Fluidoterapia Básica Na Medicina Veterinária PDF

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Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS

Curso de Medicina Veterinária


Clínica Cirúrgica Veterinária

I) FLUIDOTERAPIA BÁSICA NA MEDICINA VETERINÁRIA

1) INTRODUÇÃO

A manutenção das quantidades e dos equilíbrios hídrico, eletrolítico e ácido-


básico no período peri-operatório é essencial para um procedimento anestésico e
cirúrgico seguros.
A anestesia e a cirurgia induzem diferentes graus de agressão ao indivíduo. A
intensidade da resposta orgânica está relacionada à severidade dessa agressão e às
condições físicas do animal.
As lesões e outras afecções requerem adoção de maior ou menor número de
medidas pré, trans e pós-operatórias, como exemplos temos as queimaduras severas,
contusões com esmagamentos e as fraturas, que produzem alterações metabólicas agudas
e prolongadas.
Um fator de extrema relevância no paciente cirúrgico é o seu estado ou equilíbrio
hidroeletrolítico. No cão, a água é equivalente a 60-65% do peso corporal no adulto, 70-
80% nos jovens e 45-50% nos obesos. No bovino, o embrião possui 95% de sua
constituição em água e o recém nascido 75% ou mais, decrescendo até 40% na
maturidade.
Neste capítulo serão feitas considerações sobre aspectos da fluidoterapia no pré,
trans e pós-operatório, visando atenuar os riscos inerentes ao trauma cirúrgico.

2) DESIDRATAÇÃO

Diversas alterações de ordem clínica e cirúrgica interferem com o equilíbrio


hidroeletrolítico. A perda de água determina vários graus de desidratação. No animal
hidratado a distribuição de água é regulada pelas forças osmóticas dos solutos, que
encontram - se na média de 295mOsm/kg (variando entre 280-310mOsm/kg).
As variações nas concentrações séricas do sódio, cátion de maior concentração no
líquido extracelular, provocam desvios da osmolalidade.
Assim, o paciente é susceptível à desidratação dos tipos iso, hipo ou hipertônica.

2.1) Desidratação isotônica (isonatrêmica):

Ocorre a perda proporcional de água e sais existentes no espaço extracelular.


Nesta condição não haverá migração de líquidos entre os meios intra e extracelulares,
pois a osmolalidade e tonicidade permanecem constantes (295mOsm/kg).
As causas mais freqüentes são as perdas por vômitos, diarréia e seqüestro de
líquido extracelular em lesões, em infecções dos tecidos moles e nas peritonites.

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2.2) Desidratação hipotônica (hiponatrêmica):

É caracterizada por baixa osmolalidade do espaço extracelular devido a grande


perda de eletrólitos em relação à água. Há perda de líquido hiperosmolar (acima de
310mOsm/kg). O compartimento extracelular torna- se hiposmolar e hipotônico (abaixo
de 280mOsm/kg) em relação ao intracelular, ocorrendo a passagem de líquido
extracelular para o interior da célula, restabelecendo o equilíbrio entre os compartimentos
e ingurgitando as células. Estes pacientes estão mais predispostos ao colapso vascular e
requerem terapia agressiva.
As causas mais comuns desta alteração incluem a insuficiência da cortical
adrenal, uso inadequado de diuréticos e reposição de perdas isotônicas com glicose 5%
ou água.

2.3) Desidratação hipertônica (hipernatrêmica):

Caracteriza-se por ocorrer maior perda de água do que sais, resultando em


hiperosmolalidade no meio extracelular. Haverá perda de líquido hiposmolar (inferior a
280mOsm/kg), tornando o meio extracelular hipertônico (acima de 310mOsm/kg) em
relação ao intracelular. A saída de líquido da célula restabelece o equilíbrio entre os
compartimentos. Esta desidratação ocorre em casos de baixa ingestão de água, aumento
das perdas insensíveis (febre, taquipnéia), administração de soluções muito concentradas,
Diabetes insípido, etc.
Cabe ressaltar que, os requerimentos hidroeletrolíticos podem ser classificados em
dois grupos: 1º - deficiência de volume intersticial e/ou intracelular (desidratação) e 2° -
diminuição do volume circulante (hipovolemia). Deve-se lembrar ainda, que ambos estão
correlacionados, devido à constante interação através dos mecanismos da homeostase.
Desta forma, as soluções para a fuidoterapia podem ser agrupadas de conformidade com
suas características:
* soluções coloidais para repor a volemia.
* soluções salinas para repor o volume extracelular (hidratar).

3) HIDRATAÇÃO

Para ser feito o diagnóstico do déficit líquido no organismo, poderão ser


utilizados os exames clínicos e os laboratoriais. Com finalidade didática, a hidroterapia
pode ser dividida em três fases: pré, trans e pós-operatória.

3.1) Fluidoterapia pré-operatória:

3.1.1) Pequenos animais:


Para estimar a quantidade de solução a repor é necessário avaliar o grau de
desidratação em que o indivíduo se encontra. A avaliação clínica permite uma estimativa

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subjetiva, porém suficiente para evitar uma reposição excessiva ou muito aquém das reais
necessidades do paciente. É conveniente lembrar que nos animais obesos ou caquéticos,
estes sinais podem estar mascarados, e que a desnutrição não é sinônimo de desidratação,
e a obesidade não significa boa condição física.

QUADRO 1 - Parâmetros para a avaliação clínica pré-operatória de cães, relacionando os


sinais físicos com o grau de desidratação.

% DE DEPLEÇÃO SINAIS FÍSICOS


4 Sem anormalidade, apenas história clínica de falta de ingestão de
água;
6 Leve inelasticidade da pele (flacidez), mucosas e pele secas, urina
concentrada, cansa facilmente;
8 Pele sem elasticidade, tempo de reperfusão capilar acima de 3
segundos, olho profundo na órbita, mucosa oral viscosa e seca,
urina concentrada e escassa;
10 - 12 Pele com severa falta de elasticidade, reperfusão capilar acima de
3 segundos, olho profundo na órbita, mucosa pálida, pulso rápido
e fraco, contrações musculares involuntárias, choque em animais
debilitados;
12 - 15 Choque ou morte iminente
Adaptado de Cornélius ,1980 apud
RAISER,1995

O déficit pode ser avaliado quando aplicado na fórmula:

Déficit = Biopeso(kg) X %Desidratação ÷ 24 Horas


100

Calcula-se também o requerimento básico diário caso o animal não esteja


ingerindo água, que é para o cão 40-50ml/kg/dia e para o gato de 70ml/kg/dia.
Se o animal ainda apresentar vômito e diarréia, deve-se calcular as compensações
para estas perdas digestivas.
Perdas gastrointestinais - Vômito: 40ml/kg/dia
Diarréia: 50ml/kg/dia
Ambos: 60ml/kg/dia

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QUADRO 2 - Parâmetros para reposição das necessidades básicas diárias, das perdas
gastrointestinais relativas à água, sódio e potássio para cães e gatos.

ESPECIFÍCAÇÃO ÁGUA SÓDIO POTÁSSIO


Necessidades diárias Cão:40-50ml/kg/dia 3mEq/kg/dia 1mEq/kg/dia
Gato:70ml/kg/dia

Perdas já ocorridas % depleçãoxkg /24 6 mEq/100ml à repor 2 mEq/100ml à repor


100
Perdas gastrointestinais Vômito:40ml/kg/dia 9mEq/100ml à repor 3mEq/100ml à repor
Diarréia:50/ml/kg/dia
Ambos:60ml/kg/dia
Raiser, 1995.

Ex. de hidratação (caso clínico):

Um cão pastor pesando 10kg, com um grau de desidratação de 10%, apresentando


vômito e diarréia, e que não esteja ingerindo água espontaneamente. O cálculo de solução
para repor em 24 horas seria de:
Necessidade diária - 10kg x 50ml = 500ml ou 0,5 litros
Déficit - 10kg x 10% = 100 = 1 litro
100 100
Perdas gastrointestinais = 10kg x 60ml = 600ml ou 0,6 litro
Total em 24 horas = 0,5 litro + 1 litro + 0,6 litro = 2,1 litros.
Reposição das necessidades básicas diárias, das perdas já ocorridas, das perdas
gastrointestinais relativas à água, sódio, e potássio para o pastor:
- necessidade diária sódio: 10 x 3 = 30mEq
potássio: 10 x 1 = 10mEq
- déficit sódio: 1000ml / 100ml = 10 10 x 6 = 60mEq
potássio: 1000ml / 100ml = 10 10 x 2 = 20mEq
- perdas gastrointestinais: de sódio: 600ml / 100ml = 6 6 x 9 = 54mEq
de potássio: 600ml/100ml = 6 6 x 3 = 18mEq
- total (24 horas): sódio 144mEq
potássio: 48mEq

3.1.2) Grandes animais:

Para grandes animais, existe uma maior dificuldade para avaliar o grau de
desidratação, visto que os sinais clínicos de turgor da pele, umidade e brilho das mucosas
e a retração do olho na órbita são subjetivos.

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Parâmetros para avaliação do grau de desidratação em bovinos e eqüinos.

QUADRO 3 - Parâmetros para avaliação da desidratação em bovinos.

% DESIDRATAÇÃO SINAIS CLÍNICOS


10 (Moderado) Sinais de depressão e apatia, perda de turgor da pele, olho
profundo na órbita, paciente em estação ou decúbito esternal.
15 (Severo) Além dos sinais de grau moderado, diminuição na temperatura
corporal, decúbito lateral, animal moribundo
Jenhings, 1984 apud RAISER, 1995.

Bovinos - Déficit = peso x %desidratação / 24 horas


100
Quando o bovino não tomar voluntariamente as necessidades hídricas diárias,
estas devem ser suplementadas, sendo adicionadas ao déficit, na quantidade equivalente
ao quadro a seguir:

QUADRO 4 - Requerimento diário de água (litros/dia) para animais isotérmicos e


febris incapacitados de ingerir água. Em fêmeas aleitando acrescentar1 litro de
água por litro de leite produzido.

PESO temp. temp. temp. PESO temp. temp. temp.


(kg) + 1 ºc + 2 ºc +3ºc (kg) +1ºc +2ºc +3ºc
40 3,0 3,5 4,0 140 13,5 15,0 17,0
50 3,7 4,2 4,6 280 15,0 18,0 19,9
60 4,2 4,9 5,5 320 17,8 19,0 21,0
70 4,9 5,5 6,0 340 18,6 20,0 23,0
80 5,3 6,2 7,0 380 19,0 22,0 25,0
90 6,0 6,6 7,4 400 20,0 23,0 26,0
100 6,6 7,5 8,2 450 22,0 24,5 27,0
120 7,4 8,4 9,6 500 25,0 27,0 29,0
140 8,8 9,7 11,0 600 28,0 32,0 40,0
160 9,8 10,8 12,5 700 32,0 36,0 41,0
180 10,0 12,0 14,2 900 40,0 45,0 50,0
200 11,2 13,0 14,9 1000 43,0 48,0 60,0
Jennings, 1984 apud RAISER, 1995.

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QUADRO 5 - Parâmetros para avaliação da desidratação em equinos.

% DE DESIDRATAÇÃO SINAIS CLÍNICOS


Até 4 Inaparentes;
4-6 Perda de elasticidade da pele, ressecamento das
mucosas, tempo de reperfusão capilar aumentado,
diminuição no débito urinário;
8 - 10 Os sinais anteriores tornam-se mais severos,
ressecamento da córnea, diminuição na pressão intra-
ocular, retração do olho na órbita, pulso fraco,
oligúria, depressão, hematócrito acima de 60%,
jugular com distensão comprometida.
RAISER,1995

Eqüinos - Déficit = peso x %desidratação /24 horas


100

* As perdas por diarréia no eqüino adulto pode variar de 15 a 18 litros de água por
dia.
* O requerimento basal é de 40 - 50ml/kg/dia de água.
* Em casos de cólica recomenda-se associar 01 litro de plasma ou expansor para
cada 9 litros de ringer lactato, compensando assim o seqüestro de proteínas do plasma e
eletrólitos para o lume intestinal.

3.2) Fluidoterapia Trans-Operatória:

Durante a cirurgia podem ocorrer perdas de grau proporcional ao tempo e


severidade da agressão cirúrgica, além do que, com raras exceções, a maioria dos
fármacos tranqüilizantes e anestésicos são hipotensores.
No trans-operatório além da perda de volume circulante (hemorragia) há redução
do líquido extracelular devido ao seqüestro para o chamado “terceiro espaço” (edema de
dissecação extensa, fuga de líquido para o lume ou parede de órgãos ocos e cavidade
peritonial); para o meio externo por evaporação (superfície corporal, trato respiratório,
vísceras expostas) e por lesão celular.
A utilização de uma solução eletrolítica balanceada durante as intervenções
cirúrgicas traz benefícios inquestionáveis. Além de facilitar a suplementação de
anestésico venoso, permite a administração de fármacos em casos de emergências cardio-
repiratórias e oferece compensação para as perdas de líquido orgânico. É recomendada a
solução de ringer lactato de sódio, na dose de 10 a 20ml/kg/h, para pequenos animais e 6
a 8ml/kg/h para grandes animais.
Além de fazer a reposição hidroeletrolítica o ringer lactato de sódio tem a ação
alcalinizante devido ao aumento na perfusão tecidual, filtração renal e metabolização do
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lactato em bicarbonato. No entanto, deve-se ter em mente, que o lactato é metabolizado


em um período de 2 a 3 horas pelo fígado. Sendo assim, nos casos de severa acidose
láctica e/ou patologia hepática, é recomendado usar o bicarbonato de sódio na dose de 2 a
4mEq/kg, diluído em 500ml de solução salina e administração por gotejamento venoso.

3.3) Reposição Pós-Operatória:

Nesta fase, deve-se proceder a uma avaliação clínica cuidadosa da dinâmica


circulatória, registrando o aporte e as perdas de líquido diariamente (vômito, diarréia e
perdas para o 3º espaço). A avaliação dos sinais físicos permite uma estimativa
aproximada da condição geral.
Na fase de estresse pelo trauma cirúrgico ocorre glicogênese principalmente a
expensas de aminoácidos, o catabolismo protéico está aumentado na fase de regeneração
tecidual. No pós-operatório imediato a fluidoterapia deve constar de uma solução
hidroeletrolítica balanceada, como o ringer lactato de sódio, à qual pode ser associada
outra contendo aminoácidos e não glicose. O volume administrado ao canino deve ser de
50ml/kg/dia, para o felino de 70ml/kg/dia e para grandes animais na dose de 40ml/kg/dia,
evitando assim a oligúria e a hiponatremia por diluição.
Os sinais físicos indicadores de hipotensão incluem: pulso filiforme ou ausente,
colabamento de veias periféricas, diminuição no débito urinário, bulhas cardíacas mais
fracas à auscultação e variação na coloração das mucosas e do tempo de reperfusão
capilar.

QUADRO 6 - Relação entre variações na coloração das mucosas e tempo de


reperfusão capilar com a condição cardiovascular.

COLORAÇÃO DA MUCOSA TEMPO DE REPERFUSÃO CONDIÇÃO


CAPILAR CARDIOVASCULAR
Rosa Brilhante 1 segundo ou menos normal;
Congesta 1 segundo ou menos vasodilatação, débito cardíaco
normal à baixo;
Rosa - Pálida 1 a 3 segundos pressão sanguínea e débito
cardíaco baixos, vaso-
constrição periférica;
Azulada 1 a 3 segundos pressão arterial e débito
cardíaco muito baixos, hipóxia,
possível dilatação venosa e/ou
refluxo de sangue venoso em
leito capilar.
Nelson,1976 apud RAISER,1995.

Nos casos de hipovolemia há necessidade de repor o volume com soluções


contendo moléculas que não atravessem facilmente a parede capilar e que permaneçam
no leito vascular exercendo pressão coloidosmótica (soluções coloidais), as quais são
classificadas como expansores da volemia. As soluções salinas (ringer, cloreto de sódio,
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etc.) não mantêm pressão coloidosmótica, podendo causar edema por passarem
rapidamente para o meio intersticial, estas são classificadas como soluções hidratantes.
Assim, a utilização de soluções hidratantes e expansores da volemia devem ser
associadas numa proporção de 3:1, para que seja corrigido o déficit hidroeletrolítico e a
hipotensão.

4) TRANSFUSÃO DE SANGUE

4.1) Definição:

É a operação pela qual se faz passar o sangue das veias de um indivíduo para o
outro. Com as transfusões, pode-se conseguir desde resultados excelentes até resultados
desastrosos. Os resultados negativos decorrem principalmente de incompatibilidade
imunológica, uso inadequado de anticoagulante, sepse e reposição insuficiente ou
excessiva.

4.2) Grupos sangüíneos:

A membrana dos eritrócitos apresenta antígenos específicos (mucopolissacarídeos


e/ou glicolipídeos) que determinam os grupos sangüíneos nas diferentes espécies.
Cães - Apresentam 7 antígenos eritrocitários com 8 determinantes antigênicos,
designados D.E.A. (Dog Eritrocyte Antigen). São eles: DEA1.1 , DEA1.2 , DEA3 ,
DEA4 , DEA5 , DEA6 , DEA7 , DEA8.
A incidência de reações transfusionais, em repetidas transfusões entre doador e
receptor ao acaso é de 15%.
Gatos - Apresentam 3 tipos específicos de antígenos: A=73% , B=26% , AB=1%.
Bovinos - Apresentam 11 sistemas de grupos sangüíneos, sendo que cada grupo
tem número variável de determinantes antigênicos (fenogrupos). São os sistemas: A,B,
C,F,J,L,M,S,R’, T’, Z.
Fenogrupos: A existem 11
C existem 100
B existem 1000
Eqüinos - Apresentam 8 sistemas de grupos sangüíneos A,C,D,K,P,Q,T,U com
aproximadamente 400.000 tipos sangüíneos.

4.3) Indicações para transfusão:

- choque hemorrágico (demasiada perda sangüínea);


- trombocitopenia acentuada;
- anemia grave (administrar papa de hemácias);
- desordens hemorrágicas (sangue ou plasma fresco).

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4.4) Acidentes transfusionais:

De um modo geral, a primeira transfusão feita a um paciente não determina


reação do tipo incompatibilidade, uma vez que é o primeiro contato com o antígeno. Se
os animais, doador e receptor, forem de grupos diferentes, o animal receptor será
sensibilizado a esse antígeno e, em uma segunda transfusão, apresentará sinais de
incompatibilidade ao receber sangue do mesmo grupo ao qual foi sensibilizado. Os
animais portadores de isoanticorpos naturais podem apresentar reação já na primeira
transfusão. Um animal que nunca recebeu sangue, pode ser feitas varias transfusões com
o mesmo tipo de sangue durante 4 a 5 dias, com relativa segurança. A partir de uma
semana, o paciente receptor já reagirá aos antígenos do sangue transfundido (quando
incompatível) e apresentará isohemolísinas.
A transfusão de sangue incompatível pode causar as seguintes reações:
a) destruição tardia dos eritrócitos transfundidos (7 a 10 dias no cão e menos de 5
no gato);
b) sensibilização do receptor a subseqüente transfusão com o mesmo sangue;
c) reação transfusional imediata em um paciente já sensibilizado e;
d) possibilidade de enfermidade hemolítica em recém nascidos que tenham
recebido isoanticorpos de uma mãe sensibilizada.
As reações ao sangue incompatível podem variar em grau, com o animal
apresentando desde inquietação, polipnéia, e tosse (grau moderado), até dispnéia, emese,
tremores, incontinência urinária e fecal, prostração, hipertermia (40 - 41ºc), convulsão,
hipertensão, falência cardíaca, hipotensão, choque e morte (hemólise aguda). Se a reação
não for letal, o paciente pode se recuperar entre 12 e 24 horas.

4.5) Colheita e estocagem do sangue:

a) o sangue deve ser sempre colhido sob condições de estrita assepsia;


b) local de colheita (veia jugular externa, veia femural);
c) técnica de venóclise - fazer uma única e perfeita venipunção para evitar:
- traumatismo excessivo com ativação do sistema de coagulação através da
liberação de tromboplastina;
- acúmulo de fibrina local provocando impedimentos do fluxo sangüíneo.

d) recipientes para a colheita:


- frascos de vidro a vácuo (maior hemólise eritrocitária, consumo das
plaquetas, difícil separação dos componentes do sangue);
- bolsas plásticas (menor hemólise, as plaquetas não aderem às paredes,
inquebráveis, fácil separação do plasma).
e) armazenamento:
- o ACD (ácido cítrico em dextrose) e o CPD (ácido cítrico com fosfato em
dextrose) mantém o sangue viável por 21 dias entre a temperatura de 4 e 6ºc ( 400ml de
sangue para 100ml de ACD ou CPD);

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- à medida que o sangue envelhece, aumenta os níveis de lactato, piruvato e


citrato, queda de cálcio, das plaquetas e dos fatores de coagulação, diminuição do
hematócrito, o pH acidifica e formam-se trombos.

4.6) Condições do doador:

* cão - animal dócil, bom porte físico(+ 25kg), hematócrito acima de 40%, livre
de enfermidades, vacinado, de 2 a 5 anos;
* gato - animal dócil, bom porte físico(5 a 7kg), vacinado, livre de enfermidades,
hematócrito + 35%;
* bovino e eqüino - animal dócil, bom porte físico(acima de 500kg), vacinado e
livre de enfermidades;
* colheita - pode ser feita a cada 15 - 21dias;
* tanto o cão quanto o gato podem doar até 20ml/kg (40ml para o sacrifício);
* grandes animais dever-se calcular a volemia (8% do peso vivo) e deve ser
colhido o equivalente a 10-20% da volemia).

4.7) Administração do sangue:

a) a quantidade de sangue transfundido depende da necessidade do receptor, em


média 10 a 15ml/kg (até 5ml/min.) em pequenos animais e 15 a 25ml/kg (até 40ml/min.)
para bovinos e equinos;
b) o sangue deve ser aquecido na temperatura de 37ºc antes da transfusão;
c) o sangue é transfundido através de um equipo com filtro de malha ( 170µ );
d) a transfusão é indicada quando o animal apresenta ↓ 15% de hematócrito.

4.8) Administração de substitutos do plasma:

Existem substâncias que podem ser utilizadas como substitutos do plasma, para
expandirem a volemia. Como permanecem por um tempo maior na circulação do que as
soluções salinas, devido ao seu efeito sobre a pressão oncótica, atraem líquido do meio
intersticial, contribuindo assim para expandir a volemia. Atualmente os expansores do
plasma mais utilizados compõem dois grupos principais: os dextranos e os polimerizados
de gelatina.
a) dextranos (Dextran) - pode ser encontrado em três tipos:
- dextrano de alta viscosidade (500.000 PM), só utilizado em experimentos;
- dextrano 70 ou de médio peso molecular (70.000 a 80.000 PM), indicado para
repor a volemia nos pacientes com grandes queimaduras, pois permanece maior tempo no
leito vascular;
- dextrano 40 ou de baixo peso molecular (40.000 PM), é o mais utilizado.
Apresenta como propriedades a expansão da volemia, o efeito hemodiluente, corrige o
edema intersticial, evita agregação plaquetária e de hemácias e favorece a diurese.

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Desvantagens - tendências a hemorragias, pode provocar reações de


hipersensibilidade e causar insuficiência renal aguda.
b) polímeros de gelatina (Haemaccel ou Hisocel): estes polímeros de gelatina
bovina são veiculados em solução salina, possuem peso molecular em torno de 35.000.
Vantagens - expansão plasmática acentuada e duradoura, hemodiluição, ação
hiperoncótica moderada, corrige a acidose, baixa interferência com a coagulação,
aumentam a filtração glomerular, boa tolerância orgânica e não apresenta reação
imunológica.

5) VIAS PARA A FLUIDOTERAPIA

5.1) Oral:
* vantagens - maior margem de segurança, complicações iatrogênicas
improváveis, tonicidade do fluido não é crítica, esterilidade não é necessária, econômica,
necessidades calóricas podem ser supridas por esta via;
* desvantagens - controle da dosagem é difícil, problemas gastrointestinais contra
indicam seu uso, tempo de absorção mais lento, difícil uso em pacientes inconscientes.

5.2) Intravenosa:
* vantagens - uso de soluções variadas conforme a necessidade (eletrólitos,
tonicidade), preciso controle da dosagem, o agente terapêutico é rapidamente distribuído
através do organismo;
* desvantagens - menor margem de segurança, aplicação lenta, pouca
disponibilidade de vasos, necessidade de soluções estéreis.

5.3) Subcutânea:
* vantagens - administração mais rápida, taxa de administração não é crítica,
muitos locais de aplicação;
* desvantagens - os fluidos podem não ser absorvidos se a perfusão periférica for
pobre, pode ocorrer desconforto para o paciente, taxa de administração limitada.

5.4) Intraperitoneal:
* vantagens - administração rápida, taxa de administração não é crítica, vários
locais para aplicação, grande superfície de absorção;
* desvantagens - risco de lesão de vísceras e infecção, cuidar tonicidade do fluido,
não deve ser utilizada após cirurgia abdominal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRANE, S. W. , BETTS, C. W. Manual de terapêutica cirúrgica dos pequenos animais.


São Paulo: Manole, 1988. 437 p.

OSBORNE, C. A. Fluidoterapia básica. Veterinária Brasileira, Jan./Mar., p. 19-27, 1985.

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RAISER, A. G. Patologia cirúrgica veterinária. Santa Maria: Centro de Ciências Rurais


- UFSM, v. 1 , 1995. 135 p.

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