Cap°tulo 5

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

5.

ABSTRAÇÕES HIDROLÓGICAS

As abstrações hidrológicas são os processos do ciclo hidrológico que reduzem a


precipitação total à precipitação efetiva, podendo eventualmente dar origem ao escoamento
superficial. As principais abstrações hidrológicas são: a intercepção, o armazenamento em
depressões do terreno, a infiltração, a evaporação e a evapotranspiração.

5.1 Intercepção

A perda por intercepção (ou interceptação) corresponde à fração da precipitação


que fica retida (ou é absorvida) pela vegetação e que eventualmente retorna à atmosfera
através de evaporação. Considere a altura em mm de precipitação sobre uma área coberta
por vegetação, tal como indicada na Figura 5.1. Considere também que C representa a
precipitação (mm) que atravessa a copa das árvores e que T simboliza a parte da
precipitação que escoa através dos troncos (mm). A equação da continuidade, aplicada ao

P  precipitação total

C  precipitação que atravessa a vegetação

T  precipitação que escoa pelos troncos


C T

Figura 5.1 - Variáveis envolvidas no processo de intercepção.

processo de intercepção pode ser escrita como


SI  P  C  T (5.1)
onde SI (mm) é a fração da precipitação correspondente à perda por intercepção. Embora
seja uma prática restrita apenas a estudos experimentais, a equação 5.1 pode ser usada
para quantificar a perda por intercepção a partir das outras variáveis envolvidas. Isso se faz

5.1
mediante a instalação de pluviômetros acima e abaixo da copa das árvores e de colares em
torno de seus troncos, os quais recolhem e desviam a água para recipientes com graduação
volumétrica apropriada. Estudos experimentais dessa natureza mostram que fatores
diversos como a altura, a intensidade e a duração da precipitação, bem como a extensão, a
densidade e o estágio de desenvolvimento da vegetação, afetam significativamente a perda
por intercepção.
De acordo com Ponce (1989), as chuvas leves, de pequena duração, sofrem perdas
substanciais por intercepção. Como essas chuvas são muito freqüentes, elas respondem por
grande parte da perda média anual por intercepção, a qual se situa em torno de 25% da
precipitação média anual. Para precipitações moderadas, a perda por intercepção situa-se
entre 3 e 36% da altura de chuva, dependendo das características da cobertura vegetal. Para
precipitações intensas e menos freqüentes, a perda por intercepção representa apenas uma
pequena fração da altura total de chuva. Em conseqüência, é prática comum desprezarem-
se as perdas por intercepção em estudos hidrológicos relativos às grandes enchentes.

5.2 Armazenamento em Depressões do Terreno

Outra abstração hidrológica é representada pelo armazenamento de parte da


precipitação em depressões naturais ou artificiais do terreno. A partir do momento em que
a intensidade da chuva supera a capacidade de infiltração (ver item 5.3), o excesso de
chuva inicia o armazenamento em depressões. Essas depressões, em geral superpostas e
interconectadas, variam muito em termos de área e volume. Atingida a capacidade de
armazenamento das depressões menores, inicia-se o escoamento superficial em direção às
depressões maiores e à rede de drenagem. Com a continuidade do excesso de chuva, as
depressões maiores também atingem suas capacidades de armazenamento e, em
conseqüência, intensifica-se o escoamento superficial em direção às calhas fluviais. Ao
final da precipitação, a água acumulada nas depressões pode tanto infiltrar-se como
evaporar-se.
Segundo Linsley et al. (1975), muitas bacias apresentam alturas equivalentes da
capacidade de armazenamento em depressões entre 10 e 50 mm. Entretanto, estimativas
razoavelmente precisas do armazenamento em depressões são de difícil obtenção. Em
razão disso, é usual, em alguns estudos hidrológicos, arbitrar-se um valor um pouco maior
à perda por intercepção, buscando dessa forma incorporar o volume armazenado em

5.2
depressões; a quantificação combinada dos dois processos é geralmente conhecida por
abstração inicial.
O armazenamento em depressões pode exercer influência considerável na formação
de enchentes em uma bacia hidrográfica. A existência de grandes depressões naturais,
terraços e o cultivo em curvas de nível tendem a atenuar as vazões de pico dos hidrogramas
de cheia, ao passo que os terraplenos e as obras de drenagem possuem efeito contrário
sobre elas.

5.3 Infiltração

A infiltração é o movimento da água através da superfície para o interior do solo,


distinguindo-se da percolação que se refere ao movimento da água dentro do solo. A
infiltração e a percolação ocorrem nas camadas superiores do solo, as quais são
constituídas por fragmentos de matéria inorgânica de várias dimensões e diferente
composição mineralógica, assim como de matéria orgânica, ar e água. Os vazios ou poros
do solo compreendem os espaços existentes entre os agregados estruturais e os espaços no
interior dos próprios grãos constituintes, conforme ilustrados na Figura 5.2.

agregado estrutural

poros

poros

Figura 5.2 - Poros ou vazios em uma amostra de solo

Os poros ou vazios de um solo têm dimensões muito variáveis. Por permitirem a


percolação descendente da água sob a ação da gravidade, os poros de maior diâmetro são
chamados poros gravitacionais. Os de menor diâmetro são chamados poros capilares, por
permitirem a retenção da água, sob a ação da tensão superficial entre os fragmentos do solo
e a superfície líquida. A água penetra e se movimenta no interior do solo pela ação
combinada das forças gravitacionais e capilares. Ambas agem verticalmente e provocam a
percolação da água infiltrada em direção às camadas mais profundas do solo. Entretanto, as

5.3
forças capilares também agem lateralmente, desviando parte da água gravitacional para os
poros capilares. Essa ação das forças capilares provoca o decréscimo progressivo do
escoamento gravitacional à medida que a frente de umidade avança em direção às camadas
mais profundas do solo. Além disso, a retenção de água pelas forças de capilaridade faz
com que o escoamento gravitacional se processe com resistência hidráulica
progressivamente maior através de poros cada vez menores, à medida que a precipitação
avança no tempo. Pelas mesmas razões, a quantidade de água que se infiltra no início de
uma chuva é menor se os poros capilares já estiverem sido preenchidos por um evento
chuvoso anterior.
Horton (1933) definiu o termo capacidade de infiltração, doravante simbolizado
por fp , como sendo a quantidade máxima de água que um solo, sob dadas condições, pode
absorver na unidade de tempo e por unidade de área horizontal. Portanto, a capacidade de
infiltração refere-se a uma razão de variação ou intensidade máxima de absorção de água e
suas unidades usuais são mm/h ou mm/dia. Em um dado instante, a intensidade atual de
infiltração fi será igual à capacidade de infiltração fp somente se a intensidade de chuva i
igualar ou exceder fp. Nesse caso, o volume de chuva que excedeu a capacidade máxima de
absorção do solo poderá acumular-se em depressões ou transformar-se em escoamento
superficial. Contrariamente, se a cada instante i  fp , então todo o volume de precipitação
irá se infiltrar, aumentando o teor de umidade retida no solo ou percolando para os
aqüíferos. Essas duas situações estão indicadas na Figura 5.3, através de reservatórios
hipotéticos.
i < fp i > fp

capacidade de
infiltração
escoamento
superficial
infiltração

capacidade de
armazenamento de
umidade do solo

percolação para
os aqüíferos

escoamento subterrâneo escoamento subterrâneo

Figura 5.3 - Representação do mecanismo da infiltração através de reservatórios


hipotéticos.

5.4
Fatores Intervenientes
A infiltração é um processo bastante complexo que depende de uma série de fatores inter-
relacionados. Os principais são : a duração e a intensidade da chuva, as características
físicas e o teor de umidade do solo, a cobertura vegetal e o manejo da terra. Tal como foi
visto anteriormente, a retenção progressiva da água nos poros capilares provoca a redução
da capacidade de infiltração com a duração da chuva (Figura 5.4). Vê-se também nessa
figura que somente quando se inicia o escoamento superficial, é que a intensidade de
infiltração irá atingir o valor máximo instantâneo, ou seja a capacidade de infiltração
naquele instante. A influência da textura do solo na variação da capacidade de
infiltração

Precipitação
Precipitacao, Infiltracao e Escoamento Superficial (mm/h)

Infiltração

Escoamento
Superficial

Tempo desde o inicio da chuva (h)


Figura 5.4 - Variação temporal da capacidade de infiltração e do escoamento superficial
durante uma chuva de intensidade uniforme

pode ser visualizada na Figura 5.5a. Um solo arenoso, com poros de grande diâmetro,
drena mais efetivamente a água gravitacional e tem maior capacidade de infiltração do que
um solo argiloso. Por outro lado, a presença de cobertura vegetal não só atenua o efeito
compactador provocado pelo impacto das gotas de chuva, como também cria condições
favoráveis para a ação escavadora de insetos e animais, além de pequenas fissurações no
solo, ao longo das raízes da planta. A combinação desses efeitos faz com que a presença de
vegetação atue no sentido de aumentar a capacidade de infiltração, como exemplificado na

5.5
Figura 5.5b. Além disso, a macro-estrutura do terreno também tem influência sobre a
capacidade de infiltração. Terrenos arados ou cultivados favorecem a absorção de água
pelo solo (Figura 5.5c). Finalmente, se o solo estiver seco no início da chuva, a infiltração
será grandemente facilitada; contrariamente, um maior teor de umidade presente no solo
irá atuar no sentido de diminuir a capacidade de infiltração (Figura 5.5d).

a b
Capacidade de Infiltracao (mm/h)

Capacidade de Infiltracao (mm/h)


Solo com Cobertura
Textura grosseira Vegetal
Solo arenoso

Textura fina
Solo argiloso Solo Desnudado

Tempo desde o inicio da chuva (h) Tempo desde o inicio da chuva (h)

c d
Capacidade de Infiltracao (mm/h)
Capacidade de Infiltracao (mm/h)

Solo Cultivado

Solo Abandonado Solo Seco

Solo Saturado

Tempo desde o inicio da chuva (h) Tempo desde o inicio da chuva (h)

Figura 5.5 - Fatores Intervenientes na Variação da Capacidade de Infiltração

Além dos fatores intervenientes mencionados, cabe notar a enorme influência das ações
humanas sobre o processo de infiltração. A compactação do solo devida à circulação de
veículos, o desmatamento provocado pela exploração de extensas áreas agrícolas, o
desnudamento e a impermeabilização resultantes da construção ou expansão de cidades
concorrem para o decréscimo da capacidade de infiltração. As conseqüências óbvias dessas

5.6
ações são a maior disponibilidade de água para o escoamento, um menor tempo para a
concentração desse escoamento na rede de drenagem e enchentes cada vez mais
freqüentes.

Medição da Capacidade de Infiltração


A capacidade de infiltração pode ser medida em um dado local através de infiltrômetros
ou através de simuladores de chuva. Os infiltrômetros são cilindros metálicos, com 20 a
90 cm de diâmetro, os quais são cravados verticalmente no solo de forma que uma pequena
altura livre reste sobre este. Durante a medição da capacidade de infiltração, mantém-se
sobre o solo uma camada de água de espessura constante entre 0,5 e 2 cm. O volume de
água necessário para manter o nível constante é controlado por um reservatório de
alimentação graduado. Dividindo-se esse volume pela área do cilindro e pelo intervalo de
tempo, obtém-se a estimativa de capacidade de infiltração média naquele local. Fatores
como a ausência do efeito de compactação pelas gotas de chuva, a deformação estrutural
do solo com a cravação dos cilindros e a fuga de ar para a área externa dos tubos podem
resultar em erros consideráveis para as estimativas da capacidade de infiltração, obtidas
por infiltrômetros. Esses inconvenientes podem ser evitados pelo uso de simuladores de
chuva. Nesse caso, utilizam-se aspersores para provocar chuva artificial de intensidade
uniforme superior à capacidade de infiltração, de modo a permitir escoamento superficial.
As áreas de aplicação de chuva podem variar de 0,10 a 40 m2 . Conhecendo-se a
intensidade de chuva artificial e medindo-se o escoamento superficial resultante, pode-se
deduzir a capacidade de infiltração daquele local (ver Figura 5.4).

Fórmulas para Cálculo da Capacidade de Infiltração Pontual


Existem várias fórmulas que pretendem traduzir a variação temporal da capacidade de
infiltração, durante um episódio de chuva, em um dado ponto de uma bacia hidrográfica.
Uma das mais conhecidas é a fórmula de Horton, dada pela seguinte expressão :

 
f p  f c  f 0  f c exp k t  (5.2)

onde fp representa o valor instantâneo da capacidade de infiltração no tempo t contado a


partir do início da chuva, f0 é o valor inicial, fc é o valor mínimo e k é uma constante
característica do solo. As unidades são [mm/h] para fp , fc e f0 , [h] para t e [h-1] para a
constante k. Observe que para t=0, fp=f0 e para t, fpfc (Figura 5.6). A equação 5.2
possui três parâmetros : a capacidade de infiltração inicial, a capacidade final e uma

5.7
constante de decaimento exponencial. Esses parâmetros podem ser determinados através
de medições locais por infiltrômetros ou simuladores de chuva. Para isso, estima-se
inicialmente o valor de fc através de um gráfico representativo da variação temporal das
capacidades de infiltração medidas. De posse do valor de fc, escolhem-se no gráfico dois
conjuntos para fp e t, os quais são em seguida substituídos na equação 5.2 para constituir
um sistema de duas equações e duas incógnitas. As soluções simultâneas desse sistema
fornecem os valores de f0 e k.

f0
Capacidade de Infiltracao ( mm/h )

Fórmula de Horton

fp = fc + ( f0 - fc ) exp ( -k t )

fc

Tempo (horas)
Figura 5.6 - Fórmula de Horton para a Variação Temporal da Capacidade de Infiltração

Os valores típicos da capacidade de infiltração ao final de 1 hora de precipitação, para


alguns tipos de solos, encontram-se listados na Tabela 5.1. Em geral, esses valores
aproximam-se das capacidades finais de infiltração fc.

Tabela 5.1 - Valores típicos da Capacidade de Infiltração ao fim de 1 hora (Lencastre &
Franco, 1984)
Tipo de Solo fp (t=1) em mm/h
Infiltração Elevada (solos arenosos) 12,50-25,00
Infiltração Média (solos siltosos) 2,50-12,50
Infiltração Baixa (solos argilosos) 0,25-2,50

5.8
Pela fórmula de Horton, o volume total infiltrado F, em mm, ao fim de um tempo t é dado
por
f0  fc
 fc   f0  fc  expkt  dt  fc t   
t
F exp kt   1 (5.3)
0 k

Exemplo : Suponha que, em um dado local, foram determinados os seguintes parâmetros


da fórmula de Horton : f0=3,5 mm/h, fc=0,5 mm/h e k=0,90 h-1. Pede-se : (a) calcular a
capacidade de infiltração 2 horas depois do início da chuva; (b) o total infiltrado depois de
6 horas de chuva; e (c) estimar o volume escoado em m3 se a chuva de 6 horas foi de 10
mm, sobre uma bacia de 10 km2, cujas características de infiltração são homogêneas e
idênticas às descritas acima.
Solução :

 
(a) f p  f c  f 0  f c exp k t  =0,5+(3,5-0,5) exp(-0,902)=0,996 mm/h

(b) t=6 na Eq. 5.3  F=6,315 mm


(c) Seja S o volume de escoamento superficial. Pelo balanço hídrico : S=P-F= 3,685 mm,
distribuídos sobre 10 km2. Em m3 : S = 3,68510-31010-6 = 36850 m3.

A fórmula de Philip (1957), considerada menos empírica do que a de Horton, representa


outro modelo para a variação temporal da capacidade de infiltração em um ponto. Ela é
dada pela seguinte expressão :
s
fp  A (5.4)
2 t

onde s (mm/h0,5) é um parâmetro empírico proporcional à velocidade de penetração da


frente de umidade (ou frente de molhamento), A (mm/h) representa o valor mínimo da
capacidade de infiltração e t o tempo desde o início da precipitação. Os parâmetros s e A
estão relacionados respectivamente à influência das forças capilares e gravitacionais no
processo de infiltração. A infiltração acumulada F (mm), pela fórmula de Philip, é dada
por
F  s t  At (5.5)

5.9
Cálculo da Infiltração Espacial
As variabilidades espacial e temporal dos parâmetros presentes nas fórmulas de infiltração
tornam-nas de difícil aplicação em grandes superfícies heterogêneas, sujeitas a
intensidades de precipitação não uniformes. Esse fato conduz à utilização dos chamados
“índices de infiltração”, os quais representam modelos aproximados, porém de uso
prático, do processo de infiltração. Esses índices pressupõem que a capacidade de
infiltração de uma área (ou bacia) seja constante ao longo da duração da precipitação.
Como de fato, a capacidade de infiltração decresce exponencialmente com o tempo, os
índices de infiltração subestimam seu valor inicial e superestimam seu valor final; dessa
forma, espera-se que esses valores se compensem e que sejam obtidos boas estimativas do
volume de infiltração ao fim do episódio chuvoso. O índice de infiltração mais simples e
mais utilizado na prática é o índice . Esse índice é definido como o valor constante a ser
subtraído das intensidades variáveis de chuva de forma a obter o volume de escoamento
superficial observado. De posse da distribuição temporal da precipitação e do volume
observado (ou altura equivalente) de escoamento superficial, calcula-se o índice  através
do processo de tentativa-erro, tal como exemplificado a seguir.

Exemplo : Uma precipitação de duração 6 horas teve a seguinte distribuição espacial :


Tempo (h) 0-1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6
Intensidade de 4 16 13 2 11 4
Chuva (mm/h)

Se o volume observado de escoamento superficial foi S=20 mm, calcule o índice .


Solução : A altura total de chuva foi de 50 mm, o que significa que a altura equivalente do
volume de infiltração foi de 50-20=30 mm. Supondo-se que o índice  esteja
compreendido entre 5 e 10 mm/h, a solução iterativa faz-se através da seguinte equação :
(i1-2 - )t + (i2-3 - )t + (i4-5 - )t = S ou
(16-)1+(13-)1+(11-)1 = 20   = 6,667 mm/h, encontrando-se portanto no
intervalo entre 5 e 10 mm/h, como inicialmente suposto. Caso essa suposição estivesse
incorreta, o valor calculado estaria fora do intervalo e se procederia a uma nova tentativa.
Agora, faça um gráfico da variação temporal das intensidades de precipitação para o
exemplo acima. Você irá verificar que temos 20 mm acima do índice , correspondentes ao
escoamento superficial, e 30 mm abaixo, esses relativos ao volume de infiltração.

5.10
5.4 Evaporação

A evaporação é o processo pelo qual a água acumulada nas depressões do terreno


ou em corpos d’água, como lagos e reservatórios, transforma-se em vapor e retorna à
atmosfera. A evaporação ocorre quando as moléculas de água adquirem energia cinética
suficiente para se libertarem da superfície líquida. A energia necessária por unidade de
massa corresponde ao calor latente de vaporização, o qual provem das trocas de radiação e
calor na atmosfera. Na linha de contato entre a superfície líquida evaporante e o ar, há uma
troca contínua de moléculas em estados líquido e gasoso. À medida que o processo de
evaporação continua, a pressão de vapor na camada imediatamente acima da superfície
evaporante aumenta até atingir o seu valor de saturação. Para que o processo de
evaporação continue, é necessário que aquela camada de ar saturado de vapor d’água seja
removida e, conseqüentemente, possa existir um “déficit de saturação”. A remoção da
camada de ar saturado é proporcionada pelo vento atuante sobre a superfície líquida.
Portanto, para haver e manter a evaporação é preciso : (a) que haja suprimento de energia;
(b) que exista um gradiente de pressão de vapor entre a superfície evaporante e a
atmosfera; e (c) que haja vento atuante. Essa descrição qualitativa permite concluir que o
processo de evaporação compreende duas etapas : transferência de calor e transferência de
massa.

Grandezas Características e Fatores Intervenientes


Do ponto de vista da engenharia hidrológica, as grandezas características do processo são a
‘perda’ por evaporação e a intensidade de evaporação. A ‘perda’ por evaporação é a
quantidade de água evaporada por unidade de área horizontal; é geralmente expressa em
mm. A intensidade de evaporação é a velocidade com que se processa a perda por
evaporação, sendo geralmente expressa em mm/dia ou mm/mês. Por exemplo, durante o
mês de Janeiro de 1986, a perda por evaporação do reservatório de Três Marias foi de 168
mm, à intensidade de 5,42 mm/dia. As grandezas características do processo de evaporação
são dependentes de vários fatores. Os mais importantes são : a radiação solar, as
temperaturas do ar e da água, a pressão de vapor (ou umidade relativa) presente no ar, a
velocidade do vento e a pressão atmosférica.
Conforme visto no capítulo 3, o balanço entre a radiação de ondas curtas proveniente do
Sol e a radiação de ondas longas da Terra permite o fornecimento de calor latente de
vaporização e calor sensível para o processo de evaporação. A perda por evaporação é

5.11
proporcional ao balanço entre a energia solar incidente e a energia de ondas longas
perdida pela superfície evaporante. Outros termos importantes a se considerar nesse
balanço energético são as transferências de calor sensível por condução e convecção entre
a superfície evaporante e a atmosfera e por advecção entre o corpo d’água e os rios
afluentes. Esses termos são dependentes principalmente das temperaturas do ar e da água.
A influência da umidade relativa do ar no processo de evaporação pode ser visualizada
pela curva da pressão de vapor de saturação em função da temperatura (Figura 5.7). Nessa
figura, suponha que o ar esteja à temperatura T1 e que contenha vapor à pressão e1. O défi-
PRESSAO DE VAPOR DE SATURACAO (milibares)

120

100

80

e2
60

e2-e1
40

e1
20

0
T2 T1
10 30 50
0 20 40
TEMPERATURA (graus Celsius)

Figura 5.7 - Influência da Umidade Relativa do Ar no Processo de Evaporação

cit de evaporação é (e2-e1) indicando a quantidade máxima de vapor d’água que pode ser
acrescida a esse volume de ar à temperatura T1. Logo, vê-se que, mantida a temperatura do
ar, a evaporação é diretamente proporcional ao déficit de saturação (e2-e1). Como por
definição a umidade relativa do ar é U=100(e1/e2), conclui-se que essa grandeza é
inversamente proporcional à perda por evaporação. Ainda com relação à Figura 5.7,
observe que se o ar estiver à temperatura T2 < T1, o déficit de saturação será menor, a
umidade relativa maior e, em conseqüência, a evaporação será inferior àquela observada à
temperatura T1.

5.12
A saturação do ar próximo à superfície líquida evaporante interrompe o processo de
evaporação. Para que ele continue, é necessário que o ar saturado seja removido através da
ação do vento. Maiores velocidades do vento próximo à superfície evaporante implicam
em maiores intensidades de evaporação.
A influência da pressão atmosférica no processo de evaporação é pequena. Embora essa
influência não seja considerada na maioria dos estudos hidrológicos, pode-se afirmar que
quanto maior a altitude, menor a pressão atmosférica e maior é a intensidade de
evaporação.

Cálculo da Evaporação de um Corpo d’Água


A evaporação de um lago ou reservatório não pode ser medida diretamente. Por essa razão,
o cálculo da evaporação de um corpo d’água faz-se através de abordagens indiretas, entre
as quais se destacam (a) o método do balanço hídrico; (b) a fórmula de Penman; e (c) a
medição por tanques evaporimétricos.

a) Método do Balanço Hídrico


Considerando-se que os estados de armazenamento de uma lago ou reservatório sejam
conhecidos e que todas as afluências e defluências possam ser medidas em um dado
intervalo de tempo, a evaporação pode ser calculada por
E = P + A - D - I - S (5.6)
onde E é evaporação, P é a precipitação direta sobre o espelho d’água, A e D simbolizam
as somas das afluências e defluências respectivamente, I a infiltração e S a alteração de
volume no intervalo de tempo considerado. As unidades de todos os termos da equação 5.6
são de volume ou altura equivalente sobre a área do reservatório. Com exceção da
infiltração, todos os outros termos da equação 5.6 podem ser medidos com relativa
facilidade. Entretanto, a dificuldade de se avaliar a infiltração faz com que a aplicação do
método do balanço hídrico restrinja-se a reservatórios ou lagos pouco profundos, sobre
terrenos pouco permeáveis.

b) Fórmula de Penman
Penman (1948) combinou as equações de transferência de energia e de massa no
desenvolvimento de sua fórmula para o cálculo da evaporação de um corpo d’água. A
fórmula de Penman pode ser expressa da seguinte forma :

5.13
 En  Ea
E (5.7)
1
onde E é a intensidade de evaporação em cm/dia, Ea representa a intensidade de
evaporação em cm/dia devida às trocas de massa, En a intensidade de evaporação em
cm/dia devida à transferência de energia e  é um fator de ponderação. O termo En pode
ser avaliado por
Qn
En  (5.8)
 Hv

onde Qn simboliza a radiação solar líquida, medida por aparelhos chamados radiômetros e
expressa em cal/cm2/dia,  é a massa específica da água em g/cm3 e Hv é o calor latente de
vaporização em cal/g. O termo Ea pode ser calculado pela expressão
 100  U 
Ea   0,013  0,00016v2  es   (5.9)
 100 

na qual, v2 é a velocidade do vento medida a 2 metros acima da superfície e expressa em


km/dia, es é a pressão de vapor de saturação em milibares, à temperatura do ar T C, e U é
a umidade relativa do ar. O fator de ponderação  é uma função da temperatura do ar T
(C) e dado por


 0,00815 T  0,8912
7
(5.10)
0,66

Exemplo : Calcular a intensidade de evaporação pela fórmula de Penman para as seguintes


condições atmosféricas : temperatura do ar T=28C, radiação solar líquida Qn=670
cal/cm2/dia, velocidade do vento v2=180 km/dia e umidade relativa do ar U=82%.
Solução :
-cálculo da pressão de vapor de saturação es
Equação 3.3 com T=28C  es=37,38 mb
-cálculo de Ea
Equação 5.9  Ea=0,284 cm/dia
-cálculo de Hv (ver exercício 7, capítulo 3)
supondo que a temperatura da água é a mesma do ar, Hv=597,3-0,564T = 581,51 cal/g
-cálculo de En
Equação 5.8 com =1g/cm3  En=1,152 cm/dia
-cálculo de 

5.14
Equação 5.10  =3,337
-cálculo de E
Equação 5.7  E=0,952 cm/dia ou 9,52 mm/dia

c) Medição por Tanques Evaporimétricos


As limitações do método do balanço hídrico e a dificuldade de avaliação de alguns
elementos da fórmula de Penman conduziram à medição indireta da evaporação através de
tanques evaporimétricos. Esses são pequenos reservatórios impermeáveis, cheios de
água, expostos às condições atmosféricas e instalados próximos ao lago ou reservatório
cuja evaporação se quer determinar. A evaporação diária do tanque evaporimétrico é
obtida pelo princípio do balanço hídrico. Apesar de existirem vários tipos de tanques
evaporimétricos, o de uso mais difundido no Brasil é o chamado “tanque classe A”,
originalmente padronizado pelo U.S. Weather Bureau. Trata-se de um tanque circular,
construído em ferro galvanizado sem pintura, de diâmetro 122 cm e altura 25,4 cm, tal
como mostrado na Figura 5.8.

tanque

Planta 
122 cm
pluviômetro
micrômetro
5cm

Poço Estrado de
25,4cm
tranqüilizador madeira

15 cm

Figura 5.8 - Tanque Evaporimétrico “Classe A”

O tanque “classe A” é montado sobre um estrado de madeira de 15 cm de altura. Deve-se


encher o tanque até que a superfície da água esteja a 5 cm dos bordos. O nível d’água é
medido às 9 horas de cada dia através de um micrômetro, solidário a uma ponta de leitura
instalada dentro de um poço tranqüilizador. Se não ocorrer precipitação, a evaporação
diária é dada pela diferença entre duas leituras consecutivas. Entretanto, se houver
precipitação, deve-se somar a altura diária, medida pelo pluviômetro, à diferença entre as
leituras consecutivas do tanque evaporimétrico.

5.15
Devido às suas pequenas dimensões, relativamente às de um lago ou reservatório, o tanque
evaporimétrico recebe maiores afluxos de energia por radiação e também por condução
pela base e pelos lados. A ação do vento de remoção da camada de ar saturado também é
relativamente facilitada. Esses fatores fazem com que os dados obtidos por tanques
evaporimétricos superestimem a evaporação diária de um lago ou reservatório. Por essa
razão, é usual corrigirem-se os dados de tanques evaporimétricos através do chamado
“coeficiente de tanque”, esse sempre inferior à unidade. Esse coeficiente varia com o
local, com a época do ano e com a profundidade do corpo d’água; essa variação,
entretanto, é de difícil determinação. Na região sudeste do Brasil, é usual adotar-se um
valor constante entre 0,7 e 0,8 como fator de correção para os dados evaporimétricos
obtidos através de tanques “classe A”.

5.5 Evapotranspiração

A evapotranspiração é o processo pelo qual a água armazenada nos lagos, nos


reservatórios, nos cursos d’água, no solo e na vegetação transforma-se em vapor e retorna à
fase atmosférica do ciclo hidrológico. Nesse sentido, a evapotranspiração inclui todo o
volume de água que retorna à atmosfera sob a forma de vapor, seja por evaporação das
superfícies líquidas ou da umidade do solo, seja por transpiração das plantas.
A transpiração consiste basicamente no transporte da água retida no solo até a
superfície das folhas, pela ação das raízes das plantas. A transpiração inicia-se quando a
diferença de concentração entre a seiva dentro das raízes e a água retida no solo cria uma
pressão osmótica que força a entrada de água para o interior da planta. Em seguida, a água
é transportada até os espaços intercelulares existentes no interior das folhas. Essas possuem
aberturas, chamadas estômatos, que permitem a entrada de ar e gás carbônico para o
interior das plantas. O processo de fotossíntese consiste na produção de carboidratos,
fundamentais para o desenvolvimento da planta, a partir de uma pequena fração da água
disponível e do dióxido de carbono absorvido através dos estômatos. Entretanto, quando os
estômatos se abrem, a água escapa através deles e atinge a superfície das folhas, onde ela
torna-se sujeita à evaporação. Segundo Linsley et al. (1975), a razão entre a quantidade de
água que retorna à atmosfera por transpiração e a quantidade de água que é efetivamente
usada para o desenvolvimento da planta é superior a 800.
Da mesma forma que a evaporação do solo, a transpiração está limitada ao volume
de água retida sob a ação das forças de capilaridade. De acordo com a representação por

5.16
reservatórios hipotéticos, anteriormente utilizada no item 5.3, o armazenamento de
umidade do solo por retenção capilar possui limites como os indicados na Figura 5.3. Em
agronomia, é usual referir-se ao limite superior como a capacidade de campo,
correspondente à posição do extravasor do segundo reservatório da Figura 5.3. Esse limite
refere-se ao volume de água que fica retida no solo após completar-se a drenagem por
gravidade; segundo Linsley et al. (1975), a capacidade de campo é obtida quando se
submete uma amostra de solo saturado a uma pressão de 1/3 atmosferas. Da mesma forma,
o limite inferior, chamado de ponto de murchamento permanente, representa o teor de
umidade do solo abaixo do qual as raízes das plantas não conseguem extrair a água de que
necessitam e iniciam a fase de definhamento. O ponto de murchamento permanente é
obtido experimentalmente submetendo-se uma amostra de solo à pressão de 15 atmosferas.
A diferença entre esses dois limites representa a capacidade de armazenamento de umidade
do solo, também indicada na Figura 5.3. Essa umidade disponível corresponde à máxima
quantidade de água que pode ser usada para os processos de evaporação da água do solo e
de transpiração das plantas. Os valores típicos do teor de umidade, nos limites da
capacidade de campo e do ponto de murchamento permanente, de alguns tipos de solos
encontram-se listados na Tabela 5.2. Observe que um solo arenoso, no qual predominam os
poros de grandes dimensões, é bastante permeável à água gravitacional tendo, em
conseqüência, pequena capacidade de armazenamento de umidade por retenção capilar.
Por outro lado, um solo argiloso possui grande capacidade de armazenamento de água
capilar, porém é pouco permeável à água gravitacional.

Tabela 5.2 - Valores Típicos de Umidade para alguns tipos de Solo, em porcentagem do
peso de solo seco (adap. Linsley et al., 1975)
Tipo de Capacidade de Ponto de Murchamento Umidade Disponível
Solo Campo Permanente
arenoso 5 2 3
siltoso 22 13 9
argiloso 36 20 16
A limitação da intensidade de evapotranspiração, imposta pela quantidade de
umidade disponível do solo, tornou necessária a introdução do conceito de
evapotranspiração potencial (ETPpot). A evapotranspiração potencial é definida como a
evapotranspiração que ocorreria caso o solo apresentasse, a todo instante, um teor de
umidade suficiente para levar a planta à plena maturidade. Isso equivale a dizer que a
retenção capilar deve estar a todo instante em um valor igual ou pouco inferior à
capacidade de campo. A ETPpot distingue-se da evapotranspiração real ou efetiva (ETPreal),

5.17
a qual se refere à evapotranspiração ocorrida sem nenhuma restrição ao deplecionamento
da retenção capilar, podendo esse armazenamento chegar a valores inferiores ao ponto de
murchamento permanente. Em regiões áridas, a ETPpot e a ETPreal podem apresentar
valores bastante distintos; a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial
representa um valor proporcional ao volume de água a ser suprido por irrigação. Em
regiões úmidas, com precipitação uniformemente distribuída ao longo do ano, a ETPpot e a
ETPreal podem apresentar valores próximos.
Quando o deplecionamento da retenção capilar pode ocorrer livremente, a
evapotranspiração real depende principalmente da umidade disponível e das propriedades
do solo, tais como composição mineralógica, textura e granulometria. Se a camada
superficial do solo está úmida, o tipo, a coloração, a densidade e o período de crescimento
de uma planta afetam a exposição, a distribuição e a reflexão da radiação solar pela
folhagem, assim como a turbulência do ar. Inversamente, a radiação solar e a turbulência
do ar afetam a abertura dos estômatos dos diversos tipos de plantas, alterando desse forma
a transmissão da água de seus sistemas radiculares até as folhas. Essa dependência mútua e
a prevalência dos fatores meteorológicos conduzem à generalização da idéia de que, sob
condições potenciais, a evapotranspiração é regida principalmente pelas condições
atmosféricas.Por isso, alguns autores sugerem que os mesmos métodos de cálculo usados
para a evaporação de superfícies líquidas sejam também utilizados para o cálculo da
evapotranspiração potencial, sem ou, às vezes com, correção devida aos fatores
vegetativos.

Cálculo da Evapotranspiração Potencial

a) Fórmula de Penman
A fórmula de Penman (Eq. 5.7) foi originalmente concebida para expressar a evaporação
de superfícies líquidas. Alguns estudos experimentais, realizados no hemisfério norte,
sugerem um fator de correção entre 0,6 e 0,8 para obtenção da evapotranspiração potencial
a partir da equação 5.7. Outros estudos sugerem que a evapotranspiração potencial é
equivalente à evaporação de superfícies líquidas. Nesse caso, os dados obtidos pela
equação 5.7 podem ser usados para expressar as intensidades da ETPpot. Segundo Ponce
(1989), a sólida fundamentação física e a flexibilidade da fórmula de Penman permitem a
sua utilização tanto para o cálculo da evaporação de superfícies líquidas quanto da
evapotranspiração potencial, sem nenhum fator de correção.

5.18
b) Medição por Tanques Evaporimétricos
Os tanques evaporimétricos, descritos no item 5.4, medem os efeitos da radiação solar,
vento, temperatura e umidade sobre a evaporação de superfícies líquidas. A vegetação está
sujeita a essas mesmas condições meteorológicas, mas podem responder diferentemente a
elas, no que se refere à evapotranspiração. A despeito dessas diferenças, os dados de
tanques evaporimétricos tem sido utilizados para se estimar as intensidades de
evapotranspiração potencial. Nesse caso, utiliza-se a seguinte fórmula :
ETPpot  K Etanque (5.11)

onde K é o fator de correção, inferior a 1 e dependente das características da vegetação e


das condições de instalação do tanque, e Etanque representa as medições obtidas pelo tanque
evaporimétrico. Ponce (1989) apresenta valores de K variando entre 0,45 e 0,85, conforme
as características da vegetação, as condições de instalação e manutenção do tanque e
diferentes fatores meteorológicos. Para a região sudeste do Brasil e na ausência de estudos
experimentais detalhados, sugere-se atribuir valores entre 0,7 e 0,8 ao fator de correção.

Medição da Evapotranspiração
A evapotranspiração potencial pode ser medida através de aparelhos denominados
evapotranspirômetros, cujo princípio de funcionamento encontra-se esquematizado na
Figura 5.9. Com relação a essa figura, se P representa a precipitação (ou o volume de
irrigação expresso em altura equivalente) tal que o teor de umidade do solo seja mantido à
capacidade de campo, então é válida a expressão
ETPpot  P  S (5.12)

onde S representa o volume medido de água drenada por gravidade. Sem a aplicação de
chuva artificial, isto é se o teor de umidade do solo puder se deplecionar livremente até
mesmo abaixo do ponto de murchamento permanente, o evapotranspirômetro torna-se o
lisímetro, aparelho destinado a medir a evapotranspiração real ou efetiva.

5.19
P

Capacidade
de Campo

Figura 5.9 - Esquema do Princípio de Funcionamento de um Evapotranspirômetro.

Exercícios

1) Com relação à fórmula de Horton, mostre que F, o volume total de infiltração acima da
f0  fc
linha fp = fc , é dado por F  .
k
2) Estime os parâmetros da fórmula de Horton para as seguintes medições infiltrométricas

Tempo (h) fp (mm/h)


1 2,250
3 1,143
 0,900

3) Estime os parâmetros da fórmula de Philip para o exercício 2.


4) Dadas as medições infiltrométricas abaixo, estime os parâmetros da fórmula de Philip.

5.20
Tempo (h) fp (mm/h)
2 1,7
4 1,5

5) Durante um período de 14 horas, um pluviógrafo registrou a distribuição temporal de


chuva da tabela abaixo. Se a altura equivalente de escoamento superficial foi de 170
mm, calcule o índice .
Tempo (h) 0-2 2-4 4-6 6-8 8-10 10-12 12-14
Intensidade 12 23 40 33 4 12 5
Média (mm/h)

6) Conhecido o hietograma de chuva horária precipitada uniformemente sobre uma bacia


hidrográfica de área de 500 km2, empregar a fórmula de capacidade de infiltração de
Horton para calcular :
a) a chuva efetiva
b) o índice 
c) o volume de escoamento superficial em m3

Tempo (horas) 0-1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6


Altura de Chuva (mm) 38,7 33,4 25,0 16,3 12,5 11,8

Parâmetros da fórmula de Horton : f0 = 22,0 mm/h , fc = 11,1 mm/h , k = 0,32.

7) Durante o mês de Julho de 1981, a afluência média ao reservatório de Três Marias foi
de 430 m3 /s. No mesmo período, a CEMIG operou o reservatório liberando para
jusante uma vazão de 250 m3 /s para atendimento à navegação, sendo que a geração de
energia elétrica consumiu uma vazão adicional de 500 m3 /s. A precipitação mensal na
região foi de apenas 5 mm. O NA do reservatório era de 567 m no início do mês e
deplecionou para 565,80 m no final do mês. Dada a relação cota-área-volume do
reservatório e sabendo-se que a evaporação mensal medida em tanque classe A foi de
146 mm, calcule o coeficiente de tanque, ou seja o fator de transformação
{evaporação de reservatório/evaporação de tanque classe A}, válido para o local.
Despreze as perdas por infiltração e calcule a precipitação efetiva (precipitação-
evaporação) sobre o lago com base no NA médio mensal. Fazer interpolação linear na
relação cota-área-volume.

5.21
Reservatório de Três Marias - Relação Cota-Área-Volume

NA (m) Volume ( 109 m3 ) Área do reservatório (km2)


565,00 12,729 912
565,50 13,126 933
566,00 13,527 953
566,50 13,929 974
567,00 14,331 995
567,50 14,733 1018
568,00 15,135 1040

8) Use a fórmula de Penman para calcular a intensidade diária de evaporação para as


seguintes condições meteorológicas : temperatura do ar : 23 C, radiação solar líquida :
587 cal/cm2/dia, velocidade do vento a 2 m da superfície : 165 km/dia, umidade
relativa do ar : 53%.
9) Os métodos de Thornthwaite e de Blaney-Criddle utilizam principalmente dados de
temperatura para a estimativa da evapotranspiração potencial. Pesquise sobre esses
métodos e compare-os com a fórmula de Penman.
10) Existe alguma controvérsia quanto à equivalência entre a evaporação de superfícies
líquidas e a evapotranspiração potencial. Com base na fórmula de Penman, alguns
autores sugerem que o termo En, correspondente à transferência de energia, é maior
para superfícies líquidas, ao passo que o termo Ea, correspondente à troca de massa, é
maior para a evapotranspiração; dessa forma, os resultados se compensariam. Em seu
livro “Engineering Hydrology - Principles and Practices”, Ponce (1989, pp. 52)
apresenta uma discussão a esse respeito. Leia suas considerações.

5.22

Você também pode gostar