Curso de Escrita
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RESUMO
Fonte: MACHADO, Anna Rachel (Coord.). Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
O objetivo maior deste material é ajudá-lo a produzir resumos escolares/acadêmicos que possam ser
considerados bons pelos seus professores. Para isso, vamos iniciar discutindo algumas ideias que
você tem sobre esse tipo de resumo.
1. Leia os resumos a seguir do artigo A cultura da paz de Leonardo Boff. Mesmo sem ter lido o
texto mencionado, assinale o resumo que acredita ser o melhor resumo escolar/acadêmico.
( ) Resumo 1
Ele diz que a cultura dominante se caracteriza pela vontade de dominação da natureza e do outro. É
possível superar a violência? Freud diz que é impossível controlar o instinto de morte. Boff diz que
a evolução humana sempre esteve regida pela violência. Em segundo lugar, a cultura patriarcal
instalou a dominação da mulher pelo homem e que a lógica de nossa cultura é a competição. Veja-
se, por exemplo, o número de atos de violência contra a mulher em São Paulo. Precisamos opor a
cultura da paz à cultura da violência. Onde buscar as inspirações para a cultura da paz? Somos
seres sociais e cooperativos, temos capacidades de afetividade. O homem pode intervir no processo
de evolução. Desde os tempos de César Augusto, os filósofos acham que o cuidado é a essência do
ser humano. Gandhi, Dom Hélder Câmara e Luther King são figuras que deram exemplo de
comportamento humano. Eu acho que todos nós devemos lutar pela paz.
( ) Resumo 2
Leonardo Boff inicia o artigo “A cultura da paz” apontando o fato de que vivemos em uma cultura
que se caracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da
possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos
que sustentam a tese de que seria impossível, pois as próprias características psicológicas humanas
e um conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil
sua superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que, nesse
momento, é indispensável estabelecermos uma cultura da paz contra a da violência, pois esta
estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria possível construir
essa cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que nos
permitem sermos sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de
que a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma relação
amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações,
o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades humanas para a paz, construindo a
cultura da paz a partir de nós mesmos, tomando a paz como projeto pessoal e coletivo.
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( ) Resumo 3
No artigo “A cultura da paz”, Leonardo .Boff defende a necessidade de construirmos a cultura da
paz a partir de nós mesmos. O autor considera que isso é possível, uma vez que o homem é dotado
de características genéticas especiais que lhe permitiriam vencer a violência.
2. Assinale as alternativas que justifiquem a escolha do melhor resumo dentre os três que
foram dados.
a) ( ) correção gramatical e léxico adequado à situação escolar/ acadêmica;
b) ( ) seleção das informações consideradas importantes pelo leitor e autor do resumo;
c) ( ) seleção das informações colocadas como as mais importantes no texto original;
d) ( ) indicação de dados sobre o texto resumido, no mínimo autor e título;
e) ( ) o resumo permite que o professor avalie a compreensão do texto lido, incluindo a
compreensão global, o desenvolvimento das ideias do texto e a articulação entre elas;
f) ( ) apresentação das ideias principais do texto e de suas relações;
g) ( ) comentários pessoais misturados às ideias do texto;
h) ( ) menção ao autor do texto original em diferentes partes do resumo e de formas diferentes;
i) ( ) menção de diferentes ações do autor do texto original (o autor questiona, debate, explica...);
j) ( ) texto compreensível por si mesmo;
k) ( ) cópia de trechos do texto original sem guardar as relações estabelecidas pelo autor ou com
relações diferentes.
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1. Observe a diagramação dos textos que seguem e o veículo em que foram divulgados e tente
identificar a que gênero pertencem, indicando abaixo o número do texto – de 1 a 6 –
equivalente a cada gênero. Se tiver dúvida, leia os textos e observe expressões que indicam
opinião/avaliação do autor.
(Texto ___ ) resumos de filmes
(Texto ___ ) resumo (introdutório a artigo científico) ou abstract
(Texto ___ ) resumo de livro
(Texto ___ ) crítica de filme
(Texto ___ ) resenha crítica de livro
(Texto ___ ) quarta capa (ou contracapa) de livro
Texto 1 Texto 2
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4
Texto 3 Texto 5
Te
Texto 4
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5
Texto 6
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6
destinatário a
assistir o filme
3. Qual a diferença entre o objetivo dos textos denominados de resumo dos demais?
Destinatário
5. Além dos gêneros que vimos nesta seção, em que outros gêneros de textos podemos
encontrar informações resumidas? Procure exemplos desses gêneros e analise-os para
compreender o contexto de produção de textos.
Concluindo, antes de ler, resumir ou produzir qualquer texto, precisamos ter consciência de que:
a antecipação do conteúdo do texto pode facilitar a leitura;
todo texto é escrito tendo em vista um leitor potencial;
o texto é determinado pela época e local em que foi escrito;
todo texto possui um autor que teve um objetivo para a escrita daquele texto;
o texto é produzido tendo em vista o veículo em que irá circular.
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Nesta seção, vamos trabalhar com um dos processos mentais essenciais para a produção de
resumos, o processo de sumarização, que sempre ocorre durante a leitura, mesmo quando não
produzimos um resumo oral ou escrito. Esse processo não é aleatório, mas guia-se por uma certa
lógica, que buscaremos identificar nas atividades que seguem abaixo. Veja os exemplos.
a) No supermercado, Paulo encontrou Margarida, que estava usando um lindo vestido azul de
bolinhas amarelas.
Sumarização: Paulo encontrou Margarida.
Informações excluídas: circunstâncias que envolvem o fato (no supermercado), qualificações /
descrições de personagens (que estava usando um lindo vestido de bolinhas amarelas.
b) Você deve fazer as atividades, pois, do contrário, não vai aprender e vai tirar nota baixa.
Sumarização: Você deve fazer as atividades.
Informações excluídas: justificativas para uma afirmação
1. Sumarize os períodos abaixo, quando possível. À medida que for fazendo cada exemplo,
indique o procedimento do quadro abaixo que você utilizou, preenchendo os parêntesis com a
letra do procedimento correspondente (ver exemplo).
Procedimentos de sumarização:
( a ) Apagamento de conteúdos facilmente inferíveis a partir de nosso conhecimento de mundo.
( b ) Apagamento de sequências de expressões que indicam sinonímia ou explicação.
( c ) Apagamento de exemplos.
( d ) Apagamento das justificativas de uma afirmação.
( e ) Apagamento de argumentos contra a posição do autor.
( f ) Reformulação das informações, utilizando termos mais genéricos. (ex: homem, gato,
cachorro → mamíferos)
( g ) Conservação de todas as informações, dado que elas não são resumíveis.
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2. Resuma os períodos abaixo ao mínimo, pensando que o seu destinatário é o seu professor e
que ele vai avaliar a sua compreensão das ideias globais desses trechos. Use os procedimentos
de sumarização já estudados.
b) A cultura indígena é complexa, como a de qualquer outra sociedade. Seu grande diferencial,
porém, que foge à regra geral de todas as outras, é a não existência de desníveis econômicos.
Na sociedade indígena não existem também normas estabelecidas que confiram a alguém as
prerrogativas de mandante ou líder do núcleo populacional. Aquele que é chamado de cacique não
tem privilégios de autoridade, tem somente os de conselheiro. Não é um escolhido, é ligado, até
quando possível, a uma linhagem lendária. E, quando essa condição desaparece, passa a responder
como conselheiro da aldeia aquele que pelo número de aparentados alcança essa posição mais
respeitada (...)
(O. Villas-Bôas. 2000. A arte dos pajés. Impressões sobre o universo espiritual do índio xinguano.
São Paulo: Globo. p. 25).
c) Na linguagem comum e mesmo culta, ética e moral são sinônimos. Assim dizemos: “Aqui há um
problema ético” ou “um problema moral”. Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma
prática pessoal ou social, se boa, se má ou duvidosa.
Mas aprofundando a questão, percebemos que ética e moral não são sinônimos. A ética é parte da
Filosofia. Considera concepções de fundo, princípios e valores que orientam pessoas e sociedades.
Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter
e boa índole. A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam
por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os
costumes e valores estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma
pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética (obedece a princípios).
(http://www.leonardoboff.com)
Concluindo, para sumarizar, antes de mais nada, é necessário compreender o texto original. É
preciso identificar a ideia principal e as secundárias. Podemos eliminar, sempre que possível,
exemplos, sinônimos, explicações e justificativas e efetuar generalizações. Frequentemente, alguns
conectivos, como mas, isto é, porém, portanto, porque auxiliam essa identificação e podem orientar
os processos de sumarização.
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Agora vamos ver que as informações provenientes de um mesmo objeto (no caso, de um texto)
podem ser sumarizadas de diferentes formas, de acordo com a situação em que nos encontramos.
Percorrendo a casa
Os dois garotos correram até a entrada da casa.
– Veja, eu disse a você que hoje era um bom dia para brincar aqui – disse Eduardo. –
Mamãe nunca está em casa na quinta-feira – acrescentou.
Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os meninos podiam correr no jardim
extremamente bem cuidado.
– Eu não sabia que sua casa era tão grande – disse Marcos.
– É, mas ela está mais bonita agora, desde que meu pai mandou revestir com pedras essa
parede lateral e colocou uma lareira.
Havia portas na frente e atrás e uma porta lateral que levava à garagem, que estava vazia,
exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas aí. Eles entraram pela porta lateral. Eduardo
explicou que ela ficava sempre aberta para suas irmãs mais novas entrarem e saírem sem
dificuldade.
Marcos queria ver a casa... Então, Eduardo começou a mostrá-la pela sala de estar. Estava
recém-pintada, como o resto do primeiro andar. Eduardo ligou o som: o barulho preocupou
Marcos.
– Não se preocupe, a casa mais próxima está a meio quilômetro daqui – gritou Eduardo.
Marcos se sentiu mais confortável ao observar que nenhuma casa podia ser vista em qualquer
direção além do enorme jardim.
A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar para brincar: os
garotos foram para a cozinha, onde fizeram um lanche.
Eduardo disse que não era para usar o lavabo, porque ele ficara úmido e mofado, uma vez
que o encanamento arrebentara.
– Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de selos e moedas raras – disse Eduardo,
enquanto eles davam uma olhada no escritório. Além do escritório, havia três quartos no andar
superior da casa.
Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre trancado onde
havia joias. O quarto de suas irmãs não era tão interessante, exceto pela televisão com o Atari.
Eduardo comentou que o melhor de tudo era que o banheiro do corredor era seu, desde que um
outro fora construído no quarto de suas irmãs. Não era tão bonito como o de seus pais, que estava
revestido de mármore, mas para ele era a melhor coisa do mundo.
(Traduzido e adaptado de J. Pitchert & R. Anderson. “Taking Different Perspectives on a Story”, Journal of
Psychology, 1977, 69, In: A. Kleiman. 1989. Texto e leitor, Pontes Editores, Campinas.)
2. Agora, releia o texto, levantando as características mais importantes da casa descrita, como
se você fosse passá-las para três diferentes destinatários: para um possível comprador, para
um assaltante, para seu professor.
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Concluindo...
Sumarizamos de forma diferente, conforme o tipo de destinatário, de acordo com o que julgamos
que ele deve conhecer sobre o objeto sumarizado e de acordo com o que julgamos ser o objetivo do
destinatário.
Portanto, tendo em vista esse destinatário e esse objetivo, assinale a alternativa correta:
( ) o leitor já conhece o texto e, por isso, não é necessário dar as informações centrais do texto.
( ) o leitor já conhece o texto, mas é necessário dar as informações centrais para que ele possa
avaliar a sua compreensão global do texto.
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Gênero do texto
Meio de circulação Inicialmente revista, mas o artigo está em um site
Autor Leonardo Boff
Data de publicação 08/02/2002
Tema
Cultura da paz
[1] A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade de poder que
se traduz por vontade de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados. Essa é a
lógica dos dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra. Praticamente em todos os países
as festas nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência. Os meios de
comunicação levam ao paroxismo a magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado nos
filmes de Schwazenegger como o “Exterminador do Futuro”. Nessa cultura o militar, o banqueiro
e o especulador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de socialização
formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar
a pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é possível
superar ou controlar a violência? Freud, realisticamente, responde: “É impossível aos homens
controlar totalmente o instinto de morte… Esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente
mói que poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha”.
[2] Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas
estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico. Viemos de uma
imensa explosão, o big bang. E a evolução comporta violência em todas as suas fases. São
conhecidas cerca de 5 grandes dizimações em massa, ocorridas há milhões de anos atrás. Na
última, há cerca de 65 milhões de anos, pereceram todos os dinossauros após reinarem,
soberanos, 133 milhões de anos. A expansão do universo possui também o significado de ordenar
o caos através de ordens cada vez mais complexas e, por isso também, mais harmônicas e menos
violentas. Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para pormos limites à violência e
conferir-lhe um sentido construtivo.
[3] Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do
homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de
violência como o Estado, as classes, o projeto da tecno-ciência, os processos de produção como
objetivação da natureza e sua sistemática depredação.
[4] Em terceiro lugar, essa cultura patriarcal gestou a guerra como forma de resolução dos
conflitos. Sobre esta vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a
competição e não a cooperação, por isso, gera guerras econômicas e políticas e com isso
desigualdades, injustiças e violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para
consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos.
[5] A essa cultura da violência há que se opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.
[6] É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o
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pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial
destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto
humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no
limite, o destino dos dinossauros.
[7] Onde buscar as inspirações para cultura da paz? Mais que imperativos voluntarísticos, é
o próprio processo antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras. A singularidade
do 1% de carga genética que nos separa dos primatas superiores reside no fato de que nós, à
distinção deles, somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de estruturas de agressividade, temos
capacidades de afetividade, com-paixão, solidariedade e amorização. Hoje é urgente que
desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é
insensata.
[8] O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e co-pilotar a
marcha da evolução. Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de re-engenharia da violência
mediante processos civilizatórios de contenção e uso de racionalidade. A competitividade
continua a valer mas no sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim todos ganham e
não apenas um.
[9] Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição
que remonta aos tempos de César Augusto, vêem no cuidado a essência do ser humano. Sem
cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de cuidado para continuar a existir. Cuidado
representa uma relação amorosa para com a realidade. Onde vige cuidado de uns para com os
outros desaparece o medo, origem secreta de toda violência, como analisou Freud. A cultura da
paz começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras que representam o cuidado e a
vivência da dimensão de generosidade que nos habita, como Gandhi, Dom Helder Câmara e
Luther King e outros. Importa fazermos as revoluções moleculares (Gatarri), começando por nós
mesmos. Cada um estabelece como projeto pessoal e coletivo a paz enquanto método e enquanto
meta, paz que resulta dos valores da cooperação, do cuidado, da com-paixão e da amorosidade,
vividos cotidianamente.
Artigo disponível em: http://www.leonardoboff.com/site/vista/2001-2002/culturapaz.htm. Último acesso em
16/08/2014. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 08/02/2002, p. 9.
2. Leia essa pequena biografia do autor do texto. Baseando-se nos dados da biografia e no
título do texto, responda:
a) Como você acha que o autor vai abordar o tema?
Com pontos de vistas ligados com sua área de estudo (ecologia e espritualidade)
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3. Agora, você já pode reler o texto atentamente, buscando detectar as ideias colocadas pelo
autor como sendo as mais relevantes, grifando-as e verificando se suas hipóteses sobre o texto
se confirmam ou não.
Assinale os procedimentos que você usou para compreender algumas das palavras ou partes mais
difíceis do texto, exemplificando cada caso.
( ) procurar no dicionário;
( ) procurar a explicação da palavra no próprio texto, antes ou depois dela;
( ) ver como a palavra é formada: sufixos, prefixos etc.;
( ) outros: ____________________________________________________________________
O que é processo antropogênico? Como se pode deduzir seu significado a partir de índices do
texto? (7° parágrafo)
Creio que seria relacionado ao passado do homem x sua genética (ligada ao macaco
neste caso).
O texto fornece a informação da "carga genética" que separa o ser humano dos
primatas. Além disso, observando o prefixo "antro" é possível relacionar com
antropologia, por exemplo, ligado com estudo do "passado" do ser humano. e a parte "-
gênico" está ligado com genética.
Que palavras se relacionam com a palavra voluntarístico, que são da mesma família?
(7° parágrafo)
Seriam as imposições realizadas de forma voluntário (ou seja, de forma consciente) do que
deve ser feito (e como) para buscar a paz geral (ao seu redor, e adiante).
c) Levante a questão que o autor vai discutir a partir da constatação desse fato. Sublinhe-a no texto.
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5. Que respostas são dadas a essa pergunta por Freud e pelo próprio autor? Tente verificar se
as duas estão explícitas no texto ou se alguma delas pode ser inferida a partir do que é
exposto. Indique o(s) parágrafo(s) em que essas respostas são dadas explícita ou
implicitamente. Complete o quadro.
RESPOSTA PARÁGRAFOS
Freud
Boff
b) Quais são os três argumentos introduzidos por essas expressões? Resuma-os com suas próprias
palavras.
d) Assinale a frase que melhor exprime e generaliza os dois primeiros argumentos que sustentam
a ideia de que é possível construir uma cultura da paz.
( ) O ser humano tem 1% de carga genética que o separa dos primatas superiores.
( ) O ser humano tem, geneticamente, condições biológicas que favorecem a socialização, a
cooperação e a criação, diferentemente dos animais.
( ) O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e influir na marcha da
evolução.
e) Assinale a frase que melhor exprime e generaliza o terceiro argumento que sustenta a ideia de
que é possível construir uma cultura da paz.
( ) Heidegger considera que a essência do ser humano é o cuidado, a relação amorosa com a
realidade.
( ) A cultura da paz começa quando cultivamos figuras como Gandhi, Dom Hélder Câmara e
Luther King.
( ) Do ponto de vista filosófico, podemos considerar que a essência do ser humano é o cuidado,
que pode nos levar a vencer a violência.
f) Releia a conclusão mais geral a que o autor chega e indique qual é o seu objetivo maior com o
texto.
( ) Levar o leitor a ter consciência dos processos da constituição humana.
( ) Levar o leitor a construir um projeto pessoal e coletivo para colaborar com a paz no mundo.
( ) Levar o leitor a cultuar heróis como Gandhi, Dom Hélder Câmara e Martin Luther King,
( ) Levar o leitor a se conscientizar de que a paz é possível
Concluindo esta parte, verificamos que a primeira etapa para se escrever um bom resumo é
compreender o texto que será resumido. Auxilia essa compreensão o conhecimento sobre o autor,
sua posição ideológica, seu posicionamento teórico etc. Também é preciso detectar as ideias que
o autor coloca como sendo as mais relevantes, buscando, sobretudo quando se tratar de gêneros
argumentativos (como artigos de jornal ou artigos científicos), identificar:
a questão que é discutida;
a posição (tese) que o autor rejeita;
a posição (tese) que o autor sustenta;
os argumentos que sustentam ambas as posições e
a conclusão final do autor.
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A seguir, vamos trabalhar com a organização global do texto e com as relações entre as ideias
centrais, pois, no resumo, devemos mostrar essa organização e reproduzir claramente essas relações,
tais como se encontram no texto original.
Fatos
Questão
Posição do autor
Argumento Argumento
Conclusão
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2. No esquema construído, por enquanto, você tem apenas as ideias mais relevantes.
Entretanto, no resumo, como já foi dito, devemos manter as relações que o autor estabelece
entre elas (de exemplificação, de causa / consequência, de explicação, de conclusão etc.). Uma
das formas de indicar essas relações é o uso de conectivos ou organizadores textuais. Assim,
utilize os conectivos abaixo para completar os sete quadros destacados no esquema,
explicitando essas relações. Se necessário, retorne ao texto.
3. Escolha outros conectivos que possam substituir os três conectivos do item anterior, para
indicar:
argumentos ou justificativas:
conclusões:
teses contrárias uma à outra:
4. Agora, complete a tabela que segue com outros conectivos sugeridos no quadro.
logo • já que • no entanto • assim • entretanto • uma vez que • todavia • pelo fato de • devido a •
apesar de • contudo • isso posto • ainda que • como • por isso • porém • assim sendo
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6. Identifique os conectivos dos trechos de textos abaixo. Orientando-se por eles, complete as
tabelas.
Texto 1
Não acredite em nenhum “método” ou (pior) “metodologia” para fazer crítica de textos – não
porque os métodos ou as metodologias sejam intrinsecamente maus, mas simplesmente porque
eles o impedem de pensar de modo independente e de desfrutar sua liberdade intelectual em uma
dimensão de pensamento que não admita regularidades rígidas.
(Adaptado de Hans Ulrich Gumbrecht, Crítica. In: Folha de S.Paulo, Caderno Mais, domingo, 13 de outubro de
2002).
TESE
Argumentos que sustentam a tese
Texto 2
Uma pesquisa de comunicação descobriu que as pessoas tendem a ler, ouvir ou ver comunicações
que apresentem pontos de vista do seu agrado e a evitar as demais. Dúzias de outras pesquisas
revelam que as pessoas escolhem o material que combina com seus pontos de vista e interesses e
evitam, amplamente, o que os contraria. A pesquisa também mostra que as pessoas “lembram”
mais do material que apoia suas ideias do que daquele que as ataca. Finalmente, e sob certos
aspectos de maneira relevante, também é seletiva a percepção ou interpretação. Por exemplo, os
fumantes que leram artigos sobre fumo e câncer preocuparam-se menos que os não fumantes com
a possibilidade de o fumo realmente provocar o câncer. Portanto, é óbvio que, se as pessoas
procuram evitar as comunicações coletivas que contrariam seu pontos de vista e interesse, se
tendem a esquecer as que recebem e se, finalmente, alteram aquelas de que conseguem lembrar-
se, não é provável que as comunicações coletivas possam lhes causar mudança de pontos de vista.
(Adaptado de Joseph Klapper. 1964. “Os efeitos sociais da comunicação coletiva”. In: Panorama da comunicação
coletiva. Ed. Fundo de Cultura, São Paulo-Lisboa. p. 64-67.)
TESE
Argumentos que sustentam a tese
Conectivo que introduz os
argumentos
Concluindo... Para que o resumo seja claro e coerente, é preciso indicar as relações entre as ideias
do resumo e explicitar as relações entre as ideias do texto. Para isso, utilizamos os organizadores
textuais (ou conectivos) que melhor expressem as relações entre as ideias do texto original.
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Um resumo é um texto sobre outro texto, de outro autor, e isso deve ficar sempre claro,
mencionando-se frequentemente o seu autor, para evitar que o leitor tome como sendo nossas as
ideias que, de fato, são do autor do texto resumido.
1. Releia o Resumo 2 da Seção I. Circule no texto as diferentes maneiras usadas para se referir
ao autor.
2. A partir do que fez no exercício anterior, tire sua conclusão e complete os espaços.
Saturno nos Trópicos, de Moacyr Scliar (Companhia das Letras; 274p.; 29 reais) – Em seu novo
livro, o ___________________ gaúcho Moacyr Scliar deixa a ficção de lado e investe em outra
de suas especialidades: o ensaio. Saturno nos Trópicos é um estudo sobre a melancolia, e custou
cinco anos de pesquisa ao escritor. Não se trata de uma obra difícil: ao contrário, sua linguagem é
sempre acessível e envolvente. ______________________ enfoca o tema em vários momentos
históricos. Fala da Idade Média dos tempos da peste negra e da Renascença dos grandes avanços
científicos. Mas seu objetivo é, sobretudo, compreender a melancolia à moda brasileira e traçar
uma história dela. ______________________ examina a cultura nacional desde os primeiros
tempos até o século XX – tratando de personagens como Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e
Macunaíma, de Mário de Andrade.
4. Releia o Resumo 1 da Seção I e verifique de que forma o autor do resumo se refere ao autor
do texto original. Aponte os principais problemas que você observar.
Concluindo esta seção, destacamos é preciso retomar o que o autor diz, fazendo referência a ele de
maneiras diferentes. Além disso, é necessário assegurar a coesão entre os parágrafos. E também não
podemos colocar nossa opinião nem acrescentar elementos que não estejam no texto original.
Resumo Oficina Leitura e Produção de Textos Acadêmicos Udesc-Capes-Cead-Pibid. Por Alberto Gonçalves
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No resumo, o autor do texto original aparece como se estivesse realizando vários tipos de atos, que,
frequentemente, não estão explicitados no texto original. Você é que tem de interpretar esses atos
usando o verbo adequado. Observe esse fenômeno, fazendo as atividades que seguem.
2. Agora, releia o Resumo 2 da Seção I e grife com dois traços os verbos que indicam os
diferentes tipos de atos que são atribuídos ao autor.
b) conclui:
c) incitando-nos:
4. Observe o exemplo em que destacamos os verbos utilizados para indicar diferentes atos do
autor do texto resumido. Em seguida, leia os trechos e preencha os espaços dos resumos
correspondentes com os verbos mais adequados, dentre os do quadro abaixo.
Exemplo:
Um amigo me disse:
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– Não guarde nada para uma ocasião especial. Cada dia que se vive é uma ocasião especial.
Ainda estou pensando nestas palavras... já mudaram minha vida. Agora estou lendo mais e
limpando menos. Sento-me no terraço e admiro a vista sem preocupar-me com as pragas. Passo
mais tempo com minha família e menos tempo no trabalho. Compreendi que a vida deve ser uma
fonte de experiências a desfrutar, não para sobreviver. Já não guardo nada. Uso meus copos de
cristal todos os dias. Coloco uma roupa nova para ir ao supermercado, se me dá vontade. Já não
guardo meu melhor perfume para ocasiões especiais, uso-o quando tenho vontade.
(Mensagem distribuída por e-mail)
Resumo
O autor relata o que um amigo lhe disse e mostra como as palavras desse amigo influenciaram
sua vida, elencando diversas ações de seu cotidiano que ele realiza de forma diferente.
Trecho 1
Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a
imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a
exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o
olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível:
o ar estará livre do veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões;
nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães;
as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem
compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor.
(Eduardo Galeano, Fórum Social Mundial 2001. Caros Amigos 01/2000)
Resumo do trecho 1
O autor _______________________ a contradição entre a existência de extensas listas de direitos
humanos e o fato de a maioria da humanidade não ter nenhum. Diante disso,
______________________ o leitor a sonhar com um mundo possível e
__________________________ algumas das características desse mundo.
Trecho 2
Há três tipos de jornalistas:
1) o repórter, que escreve o que viu;
2) o repórter interpretativo, que escreve o que viu e o que ele acha que isso significa;
3) o especialista, que escreve a respeito do significado daquilo que não viu.
(Adaptado de Elio Gaspari, Folha de S.Paulo, 13/09/1998)
Resumo do trecho 2
O autor ____________________ os jornalistas em três tipos.
Trecho 3
Às vezes ainda se ouve por ai alguém dizendo que sexo sem amor não dá. Soa um tanto ingênua a
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alegação, meio fora de tempo, como um simca chambord atrasando o tráfego. Amor, o que é isso?
Coisa mais anos 50... (...) O que se quer dizer, quase sempre, não é que sexo precisa de amor, mas
que sexo precisa de narrativa.
(Eugênio Bucci, O melodrama e a gente, Folha de S.Paulo, 24/02/2002)
Resumo do trecho 3
O autor __________________ a afirmação corrente de que sexo sem amor não dá; questiona-a
(ironicamente) e _______________________ o seu sentido.
Trecho 4
E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. (...)
O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a lei, no fundo de tudo. O
amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso
desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre sem
tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão a posteriori
pelos prazeres do sexo.
(Arnaldo Jabor, Amor atrapalha o sexo. O Estado de S. Paulo, 29/08/2002)
Resumo do trecho 4
O autor ____________________ sexo e amor, _______________ as características de cada um.
Trecho 5
Chat, pra quem não sabe, é um lugar onde fica uma porção de chatos, todos com pseudônimos
(homem diz que é mulher e mulher vira homem) a te perguntar: você está aí?
(Mário Prata, Chats e chatos pela Internet. O Estado de S. Paulo, 02/12/1998)
Resumo do trecho 5
O autor _______________________ o chat de forma irônica.
Trecho 6
As obras mais significativas no campo da economia foram redigidas por especialistas de outras
áreas. Adam Smith, por exemplo, tido como o “pai da economia”, era um professor de filosofia
moral.
Resumo do trecho 6
O autor _________________ que as obras mais importantes da economia são feitas por
especialistas de outras áreas, _______________ com Adam Smith.
Trecho 7
Período de Férias
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O início do ano escolar no mês de fevereiro merece ser revogado, voltando à antiga praxe de
começo das aulas em março. O carnaval geralmente cai em fevereiro e interrompe as aulas recém-
iniciadas. O verão escaldante torna as aulas penosas e com baixo rendimento. Finalmente, as
férias escolares comandam grande parte das férias dos trabalhadores. E as férias destes são motor
do turismo, atividade geradora de empregos e riqueza para o País. (...) Portanto, há grande
vantagem para todos na transferência do início das aulas para o mês de março.
Resumo do trecho 7
O autor ___________________ a tese de que as aulas devem voltar a começar em março,
_______________________ os seguintes argumentos: o fato de que o carnaval normalmente cai
em fevereiro, o fato de que o calor é forte e prejudica as aulas e o fato de que as férias dos
trabalhadores, coincidindo com as escolares, são benéficas para a economia.
Finalizando, escreva aqui suas conclusões sobre o que você estudou nesta seção.
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Nesta seção, recapitularemos os passos necessários para você escrever seu próprio resumo.
1. Discuta com seu professor e com os seus colegas tudo aquilo que você já sabe e é capaz de
fazer para ser bem-sucedido nessa produção.
2. Agora é hora de você escrever um resumo seguindo os passos aprendidos. Leia o texto
seguinte e faça um resumo escolar/acadêmico.
Ciência em Dia
Truculência na internet
Marcelo Leite
editor de Ciência
A indústria fonográfica norte-americana – ou seja, mundial – deu um passo radical há duas semanas,
quando iniciou 261 processos judiciais contra pessoas que baixaram da internet canções protegidas por
direitos autorais. Pode ser um passo rumo ao abismo.
Antes que a coluna seja acusada de apologia do crime (atentado contra a propriedade de obras artísticas
e intelectuais), é bom reafirmar inteiro apoio ao direito autoral. Nada parece mais correto do que fazer
reverter para o artista ou para o intelectual o fruto de seu trabalho, ou que parte dele vá para pessoas e
organizações que tenham auxiliado na distribuição dessas obras.
Na vida prática, porém, todo direito enfrenta limitações. No caso da mania de copiar músicas da internet,
a primeira limitação é justamente de ordem prática: como processar todas as pessoas que fazem downloads?
São milhões, provavelmente dezenas ou centenas de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo.
Soa no mínimo arbitrário escolher a esmo 43 meias dúzias de indivíduos entre os que usam os recursos
KaZaA, iMesh, Blubster, Grokster e Gnutella. São bodes expiatórios, escolhidos para dar um exemplo para
lá de duvidoso.
Primeiro, de um ponto de vista mais probabilístico, porque não parece que vá ter muita eficácia. As
chances de ser pego e processado ainda são minúsculas (da ordem de uma em 1 milhão, se houvesse pelo
menos 261 milhões de internautas baixando músicas da rede). Só nos EUA estima-se em 60 milhões o total
de "criminosos". Seria preciso entupir a Justiça com outros milhares de processos antes que a garotada
hormonalmente inclinada à contestação de fato se intimidasse.
Depois, porque isso equivale a cutucar a onça com vara curta. A medida tornará os produtores e
fabricantes de discos ainda mais impopulares do que já são entre jovens, seus futuros e atuais consumidores.
Se você duvida e tem uma adolescente conectada por perto, pergunte a ela o que pensa do preço dos CDs.
"Ninguém gosta de bancar o truculento e ter de recorrer a processos", disse ao jornal "The New York
Times" Cary Sherman, presidente da Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos. Para ele, a
Justiça se tornou o único meio de frear uma atividade ilegal que está causando muitos prejuízos.
É verdade que os empresários foram espertos, indo atrás daqueles usuários que participam ativamente da
distribuição de músicas e não tanto dos que só fazem a sua copiazinha para ouvir. Parece que estão seguindo
à risca o ensinamento da recém-nascida ciência das redes, que manda atacar os mais conectados para
derrubar uma rede inteira.
O problema que a indústria desconsidera é que a maioria dos "criminosos" não faz isso para ganhar
dinheiro, mas para se divertir. Baixar músicas da internet já se tornou uma prática social, um costume, uma
forma de cultura. Tentar impedir isso aparece como censura. Tudo indica que a popularização dos
computadores e a crescente conexão das pessoas permitida pela internet tornarão cada vez mais difícil
controlar a cópia e o intercâmbio de produtos culturais – discos ou livros, filmes ou fotografias.
Está mais do que na hora de os gênios do marketing queimarem seus miolos, tão criativos, para inventar
uma forma de ganhar dinheiro com as novas redes – como elas são. Não vão conseguir enfiá-las no figurino
acanhado do mercado nutrido com bolachas negras de vinil.
E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
Folha de S.Paulo, Mais!, 21/09/2003
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Releia seu resumo e avalie-o, levando em conta as questões da ficha de avaliação que segue
abaixo. Refaça-o a partir dessa avaliação. Utilize essa ficha toda vez que fizer um resumo.
Outras questões
Acrescente outras questões a essa ficha com base nas conclusões particulares tiradas das
atividades anteriores e das discussões em aula.
Atividade Complementar
Troque o seu resumo com o de um colega. Cada um deve avaliar o resumo do outro de acordo com
a ficha.
Fonte: MACHADO, Anna Rachel (Coord.). Resumo. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
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