BRT Fruticulturatropical v.1

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Fruticultura Tropical:

Diversificação e consolidação
Editores
Moises Zucoloto
Edilson Romais Schmildt
Ruimário Inácio Coelho

Fruticultura Tropical:
Diversificação e consolidação

Alegre – ES
CAUFES
2015
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito
Santo, ES, Brasil)

F945 Fruticultura Tropical: diversificação e consolidação / Moises


Zucoloto, Edilson Romais Schmildt, Ruimário Inácio Coelho
(organizadores) – Alegre, ES: CAUFES, 2015.
186 p. : il.; 15,5x20,5cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-61890-64-3

1. Mamão. 2. Banana. 3. Maracujá. 4. Manga. 5. Coco. 6.


Goiaba. I. Zucoloto, Moises. II. Schmildt, Edilson Romais. III.
Coelho, Ruimário Inácio.
CDU: 634.6
ORGANIZADORES

Moises Zucoloto
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2006). Mestrado em
Produção Vegetal pela UFES (2009). Doutorado em Fitotecnia UFV (2012)
e Pós-Doutorado pela Universidade de Illinois-EUA (2014). É professor da
UFES/CEUNES atuando em ensino universitário, extensão e pesquisa, com
área de atuação em fruticultura.

Edilson Romais Schmildt


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1989). Mestrado em
Fitotecnia pela UFV (1994), Doutorado em Genética e Melhoramento pela
UFV (2000) e Pós-Doutorado pela UFV (2013) e pela Universidade de
Almería - Espanha (2014). É professor da UFES/CEUNES atuando em
ensino universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em
experimentação vegetal e em melhoramento de frutíferas.

Ruimário Inácio Coelho


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1977). Mestrado em
Fitotecnia pela UFV (1983), Doutorado em produção Vegetal pela UENF
(2005). É professor da UFES/CCA atuando em ensino universitário,
extensão e pesquisa, com área de atuação em frutíferas.

AUTORES

Adelaide de F. S. da Costa
Graduada em Engenharia Agronômica pela UFV (1982), Mestrado em
Fitotecnia (1986) e Doutorado em Fitotecnia (1993) pela UFV. Pesquisadora
e Coordenadora do Programa de Fruticultura do Incaper. Professora do
Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal da UFES.

Adolfo Freud Pinheiro Moura


Graduado em Agronomia pela UFLA, (1981). Especialização em Israel.
Atua como consultor na área com fertirrigação.

Almy Junior Cordeiro de Carvalho


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1991). Mestrado em
Fitotecnia pela UFLA (1993) e Doutorado em Produção Vegetal pela UENF
(1998). É professor titular da UENF atuando em ensino universitário,
extensão e pesquisa, com área de atuação em fruticultura.

André Gustavo Vasconcelos Costa


Nutricionista (2004). Mestre em Ciência da Nutrição pela Universidade
Federal de Viçosa (UFV, 2006). Doutor em Ciência e Tecnologia dos
Alimentos (UFV, 2010). Doutorado Sanduíche no Departamento de
Ciencias de la Alimentación y Fisiología da Universidad de Navarra
(UNAV), Espanha. Professor Adjunto do Departamento de Farmácia e
Nutrição do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do
Espirito Santo (DFN/CCA/UFES). Desenvolve pesquisas em doenças
crônicas não transmissíveis, alimentos funcionais, compostos bioativos e
nutrigenômica.

Aureliano Nogueira da Costa


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFV (1981), Mestrado em
Fitotecnia pela UFV (1984), Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas pela
UFV em 1993, Pesquisador do Incaper, Professor do Programa de Pós-
graduação em Biologia Vegetal da UFES.

Cláudio Dykstra
Graduado em Engenharia Agrícola na Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOEST (2003). Tesoureiro da Associação dos Produtores de
Limão (ASLIM). Coordenador do Grupo EUCAMPO Fruticultura e
Produtor de Limão Tahiti.

Cláudio Wagner
Graduado em economia pela Newton de Paiva, pós-graduado em Gestão de
Negócios pelo IBMEC – MBA, com especialização em Gestão do
Agronegócios pela UFV, Mestre em Administração de Empresas, pela
FEAD Minas - linha de pesquisa em Agronegócios. Membro efetivo da
Câmara Técnica de Fruticultura do CEPA/SEAPA e funcionário do
SEBRAE-MG desde 1999, atualmente na Unidade de Atendimento Coletivo
Agronegócios, Responsável Técnico pelos projetos de Hortifruticultura e
Café na Região do Cerrado Mineiro, em Minas Gerais.

Dalmo Lopes de Siqueira


Graduado em Agronomia pela UFLA, (1981). Mestrado em Agronomia pela
UFLA (1985). Doutorado pela UFV (1993) e Ph.D pela Universidade
Politécnica de Valencia-ESP (2000). É professor Titular da UFV atuando na
área de citricultura e mangicultura.

Dimmy Herllen Silveira Gomes Barbosa


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2000). Mestrado (2003)
e Doutorado em Produção Vegetal pela UENF (2008). É pesquisador da
Embrapa Mandioca e Fruticultura, atuando, principalmente, em pesquisa e
transferência de tecnologias, com mandioca e fruteiras.

Edilson Romais Schmildt


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1989). Mestrado em
Fitotecnia pela UFV (1994), Doutorado em Genética e Melhoramento pela
UFV (2000) e Pós-Doutorado pela UFV (2013) e pela Universidade de
Almería - Espanha (2014). É professor da UFES/CEUNES atuando em
ensino universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em
experimentação vegetal e em melhoramento de frutíferas.

Eliemar Campostrini
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFV (1991). Mestrado em
Fisiologia Vegetal pela UFV (1993), Doutorado em Produção Vegetal pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro-UENF (1998) e
Pós-Doutorado pela UnB (1999) e no USDA-ARS Appalachian Fruit
Research Station-USA (2008). É professor da UENF atuando em ensino
universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em fisiologia de
plantas cultivadas e ecofisiologia vegetal.

Geraldo Antônio Ferreguetti


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1981). NBA em
gerenciamento de projetos pela FGV (2011). É diretor executivo da Caliman
Agrícola S.A.

Jadilson Borges
Graduado em Ciências Econômicas pela UNIMONTES(1.999). Especialista
em Gestão de Negócios pela UFLA(2.001). Mestre em Administração de
Empresas pela FEAD(2.007) – Linha de pesquisa – Gestão Estratégica de
Organizações. Analista técnico do SEBRAE-MG, Professor
universitário(Empreendedorismo) – Faculdade Vale do Gorutuba.

Jalille Amim Altoé Freitas


Graduada em Engenharia Agronômica pela UFES (2004). Mestrado em
Produção Vegetal pela UENF (2006) e Doutorado em Produção Vegetal
pela UENF (2011). É pós-doutoranda na UENF, com área de atuação em
fruticultura.

José Augusto Teixeira do Amaral


Graduado em Engenharia Agronômica pela ESAES, hoje UFES (1976).
Mestrado em Fisiologia Vegetal pela UFV (1982), Doutorado em Fitotecnia
pela UFV (1990). É professor da UFES/CCA, atuando em ensino
universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em biotecnologia e
ecofisiologia vegetal.

Juliana Cristina Vieccelli


Graduada em Agronomia pela UFSC (1994). Mestrado em Fitotecnia UFV
(1997) e Doutorado em Fitotecnia UFV (2014).

Julián Cuevas González


Graduado em Ciências Biológicas (Botânica) (1985) e Doutorado em
Produção Vegetal (1992) pela Universidade de Córdoba-Espanha (1985) e
Pós-Doutorado pela Universidade da California Davis-EUA (1994-1995).
Atualmente é Catedrático de Fruticultura na Universidade de Almería-
Espanha. Suas pesquisas estão centradas em fisiologia da floração e
frutificação em cultivos de frutíferas mediterrâneas e tropicais.

Maria das Graças Vaz Tostes


Nutricionista (2003). Mestre em Ciência Biológicas pela Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP, 2005). Doutor em Ciência da Nutrição (UFV,
2014). Doutorado Sanduíche na Universidade de Illinois -Urbana-
Champaign, Estados Unidos. Professor Adjunto do Departamento de
Farmácia e Nutrição do Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal do Espirito Santo (DFN/CCA/UFES). Desenvolve pesquisas
avaliando o valor nutricional e funcional dos alimentos.

Mirelle Lomar Viana


Nutricionista (2005). Doutorado em Ciências de Alimentos pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2010). Professor Adjunto do
Departamento de Farmácia e Nutrição do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal do Espírito Santo (DFN/CCA/UFES). Desenvolve
pesquisas avaliando as propriedades funcionais e imunomoduladoras dos
alimentos.

Moises Zucoloto
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2006). Mestrado em
Produção Vegetal pela UFES (2009). Doutorado em Fitotecnia UFV (2012)
e Pós-Doutorado pela Universidade de Illinois-EUA (2014). É professor da
UFES/CEUNES atuando em ensino universitário, extensão e pesquisa, com
área de atuação em fruticultura.

Patrícia Gomes de Oliveira Pessanha


Graduada em Engenharia Agronômica pela UENF (2004). Mestrado em
Genética e Melhoramento de Plantas pela UENF (2007) e Doutorado em
Genética e Melhoramento de Plantas pela UENF (2011). É pós-doutoranda
da UENF, com área de atuação em fruticultura.

Omar Schmildt
Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (2000). Mestrado em
Produção Vegetal pela UFES (2006), Doutorado em Produção Vegetal pela
UENF (2010) e Pós-Doutorado pela UFES (2011-2014) desenvolvendo sua
pesquisa com propagação vegetativa do mamoeiro.

Rafael Pio
Graduação em Agronomia pela UFLA (2001). Mestrado em Fitotecnia pela
UFLA (2002) e Doutorado em Fitotecnia pela USP (2005). É professor da
UFLA e atua no melhoramento genético e cultural de frutas de clima
temperado em regiões de inverno ameno.

Rodrigo Sobreira Alexandre


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFES (1999). Mestrado,
Doutorado em Fitotecnia pela UFV (2002 e 2006, respectivamente) e Pós-
Doutorado pela UFV (2008). É professor da UFES/CCA atuando em ensino
universitário, extensão e pesquisa, com área de atuação em propagação de
plantas de espécies frutíferas e florestais.

Rogério Nunes Fernandes


Graduado em Engenharia Agronômica pela UFV (1998). Pós graduado em
Gestão Agroindustrial pela UFLA (2002). É analista técnico da área de
Agronegócios do Sebrae Minas e atua como Coordenador dos projetos
EDUCAMPO nas áreas de cafeicultura, bovinocultura de leite, fruticultura,
suinocultura.

Tiago B. Struiving
Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa
- UFV (2013). Mestrando em Produção Vegetal na UFV. É Consultor
Técnico no Projeto EDUCAMPO/SEBRAE-MG, com área de atuação em
fruticultura.
Agradecimentos

À Universidade Federal do Espírito Santo, ao Centro Universitário Norte


do Espírito Santo e ao Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas pelo
apoio.
Aos apoiadores diamante Heringer e Nortefrut, aos apoiadores ouro
Sociedade Brasileira de Fruticultura, Prefeitura de São Mateus e Sociedade
Espírito-Santense de Engenheiros Agrônomos e aos apoiadores Defagro, LC
Comércio Agrícola, Frucafé, Caliman, Defesa, Frutas Santa Rita, Nutrimaq,
Topseed, Acqua Fertil e SQM Vitas.
A Sociedade Brasileira de Fruticultura, a Empresa Junior de Agronomia
(Projagro) e aos estudantes do curso de Agronomia pela organização do
evento.
Ao Professor Dr. Fábio Luiz Partelli pelo incentivo e aos demais colegas
que contribuíram para realização do evento.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
Situação da Fruticultura Brasileira e Capixaba ................................. 14

CAPÍTULO 2
Nematoides em Frutíferas ..................................................................... 24

CAPÍTULO 3
Baixa Produtividade e Alternância de Produção em Mangueira
‘Ubá’........................................................................................................ 49

CAPÍTULO 4
Controle Fitossanitário em Papaya: O Desafio de Produzir um Fruto
sem Resíduos .......................................................................................... 65

CAPÍTULO 5
EDUCAMPO – Semeando o Futuro da Empresa Rural .................... 80

CAPÍTULO 6
Manejo da Fertirrigação em Fruticultura, Teoria e Prática ............. 94

CAPÍTULO 7
Cultivo de Fruteiras de Clima Temperado em Regiões de Inverno
Ameno ................................................................................................... 114

CAPÍTULO 8
Valor Nutricional das Frutas e Seus Efeitos Sobre a Saúde ............ 143

CAPÍTULO 9
Propagação Assexuada de Mamoeiro ................................................ 158

CAPÍTULO 10
Polos de Fruticultura no Estado do Espírito Santo .......................... 177
Apresentação

Este livro apresenta informações como forma de diversificar e consolidar


a fruticultura tropical, abordando diversas culturas desde a situação nacional
e capixaba, os principais problemas enfrentados e as possíveis soluções.
Também descreve a mais alta tecnologia empregada na cadeia produtiva
através de informações de autores que são referência em suas áreas e que
acumularam conhecimento ao longo de vários anos de pesquisa. Ainda,
servirá como consulta para estudantes, professores, produtores e
profissionais da área para aprimorarem seus conhecimentos.

Autores

13
CAPÍTULO 1

Situação da Fruticultura Brasileira e Capixaba

Almy Junior Cordeiro de Carvalho


Jalille Amim Altoé Freitas
Patrícia Gomes de Oliveira Pessanha

Introdução
A produção de alimentos no Brasil e no mundo tem batido recordes, ano
após ano. No caso brasileiro, é indiscutível a importância da produção
agrícola para a economia, com o superávit na balança comercial e a fatia
representada pela cadeia produtiva do agronegócio no Produto Interno
Bruto. O País tem tido chances de se firmar como grande celeiro e
fornecedor mundial de alimentos, assim como ocorre com os Estados
Unidos. Entretanto, no caso específico das frutas, principalmente para
consumo ao natural, os avanços obtidos pelo Brasil são muito tímidos ou
nulos.
O Brasil é, atualmente, o terceiro maior produtor mundial de frutas, atrás
apenas da China e da Índia, com um volume de produção estimado em 43,6
milhões de toneladas. Informações do Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF)
indicam que a fruticultura, com uma área plantada em torno em 2,2 milhões
de hectares, é responsável por, aproximadamente, 27% da mão de obra de
toda atividade agrícola do Brasil. No estado do Espírito Santo, a área
plantada em 2013, segundo dados do IBGE (2015), está próximo a 47 mil
hectares (ha), sendo que três espécies vegetais, a banana com 22 mil ha, o
coco anão verde com 11 mil ha e o mamão com seis mil ha, representam
mais de 82% de toda área plantada com frutas no estado.
A valorização das frutas como matéria-prima para a indústria e o
aumento de consumo na forma natural e em pedaços têm proporcionado
14
mudanças no sistema de produção e de comercialização. Mesmo assim,
apesar de ocupar o terceiro lugar no ranking mundial de produção de frutas,
o Brasil tem uma inserção inexpressiva no mercado de frutas frescas do
mundo. Com o elevado nível de exigência imposto pelos mercados externos
e dificuldades do produtor brasileiro em atender tais exigências, um dos
aspectos importantes para o desenvolvimento da fruticultura brasileira é
implantar políticas que aumente o consumo de frutas no mercado interno.
O consumo de frutas visando os aspectos funcionais e nutracêuticos
também é um fator que pode contribuir para a elevação do consumo de
frutas, pela importância destes compostos no aumento da expectativa de vida
da população, uma vez que o crescente aparecimento de doenças crônicas
tem ocasionado uma preocupação com a alimentação (Moraes e Colla,
2006).
Segundo Reetz et al. (2015), o consumo de fruta ao natural no Brasil está
em torno de 33 kg habitante-1 ano-1 e o recomendado pela Organização
Mundial da Saúde, para o consumo de frutas, legumes e hortaliças, gira em
torno de 150 kg habitante-1 ano-1. Além disso, o consumo brasileiro de frutas
apresenta baixa variedade, concentrando-se basicamente no consumo de
bananas e laranjas. Informações emitidas pela FAO (2015), afirmam que a
banana é a segunda fruta mais consumida no planeta, com 11,4 kg habitante -
1
ano-1, valores menores apenas que os obtidos para laranja, cujo consumo é
estimado em 12,2 kg habitante-1 ano-1. No caso específico da banana, os
maiores consumidores são habitantes da América do Sul, com consumo
estimado em 20 kg habitante-1 ano-1 (FAO, 2015).
O aumento do consumo de frutas, além de necessário para a ampliação do
negocio frutícola no Brasil, é fundamental para a saúde humana. Em
relatório emitido em 2003, a Organização Mundial da Saúde já indicava que
o baixo consumo de frutas, legumes e verduras está entre os 10 principais
fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o
risco de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e
alguns tipos de câncer. Ressalta-se que estudos recentes indicam que o
consumo de frutas ao natural, e em pedaços, são mais eficientes na
promoção da saúde, inclusive na diminuição do diabetes, quando comparado
ao consumo na forma de sucos (Muraki et al., 2013). Além disso, o consumo
de néctares e refresco, com baixa ou nenhuma concentração de frutas, não é

15
o caminho mais adequado para elevar o consumo de frutas pela população
brasileira.
Além do necessário avanço no consumo médio de frutas dos brasileiros,
para viabilizar, de modo mais sustentável, a produção é fundamental que
tenhamos redução nas perdas pós-colheitas e elevação na produtividade. Os
níveis de perdas pós-colheita da fruticultura brasileira são muito elevadas,
com índices maiores entre as fruteiras tropicais.
Os níveis de exigência do consumidor, não só no Brasil, com relação a
aparência dos frutos a serem adquiridos, tem provocado elevação substancial
nas perdas pós-colheita com aumento nos custos de produção. Ressalta-se
uma pequena lesão ou mancha pode tornar o fruto “imprestável” para a
comercialização, isso não é sustentável. Neste sentido, programas
governamentais na Europa tem estimulado o consumo de frutas que, de
acordo com as regras do comercio, estão fora do padrão e são consideradas
“feias”, mas que mantem características sanitárias e nutricionais próprias
para o consumo humano. O consumo destas frutas pode reduzir o custo de
produção e, como consequência, o preço do produto para o consumidor.

Produção brasileira e capixaba de frutas


O Brasil tem todas as características para ser um grande produtor e
grande exportador de frutas. O País apresenta condições edafoclimáticas que
o permite a produzir as mais diversas espécies de fruteiras desde o extremo
Sul do Rio Grande do Sul até extremo norte de Roraima, tem uma das
maiores populações do planeta e uma diversidade de frutas nativas ainda não
exploradas. Além das frutas tradicionais que o mundo comercializa em
grande escala, o Brasil tem potencial para ampliar a sua participação no
comercio de frutas tropicais e nativas tais como açaí, acerola, mangaba, as
spondias (cajá e outros), buriti, entre diversas outras que apresentam
propriedades funcionais como atividades antioxidantes, vitaminas, valor
nutricional e carotenóides importantes na promoção da saúde humana.
Apesar de ser o terceiro maior produtor de frutas do Mundo, dados do
IBGE (2015) indicam que nos últimos anos tem-se observado uma
estagnação, e ate redução, no volume de produção de várias frutas no Brasil
(Tabela 1).
Apesar dos graves problemas enfrentados pelos agricultores brasileiros,
principalmente no manejo dos problemas fitossanitários, com destaque para
16
as viroses, principal causa na redução da produtividade média em algumas
regiões do País, a área plantada e a produção do maracujá (Tabela 1) vem
apresentando incrementos substanciais nos últimos anos.
Para algumas frutas, o Brasil mantem-se em destaque na produção
mundial. A citricultura brasileira é a maior do mundo, sendo o Brasil o
maior produtor mundial, com 18.012.560 MT, o que representa mais que o
dobro dos Estados Unidos, que é o segundo maior produtor mundial de
laranja (FAO, 2015).
Na produção de mamão, com uma produção estimada pela FAO (2015)
em 1.517.696 MT, o que representa em torno de 13% da produção mundial,
o Brasil é o segundo maior produtor mundial dessa fruta, perdendo apenas
para Índia. O País se destaca ainda como o terceiro maior produtor de
abacaxi, atrás de Tailândia e Costa Rica.

Tabela 1. Estimativa da produção brasileira de algumas frutas no período de


2004 e 2013
Fruta 2004 2008 2012 2013
Abacate (t) 170.534 147.214 159.903 157.482
Abacaxi (mil frutos) 1.477.299 1.712.365 1.697.734 1.655.887
Banana (t) 6.583.564 6.998.150 6.902.184 6.892.622
Coco-da-baía (mil
2.078.226 2.149.322 1.954.354 1.926.857
frutos)
Goiaba (t) 408.283 312.348 345.332 349.615
Laranja (t) 18.313.717 18.538.084 18.012.560 17.549.536
Limão (t) 985.623 965.333 1.208.275 1.169.370
Mamão (t) 1.612.348 1.890.286 1.517.696 1.582.638
Manga (t) 949.610 1.154.649 1.175.735 1.163.000
Maracujá (t) 491.619 684.376 776.097 838.244
Tangerina (t) 1.163.213 1.079.697 959.672 937.819
Uva (t) 1.291.382 1.421.431 1.514.768 1.439.535
Fonte: IBGE (2015)

Para a banana, o País é o quinto maior produtor mundial, com uma


produção estimada em 6.902.184 MT em 2012, o que representa cerca de
8% da produção mundial, ficando atrás da Índia, China, Filipinas e Equador
17
(FAO, 2015). Ressalta-se que o Brasil foi, por muitos anos até início da
década de 80, o maior produtor mundial de bananas e vem, ano após ano,
perdendo espaço neste mercado. As dificuldades brasileiras para atender as
exigências do mercado mundial de frutas, aliado ao baixo consumo médio
no País, tem sido as principais causas desta estagnação.
O estado do Espírito Santo, com sua localização privilegiada e com as
características de clima e solo que possui, o que permite cultivo de frutas
com diferentes demandas, apresenta potencial para o cultivo das mais
diversas espécies frutícolas que pode estar associadas à elevação da
demanda do mercado consumidor interno e externo.
Apesar de todo o potencial, numa tendência semelhante a observada para
o Brasil, o estado do Espírito Santo apresentou, segundo dados do IBGE
(2015), redução na produção total de frutas na última década (Tabela 2).
Esta redução observada está diretamente ligada à produção de mamão, que
vem diminuindo (Tabela 2).

Tabela 2. Estimativa da produção capixaba de algumas frutas no período de


2004 e 2013
Fruta 2004 2008 2012 2013
Abacate (t) 8.555 2.772 3.154 3.329
Abacaxi (mil frutos) 31.464 32.029 48.229 50.431
Banana (t) 170.509 189.734 241.997 248.653
Coco-da-baía (mil frutos) 165.705 164.520 173.716 173.963
Goiaba (t) 6.544 9.964 8.069 7.892
Laranja (t) 25.380 18.497 15.771 15.889
Limão (t) 18.813 12.595 12.438 12.735
Mamão (t) 650.678 630.124 484.645 404.720
Manga (t) 6.201 6.768 13.572 13.544
Maracujá (t) 81.180 66.396 35.700 47.993
Tangerina (t) 16.305 15.879 21.761 22.306
Uva (t) 175 1.061 1.810 1.999
Fonte: IBGE (2015)

O Espírito Santo vem se destacando na produção de mamão a mais de


três décadas, chegou a produzir 40% do total brasileiro (Tabela 3), com
18
índices de produtividade muito superiores à média nacional (Tabela 4).
Entretanto, tanto a participação capixaba na produção brasileira vem caindo
quanto a produtividade, que chegou a ter média de 87.000 kg ha -1 no final da
década de 90, atualmente está em torno de 67.000 kg ha-1.
Entre os principais gargalos observados no processo produtivo e que vem
provocando dificuldades na produção de mamão no estado do Espírito Santo
destacam as dificuldades no manejo fitossanitário (incluindo o baixo número
de agroquímicos registrados para o controle de pragas e doenças), a
inconstância da precipitação pluviométrica e uso de sistemas de irrigação
que distribuem volumes hídricos muito maiores que as necessidades da
planta, as dificuldades para atender os níveis de exigência estabelecidos
pelos mercados internacionais, o que torna o processo produtivo
extremamente oneroso e de elevado risco, a perda de áreas consideradas
nobres que no passado eram cultivadas com o mamoeiro e atualmente foram
substituídas por café ou mesmo eucalipto, as dificuldades com relação a
qualidade, a quantidade e o custo da mão-de-obra e, ainda, a presença de
diferentes agentes no processo de comercialização, o que reduz a
lucratividade dos produtores.

Tabela 3. Proporção (%) da produção de frutas do estado do Espírito Santo


em relação ao total produzido no Brasil de 2004 a 2013
Fruta 2004 2008 2012 2013
Abacaxi 2,13 1,87 2,84 3,05
Banana 2,59 2,71 3,51 3,61
Coco-da-baía 7,97 7,65 8,89 9,03
Goiaba 1,60 3,19 2,34 2,26
Laranja 0,14 0,10 0,09 0,09
Limão 1,91 1,30 1,03 1,09
Mamão 40,36 33,33 31,93 25,57
Manga 0,65 0,59 1,15 1,16
Maracujá 16,51 9,70 4,60 5,73
Tangerina 1,40 1,47 2,27 2,38
Uva 0,01 0,07 0,12 0,14
Fonte: IBGE (2015)

19
Apesar dos problemas enfrentados na produção capixaba de mamão e
maracujá, o estado vem apresentando avanços consistentes na produção do
abacaxi, da banana e da manga (Tabela 2). No caso específico da banana,
verifica-se que nos últimos anos incrementos na produtividade média que
gira em torno de 35% (Tabela 3).

Tabela 4. Produtividade média de algumas frutas no Brasil e no estado do


Espírito entre 2004 e 2013
Fruta Local 2004 2008 2012 2013
Abacate Brasil 14.290 15.573 16.712 16.296
-1
(kg h ) ES 11.965 10.744 11.992 12.062
Abacaxi Brasil 24.969 25.952 25.919 25.919
-1
(kg h ) ES 20.564 18.428 22.144 22.144
Banana Brasil 13.407 13.639 14.346 14.209
(kg h-1) ES 8.659 9.482 11.335 11.410
Coco-da-baía Brasil 7.285 7.488 7.583 7.484
(frutos ha-1) ES 14.289 14.707 15.907 16.198
Laranja Brasil 22.246 22.158 24.689 24.992
(kg h-1) ES 11.225 10.276 12.617 12.762
Limão Brasil 20.299 21.978 25.518 25.594
-1
(kg h ) ES 21.599 21.420 22.053 22.071
Mamão Brasil 46.809 51.668 48.473 49.474
-1
(kg h ) ES 65.938 79.002 68.501 67.747
Manga Brasil 13.640 15.602 16.038 16.526
(kg h-1) ES 14.157 14.554 13.821 13.626
Maracujá Brasil 13.441 14.037 13.416 14.635
(kg h-1) ES 25.032 27.334 25.702 23.973
Tangerina Brasil 18.492 20.034 18.512 18.508
(kg h-1) ES 19.114 18.550 20.745 20.886
Fonte: IBGE (2015)

Comportamento semelhante aos verificados na produção capixaba de


mamão tem sido observado para o maracujá (Tabelas 2 e 3). Esta cultura
tem no estado níveis de produtividade média maiores que aquelas

20
observadas para o Brasil (Tabela 4). Entretanto, os sérios problemas que os
produtores estão enfrentando no manejo de pragas e doenças, principalmente
aquelas provocadas pelo ataque de vírus, promoveu redução substancial na
área plantada e no volume de produção (Tabela 2), onde a participação do
estado na produção nacional reduziu de 16,5% para 5,73% no período de
2004 a 2013 (Tabela 3).

Exportações Brasileiras de frutas


Apesar do elevado potencial brasileiro para produção de frutas, de todas
as vantagens advindas da posição geográfica do País, das condições
edafoclimáticas, do emergente mercado consumidor interno, a participação
brasileira no mercado mundial de frutas é muito pequena. Segundo o
MAPA, o Brasil participou, em 2012, com 7,6% do mercado agrícola
mundial e com apenas 0,87% quando se referem apenas à frutas frescas.
Informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior do Brasil, indicam que após um acréscimo consistente nas
exportações brasileiras no período compreendido entre 2000 e 2008, onde o
Brasil triplicou (de US$ 387 milhões para US$ 1.033 milhões) o valor
monetário obtido com exportação no período, o que se verifica, a partir de
2008, é uma redução do valor financeiro obtido com exportações de frutas.
Em contrapartida, os recursos gastos pelo País com importações no período
entre 2000 e 2013 aumentaram de US$ 212 milhões para US$ 856 milhões.
A tendência demonstrada é um déficit na balança comercial de frutas no
comercio exterior brasileiro, o que pode ser minimizado com as recentes
elevações da moeda americana frente à brasileira nos anos de 2014/2015.
Entre as frutas brasileiras, as que têm melhor participação no mercado
mundial são os melões, com 8,5% do mercado mundial e mangas, com 7,3%
e 7,1% em castanha de caju. No caso da banana, por exemplo, num
mercado mundial estimado em US$ 12,8 bilhões, a participação brasileira
era de 0,27% em 2013. Este percentual é de 0,7% na maçã e de 0,2% em
laranjas ao natural. Em volume total exportado, em 2013, os valores são: os
melões, com 191.413 t, mangas, com 122.009 t, bananas, com 99.216 t e
maçãs, com 85.437 t, limões e limas com 78.603 t e mamões, com 28.561 t.
(33.688 t em 2014). Quanto às importações, em 2013 os resultados são:
pera, com 189.866 t, maçã, com 93.972 t e uvas, com 57.558 t.

21
Entre os principais desafios brasileiros para ampliar a sua participação no
mercado mundial de frutas, alguns pontos podem ser destacados. Existem,
por parte dos grandes mercados consumidores, além de barreiras tarifárias
que encarecem os nossos produtos, as barreiras não tarifarias oriundas de
exigências para evitar o ingresso de algumas pragas em outros Países e do
desconhecimento de LMR (Limites Máximos de Resíduos) de agroquímicos
permitido para várias frutas e para diferentes princípios ativos. Isso é ainda
mais complicado quando se avalia o que é conhecido no mercado como
minor crops, que são espécies vegetais de baixa demanda no mercado
mundial, entre elas várias fruteiras tropicais brasileiras. Para estas espécies
vegetais possuem poucas alternativas de princípios ativos registrados para o
manejo fitossanitário das lavouras, o que dificulta a comercialização no
mercado mundial. Não se pode negligenciar os níveis de exigência que os
mercados mundiais (consumidores) impõem à aparência das frutas.

Conclusão
A ciência tem apontado caminhos para avanços no processo produtivo,
mas para a grande maioria dos agricultores estas indicações ainda não estão
sendo praticadas. Dois casos chamam bastante atenção: a aplicação correta
no manejo agronômico, que promoveria aumentos substanciais na
produtividade agrícola e os procedimentos apropriados no circuito que vai
da colheita à mesa do consumidor, cuja ausência ou precariedade provoca
perdas superiores a 30%, podendo chegar a mais de 50% como no caso da
banana. Algumas estimativas indicam que a maior parte destas perdas ocorre
durante o manuseio e, principalmente, no transporte dos produtos.
As tecnologias existentes, se corretamente aplicadas, podem ampliar a
produtividade e os ganhos econômicos e melhorar a exploração da
fruticultura. De qualquer modo, algumas ações são fundamentais para
promover avanços consistentes na fruticultura brasileira e capixaba:
 O aumento do consumo de frutas no mercado interno brasileiro e
mecanismos que reduzam as perdas pós-colheitas, incluindo o
consumo de frutos atualmente considerados inadequados, em função
da presença de pequenos defeitos, é primordial para o avanço do
agronegócio na área;

22
 Acordos bilaterais ou regionais que permitam maior participação
brasileira no mercado internacional de frutas. Divulgar ainda mais a
fruta brasileira no exterior;
 Urgência no desenvolvimento de técnicas que permitam maior
automação da fruticultura brasileira, principalmente a tropical;
 Aumentar as opções de produtos/técnicas para controle de pragas e
doenças, buscando principalmente controle biológico. Dificuldades
no controle de moléstias em culturas de menor interesse econômico
mundial dificultam avanços com diversas espécies vegetais;
 Desenvolvimento de cultivares resistentes/tolerantes ao ataque de
patógenos precisa ser o foco principal da ciência brasileira;
 Implantação de procedimentos que permitam o manejo mais
eficiente dos recursos hídricos existentes para irrigação.

Referências
FAO (2015). Food and Agriculture Organization of the United Nations.
http://faostat.fao.org/site/339/de¬fault.aspx>. Acesso em: 10 abril. 2015.
IBGE (2015). Produção Agrícola Municipal 2013.
http://www.sidra.ibge.gov.br/ Acesso em: 23 abril de 2015.
MORAES, F.P.; COLLA, L.M. Alimentos funcionais e nutracêuticos:
definições, legislação e benefícios à saúde. Revista Eletrônica de
Farmácia. v.3, n.2, p.109-122, 2006.
MURAKI, I.; IMAMURA, F.; MANSON, J.E.; HU, F.B.; WILLETT, W.C.;
van DAM, R.M.; SUN, Q. Fruit consumption and risk of type 2 diabetes:
results from three prospective longitudinal cohort studies. British Medical
Journal. p.1-15. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.f5001. 2013:
REETZ, E.R.; KIST, B.B.; SANTOS, C.E. DOS; CARVALHO, C.; DRUM,
M. Anuário Brasileiro da Fruticultura 2014. Gazeta Santa Cruz, Santa
Cruz do Sul. 104p. 2015.

23
CAPÍTULO 2

Nematoides em Frutíferas

Dimmy Herllen Silveira Gomes Barbosa

Introdução
Entre as principais limitações ao aumento da produtividade agrícola em
todo o mundo estão os nematoides fitoparasitos. De fato, estimativas
indicam perdas de produção média em torno de 12% nas principais culturas,
o que em 1994 totalizava cerca de 80 bilhões de dólares (Barker et al.,
1994). Os fitonematoides têm uma ação espoliadora sobre as plantas
hospedeiras, sendo o dano variável com a espécie, o nível populacional, o
hospedeiro e as condições ambientais, dentre outros fatores. Além das
deformações anatômicas dos tecidos dos hospedeiros, muitos dos principais
processos fisiológicos, como respiração, fotossíntese, absorção e
translocação de água e nutrientes e balanço hormonal, podem ser afetados
direta ou indiretamente pelo parasitismo por nematoides (Wang e
Bergeson,1974). Consequentemente, as plantas podem apresentar desfolha,
murcha, queda acentuada na produção, amarelecimento, crescimento
reduzido ou nanismo, clorose e sintomas de deficiências nutricionais
(Moreira & Sharma, 2001; Gomes et al., 2008); dentre outros sintomas.
Os nematoides fitoparasitas (ou fitonematoides) são microrganismos
tipicamente vermiformes que habitam o solo e atacam as plantas
(geralmente as raízes ou outros órgãos subterrâneos). Sua disseminação é
altamente dependente do homem, seja por meio de mudas contaminadas
(material propagativo), deslocamento de equipamentos de áreas
contaminadas para áreas sadias, trafego de trabalhadores e animais,
escoamento de água de chuva ou de irrigação.

24
No Brasil, encontram-se amplamente disseminados, sendo responsáveis
pela redução na produção e no valor comercial de diversos produtos
agrícolas, entre eles as frutíferas (Campos et al., 2002). Estes patógenos
causam danos consideráveis às raízes das plantas, diminuindo a eficiência
das adubações pela redução da absorção de nutrientes.

Principais fitonematoides das frutíferas: Abacaxi, Banana, Citros,


Goiaba, Mamão e Maracujá
Abacaxizeiro
Há relatos de mais de 100 espécies de fitonematoides associadas ao
sistema radicular do abacaxizeiro (Sipes et al., 2005), porém a
patogenicidade da maioria das espécies encontradas é ainda pouco
conhecida. Os nematoides mais danosos ao abacaxizeiro são Pratylenchus
brachyurus, Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita e Rotylenchulus
reniformis. Dependendo do nível populacional no solo e raízes, estes
nematoides causam redução no peso dos frutos e, consequentemente, queda
na qualificação e no valor de venda desses (Caswell et al., 1990). Estudos
indicam que esses patógenos podem causar perdas de até 74% da produção
(Costa & Matos, 2000; Sipes et al., 2005).
As plantas apresentam sistema radicular reduzido, folhas cloróticas,
estreitas e de tamanho reduzido. Consequentemente, a produção é retardada
e com frutos de baixo peso e valor comercial reduzido (Arieira et al., 2008).
Além das reduções de produtividade causadas pelos nematoides, em
muitas regiões produtoras tem se verificado o co-parasitismo entre estes
parasitos e a cochonilha Dysmicoccus brevipes, o que pode dificultar a
diagnose, acentuar os sintomas, reduzir a eficiência de medidas de controle e
incrementar os danos.
Pratylenchus brachyurus é um endoparasita migrador, normalmente
encontrado no interior das plantas. Os ferimentos resultantes da penetração
do nematoide causam lesões necróticas evidentes ao longo das raízes, que
coalescem, matando todo sistema radicular (Tihohod, 1997). Além disso,
constituem-se em porta de entrada para infecções secundárias por outros
organismos (fungos e bactérias) que causam a destruição do sistema
radicular. As raízes primárias e secundárias são destruídas e a planta exibe
um sistema radicular pobre. Sintomas gerais no campo de ataque por P.
brachyurus são semelhantes aos causados por outros nematoides. Entre eles
25
podem ser citados: sistema radicular necrosado e pobre, redução do
crescimento das plantas provocando reboleiras, coloração amarelada e
avermelhada das folhas e perda de turgescência da folha com murchamento
das pontas, lembrando sintoma de deficiência nutricional ou estresse hídrico,
prolongamento do estádio vegetativo, diminuição do peso de frutos, da
produção, e em casos mais severos, a morte da planta (Ferraz & Zem, 1982).
No Brasil foi observada a sua presença em várias regiões produtoras,
sobretudo nos Estados de Minas Gerais, Paraíba, Bahia, Sergipe e Rio de
Janeiro (Manso et al., 1994).
A ocorrência de P. brachyurus é mais frequente em regiões de baixa
altitude, ocasionando danos econômicos consideráveis. Esses nematoides
podem sobreviver de um ciclo para outro da cultura em restos de raízes no
solo, por 20 a 22 meses. Na ausência de restos de raízes, sua sobrevivência
se limita a 07 meses (Sipes et al., 2005). Sob condições climáticas adversas,
outros fitonematoides, como Helicotylenchus sp., Rotylenchulus reniformis e
Criconemella sp. predominam na rizosfera do abacaxizeiro.
Apesar da patogenicidade já comprovada deste nematoide, existem
poucos estudos sobre nível de dano. Contudo, levantamentos em vários
Estados brasileiros detectaram todas as principais espécies parasitas do
abacaxizeiro em níveis populacionais mais elevados, como Cavalcante et al.
(1984), que observaram densidades de Pratylenchus sp. de até 34.200
espécimes/100 g de raiz.
No Estado de Sergipe, observaram-se perdas causadas por P. brachyurus,
em áreas anteriormente cultivadas com cana de açúcar, de até 52% da
produção (Costa e Matos, 2000).
A espécie Pratylenchus zeae também está associada à rizosfera do
abacaxizeiro. No entanto, sua patogenicidade a essa cultura ainda não foi
comprovada (Sipes et al., 2005).
Os nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) são endoparasitas
sedentários, cujos estádios juvenis (J2) vermiformes penetram nas raízes do
abacaxizeiro, localizando-se perto do cilindro central e injetando toxinas.
Provocam, assim, o crescimento anormal dos tecidos. A infecção ocorre nas
pontas das raízes, pelas larvas, resultando na formação de galhas,
apresentando numerosos fendilhamentos. Infestações severas limitam a
capacidade de absorção de nutrientes pelas raízes, afetando o
desenvolvimento das plantas (Rohrbach & Apt et al., 1986). Os machos são
26
vermiformes e emergem das raízes, tendo pouca ou nenhuma importância na
reprodução.
O sintoma típico causado pelo ataque desses nematoides é a formação de
galhas radiculares. Além disso, podem ser observados redução do
comprimento das raízes, a produção exagerada de raízes secundárias, a
diminuição do peso da folha, o florescimento precoce e a diminuição do
peso do fruto.
O abacaxizeiro é bastante suscetível a Meloidogyne javanica e
Meloidogyne incognita, havendo relatos de danos severos causados por
esses fitonematoides em vários países como Austrália, África do Sul, Costa
do Marfim, Estados Unidos, México, Porto Rico, Tailândia e Zimbábue
(Guérout,1965; Ayala, 1969; Rohrbach & Apt, 1986).
No Brasil, dentre as espécies de Meloidogyne que atacam o abacaxizeiro,
M. javanica é a mais importante. A espécie M. incognita ocorre em algumas
áreas produtoras de abacaxi, mas não tem grande importância econômica
(Ploetz et al., 1994).
Rotylenchulus reniformis é um dos principais problemas fitopatológicos
da abacaxicultura. Esses nematoides estão amplamente distribuídos,
parasitando o abacaxizeiro em diversos países de clima tropical e subtropical
(Sipes et al., 2005).
Plantas atacadas exibem um sistema radicular subdesenvolvido,
apresentando a formação de um emaranhado de radicelas, além de o solo
ficar aderido, devido à massa gelatinosa de ovos depositados pela fêmea
(Ferraz & Zem, 1982). Como sintomas reflexos no campo são observados
amarelecimento, redução de crescimento, tamanho desigual de frutos e
reboleira de plantas mortas (Caswell et al., 1990).
Durante o desenvolvimento das mudas o nível populacional se mantém
alto, podendo ocorrer redução durante a fase de florescimento. De acordo
com Radovich et al. (2004), este fato pode estar relacionado a inibidores de
protease no sistema radicular do abacaxizeiro.
No Havaí, no México, na África do Sul e nas Filipinas, M. javanica e R.
reniformis causam danos severos em plantas de abacaxi. Plantas infectadas
por M. javanica reduzem o crescimento em 10% quando comparadas às
plantas sadias, enquanto R. reniformis causa tombamento e colapso das
socas.

27
O estudo da interação de fitonematoides (Pratylenchus brachyurus,
Helicotylenchus sp., Meloidogyne javanica, Rotylenchulus reniformis) e a
cochonilha (Dysmicoccus brevipes) em plantas de abacaxizeiro BRS Vitória
em condições de microparcelas na Região Norte Fluminense foi realizado
por Ferreira (2014). O autor verificou que 16 meses após a inoculação a
associação do parasitismo dos fitonematoides com a murcha do abacaxizeiro
causou sintomas na parte aérea mais severos do que aqueles causados por
esses agentes individualmente, sugerindo uma interação entre esses agentes
para criar um quadro sintomatológico que, usualmente, é atribuído a esses
agentes etiológicos individualmente. Além disso, as plantas parasitadas ou
co-parasitadas apresentaram raízes necrosadas, redução na massa fresca de
raízes (até 88%), massa fresca e largura da Folha-D, comprimento dos
frutos, massa dos frutos (até 34,6%) e largura dos frutos. Em alguns
tratamentos (combinações), houve atraso na maturação dos frutos, redução
do número e peso de propágulos por planta e morte de até 40% das plantas.

Bananeira
A bananeira é hospedeira de uma gama variada de importantes
nematoides, com destaque para o nematoide cavernícola (Radopholus
similis), os nematoides causadores de galhas radiculares do gênero
Meloidogyne (M.incognita, M.javanica e M. arenaria), o nematoide
espiralado (Helicotylenchus multicinctus), o nematoide reniforme
(Rotylenchulus reniformis) e o nematoide de lesões radiculares
(Pratylenchus coffeae) (Gowen & Quénéhervé, 1990). Dentre os
fitonematoides parasitas da cultura, os gêneros Meloidogyne e Radopholus
são os que causam as maiores peras e estão amplamente distribuídos nas
regiões produtoras.
O parasitismo dos nematoides reflete negativamente em aspectos
relativos à produção da planta, como atraso na emissão do pendão floral,
formação de menor número de cachos, menor peso médio dos cachos e
menor rendimento por área. Além das perdas quantitativas e qualitativas,
existem perdas indiretas, como maiores gastos com fertilizantes para
compensar a redução do crescimento da planta, maiores investimentos com
outros insumos e mão de obra para evitar o tombamento de plantas e obter
aumento na produção.

28
Os nematoides se destacam como um dos principais patógenos da
bananeira devido a sua ampla disseminação em todo o mundo. As perdas
causadas podem ser consideradas elevadas, na ausência de práticas de
controle podem chegar a 100%. Os nematoides atacam todo o sistema
radicular e o rizoma, influenciando negativamente a sustentação e a
absorção de nutrientes, afetando, dessa forma, a produção da planta (Speijer
& De Waele, 1997).
Os danos causados pelos fitonematoides podem ser confundidos ou
agravados com outros problemas de ordem fisiológica, como estresse
hídrico, deficiência nutricional ou pela ocorrência de pragas e doenças de
origem virótica, bacteriana ou fúngica, devido à redução da capacidade de
absorver água e nutrientes, pelo sistema radicular.
Entre as espécies de nematoides das galhas, Meloidogyne incognita e M.
javanica são as que ocorrem com frequência em todos os Estados brasileiros
onde se cultivam bananeiras. Plantas atacadas apresentam redução na
longevidade, queda no vigor, as folhas ficam pequenas, o cacho não atinge a
massa ideal, o sistema radicular apresenta-se pobre em raízes levando ao
tombamento da planta na fase produtiva (Rossi, 2002), podendo levar a
perda de até 100% da produção, principalmente de bananeiras do subgrupo
Cavendish.
Quando a população desses nematoides é baixa, a presença do nematoide
será observada em longo prazo, quando as plantas apresentarem redução na
longevidade, queda no vigor, diminuição da produção com menor massa nos
cachos. Com altas infestações, as plantas não se desenvolvem, as folhas
ficam pequenas, o cacho não atinge a massa ideal, o sistema radicular
apresenta-se pobre em raízes levando ao tombamento da planta na fase
produtiva (Rossi, 2002).
A destruição dos tecidos das raízes das plantas afeta a absorção de água e
nutrientes e enfraquece o sistema de ancoragem da planta.
Consequentemente, as plantas podem apresentar crescimento reduzido,
reduzido número e tamanho de folhas, redução do peso do cacho e da vida
produtiva, prolongamento do ciclo vegetativo e consequente aumento do
período entre colheitas, diminuição na emissão de raízes e tombamento das
plantas. São frequentes os casos de tombamento de plantas pela ação do
vento ou pelo peso do próprio cacho, podendo levar a perda de até 100% da
produção, principalmente de bananeiras do subgrupo Cavendish.
29
Espécies de Meloidogyne são conhecidas pela sua alta variabilidade
genética, sendo que algumas espécies são altamente polífagas, com mais de
300 espécies de hospedeiros (Trudgill e Blok, 2001) enquanto outras têm
uma gama de hospedeiras restrita. Diante deste quadro, as espécies de
Meloidogyne podem ser consideradas de grande importância para a
bananicultura brasileira.
Radopholus similis é considerado o principal nematoide da bananeira,
ocorrendo na maioria das regiões produtoras do mundo e destacando-se em
função dos danos causados e pela sua ampla distribuição. Esse parasita
caracteriza pela colonização do córtex das raízes e rizoma causando lesões e
cavidades marrom-avermelhadas que evoluem para necrose, podendo
estender-se para todo o córtex, sem atingir o cilindro central. Essas necroses
são portas de entradas para outros microrganismos e com isso em uma etapa
posterior compromete o cilindro central tornando a raiz fraca e quebradiça.
Aliado a isso, ao movimentar-se e ferir os tecidos das raízes e rizomas, o
nematoide cavernícola pode favorecer a entrada de fungos, como Fusarium
oxysporum f.sp. cubense, causador do mal-do-Panamá (uma das principais
doenças da cultura).
O ciclo de hospedeiros de R. similis inclui, além da bananeira, plantas de
várias famílias botânicas, destacando-se cana-de-açúcar, milho, café e
algumas ornamentais, chá e gengibre. No entanto, no Brasil, causa prejuízos
apenas na bananeira e na fruteira-do-conde (Campos et al., 2002). Outra
espécie de nematoide importante para a cultura da bananeira é
Helicotylenchus multicinctus, também conhecido como nematoide
espiralado. Os sintomas causados consistem de pequenas lesões
acastanhadas com aparência de pontuações superficiais, principalmente nas
raízes mais grossas. Em condições de intenso ataque, podem coalescer,
dando um aspecto necrosado às raízes.
Pratylenchus coffeae, pertence ao grupo dos nematoides das lesões
radiculares, também tem sido associado a prejuízos na bananicultura. As
lesões causadas por P. coffeae apresentam-se menos extensas e evoluem de
maneira mais lenta, quando comparadas às originadas por R. similis.
Possuem distribuição mais restrita do que H. multicinctus, sendo encontrado
nas regiões produtoras em apenas 2,5% das amostras (Cordeiro & Kimati,
1997).

30
Citros
No Brasil, apenas o nematoide dos citros (Tylenchulus semipenetrans) e o
nematoide das lesões radiculares dos citros (Pratylenchus jaehni) podem ser
considerados nematoides-chave para a citricultura. Para outras regiões do
mundo são citadas cerca de uma dezena de espécies causadoras de prejuízos
aos citricultores.
Os prejuízos causados variam entre plantações e dependem,
principalmente, do nível populacional, tratos culturais e da susceptibilidade
do porta-enxerto. Muitas vezes, devido aos tratos culturais inadequados, a
infestação de nematoides é quase despercebida ou desconhecida pelos
agricultores, sendo frequentemente confundida com má nutrição das plantas
associada às condições de baixa fertilidade do solo.
Tylenchulus semipenetrans causa a doença referida como “declínio lento
dos citros”. A principal consequência da infestação de pomares por esses
nematoides é a redução no desenvolvimento das árvores infectadas, de tal
forma que, com o passar dos anos, essas são menores e menos produtivas.
Além disso, exibem ramos mais finos, menor massa foliar, em geral com o
verde menos intenso que plantas sadias, e frutos menores. Em períodos
prolongados de déficit hídrico pode haver considerável queda de folhas e até
morte de plantas.
A suscetibilidade do porta-enxerto, densidade populacional, idade e
sanidade das plantas são importantes para determinar as perdas causadas por
T. semipenetrans. Verdejo-Lucas & McKenry (2004) mencionaram que, em
diferentes estudos, as perdas causadas por T. semipenetrans em citros foram
estimadas em 10 a 30%, dependendo do nível de infecção.
O nematoide das lesões radiculares dos citros (Pratylenchus jaehni) foi
descrito em 2001, a partir de uma população coletada em Itápolis – SP. Em
viveiros e plantas mais novas, Pratylenchus jaehni aparenta ser mais
agressivo que T. semipenetrans, prejudicando o desenvolvimento das mudas,
que apresentam menor taxa de crescimento. A ocorrência de sintomas nos
pomares, geralmente se dá em reboleiras. Inicialmente, as plantas
apresentam folhas na tonalidade verde-palha, redução na densidade da
massa foliar, os ramos ficam mais finos e folhas e frutos menores que em
uma planta sadia. Em condições de déficit hídrico acentuado, ocorre queda
de folhas, podendo haver morte de plantas devido à acentuada destruição de
radicelas.
31
Goiabeira
A goiabeira é uma eficiente planta hospedeira para nematoides. Há
citações na literatura mundial de 72 espécies associadas a essa fruteira
(McSorley, 1992), sendo Meloidogyne o principal gênero daninho às
goiabeiras (Cohn & Duncan, 1990).
Doenças causadas por nematoides na goiabeira não eram conhecidas
pelos produtores até recentemente. O primeiro registro ocorreu na Ásia em
1985. Atualmente, sabe-se que tais parasitas são fatores limitantes da
produção e da qualidade de frutos de goiaba em várias partes do mundo
(Barbosa, 2001).
Em goiabeiras, a espécie que causa maiores perdas é Meloidogyne
enterolobii Yang and Eisenback, 1983 (sin. M. mayaguensis Rammah &
Hirschmann, 1988) foi descrito na China parasitando Enterolobium
contortisiliquum (Vell.), mas já foi relatado em diversos hospedeiros
selvagens e cultivados em vários países. Na goiabeira, O nematoide infecta
todos os tipos de raízes, desde as radicelas superficiais até a raiz pivotante
mais lignificada, localizada a mais de 50 cm de profundidade.
Este nematoide foi assinalado pela primeira vez em 2001, nos municípios
de Petrolina-PE, Curaçá e Maniçoba-BA, causando danos severos em
plantios comerciais de goiabeira (Carneiro et al., 2001). Em seguida o
patógeno foi identificado em diversas regiões do Brasil: nos Estados do Rio
de Janeiro (Lima et al., 2003), de São Paulo (Almeida et al., 2006; Torres et
al., 2005), do Rio Grande do Norte (Torres et al., 2005), do Ceará (Torres et
al., 2005), do Espírito Santo (Lima et al., 2007), do Paraná (Carneiro et al.,
2006c), do Mato Grosso (Soares et al., 2007), do Mato Grosso do Sul
(Asmus et al., 2007), de Santa Catarina (Gomes et al., 2008), do Rio Grande
do Sul (Gomes et al., 2008) e no Vale do Sub-Médio São Francisco (Moreira
et al., 2003a; Moreira et al., 2003b).
Em diversas cultivares de goiabeira, o parasitismo por esse nematoide
está associado a um declínio generalizado da planta, com sintomas nas
raízes (galhas e apodrecimento) e reflexos na parte aérea (bronzeamento,
amarelecimento, queima dos bordos e queda das folhas), com frequência
advindo a morte da planta (Souza et al., 2007; Gomes, 2007; Gomes et al.,
2011). Tais sintomas podem estar associados a processos já relatados em
outros patossistemas envolvendo Meloidogyne spp., tais como a obliteração
32
de vasos condutores, alteração no padrão de absorção e / ou translocação de
água e de nutrientes, alterações fisiológicas e predisposição da planta a
patógenos secundários (Melakeberhan & Webster, 1993).
Gomes et al. (2011) comprovaram que a associação sinergística entre M.
enterolobii e Fusarium solani (Mart.) Sacc causa uma doença complexa - o
declínio da goiabeira - cujos sintomas são apodrecimento progressivo do
sistema radicular, queima dos bordos das folhas, amarelecimento e queda
das folhas e morte da planta. A doença é causada pelo efeito sinérgico
desses organismos, onde o parasitismo pelo nematoide predispõe as plantas
à podridão da raiz causada pelo fungo
Prejuízos relacionados a meloidoginose na goiabeira são variáveis,
havendo constatação de perdas de até 100 % da produção. Dos 6 mil
hectares que eram cultivados com goiabeiras no perímetro irrigado pela
Codevasf na Região de Petrolina - PE, cerca de 4.500 já foram dizimados
por este nematoide, havendo uma estimativa de que cerca de 10% dos
plantios são perdidos anualmente nesta região (Carneiro, 2007). Na região
de São João da Barra (RJ), em áreas irrigadas e de solo arenoso praticamente
todos os produtores de goiaba já sofreram perdas econômicas, sendo que
alguns optaram pela erradicação dos pomares e mudança de atividade (Lima
et al., 2003). As perdas econômicas diretas devido a esta doença foram
calculadas em mais de R$ 112 milhões (Pereira et al., 2009).

Mamoeiro
A cultura do mamoeiro pode ter sua produtividade afetada pelo ataque de
fitonematoides, situação que pode se agravar pelo fato de que eles não são
facilmente detectados pelo agricultor. Dentre as espécies destes nematoides
associadas ao mamoeiro citam-se: Meloidogyne arenaria, M. hapla, M.
incognita, M. javanica, Rotylenchulus. reniformis e R. parvus, que são as
mais comuns em cultivos de mamão. Porém, somente as espécies M.
incognita, M. javanica e R. reniformis são consideradas de maior
agressividade.
As perdas na produção causadas por fitonematoides não têm sido
devidamente quantificadas. De maneira geral, no campo, estão associadas à
redução da vida útil da planta e à queda brusca na produção (Cohn e
Duncan, 1990).

33
Maracujazeiro
A cultura do maracujá apresenta baixa produtividade devido,
principalmente, à presença de doenças causadas por patógenos do solo,
como os nematoides fitoparasitas (Junqueira et al., 1999; Bruckner, 2001).
Na literatura nematológica, encontram-se diversos relatos de associações
entre fitonematoides e o maracujazeiro, especialmente Passiflora edulis e P.
edulis f. flavicarpa. Dentre as diversas espécies de nematoides associadas à
cultura do maracujazeiro, somente as espécies Meloidogyne spp. (M.
incognita é a mais importante) e Rotylenchulus reniformis, representam
perdas econômicas na cultura, pois levam a uma limitação na produção dos
frutos e redução na longevidade da planta (Sharma et al., 2004). A formação
de galhas nas raízes das plantas leva à clorose na parte aérea e nanismo nas
plantas (Silva Junior et al., 1988).
Os nematoides constituem-se num fator limitante para muitas culturas e a
falta de pesquisas sobre esse parasita na cultura do maracujá leva a uma
situação de incerteza sobre os reais danos à sua produção.

Táticas de manejo de fitonematoides em frutíferas


O controle dos nematoides tem chances de sucesso apenas no contexto do
manejo integrado, no qual se devem considerar as espécies de nematoides
presentes, as condições de condução e produtividade da lavoura, destino e
lucratividade da produção e nível tecnológico do agricultor (Campos et al.,
2002).
A amostragem da população do nematoide no campo possibilita
determinar as espécies presentes e verificar a suscetibilidade da cultura a
estes parasitos. Conhecendo-se o nível de infestação objetiva-se prever o
dano para a cultura, bem como estratégias de manejo que possam ser
utilizadas.
A filosofia do manejo integrado de nematoides baseia-se na redução dos
fitonematoides em níveis populacionais que não causem dano econômico
(Gonçalves e Silvarolla, 2001).
As estratégias de controle de fitonematoides ideais são aquelas que
diminuem custos, aumentam a produção e não agridem o ambiente. A
utilização de matéria orgânica, o controle biológico, o uso de cultivares
resistentes, a solarização, a rotação de culturas, o pousio, o uso de cultivos
intercalares e a cobertura do solo são interessantes por reduzir a população
34
de alguns nematoides e manter a biodiversidade nos diferentes
agroecossistemas (Ritzinger e Fancelli 2006; Guimarães et al., 2003).
Atualmente, há diversos métodos de controle de nematoides, como rotação
de culturas, uso de cultivares resistentes, uso de nematicidas, entre outros
(Amaral et al., 2002). Entretanto, esses métodos nem sempre são adequados
às práticas do agricultor, ou economicamente viáveis.
A busca de novas alternativas no controle de fitonematoides em
substituição aos nematicidas convencionais constitui-se numa preocupação
mundial (Ferraz & Freitas, 2004), com a realização de pesquisas para a
identificação de substâncias bioativas que possam ser empregadas no
manejo integrado de pragas e doenças, com menor impacto ao ambiente
(Castro, 1989; Isman, 2000).

Preparo do solo e escolha da área


A redução da umidade do solo mediante um bom preparo,
revolvendo bem o solo, de forma prolongada, expondo os nematoides aos
raios solares, geralmente causa a sua desidratação, reduzindo-lhes a
população. Para evitar danos causados por nematoides, deve- se
preferencialmente escolher o plantio em áreas indenes.

Mudas sadias e tratamento de mudas


A utilização de mudas sadias, provenientes de viveiros idôneos e
registrados constitui-se numa medida muito importante para evitar a
introdução de nematoides na área. Para a bananeira, recomenda-se o uso de
mudas micropropagadas ou quando o produtor desejar utilizar mudas
provenientes da lavoura deve-se realizar o descorticamento do rizoma
combinado com o tratamento térmico ou químico.

Alqueive/Pousio
O alqueive consiste na manutenção da área de plantio, sabidamente
infestada, sem vegetação durante certo tempo com aplicações de herbicidas
ou arações constantes para expor os ovos e formas juvenis aos raios solares.
Como os nematoides não sobrevivem sem plantas hospedeiras, incluindo as
plantas daninhas, esta prática promove a redução de sua população. Plantas
daninhas, como Amaranthus spp., mantidas durante um ano em solo de
pousio, suportam populações elevadas de nematoides das galhas e
35
nematoide reniforme como foi verificado no Havaí em área de abacaxizeiro.
No Brasil, em culturas anuais, o pousio é normalmente realizado na
entressafra, que coincide com a época pouco chuvosa do ano. No caso de P.
brachyurus, o pousio surge como uma medida potencialmente eficiente,
sobretudo, nas áreas com alta infestação. Algumas espécies de nematoides
possuem, durante a história do seu ciclo de vida, estratégias para fugir às
condições adversas do meio ambiente. Assim, o sucesso do alqueive/pousio
dependerá das espécies de nematoides envolvidas.

Rotação de culturas
Dentre as novas alternativas no controle de fitonematoides, pesquisas
indicam plantas que apresentam efeitos antagônicos a nematoides, podendo
ser utilizadas em rotação de culturas, plantio intercalar ou aplicadas como
tortas ou extratos vegetais (Oliveira, 2005).
A utilização de cultivo de plantas não hospedeiras de nematoides pode
tornar-se uma prática eficiente para reduzir a densidade populacional dos
nematoides. Várias espécies de plantas podem ser utilizadas em rotação
quando da renovação da lavoura ou em plantio nas entrelinhas,
principalmente, gramíneas e leguminosas, tais como: Braquiaria sp. ,
Stylosanthes gracilis (capim estilosante), Digitaria decumbens (capim
colchão), Crotalaria juncea, C. spectabilis (crotalária), Dolichos lab-lab
(lab-lab), Cajanus cajan (guandu), Stizolobium aterrimum (mucuna preta),
Mucuna deeringiana (mucuna anã), Tagetes erecta (cravo de defunto),
Canavalia ensiformis (feijão de porco), amendoim cavalo (Arachis
hypogaea L.), a aveia branca (Avena sativa L.), a aveia preta (Avena
strigosa Screb.), o azevém (Lollium multiflorum Lam.), a canola (Brassica
napus L.), o nabo forrageiro ( Raphanus sativus var. oleiferus L.) etc.
A utilização dessas plantas será baseada na indicação dos diferentes
nematoides registrados por meio das análises de solo e raízes da área de
plantio, pois a grande desvantagem da aplicação do cultivo de uma
determinada planta é a ação antagônica ou supressiva diferente entre as
espécies de nematoides.
A influência de espécies de plantas antagônicas e do alqueive sobre a
dinâmica populacional de nematoides no solo e nas raízes do abacaxizeiro
foi avaliada por Cassimiro et al. (2007). Das espécies avaliadas (Crotalaria,
Guandu anão, Mucuna-preta, Cravo-de-defunto e Feijão-de-porco), o cravo-
36
de defunto foi mais eficiente no controle de nematoides estabelecidos na
rizosfera do abacaxizeiro.

Adubação orgânica
A adição de matéria orgânica é bastante benéfica. A incorporação de
matéria orgânica pode ter efeitos diretos e indiretos sobre a população de
nematoides. Substâncias produzidas ou liberadas pelas plantas podem
exercer atividades nematicidas ou nematostáticas. A ação da matéria
orgânica está diretamente relacionada com o aumento da atividade dos
microrganismos antagônicos aos nematoides (fungos, bactérias, dentre
outros).
A decomposição de resíduos da atividade agrícola libera compostos que
podem atuar no controle de fitonematoides, a exemplo de esterco de curral,
cama de frango, casca de café, torta de mamona, farinha de carne e ossos,
resíduo liquido de sisal, manipueira, entre outros.
Na cultura do abacaxizeiro e demais, o uso de matéria orgânica deve ser
constante, pois resultados de pesquisas mostram que em áreas onde a
incorporação de matéria orgânica reduziu a população de nematoides, nos
cultivos subsequentes de abacaxi ocorreu rápido aumento na população do
nematoide, resultando em danos equivalentes a área onde o tratamento não
foi efetivado.
O efeito de diferentes níveis de adubação de esterco bovino enriquecido
com fosfato de rocha Piroxenito Calcosilicatada sobre a população de
nematoides fitoparasitas da cultura do abacaxizeiro no sistema orgânico de
produção foi avaliado por Barbosa et al. (2013), tendo verificado que
adubações do composto reduziu em até 55% o nível populacional dos
fitonematoides presentes no solo.
Santos et al. (2015) avaliaram o efeito de diferentes concentrações dos
resíduos de sisal, manipueira e lixiviado do engaço no controle de M.
incognita em bananeira em condições controladas. Maior desenvolvimento
vegetativo (parte aérea e raiz) e redução da multiplicação do nematoide
foram observados com a aplicação da manipueira a 30%, resíduo fermentado
de sisal a 10% e nematicida. O lixiviado do engaço a 30% também se
destacou no controle do nematoide. O resíduo de sisal a 20 e 30% causaram
fitotoxidez, reduzindo o desenvolvimento das plantas.

37
Na cultura da goiabeira, Souza et al. (2006) relataram que a aplicação de
60 Kg de esterco curtido por planta, a cada 120 dias, reduziu a população
média de J2 de M. mayaguensis (M. enterolobii) na rizosfera de goiabeiras
em um pomar comercial em São João da Barra (RJ). Segundo os autores, a
aplicação de torta de neem e o cultivo de Mentha sp. e mucuna-preta sob a
copa das goiabeiras não tiveram efeito extra sobre o nematoide no solo. Ao
longo dos 17 meses do experimento, a produtividade em duas safras das
goiabeiras parasitadas foi de 70% daquela observada em pomares isentos do
nematoide na mesma propriedade agrícola.
Gomes et al. (2010) conduziram experimentos em pomares de goiabeira
‘Paluma’ com um e sete anos de idade infestados com M. enterolobii com
aplicação de esterco de curral, bagaço de cana adicionado de torta de filtro,
adubação mineral e resíduo de abatedouro avícola. Os autores observaram
que o composto residual de abatedouro avícola e o esterco bovino
apresentaram potencial para o manejo do nematoide. O composto aviário e o
esterco bovino aplicados homogeneamente sob a copa da árvore resultaram
em maiores quedas populacionais de M. enterolobii e produtividade. A
análise econômica indicou ser economicamente inviável o manejo de
pomares altamente infestados pelo nematoide. Por outro lado, o manejo de
pomares moderadamente infestados é viável e rentável, através de
adubações químicas apropriadas combinadas com a aplicação de compostos
orgânicos ao solo, particularmente composto aviário e esterco bovino
aplicados homogeneamente sob a copa das árvores.

Manejo genético – Variedades ou porta-enxertos resistentes


Das diversas táticas de manejo para o controle dos nematoides, as
melhores chances de sucesso estão no melhoramento vegetal, sendo o uso de
variedades resistentes a maneira mais econômica para o agricultor viabilizar
a atividade em áreas infestadas por nematoides.
O produtor deve procurar optar por novas variedades que apresentem
resistência aos fitonematoides, fazendo plantios escalonados em substituição
às variedades tradicionais e mais suscetíveis.
Sipes & Schmitt (1994) avaliaram o comportamento de 18 genótipos de
abacaxizeiro a M. javanica e R. reniformis, tendo verificado que todos
genótipos foram mais suscetíveis a M. javanica, sendo os clones de Smooth

38
Cayenne os menos tolerantes a M. javanica e mais tolerantes a R. reniformis
comparados aos demais genótipos.
No Brasil, as observações realizadas por intermédio de experiências
indicam que a campo as populações de P. brachyurus ocorrem em maiores
níveis populacionais na cultivar Pérola do que na Smooth Cayenne. Em
trabalho realizado na Estação Experimental de Pindorama do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) foi observado que as variedades Natal
Queen e Pérola são mais suscetíveis à P. brachyurus do que Smooth
Cayenne, reconhecidamente suscetível à espécie em questão (Dinardo-
Miranda et al., 1996). Estudo realizado na Embrapa Mandioca e Fruticultura
em casa de vegetação selecionou genótipos com resistência a P. brachyurus,
destacando como pouco resistentes os genótipos H-3607, LBB-1396,
Perolera, FRF-609 e Primavera (Costa et al., 1999). Na Costa do Marfim,
seis clones do grupo Queen e oito do grupo Pérola mostraram-se muito
suscetíveis a P. brachyurus.
O comportamento de 16 genótipos (variedades e híbridos) à P.
brachyurus foi avaliado por Barbosa et al. (2014a), tendo verificado reações
diferenciadas entre os genótipos, desde altamente suscetível (Gold) à
resistente (IAC Fantástico). As variedades BRS Imperial, BRS Vitória e
BRS Ajubá comportaram-se como moderadamente resistente, enquanto
Smooth Cayenne, Pérola e Perolera comportaram-se como pouco resistente
à P. brachyurus.
As cultivares de bananeira apresentam diferentes comportamentos
quando infectadas por diferentes fitonematoides, como verificado por
Barbosa et al. (2014b). Entre as variedades do tipo maçã, a cultivar BRS
Princesa apresenta um comportamento de moderada resistência aos
nematoides Meloidogyne incognita e M. javanica, enquanto a cultivar maçã
comporta-se como pouco resistente a estes patógenos. Além disso, a BRS
Princesa apresenta resistência ao fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense
agente causal do mal do panamá.
Dos 20 genótipos inoculados com M. incognita, 01 comportou-se como
altamente suscetível (Enxerto 33), 01 como suscetível (SH3640), 08 como
pouco resistentes (YB4247, Pacovan, Maçã, Dangola, Ambrosia, Garantida,
Vitória e Japira), 06 como moderadamente resistentes (Prata Anã, Princesa,
YB4203, Pacovan Kem, Grande Naine e Thap Maeo) e 04 como resistentes
(YB4217, Caipira, Ouro e Platina). Contudo, quando inoculados com M.
39
javanica 01 comportou-se como altamente suscetível (Dangola), 03 como
suscetíveis (Garantida, Enxerto 40 e Ouro), 02 como pouco resistentes
(Pacovan kem e Maçã), 13 como moderadamente resistentes (Caipira,
Ambrosia, SH3640, Princesa, YB4203, YB4247, Vitória, Grande naine,
Platina, Japira, Pacovan, Thap maeo e Prata anã) e 01 como resistente (YB
4247).
A cultivar BRS Platina que se comportou como moderadamente
resistente a M. javanica e resistente a M. incognita, por apresentar
resistência ao mal do panamá e a sigatoka amarela, além de tolerância à
sigatoka negra, constitui-se numa boa alternativa para os produtores que
cultivam banana do tipo prata.
Na cultura do citros, a suscetibilidade do porta-enxerto, densidade
populacional, idade e sanidade das plantas são importantes para determinar
as perdas causadas por T. semipenetrans. A apresentação de sintomas na
parte aérea geralmente só ocorre muito tardiamente e está relacionada com a
população de nematoides presentes nas raízes. A utilização de porta-
enxertos resistente ou tolerante, atualmente disponível tanto para T.
semipenetrans (Duncan & Cohn, 1990) quanto para P. jaehni (Calzavara &
Santos, 2005), pode ser um recurso valioso para o manejo de nematoides.
No caso de P. jaehni, Calzavara & Santos (2005) demonstraram que os
porta-enxertos tangerinas Cleópatra e Sunki, Citrumelo Swingle, Citrange
Carrizo e Poncirus trifoliata (L.) Raf. são resistentes ao nematoide. O limão
Cravo é suscetível, pois, entre os seis porta-enxertos testados, esse foi o
único no qual o nematoide se reproduziu. Para T. semipenetrans o porta-
enxerto comumente conhecido como resistente é P. trifoliata Algumas
seleções de P. trifoliata são altamente resistentes ao nematoide, e outras são
apenas moderadamente resistentes.
Na cultura da goiabeira, a melhor medida de controle é o uso de porta-
enxertos resistente. Carneiro et al. (2007) encontraram resistência moderada
em araçás da espécie P. friedrichsthalianium e resistência em três acessos de
P. Clatteyanum a M. Mayaguensis (M. enterolobii). Embora esses acessos
tenham se mostrado compatíveis na enxertia (50%), poucas plantas
sobreviveram em condições de campo. Maranhão et al. (2003) avaliaram a
reação de dezesseis materiais de goiabeira a M. incognita raça 1 e a M.
enterolobii. Em relação a M. incognita quatro foram moderadamente
resistentes, cinco pouco resistentes e seis suscetíveis, segundo a escala
40
proposta por Moura e Regis (1987). Em relação a M. enterolobii, dois
materiais foram moderadamente resistentes, oito pouco resistentes e quatro
suscetíveis. Entretanto, as plantas com resistência moderada ou com pouca
resistência não são efetivas para o controle da meloidoginose no campo,
especialmente em culturas perenes. Burla et al. (2007) avaliaram a reação
de vinte e seis acessos de goiabeira e um de araçá ao nematoide e
encontraram que todos os materiais avaliados foram suscetíveis segundo a
escala de Taylor e Sasser (1978).
Em maracujazeiro, Silva Júnior et al. (1988) avaliaram a reação de
algumas passifloráceas a M. incognita raça 1e encontraram maior resistência
nas espécies P. cincinatti, P. macrocarpa e P. edulis (cvs. Roxo Comercial e
Santos). Resistência a M. javanica também foi encontrada em maracujá-
amarelo Vermelhão, EC-2-0, MSC e Itaquiraí (Sharma et al., 2002).

Manejo biológico
O uso de produtos biológicos é um dos mais discutidos, apresentando
vantagens em relação ao químico, pois não contamina, não desequilibra o
meio ambiente e nem deixa resíduos, além de ser barato e de fácil aplicação
(Soares, 2006). Grande quantidade de organismos são capazes de repelir,
inibir ou mesmo levar a morte dos fitonematoides.
Mais de 200 inimigos naturais de fitonematoides têm sido reportados,
dentre eles, fungos, bactérias, nematoides predadores, ácaros e outros
(Stirling, 1991). Dentre estes, os fungos têm se destacado. Fungos
nematófagos são fungos com capacidade de capturar, parasitar ou paralisar
os nematoides em qualquer estádio de seu ciclo de vida. Os fungos são
divididos em grupos em função de seu modo de ação: ectoparasitas ou
predadores, endoparasitas, parasitas de ovos e fêmeas e produtores de
metabólitos tóxicos (Jansson et al., 1997). Dentre o grande número de
fungos parasitas de ovos conhecidos, apenas Pochonia chlamydosporia e
Paecilomyces lilacinus têm sido melhor estudados devido aos resultados
promissores apresentados (Jatala et al., 1980; Atkins et al., 2003).
Também as bactérias do gênero Bacillus, principalmente B. subtilis, além
de componentes da população microbiana do solo, rizoplano e filoplano,
apresentam características atrativas para os estudos de controle biológico de
doenças de plantas (Noronha et al., 1995), incluindo os fitonematoides.
Porém, para a comercialização desses antagonistas são necessárias muitas
41
pesquisas preliminares, dado que sua performance em campo pode ser
bastante inconsistente (Dong & Zhang, 2006).
Na cultura da goiabeira há diferentes trabalhos de pesquisas com
diferentes agentes de controle biológico de nematoides, como Soares et al.
(2007) que avaliaram o efeito de fungos associados a compostos orgânicos
na população de M. enterolobii, em plantas de goiaba infestadas no campo
em São Paulo. Para atingir esse objetivo aplicou-se um substrato colonizado
individualmente, pelos fungos Arthrobotrys musiformis, A. oligospora,
Paecilomyces lilacinus e Dactylella sp., bagaço de cana-de-açúcar e farelo
de arroz. Aos sessenta e cento e vinte dias foram realizadas avaliações da
população de nematoides, e os autores não observaram eficiência no
controle do nematoide em função do uso deste substrato.
Trudgill et al. (2000) realizaram levantamento em experimentos em casa
de vegetação de vários países e verificaram que a bactéria Pasteuria
penetrans é eficiente em reduzir a reprodução de M. enterolobii em várias
culturas como tabaco, tomate, melão, melancia e outras. Entretanto Carneiro
et al. (2004), avaliando vários isolados de Pasteuria penetrans no controle
deste nematoide, verificaram que nenhuma cepa da bactéria aderiu nos J 2,
concluindo que as perspectivas de uso dessa bactéria no controle biológico
desse nematoide são pouco provavéis.
Molina et al. (2007) conduziram três bioensaios, utilizando os nematoides
entomopatogênicos Steinernema feltiae Sn e Heterorhabditis baujardi
LPP7, para estudar o efeito destes na mortalidade de J2 de M. enterolobii .
Embora, esses trabalhos sejam interessantes, nenhum deles mostrou a
eficiência da técnica de controle biológico ao longo do tempo e a
porcentagem de redução populacional do nematoide, necessitando de mais
estudos em condições de campo.

Manejo químico
A aplicação de nematicidas é a medida de manejo mais empregada em
todo o mundo. Nos países onde os nematicidas são largamente utilizados,
tem sido verificada a redução da população inicial dos nematoides, havendo,
posteriormente, incremento do nível populacional. A erradicação desses
patógenos é difícil, pois os nematoides que permanecem no solo se
multiplicam, dando origem a novas populações, que poderiam ser mais
resistentes à dose inicialmente utilizada.
42
Na cultura do abacaxizeiro, em alguns países são realizadas duas
aplicações/ciclo, geralmente em pós-plantio, sendo carbofuran, terbufós,
cadusafós, ethoprophos, fenamiphos etc. alguns dos nematicidas utilizados.
No Havaí, as doses de nematicidas utilizadas são duas a três vezes
superiores às utilizadas há alguns anos, causando um desequilíbrio ecológico
nos solos por prejudicarem a assimilação de certos nutrientes como ferro,
manganês e fósforo (Sipes, 2005). Embora a utilização de nematicidas tenha
possibilitado manter as lavouras produtivas, sendo a medida de manejo mais
utilizada em alguns países, no Brasil não há nenhum produto registrado para
a cultura (Agrofit, 2010). Além disso, a baixa eficiência e a alta toxicidade
são as principais desvantagens dos nematicidas, sendo necessário buscar
outras estratégias de controle com menores danos ao ambiente.
Na cultura da bananeira, o uso regular de nematicidas é a prática mais
aplicada para manter bananais produtivos (Gowen, 1995). Embora
eficientes, os nematicidas são altamente tóxicos ao homem e ao meio
ambiente. Os produtos comerciais recomendados para o controle de
nematoides na cultura da bananeira são: Diafuran 50, Cierto 100 GR, Ralzer
50 GR, Furacarb 100 GR, Furadan 100 G, Furadan 50 GR (Agrofit, 2010).
Moreira et al. (2001) tentaram, sem sucesso, inibir o parasitismo de
Meloidogyne spp. utilizando os nematicidas Carbofuran® e Fenamiphos®.
Ao cultivar mudas de goiabeiras estaqueadas ou enxertadas em sacos
plásticos com solo naturalmente infestado, os autores observaram que estes
produtos não impediram o desenvolvimento do nematoide. Em São João da
Barra - RJ, alguns produtores observaram apenas um breve efeito protetor
dos pomares com Furadan® na formulação granulada, observando-se uma
rápida perda do produto no perfil do solo arenoso e o ressurgimento das
galhas radiculares causadas por M. mayaguensis. Segundo Carneiro (2003),
foram infrutíferas algumas tentativas de controle em cafezais cubanos com
Nemacur®, Temik® e Furadan®, e em goiabais com Cadusafós®.
Para várias frutíferas não existem produtos nematicidas registrados.

Referências
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43
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48
CAPÍTULO 3

Baixa Produtividade e Alternância de Produção em Mangueira ‘Ubá’

Juliana Cristina Vieccelli


Moises Zucoloto
Dalmo Lopes de Siqueira

1. Introdução
A mangueira ‘Ubá’ Mangifera indica (L.) é bastante conhecida em
algumas regiões do Brasil, sobretudo nos estados de Minas Gerais
(Benevides et al., 2007) e Espírito Santo onde é encontrada crescendo
espontaneamente em praticamente todos os municípios do norte capixaba e
zona da Mata Mineira (Medina et al., 1981; Silva et al., 2012). Segundo
Medina et al. (1981) acredita-se que o cultivar seja proveniente do Estado de
Pernambuco, da ilha de Itamaracá, onde recebe o nome de ‘Jasmim’.
Posteriormente foi introduzida no município de Ubá, Minas Gerais e por
esse motivo recebe o nome de mangueira ‘Ubá’.
Devido à coloração atrativa da polpa (amarelo alaranjado) e excelente
sabor, a mangueira ‘Ubá’ se tornou o principal cultivar utilizado pelas
indústrias produtoras de suco de manga (Silva et al., 2012). Além disso, seu
suco também é usado em misturas com o suco de outros cultivares, para
realçar-lhes o sabor e a cor, em um processo conhecido como blendagem
(Oliveira et al., 2013).
Quanto ao rendimento industrial, segundo Benevides et al. (2008),
valores na ordem de 50% são considerados satisfatórios para a
industrialização de mangas. Em um estudo para a caracterização física e
química de acessos de manga Ubá na região da Zona da Mata de Minas
Gerais, visando identificar materiais de interesse industrial, Oliveira et al.
(2013), encontraram valores médios de rendimento de polpa entre 69% e
49
71%, enquanto Silva et al. (2009) encontraram valor médio de 61,2% e
Galli et al. (2008) de 73,65%, em média. Sendo assim, o rendimento
industrial da manga ‘Ubá’ pode ser considerado acima do satisfatório.
Além disso, sua polpa apresenta fibras finas, curtas e macias, o que lhe
confere qualidade desejável (Benevides et al., 2008).
Quanto ao teor de sólidos solúveis (SS), que de acordo com Chitarra
& Chitarra (2005) pode ocorrer variações entre espécies, cultivares,
estádios de maturação e clima. Na manga ‘Ubá’ esses valores podem
variar de 9,3 a 20,5°Brix (Gonçalves et al. 1998, Benevides et al. 2008;
Faraoni et al., 2009; Oliveira et al.; 2013). Já os valores de acidez total
(AT) podem variar de 0,28 a 1,8% de ácido cítrico (Benevides et al.,
2008; Oliveira et al., 2013). A relação SS/AT é muito importante na
avaliação do sabor dos frutos, pois esta aumenta com o amadurecimento,
devido ao decréscimo na acidez.
Apesar da importância da mangueira ‘Ubá’ e as relevantes características
que a diferem das demais mangueiras, tanto na região da Zona da Mata
Mineira, como o Norte do Estado do Espírito Santo, existem vários
problemas relacionados à cultura. Dentre eles podem ser mencionados a alta
variabilidade entre plantas quanto à morfologia, desuniformidade de
maturação e características dos frutos, produtividade e desuniformidade de
florescimento e consequentemente, de produção (Oliveira et al., 2013).
Portanto, o florescimento irregular da mangueira ‘Ubá’ tem afetado
diretamente toda a região produtora, haja vista que em todas as áreas
implantadas, o florescimento tem sido insatisfatório e, como consequência,
tem-se registrado baixa produtividade. Esse problema tem levado alguns
produtores a até mesmo erradicar a cultura, enquanto que outros, mesmo não
obtendo produtividade satisfatória, insistem na manutenção da cultura.
Entretanto, a erradicação da cultura causa enormes prejuízos aos
produtores, considerando o alto investimento necessário desde a implantação
da lavoura até o início da produção. Portanto, a cultura carece de
informações para o manejo adequado, fato que se tem agravado nos últimos
anos, devido ao início da produção dos pomares que receberam incentivos
de órgãos governamentais para sua introdução.

50
2. Principais fatores que afetam a produtividade e a alternância de
produção
Vários fatores afetam direta ou indiretamente a produtividade e a
alternância de produção em mangueira ‘Ubá’, como a seleção de plantas
matrizes, a estrutura da flor, polinização, brotações vegetativas e
reprodutivas, reservas de carboidratos, nutrição mineral, doenças, clima e
hormônios, que serão discutidos a seguir com mais detalhes.

2.1. Seleção de plantas matrizes


As plantas matrizes são de extrema importância para o sucesso de todas
as culturas, não sendo diferente para a mangueira ‘Ubá’, pois delas são
extraídos os garfos e/ou borbulhas para a enxertia e formação de pomares
homogêneos. Segundo Castro Neto et al. (2002), as plantas matrizes devem
ser selecionadas com base em seu comportamento durante vários anos, tendo
em vista características como alta produtividade e pouca ou nenhuma
alternância de produção, dentre outras. Entretanto, esse tipo de seleção
dificilmente ocorre devido à existência de híbridos naturais e o
desconhecimento ou desconsideração desse fato pelos viveiristas e
produtores, o que tem resultado, frequentemente, na propagação vegetativa
de indivíduos inferiores (Rocha et al., 2012).
A mangueira ‘Ubá’ foi disseminada, predominantemente, de forma
sexuada por meio de sementes provenientes de frutos de pomares
domésticos, o que originou grande variabilidade quanto à morfologia, época
de colheita e características dos frutos, resistência a pragas e doenças, entre
outros fatores. Essa variabilidade deve-se ao grande número de cultivares
existentes e também à ocorrência de híbridos que foram produzidos
naturalmente ao longo dos anos, visto que a polinização da mangueira é
predominantemente cruzada (Iyer & Degani, 1997), ou ainda, aos mutantes
provenientes de mutações somáticas (Mukherjee, 1997).
O melhoramento da mangueira usando polinização controlada é difícil,
pelo fato do período juvenil ser longo (6 a 8 anos), pelas plantas serem
altamente heterozigotas, pela presença de somente uma semente por fruto e
pelo baixo pegamento dos frutos.
Devido à variabilidade genética observada em mangueiras ‘Ubá’ na Zona
da Mata Mineira, a região é propícia para trabalhos de melhoramento
genético, visando a seleção de clones.
51
Ciente dos problemas enfrentados e da variabilidade entre plantas de
mangueira ‘Ubá, mencionada anteriormente, a Universidade Federal de
Viçosa em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais – FAPEMIG iniciou uma pesquisa visando
selecionar clones superiores. Foram selecionados duzentos acessos em toda
a Zona da Mata de Mineira que foram multiplicados e plantados no
município de Visconde do Rio Branco. Esses acessos estão em fase de
avaliação, com o objetivo de selecionar mangueiras com características
agronômicas desejáveis.

2.2. Estrutura da flor e polinização


O crescimento da mangueira ocorre através de fluxos vegetativos. A
paralização do crescimento dos ramos é necessária para o amadurecimento
dos mesmos, propiciando condições ideais para a floração e, posteriormente,
frutificação e desenvolvimento dos frutos.
Segundo Pinto & Ferreira (1999), a mangueira possui inflorescências do
tipo panícula, que se desenvolvem a partir de gemas terminais de ramos
maduros, possuindo flores hermafroditas e masculinas.
Em alguns cultivares, 2 ou 3% das flores na panícula são perfeitas, porém
em outros, esse número chega a 60 e até a 70%. No entanto, não há
correlação entre a porcentagem de flores perfeitas e a produtividade da
mangueira (Popenoe, 1927; Popenoe, 1971), pois, mesmo em condições
favoráveis, a proporção de frutos para flores perfeitas é de 1: 1600. Na Índia,
estudos indicam que a porcentagem de flores perfeitas pode variar de 0,74%
a 68% (Donadio & Ferreira, 2002).
Ainda em relação ao número de flores perfeitas por plantas, Lima-Filho
et al. (2002) afirmaram que o número de flores perfeitas em mangueira pode
sofrer alteração ao longo dos anos e, dependendo do cultivar e da
localização da panícula na planta, e o número de flores perfeitas por planta
pode variar de 2 a 75%.
Em estudo sobre o florescimento e a frutificação da mangueira ‘Ubá’,
Lemos (2014) observou a ocorrência de 1,68% de flores hermafroditas e de
98,32% flores masculinas no ano de 2011 e, em 2012, 9,39% de flores
hermafroditas, enquanto que as flores masculinas foram 90,6%, por
panícula.

52
A polinização das flores da mangueira é feita por insetos, na sua grande
maioria, moscas e abelhas, vespas, besouros e borboletas (Faegri & Van Der
Pijl, 1979; Kill & Siqueira, 2006).
A presença do néctar disposto sobre a glândula nectarífera exposta
favorece aos insetos da ordem Díptera que possuem aparelho bucal em
forma de esponja, embora o néctar também esteja acessível a outros
visitantes de aparelho bucal curto, que também podem contribuir para a
polinização, sendo que a flor da mangueira possui algumas características
típicas de flores que são polinizadas por moscas: corola simples, sem
profundidade, guias de néctar presentes, nectários de fácil acesso e órgãos
sexuais bem expostos, sendo que a sua fecundação é considerada pouco
eficiente, porque, somente de 3 a 35% das suas flores são fecundadas (Viana
et al., 2006).
Há muito tempo vêm se estudando a biologia floral e a importância da
polinização para a produção de frutos em mangueira, existindo, porém,
pontos de vista variados entre os diversos autores quanto à estratégia
reprodutiva (Young, 1942; McGregor, 1976; Singh, 1997).
Young (1942), em experimentos na Flórida com o cultivar Haden, não
encontrou diferença significativa na produção de frutos oriundos da
autopolinização e da polinização cruzada. Por outro lado, em experimentos
realizados com a mangueira ‘Keitt’, em Israel, Dag & Gazit (2000)
observaram a produção de 1 kg de frutos por planta de pequeno porte,
quando as flores não recebiam visitação de polinizadores e de 61 kg de
frutos por planta quando a polinização era aberta. Neste mesmo
experimento, registraram-se 46 espécies diferentes de insetos, pertencentes
às ordens Díptera, Himenóptera e Coleóptera, sendo considerados pelos
autores como polinizadores efetivos, os dípteros e abelhas melíferas (Apis
mellifera).
Singh (1997) observou que panículas completamente ensacadas não
desenvolviam frutos e que, quanto maior o tempo de exposição da panícula à
visitação, maior o número de frutos produzidos.
De fato, os polinizadores têm o papel de promover a transferência do
pólen ao estigma da flor, ou seja, tornar possível o crescimento e
amadurecimento do fruto. Sem a sua presença, o processo seria
economicamente inviável, principalmente na mangueira, pois a transferência

53
manual do pólen é complexa devido às pequenas dimensões da flor (Viana
et al., 2006), que possuem de 6 a 8 mm (Kill & Siqueira, 2006).
A abertura das flores ocorre ao longo do dia, com maior ocorrência no
período da manhã e, em uma mesma panícula, é possível encontrar botões,
flores fechadas, recém-abertas e em senescência floral. As flores recém-
abertas apresentam corola de cor creme e anteras de cor violeta, sendo o
tempo de vida da flor de três dias (Kill & Siqueira, 2006).
Algumas práticas podem otimizar os serviços de polinização nos pomares
de mangueira ‘Ubá’, como a condução e poda das plantas no sentido de
facilitar a exposição das inflorescências, uma vez as abelhas e moscas
preferem visitar as inflorescências expostas ao sol e posicionadas em locais
de fácil acesso (ápice das copas).
Outra medida de grande importância é evitar que agrotóxicos, quando
necessários, sejam utilizados no período da manhã quando ocorre o pico de
visitação dos polinizadores, devendo esta aplicação ser feita,
preferencialmente, ao final da tarde. A manutenção da vegetação do entorno
também é uma estratégia, uma vez que as árvores nativas servem de local de
abrigo e reprodução para as abelhas melíferas e nativas (Kill & Siqueira,
2006).

2.3. Brotações vegetativas e reprodutivas


Nos trópicos úmidos e quentes a mangueira apresenta tendência de
crescimento vegetativo excessivo em detrimento da floração e produção de
frutos (Davenport & Núñez-Elisea, 1997), pois é uma espécie cujo
florescimento é influenciado principalmente pelas baixas temperaturas
(Rahim et al., 2011; Ramírez & Davenport, 2010). Segundo os mesmos
autores, baixas temperaturas (18 ºC diurna e 10 ºC noturna) promovem a
indução floral, enquanto que, altas temperaturas (30 ºC diurna e 25 ºC
noturna) promovem crescimento vegetativo, mesmo com aplicação de
retardantes de crescimento. Chaikiattiyos et al. (1994) observaram que
baixas temperaturas (15 ºC diurna e 10 ºC noturna) reduziram o crescimento
vegetativo e induziram o florescimento da mangueira ‘Sensation’.
Como descrito anteriormente, a indução do florescimento em mangueiras
pode ser regulada por fatores hormonais e por carboidratos. Hormônios
como as auxinas, citocininas e giberelinas parecem regular a sincronização
do desenvolvimento de gemas, bem como na determinação da direção de seu
54
desenvolvimento como gema floral ou vegetativa. Além disso, a atuação de
supostos estímulos florais produzidos nas folhas regulados pela temperatura,
de inibidores florais em folhas e frutos e da atividade de gemas durante o
ciclo floral tem sido considerados (Davenport, 2006; Ramírez & Davenport,
2010).
Normalmente, para contornar o problema da tendência de crescimento
vegetativo excessivo, em detrimento da floração e produção de frutos, são
utilizados reguladores vegetais.
Técnicas eficientes, como a indução floral utilizando paclobutrazol
(PBZ) no florescimento e frutificação (Cardoso et al., 2007), permitem
estratégias de comercialização para períodos favoráveis de mercado e
sucesso econômico no cultivo da mangueira.
A indução floral em mangueira, por meio de substâncias químicas, como
o PBZ, bloqueia a biossíntese de giberelinas, o que faz com que a planta
reduza o crescimento vegetativo e, consequentemente, induza o
florescimento (Rademacher, 2000). Essa técnica permite o estabelecimento
de estratégias de comercialização para períodos favoráveis de mercado
(entressafra). A aplicação do PBZ na maioria das culturas é feita via solo,
geralmente na dose de 1g do princípio ativo por metro de copa (Cardoso et
al., 2007).
Trabalhos utilizando reguladores vegetais foram conduzidos para o
cultivo da mangueira nas condições semiáridas, principalmente no cultivar
‘Tommy Atkins’, para a qual foram definidas doses, época e forma de
aplicação, como parte das tecnologias visando à indução floral (Mouco &
Albuquerque, 2005). No entanto, para a mangueira ‘Ubá’ ainda há carência
de informações quanto a utilização de PBZ para o controle do florescimento,
necessitando de maiores estudos.

2.4. Reservas de carboidratos


A indução do florescimento pode ser resultante do acúmulo de níveis
ótimos de carboidratos nas gemas, os quais, associados a supostos estímulos
florais, desencadeariam a indução floral (Blaikie et al., 1999).
As interações fisiológicas existentes entre os órgãos vegetais capazes de
exportar carboidratos (fontes) e os órgãos que demandam estes compostos
(drenos) são conhecidas como relações fonte-dreno. Tais relações são
importantes no desenvolvimento das plantas, pois influenciam na sua
55
produção e no tamanho dos frutos (Minchin et al., 1997). Os principais
carboidratos acumulados são amido e açúcares solúveis redutores e não
redutores, sendo a sacarose o principal açúcar não redutor, mobilizado nos
processos de transporte na direção fonte-dreno (Silva, 2011).
As alterações nas reservas são diretamente influenciadas pelas boas
práticas culturais, que causam efeitos significativos na translocação e
alocação de carbono fixado durante o processo fotossintético e que vão
refletir na obtenção de frutos em quantidade e qualidade, sem alternância de
produtividade (Silva, 2011).
O manejo da planta através de podas e a adubação mineral correta estão
entre as práticas culturais que vão influenciar as reservas e a alocação de
carboidratos que irão causar reflexos no aumento ou na diminuição da
produção de frutos comerciais. As técnicas de poda comumente aplicadas
para mangueiras são a apical, de formação e poda drástica (Davenport, 2006;
Ramíres & Davenport, 2010).

2.5. Nutrição mineral


De acordo com Galli et al. (2012a), apesar dos avanços tecnológicos
observados na mangicultura, a fertilização mineral ainda é feita de forma
empírica, em virtude da escassez de informações sobre o manejo nutricional
adequado para a planta. No entanto, estudos demonstram que a adubação
adequada, controlada por meio de análises químicas do solo e das folhas,
permite ganhos de produção significativos.
Sergent et al. (2005) avaliando durante quatro anos doses de nitrogênio e
potássio em mangueiras ‘Haden’ cultivadas na Venezuela, observaram que
houve uma tendência benéfica na produtividade, com a aplicação desses
macronutrientes, já que a relação funcional entre o potássio e o número de
frutos, para os diferentes níveis de nitrogênio, indicou que se obtêm maiores
quantidades de frutos com as maiores doses de nitrogênio e de potássio.
Quanto aos micronutrientes, o boro é o que mais afeta a produtividade da
mangueira e a qualidade dos frutos, sendo importante para a polinização e
desenvolvimento de frutos e essencial para a absorção e uso do cálcio (Galli
et al., 2012b). Segundo Silva & Faria (2004) a deficiência de boro resulta
em pobre florescimento e polinização, além de frutos de tamanho reduzido.

56
A qualidade dos frutos da mangueira depende, além do fator genético, do
ponto ideal de colheita e também de aspectos ligados ao estado nutricional
das plantas (Prado, 2004).
Sendo assim, é importante que se proceda a análise de solo e sua
posterior correção antes da implantação de um pomar e também é a
adubação correta após a implantação do pomar. Esse é um trato cultural de
extrema importância para qualquer fruteira, não sendo diferente para a
mangueira ‘Ubá’.

2.6. Doenças
As duas doenças fúngicas importantes que ocorrem em mangueiras, cuja
incidência afeta a produtividade são o oídio e a antracnose.
O oídio é uma doença de grande importância econômica para a
mangueira, considerando-se que a infecção ocorre no período de
florescimento e frutificação das plantas. Nesta fase, quando as condições
climáticas são favoráveis, com temperaturas altas e umidade relativa
reduzida ocorrendo após temperaturas amenas e alta umidade relativa, a
doença torna-se severa, provocando deformações em folhas novas,
crestamento e queda em folhas mais velhas, além de abortamento e queda de
flores. Os frutos apresentam-se manchados e com o pedúnculo mais fino e
quebradiço (Lima, 2007).
Galli et al. (2012b), estudando a incidência de doenças em 17 cultivares
de manga em sistema de cultivo orgânico, no estado de São Paulo,
concluíram que a mangueira ‘Ubá’ foi uma das mais suscetíveis ao oídio.
A antracnose também é um dos mais importantes problemas
fitossanitários da mangueira, afetando ramos jovens, folhas, inflorescências
provocando a sua queda e, na ráquis, onde urgem lesões que podem
ocasionar a queda de frutos. Os frutos podem ser afetados em qualquer
estádio de desenvolvimento e a doença é favorecida por condições de alta
umidade e temperaturas amenas (Lima, 2007).
Em estudo realizado por Fischer et al. (2009), os autores avaliaram
doenças na pós-colheita em frutos de diferentes cultivares de mangueira em
São Paulo, dentre as quais, a ‘Ubá’. Os autores concluíram que a antracnose
foi a doença mais frequente em todas as variedades estudadas. Portanto, o
manejo adequado de arquitetura de planta por meio de poda e aplicação de
fungicidas registados para a cultura no momento oportuno, são ações de
57
suma importância para redução da queda das flores e frutos. Os manejos
citados tornam-se praticamente obrigatórios no processo de produção da
mangueira ‘Ubá’, visto que em áreas onde não é realizado o controle de
doenças fúngicas, a produção é seriamente comprometida, inviabilizando a
produção comercial.

2.7. Clima
A mangueira é cultivada nas mais diversas regiões equatoriais, tropicais e
mesmo nas subtropicais que apresentam fatores limitantes ao seu
desenvolvimento, florescimento e frutificação.
A temperatura é um fator importante para o crescimento e
desenvolvimento da mangueira. Temperaturas muito elevadas (superiores a
32 ºC) quando associadas à baixa umidade relativa e ventos fortes, podem
prejudicar o florescimento e a frutificação, enquanto que, temperaturas
baixas (inferiores a 2 ºC) e a ocorrência de geadas podem impedir a abertura
das flores e o desenvolvimento do tubo polínico, e ainda, provocar queima
nas brotações novas e panículas. Ventos intensos e constantes podem
prejudicar a produção, pois derrubam flores e frutos, causam lesões nos
frutos devido ao atrito e aumentam a transpiração das plantas (Silva et al.,
2000). A utilização de quebra-ventos pode ser uma excelente alternativa em
locais onde a ocorrência de ventos fortes é comum.
As precipitações de chuvas intensas e constantes também interferem no
florescimento e vigoroso desenvolvimento vegetativo (Reis, 1999), já que o
estresse hídrico é um importante componente do florescimento. Além disso,
chuvas na época da floração causam danos por retirarem os grãos de pólen
do estigma, além de diluir o fluído estigmático, condicionando a não
retenção do pólen e assim, contribuindo para a queda de flores (Fonseca,
2002).
Quanto ao fotoperíodo, que é a alteração das horas de luz ao longo do
dia, este não influencia na emissão de ramos reprodutivos na mangueira
(Saúco, 1999; Ramírez & Davenport, 2010). Assim, de maneira geral, a
mangueira pode ser considerada como uma planta neutra em relação ao
fotoperiodismo.

3. Conclusões

58
São inúmeros os desafios a serem enfrentados diante da baixa
produtividade e alternância de produção observados na mangueira ‘Ubá’.
Porém, com o conhecimento e detalhamento dos diferentes fatores que estão
envolvidos no processo, novos caminhos podem ser seguidos e as
dificuldades superadas. No entanto, para que todos os desafios sejam
superados, ainda é necessário que se desenvolvam mais pesquisas com esse
cultivar.
Vislumbra-se que, após o desenvolvimento de mais estudos sobre a
mangueira ‘Ubá’ e a posterior divulgação das informações, a produção
cresça ao longo dos anos, implicando, ainda, na confiança por parte dos
produtores para a implantação de novas áreas e ampliação dos investimentos
em áreas já implantadas. Assim, haverá maior necessidade de mão-de-obra
e, consequentemente, aumento do emprego e renda, favorecendo a
permanência do homem no campo. Também será uma alternativa para as
pessoas alocadas de forma precária e desumana nos grandes centros, a
retornar para o campo e viverem em condições confortáveis.
As empresas de processamento de polpa, que demandam de grande
quantidade dessa matéria-prima, também ganharão devido à garantia do
fornecimento da matéria prima em quantidade suficiente e de qualidade, o
que favorecerá a busca por novos mercados consumidores e ampliação dos
mesmos.

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64
CAPÍTULO 4

Controle Fitossanitário em Papaya: O Desafio de Produzir


um Fruto sem Resíduos

Geraldo Antônio Ferreguetti


Edilson Romais Schmildt
Omar Schmildt

Introdução
Na cultura do mamoeiro entre os principais problemas de ordem
fitossanitária estão pragas e doenças fúngicas e viróticas, cuja severidade e
incidência são influenciadas pelas condições climáticas, principalmente pela
temperatura, umidade e precipitação pluvial (Martins et al., 2009). A
ocorrência destas pragas e doenças causa prejuízos diretos quando danificam
as flores e os frutos, e, sua ocorrência nas folhas, no caule ou nas raízes
enfraquece a planta, reduzindo a quantidade e a qualidade do mamão
produzido. A eficiência do controle de pragas e doenças envolve duas
etapas, a primeira é o reconhecimento do sintoma e identificação do agente
causal, a segunda é o estabelecimento de uma estratégia de controle que
pode ser tanto curativo como preventivo (Neves, 2007).
Sabe-se que para as culturas agrícolas alcançarem altos índices de
produtividade, o uso de agrotóxicos no controle de pragas e doenças é parte
fundamental do modelo agrícola contemporâneo. Seu impacto social e
ambiental demanda constante preocupação por parte da sociedade. Como
exemplo disto, no Brasil a ANVISA (2010) por meio do Programa de
Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) ao monitorar
18 alimentos em todos os estados, exceto São Paulo que tem seu próprio

65
programa, constatou que em 37% das amostras, não foram detectados
resíduos, 35% apresentaram resíduos abaixo do Limite Máximo de Resíduos
(LMR) estabelecido, e 28% foram consideradas insatisfatórias por
apresentarem resíduos de produtos não autorizados ou, autorizados, mas
acima do LMR. O índice de resíduos no mamão, considerando os
insatisfatórios foi de 30,4%. Outro problema verificado é os diferentes
LMRs de cada princípio ativo, exigidos nos mercados do Brasil, Europa e
Estados Unidos, não permitindo em alguns casos a utilização do produto
durante o período da colheita, em função do período de carência dos
mesmos. Estes são apenas alguns dos problemas que temos como desafio a
superar para produzir um fruto sem resíduos.
Pragas e doenças de importância econômica para o mamoeiro
Diferentes artrópodes pragas atacam a cultura do mamoeiro em todo
mundo. Verifica-se que os danos causados podem ser consequentes do
ataque a diferentes órgãos das plantas. Em levantamento acerca destas
pragas, Culik et al. (2003) elaboraram um inventário, a partir de revisão de
literatura técnica e cientifica, listando todos os artrópodes pragas da cultura
do mamoeiro a nível mundial. Conforme os autores os danos podem ocorrer
em sua maioria em folhas, frutos e troncos (125 espécies), e em menor
proporção em flores (5 espécies), em raízes (3 espécies) e em sementes (1
espécie), ainda outras 40 espécies foram identificadas como vetores de
doenças do mamoeiro. Apesar da ocorrência de um número expressivo de
pragas, apenas algumas poucas espécies, num total de 49 são reconhecidas
como pragas de importância econômica para o mamoeiro. Este levantamento
de artrópodes pragas traz uma grande contribuição para o programa de
Produção Integrada de Mamão no Espírito Santo e no Brasil, no que refere a
estratégias de controle preventivo ou curativo, menos agressivos ao meio
ambiente.
No Brasil, dentre as pragas de importância econômica que mais causam
danos às plantas de mamoeiro estão incluídas o Ácaro Branco –
Polyphagotarsonemus latus, Ácaro Rajado - Tetranichus urticae, Cigarrinha
Verde - Solanasca bordia, Cochonilhas - Coccus hesperidum e Aonidiella
comperei, Moscas-das-Frutas: Mosca-do-mediterrâneo - Ceratitis Capitata
e Mosca-sul-americana - Anastrepha fraterculus, Mosca Branca –
Trialeurodes variabilis e Bemisia tabaci, Formigas Cortadeiras – Atta
sexdens e Acromyrmex sp., Mandarová – Erinnyis ello, e Coleobrocas –
66
Pseudopiazurus papayanus e Pseudopiazurus obesus (Martins, 2003;
Martins et al., 2013).
As doenças de maior importância econômica na cultura do mamoeiro no
país são as Viroses: Mosaico do Mamoeiro (PRSV-p) - Papaya ringspot
virus e Meleira - Papaya meleira virus, as Fungicas: Antracnose -
Colletotrichum gloeosporioides, Mancha-chocolate - Colletotrichum
gloeosporioides, Pinta-Preta - Asperisporium caricae, Mancha-de-Phoma –
Phoma caricae-papayae, Mancha-de-Corynespora - Corynespora cassiicola,
Oídios - Ovulariopsis papayae e Oidium caricae, Tombamento – gêneros
Pythium, Phytophthora, Rhizoctonia e Fusarium, Podridão-do-Pé -
Phytophthora palmivora, Podridões Peduncular – Podridão-de-
Botryodiplodia – Lasiodiplodia theobromae, Podridão-de-Fusarium –
Fusarium solani, as Bacterioses: Mancha-Foliar-Bacteriana - Pseudomonas
caricae-papayae, Podridão da Polpa dos Frutos - Erwinia herbicola e
Enterobacter cloacae, e os Nematóides: Nematóide-das-Galhas -
Meloidogyne incognita e Nematóide Reniforme - Rotylenchulus reniformis
(Ventura et al., 2003; Ventura et al., 2013).
Na Tabela 1 estão as principais pragas e doenças, por épocas de
ocorrência na cultura do mamoeiro para o estado do Espírito Santo.

67
Tabela 1. Época de ocorrência e incidência das principais pragas e doenças
do mamoeiro no estado do Espírito Santo
Meses do Ano
Pragas/Doenças

Mar

Mai

Ago

Nov
Abr

Out
Jun

Dez
Jan
Fev

Jul

Set
Ácaro-branco
P Ácaro-rajado
R Cigarrinha-verde
A
Mosca-sul-americana
G
A Mosca-do-mediterrâneo
S Mosca-branca
Afídeos
Pinta-preta
Mancha-de-Corynespora
D Mancha-de-Phoma
O
E Oídeo
N Antracnose
Ç Podridão-peduncular
A
S Phytophthora
Mosaico (PRSV-p)
Meleira
Sem ocorrência Baixa ocorrência Ocorrência intermediária Alta ocorrência

Fonte: Adaptado de Martins et al. (2009) / PI Brasil.

Ciclo de desenvolvimento e produção da cultura


A cultura do mamoeiro apresenta três fases de desenvolvimento bem
distintas que são: formação da planta (do 1º ao 4º mês); floração e
frutificação (do 5º ao 8º mês) e produção (do 9º mês em diante) (Figura 1).
No segundo ano de cultivo o mamoeiro entra em processo de colheitas
contínuas (Oliveira et al., 2004). Na figura 1 observa-se que o mamoeiro tem
um ciclo de produção com aproveitamento comercial relativamente curto, de
aproximadamente 16 meses (Ferreguetti, 2003). No Espírito Santo as
principais pragas e doenças de importância econômica para a cultura do
mamoeiro ocorrem praticamente em todos os meses do ano, sendo de
ocorrências intermediária ou alta (Tabela 1), e isto acarreta a necessidade de

68
intervenções nas lavouras por meio de aplicações de defensivos agrícolas em
todo o período de produção, que se inicia aos nove meses de idade e
prossegue-se até o período máximo da colheita do mamão, que é de 24
meses (Figura 1).

Figura 1. Épocas de aplicação de agrotóxicos de acordo com as fases de


desenvolvimento da cultura.
Fonte: Geraldo Antônio Ferreguetti.

Agrotóxicos: possibilidades de uso e riscos de determinados


ingredientes ativos
A produção brasileira de mamão atende os mercados internacionais,
Europa e Estados Unidos, sendo que parte abastece o mercado interno. Cada
mercado tem suas próprias exigências estabelecidas na forma de Leis, no
que refere ao Limite Máximo de Resíduos (LMR) para cada ingrediente
ativo do agrotóxico, seja fungicida (Tabela 2), acaricida (Tabela 3) ou
inseticida (Tabela 4). Desta forma, como são diferentes estes limites, os
produtos nem sempre vão poder ser usados na cultura do mamoeiro durante

69
o período de produção, em que a colheita de frutos ocorre toda semana
(Figura 1). Como exemplo, temos na Tabela 3 o ingretiente ativo
Clorfenapir com o valor do LMR de 0,1 ppm permitido no Brasil e 0,01 ppm
na Europa. Ao Basearmos neste exemplo, verificamos que o período de
carência do produto é de 14 dias para ambos os mercados, desta forma este
mesmo produto quando utilizado nas lavouras de mamão no Brasil, não
pode atender o mercado Europeu com a mesma carência. A pergunta que
surge é: qual então o período de carência para o mercado europeu, se eu usar
o valor do LMR de 0,1? Uma forma empírica de se chegar a um valor
aproximado é o uso de regra de três.
O cálculo descrito acima para adequação do período de colheita,
conforme os valores de LMRs é feito por meio de regra de três inversa,
como a seguir:

Mercado LMR Carência


Brasileiro 0,1 ppm 14 dias
Europeu 0,01 ppm x

0,1ppm *14 dias


x 140 dias
0,01ppm

O resultado desta operação é 140 dias, ou seja, teríamos que esperar 140
dias para colher os frutos com níveis aceitáveis de 0,01, não podendo então
ser utilizado no período de produção.

70
Tabela 2. Limite Máximo de Resíduos (LMR, em ppm), período de carência
(em dias) e indicação se o ingrediente ativo fungicida está liberado para o
uso nos mercados do Brasil, Estados Unidos e Europa
USO NO BRASIL USO NOS ESTADOS
NOME COMERCIAL

USO NA EUROPA
(de acordo com a ANVISA) UNIDOS

INGREDIENTE
ATIVO

CARENCIA

CARENCIA
LIBERADO

LIBERADO

LIBERADO
CARENCIA
(Se sim)

(Se sim)

(Se sim)
LMR

LMR

LMR
0,3 2,0 0,3
Azoxistro-
Amistar Azoxystrobin Azoxystrobin N Azoxystrobin
bina + Dife- S 3 S S 3
Top noconazole 0,3 0,3 E 0,2
Difenoconazole Difenoconazole Difenoconazole
Amistar
Azoxistro- N
WG, S 0,3 3 S 2,0 0,3 3
bina E
Vantigo
Chlorotha- N
Bravonil S 3,0 7 S 15,0 S 20,0 7
lonil E
Cercobin Thiophana-
S 0,5 14 N - - 1,0 14
700 WP, tometilico
Viper
Carbendazim N 0,5 14 N - - 0,2 14
700
Comet Piraclostrobina S 0,1 7 N 0,6 S 0,07 7
Dithane
M45; Mancozebe 3,0 3 N 10,0 S 7,0 21
S
Mancozeb
Folicur Tebucona-
1,0 7 N - - 2,0 7
200 CE zole S

Graster; Famoxadona S 0,05 7 N - - S 0,02 7

Impact;
Flutriafol S 0,5 7 N - - 0,05 7
Tenaz
Hidróxido N
Kocide N - - N NE 20,0 1
de Cobre E
1,0 (-) 2,0
Tebuconazo-
Tebuconazole Tebuconazole N Tebuconazole
Nativo le + Tri- 7 S S 7
floxistrobina S 0,05 0,7 E 1,0
Trifloxystrobin Trifloxystrobin Trifloxystrobin
Oxicloreto N N
Recop; S NE N NE S 20,0 1
Cobre E E
Score, Difenoco-
S 0,3 3 S 0,3 S 0,2 3
Flare nazole
0,3 2,0 0,3
Azoxistrobi-
Amistar Azoxystrobin Azoxystrobin N Azoxystrobin
na + Di- S 3 S S 3
Top fenoconazole 0,3 0,3 E 0,2
Difenoconazole Difenoconazole Difenoconazole

71
Tabela 3. Limite Máximo de Resíduos (LMR, em ppm), período de carência
(em dias) e indicação se o ingrediente ativo do acaricida está liberado para o
uso nos mercados do Brasil, Estados Unidos e Europa
USO NO BRASIL USO NOS ESTADOS
NOME COMERCIAL

USO NA EUROPA
(de acordo com a ANVISA) UNIDOS

INGREDIENTE
ATIVO

CARENCIA

CARENCIA
LIBERADO

LIBERADO

LIBERADO
CARENCIA
(Se sim)

(Se sim)

(Se sim)
LMR

LMR

LMR
Danimen; Fempropa- N
S 2,0 3 S 1,0 S 0,01 3
Meothrin trina E
Calda Enxofre +
N
sulfocalcica, Oxido de S NE 1 N NE S NE 1
E
Sulfocal Calcio (Cal)
Oberon; Espirodiflo-
N 0,3 7 N S 1,0 3
Envidor feno
Omit Propargito N - - N S 0,01 -
Partner; Oxido N
S - - S 2,0 S 0,05 7
Torque 500 Fembutatina E
N
Pirate Clorfenapir S 0,1 14 S 0,01 S 0,01 14
E
Talstar 100 N
Bifenthrin S 0,3 7 S 0,05 S 0,50 7
EC E
Vertimec 18
EC; Kraft 36
N
EC, Abamectin S 0,005 14 S 0,01 S 0,05 14
E
Abamectin
DVA 18 EC

Os impactos ambientais provenientes do uso de agrotóxicos na


agricultura podem ser quantificados por meio de modelo QIA (Quociente de
Impacto Ambiental), proposto por Kovach et al. (1992), e modelo IPR
(índice do Potencial de Risco do uso de agrotóxico na propriedade rural)
descrito por Karam et al. (2014). Estes modelos auxiliam na orientação de
aplicação mais corretas do uso de agrotóxicos nas culturas agrícolas.
No modelo QIA, os fatores utilizados na determinação de um ingrediente
ativo específico baseia-se em equações inerentes às seguintes categorias:
riscos de contaminação do trabalhador-manuseador, riscos ecológicos de
contaminação e riscos ao consumidor final.

72
Tabela 4. Limite Máximo de Resíduos (LMR, em ppm), período de carência
(em dias) e indicação se o ingrediente ativo do inseticida está liberado para o
uso nos mercados do Brasil, Estados Unidos e Europa
USO NO BRASIL USO NOS ESTADOS
NOME COMERCIAL

USO NA EUROPA
(de acordo com a ANVISA) UNIDOS

INGREDIENTE
ATIVO

CARENCIA

CARENCIA
LIBERADO

LIBERADO

LIBERADO
CARENCIA
(Se sim)

(Se sim)

(Se sim)
LMR

LMR

LMR
Actara 250 N
Tiametoxam S 0,10 14 S 0.4 N 0,05 14
WG E
Calypso Tiacloprido S 0,30 7 N - - S 0,50 7
Mospilan Acetamiprido S 0,10 5 N - - N 0,01 14
N
Provado Imidacloprido S 2,00 7 N 1,0 N 0,05 7
E
Lambda- N
Suko S - - S 0,01 N 0,02 ?
cihalothrina E
Metidationa
Supracide;
(Org. S - - N - - N 0,02 ?
Sulprathion
Fosforado)

Como exemplificação do modelo de QIA, relatamos o trabalho feito por


Karam et al., (2009) em milho, em que avaliaram o potencial de
contaminação ambiental de 20 herbicidas.
As variáveis empregadas na determinação do QIA foram:
- (DT) toxicidade dermal para mamíferos, dada na unidade LD50,
- (C) toxicidade crônica para mamíferos, unidade valor de NOEC,
- (SY) sistemicidade – sistêmica ou não,
- (F) toxicidade oral aguda para peixes LC50,
- (L) potencial de lixiviação (GUS),
- (R) risco de deslocamento horizontal, Koc,
- (D) toxicidade oral aguda para pássaros, LD50,
- (S) meia-vida no solo, DT50,
- (Z) toxicidade oral aguda para abelhas, LD50,
- (B) toxicidade para outros artrópodes benéficos, LC50,
- (P) meia-vida na planta DT50.
Na fórmula aplicada, os componentes foram divididos em três categorias:
risco ao trabalhador-manuseador (RT) = C[(DT*5) + (DT*P)], riscos sobre
consumidores (RC) = C*((S+P)/2)*SY) + (L) e riscos ecológicos (REc) =
73
(F*R) + (D*((S+P)/2)*3) + (Z*P*3) + (B*P*5). A soma destas categorias
descritas compõe a fórmula do Quociente de Impacto Ambiental (QIA). QIA
= {C[(DT*5) + (DT*P)] + [(C*((S + P)/2)*SY) + (L)] + [(F*R) + (D*((S +
P)/2)*3) + (Z*P*3) + (B*P*5)]}1/3.
Os valores empregados na fórmula foram retirados a partir de
informações da Figura 2. Assim, Karam et al. (2009) encontraram, para a
cultura do milho, valores de QIA desde 14,0 com uso do ingrediente ativo
Isoxaflutole (grupo químico Isoxazois) até 90,7 com uso do ingrediente
ativo Imazapic (grupo químico Imidazolinonas).

Figura 2. Parametrização das informações coletadas para uso no cálculo do


quociente de impacto ambiental.
Fonte: Kovach et al. (1992).

74
Diante da importância deste modelo, aplicamos o QIA em mamão,
conforme Kovach et al. (1992), e utilizado por Karam et al. (2009) para
verificarmos o potencial de contaminação ambiental de alguns dos principais
ingredientes ativos (Figura 3).

Figura 3. Quociente de Impacto Ambiental (QIA) de alguns dos principais


ingredientes ativos utilizados em papaya.
Fonte: Geraldo Antônio Ferreguetti.

A outra fórmula para calcular o risco de contaminação ambiental por


agrotóxicos é por meio do Índice do Potencial de Risco do uso de agrotóxico
na propriedade rural (IPR). Esta metodologia considera os níveis
toxicológicos e ambientais dos produtos utilizados classificando a
propriedade rural por meio da ponderação dos principais aspectos
envolvidos na dinâmica dos agrotóxicos, no âmbito ecotoxicológico e
ambiental considerando aspectos legais, técnicos e práticos conhecidos
(Karam et al., 2014).
O IPR é dado pela razão entre o índice ponderado do produto (IPP) que
engloba na soma das variáveis índices ponderado da classificação ambiental
dos produtos (PRCA), índice ponderado da classificação toxicológica dos
75
produtos (PRCT) e índice ponderado da dose (g ha-1) dos produtos (PRQP)
dividido por 3 (Equações 1 e 2; Tabelas 5 e 6).
IPP = índice de ponderação dos componentes referentes a um mesmo
produto.
IPP = (PRQP + PRCT + PRCA) / 3 (Equação 1)
IPR = (PRPx + PRPy + ... PRPn ) / n (Equação 2)

Tabela 5. Índice ponderado da dose (g ha -1) dos produtos (PRQP)


PRQP dose (g ha -1)
1 0
2 > 0 ≤ 20
3 > 20 ≤ 40
4 > 40 ≤ 80
5 > 80 ≤ 160
6 > 160 ≤ 320
7 > 320 ≤ 640
8 > 640 ≤ 1280
9 > 1280 ≤ 2560
10 > 2560
Fonte: Karam et al. (2014).

Tabela 6. Índice ponderado da classificação ambiental (PRCA) e/ou


toxicológicas (PRCT) dos produtos
Classificação
PRCA/PRCT
ambiental/toxcológica
10 I
7,5 II
5,0 III
2,5 IV
Fonte: Karam et al. (2014).

Com base no modelo proposto por Karam et al. (2014) para o cálculo de
IPP, calculamos para a cultura do mamoeiro, baseando-se em alguns dos
principais ingredientes ativos utilizados.
Na Tabela 7 estão as doses e às classes toxicológica e ambiental dos
produtos mais utilizados na cultura do mamoeiro. Conforme estes valores
76
mencionados são possíveis de se calcular o Índice do Potencial de Risco do
uso de agrotóxico para o mesmo produto (Tabela 8).

Tabela 7. Doses e classificações toxicológicas e ambientais dos principais


ingredientes ativos utilizados em papaya
dose classe classe
Produto
(g i.a ha-1) toxicológica ambiental
Azoxistrobin 64,00 IV II
Pyraclostrobin 62,50 II II
Difenoconazole 75,00 I II
Tebuconazole 200,00 I II
Mancozeb 1.600,00 I II
Clorothalonil 1.600,00 I II
Clofernapir 100,00 III II
Abamectin 9,00 III II
Fonte: Geraldo Antônio Ferreguetti.

Tabela 8. Índice do Potencial de Risco do uso de agrotóxico na propriedade


rural, para cada ingrediente ativo isoladamente (IPP)
Nota
Ingrediente ativo PRQP PRCT PRCA IPP
(Tabela 5) (Tabela 6) (Tabela 6)
Azoxistrobin 4,00 2,5 7,5 4,67
Pyraclostrobin 4,00 7,5 7,5 6,33
Difenoconazole 4,00 10 7,5 7,17
Tebuconazole 5,00 10 7,5 7,50
Mancozeb 9,00 10 7,5 8,83
Clorothalonil 9,00 10 7,5 8,83
Clofernapir 5,00 5 7,5 5,83
Abamectin 2,00 5 7,5 4,83
Fonte: Geraldo Antônio Ferreguetti.

Na possibilidade de diminuir os riscos de contaminação ambiental,


sugerimos: adotar a carência mínima de sete dias; pulverizadores bem
regulados com bicos novos; uso de papel sensível; volume de calda no
77
mínimo necessário; atenção para a concentração da calda; manejo integrado
– produtos alternativos; controle rigoroso – acompanhamento profissional.

Conclusão
A cultura do mamoeiro se distingue entre as demais frutíferas por possuir
um período contínuo de produção de frutas, a partir do oitavo mês, cuja
colheita dista cerca de sete dias uma da outra, fazendo com que aplicação de
defensivos químicos requeira maior atenção, principalmente se a lavoura
atender a mercados diferentes, que exigem diferentes LMR e carência.

Referências
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise
de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) - relatório de
atividades de 2010. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm
/connect/55b8fb80495486cdaecbff4ed75891ae/Relat%C3%B3rio+PARA+2
010++Vers%C3%A3o+Final.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em: 22 de abr.
de 2015.
CULIK, M.P.; MARTINS, D.S.; VENTURA, J.A. Índice de artrópodes
pragas do mamoeiro (Carica papaya L.). Vitória: Incaper, 2003. 48p.
(INCAPER. Documentos, 121).
FERREGUETTI, G.A. Caliman 01 - O primeiro híbrido de mamão Formosa
brasileiro. In: I Simpósio do Papaya Brasileiro, 2003. Vitória, ES. Anais...
Vitória: Incaper, 2003. p.211-218.
KARAM, D.; SILVA, J.A.A.; FOLONI, L.L. Potencial de contaminação
ambiental de herbicidas utilizados na cultura do milho. Revista Brasileira
de Milho e Sorgo, v.8, n.3, 247-262, 2009.
KARAM, D.; SILVA, W.T.; RIOS, J.N.G.; FERNANDES, R.C. Eficiência
no manejo de defensivos: programa de mitigação do risco de uso de
agrotóxicos. In: KARAM, D.; MAGALHÃES, P.C. (eds.). Eficiência nas
cadeias produtivas e o abastecimento global. Sete Lagoas: ABMS, 2014.
p.170-182.
KOVACH, J.; PETZOLDT, C.; TETTE, J. A method to measure the
enviromental impact of pesticides. New York’s Food and Life Sciences
Bulletin, v.139, p.1-8, 1992.
MARTINS, D.S.; FORNAZIER, M.J.; FANTON, C.J. Manejo de pragas. In:
Informe Agropecuário. Cultivo do mamoeiro, Belo Horizonte: EPAMIG.
78
v.34, n.275, p.68-77, 2013.
MARTINS, D.S. Manejo de pragas do mamoeiro. In: Martins, D.S.,
COSTA, A.F.S. (eds.). A cultura do mamoeiro: tecnologias de produção.
Vitória: Incaper, 2003. p.309-344.
MARTINS, D.S.; VENTURA, J.A.; TATAGIBA, J.S. Produção integrada
de mamão no Espírito Santo. In: ZAMBOLIM, L.; NASSER, L.C.B.;
ANDRIGUETO, J.R.; TEIXEIRA, J.M.A.; KOSOSKI, A.R.;
FACHINELLO, J.C. (eds.). Produção integrada no Brasil: agropecuária
sustentável, alimentos seguros. 1 ed., Brasília: MAPA/ACS, 2009. P.569-
626.
NEVES, I.P. Dossiê técnico: cultivo do mamão. Bahia: SBRT/RETEC,
2007. 20p.
OLIVEIRA, A.M.G.; SOUZA, L.F.S.; RAIJ, B.G.; MAGALHÃES, A.F.J.;
BERNARDI, A.C.C. Nutrição, calagem e adubação do mamoeiro
irrigado. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2004. 10p.
(EMBRAPA. Circular Técnica 69).
VENTURA, J.A.; COSTA, H.; TATAGIBA, J.S. Manejo de doenças do
mamoeiro. In: MARTINS, D.S.; COSTA, A.F.S. (eds.). A cultura do
mamoeiro: tecnologias de produção. Vitória: Incaper, 2003. p.229-308.
VENTURA, J.A.; COSTA, H.; TATAGIBA, J.S.. Manejo de doenças. In:
Informe Agropecuário. Cultivo do mamoeiro, Belo Horizonte: EPAMIG.
v.34, n.275, p.58-67, 2013.

79
CAPÍTULO 5

EDUCAMPO – Semeando o Futuro da Empresa Rural

Tiago B. Struiving
Rogério Nunes Fernandes
Cláudio Wagner
Jadilson Borges
Cláudio Dykstra

Introdução
A Agricultura Brasileira, e em especial a Fruticultura Irrigada tem
demandado cada vez mais um maior emprego das Tecnologias de Produção
visando o aumento da produtividade e redução de custos. Porém muito
pouco tem sido feito para esclarecer os problemas e oportunidades inerentes
à gerência de uma fazenda no Brasil. Gerenciar uma fazenda é dirigi-la,
considerando todas as oportunidades e riscos, a continuidade de um negócio
rentável e o bem-estar das famílias do proprietário e de seus empregados;
requer, ainda, o conhecimento de diferentes aspectos técnicos, legais,
econômicos, sociais e ambientais. Assim, o gerenciamento da Fazenda como
uma Empresa Rural tem-se mostrado um instrumento essencial para apontar
os gargalos do sistema de produção (Veloso, 1997).
Nesse contexto, surgiu o Projeto EDUCAMPO. Este é uma iniciativa do
SEBRAE e vários parceiros, iniciada em 1997 em Minas Gerais, idealizado
como um modelo de assistência gerencial e técnica intensiva, para grupo de
produtores de uma mesma atividade econômica, vinculados a uma
agroindústria.
O Projeto procura agregar ao conceito da assistência técnica tradicional, a
gestão de negócios, normalmente uma das maiores deficiências encontradas
80
junto aos empresários rurais, ampliando a capacidade do produtor em gerir
sua atividade. Este diferencia e permite aplicar, então, melhorias técnicas
capazes de imprimir ganhos quantitativos e qualitativos ao produto primário,
melhorando os indicadores técnicos e econômicos das propriedades.
Para a empresa parceira, a garantia de oferta de matéria-prima mais
adequada às necessidades do mercado, em quantidade e qualidade; e a
aproximação com seus fornecedores, facilitando seu processo de
planejamento e reduzindo, consequentemente, as incertezas em torno do
negócio, são benefícios diretos de sua participação no Projeto.
Inicialmente proposto para a cadeia produtiva do leite, o modelo se
mostrou aplicável e útil a outras cadeias produtivas, sendo estendido às
atividades de grãos, hortícolas, café e fruticultura.
O EDUCAMPO é um projeto exclusivo de Minas Gerais. Atualmente
Minas possui 85 Grupos de EDUCAMPO, totalizando 1.301 Fazendas
atendidas que compreendem uma área total de 134 mil hectares.

Tabela 1. Abrangência do Projeto EDUCAMPO em Minas Gerais


QUANTIDADE
ATIVIDADE
GRUPO FAZENDA ÁREA (ha)
Bovinocultura Leiteira 54 777 81.940
Cafeicultura 27 483 35.387
Hortícolas (grãos) 2 18 15.501
Fruticultura 2 23 1.312
TOTAL 85 1.301 134.140

O Projeto
O EDUCAMPO é um projeto de educação, voltado ao homem do campo,
dinâmico e permanente, que busca, por meio da capacitação gerencial e
técnica de grupos de Produtores Rurais, desenvolver todos os aspectos de
gestão da propriedade, tornando-os mais eficientes e competitivos.
A terminologia Projeto é adotada devido ao caráter dinâmico observado
no EDUCAMPO, conferido pelo seu papel na educação dos indivíduos e na
sua adaptabilidade às características dos grupos e cadeias produtivas
envolvidas, estando em constante evolução.
81
É importante salientar que os resultados do EDUCAMPO transbordam
para os segmentos antes e depois da porteira, dando ao Projeto caráter
sistêmico de atuação junto às cadeias produtivas.
A orientação e capacitação dos produtores são realizadas por meio do
serviço de consultoria gerencial e tecnológica oferecido nas propriedades. A
consultoria é conduzida por técnicos capacitados e com conhecimentos em
metodologias que contemplam a assistência gerencial e técnica dos
produtores, a partir do desenho de um plano de desenvolvimento, planejado
previamente junto com os próprios produtores e os parceiros do projeto em
uma determinada região, atendendo às demandas primordiais de cada grupo
de produtores a ser desenvolvido.
A ação dos Consultores Técnicos de Campo é acompanhada pelo
SEBRAE, pela empresa parceira e por supervisores, que avaliam o
cumprimento de metas preestabelecidas juntamente com os produtores e
parceiros, de acordo com a sua capacidade de investimento e com as
características produtivas de cada propriedade, identificadas por um
diagnóstico individual. No planejamento da empresa rural são estabelecidas
metas para insumos, produtos e efeitos de cada produtor. A soma das metas
de todos os produtores constitui a meta do Projeto.
Para participar do EDUCAMPO é fundamental que o Produtor Rural
apresente perfil empreendedor e esteja pré-disposto a se educar, a aprender,
adotando as orientações do técnico que o acompanha, tanto no tocante às
técnicas produtivas quanto aos controles gerenciais, que constituem o grande
diferencial da consultoria oferecida pelo Projeto.
Os princípios básicos que norteiam o Projeto são o desenvolvimento do
conceito de cadeia produtiva, pela aproximação de fornecedores e
compradores; a consultoria gerencial e técnica; o pagamento do serviço
pelos produtores e, eventualmente, pela empresa parceira; o trabalho com
grupos de produtores e o efeito demonstração dos resultados; a parceria
operacional com agroindústrias e cooperativas; e a avaliação sistemática de
resultados, visando o aprimoramento constante das pessoas e do Projeto.
O grande diferencial do Projeto é a abrangência gerencial, monitorada
conjuntamente pelos Consultores Técnicos e os Produtores, aferindo os
resultados das inovações adotadas na rentabilidade e na lucratividade do
negócio, apoiada na tecnologia da informação, por meio do software de
controle das propriedades e da Central de Processamento de Dados do
82
EDUCAMPO - CPDE, que facilitam a sistematização e a visualização dos
resultados das ações implementadas.
Com foco no desenvolvimento das pessoas, está-se consolidando no país
um novo modelo de extensão rural, efetivamente capaz de transformar a
realidade de todos envolvidos com o Projeto EDUCAMPO.
Objetivos
Objetivo Geral
Promover a educação do homem do campo, por meio de consultoria
gerencial e técnica, proporcionando o desenvolvimento de seu negócio e o
crescimento econômico da empresa parceira, estendendo seus benefícios a
toda cadeia produtiva.
Objetivos Específicos
1. Viabilizar o acesso à consultoria gerencial e técnica como insumo
estratégico para a capacitação do produtor e a modernização dos processos
de produção agropecuária, integrando o Produtor Rural ao complexo
agroindustrial;
2. Orientar sobre o gerenciamento da empresa rural e difundir inovações
por meio de grupos de produtores, aumentando sua produtividade;
3. Trazer retorno econômico ao produtor, criando condições de aumento
do seu lucro, e à agroindústria ou cooperativa parceira local;
4. Gerir co-participativamente o Projeto em parceria com cooperativas ou
agroindústrias, da qual os produtores atendidos sejam fornecedores,
fortalecendo o conceito de cadeia produtiva.
5. Estimular o senso cooperativo dos produtores, não apenas pelo
compartilhamento da consultoria técnica do Projeto EDUCAMPO, mas pelo
estímulo à realização de atividades em grupo;
6. Utilizar os grupos de produtores como referência, facilitando a
multiplicação de ações junto aos demais produtores não participantes,
extrapolando os resultados do EDUCAMPO, e
7. Estimular a terceirização da assistência técnica nas empresas parceiras
como alternativa ao modelo atual adotado pelas mesmas.

EDUCAMPO Fruticultura
Em agosto de 2011, o SEBRAE-MG, em parceria com a Associação dos
Produtores de Limão (ASLIM), fundou o primeiro EDUCAMPO Fruta
localizado no Perímetro de Irrigação do Jaíba.
83
O Perímetro Irrigado do Jaíba está localizado no norte de Minas Gerais, a
uma distância de 630 km de Belo Horizonte (Capital do Estado), 1030 km
de Brasília (Capital do País) e 1000 km do Porto de Salvador. O Perímetro
Irrigado do Jaíba é o maior projeto de irrigação da América latina em
extensão contínua de terra, abrangendo os municípios de Itacarambi, Matias
Cardoso e Jaíba.
As condições climáticas do Jaíba são: Insolação média de 7h40 por
dia; Temperatura média anual - mínima: 18ºC e máxima: 32ºC; Altitude
média: 500 metros e Pluviosidade média anual: 940 mm. A combinação
entre as condições climáticas, o solo fértil e a irrigação controlada, formam
o cenário perfeito para a produção de diversas frutas tropicais com qualidade
superior.
Atualmente o EDUCAMPO Fruta de Jaíba-MG atende 15 Fazendas que
compreendem 270 ha de Lima Ácida Tahiti, 240 ha de Manga Palmer, 201
ha de Banana Prata e 95 ha de Banana Nanica. Totalizando uma área de 806
ha.
Como demonstrativo do que é na prática o projeto, iremos apresentar e
discutir o Fechamento da Safra 2014 da Lima Ácida Tahiti. No entanto faz-
se necessário entendermos como é a metodologia do projeto.

Metodologia de Custo de Produção


Os custos são agrupados em:
COE – Custo Operacional Efetivo
o Custos variáveis, desembolsos com os insumos de produção
COT – Custo Operacional Total
o COE + Mão-de-Obra Familiar + Depreciações
CT – Custo Total
o COT + Custo de Oportunidade (6% a.a.)
As margens da Atividade são agrupadas em:
RB – Renda Bruta
MB – Margem Bruta
o MB = Renda Bruta - COE
ML – Margem Líquida
o ML = Renda Bruta - COT
L – Lucro
o L = Renda Bruta – CT
84
Na Tabela 2 está descrito qual a tendência da atividade conforme o
resultado das margens da mesma.

Tabela 2. Interpretações das margens da atividade


SE A RENDA BRUTA FOR: SITUAÇÃO TENDÊNCIA
Paralisação da
RB < COE MB negativa
produção
MB positiva
COE < RB <COT Sucatear bens
ML negativa
ML positiva Permanência na
COT < RB < CT
Lucro negativo Atividade
RB = CT Lucro zero Crescimento estável
RB > CT Lucro positivo Alto crescimento

Cultura da Lima Ácida Tahiti no Perímetro Irrigado do Jaíba

A lima ácida, cv. Tahiti (Citrus latifolia Tanaka), conhecida como limão
Tahiti, destaca-se no Brasil como uma das frutas tropicais de maior
importância comercial, estima-se que sua área plantada no Brasil esteja em
aproximadamente 45 mil hectares. Segundo o levantamento de dados
relativos ao Projeto Jaíba em 2012, estão plantados 2472,16 ha da lima ácida
Tahiti no Perímetro Irrigado do Jaíba, sendo que 1346,06 ha são áreas de
Colonos, proprietários com o máximo 5 ha, evidenciando a grande
importância sócio econômica da cultura para a região.

85
Figura 1. Frutos de Lima Ácida Tahiti

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao


Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em
2014 o Brasil exportou 15% mais limão em relação a 2013. Os embarques
saltaram de 78,6 mil toneladas para 92,3 mil toneladas. O faturamento
cresceu um pouco mais, passando de US$ 73,9 milhões em 2013 para US$
96,09 milhões no ano seguinte (TABELA 3). O produto consolida-se como
terceiro no ranking das frutas frescas que são produzidas aqui, mas
consumidas ao redor do mundo. À frente do limão aparecem apenas melão e
manga, pela ordem.
Das 72,81 mil toneladas exportadas em 2012, 1,32 mil toneladas foram
da ASLIM, o que representou 1,8 % da exportação brasileira em 2012. Em
2013 a participação da ASLIM aumentou para 2,6%. E em 2014, mesmo
com o aumento das exportações brasileiras em 15%, a ASLIM ainda
conseguiu aumentar sua participação para 2,7% (TABELA 3).

Tabela 3. Evolução das exportações brasileiras de Limão


EXPORTAÇÕES DE LIMÃO
2012 2013 2014
US$ 59,8 milhões 73,9 milhões 96,09 milhões
Toneladas (BRASIL) 72,81 mil 78,60 mil 92,30 mil
Participação ASLIM 1,8% 2,6% 2,7%
Fonte: Secex/Mdic & ASLIM
86
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, o principal comprador é a Holanda. O país importou 58,8 mil
toneladas ao longo do ano, mais da metade de todos os carregamentos de
limão embarcados no Brasil. O faturamento chegou a US$ 59,2 milhões.
Depois aparecem, pela ordem, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos,
Alemanha e Canadá. Conforme Waldyr Promicia, presidente da ABPel, boa
qualidade e garantia de fornecimento são os fortes do setor perante os
compradores internacionais. O México é o principal concorrente do País.
A Lima Ácida Tahiti (Citrus latifolia Tanaka) pertence à família:
Rutaceae, sub-família: Aurantioideae, gênero: Citrus e se enquadra no grupo
das frutas ácidas.
O limoeiro Tahiti é uma árvore perenifólia, quase sem espinhos, com
ramos um tanto pêndulos, brotos novos arroxeados, atingindo altura variável
de 4-6 metros. Possui folhas simples, coriáceas, glabras e lustrosas, de 3-7
cm de comprimento, com pecíolo alado, flores solitárias e botões levemente
tingidos de púrpura, dispostos em racemos terminais curtos. Os frutos são
ovóides ou oblongos, pesando cerca de 70g, com curto mamilo no ápice, de
casca com vesículas de óleo, polpa suculenta, firme e muito ácida (Lorenzi
et al., 2006).
Seu crescimento e desenvolvimento para cultura não exige qualidade
diferenciada de solo, produzindo tanto em terras de areia como em argila. É
muito sensível ao frio, às geadas e às altas temperaturas, mais do que a
laranjeira, a toranjeira e a tangerineira (Lorenzi et al., 2006).
No Projeto Jaíba os principais porta-enxertos utilizados são: o limoeiro-
‘Cravo’ (Citrus limonia Osbeck) por apresentar tolerância à tristeza,
facilidade na obtenção de mudas, bom pegamento das mudas por ocasião do
plantio no pomar, rápido crescimento das plantas, produção precoce, altas
produções de frutos de regular qualidade, compatibilidade com todas as
cultivares copas, média resistência ao frio e bom comportamento nos solos
arenosos. No entanto, o seu uso tem caído devido à desvantagem de ser
suscetível a Gomose (Phytophthora spp.), que vem sendo a principal doença
na Região do Jaíba.
Em substituição ao ‘Cravo’, vem sendo utilizado o porta enxerto
Citrumelo Swingle por ser resistente à Gomose e ao vírus da tristeza, e
apresentar boa produtividade. Outra opção é o Poncirus Trifoliata, em
particular o clone Flying Dragon por apresentar porte reduzido de planta,
87
além da resistência à Gomose e ao vírus da tristeza, muito embora seja
suscetível ao viróide do exocorte e à clorose de ferro em solos calcários e
com pH igual ou superior a neutralidade (Castle, 1987).
Os principais problemas fitossanitários no Jaíba são a Gomose
(Phytophthora spp.), Virus tristeza (Caneluras), Cochonilhas Pardinha
(Selenaspidus articulatus), Cochonilha Verde (Coccus viridis), Escama
Farinha (Unaspis citri), Ortézia (Orthezia praelonga), Ácaro da Falsa
Ferrugem (Phyllocoptruta oleivora), Ácaro Branco (Polyphagotarsonemus
latus), Larva Minadora (Phyllocnistis citrella), Pulgão Marrom (Toxoptera
citricida), Pulgão Verde (Aphis spiraecola), Mosca Branca (Aleurothrixus
floccosus) e Mosca Negra (Aleurocanthus woglumi). Dentre estas, a Gomose
tem sido o motivo de maior preocupação por parte dos produtores, por não
apresentar medidas curativas, sendo a única solução o uso de porta-enxertos
resistente.
Em todas as Fazendas analisadas, a colheita dos frutos é feita
manualmente, sendo rapidamente transportados em caixas plásticas ao
Packing House pertencente à Associação dos Produtores de Limões do
Projeto Jaíba (ASLIM). Onde os frutos são lavados, tratados, encerados e
classificados por tamanho. Por último eles são embalados seguindo os
critérios pré-estabelecidos pelo mercado consumidor, no qual os frutos com
destino a Europa devem apresentar casca rugosa e com coloração verde mais
intenso (escuro), já o mercado nacional prefere os limões de casca lisa e
verde mais claro, pois entes apresentam normalmente maior rendimento de
sulco.
Conforme os dados do Educampo, a ‘Colheita’ é a atividade que mais
impacta no custo final da lavoura de limão. Na Figura 2, observamos que a
‘Colheita’ representou 37% do Custo Operacional Efetivo (COE) de 2014.
A atividade ‘Colheita’ representa o custo da mão-de-obra para colher a
fruta e coloca-la nas caixas plásticas. Já o custo do baldeio das caixas do
pomar até o Packing House entra na atividade ‘Pós-colheita’. Portanto essas
duas atividades somadas representam 47% do COE do Limão Tahiti.
As atividades que mais impactaram no COE médio das Fazendas em
2014, foram a ‘Colheita’ com 37%, ‘Adubação de Solo’ com 17% e
‘Administração’ com 12%. Juntas essas três atividades representaram 66%
do COE.

88
Fonte: EDUCAMPO/ASLIM. Valores corrigidos pelo IGP-DI de Fev/2015
Figura 2. Distribuição do COE médio das sete Fazendas de Limão Tahiti
em 2014

Ao analisar o custo da ‘Colheita’ por Fazenda, observamos que ela


representou entre 25%, na Fazenda D, a 45% do COE na Fazenda A
(TABELA 4). Essa diferença está relacionada às diferentes produtividades
entre as fazendas, uma vez que a Fazenda D obteve produtividade de 23,5
ton/ha, enquanto a Fazenda A obteve 34,6 ton/ha (TABELA 5). Além disso,
um fator que influência muito na eficiência da colheita é a copa das plantas.
As variedades copa utilizadas no Jaíba são os Clones IAC – 5 e Quebra-
galho. O Quebra-galho é um clone velho contaminado com viróides dos
citros (CVd), inclusive o da exocorte dos citros (CEVd), razão pela qual
suas árvores são de menor porte, até 40% menos aos cinco anos, que as do
IAC-5. O IAC-5 é um clone nucelar bastante produtivo de porte elevado
chegando a 5 metros de altura, o que dificulta e encarece a colheita (Salibe
& Roessing, 1965; Figueiredo, 1991).
Na Figura 3, observamos que para colher uma caixa de 20 kg a Fazenda
C gastou R$3,37 enquanto que a Fazenda D gastou R$1,96. Na média das
sete fazendas, o custo de colheita ficou em R$2,60 por caixa.
89
Fonte: EDUCAMPO/ASLIM. Valores corrigidos pelo IGP-DI de Fev/2015
Figura 3. Custo de colheita por caixa de 20 kg das sete Fazendas de Limão
Tahiti em 2014

Ainda na Tabela 4, observamos uma forte discrepância nos investimentos


em ‘Adubação de Solo’. Enquanto que as Fazendas C e F destinaram apenas
8% e 9% do COE em ‘Adubação de Solo’, as Fazendas E e G destinaram
21% e 23% respectivamente. Em relação à ‘Adubação foliar’, praticamente
apenas as Fazendas C, D e E realizaram investimentos, entre 2% a 3%.

Tabela 4. Distribuição do Custo Operacional Efetivo (COE) por Fazenda


em 2014
FAZENDA A B C D E F G MÉDIA
Administração 16% 14% 7% 18% 7% 13% 8% 12%
Adubação do solo 10% 13% 8% 16% 21% 9% 23% 16%
Adubação foliar 0% 0% 2% 3% 2% 0% 0% 1%
Doenças e pragas 2% 6% 17% 7% 7% 9% 7% 8%
Plantas daninhas 3% 3% 1% 6% 2% 0% 3% 3%
Tratos culturais 6% 3% 4% 1% 1% 5% 0% 2%
Irrigação 6% 12% 6% 11% 9% 13% 15% 11%
Colheita 45% 37% 45% 25% 37% 37% 35% 36%
Pós-colheita 9% 11% 7% 10% 12% 11% 7% 10%
OUTROS 3% 2% 2% 2% 1% 2% 2% 2%
Total do C.O.E. 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: EDUCAMPO/ASLIM. Valores corrigidos pelo IGP-DI de Fev/2015
90
Na Tabela 5 está apresentado o destino do limão colhido em cada
fazenda. Os Critérios para Exportação são: Casca rugosa, coloração verde
escura, máximo de 15% da área da casca pode apresentar cor verde clara ou
branca, presença do cálice, ausência de danos mecânicos, ausência de
sintomas de pragas, e frutos que apresentam diâmetro entre 45 e 62 mm.

Tabela 5. Produtividade (Ton/ha), destino do Limão comercializado (%) e


preço médio de venda (R$/kg) por Fazenda em 2014
PRODUTIVIDADE COMERCIALIZAÇÃO
FAZENDA
(Ton/ha) % EXP % MI % IND % DES
A 34,6 23% 54% 18% 5%
B 34,9 25% 49% 20% 6%
C 32,0 44% 49% 2% 5%
D 23,5 41% 48% 7% 4%
E 32,0 21% 63% 12% 4%
F 19,9 22% 48% 23% 6%
G 18,6 29% 48% 20% 3%
EXP-Exportação; MI-Mercado Interno; IND-Indústria e DES-Descarte
Fonte: EDUCAMPO/ASLIM. Valores corrigidos pelo IGP-DI de Fev/2015

As Fazendas C, D e G apresentaram as melhores porcentagens de


exportação 44%, 41% e 29% respectivamente. Consequentemente também
apresentaram os melhores preços médios de venda (Dados não
apresentados). Normalmente, o preço da exportação é mais atrativo ao
produtor do que o preço pago pelo mercado interno.
A maior parte dos frutos destinados a Indústria, foi devido ao ataque de
cochonilhas e do ácaro da falsa ferrugem. A Fazenda C destinou apenas 2%
dos seus frutos a Indústria. Isto se explica devido ao seu alto investimento
no controle de ‘Doenças e Pragas’, que representou 17% do seu COE,
enquanto que na média do grupo o investimento em ‘Doenças e Pragas’ foi
de 8% do COE médio.
Outro fator que interfere no preço médio anual de venda é a sazonalidade
de colheita e preços pagos ao produtor. Conforme o histórico de

91
comercialização, o segundo semestre do ano é sempre mais atrativo ao
produtor.
No fechamento da Safra 2014, observamos que o Custo Operacional
Efetivo (COE) médio das fazendas está 10% maior em 2014 em relação a
2012.
Na Safra 2014, todas as fazendas apresentaram Margem Bruta e Líquida
positivas. A Fazenda F foi a única a apresentar Lucro negativo (Dados não
apresentados). Com isso conclui-se que a Renda Bruta da fazenda F foi o
suficiente para pagar o desembolso (COE), a mão-de-obra familiar e as
depreciações. No entanto não foi possível cobrir o custo de oportunidade,
que toma como base o rendimento mínimo da poupança de 6% ao ano. A
tendência desta fazenda é de permanência na Atividade.
O último indicador calculado é a Taxa de Remuneração do Capital com
Terra (TRC Com Terra), este é o indicador mais importante. Pois demonstra
a rentabilidade do capital investido, sendo útil para comparar com outros
investimentos alternativos. A TRC sem a Terra é geralmente utilizada
quando se trabalha em terras arrendadas.
Nas reuniões internas do EDUCAMPO, as discussões dos indicadores
técnicos e econômicos são mais detalhadas, com o objetivo de padronizar o
grupo tomando como referência as fazendas de maior destaque.

Conclusão
Os resultados apresentados até o momento, pelos vários grupos de
produtores, somados a expansão do EDUCAMPO, revelam o êxito do
projeto e demonstram que o modelo de extensão proposto se adequa
perfeitamente a essas diferentes realidades.

Referências
CASTLE, W.S. Citrus rootstocks. In: ROM, R.C.; CARLSON, R.F. (Ed.).
Rootstocks for fruit crops. New York: Wiley, 1987. p.361-399.
CRUZ, M.C.M.; SIQUEIRA, D.L.; SALOMÃO, L.C.C.; CECON, P.R.
Influência do paclobutrazol e da temperatura ambiente sobre o florescimento
e frutificação da limeira ácida 'Tahiti'. Ciência e Agrotecnologia, v. 32, n.
4, p. 141-152, 2008.

92
FIGUEIREDO, J.O. Variedades copas. In: RODRIGUEZ, O. et al. (Ed.).
Citricultura brasileira. 2.ed. Campinas: Fundação Cargill, 1991. v.1,
p.228-57.
LORENZI, H.; SARTORI, S.; BACHER, L.B.; LACERDA, M. Frutas
brasileiras e exóticas cultivadas. São Paulo, Brasil, 2006, 581p.
SALIBE, A.A.; ROESSING, C. Melhoramento do limão Tahiti (Citrus
latifolia Tanaka). Ciência e Cultura, n.17, p.189, 1965.
VELOSO; R. F. Planejamento e gerência de fazenda: Princípios básicos para
avaliação de sistemas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.14,
v.1, p.155-177, 1997.

93
CAPÍTULO 6

Manejo da Fertirrigação em Fruticultura, Teoria e Prática

Adolfo Moura

1. Introdução
As mudanças climáticas são uma realidade, pois são evidentes no mundo
as reações da natureza, precipitações mais intensas em determinadas regiões
e seca em outras, tornando a agricultura um negócio de alto risco.
Segundo estudos de distribuição de precipitações no Brasil, em uma série
de 30 anos, de 1961 a 1991, a região semiárida será o foco das mudanças do
clima, principalmente com as baixas quantidades e irregularidade das
chuvas, radiação elevada, temperaturas elevadas, ventos fortes e umidade
relativa do ar baixa (Donato, 2014).
Na região Sudeste, tem-se precipitações irregulares com variações
bruscas de umidade relativa do ar, provocando com isso uma variação de
fotossíntese nas plantas, principalmente nas plantas frutíferas.
Na região Sul, há chuvas acima da média com excesso de umidade
relativa do ar, provocando nas plantas muitos problemas fitossanitários e
aumentando, desse modo, os custos de produção, como no caso da maçã, da
pera etc.
Na região Centro-oeste, tradicionalmente produtora de grãos, as
precipitações são regulares, causando um equilíbrio de umidade relativa do
ar e temperaturas mais amenas. Com isso, tem-se um aumento na
produtividade da soja, milho, algodão etc.
Na região Norte, as precipitações são mais intensas, principalmente no
oeste da Amazônia e no centro-sul. Para a fruticultura tradicional da região,
essas características vão contribuir para o aumento dos custos, com controle
da fitossanidade, lixiviação de fertilizantes e queda de produtividade por
94
causa de encharcamento do solo, prejudicando a produção das fruteiras,
como o açaí, a graviola, o cupuaçu etc.
Portanto, todas as regiões do Brasil estão sendo afetadas com as
variações climáticas, sendo necessária uma mudança de comportamento dos
produtores para se adaptarem a estas alterações, principalmente como
irrigar, quando irrigar, porque irrigar e qual o melhor método de irrigação,
baseado nas características de cada região.
Com relação à nutrição juntamente com a irrigação ou precipitação,
temos que nutrir as plantas de acordo com cada característica de cada região.
Na região norte a irrigação será utilizada com fonte de nutrição ou irrigação
de salvação, com isso temos uma opção de projeto voltado para
nutrirrigação. Para a região Nordeste, que é a mais afetada pelos efeitos
climáticos, os projetos de irrigação juntamente com aplicações de nutrientes,
ou seja, fertirrigação, será necessário manter o equilíbrio da umidade no solo
com a presença de fertilizante na solução do solo.
Nas regiões Sul e Sudeste, os projetos de irrigação deverão contemplar
injetores de fertilizantes para que, no momento em que se esteja irrigando,
apliquem-se fertilizantes de uma forma quantitativa ou proporcional, assim
formamos uma solução do solo baseado na fase fenológica de cada cultura.
Na região Centro-oeste, a fruticultura é incipiente em comparação a
outras regiões do Brasil. Nessa região, prevalece a cultura do grão,
recebendo a cultura de sequeiro a irrigação das precipitações, adubação em
forma de fundação ou de cobertura, dependendo da cultura.
Com todas essas características comentadas, há que se mudar o
comportamento em relação à produção de frutas no Brasil. Não se pode
irrigar como se fazia na década de 1980 ou 1990. O mundo globalizado
exige mudanças de comportamento no manejo da irrigação e da nutrição das
plantas. Hoje a tecnologia fornece sistema de irrigação com muito mais
competência e eficiência na aplicação de fertilizantes como os fertikets,
injetoras de fertilizantes proporcionais com monitoramento das
nutrirrigações com o sistema conhecido como Irriwise, em que a irrigação é
monitorada a cada 30 minutos, a solução do solo é monitorada por extratores
de solução do solo, analisando-se da solução nutritiva, comparando-se as
análises de folha e realizando-se um equilíbrio das aplicações de fertilizantes
baseado em curvas de absorção foliar. Tudo isso fornece um monitoramento
perfeito da irrigação e aplicações de nutrientes de forma proporcional.
95
Figura 1: Mudanças climáticas (Donato, 2013).

A tendência do crescimento demográfico no mundo tem um crescimento


dos grãos proporcional ao crescimento da população. A importância dos
fertilizantes minerais é muito evidente, como revela trabalho realizado pela
ONU desde 1950 até uma projeção do ano de 2020. É muito expressivo o
crescimento dos trabalhos com fertilizantes orgânicos e isto tende a
aumentar em importância quando as populações mais esclarecidas
adquiriram produtos orgânicos com selo de certificação.

96
Gráfico 1: Tendências do crescimento demográfico no mundo (ONU,
2012).

Para reduzir os custos de produção, deve-se utilizar a fertilidade do solo


quando esse solo tem sua fertilidade constatada. Hoje, análises de solo têm
grande importância com relação à correção do solo ácido ou alcalino,
quantidade de matéria orgânica e nutriente mineral disponível. Porém, é
difícil identificar o que realmente está disponível em uma análise de solo.
Muitas vezes, há incompatibilidades ou precipitados difíceis de observar.
Somente com experiência em análise de solos, constatam-se tais
características.
Quando se realiza a análise da solução do solo, todos os elementos
analisados estão disponíveis. Através do processo de difusão, extrai-se a
solução do solo, analisa-se de uma forma mais segura do que realmente está
disponível para as plantas. Quando essa absorção da solução do solo é
realizada pelas raízes, há a formação da solução nutritiva com todos os
nutrientes disponíveis através da seiva elaborada e redistribuída para os
órgãos de produção das plantas.

97
Figura 2: Análise da solução do solo.

2. Relação dos nutrientes com o crescimento das plantas x conteúdo


de nutrientes minerais nos tecidos secos.
Quando se compara o que se aplica via fertirrigação com as análises de
folha, muda-se o comportamento na aplicação de fertilizantes, deixando com
que as plantas conduzam as ações de manejo. Na análise de folha, tem-se
uma posição de deficiência quando as aplicações de nutrientes não cobrem
os requisitos mínimos da curva de absorção das plantas. E há a posição de
luxo, quando há excesso de nutrientes, causando, muitas vezes, uma toxidez
nas folhas pelo aumento da condutividade elétrica na solução do solo. É
necessária uma posição adequada, quando se aplica uma fertirrigação de
acordo com as necessidades das curvas de absorção. Com isso se equilibra a
fertirrigação, de acordo com as necessidades da planta. Por isso, hoje,
levam-se em consideração as curvas de absorção foliar para o nivelamento
da fertirrigação, dependendo dos estádios fenológicos da cultura.
Baseados nesses conceitos, têm-se três momentos entre o crescimento
vegetativo, o rendimento da cultura e o conteúdo de nutrientes nos tecidos
vegetais. O primeiro momento é de nível critico da deficiência, quando as
plantas estão em fome escondida ou deficiência nutricional grave. Nesse
caso, deve-se aumentar a quantidade de nutrientes envolvidos na
fertirrigação para estabelecer um equilíbrio nutricional na cultura.

98
O nível ótimo de aplicação de fertilizantes ocorre quando o programa de
fertirrigação está nivelado com as análises foliares. Com isso, tem-se um
equilíbrio entre a situação das plantas e as aplicações de fertirrigação.
No nível crítico de toxicidade, quando se aplica um programa de
fertirrigação além do que as plantas possam suportar, aumenta-se muito a
condutividade elétrica na solução do solo, ocorrendo a queima dos tecidos
das raízes e dos pelos adsorventes.

Gráfico 2: Marcha de absorção de nutrientes inicial (NETAFIM, 2010).

3. Principais perguntas na fruticultura irrigadas


Por que irrigar?
Com a irrigação localizada, tem-se a redução do custo de mão de obra,
principalmente quando se utiliza a automação nos projetos de irrigação.
A redução dos custos com adubação é importante quando os programas
de fertirrigação levam em conta as fases fenológicas das culturas, a situação
dos nutrientes na folha das plantas e a situação dos nutrientes na solução
nutritiva.
Maior segurança na floração, melhor qualidade dos frutos, aumento de
produtividade são requisitos de aumento de produtividade a serem
alcançados com um programa de fertirrigação bem elaborado.

Por que irrigar frutas?

99
No mundo globalizado, os fruticultores têm como objetivo o aumento de
sua produtividade, pois os custos de produção são dolarizados. Têm eles
como finalidade produzir sempre visando ao aumento da matéria seca nos
frutos. A determinação da densidade do fruto, o aumento dos sólidos
solúveis, são caminhos de produtividades, pois se comercializam frutas por
quilograma, vendem-se frutas com maior densidade e melhor doçura.

Figura 2: Produção em alta escala de açaí em Alenquer/Pará, 2014, e de


banana grandnaine em Apodi/Rio Grande do Norte, 2008.

Qual o melhor método de irrigação?


A irrigação localizada por gotejamento é o método mais eficiente de
irrigação com 90% a 95% de eficiência. Com isso, pode-se oferecer uma
melhor distribuição de água no solo e uma maior eficiência na fertirrigação.
A irrigação por gotejamento trabalha diretamente ligada ao solo, com a
formação do bulbo molhado de acordo com a textura e estrutura do solo.
Para a determinação do bulbo no solo é importante que se faça o teste de
bulbo que determina a distância dos gotejadores e sua vazão para não se
correr o risco de aplicar água acima do que o solo possa suportar.
Para as fases vegetativas e de frutificação das plantas, a umidade do solo
deve permanecer próxima da capacidade de campo, ponto de murcha
permanente ou umidade crítica da irrigação.
Capacidade de campo é a capacidade máxima de água no solo, de
maneira a não prejudicar a aeração e a formação da solução do solo
disponível para as plantas. Umidade crítica é a mínima quantidade de água
no solo que estabeleça um início de estresse hídrico no solo, ou seja, quando
se deve ligar a bomba da irrigação.

100
Ponto de murcha permanente é a quantidade mínima de água que leva a
planta ao estresse hídrico total, não havendo água disponível para as plantas
no solo. Quando se necessita fazer as plantas produzirem artificialmente,
trabalha-se com a indução floral. Para isso, é necessário, no momento da
indução, retirar totalmente a água do solo, deixando-o em estresse hídrico.
Com isso, induz-se a produção e concentração de hormônio na planta com a
paralisação do crescimento vegetativo e com a emissão da floração e,
consequentemente, da produção.
Uma situação muito comum em campo é encontrar solo saturado, e isso
quando se aplica um volume de água acima do que a textura e estrutura do
solo possam suportar. Isso pode causar a formação de nitrito no solo por
falta de oxigênio, provocando nas plantas uma reação conhecida como
osmose reversa, ou seja, a perda de seiva elaborada para o solo, deixando as
plantas totalmente deficientes de nutrientes.
Quando se tem essa situação, aconselha-se parar de irrigar para que o
solo se oxigene e as raízes possam respirar e equilibrar água, oxigênio e
minerais no solo.

Gráfico 4: Eficiência no sistema de irrigação (Coelho, 2012)

4. Conceito de Fertirrigação
Fertirrigação é um método de aplicação de fertilizantes líquidos ou
solúveis dissolvidos em água via sistema de irrigação de uma forma
parcelada e eficiente, ou seja, as plantas bebem os nutrientes aplicados.
101
Os fertilizantes são fornecidos de acordo com a sugestão das análises de
solo, folha e solução do solo. São fornecidos em função da água de irrigação
e se calculam em mg/l ou mmol/l e se quantificam globalmente como
condutividade elétrica.
Com a fertirrigação, não se deve separar o adubo da irrigação, e sim
aplicar primeiramente a irrigação para a formação do bulbo molhado e, em
seguida, a fertirrigação, colocando dentro deste bulbo todos os nutrientes
que a planta necessita, de acordo com os estádios fenológicos da planta.
Para se adubar bem, primeiro tem-se que irrigar bem, ou seja, tem-se que
possuir um projeto de irrigação adequado para distribuir de maneira
uniforme todos os nutrientes para todas as plantas que estejam sendo
fertirrigadas.
Qualquer nutriente pode ser aplicado: macronutrientes, micronutrientes,
ácidos orgânicos e hormônios enraizadores. Mas sempre levando em
consideração os cálculos de condutividade elétrica da solução nutritiva.

Benefícios da fertirrigação;
 Aplicação dos nutrientes de acordo com as fases fenológicas
da cultura.
 Eficiência no uso de fertilizantes solúveis para as plantas,
tendo como consequência um maior controle no crescimento e resposta
das plantas a essas aplicações.
 A fertirrigação não danifica mecanicamente as raízes e
possibilita o monitoramento da solução do solo através do pH e
condutividade elétrica.
 Redução dos custos de aplicação com mão de obra no
campo, sendo que a aplicação da fertirrigação será realizada pelo
mesmo trabalhador que cuida da irrigação e também faz a fertirrigação,
e nos momentos após as aplicações dos fertilizantes também pode
monitorar a solução nutritiva aplicada anteriormente.

Planejamento da fertirrigação;
Antigamente o planejamento das adubações para a fruticultura ocorria
levando em consideração a análise química do solo, para determinar as
quantidades de nutrientes para uma área em produção ou crescimento
vegetativo. Utilizavam-se os parâmetros foliares para o nivelamento das
102
aplicações de cobertura, não levando em conta os estádios fenológicos da
cultura.
Com o surgimento dos estudos de fertirrigação, os planejamentos das
aplicações estão hoje sendo feitos levando em conta os estádios fenológicos
da cultura, fisiologias, juntamente com as análises da solução do solo,
comparando-se com as análises foliares. Com o manejo da fertirrigação,
levando-se em consideração a solução do solo, tem-se a certeza do que
realmente estará disponível ou não, pois a extração da solução do solo
ocorre pelo processo de difusão, reduzindo as reações de precitados no solo
ou as incompatibilidades dos reagentes na solução do solo.
Quando se colhe a solução do solo através dos extratores, tem-se a
solução nutritiva, que as plantas irão absorver pelos processos de fluxo de
massa, interceptação radicular por difusão, ou quando se têm no solo
compostos orgânicos cuja relação entre carbono e nitrogênio seja menor do
que 25/1, ou seja, reação de mineralização dos nutrientes no solo.

Figura 3: Sequência de coleta de solução do solo de pimenta do reino em


São Miguel Arcanjo/ Rio Grande do Norte, 2015.

As análises da solução do solo podem ser realizadas em laboratórios


oficiais ou na própria empresa através de laboratórios portáteis com dados
confiáveis para os cálculos de recomendação para fertirrigação.
Os programas de fertirrigação são realizados levando em consideração as
fases fenológicas e a própria fisiologia das plantas.
Na cultura da banana, tem-se um programa de fertirrigação para uma
colheita de um ano, considerando-se o lançamento do embrião, em torno de
noventa dias, até o lançamento da inflorescência. Do lançamento da
inflorescência até a colheita dos frutos são mais quatro a seis meses, quando
se retorna para a primeira fertirrigação, contemplando o crescimento do
seguidor.
103
Tabela 1: Fase fenológica da banana (NETAFIM, 2010)

Considerando-se um planejamento de fertirrigação de acordo com as


variedades, apresentar-se-á um cronograma de fertirrigação sempre levando
em consideração as fases fenológicas de crescimento vegetativo e produção
em função da importância das absorções de cada nutriente nas respectivas
fases de desenvolvimento.
Na fase de crescimento vegetativo, identifica-se como crescimento 1 o
período de 30 a 90 dias do plantio das mudas em campo; e crescimento 2, o
período de 90 dias do plantio a 30% dos cachos lançados.
O período de produção 1 seria 30% dos cachos lançados a 50% do total
do lançamento dos cachos; a produção 2 seria maior do que 50% dos cachos
lançados. Em cada momento fenológico tem-se um planejamento de
aplicação de nutrientes, como está representado na tabela 2.

104
Tabela 2. Recomendação de nutrirrigação para cultura da banana grupos
prata e grandnaine.

105
Para a cultura da goiaba variedade Paluma, tem-se um programa de
fertirrigação levando em consideração as fases de poda da cultura. Nessa
cultura, a produção é realizada baseada em podas, pois na interseção dos
ramos novos e ramos maduros sai a floração e, consequentemente, a
produção.
Antes das podas de produção, têm-se as podas de formação, em que são
realizadas podas de arquitetura dos ramos em forma de taça para facilitar o
manejo da colheita e futuras pulverizações preventivas e curativas.
Antes da poda de produção aplicamos calcário dolimítico ou calcídico
para correção da acidez do solo. Depois de trinta a quarenta dias, iniciam-se
as adubações e coberturas de acordo com as fases fenológicas da cultura.

Tabela 03: Fertirrigação para a cultura da goiaba paluma.


Antes da Poda;
Dados:
Média de calcário por hectare no Tabuleiro de Russas: 2 t/ha
Quantidades de plantas por hectare: 333 pl/ha media.
Área de goiaba = 3,14 x (R2) = 3,14 x 9 = 28,26 m2
Q calcário = 2000 kg x 28,26 m2 / 10.000 m2 = 6 kg calcário/planta.

Adubação de Cobertura na Poda;


20 kg de composto orgânico
500 g/pl de Map – 260 g de P2O5 = 114,4 g P/pl. + 60 g de NH4+ = 46,5 g
N/pl.
Aplicar enraizador, Acadian.

Adubação com 2 meses;


200 g/pl de Ca(NO3)2 = 30 g/pl NO3 = 6,77 g N/pl + 40 g/pl de CaO =
28,57 g Ca/pl.
200 g/pl KCl = 120gr/pl K2O = 100 g K/pl.

Adubação com 3 meses;


400 g/pl de Ca(NO3)2 = 60 g/pl NO3 = 14 g N/pl + 80 g/pl de CaO = 57 g
Ca/pl.
200 g/pl de KCL = 120 g/pl de K2O = 100 g K/pl.

106
Adubação com 4 meses;
400 g/pl de Ca(NO3)2 = 60 g/pl NO3 = 14 g N/pl + 80 g/pl de CaO = 57 g
Ca/pl.
100 g/pl de K2O = 50g K/pl; ou 100 g/pl K2SO4 = 50g/pl K2O.

Adubação com 5 meses;


400 g/pl de Ca(NO3)2 = 60 g/pl NO3 = 14 g N/pl + 80 g/pl de CaO = 57
g/ Ca/pl.
100 g/pl KCL = 60 g/pl de K2O = 50 g K/pl; ou 100 g/pl K2SO4 = 50g/pl
K2O.

Total de Nutrientes no Ciclo de 150 dias;


N = 95,27 g/pl/ciclo
RELAÇÕES: N/Ca = 1/2; Ca/K = 1/1,5; N/P = 1/1,2
P = 114,4 g/pl/ciclo
K = 300 g/pl/ciclo
Ca = 200 g/pl/ciclo

Toda recomendação foi baseada em curvas de absorção de nutrientes


levando em consideração as fases fenológicas da cultura e variedade. Essa
recomendação tem como objetivo produzir quatro caixas (de 25 kg cada) por
planta comercializada como fruta de primeira. Mas, dependendo da região,
podem-se colher até seis caixas por planta, o que representa uma produção
excelente.

Tabela 4: Recomendação de micronutrientes.


1. Adubações Foliares: de 0 a 3 meses: 1 litro/ha de Calsuper, a cada 15
dias.
3 a 4 meses: aplicação de micronutriente mais magnésio na fórmula.
Exemplos de micronutrientes: Quimifol ou Ubyfol MS – 77 + 1 kg/ha
MKP, uma aplicação por mês. Substituir as coberturas de FTE pelos
produtos via foliar contendo os micronutrientes acima citados.
4 a 5 meses: se necessário aplicar Calsuper direcionado ao fruto, proceder
à análise foliar e monitoramento do fruto, o que definirá a aplicação.
2. Após 120 dias, as mudanças dos cronogramas de adubação foliar e
fertirrigação serão definidas segundo a análise foliar.
107
3. Continuar com adubação de potássio até os 150 dias, com a finalidade
de manter o funcionamento de abertura e fechamento dos estômatos da
folha, pois as temperaturas estão muito altas, podendo ocorrer queda de
flores ou frutos. Também é importante manter a relação Ca/K = 1/1,5 na
planta.
4. No período da poda, aplicar na fertirrigação um condicionador de solo,
com objetivo de aumentar o sistema radicular, antes do início da
fertirrigação.
5. No quarto e quinto mês, quando utilizar sulfato de potássio, não aplicar
nitrato de cálcio; substituir a fonte de cálcio por Calsuper via foliar para não
formar precipitado.
6. Caso a planta, no quarto e quinto mês, necessite de nitrogênio e se
estiver aplicando sulfato de potássio, aplicar juntamente com o sulfato de
potássio nitrato de amônia ou adubação foliar, com nitrato de potássio
juntamente com Calsuper para nivelar o nitrogênio na planta.

Figura 5: Produção da cultura da goiaba paluma em Limoeiro do


Norte/Ceará, 2012.

108
Para realizar uma fertirrigação de forma competente, devem-se levar em
conta os efeitos climáticos, pois são eles que determinam quando as plantas
estão realizando fotossíntese e o momento do dia em que as plantas estão
realizando mais. É neste momento que se deve aplicar a fertirrigação para
que as plantas absorvam o máximo possível a solução do solo.
Em testes realizados no semiárido nordestino, determinaram-se entre
cinco e 10 horas, no máximo, o tempo de fotossíntese que as plantas
realizam. Esses testes foram realizados pela câmera de Scholander,
determinando o potencial hídrico xilemático do pecíolo das folhas retiradas
para análises de fertilidade em cada hora do dia, iniciando o monitoramento
às 5h horas e indo até as 17h, quando se reduz a produção de carboidratos
pelas plantas.
Nos horários entre 10h e 16h, são realizadas irrigações por pulsos para
manter um conforto térmico. Isso tem o objetivo de provocar nas plantas a
continuidade da fotossíntese, mesmo sabendo que de uma forma reduzida.
Em média, nesse manejo de conforto térmico, o máximo que se consegue é
de 25% de abertura estomática, pois ainda se necessita continuar com os
trabalhos visando ao aperfeiçoamento da tecnologia. Após as 16h, volta-se a
aplicar a fertirrigação para o complemento do cronograma proposto até as
16h, quando se reduz a luz e a taxa de fotossíntese.
Este trabalho deve ser realizado com irrigação localizada, gotejamento e
microaspersão. A irrigação por gotejamento provoca nas plantas uma melhor
eficiência na transpiração, pois pela sua eficiência temos um resultado de
abertura estomática maior. Na irrigação por microaspersão, apresentou-se
um conforto térmico melhor, principalmente com os microaspersores de
menores vazões e gotas, que realizam uma espécie de nebulização. Nas
irrigações de aspersão convencional e pivô central, essas características não
foram observadas, pois esses equipamentos não formam microclima
eficiente por aspergirem gotas grandes, as quais sofrem a ação da força
gravitacional e do vento, sem provocar aumento da umidade relativa.
Para que todo esse trabalho se concretize, é muito importante que as
plantas possuam algumas características que aumentem a fotossíntese como:
a) aumento do teor de carbono na folha; b) abertura estomática; c) aumento
da umidade relativa; d) clorofila na folha; e, d) umidade no solo, provocada
pela irrigação ou precipitações. Essas características são essenciais, porém
para uma irrigação competente e eficiente, é fundamental que se possa
109
provocar na planta o aumento de carboidratos, enzimas, proteínas etc. Com
isso, haverá aumento de produtividade sem aumentar os custos de produção.
E isto, somente com o manejo eficiente e profissional da irrigação.
Para ter-se uma fertirrigação eficiente, será necessária uma irrigação
competente, com monitoramento da lâmina de irrigação aplicada dentro dos
parâmetros de física do solo. Dependendo da textura e estrutura do solo, é
importante identificar, no solo a ser irrigado, os parâmetros de capacidade de
campo e umidade crítica. Com esses dois parâmetros, tem-se a chamada
curva de retenção de água no solo, que provoca nas raízes uma condição de
oxigenação, água e solução do solo disponíveis para serem absorvidas.
Nessas condições de avaliação dos parâmetros comentados, são
monitorados através de equipamentos como os tensiômetros, que medem a
força com que o solo retém água e, consequentemente, a sua disponibilidade
para as plantas, balanço hídrico da região ou sistema de monitoramento via
rádio, conhecido como irriwise, o qual transmite dados da tensão da água no
solo. A cada trinta minutos são transmitidos dados para um computador
central, o qual realiza uma avaliação através das curvas de capacidade de
campo e umidade crítica, ou seja, produz um diagnóstico de como se está
irrigando o solo. Esses equipamentos são importantes para se realizar o
diagnóstico do que realmente se está aplicando na irrigação. Quando se tem
uma irrigação competente, tem-se uma fertirrigação competente, pois as
plantas bebem nutrientes, e, assim, transforma-se a solução do solo em
solução nutritiva que será absorvida pelas raízes das plantas de uma forma
mais fácil e objetiva para que as reações do metabolismo da planta resultem
em uma maior produtividade da cultura.
Hoje a tecnologia oferece equipamentos de monitoramento da planta
como sensores leafsen, que medem a turgência foliar; dendrômetros, que
medem o diâmetro do tronco; a câmera de Scholander, que determina o
potencial hídrico xilemático etc. Sensores de solo, têm-se os tensiômetros,
que medem a tensão da água no solo; ECH2O, baseados em capacitância
indica o volume de água armazenada; Netasense, tecnologia TDT, indica o
volume de água armazenada no solo; Dry Contact, indica o monitoramento
da vazão no solo. Todos esses equipamentos, são oferecidos pelo
departamento agronômico da Netafim Brasil, em conjunto com o
departamento agronômico de Israel, para aplicar a fertirrigação e a irrigação
da forma mais tecnológica possível.
110
Hoje, tem-se uma evolução da fertirrigação conhecida como fertirrigação
proporcional ou nutrirrigação.
Nutrirrigação é a reposição de água de acordo com a necessidade hídrica
da planta com aplicação proporcional de nutrientes, ou seja, aplicação da
solução nutritiva de acordo com as fases fenológicas da planta, fertirrigação
proporcional mais fenologia mais fisiologia.
Os benefícios da nutrirrigação são: a) maior desenvolvimento do sistema
radicular; b) maior frequência de aplicação de nutrientes; c) menor
concentração de sais por aplicação (<1,7 ds/m); e, d) maior eficiência de
absorção pela planta, com menor potencial osmótico e redução de risco pró-
-perdas por lixiviação ou lavagem.
Com a nutrirrigação, o sistema radicular é favorecido em desenvolver o
crescimento de radicélulas e pelos adsorventes, responsáveis pela absorção
dos nutrientes na solução do solo.
O departamento agronômico da Netafim de Israel desenvolveu um
equipamento conhecido como fertikit, equipamento que tem a capacidade de
operar a fertirrigação de uma forma proporcional, ou seja, a nutrirrigação
sendo comandadas por um controlador que pode realizar várias aplicações
no mesmo turno de irrigação, conhecidas como aplicações proporcionais por
pulsos de fertilizantes. Esse manejo é muito importante, pois evita a
lixiviação de fertilizantes, deixando a solução do solo disponível para as
plantas.
No Brasil, o departamento agronômico da Netafim Brasil vem
desenvolvendo vários trabalhos de implantação desse sistema em diversas
culturas como a do café, e na fruticultura tropical como banana, manga,
mamão papaya, goiaba, uva etc.
Com esse equipamento, aplicando-se de uma forma proporcional a
solução nutritiva juntamente com os monitoramentos da solução do solo,
através de extratores da solução do solo, tem-se uma nutrirrigação de
precisão, sendo a tecnologia de ponta, tratando-se de manejo de fertilizantes
no mundo.

111
Figura 6: Injetor de fertilizantes (Fertkit, Netafim) em Limoeiro do
Norte/Ceará, 2015.

Com todos os equipamentos comentados de aplicação de fertilizantes, a


fertirrigação é uma das ciências que mais cresce no mundo, reduzindo os
custos de produção, aumentando a produtividade e reduzindo os riscos de
contaminação do lençol freático por fertilizantes, sendo o meio ambiente o
mais favorecido.
O produtor rural toma sua amostra da solução do solo através dos
extratores de solução do solo, analisa, compara os dados com as análises de
folha, interpreta os resultados, corrige o cronograma de fertirrigação ou de
nutrirrigação e inicia novamente todo o programa de fertirrigação, sempre
levando em consideração as fases fenológicas das plantas. Com isso, está
realizando um manejo de fertirrigação de alta tecnologia, com redução de
fertilizantes, aumentando a absorção da solução do solo pelas plantas, pois
há uma redução da condutividade elétrica na solução do solo, não
prejudicando a absorção pelas plantas da solução nutritiva.

112
Figura 7. Importância do monitoramento de um programa de fertirrigação
(Netafim, 2010).

Agradecimentos
Quero finalizar este capítulo dedicando a minha família, meu filho Daniel
Levi e minha filha Maria Elisa, fruto de inspiração do meu trabalho, pois
sem eles não seria possível fazê-lo; a minha esposa Mirian, especialmente
pelos 33 anos de companheirismo, cumplicidade, dedicação e credibilidade
no meu trabalho. A todos que fazem a empresa Netafim Israel e Brasil, que
sempre me apoiaram e acreditaram. Desejo que esse seja o início de um
novo tempo, e que outros profissionais continuem divulgando essa
tecnologia: a Fertirrigação.

Referências
COELHO, R. D. Eficiência no sistema de irrigação. In: Congresso
Nacional de Irrigação e Drenagem e a Área de Hidráulica e Irrigação da
UNESP. Ilha Solteira, 4 a 9 de novembro de 2012.
DONATO, L. R. Mudanças climáticas no Brasil. Congresso Acrobat,
2014.
NETAFIM, Departamento Agronômico. Sistemas Irrigação. Shefayim,
Israel: Ed. Netafim, 2010.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Tendência do
crescimento mundial. Disponível em:
<http://www.unric.org/pt/actualidade/31537-relatorio-da-onu-mostra-
populacao-mundial> Acesso em: fevereiro 2015.

113
CAPÍTULO 7

Cultivo de Fruteiras de Clima Temperado em Regiões de


Inverno Ameno

Rafael Pio

Introdução
As fruteiras de clima temperado são originárias de países que possuem
inverno bem frio, onde são cultivadas há centenas de anos. No Brasil, elas
são consideradas exóticas, pois foram introduzidas de várias regiões
mundiais.
Há indícios, no entanto, que as primeiras mudas ou sementes de fruteiras
de clima temperado tenham sido introduzidas pouco mais tarde, durante a
expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, entre 1531 e 1532. No
final do século XVI, São Paulo de Piratininga já era citado como um vilarejo
frio e brumoso, rodeado de pomares e vinhedos. A viticultura colonial de
São Paulo esteve relativamente bem desenvolvida, não só na segunda
metade do século XVI, como no século XVII. A partir de meados do século
XIX encontraram-se textos que descreviam o cultivo de fruteiras de clima
temperado arranjado na forma de pomares, bem como o uso de maquinários
apropriados para processamento de frutos (Pio et al., 2014).
No Rio Grande do Sul, há relatos de que o naturalista francês Auguste
Saint-Hilaire, durante sua visita a Pelotas, em setembro de 1820, faz menção
ao cultivo de pessegueiro e outras fruteiras. Quando se criou a Colônia
Francesa, em 1880, o Diário Liberal da época relatou a existência de mais de
100 mil pés de pessegueiros e que seus frutos eram destinados à fabricação
de compotas. Ainda em Pelotas-RS, o imigrante Amadeo Gustavo Gastal
introduziu, da França, a primeira indústria de conservas de frutas, sendo que,
em 1878, o mesmo chegou a produzir as primeiras compotas experimentais
114
de pêssegos. Em Santa Catarina, há informações de que a macieira era
plantada em jardins. Há relatos de que a cultivar ‘Bismark’ poderia ter sido a
primeira maçã a ser cultivada na região, perto das cidades de Indaial e
Brusque (Pio et al., 2014).
Por anos a fruticultura de clima temperado foi praticada de forma
comercial e com maior ênfase nos estados da região Sul do país, devido as
condições climáticas passíveis de exploração, principalmente nos estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No entanto, a fruticultura de clima temperado deixou de ser praticada
somente na região Sul do país, deslocando-se para outras regiões de inverno
ameno, desprovidas de temperaturas hibernais frias, a exemplo de São
Paulo, Minas Gerais e Paraná. O reflexo dessa migração ocasionou a
implantação de inúmeros pomares de fruteiras de clima temperado em
regiões atípicas, pouco pesquisadas quanto à adaptação climática das
respectivas espécies e cultivares, principalmente os pessegueiros, macieiras,
pereiras, figueiras, marmeleiros e fruteiras do gênero Rubus, como amoras e
framboesas (Barbosa et al., 2003; Pio et al., 2014).
A adoção de cultivares de fruteiras de clima temperado, que necessitam
de menor quantidade de unidades de frio, quando cultivadas em regiões de
inverno ameno, possibilita a colheita dos frutos em épocas de menores
ofertas (Barbosa et al., 2010). Isso devido ao início da safra nessas regiões
ocorrer em época antecipada, em relação às tradicionais regiões produtoras
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Araújo et al., 2008). Essa
precocidade de maturação é decorrente do clima hibernal mais quente, o que
possibilita se efetuar a poda e a indução da brotação das gemas com
produtos químicos ainda no inverno, por não haver riscos de geadas tardias
(Bettiol Neto et al., 2011).
A floração pode ser adiantada ou atrasada, pois cada genótipo apresenta
uma necessidade específica de unidades de frio acumulada para iniciar o
processo de inchamento das gemas (Citadin et al., 2001; 2003).
As cultivares desenvolvidos em São Paulo pelo Instituto Agronômico
(IAC) e no Paraná pelo Instituto de Pesquisa do Paraná (IAPAR), em mais
de 60 anos de pesquisas em melhoramento genético varietal de fruteiras de
clima temperado, quando dispostos em regiões de inverno ameno, com
diferentes horas de frio hibernal e de temperaturas elevadas ao final do
inverno, podem atender o mercado por seis meses a partir de agosto, devido
115
aos variados ciclos de maturação dos frutos (Barbosa et al., 1997).
Diferentemente não ocorre com algumas cultivares desenvolvidas pela
EMBRAPA Clima Temperado, em Pelotas-RS, a exemplo da amoreira-
preta, que a cada ano vêm ganhando espaço na fruticultura da Serra da
Mantiqueira e Sul de Minas, possibilitando a antecipação da safra e o
escalonamento da produção, com a utilização de cultivares distintas.
Mesmo com os significativos avanços científicos e tecnológicos,
verificados nas últimas duas décadas observa-se carência de cultivares e
técnicas de manejo cultural completamente adaptada às condições climáticas
de pouco frio hibernal, principalmente no Sul do estado de Minas Gerais.
Assim, a plena expansão da fruticultura de clima temperado em regiões de
inverno ameno tem sido parcialmente limitada por certos fatores
primordiais, entre eles, os insuficientes testes regionais para indicação de
cultivares adaptadas às diferentes regiões ecológicas, a falta de
caracterização fenológica dos variados genótipos existentes, o
desconhecimento da exigência de horas de frio para o normal
desenvolvimento vegetativo e floral e principalmente a carência de
adaptação do manejo cultural em regiões de inverno ameno.

Dormência
As fruteiras de clima temperado se adaptaram naturalmente a regiões
com estações climáticas bem definidas, que apresentam temperaturas
apropriadas ao crescimento durante a primavera e verão e, no outono e
inverno, temperaturas baixas. Para sobreviverem a esse período de baixas
temperaturas hibernais durante o inverno, as mesmas desenvolveram um
mecanismo de adaptação que passa pela aquisição da resistência ao frio e de
controle do crescimento que se chama dormência.
A dormência é definida como o período em que as plantas não
apresentam sinais de atividades metabólicas, sendo que, visualmente, o
crescimento está suspenso. Esse processo ocorre em todas as fruteiras de
clima temperado, com maior ou menor intensidade, dependendo da espécie e
da cultivar. Embora não apresente crescimento visual, a planta continua com
seu desenvolvimento, preparando as gemas para a saída da dormência,
brotação e início de um novo ciclo vegetativo.
Esse mecanismo adaptativo intervém diretamente em nível de controle de
crescimento e é característico de cada gema. No caso das gemas axilares,
116
existe um gradiente ao longo do ramo, partindo das gemas da base que
entram primeiro em dormência. Na gema terminal, última a ser formada, a
dormência ocorre somente após o meristema apical, responsável pelo
crescimento longitudinal do ramo, ter paralisado sua atividade, que é
influenciada por fatores ambientais ou por complexidade de organização da
planta. Em ramos menos vigorosos, a atividade apical paralisa mais cedo,
provocando a antecipação da entrada da dormência em todas as gemas do
ramo. Ao contrário, se o ramo for mais vigoroso, o crescimento se prolonga
até o início do outono, tanto da gema apical quanto das gemas próximas à
extremidade do ramo, podendo ocasionar a entrada da dormência
tardiamente, dificultando a saída desse estádio. Em consequência,
principalmente durante o outono, a planta apresenta gemas em diversos
estágios fisiológicos, o que pode acarretar na desuniformidade no período de
floração efetiva.
A importância dessa adaptação pode ser observada pelos problemas de
brotação, período de floração prolongada e produção, ocorrida nas espécies
frutíferas de clima temperado introduzidas em regiões subtropicais e
tropicais. O principal problema relaciona-se à brotação, que ocorre no final
do período de dormência, destacando-se: brotação retardada, redução da taxa
de brotação e desuniformidade ao longo do ramo e entre as plantas e,
prolongamento do período de brotação e/ou do período de floração.
De modo geral, o termo dormência está aludindo ao período total de
repouso, da entrada em dormência até o início de brotação, ou seja, o
término do período de dormência, que consiste na aparição dos primórdios
foliares na gema. A dormência das fruteiras de clima temperado é dividida
em três tipos ou fases: paradormência, ecodormência e endodormência (Pio
et al., 2014).
Na paradormência, também conhecida como inibição correlativa, a causa
que limita o crescimento se origina em uma estrutura diferente de onde se
está manifestando a dormência. O exemplo clássico da paradormência é o
efeito inibidor das gemas terminais sobre as gemas axilares, chamada
dominância apical, e pela influência das folhas sobre a gema axilar. Esse
tipo de dormência ocorre quando a planta ainda apresenta atividade de
crescimento, fazendo com que as gemas axilares não brotem durante o ciclo
de crescimento em virtude, principalmente, da influência da gema terminal.

117
Na endodormência ou dormência verdadeira, o crescimento é inibido por
condições inerentes e internas ao meristema. É induzida pela redução do
fotoperíodo, dependendo da espécie, e pelas baixas temperaturas outonais.
Para a sua superação da endodormência, é necessário que a planta passe por
um período de frio específico que ativará o metabolismo das gemas,
permitindo retomar o desenvolvimento da brotação. Essa necessidade,
conhecida como requerimento em frio, varia não só entre espécies e
cultivares, mas também entre as gemas de uma mesma planta.
Na ecodormência, também chamada de quiescência, a dormência é
regulada por fatores ambientais que limitam o crescimento, como água e
temperatura, sendo eliminada quando os fatores limitantes tornarem-se
favoráveis ao crescimento. Nesse caso, a temperatura é o principal fator.
Depois de satisfeito o requerimento em frio, à gema sai do estado de
endodormência, com pleno potencial de desenvolvimento, dependendo
apenas de um período de temperaturas mais elevadas para iniciar a brotação.
Esse período de acúmulo de calor, ou requerimento de calor, também é
dependente da espécie e da cultivar.
A quantidade de frio necessária para a superação da endodormência, além
de variar segundo as espécies e as cultivares, apresenta variação entre tipos
de gemas e gemas do mesmo tipo. Uma série de anomalias ocorre quando as
fruteiras de clima temperado são cultivadas em regiões de inverno ameno,
onde o requerimento em frio das plantas não é totalmente satisfeito. De
modo geral, ocorrem brotação e florescimento erráticos, sendo a alteração na
taxa de brotação e florescimento as anomalias mais descritas. Entretanto, ao
longo do ciclo de crescimento outras anomalias começam a se manifestar,
causadas direta ou indiretamente pela falta de frio hibernal, com efeitos
negativos à planta e à produção.
A brotação e a floração são retardadas em comparação com as regiões
com invernos mais frios, sendo que a data de brotação varia de ano para ano,
dependendo da quantidade de frio ocorrida. Como a taxa de brotação é
menor, a área foliar total é diminuída, reduzindo a fotossíntese da planta e
levando a uma carência na sua nutrição com consequências das mais
diversas, mas complementares, como: baixa frutificação efetiva, redução do
ciclo entre a floração e a maturação.
A melhor forma de amenizar os problemas causados pela insuficiência de
frio e induzir a brotação e floração das fruteiras, em pomares já implantados,
118
é a utilização de produtos químicos (indutores de brotação) em pulverização.
Essa prática já está incorporada nos diversos sistemas de produção das
fruteiras de clima temperado no Brasil e em outros países como Israel,
África do Sul e México. Os indutores de brotação são mais eficientes à
medida que aumenta o acumulo de frio (Petri et al., 2003). A eficiência dos
indutores de brotação depende da época de aplicação, concentração, volume
de calda, produtos utilizados, fatores ambientais durante e após a aplicação e
fatores inerentes a própria planta. Cabe ressaltar que a saída da dormência e
o crescimento das gemas são ações independentes, sendo que a ação dos
indutores de brotação pode afetar somente o processo de saída da
dormência. Entre os indutores de brotação existentes atualmente, destaca-se
o óleo mineral e a cianamida hidrogenada (produto comercial: Dormex ®,
com 49% de cianamida hidrogenada) os quais são utilizados isoladamente
ou em mistura de tanque. Recentemente novos compostos também têm
mostrado eficiência na indução da brotação, destacando-se o Erger®
(produto a base de nitrogênio inorgânico, enzimas e aminoácidos) e
formulações a base de ácido glutâmico, os quais normalmente são utilizados
em mistura de tanque com nitrato de cálcio. Com menor eficiência, atuando
somente em gemas floríferas, tem-se o Nitrato de potássio. Para as
pomáceas, a mistura de óleo mineral e calda sulfocálcica também apresenta
certa eficiência, sendo uma alternativa para cultivos agroecológicos (Leite,
2004).
O manejo cultural das fruteiras cultivadas em regiões de inverno ameno é
um pouco diferenciado, quando comparado ao cultivo dessas em regiões
tipicamente de clima temperado. Como nas regiões subtropicais e tropicais,
que possuem condições para a exploração das espécies de clima temperado,
são dotadas de inverno ameno e temperaturas elevadas na primavera e no
verão, há intenso crescimento das brotações e ramos, com forte dominância
apical. Nesse caso, há necessidade de se intervir, por meio da poda em
verde, realizada normalmente entre o término da primavera e início do
verão, sempre após a colheita dos frutos, enquanto as plantas ainda tiverem
folhas. Nessas condições, deve-se evitar o encurtamento severo dos ramos
por meio da poda de inverno, quando as plantas estiverem sem folhas.
A poda em verde, além de controlar o vigor dos ramos, tem o intuito de
auxiliar na redução do crescimento dos ramos, na indução e diferenciação
floral e, principalmente, no manejo fitossanitário, pois, como a parte da
119
estrutura de copa é renovada, as pulverizações realizadas no verão são
reduzidas (Pio et al., 2014).

Cultivo do Pessegueiro
O pessegueiro (Prunus persica (L.) Batsch), originário da China, foi
cultivado na Pérsia antes de sua expansão para o resto do mundo, sendo uma
das espécies frutíferas de clima temperado que mais têm sido pesquisada e
adaptada às condições de clima temperado quente ou subtropical.
Atualmente, pode-se encontrá-lo em qualquer continente, tendo destaque por
sua maior produção a China.
O Rio Grande do Sul se destaca como maior produtor de pêssegos do
Brasil, com aproximadamente 14.700 ha em cultivos. O estado de São Paulo
é o segundo maior produtor de pêssegos do Brasil, com uma área de 1.576
ha e detentor da maior média produtiva, ao lado do estado de Minas Gerais
(média produtiva acima de 20 t ha-1).
Ressalta-se que a produção em locais mais quentes tem se expandido,
tendo somente na região sudeste, nos últimos dez anos, aumentado cerca de
três vezes sua produção, com aumento de produtividade, exclusivamente nos
estados de São Paulo e Minas Gerais. Esse aumento na produção é em
decorrência do aumento da densidade de plantio observada nesses últimos
anos. Outrora, os cultivos de pessegueiro estão se expandido até para as
regiões tropicais do estado de São Paulo, a exemplo da região de
Taquaritinga e Jaboticabal.
Em geral, o potencial de mercado brasileiro é grande, uma vez que a
produção nacional dessa fruta ainda não atingiu volume suficiente para
atender o consumo interno. Com isso, o cultivo do pessegueiro torna-se cada
vez mais promissor para a região sudeste brasileira, uma vez que a mesma
apresenta as melhores condições para produção precoce, sendo possível
agregar melhor preço de venda, com a colocação de frutos antes da época de
maior disponibilidade no mercado.
Todavia, para o plantio dessa fruteira no sudeste, como em regiões com
clima subtropical, deve-se atentar para o uso de cultivares de baixa
exigência em frio hibernal e tecnologia de produção adequada, no qual serão
descritas abaixo.
A escolha da cultivar é um dos componentes mais importantes no sistema
de produção do pessegueiro. De modo geral, as cultivares de pessegueiro
120
mais plantadas nas regiões subtropicais e tropicais brasileiras são oriundas
do programa de melhoramento genético do Instituto Agronômico (IAC) e
pela EMBRAPA Clima Temperado. O objetivo central do IAC sempre foi a
obtenção de cultivares com menor necessidade em frio, adaptada às
condições de inverno ameno e verões quentes, produtoras de pêssegos
precoces, de polpa de coloração branca ou amarela, destinados para o
consumo ao natural (pêssegos para mesa) ou dupla aptidão, ou seja, que
podem ser utilizados tanto para o consumo ao natural como para a
industrialização. Já, o objetivo central do programa de melhoramento da
EMBRAPA Clima Temperado foi o lançamento de cultivares para a
indústria e mais recentemente para a mesa, adaptáveis às condições
subtropicais do sudeste brasileiro.
Os pêssegos destinados para a mesa podem possuir polpa de coloração
amarela ou branca, mais necessariamente polpa com alto teor de sólidos
solúveis, não-fundente, firmes para resistirem por maior tempo em pós-
colheita, boa porcentagem de coloração vermelha na epiderme e bom
calibre. Já, no caso dos pêssegos de dupla finalidade, a ideia é a produção de
pêssegos para mesa e a industrialização do excedente de produção. Por isso,
as cultivares devem possuir polpa com boa firmeza, alto teor de sólidos
solúveis, não fibrosa, película de coloração atrativa, polpa de coloração
amarela e com resistência a oxidação da polpa.
As principais cultivares de pessegueiro para regiões de inverno
ameno estão listadas abaixo:
a) Cultivares para mesa com polpa de coloração branca: ‘Jóia-2’ (IAC
471-2), ‘Jóia-3’ (IAC 4974-6), ‘Doçura’ (IAC 769-1), ‘Doçura-2’ (IAC
2370-3), ‘Doçura-3’, ‘Charme’, ‘Delicioso Precoce’ (IAC 5174-14) e
‘Maravilha’ (Fla 13-72);
b) Cultivares para mesa com polpa de coloração amarela: IAC ‘Aurora-
1’, IAC ‘Aurora-2’, ‘Ouromel-4’, ‘Douradão’ (IAC 6782-83), ‘Dourado 1’
(IAC 976-6), ‘Dourado 2’ (IAC 976-11) e ‘Tropical’ (IAC 180-1);
c) Cultivares para indústria: ‘Diamente’, ‘Jade’, ‘Rei de Conserva’ e
‘Maciel’;
d) Cultivares de dupla finalidade: ‘Biuti’ (IAC 951) e ‘Régis’ (IAC 2380-
56).
Para o plantio do pessegueiro nas regiões com condições climáticas
subtropicais e tropicais, o sucesso do empreendimento está na escolha e
121
utilização de cultivares adaptadas, com baixa necessidade de frio hibernal e
que produzam frutos com qualidade, uma vez que se trata de uma região
onde as condições climáticas de inverno são amenas e irregulares, diferente
das regiões temperadas que apresentam frio rigoroso e constante,
fundamentais para brotação e florescimento uniformes. Além disso, certas
práticas culturais como a adoção substâncias químicas para a superação da
dormência das gemas, aspectos nutricionais e de irrigação, além do controle
de pragas e doenças e a adoção da poda em verde, também possuem
importância relativa na obtenção de plantas com excelente produtividade e
produtora de frutos de qualidade.

Cultivo da Macieira
No Brasil, existem relatos da existência de macieiras datados de 1903, em
Rio dos Bugres e Brusque, em Santa Catarina. Em 1913, no mesmo estado,
no município de São Joaquim, verificaram-se plantas de macieiras
produzindo frutas de boa qualidade. Em meados da década de 60, a macieira
foi introduzida comercialmente no município de Fraiburgo, o qual ainda
representa um importante polo produtor dessa fruteira.
Em regiões subtropicais, notadamente, o desenvolvimento do cultivo de
macieiras começa a ter expressão a partir dos trabalhos de melhoramento
genético desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC), em São Paulo. Em
1909, introduziram-se diversas espécies de fruteiras temperadas na Fazenda
Santa Eliza, em Campinas, incluindo a macieira. Posteriormente, em 1928,
iniciava os primeiros estudos científicos da macieira no estado,
especificamente na Estação Experimental de São Roque-SP. Em 1947,
foram estabelecidas as bases e deu-se início ao programa de melhoramento
genético de fruteiras de clima temperado da Instituição, incluindo a
macieira. O árduo trabalho dos pesquisadores resultou na obtenção de
diversas cultivares, que possibilitou o desenvolvimento dos cultivos de
macieiras pouco exigentes em frio, em regiões subtropicais.
Em 1975, foi lançada a cultivar ‘Rainha’, pelo IAC, o que resultou na
produção de maçãs de alta qualidade em São Paulo. Em anos sequentes, a
pomicultura entrou em decadência no sudeste brasileira, por razões alheias,
mas, certamente, em razão da expansão da pomicultura no sul do país, onde
começou a se produzir no final da década de 70 maçãs de qualidades
superiores a produzidas em São Paulo. Em termos regionais, o Sudeste
122
apresentou queda de 70% da área cultivada no decorrer da década de 90 e,
por outro lado, houve incremento de 77% na área cultivada na região sul.
A partir de 1999, com o lançamento da cultivar IAPAR 75 – ‘Eva’, por
meio do programa de melhoramento do Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR), a pomicultura voltou a ser cogitada, especialmente na região
sudeste e no norte do Paraná, em razão da precocidade de produção,
qualidade dos frutos e à adaptabilidade para regiões de inverno ameno da
cultivar. Em seguida, foi lançada a cultivar ‘Julieta’, também pelo IAPAR,
com finalidade de servir como polinizadora para a ‘Eva’.
Ressalta-se que, a partir de 2006, a região nordeste já era considerada nas
estatísticas nacionais de cultivo da espécie e, em 2011, registrou 60 hectares
da cultura, implantados no estado da Bahia. Na região sudeste, o estado de
Minas Gerais praticamente triplicou a área de cultivo, passando de 54 para
157 hectares de macieiras cultivadas entre 1990 a 2011.
Esse cenário, apesar de oscilante, permitiu que o Brasil desponte,
atualmente, como o décimo maior produtor mundial de maçã, passando,
num período de aproximadamente 40 anos, da condição de importador para
exportador do produto. Deve-se considerar também a participação da
pesquisa no desenvolvimento de novas tecnologias de produção e manejo da
pomicultura, adaptados às diferentes regiões produtoras, adequações em
sistemas de produção e certificações, a respeito da Produção Integrada,
assim como investimentos em infraestrutura de armazenamento da fruta.
A macieira é uma espécie frutícola que apresenta alto grau de
incompatibilidade, necessitando um esquema especial de cultivo com duas
ou mais cultivares que permita a polinização cruzada. Em virtude disso, a
polinização e a frutificação efetiva somente são asseguradas com a
intercalação de diferentes cultivares, compatíveis entre si e com floração
coincidente. A incompatibilidade na espécie é decorrente das reações
fisiológicas entre o tubo polínico e os tecidos do estilete e/ou ovário, ou seja,
o grão de pólen quando depositado no estigma não germina ou, caso
aconteça à germinação sobre o estigma, o tubo polínico desenvolve
lentamente, impossibilitando a fecundação do ovário. Mesmo entre
cultivares consideradas autoférteis, a polinização cruzada tem efeito positivo
na frutificação. O grau de auto-incompatibilidade também pode ser
influenciado por um ano de alta produção, tendo reflexos no aumento do
grau na safra subsequente.
123
Dessa forma, é de suma importância que o pomicultor conheça e busque
aprofundamento nesse tema, conhecendo todos os fatores ambientais e
bióticos que exerçam influência nessa fase do processo produtivo, para que
possa intervir de forma favorável e segura no ciclo produtivo, primando pela
rentabilidade do pomar.
Cultivos em regiões de climas subtropicais e tropicais não encontram
condições térmicas que satisfaçam essas exigências térmicas, retardando e
desuniformizando as brotações e floração da planta, com reflexos na
produção de frutos de dimensão inferiro e também desuniformes. Assim,
nessas regiões, além da formação de pomares com cultivares de baixa
exigência em frio, é necessária a adoção de práticas de manejo
complementares para minimizar os problemas decorrentes da falta de frio. A
utilização de agentes químicos, visando à maximização da brotação de
gemas e a uniformização da floração, é a prática de manejo mais difundida
em regiões com baixo acúmulo de frio hibernal.
As principais cultivares de macieira para regiões de inverno ameno são:
‘Eva’ (IAPAR – 75), ‘Julieta’ (‘IPR Julieta’), ‘Princesa’, ‘Baronesa’,
‘Rainha’ (IAC 8-31) e ‘Condessa’.
A seleção de materiais adaptados, desenvolvimento de tecnologias de
manejo cultural, compreensão de técnicas e infraestrutura de
armazenamento, organização e investimentos de produtores, adequação às
exigências de mercado, dentre outros, possibilitou que país se tornasse
exportador do produto em tempo relativamente curto. Esses aspectos
proporcionaram, certamente, grande desenvolvimento socioeconômico em
diversas regiões brasileiras, gerando emprego e renda para várias cidades
nacionais, consolidando a pomicultura nessas regiões.
É óbvio que a produção de maçã em regiões de clima subtropical e
tropical não pretende ser concorrente às tradicionais regiões produtoras
brasileiras. Essa pomicultura pode, certamente, preencher algumas lacunas
de oferta de produtos frescos e atender a nichos locais de mercado, sendo,
portanto uma alternativa de renda à agricultura familiar e aos pequenos
empresários rurais, gerando desenvolvimento para essas áreas.

Cultivo das Pereiras


O cultivo de peras teve início nos tempos coloniais no Brasil ao lado do
cultivo de marmelos. Apresentou relevância no estado de São Paulo,
124
sobretudo, na década de 30, quando era cultivada em numerosos sítios e
quintais, porém, ainda em uma incipiente fruticultura. As peras, assim
produzidas, tiveram alta aceitação na época, em face dos preços elevados em
comparação às peras importadas de outros países produtores, ainda em
pequena disponibilidade.
Na época, dominavam as peras rústicas, que foram sendo selecionadas
frente à adaptação às condições de inverno brando, em destaque, ‘D’Águas’,
‘Madame Sieboldt’, ‘Kieffer’ e ‘Smith’. Com a difusão e intercâmbio
colonial entre os produtores, de forma natural e pouco controlada, constata-
se que a mesma cultivar (ou similar) era conhecida por nomes populares
diversos, enquanto que peras diferentes contam com uma mesma designação
genética; assim, a pera ‘D’Água’ é conhecida por outros nomes, como
‘Branca’, ‘Bela Aliança’, ‘Joaquina’, ‘D’Água de Valinhos’ e ‘Branca de
São Roque’.
Ao lado das quatro cultivares de importância econômica na época,
estavam presentes outras peras rústicas, como ‘Hood’ e ‘Garber’, contudo,
sem constituírem certo significado econômico. Já, as peras européias, como
a ‘Bartlett’, foram testadas na época, mas tiveram insucesso em São Paulo,
pela falta de frio invernal intenso. No entanto, apesar da frutificação
reduzida, frutos de excelente qualidade eram produzidos pela cultivar
‘Packham’s Triumph’, principalmente no município de Campos do Jordão-
SP que, no futuro, vieram a contribuir na expansão do cultivo de peras em
Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A partir das décadas de 40 e 50, fruticultores de ascendência japonesa
introduziram, em São Paulo e Paraná, cultivares de peras orientais, algumas
revelando adaptação satisfatória às condições de inverno ameno e menor
suscetibilidade às enfermidades foliares. Nos anos cinquenta, já havia
informações de produção eventual de peras asiáticas, como ‘Chojuro’,
‘Okusankichi’ e ‘Imamura-aki’, na região de Presidente Prudente-SP e ‘Ya-
Li’ em Curitiba-PR.
Após os períodos de alta oferta brasileira de peras, o cultivo foi
gradativamente entrando em decadência, com diminuição acentuada da
oferta e da qualidade das frutas produzidas, em comparação às frutas
produzidas no exterior. Em consequência, houve desestimulo dos produtores
brasileiros com os baixos preços adquiridos, diminuindo assim
gradativamente os tratos culturais fitossanitários e indiretamente a qualidade
125
das peras produzidas, até a quase dizimação do cultivo de peras em São
Paulo.
Analisando-se dados estatísticos brasileiros mais recentes sobre o cultivo
de peras, verifica-se que de 1990 a 2001, a área cultivada com pereira girava
em torno de 2.000 hectares, atingindo o pico de 2.303 hectares plantados em
1994. A partir de 2001, a área representada por essa fruteira reduziu
vertiginosamente, chegando em 2010 com cerca de 1.500 hectares, ou seja,
nos últimos vinte anos, o cultivo de peras deixou de ter expressão em 25%
da área, no período considerado. Nos dias atuais, em termos de região, nota-
se um incremento de 6% da área plantada na região sul e uma redução de
86% da área cultivada com pereiras na região sudeste. Na região sul, os
estados de Santa Catarina e Paraná implantaram novos pomares no período,
destacando-se Santa Catarina, que aumentou a área cultivada, passando de
15 hectares cultivados em 1990 para 286 hectares em 2010.
Por mais negativo e pessimista que se mostre o cenário do cultivo de
peras no Brasil, principalmente em regiões de inverno mais ameno, vale
ressaltar que são importados 85 a 90% da demanda interna de peras,
estimada em 150 mil toneladas por ano, aproximadamente, alocando o
Brasil como o segundo maior importador mundial dessa fruta. Considerando
ainda estimativas futuras de demanda nacional de 300 mil toneladas anuais
pela fruta, é simples perceber o potencial de crescimento vislumbrado para a
cultura em nosso território.
É óbvio que esse otimismo não se trata de simples entusiasmo dos
técnicos envolvidos no avanço do cultivo de peras no Brasil, pois, acredita-
se que seja factível a produção de frutos com qualidades superiores,
comparáveis ao produto importado. É claro que há um longo caminho a ser
percorrido.
De importância para o Brasil têm-se as espécies Pyrus calleryana
(‘Taiwan Nashi-C’) e Pyrus betulaefolia (‘Manshu Mamenashi’), que são
utilizadas como porta-enxertos, comumente conhecidos como porta-enxertos
orientais. No caso das cultivares copa, as de maior importância pertencem às
espécies Pyrus communis (peras europeias) e Pyrus pyrifolia (peras
asiáticas). As peras europeias requerem maior necessidade em frio e
possuem formato piriforme, casca lisa com coloração amarela a
avermelhada, textura de polpa carnuda, suculenta e doce. Por outro lado, as
peras asiáticas requerem menor necessidade em frio, possuem formato
126
arredondado, casca áspera de coloração marrom, polpa branca e crocante.
Para as condições subtropicais brasileiras, as peras mais cultivadas são as
híbridas entre Pyrus communis x Pyrus pyrifolia, onde se busca a rusticidade
quanto à adaptação climática das peras asiáticas e a qualidade de frutos das
peras europeias.
Todas as espécies de Pyrus são autoestéreis, inférteis e diploides, com
exceção da Pyrus communis, que possui algumas cultivares poliploides.
Assim sendo, há necessidade da polinização cruzada para aumentar a
frutificação efetiva. Para que haja a fertilização do óvulo e uma consequente
frutificação, a planta polinizadora que irá simplesmente possuir o papel de
doadora de pólen para a cultivar principal, necessita produzir pólen
compatível com o estilete da flor receptora. Uma boa planta polinizadora
deve possuir pólen em abundância, sincronia floral com a cultivar principal
(florescimento da cultivar polinizadora com a cultivar principal na mesma
época) e flores atrativas para os agentes polinizadores. A relação planta
polinizadora/cultivar principal deve ser de 1:8.
É comum ainda a ocorrência de partenocarpia, que consiste no
desenvolvimento das paredes do ovário, dando origem a peras sem
necessidade do estímulo sexual da fecundação dos óvulos, originando assim
peras sem sementes. Algumas peras possuem rudimentos de sementes que
tiveram um ligeiro princípio de crescimento, mas rapidamente abortaram. A
não formação de sementes normais muda a conformidade dos frutos,
geralmente deixando-os mais alongados. Peras com sementes possuem
menor desprendimento da planta e, consequentemente, menor queda de
frutos, possuem maior firmeza, sólidos solúveis e massa, além da melhor
conservação em câmara fria.
As principais cultivares de pereira para regiões de inverno ameno são:
‘Packham’s Triumph’ (pera europeia); ‘Housui’ (pera asiática); ‘Kieffer’,
‘Smith’, ‘Triunfo’ (IAC 16-34), ‘Seleta’ (IAC 18-28), ‘Tenra’ (IAC 15-20),
‘Primorosa’ (IAC 9-3) e ‘Centenária’ (IAC 9-47) (peras híbridas).
Em decorrência da estrutura fundiária da fruticultura nacional,
principalmente os locais onde se produzem maçãs, o cultivo da pereira pode
se tornar um grande investimento dentro do agronegócio. O Brasil pode
deixar de ser um grande importador para ser um exportador do produto e
seus derivados, como ocorreu com a maçã. Para que isso seja possível, há
necessidade de desenvolvimento de cultivares adaptadas, principalmente, às
127
condições climáticas brasileiras que, em sua grande maioria, não fornece
temperaturas baixas em quantidade suficiente para estimular a floração e,
consequentemente, a adequada frutificação dessa espécie, tipicamente de
clima temperado.
Além do mais, torna-se necessário o aprimoramento das técnicas de
manejo cultural em condições de inverno ameno, não obstante somente
quanto ao uso de porta-enxertos pouco vigorosos, como os marmeleiros,
mas sim a intensificação do arqueamento de ramos, uso de fitorreguladores e
adubações foliares com elementos que melhorem a fecundação das flores,
como cálcio e o boro.

Cultivo da Figueira
Ficus Carica L., da família Moraceae, é o nome botânico da figueira
cultivada comercialmente em todo mundo. No Brasil, tem-se
comercialmente somente uma única cultivar denominada de ‘Roxo de
Valinhos’, cultivar que foi introduzida no Brasil por imigrantes italianos e
que, mundialmente, é conhecida também como ‘Roxo’ e ‘Brown Turkey’.
Essa cultivar demonstrou boa adaptação nas condições brasileiras, pois é
cultivada em regiões de clima bem temperado, como Rio Grande do Sul,
assim como em climas subtropicais quentes, inclusive no nordeste brasileiro,
nos estados da Bahia e Ceará, dentre outros.
O cultivo de figos teve início com a introdução dessa cultivar na região
de Campinas-SP, principalmente no município de Valinhos-SP, no ano de
1910, com estacas introduzidas pelo Imigrante italiano Lino Buzatto. A
expansão das áreas cultivadas se dá juntamente com outras fruteiras, como a
macieira e a videira, com o declínio do cultivo do cafeeiro na região;
concomitantemente com o aumento da população nas áreas urbanas como as
cidades de São Paulo e Campinas, que ficam próximas da região produtora e
passaram a demandar esses produtos.
Entre as décadas de 50 e 60, pesquisas agronômicas realizadas pelo
Instituto Agronômico (IAC), como poda drástica e tratos fitossanitários
como a aplicação de calda bordalesa, propiciaram manejos culturais que
permitiram ampliar o período da safra, que nos primórdios duravam
praticamente dois meses no ano, para uma colheita entre seis a oito meses.
No início da década de 70, a instalação da energia elétrica nas propriedades
favoreceu a ampliação da área cultivada, permitindo o uso de moto-bombas
128
estacionarias, aumentando a capacidade de condução de mais áreas
cultivadas, com a mesma mão de obra. Dessa forma, esse aumento de área
permitiu as primeiras exportações de figos para a Europa, realizadas via
aérea, que permanece até hoje, com grande aumento do volume, tanto em
quantidade como em valores financeiros. Atualmente, a colheita é feita
praticamente o ano todo com o manejo de podas tardias
(novembro/dezembro) e adoção da irrigação.
O aumento das preocupações com a segurança alimentar em todo o
mundo passou a exigir a aplicação do processo de qualidade na condução da
figueira. Isso motivou o desenvolvimento da produção integrada, assim
como a implantação de protocolo Globalgap no sistema de produção da
figueira no estado de São Paulo, onde a grande maioria dos plantios
produzem figos destinados à exportação. A obtenção desses certificados
pelos produtores também contribui para a expansão da exportação nos
últimos anos.
Pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), na década de 80, davam indícios de que seria possível
cultivar a figueira em regiões tropicais, como o nordeste. No inicio da última
década, produtores e exportadores tentaram cultivos do figo no semiárido,
mais precisamente no Rio Grande do Norte, porém, em razão do tipo de
solo, muito arenoso, que facilita a propagação de nematóides de galhas do
gênero Meloidogyne, o cultivo da figueira não teve sucesso. Atualmente,
produtores estão cultivando figo em outra região do nordeste,
principalmente no estado do Ceará, com relativo sucesso.
O cultivo da figueira também se expandiu para as regiões mais quentes
dos estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná. Essa expansão se encontra
mais voltada para a produção de frutos verde para a industrialização,
visando à produção de doces em caldas e figadas.
A área cultivada no Brasil se mantém estável nos últimos 20 anos, em
torno de 3.000 hectares, porém com grande variação na produtividade. A
figueira é cultivada comercialmente com grande expressão nos estados da
região sul e em São Paulo e Minas Gerais. Porém, possui maior extensão,
em áreas, no Rio Grande do Sul, que possui, atualmente, 1.780 ha em
cultivo. No início dos anos 90 até o ano passado, houve aumento expressivo
na área cultivada com figueiras em Minas Gerais, passando de 393 ha para
586 ha. Já, em São Paulo, em 1990 eram cultivados 1.176 ha e atualmente
129
apenas 450 ha. Essa redução se deve principalmente a problemas
fitossanitários, ocasionados, principalmente, pela seca-da-figueira,
diversificação com outras fruteiras e, principalmente, pelo êxido rural e a
exploração imobiliária, visto que a principal área cultivada com figos está na
região de Campinas, que detém 391 ha do total da área cultivada em São
Paulo.
Apesar dessa drástica redução na área cultivada, a produtividade dos
figueirais paulistas é a maior registrada nacionalmente (16 t/ha, em média).
Isso se deve ao fato da produção paulista ser destinada ao mercado de fruta
fresca, onde se colhem figos com 90 g, em médias, diferente do ocorrido nos
estados de Minas Gerias e Rio Grande do Sul, onde se colhem figos verdes
com massa de 15 g, em médias, destinados a produção de doces. Por esse
fato, a média da produtividade mineira é de 10,27 t/ha e gaúcha de 6,32 t/ha.
Ressalta-se ainda que a produção paulista da região de Campinas é quase
toda destinada à exportação, com a vantagem de alocar figos frescos na
entressafra dos países do hemisfério norte. Cerca de 80% dos cultivos,
localiza-se em áreas menores que 7,5 ha e destes, 38,9% em área menores
que 0,7 ha, o que evidencia o cultivo em pequenas áreas, sendo de forma
predominante uma atividade básica familiar.
Na região de origem da figueira, predomina o clima mediterrâneo, de
invernos frios e úmidos, com variação de temperatura no mês mais frio entre
18ºC e -3ºC, verões quentes e secos. Por se tratar de uma fruteira nativa de
uma região em que predomina o clima subtropical temperado, a figueira
apresenta boa adaptação aos diferentes tipos de clima. Entretanto, a figueira
possui limitações em seu desenvolvimento e produção de frutos quando é
alocada em áreas com latitude acima de 45º S.
No Brasil, a figueira é cultivada desde as zonas mais frias dos estados da
região sul até as condições semiáridas nordestinas, vista que a cultivar
‘Roxo de Valinhos’ possui baixa necessidade em frio. Porém, apresenta
melhor crescimento quando é cultivada na faixa de temperatura média de
20º a 25ºC. Temperaturas inferiores a 15ºC limitam seu crescimento.
Apesar da estagnação da área cultivada com figos no Brasil, o
decréscimo registrado nas zonas paulistas produtoras dessa fruta são
significativos nos últimos anos. Parte das razões por essa diminuição da área
cultivada é decorrente dos problemas fitossanitários ocorridos nas últimas
duas décadas. Acredita-se que a hegemonia da única cultivar de figueira em
130
nível comercial, a ‘Roxo de Valinhos’, possa estar relacionada aos
problemas fitossanitários que ocasionaram tais reduções nas áreas paulistas
produtoras de figos maduros para a exportação.

Cultivo do Marmeleiro
Dentre as fruteiras originárias das regiões temperadas, o marmeleiro é
historicamente uma das mais importantes no Brasil. A marmelocultura
exerceu importante papel socioeconômico nos estados de São Paulo e Minas
Gerais. A marmelada foi o principal e o primeiro produto de exportação
paulista na época colonial, antecessora ao café, onde os doces eram
comercializados em caixas e caixetas.
Na serra da Mantiqueira em Minas Gerais, a marmelocultura era a
principal atividade econômica da década de 30, onde existiam, na época,
mais de 25 indústrias doceiras nos municípios de Marmelópolis, Delfim
Moreira, Virgínia, Cristina, Maria da Fé e Passa Quatro. Em anos
posteriores houve uma crise decorrente do monocultivo, o que ocasionou
baixos preços, em razão da alta oferta e a dependência industrial dessa
fruteira, já que seus frutos são exclusivamente utilizados para o
processamento no Brasil. Por esse fato, quase houve dizimação da
marmelocultura em Minas Gerais, fato esse que não foi revertido no estado
de São Paulo.
Na atualidade (2013), são produzidos próximos a um milhão de toneladas
de marmelos, sendo apenas 17% destes no Rio Grande do Sul. Do total de
marmelos produzidos nacionalmente, 50% estão em terras mineiras. No
entanto, essa fruteira vem sendo explorada em novos locais, dotados de
temperaturas amenas no inverno, a exemplo do norte de Minas, responsável
pela produção de 250 t de frutos/ano e Vale do Jequitinhonha, que produz
anualmente 150 t de marmelos.
Outro estado que se destaca na exploração econômica do marmeleiro é
Goiás, que produz anualmente 80 t da fruta, principalmente nas cidades de
Luziânia e Cidade Ocidental, próximas ao Distrito Federal. O estado da
Bahia é outro estado que possui destaque recente na exploração do marmelo,
com uma produção anual de 250 t na região nordeste do estado, mais
precisamente no Morro do Chapéu, zona oriental da chapada Diamantina.
Nota-se que o cultivo de marmelos no Brasil possui maior expressão em
regiões subtropicais e tropicais, em macroclimas que possibilitam a
131
exploração racional do marmeleiro, com altitudes próximas a 1.000 m, que
possibilitam boa amplitude térmica e temperaturas anuais entre 21 e 24ºC.
Um marmeleiral adulto e bem conduzido tem potencial em atingir uma
produtividade média de 15 t/ha. Para atingir essa produção, uma série de
cuidados no manejo cultural deve ser tomada, no entanto, a escolha da
cultivar apta a ser explorada na região é de suma importância.
Tradicionalmente, a cultivar Portugal é a mais conhecida e cultivada no
Brasil, por ser um marmeleiro rústico, produtivo e que proporciona
marmelada de excelente qualidade. No entanto, existem outras cultivares
com grande potencial de cultivo para regiões subtropicais e tropicais, como
é o caso do ‘Mendoza Inta-37’, ‘Fuller’, ‘Smyrna’ e ‘Provence’. Há ainda o
‘Japonês’, recomendado apenas como porta-enxerto.
O cultivo do marmeleiro tem grande potencial para propriedades
produtoras de frutas destinadas ao processamento, sendo uma excelente
opção de diversificação, uma vez que a época de colheita dos marmelos, que
se restringe entre os meses de janeiro e fevereiro, não coincide com a época
de colheita dos pêssegos, figos, uvas, castanhas e amoras pretas. Também é
uma excelente opção para pequenas propriedades rurais, pois constitui uma
alternativa de agregação de valores com a possibilidade da produção de
marmeladas e geleias artesanais. Seus frutos também podem ser utilizados
na confecção de sucos e bebidas fermentadas, como iogurtes e licores,
produtos ainda não explorados no Brasil. Como a produção brasileira é
relativamente baixa e restrita em alguns locais, os frutos e a marmelada
possuem preços atraentes.

Cultivo da Amoreira preta


A amoreira preta é cultivada em várias regiões temperadas no mundo.
Estima-se que há aproximadamente 20 mil ha cultivados com essa fruteira
em todo o mundo. A Europa possui ao redor de oito mil ha cultivados com
amoras, sendo que o maior produtor Europeu é a Sérvia, com 53% da área
cultivada e uma produção próxima a 25 mil t. Outros países que cultivam
amoreiras pretas com grande expressão nesse continente é a Hungria, Reino
Unido, Romênia, Polônia, Alemanha e Croácia. No caso da América do
Norte, a área cultivada é de aproximadamente 7.200 ha, sendo os estados
Unidos o maior produtor, com sua maior área de produção situada em
Oregon, Michigan e Arkansas. Ressalta-se ainda que o México possui 32%
132
da área cultivada da América do Norte, considerado o segundo maior
produtor. Em relação à América do Sul, a área cultivada com amoreira preta
é superior a 2.500 ha, sendo o Equador e o Chile os principais países
produtores.
Embora existam espécies nativas do gênero Rubus no Brasil, a amoreira
preta só começou a ser pesquisada a partir de 1972, pela Embrapa Clima
Temperado, então Estação Experimental de Pelotas, sendo a primeira
coleção implantada em 1974 no município de Canguçu-RS. Estima-se que,
atualmente, a área cultivada com essa fruteira no Brasil seja
aproximadamente de 600 hectares. No Rio Grande do Sul, destacam-se os
municípios de Vacaria, Caxias do Sul e Feliz.
O cultivo de amoreira preta apresenta grande importância em regiões
subtropicais e tropicais brasileiras. Em São Paulo, a área cultivada é de
aproximadamente 215 ha, destacando-se os municípios de Duardina (22 ha),
na região de Bauru e Marília, Iaras, Itatinga, Águas de Santa Bárbara e
Botucatu, que juntas somam mais de 40 ha, Parapuã, Tarumã e Presidente
Prudente, no oeste do estado, que juntas somam aproximadamente 36 ha,
além de municípios localizados no pontal do Panapanema, vale do Ribeira e
principalmente o vale do Paraíba, atualmente principais polos produtores de
amoras de São Paulo. Em Minas Gerais, os principais municípios produtores
encontram-se na serra da Mantiqueira e sul de Minas, com destaque para
Senador Amaral, Cambuí, Campestre, Gonçalves e Pouso Alegre. Embora
sejam escassos os dados oficiais sobre o volume produzido, é notável o
crescente interesse pelo cultivo por parte dos produtores, decorrente da
grande procura pela população, principalmente na serra da Mantiqueira.
As produtividades dos plantios de amoreira preta em regiões subtropicais
podem atingir até 12 t por hectare já no primeiro ano após o plantio e 25 t no
segundo ano de cultivo. Isso é possível desde que seja escolhida as
cultivares adaptadas às condições climáticas de inverno ameno, além de um
bom manejo cultural, apurado para essas condições climáticas de cultivo.
Por ser uma fruteira rústica, com poucos problemas fitossanitários,
intenso crescimento e pouco tempo demandando para se formar a estrutura
de copa, o que propicia o rápido retorno do capital investido, é uma
atividade interessante para a diversificação da fruticultura nas regiões
subtropicais. Aliada à grande procura por parte dos consumidores e sabor
peculiar de suas frutas, a amoreira preta é, sem dúvida, uma fruteira
133
potencial para ser inserida em regiões turísticas, como uma grande opção
para o turismo rural e na produção de geleias e sucos caseiros.
Essa fruta tem ganhado espaço no mercado consumidor, em decorrência
das recentes descobertas dos benefícios de seu consumo à saúde humana.
Possui quantidades significativas de vitaminas A, B, cálcio e ácido elágico,
um constituinte fenólico com propriedades anticancerígenas. Além disso, a
amora preta também é rica em pectina, que auxilia na redução do colesterol
e na prevenção de doenças cardiovasculares e circulatórias. Também auxilia
na prevenção de diabetes e no mal de Alzheimer.
A amoreira preta pertencente à família Rosaceae e gênero Rubus, contém
aproximadamente 740 espécies, divididas, segundo alguns autores, em 12
subgêneros ou segundo outros em 15 subgêneros. Caracterizações do gênero
Rubus são difíceis de serem realizadas, em razão da diversidade do hábito de
crescimento das plantas e distribuição das espécies. Muitas delas têm
sistema radicular superficial e perene. Em geral, as plantas têm hastes
bianuais, as quais necessitam de um período de dormência antes de
frutificar. O hábito de crescimento das hastes varia de ereta a prostrada,
podendo ter hastes com ou sem acúleos, chamado popularmente de
espinhos.
A amoreira preta produz frutos agregados, com cerca de 4 a 7 gramas.
Logo após a frutificação, inicialmente os frutos são de coloração verde, após
adquirem a coloração vermelha e, finalmente, a coloração negra, que,
quando maduros, possuem sabor ácido a doce-ácido. O fruto verdadeiro é
chamado de drupete ou minidrupa e o número de frutos verdadeiros em um
fruto agregado varia em função de cada cultivar.
Por pertencer ao grupo das fruteiras de clima temperado, a amoreira preta
apresenta um estado de inatividade fisiológica conhecido como dormência,
que permite a sobrevivência em baixas temperaturas. No início dessa fase,
estimulado pela diminuição do comprimento do dia (menor duração do
período luminoso) e redução das temperaturas, há síntese dos inibidores de
crescimento, como ácido abscísico e o etileno. Esses hormônios sintetizados
pela planta, que juntos são responsáveis pelo estímulo à dormência, atuam
na degradação da clorofila e na abscisão das folhas. Posteriormente, ocorre a
mobilização das substâncias de reservas para as raízes e conversão dos
fotoassimilados, principalmente em amido. Em regiões subtropicais e
tropicais, onde as temperaturas são amenas nessa fase, que culmina com o
134
final do outono, ocorre pouca queda das folhas. Acredita-se que esse fato
possa estar relacionado com as temperaturas elevadas durante o dia,
proporcionando pouco estímulo à síntese dos inibidores de crescimento.
Assim sendo, é necessário aplicar substâncias nas plantas entre o final do
mês de abril a meados do mês de maio, para ocasionar a queda das folhas.
Essa operação é conhecida como desfolha e tem papel fundamental no
manejo cultural das amoreiras pretas em regiões subtropicais e tropicais.
Durante a fase de dormência, embora de maneira reduzida, as atividades
metabólicas continuam durante esse período. Para que iniciem um novo
ciclo de crescimento na primavera, faz-se necessária a exposição a um
determinado período de frio, variável para cada cultivar. As cultivares de
amoreira preta disponíveis no Brasil, em geral, requerem pouca exposição às
baixas temperaturas. No entanto, há cultivares que necessitam de até 400
horas de frio abaixo de 7,2 ºC. Ressalta-se que a amoreira preta é resistente a
geadas durante o inverno e caso ocorram geadas tardias, a planta possui
condições de se recuperar da queimada ocasionada e ainda produzir no
mesmo ciclo produtivo.
As cultivares de amoreira preta foram selecionadas para regiões
temperadas, dotadas de inverno mais rigoroso. Mas por necessitarem de
pouca quantidade de frio durante o inverno para se superar a dormência de
suas gemas, algumas cultivares apresentam bom crescimento e alto
desempenho produtivo em regiões subtropicais, que possuem inverno mais
brando e verões com temperaturas suaves até mais quente. No entanto,
dependendo das condições climáticas do local, pode ocorrer queda ou até
mesmo aumento do potencial produtivo de cada cultivar.
Para as regiões subtropicais e tropicais, são recomendadas as cultivares
de amoreira preta ‘Brazos’, ‘Guarani’, ‘Tupy’, ‘Comanche’, ‘Caingangue’ e
‘Choctaw’.
O cultivo da amoreira preta em regiões subtropicais e tropicais indicam
boas perspectivas. Já há relatos de cultivos no oeste do estado do Paraná,
pontal do Paranapanema, leste paulista e vale do Paraíba no estado de São
Paulo, sul de Minas e serra da Mantiqueira em Minas Gerais. Apesar dos
avanços das áreas cultivadas nessas regiões de inverno ameno, os desafios
tecnológicos de produção e, principalmente, o manejo cultural visando a
proporcionar aumento na duração do período de produção das frutas e do

135
tempo de conservação em pós-colheita, constituem desafios a serem
enfrentados.
Essa fruteira possibilita o rápido retorno do capital investido, pois as
plantas atingem altas produções após onze meses do plantio e ainda se
adéquam perfeitamente ao cultivo agroecológico, em razão de sua
rusticidade e poucos problemas fitossanitários.
As frutas são altamente delicadas, mas se consegue agregar valor ao
produto final por meio do processamento de suas frutas, no fabrico de
geléias caseiras, doces em barras ou em caldas, polpa congelada e bebidas
fermentadas, produtos esses que possuem fácil comercialização, em
decorrência do sabor peculiar dessa fruta e a grande procura, principalmente
em regiões turísticas.
Em relação ao consumo ao natural da amora preta, o Brasil apresenta um
grande potencial para comercialização, porém os produtores deverão buscar
orientações técnicas para realizar a colheita das frutas no ponto de
maturação adequado e também com todo o cuidado para que essa fruta atinja
o mercado consumidor com qualidade adequada.

Cultivo das Framboeseiras


Atualmente, a framboeseira é cultivada em 37 países em
aproximadamente 184 mil hectares, sendo a Rússia o maior produtor
mundial com 120 mil t/ano, seguido da Sérvia, Polônia, Estados Unidos e
Ucrânia.
Na América do Sul, o Chile destaca-se como o maior produtor, com uma
área aproximada de cinco mil hectares e produção de 30 mil t/ano,
possuindo alta tecnologia de produção e logística de exportação para os
principais mercados mundiais. Nos últimos anos, os plantios de
framboeseira têm aumentando significativamente em outros países da
América do Sul , a exemplo da Argentina e do Uruguai.
No Brasil, o cultivo da framboeseira iniciou-se na década de 50, no
município de Campos do Jordão-SP, por meio da introdução de algumas
cultivares pelo barão suíço Otto Von Leithner, onde, atualmente, encontra-se
a fazenda Baronesa Von Leithner e que até hoje produz framboesas de alta
qualidade. Posteriormente, os cultivos foram expandidos para o sul do
Brasil.

136
Atualmente, os principais estados produtores brasileiros são o Rio
Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais, sendo a área total estimada em
400 hectares. No Rio Grande do Sul, principal estado produtor, destaca-se o
município de Vacaria e outros municípios da Serra Gaúcha, como Caxias do
Sul, com pequenos cultivos. Em São Paulo, podem ser encontrados cultivos
localizados em Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí e Santo Antônio
do Pinhal. Em Minas Gerais, em regiões de altitude, são produzidas
framboesas em Gonçalves, Cambuí e Senador Amaral.
Embora sejam escassos dados oficiais sobre área plantada e volume
produzido, é notável o crescente interesse pelo cultivo por parte dos
produtores, decorrente da grande procura pela população, principalmente na
serra da Mantiqueira.
As produtividades dos plantios de framboeseira no Brasil são
extremamente variáveis, sendo as maiores obtidas na região de Vacaria (5,6
t/ha). No entanto, em regiões de inverno ameno, consegue-se colher 4 t ha-1
já no primeiro ciclo produtivo. Ressalta-se que um plantio com
framboeseiras bem manejado em regiões subtropicais pode chegar a 8 t ha -1.
Já, em plantios adensados e irrigados, essa produtividade pode alcançar 12 t
ha-1, ainda no primeiro ano após o plantio.
A oferta de framboesas no Brasil parece ser menor que a demanda,
mesmo sendo muito compensadores os preços pagos aos produtores. Essa
pouca expressão dessa fruteira no país deve-se, possivelmente, ao fato de
que dentre as pequenas frutas, trata-se daquela que apresenta as maiores
limitações técnicas, em razão da sensibilidade da planta e da fruta ao clima,
além de problemas fitossanitários no verão e a carência de informações
técnicas sobre o cultivo, principalmente em regiões subtropicias.
A framboeseira, pertencente à família Rosaceae, gênero Rubus e
subgênero Idaeobatus. É originária do norte da Ásia e Europa Oriental. Os
primeiros relatos sobre seu cultivo datam da Idade Média no Monte Ida, na
Grécia, que deu nome à espécie Rubus idaeus.
O sistema radicular da framboeseira é fasciculado, desenvolvendo-se, na
sua maior parte, nos primeiros 25 cm do solo, constituindo a estrutura
perene da planta. Suas raízes podem apresentar até 20 mm de diâmetro,
sendo, no entanto, a espessura de 3 a 4 mm as mais frequentes.
Os caules são, geralmente, de forma cilíndrica, podendo ser lisos ou
ostentarem acúleos, erroneamente chamados de espinhos. Os acúleos podem
137
apresentar diversas formas e tamanhos, variando muito a sua densidade.
Esses caracteres são extremamente importantes, sob o ponto de vista
taxonômico e na susceptibilidade a algumas doenças. Além disso, essa
presença dos acúleos pode dificultar o manuseio das plantas no momento da
colheita e dos tratos culturais como a poda, por exemplo.
A flor multipistilada possui carpelos individualizados e, ao amadurecer,
originam um conjunto de frutículos isolados, denominados minidrupas ou
drupeletes, que é o fruto verdadeiro dessa fruteira. Os drupeletes são
arranjados em torno de uma cavidade central. Assim, a fruta da framboeseira
é composta de 51 a 80 drupeletes. A quantidade de drupeletes varia em
função da cultivar e fertilização, que está relacionada a características
nutricionais e térmicas que maximizem a germinação dos grãos de pólen.
Cada drupelete é circundado por um mesocarpo carnoso composto de
paredes finas e células parenquimáticas túrgidas e, logo abaixo, se encontra
o exocarpo que constitui de uma fina camada de células colenquimatosas.
Existem variações entre as cultivares comerciais quanto à coesão dos
drupeletes e a cera presente, que constitui em grande contribuinte para a
coesão dos drupeletes e compactação dos tecidos e, consequentemente, para
a firmeza da fruta. A coesão dos drupeletes depende também da área de
contato com o receptáculo, do seu número e da pubescência da sua
epiderme. Com a maturação da fruta, forma-se uma camada de abscisão no
ponto de união entre os drupeletes e o receptáculo, ficando esse último
ligado à planta após a abscisão da fruta (colheita) As sementes são pequenas,
com massa média de um miligrama e compreendem entre 4 e 5% da massa
total de uma baga.
Existe outra espécie de framboeseira com fins comerciais no Brasil, a
Rubus niveus, nativa do Himalaia, comumente conhecida como raspberry-
de-mysore, raspberry-do-morro e, mais frequentemente, como framboeseira
negra. É um arbusto que tem talos esbranquiçados pequenos, com flores
arranjadas em uma panícula terminal. A grande quantidade de acúleos nos
talos demonstra a pouca domesticação dessa espécie. Os frutos são
agregados, de tamanho diminuto (1 a 3 gramas), com coloração púrpura a
negra. Essa espécie está dispersa por toda a mata Atlântica e serra da
Mantiqueira no Brasil.
É importante ressaltar que, frequentemente, as framboeseiras são
confundidas com as amoreiras pretas (Rubus spp.), por terem parentesco
138
próximo e possuirem várias características em comum. Mas existem
algumas diferenças que permitem diferenciá-las. A mais evidente refere-se
ao hábito de crescimento. A amoreira preta possui cultivares de hábito
decumbente, semiereto e ereto, já as framboeseira são decumbentes; a
amoreira preta produz frutos em hastes secundárias e a framboeseira em
hastes primárias e em inflorescência terminal.
As cultivares de framboesas diferem quanto à coloração dos frutos,
origem ou hábito de frutificação. Esse último critério, permite classificar as
framboesas como remontantes, bíferas ou reflorescentes e não remontantes,
uníferas ou não reflorescentes. Nas cultivares remontantes, as hastes novas
que emergem da base da planta na primavera, crescem durante o verão e, as
gemas da porção superior da haste (haste do ano), já produzem uma colheita
no outono; essa haste, então, recebe frio no inverno (passando a se chamar
haste de ano) e as gemas da porção subapical brotam após o inverno e
produzem uma colheita no verão. Nas cultivares não remontantes, as hastes
que emergem da base da planta na primavera apenas crescem
vegetativamente no primeiro ano e após passarem pelo inverno, as gemas
subapicais da haste brotam e proporcionam uma única colheita concentrada
entre a primavera e o verão. O grupo das framboesas não remontantes
compreendem plantas com alta necessidade de frio sendo, portanto, de
pouco interesse comercial para os cultivos nas condições climáticas
brasileiras.
Como fruteira de clima temperado, Rubus idaeus e Rubus niveus
apresentam um estado de inatividade fisiológica que permite a sobrevivência
em baixas temperaturas denominado dormência. Embora, de maneira
reduzida, as atividades metabólicas continuam durante esse período e para
que iniciem um novo ciclo de crescimento na primavera, faz-se necessária a
exposição a um determinado período de frio, variável para cada cultivar,
podendo, em alguns casos, inviabilizar o cultivo em regiões de clima com
inverno ameno. Em geral, a framboeseira não remontantes pode se
desenvolver com 600 a 800 horas de frio abaixo ou igual a 7,2 ºC. Já, as
framboesas remontantes possuem requerimentos próximos a 250 horas de
frio.
A maioria das cultivares de framboeseira são originárias de cruzamentos
entre Rubus idaeus var. vulgatus Arrhen, originária da Europa, e R. idaeus
var. strigosus Michx., originária da América do Norte e Ásia, tendo sido
139
acrescentados genes das espécies R. occidentalis L., R. cockburnianus
Hemls., R. biflorus Buch., R. kuntzeanus Hemls., R. parvifolius Hemls., R.
pungens oldhamii (Mig.) Maxim., R. arcticus L., R. stellatus Sm. e R.
odoratus L.
Dependendo das espécies e das cultivares, a coloração dos frutos varia do
amarelo ao negro, incluindo os tons alaranjados, rosa, vermelho claro,
intenso e púrpura.
A escolha da cultivar é extremamente importante, pois é o fator que mais
influencia sobre a qualidade e o rendimento do pomar. Em regiões de
inverno ameno deve-se escolher cultivares com baixa necessidade de frio.
Um plantio comercial de framboeseira tem potencial em atingir uma
produtividade média de até 8 t/ha. Caso se adote o plantio adensado e o uso
de irrigação, a produtividade em regiões subtropicais pode superar 12 t/ha.
Na serra da Mantiqueira, é comum encontrar em plantios comerciais e
caseiros a cultivar Batum, por estar amplamente difundida na região. No
entanto, existem outras cultivares com grande potencial de cultivo para
regiões subtropicais e tropicais, como é o caso da ‘Autumn Bliss’,
‘Heritage’, ‘Polana’, ‘Golden Bliss’ e, ainda, a framboesa negra (Rubus
niveus).
Os plantios com a framboeseira em regiões de inverno ameno indicam
boas perspectivas. Porém, por se tratar de uma espécie cujo cultivo ainda é
incipiente no Brasil, os desafios tecnológicos de produção, somados ao
pouco conhecimento sobre o comportamento das diferentes cultivares e
manejo cultural, constituem empecilhos a serem enfrentados. Porém as
potencialidades da produção e da rentabilidade são altamente promissoras.
Essa fruteira possibilita o rápido retorno do capital investido, pois as
plantas atingem altas produções já, após quatro meses do plantio e ainda se
adéquam perfeitamente ao cultivo orgânico, pela sua rusticidade e poucos
problemas fitossanitários.
A grande vantagem do cultivo da framboeseira em regiões subtropicais é
o amplo período de colheita, onde se pode colher framboesas vermelhas e
amarelas do início de outubro ao final de maio e framboesas negras o ano
todo. Por outro lado, as frutas são altamente delicadas e com elevada taxa
respiratória, o que dificulta a comercialização de framboesas frescas em
regiões com verões mais quentes. Mas se consegue agregar valor ao produto
final por meio do processamento de suas frutas, na fabricação de geleias
140
caseiras, doces em barras ou em caldas, polpa congelada e bebidas
fermentadas, produtos estes que possuem fácil comercialização, em razão do
sabor peculiar dessa fruteira.

Referências
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141
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142
CAPÍTULO 8

Valor Nutricional das Frutas e Seus Efeitos Sobre a Saúde

André Gustavo Vasconcelos Costa


Maria das Graças Vaz Tostes
Mirelle Lomar Viana

Introdução
O Brasil possui um grande número de frutas nativas devido à sua região
geográfica com condições climáticas adequadas. Os nutrientes presentes nas
frutas e os potenciais efeitos benéficos à saúde vêm ajudando a reforçar a
sua posição no mercado, chegando a consumidores preocupados com a
manutenção da saúde e prevenção de doenças (Paz, 2015; Silva, 2014).
As frutas apresentam em sua composição nutrientes como fibras,
vitaminas e minerais, importantes para o funcionamento adequado do
organismo humano e para a prevenção de deficiências nutricionais. Além
disso, apresentam compostos bioativos benéficos à saúde, que contribuem
para a prevenção de muitas doenças, sendo que vários destes compostos
apresentam atividades antioxidantes e anti-inflamatórias (Faller, 2009, Jain,
2011; Paz, 2015).
O consumo de frutas é importante e está inserido na cultura alimentar
brasileira. Segundo o Ministério da Saúde, a base de uma alimentação
nutricionalmente balanceada deve ser composta de alimentos in natura e
predominantemente de origem vegetal, mostrando a importância do
consumo de frutas (Brasil, 2014). Ainda, a Organização Mundial da Saúde
recomenda um consumo de, no mínimo, 400 g de frutas e vegetais por dia
para a prevenção de doenças crônicas como doenças cardiovasculares,
câncer e diabetes, e prevenção de deficiência de micronutrientes (OMS,
2005).
143
Diante de seus benefícios, o consumo de frutas vem aumentando
nacionalmente e internacional, devido ao crescente reconhecimento do seu
valor nutricional e terapêutico. Hoje, o consumo de frutas não ocorre apenas
pelo gosto ou preferência pessoal, mas sim, pelo maior reconhecimento do
seu valor nutricional, sendo veículos de importantes nutrientes tais como
minerais, fibras, vitaminas, compostos fenólicos e antioxidantes (Paz, 2015).
Neste capítulo será apresentado características nutricionais de algumas
frutas tropicais e da mata atlântica e seus benefícios a saúde.

Valor nutricional de frutas tropicais e nativas da mata atlântica

ABACAXI
O abacaxi [Ananas comosus (L) Merril] é um autêntico fruto das regiões
tropicais e subtropicais (Antoniali; Sanches, 2008).
Apesar de ser consumido preferencialmente como fruta fresca, também
pode ser encontrado nas formas industrializadas como as geleias, as bebidas
e em calda. O abacaxi é muito apreciado, não só pelo seu aroma agradável e
sabor refrescante e ácido, mas também por suas qualidades nutricionais, pois
a fruta representa uma boa fonte de carboidratos, vitamina A, vitamina B1,
vitamina C, potássio e fibras alimentares (Vieira et al., 2012).
Além disso, o abacaxi é fonte de bromelina, um conjunto de isoenzimas
com atividade proteolítica, dentre as quais se destacam a propriedade de
facilitar a digestão de proteínas, sendo por isso adicionada em medicamentos
digestivos, além da utilização da mesma para amaciamento de carnes (Abílio
et al., 2009).

AÇAÍ
O açaí é considerado um alimento energético contendo altos teores de
proteínas, lipídios, carboidratos, cálcio, fósforo, ferro e tiamina (Córdova-
Fraga et al., 2004). No açaí predominam os ácidos graxos monoinsaturados,
com destaque para o ácido oléico. Os ácidos graxos saturados representam
aproximadamente 25 a 30% do conteúdo lipídico, sendo o componente
principal o ácido palmítico. Por outro lado, os ácidos graxos poli-insaturados
estão em menor quantidade, sendo o componente principal o ácido linoleico
(Borges et al., 2011).

144
A grande quantidade de compostos antioxidantes no açaí torna-o uma
fruta com diversos benefícios para a saúde. Sugere-se um aumento na
capacidade antioxidante do plasma após o consumo de polpa e suco de açaí
por indivíduos saudáveis (Mertens-Talcott et al., 2008). Sant’Ana (2014) ao
suplementar com 2% de polpa de açaí jussara liofilizado em camundongos
submetidos à dieta de cafeteria verificou um aumento na atividade
antioxidante sérica em relação aos animais que receberam dieta controle.
Ainda, estudos mostram que os flavonóides presentes no açaí apresentam
importante capacidade anti-antioxidante, anti-inflamatória, além de reduzir
oxidação de lipoproteína de baixa densidade (LDL) (Kang et al. 2011).
Sugere-se que o consumo de açaí melhora os níveis de glicemia de jejum,
glicemia pós-prandial, insulina, colesterol total e triacilgliceróis (De Oliveira
et al., 2010). Ainda sugere-se que o açaí apresenta capacidade em reduzir o
colesterol total, LDL, índice aterogênico, além de aumentar o HDL e
excreção de colesterol total nas fezes.

ACEROLA
A acerola apresenta um elevado conteúdo de vitamina C (1000-4000
mg/100 g), o que a torna uma opção viável no mercado fruticultor. A
superprodução deste fruto justifica os estudos relacionados com o
desenvolvimento de novos produtos, uma vez que a fruta in natura e a polpa
são as maiores formas de consumo (Soares et al., 2001). Ainda, a acerola
apresenta outros nutrientes como, cálcio, ferro, fósforo, magnésio, potássio,
tiamina, riboflavina, niacina, fibras, antocianinas e carotenóides (Mesquita e
Vigoa, 2000, Brasil, 2011).
Mezadri et al. (2006), identificaram dezessete pigmentos carotenóides na
acerola, sendo o β-caroteno o encontrado em maior quantidade (40-60% do
total de carotenoides). Quanto aos flavonóides, os principais são
antocianinas (37,9-597,4 mg/kg) e flavonóis (70-185 mg/kg) (Lima et al.,
2003).
Em um estudo realizado por Dias et al (2014), utilizando camundongos
alimentados com dieta de cafeteria e suplementados com suco de acerola,
observou-se a efetividade deste alimento para evitar o ganho de peso
corporal, avaliado por meio da medida de peso e índice de adiposidade, além
de promover redução dos níveis de triacilglicérois e restauração de
parâmetros inflamatórios e metabólicos para faixa de normalidade. O
145
benefício do consumo desta fruta pode ser atribuído à presença de vitamina
C, polifenóis, quercetina e rutina.

BANANA
As bananas pertencem à classe Monocotyledoneae, da ordem Scimitales
(Oliveira et al, 2009). Existem numerosas variedades de bananeiras. Dentre
elas destacam-se a nanica, nanicão, grand naine, prata, branca, pacovan e a
terra. Ainda, existem outras variedades, tais como ouro, caipira, maçã, prata
anã, figo, entre outras cultivadas e consumidas regionalmente (Brasil, 2015).
A banana é rica em potássio (358 mg/100g), magnésio (26 mg/100g) e
apresenta alto teor de carboidratos facilmente absorvíveis. Possui 26% de
carboidratos, sendo estes os maiores componentes da banana madura,
dependendo da cultivar, com predominância da sacarose. O teor de fibra
alimentar é relativamente alto (~ 3%), com boa proporção entre fibra solúvel
e insolúvel. Ainda dentro dos carboidratos, a banana possui em sua
composição pequenas quantidades de carboidratos conhecidos como
frutooligossacarídeos, ou FOS, chegando a cerca de 1% de massa
fresca (Brasil, 2004; Nascimento, 2011)
A banana também é fonte de flavonoides, β-caroteno, vitamina C,
vitamina E e se destaca dentre as frutas comumente consumidas no Brasil,
pelo elevado teor de polifenóis. Essas substâncias têm considerável ação
antioxidante, o que sugere efeito benéfico em relação a diversas doenças
como prevenção de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, câncer,
entre outras (Faller; Fialho, 2009; Pereira, 2012).

CACAU
O cacau é fruto do cacaueiro (Theobroma Cacao). A polpa esbranquiçada
que envolve as amêndoas do cacau pode ser ingerida in natura ou utilizada
para confecção de sucos saborosos e nutritivos, sem prejuízo para o seu
processamento posterior (Brasil, 2002).
Os produtos obtidos do processamento da semente do cacau se
enquadram entre os alimentos altamente energéticos e estimulantes (Lopes
et al., 2008). Cada semente contém uma quantidade significativa de gordura
(40-50% de manteiga de cacau). O ácido oleico, gordura monoinsaturada,
constitui cerca de 33% da composição da manteiga de cacau. Outros 33%,
compõem-se de ácido esteárico que, embora saturado, é metabolizado no
146
corpo humano em ácido oleico e, por isso teria um efeito neutro nos níveis
de colesterol sérico. Em contrapartida, o chocolate possui, ainda, uma
proporção de gordura saturada sob a forma de ácido palmítico (Rei;
Medeiros, 2011).
O fruto do cacaueiro e os produtos dele obtidos, especialmente o
chocolate, tem recebido especial atenção, por ser aclamado como um
alimento que traz benefícios à saúde pelo poder antioxidante dos polifenóis
que compõem cerca de 10% do peso seco do grão inteiro (as concentrações
de epicatequina do grão recém-colhido variam entre de 21,89 - 43,27 mg / g
de matéria seca quando avaliadas as amostras desengorduradas) (Rei;
Medeiros, 2011; Vincentim; Marcellino, 2012).
Os polifenóis, ou compostos fenólicos, têm sido largamente estudados em
razão dos efeitos benéficos que propiciam à saúde, como uma potente
atividade antioxidante, bem como proteção contra danos ao DNA das
células. Outros efeitos positivos para a saúde são as propriedades: anti-
inflamatória, anticarcinogênica, antiaterogênica, antitrombótica,
antimicrobiana, analgésica e vasodilatadora, comprovadas em estudos
científicos (Efraim et al., 2011).

CAJU
O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é uma planta originária do
Brasil, sendo típica de regiões de clima tropical (Sancho et al., 2007). O
verdadeiro fruto do cajueiro, a castanha de caju, possui proteínas ricas em
aminoácidos essenciais e alto teor de gorduras, característico das sementes
oleaginosas (Sancho et al., 2007, Brasil, 2015).
O pseudofruto é a parte polposa. Muito apreciado, pode ser consumido in
natura, inteiro, cortado em rodelas, como suco, com leite, cozido, doces,
refrigerante, entre outros. O segmento de sucos é considerado da maior
importância na industrialização do pseudofruto do caju, com grande
potencial no mercado nacional e internacional. Vale ressaltar que o suco de
caju é o segundo suco de fruta mais consumido no Brasil (Sancho et al.,
2007).
A parte comestível do pesudofruto apresenta alto valor nutritivo, devido
ao alto teor de vitamina C (219,3 mg/100g), rico em minerais como cálcio,
ferro e fósforo, além de compostos fenólicos como taninos, carotenoides e
antocianinas, pigmentos naturais responsáveis por sua coloração
147
característica (amarela, vermelha ou roxo-amarelada, dependendo da
variedade) (Brasil, 2004; Pinho, 2009).

COCO
Cocos nucifera L., conhecida comumente como coqueiro é a mais
reconhecida das árvores dos trópicos e uma das mais importantes
economicamente (Pino, 2005). Do seu fruto, o coco, as partes que se
destinam à alimentação são a polpa e líquido, que podem ser consumidos
quando o fruto está verde ou maduro (Brasil, 2002).
Da polpa madura extrai-se óleo, que possui características semelhantes à
gordura animal, por ser rico em gordura saturada; e o leite de coco, que
apresenta alto teor de gorduras, sais minerais (como potássio e fósforo) e
proteínas (Brasil, 2002).
A água do coco verde representa, aproximadamente, 25% do peso do
fruto, ao passo que a quantidade de água por fruto é de cerca de 400 mL. As
principais características da água de coco são os baixos teores de
carboidratos e lipídios, que contribuem para seu valor calórico reduzido,
sendo uma alternativa saudável para substituição de bebidas calóricas, como
refrigerantes, por exemplo. Pelo alto teor de potássio, a água de coco é
indicada para hidratação, não devendo ser utilizada na reposição de sódio,
por não constituir uma fonte desse mineral (Cabral et al, 2005).

JABUTICABA
A jabuticaba apresenta em sua composição vitamina C com valores
médios de 238 mg/100 g e minerais, em que se destacam o ferro, cálcio,
fósforo e potássio (Rufino et al., 2010). Apesar de ser uma fruta largamente
consumida no Brasil, há poucos estudos abordando sua composição química.
Sugere-se que os compostos bioativos presentes na casca da jabuticaba
aumentam a sensibilidade à insulina, melhoram o perfil lipídico e reduzem a
inflamação sistêmica, podendo assim, ser inserida na alimentação com o
objetivo de reduzir os fatores de riscos que poderiam desencadear a
esteatose hepática, aterosclerose e diabetes mellitus tipo 2 (Costa et al.,
2013).
Em experimentos realizados em animais suplementados com casca de
jabuticaba, foi observada uma redução de 32% do colesterol e 50% dos
triacilgliceróis plasmáticos, assim como uma redução de 22% da
148
peroxidação lipídica e aumento da atividade enzimática da superóxido
dismutase, catalase e glutationa peroxidase, em comparação com o grupo
controle (Alezandro et al., 2013). Ainda foi observado que a suplementação
com 2% da casa da jabuticaba liofilizada foi capaz de aumentar os níveis de
HDL em 42% no soro de animais alimentados com dieta hiperlipídica
(Lenquiste et al., 2012). Sant’Ana (2014) ao suplementar com 2% de casca
de jabuticaba liofilizada em camundongos submetidos à dieta de cafeteria
verificou um aumento na atividade antioxidante sérica em relação aos
animais que receberam dieta controle. Em relação ao perfil inflamatório, não
foi notada diferença nos níveis de TNF-α, IL-6 e IL-10 entre os animais
suplementados com o fruto e os que receberam apenas a dieta de cafeteria.
Estudos mostram ainda que a inserção de casca de jabuticaba liofilizada
na dieta de roedores exerceu aumento na atividade antioxidante no plasma,
fígado, rim e cérebro, assim como redução nos níveis séricos de ácidos
graxos saturados, o que poderia ser fator protetor contra a hiperinsulinemia e
inflamação (Batista et al., 2014). Por outro lado, Sant’Ana (2014)
observaram aumento de estatose hepática de roedores suplementados com
2% de casa de jabuticaba. Estudos realizados por Leite et al., (2011)
observaram uma tendência na redução dos benefícios antioxidantes em
doses superiores a 4% do total da dieta. Dessa forma, mais estudos devem
ser realizados para se estabelecer as concentrações máximas permitidas para
que não se observe efeitos pró-oxidantes.

JAMBOLÃO
O jambolão apresenta 41 kcal/100g, 0,5% de proteína, 0,1% de lipídios,
10,6% de carboidrato, 1,8% de fibra, 27,1 mg/100g de vitamina C e 394
mg/100g de potássio (Brasil, 2011). Além disso, o jambolão também é fonte
de quercetina, ácido elágico e rutina. O fruto apresenta em sua concentração
93,3 mg/100g de antocianinas em sua matéria fresca (Rufino et al., 2010),
valor este superior a outros frutos, como a acerola (18,9 mg/100 g em
matéria fresca) e camu-camu (42,2 mg/100 g em matéria fresca) (Rufino et
al., 2010). A significativa atividade antioxidante da fruta pode ser devido ao
seu conteúdo de vitaminas antioxidantes, compostos fenólicos, taninos e
antocianinas (Costa et al., 2013).
Diversos estudos sugerem que o jambolão, devido ao conteúdo
antociânico e de vitaminas com atividade antioxidante, apresenta
149
propriedades anti-inflamatórias, hipolipidêmicas e hipoglicemiante (Baliga
et al., 2011, Ayyanar et al, 2013).
Os principais benefícios atribuídos ao jambolão referem-se aos efeitos
antidiabéticos. Anterior à descoberta da insulina, o jambolão era usado como
um tratamento para o diabetes (Baliga et al., 2011). Devido a isso, este fruto
vem sendo investigado em estudos com modelos animas e ensaios clínicos
(Teixeira et al., 2000; De Bona et al, 2011). De Bona et al. (2011) relatou o
uso de extrato da folha de jambolão como um adjuvante para o tratamento
de diabetes. Em um estudo in vitro estes autores verificaram que ao extrato
da folha de jambolão reduziu a inflamação e estresse oxidativo, além de
alterar positivamente enzimas que atuam na regulação da ação da insulina e
no metabolismo da glicose. Ainda, o extrato da folha de jambolão foi capaz
de aumentar a capacidade antioxidante em pacientes com diabetes mellitus
tipo 2. Sant’Ana (2014) ao suplementar com 2% de casca de jambolão
liofilizado em camundongos submetidos à dieta de cafeteria verificou um
aumento na atividade antioxidante sérica em relação aos animais que
receberam dieta controle.
Não obstante, Ayyanar et al. (2013) em uma revisão sobre os efeitos
hipoglicemiante de diferentes partes do jambolão, sugeriram que são
necessários estudos sobre a composição fitoquímica, de modo a identificar
os principais compostos ativos presentes na planta. Ainda, são necessários
novos estudos clínicos para se avaliar seu efeito antidiabético.

MAMÃO
O mamão (Carica papaya L.) é uma fruta muito conhecida
nacionalmente, apresenta excelente sabor e pode ser servida in natura ou em
sucos, vitaminas ou doces. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais
de mamão, situando-se entre os principais países exportadores,
principalmente para o mercado europeu (Embrapa, 2015).
É uma excelente fonte de pró-vitamínicos A e vitamina C, sendo que os
teores podem variar de acordo com as diferentes cultivares, local de
crescimento da planta e grau de amadurecimento da fruta. Dentre os
carotenoides, apresenta β -criptoxantina e β - caroteno, conferindo cores
amareladas e alaranjadas, e licopeno, relacionado à cor avermelhada do fruto
(Ikram, 2015).

150
O mamão apresenta baixo valor calórico (40 kcal/100g), contém fibra (1
g/100g), cálcio (22 mg/100g), magnésio (22 mg/100g), potássio (126
mg/100g), vitamina C (82,2 mg/100g) e pró-vitamínicos A (59 μg de
equivalente de atividade de retinol) (Brasil, 2011).

MANGA
A manga (Mangifera indica) é uma das principais frutas tropicais que
compõem a dieta do brasileiro, apresenta cultura adaptada ao clima, sendo
amplamente disseminada no Brasil. Sua textura e sabor permite que a manga
seja consumida in natura, mas também pode ser utilizada em doces,
compostas, sucos, geleias, saladas e mousses (Brasil, 2002).
A composição nutricional depende da variedade, sendo:
 Haden- pró-vitamínicos A (81 μg de equivalente de atividade de
retinol), vitamina C (17,4 mg/100g), fibra (1,6 g/100g), valor calórico
(64 kcal/100g);
 Palmer- pró-vitamínicos A (393 μg de equivalente de atividade de
retinol), vitamina C (65,5 mg/100g), fibra (1,6 g/100g), valor calórico
(72 kcal/100g);
 Tommy Atkins- pró-vitamínicos A (59 μg de equivalente de
atividade de retinol), vitamina C (7,9 mg/100g), fibra (2,1 g/100g),
valor calórico (51 kcal/100g) (Brasil, 2011).

MARACUJÁ
O maracujá possui o nome científico Passiflora ligularis, é muito
consumido no Brasil, sendo que a maior produção é no Pará. É uma fruta de
aroma e acidez acentuados, podendo ser consumido ao natural ou na forma
de sucos, doces, geleia, sorvete e licor (Brasil, 2015).
Os frutos de maracujá possuem vitamina C (19,8 mg/100g), fósforo (51
mg/100g), potássio (338 mg/100g), fibra (1,1 g/100g), pró-vitamínicos A
(57 μg de equivalente de atividade de retinol) e 68 kcal/100g (Brasil, 2011).
A presença de flavonoides, carotenoides e vitamina C levam a crer no seu
potencial como alimento funcional, com benéficios à saúde (Zeraik, 2010).
Além de seu valor nutricional, os princípios ativos maracujina,
passiflorine e calmofilase são encontrados em toda a planta, principalmente
nas folhas, conferindo ao maracujazeiro propriedades calmantes, hipnóticas,
analgésicas e anti-inflamatórias (Brasil, 2015).
151
Considerações finais
As frutas discutidas no presente capítulo possuem uma rica e
diversificada composição de nutrientes e compostos bioativos. Os estudos
sugerem que essas frutas desempenham um papel positivo sobre a saúde
humana. Possivelmente, esses benefícios não se devem somente a
determinado nutriente ou composto bioativo, mas a uma ação sinérgica das
diferentes substâncias presentes na fruta.
Além dos benefícios para a saúde humana, as frutas discutidas no
presente capítulo apresentam potencial aplicação na indústria de alimentos,
sendo que alguns já vem sendo utilizadas na forma de pós, polpas ou
extratos como ingredientes de preparações, formulados e bebidas. Assim,
ressalta-se a importância de estudos com essas frutas tropicais e da mata
atlântica, de modo a incentivar o consumo e sua produção, gerando
lucratividade para a agroindústria familiar, bem como de toda a cadeia
produtiva.

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CAPÍTULO 9

Propagação Assexuada de Mamoeiro

Edilson Romais Schmildt


Omar Schmildt
Rodrigo Sobreira Alexandre
José Augusto Teixeira do Amaral
Eliemar Campostrini
Geraldo Antônio Ferreguetti
Julián Cuevas González

Introdução
O Brasil é o segundo maior produtor de mamão do mundo (FAO, 2015).
Enfatiza-se que, nos últimos anos, a área colhida com a cultura do mamoeiro
no Brasil foi ligeiramente superior a 30 mil hectares, sendo que os principais
estados produtores em 2013 foram a Bahia, o Espírito Santo, o Ceará, Minas
Gerais e o Rio Grande do Norte (IBGE, 2015). Destaca-se que o plantio é
feito em área aberta e por propagação sexuada.
Em alguns países, as pequenas áreas são ocupadas com o plantio de
mudas obtidas por meio assexuado, especialmente em casa de vegetação. No
Brasil, a propagação assexuada do mamoeiro, até o momento, tem se
limitado a pesquisas e, como auxílio em trabalhos de melhoramento da
cultura.
Neste capítulo, será abordada a propagação assexuada do mamoeiro
(Carica papaya L.), procurando mostrar a importância desta propagação, as
técnicas, as limitações e a realidade sobre o tema. Desde já, será enfatizado
que este capítulo não será o único do gênero, visto que algumas abordagens

158
já foram feitas (Litz, 1984; Medina, 1989; Manshardt, 1992; Yamanishi,
2009). No entanto, o tema ainda carece de atualizações.
Importância da propagação assexuada em mamoeiro
No Brasil, as cultivares de mamoeiro plantadas comercialmente são de
populações ginóico-andromonóicas, em que as plantas são femininas ou
hermafroditas. Estas cultivares se dividem em dois grupos, o “Solo” para
cultivares que produzem frutos em torno de 500 g, e, “Formosa”, para frutos
com 900 g ou mais, em média. Até o momento, as cultivares mais plantadas
do grupo “Solo” disponíveis no mercado brasileiro são todas variedades
como Sunrise Solo e Golden, e, para o grupo “Formosa”, existe a variedade
como o Rubi Incaper 511 e os híbridos como Tainung 01 e o Uenf/Caliman
01.
Para os mercados brasileiro, europeu e americano, a preferência é por
frutos oriundos de plantas hermafroditas. Como a propagação do mamoeiro
é sexuada e, não se conhece, visualmente, o tipo floral da planta antes do
florescimento, a solução é o preparo e plantio de mais de uma muda por
cova.
Para variedades e híbridos, tem-se recomendado plantar três e quatro
mudas por cova, respectivamente, o que proporciona, após a adequada
sexagem (desbaste das mudas femininas), cerca de 95 % de plantas
hermafroditas na lavoura (Tabela 1). Não se recomenda utilizar um número
maior de mudas devido ao baixo acréscimo final de covas com plantas
hermafroditas (Tabela 1), e por incorrer em aumento dos custos de
produção, além de afetar o desenvolvimento das plantas hermafroditas em
razão da competição (Fitch et al., 2005).
A diferença requerida no número de mudas por cova, no plantio, entre
variedades e híbridos, é devido aos parentais usados na obtenção das
sementes. Na obtenção da geração F1 dos híbridos, são feitos cruzamentos
entre plantas femininas e hermafroditas, o que proporciona a cada muda,
50% de probabilidade de ser hermafrodita (Tabela 1). Nas variedades e
também nas gerações a partir da F2 de híbridos, as sementes são obtidas a
partir de autofecundação, e a probabilidade de que cada muda seja
hermafrodita eleva-se para 66,67 % (Tabela 2). Nos híbridos, salienta-se
que, as gerações a partir F2 são segregantes e que, portanto, o plantio de
sementes destas gerações é desaconselhável pelo fato de descaracterizar a

159
cultivar quanto ao formato e peso de frutos, bem como eleva-se a
susceptibilidade das plantas à doenças, entre outros fatores.

Tabela 1. Porcentagem de covas que se espera ter de plantas hermafroditas


de mamoeiro (Carica papaya L.), depois de adequado desbaste, de acordo
com tipo de cruzamentos dos genitores e do número de plantas por cova
Número de Tipo de cruzamento
mudas por cova Hermafrodita x Fêmea 1/ Autofecundação 2/
1 50,00 66,67
2 75,00 88,89
3 87,50 96,30
4 93,75 98,77
5 96,88 99,59
6 98,44 99,86
1/ Exemplos de hermafrodita x fêmea: híbrido F1 de Tainung 01 e de Uenf/Caliman 01.
2/ Exemplos de autofecundação: ‘Golden’; F2 de híbridos Tainung 01 e Uenf/Caliman 01.

Em trabalho realizado no Brasil, Oliveira et al. (2007) utilizaram


marcadores moleculares para identificação precoce do sexo do mamoeiro.
Outros trabalhos também apontaram marcadores moleculares para distinção
precoce das plantas de mamoeiro quanto a sexo (Deputy et al., 2002;
Chaves-Bedoya et al., 2009), todavia este tipo de análise ainda não é viável
economicamente para aplicação na distinção do sexo das mudas para o
plantio. Na Universidade Estadual do Norte Fluminense, e em colaboração
com o Dr. David Michael Glenn, do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), o Prof. Eliemar Campostrini tem utilizado a
imagem da emissão da fluorescência da clorofila (Figura 1) como uma
ferramenta não destrutiva para a detecção precoce do sexo em plantas de
mamoeiro. Os trabalhos são iniciais, e percebe-se um grande potencial de
uso desta técnica. Ainda na busca de técnicas a serem utilizadas na
determinação no sexo em mamoeiro, a discriminação isotópica do carbono
tem se mostrado uma técnica importante na separação do sexo em plantas
desta espécie, mas ainda como muita limitação relacionada aos custos (Prof.
Eliemar Campostrini, comunicação pessoal).
Em relação à propagação do mamoeiro por sementes, outra preocupação,
particularmente nas variedades, é que, diferentemente do que se faz para os
híbridos, a maioria dos produtores não compra as sementes, retirando-as em
160
frutos de sua própria lavoura, sem controle efetivo da polinização. Conforme
relatado por Costa et al. (2003), este tipo de procedimento, pode acarretar
variações na descendência, causando descaracterização dos genótipos,
comprometendo a qualidade das lavouras.

Figura 1. Imagem da emissão da fluorescência da clorofila em planta


feminina (a) e hermafrodita (b) do mamoeiro ‘Golden’. Fotos: Dr. Eliemar
Campostrini.

Diante dos inconvenientes que podem ocorrer com o uso da propagação


do mamoeiro por sementes, a propagação vegetativa não seria uma opção
viável para plantios comerciais? Para responder a esta pergunta, tem-se que
abordar os métodos de propagação vegetativa para o mamoeiro, envolvendo
a estaquia, a enxertia e técnicas de cultura de tecidos. A grande vantagem da
propagação vegetativa é a possibilidade de se estabelecer lavouras com
100% de plantas de sexo conhecido, sendo que para o Brasil, o ideal seria
100% de plantas hermafroditas (Schmildt, 2010; Oliveira, 2014).

Estaquia
O processo de propagação clonal do mamoeiro por estaquia teve seus
primórdios nas publicações de Allan (1964, 1967), em trabalhos realizados
na África do Sul com plantas femininas de ‘Honey Gold’. Esta cultivar foi
alvo de posteriores estudos na propagação por estaquia ao longo de vários
anos (Allan, 1981, 1990, 1995, 2003; Allan & MacMillan, 1991; Allan &
Carlson, 2007). Convém lembrar que, dado as condições climáticas na

161
África do Sul, as cultivares ginóico-andromonóicas não são indicadas.
Outros pesquisadores também trabalharam com estaquia em mamoeiro,
dentre os quais citam-se Reuveni & Shlesinger (1990) em Israel com os
clones 9/13, 15/1 e 15/8, Ramkhelawan et al. (1999) em Trinidad, Katoh &
Ooishi (2003) no Japão com a cultivar Taino 02, Fitch et al. (2005) nos
Estados Unidos com o híbrido Rainbow, Schmildt (2010) no Brasil com o
híbrido Uenf/Caliman 01 e variedade Golden e, Oliveira (2014) também no
Brasil, com a F1 o híbrido Uenf/Caliman 02.
No processo de propagação por estaquia, um dos primeiros
questionamentos é sobre a obtenção das estacas. Allan (1964) concluiu que,
para um eficiente enraizamento, as estacas deveriam ter entre 5 e 12
polegadas de comprimento (12,7 a 30,5 cm) e uma polegada de diâmetro
(2,54 cm). Estas medidas passaram a ser adotadas nos trabalhos com outras
cultivares usando estacas retiradas de plantas a campo.
A partir deste ponto, usaremos a palavra macroestaquia para as estacas
retiradas de plantas cultivadas sob condição de campo, conforme Allan
(1964) e, miniestaquia para as estacas, menores que 10 cm, obtidas de
plantas cultivadas em casa de vegetação, conforme Reuveni & Shlesinger
(1990).
Na prática, a eficiência do processo de macroestaquia não é boa, visto
que a formação de brotações naturais nas plantas em campo é irregular ao
longo do ano e variável entre as diferentes cultivares. Isto faz com que se
procure aumentar a quantidade de brotos com o uso de poda e reguladores
de crescimento (Allan et al., 1993; Ono et al., 2004; Giampan et al., 2005),
tornando o processo mais oneroso. Barros et al. (2009) e Nascimento et al.
(2011) demonstram que, para a cultivar Golden nas condições do norte do
Espírito Santo, o uso de reguladores de crescimento pode ser dispensado em
plantas adultas, desde que as podas, realizadas pela remoção do caule a 2,0
m do solo sejam efetuadas durante o verão. No entanto, não se pode estender
esta indicação para outras cultivares. Schmildt et al. (2011) trabalhando com
podas em mamoeiro, também no verão e no norte do Espírito Santo,
demonstraram que a capacidade de emissão de brotações é diferente entre os
43 acessos avaliados.
Ainda referente à produção de mudas a partir de macroestacas, verifica-se
que a capacidade de enraizamento se mostra diferente entre as cultivares. Os
trabalhos de Allan citados anteriormente com plantas femininas de
162
mamoeiro ‘Honey Gold’ apontam um enraizamento de mais de 80 % das
estacas com uso da auxina AIB (ácido indol-3-butírico) nas concentrações
exógenas entre 1000 e 4000 mg L-1. No entanto, com procedimentos
semelhantes, Fitch et al. (2005) obtiveram apenas 30 % de estacas
enraizadas de ‘Rainbow’, e, Schmildt (2010) obteve cerca de 65 % de
enraizamento de ‘Uenf/Caliman 01’, entretanto, menos de 20 % para
‘Golden’.
O uso de estacas obtidas a campo pode trazer outro inconveniente ao
processo de propagação clonal que é a retirada de estacas doentes, sobretudo
a meleira e o mosaico. Salienta-se que as plantas no campo podem estar
contaminadas, porém, sem sintomas visíveis. Em relação à cultivar Rainbow
nos Estados Unidos, o mosaico não é problema visto ser uma cultivar
transgênica resistente e liberada para plantio comercial no referido país.
Ainda uma última observação em relação à produção de mudas a partir
de macroestacas é o grande espaço utilizado no viveiro. Na figura 2, ilustra-
se algumas etapas da produção de mudas de mamoeiro ‘Uenf/Caliman 01’
conforme relatado por Schmildt (2010).

Figura 2. Propagação do mamoeiro ‘Uenf/Caliman 01’ por macroestaquia. a


= indução de enraizamento em leito de areia; b = mudas prontas para levar
para campo; c = planta obtida pelo processo de macroestaquia. Fotos: Dr.
Edilson Romais Schmildt.

163
Considerando as dificuldades no processo com uso de estacas de campo,
podem ser resgatados os procedimentos de Reuveni & Shlesinger (1990) que
sugerem a obtenção de brotos a partir de poda de plantas em casa de
vegetação. Os brotos possuem no máximo 7,2 cm de comprimento, os quais
foram usados para cultivo in vitro.
Oliveira (2014) usou o procedimento de Reuveni & Shlesinger (1990)
para produção de mudas em larga escala. Assim, desde que a casa de
vegetação possua tela anti-afídeo, haverá maior segurança na qualidade das
mudas de mamoeiro em relação à doenças viróticas, e gasta-se menos
espaço no viveiro, já que as estacas são menores. Oliveira (2014) destaca
ainda outra vantagem que é o menor gasto com o uso de auxina no
enraizamento. Segundo este autor com 6 mg L-1 de AIB obteve-se 62 % de
enraizamento de miniestacas de F1 de ‘Uenf/Caliman 01’, enquanto o uso de
macroestacas requer de 1000 à 4000 mg L-1 de AIB.
A figura 3 ilustra algumas etapas da propagação clonal de mamoeiro
‘Uenf/Caliman 02’ pelo uso de miniestacas, conforme Oliveira (2014).
Segundo este autor, após a sexagem, a poda é feita apenas nas plantas
hermafroditas selecionadas, removendo-se parte do caule logo acima da
região onde surgiram as primeiras flores. Após a poda serão formadas as
miniestacas ao longo do caule remanescente, as quais serão usadas para o
enraizamento. Estas miniestacas possuem tamanho entre 5 e 10 cm (Figura
3b).

164
Figura 3. Propagação do mamoeiro F1 ‘Uenf/Caliman 02’ por miniestaquia.
a = preparo das matrizes em casa de vegetação; b = emissão de brotações
(estacas) após a poda; c = planta obtida pelo processo de miniestaquia.
Fotos: Drs. Márcio José Vieira de Oliveira e Edilson Romais Schmildt.

Na tabela 2, estão sintetizados os procedimentos adotados por alguns


pesquisadores na produção de mudas de mamoeiro por macro e
miniestaquia. Mais detalhes sobre os procedimentos podem ser obtidos nas
teses de Schmildt (2010) e de Oliveira (2014).
O processo de semi-hidroponia por meio de miniestacas de mamoeiro
proposto por Oliveira (2014), além de todas as vantagens apontadas
anteriormente, apresenta também a vantagem de permitir enraizamento na
faixa dos 70 % (Tabela 2), que segundo Hartmann et al. (2011) é o
percentual mínimo para que o processo de estaquia seja viável
comercialmente.

165
Tabela 2. Resumo do gasto de AIB, tipo de substrato, temperatura do
substrato (TS), e resultado no enraizamento (E) de macroestacas e
microestacas de mamoeiro
AIB E
Cultivar Substrato TS (0C) Referência
(mg L-1) (%)
Macroestaquia
1 perlita/1 Fitch et al.
Rainbow 1000 29 30
vermiculita (2005)
Allan &
Honey Gold 3000 Perlita 30 85 Carlson
(2007)
Uenf/Caliman areia Schmildt
1500 30 65
01 branca (2010)
areia Schmildt
Golden 3000 30 17
branca (2010)
Microestaquia
Uenf/Caliman Oliveira
6 vermiculita - 62
02 (2014)
Golden 9 vermiculita 25 a 32 72 Schmildt 1/
Golden THB 9 vermiculita 25 a 32 68 Schmildt 1/
1/
Dados não publicados, projeto PNPD/Capes.

Na tabela 2, é importante notar o enraizamento de ‘Golden’. Schmildt


(2010) usando diferentes níveis de AIB, desde ausência até 3000 mg L -1,
obtiveram no máximo 17 % de enraizamento com a máxima concentração,
desaconselhando o processo de macroestaquia para esta variedade. O baixo
enraizamento pode estar relacionado às características morfológicas das
macroestacas que, embora tenham apresentado tamanho indicado por Allan
(1964), apresentavam diâmetro abaixo de 2,54 cm. Contudo, quando se usou
o processo pela miniestaquia, conforme sugerido por Oliveira (2014), o
enraizamento chegou a 72% com uso de AIB a 9 mg L-1 (Schmildt, dados
não publicados, projeto PNPD/Capes). O bom rendimento no processo da
miniestaquia é explicado principalmente pela juvenilidade das estacas, visto
que estas são crescidas e desenvolvidas no tronco da planta, e abaixo da
copa a qual foi removida após a seleção das plantas hermafroditas.

166
Na figura 4 observa-se o procedimento do enraizamento de miniestacas
de ‘Golden THB’, realizado por Schmildt (dados não publicados, projeto
PNPD/Capes).

Figura 4. Miniestaquia em mamoeiro ‘Golden THB’. a = obtenção de


brotações laterais (miniestacas); b = miniestacas submetidas ao
enraizamento em sistema semi-hidropônico; c = estufim adaptado para
manter umidade relativa do ar em 80 ± 10 %; d = amostra de miniestacas
enraizadas após 40 dias no estufim. Fotos: Dr. Omar Schmildt.

Enxertia
Inicialmente, o processo de propagação vegetativa do mamoeiro por
enxertia foi relatado por Hancock (1940). Neste trabalho, a ênfase era a de
aproveitar brotações de plantas femininas e enxertar em plantas masculinas
cultivadas, no campo, já que na época, o cultivo era de cultivares dióicas.

167
Este processo, usando a enxertia em plantas de mesma cultivar, denomina-se
autoenxertia. Recentemente, a autoenxertia tem sido relatada por Allan et al.
(2010) para a cultivar dióica Roney Gold e por Nava et al. (2011) para a
cultivar Maradol, que é ginóico-andromonóica.
A enxertia propriamente dita se caracteriza pela junção dos tecidos de
duas plantas, entre a parte de cima denominada epibioto (“garfo”, enxerto ou
“cavaleiro”) sobre a parte de baixo o hipobioto (porta-enxerto ou “cavalo”)
de outra cultivar ou espécie. Este tipo de enxertia é interessante quando se
busca no porta-enxerto características de maior rusticidade. O uso desta
técnica tem sido relatada em cultivares ginóico-andromonóica Solo Line 8
(Lange, 1969), Sunrise Solo, Golden e Tainung 01 como “cavaleiro” (Lima
et al., 2010; Peçanha et al., 2010).
A enxertia também foi verificada entre diferentes gêneros e espécies da
família Caricaceae (Jiménez, 1957; Ricelli, 1963). Jiménez (1957) relatou
boa compatibilidade no enxerto entre Varconcellea cauliflora e Carica
papaya, V. microcarpa e C. papaya, V. monoica e C. papaya.
Com relação à eficiência do processo de enxertia, Allan et al. (2010)
relataram que o principal problema está nas perdas de mudas por
contaminações bacterianas na região do enxerto. Em trabalho realizado em
Almería-Espanha, com a cultivar anã BH65, o Dr. Julián Cuevas González
(dados não publicados) conclui que o principal segredo para eficiência da
enxertia entre plântulas está no tamanho das “células” das bandejas e no
substrato, que deve reter o mínimo de água (Figura 5).
Quanto ao processo de enxertia, existem vários tipos, que no caso do
mamoeiro, o mais adequado depende principalmente do diâmetro dos caules.
Em Almería-Espanha, a enxertia em fenda inglesa tem sido usada com
sucesso entre espécies de tomateiro e se mostra também eficiente em
autoenxertia de mamoeiro ‘BH65’. Neste processo de enxertia, são usadas
pinças biodegradáveis para a junção do “cavalo” e “cavaleiro” (Figura 5b)
tornando o sistema muito mais rápido. A próxima etapa das pesquisas do Dr.
Cuévas e a equipe coordenada por ele é fazer a sobre-enxertia de brotos de
plantas hermafroditas de algumas cultivares usando o ‘BH65’ como
“cavalo”. O propósito é reduzir a altura de florescimento e antecipar a
produção de frutos, como relatado por Lange (1969) na enxertia de ‘Solo
Line 8’ sobre uma linhagem anã. Torna-se importante relatar que em
Almería situa-se uma das maiores áreas de cultivo comercial sob cobertura
168
plástica transparente (CPT) do mundo, e que o mamoeiro vem sendo
cultivado neste sistema há cinco anos. As cultivares Intenzza, Silouet,
Sensation e Uenf/Caliman 01 produzem bem em CPT baixas, porém a vida
útil é menor, uma vez que as plantas apresentam uma maior taxa de
crescimento em altura e logo atingem o teto da CPT.

Figura 5. Autoenxertia em ‘BH65’. a = mudas enxertadas mantidas sob


nebulização intermitente em substrato com baixa retenção de água; b = boa
muda minienxertada, com detalhe para o clipe de silicone disposto na região
de enxertia para promover a junção enxerto x porta-enxerto; c = mudas
enxertadas mantidas sob nebulização intermitente em substrato com alta
retenção de água; d = detalhe de perda de mudas minienxertadas em função
do excesso de umidade do substrato. Fotos: Dr. Edilson Romais Schmildt.

No Brasil, Campostrini et al. (2010) relatam que a taxa fotossintética


líquida das plantas de mamoeiro ‘Baixinho de Santa Amália’ foi maior nas
plantas cultivadas sob CPT do que nas plantas cultivadas a pleno sol. Na
CPT as plantas apresentaram maior abertura estomática e tiveram menor
déficit de pressão de vapor entre a folha e ar.

169
Na busca pela melhoria da eficiência do processo de enxertia em
mamoeiro, Nava et al. (2011) trabalhando com ‘Maradol’, realizaram a
autoenxertia de ramos obtidos pela cultura de tecidos sobre “cavalo” de
plantas mantidas em casa de vegetação. Estes autores concluíram que o
processo ainda não deve ser recomendado para plantios comerciais, devido
ser muito laborioso.

Cultura de Tecidos
Referente à propagação vegetativa do mamoeiro por cultura de tecidos,
existem na literatura trabalhos que abordam o cultivo de ápices caulinares,
embriogênese somática, cultura de anteras, hibridação in vitro, e, resgate de
embriões in vitro. Em uma revisão sobre o tema cultivo in vitro de
mamoeiros observa-se o resultado de mais de uma centena de artigos
publicados. Neste item, abordaremos apenas o cultivo de ápices caulinares,
pois, é, no momento, uma das técnicas que mais apresenta interesse sob o
ponto de vista da propagação clonal, em função da maior probabilidade da
integridade do genoma por esta técnica.
O primeiro registro de êxito com o cultivo de ápices caulinares de
mamoeiro é proveniente da Flórida, Estados Unidos (Litz & Conover, 1977).
Posteriormente, outros trabalhos foram publicados, em diversas partes do
mundo.
A realidade atual sobre a prática da propagação clonal por cultura de
tecidos é que, na maior parte do mundo, apesar de tantos trabalhos
publicados, o produtor não teve acesso às mudas clonais propagadas in vitro.
A produção de mudas de qualidade por este processo acaba por ser onerosa.
O produtor de mudas necessita ter laboratório estruturado e credenciado,
funcionário treinado, fazer indexação das mudas, ter viveiro com tela anti-
afídeos. Não obstante, o principal fator de sucesso deste processo é vencer
os problemas das contaminações bacterianas endofíticas, comum na
propagação de explantes de plantas adultas de sexo conhecido de mamoeiro
(Winnaar, 1988; Schmildt & Amaral, 2002).
Ainda a despeito da economicidade do processo, Rajeevan & Pandey
(1986a) relataram que o mesmo é economicamente viável para as condições
da Índia. No entanto, o protocolo usado para fazer os cálculos previa a
propagação pelo uso de explantes a partir de plantas juvenis, sem se
conhecer, portanto, o sexo das plantas. Entende-se que, o processo indicado
170
pelos autores possa ser utilizado para propagação clonal comercial do
mamoeiro, desde que associada à determinação do sexo por uso de
marcadores moleculares. Esta determinação do sexo não há de encarecer o
processo, visto que uma vez estabelecido in vitro e por ocasião do primeiro
subcultivo, apenas uma amostra de cada plântula será usada para esta
determinação e, a taxa de multiplicação a partir de explantes juvenis é
elevada. Schmildt et al. (2007) trabalhando com ‘Tainung 01’ relataram uma
taxa de multiplicação constante de 5,3/1 em cinco subcultivos, o que
corresponde a aproximadamente 4.180 ramos por plântula. Considerando o
enraizamento de 50 % das microestacas com eficiência de 100 % na
aclimatização das mudas, conforme Schmildt et al. (1997), poderão ser
produzidas cerca de 2.100 mudas obtidas de apenas uma plântula em cinco
meses. Ressalta-se ainda que, a alta taxa de contaminação bacteriana
verificada na micropropagação a partir de explantes de plantas adultas não é
verificada quando se usa explantes de plantas juvenis (Schmildt & Amaral,
2002).
Na figura 6, foram ilustradas algumas etapas da propagação in vitro de
mamoeiro.

Figura 6. Produção de mudas de mamoeiro por propagação in vitro. a =


multiplicação de F1 de ‘Tainung 01’; b = enraizamento de F1 de ‘Tainung
01’; c = planta propagada in vitro. Fotos: Dr. Edilson Romais Schmildt.
171
Conclusão
A propagação clonal do mamoeiro é possível em escala comercial
podendo trazer vários benefícios ao sistema produtivo, porém os envolvidos
devem procurar aperfeiçoar os protocolos existentes.

Agradecimentos
Os autores agradecem às agências de fomento Banco do Nordeste, CNPq,
CAPES e FAPES/ES pelos recursos financeiros e bolsas na execução das
pesquisas de propagação clonal do mamoeiro realizadas na UFES, UENF,
UFV e Universidade de Almería, bem como à empresa Caliman Agrícola
S.A. pelo apoio técnico na execução da parte de campo.

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176
CAPÍTULO 10

Polos de Fruticultura no Estado do Espírito Santo

Adelaide de F. S. da Costa
Aureliano Nogueira da Costa

Introdução
A fruticultura no Espírito Santo tem se destacado nos últimos anos,
devido principalmente a disponibilização de novas tecnologias de produção,
com o uso de variedades melhoradas, investimento em irrigação, controle
fitossanitário adequado, com segurança alimentar por meio da implantação
de Boas Prática Agrícolas (BPA), o que tem propiciado a ampliação da área
de plantada, o aumento da produtividade, melhoria da qualidade das frutas
produzidas, o que estimula a instalação de agroindústrias de pequeno, médio
e grande porte no Estado. Todos esses fatores têm viabilizado a ampliação
do mercado interno e a conquista de novos mercados internacionais.
A transformação do cenário da fruticultura possibilita uma nova opção
para a diversificação da atividade agrícola, a qual contribui para a ampliação
de oportunidades no meio rural com oferta de emprego e geração de renda.
Nesse sentido, o setor tem se constituído em um instrumento de promoção
do desenvolvimento local e regional do Estado, estando em sintonia com a
responsabilidade social e ambiental.

Organização das cadeias produtivas de frutas


O Espírito Santo possui uma pequena extensão territorial, mas devido à
sua formação geológica, ao relevo e à proximidade do Oceano Atlântico
apresenta alta diversidade edafoclimática o que possibilita o cultivo de
diversas fruteiras de clima tropical, subtropical e temperado. Entretanto, há
uma concentração de esforços dos setores público e privado para que
177
algumas delas sejam consideradas de importância econômica e social para o
Estado.
A fruticultura responde por 18% do valor bruto da produção agropecuária
capixaba. São 85 mil hectares ocupados com plantio de frutas que garantem
uma produção anual em torno de 1,3 milhão de toneladas, gerando R$ 600
milhões em renda. É a terceira atividade de maior importância para o PIB
Agropecuário Capixaba.
Nos últimos dez anos houve um aumento da produção na ordem de 30%.
Essa elevação foi possível, na ultima década, devido à estruturação da
fruticultura em Polos, meta estabelecida no Plano Estratégico de
Desenvolvimento da Agricultura no Estado (Espírito Santo, 2008). A
organização, em Polos, é uma forma eficiente de potencializar a produção,
por meio da formação de um setor fortalecido pela maior concentração das
áreas de plantio, que em uma análise geral possibilita uma comercialização
mais organizada, com garantia de maior volume de produção e de forma
contínua. Além de viabilizar a produção de frutas em escala, potencializa e
organiza as ações de assistência técnica e o fomento, com maior
direcionamento de crédito para o setor agrícola.
O Governo do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Estado da
Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (SEAG) e do Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER),
com a interação de várias instituições parceiras, do setor público e privado
vem desenvolvendo ações para implantação, consolidação e/ou revitalização
da cultura do abacaxi, da acerola, da banana, do cacau, do caju, do coco, da
goiaba, da laranja, do mamão, da manga, do maracujá, do morango, da
tangerina e da uva que formam os 14 Polos de Fruticultura do Estado.
Ações de pesquisa, de assistência técnica e extensão rural, com
capacitação técnica e gerencial dos produtores priorizam a organização das
cadeias produtivas para a garantia do sucesso da fruticultura capixaba. Outra
ação de grande importância para a implantação dos Polos de Fruticultura foi
a realização de fomento de mudas pelo Governo do Estado, que viabilizou a
utilização de mudas de qualidade, com garantia de utilização das variedades
recomendadas.
As regiões dos Polos foram definidas de acordo com as características de
clima e solo, em função das exigências de cada cultura, com uma analise
criteriosa das aptidões dos produtores rurais, de forma a proporcionar uma
178
maior interação desses produtores com as instituições públicas e privadas,
com as associações e cooperativas, com as agroindústrias e empresas dos
diversos segmentos envolvidos em cada cadeia produtiva, para que possam
atuar coletivamente (Costa, 2014).
A gestão dos Polos de Fruticultura é feita pelos Comitês Gestores desses
Polos, que conta com representantes de diferentes segmentos ligados ao
agronegócio, inseridos no setor publico, no setor privado e também com a
representação efetiva dos produtores rurais, o que tem viabilizado um
gerenciamento mais eficiente das cadeias produtivas, o uso de tecnologias
adequadas para a promoção do aumento da produtividade e melhoria da
qualidade dos frutos, possibilitando um maior poder de negociação durante o
processo de comercialização, acarretando um diferencial na economia das
propriedades de base familiar do Estado do Espírito Santo.
As frutas produzidas nessas regiões são destinadas tanto para o comercio
de “frutas frescas” como para a industrialização, a qual pode ser realizada
por pequenas agroindústrias ou por agroindústrias de grande porte, para
produção de sucos, néctares, licores e vinhos, iogurtes, sorvetes, bolos,
doces, recheios, geleias etc.

Frutas para consumo in natura


Todas as frutas produzidas nos Polos podem ter dupla finalidade de
consumo, ou seja, frutas frescas ou industrializadas. Alguns polos como o do
abacaxi, da banana, da laranja, do mamão, do morango, da tangerina e da
uva tem como foco principal o consumo como “frutas frescas” sendo
comercializadas principalmente em supermercados, mercearias, mercados
municipais, quitandas, feiras livres e por ambulantes.

Industrialização
Outros Polos de Frutas têm como foco principal a industrialização, como
é o caso da manga, da goiaba, do maracujá, da acerola, do coco, do caju e do
cacau. A produção de polpa concentrada é considerada o inicio do processo
de industrialização, sendo em seguida destinada para a produção de sucos,
néctares, iogurtes, sorvetes, doces, recheios e geleias.
No caso do caju, a comercialização da castanha tem maior importância
econômica, porém a produção de sucos é também uma ótima opção de
mercado.
179
A produção de cacau tem como prioridade a extração de amêndoas para a
fabricação de chocolates, bolos, biscoitos entre outros.
A uva, mesmo atendendo as necessidades da comercialização in natura,
tem um volume importante da produção direcionada à produção de vinhos e
sucos artesanais com destinação ao turismo rural.

Casos de sucesso
Quanto à gestão dos 14 Polos de Fruticultura do Estado, alguns merecem
um destaque especial no que diz respeito à gestão estratégica da cadeia
produtiva e organização dos produtores rurais, tais como o mamão, a manga
e a uva, por estarem mais consolidados, com uma maior interação dos
diferentes atores envolvidos nessas cadeias produtivas e um processo de
comercialização bastante estável.

Polo de mamão
O Polo de mamão do Espírito Santo é um dos mais importantes do Brasil,
junto com a Bahia respondem por 70% da área plantada e da produção do
país. O mamão está entre as sete primeiras frutas da pauta de exportação do
Brasil com US$41,8 milhões em 2013, e o Estado do Espírito Santo é o
maior exportador, responsável por 46,6% do total de vendas desse produto
para outros países (SECEX/MDIC, 2014). São também responsáveis pela
comercialização de grande quantidade de frutas para o mercado interno.
Várias ações desenvolvidas no Polo propiciaram essa realidade: o
desenvolvimento do Sistems Approach, em um trabalho em parceria do
Incaper com a USP e o setor produtivo (Martins & Fornazier, 2014),
lançamento da primeira variedade de mamão do grupo Formosa, o ‘Rubi
Incaper 511’ (Cattaneo et al., 2010), adequação do pacote tecnológico em
busca de maior produtividade e melhor qualidade de frutas, desde técnicas
de manejo cultural e fitossanitário, até a adaptação de tecnologias pós-
colheita para garantia de maior tempo de prateira.
Após todo esse trabalho desenvolvido, a cadeia produtiva está muito bem
organizada, com destaque no cenário estadual, nacional e internacional, com
pouca dependência do setor público, e sob a gestão da Associação Brasileira
de Produtores e Exportadores de Papaya (BRAPEX).

Polo de manga
180
O Polo de Manga da Região Noroeste do Espírito Santo, lançado em
2003, é reconhecidamente uma experiência muito exitosa de
comercialização integrada entre produtores, associações, cooperativas e
agroindústria (Costa et al. 2008).
A partir de 2005 iniciou-se uma expansão significativa da área plantada,
sendo 18 municípios da região noroeste, com 1.524 hectares (LSPA-IBGE,
2015) inseridos nesse contexto. Com o início do processamento de sucos
prontos para beber, em 2002 pela agroindústria Sucos Mais e, em 2007, com
o processamento de fruta para a produção de polpa, pela Trop Brasil, ambas
localizadas no Norte do Estado, no município de Linhares/ES, a fruticultura
teve grande incentivo e em especial a cultura da manga, o que culminou, em
2008, com a primeira comercialização coletiva da fruta resultando num
volume de 987,0 toneladas. O negócio manga foi crescendo e várias
agroindústrias de pequeno porte também foram instaladas na região.
A partir dessa realidade foram desenvolvidas várias ações para viabilizar
a comercialização da manga capixaba no mercado agroindustrial, tais como
a negociação de preço mínimo de comercialização da manga do Polo com a
agroindústria, realização de cursos para treinamento e capacitação de
técnicos e produtores rurais, reuniões técnicas nos municípios, reuniões com
as prefeituras municipais inseridas no Polo, incentivo ao associativismo e
cooperativismo, assistência técnica aos produtores rurais de base familiar,
divulgação da atividade nos veículos de informação. O Sebrae foi um grande
parceiro do Incaper nesse processo. Os resultados de todo esse trabalho são a
melhoria da competitividade dos setores agrícolas, especialmente com ações
coordenadas para a comercialização de produtos, a ampliação da renda rural
e, consequentemente da qualidade de vida dos produtores.
Todo esse trabalho culminou com a produção de 6.255.131 toneladas de
manga, das quais 4.591.641 toneladas foram comercializadas com Trop
Frutas do Brasil S/A, pertencente do grupo Leão Alimentos e Bebidas, a
principal compradora da região de abrangência do Polo de manga.
A continuidade desse sucesso com ampliação da área plantada, da
produtividade e da qualidade de frutos, para tender uma maior demanda das
agroindústrias depende de um acompanhamento do setor público e privado,
por meio da participação efetiva no Comitê Gestor desse Polo.

Polo de uva
181
A área plantada no Espírito Santo, hoje, corresponde a 163 hectares (83
ha em formação e 80 ha em produção), distribuídos em 37 municípios, em
504 propriedades rurais, com 812 produtores envolvidos. São 53
agroindústrias de pequeno porte inseridas na cadeia produtiva de
vitivinicultura. A produção anual é de aproximadamente 1.600 toneladas,
sendo 75% para o mercado in natura e 25% para transformação em vinho,
suco, geleias e outros produtos, que representam uma produção anual de 175
mil litros de vinho e 40 mil litros de suco, com um rendimento de
processado de 75%. A produtividade média das lavouras gira em torno de 20
t/ha.
O Estado possui microrregiões com condições diferenciadas de clima e
solo, que propiciam o cultivo da videira em vários municípios. Essas
importantes características estão distribuídas praticamente em todo o Estado,
porém a abrangência do Polo envolveu principalmente os municípios de
Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Domingos Martins,
Marechal Floriano, Venda Nova do Imigrante, Conceição do Castelo e
Alfredo Chaves, por contemplarem especialmente essas condições e
apresentarem, em sua maioria, algum tipo de iniciativa de produção e
organização que justificavam incentivos públicos.
As safras acontecem em dois momentos distintos: no inverno, entre julho
e agosto e, no verão, com colheita entre dezembro e janeiro. Entretanto, a
uva pode ser colhida durante o ano todo, mesmo não sendo período típico de
safra.
A comercialização é divida da seguinte forma: 90% da produção in
natura são comercializadas na Ceasa e 10% no mercado local e regional. Já
os processados (vinhos, sucos, graspas -bebida feita a partir do bagaço de
uva- e geleias) são comercializados no mercado local e na própria
propriedade, alavancada pelo Programa de Agroturismo, Turismo Rural e
Eventos Típicos e Culturais no município, como a Festa do Vinho e da Uva;
Festa do Imigrante Italiano; entre outras, sendo 90% diretamente na
propriedade rural e eventos.
Para alcançar esse patamar o Governo do Estado, por meio do Incaper e
da SEAG, em parceria com Sebrae e Prefeituras Municipais desenvolveram
uma série de ações como recomendação de variedades mais adaptadas à
região produtora, adequação do pacote tecnológico, treinamento e
capacitação de técnicos e produtores rurais, entre outros. Entretanto, o
182
acompanhamento das atividades dos produtores rurais pelo setor público
ainda á fundamental para o sucesso dessa cadeia produtiva.

Desafios do setor
Mesmo com toda essa evolução do setor frutícola, a fragilidade dos
agroecossistemas diante de possíveis alterações atmosféricas no futuro
exigirá mudanças nas recomendações para as culturas caso as projeções de
aumento de temperatura se confirmem, com reflexos na disponibilidade de
água, na incidência de eventos extremos, entre outros. O impacto dessas
mudanças pode ser grande para a fruticultura. O zoneamento agrícola poderá
ser alterado tornando muitas áreas inaptas ao cultivo de determinadas
culturas agrícolas, dificultando até mesmo o acesso dos produtores ao
crédito agrícola (Jesus Junior et al., 2008). Com uma visão de futuro, tal
situação, porém, pode ser minimizada com desenvolvimento de trabalhos de
pesquisa que propiciem uma adequação do pacote tecnológico hoje utilizado
pelos produtores rurais, com a concentração de esforços para a identificação
de cultivares tolerantes às novas condições, adequação das técnicas de
manejo além de outras soluções mitigadoras visando a alta produtividade
das culturas e a qualidade das frutas produzidas. Estima-se então, que
qualquer mudança no clima pode impactar no atual cenário da fruticultura
com reflexos nas condições econômicas, sociais e ambientais em cada
região.

Considerações finais
A utilização de sistemas de cultivo cada vez mais direcionados à
realidade de cada região produtora, com a preocupação com o uso adequado
de produtos químicos, seguindo os princípios de rastreabilidade, em sintonia
com a responsabilidade ambiental e social e, impulsiona as cadeias
produtivas, como também amplia a oferta de frutas para o mercado interno e
para exportação.
A ampliação das áreas produtoras de frutas com foco na comercialização
de frutas ‘in natura’ nos mercados regionais, estaduais e nacionais estimula
também a implantação das agroindústrias, proporcionando uma melhoria de
oportunidades de mercado.
A melhoria do poder aquisitivo da população e a busca de melhor
qualidade de vida com a disseminação de hábitos alimentares mais
183
saudáveis estimula cada vez mais o consumo de frutas e sucos, consolidando
a fruticultura no Espírito Santo.

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