Os Espaços Na Libras 2016 - MagaliNicolaudeOliveiradeAraújo
Os Espaços Na Libras 2016 - MagaliNicolaudeOliveiradeAraújo
Os Espaços Na Libras 2016 - MagaliNicolaudeOliveiradeAraújo
Instituto de Letras - IL
Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas - LIP
Programa de Pós-Graduação em Linguística - PPGL
OS ESPAÇOS NA LIBRAS
Brasília
2016
OS ESPAÇOS NA LIBRAS
Brasília
2016
MAGALI NICOLAU DE OLIVEIRA DE ARAÚJO
OS ESPAÇOS NA LIBRAS
Banca Examinadora:
_______________________________________________________
Profa. Dra. Daniele Marcelle Grannier - UnB-LIP (Orientadora)
_______________________________________________________
Profa. Dra. Marianne Rossi Stumpf - UFSC (Membro)
_______________________________________________________
Profa. Dra. Poliana Maria Alves - UnB-LIP (Membro)
_______________________________________________________
Profa. Dra Denize Elena Garcia da Silva - UnB-LIP (Membro)
_______________________________________________________
Profa. Dra. Orlene Lúcia de Sabóia Carvalho - UnB-LIP (Membro)
_______________________________________________________
Profa. Dra. Márcia Elizabeth Bortone - UnB-LIP (Membro Suplente)
A Deus todo-poderoso, que tornou
possíveis todas as coisas em minha vida,
inclusive este momento.
Aos meus pais, Paulino Nicolau de Oliveira
e Maria Luiza de Oliveira, que sempre me
incentivaram a correr atrás dos meus sonhos.
À minha filha amada, Ana Carolina Nicolau
de Oliveira Araújo, pelas horas roubadas de
nossa convivência.
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Daniele Marcelle Grannier, agradeço de coração pela paciência, carinho,
apoio e generosidade na orientação deste trabalho, fatores sem os quais não teria sido possível
realizá-lo.
Às componentes da banca, Profas. Dras. Marianne Rossi Stumpf, Poliana Maria Alves,
Denize Elena Garcia da Silva, Orlene Lúcia de Sabóia Carvalho e Márcia Elizabeth Bortone,
a minha gratidão pela disponibilidade e contribuição neste rico momento de aprendizagem.
Aos colegas de trabalho, de hoje e de ontem, Adriana, Celma, Cida, Cristiane, Denise,
Isabela, Jaime, Lúcia, Sirley e Solange que dividem as alegrias e dificuldades de uma sala de
aula para surdos, em especial à intérprete Darlene Coelho Sepúlveda Vacherand, pela
valorosa contribuição.
Aos meus pais Paulino e Maria Luiza pelo apoio incondicional em todas as fases de
minha vida e pelo exemplo de luta e de vitórias
À Ana Carolina, minha amada filha, pela disposição em fazer a tradução do resumo e
a me ensinar a filmar e a recortar as imagens, e também pela disposição em me socorrer nos
momentos de meu desentendimento com a tecnologia.
À minha família e aos amigos, pelo apoio, pelas orações e pela torcida, especialmente
minhas irmãs Márcia, Margarete, Cristina e Luiza.
O presente estudo concentra-se no uso de diferentes espaços na Libras usada em Brasília. Para
esta pesquisa, foram coletados dados em uma escola pública situada no Distrito Federal e de
membros da comunidade surda. Realizaram-se gravações de textos narrativos baseadas em
filmes e de diálogos espontâneos. A análise se desenvolveu em um quadro teórico
funcionalista. O uso dos espaços na Libras resulta de diferentes fatores, tais como mudanças
de pessoas e necessidade de inserir locativos no enunciado. Os diferentes espaços na Libras
conceituados por Liddell (1995, 2000) em seus estudos na Língua de Sinais Americana (ASL)
são: real, sub-rogado ou token. Foi observado que as características estruturais de cada espaço
indicam as suas funções: na expressão da terceira pessoa, requer o uso do espaço sub-rogado;
na necessidade de inserir o locativo, requer o uso do espaço token; na distinção da expressão
das pessoas no discurso da narrativa, a primeira e a segunda pessoas do discurso se expressam
no espaço real, e a terceira pessoa se expressa por meio do corpo como sujeito no espaço sub-
rogado; na existência de um outro espaço, o não-marcado, durante a realização da narrativa do
surdo. Notou-se, ainda, que, na ocorrência de diálogos entre os personagens, são reproduzidas
as características do espaço real, o falante faz os papéis dos dois ou mais personagens. Foi
relevante a observação dos elementos estruturais para a caracterização de cada espaço, tais
como a direção do olhar, o uso da apontação, a posição do corpo, a presença ou ausência de
elementos secundários como gingado e deslocamentos, algumas expressões não manuais e o
tamanho das transferências. A pesquisa pretende contribuir para a geração de novos
conhecimentos a respeito da Libras, de modo que, mediante sua análise e interpretação,
possam surgir novos estudos sobre sua singularidade linguística.
This study is focused in the use of the different spaces on Brazilian sign language used in
Brasilia. For this research were collected data in a public school placed at the Federal District,
and also from members of the deaf community. Videos were recorded based on narrative
texts, and spontaneous dialogues. The analyses was developed in a base of the fundamentalist
theory. The different spaces at brazilian sign language conception by Liddell (1995, 2000) in
his American sign language (ASL) studies, are divided by: real, sub rogated or token. It was
observed that the structural characteristics in each space indicate it’s functions in the
expression of the third person requires the use of the sub rogated space, the need to insert the
locative requires the use of the token space, in the distinction of the expression of the people
throughout the narrative: the first and the second person in the discourse expresses themselves
in the real space, the third person also expresses himself throughout his body as the person in
the subrogated space; in the existence of the other space, unmarked, through the realization of
the deaf narrative. It was noticed, yet, that when the dialogues occur between the characters,
they reproduce the characteristics of the real space, the speaking one does the part of both, or
more, the characters. The observation of the structural elements was relevant for the
characterization of each space, as the direction of the look, the use of pointing, the body’s
position, the presence or absence of the secondary elements as gipsy and dislocation, non
manual expressions and the size of the transferences. This research aims to contribute with the
geration of new information about the Brazilian sign language, that through it’s analysis and
interpretation may arise new knowledge about it’s linguistic singularity.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 18
1 QUADRO TEÓRICO ........................................................................................................... 22
1.1 Abordagem de análise linguística ................................................................................. 22
1.2 Linguística Funcional .................................................................................................... 22
2 UNIVERSAIS LINGUÍSTICOS .......................................................................................... 26
2.1 Língua de Sinais ............................................................................................................. 27
3 ESPAÇOS NA LÍNGUA DE SINAIS .................................................................................. 35
3.1 Estruturas conceptuais e iconicidade ........................................................................... 35
3.1.1 Espaço real .............................................................................................................. 35
3.1.2 Espaço sub-rogado ................................................................................................. 36
3.1.3 Espaço token ........................................................................................................... 36
3.2 Papéis temáticos do corpo no espaço............................................................................ 38
3.3 Alta iconicidade e iconicidade padrão ......................................................................... 43
3.3.1 Transferência de Tamanho e Forma .................................................................... 45
3.3.2 Transferência de Situação ..................................................................................... 47
3.3.3 Transferência de Pessoa ........................................................................................ 47
3.3.4 Combinação de Transferências ............................................................................. 49
3.4 Relações gramaticais no espaço discursivo .................................................................. 52
4 SOBRE A LIBRAS ................................................................................................................ 57
4.1 Marcação de pessoa em Libras ..................................................................................... 62
4.2 Classificadores ................................................................................................................ 64
4.3 Sobre os espaços na Libras ........................................................................................... 68
4.4 Referência anafórica ...................................................................................................... 72
4.5 Cenário ............................................................................................................................ 72
5 METODOLOGIA.................................................................................................................. 73
5.1 Seleção e caracterização dos participantes .................................................................. 76
5.1.1 Participante IS ..................................................................................................... 76
5.1.2 Participante SH .................................................................................................... 76
5.1.3 Participante JF ..................................................................................................... 76
5.1.4 Participante ES .................................................................................................... 77
5.1.5 Participante AH ................................................................................................... 77
5.1.6 Participante JS ..................................................................................................... 77
5.1.7 Participante ED .................................................................................................... 77
5.1.8 Participante PR .................................................................................................... 77
5.1.9 Participante KS .................................................................................................... 78
5.1.10 Participante KT ................................................................................................. 78
5.2 Gravação dos dados ....................................................................................................... 79
5.3 Processamento dos dados .............................................................................................. 79
5.4 Apresentação dos dados ................................................................................................ 80
6 ANÁLISE DE DADOS .......................................................................................................... 83
6.1 Construção do cenário e pronomes .............................................................................. 84
6.1.1 Referência anafórica ............................................................................................ 85
6.1.2 Apontação ............................................................................................................. 85
6.2 Expressões não-manuais................................................................................................ 87
6.3 Observações do léxico .................................................................................................... 89
6.3.1 Verbos ................................................................................................................... 89
6.3.2 Substantivos e seus substitutos ........................................................................... 92
6.3.3 Adjetivos ............................................................................................................... 94
6.4 Caracterizando os espaços na Libras .................................................................... 95
6.4.1 Espaço não-marcado ........................................................................................... 95
6.4.2 Espaço real ........................................................................................................... 99
6.4.3 Espaço token........................................................................................................ 101
6.4.3.1 Olhar no espaço token................................................................................... 103
6.4.4 Espaço sub-rogado .............................................................................................. 104
6.4.4.1 Giro do corpo no espaço sub-rogado ........................................................... 106
6.4.4.2 O olhar no espaço sub-rogado ...................................................................... 108
6.5 Comparação dos espaços .............................................................................................. 110
6.6 Alternância dos espaços................................................................................................ 112
6.6.1 Alternância do espaço token para o sub-rogado .............................................. 112
6.6.2 Alternância do espaço sub-rogado para o token .............................................. 115
6.6.3 Alternância do espaço real para o não-marcado ............................................. 119
6.6.4 Entremeio do espaço sub-rogado, token e não-marcado ................................ 120
6.7 Superposiçao dos espaços ............................................................................................. 120
6.8 Inserção do espaço real no sub-rogado ....................................................................... 123
6.9 Quadro geral ................................................................................................................. 124
6.10 Função dos espaços ..................................................................................................... 125
6.11 Transferências: análises alternativas ........................................................................ 125
6.12 Combinação de transferências ................................................................................... 128
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 131
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 133
APÊNDICE - Análise de uma sequência ............................................................................... 136
ANEXOS
Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................... 140
Anexo 2 – Termo de Autorização para Utilização de Imagem e Som de Voz para fins
de Pesquisa........................................................................................................................... 141
Anexo 3 – Aceite Institucional ........................................................................................... 142
18
INTRODUÇÃO
O objetivo geral da tese é analisar os usos dos diferentes espaços na Libras. O objetivo
específico é estudar a estrutura da Libras e, em especial, o uso dos espaços na sua interface
com a sintaxe. Para tanto, buscarei examinar o uso de espaços que vêm sendo denominados
“espaços mentais” na Libras, seguindo as propostas de Fauconnier (1985, 2005), Liddell
(1995, 2000), Cuxac (1996, 2000), além de Cuxac e Sallandre (2002).
Para o exame dessas hipóteses, foi relevante a observação dos elementos estruturais
para a caracterização de cada espaço, tais como a direção do olhar, o uso da apontação, a
posição do corpo, a presença ou ausência de elementos secundários, como gingado e
deslocamentos, algumas expressões não manuais e o tamanho das transferências.
Além disso, ao longo do estudo, surgiram outras questões: a) foi necessário distinguir
um espaço não-marcado em oposição aos três espaços marcados, definidos por Liddell (essa
questão percorreu todos os momentos da pesquisa, uma vez que o assunto é praticamente
ignorado pela maioria dos autores); b) os espaços se alternam dentro de um mesmo
enunciado, que pode começar no espaço não-marcado e passar para o sub-rogado, ou vice-
versa; c) o espaço sub-rogado é a voz da terceira pessoa, sendo em geral uma reprodução do
espaço real, em que o corpo do falante é o suporte para a representação do personagem.
e apresentar uma estrutura que está ligada às pressões decorrentes das mais diversas situações
comunicativas. Assim, o funcionalismo auxilia na análise da estrutura gramatical, no caso do
objetivo principal desta tese que é o uso dos diferentes espaços na Libras, o que envolve a
situação comunicativa por inteiro.
Para a análise e descrição da função gramatical do uso dos espaços na Libras, foram
adotados, sobretudo, a teoria linguística básica de Dixon (2010) e os estudos de Givón (2011).
No capítulo três são considerados os espaços nas línguas de sinais de acordo com os
aspectos gramaticais que se evidenciam. Sobre o tema, foram observados os conceitos de
Baker e Cokely (1980), Loew (1984), Liddell (1995, 2000), Cuxac (1996, 2000), Salandre e
Cuxac (2002), Campello (2008) e a análise do corpo como sujeito de Meir et al. (2006).
No capítulo quatro são considerados os estudos existentes sobre a Libras, entre eles
alguns sobre seus aspectos morfológicos, marcação de pessoa, classificadores e referência
anafórica. Busca-se, também, uma incursão sobre as ocorrências dos espaços e sobre a
construção do cenário da narrativa em Libras.
O último capítulo ficou reservado à análise e à apresentação dos dados, com o objetivo
de mostrar o uso dos espaços da Libras.
Como apêndice, consta, ainda, uma das análises de uma sequência de acordo com os
resultados encontrados no capítulo cinco.
22
1 QUADRO TEÓRICO
Os pressupostos teóricos que guiam esta pesquisa são compatíveis com a Teoria
Linguística Funcional, que considera a linguagem como um instrumento da comunicação.
Assim, as estruturas percebidas nas expressões linguísticas destacam-se por suas funções
dentro das orações.
De modo similar, Givón afirma que o tipo de linguística por ele defendida é aquela
que se valida na prática pela descoberta de como essa ciência ilumina o vasto leque dos fatos
da linguagem humana. Segundo Givón (2012, p. 67), a abordagem funcionalista destaca o
princípio da iconicidade, que prevê uma conexão não arbitrária e a existência de uma
correlação de ‘um para um’ entre forma e função na gramática da língua. O autor destaca,
ainda, que essa correlação entre forma e função é aplicada além do escopo. O referido
estudioso, além de sugerir a existência de arbitrariedade na codificação linguística; defende
que a iconicidade está sujeita às pressões diacrônicas tanto na forma, o código/estrutura,
quanto na função, a mensagem.
23
O termo tipologia tem diferentes usos. Um deles, fora da linguística, é como sinônimo
da “taxionomia” ou “classificação” de fenômenos em tipos, particularmente tipos estruturais.
Esse uso pode ser observado na biologia, um campo que inspirou a teoria linguística no século
XIX. A classificação tipológica é historicamente a primeira manifestação da tipologia
moderna, que teve início com a classificação morfológica das línguas no século XIX
(CROFT, 1990, p. 27).
Mais adiante, Sapir distinguiu três tipos de línguas com base no número de morfemas:
analíticas (um morfema por palavra), sintéticas (um pequeno número de morfemas por
palavra) e polissintéticas (um grande número de morfemas por palavra). Partindo do
detalhamento de estudos anteriores, também distinguiu quatro tipos de acordo com os graus
de alterações de morfemas: isolantes, aglutinantes, fusionais e simbólicas. Sapir apresentou
uma nova classificação tipológica que demonstrou como as línguas podem ser classificadas
em concretas (o léxico de base); derivacionais (como se define tradicionalmente); puras
relacionais (usadas para indicar relações gramaticais); e concretas relacionais (também usadas
para indicar relações gramaticais, mas com alguns significados concretos). (CROFT, 1990, p.
40)
Givón (1995) estabeleceu três critérios principais para distinguir as categorias que
seriam marcadas das categorias não marcadas em um contraste gramatical binário. Esses
critérios são: a) complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa (ou
25
Givón (1995) destaca que uma mesma estrutura pode ser marcada em um dado
contexto e não marcada em outro. Assim, a marcação é um fenômeno que depende do
contexto e pode ser esclarecida com base em fatores comunicativos, socioculturais, cognitivos
ou biológicos. A marcação pode ser encontrada em fenômenos como o discurso formal e a
conversação espontânea, ela não fica restrita às categorias linguísticas. A marcação que
caracteriza uma forma linguística é relativa, porque o contexto é que vai definir a marcação
ou não marcação de uma sentença (GIVÓN, 1995, p. 29-32).
Ainda sobre essa temática, Dixon (2010) esclarece que a noção de marcação tem sido
útil nas descrições linguísticas e explanações, desde que seja definida e aplicada com cuidado
e não de forma exagerada como tem ocorrido frequentemente. A marcação em gramática
aplica-se mais apropriadamente em um sistema fechado e de duas formas distintas, a
marcação formal e a marcação funcional. Estas, às vezes, se correlacionam e, às vezes, não;
cada variedade pode ser aplicada a sistemas de qualquer tamanho, com dois membros ou com
mais de dois membros (DIXON, 2010, p. 235-236).
Dixon (2010) esclarece ainda que na marcação formal se um termo de um sistema tem
realização zero, então ele é formalmente não marcado, como ocorre em casos de singular e
plural. Já a marcação funcional se baseia no uso: os termos marcados podem ser usados em
situações restritas ou específicas. Em inglês, o singular funciona como uma boa formação não
marcada. O “plural” deve se referir a um conjunto de dois ou mais referentes, ao passo que o
“singular” pode se referir a apenas um referente, mas pode também ser usado no sentido geral,
quando nenhum número for especificado, como na sentença “o cachorro é o animal mais
companheiro que eu conheço”. (DIXON, 2010, p. 237)
2 UNIVERSAIS LINGUÍSTICOS
Comrie acrescenta que algumas das possibilidades lógicas, na análise linguística, não
são representadas ou, quando o são, aparecem designadas por uma estatística significativa
com alto ou baixo número de representantes, o que explica a importância do resultado
tipológico para a declaração dos universais linguísticos.
Se uma língua tem formas reflexivas distintas na primeira e na segunda pessoa, por
exemplo, terá formas reflexivas distintas na terceira pessoa. Existem quatro possibilidades
lógicas: formas reflexivas distintas em ambas, primeira/segunda e terceira pessoa; formas
reflexivas distintas na primeira/segunda pessoa, mas não na terceira pessoa; formas reflexivas
distintas na terceira pessoa, mas não na primeira/segunda; sem formas reflexivas distintas,
nem na primeira/segunda nem na terceira pessoa (COMRIE, 1989, p. 34).
tende a preceder o objeto. Ele apresenta três tipos de orações com os constituintes S, O e V,
então, existem seis possibilidades lógicas de combinações entre eles: (a) SOV, (b) SVO, (c)
VSO, (d) VOS, (e) OVS, (f) OSV.
Em sua análise, Comrie (1989, p. 34-35) acrescenta, ainda, que os tipos SOV e VSO
aparecem na grande maioria das línguas do mundo; o tipo VOS ocorre em um número muito
pequeno de línguas, o tipo OVS ocorre em pouquíssimas línguas e em uma área restrita. Ele
destaca que, por enquanto, se espera uma descrição detalhada de alguma língua com a ordem
básica de OSV. Existem indícios de que há línguas na região amazônica que têm OSV como
sua ordem básica. Assim, a tipologia linguística, no que se refere a estas seis possibilidades de
combinações de S, V e O, conduz ao reconhecimento de que há uma tendência nos universais
linguísticos de que o sujeito preceda o objeto na ordem das palavras na oração.
Os primeiros estudos sobre Língua de Sinais tiveram grande impulso, em 1960, com a
publicação da obra Sign Language Structure, de Stokoe, que destaca as semelhanças das
línguas de sinais com a estrutura das línguas orais. Nesse mesmo sentido, diversos estudiosos,
tais como Bellugi e Klima (1979 e 1990), Sacks (1990), Bellugi, Poisner e Klima (1987), e no
Brasil, Brito (1995) e Quadros e Karnopp (2004), corroboraram a presença, nas línguas de
sinais, de estrutura, sintaxe, semântica e, também, fonologia.
Stokoe (1960) destacou que os sinais não são imagens, mas símbolos abstratos, com
uma complexa estrutura interior. O estudioso entendeu que cada sinal apresenta, na sua forma,
componentes independentes – localização, configuração de mãos e movimento – e também
que cada componente possui um número limitado de combinações. Seu trabalho representou
um grande passo no conhecimento das características da Língua de Sinais Americana,
doravante denominada ASL, de tal forma que vários estudiosos o seguiram, a fim de
romperem com concepções inadequadas sobre as línguas de sinais.
28
2) A língua de sinais seria única e universal, sendo, assim, usada por todas as pessoas
surdas.
Sobre este último ponto, Bellugi e Klima (1990) destacaram que existem propriedades
comuns aos dois tipos de línguas e propriedades específicas das línguas de sinais. Os estudos
da ASL trouxeram à tona diversos questionamentos sobre a organização de uma língua que
faz uso do canal gestual-visual e que apresenta suas unidades lexicais produzidas pelas mãos.
A ASL, sendo uma língua visual, envolve diferentes funções do cérebro no momento de sua
emissão e nos momentos da recepção. Os estudos destacaram que surdos que apresentavam
alguma lesão no cérebro no hemisfério esquerdo demonstraram dificuldades na emissão da
língua de sinais, mas a capacidade para a realização do processamento de relações não
linguísticas visuoespaciais estava preservada. Pontuou-se, então, a separação entre a
linguagem e as funções visuoespaciais que não sejam linguísticas, o que possibilitou perceber
a existência de evidências de que os aspectos gramaticais da língua de sinais estejam situados
no hemisfério esquerdo do cérebro. Afirma-se, ainda, que o processamento da linguagem
humana independe da modalidade da língua (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 36).
29
A novidade trazida por Stokoe (1960) em relação aos três parâmetros de análise da
língua de sinais determinou o desenvolvimento de modelos fonológicos, a introdução da
ordem linear, o que mostrou a sequencialidade das unidades e o aperfeiçoamento dos
parâmetros e das relações estruturais entre tais unidades na descrição fonológica dos sinais.
Após os estudos de Stokoe (1960), surgiram mais dois parâmetros que integraram a
análise da língua de sinais em seu aspecto fonológico: a orientação de mãos (Or) e os aspectos
não manuais (NM) ou expressão não manual (ENM). Segundo Quadros e Karnopp (2004), a
orientação não foi considerada como um parâmetro distinto no trabalho inicial de Stokoe,
porém Battiston (1974) e, posteriormente, outros pesquisadores lutaram para a inclusão da
orientação de mãos como mais um parâmetro na fonologia das línguas de sinais. Apresenta-
se, a seguir, uma breve revisão dos parâmetros fonológicos: configuração de mãos (CM),
movimento (M), ponto de articulação (PA), orientação de mão (Or) e expressão não manual
30
(ENM), pois faz-se necessário considerá-los na análise dos variados espaços de realização dos
sinais. As ENMs serão detalhadas, dado o seu papel destacado no espaço sub-rogado.
QUADROS E KARNOPP (2004, p.59),
O ponto de articulação é o espaço no qual a mão dominante pode tocar alguma parte
do corpo, ou mesmo pode estar em um espaço neutro. Brito (1995) amplia a lista dos pontos
de articulação sugerida por Friedman (1976), que é dividida em quatro regiões principais (a
cabeça, o tronco, os braços e a mão), acrescentando a perna e um espaço neutro. Brito (1995)
esclarece que o ponto de articulação é o espaço em frente ao corpo ou de uma região do
próprio corpo, onde os sinais são articulados. A estudiosa acrescenta que existem dois tipos de
sinais articulados, os que se articulam no espaço neutro diante do corpo e os que se
aproximam de uma região do corpo (BRITO, p. 37).
Nas línguas de sinais, o espaço de enunciação é uma área que contém todos os pontos
dentro de um raio de alcance das mãos em que os sinais são realizados. O espaço de
enunciação é o espaço ideal, levando-se em consideração que os interlocutores estejam face a
face, conforme pode ser observado na figura 1.
31
Sobre o mesmo tema, Quadros e Karnopp (2004) explicam que as ENMs, movimento
da face, dos olhos, da cabeça e do tronco, detalhadas na tabela 1, exercem dois papéis nas
línguas de sinais: a marcação de construções sintáticas e a diferenciação de itens lexicais. As
expressões não manuais que têm função sintática marcam a presença das sentenças
interrogativas sim-não, das interrogativas QU, das orações relativas, das topicalizações, da
concordância e do foco.
Brito e Langevin (1995) identificam as expressões não manuais da Libras que são
encontradas no rosto, na cabeça e no tronco (QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 60-61).
Ainda sobre o tema, Wilbur (2000) argumenta que existem camadas na língua de
sinais, pois, ao se falar em movimento, é preciso definir o local e a trajetória do sinal. Ele
amplia o debate, alegando que também existem camadas nos componentes não manuais, as
expressões do corpo e da face. Em relação à face, ele propõe a seguinte divisão: inferior e
superior. Na parte inferior da face, o uso determina aparição de informações adjetivas e
adverbiais; a boca, a língua e as bochechas estão associadas a um item lexical específico ou a
orações. Na parte superior, que incluiu partes da face e partes da cabeça, sobrancelhas, olhos,
posição/inclinação ou aceno da cabeça, apresentam-se os constituintes sintáticos (WILBUR,
2000, p. 223).
A relação das ENMs com o espaço foi um dos focos da pesquisa de Araújo (2013). A
explicação que a autora encontrou perpassa pelo elemento de coesão no que diz respeito ao
espaço onde o texto está sendo anunciado. Ela destaca que o espaço token é utilizado depois
de esclarecida qual a situação em andamento. É possível começar uma narrativa em qualquer
espaço, mas a forma de garantir a clareza é começando no espaço sub-rogado. Se o surdo
sentir que não foi claro, ele lançará mão do espaço sub-rogado ou real e voltará ao token.
Assim, as expressões e as marcas nascem no espaço sub-rogado ou real, preferencialmente, e
continuam existindo no espaço token (ARAÚJO, 2013, p. 40-41).
Ainda sobre o tema, Araújo (2013) acrescenta que outra função sintática
desempenhada por ENMs é a de marcadoras de dois tipos de oração: os movimentos de
cabeça servem para indicar as orações interrogativas, com o movimento ascendente, e as
orações negativas, com o movimento lateral. A autora optou por manter o termo ENM para as
ENMs fonológicas e, para as ENMs que desempenham uma função morfológica ou sintática,
ela adotou o termo marcas não manuais - MNMs (ARAÚJO, 2013, p. 93-94).
34
A pesquisadora extraiu e reuniu os princípios linguísticos que regem o uso das ENMs,
pois estas, além de constituírem um parâmetro fonológico, articulam-se simultaneamente com
as expressões manuais, articulam-se entre si, usam o espaço de acordo com a necessidade do
discurso e juntam-se nas transferências, quer de forma, de pessoa ou de situação (ARAÚJO,
2013, p. 93-94).
35
Os espaços nas línguas de sinais possuem função especial de acordo com os aspectos
gramaticais que evidenciam. Essa questão vem sendo estudada por Liddell (2000), Cuxac
(1996, 2000), Sallandre e Cuxac (2002), Meir et al (2006) e Campello (2008).
Liddell (1995) explicita que os espaços mentais são objetos mentais que são distintos
das estruturas linguísticas. Eles são estruturas conceituais sobre as quais as pessoas falam e
que podem construir durante o discurso. A concepção pessoal de seu corrente ambiente físico
é um espaço mental, como uma concepção de uma história, um evento, uma imagem, ou
virtualmente qualquer outro tipo de construção mental. A teoria dos espaços mentais tem uma
aplicação direta no comportamento dos pronomes e verbos da ASL em todos os seus usos e
Van Hoek (1988, 1989,1992) começou a explorar intensamente seu valor na análise da ASL
no que se refere ao uso da sinalização no espaço ( LIDDELL,1995, p. 21).
pode ocorrer a presença de pessoas e objetos e da 3ª pessoa. O termo real é usado para se
fazer referência ao espaço mental que é, de fato, a concepção do indivíduo do que é
perceptível no seu ambiente físico. É o que as pessoas percebem como presentes e reais no ato
de fala.
uso do espaço que fica em frente ao corpo do sinalizador como se pudesse visualizar um
tabuleiro com pequenas “peças” de representação.
Liddell revela que na ASL e aparentemente em todas as línguas naturais de sinais, [...]
permite-se que os sinalizadores, ao produzirem sinais dentro do espaço de sinalização,
indiquem referentes específicos ou mostrem posições específicas, por meio de pronomes,
verbos, concordância dos verbos e dos classificadores. Acrescenta que, produzindo-se um
certo sinal em determinada direção ou em determinadas partes do espaço de sinalização,
produz-se um significado que diferencia este sinal de outro produzido em outras áreas do
espaço de sinalização ou direcionado para elas (LIDDELL, 1995, p. 19).
Destaca, ainda, que as línguas orais não têm a vantagem desta habilidade na língua,
como, por exemplo, apontar a língua para a esquerda enquanto emite a consoante inicial da
palavra this para indicar que o referente é o falante da esquerda. As línguas de sinais,
entretanto, estão estruturadas dessa forma e utilizam a predominância das habilidades do
apontamento das mãos. Quando fazem referências a entidades do mundo real, os sinais
apontam para os locais associados a essas entidades e aos lugares que elas ocupam.
Liddell (1995) aborda três questões básicas a respeito do uso de cada espaço mental:
1) a natureza própria de cada espaço; 2) a natureza das representações linguísticas subjacentes
a sua utilização; 3) o tipo do fenômeno gramatical exemplificado pelo uso daquele espaço
mental. Ele explica que os falantes usam o plano linguístico para indicar se declarações
precisam ser entendidas como expressão do ponto de vista do falante ou de outra pessoa. Nas
línguas orais, são várias as estratégias para expressar pontos de vista: dêixis pronominais,
demonstrativos, estrutura sintática e estilos literários. Nas línguas de sinais, também se usam
esses mecanismos, mas, em acréscimo, o ponto de vista pode ser marcado por uma mudança
de referencial, que pode ser expressa por uma leve virada no corpo e/ou mudanças no olhar,
na posição da cabeça ou na expressão facial (LIDDELL, 1995, p. 20).
38
Meir et al. (2006) afirmam que o corpo do sinalizador não é apenas um lugar formal
para a articulação de sinais e que pode ser associado a um significado particular ou a uma
função mais específica. Para os autores, os meios linguísticos utilizados para se estabelecer a
comunicação de um evento são as mãos, o corpo do sinalizador e o espaço ao redor do
sinalizante. Os autores desenvolvem a proposta de que a função básica do corpo nas formas
verbais em uma Língua de Sinais é a de representar o argumento sujeito; eles descobriram que
elementos formacionais de um sinal representam porções de significados e que a mão e o
corpo podem ser usados destacadamente para codificar inúmeros participantes de um evento
(MEIR et al., 2006, p. 87-88).
Para esses autores, nos verbos icônicos ou parcialmente icônicos articulados sobre o
corpo – denominados verbos ancorados ao corpo –, o corpo passa a representar o sujeito.
Acrescentam que o termo iconicidade é utilizado para se referir aos elementos formacionais e
aos componentes de significado. No caso do verbo COMER, a iconicidade é óbvia e é
possível notar a esquematização evidenciada entre a forma e o significado como um
grupamento de correspondências que pode evidenciar qual dentre os elementos formacionais
coincide com determinado aspecto do significado. Afirmam, ainda, que a correspondência
entre a localização do sinal na boca da pessoa que come revela o agente no evento. Destacam
que o corpo, nesse caso, não indica uma 1ª pessoa, ele pode estar na 1ª, 2ª ou 3ª pessoas, uma
vez que COMER é sinalizado da mesma forma em diversas situações: “eu como”, “você
come” ou “ele/ela come”. O corpo passa a ser um dos componentes formativos da oração; fica
claro que ele é o agente. Na figura 2, por exemplo, o corpo da sinalizante, conforme o
contexto, não representa apenas a primeira pessoa do singular “eu como” (MEIR et al. 2006,
p. 88-89).
Tabela 2
Meir et al. (2006) asseguram, ao expor essa listagem, que o corpo do sinalizante pode
ser ligado a papéis temáticos, como agente, paciente, experienciador e receptor. O corpo
representa um componente do evento, o argumento sujeito que demonstra sentimentos,
sensibilidade e tem uma boca. As mãos, ao contrário do corpo, podem movimentar-se,
evidenciando liberdade no momento da sinalização e podem representar componentes
relevantes de uma oração (MEIR et al. 2006, p. 89-90).
Eles acrescentam que a escolha do argumento não acontece de forma aleatória; no caso
de um predicado de um só lugar, o corpo é associado a um único argumento do predicado. Se
for uma situação em que ocorra um evento transitivo, o argumento associado às propriedades
do corpo será o argumento escolhido para ser usado naquela situação, como se observa nos
exemplos citados pelos autores: o agente em verbos <agente, paciente> (ex.: COMER,
BEBER, OLHAR) ou verbos <agente, paciente, receptor> (ex. PERGUNTAR, INFORMAR,
EXPLICAR) e o experienciador e perceptor em verbos <experenciador, tema> (ex.: VER,
OUVIR, AMAR). O corpo é associado ao argumento-sujeito; o padrão básico de lexicalização
ao representar um estado de língua de sinais é o corpo como sujeito.
Segundo Meir et al. (2006, p. 98), o corpo não se movimenta como as mãos,
codificando, portanto, um número menor de aspectos do evento. Ele codifica o argumento
sujeito, representando-o apenas para seres animados. Os eventos que envolvem sujeitos
inanimados são articulados pelas mãos no espaço à frente do sinalizador, na maioria das
vezes. Dessa forma, as mãos são importantes e versáteis no momento da sinalização, mas
deve-se também levar em consideração o corpo como sujeito no momento da sinalização de
uma narrativa em língua de sinais.
Mais adiante, Meir et al. (2006, p. 101) exemplificam um estudo sobre a comunidade
beduína Al-Sayyid, fundada há mais ou menos 200 anos, em Negev, atual território de Israel.
Nos dias de hoje, os autores informam que Al-Sayyid é composta por 3.500 membros e o
casamento consanguíneo é uma norma desde a sua terceira geração. Os cem membros surdos
41
no uso dos verbos DAR, ATIRAR e ALIMENTAR, seja ele seu destino, no uso de LEVAR e
PEGAR. Para Meir et al. (2006, p. 102), essas formas comportam-se como verbos simples. O
sistema verbal da língua não codifica diretamente diferentes pessoas gramaticais e os dados
evidenciaram o padrão “corpo como sujeito”.
A primeira é composta de pessoas que têm mais de 65 anos. Essas pessoas não
flexionam os verbos de transferência, usam verbos simples, tal como demonstram os
resultados obtidos nos estudos da ABSL. Os sinalizadores com 40 e 50 anos usam verbos de
concordância, partindo do corpo e concordando com o objeto (recipiente). Os mais jovens,
com 30 anos ou menos, flexionam verbos de concordância para o sujeito e para o objeto.
Meir et al. (2006, p. 95) afirmam que podem oferecer uma classificação verbal
alternativa para a ASL e para a ISL, levando em consideração o papel do corpo e o das mãos.
Os autores destacam que os verbos simples, em especial os que são ancorados no corpo,
podem ser um conjunto de verbos em que o corpo é o sujeito e a categoria de pessoa
gramatical não é codificada. Afirmam ainda que, nos verbos de concordância, o corpo é a 1ª
pessoa e as localizações no espaço de sinalização são associadas a referentes que não são de
1ª pessoa. Em especial, as mãos, no aspecto da direção e da orientação, codificam os papéis
sintáticos e semânticos dos argumentos. Esclarecem, enfim, que os verbos espaciais,
incluindo-se as construções com classificadores, possuem pontos iniciais e finais
determinados por referentes espaciais. O movimento do sinal começa em um local e termina
em outro, ocorre descrição da trajetória do movimento do sinal. As mãos, nos verbos espaciais
e nas construções com classificadores, representam entidades que se movem no espaço, e o
corpo não é envolvido no evento, em nenhum momento.
Meir et al. (2006, p. 104) concluem afirmando que o padrão “corpo como sujeito”,
ainda que seja básico, é ofuscado por outros sistemas em línguas de sinais, porém quando o
fenômeno é reconhecido, ele serve de explicação para diversos fenômenos interlinguais e
intralinguais.
43
Sabanai (2016), ao discorrer sobre a pesquisa de Meir et al. (2006), comenta que esses
estudos trazem um novo olhar sobre a classificação dos verbos em língua de sinais, uma vez
que levam em consideração não somente o que as mãos podem fazer no momento da
sinalização, mas também consideram o papel que o corpo tem nas narrativas e como isso
influi na classificação verbal de algumas línguas de sinais. Sabanai acrescenta que, embora a
identificação do corpo como sujeito constitua um avanço na análise da morfossintaxe da
Libras, é necessário ainda distinguir, à luz das teorias linguísticas, a função desses argumentos
nas orações. Em sua pesquisa sobre Libras, essa autora identificou a existência da oposição
entre voz ativa e voz passiva (SABANAI, 2016, p. 30-31).
O sinal padrão é marcado pelos gestos das mãos ou da cabeça e do rosto, pela
orientação do signo, a sua localização e movimento. Cada parâmetro compreende uma lista de
elementos correspondentes aos fonemas da linguagem oral.
Cuxac e Sallandre (2002) esclarecem que a LSF é baseada em um léxico padrão, que
se apresenta como um grupo discreto e estabelecido de sinais, e que pode ser encontrado nos
dicionários de LSF. Esse léxico padrão é fortemente estudado por linguistas em pesquisas de
diferentes línguas de sinais. A originalidade de qualquer língua de sinais é comparada com a
língua falada e é demonstrada na possibilidade de ter outras estruturas dotadas de valor de alta
iconicidade e com mais funções ou menos independência do que o léxico padrão.
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base em Cuxac e Sallandre, 2002.
A Estrutura Altamente Icônica – considerada iconicidade imagética porque se supõe que tais
estruturas se originam no universo mental da imaginação – ocorre quando existe a intenção
deliberada de ilustrar e demonstrar algo enquanto se fala. Essa possibilidade é a característica
da língua de sinais, por meio da qual se mostra a necessidade de nominar as operações
cognitivas subjacentes à intenção.
As operações cognitivas são experiências extralinguísticas denominadas anamórficas;
resultam do universo percepção/prática dentro do espaço do sinalizador (o espaço
tridimensional, onde a língua de sinais ganha corpo). Essas operações são realizadas na
linguagem pelas estruturas denominadas “transferências”, como uma lembrança de que são
resultado da intenção deliberada de exibição.
autores já mostraram diversos exemplos que provam que a iconocidade e a metáfora são
métodos muito usados para a formação de sinais e neologismos.
Esse exemplo faz parte dos estudos na Libras, uma vez que a palavra casa, nessa
língua, também é representada por um sinal que descreve parte do telhado de uma casa. Vale
ressaltar que as raízes históricas da Libras indicam a LSF como a primeira a ser usada no
Brasil nos tempos do Império, do que se depreende que esta serviu de base para a criação
daquela.
Ainda sobre as estruturas com alta iconicidade, Cuxac e Sallandre explicam que esses
não são sinais discretos, ou seja, distintivos, que sua forma e seu significado dificilmente são
transcritos e que suas funções servem preferivelmente para representar a dimensão
demonstrativa de “como isto” combinado com “como se”. Essas estruturas podem ser ativadas
a qualquer momento, mostrando e atuando, como se a pessoa que fala fosse a pessoa com
quem ela fala, quaisquer que sejam as suas ações enquanto narra (transferência pessoal e
transferência dupla). Nesse caso, o sinalizante oferece uma reconstrução imagística da
experiência (CUXAC E SALLANDRE, 2002, p. 3).
Com relação aos três tipos de transferências, eles salientam que, na de tamanho e
forma, mostram-se e descrevem-se a forma e o tamanho de um objeto, sem nenhum processo
envolvido; na transferência de situação, mostra-se a situação, como se fosse possível ver a
cena à distância, o que para outras línguas de sinais pode ser considerado classificador; na
transferência de pessoa, mostram-se processo e papéis. Essas transferências são traços
visíveis da operação de conhecimento, que consiste em transferência do mundo real pela
quarta-dimensionalidade (às três dimensões do espaço – comprimento, largura e altura – é
adicionada a dimensão do tempo) no discurso sinalizado. Esses tipos serão detalhados e
ilustrados nas seções seguintes.
Essas estruturas são usadas para representar parcial ou totalmente o tamanho e/ou a
forma de lugares, objetos ou características. O olhar estabelece a forma (o formato da mão e a
orientação da mão) no espaço (delimitado pelas mãos), então segue o formato e se desenrola
no espaço (movimento das mãos, qualificado ao mesmo tempo pela expressão facial). Na
46
correspondem ao efeito da característica de quem ele se refere e de quem ele tomou o lugar na
narrativa. O sinalizante incorpora um menininho, uma árvore, um cachorro e outros mais.
Esses tipos de estrutura de extrema iconicidade podem ser divididos em diferentes
transferências de pessoa, organizadas de um modo contínuo, começando-se de um alto grau, a
transferência completa, para um baixo grau, a transferência parcial: transferência pessoal
(atuando em um papel completo); transferência de estereótipos (pegando empréstimos da
cultura dos ouvintes); dupla transferência (combinando a transferência pessoal, para atuação,
e a transferência de situação, para uma informação localizada ou um segundo personagem,
simultaneamente); pseudotransferência (descrevendo o personagem com seus atos, quase
como uma transferência pessoal, mas envolvendo menos energia corporal).
Na figura 10, Cuxac e Sallandre mostram mais uma vez um sinalizador usando a
dupla transferência, mas estruturada de uma forma diferenciada. Como se nota na figura, sua
cabeça, sua expressão facial, seu olhar fixo e o resto do seu corpo representam o paciente
“maçã” com a transferência de pessoa. Mas a mão dominante do sinalizador é usada como
agente nas ações do cozinheiro ao cortar a maçã com uma faca. Nota-se que a mão não
dominante não tem nenhuma função. A cabeça do sinalizante é usada como um locativo
estável no qual o cozinheiro atua; depreende-se que a maçã está sendo cortada em pedaços
pelo cozinheiro.
três transferências apresentadas por Cuxac e adiciona mais duas: 1)Transferência de Tamanho
e de Forma (TTF); 2)Transferência Espacial (TE); 3) Transferência de Localização (TL); 4)
Transferência de Movimento (TM) e 5) Transferência de Incorporação (TI).
Para Campelo (2008) a Transferência de Tamanho e de Forma, serve para representar
o signo visual independentemente do tamanho que seja for, que pode ser grande, pequeno,
miúdo, colosso, maior, avantajado, vasto, corpulento, alto, de longa extensão, comprido,
longo, excessivo, agudo, forte, intenso, violento (dependendo do envolvimento sentimental).
A autora acrescenta, ainda, diversas outras características tais como poderoso, importante,
notável, de qualidade superior, marcante, pouco extenso, pouco volume, estatura abaixo da
média, valor inapreciável, acanhado, mesquinho, insignificante, humildade, sentimento de
inferioridade, medo, menor e etc. e as formas podem ser configuradas de acordo com as
características físicas, dos seres e das coisas como decorrência da estruturação de suas partes.
(CAMPELLO, 2008, p.213)
A mesma autora acrescenta que na Transferência Espacial o sinalizador transfere
todos os elementos constitutivos de um determinado espaço, seja ele micro ou macro. Para
Campello (2008) todas as características da estrutura icônica são transportadas para o espaço
de onde é inserida e destaca que o espaço é influenciado pela localização, pela profundidade
espacial, pelo tamanho e pelo isolamento. Campelo (2008) destaca, ainda, que podem ser com
movimentos ou sem movimentos circulares, que pode ser com reto, em curvas, em
curvilíneos, de quadrado, de retangulares, de triangulares, diferença de status e interesse
intrínseco (CAMPELLO, 2008, p.214).
Sobre a Transferência de Localização, Campelo (2008) destaca que o que influencia a
localização é a gravidade, direção que vai para frente, para trás, do lado direito, do lado
esquerdo, da alternância, de puxar, de soltar. A localização é um dos pontos mais importantes
nesta transferência, é a forma como se pode explicar um signo em relação a outros, sendo para
cima ou para baixo ou de grande velocidade ou de pequena velocidade. Campello (2008)
destaca a importância da direção do olhar para fazer marcações no espaço de sinalização,
indicando a localização de alguns elementos discursivos na construção imagética, uma vez
que os olhos são uma das particularidades mais importantes na sua direcionalidade para com o
signo. De acordo com Campello (2008) os olhos do observador se manifestam diante da
situação ou do acontecimento ou da percepção visual que norteia em sua volta, ou seja, fica
claro que durante uma transferência de localização, além do próprio corpo, os olhos também
podem fazer retomadas dos referentes estabelecidos no espaço (CAMPELLO, 2008, p. 214).
52
a) fazer o sinal em um local particular (se a forma permitir, por exemplo, o sinal de
casa pode acompanhar o local estabelecido para o referente);
53
CASA IX (casa)
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
Figura 13 – IX / CASA
IX CASA
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
54
IX (casa) NOVA
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
Sobre os verbos direcionais, Quadros e Karnopp (2004) acrescentam que eles também
são chamados de verbos de concordância. Na Libras, os verbos direcionais precisam
concordar com o sujeito e/ou com o objeto indireto/direto da frase. As autoras afirmam que há
uma relação entre os pontos estabelecidos no espaço e os argumentos que estão incorporados
no verbo.
(el@)<aENTREGARb>do (el@)
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
Do que se expôs até aqui, conclui-se que há diferentes abordagens do uso dos espaços
nas línguas de sinais e que estes podem desempenhar função especial, de acordo com aspectos
gramaticais que evidenciam.
57
4 SOBRE A LIBRAS
Brito declara que a Libras é uma língua natural, com estrutura própria e regida por
princípios universais; que é uma língua com toda a complexidade dos sistemas linguísticos,
pois é dotada de todos os mecanismos necessários à expressão de qualquer conceito ou
significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano. As línguas
de sinais distinguem-se das demais por utilizarem um canal visual-espacial. São línguas que
se articulam espacialmente e são percebidas de forma visual; usam o espaço e as dimensões
que ele oferece (BRITO, 1995, p. 11 e 21).
Com relação à forma dos sinais, Brito pontua que a configuração das mãos, o ponto
de articulação e o movimento são considerados parâmetros primários; já a região de contato, a
orientação das mãos e a disposição das mãos são parâmetros secundários. A autora destaca
que os sinais têm uma realização multidimensional e não linear, como ocorre com as palavras
na modalidade oral (BRITO, 1995, p. 25).
É interessante notar que até uma autora como Quadros, que enfatiza a necessidade de
se considerar as línguas de sinais independentemente dos sistemas das línguas orais, não está
isenta da força do olhar influenciado pela língua portuguesa quando afirma que os nomes, em
Libras, não apresentam flexão de gênero para os substantivos, observando-se que a indicação
desse aspecto é realizada pela posposição do sinal HOMEM/MULHER.
Skliar (1999) informa que, de acordo com estudos das últimas décadas, sabe-se que as
línguas de sinais têm uma estrutura linguística, princípios de organização e propriedades
formais similares aos das línguas orais. Para o autor, a língua oral e a língua de sinais são dois
58
Nesse aspecto, Brito pontua que a Libras é uma língua multidimensional, portanto seus
parâmetros podem ser alterados para que se obtenham modulações aspectuais, incorporação
de informações gramaticais e lexicais, quantificação, negação e tempo. Segundo a autora, os
aspectos pontual, continuativo, durativo e iterativo são alcançados por meio de alterações do
M (movimento) e ou da CM (configuração de mão), como se pode perceber nos exemplos a
seguir: FALAR (Ele falou) no que se refere ao aspecto pontual, na figura 19, e FALAR (Ele
fala sem parar) no que se refere ao aspecto durativo, na figura 20 (BRITO, 1995, p. 25).
Por outro lado, Quadros e Karnopp (2004) defendem, em relação à quantificação, que
a pluralidade é expressa pela repetição do sinal três ou mais vezes, pela anteposição ou
posposição de sinais indicativos dos números, ou, ainda, por meio de uma forma muito
utilizada, que é a posposição do sinal de “muito”.
59
Quadros e Karnopp (2004) esclarecem que a fonologia das línguas de sinais é o ramo
da linguística que pretende identificar a estrutura e a organização dos constituintes
fonológicos, propondo, então, modelos descritivos e explanatórios. Em relação às línguas de
sinais, faz-se necessário determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais e
quais são os padrões possíveis de combinação entre as unidades e as variações possíveis no
ambiente fonológico (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 47).
60
Fonte: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade4/unidade4.htm.
Felipe (1997) demonstra que a Libras possui um sistema pronominal para representar
as pessoas do discurso.
Felipe (1997) destaca que, no singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, ou
seja, a configuração da mão predominante é em "d", o que difere uma das outras é a
orientação da mão. O sinal utilizado usado para "eu" é um apontar para o peito do emissor (a
pessoa que está falando); o sinal para "você" é um apontar para o receptor (a pessoa com
quem se fala); e o sinal para "ele/ela" é um apontar para uma pessoa que não está na conversa
ou para um lugar convencionado para uma terceira pessoa que está sendo mencionada. No
dual, a mão ficará com o formato de dois; no trial, o formato será de três; no quatrial, o
63
formato será de quatro; e no plural, há dois sinais: um sinal composto formado pelo sinal para
a respectiva pessoa do discurso, no singular, mais o sinal GRUPO; e outro sinal, que é feito
pela mão predominante com a configuração em "d" fazendo um círculo (FELIPE, 1997, p. 96-
97).
Sobre a indicação de pessoas no discurso, Brito (1995) afirma que a Libras apresenta
três pessoas do discurso, no singular e no plural. Na primeira pessoa, o indicador aponta para
o peito do locutor; na segunda pessoa, aponta para o interlocutor, e as terceiras pessoas são
representadas por pontos no espaço que são estabelecidos durante o discurso, ou, ainda, pela
localização do referente presente, conforme se observa nas figuras 25, 26 e 27. Segundo Brito
(1995), o plural é expresso por meio do movimento semicircular para se referir à segunda
pessoa e, por meio do movimento circular para se referir à primeira pessoa, conforme mostra
a figura 26 (BRITO, 1995, p. 47).
Figura 25 – EU / VOCÊ
EU VOCÊ
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
64
ELA NÓS
Fonte: Quadros e Karnopp, 2004.
4.2 Classificadores
Brito (1995) afirma que as línguas de sinais fazem uso frequente de vários tipos de
classificadores (Cls), explorando morfologicamente o espaço multidimensional em que se
realizam os sinais (BRITO, 1995, p. 102).
Assim como em algumas línguas orais e em várias línguas de sinais, a Libras possui
classificadores – um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal
para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal, para descrevê-lo quanto à
forma e ao tamanho, ou para descrever a maneira como esse referente é segurado ou se
comporta na ação verbal.
65
O classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado também com outros
significados, como “duas pessoas passeando” ou “um casal de namorados” (no caso de as
pontas dos dedos estarem voltadas para cima); “uma pessoa em pé” (pontas dos dedos para
baixo) etc. Esse classificador é representado pela configuração de mãos em V, como ilustram
as figuras 30 e 31 (BRITO, 1995, p. 105).
Figura 30 Figura 31
O autor esclarece que os recursos utilizados para marcar a anáfora também funcionam
para marcar a dêixis, porém há elementos especializados que servem para marcar a referência,
como “eu”, que se refere à pessoa que está falando e nunca marcará a anáfora.
Pizzio et. al. (2010) destacam que o uso do espaço é característica fundamental nas
línguas visuoespaciais e que pode ser observado em todos os níveis de análise. Em relação ao
nível fonológico, o mesmo sinal pode ser realizado em diferentes locais. Os exemplos citados
pelas autoras têm como base o sinal CASA, que é realizado pelas duas mãos formando o
desenho de um telhado e, ao se especificar o sinal AQUELA CASA ALI, uma das mãos
permanece na posição do telhado e a outra se desloca para apontar o objeto referido, como se
vê na figura 35.
69
As autoras destacam que, no caso de sinais como CARRO, o sinal é realizado com as
duas mãos, como se o sinalizante estivesse segurando o volante de um carro, mas, ao
sinalizar, como no exemplo, AQUELE CARRO, há uma mudança na realização do sinal, pois
uma das mãos estará indicando o sinal CARRO. Nesse exemplo, observa-se o uso do
classificador de CARRO, assim como a mudança de espaço na realização desse sinal; o que
inicialmente ocorria no espaço de realização não-marcado, passa a ocorrer no espaço token,
segundo os conceitos de Liddell (v. figura 37).
4.5 CENÁRIO
Com o conteúdo exposto neste capítulo, pretendeu-se destacar alguns estudos sobre a
Libras e reunir informações que eventualmente constituam subsídios para pesquisas em
línguas de sinais. Este quadro teórico fundamentará a análise realizada neste estudo no que se
refere a conceitos como o de classificadores, referência anafórica e cenário.
73
5 METODOLOGIA
Este estudo teve início com a interação dos surdos com a pesquisadora, com a intenção
de filmá-los em situações de sinalização espontânea. Por isso, foram sugeridos aos
participantes da pesquisa três situações para que pudessem sinalizar:
a) Qual é a sua rotina diária?
b) Destaque um fato diferente ou engraçado ocorrido em sua vida ou na vida de um
amigo.
c) Quais são as suas expectativas para o futuro?
Optou-se, ainda, por realizar a gravação da interpretação do filme Pear Film, que os
participantes da pesquisa assistiram e, logo após, fizeram sua própria interpretação, ao narrar
os fatos previamente observados. Em um segundo dia de gravação, foi solicitado que os
participantes da pesquisa contassem uma piada e que travassem um diálogo espontâneo com
outro surdo. Várias orientações foram passadas aos participantes da pesquisa no intuito de
favorecer a ocorrência de situações de narrativas em que se observassem os espaços utilizados
entre um sinal e outro.
Sobre as narrativas Bauer e Gaskell (2002), indicam que por meio das narrativas as
pessoas lembram o que aconteceu, colocam a experiências em uma determinada sequência e
indicam as possíveis explicações para isso. Os autores acrescentam que contar histórias
implica em estados intencionais que tornam familiares, acontecimentos da vida cotidiana. As
comunidades, os grupos sociais e as subculturas contam histórias com palavras e sentidos que
são específicos à sua experiência e ao seu modo de vida. Dessa forma, o léxico do grupo
constitui sua perspectiva de mundo (BAUER e GASKELL, 2002).
Durante a coleta definitiva foi solicitado aos participantes que usassem roupas,
preferencialmente, escuras em contraste com o ambiente de paredes brancas; sem bonés ou
óculos escuros e quaisquer outros elementos que pudessem prejudicar o efeito da iluminação
em seus rostos.
Como sugere Dixon (2010), um iniciante nos estudos de linguística precisa escolher
uma língua que ainda não foi descrita ou mesmo que tenha sido escassamente descrita. De
acordo com o referido autor, a estrutura gramatical e as regras devem ser trabalhadas
indutivamente, com base em um conjunto de textos, bem como com enunciações observadas
no uso cotidiano dos membros de uma comunidade e com exemplos de sentenças elicitadas
durante a construção do corpus. Hipóteses relativas à organização gramatical devem ser
formuladas e somente então avaliadas. O processo de checagem envolve sentenças elaboradas
com base nas supostas estruturas e regras que vão sendo depreendidas dos dados, desde que
contextualizadas apropriadamente. Dessa forma, fica claro o caráter dinâmico da língua a ser
estudada.
Quanto aos colaboradores na pesquisa, o grupo foi composto por surdos monolíngues
e bilíngues que conhecem a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita e que sejam
usuários de Libras. Apresentam-se a seguir os participantes da pesquisa, os passos da
elaboração dos elementos motivadores para a eliciação dos dados e a descrição da gravação.
Complementa-se a apresentação desta metodologia com os procedimentos utilizados para o
processamento de dados e a citação de dados.
Nesta pesquisa, dez é o número de participantes adultos que foram envolvidos, sendo
entre alunos surdos do CESAS – Centro de Ensino Supletivo da Asa Sul, local de trabalho da
pesquisadora (ver documentação anexa de anuência da direção) e surdos participantes da
comunidade surda do DF. Os colaboradores, seis homens e quatro mulheres, foram
identificados por letras convencionadas de modo a preservar suas identidades, conforme
explicitado a seguir.
5.1.1 Participante IS
Homem, 21 anos, estudante de terceiro ano do Ensino Médio da rede pública do DF.
Apresenta surdez bilateral profunda e nasceu surdo. O participante aprendeu Libras aos 7 anos
em sua escola. Ele apresenta um bom domínio da Libras e declara que usa a Libras no
contexto escolar e na igreja que ele frequenta. A língua mais usada por este participante é a
Libras e no seio da família, só a usa de vez em quando.
5.1.2 Participante SH
5.1.3 Participante JF
infância. Ela declara que tem um bom domínio da Libras e a utiliza no contexto escolar e com
amigos. A língua mais usada por esta participante é a Libras.
5.1.4 Participante ES
5.1.5 Participante AH
5.1.6 Participante JS
Mulher, 26 anos. Apresenta surdez profunda bilateral e nasceu surda. Aprendeu Libras
na escola. Ela declara que tem um bom domínio da Libras e que a utiliza com amigos na
igreja, na APADA (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos) e na escola. A
língua mais usada por esta participante é a Libras e no seio da família só a usa de vez em
quando, uma vez que a comunicação familiar acontece em pequena escala.
5.1.7 Participante ED
5.1.8 Participante PR
Libras. Informa que a utiliza na igreja que frequenta. A língua mais usada por este
participante é a Libras, mas no seio da família não a usa.
5.1.9 Participante KS
Mulher, 28 anos, estudante da rede pública do DF. Apresenta surdez profunda bilateral
e nasceu surda. Aprendeu Libras aos 8 anos de idade na igreja. Ela declara que tem um bom
domínio da Libras e que a utiliza com amigos na igreja. A língua mais usada por esta
participante é a Libras e no seio da família só a usa de vez em quando.
5.1.10 Participante KT
IS 14 anos profunda
SH 20 anos profunda
JF 20 anos profunda
ES 28 anos profunda
AH 29 anos profunda
JS 18 anos profunda
ED 18 anos moderada
PR 19 anos profunda
KS 20 anos moderada
14 anos profunda/esquerdo
KT
severa/direito
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
79
A gravação baseada em vídeos foi realizada com uma câmera Digital Nikon Coolpix
S2600 14MP LCD 2,7 - Zoom Óptico 5x, na qual foi utilizado um cartão 32GB. A câmera foi
fixada em um tripé e apontada para os participantes. Os participantes permaneceram em pé e
posicionados contra um fundo claro para garantir a clareza dos sinais realizados.
Para a análise dos dados, cada registro em vídeo, no formato Picasa 3, foi examinado
no modo normal disponível no media player do sistema operacional Windows. A cada
mudança de sinal, foi feito um recorte no vídeo, de modo a compor os exemplos que são
80
apresentados neste trabalho. A captura foi feita com a imagem congelada, pressionando-se a
tecla Print Screen. Logo após, foi feito o recorte da imagem congelada, a qual era salva na
pasta Capturas de tela, de onde era copiada e colada nas tabelas previamente preparadas,
utilizando as ferramentas de copiar e colar imagens.
Os dados recortados dos vídeos são apresentados, nesta tese, da forma detalhada como
aparece no quadro 3.
Quadro 3 – análise-modelo
Participante e nome da história
giro
Glosa
Espaço
ENMs relacionadas à boca
ENMs relacionadas à cabeça
ENMs relacionadas ao olhar
Outros
Tradução livre
Na primeira linha, o participante é marcado por meio das letras que substituem seu
nome verdadeiro. De acordo com o exemplo apresentado, (IS- Rotina), os dados se traduzem
como: IS são aa letras que identificam o participante; Rotina, o nome do filme relacionado à
rotina diária do participante.
Na quinta linha, está indicado o espaço em que se realiza o sinal, se não-marcado, real,
token ou sub-rogado.
Na sexta linha, está indicada a Expressão Não Manual (ENM) relacionada, por
exemplo, à boca, como LE (lábios esticados), Leb (lábios embicados), LBS (Lábios e
Bochechas em Sopro) que aparecem nos exemplos no quadro 4.
Na oitava linha, está indicada a Expressão Não Manual (ENM) que se relacione com o
olhar ou quaisquer outras partes do corpo, como TSA (testa e sobrancelha arqueada). Caso o
exemplo usado não apresente qualquer ENM, será utilizado o símbolo Ø.
Na nona linha há espaço para informações novas que surgiram no processo da análise
dos dados.
E, finalmente, na última linha foi apresentada uma tradução livre, no caso do quadro 7,
“Depois, de manhã eu estudo muito”.
82
Quadro 4 - Análise
IS - Rotina
1 00:14 2 00:15 3 00:17 4 00:18 5 00:18
Com base no exposto, este trabalho analisa os espaços, visto que seu uso é uma
característica fundamental nas línguas visuo-espaciais.
83
6 ANÁLISE DE DADOS
Antes de entrar na análise dos espaços, é preciso destacar que a definição de alguns
elementos gramaticais é necessária para a caracterização dos espaços, ou seja, dos pronomes e
das expressões não manuais.
Como foi visto, Liddell (2000) destaca que o espaço tem uma função especial nas
línguas de sinais. O autor afirma que os aspectos gramaticais relativos ao uso de espaços vêm
sendo estudados especialmente em ASL e apresenta três tipos específicos de espaços usados
nas línguas de sinais: o real, o token e o sub-rogado (LIDDELL, 2000, p. 2-3). Por sua vez,
Cuxac e Sallandre (2007) apresentam estudos da Língua Francesa de Sinais e oferecem uma
visão que se divide em dois tipos de estruturas: estrutura padrão ou sinal padrão e estrutura de
alta iconicidade. O sinal padrão é marcado pelos gestos das mãos ou da cabeça e do rosto,
pela orientação do sinal, pela sua localização e pelo movimento. Cuxac e Sallandre (2007)
acrescentam que a estrutura altamente icônica ocorre quando existe a intenção deliberada de
ilustrar e demonstrar algo enquanto se fala.
Observa-se que a análise dos dados mostra o uso alternado de três tipos de espaços
marcados, o real, o token e o sub-rogado, e um espaço não-marcado, o que permitiu concluir
que os espaços contêm um grupo de características que têm função gramatical e discursiva na
84
construção das unidades significativas da enunciação. É interessante destacar que existe uma
sutileza no momento da mudança entre as pessoas do discurso, um personagem e outro, e
entre o personagem e o narrador, o que será apontado mais adiante.
Consultando Sabanai (2016) sobre o cenário em Libras, a autora esclarece que, antes
de se iniciar uma narrativa, é necessário situar os personagens e outros objetos que serão
referidos ao longo da história em uma espécie de cenário no espaço de sinalização. Para ela,
esse procedimento constitui a introdução da cena na qual se desenrola a ação e onde ficam
localizados os personagens, que são nesse momento plenamente descritos por meio de
características físicas. A autora acrescenta que a construção de um cenário anterior à narrativa
propriamente dita constitui um “supertópico” de certa forma, uma ampliação da topicalização
própria de línguas com proeminência do tópico, na medida em que anuncia um contexto no
qual as ações vão se desenrolar. A autora afirma que o cenário construído apresenta
características comuns aos atos de fala e que os componentes dos cenários são os personagens
mais importantes da história e algum elemento locativo relevante no contexto.
Sabanai (2016) destaca, ainda, que a construção do cenário se distingue dos demais
atos de fala que podem preceder uma narrativa porque essa construção tem uma ligação direta
com o texto narrativo propriamente dito. A construção depende sintaticamente dos elementos
“situados no cenário” para as manifestações anafóricas, e as relações sintáticas entre os
sujeitos e os objetos flexionados nos verbos passam a ser indicadas por morfemas, que se
referem a características marcantes dos personagens ou dos objetos físicos que são colocados
no cenário, seja por meio das formas reduzidas dos sinais, seja por meio dos classificadores
(SABANAI, 2016, p. 56 e 57).
85
Como já vimos, Brito pontua que a Libras apresenta três pessoas do discurso, tanto no
singular como no plural. Na primeira pessoa, o indicador aponta para o peito do locutor; na
segunda pessoa, para o peito do interlocutor; a terceira pessoa é representada por pontos no
espaço, que são estabelecidos durante o discurso ou pelo próprio referente, quando estiver
presente. A autora acrescenta que o plural é expresso por meio do movimento semicircular
para a segunda pessoa e do movimento circular para a primeira pessoa ( BRITO, 1995, p. 47).
6.1.2 Apontação
Os pronomes de terceira pessoa usados para fazer referência às pessoas que estejam
presentes no contexto do discurso são sinalizados apontando-se diretamente para o lugar onde
o personagem foi colocado no cenário, como é possível observar na imagem 87, do quadro 5,
quando a informante SH estabelece o lugar do gato no cenário. Já na imagem 159 do mesmo
quadro, a informante retoma o personagem apontando para o lugar onde o gato foi colocado
inicialmente em sua narrativa, referindo-se a ELE, o gato.
86
Quadro 5
SH - Piada
84 00:40 85 00:41 86 00:41 87 00:41 159 01:17
SH - Piada
160 01:17 161 01:17 162 01:18 163 01:18 164 01:18
É possível observar também que, ao usar o verbo DAR nas imagens 162 e 164, a
informante movimenta as mãos em direção ao ponto estabelecido no espaço para o gato e faz
referência a um elemento que já faz parte da narrativa.
87
Quadro 6
SH - Piada
165 01:18 166 01:19 167 01:19 169 01:20
Nesse trecho, fica claro que o apontamento pode estar fazendo referência ao próprio
sinalizador, quando está no papel de narrador, ou a algum personagem que já tenha sido
mencionado anteriormente na narrativa do surdo.
Quadro 7
IS - Rotina
21 00:22 22 00:23 23 00:23 24 00:24 25 00:25
IS - Rotina
26 00:26 27 00:27 28 00:28 29 00:29 30 00:29
destacar que esses limites podem estar associados a marcadores constituídos por sinais, como
DEPOIS no exemplo acima. A análise feita pela autora demonstrou que ocorrem fronteiras
estruturais indicadas apenas pelos marcadores ou também por paradas, ou seja, os limites em
estudo podem ser marcados (1) apenas por uma parada, (2) por uma parada e um sinal
marcador e (3) apenas por um sinal marcador (SABANAI, 2016, p. 45).
A análise dos dados possibilitou a identificação do uso de itens lexicais nos diferentes
espaços e em situações específicas, como na construção do cenário, no decorrer da narrativa
ou nos diálogos, como se pode atestar no quadro 8.
6.3.1 Verbos
Alguns verbos podem ser realizados em vários espaços diferentes, como IR, VER,
ANDAR, OLHAR, SUBIR, DESCER. Os dados dessa pesquisa mostraram que outros verbos
ocorrem apenas em dois espaços, o não-marcado e o sub-rogado, como, por exemplo,
COMER, PEGAR, PROCURAR e ARRUMAR.
como-sujeito, de acordo com os conceitos já vistos de Meir et al. (2006); 2) o espaço token é
utilizado com verbos de movimento; 3) o verbo VER ocorreu em todos os espaços, inclusive
no espaço token. Na realização do verbo VER, verifica-se que a direção do olhar acompanha o
movimento, é um tipo de flexão própria das línguas de sinais nos verbos direcionais
(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 130).
É possível notar na imagem 103 do quadro 9 que o verbo VER acontece no espaço
não-marcado, o informante está com o corpo virado para frente e o olhar está no interlocutor.
Em seguida, observa-se a realização do mesmo verbo no espaço sub-rogado, quando o
informante ED se movimenta como se fosse o próprio personagem da história: movimenta
todo o corpo e a cabeça, e a direção do olhar busca como alvo o outro personagem da
narrativa.
Quadro 9
ED - Peras
103 02:18 104 02:19 105 02:21 ( ) 168 03:32 169 03:33
Quadro 10
PR - Peras
151 03:03 152 03:06 153 03:07 () 176 03:35
Narrativa Diálogo
Não Marcado Token Sub-rogado Real
ÁRVORE X forma implícito
reduzida
FRUTA X classificador
de objeto
CESTA X classificador
de objeto
GATO X classificador X
de sujeito
HOMEM X classificador X
de sujeito
BOLA X classificador X
de objeto
CASA X forma
reduzida
Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 12
ED - Peras
1 00:09 2 00:10 3 00:12 4 00:12 5 00:15
O uso do corpo como sujeito é observado nas imagens 286 e 287 do quadro 13, na
realização do sinal COMER no espaço sub-rogado.
94
Quadro 13
PR - Peras
286 05:45 287 05:47 288 05:50 289 05:51 290 05:52
Existem duas formas distintas de proceder à análise das narrativas e diálogos dos
informantes surdos: a primeira considera a existência de quatro espaços que se distinguem
sem uma hierarquia, ou seja, uma sucessão de espaços que mudam constantemente; a segunda
admite a existência de três espaços marcados e um espaço não-marcado independentemente
dos outros, que apresentam marcas específicas.
Optou-se por escolher a segunda alternativa, com base nas explanações de Givón,
Dixon e outros. Como vimos, Dixon deixa claro que o uso dos termos marcado e não-marcado
é indicado apenas para sistemas fechados, o que é o caso dos quatro espaços da Libras.
Quadro 15
IS - Rotina
1 00:03 2 00:04 3 00:05 4 00:06 5 00:07
MEU NOME I S R
não-marcado não-marcado não-marcado não-marcado não-marcado
BAr Bar LB LE LE
CN I Ø Ø Ø Ø
O-I O-I O-I O-I O-I
IS - Rotina
6 00:08 7 00:09 8 00:10 9 00:11 10 00:12
A E L SINAL I----
não-marcado não-marcado não-marcado não-marcado não-marcado
Ø LE LB LE LE
Ø Ø Ø Ø MAC
O-I O-I O-I O-E O-I
e o sinal é --------,
Fonte: Elaborado pela autora
Já no trecho destacado no diálogo 3, quadro 16, nota-se que os informantes se olham
durante todo o tempo da conversa, o olhar continua sendo para o interlocutor, e o informante
substitui o lugar da câmara, com o olhar predominantemente dirigido para o interlocutor.
Neste trecho, pode ser observada uma alternância entre o espaço real e o espaço não-marcado.
97
Quadro 16
Diálogo 3
37 00:14 38 00:14 39 00:15 40 00:15
Quadro 17
Diálogo 3
41 00:15 42 00:16 43 00:17 44 00:17
Diálogo 3
45 00:17 46 00:17 47 00:18 48 00:19
O espaço real ocorre, por exemplo, no enunciado do quadro 18. O participante AH, ao
sinalizar “EU” na imagem 21 do quadro 18, aponta para si mesmo, isto é, o participante marca
a presença da primeira pessoa do discurso ao falar sobre planos para seu próprio futuro.
Quadro 18
AH - Futuro
21 00:19 22 00:20 23 00:20 24 00:21 25 00:21
Quadro 19
Diálogo 4
5 00:03 6 00:04 7 00:04 8 00:04
Diálogo 4
9 00:05 10 00:06 11 00:06 12 00:07
Quadro 20
Diálogo 4
15 00:10 16 00:12
JUNTAS VAMOS IR
não-marcado não-marcado
Ø Ø
CNI CNI
O-I O-I
que alguém desceu de uma árvore e andou. Assim, há uma demonstração, em tamanho
miniaturizado, de ações relativas a um local, a árvore, o que corresponde ao conceito de
transferência de tamanho e forma de Cuxac e Sallandre.
Quadro 21
PR - Peras
21 00:27 22 00:28 23 00:29 24 00:30 25 00:32
Quadro 22
SH - Peras
31 00:20 32 00:21 33 00:21 34 00:22 35 00:23
A questão do olhar é bastante significativa em relação ao uso dos espaços, pois pode-
se notar que no espaço token o sinalizante mantém o olhar predominantemente no sinal que
está sendo realizado.
Quadro 23
PR - Peras
21 00:27 22 00:28 23 00:29 24 00:30 25 00:32
Quadro 24
PR - Peras
26 00:35 27 00:36 28 00:38 29 00:39 30 00:40
No quadro 25, é possível notar que a participante KS faz uso seguidamente do espaço
sub-rogado nas imagens de números 6 a 10, incorporando os gestos que o personagem
executa. Nos sinais SUBIR e COLHER, com os quais a participante assume as características
do personagem, olha para onde o personagem precisa olhar ao executar a ação. Seus gestos
são compatíveis com uma pessoa que sobe em uma árvore e também alguém que colhe frutos
de uma árvore. A árvore está implícita, a ação de colher está indicada pelo sinal COLHER, e a
fruta é indicada pelo classificador de objeto sinalizado pela configuração de mão C,
105
Quadro 25
KS - Peras
6 00:31 7 00:32 8 00:32 9 00:33 10 00:34
Quadro 26
SH - Piada
156 01:14 157 01:15 158 01:15 159 01:16 160 01:17
Quadro 27
KS - Peras
76 01:50 77 01:52 78 01:52 79 01:53 80 01:54
KS - Peras
81 01:55 82 01:56 83 01:57 84 01:57 85 01:58
Na tradução livre, pode-se ler “Me limpei”, em relação à imagem 77, e, logo em
seguida, ocorre uma pausa na imagem 78. É possível perceber a mudança na posição do corpo
da participante KS durante o processo de mudança do espaço a ser usado. Logo após o
marcador BEM, a participante se utiliza do espaço token, no qual o sujeito passa a ser
indicado pela mão direita com o CLTRÊS e o alvo, pela mão esquerda com CLHUMANO. Os dois
classificadores referem-se diretamente às terceiras pessoas do discurso e, com o movimento
de aproximação das duas mãos, sinalizam “os três vieram ao encontro dele”. Convém lembrar
que o uso do espaço token coincide com o uso de verbos de movimento, como se observa nas
imagens 79, 80 e 81 do quadro 27.
Quadro 28
PR - Peras
1 00:03 2 00:06 3 00:07 4 00:07 5 00:08
PR - Peras
6 00:09 7 00:10 8 00:12 9 00:13 10 00:14
É possível perceber que o giro no tronco dos participantes ocorre durante o processo
de mudança dos espaços token e não-marcado para o espaço sub-rogado, como observa-se nos
exemplos acima.
do olhar do participante no espaço sub-rogado, que passa a ser o olhar do personagem para a
direção que o personagem da narrativa estaria olhando nas ações ocorridas durante a
narrativa, o olhar no espaço (O-E).
Quadro 29
PR - Peras
26 00:35 27 00:36 28 00:38 29 00:39 30 00:40
No quadro 30, o participante ED, ao narrar uma piada cujo tema é um jogo de golfe,
deixa claro o papel do olhar em sua narrativa. Toda a sequência é realizada no espaço sub-
rogado, portanto o sinalizante realiza as ações como se fosse o próprio personagem. Tanto a
movimentação do corpo quanto a atitude e o olhar acompanham as características do
personagem envolvido na narrativa, no caso, um jogador de golfe.
Quadro 30
ED - Piada
41 00:35 42 00:36 43 00:37 44 00:37 45 00:39
ED - Piada
46 00:39 47 00:41 48 00:43 49 00:44 50 00:44
IR IR IR IR QUASE
sub-rogado sub-rogado token token token
LE LE LE LE BA
CNI CI CI MAC CIPF
O-E O-E O-S, EF O-S, EF O-S
Real Direto de frente, para o seu Repetidamente para não parada não
interlocutor seu interlocutor
Preferencialmente Preferencialmente, Apontação
Token Indireto para frente, para o no interlocutor anafórica ou parada sim
interlocutor virado alternando o olhar classificador
na direção do sinal para o sinal
Giro do corpo de No espaço, na giro do corpo Gingada,
Sub- acordo com os direção do local anafórico assumindo as
Direto locais designados designado para o características não
rogado
para os personagens outro personagem dos
(seu interlocutor) personagens
Fonte: Elaborado pela autora
Vale ressaltar que, tanto no espaço token quanto no espaço sub-rogado, os locais
estabelecidos para os personagens no cenário são os mesmos. Em relação às pessoas do
112
discurso, nota-se que no token o discurso é indireto com marcação da 3ª pessoa, já no espaço
sub-rogado o discurso é direto com marcação da 1ª pessoa.
Quadro 32
KS - Peras
1 00:25 2 00:26 3 00:27 4 00:29 5 00:30
KS - Peras
6 00:31 7 00:32 8 00:32 9 00:33 10 00:34
No quadro 33, a participante KS, ao dar continuidade à sua narrativa, usa o espaço
token e faz o sinal de SUBIR por cinco vezes seguidas, como se pode conferir nas imagens de
números 30 a 33. Depois, faz a passagem para o espaço sub-rogado, de onde dá continuidade
à sua narrativa, como é possível observar nas imagens 34 e 35 do mesmo quadro.
114
Quadro 33
KS - Peras
26 00:54 27 00:54 28 00:55 29 00:55 30 00:56
KS - Peras
31 00:57 32 00:58 33 01:00 34 01:01 35 01:02
Convém notar que a participante KS faz o sinal SUBIR no espaço token na imagem
33, e passa para o espaço sub-rogado na imagem 34 do quadro 33, pois na sequência seguinte,
no quadro 34, ela precisará de seu corpo como sujeito, o que é indicado nas imagens 36 a 38,
quando passa a usar apenas o espaço sub-rogado.
115
Quadro 34
KS - Peras
36 01:04 37 01:05 38 01:06 39 01:07 40 01:07
Quadro 35
ED - Peras
1 00:09 2 00:10 3 00:12 4 00:12 5 00:15
ED - Peras
6 00:16 7 00:17 8 00:18 9 00:18 10 00:19
Quadro 36
ED - Peras
11 00:20 12 00:22 13 00:24 14 00:25 15 00:26
Quadro 37
PR – Peras
21 00:27 22 00:28 23 00:29 24 00:30 25 00:32
PR – Peras
26 00:35 27 00:36 28 00:38 29 00:39 30 00:40
lado ao usar o espaço token, olhando para o sinal, e, ao mudar de espaço, vira a cabeça para a
frente inclinando-a para baixo, uma vez que assumiu as atitudes do personagem. Percebe-se
que, do discurso na 3ª pessoa do token, indicada por classificador, o participante passa para
sua representação por meio do corpo como sujeito, assumindo as características e ações do
personagem. A tradução “pedalei e levantei (o cesto)” refere-se às imagens 26, 27 e 28 do
mesmo quadro. Nota-se que o participante iria usar o corpo como sujeito e por isso mudou de
espaço.
Como vimos, as alternâncias podem ocorrer devido às seguintes necessidades: 1) usar
verbos de movimento, o que requer o uso do espaço token; 2) referir-se a um local ou alvo
que só possa ser expresso no espaço token; 3) detalhar a ação do sujeito, recorrendo ao corpo-
como-sujeito, como explica Meir et al. e 4) acrescentar informações sobre o paciente e
recorrer à mudança de voz nas orações transitivas.
Quadro 38
PR - Peras
132 02:41 133 02:42 () 135 02:44 136 02:47 137 02:48
O bode... o homem olha e puxa o bode (pela corda) O bode é puxado e resiste.
Fonte: Elaborado pela autora
119
Convém notar que, apesar de se tratar do mesmo espaço de sinalização, o espaço sub-
rogado, a direção do olhar do personagem-homem é para baixo, e a sua cabeça está inclinada
para o lado. Isso indica que o personagem-homem está olhando para o local onde o bode está
situado no cenário; já o personagem-bode, representado pelo sinal de chifre, mas já
anteriormente identificado na história como bode, mantém tanto a direção do olhar quanto a
inclinação, voltadas para baixo.
Quadro 39
Diálogo 4
5 00:03 6 00:04 7 00:04 8 00:04
Nos dados analisados notou-se o entremeio entre os espaços sub-rogado, token e não-
marcado, como se pode observar nas imagens 16 a 20 do quadro 40. Nota-se que, ao
entremear os espaços durante sua narrativa, o participante pode estar apenas tentando
esclarecer algum detalhe da narrativa, como, por exemplo, retomar o local de onde se desce,
na imagem 18 do quadro 40, ou a necessidade de usar o corpo como sujeito, no caso da
imagem 17 do mesmo quadro, para deixar claro o quanto estava pesado o cesto cheio de
frutos, ideia reforçada pela ENM que acompanha o sinal PESADO.
Quadro 40
ED - Peras
16 00:28 17 00:29 18 00:30 19 00:32 20 00:32
Quadro 41
SH - Peras
81 00:57 82 00:58 83 00:58 84 00:58 85 00:59
Prosseguindo na análise dos dados, percebemos que a participante SH, ao fazer a sua
narrativa da História das Peras, usa o espaço sub-rogado e faz o sinal de ARRUMAR na
imagem 27 no quadro 42, em seguida faz o sinal de ANDAR no espaço token do mesmo
quadro. É possível notar nas imagens de 27 a 32 do quadro 42 que a participante faz uso do
espaço token e nas imagens 28, 29 e 30 usa os espaços token e sub-rogado ao mesmo tempo.
Quadro 42
SH - Peras
26 00:17 27 00:17 28 00:18 29 00:19 30 00:20
SH - Peras
31 00:20 32 00:21 33 00:21 34 00:22 35 00:23
Foi possível observar que a mudança de uma ação realizada no espaço token,
relacionada a um locativo, a ÁRVORE, para o espaço sub-rogado, permite ao sinalizador
representar o personagem para indicar uma nova ação, OBSERVAR, assumindo suas
características, indicadas pelas mudanças de expressão, gingado do corpo, inclinação de
cabeça e mudança na direção do olhar, entre outros movimentos.
Quadro 43
KS - Piada
120 02:27 121 02:28 122 02:28 123 02:29 124 02:30
Apesar de usar os mesmos sinais que o espaço real e que a diferença entre esses dois
espaços é que a 2ª pessoa desse “diálogo” dentro do espaço sub-rogado, não está presente,
mas indicada apenas pelo olhar, direção do corpo, etc. do personagem que representa a 1ª
pessoa do “diálogo” e que os dois personagens correspondem a suas posições definidas
anteriormente no cenário. Convém notar também que o personagem-sujeito (que usa o corpo
como sujeito) “se dirige” para o local onde foi colocado o outro personagem, que é o
interlocutor (2ª pessoa) desse diálogo. Destaca-se ainda que, apesar de os personagens
representarem a 1ª e a 2ª pessoas do “diálogo”, elas indicam a 3ª pessoa, pois estão dentro da
narrativa.
124
Quadro 44
KS - Piada
125 02:30 126 02:30 127 02:31 128 02:33
AÍ LEGAL OK LEVANTAR
sub-rogado sub-rogado sub-rogado sub-rogado
BA BA BA LE
CNI CNI CNI CNI
O-E O-I O-I MC
Foi possível notar que, entre o espaço não-marcado e o espaço real, pode ocorrer
alternância, o mesmo acontece entre o espaço não-marcado e o espaço token.
Entre os espaços real e token pode acontecer alternância e ainda é possível ocorrer a
inserção do real no sub-rogado.
Constatou-se também que, entre o espaço token e o espaço sub-rogado, pode haver
alternância de um para outro, além de poder ocorrer a superposição do token no sub-rogado.
A função dos espaços parece não ser gramatical, como se pensou a princípio, pois sua
função está muito ligada às questões discursivas e à necessidade de se especificar locativos,
características relativas a personagens ou de se reforçar ou explicar o significado de ações
realizadas em outro espaço. Parece que o uso de um ou outro espaço se estabelece em relação
ao tamanho dos sinais (alguns, por sua própria natureza, no nível lexical, são grandes e outros
são pequenos). Por outro lado, quando se usam verbos de movimento em relação a um
determinado lugar, como “SUBIR em uma ÁRVORE”, é necessário usar o espaço token. Do
mesmo modo, para enfatizar ou especificar algo sobre alguma ação ou uma característica de
determinado personagem, aumenta-se o tamanho e passa-se a usar o espaço sub-rogado para a
explanação dos detalhes.
Em relação à função do espaço token, pode-se dizer que ele agiliza a continuidade da
narrativa, diminuindo o tamanho do personagem, objeto ou a ação em relação ao cenário.
Quadro 46
AH – Fatos
48 00:44 49 00:44 50 00:44 51 00:45
um homem alto descrito na imagem 1. Pode se notar nas imagens de 2 a 4 do quadro 47 que o
sinalizante olha para o espaço como se encarasse algum perigo, posiciona os braços
semiabertos como se fosse alguém muito forte, os ombros se projetam para frente e,
finalmente na imagem 5, ele meio que sorri se questionando sobre o medo. Os gestos do
sinalizante são do tipo que sugerem uma transferência de estereótipos, uma vez que acaba por
usar empréstimos da cultura dos ouvintes, como “homens altos não aparentam ter medo”.
Quadro 47
ES - Fatos
1 01:06 2 01:07 3 01:08 4 01:09 5 01:10
Nos casos das transferências de situação, típicas do que foi analisado como espaço
token, é possível destacar que o movimento de um objeto ou personagem se relaciona com um
ponto locativo estável. É preciso lembrar que a função do olhar é fundamental, é a primeira
indicação que instala as coisas e as pessoas em um espaço locativo. O olhar vai sendo dirigido
para o local onde a mão dominante, que representa o movimento do ator, é colocada no
espaço. No exemplo em destaque no quadro 48, nota-se que nas imagens 117 e 118 o
personagem da narrativa se movimenta para o lugar indicado pelo locativo ÁRVORE, onde a
história já estava acontecendo. Observa-se que o papel do olhar é fundamental na evolução da
cena, o ponto locativo estável da cena é a ÁRVORE, e o personagem anda em volta dela e o
olhar acompanha o sinal durante sua evolução.
128
Quadro 48
SH - Peras
117 01:15 118 01:15
Quadro 49
ED - Peras
16 00:28 17 00:29 18 00:30 19 00:32 20 00:32
Quadro 50
SH - Peras
6 00:03 7 00:05 8 00:05 9 00:06 10 00:07
Quadro 51
SH - Peras
81 00:57 82 00:58 83 00:58 84 00:58 85 00:59
Nesse capítulo, observou-se que no uso dos espaços algumas interações podem ocorrer
dentre eles, tais como alternância, superposição e inserção que são essenciais na organização
do discurso em língua de sinais, na retomada de um referente já utilizado na narrativa do
surdo por meio de: apontação, giro do corpo ou na direção e do olhar e ainda na mudança ou
manutenção das pessoas do discurso.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de dados corrobora a distinção proposta por Liddell (1995, 2000) para a
ASL, no que concerne aos três tipos de espaços: real, token e sub-rogado. Com base nos
resultados da análise levada a cabo, pode-se afirmar que é evidente a necessidade de
caracterizar um dos espaços como não-marcado, uma vez que boa parte dos sinais realizados
em sua forma plena ocorrem em um espaço independente dos outros, diferenciados por
marcas específicas. Durante a investigação, ficou claro que o uso dos espaços e sua
alternância é uma característica fundamental nas línguas visuo-espaciais. Dessa forma,
acontece uma fluidez no diálogo, pois os sinalizantes montam o cenário da narrativa ao qual
incorporam os personagens de sua narrativa. A partir daí, as posições dos personagens passam
a ser usadas nos espaço sub-rogado e espaço token. Foi possível verificar, também, a presença
de algumas das transferências apontadas por Cuxac e Sallandre (2007), tais como a
tranferência de tamanho e forma, transferência de situação e transferência de pessoa. Nem
todas as transferências foram encontradas nos dados, tais como a pseudotransferência, a
semitransferência e o aparte; talvez por que as diferenças entre a Língua Francesa de Sinais e
a Libras não permitam a evidenciação das mesmas ou, talvez, exista uma lacuna dos dados
desta tese.
O uso dos espaços é observado a todo momento, pois o usuário de língua de sinais se
relaciona com o espaço físico que está ao seu redor e também à sua frente durante todo o
tempo de sinalização. É em substituição a esse espaço não-marcado que são estabelecidos os
demais espaços, de acordo com as necessidades discursivas subsequentes.
O espaço físico que envolve o sinalizador pode representar um espaço real quando o
enunciador faz referência a entidades reais, que estão fisicamente presentes no momento da
enunciação, o que corrobora com a proposta de Lidell (1995, 2000). No momento em que as
entidades não estão presentes, o evento no qual elas estão envolvidas pode ser representado no
espaço limitado à porção imediata à frente do corpo do sinalizante, denominado espaço token,
que dá a ideia de um tabuleiro ou de um palco de dimensões reduzidas, onde os personagens e
demais elementos miniaturizados do cenário são distribuídos ou atuam em posições
predeterminadas pelo narrador. Pôde-se confirmar que o sinalizante, ao narrar um evento,
pode agir como um dos personagens, que é o espaço denominado de sub-rogado, cujo
tamanho corresponde à realidade.
132
Com esta pesquisa, busca-se mostrar que o uso dos espaços e as interações que podem
ocorrer entre eles — alternância, superposição e inserção — são essenciais na organização do
discurso em língua de sinais, na retomada de um referente já utilizado na narrativa do surdo
por meio da apontação, do giro do corpo ou na direção do olhar e ainda na mudança ou
manutenção da pessoa do discurso.
Espera-se que a pesquisa levada acabo no âmbito dessa tese possa contribuir para a
geração de novos conhecimentos a respeito da Libras, de modo que, mediante sua análise e
interpretação, possam surgir novos estudos e uma maior compreensão de sua singularidade
linguística.
133
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SKLIAR, Carlos. Uma perspectiva sociohistórica sobre a psicologia e a educação dos surdos.
In: Educação e exclusão – abordagens sócio-antropológicas em educação especial. Porto
Alegre: Mediação, 1999.
ED - Piada
1 00:02 2 00:03 3 00:04 4 00:04 5 00:05
ED - Piada
6 00:05 7 00:06 8 00:06 9 00:06 10 00:07
ED - Piada
11 00:07 12 00:08 13 00:10 14 00:10 15 00:11
ED - Piada
16 00:12 17 00:13 18 00:14 19 00:14 20 00:15
ED - Piada
21 00:16 22 00:16 23 00:16 24 00:17 25 00:18
ED - Piada
26 00:19 27 00:20 28 00:21 29 00:22 30 00:22
ED - Piada
31 00:22 32 00:24 33 00:25 34 00:27 35 00:29
ED - Piada
36 00:29 37 00:30 38 00:31 39 00:32 40 00:34
ED - Piada
41 00:35 42 00:36 43 00:37 44 00:37 45 00:39
ED - Piada
46 00:39 47 00:41 48 00:43 49 00:44 50 00:44
IR IR IR IR QUASE
sub-rogado sub-rogado token token token
BA Bar LE BA LB
CNI CI CI MAC CIPF
O-E O-E O-S O-S O-S
ED - Piada
51 00:44 52 00:44 53 00:47 54 00:47 55 00:48
ANEXO 1
Você está sendo convidado a participar da pesquisa “A função gramatical dos espaços na Língua
de Sinais Brasileira”, de responsabilidade de Magali Nicolau de Oliveira de Araujo, aluna de
doutorado da Universidade de Brasília. O objetivo desta pesquisa é analisar e descrever o uso dos
espaços ocorridos na Língua de Sinais Brasileira-LIBRAS. Assim, gostaria de consultá-lo (a)
sobre seu interesse e disponibilidade de cooperar com a pesquisa.
Você receberá todos os esclarecimentos necessários antes, durante e após a finalização da
pesquisa, e lhe asseguro que o seu nome não será divulgado, sendo mantido o mais rigoroso sigilo
mediante a omissão total de informações que permitam identificá-lo(a). Os dados provenientes de
sua participação na pesquisa, tais como questionários, entrevistas, fitas de gravação ou filmagem,
ficarão sob a guarda do pesquisador responsável pela pesquisa.
A coleta de dados será realizada por meio de filmagens, questionários, fotos e entrevistas. É para
estes procedimentos que você está sendo convidado a participar. Sua participação na pesquisa não
implica em nenhum risco.
Sua participação é voluntária e livre de qualquer remuneração ou benefício. Você é livre para
recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper sua participação a qualquer
momento. A recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios.
Se você tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, você pode me contatar através do telefone
(0xx61) 8426 1515 ou pelo e-mail meg.nicolau@gmail.com.br.
A equipe de pesquisa garante que os resultados do estudo serão devolvidos aos participantes por
meio de disponibilização da pesquisa em seu e-mail,podendo ser publicados posteriormente na
comunidade científica.
Este projeto foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências
Humanas da Universidade de Brasília-CEP/IH. As informações com relação à assinatura do
TCLE ou os direitos do sujeito da pesquisa podem ser obtidos através do e-mail do CEP/IH
cep_ih@unb.br.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o (a) pesquisador (a)responsável pela
pesquisa e a outra com o(a) participante.
________________________ ______________________
Assinatura do(a) participante Assinatura do participante
Brasília, / / .
141
ANEXO 2
Minha imagem e som de voz podem ser utilizadas apenas para análise por parte da
pesquisadora bem como apresentações em conferências profissionais e/ou acadêmicas e
atividades educacionais.
Tenho ciência de que não haverá divulgação da minha imagem nem som de voz por qualquer
meio de comunicação, sejam elas televisão, rádio ou internet, exceto nas atividades vinculadas
ao ensino e à pesquisa explicitada acima. Tenho ciência também de que a guarda e demais
procedimentos de segurança com relação às imagens e sons de voz são de responsabilidade
do(a) pesquisador(a) responsável.
Deste modo, declaro que autorizo, livre e espontaneamente, o uso para fins de pesquisa, nos
termos acima descritos, da minha imagem e som de voz.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o(a) pesquisador(a) responsável
pela pesquisa e a outra com o(a) participante.
____________________________ _____________________________
Assinatura do (a) participante Assinatura do (a) pesquisador (a)
ANEXO 3