Dora 01
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II. 1. Introdução
1
FANON, Franz. Peles Negras, Máscaras Brancas. 1983. Pp. 153154.
2
CESAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo, 19. P.13.
hierarquização das diversas raças habitantes do globo, coincidindo com os
movimentos econômicos de fins da Idade Média - o mercantilismo e a
caminhada para o estabelecimento do sistema econômico capitalista e seus
derivados: o imperialismo e o colonialismo.
ou ainda:
5
FANON, Frantz. Ob. Cit. P. 55.
6
SOUZA, Neusa Santos. Tornarse Negro. 1983, p.21.
7
Referenciado na nota 104 do cap. I.
8
LITTLE, K.L. Raça e Sociedade. IN. Raça e Ciência, Vários Autores. Vol. I, 1970, p.62.
“ No Brasil há uma grande tolerância com respeito às
misturas raciais.” 9
9
Idem, p. 77.
10
PIERSON, Donald. Brancos e Pretos na Bahia. 1975.
11
BASTIDE, Roger e FERNANDES Florestan. Relações Sociais entre negros e brancos em São Paulo, 1995.
12
FANON Frantz. Ob. Cit. P. 73.
são unicamente culturais e nunca “materiais”. A explicação para a
diversidade cultural dos vários povos, encontra-se, talvez mais na sua
história dos que na sua atual situação geográfica , o que elimina,
13
Dos estudos que efetuou, Michel Banton inferiu que alguns escritores, “
notando a ausência de consciência e antagonismos raciais no mundo
clássico e medieval, sugeriram que é possível datar a origem do preconceito
racial como característica da cultura européia e atribuir o seu aparecimento
a causas específicas”. 16
Oliver Cox 17
, indica os anos de 1493-94 para o princípio das modernas
relações raciais. É, entretanto, o século XIX que traz os primeiros estudos
biológicos sobre as inferioridades raciais. Até 1865, acreditava-se que havia
uma transferência de substâncias de pai para filho - comumente chamada
herança “ sangue”. Mendel, neste ano, revoluciona esses conceitos e
descobre o gen, de forma a inferir que sua “ particularidade ( a do gen ),
está justamente no fato de não se misturar e jamais perder sua
individualidade” 18
. Esta teoria dos genes, desenvolvida, questiona a
discussão anterior relativa às diferenças raciais. Ao invés da uniformização
dos tipos e possível aparecimento de raças puras, o novo conceito
estabelece uma variabilidade hereditária do tipo, de modo que L.C. Dunn
demonstra:
15
BANTON, Michel ob. cit. p. 24.
16
Idem, p. 27.
17
COX, Oliver. Caste, Class and Race: A study in social dynamics. Citado por BANTON, Michel. Ob. Cit. p. 25.
18
Conforme DUNN, L. Raça e Biologia, In: Raça e Ciência, Vários Autores, Vol. II, 1972, p.10.
“ não existiriam raças puras e provavelmente as raças
difeririam uma das outras de maneira mais relativa que
absoluta (...), de forma que todos os homens pertencem a
uma única espécie, visto que se assemelham em todas as
características físicas fundamentais”. 19
BANTON 21
, estabelece três etapas no estudo da raça: A tipologia racial,
do darminismo social e os estudos pronto - sociológicos iniciados com Robert
Park.
A tipologia racial 22
, sustentava que a natureza das raças determinava
as relações entre elas e tem seu marco em 1854, com a publicação do Types
of Mankind. As falas de Abrahan Lincoln refletem esta doutrina. Quando o
ex-presidente norte - americano entende que “há um número finito de raças
ou tipos ( sendo os pretos os mais distanciados ); que “ as diferenças são
permanentes”, ou ainda, que “ Nós e vós somos raças diferentes (...) neste
vasto continente não há um único homem da vossa raça que seja
considerado igual a um único da nossa”, fica evidente a influência desta
escola. 23
19
Idem, p. 11.
20
Idem, p. 16.
21
BANTON Michel. ob. cit. p. 22.
22
Idem, pp. 15.17.
23
Discurso de Abrahan Lincoln em 14.08.1862, para um grupo de negros americanos para os quais desejava explicar seu
interesse em esquemas que os enviassem de volta para a África. IN. BANTON, Michel. ob. cit. p.11.
24
BANTON, Michel. ob. cit. p. 18.
Das entranhas do darwinismo social, Banton considera o
desenvolvimento da sociologia nos Estados Unidos, cujos grandes expoentes
foram Robert Park e Ernest Burgues em 1921, com a publicação de A
Introdução à Ciência da Sociologia. A tradição dos estudos de Park
preocupava-se, fundamentalmente com os problemas raciais nos EUA. Estas
mudanças na orientação do estudo das relações raciais dão-se em torno da
1875 e 192125.
C.H. Smith, 1848 publica The Natural History of. the Human Species,
estabelecendo os três tipos raciais: branco, mongoliano e negro, onde “ o
lugar inferior dos negros na ordem humana é uma conseqüência do pequeno
volume de seu cérebro (...). Os caucasóides são a mais alta realização da
25
Idem, p. 19.
26
Citado por Banton, Michel. ob. cit. p. 42.
27
Idem, p. 45. Os estudos de Curvier, um protestante que aceitava a história da criação da Bíblia, avançou sobre seus
predecessores na compreensão da origem do homem para admitir que a análise de dados concretos deve mostrar o trabalho
da ciência. Este autor exerceu enorme influência no estudo e formulação sobre a raça que se desenvolveu no século XIX.
Natureza” 28
. Carus, C.G., de grande talento na ciência alemã, em 1849
refere-se aos “... povos do dia que atingem sua forma mais pura no Cáucaso
(...); os povos do crepúsculo ocidental são os índios americanos; os povos do
crepúsculo oriental que são os mongóis, malaios, hindus e eslavos; os povos
da noite que são os africanos e os australianos.” 29
28
BANTON, Michel. ob. cit. p. 46.
29
Idem, p. 49.
30
Idem, p. 55.
31
Idem, p. 5354.
32
Idem, p. 57. O domínio da emoção no negro contra a razão do branco constitui um dos pontos de apoio, até hoje, dos
discursos racistas justificadores da incapacidade intelectual, administrativa e de direção para a população negra.
Robert Knox, biólogo, escreve em 1860 que “ deve haver uma
inferioridade física e, consequentemente psicologia nas raças escuras em
geral.” 33
e, segundo ainda Banton, ainda que James Hunt não tenha contribuído
especialmente para a Antropologia, foi o publicista mais eficaz da tipologia
racial na Grã-Bretanha. 35
33
Idem, p. 60.
34
Idem, p. 64.
35
Idem, p. 65.
36
Idem, p. 66. Vêse, agora uma nova concepção da explicação das diferenças raciais dentro o processo de
hierarquização. Os homens não evoluíram de forma semelhante tendo ficado, o negro, em escala inferior ao branco.
À aplicação das teorias de Charles Darwin sobre a origem e evolução
das espécies à sociedade, convencionou-se chamar darwinismo social. Para
os cientistas que assim encaminharam suas pesquisas e idéias, aplicando à
categoria raça a Seleção natural da espécie humana e permitindo da
discussão e proposição da biologia sobre a hierarquia das raças, o resultado
seria raças puras. É a base da eugenia.
BANTON, Michel. ob. cit. p. 105.
38
Ibidem, Ibidem.
39
Idem, p. 1069.
incluía nos seus objetivos ações sobre a sociedade alemã, com o propósito
de eliminar as degenerações da sociedade, com base na lei de seleção
natural e sobrevivência dos mais aptos. Igualmente inserido nesta filosofia, o
polonês Gumplowicz introduz a expressão “ etnocentrismo” mostrando que a
“teoria evolucionista contém uma sociologia do conhecimento”. Este
sociólogo, apresenta
40
Idem, p. 107.
41
Idem, p. 116.
42
AZEVEDO, Eliane. RAÇA. Conceito e Preconceito. 1987, p. 17.
A antropologia foi a ciência que desempenhou, ao lado da biologia, o
papel mais importante na teorização sobre raça no século XIX. Os trabalhos
dos biólogos, geneticistas e zoólogos sobre o mundo animal e nele incluído o
homem, bem como as noções de economia e política e a nova concepção de
trabalho/valor, que modificam a estrutura do pensamento dominante a partir
de fins do século XVIII, serviram de base para os estudos sobre raça na
antropologia.
44
Idem, p. 15.
“Se o solo é imensamente rico, situado em clima quente, e
naturalmente alimentado de águas, as produções da terra
serão quase espontâneas: isto tornará os habitantes
preguiçosos, é o maior obstáculo ao trabalho e à indústria.
Aqui as manufaturas jamais florescerão... É em clima
menos favorecidos pela natureza, e onde o solo produz
apenas para aqueles que trabalham em proporção com
habilidade de cada um, que podemos esperar grandes
povos.”45
45
Idem, Ibidem.
46
Idem, p. 16.
47
Idem, p. 50 e segs.
avanço na discussão e apreensão das sociedades não ocidentais, dos povos
não ocidentais, em especial, os “indígenas” africanos.
48
Idem, p. 66.
49
Idem, p. 57 e 58.
50
Idem, p. 58.
51
Idem, p. 73.
Os estudos de Leclerc sobre a Antropologia e o Colonialismo, são
trazidos nesta discussão com o intuito de demonstrar como esta disciplina
compreendia e reproduzia a apreensão do negro, de forma a manter a idéia
de negro junto à idéia de uma sociedade de negros - primitiva ou de outra
cultura inferior. Por conseguinte, ainda que indiretamente, esta apreensão
justifica o colonialismo na África e a apreensão da inferioridade do negro
através de discussões e conclusões científicas.
52
Idem, p. 65.
53
RAMOS, Arthur. ob. cit. O assunto do livro, após estabelecer as diversas formas de culturas africanas, é a
aculturação.
54
Idem, p. 245.
“Em face das mudanças no interior das sociedades
africanas como o contato exterior e as necessidades com
elas surgidas, tais como a educação, comercialização,
economia monetária e organização do trabalho exige ( a
análise dessa sociedade) além, um conhecimento do
desenvolvimento político e social contemporâneo em
África e no resto do mundo”.55
55
LECLERC, Gerard. ob. cit. p. 114.
56
Idem, p. 115.
57
ARENDT, Hanna. O Sistema Totalitário. 1978 p. 244.
58
Idem, ibidem.
“ é provável que esse racismo tivesse desaparecido a
tempo, junto a outras idéias do século XIX, se a corrida
para a África e a nova era do imperialismo não houvesse
exposto a população da Europa Ocidental a novas e
chocantes experiências. Com o imperialismo, o racismo
recebeu considerável substância teórica”. 59
59
Idem, p. 252.
60
Idem, p. 256.
61
Idem, p. 225.
62
Idem, ibidem.
A autora parece remeter a discussão do racismo para além da
racionalidade científica, ou seja, que a ciência no trato das questões de raça
e de relações raciais prestou-se a discussões, demonstrações e
comprovações, cuja justificativa única era o interesse político e,
complementaríamos, dos povos brancos conquistadores.
63
Idem, ibidem.
64
ARENDT, Hanna. Ob.cit. p. 224, conforme “Lettre de Alexis de Tocqueville et de Arthur de Gobineau, em Revue des
deux mondes. 1907, tomo 199. Ver, igualmente, VOEGLIN, Erich. Raça e Estado.
predominância do discurso sobre a Democracia, necessariamente começam
a ser contestados pelos negros e oprimidos - e, desnuda a teoria na prática.
65
Idem, p. 244.
66
Idem, ibidem.
67
Idem, p. 245.
68
Idem, p. 248.
“ detectando a lei natural que regia o curso de todos o
acontecimentos e reduzindo todas as manifestações
espirituais e fenômenos culturais a algo que graças ás
ciências exatas, os nossos olhos podem olhar, nossos
ouvidos podem ouvir, nossas mãos podem tocar
‘ (Gobineau, Ensaios sobre as desigualdades das raças
humanas 1853)’ 69
69
Idem, p. 237.
70
Idem, p. 239.
II. 5. O Racismo como ameaça às Democracias Liberais
71
JAHODA, Marie. Relações Raciais e Saúde Mental. IN: Raça e Ciência. ob.cit. V.2. p. 234.
72
JONES, James. Ob.cit. p. 14.
A colonização em África atingia na proximidade da metade deste século
seu ápice de violência envolvendo não só os colonizados - negros - como
também as classes menos favorecidas nas metrópoles, ou seja, os
aventureiros que lá iam tentar fortuna ou os “defensores” da pátria que
tinham como destino matar ou morrer. Por outro lado, a manutenção do
sistema colonialista necessitava criar uma elite autóctone que possibilitasse
maior êxito no empreendimento colonizador. Isto ocorria igualmente nas
colônias do Caribe - Antilhas Francesas e Inglaterra. Muitos negros vão para
a metrópole para estudar e entram em contato direto com a “civilização” e
sua base teórica. Rapidamente percebem o que é ser negro diante do branco
em um universo racista “civilizado”:
“- Olhe, um negro!
Era um estímulo externo, como um leve picarote.
Esboçava um sorriso.
- Olhe, um negro!
Era verdade, eu me divertia
- Olhe, um negro!
O circulo se fechava. Divertia-me abertamente.
- Mamãe, olhe um negro, tenho medo!
Medo!, Medo!, começavam a ter medo de mim.
Quis me divertir até perder o fôlego, mas tornou-se
impossível.” 73
73
FANON, Frantz. Ob.cit. p. 14.
“Quando um outro se obstina a me provar que os Negros
são tão inteligentes quanto os brancos, digo: a inteligência
também nunca salvou ninguém, e isto é verdade, pois se é
em nome da inteligência e da filosofia que se proclama a
igualdade dos homens, e também sob sua égide que se
decide seu extermínio.” 74
David Hume, em 1741 dizia que era “levado a pensar que os negros
são naturalmente inferiores aos brancos. Nunca houve, por assim dizer,
nenhuma nação civilizada desta cor, nem mesmo nenhum negro que se
tenha distinguido no domínio da ação ou no pensamento” 75
. Morant, em
seus estudos, cita Otto Klinenberg, nos anos 50 deste século:
José Luiz dos Santos, define a cultura como “tudo aquilo que
caracteriza a existência de um povo ou nação, ou então de grupos no
interior de uma sociedade (...), podendo ainda ser usada como ênfase ao
conhecimento, referindo-se mais especificamente ao conhecimento de idéias
e crenças...” 84
Para Amilcar Cabral, em cada momento da vida de uma
sociedade (aberta ou fechada), cultura é a “resultante mais ou menos
consciencializada das atividades econômicas e políticas, a expressão mais
ou menos dinâmica do tipo de relações que prevalecem no seio desta
sociedade, por um lado entre o homem (individual ou coletivamente) e a
natureza, e por outro, entre os indivíduos, as camadas sociais, ou as classes
(...), o que a faz manifestação vigorosa, no plano ideológico ou idealista da
realidade material e histórica da sociedade (...).” 85
83
FANON, Frantz. Ob.cit. pp. 108109.
84
SANTOS, José Luiz. O que é cultura?, 1984, p. 24.
85
CABRAL, Amilcar. A cultura Nacional. In: A Arma da Teoria unidade e luta, 1978, p. 223.
contrário, fazer da tecnologia e da técnica um valor absoluto e um padrão de
referência constante e onipresente mas, sempre tendo em vista que:
86
LEIRIS, Michel. Raça e Civilização. IN. Raça e Ciência, ob.cit. V. I p. 223.
87
Idem, ibidem.
88
ROSE, Annold, M. A origem dos preconceitos. IN. Raça e Ciência, ob.cit. p. 161.
Arnold Rose, estabelece, assim, a historicidade e, portanto, que, é a
própria cultura que desenvolve os sentimentos de preconceito nos homens.
Em seu estudo, apresenta quatro causas do preconceito, a saber:
89
Idem, pp. 162179.
90
FANON, Frantz. Ob. cit. p. 155.
raça negra na psique humana. Negros e brancos, regra geral, introjetaram a
idéia de negro dentro da ideologia racista.
Martin Sagrera 91
, discutindo os conceitos de raça, demonstra a falácia
do conceito biológico de raça. Ocorre que os povos estão em constante
mutação e, pois, as características biológicas raciais estão suficientemente
disseminadas para impedir que, apenas na visualização de caraterísticas
físicas se detecte se determinado indivíduo pertence a este ou aquele grupo
racial. Acrescentem-se as recente descobertas dos cientistas nas quais as
diferenças na conformação biológica entre os grupos raciais é apenas de
frequência, não de ausência. Isto não induz, obviamente, afirma o autor, à
negação da existência de raça. Negar sua existência pressupõe um racista,
diz:
91
SAGRERA, Martin. Ob.cit. p. 21 e seguintes.
92
Idem, p. 21.
93
DUNN, L. C. ob.cit. p. 16.
moderno (...) como o sexo, a raça é o que dá ao indivíduo suas
características próprias, pessoais.” 94
Daí, que raça deve ser entendida não só em sua concepção biológica
de características físicas ou “populações mais ou menos isoladas que
diferem de outras população da mesma espécie pela frequência de
características hereditárias” 99
, mas igualmente enquanto noção
estratificada pela própria sociedade que implica na percepção do “eu” e do
“outro”, além das distinções nacionais ou tribais, (...) dado que precedem da
94
SAGRERA, Martin, ob.cit. p. 23.
95
Idem, 24.
96
Idem, ibidem.
97
FANON, Frantz. Ob. cit. p. 78.
98
SARTRE, Jean Paul. Reflexões sobre o racismo, 1965. PP. 1213.
99
AZEVEDO, Eliane. Ob. cit. p. 21.
massa necessariamente variáveis e comprometidas num jogo histórico de
contatos e caldeamentos constantes.” 100
100
LEIRIS, Michel. ob. cit. p. 199.
101
AZEVEDO, Eliane, ob.cit. p. 23.
102
ROSE, Arnold. Ob. cit. p. 161 e segs.
103
JONES, J. ob.cit. pp. 112 e 102150.
104
Idem, p. 03.
“o conjunto de crenças de que diferenças (reais ou
imaginárias) orgânicas, geneticamente transmitidas, entre
grupos humanos, são intrinsecamente associadas à
presença ou ausência de algumas características ou
capacidades socialmente significativas, de forma que tais
diferenças constituem a base legítima de distinções
injustas entre grupos socialmente definidos como raças.105
Jones, 106
entretanto, considera o conceito acima incompleto e entende
que há dois elementos que ultrapassam o conceito dado e que melhor
caracterizam o racismo.
1. Ação
2. Poder que o nosso grupo tem com relação ao outro e significativo da
preferência pelo nosso grupo com base racial ou étnica.
II. 9. Os Racismos
Jones estabelece ainda, três tipos de racismo que, embora não estejam
dissociados, cada qual enfatiza uma área da vida humana, e seu exercício
completa perfeitamente o todo da vida do discriminado. São: racismo
individual ( muito próximo do preconceito racial ), racismo institucional e
racismo cultural. 108
105
VANDERBERG Raça and Racism, citado por JONES, James. Ob. cit. p. 04.
106
JANES. James, p. 105.
107
Idem, ibidem.
108
Idem, pp. 0406.
II. 9.1. Racismo Individual
109
Idem, p. 04.
110
Idem, p. 105.
111
Idem, pp. 108109.
112
Idem, p. 110.
O preconceito de raça se assemelha ou se conforma ao racismo
dominador individual. Daí que seu estudo não é suficiente para
determinação das diversas circunstâncias em que o fator raça interfere
negativamente na vida do discriminado. Por exemplo:
113
Idem, p. 114.
114
Idem, p. 05.
115
CARMICHAEL e HAMILTON, citado por JONES, James. Ob.cit. p. 05.
É dessa forma que o racismo individual de introduz no sistema de
macro - relações sociais, atendendo os objetivos de discriminação ou
segregação raciais. O sistema de empregos, educacional, econômico e
jurídico são exemplos marcantes dessa ação racista institucionalizada. Da
análise feita por Jones, no sistema institucional norte-americano o autor
exemplifica não ser necessário para configuração de atitudes racistas atos e
decisões conscientes. “O racismo institucional também existem quando as
normas de uma instituição são apresentadas com a suposição de igualdade
racial que não existe na sociedade”, 116
e acrescenta: Por exemplo,
O racismo cultural, que por sua vez conta com elementos do racismo
individual e institucional, pode ser definido como “a expressão individual ou
116
JONES, James. Ob. cit. p. 116.
117
Idem, p. 117.
118
Idem, p. 130.
institucional da superioridade da herança cultural de uma raça com relação
à outra. Este tipo de racismo é adequado na medida em que fatores
culturais e raciais estão muito correlacionados e constituem uma base
sistemática para tratamento da inferioridade.”119
“A importância da escrita.
Entre estas fontes históricas, damos destaque especial aos
documentos escritos, porque são as principais fontes de
informação sobre o passado. Por isso a escrita é
fundamental para o conhecimento da história de um povo.
A escrita é tão importante que o período do passado da
humanidade anterior à escrita é chamado Pré História”. 120
( n/grifo)
SILVA, Francisco de Assis. História do Brasil. Vol. I, Colônia, 5ª Série, 1º Grau, 1982, p. 2. O livro é destinado à
introdução do estudo sistemático da História em crianças de 5ª série do 1º grau. Embora parta da visão não conservadora
da História, não consegue romper com paradigmas racistas, ainda que não intencionalmente, já que parece ter o propósito
do rompimento.
conclui: “a sociedade africana de tradição oral era vista como sintoma de
analfabetismo fundamental.” 121
121
JONES, James, ob.cit. p. 5.
122
IANNI, Octávio, ob.cit. especial a 1ª parte, pp350.
123
BRUNSCHWIG, Henri R. ob.cit. e KIZERVO, Joseph. Histótia del África Negra del siglo XIV a la epoca actual, V. I
1980. Estes autores entre outros, discutem a invasão da África pelos Europeus e a vinculação e articulação do sistema
econômico da Europa com o fato.
grupo negro contribui com a totalidade de seu contingente, na formação das
classes despossuídas na sociedade brasileira e, com um olhar internacional,
nas sociedades americanas.
124
FERNANDES, Florestan. A integração do Negro na Sociedade de Classes. Vol. I, 1978. P. 20 Ver. Cap. I.
125
GEBARA, Ademir, ob.cit. Paradoxalmente, o autor discute nas pp. 103. E segs., os tipos de trabalhos que eram
permitidos aos negros escravos: “De fato, o que se permitia ao escravo comercializar eram os produtos que se limitavam as
necessidades locais de consumo das populações livres” p. 104 e CHALOUB, Sidney. Trabalho Lar e Botequim. O
cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque, 1986. Nesta obra o autor sugere o interesse do Estado em
inserir o liberto no trabalho. Ver neste trabalho o item I. 4.
126
FERNANDES, Florestan. Ob.cit. Cap. II, especialmente.
No início deste século, após os primeiros anos de adaptação à nova
sistemática econômica, o Brasil se depreende com a imensa maioria da
população negra. Os imigrantes, em grande número vão se afirmando
dentro da ordem econômica e ressurgem como burgueses e pequenos
burgueses. O sistema, porém, contínua e crescentemente, necessita de
mão-de-obra (sempre barata). A população negra inicia a incursão no
trabalho formal. Agora, brancos e negros pobres (aqueles em uma parte,
estes em sua totalidade ), vão formar a grande massa proletária brasileira 127
127
IANNI, Octávio. Raça e Classe. IN: Escravidão .................................ob. cit. pp. 5180. Ler especialmente, pp. 7580.
128
OLIVEIRA, et al. Ob.cit. pp. 5859.
miséria ou a questão racial extrapola a exploração capitalista de forma que
os negros enfrentam dupla exploração: a racial e a de classe.
129
FANON, Frantz. Ob.cit. pp. 185187.
tem como objetivo apresentar novas visões da história brasileira ou mundial.
Isto vale especialmente para a segunda metade deste século com os
trabalhos de Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique
Cardoso - os pioneiros na academia brasileira na área de estudos das
relações raciais com vistas à desmitificação da “democracia racial” e
ausência de preconceito racial em nossas relações sociais. Não obstante, a
sociedade brasileira, adotando desde o início o racismo aversivo, criou e
manteve uma teia institucional e cultural perpetuadora de diferenças no
tratamento dos indivíduos por questão de cor e raça, além da econômica.