ARQUÉTIPOS
ARQUÉTIPOS
ARQUÉTIPOS
JUNG
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA
ARQUÉTIPOS
SALVADOR – BAHIA
2020
LAHIRI LOURENÇO ARGOLLO
ARQUÉTIPOS
SALVADOR-BA
2020
SUMÁRIO
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A Dinâmica do Inconsciente, p. 137.
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tomam forma, mas isso é distinto dos símbolos e imagens em si” (HOPCKE, 2012, p.
25). Imagem, nesse contexto, é a expressão dinâmica do arquétipo.
Jung usa o exemplo da reprodução da mariposa da flor da iúca para denotar a
ação do arquétipo, demonstrando ser difícil explicar o complexo processo como
mera aprendizagem e repetição, implicando num fator intuitivo. Ele acrescenta ao
instinto, um impulso predeterminado de comportamento, o arquétipo, como a
“apreensão teleológica de uma situação”. (JUNG, 1991, p. 136, §268/269).
Stein (2001) ressalta a visão junguiana do arquétipo como a fonte de energia
primária e padronização psíquica. “Constitui a fonte essencial de símbolos psíquicos,
os quais atraem energia, estruturam-na e levam, em última instância, à criação de
civilização e cultura” (STEIN, 2001, p. 81). Como molde dos mais variados
comportamentos humanos, numa perspectiva filogenética, o arquétipo assume
diferentes matizes, uma vez que é vazio em si mesmo, preenchendo-se com os
conteúdos específicos da experiência individual, aos quais confere uma
configuração temática de caráter universal. De acordo com Jung (2008, p. 42, §69),
Basta saber que não existe uma só ideia ou concepção essencial que não
possua antecedentes históricos. Em última análise, esses se fundamentam
em formas arquetípicas primordiais, cuja concretude data de uma época em
que a consciência ainda não pensava, mas percebia.
2 PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS
2.1 Persona
Persona é o termo utilizado por Jung para definir “(...) a máscara da psique coletiva
(...) um compromisso entre o indivíduo e a sociedade” (JUNG, 1981, p. 146, §246).
Etimologicamente, remete ao conceito de máscara, objeto utilizado pelos atores da Grécia
antiga. Jung a utiliza justamente pela ideia de ser um papel a ser desempenhado. Assume,
portanto, uma função mediadora entre o eu e o mundo.
Hall e Nordby (1985) lembram que, pela perspectiva evolucionista, todos os
arquétipos devem ser úteis ao indivíduo ou o tornariam inadaptado ao meio. Por isso,
afirmam ser a persona imprescindível para a vida social, lembrando o exemplo de Franz
Kafka, que “confessou repetidas vezes que odiava o trabalho, mas seus superiores jamais
se deram conta deste seu modo de sentir-se, vendo-o cumprir zelosamente as obrigações
do emprego” (HALL; NORDBY, 1985, p. 36). De certa forma, a persona é uma exigência da
sociedade, que espera do indivíduo o seu melhor desempenho no seu “papel” dentro da
coletividade.
Por outro lado, quem não a desenvolve satisfatoriamente sofre a dificuldade da
integração e aceitação. O risco, do outro lado, é a identificação do eu com a persona,
levando as pessoas a acreditarem que são o papel que interpretam, dissolvendo-se no
coletivo: “O perigo está, no entanto, na identificação com a persona; o professor com seu
manual, o tenor com sua voz...” (JUNG, 2019, p. 407/408).
2.2 Sombra
Presente na psique humana, é a “soma de todos os elementos psíquicos
pessoais e coletivos que, incompatíveis com a forma de vida conscientemente
escolhida, não foram vividos”, agrupando-se numa personalidade inconsciente
parcialmente autônoma e contraposta à consciência. (JUNG, 2019, p. 410). Surge
com figura arquetípica na representação dos primitivos, estando fortemente presente
no ser humano civilizado, justamente pela tendência deste de repudiar da
consciência aquilo que seja bárbaro.
A identificação do indivíduo com o arquétipo da sombra pode torná-lo nocivo
para a sociedade, personificando figuras mitológicas representantes do mal em toda
sua pureza. “Os nazistas, os homens-bomba, os torturadores de todos os exércitos e
órgãos de repressão social, os que praticam a crueldade de forma sádica e
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2.4 Self
Si Mesmo, ou Self, é a denominação de Jung para o arquétipo da totalidade.
Abrangendo a psique consciente e inconsciente, é, funcionalmente, o centro do aparelho
psíquico, constituindo a personalidade mais ampla (JUNG, 2019). Apresenta-se
simbolicamente na cultura e nos sonhos como uma personalidade superior (um rei, um
salvador, um sábio, o sol, uma deidade etc.). A ânima e o ânimus são imagens virtuais
respectivamente do feminino e do masculino presentes no inconsciente. São “categorias
apriorísticas” de natureza coletiva, coletânea de “(...) imagens de pais, homem, mulher,
filhos em geral (...)”, porém “(...) isentas de conteúdos” (JUNG, 2004, p. 180).
Jung chegou à concepção do Self nos anos de confronto com seu inconsciente, após
a ruptura com Freud. Pintando suas mandalas, compreendeu pouco a pouco que vivia um
processo de reorganização mental (individuação) que o direcionava a um centro ordenador
de seu psiquismo:
Robertson (1999) alerta para o cuidado de não se tomar o Self pelo aspecto
moral. As constantes comparações com símbolos transcendentes, como deidades,
anjo da guarda ou entidade superior, carregam uma falsa impressão de moralidade.
Como arquétipo, possui um caráter inumano, expresso por Jung na sua análise da
história de Jó.
A ideia de uma singularidade ordenadora e originária povoa todo o
conhecimento humano sobre a natureza. Da expansão de uma totalidade primordial,
amorfa, indiferenciada, surgiu o universo com suas complexidades e diferenciações.
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3 O ARQUÉTIPO MATERNO
Mais que uma vivência repetida, a ligação entre filho e mãe é literalmente
visceral. A dependência do materno é absoluta na gestação, expandindo-se num
hiperativo de sobrevivência pelos anos que se seguem ao parto. Todavia,
diferentemente dos animais “a mãe humana não apenas procria, ela se realiza
psiquicamente pela procriação” (ARGOLLO, 2010, p. 83). Forma-se um elo psíquico,
de desejos e projeções, com impactos singulares no desenvolvimento da
personalidade da criança, sejam positivos ou não. Logo, indiscutível a força do
arquétipo materno na sociedade:
E agora perguntar-me-ão: O que dizer dos eventos mais corriqueiros, das
realidades mais imediatas e mais próximas de nós, como o marido, a
mulher, o pai, a mãe, os filhos? Os fatos mais comuns da vida quotidiana,
que se repetem eternamente, produzem os arquétipos mais poderosos, cuja
atividade incessante é imediatamente reconhecível em toda parte, mesmo
em nossa época racionalista. (JUNG, 2000, p. 93, §336)
d) defesa contra a mãe: o fascínio que a mãe lhe causa encontra uma
resistência obstinada, na busca pela diferenciação. Há uma tendência às
atividades intelectuais, pelo desenvolvimento de aspectos masculinos da
personalidade (logos).
REFERÊNCIAS
SHARP, Daryl. Léxico Junguiano. Tradução de Raul Milanez. São Paulo: Cultrix,
1991.
SILVEIRA, N. JUNG: vida e obra. 15 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.
STEIN, M. Jung, o mapa da alma: uma introdução. 2ª ed. São Paulo: Editora
Cultrix, 2001.
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