Psicopedagogia Alguns Conceitos Básicos

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Psicopedagogia: alguns conceitos básicos

para reflexão e ação

Jaqueline Santos Picetti [49]

Tania Beatriz Iwaszko Marques [50]

Introdução

Ao finalizar a segunda edição de um curso de Especialização em

Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e da Comunicação


(TICs), constatou-se a importância de produzir escritos a respeito

de alguns conceitos que são base para o trabalho na área. Por isso,

o presente artigo tem como objetivo apresentar uma produção

escrita sobre questões básicas para o entendimento e o

atendimento psicopedagógico.

O que é a Psicopedagogia?

A Psicopedagogia é o campo que estuda a aprendizagem em

suas diferentes relações e circunstâncias. Ela se ocupa do processo


de aprendizagem e suas variações e da construção de estratégias

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para a superação do não-aprender, tendo como um de seus focos
principais a autoria do pensamento e da aprendizagem.

A Psicopedagogia tem uma visão integrada da aprendizagem,

entendendo que todas as dimensões do sujeito são coparticipantes


de seus processos de aprendizagem, por meio do entrelaçamento e

da manifestação dos processos cognitivos, afetivo-emocionais,

sociais, culturais, orgânicos, psíquicos e pedagógicos, concebendo

o sujeito como individual e coletivo.

A Psicopedagogia transita entre os aspectos pedagógicos e


psíquicos e entre os processos de desenvolvimento e aprendizagem

dos sujeitos. Sua intervenção possibilita que indivíduos, grupos e

instituições desenvolvam seus processos de aprendizagem de forma

saudável, resgatando o prazer de aprender e descobrindo-se como

autores de seus próprios processos.


Nota-se, com base na experiência na área da Psicopedagogia,

que é preciso diferenciá-la da Educação Especial, conforme o Artigo

58 da Lei nº 12.796, de 2013:

Entende-se por educação especial, para os efeitos

desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para

educandos com deficiência, transtornos globais do

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desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
(BRASIL, 2013).

Assim, pode-se dizer que a Psicopedagogia atende aos sujeitos


que necessitam de um olhar articulador sobre seu processo de

aprendizagem, criando estratégias para a superação do não-


aprender e a autoria. Já a Educação Especial, conforme a Lei n°

12.796 de 2013, tem o seu trabalho direcionado para os sujeitos

com Necessidades Educativas Especiais.

Áreas de atuação da Psicopedagogia

A atuação da Psicopedagogia pode acontecer a partir da

perspectiva Clínica, Institucional e da Pesquisa.

A Psicopedagogia Clínica ocupa-se do entendimento do sujeito


que aprende, através de sua história pessoal, de seus vínculos

familiares, de sua modalidade de aprendizagem, compatibilizando

conhecimento e saber. Procura compreender o sujeito a partir de

seu processo de aprender e de não aprender, indagando como, o

que e de que maneira ele pode aprender. Exerce suas funções nas

dimensões terapêutica e institucional, buscando a compreensão das

complexas relações de aprendizagem, dos lugares e papéis de

sujeitos em suas redes históricas e pela formulação de espaços e

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dispositivos adequados ao resgate e à promoção da aprendizagem.
Realiza ações voltadas para o resgate da aprendizagem, através da

formulação de espaço e vínculo de confiança e da proposição de

recursos adequados e específicos. Busca possibilitar que o sujeito


construa sua autoria na aprendizagem.

A Psicopedagogia Institucional considera as amplas e intrincadas

relações de aprendizagem de uma instituição, analisando as

relações institucionais e buscando elaborar condições de articular a

qualificação dos processos de aprendizagem. Objetiva fazer com


que os sujeitos de um grupo possam se conceber e agir como

protagonistas de seus próprios processos de aprendizagem. Pode

ter como objetivo, na escola, a diminuição da incidência dos

problemas de aprendizagem. Analisa e age em relação às questões

da didática e da metodologia, através da intervenção: na formação


permanente e na assessoria junto aos professores; no atendimento

familiar; no diagnóstico de sujeitos; no relacionamento entre alunos

e professores; nas relações afetivas envolvidas nos processos de

aprender; no significado que os alunos e professores dão à

aprendizagem; na elaboração de currículos e ações pedagógicas

que tenham efetivo desempenho junto ao processo de

aprendizagem.

A Psicopedagogia como área de Pesquisa compõe um conjunto

de conhecimentos que auxiliam na investigação sobre os fenômenos

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dos processos de aprendizagem humana.

Quem é o Psicopedagogo?

O Psicopedagogo é um especialista em Psicopedagogia. Sua

formação ocorre, geralmente, através de cursos de Especialização,

possibilitando o aprofundamento dos conhecimentos obtidos nos

cursos de graduação e a ampliação da discussão sobre os


aspectos da aprendizagem, de sua autoria e da superação do não

aprender. Assim, se uma pessoa tem a graduação em Licenciatura

em Matemática e a especialização em Psicopedagogia, ela será

Licenciada em Matemática e Especialista em Psicopedagogia. Se a

pessoa tem graduação em Pedagogia e Especialização em

Psicopedagogia, ela será uma Pedagoga e Especialista em


Psicopedagogia. Se ela tiver a graduação em Psicologia e

Especialização em Psicopedagogia, ela será uma Psicóloga e

Especialista em Psicopedagogia.

O especialista em Psicopedagogia é um profissional habilitado a

lidar com os processos de aprendizagem e suas dificuldades junto

às crianças, aos adolescentes, aos adultos ou às instituições,

instigando aprendizagens significativas, de acordo com suas

possibilidades e interesses. Em sua prática, o especialista em

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Psicopedagogia pode auxiliar na busca do prazer de aprender, na
construção de um novo significado para as formas de aprender, da

compreensão, por parte dos sujeitos, da maneira como aprendem e

de como utilizar suas estratégias em relação a novos


conhecimentos.

Alguns aspectos importantes de serem observados

Entre os diferentes aspectos que precisam ser considerados ao

longo de um atendimento psicopedagógico, seja institucional ou

clínico, destacam-se alguns que necessitam de atenção, tais como

o momento do diagnóstico, a anamnese, a elaboração de hipóteses

e a análise do processo de construção da lecto-escrita.

O processo diagnóstico caracteriza-se como os primeiros


encontros nos quais se interage de forma mais direta com o sujeito

encaminhado e com sua família, procurando conhecer mais detalhes

de sua história. Porém, não é um momento fechado, que tenha

como objetivo atribuir um rótulo ao sujeito. Há diagnósticos como

transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, autismo, entre

outros, que não podem ser dados por um especialista em

Psicopedagogia, que pode sugerir para a família procurar um

profissional como um psiquiatra ou um neurologista para avaliar e

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realizar tal diagnóstico. O especialista em Psicopedagogia deve
sempre realizar os encaminhamentos que julgar necessários,

mencionando que há outras questões que também atrapalham a

aprendizagem do sujeito e que só podem ser avaliadas por outro


profissional habilitado. Por isso, fala-se tanto das parcerias nos

atendimentos psicopedagógicos e de um trabalho interdisciplinar.

Na medida em que o trabalho interdisciplinar é fundamental na

ação psicopedagógica, é importante conhecer as ferramentas que

existem e são usadas pelos outros profissionais envolvidos, para


saber entendê-las adequadamente, quando se recebe um

diagnóstico. Porém, isso não significa que se possa utilizá-las, já

que algumas ferramentas são de uso exclusivo do psicólogo, do

fonoaudiólogo ou do médico.

O diagnóstico psicopedagógico necessita concentrar-se nos


processos de aprendizagem. Esse momento não pode estar focado

apenas no sujeito, mas em todas as relações que ele mantém seja

na família, na escola ou no grupo de amigos, dentre outros. O

diagnóstico é um momento no qual se pode iniciar o levantamento

de hipóteses sobre como e o que o sujeito aprende, bem como o

que o impede de aprender. Nessa ocasião, já se inicia também o

tratamento. Quando se analisa a situação do sujeito, precisa-se

propor desafios de superação, para que novas hipóteses possam

ser levantadas e questões já possam ser superadas. Logo, não há

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uma separação rígida entre o período do diagnóstico e o do
tratamento. Ao iniciar o diagnóstico, já se está começando o

tratamento.

Ao longo do processo diagnóstico, é importante ser realizada


uma entrevista de anamnese, que se constitui numa técnica de

investigação e análise, a partir da retomada da história de vida do

sujeito através de uma conversa com a família. Ela é utilizada para

auxiliar a compreender o funcionamento familiar, no sentido de se

observar como o sujeito é visto por esse grupo, qual o seu papel,
como o veem e compreendem sua situação ao longo da vida e

como descrevem a dificuldade de aprendizagem. A anamnese auxilia

o especialista em psicopedagogia a compreender o processo de

aprendizagem do sujeito em diferentes momentos de sua vida. Por

isso, suas perguntas devem se centrar mais no “como” do que no


“quando”, como, por exemplo: Como foi que ele começou a andar?

Como foi que ele aprendeu a falar? O quando traz uma questão

mais relacionada com a temporalidade, o que tem importância, mas

não tanto quando o processo de cada aprendizagem.

A elaboração de hipóteses sobre como o sujeito aprende e o

que o impede é de suma importância para o atendimento, pois é a

partir dela que a ação do especialista em psicopedagogia é

planejada e organizada. Ao longo de todo o tratamento, as

hipóteses são elaboradas, superadas e redefinidas. A partir da

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superação de uma questão, outra poderá ser elaborada pelo
especialista em Psicopedagogia. É significativo sempre partir do

que o sujeito sabe fazer, o que conhece, aquilo no que tem sucesso.

Além de reforçar suas possibilidades, com essa perspectiva


também se consegue, muitas vezes, observar e analisar as

estratégias utilizadas e lhe ajudar a usá-las nas situações de

dificuldades.

Outro aspecto relevante tem relação com as inúmeras vezes em

que os especialistas centram a investigação psicopedagógica na


leitura e na escrita quando o encaminhamento ocorre devido a uma

dificuldade nessa área. Porém, precisa-se sempre lembrar de

também analisar questões relativas ao pensamento lógico-

matemático. Várias vezes, recebe-se dos educadores a avaliação

de que o sujeito domina as questões relacionadas ao conhecimento


matemático, mas o que ele consegue fazer são cálculos

mecanizados, sem compreensão. A construção do pensamento

lógico-matemático é estruturante da construção da leitura e da

escrita, ou seja, são a base para a aprendizagem da leitura e da

escrita. A testagem do nível de leitura e escrita precisa ser

realizada juntamente com a observação, pois é importante observar

as estratégias que o sujeito utiliza para ler e escrever sua própria

produção.

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Abrindo espaço para novas discussões

Este artigo teve como objetivo apresentar algumas questões

relevantes para o entendimento e o atendimento psicopedagógico.


Porém, tem-se a certeza de que muitas, igualmente importantes,

não foram abordados e, com isso, destaca-se a necessidade


constante de estudos. A Psicopedagogia é uma área de

conhecimento que está sempre em avanço, necessitando de

espaços intensos de trocas e discussões, tanto teóricas quanto

práticas. Por isso, sabe-se da relevância da formação de grupos de

apoio, trocas e estudos entre os especialistas em Psicopedagogia,

cujo trabalho pode ser organizado e qualificado a partir da


construção desses grupos, que realizam um papel de supervisão

das ações no atendimento.

Referências

BRASIL. Lei n° 12.796 de 2013. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12796.htm acesso em 24/01/2016

Obras consultadas

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Paraná: Masson do Brasil, [s.d.].

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir


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LAJONQUIÈRE, Leandro de. De Piaget a Freud: para repensar as


aprendizagens. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

LAJONQUIÈRE, Leandro de. Infância e Ilusão (Psico)Pedagógica .


Petrópolis: Vozes, 1999.

LEONÇO, Valéria Carvalho de. O adolescente nas Séries


intermediárias. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS,
2000.

MACEDO, Lino de. Prefácio. In: SCOZ, B. et al. Psicopedagogia:


contextualização, formação e atualização profissional. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1992.

PORTELLA, Fabiani Ortiz & HICKEL, Neusa Kern. Psicopedagogia:


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SPIEKER, Vanda. Um pouco da história da psicopedagogia.


Ciências e Letras. Porto Alegre: Faculdade Porto-Alegrense de
Educação, Ciências e Letras, n. 23/24, 1998.

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