de para a produção desses gêneros? Seria por faltar aos professores a seguir, trato de dois elementos fundamentais para o ensino das qua-
rn questão conhecimentos linguísticos ou conhecimentos enciclopé- tro habilidades: os esquemas mentais e os processos de decodificação
dicos? Não exatamente. A razão residiria na falta de CONHECIMEN- da informação.
TOS TEXTUAIS dos professores, os quais englobam os conhecimentos
acerca dos gêneros textuais e dos elementos de textualidade. Afinal,
2.3 Esquemas mentais e os processos de decodificação
para que possam redigir, por exemplo, powers of attorney ou research
da informação
proposals, eles precisam estar familiarizados com a estrutura, a lin-
guagem prototípica e a função social desses dois gêneros textuais. A No filme Como se fosse a primeira vez, Lucy Whitmore, a perso-
lógica inversa se aplicaria se eu solicitasse a esses professores que re- nagem interpretada por Drew Barrymore, tem um problema curioso:
digissem gêneros mais frequentes como, por exemplo, personalletters, após sofrer um acidente de carro em que leva uma pancada na cabeça,
notes e essays, ou produzissem gêneros orais mais frequentes como, passa a sofrer de um tipo de amnésia que a faz esquecer os aconteci-
por exemplo, jokes, fairy tales e urban legends. E seria inversa essa ló- mentos do dia anterior. Já pensou se nós simplesmente nos esquecês-
gica exatamente pelo fato de tais professores provavelmente terem os semos das coisas que aprendemos no dia anterior, se não armazenás-
conhecimentos textuais necessários para produzirem esses gêneros. semos os conhecimentos que construímos e tivéssemos de aprender
Um ponto importante a ser esclarecido aqui é a separação teórica tudo novamente a cada dia? Seria terrível; seria um verdadeiro traba-
que faço entre os três tipos de conhecimentos, que juntos constituem lho de Sísifo.
os CONHECIMENTOS PRÉVIOS dos usuários da língua. Tal separação Felizmente a realidade é mais generosa com a gente, pois os co-
é um artifício analítico que facilita a apresentação de cada um deles. nhecimentos que construímos ao longo da vida não se perdem: eles
Que fique claro que os conhecimentos linguísticos, enciclopédicos e ficam armazenados em nossas mentes. E esse armazenamento ocor-
textuais entrelaçam-se, imbricam-se e são mobilizados simultanea- re na forma de ESQUEMAS MENTAIS (ou apenas ESQUEMAS)5, que,
mente pelo usuário da língua no momento da recepção e da produção segundo George Yule (1996: 85-86), são estruturas de conhecimentos
de textos. É possível, portanto, perceber que os conhecimentos enci- preexistentes na memória. O termo preexistente aí tem como ponto de
clopédicos implicam conhecimentos linguísticos e conhecimentos tex- referência o ato da recepção ou da produção do texto.
tuais a eles relacionados. Por exemplo, uma advogada conhece gêneros A estruturação dos conhecimentos na mente é objeto de estudo
textuais como petição, contestação e sentença, e domina o jargão ne- da teoria dos esquemas. Chris Anson, Ellen Bommarito e Jeffrey Deu-
cessário para elaborar textos que circulam na forma desses gêneros ser (1983: 197) citam Frederic Bartlett, psicólogo que propôs essa teoria
na esfera jurídica. Em suma, os tipos de conhecimentos são acionados nos anos 1930, para esclarecer um ponto importante: nosso passado é
simultaneamente pelos usuários da língua inglesa. "representado em esquemas: massas ativas e organizadas de informa-
Entretanto, apesar dessa imbricação, durante o planejamento ções em constante desenvolvimento". Em outras palavras, os esquemas
das aulas, o professor precisa considerar cuidadosamente a possibi- mentais são estruturas dinâmicas. Concebê-los dessa forma é impor-
lidade de a falta de um tipo de conhecimento dificultar a realização tante porque isso mostra que os conhecimentos que vamos construin-
das atividades que objetivam auxiliar os alunos a desenvolverem sua do ao longo do tempo podem alterar os esquemas mentais que possuí-
competência em cada uma das quatro habilidades. Essa consideração mos. Por exemplo, em meados dos anos 2000, mediei uma oficina d
é essencial para ele decidir se deve realizar certa atividade ou se deve
modificá-Ia para realizá-Ia ou se deve descartá-Ia. Decidindo realizá-Ia, Em inglês, schema (singular) e schemata (plural).
60 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habllid(l(lus
textos tendem a deixar de fora boa quantidade de informações, prcssu
aperfeiçoamento de professores do Estado da Bahia no Instituto Anísio
pondo que os leitores fornecerão os detalhes a partir de seus próprios
Tcixeira. Eu estava falando sobre esse tema e pedi aos cursistas que
squemas mentais.
me dissessem o que vinha às suas cabeças quando ouviam a palavra
funeraL. Eu estava querendo apenas dar um exemplo de um esquema O professor precisa orientar seus alunos a sempre considerarem
mental conhecido, FUNERAL, para mostrar-lhes a prototipicidade dos os esquemas mentais de seus interlocutores no momento de produ-
lementos que constituem os esquemas. Ouvi o que eu esperava: cai- zirem textos escritos e falados. E ele deve levar em consideração os
xão, defunto, cemitério, missa, velas, flores, choro, tristeza. E, curiosa- esquemas mentais dos seus alunos no momento de planejar suas aulas.
mente, ouvi o que eu não esperava, pois duas cursistas disseram que Pelo fato de os esquemas mentais serem dinâmicos e poderem
também vieram às suas mentes elementos como comida, bebida, ca- variar de pessoa para pessoa, podemos prever, mas sem poder garan-
fezinho, jogo de dominó, jogo de baralho e bate-papo, os quais não fa- tir, que os usuários da língua não mobilizarão exatamente as mesmas
iam parte do meu esquema mental FUNERAL. Eu estranhei aquelas res- informações que nós mobilizamos. Em outras palavras, os usuários da
postas. Porém, as duas cursistas me explicaram que é dessa forma que língua podem ter esquemas mentais construídos de maneiras dife-
os funerais acontecem na sua cidade de origem. Foi aí que finalmente rentes, o que os faz mobilizar informações mais ou menos diferentes
ntendi a expressão beber o defunto. E foi aí que o esquema mental ao ouvirem uma palavra que os remete a determinado esquema men-
FUNERAL que eu armazenara em minha mente modificou-se para aco- tal. Por exemplo, ao ouvir a palavra restaurant, a maioria dos falan-
modar aquelas novas informações, evidenciando a natureza dinâmica tes de inglês imediatamente ativa o esquema RESTAURANT, que os faz
dos esquemas mentais. mobilizar os elementos associados a esse esquema: waitress, waiter,
E o que os esquemas mentais têm a ver com o ensino das quatro menu, food, beverage, biH, tip, table, fork, knife, dish, dessert etc. A mo-
habilidades? Tudo. Anson, Bommarito e Deuser (1983: 197) explicam: bilização desses elementos é resultante das suas idas a restaurantes;
"Os esquemas mentais são moldados pelas experiências e, por sua vez, das imagens de restaurantes que viram em jornais, em revistas, no
guiam nossas percepções da experiência". Ora, isso precisa ser leva- cinema ou na TV; dos restaurantes sobre os quais leram ou ouviram
do em conta pelo professor no momento da preparação das suas aulas falar. Contudo, há pessoas socialmente excluídas que nunca foram a
porque seus alunos podem, por exemplo, produzir um texto com insu- um restaurante. Embora algumas delas possam ter construído o es-
ficiência ou excesso de informações por não levarem em consideração quema RESTAURANT indiretamente por meio de filmes e anúncios pu-
os prováveis esquemas mentais dos leitores ou ouvintes dos seus tex- blicitários, outras podem não possuir esse esquema mental. Daí eu
tos, por não saberem que devem levar em consideração a possibilidade falar em tendência.
de seus leitores e ouvintes perceberem a realidade ou aspectos da rea- Obviamente, os elementos que compõem um esquema mental são
lidade de maneira diferente das suas. E eles não levam isso em consi- prototípicos. No caso do exemplo anterior, isso significa que pessoas
deração por não saberem que só podemos produzir textos adequados com pouco dinheiro, que já foram a restaurantes compatíveis com sua
se nos esforçarmos para prever quais são os prováveis esquemas men- renda, possuem uma ideia de restaurante diferente daquela que pesso-
tais dos leitores ou ouvintes, ou seja, se nos esforçarmos para prever as ricas possuem, embora os elementos gerais e prototípicos do esque-
omo os receptores dos nossos textos concebem suas experiências de ma RESTAURANT estejam presentes nos seus esquemas: menu, chairs,
mundo. Anson, Bommarito e Deuser (1983:197)deixam isso claro: tuble, waiter, waitress, food, beverage, dessert, biU, tip etc. Dessa for-
ma, por exemplo, beverage pode fazer vir à mente uma marca cara d
[...] quando recebemos novas informações, temos uma impressão geral
champanhe ou uma cerveja barata; menu pode fazer vir à mente uma
delas e, então, construímos os detalhes prováveis baseados nos esque-
mas mentais que construímos a partir das nossas experiências. Essa
folha de papel manuscrita ou um conjunto de páginas plastificadas
habilidade é especialmente importante na leitura e na escrita, pois os encadernadas em couro. Enfim, como cada indivíduo cresce e convive
(j 1\11111
do mglôs: do planejamento à avaliação
CAPiTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habllldodos
numa determinada comunidade sociocultural, os esquemas das pesso- ativam esquemas mentais e permitem aos tcítorcs compreenderem ()
as pertencentes à comunidade A podem ser mais ou menos diferentes texto". É por conta dos esquemas mentais que construímos acerca do
dos esquemas mentais das pessoas pertencentes à comunidade B. gênero textual "discurso de formatura" que as pessoas presentes a uma
Imaginemos que uma estudante, Penny, produza este enunciado formatura estranham quando faço um discurso em cordel. Similar-
em um e-maii enviado para uma colega, Amy, que acaba de conhecer mente, os leitores da revista Veja sentiriam um estranhamento inco-
num curso de educação a distância na Califórnia: "Yesterday morning mensurável se lessem um artigo de opinião favorável a Luiz Inácio Lula
I drove to Berkeley, which is near my hometown". Penny não precisa es- da Silva por causa do viés conservador de direita dessa revista.
crever detalhes como estes: I woke up. I took a shower. I had breakfast. Para outros teóricos, os esquemas mentais também englobam
I changed. I grabbed my purse and the car key. I opened the caro I got in conhecimentos linguísticos. Isso é o que ressalta Ya-Jun Zeng (2007:
the caro I started the car and drove to a city called Berkeley, which is not 33-34): "Os esquemas envolvidos na compreensão oral podem ser cate-
the city where I tive, which is located in the state of California, which is gorizados em dois tipos maiores: o esquema de língua e o esquema de
near the city where I was born. E ela não precisa escrevê-los porque ela conhecimento". Fica evidente que o "esquema de língua" corresponde
supõe que Amy já possui os esquemas mentais MORNING, GET UP, TRAVEL, aos esquemas mentais que estruturam os conhecimentos linguísticos,
DRIVE, HOMETOWN e BERKELEY: por mais diferenças pontuais que esses i.e., lexicais, semânticos, fonológícos, morfológícos e sintáticos, e que
esquemas possam apresentar na cabeça de Penny e na cabeça de Amy, "esquema de conhecimento" corresponde aos esquemas mentais que
eles compartilham elementos prototípicos semelhantes que permitem estruturam os conhecimentos enciclopédicos.
um entendimento relativamente previsível da interpretação do enuncia- Portanto, podemos falar de esquemas de conteúdo, esquemas for-
do de Penny por parte de Amy. Além disso, Penny não precisa explicar mais e esquemas linguísticos porque os tipos diferentes de conhecimen-
que a palavra drove implica que ela foi de carro e que foi ela quem dirigiu tos são estruturados na nossa memória de longo prazo para que fiquem
o carro, algo expresso pelo pronome I. Afinal, ela espera que essa infor- à nossa disposição no momento da recepção e da produção de textos.
mação linguística faça parte dos esquemas mentais da sua nova colega. De qualquer forma, enfatize-se que, geralmente, quando se fala de es-
Os esquemas mentais estão estreitamente relacionados aos co- quemas mentais, está-se falando dos conhecimentos enciclopédicos que
nhecimentos enciclopédicos. Não por acaso, quando se fala de esque- um indivíduo possui estruturados em sua memória de longo prazo.
mas mentais, muitos teóricos os relacionam automaticamente a eles. Em suma, as atividades que o professor leva para a sala de aula
Entretanto, para alguns teóricos, os esquemas mentais não se relacio- para auxiliar seus alunos a desenvolverem suas habilidades linguísticas
nam apenas a esse tipo de conhecimento. Nigel Scott (2001), por exem- podem causar dificuldades para os alunos se eles não possuírem os es-
plo, nos informa que os esquemas mentais podem ser divididos em dois quemas mentais relacionados aos temas abordados nessas atividades,
tipos: os esquemas de conteúdo, relacionados aos conhecimentos en- aos gêneros textuais que elas trazem e aos elementos linguísticos que
ciclopédicos, e os esquemas formais, relacionados aos conhecimentos elas contêm. No que diz respeito aos conhecimentos enciclopédicos,
textuais ou conhecimentos das estruturas retóricas. Scott cita John essa dificuldade se potencializa porque os livros didáticos usados nas
Swales para lembrar que, ao abrirem um jornal ou uma revista científi- aulas de inglês costumam ser publicados em outras culturas diferentes
ca, as pessoas esperam encontrar determinados gêneros textuais e es- das culturas dos aprendizes brasileiros. Por essa razão, uma ação da
peram não encontrar outros gêneros textuais. É por isso que, se abrir- qual o professor não pode abrir mão é a preparação dos alunos para a
mos uma revista científica e encontrarmos um anúncio publicitário realização das atividades voltadas para o desenvolvimento das quatro
de uma marca de cerveja, teremos um grande estranhamento. Ainda habilidades. Falarei delas com mais atenção nos próximos capítulos.
citando Swales e Scott (2011)lembra que o processo de leitura "envolve Estreitamente vinculados aos esquemas mentais estão os dois Li-
a identificação do gênero, da estrutura formal e do tópico, os quais pos de processamento cognitivo das informações que ocorrem nos atos
64 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habilidad s
de leitura e de compreensão oral: o PROCESSAMENTOASCENDENTE .ultural comum e acabam criando urna interpretação coerente com ele
ou BOTTOM-UP, aquele em que o leitor se baseia nos seus conhecimen- num texto que potencialmente não permite tal ínterpretaçào.
tos linguísticos para processar as informações, e o PROCESSAMENTO Em 2010, a rede de TV estadunidense CNN mostrou um trecho de
DESCENDENTEou TOP-DOWN, aquele em que o leitor se baseia em uma entrevista em que o comediante Sasha Cohen (aquele que inter-
seus conhecimentos enciclopédicos e textuais para processá-Ias. preta o personagem Borat Sagdiyev) pergunta a Buzz Aldrin, segun-
Mary Kato (1999: 60) traz uma adaptação de um texto original- do homem a pisar na Lua, acerca dos seus sentimentos em relação ao
mente publicado em inglês para testar que tipo de processamento o primeiro homem a pisar lá, tentando confundi-lo: "Do you envy Louis
leitor usa na leitura. Transcrevo esse texto a seguir, pois ele serve para Armstrong?". Mas, o ex-astronauta percebeu a pegadinha e não con-
ilustrar a diferença entre o processo descendente e o processo ascen- fundiu o ex-músico com seu ex-colega Neil Armstrong.
dente no ato interpretativo: Esses dois exemplos servem para evidenciar como os processos
de decodificação funcionam. No caso da quantidade de animais na
Um avião americano que voava de Boston para Vancouver caiu exata-
arca, as pessoas que respondem "Tuio" privilegiam o processamento
mente na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá. Em que país os
descendente e não realizam um processamento ascendente. Se o rea-
sobreviventes devem ser enterrados?
lizassem, perceberiam que a palavra Moses está ocupando o lugar na
Apresentei este texto no I Encontro de Leitura e Escrita do Cam- sentença que deveria estar preenchido pela palavra Noah e descobri-
pus XV da Universidade do Estado da Bahia em 2007, em Valença, e riam o engodo. Já Buzz Aldrin foi mais esperto: não se deixou levar
houve participantes que acharam que os sobreviventes deveriam ser automaticamente pela pergunta frequente sobre a suposta inveja que
enterrados no Canadá, outros acharam que eles deveriam ser enter- sentiria do primeiro homem a pisar na Lua e realizou um processa-
rados nos Estados Unidos e outros questionaram a possibilidade de se mento ascendente, detectando a palavra Louis no lugar da sentença
enterrarem sobreviventes. As reações foram divertidas e, principal- em que deveria estar a palavra NeiL
mente, elucidativas. Zeng (2007: 33) resume a maneira como os dois tipos de processa-
As respostas favoráveis ao enterro dos sobreviventes num ou nou- mento cognitivo da informação ocorrem no ato da recepção linguística:
tro país vieram de leitores que se basearam exclusivamente nos seus Ao encontrarem-se sinais explícitos ou estímulos no meio ambiente (tais
conhecimentos enciclopédicos para responder a pergunta, ou seja, como sons ou imagens), o processamento ascendente é aplicado para
realizaram apenas o processamento descendente. Eles ativaram o es- reunir informações relacionadas à fonologia, ao léxico, à sintaxe e à gra-
quema mental ACIDENTE DE AVIÃO e concluíram, de maneira lógica, que mática para construir um entendimento do que é percebido. Entretanto,
todos os passageiros e tripulantes morreram na queda. Aqueles que o processamento descendente utiliza as experiências e os conhecimen-
questionaram a possibilidade de se enterrarem os sobreviventes foram tos prévios (esquemas mentais) para predizer, filtrar, analisar e interpre-
os leitores que realizaram os dois tipos de processarnento, sendo o as- tar as informações recebidas.
cendente aquele que os fez refletir sobre a pista linguística no texto, Os aprendizes de inglês, principalmente os que se encontram
i.e., a palavra sobreviventes, e se perguntarem: "Oxe! Como assim? En- nos níveis iniciais, tendem a se concentrar nos estímulos linguísticos
terrar sobreviventes?" no momento de realizarem atividades de leitura e de compreensão
George Yule (1996:85) comenta sobre a seguinte pergunta do tipo oral. Ou seja, eles tendem a lançar mão do processamento ascen-
pegadinha: "How many animals of each type did Moses take on the Ark?". dente e a negligenciar o processamento descendente. E isso não é
Ao lerem ou ouvirem essa pergunta, muitas pessoas tendem a respon- interessante, pois os usuários de inglês bem-sucedidos nos atos de
der automaticamente "Tuio", sem prestar muita atenção às palavras que interpretação textual tendem a lançar mão dos dois tipos de proces-
a compõem. Para Yule, essas pessoas acessam algum conhecimento samento da informação.
66 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habilidades 6
Por essa razão, o professor precisa incluir no seu planejamento maneira estanque, scgrcgacionista? l lá, sim. Robin Scarcclla (' Rdw('(';t
das aulas atividades de pré-leitura e de pré-compreensão oral para xford (1992) esclarecem que existem duas perspectivas a partir d'ls
ajudar seus alunos a ativar ou até mesmo a construir esquemas men- quais considerar o ensino das quatro habilidades: a segregaclonlstn (' .1
tais úteis para a realização das atividades de leitura e de compreensão integrativa. De acordo com as autoras:
oral. Nos próximos quatro capítulos, tratarei das atividades que visam
Muitos programas de inglês como segunda língua tradicionalmente St'
preparar os aprendizes para a realização de atividades especificamen-
gregam as habilidades linguísticas para fins instrucionais, frequente
te voltadas para o desenvolvimento da fala, da compreensão oral, da mente destacando apenas uma habilidade de cada vez. Assim, Ircqucn
leitura e da escrita. temente encontramos cursos de inglês como segunda língua rotulados
Do exposto até aqui, fica claro que o desenvolvimento das quatro de "Intermediate Reading", "Advanced Writing" ou "Basic Listening". Essa
habilidades linguísticas depende tanto de conhecimentos linguísticos forma de instrução - incluindo a elaboração do sylLabus, a organizaçao
quanto de conhecimentos enciclopédicos e conhecimentos textuais. do currículo e o nivelamento dos alunos - é geralmente baseada em
Consequentemente, o professor deve sempre tentar prever dificulda- decisões administrativas e práticas em vez de ser baseada em uma teoria
des que seus alunos podem sentir pela falta de algo em um desses três conceitualmente sadia de ensino e aprendizagem de línguas (Scarccllu:
tipos de conhecimento. E uma forma de prever isso e de se preparar Oxford, 1992: 87).
para evitar ou minimizar possíveis problemas é a realização de ativi-
É possível pensar num caso em que uma habilidade seja o úni
dades de preparação para a realização de atividades voltadas para o
co foco das aulas. Refiro-me aos cursos de inglês instrumental" vol .
desenvolvimento das quatro habilidades. Os próximos quatro capítulos
tados para o desenvolvimento da leitura. Geralmente, o professor ll'a
serão dedicados ao ensino de cada uma das habilidades e neles comen-
balha com textos falando em português sobre eles (e sobre vocabu
tarei essas atividades de preparação. Antes, porém, na próxima seção,
lário e gramática), o que faz com que os alunos não pratiquem nem a
preciso falar de algo importante sobre o ensino da leitura, da escrita,
compreensão oral, nem a fala, nem a escrita.
da compreensão oral e da fala.
Afora os cursos de inglês instrumental dessa natureza, realmente
há cursos rotulados a partir de uma habilidade que sugerem segr
2.4 A integração das habilidades gação. Entretanto, como lembram Scarcella e Oxford, na prática, essa
segregação não se concretiza ou se concretiza apenas parcialmente.
Pensei bastante se deveria incluir ou não esta seção. Acabei de-
Por exemplo, em um curso de Advanced Writing, o professor provavel-
cidindo pela inclusão e isso por duas razões. A primeira é o fato de os
mente dá instruções em inglês, o que leva os alunos a praticarem sua
professores de inglês costumarem ouvir falar, em Teachers' Training
compreensão oral, e provavelmente apresenta eventualmente algum
Courses (TTCs), da necessidade de levarem em consideração a integra-
texto escrito para sua leitura servir de base para a escrita sobre d
ção das habilidades no planejamento de suas aulas. Tal necessidade é
terminado tema. Em um curso de Advanced Conversation, o professor
enfatizada, é comentada, sem que geralmente se esclareça aos profes-
pode levar textos para serem lidos ou ouvidos e servirem de trampolim
sores a origem desse tema. A segunda razão é o fato de os capítulos
3, 4, 5 e 6 serem dedicados, respectivamente, à compreensão oral, à
leitura, à fala e à escrita, o que pode causar a impressão de que há uma 6 Note-se que o termo instrumentaL não é teoricamente apropriado para o ensino
de línguas porque traz subjacente a concepção de língua como instrumento de comu
segregação natural das habilidades, que uma não tem nada a ver com a nicação e não a concepção de língua como interação social. Conceber a língua como
outra, que cada uma deva ser tratada isoladamente. instrumento de comunicação implica considerá-Ia um código transparente e não um
fenômeno opaco, como Oswald Ducrot já esclareceu. Sobre essa questão, recomendo
Afinal de contas, por que a íntegração das habilidades é um tema? a leitura do primeiro capítulo do seu livro Princípios de semântica linguística (Dizer ('
Há quem proponha o ensino de cada uma das quatro habilidades de não dizer).
68 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habiliclncluR
para discussões sobre certo tema. Enfim, na prática, a scgregaçao aca- Finalmente, após lermos os diálogos em voz alta (sim, a leitura se limi-
ba nao se materializando nesses cursos. Luvaa isso), praticávamos a escrita no livro de exercícios.
Quanto à impressão de segregação que posso passar ao dedicar Podemos facilmente perceber a falha nessa ideia da segrega-
um capítulo a cada habilidade, ela é exatamente isto: uma impressão. ção das habilidades, pois os usos reais da língua envolvem, pelo me-
E uma impressão equivocada. Afinal, a separação teórica se justifica na nos, duas habilidades. Por exemplo, a fala de uma pessoa implica a
medida em que podemos nos concentrar em aspectos específicos de compreensão dessa fala por parte de outra pessoa - e as duas seguem
ada uma das habilidades para os analisarmos, o que não significa, in- usando as duas habilidades numa conversa. Também há muitas pesso-
sisto, que aspectos de uma habilidade não possam estar estreitamente as que comentam com outras acerca de algo que leram, sendo que esse
relacionados com aspectos de outra(s) habilidade(s). Aliás, vale lembrar comentário pode se dar oralmente ou por escrito. Você pode estar-se
que a fala e a escrita compartilham características por serem habili- perguntando: uma pessoa não pode falar sozinha, o que significa que
dades produtivas, assim como a compreensão oral e a leitura compar- não haveria compreensão oral envolvida aí? Sim. Isso é possível no caso
tilham características por serem habilidades receptivas. Por exemplo, de alguém estar diante do espelho ensaiando uma apresentação oral
quando os alunos realizam atividades para o desenvolvimento da com- para outras pessoas a ouvirem posteriormente ou no caso de alguém
preensão oral (ou da leitura) em que o professor os auxilia a lançarem estar vivenciando um episódio de loucura (mas, neste caso, quem ga-
mão da estratégia de predição e da estratégia de adivinhação cotextual, rante que a pessoa louca não esteja conversando com alguma entida-
eles acabam internalizando tais estratégias e utilizando-as no momen- de fantasmagórica?). Entretanto, raramente uma habilidade linguística
to de realizarem atividades de leitura (ou de compreensão oral). ocorre sozinha.
Algo que contribuiu para a ideia de se segregarem as habilidades Além disso, no que diz respeito a uma suposta sequência natural
linguísticas foi a suposta existência de uma ordem natural de aquisi- de aprendizagem de habilidades no caso da primeira língua, podemos,
ção das habilidades defendida por alguns métodos de ensino de lín- sim, aceitar, com reservas, que uma criança desenvolva primeiramente
guas estrangeiras. Um deles foi o método audiolingual, cujo princípio a a compreensão oral para depois desenvolver a fala e, depois, a leitu-
respeito da sequência das habilidades linguísticas a serem trabalhadas ra e a escrita. E por que digo "com reservas"? Simplesmente porque
em sala é esta: compreensão oral, fala, leitura e escrita. Essa sequência não podemos nos esquecer do fato de que, mesmo não sabendo ler, as
está lastreada na lógica da aquisição da língua materna: "Primeiro ou- crianças estão expostas a textos escritos que as circundam: outdoors;
vimos para depois falarmos; somente depois aprendemos a ler para, em rótulos de produtos; palavras escritas na TV quando sua mãe ou seu
seguida, aprendermos a escrever" (Oliveira, 2014: 100). Estudei em um pai estão assistindo a programas com ela no colo; palavras e frases es-
curso de inglês que seguia essa lógica (imagino que ainda a siga): pri- critas em camisetas e brinquedos; livros infantis e jornais a seu redor.
meiro, éramos apresentados aos sons da língua por meio de diálogos E ao começar a falar, a criança estará imersa em situações de intera-
ilustrados em slides e gravados em fitas de rolo; depois, praticávamos ção verbal em que utilizará a fala e a compreensão oral. Não há, enfim,
a pronúncia e realizávamos driHs. Perceba-se aí a ideia limitada do que um isolamento total, uma segregação completa das habilidades nem no
seja a fala, vista como um meio de internalização de estruturas grama- processo de aprendizagem da primeira língua.
ticais e de aperfeiçoamento da pronúncia. Somente depois disso é que Quanto ao processo de aprendizagem de inglês como língua es-
éramos autorizados a receber o texto impresso com os diálogos: nos- trangeira, a lógica da segregação das habilidades também não fa
so livro didático, produzido pela empresa que detém a franquia, vinha sentido, pois o brasileiro letrado "pode capitalizar os conhecimentos
com um ticket destacável para ser trocado pela unidade impressa com linguísticos que possui de português, mobilizando-os para aprender
os diálogos e com explicações gramaticais, o que nos forçava a não ter uma língua estrangeira e podendo aprender as quatro habilidades
contato com a forma escrita até o momento determinado para a troca. ao mesmo tempo" (Oliveira, 2014: 100). Ora, este é um fato básico ela
70 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPíTULO 2 I Sobre o ensino das quatro habilldodo 71
'lprcnclií';ugcm de línguas: por mais que algum teórico teimoso queira
Vale lembrar que atividades sem o objetivo de prepará-los para outras
nos convencer do contrário, aprender a primeira língua não é a mesma
atividades podem servir como atividades "pré": basta que o professor
oisa que aprender uma língua estrangeira. Daí não ser automática e
consiga fazer uma conexão lógica entre elas.
imediata a analogia entre a sequência de aprendizagem das habilida-
De qualquer forma, vale registrar que o professor tem nas ativida-
des na primeira língua e a sequência de aprendizagem das habilidades
des "pós" excelentes oportunidades de promover a integração de ha-
numa língua estrangeira.
bilidades. Por exemplo, após realizar uma atividade de compreensão
Em suma, apesar de ser possível analisar o ensino de cada uma
oral, ele pode preparar uma atividade voltada para o vocabulário usado
das quatro habilidades separadamente, é extremamente raro se utili-
no texto, apresentando o tapescript impresso (ou em síides) para os
zar uma única habilidade sem envolver outra. Por essa razão, ao plane-
alunos. Uma atividade de leitura pode ser seguida por uma atividade
jar suas aulas, o professor deve sempre propor atividades que envolvam
de produção textual tendo como tema o mesmo abordado na atividade
pelo menos duas habilidades. É, por exemplo, o caso do ditado: con-
de leitura. Enfim, são várias as possibilidades que o professor tem para
forme nos explica Miguel Sánchez (2000: 30), "quando os procedimen-
promover a integração de habilidades nos estágios de pós-compreen-
tos do ditado são empregados para reprodução, duas habilidades estão
são oral, de pós-leitura, de pós-fala e de pós-escrita.
sendo exercidas ao mesmo tempo: compreensão oral e escrita".
Vamos agora ao próximo capítulo, que trata do ensino da compreen-
Miguel Sánchez ainda nos diz algo bastante útil: "O input linguís-
são oral.
tico deve ser usado como um trampolim para a produção dos alunos"
(Sánchez, 2000: 38). Assim, o professor pode planejar uma atividade
de compreensão oral seguida por uma atividade de fala e/ou de escri-
ta, ou uma atividade de leitura seguida por uma atividade de fala e/
ou de escrita. O corolário disso é que uma forma de promover a inte-
gração das habilidades é realizar, além das atividades especificamente
voltadas para o desenvolvimento de determinada habilidade, atividades
"pré" e "pós" que envolvam outra habilidade. Por exemplo, em inglês,
podemos pensar em pre-Listening activities e posHistening activities,
que envolvam fala, leitura ou escrita.
Nos próximos quatro capítulos, dedicados a cada uma das habili-
dades, haverá uma seção específica sobre o papel das atividades "pré",
mas não haverá uma seção especificamente voltada as atividades "pós".
Essa minha decisão se deve ao fato de as atividades "pré" estarem inevi-
tavelmente vinculadas às atividades de desenvolvimento da habilidade
em foco e ao fato de as atividades "pós" não o estarem necessariamen-
te. Assim, por exemplo, uma atividade de pré-compreensão oral deve
obrigatoriamente preparar os aprendizes para realizarem determinada
atividade de compreensão oral, mas as atividades do estágio de pós-
-compreensão oral podem focar algo apenas perifericamente relacio-
nado ao que foi abordado na atividade de compreensão oral, como, por
exemplo, o desenvolvimento do conhecimento lexical dos aprendizes.
TRAIN
PLANE
~\
CAR
TRIP
-. \/
HOTEL HOSTEL
ACCOMMODATION
MOTEL
-:
INN
3.2 Miero-habilidades de compreensão oral
BAGGAGE \~PACK
MUSEUM
/ v -.
CHURCH MONUMENT
praticada quando leva uma atividade para a sala de aula.
Nesta seção, destaco micro-habilidades de compreensão oral ('
comento apenas de passagem algumas atividades. A razão disso é que
Essa miero-habilidade é a BUSCA POR INFORMAÇÕES ESPECÍFI- - Yeah. 1married my accountant, Josh. He's Rachel's brother.
CAS. Ela leva o ouvinte a realizar o processo de decodifieação ascen- Remember Rachei?
dente, em que o ouvinte estabelece palavras-chave que vão direcionar - Sure. She lived down the street where we lived. How's she?
sua atenção no momento de ouvir o texto. O professor precisa for- - She's great. She opened a restaurant here is San Francisco,
necer a seus alunos oportunidades de prátiea dessa miero-habilidade
the Tropical Palace, and married Laura. She is also the chef of
the restaurant.
Disponível em: <http://www.englishclub.comjenglish-for-workjairline-an- - Laura? Is she the Laura who graduated a year before us?
nouncements.htm>; acesso: 17jun. 2015.
II
ter a ler um texto que não escolheram, um texto que alguém escolheu século XXI: as operadoras ainda praticam preços cscorchantcs, excluiu
para eles lerem. do muitas pessoas desse acesso, especialmente diante da precoce de
Para superar ou minimizar essa dificuldade, o professor precisa saparição das Lan houses. Outros recursos importantes são o ovo c a TV
informar a seus alunos quais os objetivos da leitura que eles vão reali- por assinatura, excelentes para a prática da compreensão oral.
zar caso esse objetivo não venha expresso no comando das atividades Além disso, o texto escrito é mais concreto do que o texto fala
de leitura constantes no livro didático adotado. Afinal, sempre se lê um do. Ele é duradouro e subsiste diante dos olhos do aprendiz, que pode
texto com algum objetivo. Se não fizer isso, o professor correrá o risco lê-lo, relê-Io, relê-Io de novo, observando cuidadosamente trechos c
de deixar acontecer uma situação, infelizmente, frequente: seus alunos palavras, algo que geralmente não pode fazer com o texto falado. Os
acabam tendo de ler um texto sem objetivos, apenas porque o profes- textos escritos têm outra vantagem de logística em relação aos textos
sor lhes disse para lerem. E isso pode provocar resistência. Quando os falados: eles podem ser lidos confortavelmente em ônibus, aviões, na
objetivos da tarefa pedagógica estão claros, possíveis resistências por praia. E isso não acontece com a mesma comodidade em relação aos
parte dos alunos tendem a ser minimizadas. textos falados por conta, principalmente, do acesso ainda não demo-
É importante fornecer aos alunos uma razão para a leitura por cratizado a redes wi-fi.
uma questão de gerenciamento didático. Como lembra Christine Nut- Em comparação com a escrita, a leitura se torna mais fácil até
tall (2001: 154), "na maioria das salas de aula, não é viável os alunos es- por causa da dificuldade que os brasileiros enfrentam para desenvol
colherem seus próprios textos. Ter de ler textos escolhidos por outra ver sua habilidade de escrita na própria língua materna. Essa díficul
pessoa levanta uma questão: por que os alunos devem ler e querer ler dade, que faz com que muitos professores universitários se queixem
tais textos?". Portanto, é recomendável que o professor sempre expli- da falta de proficiência escrita dos estudantes recém-ingressados nos
cite o(s) objetivo(s) da atividade de leitura que seus alunos realizarão. cursos superiores, acaba resvalando no desenvolvimento da escrita
Se comparada às outras três habilidades linguísticas, a leitura em língua inglesa.
se configura como a mais fácil de ser desenvolvida pelos aprendizes Em relação à fala, a leitura se apresenta também como uma habi-
brasileiros. Percebemos isso no discurso de pessoas que já estuda- lidade mais fácil de ser desenvolvida porque não exige a construção de
ram inglês e que costumam fazer o seguinte comentário: "Eu consi- enunciados em tempo real e não requer o concomitante cuidado com a
go ler bem, mas falar e escrever pra mim é complicado". Geralmente pronúncia. A fala não permite muito tempo de reflexão sobre o que está
essas pessoas sequer mencionam a compreensão oral, a mais difícil sendo enunciado, diferentemente da leitura, que permite ao leitor retomar
de ser desenvolvida. partes do texto mais de uma vez no processo de construção de sentidos.
Historicamente, o aprendizado da leitura em línguas estrangeiras Entretanto, considerar a leitura mais fácil de ser desenvolvida do
sempre foi um processo menos complicado por conta de alguns fatores. que as outras três habilidades não significa que ela seja fácil de ser de-
Um deles era o fato de o acesso a textos escritos ser bem mais fácil do senvolvida. A leitura é uma habilidade complexa, que depende profun-
que o acesso a textos falados. Quando comecei a estudar inglês no final damente dos conhecimentos prévios do leitor, sem os quais a produção
dos anos 1970, a única possiblidade de ouvirmos textos em inglês fora de sentidos se torna difícil ou até mesmo impossível.
da sala de aula era nas salas de cinema (que não eram chamadas de "sa- Diante das dificuldades que os aprendizes podem encontrar, o
las" naquela época e que não tinham som DoLby Stereo=) e na rádio AM, desenvolvimento da sua capacidade leitora exige do professor o pre-
quando conseguíamos arduamente sintonizar na BBC, que chegava até paro cuidadoso de atividades que contribuam para o desenvolvimen-
nós com um sinal muito ruim. Hoje a internet potencializa o acesso a to de micro-habilidades de leitura. Pensando no papel do professor na
textos falados. Digo "potencializa'' porque não compartilho da ideia de promoção do desenvolvimento da capacidade leitora dos seus alunos,
democratização do acesso à internet no Brasil nesta segunda década do organizei este capítulo da seguinte forma: inicialmente, abordarei a
the hedge que remete o leitor ao destino do veículo; AUTHORIZED personnel-da nger-sig n-s-
(d) o esquema mental ACIDENTE DE VEÍCULO é ativado na mente PERSONNEL ONLV 0693g.png/>;
acesso: 17 ago. 2014.)
do leitor e reforçado com a relação que se estabelece entre o
conceito several passengers e o conceito be hurt, que expres-
THE GREAT SPHINX
sa uma consequência negativa sofrida no corpo dos indivíduos
The greatest mystery of An-
representados pelo conceito severat passengers, que desem-
cient Egyptian mysteries is
penha o papel temático de paciente;
also the largest monolithic
(e) o conceito question estabelece uma relação com os conceitos
statue and the oldest known
the poíice e the driver, indicando ao leitor, por meio da voz ver-
monumental sculpture in the
bal utilizada, quem é o sujeito e quem é o paciente da ação
world. When was it built, for
expressa por questiono
what purpose, which pharaoh
Essa breve análise evidencia como a construção da coerência de-
does it represent, and who broke the nose? Any answer is a
pende dos conhecimentos prévios do leitor, pois as relações estabele-
matter of conjecture. Egyptologists have not found any conclu-
cidas entre os conceitos dependem profundamente de suas experiên-
sive evidence. No matter. The Great Sphinx of Giza is a wonder
cias de mundo. A análise mostra também o quanto eu tive de escrever
to behold. (Disponível em: <http://en.egypt.travel/attraction/
para explicitar, sem pormenores, mecanismos de produção de sentidos
index/the-great-sphinx>; acesso: 19 ago. 2014. Imagem: acer-
que ocorrem na mente do leitor em uma fração de segundo.
vo pessoal.)
Em suma, o professor de inglês precisa ter consciência de que a
coerência textual não está no texto nem no leitor, pois ela surge (ou não) THE ROLE OF THE HIGGS BOSON
a partir do encontro desses dois elementos. Ele precisa ter em mente The Higgs boson was the last particle of the Standard Model
que uma concepção imanentista de coerência não procede porque ne- to be discovered. It is a critica I component of the Standard
nhum texto é inerentemente coerente ou inerentemente incoerente. Model. Its discovery helps confirm the mechanism by which
find in the texto Write on the board the words they say. Give out clear preparations and beats, and to listen critically and shape
the texts and ask them to check if those words are in the texto the sound of the ensemble. Conductors act as guides to the or-
chestras they conduct. They choose the works to be performed
READING ACTIVITY: Tell the students to read the following and study their scores to which they may make certain adjust-
questions and then read the text to answer them:
ments, work out their interpretation, and relay their ideas to the
1. How many players does an orchestra have? performers. They may also attend to organizational matters,
2. What's the difference between a symphony orchestra and such as scheduling rehearsals.
a philharmonic orchestra?
3. What do conductors do? Creio que os exemplos dados até aqui sejam suficientes para ilus-
4. What words in the text refer to the people who play the trar a importância de o professor realizar atividades de pré-lcitura
instruments? para ajudar seus alunos a se prepararem para as atividades de leitura
se paper, chemicals, petrochemicals and minerais, among many 1. The federal government should repeal the ban on marijua-
other products, and it boasts three large seaports strategically na. The social costs of the marijuana laws are vasto There
located along the midriff of the Brazilian coast, Salvador, Aratu were 658,000 arrests for marijuana possession in 2012, ac-
and Ilhéus. Fifty-one percent of the basic petrochemicals produ- cording to F.B.I.figures, compared with 256,000 for cocaine,
ced in Brazil come from the Camaçari Petrochemical Complex heroin and their derivatives. Even worse, the result is racist,
in Bahia. Gold, copper, dimension stones, barite, rock salt and falling disproportionately on young black men, ruining their
manganese are just of minerais found and mined in the state. lives and creating new generations of career crirninals".
To help realize the State's full business potential, Bahia has 2. My best friend is Lenka. She is small and quite slim. She
created specialized bureaus to aid potential investors in ali has got an oval face with bright blue eyes and a big mouth.
these areas, as well as tourism. Come to Bahia and find a good She has long brown wavy hair but she usually wears it in a
clirnate, for investment that is! ponytail. She is quite beautiful, especially when she srniles'.
Em atividades como essa, o professor precisa incentivar os alunos 3. Nicotine is a drug that is naturally present in the tobacco
a explicarem por que a segunda alternativa é a correta e as outras, plant and is primarily responsible for a person's addiction
erradas. Essa discussão, após uma atividade de escolha de título para to tobacco products, including cigarettes. During smoking,
um texto, é importante para ajudar os alunos a ganharem confiança na
busca das ideias centrais dos textos. Parágrafo adaptado de um editorial do jornal New Yore Times disponível em:
O professor pode considerar também as atividades voltadas para <http:j /www.nytimes.com/interactive/2014/07/27/opinion/sunday/high-time-mari-
juana-legalization.html>; acesso: 2 jul. 2015.
a busca da função de parágrafos, como, por exemplo, descrever algo 5 Disponível em: <http://www.essayforum.com/writing-3/best-friend-lenka-de-
ou alguém, defender um ponto de vista, apresentar razões para algo, scription-person-16612/>; acesso: 2 jul. 2015.
bloodstream and travels to the brain in a matter of seconds. pendent nation yesterday in the Scottish independenc
Nicotine causes addiction to cigarettes and other tobacco referendum.
products that is similar to the addiction produced by using
SCOTLAND SAYS 'NO' IN INDEPENDENCE REFERENDUM
drugs such as heroin and cocaine".
Friday, September 19/ 2014
Em atividades desse tipo, é importante o professor solicitar aos
alunos que justifiquem suas respostas. Isso ajuda os que acertaram a __________________ .The country is to
reforçar seus raciocínios e ajuda os que erraram a entender o porquê remain part of the United Kingdom. In a turnout of 84.6% of
do erro. some 4.3 million eligible voters, 55% voted against and 45%
Outra atividade voltada para a busca da ideia central de parágrafos voted for the proposition "Should Scotland be an independent
é aquela em que o primeiro período de cada parágrafo de um texto é country?".
retirado do parágrafo e colocado junto com os outros períodos fora de
__________________ . Overnight, af-
ordem, cabendo aos alunos a tarefa de associar cada período a seu res-
ter the first result was announced at 1:30 a.m., the "No" vote
pectivo parágrafo. A seguir, apresento um exemplo desse tipo de ativi-
slowly edged ahead. Just after 6:00 a.m., with the declaration
dade apropriado para aprendizes no nível avançado de pr oficiência. Ele é
of the results for Fife, the "No" campaign attained an unassaila-
baseado numa adaptação do texto Scotland says 'No' in ínriependence re-
ble lead. With the final declaration by the Highland Council this
jerendum? (para seu controle, a ordem correta das respostas é 4-3-2-1).
gave a final total of 1/617/989 "Yes" and 2/001/926 "No" votes.
READING ACTIVITY: Tell the students to match the sentences
__________________ . On the eve of
below to the paragraphs that follow them.
the referendum this had narrowed to "No" 45%/ "Yes" 41% with
1. On the package of greater devolved powers for Scotland 14% remaining undecided. With a greater margin than recent
promised late in the day to the Scottish people, David Ca- polls had suggested the majority of these undecided voters ul-
meron, Prime Minister of the United Kingdom said: "We will timately voted "No" to win it for the pro-union campo
ensure that those commitments are honoured in full."
_________________ . He added that
2. When the referendum was announced in March of 2013 "We have delivered on devolution and we will do 50 in the next
Australia's ABC reported that opinion polls showed only parliament." Promising that in delivering the "vow" a parallel
30% of the Scottish population supported independence, process will address the West Lothian question and work to-
with 50% favouring the preservation of the Union. wards greater devolution of powers to Wales, Northern Ireland,
and at Westminster, English only votes on English issues.
3. Polling stations opened at 7.00 a.m. on the 18th with queues
outside some of the 5/579 stations, and many were busy Cameron must now negotiate with the Westminster parties and
until the polls closed at 22.00 p.m. convince them - especially some within his own party - to
pass legislation through Westminster to enable this before the
March 2015 date promised.
Disponível em: <http://www.cancer.gov/cancertopics/factsheetjTobacco/cessa-
tion>; acesso: 21 set. 2014.
o Disponível em: <http://en.wikinews.org/wikijScotland_says_%27No%27 _in_in-
No capitulo anterior, tratei de uma micro-habilidade de compreen-
dcpendence_referendum>; acesso: 22 jun. 2015. são oral muito importante: a REALIZAÇÃO DE INFERÊNCIAS ou
inglês e em TTC's. Duvido que algum professor brasileiro pretenda que hop - hope sit - site mad - made cut - cute
seus alunos adotem o paradigma verbal do ebonics para o simple pre- cop - cope shin - shine hat - hate jut - jute
sent ou a forma ain't para o verbo to be. Duvido também que algum
professor brasileiro pense no jamaicano ou na irlandesa ao ouvirem Contudo, os livros didáticos produzidos fora do Brasil não apre-
"falante nativo". Simplesmente, não é esse o esquema FALANTE NATIVO sentam os problemas que os aprendizes brasileiros costumam ter ao
que a maioria dos professores brasileiros de inglês possui. produzirem os sons em inglês. O professor é quem tem de planejar ati-
É preciso estar claro na cabeça dos professores de inglês que os vidades voltadas para tais problemas ou abordá-los incidentalmente à
alunos precisam aprender a pronunciar as palavras de forma inteligí- medida que eles surgirem na sala de aula. Vejamos alguns deles.
vel, de maneira que sejam entendidos. Afinal, eles não precisam apren- Um problema bem conhecido dos professores é a produção das
der a pronunciar as palavras como um falante nativo, que, como vimos, consoantes fricativas interdentais surda j8j e sonora jôj, que, res-
um conceito escorregadio, vago. O sotaque não é relevante para a pectivamente, são os sons do dígrafo th de thanks e there. Os apren-
interação com outros falantes, desde, que, repito, ele não interfira na dizes brasileiros têm dificuldade para reproduzir esses sons por uma
inteligibilidade. razão muito simples: esses sons não existem no português brasileiro.
Aliás, há, nesta discussão sobre pronúncia e falante nativo, uma Assim, eles acabam substituindo esses sons por outros: /v/, jfj, jsj,
questão identitária muito importante. Em 1998, participei da Laurels jz/, jt/, jd/ Por isso, o professor precisa falar com seus alunos sobre
Tcacher Trainers' Convention em Maceió, e tive a oportunidade de ou- esses dois sons, orientá-Ios acerca de como pronunciá-Ios e rnonitorur
vir Rod Bolitho comentar sua proficiência em alemão. Ele disse que, ao essa produção.
D
e vez em quando, estudantes universitários
tar para algo ou alguém, fazer mímica são formas legítimas de que o / me perguntam onde fazer um curso de inglês
falante dispõe para superar problemas de comunicação. E os aprendi- I que os ajude a desenvolver sua habilidade de
zes precisam saber disso. leitura para que possam fazer a prova de língua cs
O desenvolvimento dessas cinco micro-habilidades é fundamental trangeira da seleção de determinado programa de
para o desenvolvimento da habilidade de fala dos aprendizes. No próxi- pós-graduação. Já tive alunos particulares que que
mo capítulo, trato do ensino da outra habilidade linguística produtiva: riam apenas desenvolver a fala para viajar e se comu
a escrita. nicar em situações típicas que envolvem os turistas,
como, por exemplo, pedir pratos e bebidas em restau-
rantes e bares, comprar roupas e sapatos, alugar car
ros, buscar atendimento médico emergencial. Esses
dois grupos de aprendizes claramente não desejavam
desenvolver a escrita. É um não desejo legítimo, em-
basado em necessidades imediatas e pontuais.
Contudo, os aprendizes brasileiros de inglês em
geral não focam o desenvolvimento desta ou daquela
habilidade: em suas aulas de inglês, o foco é o desen-
volvimento da sua competência comunicativa. Inevi-
tavelmente, o desenvolvimento da competência co-
municativa dos aprendizes passa pelo desenvolvimen-
to da habilidade de escrita, que deve ser vista com
uma habilidade linguística a ser desenvolvida.
Isso parece óbvio, não é? Conceber a escrita
como uma habilidade linguística a ser desenvolvida
parece óbvio. O problema é que, durante muito tempo,
vante para si. Fica claro que não podemos escrever um texto sem saber it is written in red ink, it is false". After a month, his friends get Lhe first
para quem o fazemos e, ao mesmo tempo, acreditar que escreveremos letter. Everything is in blue. It says, this letter: "Everything is wondcr
fui here. Stores are full of good food. Movie theatres show good films
eficientemente um texto adequado. É por essa razão que os alunos pre-
from the west. Apartments are large and luxurious. The only thing you
cisam ter consciência de que não podem escrever o que quiserem para
cannot buy is red ink". This is how we live. We have all the freedoms wc
quem quiserem: seus textos podem não ser aceitos pelo leitor porque a
want. But what we are missing is red ink: the language to articulate ou r
linguagem está inadequada, porque suas ideias são impróprias, porque
non-freedorn. The way we are taught to speak about freedom - war on
a norma linguística usada não é a esperada, porque o tema é impróprio.
terror and so on - falsifies freedom. And this is what you are doing her v.
Vejamos um exemplo, um caso real que aconteceu no dia 20 de
You are giving all of us red ink (Zizek, 2014).
dezembro de 2013. Justine Sacco, então executiva da empresa InterAc-
tive Corp, publicou a seguinte mensagem na sua conta de Twitter antes A censura é a situação mais extrema de limitação imposta à es-
de embarcar em uma viagem para a Cidade do Cabo, na África do Sul: crita e faz com que as pessoas tomem consciência da importância da
situacionalidade, mesmo que não conheçam esse conceito teórico. F
Going to Africa. Hope I don't get AIDS. Just kidding. l'rn white!
usar a cor da tinta como um código para driblar a censura foi uma ídcín
Se analisarmos a linguagem do seu post, veremos que não há pro- genial. Essa piada serve para ilustrar que devemos escrever um texto
blemas de sintaxe ou de vocabulário. O problema está no discurso pre- pensando sempre no seu contexto de recepção, mesmo que não este
conceituoso, extremamente racista. Seu post se tornou viral, e os leito- jamos (graças a Deus!) numa ditadura.
res a criticaram acerbamente. O resultado disso foi sua demissão. Aliás, por vivermos num ambiente em que a liberdade de exprcs
Os aprendizes precisam estar alertas à adequação dos seus textos são vige, precisamos ter cuidados com os limites que devemos res-
às expectativas do leitor. E isso implica saber, por exemplo, quando po- peitar para que nossos textos funcionem adequadamente. Faço ess
dem e quando não podem contrair palavras (e.g., I'H,doesnt't, would've), alerta porque, infelizmente, há pessoas que confundem liberdade de
usar gírias (e.g., roach, beats me, bitchy) e expressar preconceitos. expressão com liberdade de discriminar, de ofender e de disseminar
O terceiro elemento pragmático de textualidade é a SITUACIONA- ódios de naturezas diversas. Enfim, a situacionalidade deve estar pre-
LIDADE, que diz respeito aos fatores contextuais de recepção do texto. sente na cabeça dos alunos no momento de planejarem sua escrita.
Ela está estreitamente vinculada à intencionalidade e à aceitabilidade, A INFORMATIVIDADE é o quarto elemento pragmático de tex-
pois o produtor textual precisa construir um texto para atingir deter- tualidade e diz respeito ao grau de previsibilidade dos elementos que
minado objetivo pensando não apenas em como o leitor vai reagir ao compõem o texto, tanto as estruturas sintáticas e o vocabulário quan-
texto, mas também no contexto situacional de recepção do texto. to o tema, os tópicos relativos ao tema e a forma do texto. Os alunos
No dia 16 de dezembro de 2013, jovens realizaram uma manifes- precisam saber que um texto com baixa informatividade é aquele que
tação em Wall Street como parte do movimento Occupy Wall Street, possui tantos elementos previsíveis que o leitor acaba ficando entedía-
para protestar contra a crise financeira e econômica estadunidense. do e impaciente, pois um texto redundante, que não progride tema-
Slavoj Zizek estava presente e discursou. No seu discurso, ele citou ticamente, é realmente muito chato. Já um texto com uma inforrnati-
uma piada dos tempos do comunismo, ou do suposto comunismo, da vidade elevada apresenta tantos elementos imprevisíveis que o leitor
União Soviética. Essa piada toca exatamente na questão da sítuaciona- acaba sentindo dificuldade para entendê-Io, Ambos os casos não são
lidade e, por isso, apresento-a a você: interessantes, pois o ideal é que haja uma informatividade média, ou
REAO THE PARAGRAPH BELOW ANO CORRECT THE SPELL- Mais uma diferença importante entre inglês e português diz res-
ING ANO PUNCTUATION MISTAKES VOU FINO. peito à presença de palavras que expressam sentido negativo, como
mary smith lives kalifornia but is originaly from new yorke she is not, never, nobody, hardly ever e seldom, no início da oração. Em portu-
a doktor at los angeles general hospital she lives with her son
guês, uma palavra negativa no início da oração não tem implicação ne-
peter hes a studente and works part time as a waitre at marys nhuma para a ordem das palavras, diferentemente do que acontece em
friends restaurant inglês. Conforme observamos nos exemplos que seguem, a presença
de uma palavra negativa no início da oração provoca a inversão entre o
A ORDENAÇÃO CORRETA DAS PALAVRAS é outra micro-habili- sujeito e o verbo auxiliar (o único verbo principal que sofre a inversão
dade de escrita que os aprendizes precisam desenvolver. E ela é muito é o verbo to be):
importante por causa das diferenças entre o inglês e o português, que 5. Hardly had I arrived at the beach it started to rain.
devem ser comentadas pelo professor para que seus alunos tenham 6. Never have I seen something so weird.
172 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 6 I o ensino do usei 11/1 1/:1
.sscnctal para a construção, tanto da compctcncia gramatical, quanto writing about?', we are not going to dismiss that curiosity as irr
da competência discursiva deles. levant or impertinent. It seems reasonable for us to make expli
Vejamos dois exemplos de atividades voltadas para a prática do cit, for instance, that of us identifies as heterosexual:
uso de conectivos. O primeiro é uma atividade de preenchimento de that we are, respectively, a lesbian and a gay manoThis is rele-
lacunas em que os aprendizes devem optar por um conectivo que não vant information for our readers to have, it would be
apenas expresse a ideia correta, mas que também se adeque à posição strange if our views on sexuality had not been affected signifi-
na oração e à pontuação: cantly by our status as members of sexual minorities. Our who-
le outlook on life is affected by that status by other
FILL IN THE BLANKS WITH AN APPROPRIATE LOGICAL social characteristics we happen to have in common, such as
CONNECTOR. being white, having received an elite academic education, and
belonging to the generation that came of age in the late 1979: a
1. It was raining, Sean didn't go to the beach. decade after Stonewall, a decade before Oueer Nation.
2. it was raining, Sean didn't go to the beach. ____ while this biographical information may help the rea-
der to situate our ideas and arguments, it does not in and of itself
3. It was raining. , Sean went to the beach. explain why we think what we do. There are plenty of people who
4. Sean didn't go to the beach it was raining. could say exactly the same things about themselves that we have
just said about ourselves, who would not bythattoken
5. the rain, Sean didn't go to the beach. subscribe to the same opinions. Clearly, educated white non-he-
terosexuals in their forties are not a homogeneous group. Even
6. the rain, Sean went to the beach.
as a group of two, we have our differences and disagreements.
7. Sean went to the beach it was raining. ANSWERS: although /neither / since / and / yet / but
(POSSIBLE ANSWERS: 1.50 2. 5ince 3. However 4. Because Outra micro-habilidade de escrita é a ESTRUTURAÇÃO INTERNA
5. Because of 6. Despite 7. Although)
DO PARÁGRAFO. Isso inclui a capacidade de ordenar logícamente as
orações e a capacidade de não inserir no parágrafo informações des-
O segundo exemplo é um doze baseado em um trecho do prefácio
vinculadas de seu tópico.
do livro Language and Sexuality, de Deborah Cameron e Don Kulick
(2009: xv): O tipo de atividade mais desafiador para praticar a ordenação de
orações em um parágrafo é aquele em que as orações são retiradas da
Below there is an excerpt from the preface of the book Lan- ordem, e os aprendizes devem ordená-Ias num parágrafo adequada-
guage and Sexuality, written by Deborah Cameron and Don mente organizado. E para mostrar a você como o professor pode ela-
Kulick. Some connectors were deleted. Read it and fill in the borar atividades desse tipo, vou usar o parágrafo que usei no início do
blanks with an appropriate connector from this Iist: but, yet, capítulo para falar sobre tópico frasal e que é apresentado no livro de
and, since, neither, although. Frydenberg e Boardman (1990: 19):
____ we are critical of contemporary identity politics, we
Put the sentences below in the right order to form a paragraph.
recognize that our identities have a bearing on our scholarly
() I woke up late in my small hotel room.
work. If readers feel impelled to ask, 'who are these authors and () Little did I know that this would be my worst day, so I had
from what kind of experiences do they come to subject they are nothing but good days to look forward to.
one-twelfth of a London worker's weekly salary. The second vives flight in wheel well or Boeing 737. Put them in the right order
were the preserve of rich city merchants and the nobility. ( ) Stowaways in wheel wells risk freezing to death after take off
3. The United States is rich in natural resources. It is a leading or being crushed when the wheels retractoThis year, a body
producer of fuel - of oil, natural gas, and coal. It is also a was found in the wheel well of a jet in San Francisco after
leading copper, gold, aluminum, iron, and lead. Its coastline a flight from Shanghai and another body was found in At
is stunning and attracts a lot of tourists. The United States lanta after a flight from Dakar, Senegal.
grows wheat, corn, and other crops and raises many cows, ( ) The boy was delivered to the hospital by the airport staff
pigs, and chickens. and is said to be in a critica I condition. His arms and legs
were 50 severely frozen and swollen that the rescuers were
Em 1,a ideia-controle do parágrafo é o surpreendente crescimen- not able to remove his coat and shoes. There is a probability
to da cidade de Londres na época de Shakespeare: não é sobre a in- that his hands may have to be amputated. However, accord
fância de Shakespeare. Logo, a segunda oração se configura em fuga ing to the medical staff at the hospital, it is nothing short of
temática. Em 2, a fuga temática também se encontra na segunda ora- a miracle that the boy survived the ordeal. The Boeing 73
ção, que traz uma informação sobre um habby de Shakespeare, o que has a cruising speed of 900 kilometres per hour and was fly
não tem nada a ver com a ideia-controle do parágrafo: a popularidade ing constantly at an altitude of 10,000 metres for two hours.
dos teatros por conta da gama variada de preços dos ingressos. Em 3, As a result, the boy suffered severe frostbite in both of his
a ideia-controle do parágrafo é a riqueza estadunidense em termos de hands. Doctors in Ural city would have to remove his finger
recursos naturais. Logo, a informação acerca de a orla marítima atrair tips, which contracted gangrene after they had frozen, but
muitos turistas é uma fuga temática. O professor precisa discutir as they were committed to do everything within their power to
respostas a questões de atividades desse tipo com os alunos, pois essa stop it from spreading.
discussão é importante para eles terem consciência das razões que ( ) When Scherbakov finally came to his senses, he told the po-
justificam a estruturação interna dos parágrafos. lice that he had run away from his family 50 as to escape his
A ORDENAÇÃO LÓGICA DE PARÁGRAFOS é uma micro-habilida- alcoholic father. He said that he was wandering around the
de fundamental para os aprendizes produzirem gêneros textuais como territory of the airport and noticed a hole in the fence. He
ensaios, artigos e monografias. Um tipo de atividade voltada para o fell asleep during his examination of the stowaway of the
desenvolvimento dessa micro-habilidade é aquela em que se desfaz a plane. He woke up when the plane was already flying. It is
sequência lógica dos parágrafos de um texto para que os aprendizes a curious how the inspection staff and the technicians found
refaçam corretamente. nothing on their inspection of the aircraft just before the
Ao levar uma atividade dessas para a sala de aula, o professor deve flight. The boy claims that he fainted soon after and came
orientar seus alunos a prestarem atenção a conectivos, pronomes, around only when the plane had landed in Moscow after
tópicos, todos úteis na tarefa de buscar a sequência lógica dos pará- traveling hundreds of kilometres from Perm.
grafos. Para ilustrar esse tipo de atividade, apresento um exemplo que ) A Russian teenager has accomplished an unprecedented
criei a partir do texto Bay Survives FLight in Wheel WeU af Baeing 7374: feat in the history of world aviation. He flew a distance of
1,300 kilometres in a wheel well of a Boeing 737 and lived.
The fifteen year old Andrey Scherbakov spent two hours
Disponível em: <http://en.wikinews.org/wiki/Boy_survives_f1ight_in_whee1_
well_oCBoeing_737>; acesso: 22 jun. 2015. in the wheel well of the airplane at extreme temperature
amo Do jeito que está escrito ali, esse modificador tem como referente Realmente, a escrita colaborativa é difícil de ser realizada. Multas
the waitress. Para corrigir esse tipo de erro, basta mover o modificador vezes, vemos artigos sendo feitos por duas pessoas desta forma: uma
para próximo do seu referente: laz algumas seções e a outra faz outras. Ou seja, é uma escrita indivi
o The waiter served Maria a bowl of ice cream covered with choco- dual de partes unidas para formar um todo. Se as duas escrevem uma
late syrup and strawberries. mesma seção, isso significa que uma faz uma parte e a outra faz ores
t ante. É mais complicado as duas escreverem juntas uma mesma scçao,
(I) MODIFICADORES PENDURADOS:
pois é preciso muita harmonia entre elas, tanto na maneira de pensa r
o As a child, my mother would take me to the movies on Sunday
(' de redigir quanto no saberem lidar uma com a outra, aceitando e re-
mornings.
cusando pontos de vista e sugestões. É mais fácil a colaboração acon
Podemos observar que As a child parece estar modificando my
tecer na revisão textual: a revisão se torna mais eficaz quando uma
mother. Apenas parece, pois, se estivesse, a sentença estaria semanti-
pessoa revisa a parte que a outra fez pelo distanciamento que se tem
camente errada. Afinal, como é que uma mãe iria levar o filho ao cine-
da parte que a outra escreveu.
ma quando ela era uma criança? Logo, esse modificador está pendura-
O professor precisa ter cuidado com as atividades rotuladas d('
do na sentença (escolhi traduzir dangling modifier como 'modificador
escrita colaborativa, porque elas podem não passar de uma colcha d('
pendurado'). Para corrigir esse tipo de erro, é necessário analisar caso
retalhos textuais. Há uma atividade em que o professor indica um tema
a caso. Nesse exemplo, a forma correta seria a seguinte:
e o gênero textual, dá uma folha de papel para cada aluno e pede que
o When I was a child, my mother would take me to the movies on
cada um escreva a primeira oração do texto. Depois, os alunos passam
Sunday mornings.
o papel para o colega à direita (ou à esquerda) para ele escrever a se
A ajuda do professor é essencial para os alunos desenvolverem a
micro-habilidade de revisão textual, a qual depende diretamente de gunda oração. Essa troca se repete até que cada aluno receba o papel
seus conhecimentos linguísticos. Se o livro didático usado na institui- em que está a primeira oração que escreveu. Depois todos leem os tex-
ção em que ele trabalha não trouxer atividades voltadas para a prática tos para ver que bicho vai sair dali. Enfim, isso pode ser chamado d
da revisão textual, ele precisará preparar atividades para isso. qualquer coisa, jamais de escrita colaborativa, pois não houve planeja
A revisão textual está diretamente relacionada a duas controvér- mento nem diálogo entre os escritores para tomarem decisões quanto
sias que se instauraram nas discussões sobre o ensino de escrita para ao que escreveriam.
aprendizes de inglês como língua estrangeira. A próxima seção é de di- Concebendo a escrita como processo, podemos vislumbrar a es-
cada a elas. crita colaborativa em etapas desse processo, não necessariamente em
todo o processo. A etapa da geração de ideias é propícia ao trabalh
colaborativo, pois um aluno pode vislumbrar tópicos que seus colegas
6.4 Escrita colaborativa e correção dos textos
não vislumbrariam, e compartilhar isso com eles. A etapa da revisão
escritos: questões polêmicas
textual também pode ser feita por meio da avaliação horizontal, qu
Em 1998,durante a Laurels Teacher Trainers' Convention em Maceió, aquela em que um aluno revisa o texto do outro. Contudo, a revisão h
participei de uma oficina sobre escrita conduzida por Penny Ur. Dentre rizontal depende muito dos conhecimentos explícitos dos aprendizes c
várias coisas interessantes que ela disse, uma me fez pensar: a escrita é da maneira como eles encaram a legitimidade desse tipo de revisão.
claramente que precisa avaliar a escrita dos alunos tanto em termos PUN punctuatian needed
os erros e atribui aos alunos a tarefa de corrigi-los, Alguns professores ww wrong ward
apenas circulam ou sublinham os erros para que os alunos descubram # begin a new paragraph
que erros cometeram e como corrigi-los. Outros sublinham os erros e 0 unnecessary ward
os codificam. Considero essa maneira a mais interessante para ajudar ....• indent
o aprendiz a desenvolver a capacidade de revisar seus próprios textos.
Para isso, o professor precisa apresentar aos alunos uma lista de códi- Bem, para concluir esta seção, reforço a necessidade de o pro
gos, como a que mostro a seguir. fessor avaliar os textos escritos por seus alunos. Essa é uma forma
de feedback importante para o desenvolvimento da consciência deles
CORRECTION SYMBOLS
acerca dos aspectos linguísticos e textuais envolvidos no ato da escri
ADJ adjective needed ta. Além disso, recomendo o uso de lista de símbolos para ajudá-Ios (1
ADV adverb needed desenvolverem a micro-habilidade de revisão textual.
AGR subject-verb agreement No próximo capítulo, trato de um tema importantíssimo para
ART article needed o desenvolvimento das quatro habilidades linguísticas: o ensino do
CAP capitalizatian needed vocabulário.
CRIME
termos de uso como mecanismo de cocsao. Geralmente, quando o pro
loubo
fessor apresenta uma palavra que possui antônimo, tende a apresentá-Ia
juntamente com seu antônimo ao mesmo tempo. Por exemplo, em aulas
IIU 11
MURDER
- assassinato
homicídio culposo
sobre medidas, é comum o professor apresentar os seguintes pares: MANSLAUGHTER
BURGLARY
arrombamento
c big - small contrabando
SMUGGUNG
o wide - narrow
ROBBERY assalto
o tall - short
incêndio criminoso
o deep - shallow ARSON
sequestro (de pessoas e animais)
o thick - thin KIDNAPPING
sequestro de veículos
HIJACKING
Entretanto, isso pode não ser uma boa ideia. Quem nos alerta é apropriação indébita
LARCENY
Nation (1990: 46): alguns alunos podem fazer associações equivocadas, assassinato de pessoas públicas
ASSASSINATION
pois, ao ensinar um par de antônimos ao mesmo tempo, "o professor
FORGERY
falsificação
torna as palavras duas vezes mais difíceis de serem aprendidas". A lógi-
ca que permeia o pensamento de Nation é simples: os alunos precisam Howard Jackson e Etienne Zé Amvela (2000) comentam: há dois
aprender e reter na memória não apenas o significado de cada uma das Iipos de relações hierárquicas entre significados lexicais. Uma delas'
palavras, mas também a relação entre seus significados. E a coisa fica " hiperonímia: o hiperônimo é hierarquicamente superior a seus hipô-
ainda mais complicada se o professor usar, por exemplo, a mesma ima- nimos por seu significado fazer parte do significado dos hipônimos, ou
gem para apresentar um par de antônimos porque a imagem é associada seja, é uma relação "tipo de" que se instaura entre os hipônimos e o hi-
aos dois significados ao mesmo tempo. É um alerta importante, não é? perônimo, conforme acabamos de ver. O segundo tipo de relação hie-
Outro fenômeno semântico que precisa ser abordado em sala de rárquica entre significados é a MERONÍMIA, que é uma relação "parte
aula é a HIPERONÍMIA (e, por extensão, a HIPONÍMIA). OS hiperô- de". Por exemplo, a palavra car possui merônimos como estes: trunk,
nimos podem funcionar como elementos coesivos por serem palavras hood, bumper, doar, fender, steering wheel, tyre e windshield. Observe-
que possuem um significado geral contido no significado de outras pa- -se a relação "parte de" aí: trunk é uma parte de car, assim como win-
lavras, seus hipônimos, que estabelecem com o hiperônimo uma rela-
dshield é uma parte de caro
ção "tipo de". Por exemplo, oak, elm, sycamore e giant sequoia são tipos A meronímia também é um critério interessante para os apren-
de tree, ou seja, essas quatro palavras são hipônimas de tree. dizes organizarem seu vocabulário, e o professor pode sugerir a seus
A hiperonímia se apresenta como um critério muito simples e alunos organizarem as palavras que representam partes de algo. Eis
eficaz para os alunos organizarem o vocabulário à medida que vão um exemplo, baseado em Jackson e Zé Amvela (2000: 103),de organiza-
aprendendo hiperônimos. O professor pode lhes sugerir que, a cada
ção do vocabulário referente às partes de plant:
hiperônimo que aprendam, o anotem em uma folha do caderno e re-
PLANT
servem essa página para irem acrescentando hipônimos. Nessa pági-
na, eles podem colocar informações sobre cada palavra, e.g., signifi-
cado, coocorrência, grau de formalidade, pronúncia. Eis um exemplo
de como essa organização seria feita da maneira mais simples, ou seja, FLOWER
LEAF BUD STEM
apenas com a palavra e seu significado, por um aprendiz de proficiên- (botão) (talo)
(flor)
(folha)
cia mais elevada:
CAPíTULO 7 1 O ensino do vocabulário o
02 Aula de inglês: do planejamento à avaliação
A organizaçao do vocabulário é uma estrall'gia de aprcndíza
gem importante para a construção da competência comunicaLiva dos
aprendizes. E ela não se limita à organização de acordo com hipero-
nímia ou meronímia. Por exemplo, eles podem organizar palavras que
têm pronúncias parecidas ou iguais, como estas:
D
D
son
some
o scene
o horse
-
-
-
-
sun
sum
seen
hoarse
o ensino da gramática
right - rite - write
,
D
D root - route
o knows - nos e
As palavras acima são exemplos de outro fenômeno semântico em
que duas ou mais palavras possuem a mesma pronúncia e/ou a mesma
grafia: a HOMONÍMIA. Vale a pena o professor alertar seus alunos acer-
(2; )
ramática: palavra que causa arrepios em
muitos alunos. Que professor nunca ouviu
um aluno dizer algo do tipo "Grammar is so
boring!"? E, por causa da suposta chatice da gnllnú
ca desse fenômeno para eles não utilizarem palavras incorretamente. tica, ainda dizem coisas como estas: "I hate grmn-
Os aprendizes podem escolher quaisquer critérios que tenham mar!". Mas... será que a gramática é chata mesmo'}
lógica organizacional, que passe por uma categorização que faça sen- Ou será que a suposta chatice da gramática não pus
tido para eles. Podem categorizar as palavras que vão registrar em seu sa de um mito? Deixemos Larsen-Freeman (2003: 21)
caderno a partir das classes gramaticais, e.g., prepositions e irregular responder: "Agramática nunca é chata. O que ped i
verbs, dos tipos de palavras quanto à sua natureza contável, e.g., count mos aos alunos para fazer a fim de aprendê-Ia é que
nouns e uncount nouns, do grau de formalidade; e.g., idioms e slang pode ser chato".
expressions. O importante é que organizem o vocabulário e consultem Pois é. A gramática não tem culpa nenhuma no
seu caderno de tempos em tempos para fixarem as palavras. cartório. Lembremo-nos da mesma lengalenga que
No próximo capítulo, trato de outra área de ensino fundamental ocorre nas aulas de português: a maioria arrasadora
para o desenvolvimento da competência comunicativa dos aprendizes: dos estudantes brasileiros detesta gramática. Tam-
a gramática. bém pudera: a maioria dos professores enche o saco
dos alunos com a memorização de uma nomencla-
tura gramatical inconsistente e com regras norma
tivas questionáveis, muitas vezes alheias à realidade
linguística deles. O professor é que precisa prestar
atenção às atividades sobre gramática que leva à sala
de aula para que seus alunos não as considerem cha
tas e para que não acabem transferindo para a gra
mática o tédio das atividades propostas pelo profcs
sor e pelo livro didático.
questão controversa que acabou desembocando em um mito: o profes- t:Ilt.lfH' dada por alguns teóricos, como Christopher Brurnfjt, à nucn
sor deve ensinar gramática ou não? ei;1 I~tn detrimento da precisão gramaLical, reação natural ao domínio
Se pensarmos na aquisição da primeira língua, é óbvio que não 1''''\ luLllralisLado método audiolingual até a década de 1950, que enfa-
pensaremos no ensino da gramática (e nem no ensino da fala). Como II/,;Ivaa precisão gramatical em detrimento da fluência. William Lit-
a criança é exposta à primeira língua 24 horas por dia todos os dias, 1ll'wood, por exemplo, um dos mais importantes proponentes da abor-
ela acaba desenvolvendo sua competência comunicativa nessa língua, t1,Ij.{em comunicativa, deixou claro o espaço que o ensino da gramática
a qual engloba, não nos esqueçamos, a competência gramatical. Aliás, possui nas aulas de línguas estrangeiras, um espaço materializado na-
foi com base nas características da aquisição da primeira língua que quilo que chamou de atividades pré-comunicativas dentro das quais as
Krashen propôs a abordagem natural, considerada por alguns teóricos ,1\ ividades estruturais se inserem.
Enfim, o não ensino da gramática nas aulas de inglês como língua
como um método que se encaixa no ensino comunicativo de línguas.
Esse método defende o não ensino da gramática ao advogar que basta ('strangeira não faz sentido. Os aprendizes podem se beneficiar de ex-
expor os aprendizes ao input linguístico que eles acabam adquirindo a plicações e práticas voltadas para determinados pontos gramaticais.
língua estrangeira. Por exemplo, o present perfect e a causative farm são estruturas gra-
O problema no raciocínio de Krashen é que ele perde de vista o maticais que costumam causar dificuldades aos aprendizes brasileiros.
fato de que a aquisição da primeira língua é diferente da aquisição de Logo, a intervenção do professor ao apresentá-Ias, esclarecer pontos
outra língua, principalmente se estivermos falando de uma língua es- que pareçam obscuros a seus alunos e oferecer-Ihes atividades para a
trangeira, como o inglês aprendido no Brasil, em vez de uma segunda prática desses pontos é bem-vinda.
língua, como o inglês aprendido na Inglaterra. Além disso, a proposta Portanto, é imprescindível ensinar gramática nas aulas de inglês
teórica de Krashen foi muito criticada por defender a diferença en- como língua estrangeira, pois seu ensino pode ser útil aos aprendi-
tre aquisição e aprendizagem sem ter explicitado essa diferença (para zes. As questões a que o professor deve responder são: para que seus
mim, não há nenhuma) e o tal do i + 1, que ninguém (nem Krashen!) alunos precisam aprender determinado elemento gramatical e quantas
sabe explicar direito o que é. Logo, a abordagem natural não é parâme- informações sobre esse elemento ele deve lhes fornecer?
tro para a discussão do ensino de gramática. Essas perguntas só podem ser respondidas adequadamente se
A questão de ensinar ou não gramática nas aulas de línguas es- esclarecermos que concepção de gramática é mais adequada para o
trangeiras é, na verdade, reflexo de um mito que tomou corpo com o ensino. Afinal, a concepção de gramática adotada pelo professor é fun-
advento da abordagem comunicativa - o mito segundo o qual esse damental para o norte que ele dará às aulas e aos tipos de atividade
método de ensino defende o não ensino formal da gramática em sala que desenvolverá com seus alunos.
Há diferentes concepções de gramática, cada uma com suas im-
de aula porque o aprendiz supostamente a aprende naturalmente.
Lembro-me de alguns professores em um centro binacional em que plicações teóricas e práticas, todas elas legítimas. Podemos conceber a
trabalhei justificando por que não explicavam pontos gramaticais aos gramática como um conjunto de estruturas e de regras que regem es-
seus alunos: "Grammar takes care af itself". sas estruturas. Contudo, essa não é uma concepção interessante para
Conforme já explicitei alhures (Oliveira, 2014), essa estória de o ensino de línguas estrangeiras, pois o professor que a adota acaba
que não se ensina gramática na abordagem comunicativa não passa focando apenas a forma, a estrutura dos elementos gramaticais. Por
de um mito. Parece até um fiat Iux gramatical: um belo dia, o apren- exemplo, ao dar uma aula voltada para o simpLe present, o professor
diz vai acordar iluminado, dominando as regras gramaticais todinhas. ensina aos alunos como formar orações afirmativas, negativas c in
Ora, nenhum, absolutamente nenhum, dos proponentes da abordagem terrogativas, mas não lhes informa que as situações atemporais SUO
interação social. Logo, a partir dessa concepção, o professor não ape- Assim, a partir de uma perspectiva pragmática, apresento, neste
nas dá foco às formas linguísticas, mas também aos significados que ("pílulo, uma forma pedagogicamente fecunda de conceber a gramá-
elas expressam em diferentes situações de usos da língua. \ l(,lI, proposta por Celce-Murcia e Larsen-Freeman. Aproveito para co-
Não por acaso, teóricos como Thornbury e Larsen-Freeman de- montar uma questão pedagógica importante: o escopo que o professor
fendem a gramática como ferramenta para a produção de significados. Iirccísa estabelecer para o ensino de determinado elemento gramati-
Para Thornbury (1999: 4), a implicação dessa ideia para os professores ('aI. Em seguida, comento os erros gramaticais cometidos pelos apren-
"é que a atenção do aprendiz precisa ser direcionada não apenas para dizes a partir do problema do conhecimento inerte e do conceito de
as formas da língua, mas também para os significados que elas veicu- Interlíngua. Finalmente, discuto a questão do uso da língua portuguesa
lam". Larsen-Freeman dá um exemplo que evidencia essa ideia: 110ensino da gramática da língua inglesa e o papel da metalinguagem
Se um aluno diz It's a pencil on the table, com a intenção de veicular o
no processo de ensino e aprendizagem.
sentido There is a pencil on the table, eu diria que a forma está correta,
mas seu sentido não veicula o sentindo pretendido pelo aluno. A afirma- 8.1 The pie chart: a concepção tridimensional da gramática
ção com it é usada para mostrar identidade (It's a pencíl, not a pen, on
the table) enquanto a oração com there mostra a localização. A gramática Estudei num instituto de idiomas que adotava (e acho que ainda
não diz respeito apenas à forma: ela também diz respeito ao significado adota) o que chamavam de método audiovisual, que se constituía de uma
(Larsen-Freeman, 2003: 14). teoria estruturalista de língua e de uma teoria behaviorista de aprendi-
agem, materializadas em aulas que se baseavam em slides e, nos níveis
Esse exemplo não apenas corrobora as palavras de Thornbury,
mais avançados, em filmes também. Estudávamos a gramática da língua
mas também evidencia que não há como negar os aspectos semânticos
inglesa com foco na forma, na estrutura. Os significados dessas formas
relacionados à gramática. Algum teórico ou professor pode até ignorá-
e os usos que se fazem delas não eram foco das aulas. Nesse mesmo
-los, não negá-los.
instituto, iniciei minha carreira de professor de inglês em 1983. Logica-
A preocupação com os significados veiculados pelas estruturas
mente, eu ensinava gramática da mesma maneira que meus professores
gramaticais na interação social é um reflexo da virada pragmática, mo-
a ensinaram a mim, até porque o instituto era uma franquia, tínhamos
vimento epistemológico que tomou corpo nos anos 1960 e se consoli-
dou na década seguinte. Os adeptos desse movimento defendiam a in- de seguir rigidamente as diretrizes estabelecidas pelo dono.
clusão, nos estudos linguísticos, do sujeito usuário da língua, dos usos Provavelmente, após sair daquele instituto de idiomas, eu teria
que se fazem da língua e das variações linguísticas. A influência da vi- continuado a ensinar gramática focando apenas na forma se, um belo
rada pragmática no ensino de línguas estrangeiras foi exatamente dar- dia, não tivesse posto minhas mãos em um livro sobre gramática peda-
-lhe um viés pragmático: ensinam-se línguas estrangeiras para serem gógica escrito por Celce-Murcia e Larsen-Freeman: The Grammar Book.
usadas, para que as pessoas interajam socialmente com as outras, e não Já na introdução, as autoras anunciavam algo que me intrigou:
para que os aprendizes memorizem regras gramaticais e itens lexicais. "two approaches to teaching Language". Hum... Pensei com meus bo-
A consequência disso para o ensino da gramática é simples: o tões: "Quer dizer que tem mais de uma maneira de ensinar a língua ~,
professor precisa ajudar seus alunos a se tornarem capazes de usar consequentemente, a gramática?". Minha curiosidade foi aumentando.
o que esse gráfico nos diz é que os elementos gramaticais po- Se você for apresentar a seus alunos os pronomes possessivos,
dem ser concebidos a partir de três perspectivas diferentes, ou seja, a que dimensão será a mais complicada para eles? Lembremo-nos do
partir de três dimensões. A DIMENSÃO FORMAL, representada pela quadro de pronomes:
fatia FORM do gráfico, diz respeito à precisão gramatical e responde à
SUBJECT OBJECT POSSESSIVE POSSESSIVE REFLEXIVE
pergunta: "Como esse elemento gramatical é formado?". A DIMENSÃO
PRONOUNS PRONOUNS ADJECTIVES PRONOUNS PRONOUNS
SEMÂNTICA, representada pela fatia MEANING do gráfico, refere-se ao
I me my mine mysetf
significado expresso pelo elemento gramatical e, obviamente, respon- you you your yours yourself
de à pergunta: "O que esse elemento gramatical significa?". A DIMEN- she her her hers herself
SÃO PRAGMÁTICA, representada pelo fatia USE do gráfico, diz respeito he him his his himself
à adequação contextual do elemento gramatical e responde à pergun- it it its 0 itself
ta: "Quando e por que esse elemento gramatical é usado?". we us our ours ourselves
Há três pontos a observar acerca da natureza tridimensional da you you your yours yourself
-
gramática. O primeiro é o fato de tradicionalmente os professores they them their theirs themselves
I1
3. O vidro da janela da sala da diretora foi quebrado. Esse tipo de exercício é interessante para levar os aprendizes a
4. O vidro da janela da sala da diretora quebrou-se. pensarem sobre a razão para se usar a voz ativa ou a voz passiva. Nesse
5. Quebraram o vidro da janela da sala da diretora. caso, a alternativa adequada é a primeira porque o texto claramente
6. O vidro da janela da sala da diretora quebrou. está dando foco ao agente (the Romanians) e não ao paciente (three
goLd medaLs). Larsen-Freeman (2003: 47) explica que se o texto desse
A não ser que esteja numa situação extremamente formal ou que foco às medalhas de ouro, a história seria diferente:
tenha algum problema espiritual, você jamais dirá 3 ou 4. Os brasilei-
ros, na absoluta maioria das vezes, usam o tal sujeito indeterminado de Many medals were awarded to athletes from smaller countries.
5 ou a construção ergativa de 6 para expressar passividade'. In fact,
Enfim, o professor de português tradicionalmente não explica aos 1. the Romanians won three gold medals in gymnastics.
alunos quando se usa a voz passiva. Ele geralmente explica seu signifi- 2. three gold medals in gymnastics were won by the Romanians.
cado, que é a mudança de foco do agente para o paciente de uma ação.
Agora, é a alternativa B que completa adequadamente o trecho em
Mas ele não costuma falar nem do uso da voz passiva nem dos gêneros
questão: o foco recai sobre medaLs.
textuais que favorecem sua ocorrência. Em outras palavras, a dimen-
A dimensão pragmática da voz passiva, portanto, é a que vai apre-
são formal e a dimensão semântica da voz passiva são contempladas no
sentar mais desafios para os aprendizes. Apenas a título de curiosidade, já
ensino de português, mas a dimensão pragmática é negligenciada. Por
que o objetivo desta seção não é tratar das especificidades dos elementos
essa razão, os aprendizes brasileiros de inglês levam o reflexo dessa
gramaticais discutidos, apresento as principais razões pelas quais a voz
negligência para o estudo da voz passiva na língua inglesa.
passiva é usada, seguindo Ce1ce-Murcia e Larsen-Freeman (1999: 353).
É claro que as três dimensões devem ser apresentadas aos apren-
RAZÃO 1: o agente é redundante, óbvio ou fácil de ser inferido. No
dizes. Eles precisam se acostumar com a forma da voz passiva: a cons-
exemplo a seguir, inferimos facilmente que quem cultiva as bananas
trução com o verbo to be ou com o verbo to get como auxiliar e do par-
são os agricultores.
ticípio passado de um verbo transitivo. Eles precisam ser informados
BANANAS ARE GROWN in tropical regions where the avera-
Se você quiser saber mais sobre a questão da passividade em português, recomen- ge temperature is 80°F (27°C) and the yearly rainfall is between
do a leitura da seção 6.2 do livro Coisas que todo professor de português precisa saber: a
teoria na prática (Oliveira, 2010). 78 and 98 inches.
BANK OF THE WEST GOT ROBBED on July 16,2014. V('IllOSomitir o agente e a preposição. Eu estava fazendo tudo errado,
pois, além de a transformação de orações na voz ativa para orações na
RAZÃO 3: o falante ou o escritor quer ser cuidadoso com as pala- V()~passiva ser reflexo de um entendimento equivocado da natureza
vras, como no exemplo abaixo, em que uma pessoa envia uma pergun- sintática das vozes verbais, a maioria das orações na voz passiva nao
ta para uma coluna de aconselhamento jurídico, tentando não criticar possui agente. Logo, eu não apenas deveria parar de usar exercícios
(mas criticando) um amigo personaL trainer que lhe deu sugestões so- de transformação desse tipo, como deveria explicar aos alunos quando
bre dieta e exercícios, a fim de saber se pode processar o amigo. H(' insere o agente e não quando se omite o agente. E devemos inserir
As únicas orações que estão traduzidas satisfatoriamente são a (c) Mary would be on the beach now if Mary estaria na praia agora se ela
e a (d), embora a tradução mais apropriada para elas fosse aquela em she could. pudesse.
240 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 9 I Avaliação do aprendizado e do ensine L41
de sérias restrições orçamentárias. Muitas vezes, faltam Ihes cadeiras, ser bancado porque há recursos do Governo federal para isso. Se os
materiais didáticos, impressoras, papel e toner. Por isso, se o professor testes são de múltipla escolha, a correção é mais rápida c mais barata.
faz um teste com mais de uma folha para ser aplicado a cinco lurmas Vejamos outro exemplo de como a questão da aplicação do teste
com quarenta alunos, ele pode ouvir da coordenação que precisa re- afeta a praticalidade. Imagine que você trabalhe em um instituto d
duzir o tamanho do teste para ele caber em apenas uma folha, a fim de idiomas, no qual tem cinco turmas com 15 alunos cada. O que você
economizarem papel. acha de aplicar um teste oral nas suas turmas? Um teste que dure, em
Outro fator que afeta diretamente a praticalidade é o tempo dis- média, 5 minutos? Você teria de pensar na logística para isso: enquanto
ponível para a realização do teste e o tempo que ele exige para ser você fica na sala de aula com um aluno sendo testado, onde os outros
realizado. Testes longos demais interferem no desempenho dos alunos, ficarão? O que eles farão enquanto não são avaliados? O que farão de-
que podem se cansar e errar coisas que não errariam se estivessem pois de serem avaliados? Poderão ir para casa? Então, provavelment
descansados. Um teste para nivelar alunos recém-ingressados na ins- todos desejarão ser os primeiros a ser avaliados para poderem ir logo
tituição pode parecer demasiadamente longo para alguns alunos, sem para casa: como decidir quem ficará por último? Talvez você tenha um
o ser. Isso se explica pelo fato de um teste de nivelamento ter de ser o pouco de dificuldade para resolver essas questões, mas é possível re-
mesmo para todos os novos alunos e ter as perguntas organizadas em solvê-Ias. Contudo, imagine agora que você trabalha numa escola pú
ordem crescente de dificuldade. Alguns alunos são capazes de respon- blica, na qual você tem cinco turmas com 45 alunos em cada. E agora'?
der a todas as perguntas no tempo alocado por estarem em níveis mais Como seria aplicar o teste oral nesse contexto? Seria inviável por ra
avançados de proficiência; outros não conseguem responder a todas zões óbvias, não é?
elas no tempo alocado e acabam achando o teste longo ou o tempo Em suma, para elaborarmos testes, precisamos levar em consid
curto, o que dá no mesmo, por estarem em níveis de proficiência mais ração a validade de conteúdo, a validade de face, a validade de cons-
baixos. Isso é um aspecto positivo de um teste de nivelamento. truto, a confiabilidade e a praticalidade. Só assim poderemos almejar
Ainda em relação ao fator tempo, há um aspecto que deve ser le- sucesso na elaboração de testes.
vado em consideração na elaboração de um teste: o tempo que o pro- Antes de finalizar esta seção, gostaria de retomar o episódio com
fessor precisa para corrígí-lo. Não basta que o teste seja viável para os o qual abro o capítulo, aquele em que duas professoras escolheram a
alunos em termos de tempo: ele também deve ser viável para o pro- apresentação oral como instrumento de avaliação de alunos adoles-
fessor em termos de tempo de correção, principalmente se ele tiver centes de nível intermediário. Analisemos a apresentação oral com
muitas turmas. base nos três princípios gerais de elaboração de testes.
Um terceiro fator relevante para a praticalidade são os procedi- A validade de face da apresentação oral foi prejudicada porque os
mentos de aplicação e de correção do teste. E é por desconhecerem alunos não realizaram nenhuma apresentação oral além da que ser-
esse fator que muitas pessoas criticam os concursos públicos por utili- viu de instrumento de avaliação. Como não vi as apresentações dos
zarem testes de múltipla escolha. Essas pessoas dizem: "Testes de múl- alunos, não posso afirmar se a validade de conteúdo existiu ou não,
tipla escolha não provam nada. Melhor seria se trouxessem questões mas certamente houve apresentações que não serviram como amos-
discursivas", Só que há um sério problema de logística relacionado à tras do aprendizado do conteúdo abordado em sala ao longo do s<>-
correção dos testes: quantas pessoas seriam necessárias para corrigir mestre (refiro-me às funções comunicativas, elementos lexicais e ele-
várias questões discursivas de dezenas de milhares de candidatos? A mentos gramaticais estudados). Os alunos me informaram que faziam
correção da redação do ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio], por a apresentação oral e que não havia uma seção de discussão sobre elas
exemplo, mobiliza um número enorme de corretores que precisam ser nem uma tarefa escrita sobre as apresentações. Logo, a validade d
treinados e coordenados para a tarefa. O custo é elevadíssimo e só pode construto não existiu, já que o objetivo do curso era ajudar os alunos
242 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 9 I Avaliação do aprendizado e do ensuio 74.
a desenvolverem sua competência comunicativa, a qual pressupõe a construto, runs, como ressalta Weir (1993: 55), "há um problema em po
interação entre os interlocutores. Se a apresentação cumpria proto- tencial com a condição de reciprocidade se um dos participantes domi
colarmente o papel de atribuir uma nota ao desempenho dos alunos nar a interação, já que o outro participante pode ter uma oportunidade
na apresentação oral sem envolver os colegas em uma interação sobre limitada para demonstrar seu potencial comunicativo". Se um aluno do-
a apresentação feita, a validade de construto não existiu. A apresenta- mina a interação, a avaliação do outro aluno fica comprometida.
ção oral seguiu o princípio da praticalidade, pois a turma era compos- Enfim, a avaliação oral é complexa e os instrumentos de coleta de
ta por apenas 10 alunos e o syllabus não era extenso, permitindo que informações sobre o rendimento oral dos alunos possuem vantagens
as apresentações fossem confortavelmente alocadas no planejamento e desvantagens. Cabe ao professor conversar com os colegas e com
das aulas. Quanto à confiabilidade, não tenho dados que me permitam a coordenação acadêmica de sua instituição para tomar as decisões
especular, com segurança, sobre a aderência ou não da apresentação mais adequadas.
oral em questão a esse princípio, nem do ponto de vista intra-avaliador Elaborar teste não é uma tarefa simples e exige do professor co-
nem do ponto de vista interavaliadores. nhecimentos teóricos mínimos. Além disso, fica claro que os instru-
Eu não recomendaria o uso da apresentação oral como instru- mentos de avaliação não são adequados para todos os contextos: h
mento de avaliação do desempenho oral de aprendizes que se encon- que se analisar cuidadosamente o contexto de ensino-aprendizagem
tram em um curso básico de inglês. Recomendaria o uso desse instru- para escolher o instrumento de avaliação adequado. Passo agora à pr
mento num curso especificamente voltado para o desenvolvimento da xima seção, na qual apresento alguns tipos de testes.
fala de alunos em níveis avançados de proficiência, pós-curso básico,
desde que o professor ensine os alunos a produzirem esse gênero tex-
9.2 Os tipos de testes
tual oral ao longo do curso.
Entretanto, enfatizo o lado positivo da escolha que as duas pro- O teste é, sem sombra de dúvidas, o instrumento de avaliação
fessoras fizeram para a avaliação oral: elas tentaram encontrar uma mais comum no universo de ensino e de aprendizagem de inglês. Por
solução para a eterna questão de saber como avaliar adequadamente essa razão, o professor precisa estar familiarizado com os tipos mais
o desempenho oral dos alunos. Essa questão é tão séria e de difícil comuns de testes, mesmo que não os elabore.
resolução que há professores que decidem atribuir uma nota pelo de- Um dos critérios usados para oferecer uma tipologia de testes é a
sempenho dos alunos em cada aula. O problema disso é que a avaliação maneira com que se mensura o conhecimento que o aprendiz possui:
não segue nenhum critério consistente e, por isso, é baseada em gut direta ou indiretamente. Assim, as habilidades produtivas, i.e., a fala
feeling, ou seja, no instinto ou na intuição do professor. Se o professor e a escrita, podem ser avaliadas por meio de TESTES DIRETOS, exi-
não tiver de atribuir uma nota, mas apenas um pass ou faH, o problema gindo do aprendiz o uso da habilidade sendo testada. Ou seja, em um
é minimizado, mas a questão ainda não é satisfatoriamente resolvida. teste oral direto em um curso que adota a abordagem comunicativa,
Lançar mão de um instrumento como apresentação oral, como vi- por exemplo, o aprendiz fala inglês para realizar determinada tarefa
mos, não é adequado. E que tal a entrevista como instrumento de ava- e, em um teste escrito direto nesse mesmo curso, o aprendiz escre-
liação? Como lembra Cyril Weir (1993: 57), a entrevista tem a desvan- ve em inglês para realizar determinada tarefa. Nesses dois casos, há
tagem de não poder "cobrir a gama de situações em que o aprendiz um produto observável para ser avaliado. Uma redação e uma atividade
pode se encontrar". E que tal usar atividades com abismo de informa- comunicativa que envolve dois falantes são exemplos de formatos qu
ções ou role plays como instrumentos de avaliação do desempenho oral os testes diretos podem tomar.
dos alunos? Em um curso que adota a abordagem comunicativa, essas Quando se trata das habilidades receptivas, i.e., a compreensã
opções seriam claramente válidas em termos de conteúdo, de face e de oral e a leitura, a habilidade ou o conhecimento do aprendiz não podem
246 Aula de inglês: do planejamento à avaliação CAPiTULO 9 I Avaliação do aprendizado e do cosmo L4/
não basta para o item deixar de ser um item de pontos discrelos em
Podemos P"IIS;'" Ullllh('1ll em tipos de testes a partir dos propu
termos de conteúdo. Eis o contexto:
sítos que eles rutnprcru. Um desses propósitos é avaliar os conlu:ci
Imagine you are sitting in a Paris café and are overhearing sna- mentos de um aluno que pretende ingressar em um curso e que prc
tches of conversations. Can you tell whether the speakers are cisa ser alocado em um nível de proficiência adequado. É o chamado
talking about present or past events? Listen carefully for the TESTE DE NIVELAMENTO.
verbo If it is in the present tense, mark column A. If it is in the Os testes de nivelamento geralmente são baseados no syHabus do
imperfect, mark column B: curso, o qual, por sua vez, costuma ser representado pelo livro didá
tico adotado. A aplicação de um teste de nivelamento é muito simples
Os alunos precisam reconhecer apenas a pronúncia dos verbos.
quando o aluno não possui nenhum ou quase nenhum conhecimento cv
Deles não é exigida a compreensão dos trechos das conversas que ou-
virão, o que qualifica esse item como sendo de pontos discretos em é alocado no primeiro nível do curso e quando o aluno é muito fluente
termos de conteúdo. e é alocado no último nível do curso. As dificuldades começam quando
Para exemplificar um item integrativo em termos de conteúdo o professor deve alocar o aluno acima do primeiro nível e abaixo do
que é também de pontos discretos em termos da maneira como as res- último porque, à medida que o aluno avança na sua proficiência, fica
postas são dadas e computadas, recorro a um pequeno texto de um mais difícil determinar em que nível ele deve ser alocado. E aqui vai
exemplo fornecido por Bailey (2014) que apresentei no capítulo 4: uma sugestão: se você avaliar um aluno e ficar na dúvida se o aloca no
nível X ou em um nível imediatamente acima de X, seja conservador ('
LlSTEN TO CHARLES TALK ABOUT HIS PREPARATION
aloque-o no nível X. Será menos complicado para o professor da turma
FOR SOMETHING HE IS GOING TO DO TOMORROW ANO em que ele se matricular convencê-lo a mudar para um nível mais alto
ANSWER THE QUESTIONS. do que o contrário.
[TAPESCRIPT: My wife and I tried to pack light but we made sure Geralmente, o teste de nivelamento inclui um teste oral e um tcs
not to forget our bathing suits and sun block. I wasn't sure if I te escrito, sendo o primeiro direto - materializado no gênero textual
would get seasick again 50 I made sure to pack some medicine entrevista - e o segundo indireto, materializado em um teste de múl-
for upset stomachs.] tipla escolha. Entretanto, se você se deparar com um aluno com um ní-
1. What is Charles going to do? vel de proficiência oral relativamente elevado, vale a pena designar-lhe
(a) He's going to go fishing. uma redação para que você veja se ele terá condições de acompanhar
(b) He's going to go to the beach. as atividades escritas no nível mais avançado. Se você perceber que el
(c) He's going to go on a boat trip. terá problemas, seja conservador.
(d) He's going to go to the hospital. Outro propósito dos testes é o de avaliar os conhecimentos qu
os alunos construíram e as habilidades que desenvolveram num mo-
Os alunos ouvem o texto e precisam marcar uma alternativa den- mento de um curso, geralmente no meio do semestre e no final do Se-
tre quatro, a que responde adequadamente à pergunta. Para serem mestre. Podemos chamar os testes que têm esse propósito de TESTES
capazes de responder corretamente, eles precisam mobilizar conheci- DE RENDIMENTO. Eles são baseados não apenas no conteúdo das uni-
mentos sintáticos, lexicais e fonológicos, além de terem de fazer infe- dades do livro didático trabalhadas em sala de aula, mas também nos
rências. Nesse sentido, esse item é integrativo em termos de conteúdo tipos de atividades que os alunos realizam nas aulas.
e, ao mesmo tempo, é um item de pontos discretos na maneira como é
Há testes que visam avaliar os conhecimentos e habilidades
respondido e as respostas, computadas.
rais do aprendiz, independentemente de conteúdos programáticos ou
Conclusão
inal do livro! Quero aproveitar este espaço para
tocar em alguns pontos importantes que não
cabiam diretamente em nenhum dos nove capí-
tolos e para fazer duas recomendações.
A formação de professores de inglês é um proces-
so complexo. Exige do indivíduo uma gama variada de
conhecimentos. Se esse indivíduo for brasileiro, as coi-
sas ficam ainda mais complicadas no contexto atual,
em que alguns cursos de letras no Brasil ainda não fa-
zem um trabalho eficiente na formação de professo-
res. Evidência disso é que, após quatro ou cinco anos
de curso, muitos licenciados em letras com inglês des-
conhecem a maior parte dos métodos de ensino e não
sabem exatamente o que é competência comunicati-
va. Muitos licenciados em letras com inglês continuam
acreditando na diferença entre aquisição e aprendi-
zagem, e no tal i + 1, que Krashen popularizou. Além
disso, há licenciados que proíbem terminantemente o
uso de português na sala de aula de todos os níveis,
se tornam professores orientados por materiais, acre-
ditando que o melhor para os alunos é levar a maior
quantidade possível de materiais para a sala de aula.
A ineficiência de muitos cursos de letras com
inglês é tão grande que há cursos de treinamento d
professores em institutos de idiomas que formam um
que muitos dos tais erros nem são erros. Certa vez, um professor es- AL-NAFlSEH, K. (2013) Collaborative Writing and Peer-Editing in
EFL Writing Classes. Journal of Emerging Trends in Educatio-
tava comentando jocosamente uma construção que um aluno dissera: na! Research and Poticy Studies, v. 4, n. 2, p. 236-245.
what o'dock? O aluno queria obviamente saber as horas e lançou mão ANSON, c:BOMMARITO, E.; DEUSER, 1. (1983) From Schemes to
de uma construção esquisita. Mas estará isso errado mesmo? Bem, em Themes: Implications of Schema Theory for Teaching Writing.
Romeo and Juliet, Shakespeare escreveu: "What o'clock tomorrow?". Al- Journal of Teaching Writing, v. 2, n. 2, p. 193-211.
guém pode argumentar que isso é inglês antigo. OK. Mas isso mostra ANYASSARI, N.; PUDYASTUTI, Z. Princip!es of Language Asses-
sment. Disponível em: <http://www.academia.edu/4587581j
que o aluno não fez nenhuma besteira absurda: fez algo que tem base PRINCIPLES_OF _LANGUAGE_ASSESSMENT>. Acesso em:
na história da língua inglesa, embora esteja fora de uso, algo que foi 24 jun. 2015.
interessantemente instintivo e lógico. AUERBACH, E. R (1986) Competency-Based EFL: One Step
Por isso, precisamos entender que formar-se professor exige do- Forward and Two Steps Back? TESOL Quarter!y, v. 20, n. 3,
p.411-429.
mínio nas áreas abordadas em cada um dos capítulos deste livro e do-
BAILEY, E. MaRing Inferences: Improving Reading Comprehension
mínio da língua inglesa. Mais importante: exige do professor a humil- for Students with dys!exia. Disponível em: <http://specialed.
dade de reconhecer que não sabe tudo e a disposição para estar sem- about.com/od/readingliteracy/a/makinginferences.htm>.
pre aprendendo. Acesso em: 24 jun. 2015.
Espero que a leitura deste livro tenha sido útil para você. BEAUGRANDE, R.; DRESSLER, W. U. (1997[1981]) lntroducción a !a
tingüistica de! texto. Barcelona: Ariel.
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cedo. São Paulo: Companhia das Letras.
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