Geografia de Mocambique Um Olhar A Parti
Geografia de Mocambique Um Olhar A Parti
Geografia de Mocambique Um Olhar A Parti
Rui Jacinto
Assistente Convidado
Universidade de Coimbra
CEGOT – FLUC
rui.jacinto@iol.pt
Lúcio Cunha
Professor Catedrático
Universidade de Coimbra
CEGOT – FLUC
luciogeo@ci.uc.pt
com uma guerra civil “pela democracia” mestres por contextualizar a génese da
(1976-1992) que antecedeu um novo Geografia de Moçambique, institu-
período de “hostilidades militares”, cionalizada em 1969, e a relação que
depois de 2012. A Geografia de Moçam- manteve com a Geografia de Portugal;
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cultura visual que lhe está associada. que referiremos a Sociedade Brasileira de Geo-
A partir de meados do século XIX o grafia, criada em 1838, a Sociedade Americana de
Geografia, em Nova Iorque, em 1852, e a National
rumo da Geografia é muito influenciado Geographic Society, a mais conhecida, em Washin-
pela evolução daquelas ferramentas, gton, no ano de 1888.
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Rui Jacinto & Lúcio Cunha 52
no Oriente confirma a tese que, fundamentalmente, trário, os régulos negros eram considerados verdadei-
o que interessava era o substrato à concorrência ros reis, reverenciados e respeitados, e cumpriam-se e
estrangeira no comércio ultramarino. (…) Chegados observavam-se inteiramente seus usos e costumes
aos portos de África, os Portugueses não políticos e administrativos” (Alexandre Lobato,1951;
consideravam suas as terras e as gentes e, quanto à p. 136)
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incluída nas Faculdades de Letras, sendo evoluiu para uma guerra traumatizante e
aquela data o verdadeiro início dos estu- que acabaria dolorosamente com o
dos universitários de Geografia em Portu- “regresso das caravelas”. A África acabaria
gal (Gama, 2011, p. 220). A importância por ser trocada pela aproximação à
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cada vez mais longe, a outra terra achada, onde se (Nampula), 1962 (Nampula, Planalto dos
fixarão, e donde talvez os filhos irão partir um dia Macondes, Litoral de Porto Amélia), 1964
para outra terra então achada ou que nessa hora (Quelimane), 1965 (Porto Amélia e Pebane) e
mereceu o empenho da colonização. E vão os 1966 ((); Moçambique (da Foz do Rio Molocué à
hábitos e os usos, e os costumes, e as alfaias, e os Baía de Condúcia).
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Fonte: Pery , Gerardo A., 1875 Fonte: Girão, Amorim, 1941; 1958
fica que importa aprofundar a partir de Carvalho, Joaquim Barradas de (1974). Rumo
múltiplas parcerias que se venham a de Portugal. A Europa ou o Atlântico?
estabelecer, permitindo uma melhor e Lisboa, Livros Horizonte.
Dias, Luiz Fernando de Carvalho (1954).
mais eficaz integração dos geógrafos dos
Fontes para a história, geografia e comér-
dois países nas redes internacionais de cio de Moçambique (séc. XVIII). Anais
investigação já existentes. Por outro lado da Junta das Missões Geográficas e de
é de todo interesse aproveitar a diversidade Investigações do Ultramar; vol. 9, tomo 1,
de contextos naturais, ambientais, sociais Lisboa.
e culturais dos dois países para concretizar Enes, António (1893; 4.ª ed., 1971). Moçam-
bique. Relatório apresentado ao Governo.
estudos comparativos que permitam
(Apresentado em 1893). Agência Geral
debater conceitos, aferir metodologias e do Ultramar, Imprensa Nacional, Lisboa.
experimentar distintas técnicas de análise. García Álvarez, Jacobo & Garcia, João Carlos
Existe, pois, um longo caminho a (coord.; 2014). História da Geografia e
percorrer no aprofundamento destas Colonialismo. Lisboa, CEG.
relações de cooperação, de modo a que Machado, Joaquim José (1881). Moçambi-
elas contribuam e se integrem verdadei- que: comunicação à Sociedade de Geogra-
hia de Lisboa nas sessões de 6, 13 e 22 de
ramente numa Comunidade de Geó-
Dezembro de 1880. Lisboa: Casa da Socie-
grafos dos Países de Língua Portuguesa” dade de Geographia.
(Cunha et al., 2016, p. 98). Moura-Braz (1950). Moçambique, Sociedade
de Geografia de Lisboa, Semana do
Bibliografia Ultramar português, Lisboa.
(inclui outras referências além das citadas no Ornelas, Aires de (1902). Mouzinho de Albu-
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revista de estudos ibéricos
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