Ventilacao Mecanica Como Iniciar
Ventilacao Mecanica Como Iniciar
Ventilacao Mecanica Como Iniciar
UNITERMOS
RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL; UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA; SERVIÇOS MÉDICOS DE
EMERGÊNCIA.
KEYWORDS
RESPIRATION, ARTIFICIAL; INTENSIVE CARE UNITS; EMERGENCY MEDICAL SERVICES.
SUMÁRIO
O conhecimento dos conceitos básicos e da utilização prática da ventilação
mecânica (VM) é indispensável para médicos que pretendem trabalhar nas
áreas de emergência e medicina intensiva. Este artigo de revisão tem como
objetivo explicar de forma simplificada os conceitos iniciais, as indicações de VM
e o ajuste dos parâmetros iniciais.
SUMMARY
The knowledge of the basic concepts and practical use of mechanical
ventilation is essential for physicians who intend to work in the areas of
emergency and intensive care medicine. The objective of this review article is to
explain in simplified form the initial concepts, indications and the general
settings of mechanical ventilation.
INTRODUÇÃO
Em emergências e UTIs é frequente o uso de ventiladores mecânicos como
ferramenta indispensável em muitos casos. O conhecimento dos conceitos
básicos e ajustes iniciais são essenciais aos médicos que trabalham nestas áreas.
A ventilação mecânica (VM) substitui ou auxilia a ventilação espontânea.
Está indicada tanto em casos de insuficiência respiratória hipercápnica quanto
hipoxêmica (ex: DPOC descompensado, crise de asma grave, edema agudo de
pulmão, etc). A VM pode ser não invasiva (VNI), com uso de máscaras faciais,
ou invasiva (VMI), através de tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia.
A VM tem o objetivo de melhorar as trocas gasosas, diminuir trabalho
respiratório (WOB:work of breathing), aumentar os níveis de oxigenação,
diminuir a hipercapnia e a acidose respiratória e permitir melhora da relação
ventilação/perfusão (V/Q) pulmonar.
CONCEITOS BÁSICOS
Fluxo inspiratório
O fluxo inspiratório corresponde a velocidade com que o volume corrente
é ofertado. O ajuste do pico de fluxo inspiratório pode determinar uma
modificação no tempo inspiratório e da relação I:E. Geralmente são utilizados
valores entre 40 a 60 L/min, procurando não exceder pressões de pico maiores
que 40 cmH2O. No entanto, em determinados casos, como DPOC e asma, são
necessários valores maiores para redução do tempo inspiratório e consequente
aumento da relação I:E. Desta forma, ocorre melhora da hipercapnia e
diminuição do risco de auto-PEEP.
Relação I:E
A relação entre o tempo inspiratório e expiratório fisiológico corresponde
a 1:2 e 1:3. Nos ventiladores mais modernos esta relação pode ser alterada
diretamente. Nos demais, devemos regular o fluxo inspiratório, frequência
respiratória, pausa ao final da inspiração e volume corrente, para ajustar
indiretamente a relação I:E.
O tempo inspiratório pode ser calculado pela divisão do volume corrente
pelo fluxo inspiratório. Assim, diminuindo o VT ou aumentando o fluxo
inspiratório, ocorre diminuição do tempo inspiratório. Uma relação I:E de 1:4 ou
1:5 é necessária em doenças que cursam com obstrução das vias aéreas. Em
oposição, uma relação I:E de 1:1 ou 1:0,8 pode ser necessária em situações de
baixa complacência pulmonar, como a SDRA.
Sensibilidade (Disparo/Triggers)
Os aparelhos de VM podem ser programados para disparar/iniciar uma
inspiração de acordo com a sensibilidade ajustada. Dependendo do modo
ventilatório utilizado, podemos configurar o aparelho de VM para iniciar um
novo ciclo ventilatório de acordo com variações no fluxo ou pressão nas vias
aéreas, geradas pelo esforço respiratório do paciente.
Ao ajustar o ventilador para disparo por pressão, utiliza-se usualmente
uma pressão de -2cmH2O. Para disparo por fluxo, uma sensibilidade de 1 a 5
L/min é adequada.
Ciclo ventilatório
O início da ventilação pode ocorrer por disparo, através do ajuste da
sensibilidade (por pressão ou fluxo), ou por tempo, dependendo da frequência
respiratória.
O ventilador gera a inspiração de acordo com variáveis pré-determinadas.
O volume, a pressão e o fluxo inspiratório podem ser programados para se
manterem constantes durante a inspiração e não ultrapassarem valores
determinados, sendo denominados de variáveis de limite. A mudança da fase
inspiratória para a expiratória (ciclagem) ocorre de acordo com a variável de
ciclagem. A ventilação pode ser ciclada a volume, tempo inspiratório, fluxo ou
pressão. Ao final da inspiração, anteriormente ao início da expiração, pode-se
instituir uma pausa, útil para maximizar as trocas gasosas.
A fase expiratória ocorre de forma passiva, dependendo das qualidades
elásticas pulmonares.
Modos ventilatórios
Os modos ventilatórios podem ser controlados/mandatórios (quando o
ventilador fornece o ciclo de acordo os parâmetros ajustados, sem participação
do paciente), assistidos (o paciente inicia os ciclos respiratórios através de
ajuste da sensibilidade, porém o ventilador controla e finaliza a inspiração) e de
suporte (quando o ventilador gera uma pressão positiva para auxiliar a
respiração; a pressão pode ser contínua – CPAP, ou bifásica - BIPAP).
Alguns modos associam duas possibilidades das citadas anteriormente,
como o modo assistido-controlado (combina um mecanismo misto de disparo,
programado por sensibilidade à pressão ou a fluxo, dependendo do paciente
para deflagrar a inspiração, e por tempo, dependendo da frequência
respiratória configurada, servindo como um mecanismo de segurança e gerando
um novo ciclo apenas quando não ocorre disparo pela sensibilidade) e
ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV - ciclos espontâneos
gerados pelo paciente são intercalados por ciclos mandatórios controlados pelo
ventilador, a recomendação é evitar seu uso, pois está associado a maior
demora na retirada da VM).
O modo ventilatório deve ser escolhido de acordo com a experiência do
médico, não havendo evidências de que um modo seja superior a outros em
relação a desfechos.
SEDAÇÃO E ANALGESIA
A administração de sedação e analgesia é indicada em durante a VMI para
auxiliar no controle da ansiedade, dor e agitação, melhorando assim a tolerância
à VMI e procedimentos realizados. Os agentes mais utilizados para sedação são
midazolam, propofol e dexmedetomidina, e para analgesia são usados com
maior frequência fentanil, morfina e remifentanil.
Um esquema comumente utilizado na iniciação de VM é a administração
de Midazolan, na dose de 0,01 a 0,05mg/Kg IV (ampola de 5mg/5ml), associado
a Fentanil, na dose de 50 a 100mcg IV (ampola de 50mcg/ml). O bloqueio
neuromuscular com cisatracúrio está indicado nos casos de SARA com relação
PaO2/FiO <120, na dose de inicial de 15mg, seguido de infusão contínua a
37,5mg/h.
COMPLICAÇÕES EM VM
Diversas complicações podem ser desencadeadas com uso da VM com
pressão positiva em vias aéreas. Deve-se monitorar o paciente de forma
contínua e estar atento para alterações, como diminuição do débito cardíaco e
hipotensão, barotrauma e pneumotórax, auto-PEEP, aumento da pressão intra
craniana, lesão pulmonar por toxicidade pelo O2 e atelectasias por reabsorção.
CONCLUSÃO
Tendo em vista a importância do uso de VM, o médico deve dominar os
conceitos básicos e os modos ventilatórios tradicionais, escolhendo o modo que
mais se adeque às necessidades do paciente e à experiência do profissional.
Objetivando a melhora clínica e o momento do desmame, deve-se estar
atendo para a monitorização e avaliação a partir de exames complementares,
visando evitar as complicações da VM e/ou a manutenção do quadro
disfuncional.
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