Macro Micro Curriculo PDF
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RELAÇÕES MACRO/MICRO
NA PESQUISA EM CURRÍCULO
RESUMO
Este artigo analisa as relações macro/micro em teses e dissertações sobre currículo da educa-
ção básica, produzidas em programas brasileiros de pós-graduação em educação da Região
Sudeste, no período de 1996 a 2002.
CURRÍCULOS – EDUCAÇÃO BÁSICA – PÓS-GRADUAÇÃO – PESQUISA EDUCACIONAL
ABSTRACT
Este artigo foi elaborado com base em apresentação realizada na mesa-redonda Produção do
conhecimento, pós-graduação e pesquisa na Região Sudeste: reflexões epistemológicas, do 6º
Encontro de Pesquisa em Educação da Região Sudeste, realizado de 12 a 15 de junho de 2005.
TABELA 1
NÚMERO DE TESES E DISSERTAÇÕES RESUMIDAS POR INSTITUIÇÃO (1996/2002)
PROGRAMA Teses Dissertações
PUC/SP Supervisão e Currículo 15 29
PUC/SP História da Educação 1 16
PUC-MG 0 7
UERJ 0 14
UFRJ 3 10
UNESP/AR 1 5
USP 23 25
PUC-Rio 1 5
UNICAMP 17 28
UNIMEP 0 30
UFES 0 4
UFF 2 10
UFMG 4 14
Total 67 202
TABELA 2
DISSERTAÇÕES E TESES SEGUNDO PRESENÇA
OU AUSÊNCIA DE ABORDAGEM MACRO/MICRO
Classificação Macro Micro Macro/micro Sem classificação Total
Número de teses e dissertações 67 116 57 29 269
Percentuais 24,9 43,1 21,2 10,8 100
TABELA 3
DISSERTAÇÕES E TESES SEGUNDO ABORDAGEM MACRO/MICRO
Classificação Macro Micro Macro/micro Total
Número de teses e dissertações 67 116 57 240
Percentuais 27,9 48,3 23,8 100
É possível observar que dos 240 estudos, quase a metade (48,3%) privi-
legia os estudos micro. Os estudos macro vêm em segundo lugar (67, equiva-
lendo a 27,9%), seguidos de perto pelos estudos que articulam macro e micro
(57, correspondendo a 23,8%). Tal diferença é coerente com a especificidade
do campo do currículo, cujo objeto é entendido como uma produção da esco-
la, bem como contradiz a idéia de que são poucos os estudos curriculares sobre
a escola. Ao contrário, as teses e dissertações evidenciam que a escola é o lócus
central de investigação, associado à preocupação com a inovação curricular e o
entendimento das relações sociais que se desenvolvem na ação curricular.
Tal ênfase na escola por vezes expressa uma separação entre o chama-
do currículo formal – freqüentemente, mas não exclusivamente, assinado por
instâncias oficiais – e o currículo em ação, desenvolvido na escola. Não se tra-
ta de questionar a validade de estudos que se concentram no sistema educa-
cional ou na escola, pois tais estudos podem ser realizados sem que obrigato-
riamente impliquem uma dicotomia entre currículo em ação e currículo formal,
mas, ao contrário, se constituam pesquisas de dimensões diversas de um mes-
mo objeto: o currículo. É significativa, contudo, a existência de tão poucos
estudos que enfrentem as dificuldades de articular, em uma mesma pesquisa,
as duas dimensões.
Pela análise da predominância desses enfoques com o passar dos anos
investigados (Tab. 4), não se constata alteração expressiva desse quadro. Ape-
nas se encontra um ligeiro declínio dos estudos micro com a conseqüente
ampliação dos estudos macro/micro, talvez decorrente da produção de pro-
postas curriculares em nível nacional ao longo dos anos 1990, tendo levado
os pesquisadores a se interessarem particularmente por investigar seu impac-
to sobre a prática.
TABELA 4
PREDOMINÂNCIA DOS ESTUDOS MACRO E MICRO EM RELAÇÃO AOS ANOS
Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Estudos macro N% 7(0,27) 7(0,30) 5(0,21) 8(0,31) 14(0,35) 12(0,24) 14(0,30)
Estudos micro N% 15(0,58) 12(0,52) 16(0,67) 8(031) 19(0,41) 25(0,51) 21(0,46)
Estudos macro/micro N% 4(0,15) 4(0,17) 3(0,13) 10(0,38) 13(0,28) 12(0,24) 11(0,24)
Total por ano N 26 23 24 26 46 49 46
No caso de estudos micro, por sua vez, é possível, ainda, perceber o iso-
lamento do contingente sem a preocupação de construir elementos que asso-
ciem o específico com o geral. Ainda são freqüentes estudos que focalizam a
escola ou a sala de aula como uma unidade isolada, sendo o currículo desen-
volvido uma decorrência quase exclusiva das concepções dos sujeitos atuantes
na prática. Se por um lado tais estudos contribuem para valorizar a ação dos
sujeitos, não os interpretando como determinados mecanicamente por estru-
turas sociais, por outro, podem contribuir para idealizar essa ação. Considero
que o campo tem avançado sobremaneira no entendimento dos fluxos do co-
tidiano, suas permanências e singularidades, e das dimensões subjetivas que
entram em jogo quando esses fluxos são construídos (Alves, Oliveira, 2002). Foi
aprofundada a compreensão do caráter produtivo da escola, das especificida-
des institucionais que fazem com que o currículo se constitua em não-unitário,
mas ainda assim considero importante ampliar nossos estudos a fim de produ-
zir nexos entre a diversidade da prática pedagógica e relações mais gerais.
Quando tais nexos não são desenvolvidos, é possível constituir um deter-
minismo às avessas: a microanálise gerando conclusões macro sem mediações.
Tal característica é particularmente presente em trabalhos que investigam con-
cepções de professores, sem analisar como as especificidades dessas concepções
são engendradas no contexto institucional ou mediadas por questões locais es-
pecíficas. Com isso, as concepções identificadas em um pequeno número de
professores são associadas ao universo do professorado de forma imediata e
utilizadas para justificar problemas no desenvolvimento dos currículos.
Outra decorrência da falta de nexos entre macro e micro é a investiga-
ção do currículo na escola com uma concepção prévia de como esse currículo
deveria ser. A partir de um dado modelo de currículo, muitas vezes baseado
em princípios da teoria crítica, a prática pedagógica é analisada, considerando
sua maior ou menor aproximação do modelo idealizado. Com isso, mais uma
vez é assumida uma perspectiva prescritiva sobre a prática, não sendo realiza-
da a investigação, orientada pela teoria crítica3, de por que a escola é como é
e de como são constituídas, nas condições concretas de trabalho da escola, as
soluções curriculares existentes.
3. Para uma análise mais detalhada da contradição entre base teórica crítica e tendência prescritiva,
ver Macedo et al. (2004).
4. Para uma análise crítica dessa concepção de que as propostas curriculares oficiais são apenas
implementadas (ou não) na prática curricular, com base no modelo de Stephen Ball, ver
Lopes (2004a).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, N.; OLIVEIRA, I. B. Uma história da contribuição dos estudos do cotidiano escolar ao
campo do currículo. In: LOPES, A. C.; MACEDO, E. (org.) Currículo: debates contemporâ-
neos. São Paulo: Cortez, 2002. p.78-102.
GOODSON, I.; ANSTEAD, C. Subjects and everyday life of schooling. In: GOODSON, I.;
ANSTEAD, C.; MARSHALL MANGAN, J. Subject knowledge: readings for the study of school
subjects. London: Falmer Press, 1998. p.45-59.
LOPES, A. C.; MACEDO, E. O Pensamento curricular no Brasil. In: LOPES, A. C.; MACEDO,
E. (orgs.) Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002. p.13-54.
McLAREN, P.; GIROUX, H. La Pedagogia radical como política cultural: más allá del discurso
de la crítica y el antiutopismo. In: McLAREN, P. Pedagogía crítica y cultura depredadora.
Barcelona: Paidós, 1997. p.47-78.