Teologia Especulativa PDF

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A Doutrina da Igreja

na Teologia Especulativa

Recensão do livro Spekulative Ekklesiologie:

Das Verstandnis der Kirche in der Dogmatik von

Philipp Konrad Marheineke, de Albrecht Titus Wolff

([Europaische Hochschulschriften, Reihe 23, N. 6321


Franfkurt a. M./Berlin/Bern/New York/Parisl
Wien: Peter lang, 1998, 321 p.)

o livro sob apreciação, Spekulative Ekklesiologie: Das


Verstandnis der Kirche in der Dogmatik von Philipp Konrad
Marheineke [Eclesiologia especulativa: a compreensão de Igre­
ja na dogmática de Philipp Konrad Marheineke], de Albrecht
Titus Wolff, vem brindar o leitor de teologia e filosofia da reli­
gião, interessado no período marcado pelo idealismo alemão
e sua variegada recepção, com uma nova e interessante contri­
buição.
O trabalho de Wolff suscita interesse sob dois aspectos.
Primeiro, por exercitar um novo olhar sobre a assim-chamada
ttteologia especulativa do início do século XIX, cujos maiores
R

representantes foram justamente Philipp Konrad Marheineke


(1780-1846), professor de dogmática em Berlim, e - pouco
antes dele -, Car! Daub (1765-1836), professor de teologia em

Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, p. 163-171


Heidelberg. (A escola especulativa notabilizou-se por refundar
a teologia sistemática a partir de um diálogo frutífero com o
idealismo alemão, sobretudo com as figuras de Friedrich W. J.
Schelling e Georg W. F. Hegel. ) Segundo, por concentrar-se no
desdobramento e na centralidade do tema eclesiológico em
Marheineke, fato novo na pesquisa.
De modo gerat as avaliações da teologia especulativa
têm sido determinadas pelo programa teológico que se pro­
põe "por trás" da interpretação histórica, seja ele o de uma
"teologia racional", para o qual a teologia especulativa perma­
neceria aquém do programa especulativo e da estatura princi­
palmente de Hegel - como nos casos de Falk WAGNER, Der
Gedanke der Persônlichkeit Gottes bei Ph. Marheineke, Neue
Zeitschrift für systematische Theo/ogie, v. lO, 1968, p. 44-88;
Ewald STÜBINGER, Die Theo/ogie Carl Daubs aIs Kritik der
positionellen Theologie, Frankfurt a. M.: Peter Lang, 1993; Eva­
Maria RU PPRECHT, Kritikvergessene Spekulation: Das Religions­
und Theologieverstandnis der spekulativen Theologie Ph. K.
Marheinekes, Frankfurt a. M.: Peter Lang, 1993 -; seja o de uma
teologia mais "ortodoxa", que, atendo-se ao veredito de Karl
Barth em sua obra Die protestantische Theologie im 19.
Jahrhundert(Zürich: EVZ, 1947t imputa à teologia especulativa,
especialmente à de Marheineke, uma adoção acrítica da "filo­
sofia" em detrimento da "revelação", apesar dos primeiros pas­
sos do próprio Marheineke, quando teria desafiado o Zeitgeist
reinante apesar de seu recurso a Schelling e Hegel.
O condicionamento das abordagens pela respectiva po­
sição programática foi argutamente percebido e tematizado
no período mais recente. Esta percepção pode ser colhida so­
bretudo do longo Literaturbericht de Jôrg Dierken, publicado
recentemente sob o título de Zur Theologiegeschichte des 19.
und frühen 20. Jahrhundert na Theologische Rundschau, v.
66, 2001, p. 194-239, 263-8Z Neste trabalho se analisam,
dentre várias outras obras sobre a teologia do século XIX ­
época em que a discussão necessariamente se dirige também
à teologia filosófica e à filosofia da religião, razão pela qual
não surpreende, por exemplo, a avaliação, por Dierken, de
reedições recentes de Hegel e de interpretações filosóficas e

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teológicas de sua teoria da religião -, também as obras
supracitadas. Além delas, o autor tece vários comentários tam­
bém a respeito da tese do próprio Wolff - objeto desta recensão
-, orientada pelo Prof. Joachim Ringleben, de Gõttingen, e do
meu próprio trabalho de doutorado, Metaphars afLight: Philipp
Konrad Marheineke's Method and the Ongoing Program of
Mediation Theology, (European University Studies, XXIII/622).
Bem: Peter lang, 1998.
De modo geral cabe dizer Que, cada uma a seu modo,
ambas as contribuições tentam ler Marheineke, tanto quanto
possível. fora do campo de gravitação do que eu gostaria de
chamar de "teoria do epígono". Embora Marheineke tenha sido
justamente considerado um "velho hegeliano" (prefiro a clas­
sificação generacionaJ da escola à ideológica, que a subdivide,
freqüentemente de modo esquemático, em esquerda, centro e
direita). de acordo com aquela teoria a sua contribuição é
vista invariavelmente sob o prisma do nível de realização filo­
sófica e teológica sobretudo de Hegel. Mas esta decisão reve­
la-se fatídica para a leitura, uma vez que a obra de Marheineke
é, por via de regra, primeiro desqualificada em relação à medi­
ação conceitual hegeliana; e, depois, remetida a um campo
teológico que, em termos gerais, identificar-se-ia com a "orto­
doxia" da época da Restauração.
Obviamente não iria resenhar meu próprio livro, e por­
tanto remeto o leitor e a leitora a sua leitura e avaliação.
Tampouco irei concentrar-me, portanto, nas semelhanças e
diferenças de abordagem que obviamente existem entre meu
trabalho e o de Wolff. Tratarei, isto sim, de (1) apresentar o
esquema geral da obra deste último ao leitor e à leitora de
língua portuguesa, concentrando-me após, para a viabilidade
desta recensão no curto espaço que lhe é destinado, em dois
outros pontos. Primeiro, no (2) veredito final sobre as relações
deste teólogo com Hegel. mas também com a obra de
Schleiermacher, de quem Marheineke tornou-se adversário
pessoal na sua época de Berlim, por razões talvez não estrita­
mente científicas (wissenschaftlich) - trato, aliás, de inculcar o
uso desta palavra "científico" para desafiar a concepção pobre
e autodefensiva de "ciência" que sói fazer apenas a louvação

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de si mesma, também nos estudos da religião. E segundo, na
(3) redescoberta da central idade da eclesiologia na obra de
Marheineke.
A obra de Wolff começa com um primeiro capítulo
introdutório ao tema, intitulado "Eclesiologia e teologia
especulativaO, ao que se segue, em nove páginas, uma biogra­
fia de Marheineke. Após isso a estrutura da obra é relativa­
mente simples, desdobrando-se em mais cinco capítulos. Des­
tes, os quatro primeiros concentram-se no estudo do desen­
volvimento da eclesiologia de Marheineke nas duas edições
de sua obra-prima, publicada pela primeira vez em 1819 sob o
título de "As doutrinas fundamentais da dogmática cristãO (Die
Grundlehren der christlichen Dogmatik, Berlin: Ferdinand
Dümmler, 1819), e em segunda edição sob o título "As doutri­
nas fundamentais da dogmática cristã expostas como ciênciao
(Die Grundlehren der christlichen Dogmatik aIs Wissenschaft
2. veranderte Aufl., Berlin: Duncker und Humblot, 182Z)
O segundo e o terceiro capítulos são devotados àquela
que se convencionou chamar a dogmática "schellingianaO de
Marheineke, sendo que no primeiro se apresentam "As pressu­
posições da eclesiologia de 1819° e no terceiro "O desdobra­
mento da eclesiologia de 1819°.
No segundo capítulo, que trata das "pressuposiçõeso, o
autor envida esforços por esclarecer o arcabouço conceitual
geral da Dogmática de 1819, concentrando-se na sua Introdu­
ção, que mais ou menos se identifica com os prolegomena à
moderna teologia evangélica (i. e. "protestanteO) deste histori­
ador da Igreja e teólogo luterano da época da União Eclesiás­
tica na Prússia. Alguns pontos altos da discussão se traduzem
na relação entre Igreja e Teologia; no tema da positividade da
religião enquanto "emoçãoo e "conhecimentoO; nos dois "ele­
mentosO constitutivos da religião, sua "idéia ° e "história"; e,
0
finalmente, na avaliação de "forma e "significadoo do concei­
to de "lgrejaO em sua relação de correspondência e relativo
contraste com o conceito de "religiãoo.
No terceiro capítulo, que tematiza o efetivo desdobra­
mento da eclesiologia no corpo dogmático propriamente dito

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da obra, Wolff se pergunta pelo lugar sistemático da eclesiologia
na Dogmática de 1819, discutindo, inicialmente, sua relação
com dois conceitos básicos: o da doutrina trinitária, por um
lado - o lado correspondente ao aspecto ideal da Igreja -, e o
da comunhão religiosa (Gemeinschaftl, por outro, correspon­
dente a seu aspecto histórico e fenomenológico. A Igreja é,
além disso, definida como "comunhão espiritual," na medida
em que é fundada por Cristo (p. 84) e expressão de sua "presen­
ça" (li 102ss). Por último, Wolff trata da definição de essência e
forma da Igreja, bem como de sua ação e futuro (p. 112-138).
No quarto capítulo, o autor volta-se para o tratamento
da dogmática "hegeliana" de Marheineke, a de 1827, onde o
teólogo de Berlim teria, supostamente, encontrado a forma
científica adequada de sua exposição teológica - note-se o
adendo aIs Wissenschaft, que desde há muito foi lido como
confissão de dependência da "ciência hegeliana" . O título do
capítulo adapta-se à estrutura de fundo, colocando-se a tarefa
de analisar, desta feita, "As pressuposições da eclesiologia de
1827". Como também faz o autor desta resenha, mas a seu
próprio modo, Wolff busca relativizar a idéia dominante de
uma ruptura abrupta e absoluta entre um "primeiro" e um "se­
gundo" Marheineke, o que transparece mais ao final do traba­
lho (p. 260-264). Wolff é inclusive bastante cuidadoso na análise
do que permanece e do que muda, mas a impressão geral é de
que o maior tratamento científico da eclesiologia, interesse prin­
cipal da pesquisa em questão, visa mais solucionar aporias
sistemáticas da t g edição do que reformular a dogmática a partir
do zero com base na filosofia do Conceito e do Espírito.
Em grande parte, a necessidade de uma reelaboração
dogmática, sobretudo da eclesiologia, se faz necessária a par­
tir do diagnóstico, agora mais agudamente percebido, que re­
vela a inadequação da aporia teológica surgida da oposição
absoluta de duas escolas ou atitudes opostas: o
supranaturalismo e o racionalismo teológicos. A partir daí re­
tomam-se, como na dicussão da Dogmática de 1819, os con­
ceitos de "Igreja" e "religião", acrescendo-se a estes, porém, o
de "ciência". Sob esta rubrica se discute o novo estatuto e
necessidades da ciência teológica, como atividade independente,

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ao menos enquanto ciência, em relação à Igreja. Por fim,
discute-se a unidade interna e externa entre os conceitos
de ciência (teológica) e religião, em constante referência ao
tema da Igreja.
No quinto capítulo, o autor expõe /lO desdobramento
da eclesiologia de 1827". Na exposição fica clara, por um
lado, a perspicácia da distinção entre o anterior conceito ge­
raI, fenomenológico-histórico, de comunhão religiosa
(Gemeinschaft) e o conceito à uma só vez histórico e
especulativo de comunidade (Gemeinde), reservado à comu­
nhão fundada por Cristo, ou seja, à Igreja. A distinção e um
certo desencontro entre idéia e positividade histórica, que pa­
recia configurar a aporia eclesiológica da Dogmática de 1819,
resolve-se mediante o recurso à categoria do /lEspírito", que
dá uma feição especulativa decisiva e completa à definição de
Igreja. Como é sabido, também a doutrina trinitária se integra
mais, agora, ao conceito de l/Espírito", emprestando relevância
mais que histórico-empírica à doutrina sobre a Igreja.
Concluída aquela que constitui a parte principal do tra­
balho, precisamente a parte que trata do locus eclesiológico
ao longo do desenvolvimento teológico de Marheineke, o sex­
to capítulo avança na direção da quaestio disputata em toda a
bibliografia sobre a teologia especulativa, especialmente no
que diz respeito ao exemplo de Marheineke. Trata-se, agora, de
cotejar, analítica e avaliativamente, a tendência geral da filoso­
fia da religião de Hegel com a posição dogmático-sistemática
de Marheineke. Neste ponto, além de uma análise do conceito
(Begrim de religião e da diferença entre religião determinada
(bestimmte Religion) e consumada (vollendete Religion), ocorre
uma concentração no terceiro elemento concretizado nesta
última, o do Espírito, que sucede ao pensar abstrato de Deus
(a estação do /lPai" e das relações trinitárias em si) e ao pensar
da realização finita da diferenciação em Deus (a estação do
IIFilho"). Ora, a doutrina do Espírito é justamente o lugar da
/leclesiologia" tanto em Hegel como na teologia especulativa.
Assim, na segunda parte do sexto capítulo trata-se de apontar
os pontos problemáticos na tradicional determinação da rela­
ção (Verhaltnisbestimmung) entre Hegel e Marheineke; de re-

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sumir as diferentes ênfases a distanciar, relativamente, a pri­
meira e a segunda edição ("hegeliana") da dogmática de
Marheineke; e de mostrar a proximidade e a diferença entre
Marheineke e Hegel. A partir de toda esta análise, tem-se como
resultado que Marheineke pensou em relativa proximidade a
Hegel, havendo uma acentuação da proximidade no reforço à
concepção trinitária na teologia; e uma acentuação da dife­
rença na inevitabilidade (Unausweichlichkeit) tanto da religião
como da Igreja (!) na articulação daquela concepção.
De fato, é nessa direção que nos conduzem, respectiva­
mente, as duas afirmações de Wolff:

A forma trinitária que Hegel deu à sua filosofia da religião é


certamente a característica mais notável de uma concordância
com Marheineke. Isto porque absolutamente não é óbvio o in­
tento de conformar uma teologia moderna em geral como teo­
logia trinitária. Marheineke deu este passo, e Hegel vai, alguns
anos mais tarde (0, na mesma direção.

Diferentemente, porém, de Marheineke, Hegel acha-se livre de


um conceito originário de uma fundamentação da Trindade
eclesialmente vinculada e referida à tradição. (P. 264)

Fundamental na corroboração desta última ênfase


marheinekeana é sua insistência numa distinção entre comu­
nhão e comunidade religiosa (p. 265), na direção já indicada
pelo autor 110 seu quinto capítulo, e prefigurada na dogmática
de 1819, que distinguia entre comunhão em geral e comunhão
espiritual em particular. Uma distinção que, ele concede, só
com dificuldade se pode vincular ao pensamento filosófico­
religioso de Hegel. (P. 266).
O resultado de todas as colocações de Wolff nesta se­
ção consiste em relativizar a dependência de Marheineke em
relação a Hegel, ao mesmo tempo em que se afirma uma
interação frutífera entre as duas obras, respeitando-se a origi­
nalidade de Marheineke.
No sétimo e último capítulo, redigido em forma de
excursos, o autor trata daquela que consistiria na segunda par­
te da resposta à minha segunda tarefa, a saber: qual o veredito
final oferecido não somente sobre as relações de nosso teólo-

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go com Hegel, mas também com a obra de Schleiermacher?
Devido a meus interesses anteriores de pesquisa, concentro­
me, na discussão desta última relação, em Schleiermacher ­
ainda que Wolff ofereça um competente excurso sobre a rela­
ção da posição eclesiológica de Marheineke com a obra do
teólogo racionalista da época da Aufklarung, Johann Salomo
Semler, uma figura, aliás, praticamente desconhecida na recep­
ção da teologia protestante em língua portuguesa.
No tocante à relação Marheineke/Schleiermacher, é im­
portante observar que a avaliação de Wolff se restringe às pri­
meiras fases do pensamento tanto de Marheineke como de
Schleiermacher, tomando como paradigmas da comparação
respectivamente as Grundlehren de 1819 e as Reden über die
Religion de 1799. Como principais aspectos gerais comuns a
ambos os pensadores, Wolff assinala (1) o reconhecimento da
necessidade de uma nova fundamentação da religião como
contexto para o fazer teológico (p. 301) e (2) o reconheci­
mento da independência (Eigenstandigkeit) da religião (p. 302).
Mais importante, porém, são o reconhecimento da importân­
cia do sentimento (Gefühn na constituição da religião (p. 302),
mantido por Marheineke lado a lado com sua intenção de
falar do aspecto de conhecimento (Erkenntnis) da religião, in­
tenção no geral idêntica à dos filósofos idealistas; e a ênfase
na compreensão da comunidade religiosa como comunidade
de expressão e comunicação (Mitteilung), e logo como espaço
de intersubjetividade (p. 304). Nessa comunidade de diag­
nóstico, porém, Wolff identifica a diferença essencial, que teria
implicações diretas para a construção de uma eclesiologia
especulativa: ao passo que "a concepção de Schleiermacher
acerca da comunicação da religião (...) tem como ponto de
partida a experiência religiosa do indivíduo", Marheineke en­
tende ser ponto de partida para a teologia a religião que já é
expressão de uma totalidade (des Ganzen) ontologicamente
anterior da religião. (P. 304.) "A comunicação que Marheineke
tem em mente é a expressão de uma nova qualidade do ser em
geral" (n.) "Por isso, a comunicação religiosa é para Marheineke
a expressão de uma nova qualidade da vida verdadeira. Ela é a
expressão do novo ser-em-comunhão de pessoas religiosamente

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tocadas (religios Affizierter). Para Schleiermacher, ao contrário,
a comunicação religiosa é o fundamento ou expressão da reu­
nião de vários indivíduos." (P. 305.)
Com base nessa diferença já nos encontramos, quando
Hegel apenas começava a elaborar suas preleções sobre filoso­
fia da religião, no assim-chamado caminho final da "teologia
especulativa". Se a condução durante o percorrido deste cami­
nho foi suficientemente consistente e conceitualmente rigoro­
sa no caso de Marheineke - especialmente segundo padrões
hegelianos e neo-hegelianos -, é já uma outra questão, à qual
a investigação de Wolff, junto com outras, vem prestar uma
nova contribuição. De qualquer modo, ela vem lembrar, no
sentido mais geral do estudo da religião, que, quer em
Schleiermacher quer na filosofia da religião e nas teologias do
idealismo, a centralidade da comunidade religiosa já é uma
descoberta do início do século XIX. Não seria preciso esperar
pela sociologia da religião de meados e de fim de século para
esta descoberta; somente seria preciso esperá-Ia para entender
a desconexão da religião com o Infinito e o Absoluto.

Luís H. Oreher
Ooctor of Philosophy. Professor e Pesquisador
na Área de Concentração "Razão e Religião"
PPCIR-OCRE-UF1F

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