Teoria Da Personalidade I

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Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 1
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria
personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra
vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
(Cora Coralina)
As circunstâncias entre as quais você vive determinam sua reputação...
A verdade em que você acredita determina seu caráter...
A reputação é o que acham que você é;
o caráter é o que você realmente é...
A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova;
o caráter é o que você tem quando vai embora.
A reputação é feita em um momento;
o caráter é construído em uma vida inteira...
A reputação torna você rico ou pobre;
o caráter torna você feliz ou infeliz...
A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura;
o caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus.
(William Hersey Davis)
Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que
nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...
(...)
Agora de uma coisa eu tenho certeza:
sempre devemos ser autênticos,
as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser...
Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência.
(...)
Que desafio, hein?
“... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la...”
(Clarice Lispector)
O homem de palavra fácil e personalidade agradável
raras vezes é homem de bem.
(Confúcio)
Eu tenho um sonho.
O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade,
não pela cor de sua pele.
(Martin Luther King)
A personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade:
quem o usa é o único que o não sente.
(Gilbert Cesbron)
A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma,
porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente da sua independência.
(Albert Einstein)
O primeiro efeito de um excessivo amor pela riqueza é a perda da própria personalidade.
Quanto menos se amam as coisas, mais se é pessoa.
(Vitaliano Brancati)
Ser você mesmo em um mundo que está constantemente tentando fazer de você outra coisa,
é a maior realização.
(Ralph Waldo Emerson)
O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se
alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação.
(Jung)

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SUMÁRIO

1. . Introdução ao Estudo das Teorias da Personalidade 4

. Perspectivas Teóricas da Personalidade:


2. Parte 1 – O Ocidente – (1ª e 2ª Divisão das Teorias da 9
Personalidade Ocidentais)
Parte 2 – O Oriente – (Divisão das Teorias da 15
Personalidade Orientais)

3. . A Teoria da Personalidade de Sigmund Freud 19

4. . Introdução ao Existencialismo 24

. Teoria da Existência 26

5. . A Teoria da Personalidade de Karen Horney 31

6. . A Teoria da Personalidade de Alfred Adler 38

7. . A Teoria da Personalidade de Henry Murray 54

8. . A Teoria da Personalidade de Harry Stack Sullivan 63

9. . A Teoria da Personalidade de Erik Erikson 69

10. . A Teoria da Personalidade de Erich Fromm 77

11. . A Teoria da Personalidade de Gordon Allport 91

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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

O Papel da Teoria da Personalidade no Desenvolvimento da Psicologia


I. Fontes que influenciaram a Teoria da Personalidade
a) As Observações Clínicas → Charcot, Freud, Jung, McDougall.
b) A Tradição Gestáltica (unidade do comportamento) → William Stern.
c) O Impacto da Psicologia Experimental, em geral e da Teoria da
Aprendizagem em particular → (Pesquisas sobre comportamento) → Pavlov,
Thorndike, Watson, Wundt.
d) A Tradição Psicométrica → Análise quantitativa de dados.
e) Outras fontes:
 Genética.
 Positivismo Lógico.
 Antropologia Social.

II. Contextualização Histórica


 A origem da Teoria da Personalidade deve-se muito mais à profissão médica
e às exigências da prática médica. Freud, Jung e McDougall → médicos que
praticaram a Psicoterapia.
 Primeiros teóricos da personalidade eram ao mesmo tempo profissionais e
estudiosos.

III. Generalizações a respeito da Teoria da Personalidade


a) A Teoria da Personalidade tem desempenhado um papel dissidente no
desenvolvimento da Psicologia.
b) As Teorias da Personalidade são funcionais em sua orientação (questões
importantes para o ajustamento e sobrevivência do organismo).

IV. Interesses das Teorias da Personalidade


a) Funcionais → as teorias são formuladas no sentido de contribuir para a
solução dos problemas da vida cotidiana, agravados pela neurose ou coisas
piores.
b) Motivacionais → as teorias atribuem um papel decisivo aos processos
motivacionais considerando-os a chave para a compreensão da conduta
humana.

V. Aspectos da Teoria da Personalidade


 Uma compreensão adequada do comportamento humano só será possível a
partir do estudo da personalidade total, não segmentada.
 A Teoria da Personalidade tem sua função como teoria integradora:
Preocupação maior com a reconstrução e integração do que com a análise ou
o estudo segmentado da conduta.
 A Teoria da Personalidade está em condições de pôr em ordem o quebra-
cabeças fornecido pelos estudos isolados das várias especialidades da
Psicologia.

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Distinção entre a Psicologia Tradicional e a Teoria da Personalidade
Psicologia Tradicional Teoria da Personalidade
1) Mais presa a operações experimentais ou 1) Mais especulativa. Desenvolve teorias
de medida → influência do positivismo. multidimensionais e mais complexas.
2) Teorias menos vagas e mais específicas. 2) Teorias mais vagas e menos específicas.
3) Contenta-se em fixar a atenção sobre uma 3) Aceita qualquer aspecto do comportamento
relação limitada de observações e que apresente significado funcional como
registros. dado legítimo para o esquema teórico.
4) Vê o comportamento como um dos muitos 4) Vê a motivação, o “porquê” ou os impulsos
problemas e procura estudá-lo por meio de subjacentes do comportamento como
um pequeno número de conceitos problema teórico e empírico fundamental.
intimamente ligados a processos
fisiológicos.

O que é Personalidade
I. Conceituações de Uso Comum:
f) Personalidade relaciona-se com habilidades sociais: a eficiência em produzir
reações positivas ou não, em diversas pessoas e em diversas situações.
g) Personalidade avaliada pela impressão que o indivíduo causa em outras
pessoas. Ex.: personalidade “agressiva”, “passiva”, “tímida”.
Ambas possuem um elemento de valoração → bom ou mau.

II. Allport (1937)


 Selecionou cerca de 50 definições diferentes, classificando-as em categorias
gerais.
 Distinção segundo Allport:
1) Psicologia Biossocial: corresponde ao conceito popular de
Personalidade.
2) Psicologia Biofísica: fundamenta a Personalidade em características ou
qualidades do próprio indivíduo (aspecto constitucional e aspecto
aparente), passíveis de descrição e mensuração objetivas.
III. Definição Globalizante → a personalidade por enumeração, se refere a tudo
quanto diz respeito ao indivíduo.
IV. Definições pela função integradora ou organizadora da personalidade →
Personalidade é aquilo que ordena e harmoniza todas as formas de comportamento do
indivíduo.
V. Definições pela função da personalidade como mediadora no ajustamento do
indivíduo → Personalidade consiste nos diversos esforços do indivíduo para ajustar-se.
VI. Personalidade equivale a aspectos ÚNICOS ou individuais do comportamento os
quais distinguem um indivíduo dos demais.
VII. Personalidade representa a ESSÊNCIA do homem, o que é mais representativo
nele.
“Personalidade é o que um indivíduo realmente é” (Allport).
Ela consiste naquilo que é mais típico e característico do indivíduo.

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IMPORTANTE:
 Nenhuma definição substantiva de personalidade pode ser generalizada.
 O modo pelo qual uma pessoa define personalidade depende inteiramente da sua
preferência teórica.
 A personalidade é definida por conceitos empíricos particulares que são uma parte
da teoria da personalidade empregada pelo observador.
 É impossível definir personalidade sem a aceitação de uma linha teórica de
referência dentro da qual a personalidade será pesquisada.

O que é Teoria
I) Conceitos
 Teoria:
 Um conjunto de convenções criadas pelo teórico.
 Uma hipótese não consubstanciada ou uma especulação a respeito da
realidade que não é ainda definidamente conhecida.
 Constituída de um conjunto de hipóteses relacionadas com fenômenos
empíricos relevantes e de definições empíricas que permitem ao
pesquisador passar da teoria à observação empírica.

 As teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, embora suas implicações
possam ser verdadeiras ou falsas.
 Uma teoria é apenas útil ou inútil e essas qualidades são definidas conforme a
eficiência da teoria para criar proposições sobre eventos relevantes que
venham a ser comprovados.

II) Em sua forma “ideal” uma teoria deveria abranger:


1) Um conjunto de postulados sistematicamente relacionados entre si. Eles
deveriam:
 Ser relevantes no sentido de fundamentar os eventos empíricos que se
relacionam com a teoria.
 Ser expostos claramente.
 Apresentar consistência lógica que permita o processo de derivação.
2) Um quadro de definições empíricas (definições coordenadoras ou
operacionais) que permita uma interação mais ou menos precisa de certos
termos ou conceitos contidos na teoria com os dados empíricos e que procure
determinar operações por meio das quais as variáveis ou os conceitos
importantes possam ser medidos.
III) Funções da Teoria:
1) Possibilitar a coleta ou observação de relações empíricas relevantes e ainda
não observadas entre eventos variáveis, cabendo à teoria, a sistematização
desse processo.
2) Permitir a incorporação de descobertas empíricas conhecidas numa estrutura
logicamente consistente e razoavelmente simples.
3) Simplicidade ou Parcimônia, importante para quando estivermos diante de
uma tautologia → duas teorias que chegam às mesmas conclusões, mas
partindo de pontos diferentes → rara na Psicologia.
4) Evitar que o observador se perca diante da grande complexidade dos
acontecimentos naturais ou concretos.

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Uma Teoria da Personalidade
 Uma Teoria da Personalidade deve ser: (Ideal)
a) Um conjunto de hipóteses relevantes para o comportamento humano,
juntamente com as necessárias definições empíricas.
b) Capaz de abranger um campo amplo do comportamento humano e fazer
predições sobre ele.
c) Capaz de tratar qualquer fenômeno do comportamento que tenha significado
para o indivíduo.
 Na realidade, a maior parte das Teorias da Personalidade:
a) Não são apresentadas de maneira ordenada e correta.
b) Falta-lhes clareza relativa à natureza dos postulados que as fundamentam.
c) Parecem orientadas mais para a persuasão do que para a exposição.
d) Há uma frequente confusão entre o que é dado ou suposto e o que é
estabelecido empiricamente e posto à prova (derivações ou predições).
e) Embora variem quanto à especificação das definições empíricas, nenhuma
delas atinge um padrão alto em termos absolutos.

 Comparadas com o ideal, as Teorias da Personalidade:


a) Por mais pobres que sejam, representam um considerável passo adiante.
b) Ainda que não possuam clareza desejável, sua mera existência torna possível
atingir o ideal de maneira sistemática.
c) Mesmo que não proporcionem uma proposição exata que possa ser posta à
prova, elas orientam o teórico para certas áreas de problemas e lhe mostram
que determinadas variáveis são de importância capital no estudo dos
problemas.
d) Consideradas como um todo, elas produzem ideias para estimular a
curiosidade, suscitar dúvidas, induzir a convicções, têm produzido um
florescimento sadio da investigação, apesar da ausência de formalização.

A Comparação das Teorias da Personalidade


Características utilizadas para a comparação e distinção entre as Teorias da
Personalidade:
1) Atributos Formais:
São qualidades referentes à estrutura da teoria, apresentam um padrão
normativo, ou estimado, e representam um ideal.
a) Clareza e Especificação
b) Relação entre a teoria e os fenômenos empíricos.

2) Atributos Substantivos:
São atributos de natureza fundamental da teoria. São neutros e apenas refletem
determinadas hipóteses relativas ao comportamento.
a) As Qualidades Propositivas ou Teleológicas como aspectos do
comportamento.
b) Os Determinantes Conscientes e Inconscientes do comportamento.
c) A importância do Hedonismo, da Recompensa ou do Efeito.
(Busca do prazer e afastamento da dor).

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d) O Princípio da Associação (Contiguidade) → a ocorrência simultânea de S-R
que leva à aprendizagem.
e) A Importância do Processo da Aprendizagem, ou à modificação do
comportamento.
f) A Importância da Genética, ou dos Fatores Hereditários (X Ambientalismo)
na determinação do comportamento.
g) A Importância às Experiências Iniciais do Desenvolvimento (X Fatores
Contemporâneos).
h) A Continuidade ou Descontinuidade do comportamento nos diferentes
estágios do desenvolvimento.
i) A Aceitação dos Princípios Holistas (Posição Organísmica e Ênfase do
Campo X Estudos Parciais e Analíticos).
j) A Questão da Singularidade ou Individualidade.
k) A Questão da Amplitude da Unidade de Comportamento empregada na
análise da personalidade. (Abordagem Molar (Geral) X Abordagem
Molecular (Específica)).
l) Os Mecanismos Homeostáticos (de Auto-regulação) → tendência vital e
automática na manutenção de um estado psicológico equilibrado e estável.
m) A Importância do Meio Psicológico ou do Esquema Subjetivo de Referência
(X Meio Físico ou da Realidade Objetiva).
n) O Auto-Conceito como chave para a compreensão de difíceis fatos do
comportamento.
o) A Participação do Indivíduo no Grupo (Determinantes Sócio-Culturais).
p) A Questão da Abordagem Interdisciplinar (X Psicologicismo).
q) O Número de Conceitos Motivacionais empregados nas Teorias da
Personalidade.
(Motivos Primários ou Inatos e Motivos Secundários ou Adquiridos).
r) O Uso de Referências Normativas para o Comportamento.
(Comportamento Normal ou Superior X Comportamento Anormal ou
Patológico).

“As Teorias da Personalidade são tentativas para formular ou representar aspectos


significativos do comportamento humano, e sua utilidade deve ser julgada, sobretudo
quanto à sua eficiência como estímulo à pesquisa.”

P
E
R
S
O
N
A

Referência Bibliográfica:
Hall, C. S.; Lindzey, G. & Campbell, J. B. (2000). Teorias da Personalidade. 4a ed., Porto
Alegre: Artes Médicas Sul.

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CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA PERSONALIDADE


PARTE 1 O OCIDENTE

 Por Que Existem Diferentes Teorias?


Se as teorias da personalidade são verdadeiramente científicas, por que existem
tantas teorias diferentes? Existem porque a própria natureza da teoria permite ao teórico
que realize especulações de acordo com um ponto de vista particular. Os teóricos devem
manter a maior objetividade possível na coleta de dados, mas decidir que tipo de dados
coletar e qual a forma de interpretá-los são decisões pessoais. As teorias não são leis
imutáveis; elas são construídas, não sobre fatos provados, mas sobre pressupostos
sujeitos a uma interpretação individual.
Todas as teorias são o reflexo de seus autores: de sua história pessoal, das
experiências da infância, da filosofia de vida, dos relacionamentos interpessoais e da
maneira singular de olhar para o mundo. Uma vez que essas interpretações sejam
matizadas pela perspectiva do indivíduo observador, percebe-se que há muitas e
variadas teorias. Apesar disso, a existência de teorias divergentes pode ser útil. A
utilidade de uma teoria não depende apenas de seu valor de senso comum ou da sua
concordância com outras teorias; ao contrário, depende de sua capacidade de produzir
pesquisa e de explicar os dados da pesquisa, bem como outras observações.

 Teóricos da Personalidade e suas Teorias


Considerando-se que as teorias da personalidade desenvolvem-se a partir das
personalidades de seus criadores, um estudo delas parece apropriado. Nos últimos anos
uma subdisciplina da psicologia, chamada Psicologia da Ciência, começou a investigar
os traços pessoais dos cientistas. A Psicologia da Ciência estuda tanto a ciência quanto o
comportamento dos cientistas, ou seja, ela investiga o impacto dos processos
psicológicos e das características pessoais de um cientista, em termos do
desenvolvimento de suas teorias e pesquisas científicas (Feist, 1993, 1994; Feist e
Gorman, 1988; Gholson, Shadish, Neumyer e Hoults, 1989). Em outras palavras, a
Psicologia da Ciência examina a forma pela qual as personalidades, os processos
cognitivos, o histórico de desenvolvimento e as experiências sociais dos cientistas
afetam o tipo de ciência que realizam e as teorias que criam. De fato, diversos
investigadores (Hart, 1982; Johnson, Germer, Efran e Overton, 1988; Simonton, 2000;
Zachar e Leong, 1992) demonstraram que as diferenças de personalidade influenciam a
orientação teórica dos indivíduos, bem como a sua propensão para um lado mais “fácil”
ou “difícil” de uma disciplina.
Uma compreensão das teorias da personalidade baseia-se nas informações
referentes aos mundos histórico, social e psicológico de cada teórico na época em que
desenvolveram suas teorias. Uma vez que acreditamos que as teorias da personalidade

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refletem a personalidade do teórico, incluímos uma quantidade substancial de
informações sobre cada um deles. As diferenças de personalidade entre eles, de fato,
respondem por diferenças fundamentais entre aqueles que se inclinam na direção da
psicologia quantitativa (behavioristas, teóricos do aprendizado social e teóricos de
traços) e aqueles voltados aos aspectos clínicos e qualitativos da psicologia
(psicanalistas, humanistas e existencialistas).
Embora a personalidade de um teórico molde parcialmente sua teoria, ela não
deveria ser o seu único determinante. Do mesmo modo, sua aceitação de uma ou de
outra teoria não deveria basear-se somente em seus valores e em suas predileções
pessoais. Ao avaliar e escolher uma teoria, deve-se reconhecer o impacto da história
pessoal do teórico, mas deverá avaliá-la, em última instância, com base em critérios
científicos independentes desta história pessoal. Alguns observadores (Feist, 2005; Feist
e Gorman, 1998) estabeleceram uma distinção entre Ciência como Processo e Ciência
como Produto. O processo científico pode ser influenciado pelas características
pessoais do cientista, mas a utilidade final do produto científico é e deve ser avaliada
independentemente do processo.
Assim, sua avaliação de cada uma das teorias apresentadas deve basear-se mais
em critérios objetivos do que em suas preferências subjetivas.

 Termos e Conceitos Essenciais


• O termo “Personalidade” vem do latim “persona”, ou máscara, que as pessoas
apresentam para o mundo exterior, embora os psicólogos vejam a personalidade
como algo muito maior do que aparências exteriores.
• Personalidade inclui todos os traços ou características relativamente permanentes
que dão consistência ao comportamento de alguém.
• Uma teoria é um conjunto de pressupostos relacionados que permite aos cientistas
formular hipóteses testáveis.
• A teoria não deve ser confundida com filosofia, especulação, hipótese ou taxonomia,
embora esteja relacionada a cada um destes termos.
• Seis critérios determinam a utilidade de uma teoria científica.  A teoria gera
pesquisa?  É refutável?  Ela organiza e explica o conhecimento?  Ela sugere
soluções práticas para problemas cotidianos?  Ela é consistente com seu
conteúdo?  Ela é simples ou parcimoniosa?
• Cada teórico da personalidade teve um conceito de humanidade explícito ou
implícito.
• Os conceitos sobre a natureza humana podem ser discutidos de acordo com seis
perspectivas diferentes:  determinismo versus livre-arbítrio;  pessimismo versus
otimismo;  causalidade versus teleologia;  determinantes conscientes versus
determinantes inconscientes;  fatores biológicos versus fatores sociais; 
singularidade versus similaridades nas pessoas.

– 1ª Divisão das Teorias da Personalidade –

 Teorias Psicodinâmicas
 Sigmund Freud (1856-1939) – Psicanálise.
 Alfred Adler (1870-1937) – Psicologia Individual.
 Carl G. Jung (1875-1961) – Psicologia Analítica.
 Melanie Klein (1882-1960) – Teoria das Relações Objetais.

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 Karen Horney (1880-1952) – Teoria Sociopsicanalítica.
 Erich Fromm (1900-1980) – Psicanálise Humanista.
 Harry Stack Sullivan (1892-1949) – Teoria Interpessoal.
 Erik Erikson (1902-1994) – Teoria Pós-Freudiana.

 Teorias Humanistas/Existenciais
 Abraham H. Maslow (1908-1970) – Teoria Holístico-Dinâmica.
 Carl Rogers (1902-1987) – Teoria Centrada no Cliente.
 Rollo May (1909-1994) – Psicologia Existencial.

 Teorias Disposicionais
 Gordon Allport (1897-1967) – Psicologia do Indivíduo.
 Hans Eysenck (1916-1997), Robert R. McCrae (1949-) e Paul T. Costa
Jr.(1942-) – Teoria dos Traços e dos Fatores.

 Teorias de Aprendizagem
 B. F. Skinner (1904-1980) – Análise Comportamental.
 Albert Bandura (1925-) – Teoria Sociocognitiva.
 Julian Rotter (1916-) e Walter Mischel (1930-) – Teoria da Aprendizagem
Sociocognitiva.
 George Kelly (19051967) – Psicologia dos Constructos Pessoais.

Referência Bibliográfica:
Feist, Jess & Feist, Gregory, J. (2008). Teorias da Personalidade. Tradução: Ivan Pedro Ferreira
Santos, Cecília Mattos, Wilson Crestani. Revisão Técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes
Silva, Odette de Godoy Pinheiro. São Paulo: McGraw-Hill.

– 2ª Divisão das Teorias da Personalidade –

Todo o mundo já ouviu falar das teorias de Sigmund Freud e você


provavelmente já ouviu falar que, segundo Freud, nos sonhos, os objetos descritos a
seguir podem representar simbolicamente o pênis: martelos, fuzis, punhais, guarda-
chuvas, gravatas (objetos longos peculiares aos homens), cobras e muitos outros. Todos
eles são símbolos fálicos. Você com certeza já deve ter ouvido falar que uma pessoa
pode sonhar com a vagina como uma trilha através da mata, ou como um jardim, em um
sonho no qual uma jovem pergunta ao jardineiro se alguns galhos podem ser
transplantados no jardim dela. Se tomadas fora do contexto, essas afirmações não têm
nenhum sentido, mas ainda assim Freud influenciou grandemente o pensamento do
século XX.
Vários outros teóricos e pesquisadores da personalidade são bastante
conhecidos, mas o melhor e mais moderno entendimento da personalidade provém de
uma síntese da investigação psicológica sobre matérias como Natureza do Self;
Psicobiologia; Teorias da Aprendizagem; Teorias dos Traços; Abordagens Existenciais
e Psicologia Social.

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Visão Geral das Oito Perspectivas Ocidentais da Personalidade:
 Perspectiva Psicanalítica da Personalidade → os aspectos psicanalíticos da
personalidade, concentram-se no inconsciente. Curiosamente, na psicologia o estudo
sobre o inconsciente mais uma vez passou a ser uma área significativa da pesquisa em
andamento. Hoje não há dúvida de que no cérebro existem subsistemas complexos e
ocultos, exatamente como Freud postulou.
 Perspectiva Neo-Analítica/Ego da Personalidade → enfatiza os aspectos Ego
ou Self da Personalidade, reconstituindo conceitos sobre o Self desde o trabalho de
Alfred Adler sobre o complexo de inferioridade até, precisamente, a moderna teorização
sobre personalidade múltipla. As Teorias sobre como e por que temos uma percepção
do Self continuam a fascinar os psicólogos.
 Perspectiva Biológica da Personalidade → da mesma forma que as pessoas
nascem de diferentes tamanhos, aspectos e cores, elas diferem relativamente entre si no
que se refere aos sistemas biológicos. Os aspectos biológicos da personalidade são, às
vezes, negligenciado nos textos sobre personalidade. A característica de um indivíduo
de natureza emocional e motivacional, em geral conhecida como temperamento, é
influenciada significativamente por vários fatores biológicos. Esses temas vêm atraindo
a atenção de cientistas de vanguarda desde a época de Charles Darwin. Hoje, novos
avanços na teoria da evolução e na compreensão da genética humana estão sendo
aplicados na psicologia da personalidade.
 Perspectiva Behaviorista e da Aprendizagem da Personalidade → os aspectos
behavioristas e de aprendizagem da personalidade, partem do trabalho do behaviorista
radical B. F. Skinner, examinando até que ponto a personalidade pode ser “encontrada”
no ambiente externo.
 Perspectiva Cognitiva e Sociocognitiva da Personalidade → os aspectos
cognitivos da personalidade concentram-se na consistência entre uma pessoa e outra no
que tange à percepção e à interpretação do mundo à sua volta. As abordagens cognitivas
estão cada vez mais se associando à psicologia social e transformando-se em
abordagens sociocognitivas da personalidade, como as ideias de Albert Bandura sobre a
importância da auto-eficácia.
 Perspectiva do Traço e da Habilidade (Genética) da Personalidade → no
início do século XX, o psicólogo Gordon Allport, da Universidade de Harvard
desenvolveu, quase sozinho, abordagens surpreendentes sobre traços da personalidade,
enfoques que desde então passaram a dominar essa área, embora recentemente tenha
ressurgido o interesse científico por essas abordagens. Hoje, ideias sobre cinco
dimensões básicas de traço fornecem uma moeda única para a reflexão a respeito dos
traços da personalidade. (Técnicas eficientes de avaliação do indivíduo.)
 Perspectiva Humanista e Existencial da Personalidade → os aspectos
humanísticos e existenciais da personalidade concentram-se na autonomia e auto-
realização. A Teoria de Carl Rogers parece servir como base para compreender os seres
humanos unicamente humanos.
 Perspectiva Interacionista Pessoa-Situação da Personalidade → os aspectos
interacionistas pessoa-situação é a mais moderna abordagem sobre personalidade. As
pessoas expressam sua personalidade de diferentes maneiras (selves) em diferentes
situações.

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Os Oito Aspectos Básicos da Personalidade
Perspectiva Teórica Principal Característica e Principais Teóricos
Observação das influências inconscientes; importância dos
1. Psicanalítica
impulsos sexuais mesmo em esferas não sexuais.
Principais Teóricos: Sigmund Freud
Ênfase no self em sua luta para lidar com emoções e impulsos
2. Neo-Analítica/Ego
no mundo interior e as exigências de outras pessoas no mundo
exterior.
Principais Teóricos: Alfred Adler; Carl G. Jung; Erik Erikson;
Karen Horney.
Outros Teóricos: Anna Freud; Heinz Hartmann; Heinz Kohut;
Henry Murray; Margaret Mahler; Melanie Klein.
Enfoque nas tendências e nos limites impostos pela herança
3. Biológica
biológica; pode ser facilmente associada com a maioria das
outras abordagens.
Principais Teóricos: Hans Eysenck; Ivan Pavlov; Francis
Galton; Charles Darwin.
Pode compelir uma análise mais científica das experiências de
4. Behaviorista
aprendizagem que modelam a personalidade.
Principais Teóricos: Ivan Pavlov; B. F. Skinner; John Watson;
John Dollard; Clark Hull; Neal Miller; Robert Sears.
Captura a natureza ativa do pensamento humano; emprega o
5. Cognitiva
conhecimento moderno da psicologia cognitiva.
Principais Teóricos: Albert Bandura; George Kelly; Jean
Piaget; Julian Rotter; Kurt Lewin.
Técnicas eficientes de avaliação do indivíduo.
6. Traços (Genética)
Principais Teóricos: Carl G. Jung; Gordon Allport; Hans
Eysenck; Henry Murray; Raymond B. Cattell.
Outros Teóricos: Arnold Buss e Robert Plomin. Paul Costa Jr.
e Robert McCrae.
Valoriza a natureza espiritual da pessoa; enfatiza a luta pela
7. Humanista e
auto-satisfação e pela dignidade.
Existencial
Principais Teóricos: Abraham Maslow; Carl Rogers; Erich
Fromm; Rollo May; Victor Frankl.
As pessoas expressam sua personalidade de diferentes
8. Integracionista
maneiras (selves) em diferentes situações.
Principais Teóricos: Harry Stack Sullivan; Henry Murray;
Walter Mischel.
Outros Teóricos: Avshalom Caspi; Jack e Jeanne Block;
Konrad Lorenz; Mark Snyder.

Os Aspectos da Personalidade poderiam de fato ser separados?


Dividir o campo da personalidade é a melhor solução? Alguns pesquisadores
podem ser evasivos no que se refere a esse esquema de classificação porque todos os
brilhantes teóricos da personalidade incluem, necessariamente, mais de um aspecto da
personalidade em seus escritos. Por exemplo, as teorias freudianas têm várias noções
biológicas, e Freud, com certeza, levou em consideração o principal papel

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desempenhado pelas forças de socialização. Do mesmo modo, B. F. Skinner, o mais
importante behaviorista. Compreendeu acertadamente a tremenda influência de outras
pessoas em nossa vida, a despeito de sua pesquisa concentrar-se no condicionamento de
animais em laboratório.
O objetivo não é colocar teorias complexas em pequenos compartimentos, mas,
em vez disso, fazer um exame meticuloso dos diferentes e significativos tipos de
insights sobre a natureza da personalidade, desenvolvidos ao longo do século XX.
Qual das perspectivas sobre a personalidade está correta? As pessoas são
governadas por traços, hormônios, motivos inconscientes ou nobreza de espírito? Essa
pergunta é diferente da pergunta “Qual das teorias sobre a personalidade está correta?”
ou “Que hipótese é a verdadeira?”. Teorias e hipóteses são testificáveis e, por natureza,
podem ser refutadas. Ou seja, elas são verificáveis. Muitas dessas teorias e hipóteses
apresentam aspectos que estão incorretos ou que são duvidosos. Porém, a pergunta que
importa aqui é “Qual das perspectivas sobre a personalidade está correta?” Essa
pergunta é fácil de responder: todas as oitos estão corretas no sentido de que todas
oferecem alguns insights psicológicos importantes sobre o que significa ser uma pessoa.
Em outras palavras, podemos tirar proveito do aprendizado das potencialidades (e das
fragilidades) de todas as oito perspectivas.
Essa resposta não é uma evasiva ou artimanha. A natureza humana é
tremendamente complexa e necessita ser examinada de várias perspectivas. Na verdade,
confiar sobremaneira em uma única abordagem e ignorar os valiosos insights oferecidos
por outras perspectivas e investigações científicas é uma estratégia efêmera. É
fundamental lembrar que cada uma dessas perspectivas enriquece nossa compreensão da
personalidade. Entretanto, não é apropriado perpetuar ideias que não são sustentadas por
evidências.
Referência Bibliográfica:
FRIEDMAN, Howard S. & SHUSTACK, Miriam W. (2004/2007) Teorias da Personalidade: da
Teoria Clássica à Pesquisa Moderna. Tradução: Beth Honorato. Revisão Técnica: Antônio
Carlos Amador Pereira. São Paulo: Prentice Hall.

“Parece que todas as revoluções terminam com o culto à


personalidade – mesmo os chineses parecem precisar de um
grande-pai. Penso que isto ocorre em Cuba também, com
Che e Fidel... Na tradição do comunismo ocidental, teríamos
que criar uma imaginação dos próprios trabalhadores serem
para si mesmo a figura do grande-líder”.
(John Lennon)

“Valorize uma bela personalidade,


pois a beleza exterior é como água exposta ao sol:
Evapora”.
(Tim Maia)

“Gosto dos meus erros;


não quero prescindir
da liberdade deliciosa de me enganar”.
(Charles Chaplin)

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 14
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA PERSONALIDADE


Parte 2 O Oriente

 A PSICOLOGIA ORIENTAL 
As tentativas de elaborar uma compreensão sistemática da personalidade e
comportamento humanos não surgiram com a Psicologia Ocidental Contemporânea.
Nossa psicologia formal, com um pouco mais de cem anos, é apenas uma versão recente
de um esforço provavelmente tão antigo quanto a história humana. As Teorias da
Personalidade que conhecemos são produto da cultura americana e europeia e
constituem apenas um conjunto dentre as inúmeras “psicologias” que foram articuladas
em muitas épocas e lugares. Embora as psicologias de algumas culturas e épocas não
passem de frouxas coleções de sabedoria popular combinada com mitos imaginativos,
alguns povos desenvolveram Teorias da Personalidade tão sofisticadas e bem
fundamentadas na observação empírica quanto as nossas.
Uma das fontes mais ricas dessas psicologias bem formuladas são as religiões
orientais. Bem separada das excentricidades da cosmologia e do dogma das crenças, a
maioria das principais religiões asiáticas tem no seu âmago uma psicologia pouco
conhecida pelas massas de seguidores religiosos, mas muito familiar a seus próprios
“profissionais”, sejam eles iogues, monges ou sacerdotes. É ela uma psicologia prática
utilizada pelos profissionais mais dedicados para disciplinar suas próprias mentes e
corações.
Assim como existe uma multiplicidade de Teorias da Personalidade na
civilização ocidental, existem numerosas Psicologias Orientais. Por outro lado, apesar
de haver importantes diferenças de doutrinas e visão de mundo entre as religiões que
contêm as psicologias orientais, estas são entre si bem mais semelhantes. Entre suas
características comuns está o Método Fenomenológico: todas buscam descrever a
natureza da experiência imediata de uma pessoa. De fato, alguns desses sistemas giram
em torno de técnicas de meditação que possibilitam à pessoa observar a corrente de sua
própria consciência, dando-lhe um posto de observação separado do fluxo de sua
própria experiência. Além disso, todas essas psicologias consideram os homens
imperfeitos, estabelecendo um modo ideal de ser, acessível a qualquer um que procure
atingi-lo com persistência. O caminho para essa transformação é sempre pela via de
uma extensa mudança na personalidade, de modo que essas qualidades ideais tornem-se
traços estáveis. Enfim, todas as Psicologias Orientais concordam que o principal meio
para essa transformação do eu é a meditação.
Sete Passos para dominar o Ego:
1. Não te sentir ofendido.
2. Liberta-te da necessidade de ganhar.
3. Liberta-te da necessidade de ter a razão.
4. Liberta-te da necessidade de ser superior.
5. Liberta-te da necessidade de ter mais.
6. Liberta-te da necessidade de identificar-se com teus êxitos.
7. Liberta-te da necessidade de ter fama.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 15
 AS DOUTRINAS ORIENTAIS 
As três doutrinas orientais no contexto das teorias da personalidade, apropriadas
para discutir a relação com as teorias ocidentais, são o Zen-Budismo, o Ioga e o
Sufismo.

 Interesse Contemporâneo por Sistemas Orientais 


Há um crescente interesse pelo pensamento oriental nos Estados Unidos. Numa
época de contínuo questionamento a respeito dos pontos de vista estabelecidos sobre
religião, ciência e sistemas políticos organizados, há uma busca correspondente por
modelos de comportamento humano alternativos, modelos que sejam baseados em uma
observação diferente e que conduzam a conclusões alternativas.
A proliferação de professores, livros e organizações baseadas em diversos
modelos orientais é uma indicação deste interesse. Um número crescente de estudantes,
amigos e colegas de nossas relações dedicou-se a um estudo intensivo ou à prática de
doutrinas orientais em busca de novos valores e de crescimento pessoal e espiritual. A
Psicologia torna-se cada vez mais um campo de estudo internacional, menos amarrado
aos pressupostos intelectuais e filosóficos dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.
É imprescindível que, na formação de psicólogo, sejam incluídas as doutrinas
orientais, para fornecer a oportunidade de considerar, avaliar e, até certo ponto,
experienciar tais perspectivas adicionais sobre a personalidade no contexto de um curso
crítico e comparativo dentro da Psicologia. É evidentemente amplo o interesse e o
tempo que os futuros psicólogos têm dedicado a estas questões. Ainda assim, o grau de
conhecimento fundamental sobre as tradições orientais é frequentemente muito baixo
em comparação com o interesse, ou mesmo tempo, que muitas pessoas têm despendido
nestas atividades.

 Moralidade e Valores nas Doutrinas Orientais 


Zen-Budismo, Ioga e Sufismo originaram-se de uma necessidade comum de
compreender a relação entre a prática religiosa e a vida cotidiana. Diferem da maioria
das teorias orientais em seu grande interesse por valores e considerações morais, assim
como em sua ênfase na conveniência de viver de acordo com certos padrões espirituais.
Entretanto, o Zen-Budismo, a Ioga e o Sufismo encaram a moral e os valores de forma
prática e até mesmo iconoclástica1. Argumentam que deveríamos viver dentro de um
código moral, pois tal modo de vida tem efeitos definidos, reconhecíveis e benéficos
sobre nossa consciência e, acima de tudo, sobre o “viver bem”, não por qualquer
consideração artificial e externa sobre “bondade” ou virtude.
De fato, cada uma destas tradições enfatiza a futilidade e a insensatez da
valorização de padrões externos em detrimento de um desenvolvimento interior. Uma
história Zen conta sobre um monge errante que se aquecia frente a uma fogueira que
havia feito com uma estátua de madeira do Buda. O sacerdote local aproximou-se:
“O que você está fazendo?” pergunta, horrorizado diante de tal sacrilégio.
“Estou queimando esta imagem para extrair o sarira” (uma relíquia santa
encontrada nas cinzas de um santo budista).
“Como você pode obter uma relíquia de uma estátua?”
“Pois então,” replicou o monge, “é apenas um pedaço de madeira e o estou
queimando para me aquecer”.

1
Iconoclástico →Aquilo que é relacionado a iconoclastia, ou seja, aquele que destrói imagens e símbolos
religiosos.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 16
Apesar das diferenças de linguagem, ênfase e alcance, estas teorias, assim como
suas cópias ocidentais, derivaram de cuidadosas observações sobre a experiência
humana. São construídas sobre séculos de observações empíricas a respeito dos efeitos
de diversas ideias, atitudes, comportamentos e exercícios sobre os indivíduos.
Embora o âmago central e ético de cada tradição seja baseado em experiências
pessoais e insights de seus fundadores, a vitalidade e importância destes sistemas
repousam no contínuo teste, reelaboração e modificação destes insights originais para
novos contextos, novas condições culturais e situações interpessoais. Apesar de sua
antiguidade, estas tradições representam hoje em dia as perspectivas de milhões de
pessoas em mais ou menos cem países diferentes. São realidades vivas para seus
adeptos e não apenas abstrações acadêmicas, escolares ou pouco práticas.

 Experiência Transpessoal 
O principal enfoque destas doutrinas é o crescimento transpessoal: a tendência
de cada pessoa a relacionar-se mais intimamente com algo maior do que o self
individual. Teóricos ocidentais discutiram o crescimento mais em termos do
fortalecimento do self: desenvolvimento da autonomia, da autodeterminação, da auto
atualização, libertação de processos neuróticos e saúde mental.
Angyal (1956) descreve cada um destes pontos de vista. Um deles se centraliza
no crescimento pessoal e no desenvolvimento integral do self. O outro lida com o
crescimento transpessoal, ou seja, a tendência a expandir as fronteiras do self.
Visto sob uma destas perspectivas [o desenvolvimento integral do self], o ser
humano parece lutar basicamente para afirmar e expandir sua autodeterminação. É um
ser autônomo, uma entidade que cresce por si mesma e que se faz valer de modo ativo,
ao invés de reagir passivamente como um corpo físico aos impactos do mundo que o
rodeia. Essa tendência fundamental expressa-se na luta da pessoa para consolidar e
desenvolver seu autogoverno, em outras palavras, para exercer sua liberdade e organizar
os itens relevantes de seu mundo a partir do centro de governo autônomo que é o seu
self. Esta tendência – chamada de “propensão para autonomia crescente” – expressa-
se na espontaneidade, na autoafirmação, no esforço pela liberdade e pelo domínio de si.
Vista sob outra perspectiva, a vida humana revela um padrão básico bastante
diferente do acima descrito. Sob este ponto de vista, a pessoa parece buscar um lugar
para si numa unidade maior, da qual ela se esforça por tornar-se parte. Na primeira
tendência nós a vemos lutando pela centralização em seu mundo, tentando moldar e
organizar os objetos e eventos de seu mundo, trazê-los para sua própria jurisdição e
controle. Na segunda tendência, pelo contrário, a pessoa parece entregar-se
voluntariamente à busca de um lar para si e tornar-se UMA PARTE ORGÂNICA DE ALGO
QUE CONCEBE COMO MAIOR DO QUE ELA. A unidade supra-individual da qual a pessoa
se sente parte, ou deseja tornar-se parte, será formulada de diferentes formas, de acordo
com sua formação cultural e com sua compreensão pessoal.
Esta segunda tendência pareceria mais aplicável àqueles que já adquiriram certo
grau de autocontrole, maturidade e auto atualização. O desenvolvimento de uma
personalidade profundamente autônoma e de um senso de self parecem ser pré-
requisitos para este segundo tipo de crescimento.
Muitos psicólogos e outros cientistas foram fortemente influenciados por ideias
preconcebidas e preconceitos ao analisar o crescimento transpessoal e as experiências
transcendentais ou religiosas. As conotações associadas a esses temas levaram alguns a
acreditar que tais tópicos são mais artigos de fé do que temas a serem investigados pela
Psicologia. Tais preconceitos são fortalecidos pelo fato de que virtualmente os únicos

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 17
conceitos disponíveis para descrever fenômenos transpessoais vêm da terminologia
religiosa.
Na verdade, esta identidade está tão profundamente estabelecida na língua
inglesa que é quase impossível falar “vida espiritual” (frase desagradável para um
cientista, em particular para os psicólogos) sem usar o vocabulário da religião
tradicional. Simplesmente ainda não existe outra linguagem satisfatória. Uma excursão
pelos léxicos poderia demonstrá-lo com rapidez. Isto constitui um problema quase
insolúvel para o escritor que pretende demonstrar que a base comum de todas as
religiões é humana, natural e empírica e que os assim chamados valores espirituais são
também naturalmente deriváveis. Mas dispomos apenas de uma linguagem teísta para
este trabalho “científico”.
Experiências transpessoais têm sido aspectos importantes da vida humana em
toda a história. A maioria das culturas e sociedades foi profundamente religiosa; seu
sistema de valores apoiou tais experiências e deu-lhes valor. A sociedade moderna
ocidental tem-se mostrado menos aberta aos fenômenos transpessoais há algumas
décadas, espaço de tempo na realidade muito pequeno em relação a toda a história do
Ocidente. Deveríamos lembrar que a dimensão transpessoal foi de importância central
na maioria das sociedades através da história.
Para um estudante da personalidade, seria tão insensato negligenciar este setor
da consciência como o seria ignorar a psicopatologia. É um reflexo da imaturidade da
Psicologia, e não de sua sofisticação, o fato dela ter dedicado maior esforço à
compreensão da doença humana do que à transcendência humana. As Teorias Orientais
(Zen, Ioga e Sufismo) lentamente adquiriram os instrumentos e conceitos necessários à
investigação deste aspecto mais impreciso e subjetivo da consciência.
As teorias da personalidade abrangentes e práticas são descritas em termos
psicologicamente relevantes. Cada sistema está envolvido de modo profundo com
questões de valor definitivo, com experiências transpessoais e com o relacionamento
entre o self individual e o todo mais amplo. Cada uma das Teorias Orientais recebeu
considerável alteração no Ocidente e muitos aspectos destes sistemas já estão sendo
aplicados a diferentes facetas da Psicologia.
A análise dessas teorias orientais não é diferente das avaliações que se faz das
teorias ocidentais. Não é preciso ser budista para apreciar e utilizar alguns dos conceitos
ou perspectivas encontrados no Zen-Budismo e não precisa tornar-se um Iogue para
praticar exercícios de respiração ou relaxamento.
Os sistemas de pensamento orientais são como expansões da formação
psicológica ocidental.

Leituras Consultadas
Campbell, Peter, e McMahon, Edwin. (1974). Religious Type Experience in the Context of
Humanistic and Transpersonal Psychology. Journal of Transpersonal Psychology 6:1 1-17.
Goleman, Daniel. (1974). Perspective on Psychology, Reality and the Study of Consciousness.
Journal of Transpersonal Psychology 6:73-85.
Maslow, Abraham. (1964). Religious, Values and Peak Experiences. Columbus: Ohio State
University Press.
Referências Bibliográficas:
Hall, Calvin Springer & Lindzey, Gardner. (1909/1984). Teorias da Personalidade.
Tradução e Revisão Técnica: Maria Cristina Machado Kupfer. São Paulo: EPU.
Fadiman, James & Frager, Robert. (1979). Teorias da Personalidade. São Paulo: Editora
Harper & Row do Brasil Ltda.

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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE SIGMUND FREUD


INTRODUÇÃO
1.1. Vida Pessoal
 Sigmund Freud nasceu em uma família judia, no dia 6 de maio de 1856, em Freiberd,
na Áustria. Filho do terceiro casamento de seu pai, Jacob Freud, com Amália.
 Segundo o biógrafo Ernest Jones, Freud herdou de seu pai o ceticismo perante as
incertezas da vida, os valores morais que sempre apareciam em destaque. De sua
mãe, ele tirava a sentimentalidade.
 Foi no ano de 1859, que Freud mudou-se para Viena.
 Em 1885, em Paris, faz estagio com Charcot em um hospital, onde se dedica às
histerias.
 No ano seguinte casa-se com Martha Bernays.
 Juntamente com Breuer, em 1895, publica Estudos sobre a histeria, que relata o
primeiro caso (Anna O) tratado como doença psíquica.
 Freud, em 1899, termina seu livro “A Interpretação dos Sonhos” e pede para que
fosse datado de 1900, para indicar que uma nova teoria inicia-se e regesse o novo
século.
 Uma de suas mais significantes descobertas foi publicada em 1905 – “Três
Contribuições a uma teoria Sexual”.
 Em 1908, Freud e Jung proferem um ciclo de conferências na Clark University,
Massachusetts. Mas, no ano de 1914, Jung separa-se de Freud.
 Em 1927, Freud publica “O Futuro de uma Ilusão”, em 1930, recebe o prêmio
Goethe.
 Em 1938, muda-se para Londres e falece em 1939.

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
A personalidade é constituída por três grandes sistemas: o Id, o Ego e o
Superego. Cada um deles possui suas próprias funções, propriedades, componentes,
princípios de operação, dinamismo e mecanismos, porém convém ressaltar que mesmo
com diferenças, eles interagem no comportamento humano.

2.1. ID

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 19
Sistema original da personalidade é a matriz da qual se originam o Ego e o
Superego. Consiste em tudo que é herdado, ou seja, tendência inata. É também
constituído pelos instintos.
O Id é o reservatório de energia psíquica, e fornece também um estreito contato
com os processos corporais. O Id representa somente a realidade interna e subjetiva do
mundo. Não tolera os aumentos de energia, que são experenciados como estados de
tensão desconfortáveis.

2.1.1. Princípio do Prazer


Princípio da redução de tensão. Ações reflexas e processo primário: tem como
objetivo evitar a dor e obter prazer.
Ações reflexas: são ações inatas e automáticas, como respirar e piscar,
geralmente reduzem a tensão imediatamente. O organismo está equipado com vários
desses reflexos para lidar com formas relativamente simples de excitação.
Processo primário: envolve uma reação psicológica um pouco mais complicada.
Tenta descarregar a tensão, formando a imagem de um objeto que vai remover a tensão.
Ex.: Uma pessoa faminta logo apresenta uma imagem mental de um alimento
(realização do desejo, assim é chamada).
O sonho noturno também faz parte do processo primário, onde Freud acreditava
representar a realização ou tentativa de realização de um desejo. Não podendo esquecer
que as alucinações, visões, pensamentos de pacientes psicóticos, são exemplos desse
processo.
Essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida
do Id. “Obviamente o processo primário sozinho não é capaz de reduzir a tensão. A
pessoa faminta não pode comer as imagens mentais de comida. Consequentemente,
desenvolve-se um processo psicológico novo ou secundário. Quando isso ocorre, a
estrutura do segundo sistema da personalidade, o Ego, começa a tomar forma”.

2.2. EGO

O Ego passa a existir porque as necessidades do organismo requerem transações


apropriadas com o mundo objetivo da realidade. Ex.: Ao invés da pessoa somente criar
a imagem do alimento para cessar a fome, ela utiliza mecanismos para acabar com a
fome no meio externo (busca de alimento).

Diferenças entre ID e EGO:


O Id só conhece a realidade subjetiva da mente. O Ego distingue as coisas na
mente, das coisas no mundo externo. Obedece ao Princípio da realidade e opera por
meio do processo secundário (pensamento realista).
Teste da Realidade: o Ego formula um plano para a satisfação da necessidade e
depois testa. Ex.: A pessoa faminta pensa sobre onde encontra comida e depois segue
para aquele lugar.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 20
O Ego possui um controle sobre todas as funções cognitivas e intelectuais, ou
seja, processos mentais superiores. Todo o poder do Ego deriva-se do Id. Portanto,
embora trabalhem de forma conflitante, não se separam nunca, pois um depende do
outro para funcionar e balancear as funções psíquicas.
Seu principal papel, no entanto, é o de mediador entre as exigências instituais do
organismo e as condições do ambiente circundante.

2.3. SUPEREGO

Representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade,


conforme interpretados para a criança pelos pais e impostos por um sistema de
recompensas e de punições. Para obter as recompensas e evitar os castigos, a criança
aprende a orientar seu comportamento de acordo com os pais. “O Superego é a força
moral da personalidade”. Representa o ideal mais do que o real e busca a perfeição mais
do que o prazer. Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude é certa ou errada,
para poder agir de acordo com os padrões morais autorizados pelos agentes da
sociedade.
Consciência e Ideal do Ego: são dois subsistemas do Superego. Consciência
pune a pessoa, fazendo-a sentir-se culpada. Ideal do Ego: recompensa a pessoa,
fazendo-a se sentir orgulhosa.
2.3.1. Funções do Superego
■ Inibir os impulsos do Id, especialmente os de natureza sexual ou agressiva, que são
mais condenáveis pela sociedade.
■ Substituir objetivos realistas (Ego) por objetivos moralistas (Superego).
■ Buscar a perfeição, formar o mundo, segundo sua própria imagem.
No entanto, o Superego, assim como o Id e o Ego se completam.
Diferentemente do Ego, o Superego não se satisfaz em adiar a gratificação
instintiva, ele tenta bloqueá-la permanentemente. Esses três sistemas (Ego, Id e
Superego) não colidem um com o outro e nem tem propósitos opostos. Pelo contrário,
trabalham juntos, como uma equipe, sob a liderança administrativa do Ego; sendo que, é
importante salientar que a personalidade normalmente funciona como um todo, e não
como três segmentos separados.

→ ID → pode ser pensado como Componente Biológico da


RESUMINDO Personalidade.
→ EGO → pensado como Componente Psicológico da
Personalidade.
→ SUPEREGO → pensado como Componente Social da
Personalidade.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 21
DINÂMICA DA PERSONALIDADE
3.1. Instinto
Representação psicológica inata de uma fonte interna de excitação.
 Representação psicológica ⇨ desejo.
 Excitação ⇨ necessidade.
Um instinto é uma parte da energia. Todos os instintos é a soma total da energia
psíquica.
O Id é o reservatório de energias e fonte dos instintos.
3.1.1. Tipos de Instintos
 INSTINTO DE VIDA ⇨ instinto de sobrevivência e de propagação racial.
LIBIDO ⇨ é a forma de energia que os instintos de vida realizam sua tarefa.
 INSTINTO DE MORTE ⇨ instintos destrutivos e agressivos. Baseia-se no
princípio da constância (retorno ao estado inorgânico).

3.2. Catexia
É a energia aplicada na ação de satisfação do instinto. É fluida, desviando-se
com facilidade.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Para Freud ⇨ a experiência da infância exerce forte influência sobre a personalidade.
⇨ a personalidade está bem formada aos 5 anos e seu desenvolvimento
posterior era a elaboração dessa estrutura básica.
Caminhos aprendidos para solucionar as frustrações, os conflitos e as ansiedades
no desenvolvimento da personalidade:

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 22
4.1. Identificação
Processo de misturar a própria identidade com a de outra pessoa, ou tomá-la de
empréstimo, integrando-a a sua personalidade.
Faz parte do desenvolvimento normal da criança.
4.2. Deslocamento
Quando a tensão busca em objeto original que lhe traga alívio e, este objeto se
torna inacessível por barreiras internas ou externas, a energia é bloqueada, ocorrendo o
deslocamento para um objeto substituto, que raramente é tão satisfatório ou redutor de
tensão quanto o objeto original.

4.3. Mecanismos de Defesa do Ego


Mecanismos utilizados pelo Ego para impedir que os impulsos inaceitáveis do Id
se tornem conscientes, evitando a retaliação do Superego.
Características ⇨ negam, falsificam e distorcem a realidade.
⇨ operam inconscientemente.

4.3.1. Principais Mecanismos


 Repressão
 Projeção
 Formação Reativa
 Fixação e Regressão

4.4. ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO


 ESTÁGIOS PRÉ-GENITAIS
⇨ ESTÁGIO ORAL (0 a 2 anos): principal região de atividade dinâmica é a boca
(e os lábios).
⇨ ESTÁGIO ANAL ( 2 anos): a evacuação retira o desconforto e traz o alívio.
Primeira experiência decisiva com a regulação externa de um impulso intestinal,
onde se aprende a adiar o prazer de aliviar as tensões anais.
⇨ ESTÁGIO FÁLICO (3 a 5 anos): os órgãos sexuais se tornam as zonas
erógenas mais importantes. Prazer da masturbação e da atividade auto-erótica.
Aparece o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração.

 ESTÁGIO GENITAL
⇨ ESTÁGIO GENITAL (Adolescência): as catexias do período pré-genital
possuem um caráter narcísico (gratificação com o próprio corpo). Na adolescência,
uma parte desta energia é canalizada para escolhas objetais genuínas.
Principal Função Biológica do Estágio Genital é a Reprodução.
Freud diferencia quatro estágios no desenvolvimento da personalidade, mas não
supõe rompimentos bruscos ou transições abruptas na passagem de um estágio para o
outro. Estes quatros contribuem para a organização final da personalidade.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 23
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO
 O Existencialismo surgiu no pós II Grande Guerra Mundial, como movimento de
resistência francesa à ocupação alemã.
 O Existencialismo representa  poderosa força no pensamento moderno, incluindo
a Psicologia e a Psiquiatria.
 Principais Articuladores do Existencialismo:
→ J. P. Sartre (França) → filósofo, escritor e jornalista.
→ Albert Camus (Algéria) → romancista e ensaísta.
→ Ambos foram Prêmio Nobel de Literatura.
 Os articuladores de Prestígio foram:
→ Sören Kierkegaard (1813 – 1855) → Dinamarquês.
→ Bergson, Dostoievsky e Nietzsche.
 Representantes Modernos do Existencialismo:
→ Berdyaev, Martin Buber, Kafka, Gabriel Marcel, Merleau-Ponty, Paul Tillich,
Heidegger e Jaspers, sendo estes dois últimos, criadores da Filosofia
Existencial.
→ Representantes do Existencialismo Americano → Rollo May, Adrian Van
Kaam, James Bugental.
→ Influenciados pelo Existencialismo  Allport, Angyal, Goldstein, Lewin,
Maslow e Rogers.
 Martin Heidegger (Alemão, 1889 – 1969) → Filósofo e Fenomenólogo, adotando a
Fenomenologia como método de análise dos fenômenos psicológicos. É a ponte de
ligação com os Psicólogos e Psiquiatras.
→ Ontologia → Ramo da Filosofia que trata do Ser ou da Existência.
→ Ontologia de Heidegger → O homem é um ser-no-mundo (...) O homem tem
sua existência por ser-no-mundo e o mundo tem sua existência porque há um
Ser para revelá-lo. O ser e o mundo são unos.
 Função da Fenomenologia na Psicologia Existencial:
→ Descrição dos dados da experiência imediata, buscando mais compreender do
que explicar o fenômeno.
→ Método da Psicologia que procura descobrir e elucidar os fenômenos do
comportamento tal como se manifestam na percepção imediata (Van Kaam).
→ A Fenomenologia é considerada o método primário de toda ciência.
“O desenvolvimento do todo precisa começar com um quadro ingênuo e sem crítica do
mundo, que vai sendo perdido, quando nós prosseguimos”.
 Diferença entre a Psicologia da Forma (Gestalt) e a Psicologia da Existência
quanto ao emprego de Fenomenologia:
→ Psicologia da Forma (Gestalt) → A Fenomenologia é empregada para
investigar fenômenos resultantes de processos psicológicos (percepção,
aprendizagem, sentimentos, etc).

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 24
→ Psicologia da Existência → A Fenomenologia é usada para elucidar os
fenômenos que são frequentemente considerados como pertencentes à esfera
da personalidade.
 Psicologia Existencial → Ciência empírica da existência humana, que emprega o
método da análise fenomenológica.
 Ludwig Binswanger (1881 – 1966) → Psiquiatra Suíço.
→ Estudou com Bleuler e Jung. Influenciado por Heidegger e M. Buber. Um dos
primeiros seguidores suíços de Freud. Um dos primeiros proponentes da
aplicação da Fenomenologia à Psiquiatria.
→ Tornou-se um Analista Existencial.
 Análise Existencial → Análise fenomenológica da existência humana real.
→ Seu objetivo é a reconstrução do mundo interno da experiência.
 Medard Boss (1903) → Psiquiatra Suíço.
→ Analisado por Freud e treinado por psicanalistas (Ernest Jones, Karen
Horney, O. Fenichel, W. Reich e outros). Assistente de Eugen Bleuler
(Psiquiatra).
→ Trabalhou com K. Goldstein, reunia-se mensalmente com C. Jung e foi
influenciado pela sabedoria da Índia.
→ Clinicou como Psicanalista.
→ Presidente da Federação Internacional de Psicoterapia Médica e do Instituto
Dasein Analítico de Psicoterapia e Psicossomática de Zurique.
→ Criou juntamente com Heidegger a “Dasein Análise”.
→ “Dasein” (palavra germânica) → “Ser-no-mundo”.
 Binswanger e Boss se opõem aos aspectos dos outros sistemas.
→ A Psicologia Existencial se opõe ao conceito de “causalidade” das Ciências
Naturais, do Positivismo, do Determinismo e do Materialismo. Não há
relações “causa-efeito” na existência humana. Há sequências de
comportamentos. Não é lícito derivar a causalidade, da sequência.
→ Proposição → A Psicologia requer o seu próprio método: a Fenomenologia e
seus próprios conceitos.
 Diferença entre “Causalidade” e “Motivação”:
→ Causalidade → relação causa-efeito, tem pouca relevância para o
comportamento humano.
→ Motivação → sempre pressupõe uma compreensão (certa ou errada) da
relação causa-efeito. Motivação e compreensão são os princípios operativos
de uma análise existencial do comportamento.
 Oposições (Objeções) da Psicologia Existencial:
→ 1a Objeção → Rejeição ao conceito de “causalidade”.
→ 2a Objeção → Oposição ao “dualismo” do sujeito (mente) e objeto (corpo,
ambiente, matéria). Tal posição é fragmentadora e falsa à existência humana.
Proposição → A Psicologia propõe a unidade do indivíduo-no-mundo.
→ 3a Objeção → Negação de que exista alguma coisa subjacente ao fenômeno.
Explicações da existência humana (“eu” do inconsciente, energia psíquica,
instintos, impulsos, arquétipos, etc), são postas de lado. Fenômenos são o que
são, não são derivativos de alguma coisa.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 25
Proposição → Ciência Psicológica: descrição fenomenológica ou a
compreensão, e não a explicação causal ou a prova.
→ 4a Objeção → Oposição à consideração do indivíduo como algo semelhante a
um objeto, ao tratamento das pessoas como coisas, que podem ser manejadas,
controladas, modeladas e exploradas, impedindo-as de viver de uma maneira
verdadeiramente humana e de serem compreendidas plenamente sob a luz de
sua existência no mundo.
 Prescrição do Psicólogo Existencial:
→ Ver o que há para ser visto, sem qualquer hipótese ou julgamento prévio.
→ Atingir e descrever os fenômenos que investiga no seu conteúdo fenomenal
total e no seu contexto intrínseco.
→ Essa verdade só pode ser alcançada por uma pessoa completamente aberta
para o mundo, livre dos preconceitos de qualquer teoria científica.
 “A pessoa é livre e apenas ela é responsável por sua existência”: A liberdade,
segundo Boss, não é alguma coisa que o homem tem, é algo que ele é. “Eu sou
livre” significa ao mesmo tempo “Eu sou completamente responsável pela minha
existência”.
 A Psicologia Existencial está longe de ser otimista e esperançosa. A Psicologia
Existencial está tão preocupada com a vida quanto com a morte. O Nada está
sempre aos nossos pés. O horror e o amor estão presentes nos escritos
existencialistas. A culpa é uma característica inata e inevitável da existência.
Tornar-se um ser humano é um projeto árduo e poucos o conseguem.

A TEORIA DA EXISTÊNCIA
ESTRUTURA DA EXISTÊNCIA
(Ser-no-Mundo – Dasein)
 Toda a estrutura da Existência Humana está baseada no Dasein (“ser-no-mundo”).
 Dasein → é o todo da existência humana.
 Vorhandasein → a existência das coisas não humanas.
 Literalmente → DA = “aí” (abertura iluminada e compreensiva para o mundo)
→ SEIN = “ser”
 “Ser-o-aí – um estado de ser-no-mundo em que a existência total do indivíduo que
“é” e “virá-a-ser” pode parecer, tornar-se “presente” e “ser presente”.
 Medard Boss – “O homem (elucida) revela o mundo”.
 Diferença entre Análise Existencial e Visão Científica:
1. Análise Existencial → Elucidação cuidadosa da natureza específica da existência
humana (ser-no-mundo).
→ Procura ver o que está na experiência e descrevê-lo tão
precisamente quanto à linguagem o permita.
2. Visão Científica → Procurar significados e causas invisíveis e ocultas.
 Característica Básica do Dasein → a abertura para perceber e responder àquilo que
está na sua presença.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 26
 O ser-no-mundo cura a cisão entre sujeito e objeto e restaura a unidade entre o
homem e o mundo.
 Regiões do Mundo em que o homem tem Existência:
1. UMWELT → os arredores físicos ou biológicos, ou paisagem.
2. MITWELT → o ambiente humano.
3. EINGENWELT → a pessoa e seu Eu, incluindo o corpo.

CONCEITOS BÁSICOS DA PSICOLOGIA EXISTENCIAL (Dasein Análise)


(formulados por Binswanger e Medard Boss)

1) Ser-Além-do-Mundo
 Expressa as múltiplas possibilidades que o homem tem de “transcender” o
mundo em que habita e entrar num novo mundo.
 Vida Autêntica → quando o homem atualiza suas potencialidades.
 Vida Inautêntica → quando o homem nega ou restringe as amplas possibilidades
de sua existência ou quando se deixa dominar.
 “(...) o homem deve aceitar todas as suas possibilidades-de-vida, apropriar-se
delas e reuni-las para criação de um Eu autêntico e livre”; livre para escolher
uma ou outra alternativa de vida.
 A liberdade humana consiste em preparar-se para aceitar e realizar tudo isso (ou
todas as possibilidades).
 Todos os sintomas patológicos, físicos ou psicológicos devem ser vistos como
usurpações e injúrias ao direito de realização livre e aberta da existência humana.

2) Campo Existencial
 O modo como o homem encontra a si mesmo no mundo. As condições de seu
lançamento.
 Pode ou não ser limitação para o “tornar-se livre”.
Existência Autêntica: → quando o homem se aceita e se realiza.
→ é projetada pelo reconhecimento de seu campo
existencial.
Existência Inautêntica: → quando rejeita as possibilidades, tenta ser o que não é,
não assumindo a própria existência.
→ é o resultado do afastamento do seu próprio campo
existencial
→ enfraquecimento e alienação existencial.
 Punição pela inautenticidade → sentimento de culpa.
 Apesar das limitações, são muitas as possibilidades de escolha.

3) O Modelo-de-Mundo
 É o padrão que engloba todos os aspectos do modo-de-ser-no-mundo do
indivíduo.
 Imprime uma marca em tudo que a pessoa faz  como ela reagirá em situações
específicas e que tipo de caráter e sintomas desenvolverá.
 Suas fronteiras podem ser: estreitas e restritas, ou amplas e abrangentes.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 27
 Quando ele é dominado por poucas categorias, a ameaça é mais iminente do que
quando ele é variado.
 Uma condição psicológica ou somática pode ser um fator de limitação
impedindo a realização das possibilidades.

4) Os Modos de Ser-no-Mundo (Binswanger)


 Meios pelo qual o Dasein compreende, interpreta e expressa a si-mesmo.
 Modos de ser-no-mundo:
• Modo Dual → “Eu + Você = Nós” (Modo Autêntico).
• Modo Plural → Relações formais de competição e luta.
• Modo Singular → Indivíduo vive para si.
• Modo Anônimo → Indivíduo se encerra numa multidão.
 Uma pessoa tem, não um, mas vários modos de existência.

5) Características Existenciais (Medard Boss)


 Características que são inerentes a toda existência humana.
a) Espacialidade da Existência
• Não deve ser confundida com o espaço físico. Sua natureza está na
abertura e claridade do ser.
b) Temporalidade da Existência
• Não é o tempo formal, físico, quantitativo.
• É sempre um tempo “para” (ou “não” ter tempo “para”) fazer alguma
coisa.
• Tempo “para” → é de primordial significância para o ser humano.
• Pode ser amplo ou restrito.
c) Corporalidade
• É a esfera corporal da realidade da existência humana.
• Ela não está limitada, se estende mais além, a todos os fenômenos do
mundo em que o ser habita no momento (extensão corporal).
d) Existência Humana num Mundo Compartilhado
• A existência humana nunca é privada (exceto na patologia), ela está
sempre sendo compartilhada com outras no mundo.
• A abertura mútua para o mundo permite que os mesmos fenômenos
brilhem da mesma maneira significativa para todos os seres humanos.
e) Estados de Ânimo ou Sintonia
• Estado de ânimo está constantemente sintonizado com o modo humano
de habitar no mundo.
• Explica porque nossa abertura para o mundo se dilata e se contrai. O
Dasein se sintoniza com um mundo de relações e significados felizes, ou
com ameaças e perigos, de acordo com o estado de ânimo.
• Nossa percepção e resposta dependem dos estados de ânimo no
momento. São eles próprios existenciais, são potencialidades inerentes a
toda existência humana.

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DINÂMICA DA EXISTÊNCIA
 A concepção de dinâmica da Psicologia Existencial não é a usual.
 Não concebe o comportamento como resultante da estimulação externa e de
condições corporais internas.
 O homem é livre para escolher e inteiramente responsável pela sua própria
existência. Ele próprio determina o que será e o que fará.
 Podemos escolher viver autêntica ou inautenticamente.

Razões do Sofrimento Humano


 A liberdade para escolher não assegura que as escolhas sejam sábias.
 Para o homem escolher sabiamente, é necessário que esteja consciente (permanecer
aberto) das possibilidades de sua existência.
 A abertura é a condição prévia da revelação.
 O fechamento é a base da ocultação.
 As possibilidades não são ilimitadas porque:
1. Existe sempre o “campo existencial” colocando limites definidos naquilo que
uma pessoa pode tornar-se.
2. Existe a influência do ambiente familiar e dos ambientes posteriores que
expandem ou reduzem o cumprimento das possibilidades inatas do Ser.
 O homem pode transcender tanto seu ambiente como seu corpo físico.
 Pode transcender os ferimentos da infância e as ofensas posteriores à sua existência.
 Pode metamorfosear-se de uma pessoa existencialmente doente em uma pessoa sã.
 Sempre existe a possibilidade de mudar nossa própria existência.
 Uma coisa que o homem não pode transcender é a “Culpa”.
• A culpa é um existencial, é uma característica fundamental do Dasein.
• Cada ato, cada decisão, cada escolha, envolve a rejeição de todas as outras
possibilidades.
• A culpa existencial do homem consiste no seu fracasso em cumprir a
exigência de realizar todas as suas possibilidades.
 Outra coisa que é inevitável é a “Angústia” (o pavor do nada).
• O nada é uma presença do não-ser no ser.
• A morte é o nada absoluto. A alienação e o isolamento do mundo são outras
maneiras menos absolutas da invasão do não-ser, no ser.
 As possibilidades da existência carecem de realização na medida em que o não-
ser dominou o ser.
• As possibilidades da existência incluem coisas como os estados e condições
corporais tanto quanto as possibilidades ampliadas ou restritas do mundo.
 Estados Corporais não são “impulsos”.
• Estados de Ânimo: a fome, a fadiga e o sexo
a) Determinam a escala e sintonia da abertura-do-mundo de um indivíduo
em um dado momento.
b) São responsáveis pelos significados revelados e motivações das coisas
encontradas.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 29
DESENVOLVIMENTO DA EXISTÊNCIA
 Os psicólogos existenciais não acreditam que a existência global do indivíduo seja
um evento histórico, isto é, que o crescimento individual seja uma sucessão de
eventos do desenvolvimento.
 “A história global do Dasein é inerente e presente a qualquer momento dado”.
(Medard Boss)
 A história não consiste de estágios, mas de diferentes modos de existência.
 O conhecimento genético só pode vir à tona após a compreensão dos fenômenos
presentes em si mesmos.
 A “motivação” se baseia no ser-no-mundo presente (e não passado).
 A “repetição” é devida ao significado do ato para nós agora.
 O “hábito” não é usado como princípio explicativo.
 Habitar no mundo significa habitar no passado, presente e futuro simultaneamente.
 A temporalidade da existência se expande ou se contrai para incluir mais ou menos
do passado ou do futuro.
 O mais importante conceito existencial de desenvolvimento é o “vir-a-ser” ou
“tornar-se”
 A existência nunca é estática; está sempre em processo de tornar-se e de
transcender-se.
 O objetivo é tornar-se completamente humano, para realizar todas as possibilidades
do Dasein.
 A escolha de uma possibilidade sempre significa a rejeição de todas as outras
possibilidades → é um projeto sem fim.
 Devemos realizar tantas possibilidades do ser-no-mundo quantas pudermos, apesar
da dificuldade da situação.
 Recusar o vir-a-ser é fechar-se, é recusar-se a crescer (sintomas neuróticos e
psicóticos).
 O tornar-se (vir-a-ser) implica direção e continuidade, mas a direção pode mudar e a
continuidade pode ser quebrada.
 O vir-a-ser da pessoa e o vir-a-ser do mundo são sempre relacionados; eles são um
vir-a-ser conjunto.
 A existência humana como ser-neste-mundo, termina com a morte.
 O conhecimento da morte não deixa ao homem outra escolha do que viver
permanentemente em relação com a morte.

Existência Humana → Ser-para-a-Morte

 O fim inevitável do ser-no-mundo confere ao homem a responsabilidade de tirar o


máximo de cada momento de sua existência e de realizar sua existência.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 30
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE KAREN HORNEY


(1885 – 1952)
Karen Danielsen Horney foi desertora do ponto de vista freudiano ortodoxo. Foi
treinada na doutrina psicanalítica oficial, mas não ficou muito tempo no campo
freudiano. Horney começou sua divergência da posição de Freud contestando o seu
retrato psicológico das mulheres e argumentando que os homens têm inveja das
mulheres pela sua capacidade de dar à luz.
Faz-se importante colocar que a teoria de Horney foi influenciada por sua
história de vida e por aspectos sociais e culturais completamente diferentes dos que
influenciaram Freud. Enquanto Karen Horney formulou sua teoria nos Estados Unidos,
Freud ocupou-se disto em Viena.
A personalidade, argumentava ela, não pode depender totalmente de fatores
biológicos, como propôs Freud. Dizia que se dependesse, não veríamos diferenças
significativas de uma cultura para outra. Portanto, Horney deu ênfase à dimensão social
como fator relevante na formação da personalidade. Para ela, as pessoas não eram
motivadas por forças sexuais ou agressivas, mas sim pela sua necessidade de segurança
e amor.

 A Vida de Horney
Karen Danielsen Horney nasceu numa cidadezinha perto de Hamburgo,
Alemanha. Segunda filha do casamento de um pai de 50 anos, capitão de navio, e de
uma mãe de 33 anos e temperamento muito diferente, Horney invejava o irmão Berndt
por ser atraente e charmoso, além do fato de ser homem, tendo em vista que as mulheres
eram consideradas inferiores naquela época. Durante a maior parte de sua infância e
adolescência, ela duvidava que os pais a desejassem, achando que tinham predileção por
Berndt. O pai a intimidava, embora esta quisesse atenção e amor. Era lembrar do jeito
ameaçador e da maneira severa do pai tratá-la para sentir-se rejeitada. Com a mãe, fazia
o papel da filha devotada, em busca do mesmo carinho e atenção. Até os 8 anos foi uma
filha exemplar, quando percebeu que sua tática não correspondia às suas expectativas,
tornou-se uma menina rebelde e ambiciosa. Horney dizia que se não podia ser bonita,
seria inteligente.
Sua teoria descreve como a falta de amor na infância estimula a ansiedade e
hostilidade, dando, assim, outro exemplo de uma teoria embasada em termos pessoais e
intuitivos.

 A Necessidade de Segurança na Infância


Em princípio, Horney concordava com Freud sobre a importância dos primeiros
anos da infância na moldagem da personalidade adulta. Para ela, o que influenciava no
desenvolvimento da personalidade eram as forças sociais na infância e não as
biológicas.
Na opinião de Horney, se a criança experimenta segurança e ausência de medo,
isso é decisivo para determinar a normalidade do desenvolvimento da sua
personalidade. A sua segurança depende totalmente de como os pais a tratam. A

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 31
principal maneira pela qual os pais enfraquecem ou impedem a segurança é mostrando
falta de carinho por ela.
Os filhos sabem se os pais têm amor genuíno por eles. Demonstrações e
expressões falsas de afeto não enganam facilmente as crianças. Elas podem sentir
necessidade de reprimir a hostilidade gerada pelos comportamentos enfraquecedores
dos pais por desamparo, medo dele, necessidades de amor genuíno e sentimento de
culpa. Quanto mais as crianças tiverem a sensação de desamparo, menos ousarão se
opor ou se rebelar contra os pais. Quanto mais culpa a criança sentir, mais
profundamente a hostilidade será reprimida.

 Ansiedade Básica: O Alicerce da Neurose


Nas palavras de Karen, nos sentimos “pequenos, insignificantes, desamparados,
abandonados, em perigo num mundo que está ai para abusar, enganar, atacar, humilhar
e trair” (1937, p. 92). Na infância tentamos nos proteger contra a ansiedade básica de
quatro maneiras:
• Assegurando Afeto e Amor → Existe várias maneiras pelas quais podemos
obter afeto, como tentar fazer tudo o que o outro quer, tentar subornar os outros
ou ameaçá-los para que eles nos deem o afeto desejado
• Sendo Submissos → As pessoas submissas evitam fazer qualquer coisa que
possa contrariar os outros; não ousam criticar ou ofender; precisam reprimir os
seus desejos pessoais e não conseguem se defender.
• Obtendo Poder → Uma pessoa pode compensar o desamparo e conseguir
segurança por meio do sucesso ou de um sentimento de superioridade.
• Distanciando-se → A pessoa que se afasta consegue independência quanto às
suas necessidades internas ou psicológicas tornando indiferente aos outros.
Renunciando à essas necessidades, quem se afasta, protege-se contra a
possibilidade de ser magoado pelos outros.
Para Karen, qualquer um desses Mecanismos de Defesa pode se tornar uma
necessidade ou um impulso neurótico.

 Necessidades Neuróticas
Karen Horney trouxe a ideia de dez defesas irracionais contra a ansiedade –
mecanismos de autoproteção – que se tornam parte permanente da personalidade e que
afetam o comportamento. A essas indispensabilidades deu o nome de Necessidades
Neuróticas, sendo elas:
• Afeto e Aprovação
• Um Parceiro Dominador
• Poder
• Exploração
• Prestígio
• Admiração
• Realização ou Ambição
• Autossuficiência
• Perfeição
• Limites Restritos à Vida

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 32
 Tendências Neuróticas
São três categorias de comportamentos e atitudes em relação à própria pessoa e
aos outros que expressam as necessidades da pessoa. É uma revisão do conceito de
Necessidades Neuróticas de Karen Horney.
Surgem a partir dos mecanismos de autoproteção e os aprimoram; envolvem
atitudes e comportamentos compulsivos, ou seja, as pessoas neuróticas são impelidas a
se comportar de acordo com pelo menos uma das necessidades neuróticas. Essas
características são exibidas indiscriminadamente em toda e qualquer situação.
As Tendências Neuróticas:
• Personalidade Submissa → Movimento em direção às outras pessoas.
• Personalidade Agressiva → Movimento contra as outras pessoas.
• Personalidade Distante → Movimento para longe de outras pessoas.

 A Personalidade Submissa
Exibe atitudes e comportamentos que refletem um desejo de caminhar em
direção ao outro, uma necessidade intensa de afeto e aprovação, um anseio de ser
amado, desejado e protegido. Geralmente precisam de outra pessoa dominadora que
tome conta da sua vida e ofereça proteção e orientação.
As personalidades submissas manipulam as outras pessoas para atingir suas
metas. Comportam-se de uma forma que os outros veem como atraente ou afetuosa –
atenciosas, gratas, responsivas, compreensivas e sensíveis; preocupam-se em
corresponder aos ideais e às expectativas dos outros. Mostram atitudes de desamparo e
fraqueza, como quem diz: “Olhe para mim. Eu sou tão fraco e indefeso que você
precisa me proteger e me amar”.
A segurança das personalidades submissas depende das atitudes e dos
comportamentos das demais pessoas em relação à elas. Qualquer sinal de rejeição, real
ou imaginário, parece-lhes aterrorizante.
A fonte desses comportamentos é a hostilidade reprimida. Horney constatou que
os submissos têm sentimentos profundos de rebeldia e vingança reprimidos, desejam
controlar, explorar e manipular os outros – o oposto da expressão de seus
comportamentos, que acabam se tornando uma maneira de controlar seus impulsos.

 A Personalidade Agressiva
Vão contra as outras pessoas. No seu mundo, todos são hostis e só os mais aptos
sobrevivem. As suas maiores virtudes da vida são a supremacia, a força e a ferocidade.
A motivação de comportamento é a mesma da personalidade submissa – aliviar a
ansiedade básica –, porém elas nunca demonstram medo de rejeição: são duras e
dominadoras e não têm consideração pelos outros. Precisam sempre ter ótimo
desempenho para conseguir o controle e a superioridade, e essa deve ser reconhecida
pelos demais.
Elas são motivadas a sempre superarem os outros, e julgam tudo em termo do
benefício que receberão. Argumentam, criticam, exigem e fazem o que for preciso para
obter e manter a superioridade e serem os melhores em tudo o que fazem, podendo,
portanto, ser extremamente bem sucedidas na carreira profissional – embora essa em si
não os satisfaça.
Apesar de aparentarem seguras e confiantes, as personalidades agressivas, assim
como as submissas, são movidas pela insegurança, ansiedade e hostilidade.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 33
 A Personalidade Distante
As pessoas são motivadas a se afastar das demais e a manter uma distância
emocional. Não precisam amar, odiar, colaborar ou se envolver com os outros; buscam
apenas a autossuficiência. Dependem dos seus próprios recursos, que devem ser bem
desenvolvidos.
Elas têm um desejo desesperado de privacidade e a necessidade de
independência faz com que sejam sensíveis a qualquer tentativa de influência, coação
ou obrigação. Não conseguem viver com restrições, agendas e programações, e
compromissos em longo prazo (como casamento ou hipoteca).
O sentimento de superioridade delas se difere da personalidade agressiva, pois
na personalidade distante tentar ser superior a alguém significa se envolver. Por outro
lado, uma manifestação desse sentimento de superioridade é a filosofia de que cada
pessoa é diferente da outra.
Quem tem esse tipo de personalidade enfatiza muito a razão, a lógica e a
inteligência; e seu maior objetivo é evitar conflitos (por isso não manifesta nenhum
sentimento em relação ao outro).
 Na Pessoa Neurótica uma dessas tendências é dominante e as outras duas
estão presentes em menor ou nenhum grau. A tendência neurótica dominadora é a que
determina o comportamento e as atitudes da pessoa em relação aos outros. É esse modo
de agir que consegue controlar a ansiedade básica do indivíduo com maior facilidade, e
algum desvio desse controle pode ser ameaçador. Devido a isso, as duas outras
tendências ficam ativamente reprimidas, e qualquer tentativa de expressão de alguma
delas – que não seja a dominante – pode levar ao conflito.
 Conflito → é definido como a incompatibilidade das três tendências e é o
centro da neurose. Todos nós, normais ou neuróticos, sofremos desses conflitos vez ou
outra. O que difere a pessoa normal da neurótica é a intensidade do conflito e a
capacidade de resolução do mesmo. A pessoa neurótica precisa lutar para evitar que as
tendências não dominantes se expressem, por isso tendem a ser rígidas e inflexíveis,
agindo sempre de forma a expressar a sua tendência dominadora.

 Conflitos Intrapsíquicos
Os processos psíquicos originam-se das experiências interpessoais, mas, à
medida que se tornam parte do sistema de crenças de uma pessoa, adquirem vida
própria. Horney lista dois importantes conflitos intrapsíquicos: a Auto imagem
Idealizada e o Auto-Ódio.

 A Auto Imagem Idealizada


Para Horney, os seres humanos, caso lhe fossem proporcionado um ambiente de
disciplina e de afeto, desenvolveriam sentimentos de segurança e de autoconfiança e
tenderiam a mover-se na direção da auto realização. Infelizmente, influências negativas
iniciais frequentemente impedem a isto, uma situação que as deixa com sentimento de
isolamento e de inferioridade.
Sentindo-se alienadas de si mesmas, as pessoas necessitam desesperadamente
adquirir um senso de identidade estável. Esse dilema pode ser resolvido apenas pela
criação de uma autoimagem idealizada, veem a si próprias como um herói, um gênio,
um amante supremo, um santo, um Deus. Perdendo contato com seu self real e utiliza o
self idealizado como o padrão para auto avaliação. Horney reconhecia três aspectos da
imagem idealizada:

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ⓐ A Busca Neurótica por Glória
À medida que os neuróticos passam a acreditar na realidade de seu self
idealizado, eles começam a incorporá-lo em todos os aspectos de suas vidas. Esta possui
três outros elementos.
 Necessidade por Perfeição → nada menos do que a perfeição é aceitável.
Horney referia a essa orientação como a tirania do deve ser. Eles dizem
inconscientemente a si mesmo “Esqueça da criatura desgraçada que você é na
realidade; é assim que você deveria ser”.
 Ambição Neurótica → os neuróticos canalizam sua energia naquelas atividades
cujas chances de obtenção de sucesso são maiores.
 Desejo de um Triunfo Vingativo → o mais destrutivo de todos. Pode ser
disfarçado como uma orientação para o sucesso ou para realização, mas sua meta
principal é constranger ou derrotar outras pessoas pelo próprio sucesso.

ⓑ Demandas Neuróticas
Em sua busca por glória, os neuróticos constroem um mundo fantástico.
Acreditando que algo está errado com o mundo exterior, afirmam que, merecem um
tratamento de acordo com sua visão idealizada de si mesmo. Não conseguem ver que
suas solicitações de privilégios especiais não são racionais. Quando as demandas não
são realizadas, eles ficam indignados, confusos e incapazes de compreender a razão pela
qual os outros não satisfazem suas demandas.

ⓒ Orgulho Neurótico
Quando os outros não os tratam com consideração especial, seu orgulho
neurótico é ferido. Para evitar mágoa, eles se distanciam das pessoas que recusam a
ceder suas demandas e tentam associar à pessoas socialmente destacadas e à instituições
e aquisições que lhe tragam algum prestígio.

 Auto Ódio
As pessoas com uma necessidade neurótica por glória jamais serão felizes
consigo mesmas porque, ao perceberem que seu self não poderá atender às demandas
insaciáveis de seu self idealizado, começarão a odiar ou a desdenhar a si próprias.
Horney reconheceu seis formas pelas quais as pessoas podem expressar seu auto-ódio:
 Demandas Incansáveis ao Self → as quais são exemplificadas pela tirania do
devia ser. Essas pessoas pressionam-se rumo à perfeição porque acreditam que
deviam ser perfeitas.
 Autoacusação Impiedosa → criticam-se constantemente; por exemplo, “se pelo
menos as pessoas me conhecessem percebiam que eu estou fingindo ser
acessível competente e sincero. Na realidade ou uma fraude, mas ninguém sabe
disse, além de mim”.
 Autodesprezo → são atitudes como diminuir, desprezar, questionar, debochar e
ridicularizar a si próprio. Impedindo-os de lutar por melhorias e realizações.
Como por exemplo, uma mulher poderia atribuir a sua carreira bem sucedida
como “sorte”.
 Auto Frustração → estão com frequência presos a tabus que impedem o prazer.
Como por exemplo, “Eu não devo usar boas roupas porque muitas pessoas no

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 35
mundo vestem-se com trapos” ou “Eu não devo lutar por um emprego melhor
porque eu não sou bom o bastante para ele”.
 Auto Tormento → esta pode estar presente em todas as formas do auto ódio,
mas ela se torna um elemento separado a partir do momento em que o indivíduo
inflige dano ou sofrimento a si próprio, algumas pessoas tem satisfação
masoquista, ficando angustiados por conta de uma decisão.
 Ações e os Impulsos Autodestrutivos → podem ser físico ou psicológico,
consciente ou inconsciente, agudo ou crônico. Excesso de alimentos, drogas,
jornada de trabalho exagerada e suicídio, são exemplos comuns de
autodestruição. Já psicologicamente, temos o exemplo de um abandono de um
emprego justo quando ele começa a tornar-se satisfatório.
“Ao pesquisar o Auto Ódio e sua força devastadora, não pudemos evitar enxergar nisso
uma grande tragédia, talvez a maior tragédia da mente humana. O homem, ao tentar
alcançar o infinito e o absoluto, também começa a destruir-se. Ao fazer um pacto com o
diabo, que lhe promete glórias, ele tem de ir ao inferno – ao inferno dentro dele
próprio”.

 Psicologia Feminina
No início de sua carreira, Horney expressou a sua discordância das teorias de
Freud sobre as mulheres. Ela criticou particularmente o conceito freudiano de „Inveja do
Pênis‟, para ela era derivado de provas inadequadas e contra-atacou essas ideias
argumentando a inveja que o homem sente da mulher, porque ela pode gerar filhos e ele
não, nomeando de „Inveja do Útero‟. Sendo então uma resposta ao conceito freudiano
de „Inveja do Pênis‟.
Ela dizia também sobre os homens, que a busca pela realização profissional e
alguns comportamentos como menosprezar, negar direitos iguais, minimizar suas
oportunidades, rebaixar seus esforços e reforçar o status inferior das mulheres, se dava
pelo sentimento de inferioridade derivado da sua inveja do útero.

 O Voo da Feminilidade
Horney definiu Voo da Feminilidade como o resultado dos sentimentos de
inferioridade, podendo trazer consequências, como a mulher negar sua feminilidade e
desejar, inconscientemente, ser homem. Um problema que pode levar a inibições
sexuais.

 O Complexo de Édipo
Horney discordou de Freud sobre o Complexo de Édipo. Ela não negava a
existência de conflitos entre pais e filhos, mas não achava que fossem de origem sexual,
para ela se tratava da dependência do pai ou da mãe e a hostilidade em relação a um
deles. Então, sua explicação é de que são sentimentos que não se baseiam no sexo ou
em outras forças biológicas, nem são universais. Surgem quando o comportamento dos
pais prejudica a necessidade de segurança na infância, desenvolvendo a hostilidade, que
permanece e cria a ansiedade básica, causando conflitos neuróticos.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 36
 Maternidade ou Carreira?
No esquema tradicional, divulgado pela maioria dos homens, a mulher tinha por
função amar, admirar e servir ao seu homem e sua identidade era um reflexo do marido.
Então, Horney escreveu sobre os conflitos psicológicos que definem os papéis da
mulher, com uma visão mais moderna. Além de sugerir que a mulher deveria buscar a
sua própria identidade, desenvolver suas habilidades, assim como ela havia feito, e
seguir uma carreira.
Era difícil para Karen Horney viver na década de 1930 e continua problemático
para as mulheres do século XXI, conciliar casamento, maternidade e carreira.

 Influências Culturais na Psicologia Feminina


Horney reconheceu o impacto das forças sociais e culturais no desenvolvimento
da personalidade e também, que as culturas e os grupos sociais diferentes, encaravam o
papel da mulher de maneira diferente. Condições culturais específicas geram qualidades
e faculdades específicas tanto na mulher quanto no homem.

 Questões sobre a Natureza Humana


A visão de Horney sobre a natureza é considerada mais otimista do que a de
Freud. Um dos motivos para seu otimismo era sua crença de que forcas biológicas não
nos levam só conflito, ansiedade, neurose, ou à universalidade na personalidade. Para
ela, cada pessoa é única.
Todos temos um potencial inato de auto realização, é a nossa meta principal e
necessária na vida, e todos têm a capacidade de moldar e mudar conscientemente a sua
personalidade.
Horney tinha tanta confiança na nossa capacidade de crescer que deu ênfase à
autoanálise em seu trabalho terapêutico, e em sua própria vida, e observou a capacidade
que temos de resolver nossos próprios problemas.
Os métodos que Horney utilizou para avaliar o funcionamento da personalidade
humana foram basicamente os mais utilizados por Freud: Livre Associação e Análise
dos Sonhos, mas com algumas modificações. Adotava uma atitude de cordialidade
construtiva; não investigava as supostas fantasias sexuais infantis no início da análise e
concentrava-se no conteúdo emocional do sonho, concluindo que “a pista mais segura
para se entender um sonho está nos sentimentos do paciente à medida que ele os têm no
sonho”.

 Bibliografia
• Feist, Jess & Feist, Gregory J. (2008). Teorias da Personalidade. (6ª edição). São Paulo.
• Schultz, Duane P. & Sidney, Ellen (2002). Teorias da Personalidade. São Paulo.
• Schultz, Duane P. & Sidney, Ellen (2011). Teorias da Personalidade. (2ª edição). São Paulo.

“A preocupação deveria levar-nos à ação


e não à depressão”

“Qualquer pessoa pode ser modificada para melhor,


se ela assim se propuser”
(Karen Horney)

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 37
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE ALFRED ADLER


(1870-1937)
A meta da alma humana é a conquista, perfeição, segurança,
superioridade. Toda criança se depara com tantos obstáculos
na vida que nenhuma delas cresce sem lutar por alguma forma
de sentido.
(Alfred Adler)

Adler criou uma imagem da natureza humana que não mostra as pessoas como
vitimadas pelos instintos e conflitos e condenadas por forças biológicas e experiências
da infância. Ele denominou esta abordagem de “Psicologia Individual” porque se
concentrava na singularidade de cada pessoa e negava a universalidade dos motivos e
metas biológicos que nos foram imputados por Sigmund Freud.

Psicologia Individual
A Teoria da Personalidade de Adler
Segundo Adler, cada pessoa é basicamente um ser social. Nossa personalidade é
moldada pelo nosso ambiente e interações sociais peculiares, e não pelos esforços para
satisfazer nossas necessidades biológicas. Embora o sexo fosse de importância
fundamental para Freud como um fator determinante da personalidade, Adler
minimizou o papel do sexo no seu sistema. Para ele, o consciente é que era o centro da
personalidade. Em vez de sermos impulsionados por forças que não podemos ver ou
controlar, estamos ativamente envolvidos na criação do nosso self no direcionamento do
nosso futuro.
Com Adler e Freud, vemos duas teorias muito diferentes criadas por dois
homens que cresceram na mesma cidade (Viena – Áustria), na mesma época e que se
formaram médicos na mesma universidade. Havia uma diferença de apenas 14 anos
entre eles. Como no caso de Freud, os aspectos da infância de Adler podem ter
influenciado sua maneira de encarar a natureza humana.

A Vida de Adler (1870-1937)


 Infância e Adolescência
Alfred Adler nasceu em Pezing, subúrbio de Viena (Áustria), em 07 de fevereiro
de 1870, de uma família de classe média. Seu pai era comerciante de grãos e sua família
gozava de uma situação financeira confortável, sendo uma das poucas famílias judias
das redondezas.
A infância de Adler foi marcada pela doença, a consciência da morte e pelo
ciúme de seu irmão mais velho. Ele sofria de raquitismo (uma deficiência de vitamina D
caracterizada pelo enfraquecimento dos ossos), o que o impedia de brincar com outras
crianças. Quando ele tinha três anos, seu irmão mais novo morreu na cama ao lado da
sua. Aos quatro, o próprio Adler esteve perto da morte, devido a uma pneumonia.
Quando ouviu o médico dizer ao seu pai: “O seu filho é um caso perdido", decidiu
tornar-se médico (Orgler, 1963, p. 16).

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 38
Mimado pela mãe em virtude da sua doença, o pequeno Adler foi destronado aos
dois anos pela chegada de um outro bebê. Os biográficos de Adler sugerem que a mãe
possa tê-lo rejeitado, mas com certeza era o preferido do pai. Portanto, as suas relações
na infância foram diferentes das de Freud (Freud era mais próximo da mãe do que do
pai). Como adulto, Adler descartou o conceito freudiano de Complexo de Édipo porque
não correspondia às suas experiências na infância. Adler tinha ciúme de seu irmão mais
velho, que era forte, saudável, praticava atividades físicas e esportes e ele não podia
fazê-lo. “Eu me lembro de sentar num banco coberto de bandagens devido ao
raquitismo com o meu saudável irmão mais velho sentado na minha frente. Ele podia
correr, saltar e se movimentar sem muito esforço, enquanto para mim qualquer tipo de
movimento era um esforço extenuante” (Adler, citado em Bottome, 1939, p. 30-31).
Adler sentia-se inferior ao seu irmão e às outras crianças da vizinhança, que
pareciam mais saudáveis e atléticas. Então, decidiu trabalhar arduamente para superar
os seus sentimentos de inferioridade e compensar suas limitações físicas. Apesar de sua
baixa estatura, falta de jeito e atrativos – heranças da sua doença –, forçou-se a
participar de jogos e esportes. Gradativamente, venceu e conseguiu um senso de
autoestima e aceitação social. Ele criou gosto pela companhia de outras pessoas e
manteve sua sociabilidade a vida toda. Na sua Teoria da Personalidade, enfatizou a
importância do grupo de colegas da mesma idade e sugeriu que as relações com os
irmãos e crianças que não eram da família eram muito mais importantes do que Freud
imaginava.
Na escola (a mesma que Freud frequentou), no começo, sentia-se infeliz e era
apenas um aluno medíocre. Achando que ele não servia para mais nada, um professor
aconselhou o seu pai a torná-lo aprendiz de sapateiro, uma perspectiva que Adler achava
apavorante. Ele era particularmente ruim em matemática, mas persistiu e, por fim,
conseguiu passar de um aluno fraco, ao primeiro da classe.
Em vários aspectos, a história da infância de Adler parece uma tragédia, mas é
também uma lição que exemplifica a sua Teoria da Personalidade, um exemplo de
superação das fraquezas e do sentimento de inferioridade para moldar o seu destino. O
teórico que deu ao mundo a noção de Sentimento de Inferioridade falava das
profundezas da sua própria infância. “As pessoas familiarizadas com a minha obra
verão claramente a conformidade entre os fatos que ocorreram na minha infância e as
opiniões que expressei” (citado em Bottome, 1939, p. 9).

 Idade Adulta
Realizando a sua ambição de criança, Adler estudou Medicina na Universidade
de Viena, mas formou com notas não mais do que medianas, Ele começou a trabalhar
como oftalmologista, mas logo mudou para a clínica geral. Interessou-se por doenças
incuráveis, mas ficou tão angustiado com a sua impotência em impedir a morte,
principalmente de pacientes mais jovens, que terminou por se especializar em
Neurologia e Psiquiatria.
A associação de nove anos de Adler com Freud começou em 1902, quando
Freud convidou Adler e outras três pessoas a se reunirem, uma vez por semana, em sua
casa, para discutir a psicanálise. Embora seu relacionamento nunca tenha se tornado
íntimo, Freud, inicialmente, o tinha em grande conta e elogiava sua habilidade como
médico que conseguia ganhar a confiança dos seus pacientes. É importante lembrar que
Adler nunca foi discípulo de Freud, nem psicanalisado por ele. Um dos colegas de
Freud afirmou que Adler não tinha capacidade para investigar a mente inconsciente e
psicanalisar pessoas. É interessante especular se essa suposta incapacidade levou Adler

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 39
a basear a sua Teoria da Personalidade na consciência, mais acessível, e minimizar o
papel do inconsciente.
Em 1910, embora fosse presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena e
coeditor da sua revista, ele também criticava cada vez mais a teoria freudiana, vindo
logo a romper com a psicanálise e a desenvolver a sua própria abordagem da
personalidade. Freud zangou-se com a deserção de Adler; depreciou a sua estatura (ele
era 12 centímetros mais baixo do que Freud) e chamou-o de repugnante, anormal,
movido pela ambição, pela emoção, cheio de veneno e maldade, paranoico,
extremamente ciumento e sádico. Ele descreveu a Teoria de Adler como sem valor
(Fiebert, 1997; Gay, 1988; Wittels, 1924).
Adler demonstrou uma hostilidade semelhante em relação a Freud, chamando-o
de trapaceiro e depreciando sobremaneira a psicanálise (Roazen, 1975); irritava-se
quando era apresentado com aluno de Freud. Posteriormente, pareceria tão amargurado
com os desertores da sua abordagem como Freud ficara com aqueles que, como Adler,
se desviaram da psicanálise. Adler era conhecido como uma pessoa que “se
encolerizava repentinamente quando sentia sua autoridade desafiada” (Hoffman, 1994,
p. 148).
Em 1912, fundou a Sociedade de Psicologia Individual. Ele serviu no exército
austríaco durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e depois organizou clínicas
de aconselhamento infantis patrocinadas pelo governo em Viena. Adler introduziu em
suas clínicas procedimentos de treinamento e orientação de grupos, que foram
precursoras das técnicas modernas de terapia de grupo. Em 1926, fez a primeira visita
aos Estados Unidos, onde lecionou e viajou realizando palestras populares.
Mudou-se para lá em 1929, estabelecendo-se na cidade de Nova York, onde
continuou seu trabalho para desenvolver e promover sua Psicologia Individual. Um
biógrafo observou que os “traços de genialidade, otimismo e calor combinados com
uma intensa ambição (...) logo o catapultaram à proeminência nos Estados Unidos como
especialista em psicologia” (Hoffman, 1994, p. 160).
Os livros e palestras de Adler trouxeram-lhe reconhecimento nacional e ele se
tornou o psicólogo popular nos Estados Unidos – a celebridade do momento. Em 1937,
durante um tour exaustivo de 56 palestras pela Europa, sofreu um ataque cardíaco e
faleceu no dia 28 de maio, em Aberdeen, na Escócia.
Alfred Adler merece lugar de destaque no movimento psicanalítico pela
importância que deu ao fator da agressividade.

Sentimentos de Inferioridade: A Fonte da Luta Humana


Adler achava que os Sentimentos de Inferioridade estavam sempre presentes
como força motivadora no comportamento – “Ser um ser humano significa sentir-se
inferior”, escreveu Adler (1933/1939, p. 96). Como isso é comum a todos, não é,
portanto, sinal de fraqueza ou anormalidade.

 Sentimentos de Inferioridade
O estado normal de todas as pessoas, a fonte de toda a luta humana.
Para Adler, os sentimentos de inferioridade são a fonte de toda a luta humana. O
crescimento individual é resultado da compensação, da tentativa de superarmos
inferioridades reais ou imaginárias. Na vida, somos impulsionados pela necessidade de
superar essa sensação de inferioridade e lutar por níveis cada vez mais altos de
desenvolvimento.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 40
 Compensação
Motivação para superar a inferioridade, lutar por níveis mais altos de desenvolvimento.
O processo começa na infância. As crianças são pequenas, indefesas e
totalmente dependentes dos adultos. Adler achava que elas têm consciência do poder e
da força maior dos pais e da inutilidade de tentar resistir ou questionar esse poder.
Consequentemente, desenvolvem sentimentos de inferioridade em comparação às
pessoas maiores e mais fortes ao seu redor.
Embora essa sensação inicial de inferioridade se aplique a todos na infância, ela
não é determinada geneticamente. Ao contrário, é uma função do ambiente, que é o
mesmo para todas as crianças – um ambiente de desamparo e dependência dos adultos.
Portanto, é impossível escapar desse sentimento de inferioridade, mas ele é necessário,
porque dá a motivação para lutar e crescer.

 O Complexo de Inferioridade
Suponha que uma criança não cresça e não se desenvolva. O que acontece
quando ela não consegue compensar o seu sentimento de inferioridade? A incapacidade
de superar esse sentimento intensifica-se, o que leva ao surgimento de um Complexo de
Inferioridade. As pessoas com Complexo de Inferioridade têm uma opinião ruim sobre
si mesmas, sentem-se incapazes de lidar com as demandas da vida. Adler encontrou
esse complexo na infância de muitos adultos que o procuraram para tratamento.

 Complexo de Inferioridade
Situação que surge quando uma pessoa não consegue compensar seu sentimento
normal de inferioridade.
O Complexo de Inferioridade pode surgir de três fontes na infância:
Inferioridade Orgânica, Mimo Excessivo e Negligência.
 A investigação da Inferioridade Orgânica, o primeiro grande esforço de
pesquisa de Adler, foi feito quando ele ainda tinha ligação com Freud, que aprovou o
conceito; concluiu que as partes ou órgãos do corpo moldam a personalidade por meio
do esforço da pessoa para compensar o defeito ou a fraqueza, como Adler tinha
compensado o raquitismo, a inferioridade física na sua infância. Por exemplo, uma
criança fisicamente fraca pode se concentrar nessa fraqueza e trabalhar para desenvolver
uma capacidade atlética superior.
A história registra vários exemplos desse tipo de compensação. Na Idade Antiga,
o estadista grego Demóstenes superou uma gagueira e se tornou um grande orador. O
doente Theodore Roosevelt, 26º presidente dos Estados Unidos, tornou-se modelo de
capacidade física quando adulto. Os esforços para superar a inferioridade orgânica
podem resultar em extraordinários feitos artísticos, atléticos e sociais, mas, se não forem
bem-sucedidos, poderão levar a um Complexo de Inferioridade.
A obra de Adler é outro exemplo de um conceito de personalidade elaborado
com linhas intuitivas, tiradas da experiência pessoal do teórico, e depois confirmado por
dados dos pacientes. O seu consultório em Viena era quase um parque de diversões e
entre seus pacientes estavam artistas de circo e ginastas. Eles possuíam habilidades
extraordinárias que, em muitos casos, eram desenvolvidas como resultado de trabalho
árduo para superar deficiências na infância.
 O Mimo Excessivo de uma criança também pode suscitar um Complexo de
Inferioridade, porque elas são o centro das atenções em casa. Todos os seus desejos e
necessidades são satisfeitos e pouco lhes é negado. Essas circunstâncias desenvolvem,

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 41
naturalmente, a ideia de que são as pessoas mais importantes em qualquer situação e
que os demais precisam sempre se submeter à elas. A primeira experiência na escola,
quando passam a não ser mais o foco das atenções, é um choque para o qual não estão
preparadas. Crianças mimadas têm pouco traquejo social e são impacientes com os
outros. Nunca aprenderam a esperar pelo que querem, nem a superar dificuldades ou se
adaptar às necessidades dos outros. Quando se deparam com obstáculos à sua satisfação,
acham que devem ter alguma deficiência que as está frustrando. Então, desenvolvem um
Complexo de Inferioridade.
Adler notou que os mimos na infância podem levar a um estilo de vida mimado
no qual a pessoa demonstraria pouco ou nenhum sentimento social pelos outros. As
pesquisas corroboram essa ideia e sugerem também que os mimos podem levar a um
narcisismo excessivo que envolve falta de responsabilidade ou empatia em relação às
outras pessoas, a um senso exagerado da própria importância e à tendência de explorar
os outros. Estudos identificaram quatro tipos de mimos.
• Excesso de Indulgência → que envolve uma gratificação persistente por parte
dos pais em relação aos desejos e necessidades das crianças, o que leva a
sentimentos de direito legítimo e a comportamentos manipuladores;
• Excesso de Permissividade → que significa permitir que a criança se comporte
como bem quiser, sem consideração pelos efeitos de seu comportamento sobre
os outros, provocando a quebra das regras sociais e infringindo o direito dos
demais;
• Excesso de Dominação → que significa que todas as decisões são tomadas
apenas pelos pais, levando à falta de confiança da criança e à tendência de se
tornar dependente de outros quando adulto;
• Superproteção → que significa prudência por parte dos pais, excesso de avisos
sobre os perigos potenciais no ambiente, levando a uma ansiedade generalizada
e à tendência de evitar situações sociais ou se esconder delas.
 É fácil entender como Crianças Negligenciadas, não desejadas e rejeitadas
podem criar um Complexo de Inferioridade. A sua infância é caracterizada pela falta de
amor e segurança, porque seus pais são indiferentes ou hostis. Então, desenvolvem
sentimentos de falta de valor ou até raiva e encaram os outros com desconfiança.

 O Complexo de Superioridade
Qualquer que seja a fonte do complexo, uma pessoa pode tender a
supercompensá-lo e, dessa forma, a desenvolver o que Adler chamou de Complexo de
Superioridade. Ele envolve uma opinião exagerada da capacidade e realizações da
pessoa, que pode se sentir internamente satisfeita e superior e não ter necessidade de
demonstrar a sua superioridade com realizações, ou sentir essa necessidade e se
empenhar para se tomar extremamente bem-sucedida. Em ambos os casos, as pessoas
com Complexo de Superioridade são dadas a se gabar, à vaidade, ao egocentrismo e a
uma tendência a denegrir os outros.

 Complexo de Superioridade
Situação que se cria quando uma pessoa supercompensa sensações de inferioridade
normais.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 42
A Luta pela Superioridade ou Perfeição
Os sentimentos de inferioridade são a fonte da motivação e da luta, mas para que
finalidade? Nós ficamos motivados simplesmente para nos livrarmos dos sentimentos
de inferioridade? A opinião de Adler era de que nos empenhamos para obter algo mais.
No entanto, a sua opinião sobre o objetivo principal da vida mudou com o decorrer dos
anos.
Primeiro, ele identificou a inferioridade como uma sensação geral de fraqueza
ou feminilidade, reconhecendo a posição inferior da mulher na sociedade da sua época,
e classificou de protesto masculino, a compensação por esse sentimento. A meta da
compensação era uma vontade ou um impulso para o poder, no qual a agressão, uma
característica supostamente masculina, desempenhava um papel importante. Depois,
rejeitou a ideia de equiparar as sensações de inferioridade com feminilidade e
desenvolveu uma teoria mais ampla, na qual nós lutamos pela superioridade ou
perfeição.
Adler descreveu sua noção de luta pela superioridade como o fato fundamental
da vida (Adler, 1930). A superioridade é o objetivo que perseguimos. Ele não falava de
superioridade no sentido comum da palavra, nem o conceito do termo se relaciona com
o complexo de superioridade. Lutar por ela não é uma tentativa de ser melhor do que
qualquer outra pessoa, nem uma tendência arrogante ou dominadora, ou uma opinião
presunçosa das nossas realizações e capacidade. O significado de Superioridade para
Adler era de um impulso para buscar a perfeição. A palavra perfeição vem de uma
palavra latina que significa concluir ou terminar. Portanto, Adler sugeriu que buscamos
a superioridade num esforço para nos aperfeiçoarmos, nos tomarmos completos ou
inteiros.

 Luta pela Superioridade


Ânsia pela perfeição ou inteireza que motiva cada um de nós.
A meta inerente, a busca de inteireza ou conclusão, é orientada para o futuro.
Enquanto, por um lado, Freud propunha que o comportamento humano é determinado
pelo passado (isto é, pelos instintos e experiências na infância), Adler via a motivação
em termos de expectativas para o futuro, argumentando que os instintos e impulsos
primordiais eram insuficientes como princípios explanatórios. Só a meta principal da
superioridade ou perfeição poderia explicar a personalidade ou comportamento.

 Finalismo de Ficção
Adler aplicou o termo Finalismo à ideia de que temos uma meta principal, um
estado final de ser e uma necessidade de caminhar na direção dele. As metas pelas quais
lutamos são potencialidades e não realidades. Em outras palavras, lutamos por ideais
que existem em nós subjetivamente. Para Adler, nossas metas são ideais ficcionais ou
imaginadas que não podem ser testados na realidade. Nós vivemos a nossa vida em
torno de ideais como a crença de que todos são criados iguais ou de que as pessoas são
essencialmente boas. A meta de vida de Adler era vencer a morte. A sua maneira de
lutar por essa meta foi tornar-se médico (Hoffman, 1994).
Essas crenças influenciam a maneira como percebemos e interagimos com
outras pessoas. Por exemplo, se acreditamos que determinada maneira de nos
comportarmos nos trará recompensas no céu ou após a morte, tentamos agir de acordo
com essa ideia. A crença na existência de uma vida após a morte não se baseia numa
realidade objetiva, mas é real para a pessoa que tem essa opinião.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 43
Adler formalizou esse conceito como Finalismo de Ficção, a noção de que
ideias ficcionais regem o nosso comportamento quando buscamos um estado de ser
completo ou inteiro. Nós traçamos o rumo da nossa vida por muitas dessas ficções, mas
a mais difundida é o ideal da perfeição. Ele sugeriu que a melhor formulação desse ideal
criada pelos seres humanos até agora, foi o conceito de Deus. Adler preferiu os termos
“meta final subjetiva” ou “guia do self ideal” para descrever este conceito, mas ele
continua a ser conhecido como “Finalismo de Ficção” (Watts, Holden, 1994).

 Finalismo de Ficção
Ideia de que existe uma meta imaginada ou potencial que rege o nosso comportamento.
Existem dois pontos adicionais sobre a luta pela superioridade:
 Em primeiro lugar, ela aumenta a tensão ao invés de diminui-la. Ao contrário
de Freud, Adler não acreditava que a nossa única motivação era reduzir a tensão. Buscar
a perfeição requer um grande dispêndio de energia e esforço, uma situação bem
diferente de um estado de equilíbrio ou sem tensões.
 Em segundo lugar, a luta pela superioridade é manifestada tanto pelo
indivíduo quanto pela sociedade. Nós, na maioria, somos seres sociais; buscamos a
superioridade ou a perfeição não só como pessoas, mas também como membros de um
grupo. Nós tentamos atingir a perfeição da nossa cultura. Segundo Adler, as pessoas e a
sociedade se inter-relacionam e são interdependentes. As pessoas precisam agir
construtivamente com os outros para o bem de todos.
Portanto, para Adler, os seres humanos buscam constantemente a meta ficcional
e ideal da perfeição. Como tentamos, na nossa vida diária, atingir essa meta? Adler
respondeu a esta pergunta com o seu conceito de Estilo de Vida.

Estilo de Vida
A nossa meta principal é a superioridade ou perfeição, mas tentamos atingi-la
por meio de vários padrões de comportamento diferentes. Cada um de nós expressa essa
luta de maneira diferente; desenvolvemos um padrão singular de características,
comportamentos e hábitos, que Adler chamou de caráter distinto ou Estilo de Vida.

 Estilo de Vida
Estrutura ou padrão de comportamentos e características de caráter peculiar pelo qual
buscamos a perfeição. Entre os estilos de vida básicos estão o Dominador, o
Dependente, o Esquivo e os tipos Socialmente Úteis.
Para entendermos como o estilo de vida se desenvolve, voltamos aos conceitos
de sentimentos de inferioridade e compensação. As crianças são atormentadas por
sentimentos de inferioridade que as motivam a compensar o desamparo e a
dependência. Nessas tentativas de compensação, adquirem um conjunto de
comportamentos. Por exemplo, a criança doente pode lutar para aumentar a capacidade
física correndo ou levantando peso. Esses comportamentos tornam-se parte do estilo de
vida, um padrão de comportamento criado para compensar uma inferioridade.
Tudo o que fazemos é moldado e definido pelo nosso estilo de vida peculiar, que
determina quais aspectos do nosso ambiente atendemos ou ignoramos e que atitudes
mantemos. Nós adquirimos nosso estilo de vida a partir das interações sociais que
ocorrem nos primeiros anos de vida. Adler sugeriu que o estilo de vida fica tão
firmemente cristalizado com a idade de quatro ou cinco anos que é difícil mudá-lo
depois.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 44
O estilo de vida torna-se a estrutura guia de todos os comportamentos
posteriores. Como observamos, a sua natureza depende de interações sociais,
principalmente a ordem de nascimento da pessoa na família e a natureza da relação pais-
filho. Lembre-se de que uma das situações que levam ao complexo de inferioridade é a
negligência. As crianças negligenciadas podem se sentir inferiores ao lidar com as
demandas da vida e, portanto, podem se tornar desconfiadas e hostis para com os outros,
podendo o seu estilo de vida envolver a busca de vingança, ressentimento pelo êxito dos
outros e posse de tudo o que acham que lhes é devido.

 O Poder Criativo do Self


Você pode ter encontrado uma aparente incoerência entre o conceito de estilo de
vida de Adler e a nossa observação anterior de que a sua teoria é menos determinista do
que a de Freud. Adler disse que temos o controle do nosso destino, não somos vítimas
dele. Mas agora descobrimos que o estilo de vida é determinado pelas relações sociais
nos primeiros anos e sujeito a poucas mudanças mais tarde. Isso parece quase tão
determinista quanto à visão freudiana, que enfatiza a importância da infância na
formação da personalidade do adulto. Mas a teoria de Adler não é tão determinista
quanto pode parecer de início. Ele resolveu o dilema propondo um conceito que
descreveu como o Poder Criativo do Self.

 Poder Criativo do Self


A habilidade de criar um estilo de vida apropriado.
Adler achava que a pessoa cria o estilo de vida. Nós criamos o nosso self, a
nossa personalidade, o nosso caráter; Adler usou todos esses termos
intercambiavelmente com estilo de vida. Não somos passivamente moldados pelas
experiências da infância, que não são tão importantes, em si mesmas, quanto a nossa
atitude consciente em relação a elas. Adler informou que nem a hereditariedade nem o
ambiente fornecem uma explicação completa para o desenvolvimento da personalidade.
Em vez disso, a maneira como interpretamos essas influências forma a base para a
construção criativa da nossa atitude em relação à vida.
Adler defendeu a existência do livre-arbítrio individual, que permite que cada
um crie um estilo de vida adequado a partir de habilidades e experiências que nos são
passadas pela herança genética e pelo ambiente social. Embora não tenha sido muito
claro quanto aos pontos específicos, insistiu que o nosso estilo de vida não está
determinado; somos livres para escolhê-lo e criá-lo. Uma vez criado, ele permanece
constante a vida inteira.

 Os Estilos Dominador, Dependente, Esquivo e Socialmente Útil


Adler descreveu vários problemas universais e os agrupou em três categorias:
 os que envolvem o nosso comportamento para com os outros
 os ocupacionais
 os amorosos
Ele propôs quatro estilos de vida básicos para lidar com esses problemas:
 Tipo Dominador
 Tipo Dependente
 Tipo Esquivo
 Tipo Socialmente Útil

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 45
 Tipo Dominador → esse primeiro tipo apresenta uma atitude dominadora
com pouca consciência social e sem consideração pelos outros. O tipo mais extremo
desta categoria ataca os outros e se torna sádico, delinquente ou sociopata. O menos
violento se torna alcoólatra, viciado em drogas ou suicida. Eles acreditam que podem
magoar os outros atacando a si mesmos.
 Tipo Dependente → o dependente (para Adler, o tipo humano mais comum)
espera ser satisfeito por outras pessoas e, portanto, se torna dependente delas.
 Tipo Esquivo → o esquivo não tenta enfrentar os problemas da vida; evitando
dificuldades, a pessoa evita qualquer possibilidade de fracasso.
Estes três tipos não estão preparados para lidar com os problemas da vida
cotidiana. Não conseguem colaborar com outras pessoas e o choque entre o seu estilo de
vida e o mundo real resulta num comportamento anormal, que se manifesta na forma de
neuroses e psicoses. Falta-lhes o que Adler chamou de interesse social.
 Tipo Socialmente Útil → o tipo socialmente útil colabora com os outros e age
de acordo com as necessidades destes. Esse tipo de pessoa lida com problemas dentro
de uma estrutura bem desenvolvida de interesse social.
Adler, no geral, opunha-se a classificar rigidamente as pessoas desta maneira e
propôs os quatro estilos de vida somente para fins didáticos. Ele alertava os terapeutas
para o erro de classificar as pessoas em categorias que se excluem mutuamente.

Interesse Social
Adler percebeu que nos darmos bem com os outros é a primeira tarefa que
encontramos na vida. O nosso nível de adaptação social subsequente, que faz parte do
nosso estilo de vida, influencia a maneira de abordarmos todos os problemas. Ele
propôs o conceito de interesse social, que definiu como o potencial inato da pessoa em
ajudar outras a atingir as metas pessoais e sociais. O termo de Adler para este conceito
no alemão original, Gemeinschaftsgefuhl, é mais bem traduzido como “sentimento
comunitário” (Stepansky, 1983, p. XIII). Entretanto, Interesse Social tornou-se o termo
aceito.

 Interesse Social
Nosso potencial inato para ajudar outras pessoas a atingir as metas pessoais e sociais.
Embora sejamos influenciados mais fortemente pelas forças sociais do que pelas
biológicas, na opinião de Adler, o potencial para o interesse social é inato. Neste sentido
limitado, então, a sua abordagem tem um elemento biológico. Mas, até que ponto o
nosso potencial inato, para o interesse social se realiza, depende das nossas primeiras
experiências sociais.
Ninguém pode evitar totalmente as outras pessoas ou escapar de suas obrigações
para com elas. Desde os primórdios, elas se congregaram em famílias, tribos e nações.
As comunidades são indispensáveis para a proteção e sobrevivência dos seres humanos.
Consequentemente, sempre foi necessário que as pessoas colaborassem e expressassem
o seu interesse social. Elas precisam contribuir para que a sociedade realize suas metas
pessoais e comunitárias.
O recém-nascido está numa situação que requer cooperação, primeiro da mãe ou
da pessoa que proporciona os cuidados básicos, depois de outros membros da família e
das pessoas da creche ou da escola. Adler observou a importância da mãe como a

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 46
primeira pessoa com quem o bebê tem contato; por meio do seu comportamento para
com o filho, a mãe pode estimular o interesse social ou impedir o seu desenvolvimento.
Ele achava que o papel da mãe era fundamental no desenvolvimento do interesse
social, bem como de outros aspectos da personalidade, e escreveu:
Esta ligação [entre mãe e filho] é tão íntima e de tão longo alcance que nunca
vamos poder apontar nenhuma característica como hereditária mais adiante na
vida. Todas as tendências que poderiam ser herdadas já foram adaptadas,
treinadas, educadas e refeitas pela mãe. A sua capacidade, ou falta dela,
influenciará toda a potencialidade da criança (Adler, citado em Grey, 1998, p.
71).
A mãe precisa ensinar à criança a colaboração, o companheirismo e a coragem.
Só se as crianças sentirem afinidade com terceiros elas poderão tentar lidar
corajosamente com as exigências da vida. As crianças (e depois adultos) que encaram os
outros com suspeita e hostilidade encararão a vida com a mesma atitude. Aquelas que
não têm interesse social podem se tornar neuróticas ou até criminosas. Adler observou
que malefícios que vão desde a guerra e o ódio racial até a embriaguez em público
provinham da falta de um sentido comunitário.
É interessante observar que, no início de sua carreira, Adler sugeriu que as
pessoas eram motivadas por um desejo de poder e de domínio. Ele propôs essa teoria
quando estava lutando para defender o seu ponto de vista no círculo freudiano. Depois
que rompeu com Freud e o seu trabalho foi reconhecido, ele propôs que as pessoas são
mais motivadas pelo interesse social do que pelas necessidades de poder e domínio.
Quando Adler fazia parte do grupo de Freud, era considerado intratável e
ambicioso, brigando pela prioridade de suas ideias. Mas, posteriormente, acalmou-se e o
seu sistema também mudou, da ênfase no poder e no domínio como forças motivadoras
para o destaque da força mais benigna do interesse social e comunitário (vemos aqui um
outro exemplo de como a teoria de Adler reflete suas próprias experiências).

A Posição na Ordem de Nascimento


Uma das contribuições mais duradouras de Adler é a ideia de que a ordem do
nascimento tem grande influência social na infância, influência a partir da qual criamos
o nosso estilo de vida. Embora os irmãos tenham os mesmos pais e vivam na mesma
casa, eles não têm ambientes sociais idênticos. Ser mais velho ou mais novo do que um
irmão e estar exposto a atitudes diferentes dos pais criam condições de infância
diferentes que ajudam a determinar a personalidade, Adler gostava de divertir o público
de suas palestras e seus convidados para jantar adivinhando a ordem de nascimento da
pessoa com base no seu comportamento. Ele escreveu sobre quatro situações: o
Primeiro Filho, o Segundo, o Caçula e o Filho Único.
 O Primeiro Filho
Os primogênitos encontram-se, pelo menos durante algum tempo, numa posição
singular e invejável. Em geral, os pais, felizes com o seu nascimento, dedicam-lhes
tempo e atenção consideráveis, o que os leva a ter uma existência feliz e segura até o
surgimento do segundo filho.
Repentinamente, não sendo mais o centro das atenções, sem receber amor e
cuidados constantes, os primeiros filhos são, de certa maneira, destronados. O afeto que
recebiam durante o seu reinado agora tem de ser compartilhado, Muitas vezes, têm de se
submeter ao ultraje de esperar até que as necessidades do segundo filho sejam atendidas
e são advertidos a ficarem quietos para não perturbar o novo bebê.

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Ninguém pode esperar que os primogênitos sofram essa destituição sem lutar.
Eles tentarão recuperar a sua posição de poder e privilégio. No entanto, a batalha para
recuperar a supremacia já está perdida desde o começo, por mais que tentem.
Durante um certo período, podem se tornar teimosos, mal comportados,
destrutivos e se recusar a comer ou a ir para a cama. Eles têm acessos de raiva, mas os
pais provavelmente reagem e suas armas são muito mais poderosas, Ao serem punidos
pelo seu comportamento problemático, podem interpretar esse castigo como mais uma
prova da sua queda e vir a odiar o segundo filho, que afinal, é a causa do problema.
Para Adler, todos os primogênitos sentem o choque da mudança da sua posição
na família, mas os que foram excessivamente mimados sentem uma perda maior. Além
disso, o tamanho dessa perda depende da sua idade quando o rival aparece. Geralmente,
quanto mais velho for o primeiro filho quando o segundo nascer, menos destronado ele
se sentirá, Por exemplo, uma criança de oito anos ficará menos aborrecida com o
nascimento de um irmão do que uma de dois.
Adler descobriu que os primogênitos geralmente se voltam para o passado,
trancados em nostalgia e pessimistas em relação ao futuro. Tendo aprendido as
vantagens do poder numa determinada época, eles continuam preocupados consigo a
vida toda; podem exercer algum poder sobre os irmãos mais novos, mas, ao mesmo
tempo, estão mais sujeitos ao poder dos pais, porque estes esperam mais deles,
Há, contudo, vantagens em ser o primeiro filho. À medida que as crianças
crescem, o primogênito exerce o papel de professor, tutor, líder e disciplinador esperado
pelos pais para ajudar a cuidar dos irmãos mais novos. Essas experiências em geral,
habilitam o primogênito a amadurecer intelectualmente até um nível superior ao das
crianças mais novas. Um pesquisador descreveu a situação do seguinte modo:
Os segundos filhos podem perguntar aos irmãos mais velhos o significado das
palavras, como e por que determinada coisa funciona, sobre onde se encontram
os doces ou onde está um dos pais que está atrasado e sobre incontáveis
assuntos que os irmãos mais velhos devem, então, explicar. No papel de tutor, os
primogênitos obtém uma vantagem intelectual. Em razão dessas tentativas e em
razão de precisarem articular explicações ou fornecer o significado de uma
palavra, os primogênitos adquirem fluência verbal mais rapidamente do que os
segundos filhos (Zajonc, 2001, p. 491).
Adler acreditava que os primogênitos ficam excessivamente interessados em
manter a ordem e a autoridade, tornam-se bons organizadores, conscienciosos e
escrupulosos em relação aos detalhes e assumem uma atitude autoritária e conservadora.
Sigmund Freud era primogênito. Adler o descreveu como o típico filho mais velho. Os
primogênitos podem também vir a se sentir inseguros e a ser hostis com os outros.
Adler achava que os neuróticos, pervertidos e criminosos, geralmente eram
primogênitos.
 O Segundo Filho
O segundo filho, aquele que causa tanta revolta na vida do primogênito, também
se encontra numa situação singular. Nunca teve a posição de poder usufruída pelos
primogênitos. Mesmo que nasça outra criança na família, o segundo filho não tem a
sensação de destronamento dos primogênitos. Além disso, a essa altura, os pais
geralmente mudaram suas atitudes e práticas em relação à educação dos filhos. Um
segundo filho não é a novidade que foi o primeiro. Os pais podem estar menos
preocupados e ansiosos quanto ao seu próprio comportamento e até relaxar mais.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 48
Desde o início, o segundo filho tem no irmão mais velho um determinador do
ritmo. O segundo sempre tem o exemplo do primeiro como modelo, ameaça ou fonte de
competição. Adler foi um segundo filho, que competiu a vida toda com o irmão mais
velho (que se chamava Sigmund). Mesmo quando se tornou um analista famoso, ele
ainda se sentia menos importante que seu irmão.
Alfred [Adler] sempre se sentiu ofuscado por seu “irmão modelo” e se ressentia
do seu status de predileção na família. Mesmo na meia-idade, sentiu-se impelido
a comentar enfastiado que o rico empresário Sigmund, “uma pessoa boa e
diligente [que] estava sempre na minha frente – ainda está na minha frente!”
(Hoffinan, 1994, p. 11).
A competição com o primeiro filho pode servir para motivar o segundo filho a
lutar para alcançar e superar o irmão mais velho, uma meta que impulsiona a linguagem
e o desenvolvimento motor do segundo filho. Eles começam a falar mais cedo do que os
primeiros. Como não experimentaram o poder, não se preocupam com ele; são mais
otimistas quanto ao futuro e tendem a ser competitivos e ambiciosos, como era Adler.
Outros resultados menos favoráveis podem surgir da relação entre o primogênito
e o segundo filho. Se, por exemplo, o irmão mais velho se sobressai nos esportes ou nos
estudos, o segundo filho pode sentir que nunca poderá superar o primogênito e pode
desistir de tentar. Neste caso, a competitividade não se tornaria parte do estilo de vida
do segundo filho e ele, ou ela, pode se tornar menos empreendedor ou ter um
desempenho abaixo de suas habilidades em muitos aspectos da vida.
 O Filho Caçula
Os caçulas nunca enfrentam o choque do destronamento por uma outra criança e
geralmente se tornam os “queridinhos da família”, principalmente se os irmãos forem
bem mais velhos. Movidos pela necessidade de superá-los, os caçulas, geralmente, se
desenvolvem muito rapidamente; é comum que sejam grandes realizadores no que quer
que façam como adultos.
Pode ocorrer o contrário, entretanto, se forem excessivamente mimados e
acharem que não precisam aprender a fazer nada por conta própria. À medida que vão
ficando mais velhas, estas crianças podem preservar o desamparo da infância. Não
habituadas a lutar, mas sim a serem cuidadas, estas pessoas têm dificuldade em se
ajustar à idade adulta.
 O Filho Único
Nunca perde a sua posição de primazia e poder que tem na família; continua
sendo o centro das atenções. Passando mais tempo na companhia de adultos do que uma
criança com irmãos, os filhos únicos amadurecem cedo e manifestam comportamentos e
atitudes adultos.
Eles tendem a enfrentar dificuldades quando descobrem que, em áreas da vida
fora de casa, como a escola, não são o centro das atenções. Não aprenderam a
compartilhar nem a competir. Se as suas habilidades não lhe trouxerem reconhecimento
e atenção suficientes, sentem-se profundamente desapontados.
Com suas ideias sobre a ordem do nascimento, Adler não estava propondo regras
estritas sobre o desenvolvimento da infância. Uma criança não adquire automaticamente
um determinado tipo de caráter com base apenas na sua posição dentro da família. O
que Adler estava sugerindo era “a probabilidade” de que certos estilos de vida se
desenvolvam em função da ordem de nascimento, junto com as primeiras interações

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sociais da pessoa. O self criativo utiliza ambas as influências na construção do estilo de
vida.

Questões sobre a Natureza Humana


O sistema de Adler fornece um quadro esperançoso e lisonjeiro da natureza
humana, que é a antítese da visão lúgubre e pessimista de Freud. Certamente, é mais
satisfatório para o nosso senso de autovalor nos considerarmos capazes de
conscientemente moldar o nosso desenvolvimento e nosso destino do que sermos
dominados por forças instintivas e experiências da infância sobre as quais não temos
controle.
A visão de Adler é otimista, simplesmente porque as pessoas não são motivadas
por forças inconscientes. Nós temos o livre-arbítrio de moldar forças sociais que nos
influenciam e usá-las criativamente para construir um estilo de vida singular. Essa
singularidade é um outro aspecto do quadro lisonjeiro de Adler. O sistema de Freud
atribuía uma universalidade e uma uniformidade deprimentes à natureza humana.
Embora na teoria de Adler alguns aspectos da natureza humana sejam inatos –
por exemplo, o potencial para o interesse social e a luta pela perfeição –, é a experiência
que determina como essas tendências herdadas serão realizadas. As influências da
infância são importantes, principalmente a posição na ordem de nascimento e a
interação com os nossos pais, mas não somos vítimas dos eventos da infância. Em vez
disso, nós a utilizamos para criar o nosso estilo de vida.
Adler via cada pessoa como um ser humano que lutava para atingir a perfeição e
enxergava a humanidade do mesmo modo; era otimista quanto ao progresso social. Ele
foi atraído pelo socialismo e envolveu-se em clínicas de orientação escolar e de reforma
presidiária, expressando a sua crença no poder criativo das pessoas.

A Avaliação na Teoria de Adler


Os métodos básicos de avaliação de Adler, que são chamados de portões de
entrada para a vida mental, são a posição na ordem de nascimento, as primeiras
lembranças e a análise dos sonhos.
 Primeiras Lembranças
Segundo Adler, a nossa personalidade é criada durante os primeiros quatro ou
cinco anos de vida. As primeiras lembranças desse período indicam o estilo de vida
que continuará nos caracterizando como adultos. Adler descobriu que fazia pouca
diferença se as primeiras lembranças de seus clientes eram eventos reais ou fantasias.
Em qualquer um dos casos, o interesse básico da vida da pessoa girava em torno dos
incidentes lembrados e assim, em sua visão, as primeiras lembranças são “os
indicadores individuais mais satisfatórios do estilo de vida” (Manaster, Mays, 2004,
p.114).

 Primeiras Lembranças
Técnica de avaliação de personalidade na qual se presume que as nossas primeiras
lembranças, quer seja de eventos reais quer de fantasias, revelam o interesse básico da
nossa vida.
Uma lembrança da infância que Adler relatou quando adulto era a de que,
quando ele tinha cinco anos e havia acabado de entrar na escola, ficou com medo
porque o caminho para a escola passava por um cemitério (Adler, 1924/1963). Ele disse
que ficava aterrorizado toda vez que ia a pé para a escola, mas também ficava confuso,

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 50
porque as outras crianças pareciam não notar o cemitério. Ele era o único que sentia
medo e essa experiência aumentou o seu sentimento de inferioridade. Um dia, decidiu
dar um fim ao seu temor; passou pelo cemitério uma dúzia de vez até sentir que havia
superado esse sentimento. Depois disso, conseguia ir à escola tranquilamente passando
pelo cemitério.
Trinta anos mais tarde, encontrou com um ex-colega de escola e, durante a
conversa, perguntou-lhe se o antigo cemitério ainda estava lá. O homem expressou
surpresa e disse a Adler que nunca houve um cemitério perto da escola. Adler ficou
chocado. A sua lembrança era tão vívida. Ele procurou outros colegas de escola e lhes
perguntou sobre o cemitério. Todos foram unânimes em afirmar que não havia
cemitério. Adler finalmente aceitou que sua lembrança do incidente era falha. Mesmo
assim, ela simbolizava o medo, a inferioridade e os seus esforços para superá-los, o que
caracterizou o seu estilo de vida. Essa antiga lembrança, portanto, revelou um aspecto
importante e influente da sua personalidade.
Embora achasse que cada lembrança antiga devesse ser interpretada dentro do
contexto do estilo de vida do paciente, encontrou traços comuns entre elas.
Adler acreditava que:
[as pessoas] recordam, da primeira infância: a) apenas imagens que confirmam
e corroboram a visão atual de si mesmos no mundo...; b) apenas as memórias
que suportam a direção de suas lutas por significado e segurança. [Seu] foco na
memória seletiva e no estilo de vida enfatiza o que é lembrado. Já a abordagem
de Freud de interpretar as primeiras memórias enfatiza o que é esquecido por
meio do mecanismo de repressão (Kopp, Eckstein, 2004, p. 165)
 Análise de Sonhos
Adler concordava com Freud quanto ao valor dos sonhos para se entender a
personalidade, mas discordava quanto à maneira pela qual estes deviam ser
interpretados. Não achava que os sonhos realizavam desejos ou revelavam conflitos
ocultos, mas sim que envolviam os nossos sentimentos sobre um problema atual e o que
estávamos planejando fazer a respeito.
Um dos sonhos do próprio Adler ilustra essa teoria. Antes da sua primeira visita
aos Estados Unidos, estava ansioso e preocupado com o modo como ele e a sua teoria
da personalidade seriam recebidos. Na noite anterior à marcada para ele cruzar o
Oceano Atlântico de navio, sonhou que o navio havia virado e naufragado com ele a
bordo.
Todos os bens materiais de Adler estavam no navio e foram destruídos por
ondas devastadoras. Lançado ao mar, foi forçado a nadar para salvar sua vida.
Sozinho, lutou nas águas turbulentas. Mas, com força de vontade e
determinação, finalmente chegou são e salvo à terra (Hoffman, 1994, p. 151).
Esse sonho revelou o medo de Adler quanto ao que enfrentaria nos Estados
Unidos e a sua intenção de chegar à terra são e salvo – em outras palavras, obter sucesso
para si mesmo e para a sua teoria de Psicologia Individual.
Nas fantasias dos nossos sonhos (tanto diurnos quanto noturnos), acreditamos
que podemos superar os obstáculos mais difíceis ou simplificar o problema mais
complexo. Portanto, os sonhos são voltados para o presente e para o futuro, e não para
conflitos do passado. Eles nunca devem ser interpretados sem que se conheça a pessoa e
a sua situação. O sonho é uma manifestação do estilo de vida da pessoa e, portanto,
exclusivo dela. Adler encontrou interpretações comuns para alguns deles. Muitas

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pessoas relatavam sonhos que envolviam queda ou voo. Freud interpretava esse tipo de
sonho em termos sexuais.

Reflexões sobre a Teoria de Adler


A influência de Adler na psicologia foi substancial. Suas ideias se fazem
presentes na obra de muitos outros teóricos da personalidade (Karen Horney, Gordon
Allport, Abraham Maslow, Julian Rotter, etc). Essas contribuições tornam a sua teoria
da personalidade uma das mais duradouras. Ele estava à frente da sua época e a sua
ênfase cognitiva e social é mais compatível com as tendências da psicologia atual do
que com a psicologia do seu tempo. Abraham Maslow escreveu: “Alfred Adler torna-se
mais correto a cada ano (...) à medida que os fatos vão chegando, eles corroboram
cada vez mais a imagem que ele tinha do homem” (Maslow, 1970a, p. 13).
As ideias de Adler também atingiram a psicanálise freudiana. Foi ele quem
propôs o impulso agressivo mais de 12 anos antes de Freud incluir a agressão como
força motivadora básica. Os psicólogos neofreudianos do ego, que se concentraram em
processos mais conscientes e racionais e menos no inconsciente, seguem a liderança de
Adler.
Adler contestou as opiniões de Freud sobre as mulheres, como a inveja do pênis,
argumentando que não havia base biológica para o suposto complexo de inferioridade
delas. Essa noção, disse Adler, foi um mito inventado pelos homens para manter o seu
suposto sentimento de superioridade. Ele admitiu que muitas mulheres talvez se
sentissem inferiores, mas achava que isso poderia ser atribuído ao condicionamento
social e ao estereótipo dos papéis sexuais; acreditava também na ideia de igualdade para
os sexos e apoiava os movimentos de emancipação das mulheres da época.
Entre os conceitos específicos de Adler de importância duradoura para a
psicologia estão o trabalho inicial sobre a inferioridade orgânica, que influenciou o
estudo de problemas psicossomáticos, o complexo de inferioridade, a compensação e a
posição na ordem de nascimento. Adler também é considerado um precursor da
psicologia social e da terapia de grupo.
Embora suas ideias tenham sido amplamente aceitas, o reconhecimento público
diminuiu após a sua morte, em 1937, e ele recebeu relativamente poucos elogios ou
créditos pelas suas contribuições. Muitos conceitos foram emprestados da sua teoria
sem mencioná-la. Um exemplo típico dessa falta de reconhecimento é o obituário de
Sigmund Freud no jornal Times, de Londres que dizia que Freud havia criado o termo
complexo de inferioridade. Quando Carl Jung morreu o New York Times disse que ele
havia criado o termo. Nenhum dos jornais mencionou Adler, o criador do conceito; na
verdade, Adler recebeu uma única homenagem: um compositor inglês deu o seu nome a
um quarteto de cordas.
Por mais influente que tenha sido o seu trabalho, ele teve seus críticos. Freud
disse que a psicologia de Adler era muito simplista e que atraía muitas pessoas porque
eliminava a natureza complexa do inconsciente, não tinha conceitos difíceis e ignorava
os problemas do sexo. Freud observou, ainda, que poderiam ser necessários dois anos
ou mais para aprender a sua psicanálise, mas “as ideias e a técnica de Adler poderiam
ser facilmente conhecidas em duas semanas, pois com Adler há muito pouco a
aprender” (citado em Sterba, 1982, p. 156).
É verdade que a teoria de Adler parece mais simples do que a de Freud ou Jung,
mas era essa a sua intenção; ele escreveu que levara 40 anos para tornar a sua psicologia
simples. Um ponto que reforça a acusação de super simplificação é que os seus livros
são fáceis de ler, porque ele escreveu para o público em geral e alguns deles foram
compilados das suas palestras populares (ver Figura 1).

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Uma outra acusação é que os seus conceitos
parecem estar fortemente baseados em observações de
bom-senso da vida cotidiana. Um crítico literário do New
York Times observou: “Embora [Adler] seja um dos
psicólogos mais eminentes do mundo, quando escreve
sobre psicologia não há quem se iguale a ele em termos
de simplicidade e linguagem não técnica” (citado em
Hoffman, 1994, p. 276).
Os críticos alegam que Adler era incoerente e não
sistemático no seu raciocínio e que sua teoria contém
lacunas e perguntas não respondidas. Os sentimentos de
inferioridade são o único problema que enfrentamos na
vida? Todas as pessoas buscam a perfeição? Nós
podemos nos resignar com um grau de inferioridade e
não mais tentar compensá-lo? Estas e outras perguntas
não podem ser respondidas adequadamente no sistema
de Adler. A maioria dos teóricos, entretanto, nos deixa
com perguntas sem resposta.
FIGURA 1 – Os livros de Adler obtiveram uma popularidade considerável nos Estados Unidos e
difundiram o gênero de autoajuda. FONTE: Edward Hoffman. The drive for self: Alfred Adler and the
founding of individual psychology. Addison-Wesley, 1994.

Alguns psicólogos contestam a posição de Adler na questão de Determinismo


versus Livre-Arbítrio. No início de sua carreira, ele não contestou o conceito do
determinismo, que era amplamente aceito na ciência da época e caracterizou a teoria
psicanalítica de Freud. Posteriormente, sentiu que precisava dar mais autonomia ao self
e, na sua formulação final, rejeitou o determinismo. Seu conceito do self criativo diz que
antes dos cinco anos criamos um estilo de vida com base no material fornecido pela
nossa hereditariedade e pelo nosso ambiente. No entanto, não fica claro como uma
criança pode tomar decisões tão significativas. Nós sabemos que Adler era favorável ao
livre-arbítrio e se opôs à ideia de que somos vítimas de forças inatas e eventos da
infância. Essa posição é clara, mas os detalhes específicos sobre a formação do estilo de
vida não é.
Os seus seguidores afirmam que a Psicologia Individual continua popular entre
os psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e educadores. Individual Psychology: The
Journal of Adlerian Therapy Research and Practice é publicado trimestralmente pela
North American Society of Adlerian Psychology. Outros periódicos adlerianos são
publicados na Alemanha, Itália e França. Foram criados institutos de treinamento
adleriano em Nova York, Chicago e outras cidades. As técnicas adlerianas de
aconselhamento foram desenvolvidas por Rudolph Dreikurs e outros, e este trabalho
influenciou novas gerações de clínicos adlerianos no que Dreikurs chama de “Centros
de Educação Familiar”. O trabalho de Dreikurs sobre as práticas de educação de filhos
aplica as teorias adlerianas aos problemas contemporâneos não só no desenvolvimento
infantil, mas também no tratamento da família como um todo.

Referência Bibliográfica:
 Schultz, Duane P. & Schultz, Sydney E. (2011). Teorias da Personalidade. Tradução de All
Tasks. 2ª ed. São Paulo, SP: Cengage Learning. Título Original: Theories of Personality.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 53
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE HENRY MURRAY


(1893-1988)
 VIDA PESSOAL
Henry Murray nasceu na cidade de Nova York em 13 de maio de 1893.
 A Depressão Infantil e a Compensação
A infância de Henry Murray foi marcada pelo que Alfred Adler chama de
Compensação por um defeito físico: uma sensibilidade além do normal ao sofrimento
dos outros e um grau de rejeição materna que fizeram que sua infância não fosse
intoleravelmente monótona. Nascido numa família rica, cresceu em Nova York e
quando criança acompanhou os pais em quatro longas viagens para a Europa.
Outra lembrança significativa intrigante foi chamada por ele de “lembrança da
essência do meu ser” (Murray, 1967, p.299). Por volta dos quatro anos, observou a foto
de uma mulher triste sentada perto do seu filho, que também estava triste. Era o mesmo
tipo de foto sombria que Murray utilizou posteriormente no seu Teste de Apercepção
Temática (TAT). A sua mãe lhe disse: “Foi a perspectiva da morte que os entristeceu”
(Murray, 1967, p. 299). Ele interpretou essa lembrança como indicativa da morte de
seus laços emocionais com sua mãe, que o desmamou abruptamente aos dois meses,
preferindo, segundo ele, dar afeto aos seus irmãos. Ele insistia que as atitudes da mãe
levaram-no à depressão que durou toda a vida; condição que formou a essência da sua
personalidade (Murray, 1967). A falta de ligação com a mãe na infância levou-o a
questionar o Complexo de Édipo de Freud, porque não coincidia com as suas
experiências pessoais.
Outro fator que o tornou sensível aos problemas emocionais e sofrimentos foi o
seu relacionamento com duas tias emocionalmente perturbadas.
Murray era estrábico e foi submetido à uma cirurgia realizada na sala de jantar
de sua casa. O problema foi solucionado, mas a lâmina do cirurgião escorregou e
deixou-o sem visão estereoscópica. Por mais que tentasse, jamais conseguiu jogar bem
tênis ou beisebol, porque não conseguia focar os dois olhos na bola. Ele teve aula de
boxe e venceu o campeonato local de peso pena. Posteriormente, admitiu que “havia um
fator adleriano agindo” nesses esforços para compensar suas deficiências na infância
(Murray, 1967, p.302).
 Henry Murray foi educado na Groton School e no Harvard College, recebendo, em
1915, seu grau de bacharel em História.
 Seu interesse inicial pela Psicologia foi cortado pela frieza da abordagem do
professor Munsterberg.
 Depois da graduação em Harvard, se matriculou no Columbia College of Physicians
and Sugeons, onde se formou como o primeiro de sua classe.
 Em 1920, recebeu o grau de mestre em Biologia, no Columbia e trabalhou por
pouco tempo, como professor de Fisiologia, na Universidade de Harvard.
 Murray estava a caminho de uma bem sucedida carreira como pesquisador em
ciência biológica, mas em vez de seguir esta carreira, Murray voltou-se para
Psicologia.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 54
 O motivo para esta conversão foi a leitura do livro de Carl Jung, Psychological
Types (Tipos Psicológicos), em 1923, que Murray encontrou casualmente: “Eu
encontrei esse livro na livraria da faculdade de medicina quando estava indo para
casa e passei a noite e o dia seguinte inteiros lendo-o” (Murray citado em
Anderson, 1988, p. 147).
 Murray conheceu Christiana Morgan com quem iniciou um relacionamento.
 Murray ficou tão envolvido pela Psicologia que escreveu a Jung, em 1924, pedindo
uma visita. O interesse de Murray pela Psicologia foi confirmado neste encontro.
 Em 1943, Murray deixou Harvard para integrar-se ao Corpo Médico do Exército.
 Murray morreu de pneumonia em 23 de junho de 1988, aos 95 anos de idade.
 Murray defendia firmemente uma Psicologia Humanista e Otimista.
 O desenvolvimento das suas pesquisas sobre a Personalidade levou-o ao
estabelecimento de uma teoria que denominou “PERSONALOGIA”.

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
As ideias de Murray sobre a Estrutura da Personalidade foram muito
influenciadas pela Teoria Psicanalítica, mas em muitos aspectos elas são
surpreendentemente diferentes de uma visão freudiana ortodoxa.

 Definição de Personalidade
Embora Murray propusesse muitas definições de personalidade em diferentes
momentos, os principais componentes dessas definições podem ser resumidos da
seguinte maneira:
1. A Personalidade de um indivíduo é uma abstração formulada pelos teóricos e
não simplesmente uma descrição do comportamento do indivíduo.
2. A Personalidade de um indivíduo refere-se a uma série de eventos que
idealmente abrangem toda a sua vida: “A história da Personalidade é a
Personalidade”.
3. Uma definição de Personalidade deve refletir os elementos duradouros e
recorrentes do comportamento, bem como os elementos novos e únicos.
4. A Personalidade é o agente organizador ou governador do indivíduo. Suas
funções são integrar os conflitos e as limitações aos quais o indivíduo está
exposto, satisfazer suas necessidades e fazer planos para a conquista de metas
futuras.
5. A Personalidade está localizada no cérebro: “Nenhum cérebro, nenhuma
Personalidade”.

 Procedimentos e Séries
ͽ Procedimentos → são interações sujeito-objeto ou interações sujeito-sujeito
com duração suficiente para incluir os elementos significativos de uma dada sequência
comportamental. A duração de um Procedimento é determinada pela iniciação e pelo
término de um padrão de comportamento dinamicamente significativo.
Murray sugeriu que os comportamentos fossem classificados como internos ou
externos.
ͽ Série → é uma unidade funcional relativamente longa que só pode ser
formulada em termos aproximados.

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 Programas e Planos Seriados
ͽ Os Programas Seriados cumprem uma função muito importante para o
indivíduo. São os arranjos ordenados de submetas que se estendem para o futuro, talvez
meses ou anos, e que, se tudo correr bem, levarão finalmente a algum estado final
desejado.
ͽ Os Planos Seriados são meios para reduzir o conflito entre as necessidades e
as metas concorrentes, organizando a expressão dessas tendências em momentos
diferentes.

 Habilidades e Realizações
Murray demonstrava um consciente interesse pela Habilidade e pela Realização,
considerando essas qualidades, uma parte importante da personalidade. Esses
componentes do indivíduo têm a função central de mediadores entre as disposições para
ação e os resultados finais para os quais tais disposições estão orientadas.

ELEMENTOS ESTÁVEIS DA PERSONALIDADE


 ID
Murray concordava com Freud na concepção do Id como repositório de
impulsos primitivos e inaceitáveis. Ele insistia que o Id também inclui impulsos que são
aceitáveis para o Self e para a sociedade.
 EGO
A função do Ego não é tanto a de suprimir as necessidades instintuais quanto a
de adequá-las, moderando sua intensidade e determinando os modos e os momentos de
sua realização. O Ego não é unicamente um inibidor e repressor. A força e a afetividade
do Ego são determinantes importantes do ajustamento do indivíduo.
 SUPEREGO
É considerado um “implante cultural”. Para Murray, o Superego se desenvolve
em camadas, variando de representações infantis grosseiras a um ordenamento racional
de princípios éticos. Portanto, o conflito pode existir dentro do próprio Superego.
Relacionado ao Superego está o Ideal de Ego que consiste em uma imagem
idealizada do Self – um Self desejado, ou um conjunto de ambições pessoais buscado
pelo indivíduo.

DINÂMICA DA PERSONALIDADE
A posição de Henry Murray é, primariamente, de uma Psicologia Motivacional.
Esse foco no processo motivacional é perfeitamente congruente com a convicção
de Murray de que, no estudo das tendências direcionais da pessoa, está a chave para
compreensão do comportamento humano: “a coisa mais importante que temos de
descobrir sobre uma pessoa... é a direcionalidade (ou as direcionalidades) supra-
ordenadas de suas atividades, sejam elas mentais, verbais ou físicas” (Murray, 1951, p.
276).
Murray também enfatizava a importância da Análise Motivacional. Veremos a
seguir seus principais conceitos:

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 Necessidade → é um constructo que representa uma força na região do
cérebro, uma força que organiza a percepção, a apercepção, a intelecção, a conação 2 e a
ação, de maneira a transformar, em certa direção, uma situação insatisfatória
inexistente. Ela se manifesta por levar o organismo a buscar ou a evitar encontrar, ou
quando encontrar, a prestar atenção e a responder a certos tipos de pressão. Algumas
Necessidades são acompanhadas por determinadas emoções ou sentimentos, e são
frequentemente associadas a atos instrumentais específicos que são efetivos para
produzir um estado final desejado.
Murray afirmou que a existência de uma Necessidade pode ser inferida com
base:
 No efeito ou no resultado final do comportamento.
 No padrão ou no modo específico do comportamento envolvido.
 Na atenção seletiva e na resposta de uma determinada classe e objetos-
estímulo.
 Na expressão de uma determinada emoção ou no afeto.
 Na expressão de satisfação quando é atingido um determinado efeito, ou de
desapontamento quando o efeito não é atingido.
A pesquisa de Murray o levou a elaboração de uma lista de 20 Necessidades,
descritas no quadro a seguir. Nem todas as pessoas têm todas as Necessidades.
Nº Necessidades Descrição
Ficar ao lado e colaborar com prazer ou retribuir a um aliado que se
1. Afiliação pareça com a própria pessoa, ou seja, alguém que goste dela. Aderir e
permanecer leal a um amigo.
Superar a oposição à força. Lutar, atacar, ferir ou matar outra pessoa.
2. Agressão
Depreciar, censurar ou ridicularizar maliciosamente alguém.
Libertar-se e abolir as restrições ou sair do confinamento. Resistir à
3. Autonomia coerção e às restrições. Ser independente e livre para agir de acordo
com os impulsos. Desafiar as convenções.
Defender o Self contra ataques, críticas e culpas. Omitir ou justificar
4. Autodefesa
uma má ação, falha ou humilhação.
Respeitar, admirar e apoiar outra pessoa superior. Entregar-se
5. Deferência ansiosamente à influência de um aliado. Agir de acordo com o
habitual.
Evitar a dor, lesão física, doença e morte. Escapar de uma situação
6. Defesa Física
perigosa. Tomar medidas de precaução.
Evitar humilhação. Sair de situações embaraçosas ou evitar situações
Defesa
7. que possam levar ao escárnio, menosprezo ou indiferença dos outros.
Psíquica
Evitar agir devido ao medo do fracasso.
Estar inclinado a analisar eventos e a generalizar. Discutir, argumentar
e dar ênfase à razão e à lógica. Expor as opiniões de maneira precisa.
8. Discernimento
Mostrar interesse por formulações abstratas em ciências, matemática e
filosofia.
9. Divertimento Agir simplesmente com o intuito de divertir-se e relaxar.
Controlar o ambiente. Influenciar ou dirigir o comportamento de
10. Domínio outros por sugestão, sedução, persuasão ou comando. Fazer os outros
colaborarem. Convencê-los de que a opinião de alguém é correta.

2
Conação → Processo mental de formação da vontade e da intenção. Processo intencional direcionado
para a ação. Tendência natural do organismo para o movimento. Esforço consciente.

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Impressionar. Ser visto e ouvido. Emocionar, surpreender, fascinar,
11. Exibição
entreter, chocar, intrigar, divertir ou atrair outras pessoas.
Submeter-se passivamente às forças externas. Aceitar insultos, críticas
e punição. Resignar-se com a sua sina. Admitir inferioridade, erro, más
12. Humilhação
ações ou derrota. Culpar, depreciar ou mutilar o Self. Buscar e gostar
da dor, de punição, doença e infortúnio.
Dominar ou compensar uma falha reparando-a. Obliterar uma
humilhação retomando uma ação. Superar fraquezas e reprimir o
13. Neutralização
medo. Buscar obstáculos e dificuldades a serem superados. Manter o
autorrespeito e o orgulho elevados.
Colocar as coisas em ordem. Obter limpeza, boa disposição,
14. Ordem
organização, equilíbrio, arrumação e precisão.
Conseguir realizar algo difícil. Dominar, manipular ou organizar
15. Realização objetos físicos, seres humanos ou ideias. Superar obstáculos e atingir
um alto padrão. Rivalizar e superar os outros.
Excluir, abandonar, expulsar ou ficar indiferente a alguém inferior.
16. Rejeição
Esnobar ou se afastar de outra pessoa.
Ser cuidado, sustentado, cercado, protegido, amado, aconselhado,
17. Segurança orientado, perdoado ou consolado. Ficar próximo de um protetor
dedicado.
18. Sensualidade Buscar e apreciar impressões sensuais.
19. Sexo Cultivar e aprofundar uma relação erótica. Ter relações sexuais.
Prestar solidariedade e satisfazer as necessidades dos desamparados,
20. Solidariedade de uma criança ou uma pessoa fraca, deficiente, inexperiente, enferma,
humilhada, solitária, abatida ou mentalmente confusa.

 Tipos de Necessidades:
 Necessidades Primárias (ou Viscerogênicas) → surgem de processos físicos
internos e incluem as necessidades de sobrevivência.
 Necessidades Secundárias → provêm indiretamente das primárias,
necessidades emocionais e psicológicas.
 Necessidades Reativas → envolvem uma resposta a algo específico do
ambiente e são estimuladas apenas quando o dito objeto aparece.
 Necessidades Proativas → não dependem da presença de um determinado
objeto, são espontâneas, trazendo à tona o comportamento adequado sempre que
estimulada, independente do ambiente.

 Outros Tipos de Necessidades:


ͽ Necessidades Aparentes → podem ser expressas de forma mais ou menos
direta e imediata e costumam expressar-se no comportamento motor.
ͽ Necessidades Ocultas → geralmente contidas, inibidas ou reprimidas,
normalmente pertencem ao mundo da fantasia ou dos sonhos.
ͽ Necessidades Focais → estreitamente ligadas às classes limitadas de objetos
ambientais.
ͽ Necessidades Difusas → tão generalizadas que se aplicam a qualquer situação
ambiental.
ͽ Necessidades de Efeito → levam a algum estado ou a um resultado final
desejado.

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ͽ Necessidades Modais → tendências a realizar certos atos no interesse do
desempenho em si.

 Inter-Relação de Necessidades:
ͽ Predominância → refere-se às necessidades que se tornam dominantes
rapidamente se não são satisfeitas. Não podem ser adiadas.
ͽ Fusão de Necessidades → circunstâncias em que as necessidades múltiplas são
complementares e podem ser gratificadas por um único curso de ação.
ͽ Subsidiação → situação na qual uma necessidade é ativada para ajudar a
satisfazer outra necessidade.

 Características das Necessidades:


ͽ Pressão → propriedade ou atributo de um objeto ou pessoa do ambiente que
facilita ou impede os esforços do indivíduo para atingir uma determinada meta. As
pressões estão ligadas à pessoas ou objetos que têm implicações diretas nos esforços do
indivíduo para satisfazer as necessidades.
ͽ Redução de Tensão → quando uma necessidade é despertada, o indivíduo fica
em um estado de tensão e a satisfação da necessidade envolve redução da tensão. O
indivíduo não só aprende a responder de maneira a reduzir a tensão e experienciar
satisfação, mas também aprende a responder de maneira a criar tensão, que mais tarde
precisará ser reduzida, o que aumentará o prazer.
ͽ Thema → combinação de fatores pessoais com fatores ambientais que
pressionam ou compelem o nosso comportamento. É formado nas primeiras
experiências infantis e torna-se uma força poderosa na determinação da personalidade.
O Thema relaciona as necessidades e pressões num padrão que dá coerência, unidade,
ordem e singularidade ao nosso comportamento.

 Necessidade Integrada → situação em que, com a experiência, o indivíduo


passa a associar determinados objetos à certas necessidades. Igualmente, determinados
modos de resposta, ou meios de abordar ou evitar esses objetos, podem ser adquiridos e
associados à necessidade.

 Processos de Reinância → é o acompanhamento fisiológico de um processo


psicológico dominante. Todos os processos conscientes são reinantes, mas nem todos os
processos reinantes são conscientes.

 Esquema de Valor e Vetor → As tendências comportamentais foram


representadas em termos de vetores que representam amplas “direções físicas ou
psicológicas de atividades”. Os valores aos quais os vetores servem são representados
por uma série de conceitos de valor. Os vetores consistem em Rejeição; Recepção;
Aquisição; Construção; Conservação; Expressão; Transmissão; Expulsão; Destruição;
Defesa e Evitação. Os valores consistem no Corpo; Propriedade; Autoridade;,
Associação; Conhecimento; Forma Estética e Ideologia.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Murray elaborou e refinou a concepção psicanalítica de “Complexo”, para
representar um conjunto particularmente importante de experiências da infância inicial.

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Embora o tratamento dado por Murray ao desenvolvimento, tenha um forte
cunho de teorização psicanalítica, ele introduziu novas dimensões no uso dessas
concepções, e também foi, especialmente, inventivo ao criar meios para medir algumas
das variáveis importantes.
 Complexos Infantis
Murray descreveu detalhadamente as pressões da infância, as necessidades e as
catexias resultantes; observou também que nossa lembrança desses eventos depende de
possuirmos a linguagem: só lembramos aquilo que foi verbalizado, embora os eventos
do período pré-verbal não sejam lembráveis. Murray sugeriu Cinco Condições ou
Atividades extremamente agradáveis, cada uma das quais é bloqueada, frustrada ou
limitada (em algum ponto do desenvolvimento) por forças externas:
 A existência segura, passiva e dependente dentro do útero.
 O prazer sensual de sugar um bom alimento do seio da mãe (ou da
mamadeira), enquanto aconchegado, seguro e dependentemente em seus braços.
 O livre usufruir das sensações prazerosas que acompanham a defecação.
 As agradáveis impressões dos sentidos que acompanham a micção.
 A emocionante excitação decorrente da fricção genital (proibida por ameaças
de punição).
Todas essas áreas foram indicadas pelos psicanalistas como trazendo problemas
especiais para a criança em crescimento.
As contribuições de Murray representam uma elaboração e clarificação das
ideias freudianas. Murray definiu um Complexo como um conjunto de necessidades
integradas duradouras que determina (inconscientemente) o curso do desenvolvimento
posterior. Todas as pessoas têm Complexos de variável gravidade e, só nos casos
extremos, isso implica uma anormalidade.
Murray sugeriu 5 Complexos que são divididos em:  Claustral,  Oral, 
Anal,  Uretral e de  Castração.
 Complexos Claustrais → representam resíduos da experiência uterina ou
pré-natal do indivíduo. São subdivididos em:
a. Complexo Claustral Simples → é vivenciado como desejo de estar em
lugares pequenos, aquecidos e escuros que sejam seguros e reclusos. As
pessoas com este complexo tendem a ser dependentes dos outros, passivas e
voltadas para comportamentos seguros e familiares que deram certo.
b. Complexo do Medo da Falta de Apoio → se manifesta nos medos de espaços
abertos, queda, afogamento, fogo, terremotos ou simplesmente de qualquer
situação que envolva novidade e mudança.
c. Complexo de Egressão → baseia-se na necessidade de escapar das situações
restritivas parecidas com as do útero. Ela inclui um medo de sufocação e
confinamento e se manifesta numa preferência por espaços abertos, ar fresco,
viagens, movimento, mudança e novidade.
 Complexos Orais → representam derivativos de experiências anteriores de
alimentação. São subdivididos em:
a. Complexo de Socorro Oral → apresenta uma combinação de atividades
bucais, tendências à passividade e à necessidade de ser apoiado e protegido.

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Entre as manifestações comportamentais estão o sugar, beijar, comer, beber e
uma necessidade de afeto, solidariedade, proteção e amor.
b. Complexo de Agressão Oral: → combina comportamentos orais e agressivos,
incluindo os atos de morder, cuspir, gritar e a agressão verbal.
c. Complexo de Rejeição Oral → envolve cuspir e ter nojo de atividades e
objetos orais. Alguns comportamentos característicos são: vomitar, ser
enjoado com comida, comer pouco, temer contaminação oral, desejar
isolamento e evitar dependência dos outros.
 Complexos Anais → derivam-se de eventos associados ao ato de defecar e
ao treinamento esfincteriano. São subdivididos em:
a. Complexo de Rejeição Anal → inclui diarreia e catexia3 de fezes, envolve
necessidade de agressão. As pessoas com esse complexo podem ser sujas e
desorganizadas.
b. Complexo de Retenção Anal → envolve uma catexia subjacente de fezes, mas
isso está escondido por trás de um aparente nojo, pudicícia e reação negativa
à defecação. Manifesta-se no acúmulo, economia e coleção de coisas e na
limpeza, arrumação e ordem.
 Complexo Uretral → inicialmente envolvia apenas molhar a cama, sujar-se
(pela uretra) e erotismo uretral, posteriormente passou a ser chamado também de
Complexo de Ícaro. O indivíduo icariano costuma apresentar catexia de fogo, uma
história de enurese, um anseio de imortalidade, forte narcisismo e uma grandiosa
ambição que se dissolve diante do fracasso.
 Complexo de Castração → ansiedade evocada pela fantasia de que o pênis
poderia ser cortado fora. Geralmente é o resultado das fantasias associadas à
masturbação infantil.
Qualquer um desses complexos pode persistir por toda a vida da pessoa na forma
de Traços de Caráter, isto é, as maneiras características de se comportar.

 Determinantes Genéticos Maturacionais → Em uma formulação posterior


de suas ideias, Murray atribuiu um papel importante aos fatores genéticos e
maturacionais no desenvolvimento da personalidade.
Murray atribuía tais desenvolvimentos a processos metabólicos. Na primeira
idade, o Anabolismo supera o Catabolismo; na segunda os dois são aproximadamente
iguais; e, na terceira, o Catabolismo é maior que o Anabolismo.

 Aprendizagem → Murray acreditava que os fatores genéticos são


responsáveis pela presença de centros de prazer (hedônicos) e de desprazer (anedônicos)
no cérebro.
Os geradores hedônicos e anedônicos podem ser classificados de várias
maneiras. Eles podem ser: Retrospectivos, Espectivos ou Prospectivos. Os geradores
atuais podem ser classificados em termos de estarem localizados, predominantemente,
na pessoa, no ambiente ou em uma transação interpessoal. Murray rejeitou,
especificamente, o conceito de hábito como tendo importância primária no
desenvolvimento da Personalidade. Ao invés de ser uma criatura de hábitos, o indivíduo
está continuamente procurando novas maneiras de expressar-se, ávido por novas formas

3
Catexia → concentração de todas as energias mentais sobre uma representação bem precisa, um
conteúdo de memória, uma sequência de pensamentos ou encadeamentos de atos.

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de estimulação, novas aventuras e novas realizações, e pode ser transformado por
insights espirituais.

 Determinantes Socioculturais → Murray atribuiu, aos fatores ambientais,


um papel importante no desenvolvimento da Personalidade. Diferentemente da maioria
dos estudiosos da motivação, ele desenvolveu um conjunto elaborado de conceitos
destinado a representar o ambiente do individuo. Ele o fez, parcialmente, com base na
Teoria de Darwin, de que o grupo, mais que o indivíduo, é a unidade evolutiva. A
sobrevivência dos mais aptos se aplica a grupos rivais.

 Singularidade → Murray sempre afirmou a Singularidade essencial de cada


pessoa e, inclusive, de cada evento comportamental, como um fato auto-evidente. Seu
respeito pela observação naturalista e seus talentos literários criativos e intuitivos
permitiam-lhe entender e expressar a individualidade e a ilusiva complexidade de cada
sujeito ou evento.

 Processos Inconscientes → Murray deixou claro que nem todos os


Processos de Reinância têm correlatos conscientes. Ele não só aceitava o papel dos
determinantes inconscientes do comportamento, mas também reconhecia a operação dos
mecanismos freudianos de repressão e de resistência.

 Processo de Socialização: Murray sugeriu que a personalidade humana é um


compromisso entre os impulsos do indivíduo e os interesses e as exigências de outras
pessoas. Essas exigências são representadas coletivamente pelas instituições e pelos
padrões culturais aos quais o indivíduo está exposto, e o processo pelo qual seus
impulsos entram em um acordo com essas forças é referido como o Processo de
Socialização.
Os conflitos entre o indivíduo e os padrões aprovados do meio social são,
costumeiramente, resolvidos por meio de alguma adaptação do indivíduo aos padrões
do grupo. Só ocasionalmente, e no caso de indivíduos incomuns, é que a pessoa
consegue modificar os padrões culturais de modo a aliviar o conflito com seus
impulsos. Em geral, é a Personalidade que é mais maleável e, portanto, o conflito
normalmente é reduzido, alterando-se a pessoa.
Um elemento essencial para se atingir as metas da socialização é o
desenvolvimento de um superego adequado. Ao internalizar aspectos de figuras de
autoridade às quais esteve exposta, a pessoa desenvolve uma estrutura interna que serve
para recompensá-la e puni-la quando ela se comporta apropriada, ou inadequadamente,
em termos do padrão cultural, conforme interpretado pelas figuras de autoridade.
A socialização, porém, não deixa de ter seus elementos negativos. Conforme
Murray sugeriu, o ser humano é fundamentalmente um animal, e, na extensão em que a
socialização nega essa natureza fundamental, biológica, ela pode destruir a
espontaneidade criativa e o vigor essencial para os avanços humanos mais importantes.

Referências Bibliográficas
• Hall, C. S.; Lindzey, G. & Campbell, J. B. (2000). Teorias da Personalidade. 4ª Ed. Porto Alegre:
Artmed.
• Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2011). Teorias da Personalidade. 2ª Ed. São Paulo: Cengage Learning.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 62
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE HARRY STACK SULLIVAN


(1892-1949)

INTRODUÇÃO E HISTÓRICO PESSOAL


 Harry Stack Sullivan nasceu em uma fazenda perto de Norwich, Nova York, em 21
de fevereiro de 1892.
 Psiquiatra Interpessoal, recebeu seu diploma de médico do Chicago College of
Medicine and Surgery, em 1917.
 Seu pai frustrado e impassível vivia trancado dentro de si mesmo.
 Sullivan era um menino católico criado em uma comunidade rural protestante e
preconceituosa, de pressões provocadas por sentimentos homossexuais, num mundo
agressivamente heterossexual.
 Carreira Profissional: trabalhou em uma série de hospitais psiquiátricos. Há
indícios que lutava severamente para manter seu equilíbrio emocional.
 Em 1922, Sullivan foi para o Hospital Saint Elizabeth, onde recebeu a influência de
William Alonson White.
 De 1923 até a década de 30, trabalhou na Escola de Medicina da Universidade de
Marylan e no Hospital Sheppard e Enoch Pratt, em Towson.
 Em 1933, se tornou presidente da Fundação William Alonson White, e trabalhou até
1943.
 Em 1936, ajudou a fundar e tornou-se diretor de Washington School of Psychiatry.
 As principais influências no desenvolvimento intelectual de Sullivan foram Freud,
Adolph Meyer e a Escola de Sociologia de Chicago (George H. Mead; W. I.
Thomas; Edward Sapir; Robert E. Park; E. W. Burgess; Charles E. Merriam; Willian
Healy e Harold Lasswell).
 Apesar de ter muito em comum com a Teoria de Karen Horney, sua abordagem não
é neofreudiana.
 Sullivan rejeitou o dogma Krapeliano da sua época que dominava o pensamento
psiquiátrico sobre Esquizofrenia. Inicialmente se voltou para Freud, mas reagiu a ele
como reagira a Kraepelin, rejeitando uma estrutura crescente rígida e dogmática.
Sendo assim, desenvolveu sua própria Teoria Funcional da Personalidade,
Psicopatologia e Terapia.
 Harry Stack Sullivan foi o criador de um novo ponto de vista conhecido como a
Teoria Interpessoal da Psiquiatria.
 Principal contribuição para Teoria da Personalidade: “Amizade Íntima”.
 Para Sullivan a Personalidade é uma entidade hipotética que não pode ser isolada
de situações interpessoais, e o comportamento interpessoal é tudo que não podemos
observar como Personalidade.
 A Personalidade muda constantemente em função de nossas relações com outras
pessoas.
 Sullivan morreu em 14 de janeiro de 1949, depois de uma reunião, em Paris, França.

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ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
• Sullivan insistia que a Personalidade é uma entidade puramente hipotética, “uma
ilusão”, que não pode ser observada ou estudada à parte de situações interpessoais.
• A Personalidade só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a
um ou mais indivíduos.
• Sullivan afirmava que a Personalidade é um centro dinâmico de vários processos
que ocorrem em uma série de campos interpessoais, conceitualizando algumas de
suas propriedades, sendo as principais: os  Dinamismos, as  Personificações e
os  Processos Cognitivos.

 DINAMISMOS
• Um Dinamismo é a menor unidade que pode ser empregada no estudo do indivíduo.
É definido como “o padrão relativamente duradouro de transformações de energia,
que, recorrentemente, caracteriza o organismo em sua duração como um
organismo vivo”.
• Uma vez que um Dinamismo é um padrão de comportamento persistente e
recorrente, ele é, mais ou menos, como um hábito. Sullivan definia como: “um
invólucro contendo diferenças particulares insignificantes”.
• Os Dinamismos com caráter distintivamente humano são aqueles que caracterizam
as relações interpessoais.
• Um Dinamismo normalmente emprega uma determinada zona do corpo. Uma zona
consiste em um Aparelho Receptor para receber estímulos; um Aparelho Efetuador
para realizar uma ação; e um Aparelho Conector chamado Edutor, no Sistema
Nervoso Central, que conecta o mecanismo efetuador.
• A maioria dos Dinamismos tem o propósito de satisfazer as necessidades básicas do
organismo. Entretanto, existe um Dinamismo importante que se desenvolve em
resultado da ansiedade, chamado de Dinamismo do Self ou do Auto-Sistema.

 Auto-Sistema
• A ansiedade é um produto das relações interpessoais, sendo transmitida da mãe para
o bebê, e posteriormente, por ameaças à segurança da pessoa.
• Para evitar ou minimizar a ansiedade real ou potencial, as pessoas adotam vários
tipos de medidas protetoras e controles para supervisionar seu comportamento.
• O Auto-Sistema advém de experiências interpessoais sempre em desenvolvimento.
Ele é dividido em três partes:
 EU BOM → conjunto de imagens, experiências e comportamentos associados a
respostas não ansiosas.
 EU MAU → associado à ideias, ações e percepções que provocam ansiedade e
desaprovação de cuidadores.
 NÃO EU → situações de ansiedade muito intensa e inteiramente desautorizadas
e desapropriadas.
• O Auto-Sistema age como um filtro da consciência. Sullivan empregou o termo
Atenção Seletiva para a recusa do inconsciente a prestar atenção a eventos e
sentimentos geradores da ansiedade.
• O Auto-Sistema tende a isolar-se do resto da personalidade. Conforme cresce em
complexidade e independência, ele impede que a pessoa faça julgamentos objetivos

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de seu próprio comportamento e atenua contradições óbvias entre o que a pessoa
realmente é e o que o Auto-Sistema diz que ela é.
• Sullivan acreditava que o Auto-Sistema é um produto dos aspectos irracionais da
sociedade → “O principal obstáculo às mudanças favoráveis na personalidade”.

 PERSONIFICAÇÕES
• Uma Personificação é a imagem que o indivíduo tem de si mesmo ou de outra
pessoa. Um complexo de sentimentos, atitudes e concepções que decorrem de
experiências de satisfação de necessidade e de ansiedade.
• Qualquer relacionamento interpessoal que envolva satisfação tende a criar uma
imagem favorável do agente que o satisfaz. Por outro lado, a Personificação do bebê
de uma mãe má, resulta de experiências com ela, envolvendo ansiedade.
• As imagens que levamos em nossa mente, raramente são descrições acuradas das
pessoas às quais se referem.
• Algo que tem como função reduzir a ansiedade no início da vida pode interferir,
posteriormente, nas relações interpessoais. Essas imagens carregadas de ansiedade
distorcem nossas concepções de pessoas presentemente significativas.
• As Personificações compartilhadas por várias pessoas chamam-se Estereótipos.

 PROCESSOS COGNITIVOS (Desenvolvimento Cognitivo)


• Sullivan postulou três Modos Cognitivos Desenvolvimentais de Experiência que
são:  Prototáxico, Paratáxico e Sintáxico.
 Prototáxico → a experiência Prototáxica “pode ser considerada como a série
descontínua de estados momentâneos do organismo sensível”. É
encontrado em sua forma mais pura nos primeiros seis meses de vida e é
a pré-condição necessária para o aparecimento dos outros dois modos.
 Paratáxico → o modo Paratáxico de pensamento consiste em ver as relações
causais entre os eventos que ocorrem aproximadamente no mesmo
momento, mas que não estão logicamente relacionados.
 Sintáxico → o terceiro e mais elevado modo de pensamento é o Sintáxico, que
consiste na atividade simbólica, consensualmente validada,
especialmente de natureza verbal. Este modo produz ordem lógica entre
as experiências e permite que as pessoas se comuniquem umas com as
outras.

DINÂMICA DA PERSONALIDADE
• Sullivan concebia a Personalidade como um sistema de energia cujo principal
trabalho consiste em atividades que reduzirão a tensão.

 TENSÃO
ͽ A Teoria de Sullivan é fundamentalmente uma Teoria de Necessidades e
Ansiedades:
 Necessidades por Satisfação → incluem necessidades físicas. Ex: ar,
água, comida.
 Necessidades por Segurança → ausência da ansiedade. Incluem as
necessidades de evitar, prevenir ou reduzir a ansiedade.

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ͽ Existem, portanto, duas Fontes Principais de Tensão:
 As tensões que surgem das necessidades do organismo.
 As tensões que resultam de uma ansiedade.
ͽ As Necessidades estão relacionadas às exigências físico-químicas da vida, e se
organizam segundo uma ordem hierárquica; as Inferiores precisam ser satisfeitas
antes que as Superiores possam ser acomodadas.
ͽ A Ansiedade é a experiência de tensão resultante de ameaças reais ou imaginárias à
própria segurança. Ocorre quando necessidades fundamentais estão em perigo de
não serem satisfeitas; e varia em intensidade, dependendo da gravidade da ameaça
e da efetividade das operações de segurança empregada pelas pessoas.
ͽ Sullivan acreditava que a Ansiedade é a primeira grande influência educativa na
vida; é o motivador primário do comportamento humano.
ͽ Em consequência da Ansiedade transmitida pela mãe, outros objetos no ambiente
circundante ficam carregados de Ansiedade pela operação do modo Paratáxico de
associar experiências contíguas.
ͽ Quando o bebê não pode escapar da ansiedade, ele tende a adormecer. Esse
dinamismo do desligamento sonolento é o equivalente da apatia, que é o
dinamismo despertado por necessidades insatisfeitas.

 TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIA
• A energia é transformada pelo trabalho. O trabalho pode ser uma ação manifesta,
envolvendo os músculos estriados do corpo ou pode ser mental, tal como perceber,
lembrar e pensar. Essas atividades manifestas ou ocultas têm como meta: o alívio de
tensão.
• Sullivan não acreditava que os instintos fossem fontes importantes de motivação
humana, e não aceitava a Teoria de Freud da libido. O indivíduo tende a se
comportar de determinada maneira como resultado de interações com as pessoas e
não porque possui imperativos inatos para certos tipos de ação.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
• Sullivan considerava a personalidade de uma perspectiva de estágios definidos de
desenvolvimento. Ao passo que Freud mantinha a posição de que o desenvolvimento
é amplamente um desdobramento do instinto sexual, Sullivan defendia uma visão
mais psicológica social do desenvolvimento da personalidade, que reconhecesse,
devidamente, as contribuições notáveis dos relacionamentos humanos.

 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
• Sullivan caracterizou o Desenvolvimento Social como a Necessidade de Satisfação e
Segurança e dividiu os Estágios do Desenvolvimento da Personalidade pelas fases em
que o indivíduo passava. São elas:
 Infância;
 Meninice;
 Idade Juvenil;
 Pré-Adolescência;
 Adolescência Inicial;
 Adolescência Final.

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 Infância:
A Infância se estende do nascimento ao aparecimento da fala articulada.
Caracteriza-se pela necessidade primária de contato corporal e ternura.
Nesse período a zona oral é a zona primária de interação entre o bebê e seu
ambiente. A amamentação oferece ao bebê, sua primeira experiência interpessoal. O
bebê desenvolve várias concepções do mamilo ou bico do seio, dependendo das
experiências que tem com ele. São elas:
→ Mamilo bom sinaliza a amamentação: a satisfação está chegando.
→ Mamilo bom, mas insatisfatório, porque o bebê não está com fome.
→ Mamilo errado, porque não dá leite e é um sinal para a rejeição e a
subsequente busca de outro mamilo.
→ Mamilo mau da mãe ansiosa, que é um sinal para a esquiva.
 Outros Aspectos característicos da Infância são:
→ O aparecimento dos dinamismos de apatia e desligamento sonolento;
→ Transição de um modo de cognição prototáxico para um paratáxico;
→ A organização de personificações, como a mãe má, ansiosa, que rejeita e
frustra, e a mãe boa, tranquila, que aceita e satisfaz;
→ A organização da experiência por meio da aprendizagem e a emergência dos
rudimentos do auto sistema;
→ A diferenciação do corpo do bebê, de modo que ele aprenda a satisfazer suas
tensões, independentemente da pessoa que faz a maternagem, sugando o
polegar, por exemplo; e
→ A aprendizagem de movimentos coordenados, envolvendo mão e olho, mão
e boca e ouvido e voz.

 Meninice:
A Meninice vai desde o início da Linguagem Utilizável e Contínua até o início
da Escola e, caracteriza-se pelo foco da criança sobre os pais.
A transição da infância para a Meninice é possibilitada pela aprendizagem da
linguagem e pela organização da experiência no modo sintáxico.
A Meninice se estende da emergência da fala articulada ao aparecimento da
necessidade de companheiros para brincar.
Um evento dramático da meninice é a transformação malevolente, o sentimento
de que vivemos entre inimigos.
A transformação malevolente distorce as relações interpessoais da criança,
levando-a ao isolamento.

 Estágio Juvenil:
O Estágio Juvenil se estende pela maioria dos anos iniciais do ensino
fundamental (até + ou – 8 anos).
Caracteriza-se pelo desvio do modo cognitivo sintático inicial e o foco
interpessoal espalha-se para grupos de pares e para figuras de autoridade externas.
Um grande evento desse período é a emergência da concepção de orientação na
vida.

 Pré-Adolescência:
A Pré Adolescência varia dos 8 aos 12 anos e caracteriza-se pelo movimento de
cooperação da criança, e da competição dos grupos de pares, embasada em regras para
intimidade genuína com um camarada.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 67
O período relativamente breve da Pré-Adolescência é marcado pela necessidade
de um relacionamento íntimo com igual do mesmo sexo.
Em períodos anteriores, a situação interpessoal se caracteriza pela dependência
da criança em relação a uma pessoa mais velha. Durante a Pré-Adolescência, a criança
começa a formar relacionamentos de amizade nos quais existem igualdade, mutualidade
e reciprocidade entre os membros.

 Adolescência Inicial:
Início da Puberdade, caracterizada pelo início das preocupações semelhantes às
da pré-adolescência, com a importante exceção de que sensualidade é acrescentada à
equação interpessoal.
O principal problema do período da Adolescência Inicial é o desenvolvimento de
um padrão de atividade heterossexual
O dinamismo do desejo sensual emerge desses sentimentos e começa a afirmar-
se na personalidade.
O dinamismo do desejo sensual envolve, primariamente, a zona genital, mas
outras zonas de interação, como a boca e as mãos, também participam do
comportamento sexual.
Existe uma separação entre a necessidade erótica e a necessidade de intimidade.
A Adolescência Inicial persiste até que a pessoa encontre algum padrão estável
de desempenho que satisfaça suas pulsões genitais.

 Adolescência Final:
A Adolescência Final se estende da criação do padrão de atividade genital
preferida, por meio de inumeráveis passos educativos, até o estabelecimento de um
repertório plenamente humano ou maduro de relações interpessoais, conforme permitem
as oportunidades pessoais e culturais.
O auto sistema se estabiliza, são aprendidas sublimações de tensões mais
efetivas, e instituídas medidas de segurança, mais enérgicas contra a ansiedade.

DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO
Sullivan reconhecia a importância da hereditariedade na provisão de certas
capacidades.
Ele também aceitava o princípio de que o treinamento não pode ser efetivo antes
que a maturação tenha constituído a base estrutural.
A primeira influência educativa é a da Ansiedade.
A segunda força educacional é a da Tentativa e Sucesso.
Também podemos aprender por meio da imitação ou da inferência.
Sullivan não acreditava que a Personalidade já estivesse estabelecida em tenra
idade.

 TEORIA DA PSICOPATOLOGIA
Sullivan viu a Psicopatologia como resultante de ansiedade excessiva que detém
o desenvolvimento do Auto-Sistema e, por meio disso, limita tanto oportunidades para
satisfação interpessoal como operações de segurança disponíveis.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 68
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE ERIK ERIKSON


(1902–1994)
A TEORIA DA IDENTIDADE
A obra de Erik Erikson teve uma profunda influência da psicanálise. Treinado na
tradição freudiana pela filha de Sigmund Freud (Anna Freud), Erikson elaborou uma
abordagem da personalidade que ampliou o escopo da obra de Freud e, ao mesmo
tempo, manteve grande parte das suas ideias centrais. Disse ele: “A Psicanálise é
sempre o ponto de partida”.
Erikson ampliou a Teoria de Freud de três maneiras:
 Aprimorou os estágios de desenvolvimento, enquanto Freud enfatizava a
infância e propunha que a personalidade era moldada aproximadamente aos 5
anos. Erikson sugeria que a personalidade continua a se desenvolver em oito
etapas durante toda a evolução da vida.
 Enfatizou mais o Ego do que o Id, dizendo que o Ego era uma parte
independente da personalidade, não dependente do Id e nem submisso a ele.
 Disse que não somos totalmente regidos pelos fatores biológicos inatos, mas
também pelos fatores históricos e culturais, concentrado na busca da identidade
do Ego.

A VIDA DE ERIK ERIKSON – (1902-1994)


Crises de Identidade Pessoal
Não é de admirar que o teórico que nos deu o conceito da Crise de Identidade,
tenha, ele mesmo, passado por várias delas.
Erikson nasceu na Alemanha (15.06.1902), em Frankfurt. Mãe dinamarquesa,
que veio de uma família judia rica, cujo marido desapareceu algumas horas depois do
casamento. Ficou grávida de outro homem, de nome nunca revelado. Após o
nascimento da criança, casou com o pediatra do bebê, Dr. Theodore Homburger. Depois
de uns anos Erik ficou sabendo que não era filho biológico do Dr. Theodore Homburger
e afirmou que cresceu sem ter certeza de seu nome e da sua identidade psicológica. Aos
37 anos, quando se tornou cidadão norte-americano, adotou o nome de Erik Homburger
Erikson.
Fez um treinamento em Psicanálise e foi analisando por Anna Freud.
Casou-se com Joan Serson (uma bailarina). Ela deu uma base social e emocional
estável à sua vida e o ajudou a desenvolver a sua abordagem de personalidade.
Erikson mudou várias vezes de emprego e de casa. Se envolveu com uma das
clínicas de Henry Murray onde tentou, sem êxito, conseguir o Ph.D. em Psicologia.
Aos 58 anos, Erikson perde sua mãe. Ele temia morrer sem saber a real
identidade biológica de seu pai.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 69
Em 1970, aposentou-se. Aos 84 anos, publicou um livro sobre a velhice. Faleceu
em 12.05.1994.
Depois de uma vida de elogios, honras e reconhecimentos, segundo sua filha,
sentia-se desapontado com o que havia conseguido. “Para esse homem célebre, ainda
era motivo e vergonha ter sido um filho ilegítimo”.

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
 O EGO NA TEORIA PÓS-FREUDIANA
Freud destaca que o Ego deve estar bem desenvolvido para poder controlar e
mediar o Id.
Erikson sustentava que o Ego é uma força positiva que cria a auto identidade,
um senso de “eu”. É a capacidade de uma pessoa para unificar experiências e para se
adaptar aos conflitos da vida e crises. O Ego impede-nos de perder a identidade para
forças niveladoras da sociedade; unifica nossa personalidade e protege contra
indivisibilidade. Ele sintetiza experiências presentes com auto identidades passadas.
 Três Aspectos do Ego:
1. Corpo Egóico → refere-se às experiências com nosso corpo, uma forma de
enxergar nosso Self físico como algo diferente das demais pessoas;
2. Ego Ideal → representa a imagem que temos de nós mesmos em comparação
com um ideal estabelecido;
3. Identidade Egóica → é a imagem que temos de nós mesmos nos vários papéis
sociais que desempenhamos.

 INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE
• O Ego surge a partir da sociedade e é amplamente moldado por ela. Conflito
entre visão de Erikson e Freud.
• Erikson define que o ego constitui-se sobre fatores sociais e históricos.
• A sociedade tende a moldar personalidades que se ajustem às necessidades e aos
valores de sua cultura.
• A teoria de Erikson contribui com a extensão dos estágios iniciais de Freud para
a teoria da personalidade.

 PRINCÍPIO EPIGENÉTICO
Desenvolvimento de vários estágios da vida segundo um padrão pré-
determinado e uma sequência fixa. Um estágio surge e desenvolve-se sobre um estágio
anterior, mas não ocorre substituição.

DINÂMICA DA PERSONALIDADE
Crescimento de acordo com o Princípio Epigenético.
 Interação de Opostos → em cada estágio de desenvolvimento ocorre a
interação entre opostos, um conflito entre elementos Sintônicos (harmoniosos) e
Distônicos (destrutivos). Ambos os elementos são necessários para uma adaptação
adequada, porém excessos podem ser prejudiciais.
Os conflitos entre os elementos harmoniosos e os elementos destrutivos,
produzem uma qualidade ou Força do Ego, que Erikson definiu como Força Básica

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 70
(uma qualidade do Ego), que possibilita que a criança prossiga para o próximo estágio.
Por exemplo, entre o choque da Desconfiança com a Confiança surge a Esperança.
Pouca força básica, em qualquer dos estágios, ocasiona uma Patologia Central –
a patologia central daquele estágio.
Ainda que Erikson se referisse aos seus Estágios de Desenvolvimento como
Estágios Psicossociais, ele nunca desconsiderou o aspecto biológico do
desenvolvimento humano.
Os eventos dos estágios iniciais não determinam o desenvolvimento posterior da
personalidade. A Identidade Egóica é resultante de uma multiplicidade de eventos
presentes, passados e antecipados.
As qualidades do Ego (ou Forças Básicas) surgem a partir dos conflitos, das
crises de cada estágio de nossa vida. Especialmente, a partir da adolescência, o
desenvolvimento da personalidade é caracterizado por uma “Crise de Identidade”. Em
cada crise a pessoa fica mais sensível a grandes modificações de identidade, tanto
positivas quanto negativas. Os elementos sintônicos e distônicos, embora opostos, se
complementam. A “Crise de Identidade” não é um evento catastrófico, mas sim uma
oportunidade para um ajuste de adaptação boa ou má. Cada Crise e cada Força Básica
está relacionada às demais.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Erikson dividiu o Desenvolvimento da Personalidade em oito Estágios
Psicossociais, sendo os quatro primeiros semelhantes aos Estágios Oral, Anal, Fálico e
de Latência de Freud. A principal diferença entre as teorias é que Freud se concentra
nos Fatores Biológicos e Erikson enfatiza as Correlações Psicossociais.

 ESTÁGIOS PSICOSSOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO


O processo da evolução era regido pelo Princípio Epigenético da Maturação.
Significa dizer que forças herdadas são as características determinantes dos estágios da
evolução, no entanto, as forças sociais e ambientais influenciam a forma pela qual as
fases, geneticamente predeterminadas, se realizam (a Epigênese significa que uma
característica se desenvolve sobre outra, no espaço e no tempo necessários).
 Princípio Epigenético da Maturação → O desenvolvimento humano
envolve uma série de conflitos pessoais. Cada confronto com o ambiente é denominado
Crise, a qual envolve uma mudança de perspectiva, que requer que reconcentremos a
nossa energia instintiva de acordo com as necessidades de cada estágio do ciclo da vida.
Para Erikson, há oito estágios sucessivos que nos permite lidar bem ou mal com uma
crise. A crise seria o momento decisivo enfrentado em cada fase do desenvolvimento.
 Crise → Para Erikson cada fase do desenvolvimento tem sua crise ou
momento decisivo particular que precisa de alguma mudança no nosso comportamento
e personalidade. Podemos responder à crise de maneira positiva ou negativa. Só quando
há resolução dos conflitos, a personalidade pode continuar sua sequência normal e
adquirir força para enfrentar o conflito da próxima fase.
Entretanto, Erikson achava que o Ego tem que incorporar as maneiras negativas
e positivas de lidar com as crises. Idealmente, em cada uma das fases do
desenvolvimento, o Ego consistirá basicamente na atitude positiva ou bem adaptada,
mas sempre será equilibrado por alguma parte de atitude negativa.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 71
 FORÇAS BÁSICAS
Cada um dos oito estágios psicossociais propicia uma oportunidade para
desenvolvermos as nossas forças básicas ou virtudes, que surgem quando a crise é
resolvida satisfatoriamente. Ele afirmou que as forças básicas são interdependentes e
que uma força básica não pode se desenvolver enquanto a força básica associada à fase
anterior não for confirmada.

ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL


Estágio  → Confiança Ҳ Desconfiança (Primeira Infância)  Fase Oral
A fase oral sensorial do Desenvolvimento Psicossocial, paralela à oral do
Desenvolvimento Psicossexual de Freud, ocorre durante o primeiro ano de vida, época
de nosso maior desamparo. A criança é totalmente dependente dos cuidados básicos.
Importância vital da boca. O relacionamento entre o bebê e seu próprio mundo é
biológico e também social. A interação do bebê com a mãe determina se será
incorporada à sua personalidade uma atitude de Confiança ou Desconfiança no
relacionamento futuro com o ambiente.
A Confiança e Desconfiança sendo dimensões da personalidade estabelecidas
na infância, podem ressurgir numa fase posterior.
• Força Básica → A Esperança é associada à resolução bem sucedida da crise
durante a fase oral sensorial. Seria uma crença de que os nossos desejos serão
satisfeitos. A Esperança envolve um sentimento persistente de confiança.
• Fraqueza Básica → A Retração.

Estágio  → Autonomia Ҳ Dúvida e Vergonha (Segunda Infância)  Fase Anal


Durante a fase muscular-anal no segundo e no terceiro anos de vida, que
corresponde à fase anal de Freud, as crianças desenvolvem várias habilidades físicas e
mentais e se orgulham delas, normalmente querendo fazê-las sozinhas. As crianças
sentem prazer ao defecar e dominar outras funções corporais (urinar, caminhar,
arremessar, segurar). Desenvolvem senso de controle e de autocontrole.
O mais importante para Erikson, seria o ato de segurar e largar algo, pois,
considerava que estes atos eram protótipos para reagir a conflitos posteriores em
comportamento e atitudes. A criança consegue exercer grau de escolha (vontade
autônoma).
Quando os pais bloqueiam e frustram as tentativas do filho de exercer a sua
própria independência, ele desenvolve um sentimento de Dúvida e Vergonha em lidar
com os outros. A expressão do conflito é mais psicossocial do que biológica.
• Força Básica → da autonomia surge a Vontade, sendo a determinação de
exercer a liberdade de escolha e autolimitação diante da sociedade.
As crianças desenvolverão a Vontade apenas quando seu ambiente lhes permitir
certa auto expressão.
• Fraqueza Básica → A Compulsão, Obstinação sem Acanhamento.

Estágio  → Iniciativa Ҳ Culpa (Idade do Jogo)  Fase Fálica


O estágio locomotor genital ocorre entre os três e cinco anos de idade, é
semelhante à fase fálica de Freud. A criança continua a desenvolver a capacidade
motora e mental e consegue fazer mais coisas por conta própria, expressando o forte

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 72
desejo de Iniciativa em várias atividades.
O complexo de Édipo está na imaginação da criança e não produz efeitos
danosos.
A sexualidade infantil é “uma mera promessa de algo por vir”. Orientada pelos
pais com amor e compreensão, a criança adquirirá consciência do que é
comportamento permitido e o de que não é permitido.
Ainda importante mencionar a iniciativa no desenvolvimento da
responsabilidade e moralidade. Na teoria freudiana isso é denominado de Superego.
Existe iniciativa e busca de metas (casar com sua mãe, ou pai, ou sair de casa),
que não devem ser reprimidas. A consequência dessa repressão é a Culpa.
• Força Básica → chamada Objetivo surge da iniciativa, envolvendo a
Coragem de conceber e buscar metas. As crianças desenvolvem consciência de certo e
errado, que torna-se a base da moralidade.
• Fraqueza Básica → A Crueldade e Obstinação.

Estágio  → Diligência Ҳ Inferioridade (Idade Escolar)  Período de Latência


Esta fase ocorre dos seis aos onze anos de idade e corresponde ao período de
latência de Freud. O mundo social das crianças está se expandindo além dos limites da
família para incluir colegas, professores e outros modelos adultos.
As atitudes das pessoas em volta da criança determinam o que ela acha do seu
desenvolvimento. Quando são repreendidas, ridicularizadas ou rejeitadas,
provavelmente desenvolverão sentimento de Inferioridade e Inadequação, mas,
quando são elogiadas e reforçadas estimulam a sensação de Competência (Diligência)
e incentivam a luta constante. Desejo de conhecer. As crianças são instruídas sobre os
padrões da sociedade. Quando a criança não desenvolve Destreza suficiente para
atingir suas metas, adquirirá um senso de Inferioridade, que não deve ser evitado,
servindo como um ímpeto para o alcance de seu melhor desempenho.
• Força Básica → durante a fase de latência surge a Competência, envolvendo
o exercício da inteligência e a habilidade na busca e conclusão de tarefas. Estabelece as
bases para “uma participação cooperativa na vida adulta”. O excesso ou a falta desses
elementos propicia desistência e regressão a um estágio anterior.
• Fraqueza Básica → A Inércia.

• Observação: O resultado da crise de cada uma dessas quatro fases da infância


depende das outras pessoas. Assim sendo, embora as crianças adquiram cada vez mais
independência do nascimento aos 11 anos de idade, o desenvolvimento psicossocial
continua sob a influência dos pais e professores. Nos quatro últimos Estágios do
Desenvolvimento Psicossocial, temos cada vez mais controle do nosso ambiente,
realizamos escolhas de relacionamentos e atividades, no entanto, essas escolhas são
afetadas pelas características de personalidade desenvolvidas nas quatro fases
anteriores.

Estágio  → Coesão da Identidade Ҳ Confusão de Papéis (12 e 18 anos)


(A Crise de Identidade)
Da puberdade até a juventude, este é um dos estágios de desenvolvimento mais
importantes, porque no término desse período, o jovem deve adquirir um senso firme
de Identidade Egóica – quando formamos a nossa autoimagem, a integração das ideias

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 73
sobre nós mesmos.
 Identidade do Ego
Moldar uma identidade e aceitá-la são tarefas difíceis, geralmente realizadas
com ansiedade. Erikson mostrou que os adolescentes fazem experiências com vários
papéis na tentativa de determinar os mais compatíveis com eles.
As pessoas que saem dessa fase com um forte senso de auto identidade
enfrentarão a idade adulta com certeza e confiança. As que não conseguem passam por
uma Crise de Identidade, apresentarão uma confusão de papéis sem saber quem ou o
que são, qual é o seu lugar e o que querem se tornar.
 Crise de Identidade
A confusão de identidade faz-se necessária, mas em excesso pode levar à
regressão a estágios anteriores. A proporção correta entre Identidade e Confusão de
Identidade faz com que desenvolvamos fé em algum princípio ideológico, habilidade
para decidir como nos comportar, confiança em nossos iguais e em adultos que
oferecem conselhos e certeza em torno de nossa escolha.
• Força Básica → é a Fidelidade, que surge de uma Identidade de Ego coesa e
engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever dos relacionamentos.
• Fraqueza Básica → O Repúdio de Papéis.

Estágio  → Intimidade Ҳ Isolamento (Início da Fase Adulta)


Erikson considerava o início da fase adulta uma etapa mais prolongada,
estendendo-se do final da adolescência até aproximadamente os 35 anos. Durante essa
fase estabelecemos independência dos pais e instituições, atuamos de forma mais
autônoma e responsável, Assumimos trabalho produtivo e estabelecemos
relacionamentos íntimos, amizades e uniões sexuais. As emoções podem ser
demonstradas abertamente, sem usar mecanismos de defesa e proteção, podendo fundir
a própria identidade com a de outro sem submergi-la ou perdê-la.
Quando não é adquirida essa Intimidade no início da fase adulta, a pessoa busca
o Isolamento, evitando contatos sociais e pode se tornar agressiva com outras pessoas.
Prefere ficar só porque teme a intimidade. As pessoas inseguras de sua identidade
podem afastar-se da intimidade ou buscá-la por meio de encontros sexuais sem
significado.
• Força Básica → da intimidade surge o Amor, que Erikson considerava a
maior virtude humana. Descreveu-o como uma devoção mútua numa identidade
compartilhada, a fusão de uma pessoa com outra. O amor supera as diferenças entre
homens e mulheres.
• Fraqueza Básica → A Exclusividade – patologia central da juventude e
oposta ao Amor. Bloqueia a habilidade para cooperar, competir ou comprometer-se.
Certa Exclusividade é necessária para a intimidade, para que a pessoa seja capaz
de excluir de sua vida outras pessoas, ideias e atividades a fim de desenvolver sua
identidade.

Estágio  → Generatividade Ҳ Estagnação (Idade Adulta)


A idade adulta, aproximadamente dos 35 aos 55 anos, é a fase da maturidade.
As pessoas se envolvem com o ensino e a orientação das próximas gerações.
Caracterizada pela Procriatividade, pela crise entre Generatividade (preocupação com

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 74
as próximas gerações) e Estagnação. As pessoas têm a necessidade não apenas de
aprender, mas também de instruir, tanto os próprios filhos como todos os outros jovens.
Trata-se de motivação, uma orientação evolutiva.
Quando as pessoas de meia-idade não conseguem ou não procuram uma vazão
para a preocupação em relação ao futuro da sociedade, acabam sendo tomadas pelo
sentimento de Estagnação, tédio e empobrecimento pessoal. Podem voltar a uma fase
de pseudointimidade, quando se satisfazem de maneiras infantis, podendo se tornar
inválidas física e psicologicamente.
• Força Básica → é o Cuidado que surge da preocupação com as próximas
gerações.
• Fraqueza Básica → A Rejeição.

Estágio  → Integridade do Ego Ҳ Desespero (Maturidade e Velhice)


Fase Final do Desenvolvimento da Personalidade → a Maturidade e a Velhice.
Quando avaliamos a nossa vida como um todo, confrontamo-nos entre a Integridade do
Ego e o Desespero, seria uma análise final. Erikson disse que se olharmos para trás
com sentimento de realização e satisfação pode-se dizer que temos a Integridade do
Ego, ou seja, a pessoa aceitar o seu lugar e seu passado.
Contudo, se revisarmos nossa vida com um senso de frustração, aborrecidos
porque perdemos oportunidades e arrependidos de erros que não podemos corrigir,
então sentiremos Desespero, desdenharemos dos outros e ficaremos amargos com o
que poderíamos ter sido.
 Sensualidade Generalizada:
• Obtenção de prazer através de diversas sensações físicas diferentes. Só ocorre
quando o indivíduo tem habilidade para assegurar a integridade face à desesperança.
• Força Básica → é a Sabedoria que deriva da integridade do ego, e é
transmitida às próximas gerações, numa integração de experiências e cultura de uma
geração para outra.
• Fraqueza Básica → O Desdém.

 FRAQUEZAS BÁSICAS
Assim como surgem as Forças Básicas, podem surgir as Fraquezas Básicas.
Foi observado que as formas bem e mal resolvidas de lidar com a crise de cada fase são
incorporadas na Identidade do Ego, proporcionando um equilíbrio criativo. Embora o
Ego deva ser composto de atitudes de adaptação, ele também contém uma parcela de
atitude negativa.
• Mau desenvolvimento – Ego composto apenas de uma atitude bem ou mal
adaptada. Somente tendência positiva = Mal Adaptada (Neuroses). Somente
tendência negativa = Maligna (Psicoses). Erikson achava que ambos os
problemas poderiam ser corrigidos com a psicoterapia.

 Questões sobre a Natureza Humana


Erikson tinha uma visão otimista da natureza humana. Mesmo que falhemos
numa fase, ainda há esperança de mudança numa fase posterior.
Não somos exclusivamente produtos das experiências de infância e podemos
direcionar, conscientemente, nosso crescimento durante toda a vida. As influências da

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 75
infância são importantes, mas os acontecimentos nas fases posteriores podem
contrabalancear as infelizes experiências anteriores.
Acreditava que a personalidade é mais afetada pela aprendizagem e experiência
do que pela hereditariedade. A Teoria de Erikson é apenas, particularmente,
determinista. Para ele, o fundamental é desenvolver uma Identidade de Ego Positiva
que incorpore todas as Forças Básicas.

 REFLEXÕES SOBRE A TEORIA DE ERIKSON


A Teoria de Erikson foi duramente criticada, apontando termos e conceitos
ambíguos, conclusões imprecisas.
O método de Erikson de Terapia com Brinquedos (Ludoterapia) tornou-se um
método de diagnóstico e terapia para se trabalhar com crianças emocionalmente
perturbadas ou que sofreram abuso.

Estágio Crise Relações Fraqueza


Estágio Força Básica
Psicossexual Psicossocial Significativas Básica
Oral- Confiança
Respiratório- Básica Pessoa
I. Período Bebê Esperança Retração
Corporal- X Maternal
Sinestésico Desconfiança
Autonomia
Compulsão,
II. Infância Anal-Uretral- X Pessoas
Vontade Obstinação sem
Inicial Muscular Vergonha- Parentais
Acanhamento
Dúvida
Infantil- Iniciativa
III. Idade de Crueldade e
Genital- X Família Básica Propósito
Brincar Obstinação
Locomotor Culpa
Diligência
IV. Idade “Vizinhança”,
“Latência” X Competência Inércia
Escolar Escola
Inferioridade
Identidade Grupos de
V. X Iguais e
Puberdade Fidelidade Repúdio de Papeis
Adolescência Confusão de Modelos de
Identidade Liderança
Intimidade Parceiros de
VI. Idade
Genitalidade X Amizade, Sexo, Amor Exclusividade
Adulta Jovem
Isolamento Cooperação
Trabalho
Generatividade
VII. Idade Dividido,
Procriatividade X Cuidado Rejeição
Adulta Família
Estagnação
Compartilhada
Generalização Integridade “Gênero
VIII. Velhice de Modos X Humano” “Meu Sabedoria Desdém
Sensuais Desespero Gênero”

Bibliografia:
• Feist, Jess. (2008). Teorias da Personalidade. São Paulo: MC Graw-Hill.
• Schultz, Diane P. (2011). Teoria da Personalidade. São Paulo, SP Cengage Learning. 2 ed.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 76
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE ERICH FROMM


(1900-1980)
(O Enfoque Neopsicanalítico da Personalidade)

“As inclinações mais bonitas e mais feias não são parte de uma natureza
humana fixa e biologicamente determinada,
mas sim o resultado de processos sociais que nos criam”.
(Erich Fromm).

Erich Fromm (1900-1980), como Alfred Adler e Karen Horney, afirmava que
não somos inflexivelmente moldados por forças biológicas instintivas, como propôs
Freud. Em vez disso, para ele a Personalidade é influenciada pelas forças sociais e
culturais que afetam o indivíduo numa cultura e pelas forças universais que vêm
influenciando a humanidade durante toda a sua história.
A ênfase de Fromm nos determinantes sociais da personalidade é mais ampla do
que a de Adler e Horney. Pode-se dizer que ele tem uma visão mais extensa do
desenvolvimento da personalidade do que os outros teóricos devido à sua preocupação
com a história. Ele sugeriu que nos eventos históricos podemos encontrar as raízes da
solidão, da insignificância e do isolamento humanos contemporâneos. Para
encontrarmos um significado para a vida, precisamos fugir da sensação de isolamento e
desenvolver um senso de que fazemos parte de algo. Paradoxalmente, a liberdade cada
vez maior que conseguimos com o decorrer do tempo, tanto da natureza quanto dos
sistemas sociais rígidos, intensificou a nossa solidão e isolamento. O excesso de
liberdade transformou-se numa armadilha, uma situação negativa da qual tentamos
escapar.
Para Fromm, os conflitos pessoais que sofremos surgem dos tipos de sociedade
que construímos. No entanto, não estamos fadados ao sofrimento. Fromm era otimista
em relação à nossa capacidade de criar nosso próprio caráter e solucionar os nossos
problemas – problemas que, como sociedade, criamos. Não aceitamos passivamente o
impacto das forças sociais como determinantes da personalidade ou da sociedade.
Fromm era psicanalista, filósofo, historiador, antropólogo e sociólogo. Ele
coletou dados de várias fontes além do divã de psicanálise para dar uma interpretação
singular da interação entre a natureza humana e a sociedade.

A Vida de Fromm (1900-1980)


 Uma Infância Problemática
Fromm nasceu em uma família judia ortodoxa de Frankfurt, Alemanha. Seu pai
era comerciante, seu avô, rabino, e o tio de sua mãe, um famoso estudioso do Talmud
(livro dos preceitos das leis e tradições judaicas). Quando criança, dedicou-se aos
estudos religiosos. O fervor moral do Velho Testamento o afetou muito Ele também foi
influenciado pela tradição judaica do raciocínio e do intelecto e pelas dificuldades
emocionais de pertencer a uma minoria. Depois rompeu todas as suas ligações com a
religião organizada e classificou-se como místico ateu.

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Sua vida familiar não foi feliz, classificou-a como tensa. Seu pai era mal-
humorado, distante, ansioso e taciturno e sua mãe estava frequentemente deprimida. Ele
se descrevia como uma “criança neurótica insuportável” (citado em Funk, 1982, p. 1).
Aos 12 anos, chocou-se com o comportamento de uma amiga de seus pais, uma artista
de 25 anos que decidiu largar a pintura e dedicar sua vida ao pai viúvo. Fromm pode ter
simplesmente ficado com ciúme, mas não conseguia entender porque a jovem preferia a
companhia daquele senhor pouco atraente. Após a morte do pai, ela se matou. No seu
testamento, determinou que deveria ser enterrada no mesmo caixão do pai. Abalado
pelo suicídio, Fromm ficou extremamente angustiado com a sua decisão e atração pelo
pai.
“Eu nunca tinha ouvido falar de um complexo de Édipo ou de fixações
incestuosas entre pai e filha. Mas fiquei profundamente comovido. Como é
possível uma linda jovem apaixonar-se tanto pelo pai a ponto de preferir ser
enterrada com ele a continuar vivendo e usufruindo os prazeres da vida e da
pintura?” (Fromm, 1962, p. 4).
Não é difícil entender por que Fromm encontrou sentido nas teorias de Freud
sobre o complexo de Édipo, que pareciam explicar essa experiência enigmática e
trágica.
Aos 14 anos, uma outra manifestação de irracionalidade o enervou: o surgimento
de um fanatismo histérico na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Ele ficou
abismado com o ódio que assolou o país quando as pessoas eram abarrotadas com
propaganda governamental e um frenesi de ideias e atitudes maníacas. Fromm observou
as mudanças nos seus parentes, amigos e professores e se perguntou por que tantas
pessoas aparentemente normais estavam enlouquecendo. Depois da guerra, escreveu:
“Eu era um jovem profundamente perturbado e obcecado pela questão de como a guerra
era possível, pelo desejo de entender a irracionalidade do comportamento da massa
humana, por um desejo ardente de paz e compreensão internacional” (Fromm, 1962, p.
9).
 Buscando Respostas
A partir destas experiências pessoais – sua vida familiar perturbadora, o suicídio
e o comportamento de toda uma nação em tempo de guerra –, Fromm criou a
necessidade de tentar entender as causas da irracionalidade. Ele escreveu: “Meu
principal interesse estava claramente mapeado. Eu queria entender as leis que
governavam a vida das pessoas individualmente e as leis da sociedade” (Fromm, 1962,
p. 9); ele suspeitava que a personalidade humana era profundamente afetada pelas
forças sociais, econômicas, políticas e históricas e que uma sociedade doente produzia
pessoas doentes. Consequentemente, a sua visão da personalidade foi moldada seguindo
linhas intuitivas, formada a partir das suas próprias experiências e posteriormente
refinada seguindo linhas empíricas.
Fromm iniciou a sua busca das causas do comportamento irracional na
Universidade de Heidelberg, onde estudou psicologia, sociologia e filosofia; leu obras
de teóricos econômicos e políticos, como Karl Marx, Herbert Spencer e Max Weber e
recebeu seu Ph.D. em sociologia em 1922. Ele passou por treinamento psicanalítico
freudiano em Munique e no Instituto de Psicanálise de Berlim. Casou-se com a sua
primeira analista, Frieda Reichmann, dez anos mais velha. De acordo com um biógrafo
de Horney, Fromm, nesta fase da vida,
“...tinha uma espécie de apego a mulheres mais velhas, figuras maternas (...)
Diz-se que o seu pai, no dia do seu casamento, disse a Frieda Reichmann:

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„Fico contente que você agora vai tomar conta dele. Tendo sido o
queridinho da mãe, Erich era muito dependente, um príncipe que precisava
ser cuidado” (Paris, 1994, p. 144).
Na década de 1930, Fromm estava escrevendo artigos críticos questionando a
recusa de Freud em admitir o impacto das forças socioeconômicas na personalidade.
Como Horney, Fromm inicialmente achava que as suas críticas à psicanálise freudiana
tinham apenas a intenção de aperfeiçoar a posição de Freud, e não de substituí-la. Ele se
considerava um “discípulo e tradutor de Freud que estava tentando trazer à tona as
descobertas mais importantes dele para enriquecê-las e aprofundá-las, liberando-as da
teoria um tanto restrita da libido” (Evans, 1966, p. 59). Entretanto, Fromm afastou-se
tanto das teorias de Freud na elaboração de sua abordagem que passou a ser
“extremamente odiado no círculo freudiano” (McLaughlin, 1998, p. 116).
Em 1934, emigrou para os Estados Unidos para escapar da ameaça nazista na
Alemanha. Ele foi para Chicago para trabalhar com Horney e depois a seguiu para Nova
York. Divorciou-se de sua esposa e começou um longo caso com Horney. Durante esses
anos, as ideias de Horney tiveram um grande impacto sobre a obra de Fromm, uma
dívida que ele raramente reconhecia.
Fromm apresentou a sua teoria em vários livros escritos em estilo popular
destinados mais ao público em geral do que aos seus colegas. Lecionou nas
universidades de Colúmbia e Yale e criou o departamento de treinamento psicanalítico
na escola de medicina da Universidade Nacional do México. Tornou-se ativo no
movimento pela paz nas décadas de 1960 e 1970 e ajudou a fundar a SANE, a
Organização para uma Política Nuclear Sã. Ele se opôs à guerra fria, à corrida
armamentista nuclear e à Guerra do Vietnã. Morreu em sua casa na Suíça, em 1980.

Liberdade versus Segurança: O Dilema Humano Básico


O título do primeiro livro de Fromm, Escape From Freedom (1941), indica a sua
visão da condição humana: na história da civilização ocidental, como as pessoas foram
conseguindo mais liberdade, passaram a se sentir mais solitárias, insignificantes e
alienadas. Opostamente, quanto menos liberdade tinham, mais se sentiam entrosadas e
seguras. Fromm argumentou que no século XX as pessoas conseguiram mais liberdade
do que em qualquer outra época, mas, em contrapartida, sentiam-se mais solitárias,
alienadas e insignificantes do que as pessoas se sentiam nos séculos anteriores.
 Alienação da Natureza
Para entender este aparente paradoxo, precisamos considerar a história da
civilização ocidental como Fromm interpretava. Ele começou pela discussão da
evolução humana, ressaltando a distinção entre a natureza humana e a animal. Os
humanos estão livres dos mecanismos biológicos instintivos que guiam o
comportamento animal. Mais do que isso, são seres conscientes de si mesmos e de seu
mundo. Por meio da aprendizagem, acumulamos conhecimento do passado e mediante a
imaginação podemos nos projetar para além do presente. Como possuímos consciência
do nosso conhecimento e habilidade para dominar a natureza, não somos mais um só
com a natureza, como o são os animais inferiores. Nós transcendemos a natureza. Como
resultado, embora estejamos sujeitos às leis naturais e não possamos mudá-las, ficamos
isolados e alienados.
Fromm sugeriu que os povos primitivos tentavam lidar com essa sensação de
alienação da natureza identificando-se com suas tribos ou clãs. Compartilhando mitos,
religiões e ritos tribais, eles obtinham a segurança de pertencer a um grupo. Fazer parte

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de um grupo oferecia aceitação e um conjunto de regras e costumes. As religiões
desenvolvidas pelos povos primitivos também ajudaram a restabelecer a ligação com a
natureza. A adoração era focada nos elementos da natureza, tais como: sol, lua, fogo,
plantas e animais.
Mas esta segurança tênue poderia não durar. Os seres humanos são criaturas
beligerantes4 que se desenvolvem e crescem, e os povos pós-primitivos revoltaram-se
contra a subserviência ao grupo. De acordo com Fromm, cada período da história tem
sido caracterizado pelo aumento do movimento para fora do grupo e para a
individualidade, da mesma forma que as pessoas lutavam para adquirir independência,
liberdade e a oportunidade de expressar todas suas habilidades originais humanas. Esta
luta pela individualidade alcançou o seu pico entre a Reforma no século XVI e os
tempos atuais, quando, na visão de Fromm, a alienação tem sido igualada a um alto grau
de liberdade.

 A Idade Média: A Última Era de Estabilidade


Fromm designou a Idade Média (em torno de 400-1400) como a última era de
estabilidade, segurança e sentimento de pertencer a uma classe. Foi um tempo de
praticamente nenhuma liberdade individual, porque o sistema feudal determinava o
lugar de cada um na sociedade. As pessoas ficavam no papel e status nos quais nasciam,
não havia mobilidade geográfica ou social e existiam poucas escolhas de trabalho,
costumes sociais ou formas de vestir. Embora não fossem livres, elas não eram
alienadas entre si. A rígida estrutura social deixava claro o lugar da pessoa na sociedade.
Não havia dúvidas ou indecisão sobre a que lugar ou a quem alguém pertencia.
As convulsões sociais da Renascença e da Reforma Protestante destruíram essa
estabilidade e segurança por meio do aumento da liberdade individual. As pessoas
começaram a ter mais opções e mais poder sobre sua própria vida. Entretanto,
alcançaram essa liberdade à custa das amarras sociais que haviam proporcionado
segurança e sentimento de pertencer à sociedade. Como resultado, foram assaltados por
sentimentos de insegurança, insignificância e dúvida sobre o sentido da vida.

 Mecanismos Psíquicos de Fuga


Fromm propôs três mecanismos psíquicos para fugir dos aspectos negativos da
liberdade e recuperar a nossa segurança perdida: o Autoritarismo, a Destrutividade e a
Conformidade Autômata.  O Autoritarismo manifesta-se de forma sádica ou
masoquista. As pessoas classificadas como masoquistas sentem-se inferiores e
inadequadas. Elas podem se queixar dessas sensações e declarar que gostariam de se ver
livres delas, mas têm uma forte necessidade de dependência de uma outra pessoa ou
grupo; submetem-se voluntariamente ao controle de outras pessoas ou forças sociais e
se comportam de maneira fraca e desamparada; conseguem segurança com essas
atitudes porque a submissão ameniza a sua sensação de solidão.

4 Beligerante → Como Adjetivo: Característica ou particularidade do que se encontra em guerra; que


se está ou permanece em luta (nações beligerantes). Como Substantivo: Algo ou alguém que possui
essa característica; que está em conflito (os beligerantes convocaram seus reforços e iniciaram o
combate). Sinônimos: combatente; guerreiro; militar; soldado; tropa.

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 Autoritarismo.
Um mecanismo psíquico para reaver a segurança, exibido nos sentimentos sádicos ou masoquistas.
As pessoas autoritárias descritas como sádicas lutam pelo poder sobre as outras.
Elas podem tentar tornar as outras dependentes delas e, assim, conseguir controle;
podem explorar os outros pegando ou utilizando qualquer coisa que lhes seja desejável,
tanto bens materiais como qualidades intelectuais ou emocionais, ou, ainda, querer ver
os outros sofrerem ou ser a causa desse sofrimento. Ainda que o sofrimento possa
envolver dor física, na maioria das vezes, é dor emocional, como constrangimento ou
humilhação.
 Destrutividade.
Um mecanismo psíquico para reaver a segurança exibido no desejo de eliminar objetos, pessoas e
instituições ameaçadoras.
O mecanismo de fuga autoritário envolve alguma forma de interação contínua
com um objeto ou uma pessoa. Opostamente,  a Destrutividade visa eliminar esse
objeto ou pessoa. Uma pessoa destrutiva diz:
“Eu posso fugir da sensação da minha própria falta de poder em relação ao
mundo fora de mim destruindo-o. Para ter certeza, se eu conseguir eliminá-
lo, fico sozinho e isolado, mas o meu isolamento é um isolamento
maravilhoso, no qual não posso ser esmagado pelo poder avassalador dos
objetos fora de mim” (Fromm, 1941, p. 179).
Fromm via evidências de destrutividade em todas as sociedades. Ele achava que
várias características humanas eram utilizadas como uma racionalização para a
destrutividade – incluindo amor, dever, consciência e patriotismo.
 Conformidade Autômata.
Mecanismo psíquico para reaver a segurança exibido na obediência incondicional às normas
predominantes que regem o comportamento.
O mecanismo de fuga que Fromm descreveu como de maior significado social é
a  Conformidade Autômata. Por meio desse mecanismo amenizamos nossa solidão
lutando para ser exatamente como todos os outros, agindo de acordo com as normas
sociais que regem o comportamento. Fromm comparou a Conformidade Autômata com
a coloração protetora dos animais. Estes se protegem tornando-se indistinguíveis do
cenário ao redor. O mesmo ocorre com seres humanos totalmente conformistas.

As pessoas podem obter uma sensação de


segurança renunciando à liberdade e
aceitando um sistema totalitário como o
regime nazista.

Embora essas pessoas obtenham a segurança e sensação de entrosamento


temporárias de que tão desesperadamente necessitam, elas os fazem à custa do self. As
pessoas que se sujeitam totalmente sacrificam sua personalidade. Como disse Fromm:
não existe mais um “eu” diferente do “eles”. A pessoa conformista torna-se parte
“deles” e um self falso assume o lugar do self genuíno.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 81
Essa perda do self deixa a pessoa insegura e com dúvidas. Como já não tem uma
identidade ou personalidade independente, ela age de forma reflexa e automática, como
um autômato ou robô, em resposta ao que os outros esperam ou exigem dela. Essa nova
identidade falsa só pode ser mantida por meio de uma conformidade contínua. Não pode
haver descuido. Se a pessoa fizer qualquer coisa que não esteja de acordo com as
normas e com os valores sociais, perde a aprovação, o reconhecimento e a segurança.

O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE NA INFÂNCIA


Para Fromm, o desenvolvimento do indivíduo na infância é igual ao da espécie
humana. Em outras palavras, a história da espécie se repete na infância de cada ser
humano. À medida que as crianças crescem, elas vão obtendo uma liberdade e
independência cada vez maior de seus pais. As crianças pequenas têm pouca liberdade,
mas estão seguras na sua relação dependente. Mas, quanto menos dependentes as
crianças se tornam, especialmente nas primeiras relações com a mãe, menos seguras se
sentem.
Como o processo normal de maturação envolve um certo isolamento e
desamparo, as crianças tentam reaver a segurança da infância e fugir da sua liberdade
cada vez maior. Elas podem utilizar padrões de comportamento semelhantes aos
mecanismos psíquicos descritos na seção anterior. A natureza da relação pais-filhos
determina o mecanismo que a criança utiliza. Fromm propôs três formas de ligações
interpessoais entre pais e filhos: Ligação Simbiótica, de Afastamento-Destrutividade e
de Amor.
 Relação Simbiótica.
Mecanismo da infância para reaver a segurança no qual as crianças continuam íntimas e dependentes dos
pais.
 Na Relação Simbiótica, a criança jamais consegue a independência, mas foge
da sua solidão e insegurança tornando-se parte de outra pessoa, “engolindo-a” ou
“sendo engolida” por ela, o que provoca um comportamento masoquista. Ela continua
dependente dos pais e renuncia ao self. Engolir provoca um comportamento sádico. Os
pais lhe dão autoridade, submetendo-se às suas vontades. A criança recupera a
segurança manipulando e explorando os pais. Em ambos os casos, o relacionamento é
de intimidade: ela precisa dos pais para a sua segurança.
 Afastamento-Destrutividade.
Mecanismo da infância para reaver a segurança na qual as crianças se distanciam dos pais.
 A interação de Afastamento-Destrutividade é caracterizada pela distância e
separação dos outros. Fromm afirmou que o afastamento e a destrutividade eram as
formas passivas e ativas desse tipo de relacionamento entre pais e filhos. A forma que o
comportamento da criança assumirá depende do comportamento dos pais. Por exemplo,
pais que agem destrutivamente, tentando subordinar ou subjugar o filho, farão com que
ele se afaste.
 Amor.
Para Fromm, uma forma de interação entre pais e filhos na qual os pais mostram respeito e oferecem
equilíbrio entre segurança e responsabilidade.
 O Amor é a forma mais desejável de interação entre pais e filhos. Neste caso,
os pais oferecem a maior oportunidade para o desenvolvimento positivo da
personalidade da criança, mostrando respeito e equilíbrio entre segurança e
responsabilidade. Consequentemente, a criança sente pouca necessidade de fugir da sua
crescente liberdade e consegue amar o seu self e os outros.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 82
Fromm concordava com Freud na sua teoria de que os cinco primeiros anos de
vida são importantes, mas não concordava que a personalidade é determinada nessa
idade. Em vez disso, afirmou que os eventos posteriores também poderiam influenciar a
personalidade. Ele pensava como Freud: que a família funcionava como representante
da sociedade para a criança. É por meio das interações familiares que ela adquire caráter
e formas adequadas de se ajustar à sociedade.

A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
(As Necessidades Psicológicas Básicas)

O impulso para obter segurança e escapar da solidão e o impulso conflitante de


liberdade e criação do self são universais. A oposição desses impulsos determina todos
os desejos humanos e se manifesta em seis necessidades humanas básicas (ver Quadro
1).
Quadro 1 – As Necessidades Psicológicas de Fromm
Necessidades Características
Necessidade de formar relacionamentos com outras pessoas e
 Ligação
estar preocupado com o seu bem-estar.
Necessidade de estar envolvido em atividades criativas que
 Transcendência
utilizem a imaginação e a razão.
Necessidade de criar laços com a família, com um grupo ou
 Raízes
com uma comunidade.
Necessidade de desenvolver qualidades e habilidades
 Identidade
peculiares.
Necessidade de desenvolver um ponto de vista consistente para
 Estrutura de
organizar as próprias experiências dentro dele e encontrar um
Orientação
objeto ou meta significativa para se comprometer.
Necessidade de um ambiente estimulante para poder manter o
 Excitação e
auge da agilidade e energia para lidar com as demandas da vida
Estímulo
cotidiana.

 Necessidade de Ligação.
Necessidade de manter contato com outras pessoas, idealmente por meio do amor produtivo.
 A Necessidade de Ligação surge do rompimento dos nossos elos primitivos
com a natureza. Por meio do nosso poder de raciocínio e imaginação ficamos cientes da
nossa separação da natureza, da nossa relativa falta de poder e da arbitrariedade do
nascimento e da morte. Como perdemos o relacionamento instintivo com a natureza,
temos de usar a razão para criar um novo relacionamento com as outras pessoas. A
maneira ideal para conseguir isso é por meio do amor produtivo, que envolve carinho,
responsabilidade, respeito e conhecimento. Amando, preocupamo-nos com o
crescimento e a felicidade das outras pessoas, respondemos às necessidades delas e as
respeitamos e conhecemos como elas são.
O amor produtivo pode ser direcionado a uma pessoa do mesmo sexo (que
Fromm descreveu como amor fraternal), a uma do sexo oposto (amor erótico) ou a um
filho (amor paternal ou maternal). Em todas as três formas, a principal preocupação da
pessoa é com o desenvolvimento e crescimento do self da outra pessoa.
Falhas na satisfação da necessidade de ligação resultam em narcisismo. Pessoas
narcisistas não conseguem perceber o mundo em termos objetivos. A sua única
realidade é o mundo subjetivo dos seus pensamentos, sentimentos e necessidades. Como

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 83
elas se concentram somente em si mesmas, não conseguem se relacionar com as outras
pessoas e lidar com o mundo exterior.

Se a relação entre pais e filhos é


caracterizada pelo amor, a criança
terá pouca necessidade de fugir da
liberdade, desenvolverá autoestima e
será capaz de amar os outros.

 Necessidade de Transcendência.
Necessidade da pessoa de ir além da sua natureza animal, tornando-se criativa ou destrutiva.
 Transcendência refere-se à necessidade de ultrapassar esse estado animal
passivo, um estado com o qual não podemos nos sentir satisfeitos devido à nossa
capacidade de raciocinar e imaginar; temos de nos tornar indivíduos criativos e
produtivos. No ato de criação, quer de vida (como no ato de educar filhos), quer de
objetos materiais, de arte ou ideias, ultrapassamos o estado animal e entramos num
estado de liberdade e finalidade. Se a necessidade criativa de uma pessoa for bloqueada,
ela se tornará destrutiva. Essa é a única alternativa para a criatividade. A destrutividade
e a criatividade são tendências inatas que satisfazem a necessidade de transcendência. A
criatividade, no entanto, é a tendência predominante.
 Necessidade de Criar Raízes.
Necessidade de sentir uma ligação ou sensação de pertencer a uma família, comunidade e sociedade.
 A Necessidade de Criar Raízes também surge da perda dos nossos elos
básicos com a natureza. Como ficamos isolados, temos de criar novas raízes nos nossos
relacionamentos com os outros e substituir as nossas raízes iniciais na natureza. O
sentimento de afinidade é o tipo mais gratificante de raízes que podemos criar. A
maneira menos gratificante de conseguir criá-las é manter os laços da infância com a
mãe apegando-se à segurança da infância. Esses elos podem ser generalizados, além do
relacionamento pais e filhos, de forma que incluam a comunidade e o país. Na verdade,
Fromm referia-se ao nacionalismo como uma forma de incesto, porque ele restringe o
nosso sentimento de solidariedade a um grupo específico, isolando-nos, pois, da
humanidade como um todo (Fromm, 1955).
 Necessidade de Identidade.
Necessidade de ter consciência das nossas habilidades e características peculiares.
 Fromm também observou que as pessoas precisam de um senso de Identidade
singular, que lhes seja próprio, único. Existem várias maneiras de satisfazer essa
necessidade. A pessoa pode desenvolver talentos e habilidades peculiares ou se
identificar com um grupo – por exemplo, uma seita religiosa, um sindicato ou um país –
às vezes, a ponto da conformidade. Fromm verificou também que a conformidade é uma
maneira prejudicial de satisfazer a necessidade de identidade, porque a identidade da
pessoa seria então definida somente em relação às qualidades e características do grupo,
e não às qualidades do seu self, que se torna um self emprestado, e não genuíno.

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 Necessidade de uma Estrutura de Orientação.
Necessidade de uma imagem consistente e coerente do nosso mundo dentro da qual entendemos os
eventos da vida.

 A Necessidade de uma Estrutura de Orientação e um objeto de devoção vem


dos nossos poderes de raciocinar e imaginar, que requerem uma estrutura para que os
fenômenos do mundo exterior façam sentido. Nós temos de criar uma visão consistente
e coerente do nosso ambiente dentro da qual percebamos e entendamos o que está
acontecendo ao nosso redor. Essa estrutura de orientação pode ser baseada em
considerações racionais e irracionais; a racional proporciona uma percepção da
realidade e, a irracional envolve uma visão subjetiva, que posteriormente rompe a nossa
ligação com a realidade. Além de uma estrutura de orientação, precisamos de uma meta
ou de um objeto principal ao qual nos dediquemos e por meio do qual consigamos
encontrar um significado e um senso de direção.

 Necessidade de Excitação.
Necessidade de um ambiente externo estimulante para que o nosso cérebro possa funcionar no nível mais
elevado de atividade e atenção.

 A Necessidade de Excitação e estímulo refere-se à necessidade de um


ambiente externo estimulante, no qual possamos agir no pico da nossa atenção e
atividade. O cérebro requer um determinado nível de estímulo para manter o
desempenho ótimo. Sem essa excitação poderíamos achar difícil manter o nosso
envolvimento com a vida diária.
As formas como essas seis necessidades psicológicas são satisfeitas dependem
das nossas condições e oportunidades culturais e sociais. Consequentemente, a maneira
como lidamos ou nos adaptamos à sociedade é criar um compromisso entre as nossas
necessidades e o nosso ambiente. Como resultado do nosso compromisso, criamos a
estrutura da personalidade.

Os Tipos de Caráter Produtivos e Não Produtivos


Fromm propôs uma série de tipos de caráter ou personalidade que estão por trás
do comportamento humano e descreve como nos relacionamos ou nos orientamos para
o mundo exterior. As formas puras desses tipos são raras. A maioria das personalidades
é uma combinação de tipos, embora geralmente um predomine.
Fromm fazia uma diferenciação entre Orientações Produtivas e Não Produtivas.
As Orientações Não Produtivas são formas insalubres de se relacionar com o mundo e,
na sua formulação especial, são tipos de Caráter Receptivos/Exploradores,
Armazenadores e de Marketing. O tipo de Orientação Produtiva é o estado ideal de
desenvolvimento humano.
Depois, ele propôs Tipos Adicionais:
• Necrófilo (Orientação Não Produtiva);
• Biófilo (Orientação Produtiva);
• O Ter (Orientação Não Produtiva);
• O Ser (Orientação Produtiva).

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 Tipos de Caráter Não Produtivos
 Orientação Receptiva.
Tipo de caráter extremamente dependente dos outros.

 As pessoas com Caráter Receptivo esperam conseguir tudo o que querem –


por exemplo, amor, conhecimento ou prazer – de uma fonte externa, geralmente de
outrem – e são receptivas nas suas relações com os outros. Elas precisam ser amadas em
vez de amar, tomar em vez de criar; são extremamente dependentes dos outros e se
sentem paralisadas quando ficam por conta própria. Elas se sentem incapazes de fazer
algo sem ajuda externa.
Existe uma semelhança entre o caráter receptivo e o tipo de personalidade
incorporador oral de Freud no sentido de que ambos obtêm satisfação do ato de comer e
beber. Esse tipo de satisfação é uma ótima maneira de reconhecer o tipo de caráter
receptivo.
“O tipo de pessoa receptiva tende a superar a ansiedade e a depressão
comendo e bebendo. A boca é um traço particularmente proeminente [do
tipo de caráter receptivo] geralmente o mais expressivo. Os lábios tendem a
estar abertos, como num estado de eterna expectativa de receber alimento”
(Fromm, 1947, p. 63).
O Tipo Receptivo também é semelhante ao tipo de personalidade submissa de
Horney, aquele descrito como o que se aproxima das pessoas. A sociedade que o
sustenta é aquela onde se pratica a exploração de um grupo por outro.

 Orientação Exploradora.
Tipo de caráter que tira o que quer dos outros à força ou pela astúcia.

 No tipo de Caráter Explorador, a pessoa também se aproxima dos outros


para obter o que ela quer. Mas, em vez de esperar receber, as pessoas deste tipo tomam,
ou à força ou pela astúcia. Se recebem algo, elas o veem como sem valor. Elas querem
somente o que pertence aos outros e tem valor para eles, seja um cônjuge, um objeto ou
uma ideia. Para este tipo de pessoa, o que é roubado ou apropriado tem mais valor do
que aquilo que lhe é dado livremente.
O Tipo Explorador é semelhante ao tipo oral agressivo freudiano e é
“simbolizado pela „boca mordaz‟, que geralmente é uma característica proeminente
nestas pessoas. (...) elas geralmente fazem observações sarcásticas sobre os outros”
(Fromm, 1947, p. 65). Entre os exemplos da orientação exploradora estão investidores
que compram ações no mercado para obter o controle de empresas e líderes fascistas
que evidentemente gostam de mandar nos outros.

 Orientação Armazenadora.
Tipo de caráter que tira segurança acumulando e preservando bens materiais e sentimentos pessoais.

 No Tipo Armazenador, a pessoa tira sua segurança de suas economias. Este


comportamento avaro aplica-se não só ao dinheiro e aos bens materiais, mas também às
emoções e ideias. Este tipo de pessoa constrói barreiras à sua volta e senta no meio de
tudo que acumulou, protegendo-se dos intrusos e deixando sair o mínimo possível. Ela
se caracteriza por uma organização compulsiva em relação aos seus bens, suas ideias e
seus sentimentos e se denuncia pelo seu comportamento.
“Pode-se reconhecer esse tipo de pessoa pelas expressões faciais e pelos
gestos. A boca é do tipo de lábios cerrados. Seus gestos são característicos
de sua atitude de afastamento. Enquanto, por um lado, os gestos do tipo

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 86
receptivo são convidativos e arredondados, os do tipo explorador são
agressivos, pontudos, e os do armazenador são angulares, como se ele
quisesse enfatizar as fronteiras entre si e o mundo exterior” (Fromm, 1947,
p. 66).
Existe um paralelo entre a personalidade retentora de Freud e o tipo desprendido
de Horney (que se afasta das pessoas). Fromm entendeu que a orientação
armazenadora era particularmente comum nos séculos XVIII e XIX em países que
possuíam economias estáveis de classe média, exemplificadas pela ética protestante da
poupança, conservadorismo e práticas comerciais moderadas.

 Orientação de Marketing.
Tipo de caráter que valoriza qualidades superficiais.

 O Tipo de Caráter de Marketing (mercantilista) é um fenômeno do século


XX identificado com as sociedades capitalistas, principalmente a dos Estados Unidos.
Numa cultura de mercado baseada em utilidades, o sucesso ou o fracasso depende de
como nos vemos. O conjunto de valores é o mesmo para as personalidades e para os
bens. A personalidade da pessoa torna-se simplesmente uma mercadoria a ser vendida.
Portanto, não são as nossas qualidades, habilidades, conhecimento ou integridade que
contam, mas sim se somos um bom pacote. As qualidades superficiais, como sorrir, ser
agradável e rir das piadas do chefe, tornam-se mais importantes do que as características
e habilidades interiores.
Esse tipo de orientação não pode criar segurança, porque ficamos sem nenhuma
relação genuína com as outras pessoas. Se esse jogo for jogado por muito tempo, não
temos mais um relacionamento com ou consciência do nosso self. O papel que somos
obrigados a representar ofusca o nosso verdadeiro caráter e o dos outros. Portanto,
alienamo-nos, sem um núcleo pessoal e sem relacionamentos significativos.

Para o tipo de personalidade de


marketing encontrado entre os homens de
negócios norte-americanos, as
qualidades superficiais são mais
importantes do que o conhecimento ou as
habilidades.

 Tipos de Caráter Produtivo


Orientação Produtiva.
Tipo de caráter que é o ideal do desenvolvimento do self.
O Tipo de Caráter Produtivo é o ideal e representa a meta máxima do
desenvolvimento humano. Este conceito pressupõe a habilidade de utilizarmos toda a
capacidade para realizar o nosso potencial e desenvolver o self. A produtividade não se
limita à criatividade artística ou à aquisição de bens materiais. Ao contrário, a
orientação produtiva é uma atitude que cada um de nós pode atingir.
Embora o caráter produtivo seja o ideal para as pessoas e as sociedades, ele
ainda não foi alcançado. O máximo que conseguimos realizar na nossa estrutura social
atual é uma combinação das orientações produtivas e não produtivas.
A influência da orientação produtiva pode transformar os tipos não produtivos.
Por exemplo, a agressividade do tipo explorador pode ser transformada em iniciativa e a

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usura do tipo acumulador pode se tornar uma economia sã. Fromm achava que por meio
de mudanças sociais e culturais, a orientação produtiva poderia se tornar predominante.

 Tipos de Caráter Adicionais


No seu livro The heart of the man, de 1964, Fromm introduziu as orientações:
Necrófila e Biófila.
 Orientação Necrófila.
Tipo de caráter com atração por objetos inanimados e por coisas associadas à morte.

 O Tipo de Caráter Necrófilo (uma orientação não produtiva) sente atração


pela morte, cadáveres, decomposição, fezes e sujeira. Essas pessoas aparentemente
atingem o auge da felicidade quando falam sobre doença, morte e enterro; vivem no
passado e tendem a ser frias e indiferentes; dedicam-se à lei, à ordem e ao uso da força e
do poder. Seus sonhos concentram-se em assassinatos, sangue e crânios. Na opinião de
Fromm, Adolf Hitler era um exemplo do tipo necrófilo. No entanto, nem todas as
pessoas desse tipo são selvagens; algumas podem parecer inofensivas, embora deixem
uma trilha de destruição emocional no seu caminho.
Fromm ofereceu o exemplo de uma mãe que se preocupa obsessivamente com as
falhas de seus filhos e sempre faz previsões sombrias sobre o futuro deles.
“Ela não responde à alegria da criança, não observa nada novo crescendo
dentro dela tampouco a prejudica de maneira evidente; no entanto, pode
lentamente estrangular a sua alegria, a sua fé no crescimento e, por fim,
infectá-la com a sua própria orientação necrófila” (Fromm, 1964, p. 39).
As pessoas necrófilas também são apaixonadas por tecnologia e tendem a se
cercar de aparelhos de som ou computadores sofisticados, não pela alegria da música ou
pelo potencial de manipulação de dados, mas pelo amor à máquina.

 Orientação Biófila.
Tipo de caráter congruente com a orientação produtiva; este tipo se preocupa com o crescimento e o
desenvolvimento pessoal.

 Já o Tipo de Caráter Biófilo é uma orientação produtiva. Estas pessoas amam


a vida e sentem atração pelo crescimento, pela criação e pela construção. Elas tentam
influenciar as outras não pela força ou pelo poder, mas pelo amor, pela razão e pelo
exemplo; preocupam-se com o desenvolvimento do self e dos outros e a sua visão é
voltada para o futuro.
São raras as formas extremas dos tipos de caracteres Necrófilo e Biófilo. A
maioria das pessoas é uma mistura de ambos os tipos. O Caráter Necrófilo Extremo
seria psicótico ou insano e o Biófilo Extremo seria um santo. Nenhum deles se daria
bem no mundo real. Fromm encarava essa formulação dos tipos Necrófilo e Biófilo
como um retorno às ideias freudianas. Um biógrafo observou:
“Apesar da postura resolutamente anti-instintivista de Fromm, suas ideias
nos seus últimos dias de vida, polarizadas como se estivessem entre forças
que promoviam a vida e a morte, acabaram se assemelhando às de Freud em
vários aspectos” (Burston, 1991, p. 73).

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 88
Os Tipos de Caráter “Ter” versus “Ser” foram propostos nos últimos trabalhos
escritos, To Have or to Be? (1976) e The Art of Being (1992)5.
“Ter” é uma Orientação Não Produtiva e “Ser” é uma Orientação Produtiva.

 Orientação de Ter.
Tipo de caráter no qual a definição e o significado da vida de uma pessoa estão nas posses, no que ela
tem, e não no que ela é.

 No Tipo de Caráter de Ter, a definição e o significado da vida de uma pessoa


estão nos bens que possui. Essa orientação envolve não só os bens materiais, como
carros, casas ou joias, mas também as pessoas e até bens intangíveis, como ideias. “As
pessoas deste tipo dizem para o mundo e para si mesmas: „Eu sou o que tenho e o que
consumo‟ (...) A minha propriedade constitui a minha pessoa e a minha identidade”
(Fromm, 1976, pp. 27,77). Estas pessoas definem os seus valores em termos de como os
seus bens se comparam aos dos outros. Elas são extremamente competitivas e não
param na luta para ultrapassar o valor dos amigos e conhecidos. No processo, elas se
alienam dos outros e os antagonizam.
Fromm sugeriu que o Tipo de Caráter de Ter era semelhante à personalidade
retentora proposta por Freud. O tipo freudiano foi descrito como avarento, inflexível e
metódico, concentrado no ato de ter, poupar e acumular bens materiais. Freud
considerava a personalidade retentiva anal patológica e que uma sociedade formada por
pessoas com esse tipo de personalidade seria uma sociedade doente. Da mesma forma,
Fromm achava que qualquer sociedade na qual a maioria das pessoas fosse do tipo de
ter era uma sociedade doente.

 Orientação de Ser.
Tipo de caráter no qual as pessoas se definem em termos do que são, e não do que têm. O seu autovalor
vem de dentro, e não da comparação com os outros.
 No Tipo de Caráter de Ser, as pessoas definem-se em termos do que são, e
não do que têm. Os tipos de ser não são tão competitivos. A sua definição de autovalor
vem de dentro e não da comparação com os outros. Elas colaboram, amam e vivem
produtivamente com os outros. Compartilhar com os outros em vez de lutar para superá-
los aumenta a sua alegria de viver. Como podemos ver, o Tipo de Caráter de Ser tem
muito em comum com o Tipo Biófilo.
Fromm descreveu as pessoas com tipo de caráter de ser como participantes da
vida, que experimentam, se concentram no presente e estão sintonizadas com o self e a
sociedade. Ele argumentou que era possível criar uma vida de ser através da psicanálise
e da autoanálise e descreveu procedimentos específicos para a auto melhora, como a
livre associação e a análise autobiográfica, que estimulariam a criação da orientação
produtiva de ser.

Questões sobre a Natureza Humana


Fromm apresentou um quadro otimista da natureza humana. Ao contrário de
Freud, não considerava as pessoas condenadas ao conflito e à ansiedade por forças
biológicas imutáveis. Segundo Fromm, somos moldados pelas nossas características
sociais, políticas e econômicas. No entanto, essas forças não determinam
completamente o nosso caráter. Não somos marionetes que reagem aos barbantes

5
O livro The Art of Being contém vários capítulos escritos para o livro To Have or to Be?, de 1976, mas
que só foram publicados após a morte de Fromm.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 89
puxados pela sociedade; temos um conjunto de qualidades ou mecanismos psicológicos
pelos quais moldamos a nossa natureza e a nossa sociedade (ver figura abaixo).

A Visão de Fromm da Natureza Humana


Livre-Arbítrio Determinismo
Natureza Criação
Experiências Passadas Experiências Presentes
Singularidade (Ego e Superego) Universalidade
Equilíbrio Crescimento
Otimismo Pessimismo
Fromm achava que temos uma tendência inata a crescer, nos desenvolver e
realizar o nosso potencial. Essa é a nossa maior tarefa na vida. A nossa meta máxima e
necessária. Não atingir uma orientação produtiva, não nos tornarmos o que podemos
nos tornar, resulta em infelicidade e até doença mental. Embora Fromm tenha proposto
a universalidade da personalidade, um caráter social comum numa determinada cultura,
ele também achava que cada pessoa é diferente. Ter uma identidade como indivíduo
único é uma necessidade humana básica. Ele não achava que nós somos inerentemente
bons ou maus, mas que podemos nos tornar maus se não realizarmos o nosso potencial.
Considerações Finais
A importância de Fromm para a psicologia está no seu foco nas forças sociais,
históricas e culturais e no papel delas na formação da personalidade.
Fromm deu-nos uma interpretação singular da interação entre as pessoas e a sua
sociedade, ele nos deixou cientes do impacto contínuo e inter-relacionado dos fatores
sociais, econômicos e psicológicos na natureza humana e confirmou que a
personalidade não é produto de um único conjunto de fatores, mas sim o resultado de
uma interação de forças e eventos. Além disso, desafiou-nos a pensar além das
fronteiras de qualquer disciplina e nos incitou a criar uma sociedade mais humana. A
sua contribuição vai além da psicanálise e da psicologia, incluindo o espectro de
problemas sociais que preocupam todos nós.

Referência Bibliográfica:
Schultz, Duane P. e Schultz, Sydney Ellen. (2002). Teorias da Personalidade. Tradução de Eliane
Kanner. Revisão técnica de Maria Helena Leal de Barros Berkers. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning.

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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira

A TEORIA DA PERSONALIDADE DE GORDON ALLPORT


(1897-1967)

 História Pessoal de Gordon Allport


Gordon Willard Allport nasceu em Montezuna (Indiana), nos E.U.A, em 11 de
novembro de 1897, sendo o caçula de 4 irmãos. Seu pai era vendedor. Allport se formou
em Medicina e, na época em que cursava a faculdade, seu pai passou a contrabandear
drogas do Canadá, para o sustento da família. Sua mãe era professora primária; suas
convicções e práticas religiosas dominavam a família, não se podia: beber, fumar,
dançar, jogo de cartas. Também era proibido o uso de cores fortes e joias de qualquer
espécie. Allport descreve a mãe como sendo muito severa e rigorosa e com um forte
senso moral (de certo e errado).
Allport se descreve como uma criança tímida e estudiosa, vivendo uma infância
completamente isolada, pois era jovem demais para brincar com seus irmãos, isolando-
se também das outras crianças... “Angustiava-me no playground, nunca me dei bem
realmente com meus irmãos, eles também não gostavam de mim... Não eram gentis,
todos eram mais másculos que eu”. Também se descrevia sendo bom e habilidoso com
as palavras, mas não se simpatizava com esportes e jogos. Com isolamento e rejeição,
Allport desenvolveu sentimentos de inferioridade, e tentava compensar lutando para se
sobressair. À medida que foi crescendo, começou a se identificar com seu irmão mais
velho (Floyd), talvez com inveja dos feitos deste.
Na idade adulta, na tentativa de continuar a ser igual ou melhor que o irmão, seu
senso de identidade ainda era ameaçado para afirmar sua individualidade. Allport então,
se sentiu motivado a refutar a sua identificação com seu irmão, Floyd, declarando em
sua Teoria da Personalidade, que seus motivos e interesses eram independentes dos seus
sentimentos de infância; posteriormente, essa ideia seria o conceito de Autonomia
Funcional.
Em 1915, Allport solicitou matrícula em Harvard e foi aceito. Seu interesse pela
ética e assistência social que já vinha de seus pais, foi reforçado. Ele fez trabalho
voluntário para um clube de rapazes, um grupo de operários de fábrica e outro de alunos
estrangeiros, além de trabalhar como vigilante de réus; considerava suas atividades
gratificantes porque realmente gostava de ajudar as pessoas: “Isso me dava uma
sensação de competência para compensar uma sensação generalizada de inferioridade”.
Formou-se bacharel em Direito em 1919, logo após passou um ano em Istambul
(Turquia), aceitando depois a Bolsa de Estudos que Harvard lhe ofereceu para o curso
de pós-graduação em Psicologia.
A ideia de cursar pós-graduação em Psicologia, depois de se formar em Direito,
talvez seja por querer se tornar mais parecido com seu irmão e também por seu encontro
com Freud em 1920, pois, como o próprio Allport dizia, “foi traumático”, devido ele ter
chegar ao consultório e contar uma história onde se referia a um menino com pavor de
sujeira. Freud perguntou-lhe se era ele o garoto da história, então Allport suspeitava que
a psicanálise investigasse o inconsciente de uma forma excessivamente profunda, como

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Freud tentou fazer com ele. Allport decidiu que sua Psicologia deveria prestar mais
atenção ao consciente ou nas motivações visíveis.
Após concluir a pós-graduação, em 1922, onde apresentou a tese "Estudo
Experimental dos Traços de Personalidade", prenunciava a obra de sua vida e foi a
primeira pesquisa feita sobre os Traços de Personalidade, nos Estados Unidos. Em
1930, ele retornou para a faculdade de Psicologia de Harvard, onde lecionou ética
social, em uma tentativa de efetuar uma integração parcial da Psicologia, da Sociologia
e da Antropologia.
Além disso, ele parecia muito mais apresentar questões de uma maneira saliente,
provocativa. Assim, poderíamos dizer que Allport é um dos teóricos e psicólogos mais
ardentemente criticados, mas considerado experiente, tanto que recebeu muitos prêmios,
incluindo a medalha de ouro da American Psychological Foundation.
Em 1964, Allport aposentou-se e faleceu em Cambridge, no dia 9 de outubro de
1967.

ESTRUTURA E A DINÂMICA DA PERSONALIDADE


A Estrutura da Personalidade de Allport é, primeiramente, representada em
termos de traços que ocupam a posição do constructo motivacional mais importante.
Assim, Estrutura e Dinâmica é, de modo geral a mesma coisa. Nessa teoria, o Traço
era, para Allport, o que a Necessidade era para Murray e o Instinto era para Freud.
O ecletismo de Gordon Allport se reflete na rica variedade de conceitos que,
para ele, desempenham um papel útil na descrição do comportamento humano. Allport
considerava conceitos segmentais como reflexos específicos e tão amplos como Traços
Cardinais ou Proprium (Self), importantes para se entender o comportamento. Via os
processos referidos por esses conceitos, como operando dentro do organismo de uma
maneira hierárquica, de modo que os mais gerais normalmente tem precedência sobre os
mais específicos.

 Personalidade, Caráter e Temperamento


Allport examinou cerca de 50 definições de personalidade e tentou combinar os
melhores elementos das definições, antes de apresentar a sua própria → “A
Personalidade é a organização dinâmica, dentro do individuo, dos sistemas
psicofísicos que determinam comportamento e pensamento característicos”.
Certos aspectos, dessa definição, merecem ênfase especial. Com a “organização
dinâmica” enfatiza o fato de que a personalidade está constantemente se desenvolvendo
e mudando. O termo “psicofísico” lembra que a personalidade é composta de mente e
corpo atuando juntos, como uma unidade. A “personalidade” não é nem
exclusivamente mental, nem exclusivamente biológica. Com a palavra “determinam”
ele quer dizer que todas as facetas da personalidade ativam ou orientam
comportamentos e ideias específicos. A expressão “comportamento e pensamentos
característicos” significam que tudo o que pensamos e fazemos é característico ou
típico da nossa pessoa. Portanto, cada pessoa é diferente.
Embora os termos Personalidade e Caráter tenham sido, muitas vezes, usados
intercambiavelmente, Allport sugeriu que Caráter é um conceito ético e afirmou “Nós

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preferimos definir o Caráter como a personalidade avaliada, e a Personalidade como o
caráter sem valorização” (1961, p.32).
Temperamento e Personalidade também são frequentemente confundidos.
Temperamento comumente se refere àquelas disposições estreitamente ligadas a
determinantes biológicos, que portanto, mudam relativamente pouco com o
desenvolvimento.

 Hereditariedade e Ambiente
A Hereditariedade fornece a matéria prima da personalidade (como físico, a
inteligência e o temperamento), que pode ser moldada, ampliada ou limitada pelas
condições do nosso Ambiente. O nosso histórico genético é responsável pela maior
parte da nossa singularidade, não existindo duas pessoas com personalidades idênticas,
nem mesmo irmãos criados na mesma casa, com exatamente o mesmo ambiente social.
Portanto, Allport concluiu que, para estudar a personalidade, a psicologia tem de lidar
com cada caso individualmente.

 Traços
Os Traços são formas constantes e duradouras de reagir ao nosso ambiente,
então Allport resumiu as Características dos Traços da seguinte maneira:
1. Os Traços de personalidade são reais e existem em cada um de nós → eles
não são constructos teóricos ou rótulos criados para explicar comportamentos.
2. Os Traços determinam ou causam o comportamento → eles não surgem
apenas em resposta a certos estímulos; motivam-nos a buscar os estímulos
adequados e interagem com o ambiente para produzir comportamentos.
3. Os Traços podem ser demonstrados empiricamente → observando o
comportamento ao longo do tempo, podemos inferir a existência de traços na
consistência das respostas de uma pessoa ao mesmo estímulo ou a um
estímulo semelhante.
4. Traços são inter-relacionados → eles podem sobrepor-se, embora
representem características diferentes. Por exemplo, a agressividade e a
hostilidade são traços diferentes, mas estão relacionados um com o outro, e
frequentemente são observados ocorrendo juntos no comportamento de uma
pessoa.
5. Os Traços variam de acordo com a situação → por exemplo, uma pessoa
pode apresentar traço de asseio numa situação e traços de desordem em outra.

Para Allport os Traços são características diferenciadoras que regem o


comportamento. Eles são medidos num Continuum e estão sujeitos a influências
sociais, ambientais e culturais. São “tendências” livres, e sua expressão é levemente
diferente, porque ocorre em face de “condições determinantes” diferentes, no entanto,
são inferidos a partir do comportamento não diretamente observado.
Contudo Gordon propôs dois Tipos de Traços: Os Individuais, que são
peculiares da pessoa e definem o seu caráter e, os Comuns, que são compartilhados por
uma série de indivíduos, como os membros de uma cultura.
As Disposições Pessoais vêm para substituir os traços individuais.
Dividindo-se em:

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 93
ͽ Traços Cardinais → é tão penetrante e influente que afetam quase todos os
aspectos da vida, sendo mais difundidos e poderosos. Ex: sadismo e
chauvinismo.
ͽ Traços Centrais → são aqueles traços especiais que melhor descrevem o
comportamento humano. Ex: agressividade, auto piedade e cinismo.
ͽ Traços Secundários → são menos importantes que uma pessoa pode
apresentar tênue ou inconscientemente.

O que podem influenciar os Traços acima são os Hábitos e as Atitudes, que são
capazes de iniciar e orientar um comportamento.
ͽ Hábitos → são respostas específicas e inflexíveis a determinados estímulos.
Vários hábitos podem combinar para formar um Traço, por isso tem um
impacto mais limitado.
ͽ Atitudes → as atitudes são semelhantes aos traços, mas elas têm objetos de
referência específicos e envolvem avaliações positivas e negativas.
 Então, torna-se difícil diferenciar Hábitos e Atitudes.

 Autonomia Funcional
Allport propõe que os motivos dos adultos maduros e emocionalmente saudáveis
não estão funcionalmente ligados às experiências anteriores, ou seja, o que quer que
tenha acontecido no passado, é exatamente isso: “passado”. Ele não explica o
comportamento adulto, a menos que exista como uma força motivadora no presente.
Allport então propôs dois Níveis de Autonomia Funcional:
ͽ Autonomia Funcional Perseverativa → É o nível mais elementar e
preocupa-se com comportamentos como vícios e ações físicas repetitivas, são
comportamentos que continuam ou perseveram, por conta própria, sem
nenhuma recompensa externa. Está relacionado com comportamentos de
nível inferior ou rotineiros.
ͽ Autonomia Funcional do Proprium → É fundamental para compreensão
da motivação adulta, está associado a nossos valores, autoimagem e estilo de
vida, por isso nós mantemos os motivos que aumentam a nossa autoimagem e
autoestima. Essa autonomia deriva-se do Proprium, que é o termo utilizado
por Allport para o Ego ou para o Self.

“Um prejuízo, ao contrário de uma ideia


equivocada, é ativamente resistente a todas as
provas que intencionam desmenti-lo”.

(Gordon Allport)

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 94
 Proprium
As funções próprias, verdadeiras e vitais da personalidade, juntas constituem o
Proprium → onde se encontra a raiz da consistência que marca as atitudes, intenções e
avaliações. O Proprium não é inato, mas se desenvolve ao longo do tempo.

Desenvolvimento do Proprium
Infância Adolescência

FASE FASE FASE FASE FASE FASE FASE


1 2 3 4 5 6 7
(Nascimento até ¾ anos) (De 4 a 6 anos) (De 6 a 12 anos) (Adolescência)
Fase 1 Fase 4 Fase 6 Fase 7
(Eu Corporal) (Extensão do Eu) (O Self como uma (Luta pela
Conhecimento do As crianças passam Solução Racional) Autonomia)
Próprio Corpo: dedos e a reconhecer as suas Quando percebem Começam a
partes do corpo. coisas e as coisas que a razão e a formular planos e
que pertencem ao lógica podem ser metas para o futuro.
seu mundo. aplicadas para Enquanto não
solucionar fizerem isso o seu
problemas. Proprium
permanecerá
incompleto.
Fase 2 Fase 5
(Self-Identify) (Autoimagem)
A identidade não muda Percebem como os
mesmo com as outros a veem.
mudanças ocorrendo Como ele se vê e
ao redor. como ela quer ser
vista.
Fase 3
(Autoestima)
A criança aprende que
é capaz de conseguir as
coisas por mérito.

 Intenções
Mais importante que a busca do passado ou da história do indivíduo é a simples
pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca em seu futuro. “As esperanças, os
desejos, as ambições, as aspirações e os planos da pessoa estão todos representados sob
o termo geral Intenção”, e aqui se manifesta uma das diferenças características entre
Allport e a maioria dos outros teóricos contemporâneos da personalidade, onde muitos
deles voltaram-se para o passado, buscando a chave que desvendaria o enigma do
comportamento presente, enquanto o próprio Allport voltou-se para o futuro pretendido.
Essa teoria afirma que aquilo que o indivíduo está tentando fazer é a chave mais
importante para o “como” a pessoa vai se comportar no presente.

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 95
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
– DUAS PERSONALIDADES DISTINTAS –

Allport não encontrou continuum de personalidade entre a infância e a idade


adulta, sendo assim, cada adulto está separado do seu passado existindo duas
personalidades: uma opera a infância e outra para a idade adulta. O comportamento
infantil é orientado pelas necessidades e os reflexos biológicos primitivos, enquanto o
funcionamento adulto é de natureza mais psicológica e esta não é limitada pelas
experiências da infância.

 O Bebê
Allport considerava o recém-nascido uma criatura quase inteiramente constituída
por hereditariedade, pulsão primitiva e existência reflexa. Sendo assim não considerava
o neonato como possuindo uma personalidade. No nascimento, o bebê está inatamente
dotado de certas potencialidades físicas e temperamentais. Além disso, ele é capaz de
responder com alguns reflexos altamente específicos, como sugar e engolir, a estímulos
claramente delimitados.
Assim, motivada pela necessidade de minimizar a dor e maximizar o prazer, e
com essas condições determinadas, em grande parte, pela redução de tensões viscerais,
segmentais, a criança prossegue em seu desenvolvimento.
Allport achava que já no 1º ano de vida, o bebê começa a mostrar qualidades
distintivas, por exemplo, na expressão emocional, que tendem a persistir e a fundir-se
em modos mais maduros de ajustamento. Allport concluiu que o bebê, por volta da 2ª
metade do 1º ano de vida, está, definitivamente, começando a mostrar qualidades
distintivas que, presumivelmente, representam atributos de personalidade permanentes.
No entanto, ele afirmava que “em certo sentido, o 1º ano de vida é menos importante
para a personalidade, desde que não ocorram danos sérios para a saúde”.
ͽ Transformação do Bebê
Uma grande variedade de mecanismos ou princípios é considerada para
descrever as mudanças que ocorrem entre o período de bebê e a idade adulta. Allport
discutiu especificamente Diferenciação; Integração; Maturação; Imitação;
Aprendizagem; Autonomia Funcional e Extensão do Self.
Em grande parte, devido à essa descontinuidade ente a estrutura motivacional
inicial e posterior do indivíduo, nós temos, essencialmente, duas teorias da
personalidade. Na primeira, um modelo biológico, ou da redução de tensão, é adequado
no nascimento e vai se tornando cada vez menos adequado, até que, com a crescente
Consciência do Self, sendo a segunda, o indivíduo envolve motivos que previamente
motivam o comportamento. Nesse ponto, é necessária uma reorientação para podermos
representar o indivíduo adequadamente.
Portanto, temos um Ego crescente, uma estrutura de traços cada vez mais ampla
e um cerne de futuras metas e aspirações. Essa transformação da primeira personalidade
para a segunda é crucial para o papel desempenhado pela Autonomia Funcional.

 O Adulto
Temos agora, no indivíduo maduro, uma pessoa cujos maiores determinantes do
comportamento são um conjunto de traços organizados e congruentes. Eles surgem de
várias maneiras. Segundo Allport, “O que impulsiona o comportamento, impulsiona
agora”, e não precisamos saber a história da pulsão para compreender sua operação. Em

Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 96
uma extensão considerável, o funcionamento desses traços é consciente e racional. Os
indivíduos normais sabem bem, como regra, “o que” estão fazendo e “por quê”.
Um entendimento completo do adulto não é possível sem o conhecimento de
suas metas e aspirações. Seus motivos mais importantes não são ecos do passado e sim
acenos do futuro. Sendo assim, a personalidade adulta vem da infância, mas não é mais
dominada ou determinada por impulsos. Na maioria dos casos, saberemos mais sobre
aquilo que uma pessoa vai fazer se conhecermos seus planos conscientes.
Nem todos os adultos atingem a plena maturidade. Existem indivíduos crescidos
cujas motivações ainda cheiram berçário. Alguns não parecem orientar seu
comportamento em termos de princípios claros e racionais. Apenas no indivíduo
seriamente perturbado que encontramos um adulto cujo comportamento está mais
estreitamente ligado a eventos que ocorreram na infância do que a eventos ocorrendo
agora ou no futuro, sendo assim Allport não explicou se o adulto neurótico pode
contrabalancear ou superar experiências infelizes na infância.
Allport estava mais interessado no Crescimento Psicológico Positivo. Examinou
detalhadamente as qualidades que permitem um ajustamento “normal” e diante disso
estabeleceu seis critérios. São eles:

 A personalidade madura precisa possuir antes de tudo uma Extensão do Self, isto é, sua
vida não deve estar limitada a um conjunto de atividades estreitamente ligadas às suas
necessidades e a seus deveres imediatos. A pessoa deve ser capaz de participar de uma
ampla variedade de atividades diferentes e apreciá-las. As satisfações e as frustrações
devem ser muitas e diversas. Uma parte importante dessa Extensão do Self envolve
uma projeção no futuro – planejar, esperar.
 Para a maturidade, o indivíduo também precisa ser capaz de relacionar-se
calorosamente com outros em contato tanto íntimos como não íntimos.
 A auto aceitação do adulto maduro o ajuda a obter uma segurança emocional
fundamental e uma aceitação do Self.
 O indivíduo deve ser realisticamente orientado tanto em relação a si mesmo (auto
objetivação) como em relação à realidade externa. Desenvolve habilidades pessoais e
se compromete com algum tipo de trabalho.
 Os dois componentes principais da Auto Objetivação são o Humor e o Insight. O que
se quer dizer com Insight é a capacidade do indivíduo de compreender-se. Um senso
de Humor implica não só a capacidade de divertir-se e rir nos lugares costumeiros, mas
também a capacidade de manter relações positivas consigo mesmo e com os objetos
amados, sem deixar de ver as incongruências e os absurdos a eles relacionados.
 Finalmente, o indivíduo maduro possui uma filosofia de vida unificadora. Embora os
indivíduos devam poder ser objetivos e divertir-se com os eventos comuns da vida,
também deve haver uma grande seriedade subjacente que dá propósito e significado a
tudo que eles fazem, ou seja, é responsável pela condução da personalidade na direção
de metas futuras.
Se atendermos a esses seis critérios, os adultos podem ser descritos como
emocionalmente saudáveis e funcionalmente autônomos. Consequentemente, eles lidam
com o presente e planejam o futuro sem serem vítimas das experiências vividas nos seus
primeiros anos de vida. Portanto, temos a visão singular de Allport sobre a Natureza da
Personalidade. Ele enfatizou o consciente, o presente e o futuro, reconheceu a
singularidade da personalidade e optou por estudar a personalidade normal.

Referências Bibliográficas
 Hall, Calvin S.; Lindzey, Gardner & Campbell, John B. 4ª Ed. (2000). Teorias da Personalidade.
 Schultz, Duane P. & Schultz, Sydney Ellen. 9ª Ed. (2011). Teorias da Personalidade.

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