Doenças Alimentares
Doenças Alimentares
Doenças Alimentares
2
DOENÇAS
ALIMENTARES
48 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
48 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
DOENÇAS ALIMENTARES 49
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 49
Definição
"Doenças Alimentares são todas as ocorrências clínicas decorrentes da ingestão de alimen-
tos contendo perigos ou que contenham em sua constituição estruturas naturalmente
tóxicas ou a ingestão inadequada de nutrientes importantes para a saúde ou mesmo as
consequências clínicas devido ao aspecto sensorial repugnante ou simbólico"
1 - Doenças Nutricionais
Doenças decorrentes da ingestão inadequada de nutrientes na alimentação. Doenças
carências ou que envolvam o não cumprimento de uma dieta equilibrada.
2 - Doenças Funcionais
Doenças consequentes á incompatibilidade pessoal a certos alimentos, devido à sensibi-
lidade, alergias, má digestão etc.
PODERES PATOGÊNICOS
DOS MICRORGANISMOS
Agressividade
Toxicidade
Hipersensibilidade
Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) são todas as ocorrências clínicas conseqüen-
tes à ingestão de alimentos que possam estar contaminados com microrganismos pato-
gênicos (infecciosos, toxinogênicos ou infestantes), substâncias químicas, objetos lesivos
ou que contenham em sua constituição estruturas naturalmente tóxicas, ou seja, são
doenças conseqüentes à ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos presentes nos
alimentos.
”
o presente é a tentativa da realidade.
54 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
54 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
• Alimentos: leite, queijo, requeijão, patê, ativa a germinação dos esporos, dimi-
peru, repolho curtido, lingüiça de peru, nuindo o tempo de geração para 10
presunto, ovo líquido, vegetais (rabane- minutos. Multiplica-se entre 15°C e 50°C.
te, batata, cogumelo, pepino, repolho e Produz endoenterotoxina no intestino,
alface), roast beef, carne moída, vitela quando ocorre esporulação, após a
moída e lingüiça. Alimentos de alto risco: ingestão de grande quantidade de for-
salsicha não cozida, frango mal cozido, mas vegetativas.
queijo em pasta, alimentos de lojas de
delicatessen. Bacillus cereus clássico
• Quadro clínico: período de incubação
Vide página 54 (Bacillus cereus).
indeterminado, com cólica, diarréia, fe-
bre, calafrios, dor de cabeça, mal estar,
prostração, dores nas juntas e linfadenite. Agentes virais causadores de
• Características: doença letal para indiví- infecções alimentares
duos com câncer, doença renal, hepatite,
aids, diabetes, transplantados e terapias Hepatite A (vírus A)
com esteróides. Doença branda em pes-
• Fonte: fezes do homem, água contami-
soas sadias. Multiplica-se em temperatu-
nada com fezes.
ra baixa de refrigeração, entre 0°C e 44°C
• Contaminação: manipulador de alimen-
e em pH entre 4,5 e 8. Está presente em
tos portando o vírus em fase de incuba-
64% dos alimentos refrigerados.
ção ou durante a doença, contaminando
alimentos com as mãos sem higienizar,
Clostridium perfringens água contaminada em verduras, legumes
e frutas.
• Fonte: solo (terra e água), intestino do
• Alimentos: mariscos, frutas e verduras
homem e animais, hortaliças e temperos.
cruas, saladas mistas de vegetais com
• Contaminação: matéria-prima (carnes e
carnes, aves ou peixes.
aves), material do solo (caixas papelão e
• Quadro clínico: período de incubação
hortaliças), contaminando as superfícies
entre 10 a 50 dias, com febre, mal estar,
da cozinha (equipamentos, utensílios e
prostração, anorexia, náusea, dor abdo-
bancadas) e mãos. Contaminação cruza-
minal e icterícia.
da entre produtos animais crus e cozi-
• Características: o vírus é inativado na
dos, através de contato ou superfícies.
cocção, é uma doença decorrente da
• Alimentos: carnes e aves assados ou
ingestão de alimentos crus ou manipula-
cozidos, feijão cozido, legumes cozidos e
dos com as mãos contaminadas após a
molho de carne.
cocção. Pode ser transmitido por contá-
• Quadro clínico: período de incubação de
gio (pessoa a pessoa).
8 a 22 horas, predominando diarréia e
cólicas abdominais, sem febre.
Vírus entéricos, Rotavirus e Agente
• Características: formador de esporos,
Norovirus (Norwalk)
sobrevive na cocção e reaquecimento.
Morre em 20 minutos a 100°C como • Fonte: fezes do homem, água contami-
valor D. É anaeróbio. No interior do ali- nada com fezes.
mento em ebulição, sobrevive até 9 • Contaminação: manipulador de alimen-
horas. A cocção promove anaerobiose e tos com estas viroses ou em fase de
60 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
60 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
“ A Saúde no Brasil
A saúde no Brasil
Para toda faixa etária
Se é média, pobre, operária
Vive hoje em túnel escuro!
Mas há uma luz no futuro,
”
Vigilância Sanitária.
Colaboração:
Dr. Luiz Humberto de Sales
Secretaria de Saúde - Rio Grande do Norte
Natal - 17/06/99
62 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
62 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
SURTOS DE CÓLERA
DR. NATAL JATAÍ DE CAMARGO
Fonte: SESA/ISEP/CSA
100
Número de surtos
80
60
40
20
0
Irati
União da Vitória
Foz do Beltrão
Cascavel
Umuarama
Paranavaí
Telemaco Borba
Ivaiporã
Curitiba
Francisco
Jacarezinho
Paranaguá
Ponta Grossa
Guarapuava
Maringá
Cornélio
Procópio
Pato Branco
Iguaçu
Cianorte
Londrina
Toledo
Apucarana
Campo Mourão
Regionais de saúde
Fonte: SESA/ISEP/CSA
90
80
70
Número de surtos
60
50
40
30
20
10
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
ANOS surtos/salmonelose
surtos de salmonelose por ovo
3000
2500
2000
casos de
Número de casos
salmolenose
casos de
1500 salmolenose
por ovo
1000
500
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999
ANOS
66 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
66 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
2000
casos de salmolenose por ovo
1800 casos de salmolenose
por ovo (hospitalizados)
1600
1400
Número de casos
1200
1000
800
Fonte: SESA/ISEP/CSA
600
400
200
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999
ANOS
160
140
120
Número de surtos
100
80
60
41
20
0
Maionese
Bolo
Carne Bovina
Ovo
Queijo
Risoto
Salpicão
Pescado
Carne Suína
Macarrão
Verdura
Arroz
Pave
Feijão
Indeterminado
Coxinha
Frango
Lazanha
Canelone
Morcela
ALIMENTOS
DOENÇAS ALIMENTARES 67
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 67
PROCEDIMENTOS PARA
DIAGNÓSTICO DOS SURTOS DE DTAS
(DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS)
Distribuição Cardápio
tempo e (alimentos
temperatura envolvidos)
(“pass through”
e balcão térmico)
Taxa de
ataque
Condições (para cada
ambientais alimento)
(análise
microbiológica
de utensílios Coprocultura
e equipamentos) Surto de
infecções
intestinais
(portadores)
68 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
68 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
Disentérica (1 - 7 dias)
Infecção de origem alimentar
D Diarréica (8 - 72 horas)
T
A Toxinose Emética (1 - 6 horas)
s
Soma do PI
= Período de incubação médio
Nº de pessoas
por fonte comum ou por contágio pessoa ou contágio pessoa a pessoa, além de ori-
a pessoa. entar a pesquisa, quando existem quadros
clínicos intermitentes, provenientes da
manipulação contaminada por indivíduos
somatória da duração
da doença portadores assintomáticos de bactérias
———————————
o
= duração média infecciosas.
n de pacientes da doença
Uma curva epidêmica de fonte comum se
caracteriza por um número grande de do-
entes em um curto espaço de tempo, neste
Obtenção da curva epidêmica caso, a curva continua por um período apro-
ximadamente igual a duração de um perí-
Uma curva epidêmica é um gráfico que odo de incubação médio da doença, sendo
demonstra a distribuição do tempo de apa- a base estreita e o pico alto. A contamina-
recimento dos sintomas iniciais de todos ção pessoa a pessoa é caracterizada por
os casos que ocorreram no aparecimento uma curva relativamente longa, ou seja, a
da doença. A unidade de tempo utilizada curva irá manter-se por um período equi-
na construção do gráfico depende do perí- valente à duração de vários períodos de
odo coberto pelo aparecimento da doença. incubação da doença, observando-se uma
Esse período varia de acordo com a doen- base larga e um pico baixo.
ça. Por exemplo: deve-se usar o tempo em É de fundamental importância conhecer o
dias ou semanas para hepatite “A”, usar o cálculo do período de incubação média e a
tempo em horas para intoxicações por duração da doença, o que permite concluir
Staphylococcus aureus, devido ao período se o problema ocorrido foi devido a uma
de incubação de cada doença. fonte comum, transmissão por contágio, ou
A curva epidêmica ajuda a determinar se por contaminação intermitente na prepa-
o aparecimento da doença originou-se de ração dos alimentos. Seguem como exem-
um veículo comum, como alimento ou água, plo, dois gráficos:
Número de Casos
80
40
20
10
7 14 21 Tempo (horas)
Número de Casos
80
40
20
10
12 24 Tempo (horas) 48
de 8 a 16 horas em média, com febre pessoas que não ingeriram o citado ali-
baixa, vômitos, cólicas, mal estar e cala- mento e também apresentará a maior di-
frios, porém, dependendo da dose infec- ferença entre as duas taxas. No exemplo
tante, a incubação pode variar de 12 a A, as pessoas doentes que ingeriram car-
72 horas para Salmonella sp., Escherichia ne assada constituem 81% dos indivíduos,
coli invasora, Vibrio parahaemolyticus, o índice de ataque para pessoas que não
Yersinia enterocolitica, Aeromonas sp., ingeriram este alimento foi de apenas 18%.
Pseudomonas aeruginosa, e de 1 a 5 dias Desta forma, a diferença entre as duas
com sintomas respiratórios, para vírus porcentagens foi de 63% e a carne assada
entéricos, agente Norovirus (Norwalk), passa a ser o alimento suspeito.
Rotavirus e Hepatite A. Devemos enfatizar que esta característica
só é válida se forem entrevistados todos
Cálculo da taxa de ataque os indivíduos doentes e não doentes que
para cada alimento envolvido: se alimentaram do cardápio envolvido no
surto. Tal procedimento se torna difícil ou
Para esta avaliação, devemos calcular as praticamente inviável, quando o surto ocor-
taxas por alimentos específicos, ou seja, re em restaurantes com um número gran-
observar qual alimento é mais ingerido de de refeições, como no caso de indústri-
entre os alimentos específicos (como visto as com 1000 a 5000 comensais.
nos exemplos A e B). O exemplo A fornece Podemos, como alternativa, fazer o cálculo
uma maneira fácil de comparar a porcen- de ataque, entrevistando indivíduos doen-
tagem de pessoas doentes que ingeriram tes e não doentes, nas mesmas proporções
e não ingeriram todos os alimentos. Para do surto. Por exemplo, de 2000 comensais
se calcular a porcentagem de pessoas que se alimentaram com os alimentos ser-
doentes para um alimento específico (índi- vidos, 400 apresentaram diarréia (20%),
ce ou taxa de ataque de alimentos especí- mas, na impossibilidade de se entrevistar
ficos), dentro de um determinado grupo, todos os indivíduos, poderemos fazer o es-
deve-se dividir o número de pessoas doen- tudo com um grupo menor, estatisticamen-
tes que ingeriram um alimento em particu- te compatível e representativo do número
lar, pelo número total (ambos: doentes e real de ocorrências, ou seja, poderemos
sãos) que ingeriu o mesmo alimento. Faz- entrevistar 200 pessoas, sendo 160 não
se o mesmo para o número total dos que doentes e 40 doentes, ou entrevistar 100
não ingeriram este alimento. pessoas, sendo 80 não doentes e 20 doen-
No exemplo A o nº 74 (total de doentes que tes, ou ainda 50 pessoas sendo 40 não
ingeriram carne assada) é dividido por 91 doentes e 10 doentes, dependendo apenas,
(total de indivíduos que ingeriram carne do número de pessoas a que teremos aces-
assada), multiplicando-se por 100, que equi- so, no local de ocorrência do surto.
vale a 81% dos indivíduos doentes. Um outro modo mais simples, mas, menos
A determinação da taxa de ataque é útil na abrangente, é fazer uma entrevista com
identificação do alimento responsável pelo apenas alguns indivíduos doentes, poden-
aparecimento da doença. Este alimento, do-se aproveitar as entrevistas para ava-
geralmente, terá maior taxa de ataque liação do quadro clínico e relacionar os
(porcentagem de pessoas doentes) na co- alimentos que cada um ingeriu neste dia.
luna de pessoas que ingeriram o alimento Para cada alimento específico podemos
e a menor taxa de ataque na coluna de subtrair o número de indivíduos que inge-
DOENÇAS ALIMENTARES 75
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 75
Exemplo A
Carne de panela 74 17 91 81 2 9 11 18 + 63
Ervilhas 48 20 68 71 28 6 34 82 - 11
Salada de repolho 36 12 48 75 40 14 54 74 + 1
Biscoitos 46 12 58 79 30 14 44 68 + 11
Pêssegos 62 22 84 73 14 4 18 78 - 5
Leite 60 16 76 79 16 10 26 62 + 17
Exemplo B
Número de casos = 17
Para alimento A:
% de doentes % de doentes
Alimento suspeito que comeram que não comeram
= —
diferença de % Dc cada alimento cada alimento
específico específico
% Dc % Dnc
Período de incubação
Horário - 1º sintoma
Duração de doença
Horário - refeição
PACIENTES
Disenteria
Mal estar
Calafrios
Náuseas
Vômitos
Diarréia
Cólicas
Gases
Febre
1
10
11
12
13
14
15
16
17
Período de incubação
Média
Duração da doença
Média
Total de sintomas
Freqüência de sintomas -
F.S. %
Total de alimentos específicos
Total de indivíduos que comeram _ Total de indivíduos que não
os alimentos específicos comeram estes alimentos
CDL — 1985
78 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
78 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
Período de incubação
Horário - 1º sintoma
Duração de doença
Arroz de forno
PACIENTES
Disenteria
Mal estar
Beterraba
Calafrios
Náuseas
Vômitos
Diarréia
Cólicas
Gases
Feijão
Febre
Eclair
1 12 2 15 14 13 x x x x x x
3 12 6 11:30 18 5:30 x x x x x x x x
4 12:30 22 8 9:30 10 x x x x x x x x
5 12:30 2 12 13:30 10 x x x x x x x
6 13:15 5 15 15:45 10 x x x x x x x
7 13:45 6 10 16:45 4 x x x x x x x x
9 12 6 15 18 9 x x x x x x
10 12:15 6 17 17:45 11 x x x x x x x x x
13 12:40 24 9 11:20 9 x x x x x x
16 13 2 9 13 7 x x x x x x
Staphylococcus aureus
em placas mesófilos
Bolores e leveduras
Salmonella sp 25g
Coliformes fecais
Contagem padrão
Coliformes totais
Clostridium S.R.
Bacillus cereus
Microrganismo
Enterococos
H.S
Alimentos
Coxa de frango
0 0 0 0 0 < 103 9 2.103 - -
pronta
Conclusões
Própria para o consumo
e condições
Eclair
0 28.101 0 36.104 0 2.104 46.102 46.105 - > 104
massa
”
e aos homens o que eles merecem.
80 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
80 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
sendo o ideal até 48 horas. Após este pe- tos industrializados que sejam compatíveis
ríodo, nas amostras congeladas os micror- com a produção do produto em teste.
ganismos deteriorantes demoram a se O formulário para avaliação das DTAs
multiplicar, não as alterando, mas os pato- (pág.77) fornece condições para entrevis-
gênicos tendem a diminuir e, nas amostras tar indivíduos que tiveram quadros clínicos
refrigeradas, os microrganismos patogêni- emético ou gastrentérico, e obter várias
cos ficam estáveis e os dete-riorantes se informações, como: período de incubação
multiplicam alterando a qualidade inicial médio, duração da doença, frequên-cia de
das amostras. Em ambas as situações, sintomas e taxa de ataque para cada ali-
poderá ocorrer alteração nos resultados mento envolvido.
das análises. É importante lembrar que,
amostras de produtos líquidos, como água,
sucos, refrigerantes, caldos etc, não de- Coleta de amostras
vem ser congeladas sendo coletadas sem- (Resumo)
pre em frascos esterilizados.
3 — As amostras, previamente coletadas — Saco plástico ou frasco de vidro.
e armazenadas, ou aquelas coletadas quen- • Utilizar saco plástico para congela-
tes e rapidamente resfriadas, devem ser mento, desinfetado ou esterilizado, de
transportadas ao laboratório em condições tamanho, no mínimo, de 1 litro.
que não favoreçam a multiplicação dos • Utilizar frasco de vidro de 200 ml do
microrganismos, ou seja, devem ser colo- tipo pote Arjek (tampa de metal) ou
cadas em embalagens isotérmicas (isopor) pote LN (tampa de plástico fervível).
com gelo (reciclável ou não) para manter • Esterilizados em estufa (forno de
o ambiente de refrigeração (abaixo de Pasteur) por 1 hora a 150°C, em
10°C). As amostras devem ser identificadas autoclave por 15 min a 121°C, ou
no rótulo da embalagem, com todas infor- desinfetados por fervura em imersão
mações que facilitem a interpretação dos durante 15 min.
resultados, como a temperatura do alimen- • Não utilizar desinfetantes químicos
to no ato da coleta, hora da coleta etc. e (álcool, iodo, cloro etc).
observar se os frascos ou sacos plásticos — Utensílios para coleta.
estão bem fechados para evitar a contami- • Coletar os alimentos com os próprios
nação no transporte ou pela água proveni- utensílios durante a distribuição, ou
ente do gelo. antes, com utensílios específicos para
4 — A quantidade de alimentos em cada cada tipo de alimento, desin-fetados
amostra deve ser no mínimo de 100g de com álcool e flambados ou fervidos.
produto viável para análise microbiológica — Quantidade da amostra.
e 200 g quando se destina à análise • Coletar, no mínimo, 100 (cem) gra-
bromatológica completa. Para diagnóstico mas úteis do material.
de surto, como para análise fiscal, uma — Armazenamento.
amostra apenas não é suficiente, havendo • Fechar imediatamente o frasco de
necessidade de coleta de amostras em vidro ou o saco plástico, e armazenar
número compatível com o lote ou quanti- em congelamento a -10oC ou menos,
dade de alimentos embalados. Devem ser no máximo 72 horas, ou em refrige-
coletadas amostras da superfície e do cen- ração com temperatura não superior
tro geométrico de alguns lotes de alimen- a 4°C, no máximo, 72 horas.
DOENÇAS ALIMENTARES 83
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 83
“ A melhor maneira
de ser feliz
é acreditar na vida,
sem afastar-se dos sonhos,
porque sem eles
você continua vivendo,
mas deixa de existir.
”
84 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
84 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
2.2. “PRODUTO OU LOTE (se amostra e mãos; os coliformes fecais, de origem fecal
indicativa ou representativa, respectiva- humana e animais de sangue quente; o B.
mente) IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO cereus e o Clostri-dium SR, provenientes do
HUMANO POR APRESENTAR ...” (citar o(s) ambiente (solo, água) contaminando, vege-
resultado(s) analítico(s) e o(s) parâmetro(s) tais, grãos, carnes, aves, pescados e maté-
não atendido(s) do Anexo I) para as situa- ria-prima crua e a Salmonella sp pode ser
ções enquadradas no item 1.2.1. do Anexo de origem animal ou humana. Estes micror-
II deste Regulamento. ganismos, quando em número reduzido nas
2.3. “PRODUTO OU LOTE (se amostra amostras de alimentos, indicam que as con-
indicativa ou representativa, respectiva- dições de manipulação no processamento
mente) IMPRÓPRIO PARA O CONSUMO dos alimentos necessita ser revista, devido
HUMANO POR APRESENTAR ....(microrga- às falhas nos pontos críticos de controle,
nismo patogênico ou toxina que represen- seja nos métodos de higienização, ou na
ta perigo severo à saúde do consumidor). técnica envolvendo os tempos e as tempe-
raturas de segurança. Mesmo nestas conta-
Esta interpretação dos resultados das aná- gens, estes microrganismos não oferecem
lises microbiológicas deve ser efetuada, riscos à saúde, sendo apenas indicadores
levando em consideração o tipo de alimen- das condições de manipulação. As análises
to analisado e os microrganismos adotados microbiológicas indicam riscos de ocorrer
como indicadores para os padrões. Para DTAs quando os microrganismos indicado-
melhor avaliação, devemos saber que a res de condições higiênico-sanitárias (po-
contagem padrão em placas, coliformes tencialmente patogênicos) atingirem conta-
totais e bolores e leveduras são grupos de gens acima de 105UFC/g de alimento (100.000
microrganismos presentes normalmente no bactérias/grama), ou quando existirem alte-
ambiente (solo, água e ar), além de fazerem rações sensoriais evidentes (cor, odor, as-
parte da microbiota de várias matérias-pri- pecto, textura), indicando impropriedade
mas como as carnes, vegetais, grãos, fari- para o consumo.
nhas etc, sendo, portanto, indicadores de Para um alimento poder ser registrado e
condições higiências, sugerindo um maior comercializado, deverá ter suas especi-
ou menor contato do ambiente com os ali- ficações de acordo com o código sanitário
mentos analisados. São normalmente mi- da região onde for produzido. Segundo o
crorganismos saprófitas, não estando rela- código sanitário do Estado de São Paulo
cionados com os surtos conhecidos de temos a seguinte seqüência para especifi-
toxinfecção alimentar, portanto, sem riscos cação dos alimentos:
potenciais à saúde. Os outros microrganis- — Definição: envolvendo a matéria-prima
mos estudados, como a Salmonella sp, e sua produção;
Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, — Designação: o nome do produto e suas
Clostridium SR, coliformes fecais e outros, variedades;
são microrganismos potencialmente pato- — Classificação: quanto a sua concentra-
gênicos, ou seja, podem causar surtos de ção, espécie, categoria etc;
toxinfecção alimentar, quando atingem quan- — Características gerais: informações adi-
tidades aumentadas nos alimentos. Porém, cionais importantes;
quando em número reduzido, são indicado- — Características sensoriais (organolépti-
res de condições higiênico-sanitárias, sendo cas): cor, odor, aspecto, textura, sabor;
o S. aureus proveniente do nariz, orofaringe — Características físico-químicas: densida-
DOENÇAS ALIMENTARES 87
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 87
de, sólidos, cinzas, lipídeos, açúcares, prote- • Deve indicar com certeza a origem da
ínas, rancidez, ácidos, pH, H2S, amônia etc; contaminação;
— Características microbiológicas: micror- • Deve ser de fácil detecção;
ganismos indicadores das condições higiê- • Não deve ser um contaminante natural
nicas e sanitárias; do alimento;
— Características microscópicas: sujidades, • Deve estar ausente ou em baixas conta-
parasitas e larvas; gens nos alimentos livre de patógenos;
— Rotulagem: material utilizado e informa- • Deve apresentar maior resistência aos
ções importantes. desinfetantes e anti-sépticos que as bac-
térias patogênicas.
Em relação aos nove itens utilizados pelo
código sanitário para especificação dos
alimentos, todos são realizados quando do Microrganismos indicadores
início da comercialização de um alimento, de condições higiênicas:
porém, as análises envolvendo a qualidade
higiênico-sanitária, realizadas de rotina, são São microrganismos não relacionados dire-
relativas apenas aos itens 5, 6, 7 e 8. tamente com a saúde do homem, sendo sua
O item 8 indica que o produto deve ter presença ou contagem indicadora de dete-
ausência de sujidades, parasitas e larvas. O rioração ou contato excessivo ambiental.
item 7 utiliza os seguintes microrganismos
ou grupos de microrganismos como impor- Contagem Padrão em Placas:
tantes para compor os laudos das análises:
Contagem de bactérias heterotróficas
(mesófilos aeróbios ou facultativos)
Indicadores higiênicos: Amostras de alimentos ou água são semea-
das em superfície ou profundidade utili-
• contagem padrão em placas de micror- zando Agar Contagem Padrão e incubadas
ganismos mesófilos aeróbios; a 35ºC por 48h. A maioria de bactérias
• contagem padrão em placas de bolores mesófilas se multiplica nesta temperatu-
e leveduras; ra, incluindo os patogênicos e os deterio-
• contagem de coliformes totais. rantes.
Contagem de coliformes
Microrganismos indicadores
Enterobactérias (família Enterobacteriaceae): de condições sanitárias
bacilos Gram-negativos, constituindo vários
gêneros bacterianos pertencente ao intesti- São microrganismos que podem causar
no de animais de sangue quente e também doença no ser humano, sendo classifica-
distribuído na natureza e vegetais. dos segundo a sua presença ou contagem
nos alimentos ou água
Coliformes totais – Enterobacter sp.,
Klebsiella sp., Citrobacter sp., Escherichia • Coliformes fecais (Escherichia coli)
sp. entre outros. • Staphylococcus aureus
Quatro gêneros mais conhecidos perten- • Bacillus cereus
centes ao grupo das enterobactérias, os • Clostridium perfringens
quais utilizam a lactose a 35ºC com forma- • Sulfito-Redutores (SR)
ção de gás em meio de cultura CLBVB. • Salmonella sp.
Estão presentes nas fezes do homem, ani- • Pseudomonas aeruginosa
DOENÇAS ALIMENTARES 89
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 89
”
O que permanece é a esperança.
DOENÇAS ALIMENTARES 91
CONDUTAS PARA A PREVENÇÃO DAS TOXINFECÇÕES ALIMENTARES 91
Físico — Químico
• PROPRIEDADES SENSORIAIS:
Cor, odor, aspecto, sabor.
• ANÁLISE MACROSCÓPICA:
Sujidades e parasitas.
• ANÁLISE MICROSCÓPICA
Indicadores de
Coliformes fecais
poluição fecal
Staphylococcus aureus
Microrganismos
Bacillus cereus
patogênicos
Clostridium S R
clássicos
Salmonella sp
Aeromonas hidrophyla
Pseudomonas aeruginosa
Bacillus subtilis Microrganismos
Yersinia enterocolitica patogênicos
Campylobacter jejuni pesquisados
Vibrio parahaemoliticus (pescados) em surtos
Listeria monocytogenes
Proteus sp (pescados)
92 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
92 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
A MICROSCOPIA ALIMENTAR
DRA. VANDA DE SÁ LÍRIO;
DRA. CELESTE SOUSA COELHO DIAS
DRA. IDA STARACE MANTESSO
croscópio óptico e/ou estereoscópico são fuso, ou mesmo animais como lagartixas,
chamadas de microscópicas. insetos e roedores, entre uma infinidade
de outras possibilidades, podem ser verifi-
cadas em alimentos. A presença de certas
Matérias estranhas
matérias estranhas macroscópicas, muitas
macroscópicas
vezes, ocorre como fato isolado, e a proba-
bilidade de encontrarmos novamente o
A presença de matérias estranhas macros-
mesmo tipo de material ou parte dele, em
cópicas em alimentos representa uma das
amostras do mesmo lote, é praticamente
principais causas de denúncia de consu-
nula. Entretanto estes achados devem ser-
midores. Com a criação do Código de De-
vir para orientar medidas preventivas/cor-
fesa do Consumidor e a crescente cons-
retivas quanto aos procedimentos adotados
cientização da população em relação aos
e a aplicação das BPF.
seus direitos, observamos o aumento da
demanda de pedidos de análises envol-
vendo autoridades e órgãos oficiais. Matérias estranhas
A simples constatação da presença da microscópicas
matéria estranha pelo leigo, e sua associ-
ação a animais ou afins, muitas vezes não As matérias estranhas microscópicas são
é confirmada na análise laboratorial. São determinadas analiticamente, através de
freqüentes as associações de matérias metodologias padronizadas (FDA, AOAC,
estranhas a vermes, pedaço de pele hu- IAL), resultando na sua qualificação e/ou
mana e roedores, sendo que após a aná- quantificação, sendo os mais comuns inse-
lise, muitas delas resultam infundadas. tos e seus fragmentos, ácaros, aranhas,
Normalmente tais matérias, denunciadas pêlos diversos, bárbulas de aves, ovos,
como estranhas são partes do próprio ali- parasitas, algas, fungos, terra, areia.
mento que por algum motivo estão res- A transformação realizada no alimento em
secadas ou partidas de forma não conven- seu processamento, seja através de moa-
cional. É comum, por exemplo, a presença gem, mistura de diversos ingredientes, uti-
de fungos deteriorantes em extratos de lização de utensílios, entre outras variáveis
tomate serem associados à pele humana. da elaboração do produto final, podem
A repugnância que certos animais causam facilitar a incorporação de fragmentos des-
nas pessoas pode ser considerada como tes animais, dispostos em partículas so-
fator decisivo para que uma estrutura que mente observadas ao microscópio.
se assemelhe, acione a lembrança ao asco O monitoramento microscópico de alimen-
que provocam. A ocorrência deste tipo de tos permite avaliar a presença destes ani-
material no alimento gera indignação e mal mais no processo, sendo útil no controle de
estar profundo, e pode provocar sintomas fornecedores de ingredientes e produtos,
físico-psicológicos como vômitos, que po- principalmente dos que são consumidos,
dem debilitar momentaneamente o estado muitas vezes, sem cocção ou sub-coccão,
geral do consumidor. como certos condimentos, temperos, chás
Por outro lado vidro, madeira, prego, para- ou vegetais.
94 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM SEVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
94 MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICO-SANITÁRIO EM ALIMENTOS
Histologia vegetal
e fibras musculares BIBLIOGRAFIA
Verificação da
presença de
matérias estranhas
Insetos e seus Quantifica e microscópicas
fragmentos, identifica as relacionadas ao
EXAME ácaros, pêlos matérias risco à saúde ou
MICROSCÓPICO diversos inclusive estranhas indicadoras das
roedores, terra, microscópicas condições
areia, entre outros por tipo higiênico-sanitárias
de produção ou
associadas a outras
falhas da BPF
Todas as Descreve
visualizações tamanho, forma,
macroscópicas cor e demais Elucidar o tipo e
estranhas ao características quantidade de
EXAME produto e seu da matéria matéria estranha
MACROSCÓPICO processamento encontrada, macroscópica
como: pedaço de necessitando presente em
madeira, vidro, algumas vezes alimentos
ferro, animais ou da confirmação
suas partes entre por exame
outros microscópico