Apostila Micro
Apostila Micro
Apostila Micro
De acordo com dados do serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, existem 62 doenças
que podem ser transmitidas entre seres humanos ou de animais a seres humanos; destas, 25
podem ser transmitidas através dos alimentos (FOOD PROCESSORS INSTITUTE, 1983).
1. Reservatório
Nicho ecológico inicial do microrganismo patogênico, ou substrato, meio ambiente, no qual
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ele naturalmente prolifera. Por exemplo: trato intestinal do homem e outros animais, no caso de
Salmonella, Shigella, Escherichia coli.
2. Veículo
Substrato ou meio responsável pela transmissão do agente patogênico. Pode ser animado
(inseto, roedor, ave, etc.) ou inanimado (alimento, utensílio, etc.), ativo (oferece condições para a
multiplicação do agente) ou passivo (sem proliferação do patógeno).
É interessante lembrar e não confundir veículo com vetor de uma doença, pois uma doença
existe com a presença ou não do veículo e não existe sem a presença do vetor (intermediário para
que o ciclo da doença se complete; normalmente é um hospedeiro intermediário onde o agente
causal da doença se multiplica).
3. Agente Causal
É o agente infeccioso responsável pela instalação e desenvolvimento de uma doença.
Podemos aqui considerar as bactérias, fungos, vírus, protozoários, etc.
As vezes a virulência do agente é tão grande que mata o organismo hospedeiro antes da
produção de anticorpos.
4. Foco
Fonte do agente causal em estado de virulência, ou seja, apto ao ataque e desenvolvimento
da doença. Portanto, o foco deve ser atacado sempre, ao contrário do reservatório, onde o agente
causal nem sempre se encontra na forma virulenta.
5. Universo
Diz respeito a população exposta ao risco. As vezes o universo é muito grande e não pode
ser aplicado (exemplo: doenças diarreicas em crianças no Brasil); assim tomamos um sub-universo
que é denominado amostra e que deve ser significativa do todo.
6. Morbidade
Se expressa como incidência, porém difere desta por considerar apenas os casos
notificados. Em muitos casos, a morbidade apresenta números muito diferentes da incidência, como
por exemplo se tomarmos as doenças gastrointestinais no Brasil, onde os números são bastante
errôneos pela notificação de poucos casos.
A morbidade pode chegar muito próxima da razão de incidência em doenças graves que
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7. Alimento Infectado
Aquele que se apresenta contaminado por microrganismos patogênicos, embora não sendo
capaz de provocar doenças de origem alimentar pela sua ingestão.
8. Alimento Infectante
Aquele que, pela intensidade da contaminação por patógenos, irá seguramente provocar
doenças quando ingerido.
Infecções alimentares são aquelas nas quais o agente da doença é levado ao hospedeiro
através do alimento e aí se desenvolve (com invasão ou não dos tecidos) atingindo números que
causarão a doença.
Intoxicações alimentares são as doenças nas quais o agente causal cresce no alimento e
aí produz uma substância química, tóxica ao homem e/ou aos animais.
Embora sejam bem aceitas estas definições, há várias discordâncias, e certos autores optam
pelas denominações infecções e envenenamentos alimentares, permanecendo entretanto, a
diferenciação entre um e outro com base na ausência ou presença da produção de toxina.
endotoxina que origina o desiquilíbrio salino no lúmen intestinal, provocando diarréia. Em virtude da
necessidade da ingestão de células viáveis, alguns autores consideram este tipo de doença uma
infecção. No entanto, o aparecimento rápido da doença (entre 2 e 10 h após a ingestão do
alimento), sua pequena duracão (± 24h) e ausência de febre, sugerem tratar-se de uma intoxicação.
B. cereus: presume-se que a intoxicação ocorra devido a liberação, após a lise celular a nível
de intestino, da endotoxina contida em células vegetativas oriundas de alimentos, contendo um
número elevado da bactéria (acima de 106 UFC/g ou ml).
Infecção:
Epidemiologicamente, ocorre uma infecção quando são ingeridos alimentos contendo grande
número de células viáveis que se multiplicam no trato gastrointestinal, provocando a febre como
sintoma característico, que a diferencia fundamentalmente da intoxicação.
Infecção: diarréica
disentérica
infecções de origem alimentar refere-se ao número de células que devem ser ingeridas ou estar
presentes no alimento, de forma a se expressar um quadro clínico de infecção ou intoxicação,
respectivamente.
Vale a pena lembrar que as doses de infecção referidas no quadro apresentado, foram
determinadas em indivíduos adultos sadios; no caso de crianças, pessoas idosas, subnutridas ou
doentes, as doses seriam mais reduzidas.
capaz de desencadear o processo patológico. Dados de CASMAN & BENNETT, 1965; GILBERT et
al, 1972, indicam que níveis de enterotoxina variando de 0,01-0,4 µg/g de alimento, já são
suficientes para provocar a intoxicação, ao passo que a ingestão de quantidades de enterotoxina
inferiores a 1 µg já é capaz de afetar indivíduos mais sensíveis. Por outro lado, para se atingir tais
concentrações de enterotoxina no alimento, é necessário a intensa proliferação do agente
patogênico no mesmo, sendo que, no caso específico de S. aureus, números superiores a 10 6/g
seriam necessários (ICMSF, 1978).
Exemplificando, se após uma recepção onde se ofereceu frango assado com batatas, salada
de atum e maionese e rocambole recheado de creme, tivermos as seguintes situações:
número de casos
(-------------------------------------------- x 100)
população exposta ao risco
Diferença das
Alimento Pessoas que comeram Pessoas que não comeram razões de
Vulnerável ataque (%)
D S Total R. Ataque D S Total R. Ataque
Frango assado
com batatas 5 5 10 5/10 = 50,0% 2 1 3 2/3 = 66,67% -16,67%
Salada de
atum com 2 4 6 2/6 = 33,33% 5 2 7 5/7 = 71,43% -38,10%
maionese
Rocambole
com creme 5 2 7 5/7 = 71,43% 2 4 6 2/6 = 33,33% +38,10%
Para traçarmos a curva epidêmica (em Barras ou Poligonal), utilizamos os números de casos
(ordenada) e o tempo de incubação em horas (abscissa):
Concluindo, podemos colocar como alimento suspeito o rocambole com creme, pois foi ele
que apresentou a maior (positiva) diferença entre as razões de ataque para as pessoas que o
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Quanto menor e mais negativa for a diferença entre as razões de ataque (∆%), menor a
chance do alimento estar envolvido no surto. Assim, quanto maior e positiva for a diferença entre as
razões de ataque (∆%), maior a chance do alimento estar envolvido no surto.
Ainda, pelos sintomas apresentados pelas pessoas doentes (dores abdominais, náuseas,
vômitos e diarréia) aliados ao baixo período médio de incubação, ou seja, 2 horas e 48 minutos,
podemos dirigir as análises para Staphylococcus aureus, que é a bactéria responsável pelos
sintomas citados em tempo de incubação tão pequeno.
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I. Staphylococcus
1. Introdução
A partir daí, em 1907 (OWEN) relatou a ocorrência de produção de enterotoxina por "strains"
de Staphylococcus nos Estados Unidos.
BARBER (1914), relatou um surto de intoxicação nas Filipinas, pela ingestão de leite de
vacas com mastite, sem refrigeração.
Em 1929, DACK relatou que pessoas que ingeriram bolo de natal preparado dois dias antes
e mantido sem refrigeração, após a ingestão do mesmo, em poucas horas apresentaram náuseas,
vômitos e diarréia. Com a utilização de pessoas voluntárias que ingeriram o bolo, reproduziram-se
os sintomas e conseguiu-se mostrar que a causa da intoxicação estava no creme do bolo.
saladas, produtos de confeitaria, especialmente os que contenham creme, leite e derivados. Muitos
destes alimentos são contaminados durante o preparo em restaurantes e em cozinhas industriais ou
domésticas e a seguir refrigerados muitas vezes em condições inadequadas.
Em alimentos processados, nos quais S. aureus é destruído, a sua presença em geral indica
contaminação através da pele, boca e nariz dos manipuladores de alimentos. Esta contaminação
pode ser introduzida por trabalhadores com algum tipo de lesão cutânea que esteja infectada nas
mãos, braços, etc., ou por tosse, espirros que são frequentes em todos os tipos de infecções
respiratórias. Outra importante fonte são os resíduos de materiais nas áreas de processamento que
em geral ficam expostas à condições que favorecem o crescimento de S. aureus.
Para tanto, é necessário que se demonstre a presença ou não de alguma das enterotoxinas
estafilocócicas, uma vez que os S. aureus são mais sensíveis ao calor e facilmente eliminados por
qualquer dos processos térmicos convencionais; já as enterotoxinas por serem resistentes a alguns
desses processos e por se tratarem de exotoxinas podem permanecer no alimento em forma ativa e
provocar intoxicações quando ingeridas.
2. Distribuição de S. aureus
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Com base nas peculiaridades de seu habitat, a presença de S. aureus nos alimentos é
relativamente frequente, particularmente naqueles submetidos a manuseio intenso, sob condições
precárias de higiene. Em pesquisas conduzidas no Brasil e revistas por FURLANETTO (1982), a
ocorrência de S. aureus foi constatada em 35,3 e 100% dos manipuladores, em hospitais e
indústrias, respectivamente; por outro lado, no exame de alimentos diversos, incluindo macarrão,
carne moída, produtos cárneos embutidos e curados, queijos, doces cremosos, farinhas e amidos, a
ocorrência dessa bactéria foi alta, com variação de 1,3% nas farinhas e amidos a 69,5% nos
macarrões (FURLANETTO, 1982).
3. Características de Staphylococcus
S. aureus revela grande resistência a meios contendo elevada concentração salina e baixa
atividade de água, sendo o crescimento observado em valores de Aa = 0,86, sendo 0,84 o mínimo
tolerável pela bactéria.
TATINI (1973), cita que o crescimento de S. aureus ocorre em níveis de NaCl variando de 0
a 20% embora o intervalo para a produção de enterotoxina seja menor, entre 0 e 10%.
Em relação à temperatura, S. aureus é uma bactéria mesófila, com ótimo na faixa de 30-
37°C e intervalo de crescimento entre 6,5-47,8°C (TATINI, 1973; BANWART, 1979); a produção
ótima de enterotoxina parece ocorrer nas temperaturas mais elevadas, na faixa entre 37-40°C,
embora em alimentos, já tenha sido constatada entre 10-45°C (BERGDOLL, 1979).
4. Enterotoxinas Estafilocócicas
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Já se sabe que sob condições aeróbias a produção de enterotoxina é melhor e também que,
enquanto a toxina do tipo A é produzida ao longo da multiplicação das células da bactéria, a toxina
do tipo B tem sua produção maior no final da fase logarítmica e na fase estacionária de crescimento.
Segundo BANWART (1979), a bactéria requer para crescimento atividade de água mínima
de 0,95; desenvolve-se em pHs variando de 4,9 a 9,3 e tolera concentrações de NaCl até 7,5%.
É uma bactéria mesófila, com temperatura ótima na faixa de 30-35°C, mínima entre 10 e
20°C e máxima entre 35 e 45°C, embora existam relatos de crescimento até 49-50°C.
Dentro do gênero Bacillus existe uma grande diversidade de espécies e linhagens, havendo
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até o presente momento, muitas dificuldades na distinção precisa de muitas delas, como é o caso de
B. anthracis, B. thuringiensis, B. mycoides, onde taxonomicamente permanece a dúvida se devem
ser consideradas como espécies distintas ou variedades de B. cereus. Estudos recentes de
taxonomia numérica e taxonomia molecular tem trazido enormes contribuições na identificação de
inúmeras espécies bacterianas e sem dúvida deverão em curto período de tempo eliminar muitas
dúvidas na identificação de bactérias pertencentes ao gênero Bacillus.
A forma clássica de intoxicação se conhece desde o início do século, porém, foi a partir de
1950 que apareceram numerosos surtos atribuídos de forma definitiva a esta bactéria, tanto em
países europeus como nos Estados Unidos e Canadá. Os alimentos normalmente implicados neste
tipo de intoxicação são as carnes e produtos cárneos, tortas, pudins, molhos, sopas, vegetais e purê
de batatas.
Bacillus cereus causa estes processos patológicos apenas quando o alimento contaminado
contém número muito elevado de células, geralmente acima de 10 7 UFC/g (ICMSF, 1978) ou entre
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GILBERT (1979), relata que a enterotoxina responsável pela síndrome emética, parece ser
totalmente diferente, ou seja, de baixo peso molecular (< 5.000 D), muito estável, resistente a
temperatura e ao meio ácido, bem como à ação de enzimas proteolíticas.
JOHNSON (1984), revela que a toxina diarréica é uma proteína, de PM 50.000 D, ponto
isoelétrico 4,9, produzida durante a fase de crescimento exponencial da bactéria, sem necessidade
de lise da célula para a sua liberação, é termolábil e atua estimulando o sistema adenilato ciclase-
AMP cíclico com acúmulo de fluídos nos intestinos. Já a toxina emética, de natureza diversa, está
presente em filtrados de culturas, sendo termoestável (resiste ao aquecimento a 126°C/90 minutos),
com PM de 1.000 D e não inibida pela tripsina e pepsina.
A resistência térmica dos esporos é relativamente baixa, razão pela qual alimentos de baixa
acidez submetidos a esterilização comercial, não oferecem riscos quanto a presença de B. cereus.
A ingestão de alimentos preparados por aquecimento tão logo estejam prontos é sempre
desejável, para se evitar que esporos sobreviventes possam germinar e células vegetativas se
multiplicar no alimento.
Sempre que um alimento necessitar ser mantido no estado morno, a temperatura deve ser
maior que 60°C para evitar problemas com a multiplicação de células vegetativas.
1. Arroz deve ser cozido (preparado) em pequenas quantidades, se necessário mais de uma
vez ao dia, reduzindo assim o tempo de estocagem após o preparo.
2. Após a fervura, o arroz deve ser acondicionado ainda quente ou resfriado rapidamente e
transferido a um refrigerador no máximo em 2h após o cozimento. É aconselhável a divisão de
grandes quantidades em pequenas porções para um resfriamento mais rápido.
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3. Arroz cozido ou frito nunca devem ser estocados em condições de temperatura mornas
(entre 15 e 50°C). Jamais estocar arroz cozido ou frito a temperatura ambiente na cozinha por tempo
maior que 2h.
O botulismo é conhecido há muito tempo, ocorrendo o primeiro caso que se tem notícia em
1793. O agente etiológico da doença foi isolado pela primeira vez em 1895, na Bélgica, por E. Van
Ermengem, sendo o organismo denominado Bacillus botulinum, a espécie derivada do latim botulus,
que significa salsicha.
Acredita-se que o "habitat" para o C. botulinum seja o solo, uma vez que esporos foram
encontrados tanto em terras cultivadas como em terras virgens. Acredita-se que do solo o organismo
encontre caminho para as águas. Nestes locais, podem chegar os alimentos contaminando-os, e
pela multiplicação celular, produzir toxinas que se ingeridas leverão ao desenvolvimento desta
doença alimentar tão séria.
As cepas dos tipos C e D, não são proteolíticas e fermentam muito poucos açúcares.
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Em relação ao pH, o crescimento de C. botulinum ocorre num amplo intervalo, sendo o valor
máximo tolerável de 8,5; os tipos proteolíticos tem ótimo na faixa de 6,8-7,0, geralmente não
crescendo abaixo de pH 4,7, embora haja relato de crescimento do tipo A em pH 4,0; os tipos não
proteolíticos tem pH ótimo também na faixa de 6,8-7,0 e mínimo entre 5,0-5,2.
Em relação a atividade de água mínima para início da germinação dos esporos e da fase de
desenvolvimento da célula vegetativa, observou-se em vários estudos que os tipos A, B e E
iniciavam a germinação em meios com Aa = 0,93, não se verificando a segunda etapa mesmo
depois de 6 semanas com Aa inferior a 0,96, nos casos dos tipos A e B, e abaixo de 0,97 para o tipo
E.
Apresentam esporos bastante resistentes ao calor. O tratamento térmico para destruição dos
esporos está na dependência da espécie de alimento, tipos e linhagens do organismo, composição
do meio em que os esporos foram produzidos, temperatura em que foram produzidos e número de
esporos presentes.
Em geral, os esporos dos tipos A e B são mais resistentes ao calor, com valores "D" a 121°C,
variando de 0,10 a 0,25 minutos; os esporos dos tipos não proteolíticos são mais sensíveis com "D"
a 80°C, oscilando de 0,6 a 3,3 minutos (HOBBS et al, 1982).
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A toxina parece ser codificada por elementos extracromossômicos, uma vez que fagos
podem tornar uma linhagem não toxigênica em toxigênica.
O peso molecular é bastante variável, oscilando entre 5.000 e 900.000 D, sendo mais
frequente entre 25.000 e 250.000 D e aparentemente necessitam de ativação por proteases, como é
o caso da tripsina presente no trato digestivo, para evidenciarem máxima toxicidade.
6 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas, porém este período pode ser prolongado até 3
semanas aproximadamente. A terapia a ser adotada, envolve a neutralização da toxina através de
soro específico (antitoxina), que tem pouco valor se os sintomas já estiverem estabelecidos;
respiração artificial, repouso absoluto e equilíbrio do balanço fluídico.
O botulismo é felizmente raro, devendo receber porém muita atenção pelo alto índice de
mortalidade que apresenta. É doença típica de sub-processamento dos alimentos, sendo uma
preocupação constante nos países onde a preparação de conservas domésticas é comum.
Nos EUA, de 1899 a 1977, foram registrados 766 surtos nos quais 1961 casos foram
registrados, com 999 casos fatais. Nestes surtos a distribuição dos diferentes tipos de toxinas foi:
199 devidos ao tipo A, 60 ao tipo B, 32 ao tipo E e 1 ao tipo F.
No Brasil, a ocorrência dos vários tipos de C. botulinum já foi descrita por vários autores.
TOKARNIA et al (1970), descreveram surtos de botulismo em bovinos no Piauí; DOBEREINER
(1979) e LANGENEGGER (1980), relataram surtos de botulismo animal em Goiás; SARAIVA (1978),
mostrou o isolamento de C. botulinum em galinhas no Rio Grande do Sul; WARD et al (1967),
isolaram os tipos A, B, C e F em amostras de areias e sedimentos lacustres e marinhos no Ceará;
DELAZARI et al (1981/1982), encontraram 27% de amostras de pescado marinho capturado no
litoral de São Paulo contaminados com C. botulinum e LEITÃO & DELAZARI (1983), examinando
amostras de solos no Estado de São Paulo, provenientes de pastagens e hortas comerciais,
detectaram C. botulinum em 35% das originadas de hortas, predominando os tipos A, B e F.
a) Botulismo por lesões ("Wound Botulism") - de ocorrência rara, com apenas 15 casos
descritos nos EUA, no período de 1943-1974; normalmente associado com casos de lesões ou
feridas ocorridas no campo, constatando-se a presença dos tipos A e B. Os sintomas são
semelhantes aos do botulismo clássico, de origem alimentar, embora diarréia, vômitos e outros
sintomas gastrointestinais nunca tenham sido observados.
b) Botulismo infantil ("Infant Botulism") - descrito a partir de 1976 é devido à produção de
toxina botulínica "in vivo", após multiplicação da bactéria no trato intestinal. A enfermidade resulta da
germinação de esporos seguida de crescimento de microrganismos e produção de toxina botulínica
no trato gastrointestinal. De 1976 a 1981, 239 casos foram registrados nos EUA. Dados do "Center
for Disease Control - CDC", dos EUA, revelaram que muitos destes casos estavam associados à
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Os alimentos que em geral servem de veículo a esta enfermidade são alimentos enlatados
com pH superior a 4,5.
I. Salmonella
A atividade de água limitante para o crescimento encontra-se situada entre 0,94 e 0,95; é
importante observar que na faixa de Aa entre 0,20 e 0,90, a razão de destruição das células
aumenta à medida em que há acréscimo de Aa. Este fato evidencia que, em alimentos
desidratados, é grande a capacidade e o período de sobrevivência das salmonelas, sendo que em
valores de Aa abaixo de 0,20 elas permanecem viáveis durante longos períodos, mesmo sob
condições adversas de acidez e temperatura.
Em relação ao pH, as salmonelas crescem no intervalo de 4,5 a 9,0, com ótimo entre 6,5 e
7,5, e de um modo geral são lentamente destruídas em pHs abaixo de 4,0 e acima de 9,0.
São microrganismos anaeróbicos facultativos, sendo assim pouco afetados pelas variações
do potencial de oxirredução do substrato.
Em relação a temperatura ótima para crescimento, são mesófilas, sendo 35 a 37°C a faixa
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ideal para multiplicação. O intervalo de temperatura no qual se verifica crescimento está entre 5 e
45°C, embora abaixo de 10°C a velocidade de crescimento é bastante reduzida. Em alimentos
congelados, embora haja uma boa redução da população inicial, muitas células sobrevivem ao
armazenamento prolongado sob congelamento; de modo geral, a sobrevivência é maior em baixas
temperaturas de congelamento do que naquelas mais elevadas e próximas ao ponto de
congelamento do produto (GEORGALA & HURST, 1963).
Dentre as salmonelas mais de 1.700 sorotipos são conhecidos e dentre estes 50 podem
provocar doenças ao homem, sendo que com maior frequência encontramos as espécies S.
typhimurium, S. newport e S. enteritidis. Estes organismos em geral são transmitidos via oral através
de alimentos como ovos, cremes, carnes e derivados, derivados do leite e água, e quando atingem
o trato gastrointestinal, penetram nas células do tecido epitelial do intestino delgado, de forma
semelhante a Escherichia coli enteropatogênica, sendo que esta penetração parece estar favorecida
pela ação de fragmentos de lipopolissacarídeos da parede celular do microrganismo, processo este
essencial para o aparecimento da sintomatologia característica desta síndrome.
Estas bactérias, altamente invasivas, passam pela membrana intestinal, são englobadas por
macrófagos, os quais são drenados nos nodos linfáticos mesentéricos através do duto toráxico,
atingindo a corrente sanguínea e se disseminando rapidamente, levando a um quadro de
bacteremia ou septicemia. As células bacterianas vão sendo liberadas dos macrófagos, sendo
novamente englobadas por células do retículo endotelial, sendo novamente liberadas e assim
sucessivamente, razão do aparecimento de febres intermitentes, à cada liberação.
Neste caso, as salmonelas também são invasivas, porém somente a nível de trato
gastrointestinal.
32
Em 1975, KOUPAL & DEIBEL, isolaram uma toxina (fator tóxico não puro associado a
parede celular), e em experimentos de íleo ligado de coelho, ora obtinham acúmulo de fluído, ora
não, ficando assim, com resultados não conclusivos.
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O quadro a seguir (RIEMANN, 1972), ilustra bem as infecções provocadas pelas principais
espécies de Salmonella:
H (Hauch = flagelar)
K(Vi) = capsular
O (Ohne = somático)
PREVENÇÃO DA DOENÇA
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II. Shigella
Não descarboxilam a LYS nem hidrolisam a uréia e apenas um sorotipo, a Shigella flexneri-6
produz gás. Não utilizam citrato ou acetato e são negativas ao teste de Voges-Proskauer. Com
exceção de S. sonnei as demais não fermentam a lactose.
Pensa-se tratar de uma toxina (exotoxina), que exibe três ações: neurotóxica (quando
inoculada em pequenos animais), citotóxica e enterotoxigênica (diarréia).
A infecção provocada por S. dysenteriae é mais severa do que a acarretada pelas demais
espécies, sendo caracterizada por um súbito início de dores abdominais agudas, diarréia
pronunciada, acompanhada de perda de sangue e muco (devido a abcessos na parede intestinal,
necrose da mucosa e ulcerações) e podendo ainda ocorrer naúseas e vômitos.
A infecção provocada por S. sonnei é menos grave, sendo que apenas pequena proporção
dos doentes apresenta fezes sanguinolentas. As demais espécies de Shigella, apresentam sintomas
intermediários e variáveis.
São praticamente inexistentes estudos com relação ao comportamento das shigelas frente
aos fatores intrínsecos e extrínsecos, mas é provável que haja bastante semelhança ao
demonstrado pelas salmonelas.
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Medidas de Controle
Os relatos de infecções humanas por Y. enterocolitica tem sido mais ou menos frequentes
nos últimos anos, despertando um interesse maior por parte dos microbiologistas para melhor
conhecimento desta espécie bacteriana envolvida em infecções alimentares.
Como as linhagens desta bactéria crescem a baixa temperatura, os alimentos com baixa
contaminação inicial servem não somente como veículos mas como meios de proliferação.
A infecção por estes organismos provoca vômitos, diarréia (com fezes sanguinolentas ou
não), sendo febre e dores abdominais menos frequentes. Outros sintomas podem incluir septicemia,
meningite e infecção do trato urinário.
1º estágio: fase aguda (2-3 dias após a infecção), caracterizado por enteritis, com sintomas
parecidos aos da apendicite e estado inflamatório do intestino, dor de garganta, febre.
2º estágio: 1-3 semanas após a primeira fase, caracterizando-se por hemorragia de pele,
artrite reumatóide e obstruções vasculares.
A água não clorada, carnes pouco cozidas, leites não pasteurizados e vegetais frescos, são
os principais tipos de alimentos aos quais se associam as Yersinias.
controle de outras infecções alimentares, são também aqui válidas; no entanto, vale lembrar que a
refrigeração de alimentos preparados, é de menor validade no controle de Y. enterocolitica, que
como já vimos se multiplica em temperaturas de refrigeração.
Algumas diferenças que estas bactérias apresentam e que podem ser úteis para sua
diferenciação e caracterização se referem a temperatura ótima para crescimento de 42°C, não se
multiplicando em temperaturas inferiores a 30°C; reações negativas tanto para a prova de
fermentação ácido-mista (VM-) como para fermentação butanodióica (VP-) e também que não
retiram a energia de carboidratos e sim de aminoácidos e intermediários do ciclo de Krebs (ácidos
oxálico e succínico).
Sua ocorrência já foi relatada em bovinos, suínos, roedores, cães e gatos há muitos anos e
mais recentemente mencionada como patógena ao homem.
São pertencentes a microflora intestinal de aves e outros animais, onde por ocasião da
evisceração podem contaminar as carcaças, contaminando então as pessoas. Ainda, as fezes de
animais portadores podem contaminar a água e/ou outros alimentos, atingindo assim as pessoas.
Em vários trabalhos de pesquisa efetuados tanto no Brasil como em outros países, detectou-
se Campylobacter em alimentos diversos como água, leite, carne de suínos e principalmente em
carcaças de frangos e perus.
bioquímicas, visando medidas de controle, uma vez que, em vários países da Europa ela foi
responsabilizada em mais surtos de doenças de origem alimentar do que Salmonella, entre 1979 e
1984. Ainda, em 1964, na Escócia, Campylobacter foi a segunda bactéria mais isolada a partir de
casos de doenças de origem alimentar, o mesmo ocorrendo no Japão em 1982.
Sabe-se que a resistência térmica de Campylobacter é bastante baixa, com valores D a 50°C
e 55°C, de 7,3 e 1,1 minutos, respectivamente, em leite.
Esses organismos têm sido associados com gastroenterite, endocardite, meningite, lesões
de pele, artrite, peritonite, colicistite e infecções do trato urinário. Casos de bacteremia, sem
infecções localizadas têm sido também descritos com febre, cefaléia, dores abdominais, e aqui
normalmente se atribui a C. fetus subsp. intestinalis.
Neste caso, como já discutimos para outras infecções alimentares, a presença de portadores
assintomáticos da bactéria, pode se verificar após 6-8 semanas depois de desaparecidos os
sintomas, o que se constitui em grande risco no aspecto de saúde pública, uma vez que a forma de
propagação da doença é via fecal-oral.
V. Clostridium perfringens
A incidência de linhagens não hemolíticas e resistentes ao calor, parece ser de 2-6% nas
populações em geral; cerca de 20-30% do pessoal sadio dos hospitais e suas famílias apresentam
esse organismo em suas fezes, enquanto aproximadamente 50% de suas vítimas o carregam
durante semanas após a infecção, eliminando números elevados nas fezes.
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As cepas envolvidas na maioria dos surtos e doenças de origem alimentar são as do tipo A,
embora as do tipo C sejam também de importância.
Na ruptura das células, por ocasião da liberação dos esporos é que se detectam níveis
máximos de enterotoxina.
Diferentes tipos são agentes de epidemias e surtos de cólera, doença bastante grave e não
raramente fatal.
Recentemente vários surtos de cólera foram descritos na Itália, Louisiania, Flórida, e outros
locais. O processo patológico provocado por V. cholerae é, o mais severo de todas as doenças
diarréicas, adquirindo grande importância no aspecto de saúde pública, uma vez que a cólera pode
se caracterizar como pandemia, ou seja, alastrar-se, de forma marcante, através de países e
continentes. O mundo já vivenciou sete pandemias de cólera, sendo a última no início da década de
70, onde a enfermidade se alastrou pelo oeste da África, Leste e Sul da Europa.
O tipo A (El tor), é mais resistente fora do intestino do que o tipo B (clássico) e produz
doença menos drástica e com menor índice de mortalidade.
Após 1 a 4 dias de incubação, tem início o quadro clínico da doença com naúseas, vômitos e
diarréia profusa acompanhada de cólicas. Um aspecto típico da infecção é o material eliminado nas
evacuações não ter características fecais, mas usualmente lembrar uma água de lavagem de arroz,
com odor de peixe, carregando muco, células epiteliais e elevado número de microrganismos (até
108/ml). Devido a rápida perda de grandes quantidades de líquido e eletrólitos (até 2 litros/hora), é
frequente o colapso circulatório. A taxa de mortalidade é de 25 a 50%.
45
A terapia é baseada na rápida reposição de líquido e eletrólitos, sendo que após alguns dias
depois de eliminados os sintomas, a pessoa já para de excretar a bactéria nas fezes. A dose de
infecção é geralmente elevada, sendo, segundo SACK et al (1980) ao redor de 108 células.
Uma vez que a bactéria é sensível a ambientes ácidos, é provável que a instalação do V.
cholerae no intestino delgado, deva ser precedida de neutralização transitória ou diluição do suco
gástrico, seja pela ingestão de alimentos ou de grandes volumes líquidos.
geral a sobrevivência na água salgada é maior do que na doce; na superfície de frutas e hortaliças a
sobrevivência é de alguns dias; em alimentos úmidos, de baixa acidez e refrigerados, a
sobrevivência pode ser superior a duas semanas; em alimentos ácidos, refrigerados, a
sobrevivência pode ser menor do que um dia; em alimentos desidratados, refrigerados,
normalmente a sobrevivência é inferior a 2 dias; em utensílios e equipamentos normalmente
sobrevive entre 4 e 48 horas.
A cólera é uma infecção restrita quase que exclusivamente à áreas densamente povoadas,
de poucos recursos econômicos, com deficiências em saneamento básico e população em precárias
condições de higiêne.
Foi primeiramente descoberta no Japão como responsável por uma infecção alimentar
ocasionada pelo consumo de peixes e moluscos crus. Nos últimos anos, esta bactéria têm sido
isolada a partir de peixes, moluscos e águas costeiras da Ásia, Europa, Estados Unidos, Austrália e
América do Sul (inclusive Brasil), embora os surtos de infecção alimentar sejam pouco frequentes
fora do Japão. A razão principal para este fato reside no hábito de se consumir peixes e moluscos
47
crus no Japão. Os principais alimentos envolvidos são: ostras, mexilhões, camarão, caranguejo e
outros crustáceos.
A dose de infecção, embora não se conheça ao certo, é relativamente alta, ou seja, acima de
6
10 UFC.
É uma bactéria anaeróbia facultativa, largamente distribuída na natureza, tendo sido isolada
do solo, de animais, de aves, peixes, insetos, plantas verdes, silagem, água e produtos alimentícios
como leite, queijos, produtos cárneos, frutas e vegetais.
Esta zoonose se transmite dos animais ao homem porém a transmissão inversa ainda não
foi verificada.
Têm sido encontradas listerias em portadores humanos que não apresentam nenhum
sintoma clínico de enfermidade.
Nas infecções bovinas geralmente ocorre proliferação nas glândulas mamárias e úbere do
animal, proporcionando grande eliminação de Listeria no leite.
Até pouco tempo atrás pensava-se que apenas a ingestão de leite cru era responsável pela
listeriose no homem e que nenhum outro alimento seria veículo dessa infecção.
Porém, a eficácia do tratamento de alta temperatura por curto espaço de tempo (HTST) na
pasteurização do leite para eliminação de L. monocytogenes tem sido questionada desde 1983,
quando listeriose foi associada a muitos casos de ingestão de leite pasteurizado. Muitos estudos
49
tem sido conduzidos para se avaliar a real resistência térmica de L. monocytogenes e principalmente
estudos de recuperação de células injuriadas pelo tratamento térmico.
É uma bactéria que precisa ser melhor investigada para se poder correlacionar melhor sua
presença em determinados alimentos, com infecções no homem.
Provavelmente, se não fosse pelo incidente ocorrido em 1986, onde muitas mortes
ocorreram devido a presença de L. monocytogenes em queijos, a indústria alimentícia estaria
trabalhando hoje como se Listeria não existisse.
Listeria não é um microrganismo novo. Ela foi provavelmente vista pela primeira vez em
cortes de tecidos de pacientes por volta de 1891 e foi primeiramente isolada em 1911 de coelho na
Suécia.
os relatados foram bastante sérios, como pode ser visto pelos números a seguir: 1978, em
Massachusetts, com 23 casos, com taxa de mortalidade desconhecida e vegetais crus como
provável fonte; 1981, em Nova Scotia, com 51 casos e 44% de mortalidade, tendo como alimentos
envolvidos couve e repolho; 1983, em Boston, com 49 casos e 29% de mortalidade, sendo leite
pasteurizado o alimento envolvido; 1985, em Los Angeles, com 85 casos e 33% de casos fatais,
onde queijos foram implicados.
Porém, E. coli pertence ao grupo dos coliformes, juntamente com os gêneros Citrobacter,
Klebsiella e Enterobacter, que se caracterizam pela capacidade de fermentar a lactose, com
produção de gases.
Como a E. coli tem como habitat natural o trato intestinal do homem e outros animais, a partir
da matéria fecal e por vários veículos pode vir a contaminar a água e os alimentos. Esta é a razão
principal que faz desta bactéria a mais importante indicadora de contaminação fecal dos alimentos,
porém, como em muitos casos e surtos de gastroenterite nos últimos anos, o único agente etiológico
isolado era E. coli, passou-se a estudar melhor esta espécie, caracterizando linhagens
enterotoxigênicas.
fator que determina esta propriedade é mediado por um plasmídio ou episoma, podendo
teoricamente ser transferido para qualquer cepa não toxigênica. No entanto, apenas alguns poucos
sorotipos são efetivamente patogênicos, razão pela qual a sorologia é indispensável em estudos
epidemiológicos, embora a confirmação definitiva da patogenicidade somente seja obtida mediante
testes específicos em animais ou células.
Nem todas as linhagens de EEC obedecem a definição do grupo coliforme. Algumas delas,
são incapazes de fermentar a lactose dentro de 48 h ou não produzem gás. Entretanto, podem
apresentar reações positivas para um ou mais testes de atributos de enteropatogenicidade, ou seja:
produção de enterotoxinas (agem a nível de intestino delgado, distinguindo-se a termolábil LT,
semelhante à produzida por V. cholerae e a termoestável ST), onde a produção pode ser de uma
delas ou de ambas; invasividade (EIEC), produzindo um processo infeccioso semelhante ao
provocado por Shigella, ou seja, a patogenicidade é evidenciada pela invasão das células da
mucosa intestinal sem produção de toxinas; finalmente cepas denominadas enteropatogênicas
clássicas (EPEC), produzindo diarréia principalmente em crianças com menos de 1 ano de idade,
onde vários sorotipos são reconhecidos pela presença de antígenos somático, capsular ou flagelar.
11.000 D cada, onde as sub-unidades B entram em contato com a superfície da parede intestinal,
promovendo a entrada da sub-unidade A, que ativa a adenilciclase, levando a um aumento de
AMPc, com desiquilíbrio hidrossalino, impedindo a entrada de sais nas vilosidades e promovendo a
saída de sais pela cripta. A enterotoxina ST é um peptídeo de PM = 5.000 D, com mecanismo de
patogenicidade semelhante, diferindo pela ativação inicial da guanilciclase promovendo o GMPC.
Ainda, a enterotoxina LT é imunogênica e a ST não é imunogênica .
O primeiro surto no qual este microrganismo foi implicado e responsabilizado, data de 1971,
nos EUA e atualmente conhecem-se muitos sorotipos diferentes.
Sistema modelo para Para toxina LT: teste de alça li- Inoculação no saco conjuntival
caracterização do gada de coelho - 18h; teste de de cobaia - produção de cerato-
tipo patogênico permeabilidade da pele, cultura conjuntivite - teste de Sereny
de células de tecidos. Para toxina
ST: teste de alça ligada de coelho
- 6h; teste em camundongos recém-
nascidos
Medidas para o controle de E. coli são similares àquelas mencionadas para outras
enterobactérias: higiêne rigorosa na manipulação de alimentos, sanitização adequada de
equipamentos e utensílios, evitar contacto de alimentos preparados com utensílios e equipamentos
utilizados no manuseio de matérias-primas, refrigeração adequada de alimentos preparados e
cocção dos produtos antes do consumo.
Além de outros inúmeros benefícios que o aleitamento materno oferece, ele também auxilia
54
na prevenção da infecção por E. coli, uma vez que: apresenta de 1-6 mg/ml de lactoferrina que é um
agente bacteriostático para E. coli; tem aproximadamente 3.000 vezes mais lisozima que o leite de
vaca, que em combinação com outros constituintes do leite funciona como bom inibidor de bactérias.
X. Enterococos
São bastante resistentes ao congelamento, até mais que E. coli e porisso recomendados
como melhores indicadores de contaminação fecal dos alimentos congelados, sobrevivendo e se
reproduzindo após o descongelamento.
Ainda S. avium e S. gallinarum, têm sido incluídos como pertencentes ao grupo dos
55
enterococos, grupo este ainda pouco conhecido e atualmente com a utilização de taxonomia
numérica e taxonomia molecular, muito está se esclarecendo neste confuso grupo de bactérias.
Muitos autores tem atribuído a alimentos muito contaminados com enterococos casos e
surtos de "toxinfecções" alimentares. No soro de pacientes afetados por esta infecção/intoxicação,
alguns pesquisadores encontraram títulos elevados de anticorpos frente a linhagens de enterococos
isoladas de suas fezes. Outros autores tem mostrado que os enterococos isolados de pessoas
doentes pertencem a sorotipos diferentes das cepas isoladas de indivíduos sadios e de alimentos
que quando ingeridos não produziram a doença.
Até o momento não está totalmente confirmado nenhum surto de doença de origem
alimentar atribuído exclusivamente à A. hydrophila.
Entretanto ela tem sido considerada um patógeno alimentar por uma série de evidências
indiretas, incluindo: seu frequente isolamento a partir de fezes de pacientes com diarréia, sua
enteropatogenicidade em alguns animais e sua presença em uma variedade de alimentos, incluindo
ostras associadas à surtos de gastroenterite.
Características:
A. Classificação
Espécies com denominações diferentes de A. hydrophila não tem recebido boa aceitação
universal. As demais espécies não tem podido ser identificadas e diferenciadas com testes rotineiros
e muitos laboratórios continuam a incluir todas as espécies com motilidade, como A. hydrophila ou
grupo A. hydrophila.
B. Morfologia e Bioquímica
Membros das espécies com motilidade de Aeromonas são bastonetes, Gram (-), com 1,0 -
4,4 Mm, anaeróbios facultativos. Apresentam flagelos polar e normalmente monotríqueos. São
oxidase (+) e catalase (+). Fermentam vários carboidratos com produção de ácido e gás.
Bioquimicamente A. hydrophila é muito similar à membros da Família Enterobacteriaceae,
especialmente E. coli e Klebsiella spp.
C. Crescimento
57
Resultados parecidos foram obtidos por ROUF & RIGNEY (1971), que observaram que 6 de
13 isolados cresceram a 4°C.
Espécies de Aeromonas são capazes de crescer numa faixa ampla de pH (4,0 - 10,0), mas
são mais tolerantes à condições ácidas quando incubadas a 28°C do que quando incubadas a 4°C.
A. Gastroenterite
Normalmente diarréias leves tem sido associadas à Aeromonas spp, porém existem na
literatura, relatos de casos severos.Por exemplo, o caso de uma mulher de 67 anos hospitalizada
58
com diarréia "água de arroz", onde acreditava-se ser cólera, porém A. sobria, foi identificada como
agente causal (CHAMPSAUR et al,1982). SAWLE et al (1986), descreveram um caso fatal com
infecção por água contaminada, onde os sintomas eram idênticos aos da cólera. Análises nas fezes
mostraram a presença de A. sobria altamente hemolítica.
Outro caso severo com a identificação de A. hydrophila isolada das fezes da paciente,
ocorreu com uma menina de 5 anos, também apresentando dores abdominais, diarréia com sangue
e febre de 38,5°C. Culturas das fezes foram (-) para outros patógenos entéricos e vírus.
B. Infecções Extra-intestinais
Nos últimos anos, especialistas de todo o mundo tem se dedicado a pesquisa de Aeromonas
59
spp em fezes de pacientes com diarréia e tem encontrado a bactéria com frequência crescente.
Por outro lado, FIGURA et al (1986), não encontraram diferença significativa nas taxas de
isolamento de A. hydrophila de fezes a partir de pacientes com diarréia (3,7%) e de pacientes
normais (2,1%), em crianças Italianas.
Diferenças observadas nas taxas de Aeromonas spp tanto em fezes normais como
diarréicas, são provavelmente devidas a diferenças na prevalência da bactéria em diferentes áreas
geográficas e também a diferença de taxas de recuperação pela variedade de meios de cultivo
utilizados no isolamento de Aeromonas a partir de fezes.
Embora Aeromonas spp tenham sido isoladas a partir de indivíduos de todas as idades, há
uma predominância maior entre crianças muito novas ou adultos muito velhos ( menos de 7 anos e
mais de 60 anos).
Vários estudos tem mostrado uma correlação entre a atividade citotóxica e enterotóxica em
alça ligada de coelho. Isolados que produziram citotoxina também produziram hemolisina e aqueles
60
Outros autores observaram uma forte correlação entre produção de enterotoxina e hemólise
em hemáceas humanas. Há muita controvérsia a respeito do mecanismo de patogenicidade.
ABEYTA et al (1982), identificaram A. hydrophila como provável agente causal de 472 casos
de gastroenterite. Ostras cruas foram o veículo implicado. Os indivíduos afetados apresentaram
náuseas, vômitos, diarréia e dores abdominais. Imediatamente após o surto, as ostras foram
examinadas, sendo somente encontrado V. parahaemolyticus com baixo potencial patogênico. Um
ano mais tarde (1983), novo surto envolvendo 7 casos ocorreu na Florida, também tendo como
veículo ostra crua. Agora A. hydrophila foi isolada tanto das fezes dos pacientes envolvidos como
das próprias ostras. As ostras eram provenientes da mesma área de criação em Louisiana, que
tinha sido a fonte das ostras implicadas no surto de 1982. Devido as similaridades nos 2 surtos,
ostras que tinham sido implicadas no primeiro surto e que tinham sido congeladas por 1 ano, foram
reexaminadas e foi possível o isolamento de A. hydrophila das mesmas.
Reservatórios
Aeromonas spp são microrganismos aquáticos que ocorrem tanto em água doce, como em
estuários e oceanos.
A densidade da bactéria é maior em águas agitadas e salinas do que em águas paradas e
doces.
Foi isolada de amostras de água com pH variando de 5,2 a 9,8 e temperatura de 4,0 a 45°C.
Somente não foi isolada de lagos super salgados e de fontes termais com temperaturas superiores a
61
Ainda Aeromonas spp podem ser isoladas de águas tratadas para consumo humano, como
aconteceu em vários estudos que mostraram a presença da bactéria em sistemas municipais de
águas tratadas.
Alguns animais como bovinos, ovinos, suínos e equinos, apresentam A. hydrophila em suas
fezes, porém a frequência em bovinos é muito maior do que nos demais animais.
Isolamento
Outros meios de cultivo foram testados, os quais permitiram uma boa recuperação de
Aeromonas spp a partir de fezes. Os melhores utilizaram ampicilina como inibidor da maioria das
competidoras fecais. Porém, nenhum dos meios desenvolvidos para o isolamento de Aeromonas
spp de fezes ou fontes ambientais, permitiu boa recuperação de A. hydrophila de alimentos e
também sua diferenciação de outros contaminantes de origem fecal.
Identificação
Testes (+): oxidase, catalase, hidrólise do amido, ARG dehidrolase, crescimento em caldo
nutriente sem NaCl, fermentação de manitol, TRE, FRU, GAL e dextrina.
Testes (-): pectinase, ORN decarboxilase, PHE e TRP deaminase, crescimento em caldo
nutriente contendo 5% de NaCl, produção de ácido a partir de sorbose, eritritol e RAF.
Vários autores utilizaram os Kits API 20E, API RE e API NFT, encontrando que o API 20E
identificou corretamente todos os isolados; o API RE identificou 77% dos isolados e o API NFT 87%
dos isolados.
Alguns testes bioquímicos adicionais devem ser aplicados para identificação de outras
espécies de Aeromonas. Por exemplo, A. sobria não produz ácido a partir de SAL, não hidrolisa
esculina e não cresce na presença de KCN e A. caviae não produz acetoína e gás a partir de GLU.
63
A. hydrophila
Produção de DNase
Não metabolização de inositol
Resist. Agente Vibriostático O/129 P. shigelloides
Motilidade
Crescimento a 37°C A. salmonicida
Enterotoxina Citotônica:
Propriedades Físicas:
- PM 15.000
- Ponto isoelétrico 4,2 - 4,6
Estabilidade tanto "in vitro" como "in vivo" a tratamento térmico de 56°C/10 minutos.
Propriedades Físicas:
- PM 50.000
- Pontos Isoelétricos: 5,43 - 5,41 - 5,28 - 5,58
Medidas de controle:
no % de CO2 permite o crescimento de Aeromonas spp, as quais são tão resistentes ao CO 2 quanto
Lactobacillus.
Há muitos anos P. shigelloides tem sido considerada como suspeita de ser patogênica.
Recentes informações indicam que esta bactéria é responsável por importantes infecções
oportunistas, que em pessoas muito novas, ou idosas ou comprometidas imunologicamente, podem
levar à morte.
As respostas para os testes IMViC para P. shigelloides são as mesmas que para E. coli (+
+--), portanto, o teste da oxidase é muito importante para a diferenciação de ambas.
Estudos moleculares foram realizados, confirmando que Plesiomonas de fato não pertence
ao gênero Aeromonas e que deve permanecer como um gênero isolado.
Serologia:
Crescimento e Sobrevivência:
Assim como outros organismos Gram (-), há indícios de que esta bactéria é sensível ao frio.
Nenhum isolado sobreviveu a 60°C/30 minutos, indicando que a cocção apropriada dos
alimentos deve destruir esta bactéria.
P. shigelloides, cresce bem em caldo triptona contendo 3% de NaCl, mas não cresce com
4% de NaCl. Entretanto, em meio de cultivo mais complexo (como por exemplo o Trypticase Soy
Broth), 65% dos isolados cresceram com 5% de NaCl.
Em relação a tolerância a diferentes pHs, 60% dos isolados estudados, mostraram ser
capazes de iniciar crescimento a pH 4,0 e 85% cresceram a pH 9,0. A habilidade de iniciar
crescimento a pH 4,0 é considerada incomum e tem implicações significativas para alimentos com
este pH que possam ser contaminados por esta bactéria.
Doenças:
Incidência:
Alimentos-Fonte:
Alimentos que tem sido envolvidos em surtos de enterites ocasionados por Plesiomonas,
incluem peixe salgado, caranguejos e ostras. Todos os alimentos envolvidos, foram de ambiente
aquático, indicando que tais alimentos representam maior risco.
Alguns surtos atribuídos a P. shigelloides foram devido ao consumo de ostras cruas (Nova
Zelândia e Carolina do Norte).
Água também tem sido envolvida em vários surtos, muitas vêzes com centenas de casos.
Em outros casos, águas contaminadas com P. shigelloides utilizadas para fins recreacionais,
já foram responsabilizadas por infecções.
69
Já existe relato de casos de diarréia aguda contraídas mediante recreação em água do mar.
ZAKHARIEV menciona que Plesiomonas não sobrevive na água do mar; entretanto, a bactéria tem
sido isolada de águas com alta salinidade.
Reservatórios:
Outro fato a ser considerado é que P. shigelloides é um conhecido patógeno para peixes e
répteis e já existem relatos de répteis sendo veículos de infecção para humanos. P. shigelloides foi o
único patógeno entérico isolado de cobras e de seu tratador.
Detecção:
Mais recentemente (1984), um novo meio de cultivo, Plesiomonas Agar (PL), foi formulado
para o isolamento seletivo de Plesiomonas. É parecido ao XLD, porém a incorporação de LYS e
carboidratos não fermentescíveis, auxiliam o isolamento de organismos LYS decarboxilase (+) e não
70
fermentativos, como é o caso de Plesiomonas. A atividade inibitória do meio fica por conta dos sais
biliares presentes em baixa concentração.
Embora Plesiomonas seja um membro da Família Vibrionaceae, ela não cresce bem em
Tiossulfato Citrato Bile Sacarose (TCBS) Agar.
Patogenicidade:
Entretanto, existem vários trabalhos que citam que Plesiomonas podem produzir uma série
de toxinas, tanto termo-lábeis quanto termorresistentes (100°C/30 minutos).
Ainda uma série de outros trabalhos, mostram que P. shigelloides foi o único organismo
isolado de pacientes com diarréia e presente em grande número nas fezes (10 6 - 107/g) e que
quando testes que evidenciam patogenicidade (citados anteriormente) foram realizados,
confirmaram a patogenicidade (tanto culturas como filtrados de culturas).
A produção de toxina foi maior quando as células eram cultivadas em TSB contendo 1% de
inositol do que quando cultivadas em caldo BHI.
Alguns autores observaram que células invasivas (com motilidade) haviam mostrado reação
71
negativa no Teste de Sereny, indicando que os resultados desse teste podem nem sempre estar
correlacionados com a habilidade de invasividade de um organismo.
Trabalhos posteriores mostraram que muitas destas bactérias isoladas eram diferentes de V.
parahaemolyticus e V. alginolyticus pela habilidade de fermentar a lactose. Então pensou-se em
serem subespécies de V. parahaemolyticus ou espécies distintas.
Somente ao redor de 1985 é que através de muitos trabalhos com taxonomia, ecologia,
epidemiologia, patogênese e genética dessa bactéria, é que se estabeleceu pertencer a mesma à
espécie V. vulnificus.
Este Vibrio fermentador de lactose é um habitante normal de alguns estuários e ocorre em
grande número em moluscos. Assim, a infecção de humanos pode ocorrer principalmente pela
ingestão de frutos do mar crus.
Características:
Havia sido designada de Beneckea vulnifica por REICHELT et al (1976), porém o gênero
não foi bem aceito pelos microbiologistas, tendo então FARMER (1979), sugerido a mudança para
V. vulnificus. Tal proposição foi aceita em 1980.
Doença e Epidemiologia:
Septicemia Primária:
Poucas células viáveis no alimento podem ser suficiente para iniciar a infecção, cujo período
de incubação pode variar de 7h a alguns dias, com média ao redor de 16-38h.
Os sintomas mais importantes são febre (94%), calafrios (86%), náuseas (60%) e hipotensão
(43%).
Dados tem mostrado que a mortalidade pode ocorrer em períodos bastante variáveis, sendo
mais comum em poucos dias. Ainda é desconhecida a razão da maior incidência da doença em
homens (81%) do que em mulheres.
A terapia com antibióticos, largamente utilizada, mostra que a tetraciclina é que tem
conseguido melhores resultados.
Normalmente ocorrem devido a ferimentos provocados por algum animal marinho (ex.
caranguejo), nos pés, pernas ou mãos. Ainda ferimentos provocados por utensílios utilizados no
manuseio de peixes e frutos do mar podem ser fontes de infecção. Também ferimentos provocados
em rochas no interior da água ou proximidades podem desenvolver a doença.
Uma vez que a bactéria penetre no ferimento, o desenvolvimento dos sintomas é mais rápido
que na septicemia primária. Períodos inferiores a 4h tem sido relatados. Os sintomas incluem: dor
intensa, eritema (avermelhamento), edema, rápido desenvolvimento de lesões, com vesículas ou
bolhas nas mesmas. Erupções da pele frequentemente são delimitadas por uma descoloração (azul-
violeta) no tecido adjacente. Tais lesões podem rapidamente evoluir para necrose do tecido.
Isolamento e Identificação:
Os seguintes meios de cultivo tem sido utilizados com sucesso: Agar Sangue - colônias após
18-24h regulares, com 2-4mm de diâmetro, halo claro ao redor da colônia devido a hemólise e uma
zona com coloração esverdeada que evidencia a α-hemólise nas hemáceas de carneiro.
Também bom crescimento tem sido relatado em MacConkey, Endo, XLD e Hektoen entérico
e ausência de crescimento em EMB agar, SSA ou Desoxicolato agar.
Laboratórios clínicos tem utilizado o Tiossulfato Citrato Sais Biliares Sacarose (TCBS) agar,
onde V. vulnificus produz colônias verdes (sacarose -) geralmente com centro escuro, gerando
confusão com colônias de V. parahaemolyticus que também se apresentam da mesma maneira
neste meio.
Estudos tem mostrado que é bem mais difícil o isolamento de fontes ambientais do que de
amostras clínicas. A variedade das bactérias é aqui muito maior.
Porém muitos relatos existem na literatura a respeito de isolamento de Vibrios sacarose (-) e
lactose (+) a partir de água do mar e frutos do mar (especialmente ostras).
A maioria dos trabalhos tem utilizado o meio de cultivo TCBS agar para isolamento de Vibrios
de ambientes marinhos, embora saiba-se que bactérias não pertencentes ao gênero Vibrio também
crescem nesse meio. Além disso, nesse meio não é possível diferenciar V. vulnificus de outros
Vibrios não fermentadores de sacarose.
Assim, apareceram outras tentativas de meios de cultivo mais específicos para V. vulnificus.
BRYTON e COLWELL (1983), sugeriram o meio VV agar, que usa o telurito como inibidor,
verificando melhor crescimento e recuperação de V. vulnificus do que em TCBS agar. No entanto,
outros gêneros bacterianos também crescem nesse meio e V. parahaemolyticus e V. fluvialis
apresentam colônias idênticas a V. vulnificus.
75
KITAURA et al (1983), observando que V. vulnificus produzia uma "alkyl sulfatase" capaz de
hidrolisar "sodium dodecyl sulfate" e sua resistência a polimixina B, desenvolveram o meio de cultivo
SPS agar como sendo diferencial para V. vulnificus. Verificaram que embora neste meio alguns
outros Vibrios cresçam e que tendo também esta enzima possam ser confundidos com V. vulnificus,
o mesmo se constitui um excelente meio de cultivo para isolamento de Vibrios e especialmente de
V. vulnificus. Adicionaram ainda gelatina e amido ao meio (SGP agar), uma vez que mais estas
características podem ajudar na identificação de V. vulnificus (gelatinase + e amilase +).
Outro meio tentado com sucesso foi o CPC agar (MASSAD e OLIVER,1987), onde entre
muitas espécies de Vibrio testadas, apenas V. vulnificus e V. cholerae foram capazes de crescer, e
estas duas espécies podem ser distinguidas facilmente pela habilidade de V. vulnificus fermentar a
celobiose.
Ainda é uma espécie com identificação um pouco complexa, uma vez que trabalhos recentes
tem mostrado "strains" que fermentam a sacarose (aproximadamente 15%), e também que alguns
"strains" sacarose(+) e lactose (-) tem se mostrado (-) na fermentação da celobiose.
Patogenicidade:
Testes que foram realizados injetando-se a bactéria em alça ligada de coelhos e ratos,
mostraram o desenvolvimento rápido de uma bacteremia, com morte em algumas horas.
humanos a partir do trato alimentar. Quando testes com alça ligada de coelho foram realizados, a
bactéria já aparecia no sangue do animal após 5h da injeção. Nestes animais, através de exames
histológicos ficou bem claro os danos e necroses na mucosa do trato intestinal.
GRAY e KREGER (1985), purificaram esta toxina (hemolisina) e determinaram que a mesma
apresenta PM de 56.000 D e dose letal LD 50 para ratos de 3Mg/Kg por administração intra-venosa.
Além de hemolisina, alguns autores acreditam que outros fatores são responsáveis pela
virulência da bactéria, uma vez que alguns "strains" produtores de hemolisina não se mostraram
virulentos.
Outro fato que tem dificultado bastante tomada de medidas de controle, tem sido a
dificuldade de identificar corretamente V. vulnificus e também mesmo que algumas técnicas
77
moleculares permitam a identificação não permitem saber se são "strains" virulentos ou não.
Não tem havido relatos de infecções advindas do consumo de frutos do mar cozidos e
embora não se tenham estudos a respeito da sensibilidade térmica da bactéria, não é de se esperar
que ela seja mais resistente que outras bactérias Gram (-) não formadoras de esporos.
Assim, a melhor medida de controle está no se evitar o consumo de frutos do mar crus. A
prevenção contra infecção por V. vulnificus em ferimentos é bem mais difícil, já que tais infecções
ocorrem em indivíduos com aparentemente boa saúde.
Observação: Mesmo em áreas costeiras a frequência de infecções por V. vulnificus não é alta,
porém, como tanto septicemia primária como infecções por ferimentos tem sido relatados e também
devido a severidade das infecções, novos conhecimentos a respeito deste patógeno precisam ser
conseguidos.
Os serviços de alimentação, que hoje servem por volta de 2 bilhões de refeições/ano, estão
sempre sujeitos a ocorrência de surtos de doenças bacterianas de origem alimentar. O que é pior,
raramente dispõem de especialistas em microbiologia em suas equipes técnicas.
Nos últimos anos, o setor de refeições coletivas no Brasil vem crescendo cerca de 20% ao
ano. Nem mesmo a aquisição contínua de novos conhecimentos sobre os processos patológicos, de
técnicas de higienização e de formas de conservação de alimentos, tem sido suficientes para deter o
crescimento da incidência das toxinfecções alimentares.
As bactérias são responsáveis por 70% dos surtos e por 95% dos casos de doenças
(BANWART, 1989), o que realça a grande importância do seu controle, sob o aspecto da saúde
pública.
Microrganismos %
Clostridios Sulfito Redutores 39,7
Staphylococcus aureus 38,1
Bacillus cereus 12,7
Escherichia coli 6,3
Salmonella spp 1,6
Clostridium botulinum 1,6
Dados da Central de Diagnósticos Laboratoriais (CDL-1990)
Causas:
- Conservação inadequada do produto elaborado (50,9%)
- Contaminação por manipuladores (22,6%)
- Matéria-prima contaminada (13,2%)
- Tratamento térmico insuficiente (13,3%)
Ainda constatou-se:
81
Entre 1985 e 1988: S. aureus, C. perfringens, E. coli, B. cereus, Salmonella spp e Shigella
spp, foram responsáveis por, respectivamente, 25,6, 11,2, 8,1, 8,1, 3,7 e 0,6% do total de 159 surtos
estudados. Os demais 42,5% dos surtos não tiveram o agente identificado.
No de No de Agentes
País Período surtos casos Etiológicos
média/ano média/ano
Fatores que Contribuíram para Surtos de Doenças de Origem Alimentar - São Paulo - 1983 a 1990
(Fonte CDL,1990)
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CAUSAS %
Temperatura de cocção inadequada 57,0
Armazenamento em refrigeração inadequada 19,0
Armazenamento em temperatura ambiente 28,5
Manipulação excessiva à temperatura ambiente 33,3
Manipulação contaminada 23,8
Utilização de sobras e/ou reaproveitamento 23,8
Técnica culinária inadequada 9,5
Contaminação cruzada 4,7
Matéria-prima ruim 4,7
OBS: % superior a 100% porque muitas causas se sobrepõem.
Intoxicação Emética : Havendo suspeita, deve-se avaliar a presença da toxina nos vômitos e
fezes.
Botulismo: pesquisa-se a presença de toxina nas fezes e sangue.
Demais Toxinfecções: determina-se a presença dos microrganismos em vômitos, fezes e se
for o caso no sangue dos pacientes.
Carnes estiveram envolvidas em 26% dos casos e leite em 12%. Estes são dados de uma
projeção do consultor Natal Camargo, da OMS, com base em casos constatados no Paraná, o único
Estado Brasileiro que possui um Centro de Epidemiologia Alimentar.
O consumidor Brasileiro não está levando para casa apenas alimentos de qualidade inferior,
mas está comprando produtos que podem fazer mal a sua saúde.
Os riscos maiores decorrem da falta de fiscalização, que abre espaço para as fraudes, a
produção de alimentos fora das condições sanitárias adequadas e a proliferação de doenças.
Alimentos de origem animal e seus derivados tem sido os mais envolvidos nos surtos,
principalmente com contaminações por S. aureus (34%) e C. perfringens (30%).
Algumas denúncias são muito preocupantes, como a do pesquisador do Ital, Paulo Roberto
N. de Carvalho: "No Brasil, a alimentação animal é melhor produzida e fiscalizada pelas autoridades
sanitárias do que a alimentação destinada ao consumo humano".
Nos anos de 1996 e 1997, em São Paulo ocorreram surtos de Salmonelose decorrentes da
ingestão de ovo cru (Dilma Gelli do IAL), tendo sido recomendado à população que evitasse o
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consumo de ovo cru, maionese caseira, gemada e massas que levassem ovo cru.
A seguir são citados alguns produtos e os principais organismos que tem estado implicado
como agentes de doenças alimentares nos mesmos:
Até pouco tempo atrás, a Portaria SVS/MS 451, de 19 de setembro de 1997, publicada no
DOU de 2 de julho de 1998, era usada como legislação referente ao controle sanitário na área de
alimentos ( padrões microbiológicos).
Hoje, a Resolução RDC n. 12, de 2 de janeiro de 2001, revogou a Portaria 451 e está em
vigor para ser utilizada como referência de legislação para controle sanitário de alimentos,
estipulando os padrões microbiológicos para os alimentos.
COMPLEMENTO
Staphylococcus aureus
estafilocócicas em muitos países. A maioria dos casos passa despercebida, devido a sua
curta duração, sendo notificados às autoridades públicas, somente os surtos com
envolvimento de um grande número de pessoas.
As falhas na manipulação dos alimentos constituem a principal causa das
toxinfecções por S. aureus, já que 20-50% dos indivíduos normais apresentam a bactéria
no nariz, garganta, cabelo e pele. Os estafilococos também estão presentes na pele e couro
dos animais, contaminando equipamentos da planta de processamento.
Embora a acidez da maionese iniba os estafilococos, ingredientes complementares
como ovos e frango tamponam o pH, permitindo o crescimento. Sistemas alimentares que
contém elevada concentração de sal ou açúcar, também favorecem o crescimento de S.
aureus, em vista da inibição de microrganismos mais sensíveis. S. aureus tolera até 10-20%
de sal e 50-60% de sacarose, sendo igualmente tolerante ao nitrito, e se multiplica em
soluções de cura ou carnes curadas.
De acordo com os dados do Centro de Saneamento e Vigilância Sanitária do Paraná,
S. aureus, tem sido isolado em 34% das toxinfecções alimentares notificadas; C. perfringens
em 13%; Salmonella spp em 7%; B. cereus em 6,7% e E. coli em 5,4%. Cerca de 47% dos
surtos notificados no Estado tem ocorrido nos domicílios, 16% em estabelecimentos
comerciais, 15% em refeitórios industriais e 7% em escolas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% das doenças que ocorrem
nos países em desenvolvimento são ocasionadas pela contaminação da água. Sabe-se também
que a cada ano, 15 milhões de crianças até 5 anos morrem direta ou indiretamente pela falta ou
deficiência dos sistemas de abastecimento de águas e esgotos (Batista, 1996).
Sob o aspecto de saúde pública, a água potável deve estar isenta de contaminação por
microrganismos do grupo coliforme, portanto, é aconselhável a determinação periódica do índice
colimétrico e contagem total em placas, já que o aumento repentino do número de microrganismos
pode indicar contaminação, funcionamento deficiente da estação de tratamento de água ou mesmo
informar sobre a possível qualidade da água de um novo manancial de abastecimento.
A E. coli, é um indicador clássico da possível presença de patógenos entéricos na água e
nos alimentos, e números elevados desta bactéria, sugerem uma falta geral de limpeza,
manipulação e armazenamento inadequados.
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Salmonella
homem:
1. Febres Entéricas: tratam-se de infecções sistêmicas, geralmente causadas por S. typhi e
S. paratyphi, que começam de maneira insidiosa, depois de um período de incubação de
7-14 dias, com mal estar, anorexia e cefaléia, seguidos de febre que aumenta
gradativamente e é acompanhada de bradicardia, tosse e sinais de bronquite. Ocorre
apenas em humanos e é transmitida somente por alimento ou água contaminados por
fezes humanas infectadas. Após a ingestão, os bacilos alcançam o intestino, aderem e
penetram na parede intestinal, multiplicam-se e podem invadir a circulação sanguínea.
Atualmente, cerca de 400 a 600 casos de febre tifóide ocorrem anualmente nos Estados
Unidos, porém grandes surtos epidêmicos ocorreram no passado, antes da
pasteurização do leite, do tratamento da água de abastecimento e do tratamento de
esgotos.
2. Septicemias: comumente causadas por S. cholerae e se caracterizam por febre alta e
renitente, bacteremia, sem envolvimento do trato gastrintestinal. Podem se desenvolver
lesões supurativas em qualquer local do corpo, incluindo trato biliar, rins, coração,
meninges, articulações e pulmões.
3. Gastroenterites: tem como agentes causais as espécies S. typhimurium, S. enteritidis, S.
newport, que quando ingeridas em grande número (acima de 10 4 UFC) levam ao
aparecimento de sintomas como: cefaléia, calafrios, dores abdominais, náuseas, vômitos,
diarréias e febre. O período de incubação é geralmente de 8 a 48 horas e a duração da
doença de 1 a 4 dias. Nos Estados Unidos, são relatados anualmente entre 40.000 a
70.000 casos de gastroenterite por Salmonella, porém o número real deve ser maior
devido ao grande número de casos não relatados. A incidência da doença varia com as
estações do ano, sendo muito maior no verão.
Prevenção:
As seguintes recomendações são indicadas:
Cozimento adequado de alimentos de origem animal, com a finalidade de destruir as salmonelas;
Conservação dos alimentos à temperaturas adequadas de refrigeração, evitando a sua
multiplicação;
Proteção dos alimentos do contato com roedores, moscas, aves, que podem veicular a bactéria;
Análise periódica de amostras de fezes de manipuladores de alimentos para detecção de
portadores;
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