Experiencias Qualitativas Ebook (Versão Final) PDF
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RAIMUNDA MAGALHÃES
DA SILVA Enfermeira. Doutora
e mestra em Enfermagem;
pós-doutora em Saúde
Coletiva. Professora titular
na Universidade de Fortaleza.
Coordenadora do grupo de
extensão em saúde da mulher
e adolescente. Bolsista de
produtividade em pesquisa
1C/CNPq. Líder de grupo de
pesquisa no diretório do CNPq
“Políticas e práticas na promoção
da saúde da mulher”.
INDARA CAVALCANTE
BEZERRA. Farmacêutica.
1 Doutora em Saúde Coletiva pelo
Raimunda Magalhães da Silva
Indara Cavalcante Bezerra
Christina César Praça Brasil
Escolástica Rejane Ferreira Moura
Organizadoras
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de
Coleta de Informações
Sobral
2018
ESTUDOS QUALITATIVOS: Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
© 2018 Copyright by Raimunda Magalhães da Silva, Indara Cavalcante Bezerra, Christina César Praça Brasil,
Escolástica Rejane Ferreira Moura
Impresso no Brasil/Printed in Brasil
Efetuado depósito legal na Biblioteca Nacional
Reitor
Fabianno Cavalcante de Carvalho
Vice-Reitora
Izabelle Mont`Alverne Napoleão Albuquerque
Conselho Editorial
Maria Socorro de Araújo Dias (Presidente)
Izabelle Mont’Alverne Napoleão Albuquerque
Alexandra Maria de Castro e Santos Araújo
Ana Iris Tomás Vasconcelos
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Claudia Goulart de Abreu
Eneas Rei Leite
Francisco Helder Almeida Rodrigues
Israel Rocha Brandão
Maria Adelane Monteiro da Silva
Maria Amélia Carneiro Bezerra
Maria José Araújo Souza
Maria Somália Sales Viana
Maristela Inês Osawa Vasconcelos
Raquel Oliveira dos Santos Fontinele
Simone Ferreira Diniz
Renata Albuquerque Lima
Tito Barros Leal de Ponte Medeiros
Virginia Célia Cavalcanti de Holanda
Catalogação
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Revisão de texto
Vianney Mesquita (registro profissional nº 004989JP)
Editoração e Designer
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AGRADECIMENTOS
Ó saúde, saúde! Bênção dos ricos! Riqueza dos pobres! Quem pode comprar-
te por preço demasiadamente caro, se sem ti não há prazer neste mundo?
(Benjamin Jonson, dramaturgo inglês).
As Organizadoras.
SUMÁRIO
preende-se que cada estudo qualitativo é, por si, um esboço de pesquisa, deven-
do este último ser definido após a formulação precisa do problema; a definição
do objetivo, da viabilidade e do alcance do estudo; e da elaboração dos pressu-
postos (SAMPIERI; CALLADO; LUCIO, 2013).
Assim, uma das vantagens da pesquisa qualitativa está em ser especialmente
eficaz no estudo de nuanças sutis da vida humana e na análise dos processos
sociais ao longo do tempo. A principal vantagem deste método está na opor-
tunidade de explorar pressupostos que interferem na nossa compreensão do
mundo social. A pesquisa qualitativa é particularmente adequada para áreas,
temas ou problemas que não são bem conhecidos ou sem respostas apropriadas.
Uma vez que a pesquisa qualitativa simultaneamente coleta, analisa e reformula
perguntas, ela é particularmente apropriada para novos tópicos e temas (KERR;
KENDALL, 2013).
O desenho de pesquisa, entre outros aspectos, direciona as seguintes ações:
imersão inicial e profunda no ambiente, a permanência no campo e a coleta
e a análise de dados. Esse procedimento ampara o pesquisador na seleção da
amostra e na confecção dos instrumentos a serem aplicados para o registro dos
dados a coletar.
Assim, a abrangência da pesquisa qualitativa requer muitas possibilidades
estratégicas para a sua operacionalização, o que fez nascer uma multiplicidade
de desenhos adotados nas pesquisas da saúde, quais sejam: Teoria Fundamen-
tada (Grounded Theory), Estudos Etnográficos, Estudos Narrativos, pesquisa
-ação, estudos Fenomenológicos, Estudos de caso (WILLIAMS; GRINNELL;
UNRAU, 2005), Interacionismo simbólico (BLUMER, 1967), Hermenêutica-
dialética e Representações Sociais. Sem perder de vista a possibilidade criativa
do pesquisador ou mesmo a sua necessidade de adequação ao panorama de
pesquisa, outros tipos podem surgir com base em adaptações dos já validados
ou das associações entre eles. A quadro 1 exibe algumas dessas variedades da
pesquisa qualitativa.
Ante tantas perspectivas, muitos pesquisadores se debruçam em estudos e
tecem profundas discussões sobre a sua profundidade e a validade científicas
da pesquisa qualitativa. Este conflito se dá porque esta é considerada subjetiva,
porem, para alguns pesquisadores, não é cientifica por não operar com dados
matemáticos. Esse tabu, entretanto, é superado quando a comunidade científica
compreende que os dados interpretativos trazem o estudo da experiência hu-
mana, entendendo que as pessoas interagem, interpretam e constroem sentidos.
Assim, é essencial conferir rigor científico e confiabilidade a todos os tipos
de pesquisa, sejam eles quantitativos ou qualitativos. Para isso, alguns aspectos
devem ser considerados: a atitude do pesquisador, as estratégias de coleta de
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
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CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Referências
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CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
PARTE I
ENFOQUES TEÓRICO-METODOLÓGICOS NA
PESQUISA QUALITATIVA
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CAPÍTULO 1
DESAFIOS METODOLÓGICOS DA
ABORDAGEM QUALITATIVA: DIVERSIDADE
DE CENÁRIOS, PARTICIPANTES,
ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS
Marluce Maria Araújo Assis / Maria Ângela Alves do Nascimento
Márlon Vinícius Gama Almeida / Simone Santana da Silva
Haline Souza Antunes / Monneglesia Santana Lopes
Waldemir de Albuquerque Costa
Introdução
nômicos, políticos e sociais. Por conseguinte, são guiados pela reflexão e crítica
contínua, articulando sujeito e objeto do conhecimento. Deste modo, pode ser
possível entender “o cotidiano e as experiências do senso comum, interpretadas
e reinterpretadas pelos sujeitos que as vivenciam” (MINAYO, 2007, p. 24).
Para Nogueira-Martins e Bógus (2004), a abordagem qualitativa procura
compreender, particularmente, aquilo que se estuda, e não se preocupa com
generalizações populacionais, princípios e leis; a atenção centraliza-se no espe-
cífico, com ênfase no significado do fenômeno, buscando a sua compreensão. O
critério de cientificidade nesse caso é a intersubjetividade, já que o conhecimen-
to é constituído pelo sujeito e pelo objeto numa relação dialética.
Minayo (2002) diz que “[...] não é possível fazer ciência sem método”, ao dis-
cutir sobre epistemologia e método, pois exige do pesquisador muitas indaga-
ções, opções teóricas e maneiras criativas para articular teoria e método. Já Bosi
e Martinez (2007) consideram a investigação qualitativa pautada em fenômenos
sociais que escapam aos indicadores e à linguagem quantitativa, voltando-se
para a produção subjetiva e a valorização dos sujeitos em suas relações com os
contextos institucionais, culturais e sociais.
A abordagem qualitativa refere-se, por um lado, ao fato de assumir distintos
significados (de natureza objetiva ou subjetiva) e, de outra parte, em razão de a
qualidade variar de acordo com o interesse de grupos ou da individualidade do
sujeito, em função de seus interesses e posições, bem como da sua relação com
as políticas e como estas são operadas na prática.
Parte-se do entendimento de que a elaboração do conhecimento é um fe-
nômeno constituído por conexões do pesquisador com os sujeitos e o campo,
que versa, assim, em ativação e expressão de subjetividades demarcadoras de
um modo de pesquisar (e de produzir dados), bem como de uma edificação
de entendimentos e análises (ABRAHÃO et al., 2016). Vale destacar a ideia de
que, neste caminhar, não há neutralidade do pesquisador, porquanto existe um
conjunto de vínculos e relações estabelecidas, dados em diversos modos de se
estabelecer ideias, encontros, diálogos e conexões entre pessoas, ambientes, ins-
tituições e sociedade (LOURAU, 2014; SANTOS, 2003).
Para o aprofundamento interpretativo dos dados, adotou-se como orienta-
ção analítica a Hermenêutica-Dialética, baseada em Habermas (1987) em seus
diálogos com Gadamer, compreendida por Minayo (2002, 2007) como um mé-
todo de explicação da realidade, que é sistematizada por Assis e Jorge (2010) em
fluxograma analisador.
A Hermenêutica-Dialética pode ser traduzida como um método capaz de
suscitar uma interpretação contextualizada e crítica da totalidade em apreensão,
com anáfora na dinâmica entre a fala e o texto para geração de uma conjuntura,
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e assim compreendê-la no seu interior e no terreno da especificidade histórica
e totalizante em que é produzida. Os momentos fazem parte de um todo, que
se complementam e se articulam com suas partes, constituídas de totalidades
parciais que se conectam: o singular, o particular, o contextual e o universal.
Cabe ressaltar a emergência do chamado enfoque avaliativo de quarta gera-
ção, fourth generation evaluation, conforme descrito por Guba e Lincoln (1989)
e discutida por Falsarella (2015). Esta realidade de avaliação converge com a
perspectiva adotada neste capítulo, que adota a Hermenêutica-Dialética como
orientadora da explicação da realidade empírica, situada no espaço social da
Saúde da Família.
Para os propositores da quarta geração, a avaliação plena de um determi-
nado programa ou política só tem sentido quando ele é desenvolvido e anali-
sado em estreita relação com o contexto e com possíveis mudanças sociais que
podem ser constituídas e ressignificadas. Considera-se a atribuição de valores
inerente ao ser humano, enfatizando os atos e suas representações. Além disso,
compreende-se que o conhecimento coletivamente estabelecido por determina-
dos grupos pode levar à mudança social.
É com o visão crítica e analítica, que se busca refletir sobre os desafios que
vivem os pesquisadores, ao escolherem a pesquisa qualitativa como caminho
para interpretar os fenômenos sociais, traduzidos em recortes empíricos que
são partes das linhas de pesquisa da área de Políticas, Planejamento e Gestão
em Saúde na seara da Saúde Coletiva. Por isso os objetos de estudo expressos
aqui emergem das práticas e experiências dos vários sujeitos, denotando a
responsabilidade sanitária e o compromisso com o ideário de um sistema
público, integral e universal.
Evidenciam-se os percursos metodológicos experimentados pelo trabalho
de campo em diversas Unidades de Saúde da Família (USF) de quatro muni-
cípios do Estado da Bahia, mostrados de modo articulado com as temáticas
estudadas e demonstrados em realidades diversas (Desafio Um); participantes
implicados com os objetos de estudo (Desafio Dois); estratégias de explicação,
compreensão e análise da realidade empírica (Desafio Três); ordenação, descri-
ção, explicação, compreensão e análise da realidade empírica (Desafio Quatro).
As ideias apontadas adiante pretendem produzir reflexões nos pesquisado-
res da área da saúde coletiva sobre os significados da abordagem de natureza
qualitativa em relação às opções pelos campos empíricos que envolvem a ESF,
os participantes do estudo em diferentes contextos de intervenção, as estratégias
e análise de múltiplas realidades complexas e multifacetadas.
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Este momento foi orientado pela descrição dos núcleos de sentido. Envolveu
leitura exaustiva do conteúdo das entrevistas e das observações com a identi-
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
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DESAFIOS METODOLÓGICOS DA ABORDAGEM QUALITATIVA
Referências
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CAPÍTULO 2
DO TRIÂNGULO AO MOSAICO: a coleta de
dados em pesquisa sobre o ciclo do Programa
Mais Médicos e a cooperação Cuba
Juliana Braga de Paula / Marcia Faria Westphal
Introdução
Objetivos da pesquisa
Objetivo geral
Analisar o ciclo da política “Mais Médicos” com o foco na cooperação bi-
lateral Brasil-Cuba e na sua contribuição como inovação para uma gestão do
trabalho médico no Brasil.
Objetivos específicos:
1 - Analisar as características da cooperação técnica e as relações institucio-
nais entre Brasil e Cuba.
2 - Examinar os elementos de inovação da PMM, neste foco.
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Campo empírico
Abordagens teórico-metodológicas
1. Processo de trabalho
· Relação interprofissional.
º Gestão do trabalho em equipe interdisciplinar e multiprofissional.
· Ética do trabalho em equipe.
· Supervisão, formação em serviço, educação permanente.
· Tenda invertida.
· Relação ensino e serviço.
2. Inovação
· Capacidade Adaptativa
º Reinvenção da inovação.
º Adequação ao contexto.
· Mútua aprendizagem.
º Novas estratégias de formação
º Sistemas pensantes e de aprendizagem
· Potencial de transformação.
· Adequação do contexto a inovação.
· Capacidade receptiva.
º Inércia/resistência
3. Arranjos políticos:
· Agenda.
º Capacidade de influencia
· Relações de Poder.
º Grupos de influência
º Agenda oculta
· Negociação.
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DO TRIÂNGULO AO MOSAICO
O estudo de caso
A escolha das cidades foi definida com base nos supervisores contatados e
em critérios previamente definidos no planejamento da pesquisa. Foram ob-
servados os trabalhos de dois supervisores distintos, sendo entrevistados os
participantes de suas supervisões, secretários de saúde desses municípios e
participantes e não participantes do Programa Mais Médicos, trabalhadores da
atenção primária. Os critérios utilizados para a escolha do campo, além da par-
ticipação dos supervisores, foram os seguintes:
Garantia de observação em loco do trabalho das equipes sem interferências
externas (políticos, técnicos da coordenação do programa e outros);
Acordo da equipe em participar da investigação;
Garantia de confidencialidade e possibilidade de retorno ao município dos
achados da pesquisa de modo sistemático;
Existência de unidades de saúde que tenham recebido e estejam se utilizando
dos serviços dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos;
Unidades distintas, considerando as diferenças de equidade (municípios
com IDH baixo e IDH alto).
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DO TRIÂNGULO AO MOSAICO
Considerações finais
Considerações Éticas
Referências
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CAPÍTULO 3
ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE O MANEJO
DA CRISE SUICIDA EM IDOSOS
Selena Mesquita de Oliveira Teixeira / Francisca Verônica Cavalcante
Ana Célia Sousa Cavalcante / Cidianna Emanuelly Melo do Nascimento
Francisca Regina Amorim Franco / Valquíria Pereira da Cunha
Introdução
Metodologia
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
É valido ressaltar que nenhuma área do saber é capaz de dar conta desse
fenômeno em sua completude. Seria um ato pretensioso e insensato depositar
a responsabilidade de trabalhar a prevenção do suicídio apenas sobre os
profissionais de saúde mental. Entende-se como essencial que o suicídio seja
visto em sua complexidade e tratado de maneira multidisciplinar. Por essa ra-
zão, o trabalho interdisciplinar é fundamental para a compreensão desse fenô-
meno. A integração da equipe de saúde permite que diversas áreas do saber se
unam em prol da saúde mental e prevenção do suicídio. O trabalho deve ser
realizado em rede, com profissionais de outras áreas (SILVA et al., 2016; WER-
LANG, 2013).
Ficou evidente, no entanto, que o funcionamento desses serviços em uma
rede integrada de saúde ainda é falho, principalmente pela maneira ineficiente
como os encaminhamentos são feitos e pela falta de acompanhamento dos pro-
fissionais que os providenciaram. A fragmentação dessa rede foi elucidada nas
narrativas a seguir:
Com relação a esse relato que ela fez no grupo, eu tentei fazer
orientações, com relação a questão da vida, a valorização da vida,
tentando mostrar pra ela não só o problema dela, mas que a vida
dela tinha também outros direcionamentos, que ela utilizasse a
energia dela mais direcionada (PROFISSIONAL 2).
Todos se sensibilizam, mas não sabem, não têm manejo, não sa-
bem como lidar da maneira correta. Até porque hoje em dia é um
tabu falar sobre suicídio. Você vê que quando acontece um caso de
suicídio fica todo mundo sem saber o que fazer. Só falam daque-
la situação, passam por aquele momento difícil, complicado, mas
ninguém age (PROFISSIONAL 4).
Desse modo, o trabalho com o paciente em risco de suicídio pode ser uma
experiência aversiva para muitos profissionais que mantêm tabus internaliza-
dos. O contato real com a dor do outro pode ser emocionalmente mobilizador,
sendo um trabalho de tolerância (FUKUMITSU, 2014; KOVÁCS, 1992). É exa-
tamente o medo de o paciente cometer suicídio que bloqueia o atendimento
do profissional que, por vezes, dele se distancia ou o superprotege para não se
sentir culpado caso o ato se concretize (BOTEGA, 2015).
Usualmente, o autoextermínio decorrente de impulsos é desencadeado por
eventos negativos e do cotidiano. Nesse caso, cabe à equipe de saúde compe-
tente manejar o momento da crise e, mediante uma abordagem empática, di-
minuir-lhe o intento suicida. Pessoas em risco de suicídio e com esses traços de
personalidade devem ser acompanhadas a todo momento por uma equipe de
profissionais especializados e por familiares, pois o impulso produz ações preci-
pitadas e irracionais (MELEIRO, 2010).
A falta de conhecimento a respeito desse tema abre espaço para julgamentos
equivocados e preconceitos em relação ao paciente que tentou suicídio. Assim,
é importante ressaltar que existem mitos sobre o suicídio que levam ao erro
especialmente os profissionais que trabalham diretamente com a pessoa vulne-
rável ao ato, dentre os quais se destacam, pela relevância, os seguintes: “a pessoa
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
ameaça cometer suicídio apenas para manipular” e “quem quer se matar não
avisa”. As colocações correspondem a ideias errôneas que funcionam como obs-
táculos para a prevenção do suicídio, tendo em vista que ameaças e tentativas
anteriores sempre devem ser avaliadas com cautela e nunca desconsideradas,
pois indicam uma necessidade de ajuda de uma pessoa em intenso sofrimento
(WERLANG; BOTEGA, 2004). Meleiro (2010) observa que, por muitas vezes,
a comunicação suicida precede a concretização do suicídio. A demonstração da
intenção de morrer pode ocorrer de maneira direta ou indireta e inclui expres-
sões de desesperança e intolerância, podendo também suceder de modo não
verbal.
Estudos anteriores confirmam que, na maioria dos casos, o sujeito que se
mata comunica de alguma maneira suas intenções antes de cometer o ato. É
importante destacar o fato de que pelo menos dois terços das pessoas que ten-
tam ou cometem suicídio compartilham de algum modo suas ideias de mor-
te com pessoas próximas (WERLANG; BOTEGA, 2004). A comunicação de
pensamentos e intenções suicidas poderá equivaler ao último pedido de ajuda,
que nunca deve ser ignorado. Em grande parte dos casos, as pessoas deixam
transparecer sinais de alerta e fazem comentários sobre “querer morrer”, mani-
festando “sentimento de não valer pra nada”, e assim por diante (BRASIL, 2006).
Esses pedidos de ajuda não podem ser desconsiderados.
Nesse sentido, uma tentativa de suicídio tem repercussões no meio social,
e a reação de outras pessoas a esse evento, principalmente de familiares, ami-
gos e profissionais de saúde, pode transformar-se tanto em fator de risco como
de proteção. Mediante o risco de uma tentativa, é primordial que as pessoas
próximas e os profissionais de saúde saibam reconhecer a comunicação suici-
da, atribuindo-lhe a devida importância e reconhecendo-a como ameaça real e
oportunidade para prevenir esse comportamento, favorecendo o tratamento e a
atenção necessária.
Quando o profissional não dedica esforços para compreender as entrelinhas
do discurso do paciente, é bastante improvável que identifique a ideação e a
tentativa de suicídio, descartando, assim, a possibilidade de prevenir o ato. A
fala a seguir é representativa desse comportamento profissional passivo e des-
qualificado.
Pois é, geralmente são eles que relatam, no cadastro não tem uma
pergunta assim específica, direta, não existe assim uma pergunta
direta, o risco é percebido quando a gente identifica como profis-
sional que aquele idoso passou por um quadro depressivo (PRO-
FISSIONAL 3).
dos sentimentos ela deixa de ser deslocada para si, sendo uma possibilidade de
prevenir comportamentos suicidas. Não se pode negligenciar a comunicação
suicida do paciente. O profissional não há que temer questionamentos sobre o
desejo ou planejamento suicida, pois eles são essenciais sempre que há suspeita
de algum risco (FUKUMITSU; SCAVACINI, 2013; BOTEGA, 2015).
Quando o risco é banalizado, a experiência pode se tornar ainda mais difí-
cil e estressora para o sujeito. A pessoa em sofrimento psíquico torna-se ainda
mais vulnerável ao suicídio ante desconsiderações dessa natureza, despontando
menor tolerância ao estresse e tendência à irritabilidade, agressividade e hostili-
dade. O suicídio pode ser percebido como única saída para a angústia, a tristeza
ou o desespero.
Considerações finais
Referências
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2001.
FIGUEIREDO, A.E.B et al. Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famí-
lias. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 8, p. 1993-2002, ago. 2012.
FUKUMITSU, K.O. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Psico-
logia USP, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 270-275, dez. 2014.
FUKUMITSU, K.O; SCAVACINI, K. Suicídio e manejo psicoterapêutico em si-
tuações de crise: uma abordagem gestáltica. Revista da Abordagem Gestáltica
- Phenomenological Studies, v. 19, n. 2, p. 198-204, jul./dez. 2013.
KOVÁCS, M.J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo (SP): Casa do Psi-
cólogo, 1992.
MALINOWSKI, B. Os argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo (SP): Abril
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MELEIRO, A.M. A. S. Avaliação médico-psiquiátrica do risco de suicídio. Com.
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REDO, A.E.B; SILVA, R.M (Org.). Comportamento suicida de idosos. Fortaleza
(CE): Ed. UFC, 2016.
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ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
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CAPÍTULO 4
COMUNICAÇÃO VULNERÁVEL EM CASOS DE
ALTA COMPLEXIDADE: PERSPECTIVAS DE
ATUAÇÃO E PESQUISA FONOAUDIOLÓGICA
EM HOSPITAL-ESCOLA
Regina Yu Shon Chun / Lavoisier Leite Neto
Viviane Fazzio Zaqueu / Ana Luíza Wuo Maia
Luciana Paiva Farias
intricada que enseja medo, desconfiança, confusão e culmina por não satisfazer
a necessidade do cuidado daquele que, muitas vezes, está privado da comunica-
ção oral num leito hospitalar, dialogar e de se posicionar ante as situações que
lhe são impostas, em franca circunstância de vulnerabilidade comunicativa.
As pesquisas qualitativas são mais frequentes no campo da saúde, possibili-
tando dar voz às pessoas relacionadas ao universo de significados que constitui
o indivíduo, os quais não podem ser quantificados (TURATO, 2005), entenden-
do-se que o discurso traz em si uma gama de significados, em que a palavra é a
maneira de nos conectar ao mundo e expor individualidades (MINAYO, 2001).
Por meio do método qualitativo, busca-se, com efeito, favorecer a qualidade
da relação profissional-paciente-família-instituição; promover maior adesão de
pacientes e da população ante as medidas e estratégias implementadas indivi-
dual e coletivamente; compreender melhor sentimentos, angústias e condições
de saúde das pessoas que requerem cuidados, de seus familiares e da equipe de
saúde (TURATO, 2005).
Ayres (2009, p.18) entende que, a fusão entre os saberes técnicos e práticos
na atenção integral à saúde permite a compreensão das expectativas das pessoas
em relação aos instrumentos profissionais e, simultaneamente, possibilita que
elas compreendam “[...] o que temos efetivamente para oferecer a elas com nos-
sas tecnologias”. Tais colocações vão ao encontro de Charon (2015), que expri-
me o conceito do “[...] corpo que se conta - “self-telling body”, por entender que
não é possível separar, a pessoa e sua história, dos seus sintomas para os cuida-
dos necessários. Melhor entendimento dessa relação possibilita diminuir zonas
conflituosas e maior e também real compreensão dos problemas para uma aten-
ção à saúde integral e humanizadas. As pesquisas qualitativas propiciam maior
aproximação com tais pontos.
No ambiente hospitalar há particularidades e muitas dificuldades emergem.
É comum encontrar pessoas com necessidades complexas de comunicação,
transitórias ou permanentes, que deparam equipes de saúde com pouco pre-
paro para entendê-la e criar um meio de comunicação eficaz, tornando-a ainda
mais vulnerável (BLACKSTONE; PRESSMAN, 2016) do que a própria condi-
ção de saúde já lhe proporciona. Algumas pessoas privadas da comunicação
oral não conseguem expressar suas opiniões, vontades e necessidades, inclusive
em relação ao tratamento ofertado, ou, muitas vezes, nem são informadas sobre
seu quadro clínico, impossibilitando o exercício de sua autonomia, da tomada
de decisão; tornando-as mais frágeis (THUNBERG; TÖRNHAGE; NILSSON,
2016; HUGGINS; WREN; GRUIS, 2011).
Desse modo, a falta de conhecimento em relação ao processo de internação,
causada pela dificuldade de o sujeito estabelecer um diálogo com os seus inter-
84
COMUNICAÇÃO VULNERÁVEL EM CASOS DE ALTA COMPLEXIDADE
locutores, desde a admissão até a alta hospitalar, se configura como barreira sig-
nificativa na assistência do paciente, dificultando sua recuperação e aumentan-
do o tempo de permanência no hospital (FARIAS, 2015). Estudos demonstram
que pacientes que mantêm a comunicação, durante o período de internação,
recebem menos sedação, evoluem clinicamente mais rapidamente, têm mais
controle e participação no autocuidado e melhor administração da dor (HAPP
et al., 2004). O comprometimento da comunicação, no entanto, se associa a me-
nor qualidade de atendimento, menor satisfação do paciente e maiores taxas de
incidentes de segurança (BARTLETT et al., 2008).
Fatores funcionais e emocionais interferem na participação comunicativa
de pacientes com alterações motoras da fala, quando hospitalizados, o que en-
seja implicações clínicas em relação aos “métodos” adotados para avaliação e
tratamento (BAYLOR et al., 2011). Na tentativa de minimizar os danos cau-
sados, algumas estratégias podem ser usadas para garantir uma comunicação
mais eficiente entre a equipe de saúde e pessoas em condição de vulnerabili-
dade comunicativa, tais como: a) desenvolver serviços, sistemas e políticas que
apoiem uma comunicação melhorada; b) dedicar tempo para a comunicação; c)
assegurar o acesso adequado às ferramentas de comunicação (sistemas de cha-
mada para acionamento de enfermeiros e recursos de comunicação); d) aces-
so à informações pessoais de saúde; e) colaborar efetivamente com cuidadores,
cônjuges e pais; (f) e aumentar a competência comunicativa da equipe de saúde
(HEMSLEY; BALANDIN, 2014).
De modo geral, em relação aos problemas de comunicação vividos por pes-
soas em vulnerabilidade comunicativa nos hospitais, as estratégias utilizadas
pelas equipes multiprofissionais com a finalidade de solucionar esses proble-
mas ainda são insuficientes para melhorar a saúde, a segurança e o bem-estar
da população vulnerável. Se não existe comunicação possível entre o paciente,
familiares e a equipe interdisciplinar, a doença e sinais clínicos se tornam, no-
vamente, mais importantes do que o sujeito e suas necessidades; considerando
que os recursos de CSA e os interlocutores (parceiros de comunicação) da pes-
soa vulnerável, ou seja, sua família próxima e ampliada, amigos, profissionais
da saúde e da educação, também podem influenciar positiva ou negativamente
na sua comunicação e participação social (CHUN et al., 2013). É importante
que os profissionais compreendam de modo mais holístico as possibilidades da
CSA, de modo a considerar os fatores extrínsecos (ambientais) e intrínsecos de
cada sujeito, para eliminar as barreiras e favorecer a sua participação no proces-
so de recuperação e na inclusão social (LIGHT; MCNAUGHTON, 2015). Tal
caminho nos leva ao desenvolvimento de pesquisas qualitativas para dar conta
desses aspectos.
85
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
sujeito e a CSA, (b) dialogar sobre mudanças das atitudes da equipe frente às di-
ficuldades de comunicação apresentadas pelos sujeitos, (c) desenvolver políticas
institucionais para apoiar a implementação estratégias da CSA, e (d) oferecer
recursos de comunicação que possam auxiliar as pessoas em situação de vul-
nerabilidade (BALANDIN; MORGAN, 2001; BARTLETT et al., 2008; FINKE;
LIGHT; KITKO, 2008).
Esse caminho constitui um pensamento fundamentado na escuta ativa e na
troca de saberes que são a base das pesquisas de abordagens qualitativas, as
quais valorizam as interações comunicativas, inclusive no contexto da vulnera-
bilidade comunicativa em ambiente hospitalar, e considera o discurso de todos
os sujeitos envolvidos, ensejando reflexões que culminam em mudanças, inclu-
sive na prática profissional. Tal abordagem favorece pensar acerca de tais rela-
ções e necessidades por meio de uma perspectiva diferenciada, propicia maior
atenção no cuidado e favorece a qualidade de vida de pessoas em situação vul-
nerável de comunicação.
À Modo de Conclusão
Referências
BALANDIN, S.; MORGAN, J. Preparing for the future: Aging and AAC. Aug-
mentative and Alternative Communication, v. 17, p. 99–108, 2001.
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cia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
93
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
96
CAPÍTULO 5
SER MULHER, MÃE E IMIGRANTE: A
DIÁSPORA E INTEGRAÇÃO DA MULHER
SÃO-TOMENSE EM PORTUGAL
Lígia Moreira Almeida / José Manuel Peixoto Caldas
Estado da arte
Objetivos
Metodologia
Participantes
Procedimentos
101
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Resultados qualitativos
A Realidade das Imigrantes São-Tomenses:
E1: Das vezes que eu fui (ao SNS), graças a Deus fui bem atendida,
foi rápido também um bocado... E foi bem, correu tudo bem...
A4: (...) no caso de ficar à espera para ser chamada, é igual. (em
Portugal) Atendem as pessoas melhor, com mais cuidado, mais
atenção.
103
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
No que diz respeito a “Barreiras”, os discursos são variáveis uma vez que se
relacionam com experiências e percursos pessoais, maioritariamente idiossin-
crásicos, sobre a percepção de dificuldades a vários níveis, e sobre até que ponto
estas interferiram e prejudicaram os objetivos e intenções de demanda por de-
terminados serviços e especialidades clínicas.
E1: Acho que a principal barreira foi por não ter o cartão (de uten-
te). (...) porque quando cheguei, eu vim com uma filha (...) e atra-
vés dela é que eu consegui o cartão... aquele papel de utente.
E1: O que facilitou... a ter esses serviços acho que foi mesmo por
vir com a bebé... Porque acho que se fosse por vir sozinha e fazer
uma consulta, acho que não conseguia porque não tenho cartão
de residência.
D3: (...) eu acho que se calhar tem a ver com acordos dos países,
acordos de cooperação e saúde (...)
E3: (...) faltam mais acordos de cooperação entre os países para fa-
cilitar acesso dos utentes, dos imigrantes aos centros de saúde (...)
104
SER MULHER, MÃE E IMIGRANTE: A DIÁSPORA E INTEGRAÇÃO DA MULHER SÃO-TOMENSE EM PORTUGAL
E1: Desde que soube que estava grávida fui ao centro de saúde
e... eu não sei se é por- que eu contei à médica que já tive uma fi-
lha com problemas genéticos, (...) fui muito bem atendida e estou
sendo (...)
A4: Quando tive grávida dele (aponta o filho), tive alguns pro-
blemas de planeamento familiar... fui à urgência do Hospital Júlio
Dinis, atenderam-me muito bem.
E1: (...) eu perguntei o que ela falou comigo, eu não entendi e vol-
tei a perguntar... falamos português, mas o nosso português é dife-
rente de cá, e ela falou de um jeito que eu não compreendi, voltei
a perguntar (...)
D3: (...) lá no centro de saúde disseram que ela (filha) já não podia
fazer consulta no centro de saúde porque, como alteramos resi-
dência, tinha de ser no novo centro de saúde. E no novo centro de
saúde, ela grávida já de 3 meses e tal, não aceitaram ela... Tivemos
de recorrer à maternidade.
vivenciada por uma mãe que perdeu a primeira filha, e que dá conta da falta de
informação e diálogo de que esta mulher foi alvo por parte dos profissionais de
saúde com quem contatou (quer devido, uma vez mais, a barreiras de comu-
nicação e compreensão, quer em virtude de uma relação descuidada médico-
paciente, independentemente do acompanhamento clínico que a mãe reporta
como negligente).
E1: Fui eu que decidi. (...) eu antes falei com o médico porque
queria tomar a pílula, e... comecei pela primeira vez e (o médico)
indicou-me um comprimido. (...) juntos, fizemos a escolha.
A4: Há 7 anos.
E1: (...) eu vim, como eu disse, com minha filha de Junta, num
acordo entre o Estado Português e Estado São Tomense, mas ela
chegou e faleceu logo (...). (...) decidi ficar para estudar.
108
SER MULHER, MÃE E IMIGRANTE: A DIÁSPORA E INTEGRAÇÃO DA MULHER SÃO-TOMENSE EM PORTUGAL
A4: Decidi imigrar porque em São Tomé a vida não estava bem
estabilizada, por isso é que recorri aqui para ver se conseguia or-
ganizar-me melhor.
E3: Na altura vim de férias, no dia da viagem caí, aleijei uma per-
na, e... acabei por ficar quase um mês sem poder fazer muito. E
como estava aqui o meu marido, fui ficando mais um mês, mais
um mês... e até hoje (...)
D3: (...) vim com uma bolsa de estudo que perdi logo no segundo
ano, ou seja no 1o ano de curso. Ou seja, porque eu fiz o 12º. ano
aqui no Carolina Michaelis, e depois o primeiro ano nas Biomé-
dicas, e bolsa de Gulbenkian (antes era, agora não sei se é), mal
reprova-se, perde-se logo a bolsa. E então aí começaram as dificul-
dades, e tive de trabalhar, pratica- mente suspendi... Quer dizer,
mantive a matrícula na faculdade mas sempre a trabalhar.
E1: (...) até agora, como eu disse, por causa dos documentos que
não tenho, não posso estudar... (no IEFP) eles disseram que a lei
que tem no meu passaporte, por ser uma lei de Junta médica, não
permitia eles arranjarem-me um emprego... e eu tinha de fazer
isso por conta própria, e foi isso que aconteceu.
E3: (...) não tive dificuldades, uma vez que meu marido estava
aqui, e estava legalizado. Através dele consegui a documentação.
A4: (sobre o CNAI) Tem casos que trabalham muito bem, sabem
atender as pessoas, ajuda-las a encontrar um emprego.
acho que não fazia muito sentido... (...) o meu conselho é: quando
encontrar dificuldades, se calhar, ou mudar para outro país, ou
regressar e tentar outras coisas. Não ser teimosa como eu fui.
113
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Referências
CALDAS, J. Inmigración y salud: un nuevo reto para las políticas de salud pú-
blica. In: VII Jornadas de Sociología de la UBA: Pasado, presente y futuro de la
sociología. Buenos Aires, Argentina. 2007.
ESSEN, B; et al. Are some perinatal deaths in immigrant groups linked to su-
boptimal perinatal care services?. BJOG, v 109, n 6, p 677-82, 2002.
116
CAPÍTULO 6
MAPAS AFETIVOS COMO RECURSO PARA
EXPLICITAÇÃO DE SIGNIFICADOS SOBRE A
SAÚDE DO PROFESSOR
Introdução
Mapas afetivos formam uma metodologia para apreensão dos afetos; desen-
volvida por Bonfim (2003) para analisar a relação entre o espaço e o afeto nas
cidades com base na vivência da pessoa. Esse método foi baseado na teoria dos
mapas cognitivos coletivos, desenvolvida por Lynch (1998), e proporciona com
origem na superação da dualidade entre cognição e afeto, a representação dos
espaços, visto que todo ambiente pode ser percebido como um território emo-
cional.
Esta seção do livro propõe uma integração dos saberes da Psicologia ambien-
tal e sua percepção da afetividade como categoria de análise da relação sujeito
e ambiente, e os conceitos de promoção da saúde, discutidos pelo campo da
saúde. Por meio dos mapas afetivos, objetivamos compreender a relação afetiva
dos professores com a escola, para identificarmos os aspectos deste contexto
que promovem ou não sua saúde.
Os parâmetros para as intervenções que tenham esse objetivo devem consi-
derar uma visão ampla do ambiente educacional, levando em consideração seus
aspectos físicos, sociais e psicológicos. Consoante Gonçalves (2009), entretanto,
a falta de investigação e avaliações específicas sobre a promoção da saúde na
escola implica um desafio, pois as abordagens dos estudos empíricos sobre este
assunto são associadas à descrição de propostas de intervenção e/ou formação
dos profissionais de saúde envolvidos com essa área, sem levar em considera-
117
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Afetividade
Percurso metodológico
121
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Resultados
123
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Com efeito, pudemos perceber que alguns professores, por exemplo, ao res-
ponderem ao estímulo do desenho, definiram a escola como uma família, um
sol em suas vidas, um espaço de amizade e apoio, em que o trabalho é realizado
com paz, união e harmonia, com todos compartilhando o mesmo objetivo.
O Professor 1 expressa em desenho o sentimento de amizade e o companhei-
rismo que estão na escola, onde todos estão focados no objetivo de estabelecer
uma educação de qualidade. Ficou evidente, entretanto, sua angústia em relação
à necessidade de disponibilizar grande parte do tempo da sua vida ao trabalho
docente, o que exige muita doação, visto que, para ele, a escola é simbolizada
como sua casa, pois passa mais tempo nela do que em seu lar. Assim, para ele,
124
MAPAS AFETIVOS COMO RECURSO PARA EXPLICITAÇÃO DE SIGNIFICADOS SOBRE A SAÚDE DO PROFESSOR
Desenho Professor 1.
O Professor 8 expressa em seu mapa extrema valorização da escola em sua
vida, pois doou 19 anos de sua existência para o trabalho docente nesse lugar.
Sua ligação com a escola ainda continua forte, na medida em que a significa
como sua segunda casa e a razão da sua existência.
Desenho professor 8
Em consonância com esse ponto de vista, o Professor 9 significa a escola
como sua família onde os colegas integrados pela amizade desenvolvem o tra-
balho sempre em busca de melhorias.
Desenho professor 9
Em contrapartida, o Professor 10 percebe o ambiente educacional como um
barco com arestas a serem aparadas que corre rumo à colheita de bons frutos,
preparados pelo sentimento de harmonia e cumplicidade entre os professores,
o que também exige doação do professor, por ser responsável pela proteção das
crianças e por passar mais tempo na escola do que em sua casa.
125
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Desenho professor 10
Com base nas falas e nos desenhos, podemos compreender que, mesmo com
sentimento de angústia com relação à necessidade de disponibilizar grande par-
te do tempo da sua vida ao trabalho docente, a escola é vista como uma família,
um lugar de amizade, paz e harmonia, a segunda casa.
Esses aspectos parecem demonstrar que a escola pode ser percebida como
um ambiente em potencial para a sustentabilidade da proposta de promoção da
saúde, na medida em que produz sentimentos agradáveis ao professor que, ao
se implicar nesse ambiente, movido por suas emoções e afetos, se compromete
com o movimento de transformá-la num espaço em constante melhoria.
Shepherd e Cerqueira (2003) apontam a escola como instituição privilegia-
da para implementar as ações promotoras de saúde, pois podem aproveitar as
oportunidades de influir positivamente na vida dos alunos, das famílias e da
comunidade, desde que se abra para a colaboração e participação dos funcioná-
rios, professores, alunos e todos os agentes e setores sociais com ela envolvidos
Releva evidências, entretanto, que não foi identificada, na maioria dos dis-
cursos sobre a escola, a percepção de que esta também pode ser percebida como
um espaço de melhorias de vida e desenvolvimento de habilidades pessoais e
oportunidades profissionais para os professores. Isto parece sustentar a crença
do docente de que a escola e seu trabalho devem ser unicamente voltados para
as melhorias na vida das crianças e não da escola como um todo.
No desenho do professor, ele demonstra a percepção da escola como um
local de amizade, em que a forte solidariedade e a união entre os professores
servem para proteger as crianças. Durante a elaboração do desenho, este parti-
cipante expressa sua percepção de que a escola é um quebra-cabeças onde cada
professor é uma peça com responsabilidade de contribuir com a proteção das
crianças e com a conquista de um futuro melhor para elas.
126
MAPAS AFETIVOS COMO RECURSO PARA EXPLICITAÇÃO DE SIGNIFICADOS SOBRE A SAÚDE DO PROFESSOR
Desenho professor 2
No mapa do Professor 6, fica evidente a responsabilidade do docente, quan-
do este conceitua a escola como um espaço de troca entre o mundo difícil do
aluno com um mundo de oportunidades oferecidas no ambiente escolar. Em
seu discurso, no entanto, foi também manifesto o sentimento de desvalorização
social diante da sua profissão, o que o leva a encontrar um sentido maior para
seu trabalho que é visto como uma missão, pois recebe baixos salários.
Desenho professor 6
Corroborando a ideia de que a escola é um espaço onde todos possuem a
responsabilidade de cuidar e satisfazer as necessidades afetivas, educacionais e
sociais dos alunos, o Professor 3 percebe a escola como um jardim, nos quais
os professores e a equipe pedagógica se enfeitam, criam e se transformam para
cuidar dos alunos e de suas necessidades. Para ele, este ambiente é visto como
um espaço de troca com a família, pois os ex-alunos são pais dos alunos atuais
e, por estar inserido numa comunidade carente, o contato com a família ajuda a
conhecer os aspectos sociais da vida dos discentes, contribuindo para a consti-
tuição de processo educativo coerente com a realidade dos alunos. Estes pontos
foram também expressos nos desenhos dos Professores 4 e 5.
Desenho professor 3
127
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Desenho professor 4
Desenho professor 5
A responsabilidade do papel do professor evoca também um sentimento de
indignação e sofrimento ante a desvalorização da sociedade, visto que o traba-
lho docente é percebido como muito desgastante, o que o separa da família e
demanda muito esforço físico e emocional. Eles demonstram alguns dos fato-
res que comprometem a saúde física e mental do professor: a exigência física e
emocional do trabalho docente e o desgaste emocional por atender as carências
afetivas dos alunos. Assim, emergem sentimentos de cobrança, desgaste, tristeza
e insatisfação dos docentes, conforme se vê na reprodução de suas falas:
Considerações finais
dagens dos estudos empíricos sobre este assunto são associadas à descrição de
propostas de intervenção e/ou formação dos profissionais de saúde envolvidos
com essa área, sem levar em consideração o trabalho dos professores no con-
texto educacional.
Referências
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dence-Action_SP.pdf> Acesso em: 11 fev 2015.
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_____. Por que investigar afetividade? Texto apresentado para o concurso de
professor titular de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2000.
131
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
132
CAPÍTULO 7
SITUACIÓN DE LAS INMIGRANTES EN LA
CIUDAD DE MADRID
Ellas son las invisibles demasiado visibles, su piel delata su existencia que in-
comoda en algunos momentos a la norma racial, esa norma que no existe pero
que fue confeccionada tras el descubrimiento de América y reafirmada como el
racismo es elevado a teoría científica, los debates eclesiásticos entorno al indio
y su condición. Los debates de la Ilustración sobre los derechos del hombre y
quien tiene esos derechos, consolidar a través de las teorías del Drawinismo so-
cial no sólo el racismo o la raza como forma de clasificación de los sujetos, sino
como forma de afianzar la idea de la esclavitud, forjó a sangre y fuego un terrible
escenario a futuro: la raza quedó asentada como variable social de distinción,
estatus y discriminación (Mbembe, 2016; Segato, 2015; Coquery-Vidrovitch,
2015; Chukwudi, Paget, Castro-Gómez, Mignolo 2014; Todorov, 2013; Fernán-
dez Durán, 2012; Fuentes, 2012; Geulen, 2010).
Raza, una etiqueta social fundada en la producción y acumulación del ca-
pital (FEDERICI, 2004) y de la colonialidad, desató una de las más cruentas
clasificaciones sociales que diferenció y discrimino a las ya existentes minorías
sociales. Tales como son la mujer, la infancia, la ancianidad, las diversidades
sexo/genéricas y las étnicas. Tenemos ante nosotros una gran otredad (TODO-
ROV, 2013) que se aleja demasiado de ser una alteridad -el otro que es igual que
nosotros en derechos y deberes, pero es diferente- (YOUNG, 2011).
133
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Hoy en día, en los momentos en los que los países coloniales han tenido que
dejar atrás su poder sobre otros territorios y otras personas, más bien casi todos
-pues Reino Unido aún continúa siendo una corona colonial-. Recalcamos “han
tenido que dejar de ser colonias”, pues si fuera por el poder y beneficios que
genera la violencia de la expropiación de cuerpos, tierras y materias, esos países
generarían dinámicas para mantener la violencia de la colonialidad. Pero esas
tierras ya no aguantaban o bien, que más seguro es que sea ésta la opción válida,
existe un neocolonialismo. El de la sociedad de la globalización y el capitalismo
salvaje.
Ahora nos damos cuenta porqué el cuerpo de la mujer racial es un cuerpo
más objeto que el cuerpo de la mujer no racializada, es decir aquella que no pro-
cede de las colonias. Aunque la condición de mujer como minoría social y suje-
to incompleto se ha mantenido desde los discursos aristotélicos y de la filosofía
posterior (POWER, 2013). Pero es en la religión donde el discurso patriarcal y
misógino se gesta y expande, no tenemos demasiadas pruebas arqueológicas
para que podamos afirmar con toda certeza, es decir al 100%, que las religio-
nes iniciales animistas eran de cariz misógino, pero sí podemos afirmar que las
estratificadas los eran y lo son, aquellas que ya tenían marcados sus diferentes
rangos de poder, distribuidos por el significado de la reproducción, la división
de esferas y la división sexual del trabajo, estamos hablando de las babilónicas,
mesopotámicas, egipcias, vikingas, celtas, asiáticas, orientales, hasta llegar a las
religiones del libro, las tres grandes religiones que marcan un antes y un después
en la historia social de occidente. La judía, la Cristiana y la Musulmana, estas
tres religiones enfatizan la misoginia por poder capital que ya se daban en las
demás, materializando dos arquetipos el de la mujer como sujeto inferior al
hombre, pues tal y como indica el Génesis ella es creada de la costilla de Adán, y
contenedora de todos los males, pecados y tentaciones. Solo la pureza y la casti-
dad salva a la mujer de esa naturaleza que, desde los escritos político-religiosos
–Biblia, Corán, Torá, Pentateuco, Nuevo y Antiguo Testamento, Catecismos y
demás textos religiosos- es descrita (GARCÍA-ESTÉBANEZ, 2008).
Raza y género/sexo son variables determinantes en la diferencia, desigual-
dad y discriminación social contemporánea, a las que hay que añadir la diver-
sidad sexo/genérica, el nivel de pobreza y gasto, la capacidad de producción y
reproducción y el país o continente de procedencia.
Vemos que son variables considerables y de un orden social fundamental.
Pero nos falta una variable más, la salud, el estado de bienestar físico y psico-
lógico. No sólo hacemos mención a la ausencia de enfermedades o riesgos de
contraerlas, sino que se incluye el bienestar y los estilos de vida saludables.
134
SITUACIÓN DE LAS INMIGRANTES EN LA CIUDAD DE MADRID
que la desamortización dejo sin tierras libres, a un éxodo rural sin oportuni-
dades de sobrevivir y que se hacinaban en las ciudades, mal viviendo y mal
trabajando. Todo ello unido a la eclosión de la primera revolución industrial y el
advenimiento de la era de la ilustración, la cual avivó el concepto de ciudadanía
y dio pautas para la emancipación de los colonos británicos de la corona.
Digo que fue una migración forzosa pues muchos de los que se aventura-
ban hacia el nuevo mundo eran pobres, familias enteras sin tierras ni trabajo,
sin oportunidades. Ello sucedió sobre todo en las colonias británicas, pues las
demás colonias no tenían una población tan desruralizada. Cierto es, que mar-
charon muchos en busca de oportunidades y de un futuro mejor, españoles y
franceses, pero lo hicieron sin el ansia de ocupar territorios por carencia abso-
luta de los mismos, algunos lo hacían por huir de la justicia, otros por la idea
de triunfar socio económicamente en los nuevos mundos (FERNÁNDEZ-AR-
NESTO, 2004).
Curiosamente los siglos de la modernidad, que no es el XX propiamente
dicho, la inmigración tenía connotaciones de colonialidad, de búsqueda de una
vida mejor en otros lugares del mundo –América del Norte Australia- y sobre
todo tenía una connotación más romántica la del explorador y exploradoras,
biólogos/as, arqueólogos/as, naturalistas y seguidores de Darwin que querían
continuar explorando lo no conocido o lo no contactado por el hombre “civili-
zado”.
La inmigración posterior a la modernidad, fue una inmigración por pobre-
za, por falta de oportunidades y por éxodos masivos derivados de las atrocida-
des de las guerras, los genocidios y las persecuciones –el siglo XX se caracterizó
por ser el siglo de las guerras-, los campos de concentración, el exilio político,
ideológico, religioso y sexual, fueron los rasgos y siguen siendo, de la inmigra-
ción a grandes rasgos.
Dentro de esos éxodos forzosos o libres –salvo en los conflictos bélicos que
eran forzados- de la población, a veces de manera pendular, y con la idea, en
algunos, de un retorno glorioso y adinerado. La recurrencia es la de falta de
oportunidades laborales, económicas y de desarrollo en el país de origen, la ne-
cesaria búsqueda de un sustento para la familia del país de origen y la búsqueda
de una vida próspera, digna y mejor.
Sin meternos en las otras tipologías de desplazamientos demográficos, los
refugiados y los axilados políticos, ideológicos, religiosos, etc., nos centramos
en esa inmigración que parte con la esperanza puesta en la mejoría, en salir de
un contexto en ocasiones pobre y violento, en huir de un pasado donde la única
alternativa era la miseria, la delincuencia, la mendicidad o la violencia. Pero in-
migrar es sinónimo de valentía y de esperanza. El mayor drama humano, la in-
137
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
139
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Gráfico 1 - Elaboración propia a partir de los datos de población del INE base: Total
Nacional y Comunidad de Madrid población inmigrante desagregada por sexos.
Fonte: Elaboración propia a partir de los datos de población del INE base
La ratio de feminidad de la población inmigrante en la ciudad de Madrid, es
elevado sobre todo en países de Latinoamérica, siendo inferior en países afri-
canos y orientales. Aún así la inmigración en la ciudad de Madrid es principal-
mente femenina, estos datos confirman los indicados en el Gráfico anterior. La
inmigración se está feminizand o cada vez más.
140
SITUACIÓN DE LAS INMIGRANTES EN LA CIUDAD DE MADRID
Tabla 1 - Datos del informe “Madrid datos”. Área de Gobierno de Economía y Hacien-
da, Subdirección General de Estadística. Población extranjera en la Ciudad de Madrid.
Padrón Municipal de Habitantes a 1 de enero de 2016.
cambios provocados por el capitalismo avanzado han hecho que esta lacra esté
más latente que en los siglos XX y XIX, pues ni la movilidad era tan fácil, ni los
medios eran tan veloces en la transmisión de ideas o información, ni la vulne-
rabilidad de las mujeres, situadas entre los cantos de sirena de una liberación no
lograda y una cultura hiper machista, son presa fácil de la violencia machista.
Los estereotipos tradicionales siguen ahí, el amor romántico no es compati-
ble con quedar con un amigo a cenar, liberta y tradición chocan y generan una
espiral de cosificación y objetivación de la mujer, convirtiéndola en un sujeto
desechable.
Hay que unir a todo ello que los desplazamientos de las mujeres jóvenes a
urbes que concentran el trabajo -como por ejemplo la maquila en México- ha-
cen que una multitud de mujeres residan en un espacio reducido, concentrando
víctimas para deleite de la cultura de la violencia misógina (VALENCIA, 2010).
El matar porque es mujer, o el matar porque es mía, son sedientos de la
cultura machista que la colonización trajo consigo y que se han quedado en el
país colonizado. Una letanía o mantra que va repitiendo la idea de “la mujer no
vale nada, es desechable”, mantra que se interioriza, reitera y materializa en el
feminicidio, el cual a modo de hidra va extendiendo sus tentáculos. Las cifras
de las muertas por feminicidio llegan a ser cifras propias de las bajas en un con-
flicto bélico, se ha abierto una guerra contra la mujer o bien es ahora cuando se
visibiliza y mediatiza (ATENCIO, 2015).
Entre nuestros objetivos y en el resumen del trabajo, hemos hecho mención
a una serie de procesos, los cuales devienen del hecho de “ser mujeres inmigran-
tes y raciales”. Procesos tales como son la “subalternalidad”, la “precariedad” y la
“Estigmatización en espiral”.
Precariedad hoy en día es un atributo y no una descripción. Decimos atribu-
to, pues nos es atribuida vía modernidad líquida. Los procesos de pauperización
de la clase media, los estilos de vida “jovencita” (Tiqqum), y la movilidad como
obligación, junto con la idea de consumo-producción-consumo como única
forma de existencia han derivado en una nueva forma de precariedad.
Este atributo viene acompañado de ciertos procesos propios de la sociedad
contemporánea, a considerar: la crisis del estado de bienestar y las políticas so-
ciales, el neoliberalismo, la reducción de derechos humanos, el crecimiento de
los radicalismos ideológicos, la sobrepoblación/despoblación -que se ubica en
la polaridad Sur/Norte-, la increencia en los sistemas políticos y de poder jurídi-
co, la corrupción, la fallida meritocracia, el incremento de la brecha entre ricos
y pobres, el incremento de múltiples tipos y formas de violencia -terrorismo, fe-
minicidio, narco poder, violencias institucionales y políticas, violencias norma-
145
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
en espiral puede no llegar a tener un fin muy delimitado, pues se van asociando
a los estigmas de raza, cuerpo, procedencia y sexo/género estereotipos, juicios
de valor y prejuicios, creando en estas mujeres una doble o triple invisibilidad,
precariedad y discriminación. El cuerpo tiene peso, y la raza también.
Referências
SARRIÓN MORA, A. El miedo al otro en la España del siglo XVII. Toledo: Uni-
versidad de Castilla-La Mancha, 2016.
SEGATO, R “Racismo, discriminación y acciones comparativas: herramientas
conceptuales” en Ansión, Juan y Fidel Tubino (eds): Educar en ciudadanía in-
tercultural. Lima: Pontificia Universidad Católica del Perú. 2006.
SEGATO, R. Las Estructuras Elementales de la Violencia. Buenos Aires: Prome-
teo, 2003.
SEGATO, R. La guerra contra las mujeres. Madrid: Traficantes de sueños, 2016.
SEGATO, R.L. La crítica de la colonialidad en ocho ensayos y una antropología
por demanda. Madrid: Prometeo, 2015.
TODOROZ, T. Nosotros y los Otros. Madrid: Siglo XXI, 2013.
TUBERVILLE, A.S. La inquisición española. Madrid: Fondo de Cultura Econó-
mica, 2016.
V.V.A.A. (Asociación Mujeres en la Transición Democrática) Precarias a la de-
riva. Madrid: Traficantes de sueños, 2004.
V.V.A.A. (Asociación Mujeres en la Transición Democrática) Informe anual
2016 sobre racismo. Bilbao: Gakoa, 2016.
VALENCIA, S. Capitalismo Gore. Barcelona: Melusina, 2010.
YOUNG, J. El vértigo de la modernidad tardía. Buenos Aires: DIDOT, 2012.
150
CAPÍTULO 8
EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:
PERCEPÇÕES NO ÂMBITO DA FORMAÇÃO
ACADÊMICA PROFISSIONAL
Introdução
Metodologia
Delineamento do Estudo
Os dados obtidos das questões abertas foram analisados por meio do método
Análise de Conteúdo (AC) (BARDIN, 2011) com auxílio do software webQDA©,
programa de apoio à análise qualitativa, permitindo o exame de textos, vídeos,
áudios e imagens num ambiente colaborativo e com base na internet (COSTA;
LINHARES; SOUZA, 2012). O pesquisador cria categorias, codifica, controla,
filtra, faz pesquisas e questiona os dados com o objetivo de responder às suas
perguntas (BARDIN, 2011; COSTA; LINHARES; SOUZA, 2012).
A AC compreende um conjunto de técnicas de análise das comunicações
que permitam descobrir o verdadeiro significado do texto, atingindo um nível
de compreensão muito maior do que o expresso inicialmente na primeira leitu-
ra (BARDIN, 2011). A análise de conteúdo dos dados qualitativos foi realizada
por meio da análise temática ou categorial, uma vez que se apresentou como a
técnica mais pertinente aos propósitos do estudo: compreender a EPS na pers-
pectiva dos discentes da disciplina de EPS (BARDIN, 2011). A análise temática
foi realizada pelas autoras do trabalho em três etapas, conforme vem (BARDIN,
2011).
1 - Pré-Análise: é a fase em que se organiza o material a ser analisado, tor-
nando-o operacional. Foram feitas a enumeração, leitura prévia e digitação das
respostas no software webQDA© (BARDIN, 2011; COSTA; LINHARES; SOU-
ZA, 2012).
2 - Exploração: corresponde ao período em que o material foi explorado
com a segunda leitura das respostas, realce das ideias e agrupamento das catego-
rias (BARDIN, 2011). As categorias foram definidas á medida que se realizou a
análise dos dados, e o processo de codificação foi efetivado por uma das pesqui-
sadoras com maior experiência no uso do software webQDA© (BARDIN, 2011;
COSTA; LINHARES; SOUZA, 2012);
3 - Tratamento dos Dados: os dados são tratados, ocorrendo o reagrupa-
mento das categorias e a definição das dimensões (BARDIN, 2011). Procedeu-
se à condensação e o destaque das informações, culminando nas interpretações
inferenciais (BARDIN, 2011).
Aspectos Éticos
Este estudo foi aprovado por meio de emenda de um projeto maior que ava-
lia a efetividade do PPGSC da UFG, na perspectiva dos egressos, e possui apro-
vação no Comitê de Ética em Pesquisa/Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFG,
Parecer n° 1.292.381 (BRASIL, 2012).
154
EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: PERCEPÇÕES NO ÂMBITO DA FORMAÇÃO ACADÊMICA PROFISSIONAL
Resultados e Discussão
155
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Conclusões
Referências
165
CAPÍTULO 9
OS MÚLTIPLOS SENTIDOS DA PROMOÇÃO DA
SAÚDE NA PERSPECTIVA DE GESTORES DA
ATENÇÃO BÁSICA
Introdução
168
OS MÚLTIPLOS SENTIDOS DA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA PERSPECTIVA DE GESTORES DA ATENÇÃO BÁSICA
Metodologia
Caracterização do estudo
Aspectos Éticos
171
Resultados e discussão
Perfil dos participantes
Empoderamento
Capacitação da comunidade
Eventos
Atendimento adequado e
humanizado
Prevenção e tratamento
Fonte: Elaboração própria, 2017.
Na Dimensão I - Conceito da Promoção da Saúde, na visão dos gestores,
foram elencadas três subcategorias: melhoria da qualidade de vida, empodera-
mento e capacitação da comunidade.
173
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Tal fato, por sua vez, demonstra que a interação profissional de saúde e usuá-
rio ocorre em plano desigual, pelo fato de o profissional se considerar detentor
do poder, enfatizando em seu discurso a ideia de que a doença decorre, prin-
cipalmente, do descuido do usuário com a própria saúde, despertando nele o
sentimento de culpa por seu estado de saúde. E isso o afasta do diálogo tão
necessário para a efetivação da OS (VASCONCELOS, 1999).
Verificou-se, ainda, que uma das diferenças está na modalidade de inter-
venção, pois, enquanto a PS enfoca a saúde da população, a prevenção de en-
fermidades divisa a doença da pessoa, e os mecanismos para tratá-la, mediante
a influência sobre os fatores mais íntimos que os geram (GUIMARÃES, 2009).
Com efeito, considera-se que a qualificação profissional por meio de Cursos
de Especialização, dentre outros, pode significar maior resolubilidade das ações.
Pensa-se que, com a apreensão de conhecimentos o profissional em saúde pos-
sa desviar a perspectiva da doença e ampliar seu espectro para o sujeito e suas
necessidades; realizando ações que visam à autonomia do cuidado em saúde
(FERNANDEZ; MENDES, 2007).
Isto porque, uma vez deixando o assistencialismo, poderá assumir uma fun-
ção de estimulador da participação comunitária que, justaposta, promova inter-
venções de acordo com as reais necessidades identificadas.
Portanto, para atuar em PS, os gestores devem dominar este campo teórico e
conceitual, conhecendo os seus pilares e valores (KUSMA; MOYSÉS, SIMONE;
MOYSÉS, SAMUEL, 2014), para poderem adotar estratégias e ações efetivas,
que tenham como objetivo principal alcançar melhor nível de saúde e condições
de vida mais satisfatórias (BUSS, 2012).
Conclusões
Referências
CASTRO, JANETE, L; CASTRO, JORGE, L.; VILAR, R.L.A. Quem são os Ges-
tores Municipais de Saúde no Rio Grande do Norte? Um estudo sobre o perfil.
2005. Disponível em: <http://www.observarh.org.br/observarh/repertorio/Re-
pertorio_ObservaRH/NESC-RN/Quem_sao_%20gestores_RN.pdf>. Acesso
em: 04 ago 2017.
Introdução
182
A PERCEPÇÃO DAS MULHERES ACERCA DO ATENDIMENTO DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Metodologia
caminhar na descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo
além das aparências do que está sendo analisado (GOMES, 2013).
A análise temática tem como conceito central o tema, conceituado por Bar-
din (2008, p. 105) como “[...] uma unidade de significação que se liberta natu-
ralmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve
de guia à leitura”. Esta análise dos dados consiste no conjunto de técnicas de
análise das comunicações, visando a obter, por procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição, no conteúdo das mensagens, indicadores que permitam
a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das
mensagens entre pesquisador e entrevistado (MINAYO, 2013; BARDIN, 2008).
Após a análise minuciosa do material empírico, emergiram três temas: I.
Atendimento emergencial - o primeiro atendimento; II. A percepção do acom-
panhamento ambulatorial - o segundo atendimento; e III. O significado do ser-
viço para a mulher.
As gravações realizadas na coleta de dados foram identificadas por um có-
digo numerado e de acordo com a sequência das entrevistas, utilizando a sigla
“M” para pacientes. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas (FCM/UNICAMP) por meio do Parecer nº 1.567.151/2016. Todas as
pessoas participaram voluntariamente do estudo, mediante assinatura do Ter-
mo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados
Caracterização das mulheres e da violência sexual
Discussão
Atendimento emergencial - O primeiro atendimento
Ah, eu só fiquei meio assim. Quando era a psicóloga, que era uma
mulher e depois contar para um homem, eu fiquei meio assim,
mas ele foi muito atencioso e carinhoso, então... não tem do que
reclamar (M9).
188
A PERCEPÇÃO DAS MULHERES ACERCA DO ATENDIMENTO DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Então, todos aqui são bem atenciosos, todos te dão atenção, ca-
rinho. O único problema é a demora. É que na primeira consulta
é demorada, da na segunda vai ser mais rápida, mas aí é igual à
primeira, a terceira é igual à primeira. Então, isso angustia a gente
um pouco, entende? (M1).
Aqui é bem pontual, não sei se esse serviço ajuda a sair da situação
de violência. Teria que ter um serviço mais próximo. Aqui é bem
pontual, a gente vem, vê o exame e conversa. Deveria ser como se
fosse uma assistência social mesmo, com consultas mais próximas
(M10).
Parece que tem uma coisa que está andando no seu corpo, parece
que você sente a mão daquele homem tocando em mim, que por
mais que você tome banho, mude a roupa use uma roupa limpa
cheirosa, você ainda se sente suja, entendeu? (M4).
Ah, é difícil, é tipo, assim, entre aspas foi bom pela minha saúde,
que eu fiz todos os exames e, graças a Deus, não teve nada, o pes-
soal que está me acompanhando bem, mas é algo que está errado,
não tem muito o que fazer, não tem (hospital de referência anali-
sado no estudo) e nem lugar nenhum vai conseguir apagar isso.
Entendeu? Eu penso assim (M3).
Considerações finais
Referências
194
A PERCEPÇÃO DAS MULHERES ACERCA DO ATENDIMENTO DE VIOLÊNCIA SEXUAL
195
A PERCEPÇÃO DAS MULHERES ACERCA DO ATENDIMENTO DE VIOLÊNCIA SEXUAL
PARTE II
APLICABILIDADE DE TÉCNICAS EM ESTUDOS
QUALITATIVOS
197
CAPÍTULO 11
A NARRATIVA E A PESQUISA QUALITATIVA
Vera Lúcia Garcia / Alícia Navarro de Souza
Quando uma pessoa conta uma história, narra a sua experiência e, de manei-
ra geral, utiliza uma ordenação temporal e um encadeamento de ideias sobre o
que ocorreu, ou o modo como pensa que sucedeu. Assim, é possível argumentar
que uma narrativa é uma explicação do que aconteceu com base na experiência
individual de determinados fatos, constituindo uma experiência subjetiva do
ocorrido e um relato que situa os fatos em uma ordenação que faça sentido.
A narrativa, segundo Labov e Waletzky (1967, 1997), é um método de reca-
pitular as experiências fazendo corresponder a uma ordem de eventos. Sendo
assim, nem toda recapitulação de uma experiência pode ser considerada uma
narrativa, pois só serão levadas nesta concepção, se for recontada a experiência
na mesma ordem dos fatos originais. Neste sentido, o foco dos autores com as
narrativas era estrutural, na estrutura gramatical, com origem na Sociolinguís-
tica.
Na inteligência de Paul (1995), as narrativas são discursivas, circulando em
torno de um lugar central, em vez de prosseguir diretamente a um determinado
ponto. Para o autor, as narrativas diferem de uma conversa pelo fato de serem
mais próximas de um monólogo que é unido por unidades de coesão de marca-
dores linguísticos e pela unidade temática. Em uma narrativa pode-se recontar
um evento ou experiência, com a cronologia sequencial e um consistente ponto
de vista. A narrativa também pode ser uma explicação de uma atividade ou
procedimento que está sendo feito ou planejado. Pode ser o compartilhamento
de uma experiência, ou mesmo uma história ficcional.
As narrativas podem ser orais, escritas e eliciadas durante uma conversa ou
entrevista. Podem envolver histórias de vida, ter foco em eventos e os significa-
dos experienciados nestes eventos, ou mesmo em histórias comuns que as pes-
soas contam para compartilhar experiências diárias, como indicado no trabalho
de Labov e Waletzky (1967, 1997).
199
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Brunner (1990) com esteio numa análise funcional das narrativas, entendeu
que esta permite a reflexão, a resolução de problemas, e que experiências difíceis
podem ser ressignificadas de modo a fazer sentido para quem a conta.
A narrativa é uma configuração linguística, na qual os eventos se desenvol-
vem em uma sequência temporal definida, ou seja, há um início, um encadea-
mento de eventos temporalmente situados e, pelo menos, a expectativa de um
final. A segunda característica é a existência de um narrador e de um ouvinte
para quem a narrativa está sendo dirigida, cujas perspectivas influem no modo
como a narrativa é desenvolvida. É sempre uma elaboração, função da inter-
subjetividade. Sempre reúne uma certa seleção de aspectos que são importantes
para a versão que está sendo narrada. Como terceira característica, as narrati-
vas versam sobre as pessoas, e não tanto para relatar sobre o que elas fazem ou
acerca do que aconteceu a elas, mas sobretudo como se sentem e o que os outros
sentem em relação a elas. Ainda, uma narrativa promove o engajamento e con-
vida o ouvinte a interpretá-la (GREENHALGH; HURWITZ, 1999).
Campos e Furtado (2008), no Brasil, fizeram uma revisão bibliográfica de
estudos relacionados à narrativa. Nessa revisão, os autores identificaram que as
narrativas.
saltar que, da mesma maneira que as emoções são colocadas em foco para quem
narra, o ouvinte/ interlocutor também é afetado em suas emoções, com amparo
nas suas experiências prévias, sentimentos despertados, tendo um papel ativo
neste processo, e não de mero observador.
As emoções vivenciadas
206
A NARRATIVA E A PESQUISA QUALITATIVA
Embora tenha essa história de vida super sofrida, uma das coisas
que mais me marcou foi a gratidão que essa senhora sentiu por
poder dividi-la conosco. Ela nos abraçou, disse que tinha adorado
a entrevista e pediu pra que voltássemos outro dia.
Foi muito difícil para mim me manter sem chorar, pois, podia ver
o quanto as lembranças eram doloridas.
207
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
As reflexões possíveis
Muitas narrativas terminaram com a lição que cada um levava consigo desta
experiência, considerando sua escolha profissional.
Acho que para minha formação como médica essa experiência foi
muito importante. Espero que o que fizemos lá tenha ajudado pelo
menos um pouco Dona N., pois ela me ajudou.
Considerações finais
sim como, o modo como estas experiências são ressignificadas com suporte em
valores, crenças e emoções explicitados. Os estudos envolvendo a narrativa não
têm a intenção de esgotar as possibilidades de análise, mas sim de abrir os senti-
dos explícitos na linguagem oral e escrita. No caso da linguagem oral, é preciso
também desvelar o que não foi dito por intermédio das palavras, mas enunciado
pela voz, entonação, pausas e toda comunicação não verbal.
A narrativa valoriza a experiência vivida, que é revista com em dados de me-
mória dos sujeitos, mas que também é revista e recriada pelo ouvinte de acordo
com sua experiência, valores e crenças.
Referências
210
CAPÍTULO 12
NARRATIVA COMO TÉCNICA DE COLETA DE
INFORMAÇÕES NA PESQUISA QUALITATIVA
Introdução
A narrativa está em boa parte das experiências, em que, por meio da nar-
ração de histórias, as pessoas e comunidades (re)afirmam a sua existência na
comunidade, região e no mundo. Contar uma história por meio dos detalhes faz
parte do papel de quem conta, pois é de uma estratégia subjetiva de convencer
quem escuta sobre o que é contado.
Em toda “contação” é possível encontrar uma série de acontecimentos que
ajudem a constituir a vida individual, social e cultural de grupos humanos. As-
sim, as narrações são formadas de acontecimentos concretos e dos sentidos atri-
buídos a eles pelos contadores de história.
Por essa possibilidade de compreensão, a narrativa é utilizada como técnica
de informação em pesquisa qualitativa.
Uma narrativa representa uma sequência de acontecimentos interligados,
transmitidos em uma história. As histórias sempre reúnem aqueles que as nar-
ram e aqueles que as ouvem, leem ou assistem. Quem narra, por sua vez, “[...]
escolhe o momento em que uma informação é dada, e por meio de que canal
isso é feito”. (PELLEGRINI et al., 2003, p.64).
A riqueza da narrativa está nos detalhes. Percebemos as minúcias dos acon-
tecimentos por meio da narração e da interpretação de quem conta que nos
propicia atribuir sentidos à fala. Dessa maneira, uma narrativa é sempre alcan-
çada por meio de uma entrevista. Por isso, alguns autores (SCHÜTZE, 2007;
JOVCHELOVITCH; BAUER, 2011; BAUER; GASKELL, 2011) a definem como
211
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
212
NARRATIVA COMO TÉCNICA DE COLETA DE INFORMAÇÕES NA PESQUISA QUALITATIVA
Portanto, a narrativa pode ser entendida como uma das configurações mais
coerentes de se alcançar os sentidos das histórias vividas pelos indivíduos, não
significando, meramente, uma descrição, mas uma compreensão interpretativa
das situações experienciadas, em que a comunicação é fundamental.
Em linhas gerais, e sob influência de Schütze e Bruner, as narrativas são
identificadas como biográficas e autobiográficas. De acordo com Santos (2014),
a narrativa possibilita, com esteio nas vozes dos entrevistados, a recuperação da
singularidade das histórias narradas (histórias de vida); enquanto a narrativa
autobiográfica possibilita a compreensão de aspectos que estão nos processos
formativos e compreensão de si-mesmos, em interação com o mundo (JOSSO,
2004).
213
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
A narrativa como técnica deve ser compreendida como o meio para se al-
cançar as informações pretendidas. Tenciona-se, por meio dela, “capturar” os
significados e sentidos de um acontecimento, contexto ou determinada realida-
de. Isto a torna uma técnica eminentemente qualitativa, e é aplicada por meio
de uma entrevista.
A entrevista é uma técnica de coleta de dados utilizada para captar dados
subjetivos. Existem vários tipos de entrevistas (estruturada, semi estruturada,
aberta, entrevistas com grupos focais etc). Para que a entrevista proceda com
êxito, alguns cuidados devem ser tomados, como a escolha do entrevistador,
que deve ser alguém que com relação ao tema pesquisado; a disponibilidade do
entrevistado, e o ambiente, que deve ser tranquilo, garantir ao entrevistado a
privacidade e a confidencialidade necessárias, e preparação cautelosa do roteiro
de entrevista (BONI; QUARESMA, 2005).
Aconselha-se ter um diário de campo para anotações de fatos que não serão
captados pela gravação, ou de observações feitas por você. O diário de campo
também o ajudará a anotar questionamentos que deverão ser feitos ao final da
entrevista, logo após a cessação completa da narração por parte do entrevistado.
Optamos por descrevê-la em forma de “passos”, identificando os objetivos e
características de cada um. Os passos aqui reunidos seguem os mesmos pressu-
postos de Jovchelovitch e Bauer (2011) e Bauer e Gaskell (2011), que formula-
ram algumas fases da técnica com suporte no constructo teórico do sociólogo
alemão Fritz Schütze anos de 1970.
1º Passo: planejamento
2º Passo: introdução
3º Passo: desenvolvimento
4º Passo: indagação
5º Passo: conclusão
217
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
218
NARRATIVA COMO TÉCNICA DE COLETA DE INFORMAÇÕES NA PESQUISA QUALITATIVA
Desvantagens
Referências
2017.
SCHUTZE, F. Biography analysis on the empirical base of autobiographical nar-
ratives: How to analyse autobiographical narrative interviews-Part 2. Module
B.2.2. INVITE-Biographical counseling in rehabilitative vocational trainingfur-
ther education curriculum, 2007b. Disponível em: http://www.uni-magdeburg.
de/zsm/projekt/biographical/1/B2.1.pdf. Acesso em 08 de Janeiro de 2017.
THIRY-CHERQUES, H.R. Max Weber: o processo de racionalização e o desen-
cantamento do trabalho nas organizações contemporâneas. Revista de Adminis-
tração Pública-RAP, Rio de Janeiro, v 43, n 4, p 897-918, Jul./Ago. 2009.
TURNER, V. Social dramas and stories about them. In: MITCHELL, W. (org.)
On narrative. Chicago: Chicago University Press. 1981. pp. 137-164.
221
CAPÍTULO 13
DA TEORIA À PRÁTICA: A UTILIZAÇÃO DE
GRUPO FOCAL PARA O ENSINO E A PESQUISA
Introdução
O grupo focal (GF) constitui uma técnica de coleta dados que se baseia em
interações grupais, ao se debater um assunto específico proposto pelo pesquisa-
dor (MORGAN, 1997). Esta interação possibilita a obtenção de informações de
caráter qualitativo em profundidade, uma vez que é capaz de revelar as percep-
ções dos participantes e funciona como um recurso que favorece o entendimen-
to da elaboração das atitudes e representações dos envolvidos sobre o assunto
em pauta (VEIGA; GONDIM, 2001).
Segundo Gomes e Barbosa (1999), Gondim (2002) e Trad (2009), o GF cons-
titui um grupo para discussão, em que a informalidade, o tamanho reduzido da
amostra, os pontos comuns entre os participantes, a rapidez na aplicação e o
baixo custo são algumas de suas características.
Os grupos focais podem ser usados em vários contextos e voltados a diver-
sos propósitos, dentre os quais: a confirmação de hipóteses, a avaliação de uma
teoria e as aplicações práticas, ou seja, o uso dos achados em contextos particu-
lares (FERN, 2001). Assim, a combinação desses propósitos origina três tipos de
grupos focais, consoante aponta Gondim (2002): exploratórios, clínicos e viven-
ciais. Essas modalidades não são excludentes, uma vez que, em muitas ocasiões,
não é possível ver claramente se a abordagem é clínica ou vivencial.
O percurso metodológico
O ponto de partida
· Espaço
· Equipamentos
· Duração
· Seleção
(TRAD, 2009)
Grupos focais como técnica de GRUPO 2 Primeira e Segunda
investigação qualitativa: desafios
metodológicos
(GONDIM, 2002)
A Técnica de Grupos Focais para GRUPO 3 Primeira (Obs: Os dois grupos da
Obtenção de Dados Qualitativos segunda turma receberam este texto para
complementação de leitura.)
(GOMES; BARBOSA, 1999)
228
DA TEORIA À PRÁTICA: A UTILIZAÇÃO DE GRUPO FOCAL PARA O ENSINO E A PESQUISA
No dia da aula, a sala onde se realizaram os grupos focais foi preparada com
uma mesa retangular com cadeiras ao seu redor, de modo que todos (partici-
pantes e facilitadoras) ficassem se olhando. Além disso, os seguintes equipamen-
tos foram instalados: gravador SONY digital Double; câmera filmadora marca
Panasonic-P2/ modelo AG-HPX250; um microfone boom marca Fennheiser/
modelo MKE600 e um microfone sem fio marca Fennheiser – EW 100 ENG
G3. Todos os participantes receberam bloco de papel e caneta para eventuais
anotações. Esses recursos foram utilizados com o conhecimento de todos com a
finalidade de ilustrar fidedignamente a técnica e facilitar a transcrição das falas.
Além dos equipamentos, foi disponibilizado um lanche que ficou durante
toda a sessão à disposição dos participantes, evitando que eles precisassem se
ausentar do recinto. Tudo foi preparado para a garantia do bem-estar de todos e
o bom rendimento das discussões do grupo.
Para a condução do grupo, foi elaborado o roteiro com questões norteado-
ras, o qual é mostrado no quadro 2.
Quadro 2: Roteiro para aula sobre grupo focal - doutorado em saúde coletiva
ROTEIRO GRUPO FOCAL SOBRE A AVALIAÇÃO DO DOUTORADO EM SAÚDE
COLETIVA
A aplicação da técnica
Cada uma das aulas destinadas a abordagem da técnica de grupos focais ini-
ciou com a acolhida dos participantes pela facilitadora e moderadora na sala de
aula. Os participantes foram informados de que o lanche estava disponível para
eles do início ao fim da sessão e que poderiam ficar à vontade para se levanta-
rem e se servirem livremente.
Em seguida, após a chegada de todos os alunos, eles foram convidados a sen-
tarem ao redor da mesa. Feito isso, a facilitadora apresentou o objetivo da aula e
do grupo focal a ser realizado naquele dia, informando o seu nome e formação,
além das suas experiências na realização de grupos focais. Na sequência, a mo-
deradora também se apresentou.
A facilitadora explicou, ainda, sobre a necessidade da presença das câmeras
e do gravador na sala e o resguardo das imagens e falas que sairiam daquele GF,
no intuito de tranquilizar os participantes de que a finalidade era estritamente
científica e que todos os preceitos éticos previstos na Resolução No. 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde seriam rigorosamente seguidos. Nessa ocasião,
os alunos foram convidados a ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), demonstrando a sua concordância em participar do GF.
Em seguida, a facilitadora solicitou a cada um dos alunos para dizer o seu
nome, a formação e o interesse pela disciplina Técnica de Coleta e Organização
de Dados Qualitativos, tendo sido esses dados registrados em um bloco de no-
tas, seguindo a ordem de apresentação para facilitar a identificação nominal dos
participantes durante o debate, conforme exemplifica a figura 1.
230
DA TEORIA À PRÁTICA: A UTILIZAÇÃO DE GRUPO FOCAL PARA O ENSINO E A PESQUISA
Figura 1 - Organização da mesa e registro dos nomes em papel para facilitar a identifi-
cação dos participantes pela facilitadora e moderadora.
Fonte: Própria.
A teorização da técnica
DES; GOMES, 2013) e estão apresentados, com base nas seguintes categorias:
1) contribuições da metodologia adotada para o aprendizado sobre GF; 2) utili-
zação da técnica de GF pelos alunos após a aula; e 3) avaliação dos alunos sobre
a metodologia da aula e sugestões.
Para resguardar a identidade dos participantes na apresentação das falas, foi
adotada a letra “A” para representar “aluno”, seguida dos números de 1 a 20. As-
sim, A1 significa aluno número e assim sucessivamente.
Resultados e discussão
Estudo realizado por Albuquerque et al. (2010, p. 192) apresentou “[...] uma
discussão sobre as possibilidades de utilização de narrativas ou relatos da prá-
tica como estratégia de construção do conhecimento na formação de profissio-
nais de saúde”. A experiência aplicada no módulo tutorial do Curso de Gradua-
ção em Enfermagem do UNIFESO mostrou que vivenciar a prática, durante a
formação do aluno, é bem relevante para que a aprendizagem seja consistente,
visto que favorece as conexões entre a teoria e a prática, além de dar suporte à
constituição da competência para a ação. Com efeito, a prática e as vivências
articulam-se e facilitam as reflexões respaldadas pelas teorias, o que possibilita
a captação de significados e a reformulação destes, com suporte nas mudanças
de cenários.
Os participantes A2 e A9 evidenciam que, apesar de não terem ainda utiliza-
do a técnica de GF, reconhecem, nessa vivência oferecida pela disciplina, novas
oportunidades para o desenvolvimento de trabalhos. Este fato converge com o
estudo mencionado no parágrafo anterior, visto que, ao vivenciar, teorizar e re-
fletir sobre a técnica de GF, os alunos se sentiram mais apropriados e confiantes
em utilizá-la.
Na avaliação dos alunos sobre a metodologia adotada na aula sobre grupos
focais, os pontos fortes configuram em destaque, tendo sido referenciados os
seguintes aspectos: a possibilidade de aprender fazendo; a associação direta en-
tre teoria e prática; a observação da posição da facilitadora e da moderadora; a
verificação, in loco, da preparação do ambiente e dos materiais necessários para
235
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
dos dados coletados, como pode ser verificado no seguinte relato: “Deixo como
sugestão que esta aula seja feita em dois momentos, mantendo a abordagem rea-
lizada e um segundo mostrando as imagens para que seja possível analisar as
expressões corporais, etc.” (A3).
Não se pode esquecer de que a análise dos dados de um GF requer habili-
dade e treino. Por isso, a sugestão apontada por A3 é bastante pertinente, pois
amplia a dinâmica, expandindo a prática da análise de dados qualitativos. A lite-
ratura reporta que a análise desse tipo de dado requer a leitura do dito e do não
dito. Para isso, existe uma diversidade de técnicas, as quais devem ser escolhidas
pelos pesquisadores dentro das especificidades da pesquisa.
Minayo (2012) aponta que o processo de análise de dados qualitativos deve
estar contextualizado dentro do escopo da investigação. Assim, deve-se levar
em consideração o objetivo, o referencial teórico-metodológico, além dos in-
dicadores recolhidos, os quais serão organizados e alinhados com a literatura.
Essa conduta requer do pesquisador treinamento para que o rigor requerido
pela pesquisa qualitativa não seja distorcido.
Por fim, restou observado o fato de que o elevado nível de satisfação com a
metodologia adotada fez emergir sugestões que remetem ao treinamento de ou-
tros professores para que possam utilizar a estratégia em suas aulas, tornando-as
mais dinâmicas e motivadoras: “Como sugestão, sugiro que seja realizado com
professores do programa. Estratégia que deve servir como exemplo para outras
disciplinas” (A8).
A literatura (MARIN et al., 2010; MITRE et al., 2008; SOUZA; IGLESIAS;
PAZIN-FILHO, 2014) é vasta quando o assunto converge sobre as metodologias
ativas de ensino, incentivando a que a formação docente propicie momentos de
troca de experiências para que os professores, independentemente do nível de
ensino em que lecionam, possam replicar práticas bem-sucedidas e que mo-
tivem os alunos a desenvolverem o conhecimento, atitudes e habilidades que
favoreçam o processo de ensino-aprendizagem.
A fala de A8, sugerindo que outros docentes do referido programa de pós-
graduação adotem estratégias de ensino similares, mostra o influxo positivo
destas no ensino e o modelo que deve ser replicado para ampliar o nível de mo-
tivação e dinamismo nas aulas, o que favorece a maior significância do ensino.
Consideramos que a experiência ora relatada mostra que a utilização de um
grupo focal associado ao Webquest para o ensino da técnica de GF para a coleta
de dados em pesquisa qualitativa foi bastante pertinente para a dinâmica da
disciplina em questão e o aprendizado dos alunos, tendo despertado o interesse
e a motivação dos participantes.
238
DA TEORIA À PRÁTICA: A UTILIZAÇÃO DE GRUPO FOCAL PARA O ENSINO E A PESQUISA
Referências
SILVA, J.R.S.; ASSIS, S.M.B. Grupo focal e análise de conteúdo como estraté-
gia metodológica clínica-qualitativa em pesquisas nos distúrbios do desenvol-
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SOARES, M,I.; CAMELO, S.H.H.; RESCK, Z.M.R. A técnica de grupo focal na
coleta de dados qualitativos: relato de experiência. REME - Rev Min Enferm, v
20, e942, 2016; Disponível em: <10.5935/1415-2762.20160012> Acesso em:
SOUZA, C.S.; IGLESIAS, A.G.; PAZIN-FILHO, A. Estratégias inovadoras de
ensino. Medicina (Ribeirão Preto), v 47, n 3, p 284-292. 2014. Disponível em:
<http://revista.fmrp.usp.br/> Acesso em:
TRAD, L. A. B. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas
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VEIGA, L.; GONDIM, S. M. G. A utilização de métodos qualitativos na ciência
política e no marketing político. Opinião Pública, Campinas, v. 2, n. 1, p. 1-15,
2001.
241
CAPÍTULO 14
HISTÓRIA ORAL NA PESQUISA QUALITATIVA
Introdução
A oralidade medeia o diálogo que, por sua vez, é uma força para se estabe-
lecer e fortalecer interações. Esta se mostra no decorrer da história como apro-
ximação de visões de mundo entre as pessoas, possibilitando compreender as
divergências, singularidades e questões que possam sustentar paradigmas uni-
versais.
Como técnica de coleta de dados e informações em pesquisa é um meio sin-
gular à produção do conhecimento compreensivo, eixo fundante do diferencial
das pesquisas sociais. A oralidade entre os sujeitos percebida no diálogo “conta
e reconta histórias de vida”.
Reiterando as percepções mencionadas, as pesquisas que priorizam retratar
as subjetividades humanas estabelecem procedimentos diferenciados que apro-
ximem pesquisador e sujeito pesquisado (SPINDOLA; SANTOS, 2003). Neste
sentido, destacamos a história oral como um método que possibilita ao sujeito
reviver um momento da vida, permitindo uma ligação entre a realidade atual
e a história da época, mediante a reconstrução dos fatos (CARNEIRO, 2012).
Os fatos internalizados em experiências vivenciadas possibilitam a com-
preensão das ações humanas no que se refere ao pensamento, sentido e desejo.
Com isso, a pessoa ocupa a posição central dessas experiências, sendo a com-
preensão a maneira de revivenciá-las (DILTHEY, 1989).
É por meio do contato com outros seres humanos que se vivencia a
experiência. Com efeito, a história acontece por meio das interações vividas
continuadamente com algo ou alguém (SCOCUGLIA, 2002). Destarte, ressalta-
243
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
se que “(...) toda experiência humana e atividades são atravessadas por escolhas,
preferências, valores, julgamentos”. Acredita-se que, associadas à oralidade, as
interações da experiência dão configuração pelo estabelecimento e reestabeleci-
mento dos fatos vividos por meio da história oral (SCOCUGLIA, 2002, p. 260).
Compondo um escopo metodológico, a história oral demanda reaver expe-
riências vivenciadas e internalizadas em pessoas que concordam em comparti-
lhar sua memória com a coletividade e proporcionando uma aproximação do
vivido mais real, dinâmico e envolto de singularidades que, de outra maneira,
não seriam conhecidos. A história oral pode ser entendida como um método de
pesquisa que busca, mediante narrativas, reconstituir situações na perspectiva
de quem as vivenciou (ALBERTI, 1990).
Mencionando a historicidade, o século XVII marcou a consolidação da es-
crita como fonte de conhecimento, em oposição à tradição oral. A reinserção
da história oral aconteceu ao longo do século XX, quando sociólogos, antropó-
logos e historiadores passaram a utilizá-la para descrever culturas americanas
nativas (QUEIROZ, 1988). A invenção do gravador, nos anos de 1950, nos Es-
tados Unidos, contribuiu significativamente para a utilização da história oral no
meio acadêmico e para sua evolução com o surgimento da Escola de Chicago
(MATOS; SENNA, 2011).
No Brasil, o uso desta técnica iniciou-se em 1940, contudo obteve baixa ade-
são por parte dos pesquisadores, que priorizaram os dados coletados de modo
objetivo e quantitativo. O surgimento do método quantitativo e os aprofunda-
mentos dos testes estatísticos de 1940 ofuscaram a história oral, visto que al-
guns pesquisadores julgaram que o método poderia apontar vieses por estar
intimamente ligado ao emocional e psique do sujeito. O reconhecimento do va-
lor deste método, no entanto, bem como o interesse dos pesquisadores pela sua
aplicação nas ciências sociais ressurgiu apenas nos anos de 1980 (CAPPELLE;
BORGES; MIRANDA, 2010).
A história oral deve ser utilizada pelo pesquisador para reconstituir fatos do
passado mais remoto, utilizando-se de depoimentos de pessoas que deles parti-
ciparam ou os testemunharam (ALBERTI, 1990). Pode ser conceituada como:
244
HISTÓRIA ORAL NA PESQUISA QUALITATIVA
247
Figura 1 - Passos para utilização da técnica de história oral de vida nas etapas antes da
entrada no campo da coleta de dados e durante o processo de coleta de dados.
249
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
É reconhecido o fato de que “[...] a história oral sem o apoio teórico reduz
o trabalho produzido a uma simples transcrição de entrevista, carente de uma
explicação reflexiva que venha enriquecer os resultados obtidos na metodologia
adotada” (JUCÁ, 2011, p. 31).
A história oral de vida, apesar de ser amplamente divulgada no Brasil, ainda
encontra certa resistência na sua utilização, justificada pela seletividade e pela
falha das fontes orais (FREITAS, 2006).
Corroborando tais afirmações, os autores asseguram que “[...] o uso crescente
da história oral, a sua credibilidade também tem sido contestada por parte de
alguns acadêmicos no que diz respeito à subjetividade, à memória, ao tempo e à
(re)construção das narrativas”. (MENDONÇA; FRANÇA, 2013, p.19). Estudo
aponta, entretanto, que, apesar da possibilidade de falibilidade da memória ou
exacerbação dos fatos, não se deve negar os fatos importantes, insights e as ex-
periências trazidas pelos participantes (BATTY, 2009).
As vantagens, pois, da história oral de vida estão na possibilidade de disser-
tar sobre determinado assunto, com uma diversidade de experiências vivencia-
das sob múltiplos olhares que poderão ter inúmeros significados (NASCIMEN-
TO, 2013). O uso dessa técnica permite a reconstituição de lacunas históricas
(BECKER; 2006).
Destaca-se, ainda, como vantagem da técnica o fato de, que sua utilização
como estratégia de ensino demonstra melhor desempenho do aluno e aprendi-
zagem de longa duração (TANGULU, 2014).
Enfatizamos a necessidade de se guardar alguns cuidados na utilização da
história oral, lembrando que esta técnica, por trazer à tona fatos passados, em
contextos totalmente diferentes do que se tem na atualidade, há de observar
uma grande responsabilidade em sua análise, deixando claro que a discussão
dos dados está sendo feita com base na visão contemporânea.
Para se obter êxito na utilização da história oral de vida, fazem-se necessário
um bom texto narrativo e uma análise em profundidade. Com efeito, é recomen-
dado que a análise seja norteada pelas etapas (FIROUZKOUHI; ZARGHAM
-BOROUJENI, 2015).
1) Realização da coleta de dados pela entrevista oral e codificação em pri-
meiro nível (extração dos códigos iniciais).
2) Codificação das entrevistas em segundo nível e criação das subcategorias
para análise.
3) Codificação em terceiro nível das entrevistas e determinação das catego-
riais principais encontradas, reunindo as principais categorias entre si e início
da escrita da narrativa.
251
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Inovações da técnica
252
HISTÓRIA ORAL NA PESQUISA QUALITATIVA
Considerações finais
Referências
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JUCÁ, G.N.M. A Oralidade dos Velhos na Polifonia Urbana. 2ª ed. Fortaleza
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Historia, v. 2, n.1, p. 95-108, 2011. Disponível em: <https://www.seer.furg.br/
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MENDONÇA, M. E. B. M; FRANÇA, A. P. S. J. M. História Oral: em Busca de
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MOTA, C. S.; REGINATO, V. Aproximando o cuidador do idoso: a história oral
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255
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
256
CAPÍTULO 15
OBSERVAÇÃO APLICADA À PESQUISA
QUALITATIVA
Introdução
lógica dos seus estudos e mais pela sua personalidade e seu comportamento. As
pessoas que facilitam o acesso do observador ao campo se preocupam em saber
se ele é “uma pessoa boa” e se não trará nenhum malefício ao grupo, mantendo
o sigilo das confissões e respeitando seus costumes (DESLANDES; MINAYO,
2013).
Dependendo de cada objeto de estudo, o pesquisador deve se munir de lei-
tura prévia muito intensa, abrangente e profunda, comportando aspectos ine-
rentes ao ser humano, que o fará entender o caminho percorrido por aquela
pessoa estudada ao ponto a que ela se encontra e este sendo o foco de estudo do
pesquisador.
Ao mencionarmos a observação e esta sendo de um ser humano, podería-
mos citar uma leitura prévia, como a que se reporta ao contexto de Paulo Freire,
educador e filósofo, quando ele refere a necessidade do respeito ao saber da pes-
soa observada. Poderíamos até fazer uma correlação com o que Freire assegura,
quando entendemos que observar faz parte de um ensinamento e que este ensi-
namento também é passível de risco, exigindo a aceitação do novo e a rejeição
de qualquer modalidade de discriminação (FREIRE, 2015).
Podemos suscitar, ainda, a compreensão do campo fenomenal, quando Mer-
leau-Ponty, escritor e filósofo fenomenólogo francês, refere que a chama de
uma vela muda de aspecto quando, após um acidente em que uma criança sofre
com a queimadura, deixa de atrair sua mão, tomando-se uma abrupta repulsão
(2011). Nesse caso, podemos entender que, do ponto de vista do pesquisador
e observador, é necessário que ele se atenha aos fatos inerentes àquela situação
estudada para entender seu objeto de coleta e qual o ponto de vista ao qual esse
fenômeno está exposto.
Portanto, podemos descrever inúmeros pensadores e suas teorias, mas o que
propomos com esse material é discorrer sobre a abrangência que envolve a ca-
pacidade de observação do pesquisador quando ele se propõe à técnica de coleta
de dados por observação, bem como os passos para uma observação adequada.
Papéis do observador
3) a escola possui espaço para ações educativas que promovam o debate sobre
saúde sexual, saúde reprodutiva e infecções sexualmente transmissíveis (IST)?
( ) Sim ( ) Não.
4) a escola possui momentos definidos para a participação dos pais?
( ) Sim ( ) Não.
5) As aulas são interativas e com estímulo ao pensamento crítico?
( ) Sim ( ) Não.
6) Existe quadra esportiva?
( ) Sim ( ) Não.
7) Existe auditório?
( ) Sim ( ) Não.
8) Existe laboratório de informática?
( ) Sim ( ) Não.
9) Existe biblioteca?
( ) Sim ( ) Não.
10) As salas de aula são adequadas em termos de espaço físico?
( ) Sim ( ) Não.
11) As salas de aula são adequadas em termos de climatização?
( ) Sim ( ) Não.
12) As salas de aula são adequadas em termos de iluminação?
( ) Sim ( ) Não.
13) A escola possui grêmio estudantil ou outros grupos de convivência nas
quais os alunos participam de processos de decisão sobre assuntos escolares?
( ) Sim ( ) Não.
14) Os professores parecem receptivos a participar de momentos de discus-
são com profissionais de saúde?
( ) Sim ( ) Não.
Pesquisa sobre obstáculos ao acolhimento de adolescentes em unidades de
atenção primária de saúde para o programa de planejamento familiar
263
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Considerações finais
Conforme vimos, a observação possui amplo espectro de uso, que vai desde
a descrição do ambiente à compreensão das interações sociais nas diversas rea-
lidades da pesquisa.
Os passos para a realização de uma observação adequada estão mostrados
sistematicamente e, uma vez adotados pelo pesquisador, irá assegurar maior
qualidade em suas investigações de abordagem qualitativa.
Ganha destaque a necessidade de inserção prévia do pesquisador no campo,
com o intuito de interação com as pessoas participantes da pesquisa, seus con-
textos de vida, os panoramas comunitários onde vivem e transitam, na explora-
ção de elementos essenciais para a elaboração de formulários e/ou roteiros uti-
lizados nas entrevistas. O diário de campo também foi ressaltado como um dos
instrumentos mais usados pelo pesquisador, em todos os passos da observação.
Referências
267
CAPÍTULO 16
TÉCNICA DE ENTREVISTA NA PESQUISA
QUALITATIVA
Introdução
Técnica de entrevista
271
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
272
TÉCNICA DE ENTREVISTA NA PESQUISA QUALITATIVA
entrevista, que poderão auxiliar na decisão de adotar esta técnica para a coleta
de dados.
Modelos de entrevistas
Referências
278
CAPÍTULO 17
AVALIAÇÃO CONSTRUTIVISTA NA SAÚDE:
ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS
pesquisas em promover mudanças sociais, haja vista a não utilização dos resul-
tados pelos decisores (DUBOIS; CHAMPAGNE; BILODEAU, 2011).
Tais críticas repercutiram em estimular avaliações que centrassem na utili-
zação dos resultados, conforme a necessidade dos interessados, num processo
de aproximação da avaliação à responsabilização e à participação social. As in-
quietações propunham que todos os grupos de interesse colocados em risco por
uma avaliação tinham o direito de apresentar suas reinvindicações, preocupa-
ções e questões para que fossem consideradas, independentemente dos sistemas
de valores que adotassem (GUBA; LINCOLN, 2011).
Ascendia, também, a necessidade de uma avaliação mais útil, que trans-
cendesse o caráter fiscalizador (PATTON, 1997). Nesse sentido, Penna Firme
(2003) exalta quatro critérios de excelência como dimensões avaliativas volta-
das para as transformações da sociedade: utilidade, viabilidade, ética e precisão.
Com efeito, a avaliação necessita ser útil, considerar aspectos políticos, práticos
e de custo-efetividade, respeitar os valores dos interessados e ter precisão quan-
to às dimensões técnicas do processo.
Patton (1997) destaca a importância de desenvolver um sistema de indica-
dores que valorizem todas as dimensões do processo de produção da saúde:
as políticas, a capacidade organizacional, as relações interpessoais, o trabalho
interdisciplinar, a escuta dos usuários, dentre outros, sempre atentos para a fun-
ção da pesquisa avaliativa, no sentido de que seus resultados e recomendações
sejam aplicados na prática.
Essa compreensão, no entanto, foi constituída e reconstituída ao longo das
quatro gerações propostas por Guba e Lincoln (2011), caracterizadas, respecti-
vamente pela mensuração, descrição, julgamento e negociação. A delimitação
dessas gerações retrata as mudanças de ordem teórico-conceituais e políticas
que tiveram curso, e ainda têm, na configuração e legitimação do campo, como
também representam sua polissemia e tensões.
Guba e Lincoln (2011), como resultado, propuseram uma abordagem alter-
nativa, denominada de avaliação construtivista responsiva. Esse novo enfoque,
compreendido como quarta geração da avaliação, preocupa-se com o envolvi-
mento dos interessados, em um processo interativo e negociado, na perspectiva
de superação dos limites diagnosticados na pesquisa avaliativa, por via da ação
conjunta, cooperativa e comprometida de todos os envolvidos no processo em
foco. Assim, a verdade passa a ser estabelecida pelo investigador e pelo inves-
tigado de modo que os achados da investigação se instituem no âmbito dessa
busca, mesmo que não se alcance plenamente o consenso.
A abordagem construtivista quebra a ideia de uma verdade absoluta e pa-
drão único e universal de avaliação, de modo que a preocupação recai sob a
282
AVALIAÇÃO CONSTRUTIVISTA NA SAÚDE: ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS
Referências
285
CAPÍTULO 18
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DA
HERMENÊUTICA FENOMENOLÓGICA DE
PAUL RICOUER
Daniella Barbosa Campos / Isabella Lima Barbosa
Indara Cavalcante Bezerra / Benjamin Lopes da Silva Neto
Paula Caroline Rodrigues de Castro / Mardênia Gomes Ferreira Vasconcelos
287
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
289
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Fonte: Geanellos (2000).
Schmidt (2012) ressalta que a análise estrutural de um texto é um passo
necessário entre a interpretação ingênua e a crítica e profunda de um texto. A
teoria interpretativa de Ricoeur (1989) enseja a compreensão do expresso e do
não expresso no discurso. A interpretação simples e profunda favorece o enten-
dimento das partes do texto em relação ao todo e vice-versa, facilitando a reflex-
ão sobre os mais variados temas. Como diálogo intersubjetivo, o significado de
um texto não se esgota no próprio texto, ou seja, um novo intérprete será capaz
de conceder significados diferentes, tornando inesgotável sua potencialidade de
significados (PESSOA, 2013).
Com suporte numa conexão com o vivido, o método reflexivo está ancora-
do na dialética entre explicação e compreensão. Ao se utilizar essa perspectiva
analítica, enseja-se alcançar o centro da abordagem hermenêutica que está na
compreensão do texto, procurando entender a multiplicidade de significados e
tentando clarear o que é confuso, escondido e fragmentado.
Referências
292
CAPÍTULO 19
ANÁLISE HERMÊUTICA
FENOMENOLÓGICA DAS PRÁTICAS DE
CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA E EM
USO E CONSUMO DE CRACK
Introdução
Com a chegada do crack ao Brasil e sua difusão nos grandes centros urbanos,
muitas discussões são operadas sobre políticas, serviços destinados ao atendi-
mento de usuários, combate ao tráfico, criminalidade e mortes por violência.
Assim, o crack é entendido como um “[...] problema social e de saúde pública” e
deve ser respondido com ações de tratamento aos seus usuários.
A pedra sobra do refinamento da cocaína e, como é conhecido popularmen-
te, o crack, é produzido com base no cloridrato de cocaína dissolvido na água e
aquecido com bicarbonato de sódio e com adição de substâncias tóxicas como
ácido sulfúrico, querosene, gasolina, entre outras (SAPORI, 2010; FRANCO
NETO, 2013). Desse preparo sobressai uma droga barata e de fácil comerciali-
zação, o que lhe permitiu uma rápida disseminação.
Estudos apontam para a associação entre o uso de crack e o surgimento de
transtornos psiquiátricos, tais como depressão, transtornos psicóticos e suicí-
dio, além de relacionarem a droga com atos infracionais e de violência (SILVA et
al., 2010; MERCHÁN-HAMANN et al., 2012; LEAL et al., 2012; DOMENECH,
2012; ALMEIDA; FLORES; SCHEFER, 2013).
A Política Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Ál-
cool e outras Drogas (BRASIL, 2003) demarcou avanços no cuidado aos usuá-
rios de drogas, sobretudo por ter criado os centros de atenção psicossocial ál-
cool e outras drogas (CAPSad) como espaços prioritários para esses cuidados.
Serviços resultantes da Reforma Psiquiatra Brasileira e que privilegiam aten-
ção diária de base territorial, os CAPSad são em número insuficiente para o
acolhimento da demanda, baixa oferta de atendimento 24 horas, estrutura física
e recursos materiais precários e profissionais com vínculos de trabalho fragili-
zados (MORAES, 2008; ALVES, 2009; COSTA et al., 2015). Além disso, ainda
convivem com a forte influência do modelo biomédico e suas práticas “medi-
camentalizantes” centradas na abstinência (BEZERRA et al., 2014; MORAES,
2008; SCHNEIDER, 2013; PASSOS; SOUZA, 2011; LIMA et al., 2013a; 2013b;
SILVA; DELDUQUE, 2015; COSTA et al., 2015).
Isso faz os CAPSad direcionarem as pessoas em uso e consumo de crack às
modalidades privativas de liberdade em hospitais psiquiátricos e em comuni-
dades terapêuticas, a fim de atender às demandas e necessidades produzidas ou
294
ANÁLISE HERMÊUTICA FENOMENOLÓGICA DAS PRÁTICAS DE CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Método
Resultados e discussão
Por outro lado, também são descritas e observadas práticas voltadas ape-
nas ao corpo em adoecimento, baseadas na ideia de cura, oriundas do modelo
biomédico, o que desconsidera necessidades, expectativas, crenças e contextos
sociais:
“E aí dentro, dentro dessa consulta médica, a gente conversa, passa, prescreve
medicação” (Med CAPSad B).
Em conformidade com esses resultados, Moraes (2008) evidencia que a me-
dicação representa controle sobre o uso de drogas e é importante ritual entre os
profissionais de saúde. Ela se caracteriza como prática ordinária no tratamento
e existe nas relações entre os agentes sociais, dando sentido à realidade vivida.
A influência do modelo biomédico também é desvelada nas narrativas ao
expressarem a dualidade entre abstinência e redução de danos. Ainda que a
Política de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas (BRASIL,
2003) tenha como eixo norteador de cuidado em todos os serviços da rede de
atenção psicossocial (RAPS) a redução de danos, os interlocutores enunciam
discordâncias:
“Eu não concordo muito com a redução de danos. Existem alguns estudos que
mostram que muitos pacientes não se dão muito bem com a questão da redução
de danos”, incompreensões: “A questão da redução de danos, aqui (...) é uma
coisa muito solta ainda” (Ass. Social CAPSad A) e desconhecimento sobre esta
estratégia de cuidado:“Redução de danos é quando você consegue ter o controle
daquilo que você usa e não aquilo ter o controle sobre você” (Psi. CAPSad B).
As narrativas não atentam para a necessidade de se compreender quem é
o usuário de drogas do CAPSad, para assim propor o modelo de tratamento
mais adequado às suas características e necessidades: “Esses pacientes eles vivem
muitos em situação de rua, muitos vivem em uma situação (...) um vínculo social
fraco e às vezes quando você fala sobre reduzir danos ao paciente e não explica isso
muito bem ao paciente, o paciente entende que a redução de danos é simplesmente
diminuir o uso”. O que há nelas são ‘atravessamentos’ dos modelos de aborda-
gem às drogas, em que são tomadas como práticas consolidadas a clínica da
cura e da abstinência e a negação da redução de danos como prática de cuidado
(LIMA et al.,2013; 2013b; COSTA et al., 2015).
299
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
expediente de trabalho, a fazer com que o usuário se ache mais à vontade e ativo
em seu tratamento, possibilitando continuidade do cuidado. Merhy e Franco (p.
318, 2003) expressam que o emprego das tecnologias leves implicam a “forma
de agir entre sujeitos trabalhadores e usuários, individuais e coletivos, implica-
dos com a produção do cuidado”.
As compreensões biomédicas, por vezes, realizam um cuidado reducionista,
por serem centrados em modelos que percebem o uso da problemática de dro-
gas como dependência química, deixando de lado a compreensão que perpas-
sam os contextos sociais que não se limitam apenas a substância em si, mas às
suas maneiras de uso, os aspectos individuais e coletivos (QUINDERÉ; JORGE,
2013).
Efetivaente, pois, se inserem os trabalhos desenvolvidos pela rede de apoio
informal que se mostram potencializadoras do cuidado a pessoas em situação
de rua, haja vista a ausência de políticas públicas que abarquem as reais neces-
sidades dessa população que vive em condições de vulnerabilidades sociais. Ao
viver à margem da sociedade, essas pessoas buscam cuidados os mais diversos
e a rede informal, por vezes, se faz articuladora desse processo, quando as redes
formais se fazem ineficientes. Não foi, no entanto, mencionado pelas interlocu-
toras a articulação com essas redes informais.
Considerações finais
303
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Referências
305
ESTUDOS QUALITATIVOS:
Enfoques Teóricos e Técnicas de Coleta de Informações
Programa de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva associação ampla
entre a Universidade Estadual
do Ceará/ Universidade Esta coletânea compartilha o conhecimento interdisciplinar
Federal do Ceará/ Universidade constituído por 18 capítulos, os quais abrigam ensaios de elevado
de Fortaleza (2016). Pós- valor informacional, produzida por 61 autores nacionais e do
doutoranda no Programa de Pós Exterior (Espanha e Portugal), em sua maioria, vinculados
Graduação em Saúde Coletiva
ao ofício acadêmico, particularmente da seara do magistério
da Universidade de Fortaleza.
Mestra em Saúde Coletiva pela superior e em programas de pós-graduação stricto sensu. Todos
UECE (2013). os textos provêm de estudos qualitativos com análises procedidas
na contextura de instituições universitárias em programas de
CHRISTINA CÉSAR PRAÇA
BRASIL. Fonoaudióloga. pós-láurea, também de estreito sentido, de modo a alimentar
Doutora em Saúde Coletiva pelo a convicção de que esta seleta obra experimentará excelente
Programa de Pós-Graduação recepção por parte dos consulentes em todos os quadrantes por
em Saúde Coletiva - associação onde circular. Esta publicação oferece apoio ao ensino e estudos
ampla entre a Universidade teórico-metodológicos com ênfase em pesquisas com abordagem
Estadual do Ceará/
qualitativa e nas técnicas de coleta de dados.
Universidade Federal do Ceará/
Universidade de Fortaleza.
Docente do Programa de Pós-
graduação em Saúde Coletiva da
Universidade de Fortaleza.
ESCOLÁSTICA REJANE
FERREIRA MOURA.
Enfermeira. Docente Associada
I da Faculdade de Farmácia,
Odontologia e Enfermagem -
Departamento de Enfermagem
da Universidade Federal do
Ceará (UFC). Doutora em
Enfermagem pela UFC (2003).
Mestra em Enfermagem pela
UFC (2001). Especialista em
Perinatologia (1999).
308