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Fascículo3 - Inundações - Urbanas - V27 - 08 - 12

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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental – PHA

PHA2537 – Água em Ambientes Urbanos

Coleção Águas Urbanas

Fascículo 3: Inundações Urbanas

Prof. Dr. Kamel Zahed Filho


Prof. Dr. José Rodolfo Scaratti Martins
Profa. Dra. Monica Ferreira do Amaral Porto

Estagiária PAE: Maíra Simões Cucio

2012
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - PHA2537 – Água em Ambientes Urbanos
Fascículo 3: Inundações Urbanas

Sumário

Introdução..........................................................................................................................2
Situação no Brasil............................................................................................................5

Causas de Enchentes Urbanas no Brasil...........................................................................6

Prejuízos causados por inundações urbanas ....................................................................9

Planejamento da Gestão de águas pluviais .................................................................... 10

Medidas de controle de enchentes ............................................................................... 11

Medidas Estruturais ...................................................................................................... 11

Medidas estruturais extensivas ................................................................................. 12

Medidas Estruturais Intensivas .................................................................................. 13

Medidas não-estruturais ............................................................................................... 14

Perspectivas futuras – em busca da integração ............................................................. 15

Município de Santo André: um caso interessante no Brasil ........................................ 17

Referências bibliográficas ................................................................................................. 19

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
Introdução
O ano de 2007 representou um importante ponto de controle para a população
mundial, pois a partir de então, metade da população mundial passou a viver em
centros urbanos (UN-Habitat, 2007). A figura 1 ilustra esta situação, mostrando a
porcentagem de urbanização de cada país, incluindo cidades grandes, com mais de 1
milhão de habitantes.

Figura 1: Porcentagem de urbanização de cada país e megacidades pelo mundo. Fonte: United Nations,
Department of Economic and Social Affairs, Population Division: World Urbanization Prospects, the 2011
Revision. New York 2012.

Apesar de a urbanização representar melhoras em alguns aspectos sociais e


econômicos da vida humana, como o acesso às redes de abastecimento de água e
esgoto, energia elétrica e grande disponibilidade de serviços, ela também é perversa,
especialmente para populações mais carentes, que frequentemente enfrentam a falta
destes serviços básicos (ZEVENBERGEN et al, 2008).
Os desastres ambientais urbanos provocados por fenômenos naturais têm se
intensificado à medida que a urbanização se acelera. Terremotos, “tsunamis”,
furacões, chuvas intensas, invernos rigorosos e secas prolongadas parecem ter
consequências cada vez mais graves quando atingem áreas urbanas, que cada vez mais
estão se expandindo e adensando e, portanto, estes desastres atingem cada vez mais
pessoas quando ocorrem em áreas urbanas. A urbanização afeta as condições naturais
para ocorrência de desastres ambientais, assim como estes desastres ambientais têm
seu potencial ampliado em função da urbanização (JATOBÁ, 2011). Por isso, estes
assuntos vêm ganhando atenção de congressos e seminários na área científica e de
pesquisa, e também na gestão das áreas urbanas por parte do Estado, além de ser
assunto recorrente na imprensa por estarem associados às perdas materiais e de vidas
humanas (JATOBÁ, 2011; PISANI; BRUNA, 2011).
Apesar de atividades como agricultura, mineração e geração de energia gerarem
impactos significativos ao meio ambiente, a urbanização os gera de forma

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
concentrada, difundindo-os para além do espaço urbano (JATOBÁ, 2011). Segundo
estimativas do Fundo de População das Nações Unidas, a soma de todas as áreas
urbanas ocupa somente 2,8% da superfície terrestre (UNFPA, 2008), no entanto,
grande parte dos impactos ambientais tem sido gerada nestas áreas.
Dados da ONU mostram que o desenvolvimento de apenas 5% das cidades em
expansão tem planejamento (GENTLEMAN, 2007), e é esta falta de planejamento que
ocasiona grande parte dos impactos ambientais urbanos e também das situações de
risco à população. A urbanização é uma situação em que aumenta a exposição da
população aos riscos: ocupação humana em áreas de risco de desabamentos e
enchentes, poluição hídrica, poluição atmosférica, contaminações de água e solo por
produtos perigosos, geração de resíduos, são algumas situações às quais a sociedade
fica exposta (JATOBÁ, 2011). Muitas vezes, a falta de infraestrutura apropriada, com
condições básicas de habitabilidade, como redes de abastecimento de água e
esgotamento sanitário, coleta de lixo, obras de contenção de encostas e drenagem de
águas pluviais aliadas às más condições de habitação agravam estas situações de risco
(JATOBÁ, 2011).
Como consequência da urbanização, a valorização da terra pressiona a ocupação
de áreas impróprias, o que propicia a formação de assentamentos humanos
inadequados, como invasões e favelas, com poucas áreas verdes e sem a oferta de
serviços básicos como abastecimento de água e coleta de esgoto. Muitas vezes, o leito
maior e às vezes o leito menor dos rios acabam sendo ocupados por edificações. A
urbanização também atrai contingente populacional, o que causa desagregação
cultural e perda de identidade com o local, o que dificulta a mobilização política. Além
disso, o Poder Público não costuma realizar planejamento a médio e longo prazo,
dando preferência para obras de grande visibilidade, que nem sempre resolvem
problemas importantes da cidade. Todos estes aspectos acabam por agravar alguns
problemas das grandes cidades.
Enchentes têm sua frequência e magnitude aumentadas devido à urbanização,
uma vez que a ocupação inadequada do espaço urbano causa impermeabilização do
solo, além de produzir obstruções no escoamento superficial, através de drenagem
inadequada, obstruções em condutos e assoreamento (TUCCI, 1999).
Um dos problemas relacionados à rápida urbanização é a sensibilidade às
enchentes, como resultado da concentração de pessoas em áreas suscetíveis à
inundação, falta de planejamento na gestão de águas urbanas, falta de planejamento
urbano, dentre outros (ZEVENBERGEN et al, 2008). A figura 2 mostra a situação das
inundações urbanas no mundo, de acordo com a população das cidades e de acordo
com a severidade das inundações, sendo as marcadas em vermelho as mais graves.
Na figura 2, é possível observar a região do sudeste brasileiro como uma região
que concentra tanto um contingente populacional expressivo, como situações severas
de inundações urbanas, as quais a população dessa região está acostumada a vivenciar
nas épocas de chuva.

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Fascículo 3: Inundações Urbanas

Figura 2: Situação das inundações urbanas no mundo. Fonte: United Nations, Department of Economic
and Social Affairs, Population Division: World Urbanization Prospects, the 2011 Revision. New York 2012

Todos os anos, no período de chuvas, o mesmo episódio se repete: a imprensa


destaca incidentes causados por enchentes, entrevista governos municipais, estaduais
e federais a respeito destes incidentes, a população se sensibiliza com estes casos,
medidas emergenciais são tomadas, o assunto é discutido amplamente por técnicos da
área, políticos, cidadãos, vítimas. No entanto, passados alguns meses, o assunto é
esquecido, e retorna à mídia no ano seguinte, novamente, na época de chuvas (PISANI;
BRUNA, 2011). No entanto, a ocupação de vales, áreas de encosta e áreas inundáveis
continua ocorrendo durante todo o ano, em um misto de falta de opções por parte da
população e falta de fiscalização pelo Estado. De acordo com a Secretaria Nacional de
Defesa Civil, estes desastres naturais produzem mais danos materiais e humanos do
que as guerras.
O Relatório Conjuntura 2012 da Agência Nacional de Águas traz definições
importantes do Glossário de Defesa Civil da Secretaria Nacional de defesa Civil. De
acordo com ele, o termo inundação se refere a um transbordamento de água da calha
normal de rios, lagos, açudes e mares, ou acumulação de água por drenagem
deficiente, em áreas que habitualmente não ficam submersas. Já o termo enchente se
refere à elevação do nível de água de um rio acima de sua vazão normal. Geralmente,
inundação e enchente são usadas como sinônimos. As enxurradas podem ser definidas
como os volumes de água que escoam na superfície do terreno, com grande
velocidade, em decorrência de fortes chuvas. Os alagamentos, por sua vez, são
resultantes do acúmulo de água no leito de ruas e no perímetro urbano, causado por
precipitações pluviométricas fortes, em cidades com drenagem deficiente (ANA, 2012).
O esclarecimento destes conceitos é imprescindível para as discussões acerca
deste tema.

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
Situação no Brasil

O relatório Conjuntura da Agência Nacional de Águas de 2012 mostra a


localização dos episódios de cheias no país em 2011 para os casos mais extremos, em
que os municípios tiveram que decretar estado de emergência ou estado de
calamidade pública. A figura 3 mostra esta situação, em que o destaque está nas
regiões sul e sudeste, onde ocorreram os episódios mais significativos de inundações
no ano passado, como, por exemplo, o caso da região serrana do Rio de Janeiro, as
enchentes urbanas em São Paulo e os episódios em Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, seguidos pelos episódios na área do litoral nordestino, especialmente de
Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Estes casos podem ser visualizados de forma mais
detalhada na figura 4.

Figura 3: Ocorrências de cheias resultantes em situações de emergência e calamidade pública em 2011.


Fonte: ANA, 2012.

Figura 4: Episódios de cheia mais significativos no Brasil em 2011. Fonte: ANA, 2012.

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Causas de Enchentes Urbanas no Brasil

A infraestrutura urbana altera e polui o regime natural de escoamento


superficial. O desenvolvimento das grandes cidades resultou na canalização de rios,
aterramento de córregos, drenagem de águas paradas e construção de redes de
drenagem planejadas para remover as águas pluviais o mais rápido possível do
ambiente urbano (ICLEI BRASIL, 2011). A figura 5 mostra os possíveis caminhos da água
de chuva em um ambiente urbano, com destaque para a qualidade destas águas,
mostrando os possíveis destinos.

Figura 5: Caminhos da água de chuva em um ambiente urbanizado. Fonte: ICLEI BRASIL, 2011.

O desenvolvimento urbano causa mudanças no uso do solo, retirando a cobertura


vegetal, implantando pavimentos permeáveis, alterando a drenagem dos terrenos.
Estas modificações causam diversos impactos no ciclo hidrológico urbano. A figura 6
ilustra esta situação, com diferentes cenários para diferentes tipos de uso do solo.

Figura 6: Produção de escoamento superficial de acordo com a impermeabilização do solo. Fonte: In Stream
Corridor Restoration: Principles, Processes, and Practices (10/98). By the Federal Interagency Stream
Restoration working Group (FISRWG) (15 Federal agencies of the U.S.) apud
www.nrcs.usda.gov/.../chap3/fig3-21.jpg

Tucci (2008) aponta que a urbanização é espontânea e que o planejamento


urbano adequado é realizado para a cidade ocupada pela população de média/alta

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
renda, deixando de lado a gestão dos espaços onde se encontram populações menos
favorecidas. Áreas mais periféricas, onde o crescimento populacional é maior, sofrem
com problemas de invasão e ocupação de áreas de risco, como áreas com risco de
enchentes e escorregamentos, áreas perigosas especialmente nas épocas chuvosas.
Figura 7 mostra uma situação comum em áreas urbanas, a ocupação de áreas de
várzea, uma das causas de inundações urbanas.
A ocupação do leito de inundação dos corpos d’água no meio urbano configura
um dos maiores problemas de gestão das grandes cidades. As inundações são
frequentes e a parcela da população que ocupa estas áreas se vê frequentemente
afetada por estas enchentes, e ao mesmo tempo, não têm outra opção de moradia.
Configura-se uma situação de difícil equacionamento pelo Poder Público.

Figura 7: Ocupação urbana em áreas de várzea.

Nos Planos Diretores Urbanos de quase todas as cidades brasileiras, não há


restrições à ocupação de áreas com risco de inundação, mesmo que essas ocorram
apenas esporadicamente. A ocupação destas áreas, especialmente por populações de
baixa renda, acentua os problemas de enchente (TUCCI, 1999).
A urbanização causa aumento das vazões máximas em até 7 vezes, devido ao
aumento da capacidade de escoamento através de condutos e canais e da
impermeabilização do solo. Chuvas intensas fazem com que a capacidade dos sistemas
de drenagem seja excedida, causando transbordamentos. A construção de canais para
a rápida coleta e transporte de águas pluviais para cursos de água receptores como
rios e córregos provoca um aumento das vazões máximas, antecipando picos de cheia,
o que aumenta o risco de inundações à jusante (ICLEI BRASIL, 2011; TUCCI, 1999).

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
O aumento da produção de sedimentos, seja pela produção de resíduos sólidos,
seja pelas atividades de construção, limpeza de terrenos, ou pelo carreamento de
sedimentos pelo escoamento superficial, pode causar assoreamento nos corpos d’água
e na micro e macrodrenagem, com redução da capacidade de escoamento dos
condutos. Adicionalmente, os fluxos de escoamento superficial apresentam alta
velocidade, em decorrência da impermeabilização, o que causa erosão, e,
consequentemente, mais produção de sedimentos (ICLEI BRASIL, 2011; TUCCI, 1999).
A elevada produção de lixo pelas cidades também é um problema, pois obstruir
canais de drenagem, ocupando espaços destinados ao escoamento. Além disso, a
presença de lixo torna as condições sanitárias das águas escoadas ainda piores (TUCCI,
1999; TUCCI, 2008).
A própria infraestrutura urbana instalada de forma desorganizada pode causar
problemas na drenagem, obstruindo os caminhos do escoamento com obras de
drenagem inadequadas, aterros, reduções na seção de escoamento, dentre outros.
Com a impermeabilização, há uma redução da infiltração no solo, o que aumenta os
volumes de escoamento superficial e diminui a recarga de aquíferos, o que pode
prejudicar a disponibilidade futura de água (TUCCI, 1999). A Tabela 1 mostra os efeitos
hidrológicos de vários problemas urbanos relacionados à inundações.

Tabela 1: Resumo das consequências hidrológicas da urbanização.


CAUSAS EFEITOS

Impermeabilização Maiores picos e volumes


Redes de Drenagem Maiores picos a jusante
Degradação da qualidade da água
Lixo
Entupimento de bueiros e galerias
Degradação da qualidade da água
Redes de esgoto deficientes Moléstias de veiculação hídrica
Inundações: consequências mais sérias
Maiores picos e volumes
Desmatamento e desenvolvimento
Mais erosão
indisciplinado
Assoreamento em canais e galerias
Maiores prejuízos
Ocupação das várzeas Maiores picos e volumes
Maiores custos de utilidades públicas

Além de todas estas causas, é preciso lembrar também que a gestão das águas pluviais
urbanas no Brasil tem sido feita com base em um princípio equivocado: a drenagem deve
retirar a água excedente o mais rápido possível do seu local de origem. Dentre as
consequências desta abordagem, pode-se citar:

- “Ilhas de calor”: devido à rápida remoção de água de chuva, que reduz a


evapotranspiração e que somada ao efeito de aquecimento de superfícies
impermeáveis, gera um microclima mais quente.
- Inundações a jusante: devido ao afastamento rápido das águas pluviais.

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- Poluição Difusa: poluentes sem origem definida (metais pesados, óleos e
pesticidas) são diluídos nos escoamentos até os cursos d’água.
- Redução do escoamento básico: a impermeabilização das superfícies esgota
aquíferos ao reduzir sua recarga natural.
- Erosão e assoreamento: devido aos escoamentos em alta velocidade..
- Desperdício do recurso hídrico: A remoção de água pluvial impede que ela seja
utilizada para fins não potáveis, como lavagens de logradouros públicos, rega de
jardins ou harmonia paisagística (ICLEI BRASIL, 2011; TUCCI, 1999).

É preciso considerar a bacia como um sistema de controle das águas pluviais.


Geralmente, o escoamento gerado em um local é transferido para outro ponto da
bacia, através de condutos e canalizações, o que pode causar impactos significativos a
jusante. Esta ação apenas transfere o problema das enchentes de um ponto a outro,
não atuando nas causas do problema.

Prejuízos causados por inundações urbanas

As causas anteriormente citadas provocam as enchentes urbanas, que impactam


a população no sentido de causar prejuízos e perdas materiais e humanas,
interrupções de atividades econômicas nas áreas inundadas, contaminações por
doenças de veiculação hídrica e por depósitos de materiais tóxicos (Quadro1).

Quadro 1: Perdas causadas por inundações. Fonte: Parker, 2000.

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Planejamento da Gestão de águas pluviais

Em países desenvolvidos, as inundações expressivas ocorridas nos últimos anos


tem destacado a importância de uma abordagem integrada para combater e resolver
problemas relacionados às enchentes urbanas. Isso indica a necessidade de se planejar
o controle e prevenção de enchentes de acordo com necessidades presentes, mas
pensando também em adaptações que possam ser feitas para situações futuras (PAHL-
WOSTL, 2010; ZEVENBERGEN et al, 2008).
Para implantar ações de mitigação de prejuízos causados pelas enchentes, é
importante contar com estudos multidisciplinares, que envolvam arquitetura e
urbanismo, planejamento urbano, engenharia civil e hidráulica, meio ambiente,
meteorologia, geologia, geografia, sociologia, psicologia, comunicação social, todas
estas áreas conversando entre si, visando sempre a formulação de soluções
sustentáveis, socialmente adequadas, que busquem o bem-estar e a segurança da
população (PISANI; BRUNA, 2011).
Nas últimas décadas, faculdades, órgãos gestores e centros de pesquisa têm
tentado modelar sistemas urbanos, utilizando uma abordagem de sistemas agregados
para examinar questões complexas, como mudanças no planejamento de transportes,
uso do solo, e em aspectos econômicos e ambientais (ZEVENBERGEN et al, 2008)
Estes modelos devem considerar diversas informações, que devem ser
agregadas, de forma a considerar a diversidade de fatores envolvidos na gestão das
águas urbanas.
Um fator importante a ser considerado é que o controle de enchentes na
atualidade leva em conta o conhecimento acumulado de eventos passados
(SEVENBERGEN et al, 2008).
Os sistemas convencionais de drenagem são utilizados como método mais
comum para gestão de águas pluviais no mundo. No entanto, este sistema
convencional se mostra muitas vezes incapaz de impedir inundações e danos
ambientais e sociais. Este modelo se baseia na rápida remoção da água pluvial das
áreas urbanas, o que exclui algumas oportunidades para a gestão de águas urbanas,
como a utilização desta água para fins não potáveis, paisagismo, e em casos extremos
até sua incorporação no sistema de abastecimento público. Neste contexto, é preciso
reavaliar a forma como a gestão da drenagem urbana tem sido feita em várias cidades
do mundo (ICLEI BRASIL, 2011).
Além da integração interdisciplinar, é preciso que a gestão das águas pluviais
urbanas seja feita de forma integrada no âmbito das instituições que se relacionam ao
tema. Pavimentação, habitação, gestão de parques, saneamento, limpeza urbana,
gestão de resíduos e uso e ocupação do solo são apenas alguns dos serviços municipais
que influenciam ou são influenciados pela gestão das águas pluviais. Portanto, estes
serviços devem conversar entre si para fazer uma gestão de águas pluviais urbanas
adequada, sempre visando o bem-estar social e a sustentabilidade ambiental (ICLEI
BRASIL, 2011).

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
A gestão de águas pluviais sofre pressões das mudanças ocorridas na cidade,
como o aumento populacional, a criação de legislações mais rígidas de controle de
qualidade da água ou a ocorrência de episódios severos de chuvas têm imposto
desafios á gestão, o que justifica a necessidade de integração interdisciplinar e
também interinstitucional. A tabela 2 mostra as diferenças entre a abordagem
convencional e a gestão sustentável, que é a tendência atual.

Tabela 2: Diferenças entre modelos de gestão de águas pluviais


Abordagem convencional Gestão sustentável de águas pluviais
Uso de estruturas para rápida eliminação Amortecimento na fonte e reutilização das águas
das águas pluviais do ambiente urbano pluviais
Objetivo da gestão de águas pluviais urbanas é
Objetivo da gestão de águas pluviais
buscar soluções que tragam benefícios sociais e
urbanas se resume ao afastamento
ambientais.
Infraestruturas “verdes”, maior atenção à medidas
Uso de infraestrutura convencional
não-estruturais de controle de águas pluviais
Soluções de controle centralizadas Soluções descentralizadas
Gestão da drenagem urbana integrada a outros
Gestão da drenagem urbana centralizada
serviços urbanos relativos à água (saneamento,
em um órgão específico
limpeza urbana, etc).
Gestão da drenagem feita de forma Gestão da drenagem feita de forma integrada,
isolada interdisciplinar.
Fonte: ICLEI BRASIL, 2011.

Medidas de controle de enchentes

Enchentes urbanas podem ser combatidas através da diminuição de sua


ocorrência, por medidas estruturais, ou através da redução de perdas e adaptação a
estes episódios, através de medidas não-estruturais. Medidas estruturais são aquelas
que envolvem grande quantidade de recursos e resolvem problemas específicos de
uma região. Medidas não-estruturais geralmente possuem custos menores quando
comparadas com as estruturais (ANDRADE, 2004). Apesar de distintas, a aplicação de
medidas estruturais e não-estruturais deve ser feita de forma integrada (PISANI;
BRUNA, 2011).
Medidas Estruturais

Medidas estruturais podem ser classificadas em extensivas e intensivas. Ambas


se referem a obras de engenharia hidráulica implantadas para mitigar os impactos
causados pelas enchentes (SOUZA, 2004).
Medidas estruturais extensivas são medidas físicas diretas, aplicadas no contexto
da bacia, que objetivam modificar as relações entre precipitação e vazão para reduzir a
produção de escoamento superficial, diminuindo a ocorrência de erosão e enchentes
(SOUZA, 2004 apud TUCCI, 1993). No âmbito político, geralmente se dá preferencia às
medidas estruturais, pois elas são facilmente perceptíveis pela população, embora
nem sempre sejam efetivas quanto outras medidas (SOUZA, 2004). Geralmente,

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medidas estruturais têm elevado custo, o que não significa que este tipo de medida
seja descartável ou que seja evitada. Na verdade, o controle de enchentes deve
envolver a integração entre medidas estruturais e não-estruturais. Para algumas
situações, certamente soluções estruturais serão necessárias, mas elas devem ser
implantadas levando em conta o contexto da bacia, sendo racionalmente planejadas
(TUCCI, 1999).

Medidas estruturais extensivas

Como exemplos de medidas estruturais extensivas, é possível citar obras de


microdrenagem, pavimentos permeáveis, valas de infiltração, bacias de percolação,
armazenamento em telhados, obras de controle da erosão do solo (SOUZA, 2004).
Obras de controle de erosão devem ser extensivas no sentido de não serem
aplicadas apenas em contexto local, de forma fragmentada. Elas devem ser pensadas
na bacia como um todo. A erosão é a maior causa de transporte de sedimentos, que
acabam causando assoreamento em corpos d’água e estruturas de micro e
macrodrenagem, diminuindo a capacidade de vazão destes condutos. Obras de
contenção de encostas, com plantio de gramíneas e arbustos, estabilização do corte de
encostas, muros de arrimo e terraceamento são alguns exemplos de medidas
estruturais de controle de erosão, permitindo que o solo resista à erosão causada pelo
escoamento, evitando a produção de sedimentos (SOUZA, 2004; TUCCI, 2007).
Bacias de percolação, valas de infiltração e pavimentos permeáveis são exemplos
de medidas estruturais que aumentam a capacidade de infiltração e percolação na
bacia. Estes dispositivos permitem o aumento da recarga de aquíferos e a redução das
vazões máximas a jusante através da infiltração e percolação, além de reduzir a carga
de poluição difusa produzida na bacia.
Os pavimentos permeáveis constituem uma medida estrutural que pode ser
utilizada em estacionamentos, calçadas e ruas de pouco tráfego, que tem como
vantagens a redução da produção de escoamento superficial, a redução da lâmina
d’água em estacionamentos e passeios e a redução dos custos com o sistema de
drenagem urbana. No entanto, este sistema precisa de manutenção para que não seja
prejudicada a capacidade de infiltração do material (TUCCI, 1995 apud SOUZA, 2004).
As valas de infiltração são dispositivos de drenagem lateral, geralmente paralelos
a ruas, estradas, estacionamentos ou condomínios. Os valos concentram o fluxo das
áreas adjacentes e criam condições de infiltração ao longo de seu comprimento. Já as
bacias de percolação são dispositivos semelhantes às valas de infiltração, que
permitem a infiltração em maior profundidade no lote, promovendo a recarga de
aquíferos, reduzindo o escoamento superficial (SOUZA, 2004).
O armazenamento em telhados é uma opção relativamente nova, ainda pouco
usada no Brasil, mas que já é bem difundida na Europa e Japão. Trata-se de telhados
projetados com pequenos reservatórios para armazenar água em episódios de chuva,
ou então, da coleta da água que cai por toda a extensão do telhado ou laje por um

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conjunto de calhas, que direcionam a água para um reservatório, disponibilizando-a
para usos residenciais não potáveis. Apesar de promissor, tanto pela simplicidade
como pelo potencial econômico, já que pode reduzir gastos nas contas de água, o
sistema requer manutenção constante e reforço de estruturas, o que pode
desencorajar sua instalação (TUCCI, 1995 apud SOUZA, 2004).
Há também o controle da cobertura vegetal. O reflorestamento de bacias pode
ter um alto custo associado, mas causa melhoria no sentido de interceptar parte da
precipitação, retendo água nas copas arbóreas e arbustivas, promovendo a
evapotranspiração. Quanto mais cobertura vegetal, menor o escoamento superficial
produzido no terreno, pois a cobertura vegetal propicia a infiltração no solo (SOUZA,
2004; TUCCI, 2007).
Medidas Estruturais Intensivas

Medidas estruturais intensivas são aquelas que agem diretamente no corpo


d’água, como construção de diques, muros de contenção, reservatórios de detenção e
retenção, canais de desvio, dragagens ou qualquer obra de engenharia com o objetivo
de alterar o escoamento natural de um curso d’água, de forma a atenuar os efeitos de
cheias (MACEDO, 2004; TUCCI, 2007).
Historicamente, medidas estruturais intensivas foram as primeiras a serem
adotadas visando o controle de enchentes. A construção de diques e muros de
contenção ao longo de cursos d’água para evitar transbordamentos já eram feitas
milhares de anos atrás. Os primeiros diques a serem reportados na Alemanha datam
dos séculos 8 e 9 e foram construídos, na região do baixo Rhine. Na China, registros
remontam a 2220 anos atrás, quando foram construídos diques ao longo do Rio
Amarelo para contornar problemas de enchentes (MACEDO, 2004).
A figura 8 mostra um exemplo de medida estrutural intensiva, pois retrata o Rio
Pinheiros no final de 1930, ainda com meandros, antes da retificação (sombreada na
foto) e reversão de seu curso.

Figura 8: Rio Pinheiros em 1930, antes da canalização e reversão.

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Medidas não-estruturais

Historicamente, a adoção de medidas estruturais mostrou que sua aplicação


como única solução para o problema das inundações sempre se mostrou incompleta,
uma vez que estes eventos são imprevisíveis, tanto em ocorrência como em
magnitude. Aos poucos, cresceu a percepção de que esta postura não era eficaz no
combate às enchentes e a adoção de outras medidas, além de obras de engenharia,
era necessária. Em meados do século XIX, governos de alguns países passaram a
adotar medidas não-estruturais para lidar com episódios de cheia (MACEDO, 2004).
Medidas não-estruturais são aquelas que têm caráter extensivo, com ações que
podem atingir toda a bacia. Podem ser de natureza institucional, administrativa, ou
financeira, sendo adotada individualmente ou por um grupo de pessoas,
espontaneamente ou imposta por lei, que visam minimizar impactos e adaptar
moradores às condições extremas causadas por eventos de enchentes (PISANI;
BRUNA, 2011).
São medidas não-estruturais: o zoneamento de áreas inundáveis, o
planejamento do uso e ocupação do solo com planejamento urbano adequado na
escala da bacia hidrográfica, os sistemas de alerta de cheias, a evacuação de áreas de
várzea com transferência de áreas duramente atingidas para áreas mais seguras, a
retenção no solo através da criação ou manutenção de áreas verdes, seguros encontra
enchentes, ações de educação ambiental e sensibilização através de programas
contínuos de esclarecimento e orientação, imposição de restrições à ocupação de
áreas de risco e o incentivo a pesquisas na área, que promovam o desenvolvimento de
políticas municipais adequadas às realidades locais (MACEDO, 2004; PISANI, BRUNA,
2011; TUCCI, 2008, ANDRADE FILHO et al, 2000; TUCCI, 2007)
Um dos mais importantes instrumentos neste contexto é o Plano Diretor
Municipal. Ele é um instrumento básico da política de desenvolvimento e
planejamento do município, estabelecendo diretrizes para a adequada ocupação do
espaço. Sua finalidade é orientar o Poder Público e privado no uso do espaço urbano,
na oferta de serviços essenciais, com o objetivo de assegurar o bem-estar da
população. Trata-se de uma lei municipal específica, que deve ser revisada de tempos
em tempos, levando em conta os anseios da população, ou seja, o Plano Diretor deve
ser construído coletivamente, de forma participativa. É no Plano Diretor que devem
constar áreas de risco de inundação e diretrizes para o planejamento destas áreas
(PISANI; BRUNA, 2011). Há também o Plano Diretor de Drenagem Urbana, que cria
mecanismos de gestão para a infraestrutura urbana relacionada ao escoamento de
águas pluviais e corpos d’água em áreas urbanas, visando o planejamento da
drenagem urbana evitando perdas econômicas, e promovendo o bem-estar social e a
sustentabilidade ambiental, levando em conta também o disposto no Plano Diretor
Municipal (TUCCI, 1997).
O planejamento e a gestão das bacias hidrográficas são fundamentais para o
crescimento urbano, justamente para não agravar problemas de enchentes. A

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
legislação brasileira de uso e ocupação do solo é exigente, mas não é devidamente
cumprida, sendo assim, são necessárias as medidas não-estruturais para
complementar a ação da legislação e das medidas estruturais no combate às
enchentes.
Um exemplo interessante a destacar é o Sistema de Alerta de Inundações de São
Paulo – SAISP, que realiza o monitoramento hidrológico da região metropolitana de
São Paulo, em parceria com o DAEE – Departamento de Água e Energia Elétrica,
através de uma rede telemétrica e de radares meteorológicos, com previsões
atualizadas a cada vinte minutos. O SAISP produz mapas hidrometeorológicos e
previsões de inundações para a região (PISANI; BRUNA, 2011).

Perspectivas futuras – em busca da integração

Como visto anteriormente, a urbanização causou uma série de impactos no ciclo


urbano da água, e estes impactos se tornaram fonte de pressões por uma
transformação do modo de gestão atual para uma gestão mais integrada e sustentável
das águas pluviais urbanas. Manter uma abordagem fragmentada na gestão de águas
urbanas no século XXI não é a melhor forma de se chegar a uma boa gestão das águas
urbanas (PISANI; BRUNA, 2011).
Ao invés de separar as ações relativas ao manejo de águas pluviais,
abastecimento de água e esgotamento sanitário, buscando soluções individuais para
cada um destes setores, é preciso integrá-las, gerenciando-as de forma interligada,
reconhecendo as fragilidades e potencialidades de cada setor, visando sempre o uso
mais eficiente da água, a sustentabilidade dos recursos naturais e a segurança da
população (ICLEI BRASIL, 2011). O projeto e gestão do sistema hídrico urbano baseado
em uma análise do sistema como um todo levará a soluções mais sustentáveis, com
práticas de gestão mais adequadas, do que a gestão de cada componente do sistema
de forma separada.
Também é preciso engajar a sociedade e tornar o processo de planejamento um
processo participativo, que considere preocupações locais, que torne a população
ciente, tanto dos problemas como das soluções previstas para sua região.
Um ponto importante neste aspecto é a identificação não apenas dos problemas
a serem resolvidos na gestão das águas pluviais urbanas, mas também as
oportunidades. Inicialmente, precisa ser revista e modificada a visão atual de que
águas pluviais devem ser direcionadas imediatamente para fora do ambiente urbano e
passar a vê-la como um recurso, e que seu aproveitamento como uma fonte
alternativa de água pode diminuir a pressão sobre os mananciais existentes. Esta água
pode ser coletada para usos não-potáveis, como harmonia paisagística e manutenção
de biodiversidade, e até mesmo para recarga de aquíferos. Também é importante que
se priorize a redução da produção de escoamento na fonte, evitando assim a
necessidade de grandes obras a jusante (ICLEI BRASIL, 2011; TUCCI, 1999).

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
A mudança de mentalidade presente nestas ações está na essência da passagem
do modelo de gestão atual da drenagem urbana para um modelo mais sustentável de
gestão das águas pluviais urbanas.
É preciso introduzir conceitos novos nas escolas de engenharia, deixando de se
basear apenas em episódios do passado para criar soluções para os problemas de
enchentes, é preciso inovar, utilizar alternativas novas, como medidas não-estruturais,
infraestruturas “verdes”, e investir na gestão, e não apenas soluções estruturais para
controle de enchentes. Neste sentido, é importante que se combata a resistência dos
profissionais a mudança. Uma abordagem que pode ser promovida é a aplicação de
projetos-piloto, para avaliar a viabilidade de medidas estruturais e não-estruturais de
controle e prevenção de enchentes, pois eles fornecem base para o planejamento e
investimentos em maior escala.
Para que todas essas mudanças possam ocorrer, é preciso que aconteça uma
mudança na legislação, para que soluções alternativas sejam legalmente aceitas e
incentivadas, incluindo também uma maior regulação sobre as águas pluviais urbanas.
Uma preocupação adicional deve ser a redução dos custos de implantação das
soluções alternativas, através do incentivo de desenvolvimento do mercado de
fornecedores de equipamentos e de projetos.
Também é preciso reforçar a ideia de que o controle de enchentes não é realizado através
de ações pontuais, mas sim de um controle permanente e de ações integradas, com
fiscalização de possíveis violações da legislação e do ordenamento territorial, com a remoção
constante de famílias de locais de risco, com o encorajamento da participação da sociedade na
confecção dos Planos Diretores, com programas contínuos de comunicação e também com
obras estruturais (TUCCI, 1999). O quadro 2 resume algumas ações que levam à uma gestão
mais sustentável das águas pluviais urbanas.

Controle local: Retenção


de escoamentos de uma
Controle na origem: Retenção área maior como
de escoamentos o mais conjuntos habitacionais
próximo possível do local de (bacias de detenção e Controle regional: Retenção
precipitação (pavimentação sistemas de infiltração). de escoamento de diversos
porosa, reservatórios, valas e lugares (lagoas de retenção e
telhados verdes). zonas pantanosas artificiais).

Boa gestão interna: Medidas


Importante: Aplicação
não estruturais para Melhores Conjunta e integrada de
controlar o escoamento
(programas de educação,
Práticas de todas estas ações, com
prioridade das ações
planejamento local, gestão Gestão de internas e de controle na
do lixo e do uso do solo).
Águas origem
Pluviais

Quadro 2: Ações que resultam nas melhores práticas de gestão de águas pluviais.

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
A gestão dos recursos hídricos é de atribuição estadual, enquanto que a gestão
de uso e ocupação do solo é de atribuição municipal, bem como a gestão dos resíduos
sólidos gerados por uma cidade, ou a gestão de obras de microdrenagem, que também
é de atribuição municipal. É preciso ultrapassar a ideia de que a gestão de uso e
ocupação do solo e de infraestrutura urbana, como água, esgoto, transporte público,
gestão da micro e macrodrenagem, dentro outros, não têm relação com a questão da
água no meio urbano. Todas as esferas apresentam alguma relação. É preciso superar
a visão setorizada e fragmentada do planejamento urbano (TUCCI, 2008; SILVA;
PORTO, 2003).
Muitos municípios não possuem estrutura adequada para aplicar um planejamento
urbano adequado, integrado, não fragmentado. É necessária uma mudança nas
estruturas institucionais responsáveis pela gestão das águas pluviais, para que sejam
possíveis as ações transversais a diversas áreas responsáveis pelo planejamento e
operação da área urbana. É necessária, portanto, uma integração entre os diferentes
componentes que se relacionam com a água no meio urbano, nas diversas esferas de
gestão, de forma a se garantir não apenas a gestão integrada dos recursos hídricos,
mas também para garantir que não ocorram incompatibilidades entre as ações
voltadas à gestão dos recursos hídricos no meio urbano (TUCCI, 2008; SILVA; PORTO,
2003).
A questão das enchentes é um problema que envolve a integração de diferentes
esferas de gestão. É preciso promover a coordenação institucional na gestão das águas
pluviais, inclusive com criação de órgãos de coordenação, que tenham visão mais
ampla da drenagem urbana e também da gestão das águas municipais como um todo,
incluindo também abastecimento, coleta e tratamento de esgotos e gestão ambiental.
Por fim, é preciso superar a visão unitária do ciclo da água urbano, evoluindo
para uma visão mais complexa em termos de escala, interações e integração. Esta
evolução é um dor fatores que definirá a vulnerabilidade à enchentes das cidades do
futuro (ZEVENBERGEN et al, 2008).

Município de Santo André: um caso interessante no Brasil

O município de Santo André localiza-se na Região Metropolitana de São Paulo.


Tem uma população total de 676.407 habitantes, distribuídos em uma área de 175
km², com uma densidade demográfica de 3.866 hab/km² (SEADE, 2011).
Em 1999, Santo André adotou o saneamento ambiental e a gestão integrada de
drenagem urbana, abastecimento de água, coleta de esgotos e resíduos sólidos como
forma de gestão ambiental no município, através de um único órgão governamental: o
SEMASA - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André. O SEMASA foi
criado em 1969, a partir do DAE (Departamento de Água e Esgoto), órgão de
administração direta da prefeitura Municipal, sendo inicialmente incumbido de tratar
dos assuntos relacionados apenas à água e esgoto. O órgão é responsável pela
distribuição de água, coleta de esgoto, drenagem urbana, gestão dos resíduos sólidos e

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
gestão ambiental municipal, promovendo o conceito de saneamento ambiental
integrado.
Em 1998, foi elaborado o Plano Diretor de Drenagem (PDD), o primeiro do País.
Este Plano resultou no diagnóstico das áreas com maior incidência de inundações, o
que possibilitou o mapeamento destas áreas e a priorização de intervenção nas
mesmas, incluindo projetos de drenagem e disponibilização de serviços de
atendimento emergenciais (PMSA, 2011). Foi também instituída a Política Municipal de
Gestão e Saneamento Ambiental.
Tanto o Plano Diretor de Drenagem, como a Política Municipal de Gestão e
Saneamento Ambiental, como Plano Diretor Municipal estabeleceram diretrizes
atualizadas e integradas quanto ao abastecimento de água, esgotamento sanitário,
manutenção de áreas verdes, coleta e disposição de resíduos sólidos, redução da
poluição, proteção das áreas de mananciais, assim como a promoção da educação
ambiental e participação social nos processos de tomada de decisão, o que
representou um avanço significativo para a gestão ambiental municipal.
Ainda, em 2011, o órgão também incorporou a gestão de riscos ambientais
através da Defesa civil do município (PMSA, 2011). A integração dos serviços de
saneamento ambiental por um único órgão municipal, fez com que a cidade de Santo
André aperfeiçoasse a distribuição de águas, a coleta e tratamento de esgoto, a
drenagem urbana, a gestão de resíduos sólidos e a gestão ambiental do município
como um todo. Esta mudança na gestão foi fundamental para um município que
possui uma grande parcela de seu território em áreas de mananciais (cerca de 55%) e
de proteção ambiental.
A gestão integrada dessas esferas do saneamento resulta na otimização dos
serviços, nas manutenções necessárias e proporciona melhores resultados ao próprio
município.
Com 15 anos, o SEMASA já pode promover algumas mudanças positivas. Dentre
os 70 pontos de alagamento identificados no PDD, 40 já foram solucionados (ICLEI
BRASIL, 2011 apud PMSA, 2011b). Com a realização dos serviços de saneamento pelo
próprio município, foi possível adequá-los à realidade local e ter maior independência
para executar as ações que a cidade necessitava. O modelo de gestão do saneamento
ambiental adotado por Santo André demonstra a importância de trabalhar de maneira
integrada as diversas esferas do saneamento e da gestão ambiental do município. Para
que os municípios planejem e alcancem cenários futuros com índices elevados de
qualidade ambiental, se faz necessária essa integração e visão holística das diversas
ações. A criação de leis, estabelecimento de diretrizes modernas, elaboração do plano
diretor de drenagem, e instituição de um órgão nos modelos do SEMASA pode ser o
início da mudança na gestão do saneamento ambiental que muitos municípios
brasileiros necessitam (ICLEI BRASIL, 2011).

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Fascículo 3: Inundações Urbanas
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