Teams Transversais

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Vinícius Reccanello de Almeida

TEMAS TRANSVERSAIS E INTERDISCIPLINARIDADE


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Os temas transversais são constituídos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) e compreendem
seis áreas: Ética (Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo, Solidariedade), Orientação Sexual (Corpo: Matriz da sexualida-
de, relações de gênero, prevenções das doenças sexualmente Transmissíveis) , Meio Ambiente (Os ciclos da natu-
reza, sociedade e meio ambiente, manejo e conservação ambiental) , Saúde (autocuidado, vida coletiva), Plurali-
dade Cultural (Pluralidade Cultural e a Vida das Crianças no Brasil, constituição da pluralidade cultural no Brasil, o
Ser Humano como agente social e produtor de cultura, Pluralidade Cultural e Cidadania) e Trabalho e Consumo
(Relações de Trabalho; Trabalho, Consumo, Meio Ambiente e Saúde; Consumo, Meios de Comunicação de Mas-
sas, Publicidade e Vendas; Direitos Humanos, Cidadania). Podemos também trabalhar temas locais como: Traba-
lho , Orientação para o Trânsito, etc.

Os temas transversais expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e obedecem a


questões importantes e urgentes para a sociedade contemporânea. A ética, o meio ambiente, a saúde, o trabalho
e o consumo, a orientação sexual e a pluralidade cultural não são disciplinas autônomas, mas temas que permei-
am todas as áreas do conhecimento, eestão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pe-
las famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano.

Os Temas Transversais caracterizam-se por um conjunto de assuntos que aparecem transversalizados em


áreas determinadas do currículo, que se constituem na necessidade de um trabalho mais significativo e expressi-
vo de temáticas sociais na escola.Alguns critérios utilizados para a sua constituição se relacionam à urgência social
,a abrangência nacional, à possibilidade de ensino e aprendizagem na Educação Básica e no favorecimento à
compreensão do ensino/aprendizagem, assim como da realidade e da participação social. São temas que envol-
vem um aprender sobre a realidade, na realidade e da realidade, preocupando-se também em interferir na reali-
dade para transformá-la.

Os temas transversais atuam como eixo unificador, em torno do qual organizam-se as disciplinas, devendo
ser trabalhados de modo coordenado e não como um assunto descontextualizado nas aulas. O que importa é que
os alunos possam construir significados e conferir sentido àquilo que aprendem. Quando enfocamos o tema
transversal Trabalho e Consumo, poderemos enfatizar a informação das relações de trabalho em várias épocas e a
sua dimensão histórica, assim como comparar diversas modalidades de trabalho, como o comunitário, a escravi-
dão, a exploração, o trabalho livre, o assalariado. Poderemos também analisar a influência da publicidade na vida
das pessoas, enfocando a Industria Cultural. Refletir como a propaganda dissemina atitudes de vida, padrões de
beleza e condutas que manifestam valores e expectativas. Analisar criticamente o anseio de consumo e a autênti-
ca necessidade de adquirir produtos e serviços.

O papel da escola ao trabalhar Temas transversais é facilitar, fomentar e integrar as ações de modo contex-
tualizado, através da interdisciplinaridade e transversalidade, buscando não fragmentar em blocos rígidos os co-
nhecimentos, para que a Educação realmente constitua o meio de transformação social.

CRITÉRIOS ADOTADOS PARA A ELEIÇÃO DOS TEMAS TRANSVERSAIS

Muitas questões sociais poderiam ser eleitas como temas transversais para o trabalho escolar, uma vez que
o que os norteia, a construção da cidadania e a democracia, são questões que envolvem múltiplos aspectos e

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diferentes dimensões da vida social. Foram então estabelecidos os seguintes critérios para defini-los e escolhê-
los:

• URGÊNCIA SOCIAL
Esse critério indica a preocupação de eleger como Temas Transversais questões graves, que se apresentam
como obstáculos para a concretização da plenitude da cidadania, afrontando a dignidade das pessoas e deterio-
rando sua qualidade de vida.
• ABRANGÊNCIA NACIONAL
Por ser um parâmetro nacional, a eleição dos temas buscou contemplar questões que, em maior ou menor
medida e mesmo de formas diversas, fossem pertinentes a todo o país. Isso não exclui a possibilidade e a necessi-
dade de que as redes estaduais e municipais, e mesmo as escolas, acrescentem outros temas relevantes à sua
realidade.
• POSSIBILIDADE DE ENSINO E APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL
Esse critério norteou a escolha de temas ao alcance da aprendizagem nessa etapa da escolaridade. A expe-
riência pedagógica brasileira, ainda que de modo não uniforme, indica essa possibilidade, em especial no que se
refere à Educação para a Saúde, Educação Ambiental e Orientação Sexual, já desenvolvidas em muitas escolas.
• FAVORECER A COMPREENSÃO DA REALIDADE E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL
A finalidade última dos Temas Transversais se expressa neste critério: que os alunos possam desenvolver a
capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença e intervir
de forma responsável. Assim os temas eleitos, em seu conjunto, devem possibilitar uma visão ampla e consistente
da realidade brasileira e sua inserção no mundo, além de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma
participação social dos alunos.

A TRANSVERSALIDADE

Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Tratam
de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos
alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de
alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo
quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que
está sendo construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo,
portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões.
Nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou explicitamente, ensinamentos a respeito dos te-
mas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por meio de suas concepções e dos valores
que veiculam nos conteúdos, no que elegem como critério de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam,
nas situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro lado, sua complexidade faz com que nenhuma das
áreas, isoladamente, seja suficiente para explicá-los; ao contrário, a problemática dos temas transversais atraves-
sa os diferentes campos do conhecimento.
Por exemplo, ainda que a programação desenvolvida não se refira diretamente à questão ambiental e que
a escola não tenha nenhum trabalho nesse sentido, a Literatura, a Geografia, a História e as Ciências Naturais
sempre veiculam alguma concepção de ambiente, valorizam ou desvalorizam determinadas idéias e ações, expli-
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citam ou não determinadas questões, tratam de determinados conteúdos; e, nesse sentido, efetivam uma “certa”
educação ambiental. A questão ambiental não é compreensível apenas a partir das contribuições da Geografia.
Necessita de conhecimentos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da Demografia, da Economia, entre
outros. Considerando esses fatos, experiências pedagógicas brasileiras e internacionais de trabalho com direitos
humanos, educação ambiental, orientação sexual e saúde têm apontado a necessidade de que tais questões se-
jam trabalhadas de forma contínua, sistemática, abrangente e integrada e não como áreas ou disciplinas.
Caberá aos professores mobilizar tais conteúdos em torno de temáticas escolhidas, de forma que as diver-
sas áreas não representem continentes isolados, mas digam respeito aos diversos aspectos que compõem o exer-
cício da cidadania.
Ao invés de se isolar ou de compartimentar o ensino e a aprendizagem, a relação entre os Temas Transver-
sais e as áreas deve se dar de forma que:
• as diferentes áreas contemplem os objetivos e os conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedimentos
e valores; normas e atitudes) que os temas da convivência social propõem;
• haja momentos em que as questões relativas aos temas sejam explicitamente trabalhadas e conteúdos de
campos e origens diferentes sejam colocados na perspectiva de respondê-las.

A ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS

O trabalho com a proposta da transversalidade se define em torno de quatro pontos:

• os temas não constituem novas áreas, pressupondo um tratamento integrado nas diferentes áreas;
• a proposta de transversalidade traz a necessidade de a escola refletir e atuar conscientemente na educa-
ção de valores e atitudes em todas as áreas, garantindo que a perspectiva político-social se expresse no direcio-
namento do trabalho pedagógico; influencia a definição de objetivos educacionais e orienta eticamente as ques-
tões epistemológicas mais gerais das áreas, seus conteúdos e, mesmo, as orientações didáticas;
• a perspectiva transversal aponta uma transformação da prática pedagógica, pois rompe o confinamento
da atuação dos professores às atividades pedagogicamente formalizadas e amplia a responsabilidade com a for-
mação dos alunos. Os Temas Transversais permeiam necessariamente toda a prática educativa que abarca rela-
ções entre os alunos, entre professores e alunos e entre diferentes membros da comunidade escolar;
• a inclusão dos temas implica a necessidade de um trabalho sistemático e contínuo no decorrer de toda a
escolaridade, o que possibilitará um tratamento cada vez mais aprofundado das questões eleitas. Por exemplo, se
é desejável que os alunos desenvolvam uma postura de respeito às diferenças, é fundamental que isso seja trata-
do desde o início da escolaridade e que continue sendo tratado cada vez com maiores possibilidades de reflexão,
compreensão e autonomia. Muitas vezes essas questões são vistas como sendo da “natureza” dos alunos (eles
são ou não são respeitosos), ou atribuídas ao fato de terem tido ou não essa educação em casa. Outras vezes são
vistas como aprendizados possíveis somente quando jovens (maiores) ou quando adultos. Sabe-se, entretanto,
que é um processo de aprendizagem que precisa de atenção durante toda a escolaridade e que a contribuição da
educação escolar é de natureza complementar à familiar: não se excluem nem se dispensam mutuamente.

TRANSVERSALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

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A proposta de transversalidade pode acarretar algumas discussões do ponto de vista conceitual como, por
exemplo, a da sua relação com a concepção de interdisciplinaridade, bastante difundida no campo da pedagogia.
Essa discussão é pertinente e cabe analisar como estão sendo consideradas nos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais as diferenças entre os dois conceitos, bem como suas implicações mútuas. Ambas — transversalidade e in-
terdisciplinaridade — se fundamentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como
um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado.
Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus
diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade refere-se a
uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito princi-
palmente à dimensão da didática. A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de
conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles —
questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, histori-
camente se constituiu.
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre
aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e
de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E a uma forma de sistematizar esse trabalho e inclu-
í-lo explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofundamento ao lon-
go da escolaridade.
Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o trata-
mento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre os objetos de conhecimento,
de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva discipli-
nar rígida. A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento,
bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre
ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibili-
tando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos.
Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a procedimentos e conceitos próprios das áreas con-
vencionais, superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar de “passar de ano”.

TEMAS TRANSVERSAIS NA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educan-
dos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
(...)
§ 7o Os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a edu-
cação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o
adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,
tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a
produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

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Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se
aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº
11.274, de 2006)
(...)
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e
dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e
do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei nº
11.525, de 2007).
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do ensino funda-
mental. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).

REFERÊNCIA
BRASIL (Secretaria de Educação Fundamental). PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN), 1998.

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