Consumo Dilemas Da Sustentabilidade
Consumo Dilemas Da Sustentabilidade
Consumo Dilemas Da Sustentabilidade
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Apresentação
E
ste texto trata das transformações sociais e culturais que levaram à cons-
tituição da sociedade de consumo, à disseminação de hábitos, valores e
atitudes que a sustentam. Com essa intenção, é abordada a constituição
de desejos e as necessidades que se assentam na constante produção do novo, o
que se insere na lógica do presente, tempo privilegiado da feitura e do consumo.
Na sequência são discutidas as consequências da lógica renovação constante de
produtos e do consumo se limites e suas implicações para o meio ambiente.
Em continuidade são abordados documentos como a “Avaliação Ecossistêmica
do Milênio”, da ONU, de 2005, e os dados da Global Footprint Network, de
2015, que alertam quanto ao descompasso das atuais tendências de consumo de
energia e de materiais para atender os desejos e necessidades em relação a escas-
sez dos recursos naturais e à incapacidade de assimilação dos resíduos gerados
no processo produtivo. Estudos dessa ordem indicam os limites da lógica pre-
sentista e apontam para a importância de um olhar para o futuro, sabendo que
as escolhas de hoje comprometem a oferta de escolhas das novas gerações. Nas
considerações finais abordamos o que temos como desafios a serem enfrentados
para que possamos avançar na construção de outra lógica de consumo, que se
insira no porvir e na parcimônia.
O emergir da sociedade de consumo
O surgimento da sociedade moderna ocidental traz consigo o aparecimen-
to de novos valores e significações culturais que glorificavam a individualidade e
a novidade (Lipovetsky, 1989). Durante os muitos séculos que antecederam essa
sociedade, a maioria das pessoas vivia em circunstâncias muito parecidas com as
de seus antepassados e pouco diferenciava o passado do presente. As mudanças
eram tão lentas que eram capazes de passar inadvertidas no tempo de vida de
uma pessoa (Lowenthal, 1998). A separação entre o passado e o presente só se
fez aparente de um modo significativo a partir de finais do século XVIII e início
do XIX, quando passou a haver um apego maior a símbolos materiais e novas
percepções que culminaram com a paixão por tudo que é novo, em contraposi-
ção a um entendimento de que o passado era o velho, o descartável.
O longo e lento processo de construção das formas modernas de com-
portamento e valores contou com significativas mudanças na cultura, com a
instauração de novas condutas, que foram introjetados na estrutura psíquica
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resumo – O artigo traz reflexões sobre como o consumo atual se apresenta de maneira
distanciada das necessidades ecossistêmicas, o que gera enormes desafios em termos
de reorganização civilizacional. A partir da análise de como os hábitos de consumo
se estabeleceram na sociedade contemporânea, buscamos argumentar que o atual pa-
drão de consumo que vivenciamos é produto de um longo e lento processo histórico
de construção social de uma cultura, sustentada por valores, normas e padrões que se
reproduzem. Por isso mesmo, a necessidade de mudanças que sejam comprometidas
com os limites ecossistêmicos, o que implica na revisão de valores e normas, hábitos e
práticas que contribuíram para o estabelecimento da sociedade de consumidores, o que
hoje somos.
palavras-chave: Consumo, Hábitos, Limites ecossistêmicos, Sustentabilidade.
abstract – The article reflects on how much current consumption is removed from
the requirements of the ecosystem, creating enormous challenges in terms of civiliza-
tional reorganization. From an analysis of how consumption habits were established in
contemporary society, we argue that current consumption patterns are the product of
a long and slow historical process of social construction of a culture, supported by self-
-reproducing values, norms and standards. Thus the need for changes committed to the