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Contacto linguístico - Aprender Madeira

Chapter · February 2018

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Aline Bazenga Naidea Nunes


Universidade da Madeira Universidade da Madeira
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26/02/2019 contacto linguístico - Aprender Madeira

contacto linguístico
Arquivado Em:antropologia e cultura material, linguística, madeira global
Marcado Com: aculturação, Contacto Linguístico, emigração / imigração. sintaxe

A coexistência de línguas é um facto. Existe desde sempre e desempenha um papel importante na


variação inerente a qualquer sistema linguístico, nomeadamente quando esta variação ocorre ao
longo do tempo. A publicação de Languages in Contact (1953), de Uriel Weinrich, constitui um
marco nesta área de estudos linguísticos e na investigação sobre multilinguismo. Os principais
temas relacionados com o contacto linguístico tinham sido abordados já na sua tese de
doutoramento, Research  Problems  in  Bilinguism  with  Special  Reference  to  Switzerland (1951),
obra que teve por base o trabalho de campo feito pelo autor na Suíça e que contém uma descrição
detalhada da situação linguística naquele país, sobretudo nos espaços de fronteira e de contacto
linguístico. O contacto entre línguas mereceu, desde então, a atenção de vários investigadores,
que procuraram observar e descrever, de modo sistemático, as suas propriedades – origens,
processos e resultados.

Contacto linguístico (conceitos)

Uma situação de contacto linguístico pode ser definida como “aquela em que pelo menos algumas
pessoas usam mais do que uma língua” (THOMASON, 2001, 1). Tal acontece em várias situações
do quotidiano, e.g., por via de vários tipos de mobilidade humana (emigração e imigração,
turismo, etc.), em que os falantes de uma determinada língua materna se encontram em contacto
com falantes de outras línguas. Este fenómeno ocorre também na escola, em situações de
aquisição formal de uma segunda língua, não materna, ou L2, e ainda na comunicação digital
(Internet). Na era da globalização, podemos entender que, de acordo com Maria Antónia Mota
(1996), as sociedades de começos do séc. XXI são, na sua maioria, plurilinguísticas e que as
línguas são sistemas marcados por grande variação interna, pois a relação comunicacional entre
comunidades linguísticas é tão grande que é quase impossível não se influenciarem umas às
outras. Trata-se de um processo que decorre da coexistência temporal e espacial de duas ou mais
línguas ou variedades linguísticas, para o qual é necessário não só “definir a natureza [como
também] a escala e o grau desse contacto e determinar quem entra em contacto com quem, se
indivíduos, famílias, comunidades ou sociedades inteiras”, como observam René Appel Pieter
Muysken, em obra citada por Glaucia Santos (SANTOS, 2008, 23).

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A dinâmica do contacto pode ser descrita como a passagem de uma situação de monolinguismo
para uma de bilinguismo, existindo ainda a possibilidade de um regresso ao monolinguismo
(manutenção da língua de origem, anterior ao contacto). Os processos e resultados linguísticos
envolvidos nesta dinâmica, descritos na bibliografia de referência e referidos por Amália de Melo
Lopes (2011), são os seguintes:

(i) manutenção da língua de origem (LO) como única língua da comunidade;

(ii) mudança de língua (language  shift, FISHMAN, 1964), em que a LO é substituída pela
língua de outro grupo em contacto, pelo facto de a comunidade considerar a língua adotada
mais funcional ou mais prestigiada socialmente, ou por outro tipo de circunstâncias;

(iii) mistura de línguas (language  mixing), que pode dar origem a outros produtos
linguísticos, marcados pela influência mútua das duas línguas, tais como: bilinguismo,
pidgins e crioulos.

Vários fatores, tais como a quantidade de migrantes e a duração da coabitação, o prestígio ou o


poder económico e político das comunidades migrantes e daquelas que as recebem, intervêm nos
resultados do contacto. Este assunto tem sido particularmente debatido no âmbito da ecologia do
contacto de línguas, que faz parte da disciplina de ecolinguística, que consiste no estudo das
relações entre língua e meio ambiente (ou território), e foi detalhadamente discutido, e.g., por
Jean-Louis Calvet e Salikoko Mufwene.

Assim, nem todas as comunidades respondem ao contacto linguístico da mesma forma. Há


aquelas nas quais ocorrem processos de hibridismo, quando os falantes não diferenciam os
diferentes códigos, constituindo-se então uma mistura de línguas – de tipo code­switching ou
alternância de códigos e/ou de tipo code­mixting – que resultam de um maior e mais permanente
contacto linguístico. É o caso dos crioulos e dos pidgins, que resultam do “surgimento de uma
nova entidade linguística qualitativamente distinta de todas as línguas envolvidas na situação de
contacto de onde ela emergiu” (LUCCHESI, 2004, 157). Noutras situações, podemos assistir à
coabitação entre duas línguas na mesma comunidade linguística – bilinguismo – ou de duas
variedades da mesma língua – diglossia.

Bilinguismo

O bilinguismo, situação muito comum no mundo dos alvores do séc XXI, corresponde ao
conhecimento e uso de duas ou mais línguas por um indivíduo – bilinguismo individual – ou por
uma comunidade – bilinguismo social –, quando esta se caracteriza pela existência de um
número significativo de falantes bilingues.

Os falantes bilingues podem apresentar diferentes graus de proficiência e uma grande variedade
de uso das duas línguas, manifestando, na sua fala, interferências e alternâncias de línguas.
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Assim, o code­switching  é uma manifestação de bilinguismo e consiste em trocar de língua no


decurso de uma mesma produção linguística, mesmo que não haja mudança de interlocutor ou de
situação. Em alguns casos, esta influência pode criar uma dualidade dentro de uma comunidade
linguística, que, sendo “monolingue pode tornar-se bilingue pela conservação da sua língua
autóctone e da língua forasteira” (LOPES, 2011, 14).

Relativamente ao bilinguismo social, é de assinalar que um país pode ser bilingue ou


multilingue/plurilingue, mas parte da sua população ser monolingue, assim como pode ser
predominantemente monolingue sem que tal signifique que todos os cidadãos desse país falem só
uma língua ou que todos os que vivem nesse país tenham essa língua como materna. Podem
configurar-se situações estáveis de bilinguismo, de bilinguismo mútuo ou assimétrico, e outras
situações que se situam entre esses dois extremos.

Diglossia

A diglossia é uma variante de bilinguismo, sendo um termo usado para classificar situações de
comunicação em comunidades que recorrem ao uso complementar de variedades e/ou línguas
distintas na vida quotidiana. Nestas circunstâncias, uma variedade/língua só pode ser usada em
situações em que a outra variedade/língua está excluída. Esta definição abrange muitas situações
que ocorrem na maioria das sociedades. A ilha da Madeira, e.g., no âmbito do português europeu
(PE), poderá ser caracterizada, do ponto de vista linguístico, por uma situação de diglossia, uma
vez que os falantes madeirenses usam uma variedade falada do português, distinta da variedade
padrão e excluída das trocas comunicacionais em que é exigido o uso da variedade padrão
(conferências, escrita). Este tipo de situação poderá gerar um conflito, uma vez que as duas
variedades não gozam do mesmo prestígio, sendo a variedade falada e informal (conversas com
familiares próximos etc.) objeto de maior estigma.

Interlíngua

A probabilidade de ocorrer uma ou outra das três situações referidas pode estar relacionada com
condições socio-históricas e políticas específicas, com as atitudes dos falantes em relação à
variação linguística observada, e com as relações de força que se estabelecem entre as
comunidades de falantes de línguas ou variedades distintas. A estes fatores extralinguísticos
juntam-se fatores de natureza linguística, tais como a importância da distância tipológica entre a
língua materna (LM) e a língua não materna, ou língua alvo (LA), e os que estão relacionados com
os efeitos linguísticos da interferência na LA, dando origem ao surgimento de uma outra
variedade nessa língua. Assim, no processo de aquisição de uma segunda língua, como destaca
Sara Thomason (2001), os falantes podem permanecer numa fase de interlanguage  (ou
“interlíngua”, SELINKER, 1972), um processo de variação linguística no qual se incluem os
empréstimos lexicais e mesmo interferências estruturais, resultado da transposição de alguns
traços da LM para a LA. Este processo poderá dar também origem à mudança linguística; tal

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ocorre quando traços de interferência são conservados e transmitidos às gerações seguintes,


construindo-se, assim, uma nova versão da LA.

No entanto, estar em contacto com outras línguas não implica necessariamente mudança. De
assinalar também que todos os níveis dos sistemas linguísticos – fonológico, morfossintático e
lexical – podem ser afetados (SANKOFF, 2001).

O contacto linguístico é, normalmente, mais saliente ou dinâmico em zonas fronteiriças, onde


duas línguas interagem constantemente, em comunidades onde a afluência de estrangeiros é
grande, e ainda em espaços marcados pela ocorrência de fluxos migratórios (emigração para o
estrangeiro e o seu regresso), bem como naqueles que foram objeto de colonização ou de
ocupação por parte de outros países e, como anteriormente referido, em situações de
aprendizagem de outra língua (MOTA, 1996).

A língua portuguesa, e.g., tal como hoje se apresenta no começo do séc. XXI, resulta de séculos de
contacto com o latim vulgar e com línguas de outros povos. Emergiu no Noroeste da península
Ibérica, por volta do séc. IX, numa comunidade linguística que incluía também a língua falada na
Galiza. A língua escrita continuou a ser o latim, e a primitiva produção escrita em português de
que há conhecimento, de natureza notarial, data do séc. XIII. A partir da constituição do reino de
Portugal, em 1143, o português foi acompanhando a configuração de novas fronteiras para o
reino, passando a ser falado em espaços cada vez mais alargados. O repovoamento do Sul do
território reconquistado aos árabes e a situação de contacto linguístico com os falares moçárabes
que dele resultou criaram novas condições para a transformação e mudança na língua. A norte e a
sul desenharam-se variedades distintas: nas áreas dialetais setentrionais, a norte, a mudança
tinha levado, e.g., à perda da oposição etimológica entre /b/ e /v/; no centro e sul, emergiram
variantes inovadoras, como foi o caso da monotongação do ditongo [ej] em [e] em palavras como
“ceifar” [sefar] e “feito” [fetu]. Estabelecidas as novas fronteiras, também a capital do reino se
mudou para sul do rio Mondego, fixando-se em Lisboa. Esta mudança histórica iria determinar
novos caminhos para a língua: o modelo unificador do português desloca-se, a partir do séc. XVI,
para esta região, que se torna pólo inspirador da sua norma culta e ponto de partida do padrão
linguístico posterior. A partir do séc. XV, a língua conquistadora foi povoando ilhas e sendo
também acolhida em sociedades distintas, em África, na Ásia e na América. As diferentes
situações de contacto com as línguas faladas pelos nativos nos novos espaços ocupados
enriqueceram o português, tendo tido um papel muito relevante na construção das suas
variedades geográficas extra-europeias – brasileiras e africanas.

No âmbito do PE, as variedades insulares, afastadas do contacto com as variedades peninsulares,


desenvolveram traços linguísticos próprios. Deles fazem parte a manutenção de traços
conservadores nas suas variedades populares, como no caso da variante nasal [õ] nas finais
verbais de terceira pessoa do plural (“comeram” [kumerõ]) – também atestada em variedades
peninsulares setentrionais –, que correspondem a uma fase da língua na qual ainda não tinha
ocorrido a ditongação em [ Œ)w)], variante que viria a ser integrada na norma do português
apenas no séc. XVI. As variedades insulares ostentam também aspetos inovadores, como a
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mudança manifesta na ditongação das vogais altas acentuadas /i/ e /u/, em palavras como “aqui”
e “rua”, pronunciadas [ Œ’kŒj] e [{’ŒwŒ], respetivamente.
Tal como a estrutura sonora da língua, também o léxico está em permanente renovação, com
ganhos e perdas de palavras, e com outras a gerarem novos sentidos. No português, a herança
lexical latina incorporou, no início da sua formação, os contributos de povos colonizadores –
germânicos (nomes como “guerra”, “luva”, “roupa”) e árabes (“alcatifa”, “arroz”, “açúcar”, “atum”,
“armazém”, “aldeia”). Mais tarde, na sua expansão marítima, os contactos com outras
comunidades linguísticas enriqueceram a língua portuguesa e as suas variedades, sendo
introduzidos novos itens: empréstimos das línguas ameríndias (“canoa”, “amendoim”, “tapioca”,
“mandioca”, “goiaba”, “pitanga”), africanas (“banana”, “berimbau”, “cachimbo”, “cubata”) e
asiáticas (“leque”, “chá”, “bengala”, “azul”, “bambu”, “chávena”, “xaile”). Em diversos momentos
da sua história, provenientes de outras línguas europeias de cultura e de prestígio, outros
empréstimos foram importados e integrados, sendo de notar, e.g., os galicismos (“monge”, “joia”,
“blusa”, “soutien”, “envelope”), os italianismos (“soneto”, “aguarela”, “bússola”, “piano”,
“violoncelo”) e os anglicismos (“pudim”, “bife”, “lanche”, “futebol”, “andebol”, “penalti”).

Aspetos socio­históricos dos contactos linguísticos no espaço insular atlântico

Na altura dos Descobrimentos, como referido, os Portugueses levaram a língua para as terras por
onde passavam, que conquistavam e povoavam. Tal aconteceu na ilha da Madeira, descoberta
em 1418. Os primeiros colonos, oriundos tanto do Norte como do Sul do reino, terão chegado
pouco depois, por volta de 1420 ou 1425.

Sendo as suas fronteiras traçadas pelo mar, poder-se-ia pensar que, quando comparada com
outros espaços não insulares, a ilha da Madeira, e assim as suas comunidades de falantes, se
caracteriza pelo isolamento e a falta de qualquer tipo de contacto. Porém, historicamente, a
Madeira estabeleceu, desde o seu povoamento, no séc. XV, vários tipos de contacto linguístico,
não só com falantes de outras variedades regionais do português europeu continental, como
também com falantes de outras línguas, graças a fatores relacionados com o seu desenvolvimento
socioeconómico (comércio, turismo, emigração).

Assim, tal como outras ilhas situadas em alto mar, mas localizadas no centro de rotas marítimas,
a ilha da Madeira nunca ficou completamente isolada, porque, beneficiando das condições
económicas internas oferecidas pelas culturas da cana-de-açúcar, primeiro, e da vinha, mais
tarde, constituiu-se num lugar de passagem obrigatório nos caminhos traçados no oceano
Atlântico. O Funchal, uma cidade portuária, era um lugar de paragem quase obrigatória para a
maioria das pessoas que viajavam pelas principais rotas do Atlântico. Esta situação manteve-se
quase inalterada até ao séc. XIX, tornando a Ilha, na periferia da Europa, um ponto estratégico de
ancoragem, um microcentro atlântico.

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A sociedade madeirense pode ser vista como resultado de fluxos migratórios constantes desde o
início da sua história, regulados pelos ciclos económicos. Para além da presença de comerciantes,
sobretudo europeus, e de escravos vindos inicialmente das Canárias (os guanches) e, mais tarde,
do Norte de África (árabes) e da Costa da Guiné (negros), é de assinalar o alto nível de mobilidade
social dos madeirenses.

Povoamento do arquipélago da Madeira

Aquando do descobrimento do arquipélago da Madeira, no séc. XV, houve a necessidade de o


povoar, tal como aconteceria posteriormente noutros espaços atlânticos portugueses: os
arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde. Inicialmente, foram enviadas para a Madeira pessoas
de variadas origens sociais. Como afirma Joel Serrão, “o primeiro grupo de povoadores da
pequena nobreza, pelo menos, uns catorze, e os restantes, gente de condição modesta, entre a
qual, antigos presos das cadeias do Reino, e aos quais se destinavam as tarefas mais humildes e
ingratas” (SERRÃO, 1961, 2). As origens geográficas da população madeirense teriam sido, como
observado por Luís de Sousa Melo, sobretudo as “províncias do Minho e do Algarve” (MELO,
1988, 20). Pinto e Rodrigues (1993) apresentam também evidências de que os distritos a norte de
Portugal terão contribuído em maior quantidade para a ocupação humana do espaço insular.

  1539­1600 1550­1559 1560­1569 1570­1579 1580­1589 1590­ 1600

Faro 2,8 3,3 4 1,6 1,8 3,4

Lisboa --- --- --- --- --- 12,9

Braga 26,3 32,9 32,8 30,5 16,5 11,6

Viana 14,4 11,9 17 16,3 16,5 ---

Porto 9,3 17,3 --- --- --- ---

Açores 9,2 5,4 11,1 8,9 11,1 11,6

Fig. 1 – Quadro com o número de indivíduos imigrados e matrimoniados na igreja da Sé entre


1539 e 1600.
Fonte: MELO, 1988, 25).

Apesar do decréscimo de matrimónios de imigrados ao longo dos decénios, podemos observar


que Faro tem uma representação mais baixa, comparativamente aos imigrantes provenientes das
zonas mais a norte de Portugal. Crê-se que a importância dos indivíduos oriundos do Algarve
estivesse ligada à atividade marítima e a dos emigrantes do Norte de Portugal à atividade
agrícola. Por outro lado, registou-se a presença de Espanhóis na ilha da Madeira entre os anos de

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1539 e 1600, como podemos comprovar no gráfico apresentado por Luís de Sousa Melo no
mesmo artigo:

Fig. 2 – Gráfico representativo do movimento migratório para a Madeira no séc. XVI.


Fonte: MELO, 1988, 26.

A presença espanhola na Madeira estaria ligada sobretudo à chegada de indivíduos da Galiza.


Talvez tenha sido significativa anteriormente, sobretudo pelo comércio de escravos com o
arquipélago das Canárias.

O povoamento teve início no perímetro entre Machico e Calheta, portanto, na costa sul, por ser
mais apropriada para o arroteamento. Porém, é à cidade do Funchal que se manifesta uma maior
afluência de falantes vindos de todas as partes, uma vez que ali se encontrava o porto de
embarque e de desembarque.

Presença de escravos (canários e africanos)

A chegada dos primeiros colonos à Madeira não pareceu ser suficiente para a mão-de-obra
necessária ao desenvolvimento agrícola, bastante exigente no seu início, devido à orografia e
densidade florestal da Ilha. Julgou-se então necessário recorrer, para esse fim, à introdução do
escravo na região. No fim do séc. XV, a população de escravos ascendia a cerca de 2 milhares,

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perfazendo 12 % da população total da altura. Veja-se, na fig. 3, a evolução global da população


madeirense entre os finais do séc. XV e o séc. XVI:

Datas Habitantes Observações Fonte

Finais do séc. XV 15.000/18.000 2000 são escravos Elucidário Madeirense, III, 133

1500 18.000 2000 são escravos Ibid., III, 103

1572 22.172 3000 são escravos Ibid., III, 103

1579 25.000 3000 são escravos Ibid., II, 468

Fig. 3 – Quadro com o número de habitantes madeirenses e de escravos.


Fonte: PINTO e RODRIGUES, 1993, 414.

Foram, aliás, os escravos, os negros do Golfo da Guiné, os mouros cativos do Norte de África e
ainda os canários quem mais contribuiu para o desenvolvimento do arroteamento de terras e,
mais tarde, para a produção de cereais e de açúcar. Crê-se que até da Índia foram escravos,
pois, segundo se lê no Elucidário Madeirense, “Tristão Vaz da Veiga, que foi governador-geral do
arquipélago em 1582 tinha doze escravos indianos para serviço particular da casa” (SILVA e
MENESES, 1998, II, 408). Alberto Vieira, citando Alberto  Sarmento, adianta que a
escravatura na Madeira se apresenta como “um regresso à História Antiga, ao tempo patriarcal,
com o escravo doméstico; à velha Grécia, com o escravo lavrador do Império Romano, com o
escravo industrial” (VIEIRA, 1996). Os escravos guanches, marroquinos e africanos foram os
primeiros a chegar à Ilha, porque a localização geográfica da Madeira, perto do continente
africano, a posicionava idealmente para a receção do mercado escravo, sendo também de referir a
intervenção de escravos vindos do Brasil e das Antilhas. Aos escravos deve-se, na sua maioria, o
crescimento e o desenvolvimento da economia do arquipélago, que podem ser vistos por duas
perspetivas: primeiro, como uma “economia de aproveitamento imediato daquilo que se
apresenta com valor mercantil (madeiras, pastel, urzela) ou valor alimentar (peixe); segundo,
como uma economia de produção (trigo, gado, mais tarde açúcar e vinho)” (PINTO e
RODRIGUES, 1993, 408). A afluência de escravos foi tão acentuada na Ilha que muitos terão aí
casado e permanecido. Inventariam-se 593 casamentos, dos quais uns ocorriam entre escravos da
mesma condição, outros entre escravos e forros ou libertos, e outros ainda entre escravos ou ex-
escravos e não escravos. O primeiro casamento no seio desta comunidade teria ocorrido em 1539,
na igreja da Sé, e o último em 1830.

Influência europeia através da história económica e social (comércio e turismo)

A presença de estrangeiros na Ilha remonta ao seu povoamento. Os primeiros mercadores


estrangeiros que aí apareceram eram florentinos, genoveses e venezianos, todos comerciantes do
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açúcar, o que originava muitas vezes na sua naturalização. Assim, refere o Elucidário
Madeirense: “Os estrangeiros contribuíam consideravelmente, embora com proveito próprio,
para o estado de prosperidade a que chegou esta ilha desde os fins do século XV até meados do
século seguinte. Entregaram-se a diversos ramos de negócio, montaram muitos engenhos de
açúcar e era por seu intermédio que se fazia uma boa parte da exportação desse produto para os
países estrangeiros” (SILVA e MENESES, 1998, 422).

Os  Ingleses adquiriram um lugar de relevo na burguesia cosmopolita da cidade desde o séc.
XVII, e a ilha da Madeira transformou-se numa escala obrigatória nas rotas marítimas da
Inglaterra.

A expansão do comércio, através dos negócios de exportação de produtos diversos, como o trigo,
as madeiras, o açúcar, o vinho e o  bordado Madeira, foi uma forma de a comunidade
madeirense entrar em contacto, não só com os escravos, mas também com estrangeiros europeus
que pela Madeira passavam.

O comércio açucareiro terá tido início logo no dealbar do séc. XV, acentuando-se a sua produção
depois da crise económica na última metade do séc. XVI, que decorreu da falta de trigo e,
consequentemente, de pão. Os madeirenses viram-se para a produção do açúcar, uma vez que a
produção cerealífera não prosperava nas frondosas e acentuadas montanhas da Ilha. A produção
subiu, assim, em grande escala, não só para consumo próprio, como também para exportação,
sendo de registar, a este propósito, o despacho enviado em 1461 ao Rei de Portugal, D. Fernando,
a pedir autorização para “carregar vinhos açuquares madeyra pam e todo ho q avees de vosas
nouidades pera hu vos mais prouuer sem me pagardes dizima da carregaçam”, acrescentando
ainda: “taes carregações […] pera fora destes reynos” (PEREIRA, 1991, 91). Durante algum tempo,
a produção e a exportação de açúcar seguiram bom porto e estenderam-se pelas cidades
mediterrânicas e nórdicas, bem como para o reino, fomentando um grande interesse da burguesia
estrangeira pelo comércio do açúcar. O mercado açucareiro, e principalmente a exportação deste
produto para Flandres, Inglaterra, Ruão, Rochela e Bretanha, deram grande visibilidade à
Madeira, sobretudo entre 1450 e 1550. Contudo, o comércio do açúcar não vingou nos séculos
seguintes, devido à forte concorrência de outros locais, com maior produção. A Madeira, por ser
uma ilha de pequenas dimensões, não conseguiu competir, pelo menos em grande escala, com os
novos produtores da América do Sul (Caraíbas e Brasil).

Com o declínio do açúcar, é a vinha que, enquanto cultura, passa a predominar, já nos fins do séc.
XVI. O clima da Madeira, ameno em qualquer estação do ano, para além de favorecer as culturas,
também não passou despercebido aos estrangeiros do Norte da Europa, cujos invernos eram
muito mais rigorosos. De acordo com Albert Silbert, citado por António Marques da Silva, as
características peculiares do clima da Madeira devem-se à “presença dos ventos alísios que
emolduram o arquipélago da Madeira” (SILVA, 2007, 35).

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Apesar da grande afluência de Ingleses à Madeira, não foram apenas estes que tiveram interesse
na beleza, no clima e no comércio que a Ilha podia oferecer. Os Alemães também mostraram essa
vontade. A presença alemã na Madeira, tal como a inglesa, remonta ao seu povoamento, no séc.
XV; com efeito, há registo de duas figuras lendárias, Henrique e André Alemão, tendo este
etnónimo por referência “um indivíduo natural de Além-Reno” (VERÍSSIMO, 2012, 17). Henrique
Alemão, cavaleiro de Santa Catarina, recebeu terras na ribeira da Madalena, em sesmaria de
Gonçalves Zarco; uma outra terra, situada entre a Madalena e o Arco da Calheta, teria sido doada
a André Alemão. A presença alemã nesta zona da Ilha “ficou assinalada através do topónimo Fajã
do Alemão, hoje designada, por corruptela, Fajã do Limão” (VERÍSSIMO, 2012, 16). Mais tarde,
já no séc. XVI, o comércio internacional do açúcar fica associado aos Alemães da família
Paumgarther de Augsburg e à sua companhia, que mantinha relações entre a Madeira e as
Canárias. Outros nomes associados à companhia são Welser Lucas Rem, Hans Rem e os feitores
Leo Ravensburger e Hans Schmid. No século posterior e até ao séc. XIX, sabe-se que a presença
alemã em território português vigorou principalmente nos Açores.

A partir do séc. XVIII, a Madeira recebe um outro tipo de visitantes europeus: cientistas,
sobretudo britânicos, mas também franceses e alemães. De facto, no séc. XIX, a permanência de
Alemães na Ilha relaciona-se sobretudo com a chegada de cientistas cujos estudos incidem sobre
a Madeira e têm como objeto o clima e a tuberculose; Alemães como Karl Mittermeier (que
esteve na Madeira em 1855) e Rudolph Schultz (que ali esteve em 1864), entre outros,
acreditavam que a Ilha possuía condições favoráveis para a sua cura. De acordo com Eberhard
Wilhelm (1997), durante o período de 1815 a 1915, foram imensos os visitantes de língua alemã na
Madeira, sobretudo naturalistas e médicos, que mostraram grande interesse pela botânica
insular, sendo de referir, e.g., Johann Reinhold Foster e Johann George Adam Foster, e ainda, na
área geológica, Leopold Von Buch. Na fig. 4, apresentam-se alguns nomes importantes de figuras
alemãs que estiveram na Madeira e que em muito contribuíram para o seu desenvolvimento em
diversas áreas:

Profissã

o/distinç Nome dos ilustres
ão

Nobres Solms-Laubach, Von Buch, Von Martuius, Von Sivers, Von Wuellerstorff Urbair,
Von Hochstetter, Von Fritsch, Von Hann, Von Pommer Esche e Von Kmorowicz.

Botânicos Schacht, Liebetruth, Kny, Geheeb, Winter, Milde, Fritze e Von Krempelhuber.

Paleontólo Welwitsh.
gos

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Profissã
o/distinç Nome dos ilustres
ão

Médicos Stizenberger, Tams, Fischer, Mittermaier, Bahr, Schultze e Goldschmit.

Zoólogos Lindinger

Fig. 4 – Quadro com o nome de alemães ilustres que estiveram na Madeira.


Fonte: WILHELM, 1990, 48.

No séc. XIX, devido à vasta literatura científica e de viagem que inclui a ilha da Madeira, é
possível reconstruir a situação da mesma nessa altura. Os viajantes que por lá passavam
descreviam vários aspetos, como a natureza, a topografia, o relevo, as tradições, as vestimentas e
os hábitos alimentares, e acrescentavam detalhes muito significativos, que representavam as suas
ideias sobre determinadas situações do quotidiano madeirense: “De facto, o século XIX trouxe à
Madeira muitos viajantes que julgaram oportuno proceder em termos dum ‘fifty-first’ e, assim, o
número dos que deixaram registado em livro o seu ‘glimpse’ madeirense ascende a umas boas
dezenas. Entre eles e para mencionar apenas os mais representativos em campos literários
diferentes e perseguindo também diferentes objetivos temos Robert Steele, James Edward
Alexander, o Dr. Wilde, James Golman, John Osborne, Wiliam Hadfield, Henry Vizetelly”
(BRANCO, 1989, 201).

Para além do grande número de estrangeiros interessados no arquipélago da Madeira,


inicialmente pelo comércio do açúcar, do vinho, do bordado Madeira, e pelas características
naturais do território (clima, botânica, geologia, medicina), na viragem do séc. XIX para o séc.
XX, a Madeira começou a ser pensada como um espaço de lazer. É nesta altura que tem início o
turismo na Madeira, uma nova era em que se começa a desenvolver um ciclo económico ligado a
esta atividade. Se, por um lado, o turismo pode ser visto como algo motivador e revitalizador de
práticas estagnadas, através do processo de aculturação, por outro, podemos inferir que o mesmo
processo poderá influenciar e motivar a comunidade linguística a que se destina.

Esta atração pelo turismo permitiu que houvesse, a nível económico e urbanístico,
principalmente na cidade do Funchal, um grande investimento na construção de hotéis, levado a
cabo sobretudo por Ingleses, que fez surgir na cidade uma realidade nova. A atividade turística
transforma, assim, a capital insular num centro cosmopolita e num palco de muitas culturas.

A emigração madeirense entre os séculos XV e XX

Desde o séc. XV que a Madeira viu os filhos da sua terra partirem em busca de novos rumos, num
movimento normalmente associado a crises socioeconómicas. A primeira crise do trigo, logo no

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séc. XVI, forçou os madeirenses a partirem, sendo a falta de cereais, que perdurou pelos séculos
seguintes, responsável pelo facto de a Madeira se ter tornado refém da importação cerealífera
vinda dos Açores. Nos sécs. XVI e XVII, os madeirenses foram essenciais no Brasil, pois
contribuíram com as suas aptidões como lavradores e mestres de engenho, bem como na
exportação de cana-de-açúcar, tendo tido um papel relevante no comércio açucareiro do Brasil.
No séc. XVII, com a invasão holandesa do Brasil, o comércio teve dificuldades. Houve
necessidade de enviar novamente madeirenses para a reconstrução dos engenhos, e eles
contribuíram para a expulsão dos Holandeses do Maranhão em 1642, em particular o madeirense
António Teixeira Mello; em Pernambuco, em 1645, a organização de resistência foi feita pelo
madeirense João Fernandes Vieira.

No séc. XVIII, a fome e a crise persistiam, consequência, ainda, da falta de trigo, como afirma
Maria Licínia dos Santos: “logo nos primeiros anos do século XVIII, ou seja, 1806, a Madeira foi
intensamente ameaçada pelo espectro da fome” (SANTOS, 1999, 16). A emigração para o Brasil
foi, portanto, uma fuga à fome e uma forma de ascender social e economicamente. Por esta razão,
os madeirenses optam por levar os seus cônjuges, decisão que beneficiou e garantiu as terras do
Sul do Brasil, que estavam quase à mercê dos Espanhóis com o Tratado de Madrid. Daqui
resultou uma grande afluência de madeirenses para as regiões de Santa Catarina, Rio Grande do
Sul, Maranhão e Rio de Janeiro. A chegada dos madeirenses ao Brasil foi difícil, tendo esta
situação ficado conhecida como “escravatura branca” (VIEIRA, 2004a). Na tabela seguinte,
apresentam-se os dados fornecidos por Alberto Vieira relativamente ao número de emigrantes
para este destino, entre os anos de 1835 e 1860.

       

Ano Emigrantes Ano Emigrantes

1835 4 1846-1850 -------------

1836 22 1851 7

1837 56 1852 307

1838 29 1853 496

1839 4 1854 143

1840 9 1855 586

1841 39 1856-1857 ------------

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1842 148 1858 228

1843 128 1859 82

1844 425 1960 --------------

1845 116 ----------------- ---------------

Fig. 5 – Tabela com o número de emigrantes madeirenses para o Brasil no séc. XIX.
Fonte: VIEIRA, 2004a, 18.

A par do Brasil, outro destino procurado pelos madeirenses foi o sul de África, nomeadamente a
extensa colónia angolana, onde se regista presença madeirense desde 1664. Até ao séc. XIX, a
emigração (imigração/emigração) para esta região não se fazia de forma acentuada, quando
comparada com esse século e os seguintes. O processo de emigração, resultado da continuada
crise económica e das várias calamidades naturais que afetaram a agricultura, especialmente a
vinícola, levou os insulares a procurarem em massa, comparativamente aos séculos anteriores,
outros destinos para obterem melhores condições de vida. Para além dos problemas acima
enunciados, a Madeira sofreu ainda o impacto do conflito político entre liberais e absolutistas,
tornando o arquipélago vulnerável e dando aso às investidas de ocupação por parte dos Ingleses,
em 1801 e em 1810. A crise permitiu que as diferenças sociais aumentassem e as classes sociais se
diferenciassem mais umas das outras, levando a que as classes mais baixas, famintas,
procurassem outros rumos. A meio do século (1846 e 1847), a Madeira sofre nova crise, desta vez
no cultivo da semilha, o meio de sustento dos pobres, levando a mais um surto de fome e,
consequentemente, a nova vaga de emigração. As Antilhas britânicas foram um dos locais
procurados pelos madeirenses para emigrar, até porque, na altura, os ingleses tinham falta de
mão de obra para as suas plantações. Assim, os destinos de emigração mais frequentes dos
madeirenses foram as Antilhas, Demerara, os países da América Central, o Brasil, o Havai e
Angola. Nas tabelas seguintes, podemos observar o número de emigrantes distribuídos pelos
vários países entre 1834 e 1847 (fig. 6) e pelas colónias britânicas entre 1843 e 1866 (fig. 7):

Ano Destino Total

1834-1846 Demerara e ilhas do Mar do Caribe 6872

1845-1846 Guiana 6977

1845-1846 Trindade 379

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Ano Destino Total

1845-1846 St. Vicent 1080

1845-1846 St. Kitt´s 80

1846 Dominicana 164

1847 Guiana 3755

1847 Trindade 346

1847 St. Vicent 460

1847 St. Kitt´s 5

1847 Granada 421

1847 Antígua 1068

1847 Nevis 417

Fig. 6 – Tabela com o número de emigrantes madeirenses para diversos destinos. entre 1834 e
1847.
Fonte: TEIXEIRA, 2009, 75-76.

Ano Destino Total

1843-1866 Jamaica 379

1843-1866 Guiana 22.212

1843-1866 Trinidad 725

1843-1866 St. Vincent 2546

1843-1866 Grenada 631

1843-1866 Antígua 2224

1843-1866 St. Kitt´s 1024

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Ano Destino Total

1843-1866 Nevis 427

Fig. 7 – Tabela com o número de emigrantes da Madeira para diversos destinos (colónias
britânicas) entre 1843 e 1866. Fonte: TEIXEIRA, 2009, 80.

No outro lado do oceano, a colonização de Angola era um assunto premente, pelo que, em 1884,
se fixaram nessa terra os primeiros 222 colonos saídos do porto do Funchal. Ainda no mesmo
ano, chegariam mais 349 emigrantes e, até 1890, registaram-se mais de 704 indivíduos.

Ainda no séc. XIX, outro destino procurado pelos madeirenses foi o Havai, que, na segunda
metade da centúria, recebeu 400.000 emigrantes de todo o mundo. A emigração madeirense
deveu-se em grande parte ao trabalho de Wilhem Hillebrand. Em 1978, este promoveu uns
panfletos denominados “Breve notícia acerca das ilhas Sandwich – e das vantagens que elas
oferecem à emigração que as procure”. Segundo Susana Caldeira, “Primeiro, foram os chineses,
em 1852. A emigração portuguesa começou com o primeiro grupo de 120 madeirenses que
chegaram lá [ao Havai] no dia 29 de setembro de 1878, a bordo do navio Priscilla, respondendo
[ao apelo de] mão de obra [para as] plantações de açúcar”. A predominância dos madeirenses
durou até ao início do séc. XX, e “o português, que foi ensinado, na universidade do Havai, até
1956 e, mesmo depois, por alguns tutores privados, ainda é falado por alguns descendentes,
sendo que o sotaque e os termos utilizados podem denotar-se de origem madeirense”
(CALDEIRA, 2011).

Se, por um lado, a emigração madeirense se acentuou no séc. XIX em países da América Central e
nas colónias ingleses, já no séc. XX os destinos emigratórios serão predominantemente o Brasil,
Curaçau, a África do Sul e a Venezuela. No início do séc. XX, com as guerras mundiais à porta, a
emigração viu-se fechada e será apenas a partir de 1940 que irá acentuar-se, consequência dos
danos colaterais provocados pela Segunda Guerra Mundial. Neste período, o turismo diminuiu,
assim como a exportação do vinho, o que fez agravar a situação económica na Ilha e aumentar a
necessidade de saída dos madeirenses. Na fig. 8, podemos ver o número de emigrantes para a
Venezuela e para o Brasil no período compreendido entre 1943 e 1954.

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Ano País Homens Mulheres Total

1943 Venezuela -- -- --

Brasil 6 8 14

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Ano País Homens Mulheres Total

1944 Venezuela -- -- --

Brasil 3 3 6

1945 Venezuela 1014 5 1019

Brasil 49 20 69

1946 Venezuela 9

Brasil 614 99 713

1947 Venezuela 19 8 27

Brasil 686 444 1130

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Fig. 8 – Tabela com o número de emigrantes da Madeira, do sexo feminino e masculino, para a
Venezuela e para o Brasil no séc. XX. Fonte: NASCIMENTO, 2009, 106-107

No séc. XIX, apesar de muitos madeirenses terem saído da Madeira, muitos regressaram
também; já no séc. XX, e segundo os censos 2011, a população de nacionalidade portuguesa
residente na Madeira que já tinha residido no estrangeiro é de 18,2 %; a maior fatia corresponde
aos que tinham emigrado para a Venezuela (37,1 %), seguindo-se os indivíduos que tinham estado
no Reino Unido (17,5 %).

A Madeira é, portanto, uma porta aberta para o mundo, para o fluxo de entradas e saídas de
várias comunidades linguísticas e culturais, caracterizada por um contacto persistente e
acentuado com outras comunidades linguísticas ao longo do tempo. Desta forma, é possível
entender o contacto linguístico na Madeira como um facto que poderá estar na origem de vários
fenómenos linguísticos variáveis, sobretudo a nível lexical, mas também fonético, morfológico e,
porventura, sintático. Os produtos resultantes dos contactos etnolinguísticos no arquipélago da
Madeira serão exemplificados a seguir.

Produtos linguísticos resultantes do contacto linguístico

Os estrangeirismos correspondem a empréstimos, porque são termos importados de outras


línguas, podendo ou não sofrer adaptações para se adequarem às características fonéticas e
morfológicas da língua de acolhimento; surgem por necessidades denominativas e comunicativas.
Um dos empréstimos mais usados e generalizados no arquipélago será, sem dúvida, o nome
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“semilha” (batata), empréstimo do espanhol “semilla” (semente), a partir do qual surgem as


formas derivadas “semilheira” (de “semilha” + sufixo -eira), para designar a planta que dá a
semilha, e “semilhal” (de “semilha” + sufixo -al), para denominar uma grande quantidade de
semilhas.

Património linguístico ligado à presença britânica

No séc. XVII, uma considerável comunidade inglesa afirma-se na Madeira. Para tal contribuiu
também a conjuntura favorável ao comércio colonial inglês, definida em 1663 por D. Carlos II,
que lança o vinho madeirense como um importante produto do Atlântico. O vinho ganha
hegemonia na cultura madeirense, substituindo o açúcar, tal como refere, em 1727, António
Cordeiro, citado por Alberto Vieira: “a abundância de frutos já não é tanta, como nem é tanto
açúcar, […] mas a principal de todas é a dos muitos, e excelentes vinhos” (VIEIRA, 2004a, 44). O
vinho da Madeira ganha grande relevo e atrai investidores estrangeiros, nomeadamente
Ingleses, à Ilha. Aliás, António Ribeiro Marques da Silva, falando da perspetiva de um
estrangeiro, afirma que: “Hancock parece ter razão em referir o vinho Madeira como um dos mais
importantes motivos da deslocação do comércio atlântico” (SILVA, 2007, 38).

Nos séculos que se seguem ao ciclo do açúcar, a Madeira continua a receber imensos
estrangeiros, na sua maioria Ingleses, que se fixaram na Ilha e que contribuíram
significativamente para o comércio vinícola. Estas comunidades estrangeiras terão provavelmente
começado a influenciar linguisticamente a comunidade madeirense. A língua inglesa é, assim,
depois da portuguesa, a que é mais falada e a que detém mais prestígio na Ilha. Os elementos da
comunidade britânica aí assentaram primeiro como comerciantes e, mais tarde, como
naturalistas. No séc. XVIII, a Madeira era vista como um centro político e social em
transformação, o que se deveu à presença de duas comunidades linguísticas diferentes. Aliás, a
comunidade inglesa na Madeira contribuiu maioritariamente para o desenvolvimento da
economia insular, desde o séc. XVII até ao séc. XX, tendo estabelecido uma organização
conhecida como British Factory. A narrativa segundo a qual a descoberta da ilha da Madeira é
tributária dos Ingleses, ou a lenda de Machim, reforça a ideia da ligação mítica e histórica à
cultura anglicana, ideia que tem sido explorada sobretudo na literatura britânica. Alberto Gomes
(1950) menciona que uma revista britânica sugere que a conservação da Cruz do túmulo de Anne
d’Arfet e Robert Machim na capela da Ordem de Cristo em Machico poderá ser um sinal de que os
madeirenses consentem na tese de que o descobrimento foi feito pelo casal inglês. Esta lenda
poderá também explicar a forte adesão de Ingleses ao arquipélago. De acordo com David Hancock
(2012), a comunidade inglesa fixada na Madeira no início do séc. XIX deveria rondar os 500
indivíduos, muitos deles a viverem nas suas quintas, próximas ao Funchal.

Embora a comunidade britânica tivesse poucos membros, a sua influência na construção e no


desenvolvimento da sociedade insular foi enorme. Na verdade, não foi só o vinho que os
interessou. No séc. XIX, em 1850, apareceram numa exposição no Funchal uns bordados
madeirenses que chamaram a atenção de Elisabeth Phelps. No mês de junho do mesmo ano, nos
dias 29 e 30, o Cons. Silvestre Ribeiro promoveu os bordados numa feira com o objetivo de
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fomentar o comércio interno, feira que, de acordo com Luísa Clode (1968), foi visitada por 15.000
pessoas. Posteriormente, Elisabeth Phelps deu a conhecer o bordado madeirense aos Ingleses e, a
partir 1854, deu-se início à produção de bordados em larga escala. Com o continuar dos anos, e
apesar dos altos e baixos que a sua produção conheceu, pode considerar-se que, de um modo
geral, houve um aumento significativo do número de bordadeiras e da sua produção, que se
refletiu numa maior afluência de estrangeiros, em especial de Ingleses, ao Funchal para a compra
do bordado, assim como na exportação.

O património natural insular também resulta, em grande parte, da atividade científica conduzida
por naturalistas britânicos que viveram na Ilha, tal como o Rev. Lowe, ou que nela permaneceram
algum tempo, e.g., sir Joseph Banks, no séc. XVIII e, no séc. XIX, Morgan Lemann, James Yate
Johnson, sir Dalton Hooker, entre outros, a fim de coletar dados que integram várias taxonomias
científicas (botânica, fauna, geológica, etc.).

Os Ingleses estiveram, assim, ligados à história socioeconómica da Madeira nas suas diferentes
fases (açúcar, vinho, bordados e turismo). Logo no final do séc. XVII, a economia da Madeira
beneficiou da sua integração no sistema comercial do Atlântico inglês, através do acordo
conhecido como Lei da Navegação de 1660, usufruindo, posteriormente, do Tratado de Methuen.
No entanto, é de salientar que, apesar da influência da comunidade inglesa na economia insular,
os contactos com os ilhéus eram superficiais. Como afirma David Hancock “Interactions between
strangers and natives […] were more restrained. […] The Portuguese had ‘a strong aversion’ to the
British in particular, specially British Protestants, and the British held a similar view in reverse
[As interações entre os estrangeiros e os nativos […] eram mais contidas. […] Os Portugueses
tinham ‘uma forte aversão’ aos Britânicos em particular, especialmente aos protestantes
britânicos, e os Britânicos tinha uma visão semelhante, simétrica]” (HANCOCK, 2009, 18).

Destes tipos de contacto linguístico e intercultural há a registar vários produtos linguísticos, entre
os quais regionalismos como “bambote” e “bamboteiro” (de “bum boat”).

Aline Bazenga, João Adriano Ribeiro e Miguel Sequeira (2012) referem também o uso de
etnónimos, tais como “inglês” e “britânico”, tanto no domínio da antroponímia como da
toponímia. No que concerne ao primeiro caso, são de sublinhar os registos da alcunha “o inglês”
em arquivos notoriais da Região; no caso dos topónimos, são de assinalar a antiga R. dos
Ingleses, a igreja inglesa e o cemitério  dos  Ingleses. O etnónimo “inglês” também integra
nomes de estabelecimentos comerciais, e.g., Botica Inglesa. Os patrónimos de figuras de prestígio
da comunidade britânica insular foram também celebrados através do seu uso na toponímia
regional. É o caso de Blandy (levada do Blandy), de Phelps (Lg. do Phelps) e de Murray
(fontanário Carlos Murray, na freguesia do Monte, no Funchal).

O legado da comunidade britânica contempla referências onomásticas de naturalistas britânicos


nas descrições taxonómicas de plantas endógenas da ilha da Madeira, e.g. nomes de espécies,
como Arachniodes webbiana (A. Braun) Schelpe, de Philip Barker Webb (1793-1854); Dryopteris

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aitoniana Pic. Serm., de William Aiton (1731-1793); Limonium lowei R. Jardim, M. Seq., Capelo,


J.C. Costa & Rivas Mart.; Monanthes lowei (A. Paiva) P. Pérez & Acebes; Lotus loweanus Webb
& Berthel; Peucedanum lowei (Coss.) Menezes; Scrophularia lowei Dalgaard; Phagnalon lowei
DC.;  Koeleria  loweana  Quintanar,  Catalán  &  Castrov., todas dedicadas ao Rev. Thomas Lowe
(1802-1874), naturalista britânico que viveu alguns anos na ilha da Madeira, Convolvulus
massonii F. Dietr. e Cheirolophus massonianus (Lowe) A. Hansen & Sunding, ambas em nome
de Francis Masson (1741-1805), e ainda Musschia wollastonii Lowe 1856, do mesmo autor, cujo
naturalista celebrado é T. Vernon Wollaston (1822-1878).

Influência do castelhano na variedade insular madeirense

O arquipélago madeirense possui, ainda no séc. XXI, um grande número de emigrantes a residir
na Venezuela. As segundas e terceiras gerações, já de nacionalidade venezuelana, quando
regressam, esporádica ou definitivamente, à terra natal dos pais ou avós apenas falam castelhano.
O bilinguismo é raro nesta comunidade, que, mesmo a residir no espaço insular, conserva a
língua daquele país da América do Sul. Quem emigrou jovem fala, normalmente, português com
muitas interferências castelhanas, mas o inverso também acontece, porque há quem opte pelo
castelhano com, inevitavelmente, interferências portuguesas. De qualquer modo, sucede que,
quando regressam para residir no arquipélago, formam comunidades, essencialmente familiares,
mas também de vizinhança, mantendo tradições venezuelanas e conservando o idioma que falam
entre si. Diz-se que o hábito madeirense de cozer milho terá origem venezuelana, mais
precisamente na polenta; não será por acaso que muitas marcas de farinha de milho usadas neste
prato madeirense têm nomes castelhanos. Estes “madeirenses venezuelanos” são reconhecidos e
identificados pelos locais como “mira”, a exclamação castelhana usada para chamar a atenção de
outrem. Congregando a comunidade, o Consulado da Venezuela joga um papel determinante na
valorização da mesma, que inclui madeirenses casados com venezuelanos de outras origens que
não a madeirense, havendo, portanto, outros contactos linguísticos.

Esta influência castelhana é notória, e.g., nos nomes próprios de muitos madeirenses, sobretudo
os de dupla nacionalidade, que se destacam no conjunto dos nomes próprios tipicamente
portugueses dos madeirenses que não emigraram. Quando se ouvem nomes como “Melita”,
“Reina”, “Estefani”, “Nancy”, “Juan” e “Juan Carlos”, reconhecem-se, sobretudo,
lusodescendentes, cujos pais passaram por aquele país da América Latina. Para além disto, é na
culinária que se destaca a ocorrência de vocábulos de origem castelhana; assim, a empanada, que
se reencontra em restaurantes da ilha da Madeira, é um exemplo claro deste contacto linguístico
motivado pela aquisição de novos hábitos culturais. Apesar do forte peso que tem, não se deverá,
contudo, apenas à Venezuela a influência castelhana na variedade insular madeirense.

Segundo Deolinda Macedo, tal influência remontará ao séc. XVII, aquando do domínio filipino; é
uma convicção da autora, embora não exemplifique: “Em algumas regiões, nomeadamente, no
norte, existem certos vocábulos que parecem acusar influência espanhola. O caso não deve
parecer-nos muito estranho, porquanto é facto averiguado que durante o domínio filipino se
foram estabelecer, na Madeira, várias famílias daquela nacionalidade. É natural, pois, que a
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estada dessas famílias na ilha tivesse deixado entre os seus habitantes alguns vestígios”
(MACEDO, 1939, 3). Quando enuncia, e.g., “particularidades fonéticas”, a autora refere que “no
norte, especialmente em S. Vicente, é vulgaríssima a pronúncia de tu e su para designar
respetivamente os pronomes teu e seu ou tua e sua, o que denota certamente influência espanhol
[sic]” (Id., Ibid., 14). No entanto, não fica bem demonstrada esta influência. Aliás, Helena Rebelo
(2007), procurando influências do castelhano na variedade insular madeirense pela consulta de
alguns vocabulários madeirenses, realça isso mesmo. O exemplo mais flagrante é o caso de
“semilha”, que, comprovadamente, tem origem castelhana, mas pelo contacto, de novo, com a
América Latina.

Contudo, a presença de falantes de castelhano no arquipélago madeirense vai sendo,


pontualmente, referida. Na narrativa “Prophetas” (1884), de Mariana Xavier da Silva, e.g., é
mencionada a presença de um castelhano a viver no Porto  Santo: “Um aventureiro espanhol
servia-lhes de sacristão, e tocava todos os dias a campainha lançando pregão para a prática”;
“servindo-lhes de porteiro o espanhol, que era fino e astuto, e muito dedicado aqueles
impostores” (SILVA, 1884, 167-168). Esta presença não será, decerto, caso isolado e isso terá
consequências na língua falada. Num dos textos de “populismos madeirenses”, o subintitulado
“origens”, escreve Alberto Artur Sarmento: “A corrente de famílias estrangeiras que acudiu à
Madeira pouca influência teve, a não ser a castelhana e depois mais durante o domínio em que foi
estabelecido no Funchal o presídio com tropas vindas de Espanha. […] Além dos nomes de
origem algarvia, grande número de vocábulos dos árabes e castelhanos andam de mistura com
termos corrompidos do inglês que atropelam os primitivos numa contínua variedade de palavras
introduzidas, especialmente no Funchal, coração de todo o comércio, e onde o negociante de
bordo ou bomboteiro tem uma linguagem muito sua própria” (SARMENTO, 1914).

Esta quase ausência de dados, como se não houvesse grandes relações entre o castelhano e a
variedade insular, deixa, no entanto, sérias dúvidas. Sabe-se que os arquipélagos da Madeira e
das Canárias mantiveram desde muito cedo contactos estreitos, existindo, inclusivamente,
famílias mistas; talvez por isso, gerou-se o hábito de passar férias no outro arquipélago, quer para
madeirenses, quer para canários. Os investigadores do arquipélago espanhol procuram atestar
influências recíprocas entre o português e o castelhano falado nas ilhas. Além disso, residirá no
arquipélago da Madeira um número considerável de galegos, que se foram misturando com a
população. Terá sucedido o mesmo com alguns gibraltinos, espanhóis, bolivianos, peruanos,
mexicanos, etc. Mas o que se conhece, no começo do séc. XXI, sobre os contactos linguísticos
entre o castelhano e o português falado no arquipélago madeirense é muito pouco; a deteção dos
vestígios linguísticos de uma influência castelhana carece de trabalho de campo, faltando
aprofundar a investigação no terreno.

A presença árabe na Madeira

A presença árabe no arquipélago da Madeira deve-se, sobretudo, à contribuição dos madeirenses


para a conquista e proteção das praças marroquinas, assim como ao desenvolvimento das

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relações comerciais e culturais entre as ilhas atlânticas, neste caso entre a Madeira e as Canárias,
como resultado principalmente da produção açucareira.

Alberto Artur Sarmento, no seu artigo acerca dos mouros na Madeira transcrito no Elucidário
Madeirense, afirma: “O mouro era mais trabalhador do que o escravo da Guiné e da Mina, por
isso a preferência dos senhores das terras em importá-lo para as suas fazendas de cultivo. Este
comércio escandaloso […] originou o clamor do chefe dos mouros que lamenta em carta a D.
Manuel, o que fazia Azambuja, apanhando a torto e a direito e de todas as classes, para enviar de
contrato aos capitães da Madeira. Os mouros formaram núcleos importantes, reunindo-se em
grupo ou bairro à parte, como o atesta a Mouraria, uma das ruas mais antigas do Funchal. […]
Tiveram grande comércio nas vilas, especialmente em Ponta do Sol e Santa Cruz” (SILVA e
MENESES, 1998, II, 408). Acrescenta ainda que foi grande o número de mouros existentes no
arquipélago da Madeira, nos primitivos tempos da colonização, nomeadamente no Funchal, na
Ponta do Sol, no Curral das Freiras e em Machico. Os escravos mouros surgem das várias
expedições guerreiras dos madeirenses a Marrocos e este grupo servil teve grande importância na
sociedade madeirense no séc. XV. No Elucidário  Madeirense, pode ler-se: “Em Santa Cruz,
mostrava-se ainda há anos um retábulo existente na igreja paroquial, onde figuravam escravos
mouros usando um pequeno turbante afunilado, com uma ponta caída, de que derivaram a
carapuça do vilão e a toalhinha pendente da cabeça, antigos trajes característicos da camponesa
da Madeira” (SILVA e MENESES, 1998, II, 408).

Sobre a carapuça madeirense, Wuellerstorf-Urbair, citado por Eduardo Pereira, em Ilhas  de


Zargo, afirmava em 1857: “O capuz mourisco também se modificou, desfigurando-se em gorra
semelhante ao barrete frígio e desceu aos ombros em tapa-nuca; reduziu-se depois a carapuça
limitada à cabeça, elevada em esboço de ponta cónica no cocuruto e sobreposta a um curto pano
de linho, contra o sol, descaído até o pescoço; aguçou em apêndice a parte superior retesada em
rabo-de-gato, adelgaçando para cima até acabar em ponta. Em sua forma atual não oferece abrigo
nem contra o frio nem contra o calor; não parece mais do que um fragmento de touca mourisca”
(PEREIRA, 1989, II, 569). Acrescenta que os habitantes das costas africanas, com quem os
primeiros colonos madeirenses tiveram estreitas relações, usavam carapuças semelhantes, as
quais eram à maneira de turbantes, circundadas dum pano branco fino, referindo também a
igreja de Santa Cruz, onde apareciam alguns escravos árabes com estas carapuças (Id., Ibid.).

Voltando ao Elucidário Madeirense, na transcrição do texto de Sarmento, o autor explicita: “Dos


mouros, a dolência dos cantares, mas a dança repisada é movimento de negro. Dos mouros as
lengas-lengas serranas, os populares: lengi lengi o nevoeiro corriqueiro, a formiga que o seu pé
prende” “Entre as brumas, princesas encantadas, as histórias de palácios e riquezas entesouradas,
ladrões e varas de condão, são influências e assuntos do povo, migrados nesta corrente de longe
subordinada” (SILVA e MENESES, 1998, II, 408). Francisco Lacerda, na sua enumeração de
influências mouras no arquipélago, também regista os contos de princesas mouras encantadas,
bem como os tapetes mágicos, as varinhas de condão e as lengalengas (lingue-lingue). Afirma
também que certos sítios têm na sua toponímia reminiscências mouriscas, como a Fajã da Moura
(Serra de Água) e a Cova do Mouro (Monte), acrescentando que “aonde hoje se encontra a Capela
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de Nossa Senhora da Penha de França, no Faial, existiu uma pequena mesquita, com entrada
disfarçada, aonde os mouros secretamente se reuniam” (LACERDA, 1993, 102). O autor
menciona ainda que os corsários mouros rondavam os mares do arquipélago e que, muitas vezes,
assaltavam povoações, como o Caniçal e a Fajã dos Padres (no Campanário), e salienta que o
Porto Santo foi assolado muitas vezes, ficando em escombros e a ilha quase desabitada. Refere
ainda a expressão “vai-te p’ra Argel” como praga popular que relembra o saque e cativeiro em
terras da moirama.

Ao fazer o estudo das tradições orais populares, Lacerda documenta o romance de conde Claro
(ou Claros), variante de D. Carlos de Mont’Alvar, recolhido no Porto Santo, no qual podemos
encontrar uma referência aos mouros ou moiros: “– Aonde vais tu, conde Claro,/que assim vais
tão arreiado?/ – Se eu venho muito arreiado,/É p’ra com moiros brigar” (LACERDA, 1993, 24). A
forma “arreiado”, provavelmente de “arrear”, significa “pôr os arreios, peças do aparelho das
cavalgaduras” (Dicionário  Priberam  da  Língua  Portuguesa). Nas cantigas, regista uma
referência à moirama nos seguintes versos: “Fui cativo p’ra moirama,/pelo triste azar da
guerra;/que por mim moneta desse,/não houve perro nem perra [?]” (LACERDA, 1993, 62).
“Moirama” ou “mourama”, “terra de muçulmanos” e “os mouros”; “moneta”, possivelmente
“moeda” (de monetário); “perro” e “perra”, respetivamente “cão” e “cadela”, “pessoa vil, canalha,
patife, sacana” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). O autor documenta ainda, na parte
denominada “Cantigas d’amor”, a composição “Pretidão de amor”, onde também há uma clara
referência aos mouros: “Passei pela tua porta/Pedi-te água, não me deste./Tu passaste pela
minha/Bebeste quanta quiseste./Nem os moiros da moirama/Faziam o que tu fizeste!”
(LACERDA, 1993, 153).

Outra relação entre a ilha da Madeira, o Norte de África e Portugal diz respeito à lenda da ilha de
Arguim, que Lacerda regista da seguinte forma: “Em certas tardes brumosas, aparece, ao pôr do
sol, para os lados do Porto Santo uma ilha, também envolta em bruma, onde o Desejado (Rei D.
Sebastião) dorme e espera, desde a desastrosa jornada de Alcácer-Quibir. Espera, até que uma
alma forte consiga abordar a misteriosa ilha de Arguim” (LACERDA, 1993, 80). Arguim é uma
ilha na baía de Arguim, na Mauritânia, onde teria sido construída a primeira feitoria portuguesa
na costa ocidental africana, por ordem do infante  D.  Henrique, senhorio do arquipélago da
Madeira. Foi um importante centro de comércio, estabelecendo ligações com Safim, depois
Marrocos. O Rei D. Sebastião, derrotado pelos mouros na batalha de Alcácer-Quibir, teria fugido
para uma ilha no oceano Atlântico, que seria Arguim; na rota para esse lugar, teria passado pela
ilha da Madeira, tocando o cabo do Garajau, e na rocha teria espetado a sua espada, que aí ficou
encantada, a aguardar que um dia ele voltasse para a conquista do território português que,
entretanto, tinha sido submetido aos Filipes de Castela. Outra versão da lenda diz que o Rei
enterrou a sua espada na encosta mais árida e escarpada da Penha de Águia, no Porto da Cruz.
Marco Livramento refere ainda a lenda da construção do templo a S.to António, na freguesia de
Santo António da Serra (concelho de Santa Cruz), que, curiosamente, teve como interlocutor
preferido um escravo mouro (Lendas e mitos fundadores).

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A presença árabe parece estar patente na música e nas tradições populares madeirenses, e.g. na
mourisca, como o próprio nome indica. Lacerda, a propósito da presença moura no arquipélago
da Madeira, diz que mourisca é o nome de uma dança que perdeu todo o seu carácter mouro
(LACERDA, 1993, 103). Carlos Santos afirma tratar-se de uma canção que se popularizou,
adquirindo variantes de freguesia para freguesia, sendo cantada sobretudo na cultura do trigo do
trabalhador mouro ou madeirense (SANTOS, 1937, 39). No entanto, não há nenhuma certeza
sobre a herança árabe no folclore madeirense, i.e., não há dados concretos que provém esta
influência.

Carlos Santos refere que “A canção popular revela fielmente a vida e os trabalhos do homem
rural, as alegrias e dores, esperanças e incertezas, o amor e a fé. As ilhas da Madeira e Porto
Santo, colonizadas por gentes vindas do Norte ao Algarve de Portugal continental, assim como
escravos mouros, negros e outros, naturalmente reflete o modo de ser, pensar, agir e reagir, a
mentalidade dos povos que as precederam […]. A influência árabe, que mais do que qualquer
outra se manifesta no nosso povo, não é já árabe, senão portuguesa na sua origem, para nós.
Essencialmente portugueses são a nossa gente e o nosso carácter” (Id., Ibid., 8). O autor escreve:
“Igualmente não é crível que as primeiras gerações madeirenses fossem todas puras e
assimilassem unicamente os hábitos e costumes dos seus progenitores. […] Não esqueçamos,
igualmente, que aos escravos nunca foi proibido dançar e cantar” (Id.,  Ibid., 39), tal como
aconteceu no Brasil. No entanto, isto não invalida que haja traços de música continental
portuguesa, i.e., parecenças entre a música da Madeira e a do Minho, do Alentejo e do Algarve.
Mas, segundo o autor, o estilo é madeirense, produto de uma miscelânea em que prepondera o
árabe; e questiona: “E se no Minho há muitas canções alegres, porque haviam de ficar na Madeira
só as monótonas?” (Id.,  Ibid., 40-41), para concluir que, na Madeira, “tanto nas populações
ribeirinhas como nas serranas usam-se as mesmas músicas – o charamba, a mourisca e o
bailinho. […] Se o estilo preponderante e generalizado mais se aproxima do mouro, segue-se que
eles o deixaram por cá como aconteceu em várias províncias continentais. […] Há de haver de
tudo um pouco; mas o estilo musical, não sendo o característico do continente, convida a uma
reflexão demorada. A sua pobreza melódica aproxima-se da música árabe tanto quanto se afasta
das ricas melodias portuguesas” (Id., Ibid., 44-45).

Posto isto, o charamba, a canção mais conhecida no folclore madeirense, possivelmente deixada
pelos árabes, foi adotada com variação de freguesia para freguesia. Com um ritmo arrastado e
sentimental que revela a alma do povo madeirense, é o género musical mais antigo da tradição
popular ou rural. Na Madeira é cantado, enquanto nos Açores é uma dança. Para Carlos Santos, o
charamba parece traduzir o lamento de escravo ou ser uma melodia árabe; os camponeses
madeirenses identificaram-se com esta melodia, devido à sua dura vida rural. O autor observa
que, sempre acompanhado com a viola de arame, o charamba entrou no ouvido dos madeirenses,
como provam as seguintes quadras: “O charamba pelo meio/Toda a vida m’agradou/Depois que o
charamba veio/Outra moda não se usou” e “O Charamba foi às lapas/A mulher aos caranguejos/A
filha ficou em casa/A dar abraços e beijos” (Id., Ibid., 49).

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Maria de Lurdes de Oliveira Monteiro, ao descrever o baile da meia-volta do Porto Santo, aponta
as “características irrefragáveis dos árabes, com os quais a ilha, durante séculos, teve intercâmbio
populacional: […] não há ninguém que, vendo estas rodas e meneios lentos, em noites de luar e
ouvindo as toadas melancólicas e trinadas que os acompanham não chegue instantaneamente a
essa conclusão, tão grande é a semelhança” (MONTEIRO, 1945, 48).

Adalberto Alves (1999) afirma que grande parte dos instrumentos musicais usados em Portugal,
como o violino, a guitarra, o alaúde, a gaita, o pandeiro e o adufe, deriva diretamente dos
instrumentos árabes. Jorge Torres e Rui Camacho (2015), a propósito dos instrumentos
musicais populares, citam Gaspar Frutuoso, que, por volta de 1590, na descrição da ilha da
Madeira, referindo-se à romaria de N.ª Sr.ª do Faial, diz congregar mais de 8000 pessoas, “que se
deixam estar dois, três e mais dias em Nossa Senhora […] e juntos fazem muitas festas de
comédias, danças e músicas de muitos instrumentos de violas, guitarras, flautas, rabis e gaitas de
fole” (FRUTUOSO, 1873, 99). Os autores não nos dão nenhuma indicação sobre o que seria(m)
este(s) instrumento(s) denominado(s) rabis, talvez por ser(em) desconhecido(s). Nem Torres e
Camacho (2015) nem Torres (2015) fazem qualquer referência à influência árabe, pelo facto de
não existirem dados que a comprovem, como já referido.

Sobre o violino popular, o grupo de folclore do Porto Santo escreve: “Mais conhecido por rebeca
foi sempre um acompanhante inseparável das danças e cantares mais característicos e
tradicionais do Porto Santo, como o Baile da Meia Volta e Ladrão. Assim, pode-se concluir que o
seu aparecimento no Porto Santo esteja ligado à chegada dos mouros a esta ilha, tal como as
danças referidas. Posteriormente, este instrumento passou a acompanhar todas as festas
populares, tanto religiosas como profanas” (GRUPO DE FOLCLORE DO PORTO SANTO, 1999,
10).

Relativamente à influência árabe na alimentação madeirense, os autores do Elucidário


Madeirense citam Sarmento, que chama a atenção para o cuscuz dos mouros, “massa granulada
de farinha de trigo, tão apreciada pelas classes pobres e que só a comem nas ocasiões solenes,
com um naco de carne de porco, pelos batizados e casamentos, não faltando o ramo de segurelha
e coentro que encima o prato e o aromatiza” (SILVA e MENESES, 1998, II, 408-409). A palavra
“cuscuz” (do ár. “kuskus”) surge em Luís de Sousa com a grafia “cuscus”, definida como “produto
de confeção mourisca, fabricado principalmente em Marrocos e na Madeira. Notas. I. Z.”
(SOUSA, 1950, 57), que se utiliza geralmente como arroz; com efeito, na Madeira, o trigo,
convertido em farinha, além de ser usado para fazer pão e doces, também é usado para fazer
cuscuz. Veríssimo refere que, no Convento da Encarnação do Funchal, “No Dia de Jesus ou
nos Reis nunca faltava o picado de carneiro com cuscuz” (VERÍSSIMO, 1987, 39). O trigo era
empregue em pão, bolos, doces, empadas, pastéis e cuscuz. No ano de 1769, e.g., as freiras
consumiram 6,5 alqueires de cuscuz (Id., Ibid., 40).

O Visconde  do  Porto  da  Cruz escreve: “O cuscus – parece que foi introduzido na culinária
madeirense pelos escravos mouros do tempo dos povoadores – é dos pratos mais divulgados”.
Diz-nos que há dois pratos: “o cuscus vulgar e o cuscus rico. O primeiro come-se só com água, sal,
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um raminho de segurelha, manteiga e serve-se quente e o segundo é feito do mesmo modo mas
come-se com passas de uva, azeitonas, pedaços de chouriço, de carne de porco, de carne de
galinha e até conservas de pepino, couve-flor, etc.” (PORTO DA CRUZ, 1963, 43). Lacerda nota
que o cuscuz é “receita e uso deixado pelos mouros, muito usado nos conventos e entre seculares,
nos casamentos e batizados” (LACERDA, 1993, 96); Zita Cardoso menciona que o cuscuz é
servido como arroz, especialmente na quadra do Natal e na Páscoa, com pratos de carne: “Trazido
do Norte de África, depois muito usado na Madeira e Porto Santo, foi alimento dos pobres muito
vulgarizado na Ponta do Sol, Ponta do Pargo e Calheta. Foi também manjar senhorial. Daí haver o
cuscuz rico, quando adicionado com pedaços de carne de porco, vaca, galinha, chouriço, passas,
legumes e azeitonas em conserva” (CARDOSO, 1994, 134).

O cuscuz é característico da zona oeste da Madeira, mas a tradição de fazer e cozinhar cuscuz não
era desconhecida na parte leste da ilha, onde, como já se referiu, também houve uma importante
presença moura. Élvio Sousa mostra que o cuscuz constava do receituário tradicional das
cozinhas dos solares da Vila de Machico, ou seja, o seu fabrico e consumo seria frequente apenas
nas casas abastadas, ao contrário do que acontecia noutras partes da Ilha (em que o seu uso era
generalizado); talvez tenha sido por isso que desapareceu da parte leste da Ilha. Normalmente,
era um prato confecionado em dezembro, antecedendo a matança do porco. A Revista  Folclore
informa que o cuscuz de trigo, na alimentação tradicional madeirense de São Vicente, era
utilizado todo o ano, mas principalmente entre novembro e junho, porque se cozinhava com
linguiça de porco e esta era feita com a matança do porco (GRUPO DE FOLCLORE DA CASA DO
POVO DE SÃO VICENTE, 1998, 31).

Segundo o Elucidário  Madeirense, os habitantes da ilha do Porto Santo dão o nome de


escarpiada ao pão de fina espessura feito com farinha de milho moída em moinho de mão ou de
vento, sem fermento, que só terá sobrevivido nessa ilha. A massa do pão, achatada e muito fino, é
cozida numa pedra de barro (o caco), untada com azeite ou banha de porco, sendo voltada de um
lado e do outro (GRUPO DE FOLCLORE DO PORTO SANTO, 1998, 13). Parece tratar-se de um
pão de origem árabe, característico do Porto Santo, onde a influência moura teria sido maior;
contudo, segundo Alberto Vieira (2004a), consumia-se escarpiada, no séc. XVIII, no Convento
da Encarnação, no Funchal. Alberto Vieira, em “A mesa e a cozinha na história madeirense”
(2004b), afirma que o cuscuz, a escarpiada e o bolo do caco terão origem no Norte de África,
devido ao contacto entre as duas áreas geográficas e aos escravos mouros; a escarpiada ou
escrapiada teria sido introduzida no Porto Santo pelos árabes; igualmente de origem árabe será,
como já se disse, o bolo do caco, pão elaborado à base de farinha de trigo, podendo levar batata-
doce para ficar mais fofo e doce, tendo igualmente um aspeto achatado e de bordas arredondadas.
O bolo do caco deve o nome ao facto de ser cozido a lenha, numa pedra de basalto, denominada
caco de pedra, colocada sobre o lar.

A presença árabe no Arquipélago da Madeira também passa pela influência berbere dos escravos
guanches das Canárias. Segundo o Elucidário Madeirense, o gofe ou gófio, papa que se fazia no
Porto Santo com cevada moída depois de torrada, terá sido introduzido no arquipélago no séc. XV
pelos guanches, oriundos de Gran Canária, de La Palma, de Tenerife e de La Gomera (SILVA e
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MENESES, 1998, II, 92-93). Em Ilhas de Zargo, Eduardo Pereira informa que ainda se fabricava
gófio no Porto Santo, mas em diminuta quantidade, somente para uso particular na alimentação
de crianças, débeis e doentes (PEREIRA, 1989 II, 580).

Destaque-se ainda a tanarifa ou abóbora moira, também conhecida por moganga com a variante
boganga/o, que parece ser simultaneamente de influência canária e moura. Trata-se de uma
abóbora branca que, na Madeira, serve sobretudo para fazer sopa. Os vocábulos “tanarifa” e
“abóbora moira” apresentam pouca vitalidade no concelho do Funchal e na zona leste da ilha,
enquanto no concelho da Ponta do Sol e Calheta (zona oeste) parecem ser muito conhecidos. O
termo “tanarifa” surge em Fernando Augusto Silva (1950), em Luís de Sousa (1950), em Antonino
Pestana (1970) e em Marques da Silva (2013) como sinónimo de “abóbora moira”. Helena Rebelo
(2007) refere a possível origem espanhola ou canária do termo, também registado como
“tenerifa” por Luís de Sousa (1950). J. M. Barcelos (2016, 392), além de registar este termo como
“abóbora, o m. q. boganga/moganga”, explica que a tanarifa também é conhecida como “abóbora
de Tenerife”, indicando que “Tanarife era forma antiga de Tenerife, de onde terão vindo algumas
dessas espécies de legumes, em caixas de madeira, nas quais vinha escrito o nome dessa ilha das
Canárias”.

O estudo destas palavras e coisas da cultura madeirense mostra-nos a herança das inter-relações
históricas, linguísticas e etnográficas, cuja presença se prolongou na cultura madeirense.

O francesismo linguístico na realidade insular: o regionalismo “tratuário”/“trotoario”

Contrariamente às situações de contacto já referidas, que remetem para a presença de


comunidades linguísticas e culturais distintas no mesmo espaço insular, o contacto do português
falado na Madeira com o francês pode ser visto como sendo à distância, uma vez que não
pressupõe a presença de uma comunidade francesa apreciável. A influência francesa no léxico
regional deve-se, tal como ocorre com a variedade padrão do português, ao facto de ser grande o
prestígio da cultura francesa em geral no final do séc. XVIII e durante o séc. XIX. Esta situação,
de tipo unidirecional (no sentido do francês para o português), difere, e.g., da que caracteriza o
contacto com o espanhol, sobretudo nas variedades das ilhas Canárias, as quais integram um
número considerável de portuguesismos, sendo por este motivo considerada uma situação de
contacto bidireccional

A terceira fonte em número de vocábulos no português é o francês, que, durante séculos, primeiro
na Idade Média, e mais tarde, nos sécs. XVIII e especialmente XIX, foi a língua de cultura da
Europa. Muitas das palavras de origem francesa recolhidas nos dicionários tornaram-se de uso
culto, literário, sendo outras arcaísmos; contudo, uma parte apreciável continuou a ser utilizada,
integrando-se na linguagem diária portuguesa, “abajur”, “afazeres”, “agrafo”/“agrafar”, “berma”,
“betão”, “creche”, “écran”, “ancestral”, “apartamento”, “assassinato”, “avenida”, “banal”,
“bicicleta”, “bobina”, “boné”, “cabine”, “cabotagem”, “camuflagem”, “chance”, “conduta”,
“constatar”, “crachá”, “departamento”, “detalhe”, “eclosão”, “elite”, “embalagem”, “emoção”,

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“evoluir”, “fetiche”, “governante”, “greve”, “maquete”, “restaurante”, “revanche”, “revoltante”,


“silhueta”, “sabotagem”, “vitrine”, etc. Algumas foram integradas no português sem alterações
(“fantoche”), outras adaptaram-se às propriedades morfológicas e fonológicas do português,
obedecendo também a alguns ajustes de tipo gráfico (“chauffeur”>“chofer”). Este processo de
empréstimo de palavras a outras línguas pode ocorrer com alteração de propriedades gramaticais,
e.g., o género, como, na passagem do francês para o português, em: “une robe”>“um robe”; “une
envelope”>“um envelope”; “le courage”>“a coragem” (VILLALVA, 2008).

A variedade urbana insular (Funchal) integra no seu léxico a palavra “tratuário”, que tem a sua
origem no termo francês “trottoir”, nome masculino derivado do verbo “trotter” (de
*“trotton”>“trotten”, correr , forma intensiva de “treten”, dar um passo, andar). Palavra atestada
nesta língua desde o séc. XVI, destaca-se ainda, na sua etimologia, o uso da expressão “être sur le
trottoir” (1577), com o significado ser tema de conversa; “se mettre sur le trottoir”, com o sentido
figurado de produzir-se, mostrar-se (1592); o termo designa a pista na qual trotam cavalos
(1660). A referência a passeio, ou “chemin élevé le long des quais et des ponts pour les gens qui
vont à pied [percurso elevado, ao longo dos cais e das pontes, destinado aos transeuntes] ”, surge
já no séc. XVIII (1782) (REY, 2005). Do ponto de vista das suas propriedades semânticas,
integra-se, enquanto nome locativo, na categoria de objetos dimensionais de superfícies de duas
dimensões; nesta categoria, pertence à classe dos nomes de passagem, caracterizados pelas
correlações com deslocação, ao lado de uma via urbana, no domínio da vida quotidiana (LE
PESANT, 2000).

“Tratuário” aparece, assim, no léxico regional madeirense, variedade do PE, entre peregrina e
empréstimo, acompanhada de uma outra, “trotoário” (como em O Amor Que Purifica e Trotoário
Azul,  Fotonovelas  Feitas  na  Ilha  da  Madeira). Estas duas formas gráficas revelam opções de
adaptação distintas: a primeira procura conformar-se à fonologia do português e a uma das suas
propriedades (redução do vocalismo átono), dando conta, no seu radical *trat-, da realização da
vogal central, média-alta (VELOSO, 2012) em posição pretónica, afastando-se da representação
gráfica da palavra francesa; já na segunda, reconhece-se o radical nominal trot- (de “trote”, nome
masculino), com diferentes realizações fonéticas nas duas línguas em relação. Ambas opções
recebem, através da vogal final -o, índice temático com valor de género (masculino), de acordo
com as regras morfológicas do português. De notar que os sufixos -ário e -oir, português e
francês, respetivamente, têm a mesma origem latina (-arius e -orium), sendo utilizados na
formação de nomes de agente, com valores instrumental e locativo, mas com propriedades
morfológicas distintas: o primeiro anexa-se a radicais nominais, o segundo a radicais verbais.
“Tratuário” e “trotoário”, configuram-se então como hibridismos (CUNHA e CINTRA, 1984, 115).
Palavras não registadas nos vocabulários regionais de referência, não é possível datar a sua
entrada no léxico regional. No entanto, atendendo à data em que surgem atestadas no léxico de
origem, é provável que o momento em que passaram a ser utilizadas na comunidade insular se
situe nos finais do séc. XIX, altura em que se procede à edificação e calcetamento da praça do
Rossio, em Lisboa, em que surge a calçada-mosaico e em que, “nas ilhas, o seixo rolado em
abundância floresce num tratuário urbano para os peões” (MATOS, 2014), época coincidente com
a do francesismo – iniciado a partir dos meados do séc. XVIII até aproximadamente à Segunda
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Guerra Mundial, período marcado pela influência cultural de França em vários aspetos da vida
portuguesa (literatura, política, ideias) e também na língua, em diversas componentes do seu
sistema, como refere Paul Teyssier (1994).

Bibliog.: AA.VV., O Amor Que Purifica e Trotoário Azul, Fotonovelas Feitas na Ilha da Madeira, Funchal, Porta 23, 2013;
AITCHISON, Jean, Language Change: Progress or Decay?, London,. Fontana Press, 1987; ALBUQUERQUE, Luís de, e VIEIRA,
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Catarina Andrade

Aline Bazenga

Helena Rebelo

Naidea Nunes

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