Teoria Da Personalidade I
Teoria Da Personalidade I
Teoria Da Personalidade I
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 1
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria
personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra
vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
(Cora Coralina)
As circunstâncias entre as quais você vive determinam sua reputação...
A verdade em que você acredita determina seu caráter...
A reputação é o que acham que você é;
o caráter é o que você realmente é...
A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova;
o caráter é o que você tem quando vai embora.
A reputação é feita em um momento;
o caráter é construído em uma vida inteira...
A reputação torna você rico ou pobre;
o caráter torna você feliz ou infeliz...
A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura;
o caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus.
(William Hersey Davis)
Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que
nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...
(...)
Agora de uma coisa eu tenho certeza:
sempre devemos ser autênticos,
as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser...
Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência.
(...)
Que desafio, hein?
“... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la...”
(Clarice Lispector)
O homem de palavra fácil e personalidade agradável
raras vezes é homem de bem.
(Confúcio)
Eu tenho um sonho.
O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade,
não pela cor de sua pele.
(Martin Luther King)
A personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade:
quem o usa é o único que o não sente.
(Gilbert Cesbron)
A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma,
porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente da sua independência.
(Albert Einstein)
O primeiro efeito de um excessivo amor pela riqueza é a perda da própria personalidade.
Quanto menos se amam as coisas, mais se é pessoa.
(Vitaliano Brancati)
Ser você mesmo em um mundo que está constantemente tentando fazer de você outra coisa,
é a maior realização.
(Ralph Waldo Emerson)
O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se
alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação.
(Jung)
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SUMÁRIO
4. . Introdução ao Existencialismo 24
. Teoria da Existência 26
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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
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Distinção entre a Psicologia Tradicional e a Teoria da Personalidade
Psicologia Tradicional Teoria da Personalidade
1) Mais presa a operações experimentais ou 1) Mais especulativa. Desenvolve teorias
de medida → influência do positivismo. multidimensionais e mais complexas.
2) Teorias menos vagas e mais específicas. 2) Teorias mais vagas e menos específicas.
3) Contenta-se em fixar a atenção sobre uma 3) Aceita qualquer aspecto do comportamento
relação limitada de observações e que apresente significado funcional como
registros. dado legítimo para o esquema teórico.
4) Vê o comportamento como um dos muitos 4) Vê a motivação, o “porquê” ou os impulsos
problemas e procura estudá-lo por meio de subjacentes do comportamento como
um pequeno número de conceitos problema teórico e empírico fundamental.
intimamente ligados a processos
fisiológicos.
O que é Personalidade
I. Conceituações de Uso Comum:
f) Personalidade relaciona-se com habilidades sociais: a eficiência em produzir
reações positivas ou não, em diversas pessoas e em diversas situações.
g) Personalidade avaliada pela impressão que o indivíduo causa em outras
pessoas. Ex.: personalidade “agressiva”, “passiva”, “tímida”.
Ambas possuem um elemento de valoração → bom ou mau.
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IMPORTANTE:
Nenhuma definição substantiva de personalidade pode ser generalizada.
O modo pelo qual uma pessoa define personalidade depende inteiramente da sua
preferência teórica.
A personalidade é definida por conceitos empíricos particulares que são uma parte
da teoria da personalidade empregada pelo observador.
É impossível definir personalidade sem a aceitação de uma linha teórica de
referência dentro da qual a personalidade será pesquisada.
O que é Teoria
I) Conceitos
Teoria:
Um conjunto de convenções criadas pelo teórico.
Uma hipótese não consubstanciada ou uma especulação a respeito da
realidade que não é ainda definidamente conhecida.
Constituída de um conjunto de hipóteses relacionadas com fenômenos
empíricos relevantes e de definições empíricas que permitem ao
pesquisador passar da teoria à observação empírica.
As teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, embora suas implicações
possam ser verdadeiras ou falsas.
Uma teoria é apenas útil ou inútil e essas qualidades são definidas conforme a
eficiência da teoria para criar proposições sobre eventos relevantes que
venham a ser comprovados.
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Uma Teoria da Personalidade
Uma Teoria da Personalidade deve ser: (Ideal)
a) Um conjunto de hipóteses relevantes para o comportamento humano,
juntamente com as necessárias definições empíricas.
b) Capaz de abranger um campo amplo do comportamento humano e fazer
predições sobre ele.
c) Capaz de tratar qualquer fenômeno do comportamento que tenha significado
para o indivíduo.
Na realidade, a maior parte das Teorias da Personalidade:
a) Não são apresentadas de maneira ordenada e correta.
b) Falta-lhes clareza relativa à natureza dos postulados que as fundamentam.
c) Parecem orientadas mais para a persuasão do que para a exposição.
d) Há uma frequente confusão entre o que é dado ou suposto e o que é
estabelecido empiricamente e posto à prova (derivações ou predições).
e) Embora variem quanto à especificação das definições empíricas, nenhuma
delas atinge um padrão alto em termos absolutos.
2) Atributos Substantivos:
São atributos de natureza fundamental da teoria. São neutros e apenas refletem
determinadas hipóteses relativas ao comportamento.
a) As Qualidades Propositivas ou Teleológicas como aspectos do
comportamento.
b) Os Determinantes Conscientes e Inconscientes do comportamento.
c) A importância do Hedonismo, da Recompensa ou do Efeito.
(Busca do prazer e afastamento da dor).
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d) O Princípio da Associação (Contiguidade) → a ocorrência simultânea de S-R
que leva à aprendizagem.
e) A Importância do Processo da Aprendizagem, ou à modificação do
comportamento.
f) A Importância da Genética, ou dos Fatores Hereditários (X Ambientalismo)
na determinação do comportamento.
g) A Importância às Experiências Iniciais do Desenvolvimento (X Fatores
Contemporâneos).
h) A Continuidade ou Descontinuidade do comportamento nos diferentes
estágios do desenvolvimento.
i) A Aceitação dos Princípios Holistas (Posição Organísmica e Ênfase do
Campo X Estudos Parciais e Analíticos).
j) A Questão da Singularidade ou Individualidade.
k) A Questão da Amplitude da Unidade de Comportamento empregada na
análise da personalidade. (Abordagem Molar (Geral) X Abordagem
Molecular (Específica)).
l) Os Mecanismos Homeostáticos (de Auto-regulação) → tendência vital e
automática na manutenção de um estado psicológico equilibrado e estável.
m) A Importância do Meio Psicológico ou do Esquema Subjetivo de Referência
(X Meio Físico ou da Realidade Objetiva).
n) O Auto-Conceito como chave para a compreensão de difíceis fatos do
comportamento.
o) A Participação do Indivíduo no Grupo (Determinantes Sócio-Culturais).
p) A Questão da Abordagem Interdisciplinar (X Psicologicismo).
q) O Número de Conceitos Motivacionais empregados nas Teorias da
Personalidade.
(Motivos Primários ou Inatos e Motivos Secundários ou Adquiridos).
r) O Uso de Referências Normativas para o Comportamento.
(Comportamento Normal ou Superior X Comportamento Anormal ou
Patológico).
P
E
R
S
O
N
A
Referência Bibliográfica:
Hall, C. S.; Lindzey, G. & Campbell, J. B. (2000). Teorias da Personalidade. 4a ed., Porto
Alegre: Artes Médicas Sul.
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CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
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refletem a personalidade do teórico, incluímos uma quantidade substancial de
informações sobre cada um deles. As diferenças de personalidade entre eles, de fato,
respondem por diferenças fundamentais entre aqueles que se inclinam na direção da
psicologia quantitativa (behavioristas, teóricos do aprendizado social e teóricos de
traços) e aqueles voltados aos aspectos clínicos e qualitativos da psicologia
(psicanalistas, humanistas e existencialistas).
Embora a personalidade de um teórico molde parcialmente sua teoria, ela não
deveria ser o seu único determinante. Do mesmo modo, sua aceitação de uma ou de
outra teoria não deveria basear-se somente em seus valores e em suas predileções
pessoais. Ao avaliar e escolher uma teoria, deve-se reconhecer o impacto da história
pessoal do teórico, mas deverá avaliá-la, em última instância, com base em critérios
científicos independentes desta história pessoal. Alguns observadores (Feist, 2005; Feist
e Gorman, 1998) estabeleceram uma distinção entre Ciência como Processo e Ciência
como Produto. O processo científico pode ser influenciado pelas características
pessoais do cientista, mas a utilidade final do produto científico é e deve ser avaliada
independentemente do processo.
Assim, sua avaliação de cada uma das teorias apresentadas deve basear-se mais
em critérios objetivos do que em suas preferências subjetivas.
Teorias Psicodinâmicas
Sigmund Freud (1856-1939) – Psicanálise.
Alfred Adler (1870-1937) – Psicologia Individual.
Carl G. Jung (1875-1961) – Psicologia Analítica.
Melanie Klein (1882-1960) – Teoria das Relações Objetais.
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Karen Horney (1880-1952) – Teoria Sociopsicanalítica.
Erich Fromm (1900-1980) – Psicanálise Humanista.
Harry Stack Sullivan (1892-1949) – Teoria Interpessoal.
Erik Erikson (1902-1994) – Teoria Pós-Freudiana.
Teorias Humanistas/Existenciais
Abraham H. Maslow (1908-1970) – Teoria Holístico-Dinâmica.
Carl Rogers (1902-1987) – Teoria Centrada no Cliente.
Rollo May (1909-1994) – Psicologia Existencial.
Teorias Disposicionais
Gordon Allport (1897-1967) – Psicologia do Indivíduo.
Hans Eysenck (1916-1997), Robert R. McCrae (1949-) e Paul T. Costa
Jr.(1942-) – Teoria dos Traços e dos Fatores.
Teorias de Aprendizagem
B. F. Skinner (1904-1980) – Análise Comportamental.
Albert Bandura (1925-) – Teoria Sociocognitiva.
Julian Rotter (1916-) e Walter Mischel (1930-) – Teoria da Aprendizagem
Sociocognitiva.
George Kelly (19051967) – Psicologia dos Constructos Pessoais.
Referência Bibliográfica:
Feist, Jess & Feist, Gregory, J. (2008). Teorias da Personalidade. Tradução: Ivan Pedro Ferreira
Santos, Cecília Mattos, Wilson Crestani. Revisão Técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes
Silva, Odette de Godoy Pinheiro. São Paulo: McGraw-Hill.
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Visão Geral das Oito Perspectivas Ocidentais da Personalidade:
Perspectiva Psicanalítica da Personalidade → os aspectos psicanalíticos da
personalidade, concentram-se no inconsciente. Curiosamente, na psicologia o estudo
sobre o inconsciente mais uma vez passou a ser uma área significativa da pesquisa em
andamento. Hoje não há dúvida de que no cérebro existem subsistemas complexos e
ocultos, exatamente como Freud postulou.
Perspectiva Neo-Analítica/Ego da Personalidade → enfatiza os aspectos Ego
ou Self da Personalidade, reconstituindo conceitos sobre o Self desde o trabalho de
Alfred Adler sobre o complexo de inferioridade até, precisamente, a moderna teorização
sobre personalidade múltipla. As Teorias sobre como e por que temos uma percepção
do Self continuam a fascinar os psicólogos.
Perspectiva Biológica da Personalidade → da mesma forma que as pessoas
nascem de diferentes tamanhos, aspectos e cores, elas diferem relativamente entre si no
que se refere aos sistemas biológicos. Os aspectos biológicos da personalidade são, às
vezes, negligenciado nos textos sobre personalidade. A característica de um indivíduo
de natureza emocional e motivacional, em geral conhecida como temperamento, é
influenciada significativamente por vários fatores biológicos. Esses temas vêm atraindo
a atenção de cientistas de vanguarda desde a época de Charles Darwin. Hoje, novos
avanços na teoria da evolução e na compreensão da genética humana estão sendo
aplicados na psicologia da personalidade.
Perspectiva Behaviorista e da Aprendizagem da Personalidade → os aspectos
behavioristas e de aprendizagem da personalidade, partem do trabalho do behaviorista
radical B. F. Skinner, examinando até que ponto a personalidade pode ser “encontrada”
no ambiente externo.
Perspectiva Cognitiva e Sociocognitiva da Personalidade → os aspectos
cognitivos da personalidade concentram-se na consistência entre uma pessoa e outra no
que tange à percepção e à interpretação do mundo à sua volta. As abordagens cognitivas
estão cada vez mais se associando à psicologia social e transformando-se em
abordagens sociocognitivas da personalidade, como as ideias de Albert Bandura sobre a
importância da auto-eficácia.
Perspectiva do Traço e da Habilidade (Genética) da Personalidade → no
início do século XX, o psicólogo Gordon Allport, da Universidade de Harvard
desenvolveu, quase sozinho, abordagens surpreendentes sobre traços da personalidade,
enfoques que desde então passaram a dominar essa área, embora recentemente tenha
ressurgido o interesse científico por essas abordagens. Hoje, ideias sobre cinco
dimensões básicas de traço fornecem uma moeda única para a reflexão a respeito dos
traços da personalidade. (Técnicas eficientes de avaliação do indivíduo.)
Perspectiva Humanista e Existencial da Personalidade → os aspectos
humanísticos e existenciais da personalidade concentram-se na autonomia e auto-
realização. A Teoria de Carl Rogers parece servir como base para compreender os seres
humanos unicamente humanos.
Perspectiva Interacionista Pessoa-Situação da Personalidade → os aspectos
interacionistas pessoa-situação é a mais moderna abordagem sobre personalidade. As
pessoas expressam sua personalidade de diferentes maneiras (selves) em diferentes
situações.
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Os Oito Aspectos Básicos da Personalidade
Perspectiva Teórica Principal Característica e Principais Teóricos
Observação das influências inconscientes; importância dos
1. Psicanalítica
impulsos sexuais mesmo em esferas não sexuais.
Principais Teóricos: Sigmund Freud
Ênfase no self em sua luta para lidar com emoções e impulsos
2. Neo-Analítica/Ego
no mundo interior e as exigências de outras pessoas no mundo
exterior.
Principais Teóricos: Alfred Adler; Carl G. Jung; Erik Erikson;
Karen Horney.
Outros Teóricos: Anna Freud; Heinz Hartmann; Heinz Kohut;
Henry Murray; Margaret Mahler; Melanie Klein.
Enfoque nas tendências e nos limites impostos pela herança
3. Biológica
biológica; pode ser facilmente associada com a maioria das
outras abordagens.
Principais Teóricos: Hans Eysenck; Ivan Pavlov; Francis
Galton; Charles Darwin.
Pode compelir uma análise mais científica das experiências de
4. Behaviorista
aprendizagem que modelam a personalidade.
Principais Teóricos: Ivan Pavlov; B. F. Skinner; John Watson;
John Dollard; Clark Hull; Neal Miller; Robert Sears.
Captura a natureza ativa do pensamento humano; emprega o
5. Cognitiva
conhecimento moderno da psicologia cognitiva.
Principais Teóricos: Albert Bandura; George Kelly; Jean
Piaget; Julian Rotter; Kurt Lewin.
Técnicas eficientes de avaliação do indivíduo.
6. Traços (Genética)
Principais Teóricos: Carl G. Jung; Gordon Allport; Hans
Eysenck; Henry Murray; Raymond B. Cattell.
Outros Teóricos: Arnold Buss e Robert Plomin. Paul Costa Jr.
e Robert McCrae.
Valoriza a natureza espiritual da pessoa; enfatiza a luta pela
7. Humanista e
auto-satisfação e pela dignidade.
Existencial
Principais Teóricos: Abraham Maslow; Carl Rogers; Erich
Fromm; Rollo May; Victor Frankl.
As pessoas expressam sua personalidade de diferentes
8. Integracionista
maneiras (selves) em diferentes situações.
Principais Teóricos: Harry Stack Sullivan; Henry Murray;
Walter Mischel.
Outros Teóricos: Avshalom Caspi; Jack e Jeanne Block;
Konrad Lorenz; Mark Snyder.
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desempenhado pelas forças de socialização. Do mesmo modo, B. F. Skinner, o mais
importante behaviorista. Compreendeu acertadamente a tremenda influência de outras
pessoas em nossa vida, a despeito de sua pesquisa concentrar-se no condicionamento de
animais em laboratório.
O objetivo não é colocar teorias complexas em pequenos compartimentos, mas,
em vez disso, fazer um exame meticuloso dos diferentes e significativos tipos de
insights sobre a natureza da personalidade, desenvolvidos ao longo do século XX.
Qual das perspectivas sobre a personalidade está correta? As pessoas são
governadas por traços, hormônios, motivos inconscientes ou nobreza de espírito? Essa
pergunta é diferente da pergunta “Qual das teorias sobre a personalidade está correta?”
ou “Que hipótese é a verdadeira?”. Teorias e hipóteses são testificáveis e, por natureza,
podem ser refutadas. Ou seja, elas são verificáveis. Muitas dessas teorias e hipóteses
apresentam aspectos que estão incorretos ou que são duvidosos. Porém, a pergunta que
importa aqui é “Qual das perspectivas sobre a personalidade está correta?” Essa
pergunta é fácil de responder: todas as oitos estão corretas no sentido de que todas
oferecem alguns insights psicológicos importantes sobre o que significa ser uma pessoa.
Em outras palavras, podemos tirar proveito do aprendizado das potencialidades (e das
fragilidades) de todas as oito perspectivas.
Essa resposta não é uma evasiva ou artimanha. A natureza humana é
tremendamente complexa e necessita ser examinada de várias perspectivas. Na verdade,
confiar sobremaneira em uma única abordagem e ignorar os valiosos insights oferecidos
por outras perspectivas e investigações científicas é uma estratégia efêmera. É
fundamental lembrar que cada uma dessas perspectivas enriquece nossa compreensão da
personalidade. Entretanto, não é apropriado perpetuar ideias que não são sustentadas por
evidências.
Referência Bibliográfica:
FRIEDMAN, Howard S. & SHUSTACK, Miriam W. (2004/2007) Teorias da Personalidade: da
Teoria Clássica à Pesquisa Moderna. Tradução: Beth Honorato. Revisão Técnica: Antônio
Carlos Amador Pereira. São Paulo: Prentice Hall.
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CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
A PSICOLOGIA ORIENTAL
As tentativas de elaborar uma compreensão sistemática da personalidade e
comportamento humanos não surgiram com a Psicologia Ocidental Contemporânea.
Nossa psicologia formal, com um pouco mais de cem anos, é apenas uma versão recente
de um esforço provavelmente tão antigo quanto a história humana. As Teorias da
Personalidade que conhecemos são produto da cultura americana e europeia e
constituem apenas um conjunto dentre as inúmeras “psicologias” que foram articuladas
em muitas épocas e lugares. Embora as psicologias de algumas culturas e épocas não
passem de frouxas coleções de sabedoria popular combinada com mitos imaginativos,
alguns povos desenvolveram Teorias da Personalidade tão sofisticadas e bem
fundamentadas na observação empírica quanto as nossas.
Uma das fontes mais ricas dessas psicologias bem formuladas são as religiões
orientais. Bem separada das excentricidades da cosmologia e do dogma das crenças, a
maioria das principais religiões asiáticas tem no seu âmago uma psicologia pouco
conhecida pelas massas de seguidores religiosos, mas muito familiar a seus próprios
“profissionais”, sejam eles iogues, monges ou sacerdotes. É ela uma psicologia prática
utilizada pelos profissionais mais dedicados para disciplinar suas próprias mentes e
corações.
Assim como existe uma multiplicidade de Teorias da Personalidade na
civilização ocidental, existem numerosas Psicologias Orientais. Por outro lado, apesar
de haver importantes diferenças de doutrinas e visão de mundo entre as religiões que
contêm as psicologias orientais, estas são entre si bem mais semelhantes. Entre suas
características comuns está o Método Fenomenológico: todas buscam descrever a
natureza da experiência imediata de uma pessoa. De fato, alguns desses sistemas giram
em torno de técnicas de meditação que possibilitam à pessoa observar a corrente de sua
própria consciência, dando-lhe um posto de observação separado do fluxo de sua
própria experiência. Além disso, todas essas psicologias consideram os homens
imperfeitos, estabelecendo um modo ideal de ser, acessível a qualquer um que procure
atingi-lo com persistência. O caminho para essa transformação é sempre pela via de
uma extensa mudança na personalidade, de modo que essas qualidades ideais tornem-se
traços estáveis. Enfim, todas as Psicologias Orientais concordam que o principal meio
para essa transformação do eu é a meditação.
Sete Passos para dominar o Ego:
1. Não te sentir ofendido.
2. Liberta-te da necessidade de ganhar.
3. Liberta-te da necessidade de ter a razão.
4. Liberta-te da necessidade de ser superior.
5. Liberta-te da necessidade de ter mais.
6. Liberta-te da necessidade de identificar-se com teus êxitos.
7. Liberta-te da necessidade de ter fama.
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AS DOUTRINAS ORIENTAIS
As três doutrinas orientais no contexto das teorias da personalidade, apropriadas
para discutir a relação com as teorias ocidentais, são o Zen-Budismo, o Ioga e o
Sufismo.
1
Iconoclástico →Aquilo que é relacionado a iconoclastia, ou seja, aquele que destrói imagens e símbolos
religiosos.
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Apesar das diferenças de linguagem, ênfase e alcance, estas teorias, assim como
suas cópias ocidentais, derivaram de cuidadosas observações sobre a experiência
humana. São construídas sobre séculos de observações empíricas a respeito dos efeitos
de diversas ideias, atitudes, comportamentos e exercícios sobre os indivíduos.
Embora o âmago central e ético de cada tradição seja baseado em experiências
pessoais e insights de seus fundadores, a vitalidade e importância destes sistemas
repousam no contínuo teste, reelaboração e modificação destes insights originais para
novos contextos, novas condições culturais e situações interpessoais. Apesar de sua
antiguidade, estas tradições representam hoje em dia as perspectivas de milhões de
pessoas em mais ou menos cem países diferentes. São realidades vivas para seus
adeptos e não apenas abstrações acadêmicas, escolares ou pouco práticas.
Experiência Transpessoal
O principal enfoque destas doutrinas é o crescimento transpessoal: a tendência
de cada pessoa a relacionar-se mais intimamente com algo maior do que o self
individual. Teóricos ocidentais discutiram o crescimento mais em termos do
fortalecimento do self: desenvolvimento da autonomia, da autodeterminação, da auto
atualização, libertação de processos neuróticos e saúde mental.
Angyal (1956) descreve cada um destes pontos de vista. Um deles se centraliza
no crescimento pessoal e no desenvolvimento integral do self. O outro lida com o
crescimento transpessoal, ou seja, a tendência a expandir as fronteiras do self.
Visto sob uma destas perspectivas [o desenvolvimento integral do self], o ser
humano parece lutar basicamente para afirmar e expandir sua autodeterminação. É um
ser autônomo, uma entidade que cresce por si mesma e que se faz valer de modo ativo,
ao invés de reagir passivamente como um corpo físico aos impactos do mundo que o
rodeia. Essa tendência fundamental expressa-se na luta da pessoa para consolidar e
desenvolver seu autogoverno, em outras palavras, para exercer sua liberdade e organizar
os itens relevantes de seu mundo a partir do centro de governo autônomo que é o seu
self. Esta tendência – chamada de “propensão para autonomia crescente” – expressa-
se na espontaneidade, na autoafirmação, no esforço pela liberdade e pelo domínio de si.
Vista sob outra perspectiva, a vida humana revela um padrão básico bastante
diferente do acima descrito. Sob este ponto de vista, a pessoa parece buscar um lugar
para si numa unidade maior, da qual ela se esforça por tornar-se parte. Na primeira
tendência nós a vemos lutando pela centralização em seu mundo, tentando moldar e
organizar os objetos e eventos de seu mundo, trazê-los para sua própria jurisdição e
controle. Na segunda tendência, pelo contrário, a pessoa parece entregar-se
voluntariamente à busca de um lar para si e tornar-se UMA PARTE ORGÂNICA DE ALGO
QUE CONCEBE COMO MAIOR DO QUE ELA. A unidade supra-individual da qual a pessoa
se sente parte, ou deseja tornar-se parte, será formulada de diferentes formas, de acordo
com sua formação cultural e com sua compreensão pessoal.
Esta segunda tendência pareceria mais aplicável àqueles que já adquiriram certo
grau de autocontrole, maturidade e auto atualização. O desenvolvimento de uma
personalidade profundamente autônoma e de um senso de self parecem ser pré-
requisitos para este segundo tipo de crescimento.
Muitos psicólogos e outros cientistas foram fortemente influenciados por ideias
preconcebidas e preconceitos ao analisar o crescimento transpessoal e as experiências
transcendentais ou religiosas. As conotações associadas a esses temas levaram alguns a
acreditar que tais tópicos são mais artigos de fé do que temas a serem investigados pela
Psicologia. Tais preconceitos são fortalecidos pelo fato de que virtualmente os únicos
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conceitos disponíveis para descrever fenômenos transpessoais vêm da terminologia
religiosa.
Na verdade, esta identidade está tão profundamente estabelecida na língua
inglesa que é quase impossível falar “vida espiritual” (frase desagradável para um
cientista, em particular para os psicólogos) sem usar o vocabulário da religião
tradicional. Simplesmente ainda não existe outra linguagem satisfatória. Uma excursão
pelos léxicos poderia demonstrá-lo com rapidez. Isto constitui um problema quase
insolúvel para o escritor que pretende demonstrar que a base comum de todas as
religiões é humana, natural e empírica e que os assim chamados valores espirituais são
também naturalmente deriváveis. Mas dispomos apenas de uma linguagem teísta para
este trabalho “científico”.
Experiências transpessoais têm sido aspectos importantes da vida humana em
toda a história. A maioria das culturas e sociedades foi profundamente religiosa; seu
sistema de valores apoiou tais experiências e deu-lhes valor. A sociedade moderna
ocidental tem-se mostrado menos aberta aos fenômenos transpessoais há algumas
décadas, espaço de tempo na realidade muito pequeno em relação a toda a história do
Ocidente. Deveríamos lembrar que a dimensão transpessoal foi de importância central
na maioria das sociedades através da história.
Para um estudante da personalidade, seria tão insensato negligenciar este setor
da consciência como o seria ignorar a psicopatologia. É um reflexo da imaturidade da
Psicologia, e não de sua sofisticação, o fato dela ter dedicado maior esforço à
compreensão da doença humana do que à transcendência humana. As Teorias Orientais
(Zen, Ioga e Sufismo) lentamente adquiriram os instrumentos e conceitos necessários à
investigação deste aspecto mais impreciso e subjetivo da consciência.
As teorias da personalidade abrangentes e práticas são descritas em termos
psicologicamente relevantes. Cada sistema está envolvido de modo profundo com
questões de valor definitivo, com experiências transpessoais e com o relacionamento
entre o self individual e o todo mais amplo. Cada uma das Teorias Orientais recebeu
considerável alteração no Ocidente e muitos aspectos destes sistemas já estão sendo
aplicados a diferentes facetas da Psicologia.
A análise dessas teorias orientais não é diferente das avaliações que se faz das
teorias ocidentais. Não é preciso ser budista para apreciar e utilizar alguns dos conceitos
ou perspectivas encontrados no Zen-Budismo e não precisa tornar-se um Iogue para
praticar exercícios de respiração ou relaxamento.
Os sistemas de pensamento orientais são como expansões da formação
psicológica ocidental.
Leituras Consultadas
Campbell, Peter, e McMahon, Edwin. (1974). Religious Type Experience in the Context of
Humanistic and Transpersonal Psychology. Journal of Transpersonal Psychology 6:1 1-17.
Goleman, Daniel. (1974). Perspective on Psychology, Reality and the Study of Consciousness.
Journal of Transpersonal Psychology 6:73-85.
Maslow, Abraham. (1964). Religious, Values and Peak Experiences. Columbus: Ohio State
University Press.
Referências Bibliográficas:
Hall, Calvin Springer & Lindzey, Gardner. (1909/1984). Teorias da Personalidade.
Tradução e Revisão Técnica: Maria Cristina Machado Kupfer. São Paulo: EPU.
Fadiman, James & Frager, Robert. (1979). Teorias da Personalidade. São Paulo: Editora
Harper & Row do Brasil Ltda.
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Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
A personalidade é constituída por três grandes sistemas: o Id, o Ego e o
Superego. Cada um deles possui suas próprias funções, propriedades, componentes,
princípios de operação, dinamismo e mecanismos, porém convém ressaltar que mesmo
com diferenças, eles interagem no comportamento humano.
2.1. ID
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Sistema original da personalidade é a matriz da qual se originam o Ego e o
Superego. Consiste em tudo que é herdado, ou seja, tendência inata. É também
constituído pelos instintos.
O Id é o reservatório de energia psíquica, e fornece também um estreito contato
com os processos corporais. O Id representa somente a realidade interna e subjetiva do
mundo. Não tolera os aumentos de energia, que são experenciados como estados de
tensão desconfortáveis.
2.2. EGO
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O Ego possui um controle sobre todas as funções cognitivas e intelectuais, ou
seja, processos mentais superiores. Todo o poder do Ego deriva-se do Id. Portanto,
embora trabalhem de forma conflitante, não se separam nunca, pois um depende do
outro para funcionar e balancear as funções psíquicas.
Seu principal papel, no entanto, é o de mediador entre as exigências instituais do
organismo e as condições do ambiente circundante.
2.3. SUPEREGO
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DINÂMICA DA PERSONALIDADE
3.1. Instinto
Representação psicológica inata de uma fonte interna de excitação.
Representação psicológica ⇨ desejo.
Excitação ⇨ necessidade.
Um instinto é uma parte da energia. Todos os instintos é a soma total da energia
psíquica.
O Id é o reservatório de energias e fonte dos instintos.
3.1.1. Tipos de Instintos
INSTINTO DE VIDA ⇨ instinto de sobrevivência e de propagação racial.
LIBIDO ⇨ é a forma de energia que os instintos de vida realizam sua tarefa.
INSTINTO DE MORTE ⇨ instintos destrutivos e agressivos. Baseia-se no
princípio da constância (retorno ao estado inorgânico).
3.2. Catexia
É a energia aplicada na ação de satisfação do instinto. É fluida, desviando-se
com facilidade.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Para Freud ⇨ a experiência da infância exerce forte influência sobre a personalidade.
⇨ a personalidade está bem formada aos 5 anos e seu desenvolvimento
posterior era a elaboração dessa estrutura básica.
Caminhos aprendidos para solucionar as frustrações, os conflitos e as ansiedades
no desenvolvimento da personalidade:
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4.1. Identificação
Processo de misturar a própria identidade com a de outra pessoa, ou tomá-la de
empréstimo, integrando-a a sua personalidade.
Faz parte do desenvolvimento normal da criança.
4.2. Deslocamento
Quando a tensão busca em objeto original que lhe traga alívio e, este objeto se
torna inacessível por barreiras internas ou externas, a energia é bloqueada, ocorrendo o
deslocamento para um objeto substituto, que raramente é tão satisfatório ou redutor de
tensão quanto o objeto original.
ESTÁGIO GENITAL
⇨ ESTÁGIO GENITAL (Adolescência): as catexias do período pré-genital
possuem um caráter narcísico (gratificação com o próprio corpo). Na adolescência,
uma parte desta energia é canalizada para escolhas objetais genuínas.
Principal Função Biológica do Estágio Genital é a Reprodução.
Freud diferencia quatro estágios no desenvolvimento da personalidade, mas não
supõe rompimentos bruscos ou transições abruptas na passagem de um estágio para o
outro. Estes quatros contribuem para a organização final da personalidade.
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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO
O Existencialismo surgiu no pós II Grande Guerra Mundial, como movimento de
resistência francesa à ocupação alemã.
O Existencialismo representa poderosa força no pensamento moderno, incluindo
a Psicologia e a Psiquiatria.
Principais Articuladores do Existencialismo:
→ J. P. Sartre (França) → filósofo, escritor e jornalista.
→ Albert Camus (Algéria) → romancista e ensaísta.
→ Ambos foram Prêmio Nobel de Literatura.
Os articuladores de Prestígio foram:
→ Sören Kierkegaard (1813 – 1855) → Dinamarquês.
→ Bergson, Dostoievsky e Nietzsche.
Representantes Modernos do Existencialismo:
→ Berdyaev, Martin Buber, Kafka, Gabriel Marcel, Merleau-Ponty, Paul Tillich,
Heidegger e Jaspers, sendo estes dois últimos, criadores da Filosofia
Existencial.
→ Representantes do Existencialismo Americano → Rollo May, Adrian Van
Kaam, James Bugental.
→ Influenciados pelo Existencialismo Allport, Angyal, Goldstein, Lewin,
Maslow e Rogers.
Martin Heidegger (Alemão, 1889 – 1969) → Filósofo e Fenomenólogo, adotando a
Fenomenologia como método de análise dos fenômenos psicológicos. É a ponte de
ligação com os Psicólogos e Psiquiatras.
→ Ontologia → Ramo da Filosofia que trata do Ser ou da Existência.
→ Ontologia de Heidegger → O homem é um ser-no-mundo (...) O homem tem
sua existência por ser-no-mundo e o mundo tem sua existência porque há um
Ser para revelá-lo. O ser e o mundo são unos.
Função da Fenomenologia na Psicologia Existencial:
→ Descrição dos dados da experiência imediata, buscando mais compreender do
que explicar o fenômeno.
→ Método da Psicologia que procura descobrir e elucidar os fenômenos do
comportamento tal como se manifestam na percepção imediata (Van Kaam).
→ A Fenomenologia é considerada o método primário de toda ciência.
“O desenvolvimento do todo precisa começar com um quadro ingênuo e sem crítica do
mundo, que vai sendo perdido, quando nós prosseguimos”.
Diferença entre a Psicologia da Forma (Gestalt) e a Psicologia da Existência
quanto ao emprego de Fenomenologia:
→ Psicologia da Forma (Gestalt) → A Fenomenologia é empregada para
investigar fenômenos resultantes de processos psicológicos (percepção,
aprendizagem, sentimentos, etc).
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→ Psicologia da Existência → A Fenomenologia é usada para elucidar os
fenômenos que são frequentemente considerados como pertencentes à esfera
da personalidade.
Psicologia Existencial → Ciência empírica da existência humana, que emprega o
método da análise fenomenológica.
Ludwig Binswanger (1881 – 1966) → Psiquiatra Suíço.
→ Estudou com Bleuler e Jung. Influenciado por Heidegger e M. Buber. Um dos
primeiros seguidores suíços de Freud. Um dos primeiros proponentes da
aplicação da Fenomenologia à Psiquiatria.
→ Tornou-se um Analista Existencial.
Análise Existencial → Análise fenomenológica da existência humana real.
→ Seu objetivo é a reconstrução do mundo interno da experiência.
Medard Boss (1903) → Psiquiatra Suíço.
→ Analisado por Freud e treinado por psicanalistas (Ernest Jones, Karen
Horney, O. Fenichel, W. Reich e outros). Assistente de Eugen Bleuler
(Psiquiatra).
→ Trabalhou com K. Goldstein, reunia-se mensalmente com C. Jung e foi
influenciado pela sabedoria da Índia.
→ Clinicou como Psicanalista.
→ Presidente da Federação Internacional de Psicoterapia Médica e do Instituto
Dasein Analítico de Psicoterapia e Psicossomática de Zurique.
→ Criou juntamente com Heidegger a “Dasein Análise”.
→ “Dasein” (palavra germânica) → “Ser-no-mundo”.
Binswanger e Boss se opõem aos aspectos dos outros sistemas.
→ A Psicologia Existencial se opõe ao conceito de “causalidade” das Ciências
Naturais, do Positivismo, do Determinismo e do Materialismo. Não há
relações “causa-efeito” na existência humana. Há sequências de
comportamentos. Não é lícito derivar a causalidade, da sequência.
→ Proposição → A Psicologia requer o seu próprio método: a Fenomenologia e
seus próprios conceitos.
Diferença entre “Causalidade” e “Motivação”:
→ Causalidade → relação causa-efeito, tem pouca relevância para o
comportamento humano.
→ Motivação → sempre pressupõe uma compreensão (certa ou errada) da
relação causa-efeito. Motivação e compreensão são os princípios operativos
de uma análise existencial do comportamento.
Oposições (Objeções) da Psicologia Existencial:
→ 1a Objeção → Rejeição ao conceito de “causalidade”.
→ 2a Objeção → Oposição ao “dualismo” do sujeito (mente) e objeto (corpo,
ambiente, matéria). Tal posição é fragmentadora e falsa à existência humana.
Proposição → A Psicologia propõe a unidade do indivíduo-no-mundo.
→ 3a Objeção → Negação de que exista alguma coisa subjacente ao fenômeno.
Explicações da existência humana (“eu” do inconsciente, energia psíquica,
instintos, impulsos, arquétipos, etc), são postas de lado. Fenômenos são o que
são, não são derivativos de alguma coisa.
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Proposição → Ciência Psicológica: descrição fenomenológica ou a
compreensão, e não a explicação causal ou a prova.
→ 4a Objeção → Oposição à consideração do indivíduo como algo semelhante a
um objeto, ao tratamento das pessoas como coisas, que podem ser manejadas,
controladas, modeladas e exploradas, impedindo-as de viver de uma maneira
verdadeiramente humana e de serem compreendidas plenamente sob a luz de
sua existência no mundo.
Prescrição do Psicólogo Existencial:
→ Ver o que há para ser visto, sem qualquer hipótese ou julgamento prévio.
→ Atingir e descrever os fenômenos que investiga no seu conteúdo fenomenal
total e no seu contexto intrínseco.
→ Essa verdade só pode ser alcançada por uma pessoa completamente aberta
para o mundo, livre dos preconceitos de qualquer teoria científica.
“A pessoa é livre e apenas ela é responsável por sua existência”: A liberdade,
segundo Boss, não é alguma coisa que o homem tem, é algo que ele é. “Eu sou
livre” significa ao mesmo tempo “Eu sou completamente responsável pela minha
existência”.
A Psicologia Existencial está longe de ser otimista e esperançosa. A Psicologia
Existencial está tão preocupada com a vida quanto com a morte. O Nada está
sempre aos nossos pés. O horror e o amor estão presentes nos escritos
existencialistas. A culpa é uma característica inata e inevitável da existência.
Tornar-se um ser humano é um projeto árduo e poucos o conseguem.
A TEORIA DA EXISTÊNCIA
ESTRUTURA DA EXISTÊNCIA
(Ser-no-Mundo – Dasein)
Toda a estrutura da Existência Humana está baseada no Dasein (“ser-no-mundo”).
Dasein → é o todo da existência humana.
Vorhandasein → a existência das coisas não humanas.
Literalmente → DA = “aí” (abertura iluminada e compreensiva para o mundo)
→ SEIN = “ser”
“Ser-o-aí – um estado de ser-no-mundo em que a existência total do indivíduo que
“é” e “virá-a-ser” pode parecer, tornar-se “presente” e “ser presente”.
Medard Boss – “O homem (elucida) revela o mundo”.
Diferença entre Análise Existencial e Visão Científica:
1. Análise Existencial → Elucidação cuidadosa da natureza específica da existência
humana (ser-no-mundo).
→ Procura ver o que está na experiência e descrevê-lo tão
precisamente quanto à linguagem o permita.
2. Visão Científica → Procurar significados e causas invisíveis e ocultas.
Característica Básica do Dasein → a abertura para perceber e responder àquilo que
está na sua presença.
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O ser-no-mundo cura a cisão entre sujeito e objeto e restaura a unidade entre o
homem e o mundo.
Regiões do Mundo em que o homem tem Existência:
1. UMWELT → os arredores físicos ou biológicos, ou paisagem.
2. MITWELT → o ambiente humano.
3. EINGENWELT → a pessoa e seu Eu, incluindo o corpo.
1) Ser-Além-do-Mundo
Expressa as múltiplas possibilidades que o homem tem de “transcender” o
mundo em que habita e entrar num novo mundo.
Vida Autêntica → quando o homem atualiza suas potencialidades.
Vida Inautêntica → quando o homem nega ou restringe as amplas possibilidades
de sua existência ou quando se deixa dominar.
“(...) o homem deve aceitar todas as suas possibilidades-de-vida, apropriar-se
delas e reuni-las para criação de um Eu autêntico e livre”; livre para escolher
uma ou outra alternativa de vida.
A liberdade humana consiste em preparar-se para aceitar e realizar tudo isso (ou
todas as possibilidades).
Todos os sintomas patológicos, físicos ou psicológicos devem ser vistos como
usurpações e injúrias ao direito de realização livre e aberta da existência humana.
2) Campo Existencial
O modo como o homem encontra a si mesmo no mundo. As condições de seu
lançamento.
Pode ou não ser limitação para o “tornar-se livre”.
Existência Autêntica: → quando o homem se aceita e se realiza.
→ é projetada pelo reconhecimento de seu campo
existencial.
Existência Inautêntica: → quando rejeita as possibilidades, tenta ser o que não é,
não assumindo a própria existência.
→ é o resultado do afastamento do seu próprio campo
existencial
→ enfraquecimento e alienação existencial.
Punição pela inautenticidade → sentimento de culpa.
Apesar das limitações, são muitas as possibilidades de escolha.
3) O Modelo-de-Mundo
É o padrão que engloba todos os aspectos do modo-de-ser-no-mundo do
indivíduo.
Imprime uma marca em tudo que a pessoa faz como ela reagirá em situações
específicas e que tipo de caráter e sintomas desenvolverá.
Suas fronteiras podem ser: estreitas e restritas, ou amplas e abrangentes.
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Quando ele é dominado por poucas categorias, a ameaça é mais iminente do que
quando ele é variado.
Uma condição psicológica ou somática pode ser um fator de limitação
impedindo a realização das possibilidades.
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DINÂMICA DA EXISTÊNCIA
A concepção de dinâmica da Psicologia Existencial não é a usual.
Não concebe o comportamento como resultante da estimulação externa e de
condições corporais internas.
O homem é livre para escolher e inteiramente responsável pela sua própria
existência. Ele próprio determina o que será e o que fará.
Podemos escolher viver autêntica ou inautenticamente.
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DESENVOLVIMENTO DA EXISTÊNCIA
Os psicólogos existenciais não acreditam que a existência global do indivíduo seja
um evento histórico, isto é, que o crescimento individual seja uma sucessão de
eventos do desenvolvimento.
“A história global do Dasein é inerente e presente a qualquer momento dado”.
(Medard Boss)
A história não consiste de estágios, mas de diferentes modos de existência.
O conhecimento genético só pode vir à tona após a compreensão dos fenômenos
presentes em si mesmos.
A “motivação” se baseia no ser-no-mundo presente (e não passado).
A “repetição” é devida ao significado do ato para nós agora.
O “hábito” não é usado como princípio explicativo.
Habitar no mundo significa habitar no passado, presente e futuro simultaneamente.
A temporalidade da existência se expande ou se contrai para incluir mais ou menos
do passado ou do futuro.
O mais importante conceito existencial de desenvolvimento é o “vir-a-ser” ou
“tornar-se”
A existência nunca é estática; está sempre em processo de tornar-se e de
transcender-se.
O objetivo é tornar-se completamente humano, para realizar todas as possibilidades
do Dasein.
A escolha de uma possibilidade sempre significa a rejeição de todas as outras
possibilidades → é um projeto sem fim.
Devemos realizar tantas possibilidades do ser-no-mundo quantas pudermos, apesar
da dificuldade da situação.
Recusar o vir-a-ser é fechar-se, é recusar-se a crescer (sintomas neuróticos e
psicóticos).
O tornar-se (vir-a-ser) implica direção e continuidade, mas a direção pode mudar e a
continuidade pode ser quebrada.
O vir-a-ser da pessoa e o vir-a-ser do mundo são sempre relacionados; eles são um
vir-a-ser conjunto.
A existência humana como ser-neste-mundo, termina com a morte.
O conhecimento da morte não deixa ao homem outra escolha do que viver
permanentemente em relação com a morte.
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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
A Vida de Horney
Karen Danielsen Horney nasceu numa cidadezinha perto de Hamburgo,
Alemanha. Segunda filha do casamento de um pai de 50 anos, capitão de navio, e de
uma mãe de 33 anos e temperamento muito diferente, Horney invejava o irmão Berndt
por ser atraente e charmoso, além do fato de ser homem, tendo em vista que as mulheres
eram consideradas inferiores naquela época. Durante a maior parte de sua infância e
adolescência, ela duvidava que os pais a desejassem, achando que tinham predileção por
Berndt. O pai a intimidava, embora esta quisesse atenção e amor. Era lembrar do jeito
ameaçador e da maneira severa do pai tratá-la para sentir-se rejeitada. Com a mãe, fazia
o papel da filha devotada, em busca do mesmo carinho e atenção. Até os 8 anos foi uma
filha exemplar, quando percebeu que sua tática não correspondia às suas expectativas,
tornou-se uma menina rebelde e ambiciosa. Horney dizia que se não podia ser bonita,
seria inteligente.
Sua teoria descreve como a falta de amor na infância estimula a ansiedade e
hostilidade, dando, assim, outro exemplo de uma teoria embasada em termos pessoais e
intuitivos.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 31
principal maneira pela qual os pais enfraquecem ou impedem a segurança é mostrando
falta de carinho por ela.
Os filhos sabem se os pais têm amor genuíno por eles. Demonstrações e
expressões falsas de afeto não enganam facilmente as crianças. Elas podem sentir
necessidade de reprimir a hostilidade gerada pelos comportamentos enfraquecedores
dos pais por desamparo, medo dele, necessidades de amor genuíno e sentimento de
culpa. Quanto mais as crianças tiverem a sensação de desamparo, menos ousarão se
opor ou se rebelar contra os pais. Quanto mais culpa a criança sentir, mais
profundamente a hostilidade será reprimida.
Necessidades Neuróticas
Karen Horney trouxe a ideia de dez defesas irracionais contra a ansiedade –
mecanismos de autoproteção – que se tornam parte permanente da personalidade e que
afetam o comportamento. A essas indispensabilidades deu o nome de Necessidades
Neuróticas, sendo elas:
• Afeto e Aprovação
• Um Parceiro Dominador
• Poder
• Exploração
• Prestígio
• Admiração
• Realização ou Ambição
• Autossuficiência
• Perfeição
• Limites Restritos à Vida
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Tendências Neuróticas
São três categorias de comportamentos e atitudes em relação à própria pessoa e
aos outros que expressam as necessidades da pessoa. É uma revisão do conceito de
Necessidades Neuróticas de Karen Horney.
Surgem a partir dos mecanismos de autoproteção e os aprimoram; envolvem
atitudes e comportamentos compulsivos, ou seja, as pessoas neuróticas são impelidas a
se comportar de acordo com pelo menos uma das necessidades neuróticas. Essas
características são exibidas indiscriminadamente em toda e qualquer situação.
As Tendências Neuróticas:
• Personalidade Submissa → Movimento em direção às outras pessoas.
• Personalidade Agressiva → Movimento contra as outras pessoas.
• Personalidade Distante → Movimento para longe de outras pessoas.
A Personalidade Submissa
Exibe atitudes e comportamentos que refletem um desejo de caminhar em
direção ao outro, uma necessidade intensa de afeto e aprovação, um anseio de ser
amado, desejado e protegido. Geralmente precisam de outra pessoa dominadora que
tome conta da sua vida e ofereça proteção e orientação.
As personalidades submissas manipulam as outras pessoas para atingir suas
metas. Comportam-se de uma forma que os outros veem como atraente ou afetuosa –
atenciosas, gratas, responsivas, compreensivas e sensíveis; preocupam-se em
corresponder aos ideais e às expectativas dos outros. Mostram atitudes de desamparo e
fraqueza, como quem diz: “Olhe para mim. Eu sou tão fraco e indefeso que você
precisa me proteger e me amar”.
A segurança das personalidades submissas depende das atitudes e dos
comportamentos das demais pessoas em relação à elas. Qualquer sinal de rejeição, real
ou imaginário, parece-lhes aterrorizante.
A fonte desses comportamentos é a hostilidade reprimida. Horney constatou que
os submissos têm sentimentos profundos de rebeldia e vingança reprimidos, desejam
controlar, explorar e manipular os outros – o oposto da expressão de seus
comportamentos, que acabam se tornando uma maneira de controlar seus impulsos.
A Personalidade Agressiva
Vão contra as outras pessoas. No seu mundo, todos são hostis e só os mais aptos
sobrevivem. As suas maiores virtudes da vida são a supremacia, a força e a ferocidade.
A motivação de comportamento é a mesma da personalidade submissa – aliviar a
ansiedade básica –, porém elas nunca demonstram medo de rejeição: são duras e
dominadoras e não têm consideração pelos outros. Precisam sempre ter ótimo
desempenho para conseguir o controle e a superioridade, e essa deve ser reconhecida
pelos demais.
Elas são motivadas a sempre superarem os outros, e julgam tudo em termo do
benefício que receberão. Argumentam, criticam, exigem e fazem o que for preciso para
obter e manter a superioridade e serem os melhores em tudo o que fazem, podendo,
portanto, ser extremamente bem sucedidas na carreira profissional – embora essa em si
não os satisfaça.
Apesar de aparentarem seguras e confiantes, as personalidades agressivas, assim
como as submissas, são movidas pela insegurança, ansiedade e hostilidade.
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A Personalidade Distante
As pessoas são motivadas a se afastar das demais e a manter uma distância
emocional. Não precisam amar, odiar, colaborar ou se envolver com os outros; buscam
apenas a autossuficiência. Dependem dos seus próprios recursos, que devem ser bem
desenvolvidos.
Elas têm um desejo desesperado de privacidade e a necessidade de
independência faz com que sejam sensíveis a qualquer tentativa de influência, coação
ou obrigação. Não conseguem viver com restrições, agendas e programações, e
compromissos em longo prazo (como casamento ou hipoteca).
O sentimento de superioridade delas se difere da personalidade agressiva, pois
na personalidade distante tentar ser superior a alguém significa se envolver. Por outro
lado, uma manifestação desse sentimento de superioridade é a filosofia de que cada
pessoa é diferente da outra.
Quem tem esse tipo de personalidade enfatiza muito a razão, a lógica e a
inteligência; e seu maior objetivo é evitar conflitos (por isso não manifesta nenhum
sentimento em relação ao outro).
Na Pessoa Neurótica uma dessas tendências é dominante e as outras duas
estão presentes em menor ou nenhum grau. A tendência neurótica dominadora é a que
determina o comportamento e as atitudes da pessoa em relação aos outros. É esse modo
de agir que consegue controlar a ansiedade básica do indivíduo com maior facilidade, e
algum desvio desse controle pode ser ameaçador. Devido a isso, as duas outras
tendências ficam ativamente reprimidas, e qualquer tentativa de expressão de alguma
delas – que não seja a dominante – pode levar ao conflito.
Conflito → é definido como a incompatibilidade das três tendências e é o
centro da neurose. Todos nós, normais ou neuróticos, sofremos desses conflitos vez ou
outra. O que difere a pessoa normal da neurótica é a intensidade do conflito e a
capacidade de resolução do mesmo. A pessoa neurótica precisa lutar para evitar que as
tendências não dominantes se expressem, por isso tendem a ser rígidas e inflexíveis,
agindo sempre de forma a expressar a sua tendência dominadora.
Conflitos Intrapsíquicos
Os processos psíquicos originam-se das experiências interpessoais, mas, à
medida que se tornam parte do sistema de crenças de uma pessoa, adquirem vida
própria. Horney lista dois importantes conflitos intrapsíquicos: a Auto imagem
Idealizada e o Auto-Ódio.
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ⓐ A Busca Neurótica por Glória
À medida que os neuróticos passam a acreditar na realidade de seu self
idealizado, eles começam a incorporá-lo em todos os aspectos de suas vidas. Esta possui
três outros elementos.
Necessidade por Perfeição → nada menos do que a perfeição é aceitável.
Horney referia a essa orientação como a tirania do deve ser. Eles dizem
inconscientemente a si mesmo “Esqueça da criatura desgraçada que você é na
realidade; é assim que você deveria ser”.
Ambição Neurótica → os neuróticos canalizam sua energia naquelas atividades
cujas chances de obtenção de sucesso são maiores.
Desejo de um Triunfo Vingativo → o mais destrutivo de todos. Pode ser
disfarçado como uma orientação para o sucesso ou para realização, mas sua meta
principal é constranger ou derrotar outras pessoas pelo próprio sucesso.
ⓑ Demandas Neuróticas
Em sua busca por glória, os neuróticos constroem um mundo fantástico.
Acreditando que algo está errado com o mundo exterior, afirmam que, merecem um
tratamento de acordo com sua visão idealizada de si mesmo. Não conseguem ver que
suas solicitações de privilégios especiais não são racionais. Quando as demandas não
são realizadas, eles ficam indignados, confusos e incapazes de compreender a razão pela
qual os outros não satisfazem suas demandas.
ⓒ Orgulho Neurótico
Quando os outros não os tratam com consideração especial, seu orgulho
neurótico é ferido. Para evitar mágoa, eles se distanciam das pessoas que recusam a
ceder suas demandas e tentam associar à pessoas socialmente destacadas e à instituições
e aquisições que lhe tragam algum prestígio.
Auto Ódio
As pessoas com uma necessidade neurótica por glória jamais serão felizes
consigo mesmas porque, ao perceberem que seu self não poderá atender às demandas
insaciáveis de seu self idealizado, começarão a odiar ou a desdenhar a si próprias.
Horney reconheceu seis formas pelas quais as pessoas podem expressar seu auto-ódio:
Demandas Incansáveis ao Self → as quais são exemplificadas pela tirania do
devia ser. Essas pessoas pressionam-se rumo à perfeição porque acreditam que
deviam ser perfeitas.
Autoacusação Impiedosa → criticam-se constantemente; por exemplo, “se pelo
menos as pessoas me conhecessem percebiam que eu estou fingindo ser
acessível competente e sincero. Na realidade ou uma fraude, mas ninguém sabe
disse, além de mim”.
Autodesprezo → são atitudes como diminuir, desprezar, questionar, debochar e
ridicularizar a si próprio. Impedindo-os de lutar por melhorias e realizações.
Como por exemplo, uma mulher poderia atribuir a sua carreira bem sucedida
como “sorte”.
Auto Frustração → estão com frequência presos a tabus que impedem o prazer.
Como por exemplo, “Eu não devo usar boas roupas porque muitas pessoas no
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 35
mundo vestem-se com trapos” ou “Eu não devo lutar por um emprego melhor
porque eu não sou bom o bastante para ele”.
Auto Tormento → esta pode estar presente em todas as formas do auto ódio,
mas ela se torna um elemento separado a partir do momento em que o indivíduo
inflige dano ou sofrimento a si próprio, algumas pessoas tem satisfação
masoquista, ficando angustiados por conta de uma decisão.
Ações e os Impulsos Autodestrutivos → podem ser físico ou psicológico,
consciente ou inconsciente, agudo ou crônico. Excesso de alimentos, drogas,
jornada de trabalho exagerada e suicídio, são exemplos comuns de
autodestruição. Já psicologicamente, temos o exemplo de um abandono de um
emprego justo quando ele começa a tornar-se satisfatório.
“Ao pesquisar o Auto Ódio e sua força devastadora, não pudemos evitar enxergar nisso
uma grande tragédia, talvez a maior tragédia da mente humana. O homem, ao tentar
alcançar o infinito e o absoluto, também começa a destruir-se. Ao fazer um pacto com o
diabo, que lhe promete glórias, ele tem de ir ao inferno – ao inferno dentro dele
próprio”.
Psicologia Feminina
No início de sua carreira, Horney expressou a sua discordância das teorias de
Freud sobre as mulheres. Ela criticou particularmente o conceito freudiano de „Inveja do
Pênis‟, para ela era derivado de provas inadequadas e contra-atacou essas ideias
argumentando a inveja que o homem sente da mulher, porque ela pode gerar filhos e ele
não, nomeando de „Inveja do Útero‟. Sendo então uma resposta ao conceito freudiano
de „Inveja do Pênis‟.
Ela dizia também sobre os homens, que a busca pela realização profissional e
alguns comportamentos como menosprezar, negar direitos iguais, minimizar suas
oportunidades, rebaixar seus esforços e reforçar o status inferior das mulheres, se dava
pelo sentimento de inferioridade derivado da sua inveja do útero.
O Voo da Feminilidade
Horney definiu Voo da Feminilidade como o resultado dos sentimentos de
inferioridade, podendo trazer consequências, como a mulher negar sua feminilidade e
desejar, inconscientemente, ser homem. Um problema que pode levar a inibições
sexuais.
O Complexo de Édipo
Horney discordou de Freud sobre o Complexo de Édipo. Ela não negava a
existência de conflitos entre pais e filhos, mas não achava que fossem de origem sexual,
para ela se tratava da dependência do pai ou da mãe e a hostilidade em relação a um
deles. Então, sua explicação é de que são sentimentos que não se baseiam no sexo ou
em outras forças biológicas, nem são universais. Surgem quando o comportamento dos
pais prejudica a necessidade de segurança na infância, desenvolvendo a hostilidade, que
permanece e cria a ansiedade básica, causando conflitos neuróticos.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 36
Maternidade ou Carreira?
No esquema tradicional, divulgado pela maioria dos homens, a mulher tinha por
função amar, admirar e servir ao seu homem e sua identidade era um reflexo do marido.
Então, Horney escreveu sobre os conflitos psicológicos que definem os papéis da
mulher, com uma visão mais moderna. Além de sugerir que a mulher deveria buscar a
sua própria identidade, desenvolver suas habilidades, assim como ela havia feito, e
seguir uma carreira.
Era difícil para Karen Horney viver na década de 1930 e continua problemático
para as mulheres do século XXI, conciliar casamento, maternidade e carreira.
Bibliografia
• Feist, Jess & Feist, Gregory J. (2008). Teorias da Personalidade. (6ª edição). São Paulo.
• Schultz, Duane P. & Sidney, Ellen (2002). Teorias da Personalidade. São Paulo.
• Schultz, Duane P. & Sidney, Ellen (2011). Teorias da Personalidade. (2ª edição). São Paulo.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 37
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
Adler criou uma imagem da natureza humana que não mostra as pessoas como
vitimadas pelos instintos e conflitos e condenadas por forças biológicas e experiências
da infância. Ele denominou esta abordagem de “Psicologia Individual” porque se
concentrava na singularidade de cada pessoa e negava a universalidade dos motivos e
metas biológicos que nos foram imputados por Sigmund Freud.
Psicologia Individual
A Teoria da Personalidade de Adler
Segundo Adler, cada pessoa é basicamente um ser social. Nossa personalidade é
moldada pelo nosso ambiente e interações sociais peculiares, e não pelos esforços para
satisfazer nossas necessidades biológicas. Embora o sexo fosse de importância
fundamental para Freud como um fator determinante da personalidade, Adler
minimizou o papel do sexo no seu sistema. Para ele, o consciente é que era o centro da
personalidade. Em vez de sermos impulsionados por forças que não podemos ver ou
controlar, estamos ativamente envolvidos na criação do nosso self no direcionamento do
nosso futuro.
Com Adler e Freud, vemos duas teorias muito diferentes criadas por dois
homens que cresceram na mesma cidade (Viena – Áustria), na mesma época e que se
formaram médicos na mesma universidade. Havia uma diferença de apenas 14 anos
entre eles. Como no caso de Freud, os aspectos da infância de Adler podem ter
influenciado sua maneira de encarar a natureza humana.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 38
Mimado pela mãe em virtude da sua doença, o pequeno Adler foi destronado aos
dois anos pela chegada de um outro bebê. Os biográficos de Adler sugerem que a mãe
possa tê-lo rejeitado, mas com certeza era o preferido do pai. Portanto, as suas relações
na infância foram diferentes das de Freud (Freud era mais próximo da mãe do que do
pai). Como adulto, Adler descartou o conceito freudiano de Complexo de Édipo porque
não correspondia às suas experiências na infância. Adler tinha ciúme de seu irmão mais
velho, que era forte, saudável, praticava atividades físicas e esportes e ele não podia
fazê-lo. “Eu me lembro de sentar num banco coberto de bandagens devido ao
raquitismo com o meu saudável irmão mais velho sentado na minha frente. Ele podia
correr, saltar e se movimentar sem muito esforço, enquanto para mim qualquer tipo de
movimento era um esforço extenuante” (Adler, citado em Bottome, 1939, p. 30-31).
Adler sentia-se inferior ao seu irmão e às outras crianças da vizinhança, que
pareciam mais saudáveis e atléticas. Então, decidiu trabalhar arduamente para superar
os seus sentimentos de inferioridade e compensar suas limitações físicas. Apesar de sua
baixa estatura, falta de jeito e atrativos – heranças da sua doença –, forçou-se a
participar de jogos e esportes. Gradativamente, venceu e conseguiu um senso de
autoestima e aceitação social. Ele criou gosto pela companhia de outras pessoas e
manteve sua sociabilidade a vida toda. Na sua Teoria da Personalidade, enfatizou a
importância do grupo de colegas da mesma idade e sugeriu que as relações com os
irmãos e crianças que não eram da família eram muito mais importantes do que Freud
imaginava.
Na escola (a mesma que Freud frequentou), no começo, sentia-se infeliz e era
apenas um aluno medíocre. Achando que ele não servia para mais nada, um professor
aconselhou o seu pai a torná-lo aprendiz de sapateiro, uma perspectiva que Adler achava
apavorante. Ele era particularmente ruim em matemática, mas persistiu e, por fim,
conseguiu passar de um aluno fraco, ao primeiro da classe.
Em vários aspectos, a história da infância de Adler parece uma tragédia, mas é
também uma lição que exemplifica a sua Teoria da Personalidade, um exemplo de
superação das fraquezas e do sentimento de inferioridade para moldar o seu destino. O
teórico que deu ao mundo a noção de Sentimento de Inferioridade falava das
profundezas da sua própria infância. “As pessoas familiarizadas com a minha obra
verão claramente a conformidade entre os fatos que ocorreram na minha infância e as
opiniões que expressei” (citado em Bottome, 1939, p. 9).
Idade Adulta
Realizando a sua ambição de criança, Adler estudou Medicina na Universidade
de Viena, mas formou com notas não mais do que medianas, Ele começou a trabalhar
como oftalmologista, mas logo mudou para a clínica geral. Interessou-se por doenças
incuráveis, mas ficou tão angustiado com a sua impotência em impedir a morte,
principalmente de pacientes mais jovens, que terminou por se especializar em
Neurologia e Psiquiatria.
A associação de nove anos de Adler com Freud começou em 1902, quando
Freud convidou Adler e outras três pessoas a se reunirem, uma vez por semana, em sua
casa, para discutir a psicanálise. Embora seu relacionamento nunca tenha se tornado
íntimo, Freud, inicialmente, o tinha em grande conta e elogiava sua habilidade como
médico que conseguia ganhar a confiança dos seus pacientes. É importante lembrar que
Adler nunca foi discípulo de Freud, nem psicanalisado por ele. Um dos colegas de
Freud afirmou que Adler não tinha capacidade para investigar a mente inconsciente e
psicanalisar pessoas. É interessante especular se essa suposta incapacidade levou Adler
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 39
a basear a sua Teoria da Personalidade na consciência, mais acessível, e minimizar o
papel do inconsciente.
Em 1910, embora fosse presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena e
coeditor da sua revista, ele também criticava cada vez mais a teoria freudiana, vindo
logo a romper com a psicanálise e a desenvolver a sua própria abordagem da
personalidade. Freud zangou-se com a deserção de Adler; depreciou a sua estatura (ele
era 12 centímetros mais baixo do que Freud) e chamou-o de repugnante, anormal,
movido pela ambição, pela emoção, cheio de veneno e maldade, paranoico,
extremamente ciumento e sádico. Ele descreveu a Teoria de Adler como sem valor
(Fiebert, 1997; Gay, 1988; Wittels, 1924).
Adler demonstrou uma hostilidade semelhante em relação a Freud, chamando-o
de trapaceiro e depreciando sobremaneira a psicanálise (Roazen, 1975); irritava-se
quando era apresentado com aluno de Freud. Posteriormente, pareceria tão amargurado
com os desertores da sua abordagem como Freud ficara com aqueles que, como Adler,
se desviaram da psicanálise. Adler era conhecido como uma pessoa que “se
encolerizava repentinamente quando sentia sua autoridade desafiada” (Hoffman, 1994,
p. 148).
Em 1912, fundou a Sociedade de Psicologia Individual. Ele serviu no exército
austríaco durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e depois organizou clínicas
de aconselhamento infantis patrocinadas pelo governo em Viena. Adler introduziu em
suas clínicas procedimentos de treinamento e orientação de grupos, que foram
precursoras das técnicas modernas de terapia de grupo. Em 1926, fez a primeira visita
aos Estados Unidos, onde lecionou e viajou realizando palestras populares.
Mudou-se para lá em 1929, estabelecendo-se na cidade de Nova York, onde
continuou seu trabalho para desenvolver e promover sua Psicologia Individual. Um
biógrafo observou que os “traços de genialidade, otimismo e calor combinados com
uma intensa ambição (...) logo o catapultaram à proeminência nos Estados Unidos como
especialista em psicologia” (Hoffman, 1994, p. 160).
Os livros e palestras de Adler trouxeram-lhe reconhecimento nacional e ele se
tornou o psicólogo popular nos Estados Unidos – a celebridade do momento. Em 1937,
durante um tour exaustivo de 56 palestras pela Europa, sofreu um ataque cardíaco e
faleceu no dia 28 de maio, em Aberdeen, na Escócia.
Alfred Adler merece lugar de destaque no movimento psicanalítico pela
importância que deu ao fator da agressividade.
Sentimentos de Inferioridade
O estado normal de todas as pessoas, a fonte de toda a luta humana.
Para Adler, os sentimentos de inferioridade são a fonte de toda a luta humana. O
crescimento individual é resultado da compensação, da tentativa de superarmos
inferioridades reais ou imaginárias. Na vida, somos impulsionados pela necessidade de
superar essa sensação de inferioridade e lutar por níveis cada vez mais altos de
desenvolvimento.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 40
Compensação
Motivação para superar a inferioridade, lutar por níveis mais altos de desenvolvimento.
O processo começa na infância. As crianças são pequenas, indefesas e
totalmente dependentes dos adultos. Adler achava que elas têm consciência do poder e
da força maior dos pais e da inutilidade de tentar resistir ou questionar esse poder.
Consequentemente, desenvolvem sentimentos de inferioridade em comparação às
pessoas maiores e mais fortes ao seu redor.
Embora essa sensação inicial de inferioridade se aplique a todos na infância, ela
não é determinada geneticamente. Ao contrário, é uma função do ambiente, que é o
mesmo para todas as crianças – um ambiente de desamparo e dependência dos adultos.
Portanto, é impossível escapar desse sentimento de inferioridade, mas ele é necessário,
porque dá a motivação para lutar e crescer.
O Complexo de Inferioridade
Suponha que uma criança não cresça e não se desenvolva. O que acontece
quando ela não consegue compensar o seu sentimento de inferioridade? A incapacidade
de superar esse sentimento intensifica-se, o que leva ao surgimento de um Complexo de
Inferioridade. As pessoas com Complexo de Inferioridade têm uma opinião ruim sobre
si mesmas, sentem-se incapazes de lidar com as demandas da vida. Adler encontrou
esse complexo na infância de muitos adultos que o procuraram para tratamento.
Complexo de Inferioridade
Situação que surge quando uma pessoa não consegue compensar seu sentimento
normal de inferioridade.
O Complexo de Inferioridade pode surgir de três fontes na infância:
Inferioridade Orgânica, Mimo Excessivo e Negligência.
A investigação da Inferioridade Orgânica, o primeiro grande esforço de
pesquisa de Adler, foi feito quando ele ainda tinha ligação com Freud, que aprovou o
conceito; concluiu que as partes ou órgãos do corpo moldam a personalidade por meio
do esforço da pessoa para compensar o defeito ou a fraqueza, como Adler tinha
compensado o raquitismo, a inferioridade física na sua infância. Por exemplo, uma
criança fisicamente fraca pode se concentrar nessa fraqueza e trabalhar para desenvolver
uma capacidade atlética superior.
A história registra vários exemplos desse tipo de compensação. Na Idade Antiga,
o estadista grego Demóstenes superou uma gagueira e se tornou um grande orador. O
doente Theodore Roosevelt, 26º presidente dos Estados Unidos, tornou-se modelo de
capacidade física quando adulto. Os esforços para superar a inferioridade orgânica
podem resultar em extraordinários feitos artísticos, atléticos e sociais, mas, se não forem
bem-sucedidos, poderão levar a um Complexo de Inferioridade.
A obra de Adler é outro exemplo de um conceito de personalidade elaborado
com linhas intuitivas, tiradas da experiência pessoal do teórico, e depois confirmado por
dados dos pacientes. O seu consultório em Viena era quase um parque de diversões e
entre seus pacientes estavam artistas de circo e ginastas. Eles possuíam habilidades
extraordinárias que, em muitos casos, eram desenvolvidas como resultado de trabalho
árduo para superar deficiências na infância.
O Mimo Excessivo de uma criança também pode suscitar um Complexo de
Inferioridade, porque elas são o centro das atenções em casa. Todos os seus desejos e
necessidades são satisfeitos e pouco lhes é negado. Essas circunstâncias desenvolvem,
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 41
naturalmente, a ideia de que são as pessoas mais importantes em qualquer situação e
que os demais precisam sempre se submeter à elas. A primeira experiência na escola,
quando passam a não ser mais o foco das atenções, é um choque para o qual não estão
preparadas. Crianças mimadas têm pouco traquejo social e são impacientes com os
outros. Nunca aprenderam a esperar pelo que querem, nem a superar dificuldades ou se
adaptar às necessidades dos outros. Quando se deparam com obstáculos à sua satisfação,
acham que devem ter alguma deficiência que as está frustrando. Então, desenvolvem um
Complexo de Inferioridade.
Adler notou que os mimos na infância podem levar a um estilo de vida mimado
no qual a pessoa demonstraria pouco ou nenhum sentimento social pelos outros. As
pesquisas corroboram essa ideia e sugerem também que os mimos podem levar a um
narcisismo excessivo que envolve falta de responsabilidade ou empatia em relação às
outras pessoas, a um senso exagerado da própria importância e à tendência de explorar
os outros. Estudos identificaram quatro tipos de mimos.
• Excesso de Indulgência → que envolve uma gratificação persistente por parte
dos pais em relação aos desejos e necessidades das crianças, o que leva a
sentimentos de direito legítimo e a comportamentos manipuladores;
• Excesso de Permissividade → que significa permitir que a criança se comporte
como bem quiser, sem consideração pelos efeitos de seu comportamento sobre
os outros, provocando a quebra das regras sociais e infringindo o direito dos
demais;
• Excesso de Dominação → que significa que todas as decisões são tomadas
apenas pelos pais, levando à falta de confiança da criança e à tendência de se
tornar dependente de outros quando adulto;
• Superproteção → que significa prudência por parte dos pais, excesso de avisos
sobre os perigos potenciais no ambiente, levando a uma ansiedade generalizada
e à tendência de evitar situações sociais ou se esconder delas.
É fácil entender como Crianças Negligenciadas, não desejadas e rejeitadas
podem criar um Complexo de Inferioridade. A sua infância é caracterizada pela falta de
amor e segurança, porque seus pais são indiferentes ou hostis. Então, desenvolvem
sentimentos de falta de valor ou até raiva e encaram os outros com desconfiança.
O Complexo de Superioridade
Qualquer que seja a fonte do complexo, uma pessoa pode tender a
supercompensá-lo e, dessa forma, a desenvolver o que Adler chamou de Complexo de
Superioridade. Ele envolve uma opinião exagerada da capacidade e realizações da
pessoa, que pode se sentir internamente satisfeita e superior e não ter necessidade de
demonstrar a sua superioridade com realizações, ou sentir essa necessidade e se
empenhar para se tomar extremamente bem-sucedida. Em ambos os casos, as pessoas
com Complexo de Superioridade são dadas a se gabar, à vaidade, ao egocentrismo e a
uma tendência a denegrir os outros.
Complexo de Superioridade
Situação que se cria quando uma pessoa supercompensa sensações de inferioridade
normais.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 42
A Luta pela Superioridade ou Perfeição
Os sentimentos de inferioridade são a fonte da motivação e da luta, mas para que
finalidade? Nós ficamos motivados simplesmente para nos livrarmos dos sentimentos
de inferioridade? A opinião de Adler era de que nos empenhamos para obter algo mais.
No entanto, a sua opinião sobre o objetivo principal da vida mudou com o decorrer dos
anos.
Primeiro, ele identificou a inferioridade como uma sensação geral de fraqueza
ou feminilidade, reconhecendo a posição inferior da mulher na sociedade da sua época,
e classificou de protesto masculino, a compensação por esse sentimento. A meta da
compensação era uma vontade ou um impulso para o poder, no qual a agressão, uma
característica supostamente masculina, desempenhava um papel importante. Depois,
rejeitou a ideia de equiparar as sensações de inferioridade com feminilidade e
desenvolveu uma teoria mais ampla, na qual nós lutamos pela superioridade ou
perfeição.
Adler descreveu sua noção de luta pela superioridade como o fato fundamental
da vida (Adler, 1930). A superioridade é o objetivo que perseguimos. Ele não falava de
superioridade no sentido comum da palavra, nem o conceito do termo se relaciona com
o complexo de superioridade. Lutar por ela não é uma tentativa de ser melhor do que
qualquer outra pessoa, nem uma tendência arrogante ou dominadora, ou uma opinião
presunçosa das nossas realizações e capacidade. O significado de Superioridade para
Adler era de um impulso para buscar a perfeição. A palavra perfeição vem de uma
palavra latina que significa concluir ou terminar. Portanto, Adler sugeriu que buscamos
a superioridade num esforço para nos aperfeiçoarmos, nos tomarmos completos ou
inteiros.
Finalismo de Ficção
Adler aplicou o termo Finalismo à ideia de que temos uma meta principal, um
estado final de ser e uma necessidade de caminhar na direção dele. As metas pelas quais
lutamos são potencialidades e não realidades. Em outras palavras, lutamos por ideais
que existem em nós subjetivamente. Para Adler, nossas metas são ideais ficcionais ou
imaginadas que não podem ser testados na realidade. Nós vivemos a nossa vida em
torno de ideais como a crença de que todos são criados iguais ou de que as pessoas são
essencialmente boas. A meta de vida de Adler era vencer a morte. A sua maneira de
lutar por essa meta foi tornar-se médico (Hoffman, 1994).
Essas crenças influenciam a maneira como percebemos e interagimos com
outras pessoas. Por exemplo, se acreditamos que determinada maneira de nos
comportarmos nos trará recompensas no céu ou após a morte, tentamos agir de acordo
com essa ideia. A crença na existência de uma vida após a morte não se baseia numa
realidade objetiva, mas é real para a pessoa que tem essa opinião.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 43
Adler formalizou esse conceito como Finalismo de Ficção, a noção de que
ideias ficcionais regem o nosso comportamento quando buscamos um estado de ser
completo ou inteiro. Nós traçamos o rumo da nossa vida por muitas dessas ficções, mas
a mais difundida é o ideal da perfeição. Ele sugeriu que a melhor formulação desse ideal
criada pelos seres humanos até agora, foi o conceito de Deus. Adler preferiu os termos
“meta final subjetiva” ou “guia do self ideal” para descrever este conceito, mas ele
continua a ser conhecido como “Finalismo de Ficção” (Watts, Holden, 1994).
Finalismo de Ficção
Ideia de que existe uma meta imaginada ou potencial que rege o nosso comportamento.
Existem dois pontos adicionais sobre a luta pela superioridade:
Em primeiro lugar, ela aumenta a tensão ao invés de diminui-la. Ao contrário
de Freud, Adler não acreditava que a nossa única motivação era reduzir a tensão. Buscar
a perfeição requer um grande dispêndio de energia e esforço, uma situação bem
diferente de um estado de equilíbrio ou sem tensões.
Em segundo lugar, a luta pela superioridade é manifestada tanto pelo
indivíduo quanto pela sociedade. Nós, na maioria, somos seres sociais; buscamos a
superioridade ou a perfeição não só como pessoas, mas também como membros de um
grupo. Nós tentamos atingir a perfeição da nossa cultura. Segundo Adler, as pessoas e a
sociedade se inter-relacionam e são interdependentes. As pessoas precisam agir
construtivamente com os outros para o bem de todos.
Portanto, para Adler, os seres humanos buscam constantemente a meta ficcional
e ideal da perfeição. Como tentamos, na nossa vida diária, atingir essa meta? Adler
respondeu a esta pergunta com o seu conceito de Estilo de Vida.
Estilo de Vida
A nossa meta principal é a superioridade ou perfeição, mas tentamos atingi-la
por meio de vários padrões de comportamento diferentes. Cada um de nós expressa essa
luta de maneira diferente; desenvolvemos um padrão singular de características,
comportamentos e hábitos, que Adler chamou de caráter distinto ou Estilo de Vida.
Estilo de Vida
Estrutura ou padrão de comportamentos e características de caráter peculiar pelo qual
buscamos a perfeição. Entre os estilos de vida básicos estão o Dominador, o
Dependente, o Esquivo e os tipos Socialmente Úteis.
Para entendermos como o estilo de vida se desenvolve, voltamos aos conceitos
de sentimentos de inferioridade e compensação. As crianças são atormentadas por
sentimentos de inferioridade que as motivam a compensar o desamparo e a
dependência. Nessas tentativas de compensação, adquirem um conjunto de
comportamentos. Por exemplo, a criança doente pode lutar para aumentar a capacidade
física correndo ou levantando peso. Esses comportamentos tornam-se parte do estilo de
vida, um padrão de comportamento criado para compensar uma inferioridade.
Tudo o que fazemos é moldado e definido pelo nosso estilo de vida peculiar, que
determina quais aspectos do nosso ambiente atendemos ou ignoramos e que atitudes
mantemos. Nós adquirimos nosso estilo de vida a partir das interações sociais que
ocorrem nos primeiros anos de vida. Adler sugeriu que o estilo de vida fica tão
firmemente cristalizado com a idade de quatro ou cinco anos que é difícil mudá-lo
depois.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 44
O estilo de vida torna-se a estrutura guia de todos os comportamentos
posteriores. Como observamos, a sua natureza depende de interações sociais,
principalmente a ordem de nascimento da pessoa na família e a natureza da relação pais-
filho. Lembre-se de que uma das situações que levam ao complexo de inferioridade é a
negligência. As crianças negligenciadas podem se sentir inferiores ao lidar com as
demandas da vida e, portanto, podem se tornar desconfiadas e hostis para com os outros,
podendo o seu estilo de vida envolver a busca de vingança, ressentimento pelo êxito dos
outros e posse de tudo o que acham que lhes é devido.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 45
Tipo Dominador → esse primeiro tipo apresenta uma atitude dominadora
com pouca consciência social e sem consideração pelos outros. O tipo mais extremo
desta categoria ataca os outros e se torna sádico, delinquente ou sociopata. O menos
violento se torna alcoólatra, viciado em drogas ou suicida. Eles acreditam que podem
magoar os outros atacando a si mesmos.
Tipo Dependente → o dependente (para Adler, o tipo humano mais comum)
espera ser satisfeito por outras pessoas e, portanto, se torna dependente delas.
Tipo Esquivo → o esquivo não tenta enfrentar os problemas da vida; evitando
dificuldades, a pessoa evita qualquer possibilidade de fracasso.
Estes três tipos não estão preparados para lidar com os problemas da vida
cotidiana. Não conseguem colaborar com outras pessoas e o choque entre o seu estilo de
vida e o mundo real resulta num comportamento anormal, que se manifesta na forma de
neuroses e psicoses. Falta-lhes o que Adler chamou de interesse social.
Tipo Socialmente Útil → o tipo socialmente útil colabora com os outros e age
de acordo com as necessidades destes. Esse tipo de pessoa lida com problemas dentro
de uma estrutura bem desenvolvida de interesse social.
Adler, no geral, opunha-se a classificar rigidamente as pessoas desta maneira e
propôs os quatro estilos de vida somente para fins didáticos. Ele alertava os terapeutas
para o erro de classificar as pessoas em categorias que se excluem mutuamente.
Interesse Social
Adler percebeu que nos darmos bem com os outros é a primeira tarefa que
encontramos na vida. O nosso nível de adaptação social subsequente, que faz parte do
nosso estilo de vida, influencia a maneira de abordarmos todos os problemas. Ele
propôs o conceito de interesse social, que definiu como o potencial inato da pessoa em
ajudar outras a atingir as metas pessoais e sociais. O termo de Adler para este conceito
no alemão original, Gemeinschaftsgefuhl, é mais bem traduzido como “sentimento
comunitário” (Stepansky, 1983, p. XIII). Entretanto, Interesse Social tornou-se o termo
aceito.
Interesse Social
Nosso potencial inato para ajudar outras pessoas a atingir as metas pessoais e sociais.
Embora sejamos influenciados mais fortemente pelas forças sociais do que pelas
biológicas, na opinião de Adler, o potencial para o interesse social é inato. Neste sentido
limitado, então, a sua abordagem tem um elemento biológico. Mas, até que ponto o
nosso potencial inato, para o interesse social se realiza, depende das nossas primeiras
experiências sociais.
Ninguém pode evitar totalmente as outras pessoas ou escapar de suas obrigações
para com elas. Desde os primórdios, elas se congregaram em famílias, tribos e nações.
As comunidades são indispensáveis para a proteção e sobrevivência dos seres humanos.
Consequentemente, sempre foi necessário que as pessoas colaborassem e expressassem
o seu interesse social. Elas precisam contribuir para que a sociedade realize suas metas
pessoais e comunitárias.
O recém-nascido está numa situação que requer cooperação, primeiro da mãe ou
da pessoa que proporciona os cuidados básicos, depois de outros membros da família e
das pessoas da creche ou da escola. Adler observou a importância da mãe como a
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 46
primeira pessoa com quem o bebê tem contato; por meio do seu comportamento para
com o filho, a mãe pode estimular o interesse social ou impedir o seu desenvolvimento.
Ele achava que o papel da mãe era fundamental no desenvolvimento do interesse
social, bem como de outros aspectos da personalidade, e escreveu:
Esta ligação [entre mãe e filho] é tão íntima e de tão longo alcance que nunca
vamos poder apontar nenhuma característica como hereditária mais adiante na
vida. Todas as tendências que poderiam ser herdadas já foram adaptadas,
treinadas, educadas e refeitas pela mãe. A sua capacidade, ou falta dela,
influenciará toda a potencialidade da criança (Adler, citado em Grey, 1998, p.
71).
A mãe precisa ensinar à criança a colaboração, o companheirismo e a coragem.
Só se as crianças sentirem afinidade com terceiros elas poderão tentar lidar
corajosamente com as exigências da vida. As crianças (e depois adultos) que encaram os
outros com suspeita e hostilidade encararão a vida com a mesma atitude. Aquelas que
não têm interesse social podem se tornar neuróticas ou até criminosas. Adler observou
que malefícios que vão desde a guerra e o ódio racial até a embriaguez em público
provinham da falta de um sentido comunitário.
É interessante observar que, no início de sua carreira, Adler sugeriu que as
pessoas eram motivadas por um desejo de poder e de domínio. Ele propôs essa teoria
quando estava lutando para defender o seu ponto de vista no círculo freudiano. Depois
que rompeu com Freud e o seu trabalho foi reconhecido, ele propôs que as pessoas são
mais motivadas pelo interesse social do que pelas necessidades de poder e domínio.
Quando Adler fazia parte do grupo de Freud, era considerado intratável e
ambicioso, brigando pela prioridade de suas ideias. Mas, posteriormente, acalmou-se e o
seu sistema também mudou, da ênfase no poder e no domínio como forças motivadoras
para o destaque da força mais benigna do interesse social e comunitário (vemos aqui um
outro exemplo de como a teoria de Adler reflete suas próprias experiências).
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 47
Ninguém pode esperar que os primogênitos sofram essa destituição sem lutar.
Eles tentarão recuperar a sua posição de poder e privilégio. No entanto, a batalha para
recuperar a supremacia já está perdida desde o começo, por mais que tentem.
Durante um certo período, podem se tornar teimosos, mal comportados,
destrutivos e se recusar a comer ou a ir para a cama. Eles têm acessos de raiva, mas os
pais provavelmente reagem e suas armas são muito mais poderosas, Ao serem punidos
pelo seu comportamento problemático, podem interpretar esse castigo como mais uma
prova da sua queda e vir a odiar o segundo filho, que afinal, é a causa do problema.
Para Adler, todos os primogênitos sentem o choque da mudança da sua posição
na família, mas os que foram excessivamente mimados sentem uma perda maior. Além
disso, o tamanho dessa perda depende da sua idade quando o rival aparece. Geralmente,
quanto mais velho for o primeiro filho quando o segundo nascer, menos destronado ele
se sentirá, Por exemplo, uma criança de oito anos ficará menos aborrecida com o
nascimento de um irmão do que uma de dois.
Adler descobriu que os primogênitos geralmente se voltam para o passado,
trancados em nostalgia e pessimistas em relação ao futuro. Tendo aprendido as
vantagens do poder numa determinada época, eles continuam preocupados consigo a
vida toda; podem exercer algum poder sobre os irmãos mais novos, mas, ao mesmo
tempo, estão mais sujeitos ao poder dos pais, porque estes esperam mais deles,
Há, contudo, vantagens em ser o primeiro filho. À medida que as crianças
crescem, o primogênito exerce o papel de professor, tutor, líder e disciplinador esperado
pelos pais para ajudar a cuidar dos irmãos mais novos. Essas experiências em geral,
habilitam o primogênito a amadurecer intelectualmente até um nível superior ao das
crianças mais novas. Um pesquisador descreveu a situação do seguinte modo:
Os segundos filhos podem perguntar aos irmãos mais velhos o significado das
palavras, como e por que determinada coisa funciona, sobre onde se encontram
os doces ou onde está um dos pais que está atrasado e sobre incontáveis
assuntos que os irmãos mais velhos devem, então, explicar. No papel de tutor, os
primogênitos obtém uma vantagem intelectual. Em razão dessas tentativas e em
razão de precisarem articular explicações ou fornecer o significado de uma
palavra, os primogênitos adquirem fluência verbal mais rapidamente do que os
segundos filhos (Zajonc, 2001, p. 491).
Adler acreditava que os primogênitos ficam excessivamente interessados em
manter a ordem e a autoridade, tornam-se bons organizadores, conscienciosos e
escrupulosos em relação aos detalhes e assumem uma atitude autoritária e conservadora.
Sigmund Freud era primogênito. Adler o descreveu como o típico filho mais velho. Os
primogênitos podem também vir a se sentir inseguros e a ser hostis com os outros.
Adler achava que os neuróticos, pervertidos e criminosos, geralmente eram
primogênitos.
O Segundo Filho
O segundo filho, aquele que causa tanta revolta na vida do primogênito, também
se encontra numa situação singular. Nunca teve a posição de poder usufruída pelos
primogênitos. Mesmo que nasça outra criança na família, o segundo filho não tem a
sensação de destronamento dos primogênitos. Além disso, a essa altura, os pais
geralmente mudaram suas atitudes e práticas em relação à educação dos filhos. Um
segundo filho não é a novidade que foi o primeiro. Os pais podem estar menos
preocupados e ansiosos quanto ao seu próprio comportamento e até relaxar mais.
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Desde o início, o segundo filho tem no irmão mais velho um determinador do
ritmo. O segundo sempre tem o exemplo do primeiro como modelo, ameaça ou fonte de
competição. Adler foi um segundo filho, que competiu a vida toda com o irmão mais
velho (que se chamava Sigmund). Mesmo quando se tornou um analista famoso, ele
ainda se sentia menos importante que seu irmão.
Alfred [Adler] sempre se sentiu ofuscado por seu “irmão modelo” e se ressentia
do seu status de predileção na família. Mesmo na meia-idade, sentiu-se impelido
a comentar enfastiado que o rico empresário Sigmund, “uma pessoa boa e
diligente [que] estava sempre na minha frente – ainda está na minha frente!”
(Hoffinan, 1994, p. 11).
A competição com o primeiro filho pode servir para motivar o segundo filho a
lutar para alcançar e superar o irmão mais velho, uma meta que impulsiona a linguagem
e o desenvolvimento motor do segundo filho. Eles começam a falar mais cedo do que os
primeiros. Como não experimentaram o poder, não se preocupam com ele; são mais
otimistas quanto ao futuro e tendem a ser competitivos e ambiciosos, como era Adler.
Outros resultados menos favoráveis podem surgir da relação entre o primogênito
e o segundo filho. Se, por exemplo, o irmão mais velho se sobressai nos esportes ou nos
estudos, o segundo filho pode sentir que nunca poderá superar o primogênito e pode
desistir de tentar. Neste caso, a competitividade não se tornaria parte do estilo de vida
do segundo filho e ele, ou ela, pode se tornar menos empreendedor ou ter um
desempenho abaixo de suas habilidades em muitos aspectos da vida.
O Filho Caçula
Os caçulas nunca enfrentam o choque do destronamento por uma outra criança e
geralmente se tornam os “queridinhos da família”, principalmente se os irmãos forem
bem mais velhos. Movidos pela necessidade de superá-los, os caçulas, geralmente, se
desenvolvem muito rapidamente; é comum que sejam grandes realizadores no que quer
que façam como adultos.
Pode ocorrer o contrário, entretanto, se forem excessivamente mimados e
acharem que não precisam aprender a fazer nada por conta própria. À medida que vão
ficando mais velhas, estas crianças podem preservar o desamparo da infância. Não
habituadas a lutar, mas sim a serem cuidadas, estas pessoas têm dificuldade em se
ajustar à idade adulta.
O Filho Único
Nunca perde a sua posição de primazia e poder que tem na família; continua
sendo o centro das atenções. Passando mais tempo na companhia de adultos do que uma
criança com irmãos, os filhos únicos amadurecem cedo e manifestam comportamentos e
atitudes adultos.
Eles tendem a enfrentar dificuldades quando descobrem que, em áreas da vida
fora de casa, como a escola, não são o centro das atenções. Não aprenderam a
compartilhar nem a competir. Se as suas habilidades não lhe trouxerem reconhecimento
e atenção suficientes, sentem-se profundamente desapontados.
Com suas ideias sobre a ordem do nascimento, Adler não estava propondo regras
estritas sobre o desenvolvimento da infância. Uma criança não adquire automaticamente
um determinado tipo de caráter com base apenas na sua posição dentro da família. O
que Adler estava sugerindo era “a probabilidade” de que certos estilos de vida se
desenvolvam em função da ordem de nascimento, junto com as primeiras interações
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 49
sociais da pessoa. O self criativo utiliza ambas as influências na construção do estilo de
vida.
Primeiras Lembranças
Técnica de avaliação de personalidade na qual se presume que as nossas primeiras
lembranças, quer seja de eventos reais quer de fantasias, revelam o interesse básico da
nossa vida.
Uma lembrança da infância que Adler relatou quando adulto era a de que,
quando ele tinha cinco anos e havia acabado de entrar na escola, ficou com medo
porque o caminho para a escola passava por um cemitério (Adler, 1924/1963). Ele disse
que ficava aterrorizado toda vez que ia a pé para a escola, mas também ficava confuso,
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 50
porque as outras crianças pareciam não notar o cemitério. Ele era o único que sentia
medo e essa experiência aumentou o seu sentimento de inferioridade. Um dia, decidiu
dar um fim ao seu temor; passou pelo cemitério uma dúzia de vez até sentir que havia
superado esse sentimento. Depois disso, conseguia ir à escola tranquilamente passando
pelo cemitério.
Trinta anos mais tarde, encontrou com um ex-colega de escola e, durante a
conversa, perguntou-lhe se o antigo cemitério ainda estava lá. O homem expressou
surpresa e disse a Adler que nunca houve um cemitério perto da escola. Adler ficou
chocado. A sua lembrança era tão vívida. Ele procurou outros colegas de escola e lhes
perguntou sobre o cemitério. Todos foram unânimes em afirmar que não havia
cemitério. Adler finalmente aceitou que sua lembrança do incidente era falha. Mesmo
assim, ela simbolizava o medo, a inferioridade e os seus esforços para superá-los, o que
caracterizou o seu estilo de vida. Essa antiga lembrança, portanto, revelou um aspecto
importante e influente da sua personalidade.
Embora achasse que cada lembrança antiga devesse ser interpretada dentro do
contexto do estilo de vida do paciente, encontrou traços comuns entre elas.
Adler acreditava que:
[as pessoas] recordam, da primeira infância: a) apenas imagens que confirmam
e corroboram a visão atual de si mesmos no mundo...; b) apenas as memórias
que suportam a direção de suas lutas por significado e segurança. [Seu] foco na
memória seletiva e no estilo de vida enfatiza o que é lembrado. Já a abordagem
de Freud de interpretar as primeiras memórias enfatiza o que é esquecido por
meio do mecanismo de repressão (Kopp, Eckstein, 2004, p. 165)
Análise de Sonhos
Adler concordava com Freud quanto ao valor dos sonhos para se entender a
personalidade, mas discordava quanto à maneira pela qual estes deviam ser
interpretados. Não achava que os sonhos realizavam desejos ou revelavam conflitos
ocultos, mas sim que envolviam os nossos sentimentos sobre um problema atual e o que
estávamos planejando fazer a respeito.
Um dos sonhos do próprio Adler ilustra essa teoria. Antes da sua primeira visita
aos Estados Unidos, estava ansioso e preocupado com o modo como ele e a sua teoria
da personalidade seriam recebidos. Na noite anterior à marcada para ele cruzar o
Oceano Atlântico de navio, sonhou que o navio havia virado e naufragado com ele a
bordo.
Todos os bens materiais de Adler estavam no navio e foram destruídos por
ondas devastadoras. Lançado ao mar, foi forçado a nadar para salvar sua vida.
Sozinho, lutou nas águas turbulentas. Mas, com força de vontade e
determinação, finalmente chegou são e salvo à terra (Hoffman, 1994, p. 151).
Esse sonho revelou o medo de Adler quanto ao que enfrentaria nos Estados
Unidos e a sua intenção de chegar à terra são e salvo – em outras palavras, obter sucesso
para si mesmo e para a sua teoria de Psicologia Individual.
Nas fantasias dos nossos sonhos (tanto diurnos quanto noturnos), acreditamos
que podemos superar os obstáculos mais difíceis ou simplificar o problema mais
complexo. Portanto, os sonhos são voltados para o presente e para o futuro, e não para
conflitos do passado. Eles nunca devem ser interpretados sem que se conheça a pessoa e
a sua situação. O sonho é uma manifestação do estilo de vida da pessoa e, portanto,
exclusivo dela. Adler encontrou interpretações comuns para alguns deles. Muitas
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pessoas relatavam sonhos que envolviam queda ou voo. Freud interpretava esse tipo de
sonho em termos sexuais.
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Uma outra acusação é que os seus conceitos
parecem estar fortemente baseados em observações de
bom-senso da vida cotidiana. Um crítico literário do New
York Times observou: “Embora [Adler] seja um dos
psicólogos mais eminentes do mundo, quando escreve
sobre psicologia não há quem se iguale a ele em termos
de simplicidade e linguagem não técnica” (citado em
Hoffman, 1994, p. 276).
Os críticos alegam que Adler era incoerente e não
sistemático no seu raciocínio e que sua teoria contém
lacunas e perguntas não respondidas. Os sentimentos de
inferioridade são o único problema que enfrentamos na
vida? Todas as pessoas buscam a perfeição? Nós
podemos nos resignar com um grau de inferioridade e
não mais tentar compensá-lo? Estas e outras perguntas
não podem ser respondidas adequadamente no sistema
de Adler. A maioria dos teóricos, entretanto, nos deixa
com perguntas sem resposta.
FIGURA 1 – Os livros de Adler obtiveram uma popularidade considerável nos Estados Unidos e
difundiram o gênero de autoajuda. FONTE: Edward Hoffman. The drive for self: Alfred Adler and the
founding of individual psychology. Addison-Wesley, 1994.
Referência Bibliográfica:
Schultz, Duane P. & Schultz, Sydney E. (2011). Teorias da Personalidade. Tradução de All
Tasks. 2ª ed. São Paulo, SP: Cengage Learning. Título Original: Theories of Personality.
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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 54
O motivo para esta conversão foi a leitura do livro de Carl Jung, Psychological
Types (Tipos Psicológicos), em 1923, que Murray encontrou casualmente: “Eu
encontrei esse livro na livraria da faculdade de medicina quando estava indo para
casa e passei a noite e o dia seguinte inteiros lendo-o” (Murray citado em
Anderson, 1988, p. 147).
Murray conheceu Christiana Morgan com quem iniciou um relacionamento.
Murray ficou tão envolvido pela Psicologia que escreveu a Jung, em 1924, pedindo
uma visita. O interesse de Murray pela Psicologia foi confirmado neste encontro.
Em 1943, Murray deixou Harvard para integrar-se ao Corpo Médico do Exército.
Murray morreu de pneumonia em 23 de junho de 1988, aos 95 anos de idade.
Murray defendia firmemente uma Psicologia Humanista e Otimista.
O desenvolvimento das suas pesquisas sobre a Personalidade levou-o ao
estabelecimento de uma teoria que denominou “PERSONALOGIA”.
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
As ideias de Murray sobre a Estrutura da Personalidade foram muito
influenciadas pela Teoria Psicanalítica, mas em muitos aspectos elas são
surpreendentemente diferentes de uma visão freudiana ortodoxa.
Definição de Personalidade
Embora Murray propusesse muitas definições de personalidade em diferentes
momentos, os principais componentes dessas definições podem ser resumidos da
seguinte maneira:
1. A Personalidade de um indivíduo é uma abstração formulada pelos teóricos e
não simplesmente uma descrição do comportamento do indivíduo.
2. A Personalidade de um indivíduo refere-se a uma série de eventos que
idealmente abrangem toda a sua vida: “A história da Personalidade é a
Personalidade”.
3. Uma definição de Personalidade deve refletir os elementos duradouros e
recorrentes do comportamento, bem como os elementos novos e únicos.
4. A Personalidade é o agente organizador ou governador do indivíduo. Suas
funções são integrar os conflitos e as limitações aos quais o indivíduo está
exposto, satisfazer suas necessidades e fazer planos para a conquista de metas
futuras.
5. A Personalidade está localizada no cérebro: “Nenhum cérebro, nenhuma
Personalidade”.
Procedimentos e Séries
ͽ Procedimentos → são interações sujeito-objeto ou interações sujeito-sujeito
com duração suficiente para incluir os elementos significativos de uma dada sequência
comportamental. A duração de um Procedimento é determinada pela iniciação e pelo
término de um padrão de comportamento dinamicamente significativo.
Murray sugeriu que os comportamentos fossem classificados como internos ou
externos.
ͽ Série → é uma unidade funcional relativamente longa que só pode ser
formulada em termos aproximados.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 55
Programas e Planos Seriados
ͽ Os Programas Seriados cumprem uma função muito importante para o
indivíduo. São os arranjos ordenados de submetas que se estendem para o futuro, talvez
meses ou anos, e que, se tudo correr bem, levarão finalmente a algum estado final
desejado.
ͽ Os Planos Seriados são meios para reduzir o conflito entre as necessidades e
as metas concorrentes, organizando a expressão dessas tendências em momentos
diferentes.
Habilidades e Realizações
Murray demonstrava um consciente interesse pela Habilidade e pela Realização,
considerando essas qualidades, uma parte importante da personalidade. Esses
componentes do indivíduo têm a função central de mediadores entre as disposições para
ação e os resultados finais para os quais tais disposições estão orientadas.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE
A posição de Henry Murray é, primariamente, de uma Psicologia Motivacional.
Esse foco no processo motivacional é perfeitamente congruente com a convicção
de Murray de que, no estudo das tendências direcionais da pessoa, está a chave para
compreensão do comportamento humano: “a coisa mais importante que temos de
descobrir sobre uma pessoa... é a direcionalidade (ou as direcionalidades) supra-
ordenadas de suas atividades, sejam elas mentais, verbais ou físicas” (Murray, 1951, p.
276).
Murray também enfatizava a importância da Análise Motivacional. Veremos a
seguir seus principais conceitos:
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 56
Necessidade → é um constructo que representa uma força na região do
cérebro, uma força que organiza a percepção, a apercepção, a intelecção, a conação 2 e a
ação, de maneira a transformar, em certa direção, uma situação insatisfatória
inexistente. Ela se manifesta por levar o organismo a buscar ou a evitar encontrar, ou
quando encontrar, a prestar atenção e a responder a certos tipos de pressão. Algumas
Necessidades são acompanhadas por determinadas emoções ou sentimentos, e são
frequentemente associadas a atos instrumentais específicos que são efetivos para
produzir um estado final desejado.
Murray afirmou que a existência de uma Necessidade pode ser inferida com
base:
No efeito ou no resultado final do comportamento.
No padrão ou no modo específico do comportamento envolvido.
Na atenção seletiva e na resposta de uma determinada classe e objetos-
estímulo.
Na expressão de uma determinada emoção ou no afeto.
Na expressão de satisfação quando é atingido um determinado efeito, ou de
desapontamento quando o efeito não é atingido.
A pesquisa de Murray o levou a elaboração de uma lista de 20 Necessidades,
descritas no quadro a seguir. Nem todas as pessoas têm todas as Necessidades.
Nº Necessidades Descrição
Ficar ao lado e colaborar com prazer ou retribuir a um aliado que se
1. Afiliação pareça com a própria pessoa, ou seja, alguém que goste dela. Aderir e
permanecer leal a um amigo.
Superar a oposição à força. Lutar, atacar, ferir ou matar outra pessoa.
2. Agressão
Depreciar, censurar ou ridicularizar maliciosamente alguém.
Libertar-se e abolir as restrições ou sair do confinamento. Resistir à
3. Autonomia coerção e às restrições. Ser independente e livre para agir de acordo
com os impulsos. Desafiar as convenções.
Defender o Self contra ataques, críticas e culpas. Omitir ou justificar
4. Autodefesa
uma má ação, falha ou humilhação.
Respeitar, admirar e apoiar outra pessoa superior. Entregar-se
5. Deferência ansiosamente à influência de um aliado. Agir de acordo com o
habitual.
Evitar a dor, lesão física, doença e morte. Escapar de uma situação
6. Defesa Física
perigosa. Tomar medidas de precaução.
Evitar humilhação. Sair de situações embaraçosas ou evitar situações
Defesa
7. que possam levar ao escárnio, menosprezo ou indiferença dos outros.
Psíquica
Evitar agir devido ao medo do fracasso.
Estar inclinado a analisar eventos e a generalizar. Discutir, argumentar
e dar ênfase à razão e à lógica. Expor as opiniões de maneira precisa.
8. Discernimento
Mostrar interesse por formulações abstratas em ciências, matemática e
filosofia.
9. Divertimento Agir simplesmente com o intuito de divertir-se e relaxar.
Controlar o ambiente. Influenciar ou dirigir o comportamento de
10. Domínio outros por sugestão, sedução, persuasão ou comando. Fazer os outros
colaborarem. Convencê-los de que a opinião de alguém é correta.
2
Conação → Processo mental de formação da vontade e da intenção. Processo intencional direcionado
para a ação. Tendência natural do organismo para o movimento. Esforço consciente.
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Impressionar. Ser visto e ouvido. Emocionar, surpreender, fascinar,
11. Exibição
entreter, chocar, intrigar, divertir ou atrair outras pessoas.
Submeter-se passivamente às forças externas. Aceitar insultos, críticas
e punição. Resignar-se com a sua sina. Admitir inferioridade, erro, más
12. Humilhação
ações ou derrota. Culpar, depreciar ou mutilar o Self. Buscar e gostar
da dor, de punição, doença e infortúnio.
Dominar ou compensar uma falha reparando-a. Obliterar uma
humilhação retomando uma ação. Superar fraquezas e reprimir o
13. Neutralização
medo. Buscar obstáculos e dificuldades a serem superados. Manter o
autorrespeito e o orgulho elevados.
Colocar as coisas em ordem. Obter limpeza, boa disposição,
14. Ordem
organização, equilíbrio, arrumação e precisão.
Conseguir realizar algo difícil. Dominar, manipular ou organizar
15. Realização objetos físicos, seres humanos ou ideias. Superar obstáculos e atingir
um alto padrão. Rivalizar e superar os outros.
Excluir, abandonar, expulsar ou ficar indiferente a alguém inferior.
16. Rejeição
Esnobar ou se afastar de outra pessoa.
Ser cuidado, sustentado, cercado, protegido, amado, aconselhado,
17. Segurança orientado, perdoado ou consolado. Ficar próximo de um protetor
dedicado.
18. Sensualidade Buscar e apreciar impressões sensuais.
19. Sexo Cultivar e aprofundar uma relação erótica. Ter relações sexuais.
Prestar solidariedade e satisfazer as necessidades dos desamparados,
20. Solidariedade de uma criança ou uma pessoa fraca, deficiente, inexperiente, enferma,
humilhada, solitária, abatida ou mentalmente confusa.
Tipos de Necessidades:
Necessidades Primárias (ou Viscerogênicas) → surgem de processos físicos
internos e incluem as necessidades de sobrevivência.
Necessidades Secundárias → provêm indiretamente das primárias,
necessidades emocionais e psicológicas.
Necessidades Reativas → envolvem uma resposta a algo específico do
ambiente e são estimuladas apenas quando o dito objeto aparece.
Necessidades Proativas → não dependem da presença de um determinado
objeto, são espontâneas, trazendo à tona o comportamento adequado sempre que
estimulada, independente do ambiente.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 58
ͽ Necessidades Modais → tendências a realizar certos atos no interesse do
desempenho em si.
Inter-Relação de Necessidades:
ͽ Predominância → refere-se às necessidades que se tornam dominantes
rapidamente se não são satisfeitas. Não podem ser adiadas.
ͽ Fusão de Necessidades → circunstâncias em que as necessidades múltiplas são
complementares e podem ser gratificadas por um único curso de ação.
ͽ Subsidiação → situação na qual uma necessidade é ativada para ajudar a
satisfazer outra necessidade.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Murray elaborou e refinou a concepção psicanalítica de “Complexo”, para
representar um conjunto particularmente importante de experiências da infância inicial.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 59
Embora o tratamento dado por Murray ao desenvolvimento, tenha um forte
cunho de teorização psicanalítica, ele introduziu novas dimensões no uso dessas
concepções, e também foi, especialmente, inventivo ao criar meios para medir algumas
das variáveis importantes.
Complexos Infantis
Murray descreveu detalhadamente as pressões da infância, as necessidades e as
catexias resultantes; observou também que nossa lembrança desses eventos depende de
possuirmos a linguagem: só lembramos aquilo que foi verbalizado, embora os eventos
do período pré-verbal não sejam lembráveis. Murray sugeriu Cinco Condições ou
Atividades extremamente agradáveis, cada uma das quais é bloqueada, frustrada ou
limitada (em algum ponto do desenvolvimento) por forças externas:
A existência segura, passiva e dependente dentro do útero.
O prazer sensual de sugar um bom alimento do seio da mãe (ou da
mamadeira), enquanto aconchegado, seguro e dependentemente em seus braços.
O livre usufruir das sensações prazerosas que acompanham a defecação.
As agradáveis impressões dos sentidos que acompanham a micção.
A emocionante excitação decorrente da fricção genital (proibida por ameaças
de punição).
Todas essas áreas foram indicadas pelos psicanalistas como trazendo problemas
especiais para a criança em crescimento.
As contribuições de Murray representam uma elaboração e clarificação das
ideias freudianas. Murray definiu um Complexo como um conjunto de necessidades
integradas duradouras que determina (inconscientemente) o curso do desenvolvimento
posterior. Todas as pessoas têm Complexos de variável gravidade e, só nos casos
extremos, isso implica uma anormalidade.
Murray sugeriu 5 Complexos que são divididos em: Claustral, Oral,
Anal, Uretral e de Castração.
Complexos Claustrais → representam resíduos da experiência uterina ou
pré-natal do indivíduo. São subdivididos em:
a. Complexo Claustral Simples → é vivenciado como desejo de estar em
lugares pequenos, aquecidos e escuros que sejam seguros e reclusos. As
pessoas com este complexo tendem a ser dependentes dos outros, passivas e
voltadas para comportamentos seguros e familiares que deram certo.
b. Complexo do Medo da Falta de Apoio → se manifesta nos medos de espaços
abertos, queda, afogamento, fogo, terremotos ou simplesmente de qualquer
situação que envolva novidade e mudança.
c. Complexo de Egressão → baseia-se na necessidade de escapar das situações
restritivas parecidas com as do útero. Ela inclui um medo de sufocação e
confinamento e se manifesta numa preferência por espaços abertos, ar fresco,
viagens, movimento, mudança e novidade.
Complexos Orais → representam derivativos de experiências anteriores de
alimentação. São subdivididos em:
a. Complexo de Socorro Oral → apresenta uma combinação de atividades
bucais, tendências à passividade e à necessidade de ser apoiado e protegido.
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Entre as manifestações comportamentais estão o sugar, beijar, comer, beber e
uma necessidade de afeto, solidariedade, proteção e amor.
b. Complexo de Agressão Oral: → combina comportamentos orais e agressivos,
incluindo os atos de morder, cuspir, gritar e a agressão verbal.
c. Complexo de Rejeição Oral → envolve cuspir e ter nojo de atividades e
objetos orais. Alguns comportamentos característicos são: vomitar, ser
enjoado com comida, comer pouco, temer contaminação oral, desejar
isolamento e evitar dependência dos outros.
Complexos Anais → derivam-se de eventos associados ao ato de defecar e
ao treinamento esfincteriano. São subdivididos em:
a. Complexo de Rejeição Anal → inclui diarreia e catexia3 de fezes, envolve
necessidade de agressão. As pessoas com esse complexo podem ser sujas e
desorganizadas.
b. Complexo de Retenção Anal → envolve uma catexia subjacente de fezes, mas
isso está escondido por trás de um aparente nojo, pudicícia e reação negativa
à defecação. Manifesta-se no acúmulo, economia e coleção de coisas e na
limpeza, arrumação e ordem.
Complexo Uretral → inicialmente envolvia apenas molhar a cama, sujar-se
(pela uretra) e erotismo uretral, posteriormente passou a ser chamado também de
Complexo de Ícaro. O indivíduo icariano costuma apresentar catexia de fogo, uma
história de enurese, um anseio de imortalidade, forte narcisismo e uma grandiosa
ambição que se dissolve diante do fracasso.
Complexo de Castração → ansiedade evocada pela fantasia de que o pênis
poderia ser cortado fora. Geralmente é o resultado das fantasias associadas à
masturbação infantil.
Qualquer um desses complexos pode persistir por toda a vida da pessoa na forma
de Traços de Caráter, isto é, as maneiras características de se comportar.
3
Catexia → concentração de todas as energias mentais sobre uma representação bem precisa, um
conteúdo de memória, uma sequência de pensamentos ou encadeamentos de atos.
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de estimulação, novas aventuras e novas realizações, e pode ser transformado por
insights espirituais.
Referências Bibliográficas
• Hall, C. S.; Lindzey, G. & Campbell, J. B. (2000). Teorias da Personalidade. 4ª Ed. Porto Alegre:
Artmed.
• Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2011). Teorias da Personalidade. 2ª Ed. São Paulo: Cengage Learning.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 62
FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
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ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
• Sullivan insistia que a Personalidade é uma entidade puramente hipotética, “uma
ilusão”, que não pode ser observada ou estudada à parte de situações interpessoais.
• A Personalidade só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a
um ou mais indivíduos.
• Sullivan afirmava que a Personalidade é um centro dinâmico de vários processos
que ocorrem em uma série de campos interpessoais, conceitualizando algumas de
suas propriedades, sendo as principais: os Dinamismos, as Personificações e
os Processos Cognitivos.
DINAMISMOS
• Um Dinamismo é a menor unidade que pode ser empregada no estudo do indivíduo.
É definido como “o padrão relativamente duradouro de transformações de energia,
que, recorrentemente, caracteriza o organismo em sua duração como um
organismo vivo”.
• Uma vez que um Dinamismo é um padrão de comportamento persistente e
recorrente, ele é, mais ou menos, como um hábito. Sullivan definia como: “um
invólucro contendo diferenças particulares insignificantes”.
• Os Dinamismos com caráter distintivamente humano são aqueles que caracterizam
as relações interpessoais.
• Um Dinamismo normalmente emprega uma determinada zona do corpo. Uma zona
consiste em um Aparelho Receptor para receber estímulos; um Aparelho Efetuador
para realizar uma ação; e um Aparelho Conector chamado Edutor, no Sistema
Nervoso Central, que conecta o mecanismo efetuador.
• A maioria dos Dinamismos tem o propósito de satisfazer as necessidades básicas do
organismo. Entretanto, existe um Dinamismo importante que se desenvolve em
resultado da ansiedade, chamado de Dinamismo do Self ou do Auto-Sistema.
Auto-Sistema
• A ansiedade é um produto das relações interpessoais, sendo transmitida da mãe para
o bebê, e posteriormente, por ameaças à segurança da pessoa.
• Para evitar ou minimizar a ansiedade real ou potencial, as pessoas adotam vários
tipos de medidas protetoras e controles para supervisionar seu comportamento.
• O Auto-Sistema advém de experiências interpessoais sempre em desenvolvimento.
Ele é dividido em três partes:
EU BOM → conjunto de imagens, experiências e comportamentos associados a
respostas não ansiosas.
EU MAU → associado à ideias, ações e percepções que provocam ansiedade e
desaprovação de cuidadores.
NÃO EU → situações de ansiedade muito intensa e inteiramente desautorizadas
e desapropriadas.
• O Auto-Sistema age como um filtro da consciência. Sullivan empregou o termo
Atenção Seletiva para a recusa do inconsciente a prestar atenção a eventos e
sentimentos geradores da ansiedade.
• O Auto-Sistema tende a isolar-se do resto da personalidade. Conforme cresce em
complexidade e independência, ele impede que a pessoa faça julgamentos objetivos
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 64
de seu próprio comportamento e atenua contradições óbvias entre o que a pessoa
realmente é e o que o Auto-Sistema diz que ela é.
• Sullivan acreditava que o Auto-Sistema é um produto dos aspectos irracionais da
sociedade → “O principal obstáculo às mudanças favoráveis na personalidade”.
PERSONIFICAÇÕES
• Uma Personificação é a imagem que o indivíduo tem de si mesmo ou de outra
pessoa. Um complexo de sentimentos, atitudes e concepções que decorrem de
experiências de satisfação de necessidade e de ansiedade.
• Qualquer relacionamento interpessoal que envolva satisfação tende a criar uma
imagem favorável do agente que o satisfaz. Por outro lado, a Personificação do bebê
de uma mãe má, resulta de experiências com ela, envolvendo ansiedade.
• As imagens que levamos em nossa mente, raramente são descrições acuradas das
pessoas às quais se referem.
• Algo que tem como função reduzir a ansiedade no início da vida pode interferir,
posteriormente, nas relações interpessoais. Essas imagens carregadas de ansiedade
distorcem nossas concepções de pessoas presentemente significativas.
• As Personificações compartilhadas por várias pessoas chamam-se Estereótipos.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE
• Sullivan concebia a Personalidade como um sistema de energia cujo principal
trabalho consiste em atividades que reduzirão a tensão.
TENSÃO
ͽ A Teoria de Sullivan é fundamentalmente uma Teoria de Necessidades e
Ansiedades:
Necessidades por Satisfação → incluem necessidades físicas. Ex: ar,
água, comida.
Necessidades por Segurança → ausência da ansiedade. Incluem as
necessidades de evitar, prevenir ou reduzir a ansiedade.
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ͽ Existem, portanto, duas Fontes Principais de Tensão:
As tensões que surgem das necessidades do organismo.
As tensões que resultam de uma ansiedade.
ͽ As Necessidades estão relacionadas às exigências físico-químicas da vida, e se
organizam segundo uma ordem hierárquica; as Inferiores precisam ser satisfeitas
antes que as Superiores possam ser acomodadas.
ͽ A Ansiedade é a experiência de tensão resultante de ameaças reais ou imaginárias à
própria segurança. Ocorre quando necessidades fundamentais estão em perigo de
não serem satisfeitas; e varia em intensidade, dependendo da gravidade da ameaça
e da efetividade das operações de segurança empregada pelas pessoas.
ͽ Sullivan acreditava que a Ansiedade é a primeira grande influência educativa na
vida; é o motivador primário do comportamento humano.
ͽ Em consequência da Ansiedade transmitida pela mãe, outros objetos no ambiente
circundante ficam carregados de Ansiedade pela operação do modo Paratáxico de
associar experiências contíguas.
ͽ Quando o bebê não pode escapar da ansiedade, ele tende a adormecer. Esse
dinamismo do desligamento sonolento é o equivalente da apatia, que é o
dinamismo despertado por necessidades insatisfeitas.
TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIA
• A energia é transformada pelo trabalho. O trabalho pode ser uma ação manifesta,
envolvendo os músculos estriados do corpo ou pode ser mental, tal como perceber,
lembrar e pensar. Essas atividades manifestas ou ocultas têm como meta: o alívio de
tensão.
• Sullivan não acreditava que os instintos fossem fontes importantes de motivação
humana, e não aceitava a Teoria de Freud da libido. O indivíduo tende a se
comportar de determinada maneira como resultado de interações com as pessoas e
não porque possui imperativos inatos para certos tipos de ação.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
• Sullivan considerava a personalidade de uma perspectiva de estágios definidos de
desenvolvimento. Ao passo que Freud mantinha a posição de que o desenvolvimento
é amplamente um desdobramento do instinto sexual, Sullivan defendia uma visão
mais psicológica social do desenvolvimento da personalidade, que reconhecesse,
devidamente, as contribuições notáveis dos relacionamentos humanos.
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
• Sullivan caracterizou o Desenvolvimento Social como a Necessidade de Satisfação e
Segurança e dividiu os Estágios do Desenvolvimento da Personalidade pelas fases em
que o indivíduo passava. São elas:
Infância;
Meninice;
Idade Juvenil;
Pré-Adolescência;
Adolescência Inicial;
Adolescência Final.
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Infância:
A Infância se estende do nascimento ao aparecimento da fala articulada.
Caracteriza-se pela necessidade primária de contato corporal e ternura.
Nesse período a zona oral é a zona primária de interação entre o bebê e seu
ambiente. A amamentação oferece ao bebê, sua primeira experiência interpessoal. O
bebê desenvolve várias concepções do mamilo ou bico do seio, dependendo das
experiências que tem com ele. São elas:
→ Mamilo bom sinaliza a amamentação: a satisfação está chegando.
→ Mamilo bom, mas insatisfatório, porque o bebê não está com fome.
→ Mamilo errado, porque não dá leite e é um sinal para a rejeição e a
subsequente busca de outro mamilo.
→ Mamilo mau da mãe ansiosa, que é um sinal para a esquiva.
Outros Aspectos característicos da Infância são:
→ O aparecimento dos dinamismos de apatia e desligamento sonolento;
→ Transição de um modo de cognição prototáxico para um paratáxico;
→ A organização de personificações, como a mãe má, ansiosa, que rejeita e
frustra, e a mãe boa, tranquila, que aceita e satisfaz;
→ A organização da experiência por meio da aprendizagem e a emergência dos
rudimentos do auto sistema;
→ A diferenciação do corpo do bebê, de modo que ele aprenda a satisfazer suas
tensões, independentemente da pessoa que faz a maternagem, sugando o
polegar, por exemplo; e
→ A aprendizagem de movimentos coordenados, envolvendo mão e olho, mão
e boca e ouvido e voz.
Meninice:
A Meninice vai desde o início da Linguagem Utilizável e Contínua até o início
da Escola e, caracteriza-se pelo foco da criança sobre os pais.
A transição da infância para a Meninice é possibilitada pela aprendizagem da
linguagem e pela organização da experiência no modo sintáxico.
A Meninice se estende da emergência da fala articulada ao aparecimento da
necessidade de companheiros para brincar.
Um evento dramático da meninice é a transformação malevolente, o sentimento
de que vivemos entre inimigos.
A transformação malevolente distorce as relações interpessoais da criança,
levando-a ao isolamento.
Estágio Juvenil:
O Estágio Juvenil se estende pela maioria dos anos iniciais do ensino
fundamental (até + ou – 8 anos).
Caracteriza-se pelo desvio do modo cognitivo sintático inicial e o foco
interpessoal espalha-se para grupos de pares e para figuras de autoridade externas.
Um grande evento desse período é a emergência da concepção de orientação na
vida.
Pré-Adolescência:
A Pré Adolescência varia dos 8 aos 12 anos e caracteriza-se pelo movimento de
cooperação da criança, e da competição dos grupos de pares, embasada em regras para
intimidade genuína com um camarada.
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O período relativamente breve da Pré-Adolescência é marcado pela necessidade
de um relacionamento íntimo com igual do mesmo sexo.
Em períodos anteriores, a situação interpessoal se caracteriza pela dependência
da criança em relação a uma pessoa mais velha. Durante a Pré-Adolescência, a criança
começa a formar relacionamentos de amizade nos quais existem igualdade, mutualidade
e reciprocidade entre os membros.
Adolescência Inicial:
Início da Puberdade, caracterizada pelo início das preocupações semelhantes às
da pré-adolescência, com a importante exceção de que sensualidade é acrescentada à
equação interpessoal.
O principal problema do período da Adolescência Inicial é o desenvolvimento de
um padrão de atividade heterossexual
O dinamismo do desejo sensual emerge desses sentimentos e começa a afirmar-
se na personalidade.
O dinamismo do desejo sensual envolve, primariamente, a zona genital, mas
outras zonas de interação, como a boca e as mãos, também participam do
comportamento sexual.
Existe uma separação entre a necessidade erótica e a necessidade de intimidade.
A Adolescência Inicial persiste até que a pessoa encontre algum padrão estável
de desempenho que satisfaça suas pulsões genitais.
Adolescência Final:
A Adolescência Final se estende da criação do padrão de atividade genital
preferida, por meio de inumeráveis passos educativos, até o estabelecimento de um
repertório plenamente humano ou maduro de relações interpessoais, conforme permitem
as oportunidades pessoais e culturais.
O auto sistema se estabiliza, são aprendidas sublimações de tensões mais
efetivas, e instituídas medidas de segurança, mais enérgicas contra a ansiedade.
DETERMINANTES DO DESENVOLVIMENTO
Sullivan reconhecia a importância da hereditariedade na provisão de certas
capacidades.
Ele também aceitava o princípio de que o treinamento não pode ser efetivo antes
que a maturação tenha constituído a base estrutural.
A primeira influência educativa é a da Ansiedade.
A segunda força educacional é a da Tentativa e Sucesso.
Também podemos aprender por meio da imitação ou da inferência.
Sullivan não acreditava que a Personalidade já estivesse estabelecida em tenra
idade.
TEORIA DA PSICOPATOLOGIA
Sullivan viu a Psicopatologia como resultante de ansiedade excessiva que detém
o desenvolvimento do Auto-Sistema e, por meio disso, limita tanto oportunidades para
satisfação interpessoal como operações de segurança disponíveis.
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CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
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Em 1970, aposentou-se. Aos 84 anos, publicou um livro sobre a velhice. Faleceu
em 12.05.1994.
Depois de uma vida de elogios, honras e reconhecimentos, segundo sua filha,
sentia-se desapontado com o que havia conseguido. “Para esse homem célebre, ainda
era motivo e vergonha ter sido um filho ilegítimo”.
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
O EGO NA TEORIA PÓS-FREUDIANA
Freud destaca que o Ego deve estar bem desenvolvido para poder controlar e
mediar o Id.
Erikson sustentava que o Ego é uma força positiva que cria a auto identidade,
um senso de “eu”. É a capacidade de uma pessoa para unificar experiências e para se
adaptar aos conflitos da vida e crises. O Ego impede-nos de perder a identidade para
forças niveladoras da sociedade; unifica nossa personalidade e protege contra
indivisibilidade. Ele sintetiza experiências presentes com auto identidades passadas.
Três Aspectos do Ego:
1. Corpo Egóico → refere-se às experiências com nosso corpo, uma forma de
enxergar nosso Self físico como algo diferente das demais pessoas;
2. Ego Ideal → representa a imagem que temos de nós mesmos em comparação
com um ideal estabelecido;
3. Identidade Egóica → é a imagem que temos de nós mesmos nos vários papéis
sociais que desempenhamos.
INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE
• O Ego surge a partir da sociedade e é amplamente moldado por ela. Conflito
entre visão de Erikson e Freud.
• Erikson define que o ego constitui-se sobre fatores sociais e históricos.
• A sociedade tende a moldar personalidades que se ajustem às necessidades e aos
valores de sua cultura.
• A teoria de Erikson contribui com a extensão dos estágios iniciais de Freud para
a teoria da personalidade.
PRINCÍPIO EPIGENÉTICO
Desenvolvimento de vários estágios da vida segundo um padrão pré-
determinado e uma sequência fixa. Um estágio surge e desenvolve-se sobre um estágio
anterior, mas não ocorre substituição.
DINÂMICA DA PERSONALIDADE
Crescimento de acordo com o Princípio Epigenético.
Interação de Opostos → em cada estágio de desenvolvimento ocorre a
interação entre opostos, um conflito entre elementos Sintônicos (harmoniosos) e
Distônicos (destrutivos). Ambos os elementos são necessários para uma adaptação
adequada, porém excessos podem ser prejudiciais.
Os conflitos entre os elementos harmoniosos e os elementos destrutivos,
produzem uma qualidade ou Força do Ego, que Erikson definiu como Força Básica
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 70
(uma qualidade do Ego), que possibilita que a criança prossiga para o próximo estágio.
Por exemplo, entre o choque da Desconfiança com a Confiança surge a Esperança.
Pouca força básica, em qualquer dos estágios, ocasiona uma Patologia Central –
a patologia central daquele estágio.
Ainda que Erikson se referisse aos seus Estágios de Desenvolvimento como
Estágios Psicossociais, ele nunca desconsiderou o aspecto biológico do
desenvolvimento humano.
Os eventos dos estágios iniciais não determinam o desenvolvimento posterior da
personalidade. A Identidade Egóica é resultante de uma multiplicidade de eventos
presentes, passados e antecipados.
As qualidades do Ego (ou Forças Básicas) surgem a partir dos conflitos, das
crises de cada estágio de nossa vida. Especialmente, a partir da adolescência, o
desenvolvimento da personalidade é caracterizado por uma “Crise de Identidade”. Em
cada crise a pessoa fica mais sensível a grandes modificações de identidade, tanto
positivas quanto negativas. Os elementos sintônicos e distônicos, embora opostos, se
complementam. A “Crise de Identidade” não é um evento catastrófico, mas sim uma
oportunidade para um ajuste de adaptação boa ou má. Cada Crise e cada Força Básica
está relacionada às demais.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Erikson dividiu o Desenvolvimento da Personalidade em oito Estágios
Psicossociais, sendo os quatro primeiros semelhantes aos Estágios Oral, Anal, Fálico e
de Latência de Freud. A principal diferença entre as teorias é que Freud se concentra
nos Fatores Biológicos e Erikson enfatiza as Correlações Psicossociais.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 71
FORÇAS BÁSICAS
Cada um dos oito estágios psicossociais propicia uma oportunidade para
desenvolvermos as nossas forças básicas ou virtudes, que surgem quando a crise é
resolvida satisfatoriamente. Ele afirmou que as forças básicas são interdependentes e
que uma força básica não pode se desenvolver enquanto a força básica associada à fase
anterior não for confirmada.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 72
desejo de Iniciativa em várias atividades.
O complexo de Édipo está na imaginação da criança e não produz efeitos
danosos.
A sexualidade infantil é “uma mera promessa de algo por vir”. Orientada pelos
pais com amor e compreensão, a criança adquirirá consciência do que é
comportamento permitido e o de que não é permitido.
Ainda importante mencionar a iniciativa no desenvolvimento da
responsabilidade e moralidade. Na teoria freudiana isso é denominado de Superego.
Existe iniciativa e busca de metas (casar com sua mãe, ou pai, ou sair de casa),
que não devem ser reprimidas. A consequência dessa repressão é a Culpa.
• Força Básica → chamada Objetivo surge da iniciativa, envolvendo a
Coragem de conceber e buscar metas. As crianças desenvolvem consciência de certo e
errado, que torna-se a base da moralidade.
• Fraqueza Básica → A Crueldade e Obstinação.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 73
sobre nós mesmos.
Identidade do Ego
Moldar uma identidade e aceitá-la são tarefas difíceis, geralmente realizadas
com ansiedade. Erikson mostrou que os adolescentes fazem experiências com vários
papéis na tentativa de determinar os mais compatíveis com eles.
As pessoas que saem dessa fase com um forte senso de auto identidade
enfrentarão a idade adulta com certeza e confiança. As que não conseguem passam por
uma Crise de Identidade, apresentarão uma confusão de papéis sem saber quem ou o
que são, qual é o seu lugar e o que querem se tornar.
Crise de Identidade
A confusão de identidade faz-se necessária, mas em excesso pode levar à
regressão a estágios anteriores. A proporção correta entre Identidade e Confusão de
Identidade faz com que desenvolvamos fé em algum princípio ideológico, habilidade
para decidir como nos comportar, confiança em nossos iguais e em adultos que
oferecem conselhos e certeza em torno de nossa escolha.
• Força Básica → é a Fidelidade, que surge de uma Identidade de Ego coesa e
engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever dos relacionamentos.
• Fraqueza Básica → O Repúdio de Papéis.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 74
as próximas gerações) e Estagnação. As pessoas têm a necessidade não apenas de
aprender, mas também de instruir, tanto os próprios filhos como todos os outros jovens.
Trata-se de motivação, uma orientação evolutiva.
Quando as pessoas de meia-idade não conseguem ou não procuram uma vazão
para a preocupação em relação ao futuro da sociedade, acabam sendo tomadas pelo
sentimento de Estagnação, tédio e empobrecimento pessoal. Podem voltar a uma fase
de pseudointimidade, quando se satisfazem de maneiras infantis, podendo se tornar
inválidas física e psicologicamente.
• Força Básica → é o Cuidado que surge da preocupação com as próximas
gerações.
• Fraqueza Básica → A Rejeição.
FRAQUEZAS BÁSICAS
Assim como surgem as Forças Básicas, podem surgir as Fraquezas Básicas.
Foi observado que as formas bem e mal resolvidas de lidar com a crise de cada fase são
incorporadas na Identidade do Ego, proporcionando um equilíbrio criativo. Embora o
Ego deva ser composto de atitudes de adaptação, ele também contém uma parcela de
atitude negativa.
• Mau desenvolvimento – Ego composto apenas de uma atitude bem ou mal
adaptada. Somente tendência positiva = Mal Adaptada (Neuroses). Somente
tendência negativa = Maligna (Psicoses). Erikson achava que ambos os
problemas poderiam ser corrigidos com a psicoterapia.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 75
infância são importantes, mas os acontecimentos nas fases posteriores podem
contrabalancear as infelizes experiências anteriores.
Acreditava que a personalidade é mais afetada pela aprendizagem e experiência
do que pela hereditariedade. A Teoria de Erikson é apenas, particularmente,
determinista. Para ele, o fundamental é desenvolver uma Identidade de Ego Positiva
que incorpore todas as Forças Básicas.
Bibliografia:
• Feist, Jess. (2008). Teorias da Personalidade. São Paulo: MC Graw-Hill.
• Schultz, Diane P. (2011). Teoria da Personalidade. São Paulo, SP Cengage Learning. 2 ed.
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CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
“As inclinações mais bonitas e mais feias não são parte de uma natureza
humana fixa e biologicamente determinada,
mas sim o resultado de processos sociais que nos criam”.
(Erich Fromm).
Erich Fromm (1900-1980), como Alfred Adler e Karen Horney, afirmava que
não somos inflexivelmente moldados por forças biológicas instintivas, como propôs
Freud. Em vez disso, para ele a Personalidade é influenciada pelas forças sociais e
culturais que afetam o indivíduo numa cultura e pelas forças universais que vêm
influenciando a humanidade durante toda a sua história.
A ênfase de Fromm nos determinantes sociais da personalidade é mais ampla do
que a de Adler e Horney. Pode-se dizer que ele tem uma visão mais extensa do
desenvolvimento da personalidade do que os outros teóricos devido à sua preocupação
com a história. Ele sugeriu que nos eventos históricos podemos encontrar as raízes da
solidão, da insignificância e do isolamento humanos contemporâneos. Para
encontrarmos um significado para a vida, precisamos fugir da sensação de isolamento e
desenvolver um senso de que fazemos parte de algo. Paradoxalmente, a liberdade cada
vez maior que conseguimos com o decorrer do tempo, tanto da natureza quanto dos
sistemas sociais rígidos, intensificou a nossa solidão e isolamento. O excesso de
liberdade transformou-se numa armadilha, uma situação negativa da qual tentamos
escapar.
Para Fromm, os conflitos pessoais que sofremos surgem dos tipos de sociedade
que construímos. No entanto, não estamos fadados ao sofrimento. Fromm era otimista
em relação à nossa capacidade de criar nosso próprio caráter e solucionar os nossos
problemas – problemas que, como sociedade, criamos. Não aceitamos passivamente o
impacto das forças sociais como determinantes da personalidade ou da sociedade.
Fromm era psicanalista, filósofo, historiador, antropólogo e sociólogo. Ele
coletou dados de várias fontes além do divã de psicanálise para dar uma interpretação
singular da interação entre a natureza humana e a sociedade.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 77
Sua vida familiar não foi feliz, classificou-a como tensa. Seu pai era mal-
humorado, distante, ansioso e taciturno e sua mãe estava frequentemente deprimida. Ele
se descrevia como uma “criança neurótica insuportável” (citado em Funk, 1982, p. 1).
Aos 12 anos, chocou-se com o comportamento de uma amiga de seus pais, uma artista
de 25 anos que decidiu largar a pintura e dedicar sua vida ao pai viúvo. Fromm pode ter
simplesmente ficado com ciúme, mas não conseguia entender porque a jovem preferia a
companhia daquele senhor pouco atraente. Após a morte do pai, ela se matou. No seu
testamento, determinou que deveria ser enterrada no mesmo caixão do pai. Abalado
pelo suicídio, Fromm ficou extremamente angustiado com a sua decisão e atração pelo
pai.
“Eu nunca tinha ouvido falar de um complexo de Édipo ou de fixações
incestuosas entre pai e filha. Mas fiquei profundamente comovido. Como é
possível uma linda jovem apaixonar-se tanto pelo pai a ponto de preferir ser
enterrada com ele a continuar vivendo e usufruindo os prazeres da vida e da
pintura?” (Fromm, 1962, p. 4).
Não é difícil entender por que Fromm encontrou sentido nas teorias de Freud
sobre o complexo de Édipo, que pareciam explicar essa experiência enigmática e
trágica.
Aos 14 anos, uma outra manifestação de irracionalidade o enervou: o surgimento
de um fanatismo histérico na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Ele ficou
abismado com o ódio que assolou o país quando as pessoas eram abarrotadas com
propaganda governamental e um frenesi de ideias e atitudes maníacas. Fromm observou
as mudanças nos seus parentes, amigos e professores e se perguntou por que tantas
pessoas aparentemente normais estavam enlouquecendo. Depois da guerra, escreveu:
“Eu era um jovem profundamente perturbado e obcecado pela questão de como a guerra
era possível, pelo desejo de entender a irracionalidade do comportamento da massa
humana, por um desejo ardente de paz e compreensão internacional” (Fromm, 1962, p.
9).
Buscando Respostas
A partir destas experiências pessoais – sua vida familiar perturbadora, o suicídio
e o comportamento de toda uma nação em tempo de guerra –, Fromm criou a
necessidade de tentar entender as causas da irracionalidade. Ele escreveu: “Meu
principal interesse estava claramente mapeado. Eu queria entender as leis que
governavam a vida das pessoas individualmente e as leis da sociedade” (Fromm, 1962,
p. 9); ele suspeitava que a personalidade humana era profundamente afetada pelas
forças sociais, econômicas, políticas e históricas e que uma sociedade doente produzia
pessoas doentes. Consequentemente, a sua visão da personalidade foi moldada seguindo
linhas intuitivas, formada a partir das suas próprias experiências e posteriormente
refinada seguindo linhas empíricas.
Fromm iniciou a sua busca das causas do comportamento irracional na
Universidade de Heidelberg, onde estudou psicologia, sociologia e filosofia; leu obras
de teóricos econômicos e políticos, como Karl Marx, Herbert Spencer e Max Weber e
recebeu seu Ph.D. em sociologia em 1922. Ele passou por treinamento psicanalítico
freudiano em Munique e no Instituto de Psicanálise de Berlim. Casou-se com a sua
primeira analista, Frieda Reichmann, dez anos mais velha. De acordo com um biógrafo
de Horney, Fromm, nesta fase da vida,
“...tinha uma espécie de apego a mulheres mais velhas, figuras maternas (...)
Diz-se que o seu pai, no dia do seu casamento, disse a Frieda Reichmann:
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 78
„Fico contente que você agora vai tomar conta dele. Tendo sido o
queridinho da mãe, Erich era muito dependente, um príncipe que precisava
ser cuidado” (Paris, 1994, p. 144).
Na década de 1930, Fromm estava escrevendo artigos críticos questionando a
recusa de Freud em admitir o impacto das forças socioeconômicas na personalidade.
Como Horney, Fromm inicialmente achava que as suas críticas à psicanálise freudiana
tinham apenas a intenção de aperfeiçoar a posição de Freud, e não de substituí-la. Ele se
considerava um “discípulo e tradutor de Freud que estava tentando trazer à tona as
descobertas mais importantes dele para enriquecê-las e aprofundá-las, liberando-as da
teoria um tanto restrita da libido” (Evans, 1966, p. 59). Entretanto, Fromm afastou-se
tanto das teorias de Freud na elaboração de sua abordagem que passou a ser
“extremamente odiado no círculo freudiano” (McLaughlin, 1998, p. 116).
Em 1934, emigrou para os Estados Unidos para escapar da ameaça nazista na
Alemanha. Ele foi para Chicago para trabalhar com Horney e depois a seguiu para Nova
York. Divorciou-se de sua esposa e começou um longo caso com Horney. Durante esses
anos, as ideias de Horney tiveram um grande impacto sobre a obra de Fromm, uma
dívida que ele raramente reconhecia.
Fromm apresentou a sua teoria em vários livros escritos em estilo popular
destinados mais ao público em geral do que aos seus colegas. Lecionou nas
universidades de Colúmbia e Yale e criou o departamento de treinamento psicanalítico
na escola de medicina da Universidade Nacional do México. Tornou-se ativo no
movimento pela paz nas décadas de 1960 e 1970 e ajudou a fundar a SANE, a
Organização para uma Política Nuclear Sã. Ele se opôs à guerra fria, à corrida
armamentista nuclear e à Guerra do Vietnã. Morreu em sua casa na Suíça, em 1980.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 79
de um grupo oferecia aceitação e um conjunto de regras e costumes. As religiões
desenvolvidas pelos povos primitivos também ajudaram a restabelecer a ligação com a
natureza. A adoração era focada nos elementos da natureza, tais como: sol, lua, fogo,
plantas e animais.
Mas esta segurança tênue poderia não durar. Os seres humanos são criaturas
beligerantes4 que se desenvolvem e crescem, e os povos pós-primitivos revoltaram-se
contra a subserviência ao grupo. De acordo com Fromm, cada período da história tem
sido caracterizado pelo aumento do movimento para fora do grupo e para a
individualidade, da mesma forma que as pessoas lutavam para adquirir independência,
liberdade e a oportunidade de expressar todas suas habilidades originais humanas. Esta
luta pela individualidade alcançou o seu pico entre a Reforma no século XVI e os
tempos atuais, quando, na visão de Fromm, a alienação tem sido igualada a um alto grau
de liberdade.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 80
Autoritarismo.
Um mecanismo psíquico para reaver a segurança, exibido nos sentimentos sádicos ou masoquistas.
As pessoas autoritárias descritas como sádicas lutam pelo poder sobre as outras.
Elas podem tentar tornar as outras dependentes delas e, assim, conseguir controle;
podem explorar os outros pegando ou utilizando qualquer coisa que lhes seja desejável,
tanto bens materiais como qualidades intelectuais ou emocionais, ou, ainda, querer ver
os outros sofrerem ou ser a causa desse sofrimento. Ainda que o sofrimento possa
envolver dor física, na maioria das vezes, é dor emocional, como constrangimento ou
humilhação.
Destrutividade.
Um mecanismo psíquico para reaver a segurança exibido no desejo de eliminar objetos, pessoas e
instituições ameaçadoras.
O mecanismo de fuga autoritário envolve alguma forma de interação contínua
com um objeto ou uma pessoa. Opostamente, a Destrutividade visa eliminar esse
objeto ou pessoa. Uma pessoa destrutiva diz:
“Eu posso fugir da sensação da minha própria falta de poder em relação ao
mundo fora de mim destruindo-o. Para ter certeza, se eu conseguir eliminá-
lo, fico sozinho e isolado, mas o meu isolamento é um isolamento
maravilhoso, no qual não posso ser esmagado pelo poder avassalador dos
objetos fora de mim” (Fromm, 1941, p. 179).
Fromm via evidências de destrutividade em todas as sociedades. Ele achava que
várias características humanas eram utilizadas como uma racionalização para a
destrutividade – incluindo amor, dever, consciência e patriotismo.
Conformidade Autômata.
Mecanismo psíquico para reaver a segurança exibido na obediência incondicional às normas
predominantes que regem o comportamento.
O mecanismo de fuga que Fromm descreveu como de maior significado social é
a Conformidade Autômata. Por meio desse mecanismo amenizamos nossa solidão
lutando para ser exatamente como todos os outros, agindo de acordo com as normas
sociais que regem o comportamento. Fromm comparou a Conformidade Autômata com
a coloração protetora dos animais. Estes se protegem tornando-se indistinguíveis do
cenário ao redor. O mesmo ocorre com seres humanos totalmente conformistas.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 81
Essa perda do self deixa a pessoa insegura e com dúvidas. Como já não tem uma
identidade ou personalidade independente, ela age de forma reflexa e automática, como
um autômato ou robô, em resposta ao que os outros esperam ou exigem dela. Essa nova
identidade falsa só pode ser mantida por meio de uma conformidade contínua. Não pode
haver descuido. Se a pessoa fizer qualquer coisa que não esteja de acordo com as
normas e com os valores sociais, perde a aprovação, o reconhecimento e a segurança.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 82
Fromm concordava com Freud na sua teoria de que os cinco primeiros anos de
vida são importantes, mas não concordava que a personalidade é determinada nessa
idade. Em vez disso, afirmou que os eventos posteriores também poderiam influenciar a
personalidade. Ele pensava como Freud: que a família funcionava como representante
da sociedade para a criança. É por meio das interações familiares que ela adquire caráter
e formas adequadas de se ajustar à sociedade.
A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
(As Necessidades Psicológicas Básicas)
Necessidade de Ligação.
Necessidade de manter contato com outras pessoas, idealmente por meio do amor produtivo.
A Necessidade de Ligação surge do rompimento dos nossos elos primitivos
com a natureza. Por meio do nosso poder de raciocínio e imaginação ficamos cientes da
nossa separação da natureza, da nossa relativa falta de poder e da arbitrariedade do
nascimento e da morte. Como perdemos o relacionamento instintivo com a natureza,
temos de usar a razão para criar um novo relacionamento com as outras pessoas. A
maneira ideal para conseguir isso é por meio do amor produtivo, que envolve carinho,
responsabilidade, respeito e conhecimento. Amando, preocupamo-nos com o
crescimento e a felicidade das outras pessoas, respondemos às necessidades delas e as
respeitamos e conhecemos como elas são.
O amor produtivo pode ser direcionado a uma pessoa do mesmo sexo (que
Fromm descreveu como amor fraternal), a uma do sexo oposto (amor erótico) ou a um
filho (amor paternal ou maternal). Em todas as três formas, a principal preocupação da
pessoa é com o desenvolvimento e crescimento do self da outra pessoa.
Falhas na satisfação da necessidade de ligação resultam em narcisismo. Pessoas
narcisistas não conseguem perceber o mundo em termos objetivos. A sua única
realidade é o mundo subjetivo dos seus pensamentos, sentimentos e necessidades. Como
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elas se concentram somente em si mesmas, não conseguem se relacionar com as outras
pessoas e lidar com o mundo exterior.
Necessidade de Transcendência.
Necessidade da pessoa de ir além da sua natureza animal, tornando-se criativa ou destrutiva.
Transcendência refere-se à necessidade de ultrapassar esse estado animal
passivo, um estado com o qual não podemos nos sentir satisfeitos devido à nossa
capacidade de raciocinar e imaginar; temos de nos tornar indivíduos criativos e
produtivos. No ato de criação, quer de vida (como no ato de educar filhos), quer de
objetos materiais, de arte ou ideias, ultrapassamos o estado animal e entramos num
estado de liberdade e finalidade. Se a necessidade criativa de uma pessoa for bloqueada,
ela se tornará destrutiva. Essa é a única alternativa para a criatividade. A destrutividade
e a criatividade são tendências inatas que satisfazem a necessidade de transcendência. A
criatividade, no entanto, é a tendência predominante.
Necessidade de Criar Raízes.
Necessidade de sentir uma ligação ou sensação de pertencer a uma família, comunidade e sociedade.
A Necessidade de Criar Raízes também surge da perda dos nossos elos
básicos com a natureza. Como ficamos isolados, temos de criar novas raízes nos nossos
relacionamentos com os outros e substituir as nossas raízes iniciais na natureza. O
sentimento de afinidade é o tipo mais gratificante de raízes que podemos criar. A
maneira menos gratificante de conseguir criá-las é manter os laços da infância com a
mãe apegando-se à segurança da infância. Esses elos podem ser generalizados, além do
relacionamento pais e filhos, de forma que incluam a comunidade e o país. Na verdade,
Fromm referia-se ao nacionalismo como uma forma de incesto, porque ele restringe o
nosso sentimento de solidariedade a um grupo específico, isolando-nos, pois, da
humanidade como um todo (Fromm, 1955).
Necessidade de Identidade.
Necessidade de ter consciência das nossas habilidades e características peculiares.
Fromm também observou que as pessoas precisam de um senso de Identidade
singular, que lhes seja próprio, único. Existem várias maneiras de satisfazer essa
necessidade. A pessoa pode desenvolver talentos e habilidades peculiares ou se
identificar com um grupo – por exemplo, uma seita religiosa, um sindicato ou um país –
às vezes, a ponto da conformidade. Fromm verificou também que a conformidade é uma
maneira prejudicial de satisfazer a necessidade de identidade, porque a identidade da
pessoa seria então definida somente em relação às qualidades e características do grupo,
e não às qualidades do seu self, que se torna um self emprestado, e não genuíno.
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Necessidade de uma Estrutura de Orientação.
Necessidade de uma imagem consistente e coerente do nosso mundo dentro da qual entendemos os
eventos da vida.
Necessidade de Excitação.
Necessidade de um ambiente externo estimulante para que o nosso cérebro possa funcionar no nível mais
elevado de atividade e atenção.
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Tipos de Caráter Não Produtivos
Orientação Receptiva.
Tipo de caráter extremamente dependente dos outros.
Orientação Exploradora.
Tipo de caráter que tira o que quer dos outros à força ou pela astúcia.
Orientação Armazenadora.
Tipo de caráter que tira segurança acumulando e preservando bens materiais e sentimentos pessoais.
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receptivo são convidativos e arredondados, os do tipo explorador são
agressivos, pontudos, e os do armazenador são angulares, como se ele
quisesse enfatizar as fronteiras entre si e o mundo exterior” (Fromm, 1947,
p. 66).
Existe um paralelo entre a personalidade retentora de Freud e o tipo desprendido
de Horney (que se afasta das pessoas). Fromm entendeu que a orientação
armazenadora era particularmente comum nos séculos XVIII e XIX em países que
possuíam economias estáveis de classe média, exemplificadas pela ética protestante da
poupança, conservadorismo e práticas comerciais moderadas.
Orientação de Marketing.
Tipo de caráter que valoriza qualidades superficiais.
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usura do tipo acumulador pode se tornar uma economia sã. Fromm achava que por meio
de mudanças sociais e culturais, a orientação produtiva poderia se tornar predominante.
Orientação Biófila.
Tipo de caráter congruente com a orientação produtiva; este tipo se preocupa com o crescimento e o
desenvolvimento pessoal.
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Os Tipos de Caráter “Ter” versus “Ser” foram propostos nos últimos trabalhos
escritos, To Have or to Be? (1976) e The Art of Being (1992)5.
“Ter” é uma Orientação Não Produtiva e “Ser” é uma Orientação Produtiva.
Orientação de Ter.
Tipo de caráter no qual a definição e o significado da vida de uma pessoa estão nas posses, no que ela
tem, e não no que ela é.
Orientação de Ser.
Tipo de caráter no qual as pessoas se definem em termos do que são, e não do que têm. O seu autovalor
vem de dentro, e não da comparação com os outros.
No Tipo de Caráter de Ser, as pessoas definem-se em termos do que são, e
não do que têm. Os tipos de ser não são tão competitivos. A sua definição de autovalor
vem de dentro e não da comparação com os outros. Elas colaboram, amam e vivem
produtivamente com os outros. Compartilhar com os outros em vez de lutar para superá-
los aumenta a sua alegria de viver. Como podemos ver, o Tipo de Caráter de Ser tem
muito em comum com o Tipo Biófilo.
Fromm descreveu as pessoas com tipo de caráter de ser como participantes da
vida, que experimentam, se concentram no presente e estão sintonizadas com o self e a
sociedade. Ele argumentou que era possível criar uma vida de ser através da psicanálise
e da autoanálise e descreveu procedimentos específicos para a auto melhora, como a
livre associação e a análise autobiográfica, que estimulariam a criação da orientação
produtiva de ser.
5
O livro The Art of Being contém vários capítulos escritos para o livro To Have or to Be?, de 1976, mas
que só foram publicados após a morte de Fromm.
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puxados pela sociedade; temos um conjunto de qualidades ou mecanismos psicológicos
pelos quais moldamos a nossa natureza e a nossa sociedade (ver figura abaixo).
Referência Bibliográfica:
Schultz, Duane P. e Schultz, Sydney Ellen. (2002). Teorias da Personalidade. Tradução de Eliane
Kanner. Revisão técnica de Maria Helena Leal de Barros Berkers. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning.
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FUVS – UNIVAS – FACIMPA
CURSO DE PSICOLOGIA – 1º Ano – 2o Período
Disciplina: “TEORIAS DA PERSONALIDADE I”
Profa Marcia Maria Coutinho de Oliveira
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 91
Freud tentou fazer com ele. Allport decidiu que sua Psicologia deveria prestar mais
atenção ao consciente ou nas motivações visíveis.
Após concluir a pós-graduação, em 1922, onde apresentou a tese "Estudo
Experimental dos Traços de Personalidade", prenunciava a obra de sua vida e foi a
primeira pesquisa feita sobre os Traços de Personalidade, nos Estados Unidos. Em
1930, ele retornou para a faculdade de Psicologia de Harvard, onde lecionou ética
social, em uma tentativa de efetuar uma integração parcial da Psicologia, da Sociologia
e da Antropologia.
Além disso, ele parecia muito mais apresentar questões de uma maneira saliente,
provocativa. Assim, poderíamos dizer que Allport é um dos teóricos e psicólogos mais
ardentemente criticados, mas considerado experiente, tanto que recebeu muitos prêmios,
incluindo a medalha de ouro da American Psychological Foundation.
Em 1964, Allport aposentou-se e faleceu em Cambridge, no dia 9 de outubro de
1967.
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preferimos definir o Caráter como a personalidade avaliada, e a Personalidade como o
caráter sem valorização” (1961, p.32).
Temperamento e Personalidade também são frequentemente confundidos.
Temperamento comumente se refere àquelas disposições estreitamente ligadas a
determinantes biológicos, que portanto, mudam relativamente pouco com o
desenvolvimento.
Hereditariedade e Ambiente
A Hereditariedade fornece a matéria prima da personalidade (como físico, a
inteligência e o temperamento), que pode ser moldada, ampliada ou limitada pelas
condições do nosso Ambiente. O nosso histórico genético é responsável pela maior
parte da nossa singularidade, não existindo duas pessoas com personalidades idênticas,
nem mesmo irmãos criados na mesma casa, com exatamente o mesmo ambiente social.
Portanto, Allport concluiu que, para estudar a personalidade, a psicologia tem de lidar
com cada caso individualmente.
Traços
Os Traços são formas constantes e duradouras de reagir ao nosso ambiente,
então Allport resumiu as Características dos Traços da seguinte maneira:
1. Os Traços de personalidade são reais e existem em cada um de nós → eles
não são constructos teóricos ou rótulos criados para explicar comportamentos.
2. Os Traços determinam ou causam o comportamento → eles não surgem
apenas em resposta a certos estímulos; motivam-nos a buscar os estímulos
adequados e interagem com o ambiente para produzir comportamentos.
3. Os Traços podem ser demonstrados empiricamente → observando o
comportamento ao longo do tempo, podemos inferir a existência de traços na
consistência das respostas de uma pessoa ao mesmo estímulo ou a um
estímulo semelhante.
4. Traços são inter-relacionados → eles podem sobrepor-se, embora
representem características diferentes. Por exemplo, a agressividade e a
hostilidade são traços diferentes, mas estão relacionados um com o outro, e
frequentemente são observados ocorrendo juntos no comportamento de uma
pessoa.
5. Os Traços variam de acordo com a situação → por exemplo, uma pessoa
pode apresentar traço de asseio numa situação e traços de desordem em outra.
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 93
ͽ Traços Cardinais → é tão penetrante e influente que afetam quase todos os
aspectos da vida, sendo mais difundidos e poderosos. Ex: sadismo e
chauvinismo.
ͽ Traços Centrais → são aqueles traços especiais que melhor descrevem o
comportamento humano. Ex: agressividade, auto piedade e cinismo.
ͽ Traços Secundários → são menos importantes que uma pessoa pode
apresentar tênue ou inconscientemente.
O que podem influenciar os Traços acima são os Hábitos e as Atitudes, que são
capazes de iniciar e orientar um comportamento.
ͽ Hábitos → são respostas específicas e inflexíveis a determinados estímulos.
Vários hábitos podem combinar para formar um Traço, por isso tem um
impacto mais limitado.
ͽ Atitudes → as atitudes são semelhantes aos traços, mas elas têm objetos de
referência específicos e envolvem avaliações positivas e negativas.
Então, torna-se difícil diferenciar Hábitos e Atitudes.
Autonomia Funcional
Allport propõe que os motivos dos adultos maduros e emocionalmente saudáveis
não estão funcionalmente ligados às experiências anteriores, ou seja, o que quer que
tenha acontecido no passado, é exatamente isso: “passado”. Ele não explica o
comportamento adulto, a menos que exista como uma força motivadora no presente.
Allport então propôs dois Níveis de Autonomia Funcional:
ͽ Autonomia Funcional Perseverativa → É o nível mais elementar e
preocupa-se com comportamentos como vícios e ações físicas repetitivas, são
comportamentos que continuam ou perseveram, por conta própria, sem
nenhuma recompensa externa. Está relacionado com comportamentos de
nível inferior ou rotineiros.
ͽ Autonomia Funcional do Proprium → É fundamental para compreensão
da motivação adulta, está associado a nossos valores, autoimagem e estilo de
vida, por isso nós mantemos os motivos que aumentam a nossa autoimagem e
autoestima. Essa autonomia deriva-se do Proprium, que é o termo utilizado
por Allport para o Ego ou para o Self.
(Gordon Allport)
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Proprium
As funções próprias, verdadeiras e vitais da personalidade, juntas constituem o
Proprium → onde se encontra a raiz da consistência que marca as atitudes, intenções e
avaliações. O Proprium não é inato, mas se desenvolve ao longo do tempo.
Desenvolvimento do Proprium
Infância Adolescência
Intenções
Mais importante que a busca do passado ou da história do indivíduo é a simples
pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca em seu futuro. “As esperanças, os
desejos, as ambições, as aspirações e os planos da pessoa estão todos representados sob
o termo geral Intenção”, e aqui se manifesta uma das diferenças características entre
Allport e a maioria dos outros teóricos contemporâneos da personalidade, onde muitos
deles voltaram-se para o passado, buscando a chave que desvendaria o enigma do
comportamento presente, enquanto o próprio Allport voltou-se para o futuro pretendido.
Essa teoria afirma que aquilo que o indivíduo está tentando fazer é a chave mais
importante para o “como” a pessoa vai se comportar no presente.
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DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
– DUAS PERSONALIDADES DISTINTAS –
O Bebê
Allport considerava o recém-nascido uma criatura quase inteiramente constituída
por hereditariedade, pulsão primitiva e existência reflexa. Sendo assim não considerava
o neonato como possuindo uma personalidade. No nascimento, o bebê está inatamente
dotado de certas potencialidades físicas e temperamentais. Além disso, ele é capaz de
responder com alguns reflexos altamente específicos, como sugar e engolir, a estímulos
claramente delimitados.
Assim, motivada pela necessidade de minimizar a dor e maximizar o prazer, e
com essas condições determinadas, em grande parte, pela redução de tensões viscerais,
segmentais, a criança prossegue em seu desenvolvimento.
Allport achava que já no 1º ano de vida, o bebê começa a mostrar qualidades
distintivas, por exemplo, na expressão emocional, que tendem a persistir e a fundir-se
em modos mais maduros de ajustamento. Allport concluiu que o bebê, por volta da 2ª
metade do 1º ano de vida, está, definitivamente, começando a mostrar qualidades
distintivas que, presumivelmente, representam atributos de personalidade permanentes.
No entanto, ele afirmava que “em certo sentido, o 1º ano de vida é menos importante
para a personalidade, desde que não ocorram danos sérios para a saúde”.
ͽ Transformação do Bebê
Uma grande variedade de mecanismos ou princípios é considerada para
descrever as mudanças que ocorrem entre o período de bebê e a idade adulta. Allport
discutiu especificamente Diferenciação; Integração; Maturação; Imitação;
Aprendizagem; Autonomia Funcional e Extensão do Self.
Em grande parte, devido à essa descontinuidade ente a estrutura motivacional
inicial e posterior do indivíduo, nós temos, essencialmente, duas teorias da
personalidade. Na primeira, um modelo biológico, ou da redução de tensão, é adequado
no nascimento e vai se tornando cada vez menos adequado, até que, com a crescente
Consciência do Self, sendo a segunda, o indivíduo envolve motivos que previamente
motivam o comportamento. Nesse ponto, é necessária uma reorientação para podermos
representar o indivíduo adequadamente.
Portanto, temos um Ego crescente, uma estrutura de traços cada vez mais ampla
e um cerne de futuras metas e aspirações. Essa transformação da primeira personalidade
para a segunda é crucial para o papel desempenhado pela Autonomia Funcional.
O Adulto
Temos agora, no indivíduo maduro, uma pessoa cujos maiores determinantes do
comportamento são um conjunto de traços organizados e congruentes. Eles surgem de
várias maneiras. Segundo Allport, “O que impulsiona o comportamento, impulsiona
agora”, e não precisamos saber a história da pulsão para compreender sua operação. Em
Univas – Curso de Psicologia – 1º Ano – 2ºP – Teorias da Personalidade I – Profª Marcia Coutinho 96
uma extensão considerável, o funcionamento desses traços é consciente e racional. Os
indivíduos normais sabem bem, como regra, “o que” estão fazendo e “por quê”.
Um entendimento completo do adulto não é possível sem o conhecimento de
suas metas e aspirações. Seus motivos mais importantes não são ecos do passado e sim
acenos do futuro. Sendo assim, a personalidade adulta vem da infância, mas não é mais
dominada ou determinada por impulsos. Na maioria dos casos, saberemos mais sobre
aquilo que uma pessoa vai fazer se conhecermos seus planos conscientes.
Nem todos os adultos atingem a plena maturidade. Existem indivíduos crescidos
cujas motivações ainda cheiram berçário. Alguns não parecem orientar seu
comportamento em termos de princípios claros e racionais. Apenas no indivíduo
seriamente perturbado que encontramos um adulto cujo comportamento está mais
estreitamente ligado a eventos que ocorreram na infância do que a eventos ocorrendo
agora ou no futuro, sendo assim Allport não explicou se o adulto neurótico pode
contrabalancear ou superar experiências infelizes na infância.
Allport estava mais interessado no Crescimento Psicológico Positivo. Examinou
detalhadamente as qualidades que permitem um ajustamento “normal” e diante disso
estabeleceu seis critérios. São eles:
A personalidade madura precisa possuir antes de tudo uma Extensão do Self, isto é, sua
vida não deve estar limitada a um conjunto de atividades estreitamente ligadas às suas
necessidades e a seus deveres imediatos. A pessoa deve ser capaz de participar de uma
ampla variedade de atividades diferentes e apreciá-las. As satisfações e as frustrações
devem ser muitas e diversas. Uma parte importante dessa Extensão do Self envolve
uma projeção no futuro – planejar, esperar.
Para a maturidade, o indivíduo também precisa ser capaz de relacionar-se
calorosamente com outros em contato tanto íntimos como não íntimos.
A auto aceitação do adulto maduro o ajuda a obter uma segurança emocional
fundamental e uma aceitação do Self.
O indivíduo deve ser realisticamente orientado tanto em relação a si mesmo (auto
objetivação) como em relação à realidade externa. Desenvolve habilidades pessoais e
se compromete com algum tipo de trabalho.
Os dois componentes principais da Auto Objetivação são o Humor e o Insight. O que
se quer dizer com Insight é a capacidade do indivíduo de compreender-se. Um senso
de Humor implica não só a capacidade de divertir-se e rir nos lugares costumeiros, mas
também a capacidade de manter relações positivas consigo mesmo e com os objetos
amados, sem deixar de ver as incongruências e os absurdos a eles relacionados.
Finalmente, o indivíduo maduro possui uma filosofia de vida unificadora. Embora os
indivíduos devam poder ser objetivos e divertir-se com os eventos comuns da vida,
também deve haver uma grande seriedade subjacente que dá propósito e significado a
tudo que eles fazem, ou seja, é responsável pela condução da personalidade na direção
de metas futuras.
Se atendermos a esses seis critérios, os adultos podem ser descritos como
emocionalmente saudáveis e funcionalmente autônomos. Consequentemente, eles lidam
com o presente e planejam o futuro sem serem vítimas das experiências vividas nos seus
primeiros anos de vida. Portanto, temos a visão singular de Allport sobre a Natureza da
Personalidade. Ele enfatizou o consciente, o presente e o futuro, reconheceu a
singularidade da personalidade e optou por estudar a personalidade normal.
Referências Bibliográficas
Hall, Calvin S.; Lindzey, Gardner & Campbell, John B. 4ª Ed. (2000). Teorias da Personalidade.
Schultz, Duane P. & Schultz, Sydney Ellen. 9ª Ed. (2011). Teorias da Personalidade.
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