Direitos Fundamentais e Pol°ticas P Blicas
Direitos Fundamentais e Pol°ticas P Blicas
Direitos Fundamentais e Pol°ticas P Blicas
FUNDAMENTAIS E
POLÍTICAS PÚBLICAS:
REFLEXÕES
CONTEMPORÂNEAS
Janaína Machado Sturza
Claudine Rodembusch Rocha
ORGANIZADORAS
1
Essere nel Mondo
Rua Borges de Medeiros, 76
Cep: 96810-034 - Santa Cruz do Sul
Fones: (51) 3711.3958 e 9994. 7269
www.esserenelmondo.com.br
2
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Alexandre Morais da Rosa – Direito – UFSC e UNIVALI/Brasil
Prof. Dr. Alvaro Sanchez Bravo – Direito – Universidad de Sevilla/Espanha
Profª. Drª. Angela Condello – Direito - Roma Tre/Itália
Prof. Dr. Carlos M. Carcova – Direito – UBA/Argentina
Prof. Dr. Demétrio de Azeredo Soster – Ciências da Comunicação – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Doglas César Lucas – Direito – UNIJUI/Brasil
Prof. Dr. Eduardo Devés – Direito e Filosofia – USACH/Chile
Prof. Dr. Eligio Resta – Direito – Roma Tre/Itália
Profª. Drª. Gabriela Maia Rebouças – Direito – UNIT/SE/Brasil
Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin – Direito – UNIJUI/Brasil
Prof. Dr. Giuseppe Ricotta – Sociologia – SAPIENZA Università di Roma/Itália
Prof. Dr. Gustavo Raposo Pereira Feitosa – Direito – UNIFOR/UFC/Brasil
Prof. Dr. Humberto Dalla Bernardina de Pinho – Direito – UERJ/UNESA/Brasil
Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – Direito – PUCRS/Brasil
Prof.ª Drª. Jane Lúcia Berwanger – Direito – UNISC/Brasil
Prof. Dr. João Pedro Schmidt – Ciência Política – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Jose Luis Bolzan de Morais – Direito – UNISINOS/Brasil
Profª. Drª. Kathrin Lerrer Rosenfield – Filosofia, Literatura e Artes – UFRGS/Brasil
Profª. Drª. Katia Ballacchino – Antropologia Cultural – Università del Molise/Itália
Profª. Drª. Lilia Maia de Morais Sales – Direito – UNIFOR/Brasil
Prof. Dr. Luís Manuel Teles de Menezes Leitão – Direito – Universidade de Lisboa/Portugal
Prof. Dr. Luiz Rodrigues Wambier – Direito – UNIPAR/Brasil
Profª. Drª. Nuria Belloso Martín – Direito – Universidade de Burgos/Espanha
Prof. Dr. Sidney César Silva Guerra – Direito – UFRJ/Brasil
Profª. Drª. Silvia Virginia Coutinho Areosa – Psicologia Social – UNISC/Brasil
Prof. Dr. Ulises Cano-Castillo – Energia e Materiais Avançados – IIE/México
Profª. Drª. Virgínia Appleyard – Biomedicina – University of Dundee/ Escócia
Profª. Drª. Virgínia Elizabeta Etges – Geografia – UNISC/Brasil
COMITÊ EDITORIAL
Profª. Drª. Fabiana Marion Spengler – Direito – UNISC e UNIJUI/Brasil
Prof. Me. Theobaldo Spengler Neto – Direito – UNISC/Brasil
3
DIREITOS
FUNDAMENTAIS E
POLÍTICAS PÚBLICAS:
REFLEXÕES
CONTEMPORÂNEAS
1ª edição
2014
4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Jorge Renato dos Reis
7
PREFÁCIO
Marcos Rolim
9
CAPÍTULOS
5
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Josirene Candido Londero
6
APRESENTAÇÃO
Apresentação 7
obra multidisciplinar.
Parabéns aos autores, parabéns especialmente às organizadoras,
pela iniciativa de reunir textos de qualidade e sobre temas atuais.
8 Apresentação
PREFÁCIO
Prefácio 9
regra, que as políticas públicas sejam irrigadas pela participação dos que
serão por elas concernidos. Por fim, para que a receita de ineficiência e
desperdício de recursos se complete, resistimos ao máximo ao monitora-
mento e à avaliação das políticas públicas. Os gestores públicos no Brasil
são criativos o suficiente para implementar todos os tipos de programas e
intervenções que lhes pareçam capazes de produzir bons resultados (elei-
torais, sobretudo), o que pode ser traduzido pela lamentável disposição
de gastar o dinheiro público em ações que não serão avaliadas e que, por
isso, irão drenar quantias impressionantes de recursos públicos sem que
nunca se saiba a verdadeira natureza dos resultados por elas produzidos.
O processo sumariamente descrito pode ser apresentado como uma
das molduras mais significativas da gestão pública no Brasil. Os limites
apontados não dizem respeito apenas aos gestores, governantes e agen-
tes políticos. Eles são compartilhados como traços da cultura nacional;
estão presentes no formalismo dos raciocínios e na ausência deles; se
esparramam pelas páginas dos jornais e enchem quadros com conteúdos
em nossas universidades.
Somos apaixonados pela palavra e nos encantamos com ideologias
e doutrinas. Para construir uma realidade apartada do mundo e nos orien-
tar por ela, somos especialmente bons. Para conhecer o mundo por onde
transitam as pessoas reais, com seus dramas mais sentidos e urgentes,
temos mais do que dificuldades epistemológicas. Para todos os efeitos, é
como se a matéria não fosse mesmo digna de atenção.
É claro que, desde as contribuições de Austin e Searle, pelo menos,
não podemos mais desconsiderar a realidade de que falar é fazer. A
teoria dos atos de fala e a pragmática da comunicação destacam que os
enunciados envolvem, além das proposições, uma dimensão performática
pela qual, ao falar, assumimos determinados compromissos, prometemos,
elogiamos, condenamos, ameaçamos etc. Os que se iniciaram em
Habermas foram suficientemente alertados a respeito e lembram que, no
âmbito da Teoria da Ação Comunicativa, a expressão “discurso” possui
um sentido muito preciso, indicando o espaço decisivo onde os sujeitos
desempenham suas capacidades argumentativas. Assinalo isto apenas
para sublinhar que emprego o termo “discurso” aqui no sentido usual e
que trato do “fazer” nesta dimensão política específica e muito menospre-
zada no Brasil de definição de programas e de ações concretas por parte
do Poder Público para a solução de problemas relevantes das sociedades
contemporâneas.
A tradição formalista e alienada do mundo concreto esteve muito
presente em toda a tradição bacharelesca no Brasil. Ainda hoje, muitos
dos operadores do direito se contentam em transitar pela dogmática ju-
rídica, preenchendo o mundo que habitam com jargões e axiomas em la-
tim. Este contexto destaca a importância dos textos aqui reunidos. Quase
todos eles foram elaborados por profissionais e/ou estudantes das ciên-
cias jurídicas interessados no mundo habitado pelas pessoas. Por isso a
10 Prefácio
opção pela discussão de políticas públicas em diferentes áreas.
O que o leitor verá nos oito textos selecionados pelas professoras
organizadoras Janaína Machado Sturza e Claudine Rodembusch Rocha
é um esforço genuíno em favor do mundo e de suas urgências. Nesta
perspectiva, não casualmente, o direito aparece como uma ferramenta de
transformação, não como um trajeto tortuoso destinado a legitimar o que
sempre foi.
Independentemente do quanto se conseguiu avançar em cada um
dos temas propostos, deve-se elogiar o que há de distintivo neste projeto
de olhar para os Direitos Humanos e sua complexidade como um desa-
fio prático e como uma ética que nos permite selecionar alternativas ou,
pelo menos, descartar alternativas muito além das referências legais. São
compromissos do tipo, afinal, que poderão reformar a política que temos
e tudo o mais.
Marcos Rolim3
Prefácio 11
A SAÚDE ENQUANTO DIREITO
HUMANO, FUNDAMENTAL E SOCIAL:
PROTEÇÃO E AFIRMAÇÃO ATRAVÉS
DE POLÍTICAS PÚBLICAS
7 Neste sentido, ver a obra: RESTA, Eligio. Il Diritto fraterno. 3. ed. Bari: Laterza, 2005.
Considerações finais
CARVALHO, Guido Ivan de; SANTOS, Lenir. Sistema único de saúde: co-
mentários à lei orgânica da saúde 8.080 de 1990 e 8.142 de 1990. São
Paulo: Hucitec, 1995.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Pau-
lo: Malheiros Editores, 2002.
28 Desenvolvimento urbano
Considerações iniciais
30 Desenvolvimento urbano
Os empreendedores representantes deste sistema visam às cidades
capazes de engendrar pela capacidade demonstrada nos atores que mo-
vimentam o urbano, nos bens de produção e na força de trabalho. Esta,
representada pela maioria da população que não tem outra opção a não
ser continuar a vender sua força de trabalho em nome da subsistência,
sem perceber que seu trabalho contribui para o suposto progresso da
cidade. (SILVA, 1989)
O desenvolvimento norteado pelo progresso, globalização, moder-
nidade com tecnologias de ponta e automação mobilizam o urbano, este
alicerçado no poder dos que acessam a cidade e daqueles indivíduos que
ficam à margem da modernidade e dos benefícios que a globalização
insere na cidade. Assim, a modernidade pode ser traduzida pela segrega-
ção que a cada dia exclui o cidadão dos bens comuns.
32 Desenvolvimento urbano
Das consequências mais graves da falta do planejamento estratégi-
co para o espaço social, ressalta-se o uso indevido dos recursos naturais,
do crescimento populacional desordenado, da carência dos serviços bási-
cos, da população excluída marginalizada pela falta de justiça social. O
planejamento estratégico de uma cidade ou região pressupõe que todos
os atores participem da construção da cidade melhor, da avaliação, clare-
za e rigor na implantação de novos projetos, definições concretas sobre
as consequências advindas das transformações em relação à qualidade
de vida da população local. (OLIVEIRA, 2006).
Planejar uma cidade melhor para todos é debruçar-se sobre as difi-
culdades e possibilidades que o local apresenta e quais recursos disponí-
veis, as potencialidades que trarão desenvolvimento para o local e seus
moradores, desta forma promover o desenvolvimento da cidade signifi-
ca avaliar em que proporções o planejamento das ações vai impactar a
qualidade de vida das pessoas e o ambiente como um todo. As altera-
ções no urbano oriundas de inovações, modernizações para fomento na
economia local causam impactos na maioria imprevistos anteriormente
no planejamento para o desenvolvimento local. Portanto, é primordial a
interlocução com a dinâmica da cidade, tendo em vista o consenso entre
as partes e garantindo uma cidade melhor para todos.
Exclusão/inclusão social
Políticas públicas -
loteamentos regularizados e irregulares
34 Desenvolvimento urbano
O planejamento das políticas públicas tem em seu bojo diretrizes
como: por que fazer, a quem vai beneficiar que diferença faz. Ou seja,
implica a participação dos atores envolvidos na dinâmica da sociedade,
as políticas públicas e seus atores buscam soluções para a gravidade das
disparidades regionais demonstradas pelos baixos indicadores sociais
nas áreas da saúde, da educação, do saneamento básico e da habitação,
os quais aprofundam a exclusão social vivenciada por significativa par-
cela da sociedade. Hochmann (2007) define política pública como um
campo do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes ques-
tões públicas, como um conjunto de ações do governo que irão produzir
efeitos específicos.
36 Desenvolvimento urbano
ticas públicas repensem suas propostas voltadas à cidade, ao município,
à preservação do meio ambiente, à solução para o deficit habitacional, à
saúde, à educação, ao emprego e renda, na perspectiva de uma cidade
inclusivista.
As cidades cresceram desordenadamente pela quantidade de pes-
soas motivadas pela expansão da industrialização; a grande maioria da
população buscava beneficiar-se da infraestrutura da urbanidade. As
transformações do urbano foram motivadas pela concorrência imposta
às cidades pelo livre-mercado que exigiu um caráter de empreendedoris-
mo no modo de produção. As empresas geraram postos de trabalho que
atraíram um número expressivo de pessoas para a cidade; o excedente
desta mão de obra teve consequências drásticas para a sociedade: - a
oferta de mão de obra em abundância permitiu ao empresário o livre-ar-
bítrio sobre o valor do salário a ser pago, contratações de trabalhadores
sem a observação das leis trabalhistas. Sem perspectivas de adquirir a
casa própria, os alijados pelo sistema econômico encontram nas ocupa-
ções ilegais, em áreas institucionais, de preservação e áreas privadas, as
alternativas para moradia. Essas ocupações se consolidaram em vilas,
em loteamentos irregulares, formando a cidade ilegal. Essa configura-
ção de cidade que se mostra sem saneamento básico e longe dos bens
e serviços: escolas, postos de saúde, transporte entre outros. Logo, “as
relações capitalistas de produção são como é conhecido, de exploração:
o trabalhador não se apropria do produto do seu trabalho e o salário que
recebe é de valor menor que o produzido pelo seu trabalho” (SINGER,
1980, p. 42).
Os segmentos político e econômico têm papéis fundamentais na
fomentação, planejamento e controle da dinâmica exercida pelas forças
de produção e divisão do trabalho expressas no urbano. Debruçar-se so-
bre uma formulação de políticas públicas voltadas para questões urbanas
pressupõe um conjunto de estratégias que perpassem pela qualificação
da equipe de especialistas da área, bem como de outras áreas sociais
implicadas no processo urbano da cidade. Os recursos alocados, o diag-
nóstico, a avaliação e a manutenção da proposta são importantes para
implantação do planejamento para melhoria da cidade.
38 Desenvolvimento urbano
em prática tem sido um constante desafio ao bem comum.
Considerações Finais
Referências
40 Desenvolvimento urbano
CUNHA, Pontes Micheline Eglaísa (org.). Experiências em Habitação de
Interesse Social no Brasil. Brasília: DF Secretaria Nacional de Habitação –
MC 2007.
GOHN, Maria da Gloria. Movimentos Sociais e Luta pela Moradia, São Pau-
lo: Loyola,1991.
OLIVEIRA, Gilson Batista de, Org.II. Souza-Lima, José Edmilson, Org, O De-
senvolvimento Sustentável em Foco: Uma Contribuição Multidisciplinar.
São Paulo: Anablume, 2006.
REIS, Renato Jorge dos, (Org.). Direitos Sociais e Políticas Públicas: desa-
fios contemporâneos, Tomo 8, Santa Cruz do Sul, Edunisc, 2008.
42 Desenvolvimento urbano
ROUSSEAU, Jean-Jacques. A Origem da Desigualdade entre os homens,
Tradução: Ciro Mioranza. 2ª Edição. São Paulo, Escala, 2007.
SACHS Jeffrey. O Fim da Pobreza: como acabar com a miséria mundial nos
próximos vinte anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SMITH, Adam. A Riqueza Das Nações, São Paulo, Abril Cultural, 1983.
SOUZA, Jessé. A Construção Social da Subcidadania. Para uma Sociologia
Política da Modernidade Periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio De
Janeiro: IUPERJ, 2003.
Rafael Minussi10
Rafael Minussi 45
A sociedade de risco na pós-modernidade
Rafael Minussi 47
O surgimento da Sociedade de Risco emana, face à invisibi-
lidade, à globalidade e à irreversibilidade de seus riscos, a
atribuição de profunda relevância aos interesses das futuras
gerações e sua tutela. Assim, os direitos à vida, ao usufruto
da propriedade e à saúde, em suas condições pessoais e am-
bientais, devem ser assegurados não apenas às gerações pre-
sentes (como direitos personalíssimos intergeracionais), mas
também às futuras gerações de pessoas humanas (direitos
personalíssimos intergeracionais). Esta equação exige que os
direitos personalíssimos das gerações atuais sejam usufruídos
de forma compatível com as necessidades das futuras gera-
ções (CARVALHO, 2008. P. 13).
Rafael Minussi 49
gráfica comum de determinados cidadãos, representava, antes de tudo,
“uma expressão política, que designava tanto o lugar da cidade quanto a
população submetida à mesma soberania”. Talvez, neste entendimento
de Platão, seja possível encontrar a razão do mesmo pensar a “si mesmo
antes de tudo como um cidadão ou como um animal político” (PESSA-
NHA, 1983, p. VII).
François Ost (2005) questiona: Como Platão imagina a sua Cida-
de ideal? Ost diz que, para Platão, a expressão de cidade ideal é Mag-
netes que cultiva o “encantamento do direito”. E este direito encantado
“alterna Prelúdios e leis propriamente ditas – os Prelúdios combinando,
eles próprios o gênero lírico e o gênero dialético”. Essa versão ofereci-
da por Ost baseia-se no fato de que os gregos ao fazerem um amplo
uso da música, “os Prelúdios ‘dão o tom’ à vida social: são uma inicia-
ção aos ‘princípios’ da vida comum, recordando os divinos preceitos
que inspiram as leis”. Ost, ao trazer a beleza da música para mostrar
como Platão entende a cidade, também faz um alerta ao instigar que
“não vejamos nisso apenas uma ornamentação retórica; esses Prelú-
dios são direito quintessenciado – um direito que fala diretamente ao
coração ao fazer derivar o nomus humano do espírito (nous) divino”
(OST, 2005, p. 11-12).
Essa cidade utópica já não habitava mais no coração de Platão.
Com a morte de seu grande mestre Sócrates, aprofunda-se o desen-
canto de Platão com a cidade ideal. Afasta-se dos ideais de Sócrates
ao frequentar centros pitagóricos de pesquisa científica. Caminha em
outra direção e passa a buscar a certeza científica que só a matemática
lhe oferece.
Já nos seus escritos mais tardios, se percebe uma ruptura de Platão
com o pensamento socrático, principalmente após ele frequentar cen-
tros pitagóricos de pesquisa científica. Pessanha (1983), ao introduzir as
obras de Platão, percebe que este momento foi decisivo e significou a
ruptura com “ser” socrático, pois “Platão via na matemática a promessa
de um caminho que ultrapassaria as aporias socráticas – as perguntas
que Sócrates fazia, mas afinal deixava sem resposta – e conduziria à cer-
teza. A educação deveria em última instância, basear-se em uma episte-
me (ciência) e ultrapassar o plano instável da opinião (doxa)” (PESSANHA,
1983, p. XII).
Como Platão, a humanidade também se afasta da beleza do di-
reito e ao longo dos séculos constrói novos paradigmas assentados na
certeza científica e na verdade da norma. O ser humano esqueceu do
seu “ser” em favor do “ente” e o mesmo se dá com o conceito de cida-
de. O Direito passa a codificar a convivência na cidade e apodera-se
do espaço da coparticipação em nome da segurança jurídica. E, ao se
esquecer do significado de cidade, o ser humano, também esquece o
real significado de sua relação com a natureza, passando a dominá-la
e a ter atitudes de extremo egocentrismo em relação à natureza. Para
Rafael Minussi 51
A cidade configura-se no espaço por excelência para a realização
dos Direitos. Todo cidadão que vive nas cidades tem direito de ter condi-
ções dignas de vida, “de exercitar plenamente a cidadania, de ampliar os
direitos fundamentais (individuais, econômicos, sociais, políticos e am-
bientais), de participar da gestão da cidade, de viver num meio ambiente
ecologicamente equilibrado e sustentável” (SAULE JUNIOR, 2001, p.23).
A cidade possui funções sociais, dentre as quais, a função de uma
moradia digna, trabalho, lazer, prática de cidadania, convivência, cultura,
circulação, entre outros. Além da função social, a cidade tem uma impor-
tante função ambiental, visto que seus administradores e cidadãos têm
o dever de garantir às presentes e futuras gerações um meio ambiente
equilibrado, sadia qualidade de vida, responsável utilização e racionali-
dade no uso e ocupação do solo, ações preventivas em relação à poluição
do ar, água e solo.
Por fim, não é demais dizer que o direito à cidade sustentável tem
despertado inúmeros debates e a exigência de uma postura mais pró-a-
tiva dos administradores públicos na elaboração de políticas públicas.
Na sequência, a intenção é apontar a preocupação dos constituintes
e legisladores na propositura de leis que de alguma forma refletem a
discussão sobre as cidades.
Rafael Minussi 53
A pesquisa demonstra que apenas 10,41% dos municípios brasilei-
ros possuem legislação e plano para a regularização fundiária no intuito
de reorganizar a política e o uso do solo urbano, a fim de atender a sua
função social. Os dados estatísticos divulgados pelo IBGE revelam a quase
total inexistência de políticas públicas para o uso do solo e para a regu-
larização fundiária.
Há que se retomar, assim, a crítica de Marta Dora Grostein. A
autora descreve que a “cidade informal” é apresentada como a solução
para o assentamento de pessoas de baixa renda, apresentando como
consequência basilar os problemas socioambientais que causam im-
pactos ao ambiente com riscos significativos. A origem dos problemas
ambientais urbanos deve ser diferenciada para se evitar o escamotea-
mento de problemas e responsabilidades e mesmo a generalização de
soluções.
Duas situações se destacam: os problemas resultantes de opções
de obras e projetos realizados pelo poder público para estruturar o
funcionamento das cidades; e as questões associadas às estratégias
de sobrevivência das populações com menos recursos nas cidades.
No primeiro caso, a falta de uma política de desenvolvimento urbano
-ambiental é evidente e acarreta disfunções no crescimento urbano:
permite expansões desnecessárias da malha urbana de acordo com o
interesse dos diferentes mercados imobiliários (o formal e o informal);
dissocia expansão urbana da oferta de transporte público; e possibilita
construção aleatória e por vezes inadequada de sistema viário, ocu-
pando fundos de vale e impermeabilizando áreas de várzea. A expan-
são urbana sem transporte público metropolitano de massa eficiente
é um caminho explosivo do ponto de vista da qualidade de vida nas
metrópoles e aglomerações urbanas, assim como a impermeabilização
descontrolada do solo com pavimentação, sem projetos de macrodre-
nagem. Por outro lado, a degradação ambiental associada às estraté-
gias de sobrevivência das populações de menores recursos nas cida-
des tem origem nas condições socioeconômicas e na falta de opções
de moradias acessíveis no mercado formal, conforme mencionado an-
teriormente, implicando a formulação de políticas sociais de inclusão
urbana (GROSTEIN, 2001).
No que se refere à participação da sociedade, a pesquisa embasa
que o Brasil possui 5.565 municípios com conselhos municipais de polí-
tica urbana. Destes municípios, 776 são consultivos, 683 deliberativos,
297 normativos e 425 fiscalizadores13. Destes conselhos, apenas 701 ha-
viam realizado reuniões nos últimos doze meses (BRASIL, 2009).
Verifica-se, portanto, que estatisticamente os municípios não pos-
suem uma política efetiva para consolidar os direitos básicos aos cida-
dãos. Como já se depreende da leitura deste artigo, a maior dificuldade
Considerações finais
Referências
Rafael Minussi 55
ções Básicas Municipais de 2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.
br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/munic2009.pdf. Aces-
so em 18 de agosto de 2010.
Rafael Minussi 57
DIREITOS FUNDAMENTAIS,
DIREITO DOS CONFLITOS ARMADOS
E A REGIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA
DE DEFESA BRASILEIRA
15 Nações Unidas: Mais conhecida por ONU – Organização das Nações Unidas – criada
por tratado internacional na cidade norte-americana de São Francisco, em 1945 e que
atualmente congrega duas centenas de Estados-membros.
A segurança humana e a instrumentalização
dos direitos humanos pela agenda de segurança
das potências: securitização
Considerações finais
23 “Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Pauta-se a Estratégia Nacional de
Defesa pelas seguintes diretrizes: Estimular a integração da América do Sul”.
Disponível em: http://www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/Estratégia-Nacio-
nal-de-Defesa.pdf (Decreto executivo nº. 6.703/2008. Grifos do autor. Acesso: em
09/09/2011).
Referências
Conceito e classificação
Dumping é um termo usual na área comercial e está sendo utilizado
na área trabalhista com um conceito similar sendo tratado por dumping
social. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio brasilei-
ro tem por conceito de dumping, a ocorrência da venda de bens para
exportação em valor inferior àquele que é vendido por preço análogo
em seu próprio mercado. Em entendimento similar, Andréa Wolffenbüttel
(2012) discorre que a negociação de produtos com baixo custo em rela-
ção ao valor de sua produção é considerado dumping e tem por objetivo
a supressão dos adversários. Este tipo de atitude é compreendida como
ato desonesto no âmbito comercial. A autora ainda pondera que o termo
volta-se para questões de exportação, contudo, pode ser visto dentro da
situação nacional, por via da diferença causada por incentivos advindos
do governo, que podem levar ao desequilíbrio entre os produtos ou por
escolha privada, objetivando a eliminação de adversário(s).
Conforme o Tribunal Superior do Trabalho, o dumping praticado na
área comercial trata-se do ato de venda de produtos por valores infima-
mente inferiores aos de mercado e relaciona esta situação com o âmbito
trabalhista ao informar que, na prática, ocorre de forma similar com traba-
lhadores. Isto ocorre, porque seus empregadores excluem da relação tra-
balhista direitos inerentes à relação de trabalho, com a finalidade de ganho
no mercado. Ao diminuir os direitos dos empregados, os empregadores
abrandam o valor de seus artigos tornando assim o embate comercial dos
produtos desleal em relação a outras produtoras que mantêm seus empre-
gados com os direitos previstos na legislação (BRASIL, TST, 2014).
Paulo de Lacerda Werneck (2003) também menciona que o Direito
prevê outras classificações de dumping, entre elas, o social. Relaciona a
inexistência de direitos sociais, bem como a força de trabalho de custo
banal com o dumping social, considerando este, como a venda para ou-
O Dumping no Mercosul:
o enfrentamento político-judiciário
Considerações finais
Referências
84 Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
princípio da participação social
Considerações iniciais
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
86 princípio da participação social
esse enfrentamento caminham na direção da gestão pública participativa,
adotando-se responsabilização dos gestores, o incremento do controle e
a participação social, conclamando os cidadãos e as mais diversas organi-
zações (midiáticas, de comunicação, inclusive) a atuarem na gestão públi-
ca, enquanto atores políticos. Porém, a crise do Estado revela sua própria
impotência, no sentido da propositura, da implementação e da avaliação
das políticas públicas, carregando a impotência reforçada no despreparo
de seus próprios agentes, ou seja, da própria burocracia que constitui a
Administração Pública.
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
88 princípio da participação social
mulher, já que ela vem participando ativamente de movimentos políticos,
nas mobilizações para a libertação feminina e no trabalho, obtendo-se,
com isso, o que propugna o Objetivo Nº 8 do Milênio, conforme Tabela 1.
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
90 princípio da participação social
Na América Latina e com reflexos no Brasil e na Argentina, os ajus-
tes do FMI - Fundo Monetário Internacional marcaram o processo de mu-
danças nos processos de políticas públicas, aproximadamente entre o
final dos anos 80 e início dos anos 90. Nesse período, o discurso era
de que a participação social teria fundamental papel na gestão eficiente
dos bens públicos, já que os cidadãos teriam direito à opinião desde a
formulação até a avaliação de políticas que lhes fossem favoráveis, o que
representou “resposta possível à crise do bem-estar e à necessidade de
rever as relações entre o governo e a sociedade na definição de estraté-
gias de desenvolvimento local”. No mesmo norte, encontrar soluções no
âmbito local da gestão pública representou o caminho ideal na busca de
soluções para a crise no desenvolvimento nacional dos dois países. No
entanto, se observados os limites socioeconômicos, simbólicos e políti-
cos, denotar-se-á que eles funcionam como obstáculos à participação. No
dizer de Fuks e Perissinotto, esses limites podem, inclusive, aprofundar a
desigualdade política no âmbito dos próprios dispositivos participativos.
(FUCKS, 2006).
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
92 princípio da participação social
argentinas, como forma de redefinir a sua participação na construção
política e social, incorporando novas propostas à agenda de políti-
cas, que considerem as mulheres como cidadãs e cidadãs com direitos
(HAMMAR, 2011).
Portanto, é necessário que os governos estabeleçam suas neces-
sidades e construam redes de cooperação e coordenação efetiva entre
todas as instâncias de poder. Estas Redes de Cidadania são ações pro-
postas pelo governo brasileiro, por exemplo, por intermédio da Secreta-
ria Especial de Políticas para Mulheres (SEPM). Na constituição das redes
para a ação coletiva em prol da mulher, alguns serviços funcionam como
“portas de entrada”, tais como centros de referência, centros de apoio
jurídico, centros e núcleos de apoio à mulher trabalhadora. No entanto,
embora o organograma evidencie aparente efetividade, várias falhas fo-
ram encontradas na implementação desta política pública, o que condu-
ziu o governo brasileiro à constituição do que foi chamado de Centros
de Referência e Rede de Cidadania, conforme bem demonstra a Figura
1, que segue:
Considerações finais
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
94 princípio da participação social
quização em situação de desigualdades, geradoras de dominação rela-
cionadas com o poder. Fatores externos ao próprio mercado de trabalho
podem influenciar na empregabilidade das mulheres, em especial as mu-
lheres de baixa renda, geralmente operárias. Denota-se a necessidade
de uma política de mão de obra aliada às mudanças na chamada insti-
tucionalidade trabalhista. Significa afirmar que são necessárias políticas
públicas que incorporem a especificidade da empregabilidade da mulher
para uma maior participação da mulher brasileira e argentina no mercado
de trabalho.
A mudança institucional e o advento de novos modelos legais
em prol da igualdade de gênero no mercado de trabalho são necessá-
rios, mas nem sempre efetivos e eficazes, ou seja, nem sempre são
suficientes para ofertar maior empregabilidade feminina nos merca-
dos de trabalho da Argentina e do Brasil. Isso porque o preconceito
patriarcal que se arrasta por séculos é o principal óbice, praticamen-
te intransponível, para o êxito feminino no trabalho, com um maior
acesso a postos de direção, postos técnicos e políticos. O que se
verifica é a manutenção das estruturas arcaicas nas estruturas legais
que se apresentam.
Nesse contexto, a participação social de forma aberta, oportuni-
zando à mulher acesso a cargos políticos, à representatividade pública e
à participação em todas as searas com igualdade de condições e clareza,
será o caminho otimizador. Do mesmo modo, as ações afirmativas po-
derão representar o caminho a ser percorrido no sentido da existência
de políticas ativas de mão de obra, incorporando a dimensão de gênero,
como condição necessária para acrescentar a empregabilidade feminina,
permitindo competitividade sadia entre homens e mulheres no mercado
de trabalho.
Vislumbra-se o terceiro milênio merecedor de maior atuação femi-
nina em funções antes ocupadas somente por homens, o que vem deli-
neado nas agendas futuras que traduzem diversas atividades e propostas
otimizadoras da atuação feminina. Dentre essas agendas, pode-se enu-
merar aquela que permite a geração de maior investigação interdiscipli-
nar do impacto da globalização sobre a atuação feminina nos mercados
de trabalho mundializados.
A agenda de políticas públicas para a mulher deve consubstanciar
modelo de equilíbrio dinâmico, que incorpore a variável de gênero, bem
como as particularidades das economias em desenvolvimento. Aliados a
estas políticas, estão os estudos sobre os efeitos da abertura comercial
externa e a privatização da atividade produtiva em grupos diferenciados
de mulheres, setores econômicos e países, bem como estudos sobre os
processos de reestruturação produtiva (MUNSTER, 2001).
Políticas públicas para o acesso da mulher ao mundo laboral no Brasil e na Argentina à luz do
96 princípio da participação social
ción, las regulaciones comerciales y el cambio tecnológico sobre la equi-
dad de gênero. In: Reunión de Expertos sobre Globalización, Cambio Tec-
nológico y Equidad de Género. São Paulo, novembro de 2001.
Mais ainda,
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Considerações Finais
Ao longo da história da humanidade, os mais diversos acontecimen-
tos foram alterando gradativamente o entendimento da violência entre os
seres humanos. Contemporaneamente, prevalece a perspectiva afirmada
logo no 1º art. da Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma
que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras
com espírito de fraternidade”, a qual exclui qualquer tipo de violência.
Combater a violência doméstica é um dos maiores desafios impos-
tos ao Estado brasileiro. São diversas as formas de violência praticadas no
âmbito doméstico por parceiros íntimos ou familiares, alguns culminando
com o feminicídio. São violações que atentam contra os direitos humanos,
incompatíveis com o Estado Democrático de Direito e com os avanços con-
quistados a duras penas pelo gênero feminino nos últimos séculos.
É necessário dar um fim às diversas manifestações de violência con-
tra as mulheres, sobretudo em sua forma mais extrema: o assassinato. Im-
portante lembrar que os assassinatos de mulheres são, majoritariamente
praticados, por parceiros íntimos. Embora haja um destaque especial com
a chamada Lei Maria da Penha, diploma legal para enfrentamento da violên-
cia doméstica e familiar, muito a de se fazer, pois determinadas condutas
de empoderamento dos homens está enraizado na cultura e só serão ven-
cidas com investimentos pesados na educação das novas gerações.
Referências
VEYNE Paul. Acreditaram os Gregos nos Seus Mitos? Ed. Edições 70, 1987.
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