No Rio Que Corre Ligeiro PDF

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CLAUDIR DOS SANTOS

NO RIO QUE CORRE LIGEIRO


A CANOAGEM EM TRÊS COROAS

EDITORA JM2D

TRÊS COROAS / 2020

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NO RIO QUE CORRE LIGEIRO
A CANOAGEM EM TRÊS COROAS
Pesquisa e reportagens por
Claudir dos Santos

Claudir dos Santos, 2020


Foto da capa Adriano Stalin
Atleta da foto Murillo Sorgetz
Revisão Valter Ribeiro Conforme Novo Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa

No rio que corre ligeiro, a canoagem em Três Coroas


Claudir dos Santos
Todos os direitos reservados

Editora JM2D, 2020.


ISBN 988-84-68283-03-1
1. Reportagem.

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Sumário

1. Início do Slalom em Três Coroas


2. Primeiros barcos do Paranhana
3. Fundação da ASTECA
4. Desbravando o Rio que Corre Ligeiro
5. Criação do Parque das Laranjeiras
6. Primeiras provas no Estado
7. Primeiros destaques em competições nacionais
8. Primeiras viagens no continente
9. Primeiras provas na Europa
10. Olimpíadas de 1992 na Espanha
11. Olimpíadas de 1996 nos Estados Unidos
12. Mundial de 1997 em Três Coroas
13. O turismo de aventura
14. Olimpíadas de 2000 na Austrália
15. Modernização da canoagem brasileira
16. Remar no Parque das Laranjeiras é diferente!
17. Mundial Master 2013
18. Olimpíadas 2016 e a arbitragem
19. Escola de canoagem da ASTECA
20. O novo momento da canoagem brasileira
21. Campeonatos pan-americanos de 2018 e 2019 em Três Coroas

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Nota do autor:

Durante a produção de alguns conteúdos e também


em conversas com amigos ligados à canoagem da cidade,
diagnostiquei que uma história de grande valor como esta,
merecia um registro escrito.

A ideia de escrever um livro sobre a canoagem surgiu após


eu ficar sabendo que algumas matérias produzidas por mim
foram utilizadas para ajudar os alunos da Escola de Canoagem
da Asteca (Associação Trescoroense de Canoagem) a conhecer
um pouco mais sobre a história do esporte na cidade.

Esta obra registra a história da canoagem através de uma


visão construída a partir de pesquisas e entrevistas que relatam
apenas parte dessa história, restando a certeza de que este
assunto não está esgotado. Muitas pessoas ainda poderão ser
ouvidas e, a partir de novas entrevistas, outros registros poderão
compor parte de uma nova publicação para complementar os
registros da história da canoagem de Três Coroas.

Este livro foi construído para contar sobre a canoagem


de Três Coroas, mesmo para os que não praticam canoagem,
ou ainda não conhecem Três Coroas, mas apreciam uma boa
história.

A palavra três-coroense será encontrada nessa obra fora


do padrão exigido pelo novo acordo ortográfico da língua
portuguesa. Usarei a palavra escrita da forma antiga a essa
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nova regra, ou seja, trescoroense.

Primeiro porque a entidade Associação Trescoroense de


Canoagem (Asteca), fundada em 1986, se encontra escrita
dessa forma. Também porque, considerando um público de
leitores da era digital e seu contexto linguístico de abreviações,
a nomenclatura adotada deixa a leitura mais fluente. E por
último, mas não menos importante, considero o hífen, nessa
aplicação, um freio na leitura, diminuindo sua intensidade e
seu propósito, se afastando das minhas referências literárias.

Enfim, apesar desse livro não ser uma história de minha


criação, e sim um registro de acontecimentos, agradeço aos
personagens que fizeram possível essa narrativa. Mesmo aos
que não foram entrevistados para a concepção desta obra, mas
fazem parte dessa história.

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INÍCIO DO SLALOM EM TRÊS COROAS

O Festival de Canoagem era realizado anualmente, após


a chegada do slalom, alguns acontecimentos mudaram a vida
de muita gente, e também, a história da cidade de Três Coroas.
Durante a primavera de 1987, no calor de novembro, 15
mil pessoas testemunharam a primeira prova de canoagem
slalom no rio Paranhana, ainda sem saber os rumos que a
modalidade iria seguir.
“Em 1987, aconteceu pelo terceiro ano seguido um festival
de canoagem em Três Coroas. Desta vez, com a primeira
pista de slalom da cidade, no Camping da Pedreira”. Lembra
Flavio Belloto, que foi o primeiro presidente da Associação
Trescoroense de Canoagem (Asteca).
Antes do Festival, o dirigente foi em busca de mais
informações sobre o slalom se deslocando em uma viagem
de ônibus ao estado de Minas Gerais para acompanhar uma
das primeiras provas da modalidade realizada em território
brasileiro.
“Muito se falava do slalom, uma das primeiras provas no
Brasil acontecia em Minas Gerais, fui de ônibus até lá, ver como
era. Achei que realmente daria muito certo em Três Coroas”.
Comenta.
Naquele ano, o Festival de Canoagem contou com uma
modesta pista de slalom montada no  Balneário  da  Pedreira.
“Os melhores  canoístas  do Brasil estiveram em Três Coroas
e viram que  tínhamos  uma gurizada remando muito bem.
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Tivemos um intercâmbio muito bom”. Avalia Belotto.
Além da prova de slalom, até então inédita para os
atletas trescoroenses, as modalidades de descida e velocidade
eram as mais praticadas na cidade. Ainda não foi no slalom,
mas naquele festival, a Asteca que havia sido fundada no ano
anterior, teve pela primeira vez um atleta entre os primeiros
lugares.
“A primeira conquista para a Asteca foi um terceiro lugar
que tive na categoria descida do Festival de Canoagem de
1987”. Revela Fabio Fritz Hack.
Os campeonatos daquele período, realizados no Camping
da Pedreira, além de apresentar o slalom para os atletas, também
motivou muitos jovens que estavam iniciando no esporte.
“Participei dos campeonatos na Pedreira, na época o
pessoal usava os caiaques surfinho, de três metros. Uma turma
daqui estava começando a remar, também um pessoal de
outros estados participava. Ali, muita gente iniciou e pegou
gosto pela canoagem”. Recorda Roger Eckard, que completa:
“Os campeonatos eram muito grandes mesmo”.
Mesmo sem imaginar que uma década depois dessa
apresentação do slalom para Três Coroas, a cidade iria receber
um campeonato mundial da modalidade, o primeiro passo
havia sido dado. “O campeonato de slalom de 1987 na Pedreira,
me motivou bastante a ser um competidor. Antes disso, só
andava de caiaque no rio”. Lembra Cristian Krumennauer.
A modalidade era nova na cidade, mas Três Coroas já
reunia características parecidas com as encontradas nos lugares
onde ela surgiu. “A canoagem slalom teve seu início nos alpes
suíços. Está muito ligada com regiões de montanha, em cidades
menores, afastadas dos grandes centros”, considera Leonardo
Selbach.
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O Festival de Canoagem de 1987 trouxe os primeiros
praticantes do slalom do Brasil para Três Coroas. Também
envolveu e motivou a cidade, criando os fatores necessários
para sua continuidade e desenvolvimento.
“O Flávio conheceu em Minas Gerais um pessoal de São
Paulo que fazia slalom, logo eles começaram a vir pra Três
Coroas nos ensinar a modalidade”. Diz Leonardo Selbach, que
também lembra sobre o envolvimento do público no Festival
de Canoagem de 1987: “Foi sensacional! Teve show de banda
de rock. O gramado do camping estava cheio”. Outros fatores
também contribuíram para o desenvolvimento da canoagem
slalom em Três Coroas, no Brasil e no mundo. Entre eles, a volta
da modalidade aos jogos olímpicos de Barcelona, em 1992.
“Com a canoagem slalom de volta às olimpíadas, a
canoagem de velocidade não era mais a única modalidade
olímpica. Todo atleta sonha em participar de uma
olimpíada”. Avalia Cristiano Arozi.
O desenvolvimento do esporte se desencadeou no cenário
mundial, mas a cidade teve importante participação nisso.
“Nasceu tudo aqui, o slalom cresceu no Brasil a partir de Três
Coroas”. Complementa Arozi, que ainda diz: “Depois que
formou a equipe de slalom, foi tudo muito rápido”.
Provas de canoagem slalom começaram acontecer em
todo Brasil. O esporte começou a ganhar participantes em todo
território nacional. A evolução dos atletas locais no slalom
foi significativa, em pouco tempo, cerca de vinte canoístas da
Asteca frequentavam as provas do estado, com bons resultados. 
Mas a cidade não seria apenas mais uma na história da
modalidade. “Em 1988 a gente começou a ver a necessidade
de um local para uma pista de slalom, com maior desnível na
água”. Lembra Flávio Belotto.
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PRIMEIROS BARCOS DO PARANHANA

O início da canoagem no Rio Grande do Sul ocorreu no


ano de 1943, quando um imigrante alemão, que residiu na
região metropolitana de Porto Alegre, buscou nas águas do rio
Taquari, lembrar o esporte que praticava na Alemanha, onde
nascera em 1915. A partir disso, despertou na comunidade
local o interesse pela canoagem.
Entre os anos de 1983 e 1984 surgiram os primeiros barcos
de canoagem em Três Coroas. Em pouco tempo, os praticantes
que se deslocavam do Vale do Rio dos Sinos, eram observados
por um grupo de jovens que, com curiosidade e entusiasmo,
acompanhavam a novidade no rio Paranhana. Sem demora, os
trescoroenses estavam praticando o esporte.
“Era bastante comum brincar na água com câmeras de
caminhão, descer o rio no trecho da prainha, entre as pontes
do Centro. Entre 1983 e 1984 apareceram os primeiros barcos
na cidade, trazidos por algumas pessoas de Novo Hamburgo.
Logo, estávamos amarrando as câmeras e fazendo remos. O
primeiro caiaque da cidade foi do Ludgero Michalski, o segundo
foi o meu. Comprei desse pessoal de Novo  Hamburgo, que
desciam de Sander até o Centro”. Recorda Fa bio
Fritz Haack, que fez parte desse grupo que começou a participar
de algumas provas. “Em pouco tempo já tínhamos um grupo
de pessoas remando, esse pessoal de Novo  Hamburgo  sabia
que estávamos iniciando e nos convidaram para uma prova na
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cidade de Muçum. Foi quando começamos a nos organizar”.
Completa.
“Não tinha muitas opções de esporte na cidade, para os
jovens cheios de adrenalina, a canoagem era o ideal, também
pelo contato com a água e a natureza”. Avalia Roger Eckhard,
que também estava inserido entre os primeiros praticantes de
canoagem na cidade.
Eckhard ainda reflete sobre a importância da canoagem
para aquele grupo de jovens que ele fez parte: “Eu acho que todo
mundo devia fazer um esporte, ainda mais nos dias de hoje.
Muitas pessoas ficam enclausuradas em casa, num computador,
num vídeo game, ou no celular. Pouca gente tem contato com a
natureza. A canoagem em Três Coroas proporciona isso”.
Brincar no rio era uma diversão de muitos trescoroenses
naquelas temporadas de verão, em um tempo ainda distante
dos smartphones. A chegada da canoagem chamou atenção de
todos. Alguns que não estavam entre os primeiros praticantes
do esporte na cidade, mais tarde acabaram se aproximando dele.
“O Márcio Tomazoni e eu éramos vizinhos. Um pessoal
de Novo Hamburgo começou a andar aqui e logo tinha gente
da cidade andando também. A gente vivia no rio, brincando,
tomando banho. Quando  começou esse negócio de caiaque,
ficamos sabendo que teria uma prova que passaria pelo centro,
com a chegada no  CTG. Combinamos e fomos com boias e
remos de madeira pelo rio até a chegada”.  Lembra Cristiano
Arozi, que anos mais tarde se tornaria multicampeão nacional.
Essas pessoas de  Novo  Hamburgo, que foram os
precursores da canoagem nas corredeiras de Três Coroas,
quando visitavam a cidade com seus barcos aos finais de
semana, estimularam o primeiro evento.  Em 1985 aconteceu
o primeiro festival brasileiro de caiaque, reunindo nas águas
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trescoroenses esportistas de diferentes regiões.
“Foram criadas regras  próprias. A canoagem ainda não
era um esporte olímpico, nem o slalom era praticado por aqui.
Veio bastante gente de outras cidades, inclusive de outros
estados”. Recorda Flávio Belotto.
“Um primeiro festival foi realizado na cidade, com a
chegada no Centro. o  Ludgero  e o Fritz já participaram, eu
comecei em seguida, em 1985 já éramos um pequeno grupo
com pouco mais de 10 pessoas. Com apoio da prefeitura,
viajamos pelo estado em diversas competições”.  Declara
Leonardo Selbach, que completa: “A gente jogava futebol
juntos, no verão o pessoal começou a andar de caiaque e logo
já era a diversão de um monte de gente”. 
“A canoagem era descer o rio, com a chegada do slalom
mudou o perfil dos treinos. Começamos a ver que no exterior,
os treinos eram filmados. Também começamos fazer aqui,
para ver nos vídeos em quais trechos poderia ser mais rápido.
Com isso, os erros que eram cometidos poderiam ser mais bem
corrigidos. Muito treinador filma até hoje, muito mais comum
que naquela época. Os celulares de hoje filmam melhor que
as câmeras daquele tempo”.  Declara Fabio Fritz Haack, que
desenvolveu sua paixão e trabalho com filmagens a partir dos
treinos com a canoagem. “Todo dia a gente anotava o tempo de
cada um, uns ajudavam os outros dando dicas”. Conclui.
Os primeiros festivais de canoagem na cidade aconteceram
a partir de 1985, realizados anualmente no Camping da
Pedreira. A terceira edição, o Festival de Canoagem (1987),
foi patrocinado pela marca de cigarros Hollywood.
Aconteceram shows musicais. O trabalho de divulgação
resultou em um grande público, reunindo mais de 15 mil
pessoas. O evento ficou marcado pela primeira pista da
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modalidade slalom na cidade.
“A volta da modalidade aos jogos  olímpicos  em 1992
aconteceu justamente quando começou a se visualizar, de forma
pioneira, a busca por uma grande competição da canoagem
slalom em Três Coroas. Isso ao mesmo tempo que a modalidade
se desenvolveu no rio Paranhana, com um grupo de pessoas
participando das provas internacionais. A gente não percebia
isso naquele momento”. Reflete Cristian Krummenauer.

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FUNDAÇÃO DA ASTECA

Algumas coisas acontecem sem que os envolvidos


imaginem a dimensão daquela ação no futuro. Assim foi com
a fundação da Asteca, que surgiu a partir da necessidade de
organizar o movimento da canoagem que acontecia em Três
Coroas.
“Eu comecei  a remar  junto com a fundação da Asteca,
em 1986. No final de semana de fundação da Associação, foi
a primeira prova  do campeonato municipal, também minha
estreia, com 11 anos”. Recorda Gustavo Selbach, que em suas
palestras fala que iniciou no esporte por diversão,  apesar  de
não medir esforços para treinar e buscar resultados. Considera
que tudo aconteceu  em função do empenho e dedicação de
todos os envolvidos com a entidade, apesar da pouca estrutura.
“Algo que foi importante para o desenvolvimento da
canoagem é termos um rio cruzando a cidade, a nossa diversão
estava garantida, gostávamos muito do que a gente fazia. O
contato com a natureza foi também um fator importante”.
Avalia Gustavo Selbach.
A oficialização da Asteca, ocorreu para que a prefeitura
pudesse auxiliar uma entidade e não somente um grupo de
jovens que remava e queria participar de provas no estado. As
inscrições nesses eventos, também saia mais barato para atletas
que faziam parte de alguma associação de canoagem, como
estímulo para os atletas se organizarem.
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“As inscrições para as provas eram mais caras pra quem
não fazia parte de Associação, logo criamos a Asteca”. Conta
Fabio Fritz.
“A Asteca começou a surgir pela nossa organização e no
dia 12 de março de 1986 fundamos a Associação Trescoroense
de Canoagem”. Declara Flávio Belotto.
“A gente tinha muitos admiradores, um pessoal
que tinha um barco pra remar no final de semana.
Também estávamos conseguindo destaque nas provas que os
atletas participavam”.  Comenta o primeiro presidente, Flávio
Belotto.
“Em 1987, no segundo ano da Asteca, ainda  não
tínhamos  aumentado muito nosso grupo, desde a fundação,
então fizemos uma campanha para chamar mais remadores”.
Recorda Flávio Belotto. “Desde 1987 a gente sempre trabalhou
com ações que serviram pra buscar mais adeptos. A Asteca
nunca parou. Passou por crises e dificuldades. No inverno
de 1987, tínhamos somente quatro ou cinco remadores.
Precisávamos melhorar”. Considerou o dirigente.
“Começamos a descer o rio, a prefeitura disponibilizava
o transporte todo final de semana. Da mesma forma acontecia
para competições no estado. A gente começou a treinar um
pouco mais pra essas competições. Começaram a surgir os
resultados. O Ludgero e o Fritz foram os primeiros a conseguir
bons resultados, isso estimulava todo mundo. Não demorou
pra todo final de tarde a gente se reunir pra treinar”. Recorda
Leonardo Selbach. “A canoagem slalom tinha alguns atletas
de São Paulo, que logo estavam em Três Coroas nos ajudando
a construir e promover tudo, também pra ter mais atletas e
lugares onde praticar a modalidade”. 
“Nos primeiros eventos (Festival de Canoagem) eu
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participei no auxílio em terra, prestando socorro, porque eu
não tinha caiaque. No início de 1986, comprei meu primeiro
barco e logo foi fundada a Asteca”. Recorda Márcio Tomazoni,
que participou das primeiras provas em Três Coroas. “Nos
anos seguintes a fundação da Asteca, o esporte começou a se
popularizar na cidade. No início éramos uma gurizadinha, nos
anos seguintes tinha gente mais velha remando junto. A Asteca
começou a viajar para os campeonatos pelo estado, sempre
com bastante gente, e só foi aumentando a cada ano”.
Não existia muita dificuldade pra organizar os treinos, os
jovens queriam se divertir e estar na água. “A gente combinava
com o pessoal da canoa um horário, o pessoal do caiaque
combinava o horário deles, às vezes a gente treinava todo
mundo junto, que era importante também”. Recorda Roger
Eckhard.
“Nosso modelo de gestão era simples, sem estrutura
burocrática, as decisões tomadas de forma horizontal, as
coisas aconteciam em Três Coroas muito pela vontade, dando
resultados e otimizando recursos”. Considera Gustavo Selbach.

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DESBRAVANDO O RIO QUE CORRE LIGEIRO

Paranhana é uma palavra de origem no idioma guarani, que


significa rio que corre ligeiro. O vale de mesmo nome, que fica
entre a região metropolitana de Porto Alegre e a serra gaúcha,
é cortado por esse rio, que nasce na cidade de Canela e corre
ligeiro, em declive, passando por Três Coroas. Nesse trecho, suas
corredeiras remetem as origens da canoagem slalom.
“Durante a semana, a gente treinava no centro da cidade,
na água parada. Em final de semana, a gente subia pra treinar
nas corredeiras”. Recorda Leonardo Selbach.  “Todo sábado e
domingo a gente descia o rio. No fim do primeiro dia, a gente fazia
a manutenção dos barcos pra descer no dia seguinte. Naquele
tempo, a gente demorava bastante, descia rolando em muitos
lugares”.
“Fiz bastante descida. A gente descia da usina até a ponte do
Goettert. Também o trecho de lá até a Asteca. A gente fazia isso
quase todo final de semana. Era nossa diversão”. Considera Roger
Eckhard.
No ano de 1984, os jovens decidiram pela primeira vez
descer o rio em um trecho ainda desconhecido. “Partimos de
uma ponte um pouco abaixo da barragem. A sorte que o rio não
estava muito cheio. Já nas primeiras remadas muitos viraram.
Um colega, sem muita prática, quase se afogou. Tivemos que
convencer ele a não descer naquele dia”. Revela Fritz. “Seguimos
desbravando. Pelo contorno, chamamos um lugar de ‘S’, que
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passou a ser chamado de ‘S pequeno’ porque logo depois
encontramos o ‘S grande’, que hoje fica no início do Parque das
Laranjeiras. Fui o primeiro a descer essa corredeira”.
“A gente passava sempre por ali, falávamos que seria incrível
uma pista naquele lugar. Era o ‘S’, um pouco mais pra baixo fica a
‘escadaria’, com um declive legal, ali era muito bom porque tinha
a opção de esticar os cabos para as balizas, com um trecho de
corredeira boa para o slalom”. Lembra Roger Eckhard. “A gente
remava na Asteca, apesar da água mais parada, era possível fazer
um treino de balizas, treinar a resistência na água, mas a gente
precisava de um lugar com mais corredeiras”.
Antes de visualizar uma pista de slalom na cidade, as descidas
no rio eram aventura misturada com treino. O esporte foi o
resultado do lazer e diversão. “Iniciamos com as provas de descida
de um ponto a outro do rio. Muitas vezes fomos de caçamba, era
muito prático pra levar os caiaques”. Comenta Cristiano Arozi.
“Nós descíamos todo final de semana pelo rio, muitas vezes
eu que combinava com o pessoal da garagem da prefeitura para
no sábado e no domingo a caçamba levar o pessoal até a barragem
pra gente descer o rio. Isso durante muitos anos”. Complementa
Arozi. “Todo mundo queria fazer de tudo; slalom, descida e
velocidade. Não tinha uma definição do que cada um queria fazer.
Se era canoagem, estávamos dentro”.
“As primeiras competições eram descidas de rio”.
Lembra Fabio Fritz Haack. “A gente remava a descida de Linha
Café Alta, da ponte próxima da sociedade, até a Pedreira, em Linha
Café Baixa. Quando descobrimos o slalom, muitos começaram a
focar nessa modalidade. Nosso lugar é privilegiado para treinar,
pela água limpa e corredeiras perfeitas”.
“Teve uma época que guardávamos os barcos  na antiga
sede dos escoteiros, que também era próxima ao rio, no Centro
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da cidade. Depois passamos a deixar no porão do museu, mas
quando chovia ficava alagado lá. Depois,  próximo  da casa do
Periquito, até termos a sede da Asteca”. Pontua Fabio Fritz Haack.
“O  próprio  desafio de descer o rio era algo que motivava.
Eram provas de descidas com duas etapas: a primeira até a
Pedreira, depois a segunda até o CTG”. Conta Gustavo Selbach.
Um ano após a chegada do slalom, já na realização do festival
de canoagem de 1988, a modalidade slalom passou a ser a mais
praticada na cidade. 
“Nossos atletas, e o local, eram propícios para o slalom.
Tentamos a canoagem de velocidade, inclusive a Asteca teve
ótimos resultados em 1988 em uma competição na cidade de
Estrela. Mas não tínhamos um local apropriado para a prática em
nosso rio, o que dificultou um pouco”. Considera Gustavo Selbach,
que complementa: “Também com o anúncio de que a canoagem
slalom se tornaria uma modalidade olímpica, a partir de 1992, fez
mais gente aderir a modalidade”.
“No início, era nossa diversão encontrar com o grupo e remar
todos os dias da semana na Asteca. No final de semana a gente
carregava a caçamba com os caiaques e descia o rio, junto com o
pessoal do boia cross. Depois que tínhamos uma pista e buscamos
os resultados, nos tornamos mais competitivos. Enquanto grupo,
sempre foi importante essa competitividade, ajudou nossa busca
pelo alto rendimento”. Avalia, Cristian Krummenauer.
As provas eram divididas em duas etapas, na parte alta do rio
com mais corredeiras, e depois até o Centro de Três Coroas.
“O que a gente mais gostava de fazer era a descida do rio
na parte alta, da saída da barragem até a ponte do Goettert, o
trecho mais explorado por todo mundo, que reunia as melhores
corredeiras. Depois da ponte e logo depois da Pedreira, que é
quase junto, as corredeiras já começavam a diminuir. O nível de

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inclinação do rio também é menor”. Declara Márcio Tomazoni,
que se lembra das primeiras competições na cidade, quando
ainda não competia, mas já estava envolvido na equipe de apoio,
pegando gosto pela canoagem. “Tinha muita gente envolvida, eu
mesmo, em 1985 já gostava da ideia, assim tinha muitos amigos
que estavam nesse auxílio. A gente tava lá pra ajudar em pontos
estratégicos. Ninguém tinha experiência de resgate em rio, era na
vontade de ajudar mesmo”. Diz Márcio Tomazoni, que continua:
“Um ponto de apoio era onde hoje fica o Parque das Laranjeiras,
a gente chegava pelo lado oposto do rio, de onde é a entrada hoje.
A gente ficava no ‘S grande’, subia um pouco mais e chegava no
‘S pequeno’. Logo depois tem a ‘escadaria’, que era muito difícil
também. Aquele trecho era um pouco temido”.
Algumas vezes, a descida não podia ser completada devido
algum acidente de percurso com os equipamentos, ainda longe
dos que conhecemos atualmente.
“A nossa subida pra descer o rio normalmente era de caçamba,
a prefeitura fornecia o transporte e todo mundo embarcava com
os caiaques. Muitas vezes, o caiaque quebrava, furava, acontecia
algo e não dava pra continuar a descida. Nesses casos, tinha que
sair do rio e ficar esperando na beira da estrada. Depois de todo
mundo se encontrar no ponto de chegada e carregar os barcos na
caçamba, ainda tinha que resgatar os que ficavam no percurso”.
Lembra Márcio Tomazoni.
Mesmo quem ficava esperando o transporte por horas na
beira da estrada, às vezes no inverno, molhado, com frio; ao ser
resgatado, o único pensamento era consertar o barco e voltar
na semana seguinte. “Todo mundo sempre voltava com muito
entusiasmo”. Pontua Márcio Tomazoni.

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CRIAÇÃO DO PARQUE DAS LARANJEIRAS

Naturalmente, a criação de uma pista teria que ser no


trecho da descida do rio Paranhana que deixava os atletas
locais bastante entusiasmados. Logo, começaram a se referir,
quando conversavam sobre o trajeto, sobre a parte da “curva
do S”. Ainda não seria possível imaginar a importância que esse
lugar teria para a canoagem brasileira e mundial. O melhor
local para praticar o slalom, nas águas do rio que corre ligeiro,
tinha sido encontrado. Uma pista ficaria muito bem ali. Quem
conhece o Parque das Laranjeiras concorda.
“Em 1989, a gente apresentou o projeto para a prefeitura
e foi bem aceito. Então começamos a correr atrás e o poder
público realizou a compra e as primeiras obras, com banheiros
e acesso ao rio”. Recorda Flávio Belotto.
Com as melhorias feitas, a “curva do S” passou a fazer
parte do Parque das Laranjeiras, que se tornou a principal pista
de slalom do Brasil. 
“Conforme o slalom foi evoluindo, a gente percebeu que
o grau de inclinação e as corredeiras naquele trecho do ‘S’
eram ideais pra fazer uma pista. Além de uma área de terra
onde era possível fazer um Parque.” Declara Márcio Tomazoni.
Foi muito rápido o surgimento da canoagem e o desenvolvimento
do slalom na cidade. Em 1989, já com a estrutura do Parque sendo
montada, a primeira prova internacional aconteceu no local. 
“O primeiro evento internacional de  Três  Coroas foi
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o Campeonato  Sulamericano  de 1989. Em 1990 aconteceu
um Festival  Sulamericano”. Diz Flávio Belotto. “Nós
já  éramos referência na canoagem slalom do Brasil, alguns
atletas já participavam das primeiras provas internacionais,
representando a canoagem brasileira”.
“Aquele lugar foi comprado pra sediar, em 1989, o
primeiro Campeonato Sulamericano  de slalom em Três
Coroas”. Confirma Leonardo Selbach.
“A composição geográfica do lugar, onde tinha a ‘curva do
S’ foi importante. Já se pensava em fazer um parque ali. Esse
mesmo grupo, que já remava junto, começou a usar aquele
espaço como uma incubadora de oportunidades de trabalho.
Utilizando o meio natural e o rio Paranhana para o turismo.
Em poucos lugares no mundo isso deu tão certo. Temos
exemplo de pistas olímpicas que foram abandonadas por má
gestão”. Declara Cristian Krummenauer. “A canoagem trouxe a
oportunidade, mas as pessoas que até hoje continuam remando,
ou utilizando o rio como uma ferramenta de desenvolvimento
social, fazem a diferença”. 
“O desnível do rio, a corredeira contínua e a beleza do local,
eram atrativos que deixavam aquele trecho mais interessante.
Além disso, era um local onde algumas pessoas já ficavam na
beira do rio assistindo. Também tinha uma facilidade com a
área de terra, plana e com fácil acesso ao rio”. Recorda Gustavo
Selbach.  “Logo estava se falando outras línguas na cidade,
eram argentinos e chilenos que movimentaram e deram
uma dimensão diferente. Tivemos a inauguração do Ginásio
Municipal, com show da banda Engenheiros do  Hawaii, na
abertura do Festival de Canoagem. Depois vieram outros
shows grandes. Essa dimensão cultural foi bem  importante.
Na década de 1990, muitos shows nacionais aconteceram na
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cidade em função da canoagem”. 
A partir de 1989, com a realização dos eventos no Parque das
Laranjeiras, a visão da cidade com a canoagem começou a mudar. 
“Ainda nos dias de hoje, conheço pessoas que durante
aquele tempo frequentavam os shows, visitavam o Parque das
Laranjeiras e torciam nas provas. Muita gente ainda vai pra lá
com nostalgia daquele tempo. Ainda não havia redes sociais,
então a gente não sabia muito quem acompanhava, mas foi um
tempo onde o público também viveu bastante o momento da
canoagem”. Declara Gustavo Selbach.
“Eu lembro que a cidade esperava pela data do evento
e quando ele estava ocorrendo, era algo muito especial. Os
shows agregados ao evento esportivo. Isso nunca houve no
exterior”. Recorda Cristian Krummenauer. “A gente só se deu
conta da grandiosidade dos eventos, quando nos afastamos
do meio competitivo. Nem sabíamos  da  importância  que
esses eventos tiveram como um todo. Os principais jornais
estavam lá. Pra gente era muito natural, pois estávamos no alto
rendimento do esporte”. 
“Nas provas, a gente se espalhava na beira do rio pra
ficar gritando e estimulando quem estava na água. Remar nas
Laranjeiras é emocionante, mas a cobrança também é maior,
pois as pessoas da cidade estão ali”. Avalia Fabio Fritz Haack.
“Quando começaram as provas no Parque das Laranjeiras,
os resultados eram muito expressivos, entre os 10 melhores
tínhamos sete ou oito de Três Coroas. Era bem difícil alguém
vir para a cidade e ganhar de nós”.

25
PRIMEIRAS PROVAS NO ESTADO

Quando começaram a acontecer as primeiras competições


pelo estado, algumas vezes o transporte para as competições
era nos carros dos mais velhos, com os barcos presos em
cima do automóvel. Mas o grande número de competidores
trescoroenses também fazia com que a prefeitura, muitas vezes,
ajudasse com o deslocamento. Os competidores começavam a
levar o nome da cidade para diversos lugares. A caçamba, que
aos finais de semana já fazia o trajeto do Centro da cidade até a
barragem, passou a também ser o transporte para competições
em diferentes lugares do estado. 
“Algumas pessoas tinham carros, eventualmente a
prefeitura sedia uma marajó e até a caçamba”. Comenta Flávio
Belotto.
Muitas viagens foram de caçamba. Algumas vezes no
inverno, quando além da lona que cobria os atletas e os barcos,
também se tornavam indispensáveis os cobertores, para
aquecer os momentos de cochilo no trajeto. Talvez nem nos
melhores sonhos daqueles jovens, alguém pudesse imaginar
que o caminho que estava sendo realizado na caçamba, fazia
parte da história da canoagem.
“A gente viajava na lata da caçamba mesmo. Os menores
tinham o privilégio de sentar na frente, com o motorista, que
era  o ‘Paraná’, que é uma pessoa muito querida dentro da
canoagem. Ele era o motorista da prefeitura e levava o grupo
todos os finais de semana para o Parque e para as viagens.
Ajudava muito a gente. Não por acaso, ele trabalhou comigo.
26
Durante 12 anos foi motorista de transporte turístico, na
empresa onde sou responsável”. Revela Cristian Krummenauer.
“Nos primeiros anos da Asteca, a gente ia para as
competições no estado com a própria caçamba da prefeitura.
O motorista levava os caiaques, também a gente, em cima da
caçamba”. Lembra Márcio Tomazoni sobre as viagens, que
aconteceram para as competições nas cidades de Montenegro,
Serafina Corrêa, Muçum, Bento Gonçalves, Flores da Cunha,
Estrela, entre outras.
“No início a gente viajava muito para competições do
estado com o auxílio da caçamba da prefeitura. Eram provas de
descida, de longa distância, de velocidade. A gente procurava
competir em todas as provas de canoagem”. Recorda Gustavo
Selbach.
“A canoagem ainda era uma novidade, em alguns
campeonatos a prefeitura sedia a tombadeira e a turma
embarcava feliz com os caiaques. Dormíamos em barracas.
Eram bons momentos”. Afirma Roger Eckhard.
“A primeira competição que começamos a ganhar
destaque foi na cidade de Estrela, no Campeonato Brasileiro
de Canoagem de Velocidade. A Asteca tinha somente uma
embarcação dessa modalidade, que era olímpica, enquanto
o slalom ainda não fazia parte dos jogos. Um pessoal veio de
outros estados, um grande evento que reuniu os praticantes
da canoagem de velocidade no rio Taquari”. Lembra Cristiano
Arozi. “Veio um  ônibus  com atletas da  USP. Pra nós essa
competição marcou, pois foi a primeira vez que um pessoal da
cidade se deu bem”. 
“Em 1988, no Campeonato Brasileiro de Velocidade em Estrela,
o Cristiano Arozi foi muito bem”. Recorda Leonardo Selbach.
“Em matéria de descida de rio, o Cristiano é campeão, pra
pegar ele, tinha que remar muito, ele descia voando”. Diz Roger
Eckhard.
A delegação de São Paulo estava com toda a equipe na
27
cidade de Estrela. Um ônibus trouxe os atletas que faziam
parte da seleção brasileira, eram orientados por profissionais
de educação física, fisioterapeutas, nutricionistas e os melhores
treinadores. Mas eles não sabiam que a caçamba que tinha
levado a delegação de Três Coroas estava carregada de jovens
sonhadores. O desempenho do Cristiano surpreendeu muita
gente. A seleção brasileira ficou impressionada com aquele
jovem, sem treinador, com remo de plástico e cercado de
amigos gritando na beira da pista. Nem os melhores barcos
conseguiam alcançar ele.
Pouco tempo depois da competição, aconteceu de forma
natural um convite, que mostrou que os sonhos carregados na
caçamba poderiam ser alcançados. “Eu tive a oportunidade de
fazer parte da seleção brasileira de canoagem de velocidade,
que tinha sua base na USP. Na ocasião eu fiquei um pouco
assustado com a ideia de morar em São Paulo, eu já tinha
viajado algumas vezes pra lá e queria mesmo era ficar em Três
Coroas. Como eu gostava de corredeira também, me criei
descendo rio, remei por um tempo no slalom, mas minha
principal opção foi fazer provas de descidas. A modalidade
não é forte na América do Sul, tem mundiais, mas não é uma
modalidade olímpica. Nosso rio é ótimo pra descida”.  Diz
Cristiano Arozi, que fez parte da seleção brasileira e venceu
diversas provas de descidas no Brasil e participou de mundiais
da categoria em águas da Europa.

28
PRIMEIROS DESTAQUES EM COMPETIÇÕES
NACIONAIS

“Fretamos um ônibus com toda a delegação do Rio Grande


do Sul para o Campeonato Brasileiro de Canoagem de Descida
realizado na cidade de Domingos Martins, no Espírito Santo.
Ninguém de nós era favorito, éramos um grupo de garotos
com média de uns 15 ou 16 anos de idade, e fomos muito bem
lá”. Recorda Leonardo Selbach, que venceu aquela prova. 
“A gente sabia que o nível do Cristiano Arozi era muito alto,
pelos  bons  resultados no estado. Nos treinos, já percebemos
que os competidores de lá não tinham uma linha de água bem
definida. Todo mundo daqui andava bem mais rápido. Entre os
dez melhores da competição, sete foram da delegação gaúcha”.
Recorda Fabio Fritz, que estava entre os que conquistaram
bons resultados.
“Da mesma forma que o  Cristiano  teve uma
participação surpreendente numa primeira prova, em
Domingos Martins, foi o Leonardo que também impressionou.
Foi a primeira prova de descida que participamos em outro
estado, não tínhamos ideia do que iríamos encontrar. Mesmo
os outros  gaúchos  não  tinham  referência de como estava
o nível dos outros estados do Brasil. Entre os 10 melhores, mais
da metade era da delegação gaúcha. Nosso nível estava muito
alto e nem sabíamos disso”. Diz Flávio Belotto.

29
“Nesse período, começamos a vencer provas fora do estado.
O  Leonardo  venceu um Campeonato Brasileiro no Espírito
Santo, também uma prova de velocidade na Lagoa Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro”. Lembra Gustavo Selbach.
“A canoagem foi evoluindo bastante na década de 1990. Se
olharmos os resultados dos campeonatos brasileiros e outras
competições, entre os dez primeiros, tinha sete ou oito do
Rio Grande do  Sul, muitos de Três Coroas. Essa hegemonia
até se estendia para as competições sulamericanas, mas nunca
se traduziu em algo pra competir com os europeus e norte-
americanos”. Considera Leonardo Selbach.
“O Cristiano Arozi ganhou muitas vezes em Visconde
de Mauá, no Rio de Janeiro. Por um tempo, ele foi o cara na
modalidade de descida”. Afirma Flávio Belotto.
“No mesmo final de semana, aconteceram duas competições
importantes da canoagem nacional, no domingo à noite a rede
globo noticiou que o Gustavo Selbach havia vencido a prova de
slalom em Três Coroas. Instantes depois, mostrou minha vitória
no Campeonato Brasileiro de Descida, na cidade de Visconde
de Mauá, no Rio de Janeiro. Foi um mesmo programa, em rede
nacional, mostrando duas conquistas de Três Coroas”. Lembra
Cristiano Arozi. “Na década de 1990, em nove participações,
venci oito vezes a tradicional prova em Visconde de Mauá, no
Rio de Janeiro. A prova era classificatória para o mundial, por
isso, bastante prestigiada pela mídia do centro do país”. 
“Eu sugeri para os patrocinadores do evento, após a terceira
edição, que eles bancassem a ida do vencedor ao mundial, como
forma de premiação. Eles começaram a bancar as viagens e dar
premiação em dinheiro pra estimular os competidores”. Revela
Cristiano Arozi, que normalmente vencia, garantindo assim
sua participação no mundial de descida disputado na Europa.
30
“Depois eu sugeri aos patrocinadores trazer o campeão mundial
por quatro vezes, um alemão. Também o inglês que tinha
sido quatro vezes vice-campeão mundial, além de campeão
europeu. Acabei ganhando a prova dos dois aqui no Brasil”.
Um pouco antes do aguardado Festival de Canoagem
Slalom de Três Coroas, que aconteceria em novembro de 1988,
Gustavo  Selbach, lembra de sua participação em uma prova
de slalom na cidade de Juquitiba, em São Paulo, no inverno
daquele ano. “Foi uma prova muito difícil. Não tínhamos um
equipamento competitivo. Depois compramos barcos melhores
e nos preparamos para o Festival Brasileiro em Três Coroas.
Além do resultado, o mais importante foi o aprendizado”. 
“Eu acho que um dos primeiros momentos marcantes
que a canoagem de Três Coroas passou, foi em uma prova
na cidade de Juquitiba, em São Paulo. Tínhamos recebido
os ensinamentos e depois disso organizaram a prova lá. A
canoagem do sul e do sudeste ainda não tinha participado de
muitas provas juntas. Depois disso, muita gente se empolgou
e começou a treinar bastante o slalom”. Considera Márcio
Tomazoni. “Tinha uma coisa nova surgindo, que tinha tudo
a ver com a cidade. Ainda apareciam umas competições na
mídia nacional. Isso tudo impulsionou a canoagem”.
“Naquele tempo, a gente tinha uma cobertura da mídia
muito maior do que hoje. Qualquer campeonato que a gente
estava, no outro dia aparecia no jornal, na televisão. Então o
pessoal começou a visitar a cidade, que logo se tornou um polo
forte. Isso atraiu mais gente pra fazer a canoagem”. Diz Roger
Eckhard.
“Os paulistas que viajavam para os Estados Unidos
e Europa viram em Três Coroas a possibilidade do slalom se
desenvolver. Também pelo grupo de pessoas se dedicando à
31
modalidade”. Reflete Cristiano Arozi.
Precursores da canoagem no Brasil, José Roberto Pupo e
Massimo Desiati, que participaram e estimularam as primeiras
provas no país, também estiveram em Três Coroas colaborando
nos primeiros ensinamentos e na organização do grupo.
“Esse pessoal que veio de São Paulo nos passou o que tinham
aprendido, mas só por observar, ninguém tinha ensinado eles lá,
eles tinham um pouco de conhecimento técnico por viajar pra
algumas competições nos Estados Unidos. Eles estiveram no
pré-mundial em 1988, no ano seguinte vieram pra Três Coroas
ensinar as técnicas que viram”. Revela Márcio Tomazoni.

32
PRIMEIRAS VIAGENS NO CONTINENTE

No início do slalom, os primeiros países sul-americanos a


praticar o esporte, além do Brasil, foram Chile e Argentina. Por
serem países com regiões montanhosas e rios de corredeiras,
recebiam atletas de diversos países que, em determinados
períodos do ano, não podiam praticar canoagem na Europa.
No ano de 1987, enquanto a modalidade slalom se
desenvolvia em Três Coroas, simultaneamente acontecia
a primeira viagem internacional da Asteca. Após os bons
resultados em provas nacionais, Cristiano Arozi participou do
Campeonato Sulamericano no Chile.
“A gente foi de ônibus, uma água muita gelada que vinha da
cordilheira. Fiquei com febre um dia antes da prova, por causa
do frio. Nessa prova, fiquei em quinto lugar na categoria júnior”.
Recorda Cristiano Arozi.
Mesmo para os atletas da Asteca que não foram para a
primeira prova internacional, a competição serviu de estímulo.
Seria a primeira de muitas. 
“Após o  Campeonato Sulamericano, o Cristiano Arozi
se especializou em descida, depois venceu várias provas no
Brasil”. Recorda Flávio Belotto.
No ano seguinte, o Campeonato Sulamericano de 1988
foi novamente disputado no Chile. “A delegação da Asteca
disputou a competição em duas categorias, no slalom e na
descida”.
33
“Depois dos primeiros ensinamentos, começamos a ter
mais contato com o slalom. Em 1988, fomos em uma turma da
cidade para o Campeonato Sulamerino em Los Andes, no Chile.
Fui campeão sulamericano lá”. Recorda Márcio Tomazoni.
“Em 1988 fizemos uma viagem para o Chile, em um
Campeonato Sulamericano. No ano seguinte o Sulamericano foi
em Três Coroas”. Recorda Gustavo Selbach. “Fomos um lugar
estratégico para esse tipo de competição, por ser próximo dos
outros países onde tinham competidores e também do centro
do país, de onde já vinham atletas aproveitar a estrutura que
permitia treinar aqui. Uma cidade acolhedora, razoavelmente
barata, com proximidade da capital, Porto Alegre, e a facilidade
para os locais de treinamento, foram fatores importantes”. 
“Nos anos 80, os norte-americanos treinavam muito no
Chile. Os chilenos achavam que ninguém remava muito no
Brasil, mas foram surpreendidos. Nosso nível estava muito alto,
além de conquistas individuais, também fomos a delegação
com maior pontuação”. Destaca Leonardo Selbach.
Para essa competição disputada no Chile, após um erro de
cerca de 500 quilômetros no caminho, a delegação chegou com
atraso ao rio que desce pela Cordilheira do Aconcágua. Com
isso, não foi possível treinar na pista que ficava na Província de
San Juan. “Mesmo sem treinar, ganhamos deles lá, no slalom e
na descida”.  Lembra Fabio Fritz Haack. “Nosso equipamento
era muito inferior. Em uma prova perdi o barco. Na segunda
descida que fiz, tomei um caldo e abriu a saia da embarcação,
que era feita aqui, e não prendia muito bem. O barco inundou
e quebrou ao meio. No final da prova, um morador de lá pediu
se eu venderia o barco por 50 dólares. Vendi pra ele, que disse
que iria guardar para mostrar para as pessoas que o rio deles
era violento”. 
34
As viagens pela América também foram importantes
para melhorar a técnica, assim como dicas e vídeos, que eram
passados de uns para os outros, ainda antes de um professor
ensinar a canoagem ao grupo de Três Coroas.
“O primeiro barco de plástico que veio para a região, eu
comprei lá, em 1989. No ano seguinte, alguns competidores
começaram a ir para provas na  Europa  e trazer equipamentos
melhores de lá”. Revela Fabio Fritz.
No ano de 1989, o Campeonato Sulamericano de canoagem
foi a primeira competição internacional disputada no Parque das
Laranjeiras.
A capital nacional da canoagem não foi um termo usado
por acaso. “Quando o a canoagem estava crescendo no Brasil,
participamos de muitas provas em outros países. Os atletas de
outros estados se reuniam aqui, de onde saia o  ônibus  para
as provas  sulamericanas.  Éramos  o centro de referência da
canoagem no Brasil”. Recorda Flávio Belotto.
No ano de 1992, uma grande delegação saiu de Três
Coroas para representar o Brasil na Copa  Conesul, no Chile.
“Soldamos recks pra botar os caiaques em cima do ônibus ,fomos
assim de Três Coroas pro Chile, com umas 40 pessoas, a grande
maioria da cidade mesmo. Na década de 1990, a grande maioria
da delegação brasileira era  trescoroense”. Aponta Cristian
Krummenauer. “A  nível  nacional e  sulamericano, tinha muita
gente de Três Coroas do primeiro ao décimo lugar”.

35
PRIMEIRAS PROVAS NA EUROPA

A canoagem slalom tem origem nas montanhas da Suíça,


onde os esportes de inverno são tradicionais. No verão de
1932, após o derretimento da neve, os praticantes de esqui não
se conformaram em esperar o retorno do inverno para voltar
a descer a montanha em slalom. A neve derretida aumentou o
nível dos rios que correm ligeiro e descem as montanhas de lá.
Com isso, os esportistas decidiram fazer a descida pela água,
com barcos, simulando o slalom do esqui.
“É muito difícil, de uma hora pra outra, querer competir
de igual com eles. O esporte saiu de lá, é competitivo lá”. Avalia
Roger Eckhard.
“Conhecemos pessoas do circuito internacional nos anos
de 1988 e 1989, quando os gringos também vieram treinar
no Brasil. Houve um intercâmbio muito grande, isso elevou
bastante o nível da nossa canoagem”.  Considera Leonardo
Selbach.
“Nas primeiras viagens pro exterior, a gente alugava um
carro e fazia praticamente toda Europa, passava por França,
Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, em todos os países
próximos onde tinha competição, a gente rodava de carro”.
Recorda Roger Eckhard, que continua: “A gente tem que
competir com gente melhor que nós, pra poder chegar ao nível
de competição deles. Na Europa, são muitas competições, tem
campeonato quase todo final de semana, como qualquer outro
36
esporte. Aqui, temos poucas competições, daí o atleta treina
um monte e compete uma vez por ano. Com poucos atletas
competindo. Na competição a adrenalina sobe, é bastante
diferente”.
No Brasil, os atletas tinham acesso a poucos vídeos
dos melhores remadores do mundo. As viagens, eram a
oportunidade de ver um pouco mais. Não era possível gravar
as imagens com a mesma facilidade dos dias atuais, então,
cada segundo era muito bem observado.
“A gente não saia da beira do rio, ficava lá pra ver os
caras treinar, tentando entender porque eles remam tão bem.
No início, era muito aprendizado e troca de informações.
Compramos muitos equipamentos e barcos usados deles. A
gente queria o material deles, era diferente de comprar algo
novo”. Comenta Roger Eckhard, que também fala sobre a
estrutura nas primeiras competições no velho continente. “Na
Europa, a gente não tinha muita estrutura, ficava em barracas,
comia miojo. Mas isso não mudava nossa vontade ou dedicação
para trazer boas experiências de lá. Eles tinham tudo na mão, e
nós começando, aqui”. Finaliza Roger Eckhard.
“Nosso primeiro mundial foi em 1989, na Suíça. Naquele
tempo o mundial da categoria júnior era disputado na mesma
cidade, também das modalidades de descida e slalom. Outros
atletas foram também, pra disputar o slalom. De 1993 em
diante que separaram as competições”. Lembra Cristiano
Arozi. “A gente foi para o mundial e dormia em barracas. A
gente comia miojo. Foi feita uma rifa na cidade pra pagar as
passagens. Era tudo muito na vontade”.
“Naquela época, era muito difícil conquistar bons
resultados no circuito europeu. A grande surpresa foi a medalha
do  Gustavo  na  Noruega  em 1991. Depois, até conseguimos
37
chegar mais vezes entre os primeiros. Minha melhor colocação
em mundial foi chegar em 16º, que era muito difícil”. Avalia
Cristiano Arozi.
“Para a minha primeira viagem pro exterior, fiz uma rifa
de um quadro que minha tia pintou. Por uma dificuldade
financeira da confederação, faltava recurso pra um trecho do
voo de Porto Alegre para São Paulo. A gente passava quarenta
dias na  Europa  dormindo em barraca, cozinhando. Era
outra estrutura, mesmo assim, vieram alguns resultados bem
significativos”. Considera Cristian Krummenauer, que segue: “A
gente viajava com um mapa da Europa em mãos, desbravando
essas pistas internacionais. Em 1999, no lançamento da pista
da Bratislava, na Eslováquia, eu fui o primeiro brasileiro a ir
pra lá. Desembarquei na Áustria e segui leste europeu adentro”. 
“Aquela medalha foi uma conquista coletiva, teve gente
que não foi viajar, mas fez parte daquela preparação. Também
foi um dia que tudo deu certo. Ninguém podia imaginar
que alguém do Brasil iria ganhar uma medalha lá”. Comenta
Gustavo Selbach, ao lembrar da prova em 11 de julho de 1992,
no Mundial Júnior disputado na Noruega.
Ao sair do Brasil para enfrentar essa temporada de 1992
em terras europeias, era muito importante a participação nas
Olimpíadas de 1992, mas a preparação para competir em alto
nível o mundial, também empolgava. “Era meu último ano para
competir um mundial júnior, que eu nunca havia participado.
Aproveitei bem. A olimpíada era uma consequência do
trabalho, mas na Noruega eu sabia que tinha mais chances de
um resultado melhor, talvez ficar entre os 15 melhores, mas não
pensava em pódio. Segui treinando para as olimpíadas, mas
sabendo que o resultado seria mais difícil”. Comenta Gustavo
Selbach, que continua: “Nós estávamos muito bem preparados,
38
ficamos durante dois meses treinando na Europa. Os países de
maior tradição na canoagem slalom estavam muito preparados
para brigar pelos primeiros lugares. Nós estávamos em um
nível de intermediário para melhor”. 
“Durante o verão eles competem bastante, praticamente
todo final de semana. O que eles disputam em um mês nós
disputamos no Brasil durante um ano. Essa competitividade
acaba os deixando muito bem preparados”. Considera Gustavo
Selbach. “Não era possível se manter com a mesma regularidade
nas competições. A cada cinco provas, fazíamos duas muito
bem, as outras, nosso desempenho era intermediário”. 
“Depois de 1991, quando participamos somente do pré-
olímpico, em 1992 participamos do circuito mundial, que foi
uma preparação para as  olimpíadas. Também começamos a
rodar nas etapas de copa do mundo e campeonato mundial”. 
Recorda Leonardo Selbach, que fala da importância da
conquista de seu irmão: “Ele estava treinando muito bem,
ninguém esperava um resultado daquele. Os europeus sempre
estavam bem na nossa frente. Depois voltamos a conseguir
somente resultados intermediários”. 
Após uma primeira temporada na  Europa, no ano de
1989 e também com a evolução dos equipamentos, deixando
de usar barcos de fibra de vidro e passando a utilizar os de fibra
de carbono, o nível técnico evoluiu. “Naquela época, somente
alguns paulistas tinham um equipamento desses no Brasil,
pois haviam passado uma temporada nos Estados Unidos
e trazido de lá. Foi uma novidade também para a cidade e
para os atletas”. Recorda Gustavo Selbach. A participação e a
conquista de uma medalha no Mundial  Júnior  da  Noruega
em 1992, surpreendeu muitos europeus de países com maior
tradição que não conheciam a canoagem brasileira. O ano em
39
que a canoagem voltou a ser um esporte olímpico, também foi
o ano em que um congresso da Federação Internacional de
Canoagem definiu que o mundial de slalom de 1997 seria em
Três Coroas. 
“Foi uma série de fatores que marcaram aquele ano. Um foi
a vontade da Federação Internacional para fazer um mundial
fora daqueles países, veio o Albert Woods, que conheceu o lugar
e viu que tínhamos muita vontade de receber uma competição
internacional aqui”. Considera Gustavo Selbach.
“Não se telefonava muito, pois uma ligação internacional
era muito cara. Em 1989, nos 45 dias que fiquei na  Europa,
não devo ter falado mais de um minuto e meio com minha
família. Mas era importante, pois nosso foco era totalmente
voltado para o que  estávamos  fazendo. Diferente do mundo
virtual, onde muitos vivem hoje, a gente vivia muito aquelas
experiências. Treinava muito, conversava muito. Após o nosso
treino, a gente ficava na beira da pista observando os atletas de
outros países, isso foi um aprendizado importante. Lógico que
a saudade de casa existia, mas estávamos lá por um objetivo, e o
propósito era levado muito a sério”. Comenta Gustavo Selbach.
“A gente voltava com a cabeça cheia de novidades para
os treinos, informações novas do que estava acontecendo lá
fora, sempre pra passar tudo pro pessoal da cidade”. Recorda
Cristiano Arozi. “Tive um momento em 1994, quando através
da Confederação passei duas semanas com a delegação da Itália.
Um dia levantei e o campeão italiano estava remendando meu
barco. Nossa relação era ótima. Eu nunca imaginei uma coisa
dessas. Quando eu competia na  Itália,  a equipe deles fazia
torcida para mim na beira do rio”.

40
OLIMPÍADAS DE1992 NA ESPANHA

Após 20 anos da canoagem slalom fora das olimpíadas, os


jogos de 1992 gerou bastante expectativa nos países de maior
tradição, que se prepararam com bastante entusiasmo para a volta
da modalidade ao maior evento esportivo do planeta.  
“Em 1989, viajamos para a Europa para participar de uma
etapa da Copa do Mundo, não tinha grana pra fazer mais que isso.
Em 1991, fomos somente para o pré-olímpico na Espanha, não
tinha grana pra mais nada”. Lembra Leonardo Selbach.
O Comitê Olímpico havia prometido pelo menos dois barcos
brasileiros na canoagem slalom para as olimpíadas de 1992, que
acabaram sendo três. Todos integrantes da Asteca, Marlon Grings,
Leonardo Selbach e Gustavo Selbach.
“A partir de 1991, os principais atletas do Brasil eram de Três
Coroas,  estávamos  em um  nível  muito alto. A seletiva nacional
que definiu as três vagas para as olimpíadas de 1992 foi decidida
entre os atletas da Asteca”. Conta Flávio Belotto.
“Foi um bom momento para a canoagem, era importante
a participação do Brasil e demais países da América Latina, não
adianta ter só os países europeus, mais Estados Unidos e Canadá.
Nós também fomos importantes para essa representatividade,
para a canoagem slalom se manter um esporte olímpico”.
Avalia Leonardo Selbach.
“Por um período, o desenvolvimento da canoagem local se

41
deu pelas orientações do José Roberto Pupo, que treinou a seleção
de canoagem slalom para os jogos olímpicos de 1992. Ele teve essa
relação com o início da canoagem na cidade, já nos primeiros
festivais. Algumas vezes ele veio até Três Coroas e ministrou
alguns cursos voltados para o slalom”. Recorda Gustavo Selbach.
“O Pupo  foi nosso treinador nas olímpiadas de 1992,
ele cuidou da parte técnica. A gente conseguiu colocações
razoáveis para a nossa realidade, mas só o fato de estar lá, foi
importante pra muita coisa”. Diz Leonardo Selbach, que segue:
“Foi importante para o município ver melhor a canoagem, uma
experiência que trouxe reconhecimento. O pessoal da cidade
começou a apoiar mais”.
As pistas mais longas se tornaram mais curtas, a canoagem
slalom passou a ser um esporte de mais explosão, que além de
técnica passou a exigir bastante força.
“A modificação do esporte após as olimpíadas de 1992
foi gigantesca. A canoagem slalom passou por uma evolução
técnica muito significativa, uma nova realidade para o esporte”.
Avalia Leonardo Selbach. “Até 1989 eram muitas pistas naturais
na canoagem mundial, com exceção da pista das olimpíadas da
Alemanha, em 1972. Em 1993 já existiam muitos rios naturais
modificados, as pistas semi-artificiais”. 
“A Federação Internacional de Canoagem tinha a
necessidade de crescer e ter mais praticantes de slalom no mundo.
A oportunidade pra isso acontecer, era trazer o mundial para a
América do Sul. A quantidade de países praticantes influencia
na permanência da modalidade nas olimpíadas”. Diz Leonardo
Selbach.

42
OLIMPÍADAS DE 1996 NOS
ESTADOS UNIDOS

“A partir de 1992 e 1993 a gente começou a realizar


períodos de treinamento com treinadores europeus, que
vinham para Três Coroas”. Recorda Leonardo Selbach, sobre a
preparação para as olimpíadas de 1996. “Quem queria remar
a gente ensinava, remava todo mundo junto, se dando dicas”. 
Nos jogos olímpicos de 1996, o Brasil teve dois
representantes, ambos da Asteca, os irmãos Selbach
conquistaram as vagas para a canoa, com Leonardo e no
caiaque, com Gustavo.
O equipamento evoluiu para o Mundial de 1993, na Itália.
“A gente já tinha um equipamento no nível dos europeus, às
vezes a gente comprava um barco novo, outras vezes um usado.
Um pessoal usava barco meio ano e trocava, a gente usava por
mais tempo”. Revela Leonardo Selbach. “Toda vez que a gente
comprava um barco novo na  Europa, voltava com os dois e
vendia o usado para alguém de Três Coroas. Assim começamos
a trazer equipamentos”.
No ano de 1995, o mundial que acontecia a cada dois
anos, foi realizado na  Inglaterra. “Em 1994, no  pré-mundial
da  Inglaterra,  a gente  trouxe  bastante equipamento. Haviam
fábricas lá, os preços eram mais baixos do que estávamos
encontrando na época, conseguimos trazer equipamentos pra
43
bastante gente”. Recorda Leonardo Selbach.
Após a segunda olimpíada, os irmãos  Selbach  já eram
referência aos mais novos.  Em 1996 tiveram a missão de
aproximar um pouco os jogos  olímpicos e seus valores das
crianças, através de visitas nas escolas da cidade e da região.
“A gente tinha um reconhecimento, era muito legal. Tinha
uma badalação, mas estávamos muito focados no mundial de
1997. Não deixamos o estado de alerta passar, tanto que depois
das olimpíadas, tivemos a última etapa da copa do mundo
em Três Coroas, fui finalista da prova, um resultado muito
importante. Pela primeira vez um brasileiro chegou numa
final”. Disse Gustavo Selbach. “Quando a gente viajava, as pessoas
perguntavam muito sobre como era a cidade, viajávamos com
imagens, fotos, folders, pastas com documentos que mostravam
a cidade. Tinha pouca coisa na internet”.

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MUNDIAL DE 1997 EM TRÊS COROAS

No ano de 1992, o congresso da Federação Internacional


de Canoagem (FIC),  que aconteceu na  Suíça,  e contou com
a participação de mais de 30 países, decidiu que a canoagem
slalom poderia se  desenvolver em outros lugares do mundo,
além dos países que tradicionalmente recebiam as provas
do circuito das várias modalidades de canoagem. Quando o
assuntou chegou ao slalom, já estava definido o mundial do
ano seguinte (1993) que aconteceria na Itália, e no ano de 1995
na Inglaterra.  
“Tínhamos esperança para trazer uma etapa da Copa
do Mundo para Três Coroas. Um representante da  FIC, o
Albert Woods, veio para a cidade antes do congresso e gostou
muito do que viu”. Comenta Flávio Belotto.
Após verificar o lugar, a estrutura e as condições de
organização, a cidade foi apresentada como uma alternativa
para a expansão da canoagem slalom pelo mundo. Nunca um
mundial da categoria havia sido realizado no hemisfério sul do
planeta.
A definição do mundial de 1997 ficou entre Brasil
e Áustria. Na votação, a grande maioria dos votos foi para a
competição acontecer em Três Coroas. 
“A vinda dele (Albert Woods) ao Brasil, depois o
depoimento dele no congresso da FIC, influenciou bastante na

45
escolha de Três Coroas para sediar o mundial de 1997. Por ser
uma pessoa muito respeitada, de bastante influência, afirmou
que a cidade faria um grande mundial”. Diz Flávio Belotto.
“A grande maioria das pessoas no congresso tinha o
interesse de ampliar a canoagem do eixo  entre Europa  e
Estados Unidos. Botar uma prova do tamanho do mundial
na América do Sul fazia parte de uma estratégia para expandir
o esporte”. Avalia Belotto.
Neste mesmo cenário, a canoagem slalom voltou a ser um
esporte olímpico. O esporte voltou aos jogos de Barcelona em
1992, duas décadas após estar nas Olimpíadas da Alemanha,
em 1972. Juntamente com isso, havia a intenção da FIC em
expandir as fronteiras da canoagem slalom, que tinha tradição
principalmente nos países da Europa.
O circuito internacional, que havia começado a
receber atletas brasileiros recentemente, teria então um
Mundial no Brasil. 
“Com o Mundial de 1997 todo mundo ficou muito
motivado. Na Europa, essas competições são muito tradicionais,
com um grande público acompanhando”. Considera Cristiano
Arozi, que valoriza a canoagem em solo brasileiro. “Nosso país
é rico em rios. No inverno, eles não têm onde treinar. É muito
frio, muitos rios ficam congelados”.
“Em 1996 e 1997, foi incrível! Não tinha espaço pra mais
gente”.  Comenta Cristiano Arozi sobre o Pré-mundial e o
Mundial.
“Para conseguir o Mundial não foi fácil, eu já trabalhava
com filmagens e fiz o vídeo de apresentação da cidade, usado
no congresso da FIC”. Conta Fabio Fritz Haack, que também
trabalhou diretamente no evento. “Fizemos a transmissão ao
vivo para a internet, no Mundial de 1997. Uma equipe veio
46
fazer a transmissão de televisão para o mundo, mas tivemos três
câmeras e fizemos a transmissão via internet discada”. Revela:
“Cada câmera tinha cabos de 100 metros. Em uma salinha na
beira da pista, tínhamos televisores para selecionar as imagens
e um computador para fazer as animações”. Tudo isso foi feito
com referência nas competições em que havia participado no
exterior, sendo uma transmissão pioneira no Brasil. 
Nos anos seguintes, o Parque das Laranjeiras se consolidou
como o principal local para a prática de canoagem slalom
na America Latina. 
“O legado foi muito importante, a estrutura montada para
o Mundial ficou ali. O  prédio que  foi um escritório central
durante o evento, depois se tornou a pousada que está até hoje
no Parque das Laranjeiras”. Diz Flávio Belotto.
“A estruturação do Parque das Laranjeiras foi bastante
importante, desde a construção da pousada, que foi através
de um projeto do Governo Federal, quando já se tinha a
confirmação de receber o mundial de 1997. O legado acabou
ficando e sendo utilizado até hoje. Grande parte da estrutura
do Parque se deve ao mundial. Claro que por ser uma estrutura
com mais de 20 anos de sua construção, necessita de reformas
e modernizações. Além de toda uma manutenção do espaço,
mas é um legado que dura até hoje”. Avalia Gustavo Selbach.
“Três Coroas aproveitou o momento que a FIC
queria expandir. Nós mostramos que tínhamos trabalho.
Nosso nível de organização e nossa estrutura era de alto nível.
As coisas aconteceram no momento certo. Em 1972, o esporte
não teve continuidade nas olimpíadas, pois não reunia vinte
países”. Comenta Leonardo Selbach, que destaca a participação
da população da cidade, para também reconhecer ainda
mais o esporte. “Antes as pessoas nos apoiavam, mas não
47
tinham ideia do que era. Sabiam que os guris estavam numa
competição, que estávamos na Europa, mas em 1997 a cidade
toda estava no mundial”.  
“A canoagem passou a ser um orgulho para as pessoas da
cidade. Qual a cidade que em tão pouco tempo manda atletas
pra olimpíadas e recebe um campeonato mundial? Isso passou
a fazer parte da identidade da cidade”.  Considera Leonardo
Selbach. “O pessoal sempre apoiou em provas nas Laranjeiras,
acontece até hoje. Mas imagina isso num campeonato mundial,
com a beira do rio lotada, todo mundo incentivando, gritando,
dando força. É muito gratificante, a gente se sentiu valorizado.
O pessoal começou a ter um orgulho, é bom pra autoestima
da cidade. Depois do mundial em Três Coroas, as pessoas
também começaram a enxergar as dificuldades e começaram
apoiar ainda mais a canoagem”. 
“Quando se falou que iria acontecer o mundial de 1997 em
Três Coroas, todo mundo se empolgou e ficou muito focado na
canoagem”. Lembra Márcio Tomazoni. “Muita gente começou
a remar na cidade, hoje em dia é bem difícil reunir tanta gente.
Todo mundo participava junto, era a família toda envolvida
nos eventos”.
“Um mundial na cidade onde treinávamos foi importante,
todo dia após o trabalho, íamos até o Parque das Laranjeiras. O
mundial de 1997 foi um estímulo, os melhores do mundo iriam
estar aqui”. Considera Cássio Petry.
Nos anos que antecederam o mundial, a maior parte da
equipe nacional de canoagem slalom era de Três Coroas. Como
forma de se preparar para o Mundial de 1997, os atletas também
precisavam participar de competições internacionais, viajando
para as provas no  circuito  europeu, nas principais pistas de
canoagem slalom do mundo.
48
“O primeiro mundial realizado no Brasil, em Três Coroas,
foi muito bom. Tanto que 10 anos depois o evento aconteceu
em Foz do Iguaçu, no Paraná, e depois no Rio de Janeiro em
2018”. Considera Cristian Krummenauer. “Os atletas do Brasil
que iam viajar para competições internacionais nos anos 1990,
eram predominantemente de Três Coroas, os melhores do
Brasil estavam aqui, a melhor estrutura era aqui, ainda temos
um dos melhores centros de canoagem slalom do Brasil, com a
estrutura da Asteca e do Parque”. 
“O calendário internacional da canoagem gira em torno
de cinco etapas da copa do mundo, além do mundial. Naquela
época, a gente participava de uma média de três etapas.
Conseguíamos algum patrocínio, a prefeitura também ajudou
bastante”.  Conta Cássio Petry. “Em 1996, participei do meu
primeiro campeonato mundial júnior, na República Tcheca,
que também serviu de preparação para o meu primeiro
mundial sênior, que foi no ano seguinte em Três Coroas.
Mesmo depois de mais de 20 anos, às vezes encontramos no
circuito da Europa alguém que participou do mundial de 1997.
Sempre falam muito bem daquela edição, também perguntam
sobre Três Coroas”. 
“Um ano antes do mundial, aconteceu  um evento de
preparação, onde já tivemos representantes de vários países
europeus”. Lembra Cássio. Todo ano acontecia alguma prova
importante, Três Coroas sempre foi um grande palco da
canoagem  brasileira. Além de Copa Brasil e Campeonatos
Brasileiros, também aconteceram provas Sul-americanas e Pan-
americanas no Parque das Laranjeiras.
“A gente superou todas as expectativas de todas as
nacionalidades. Estive presente nas principais provas desde
1993, essas viagens ajudaram muito na preparação. Muitos
49
envolvidos colaboraram em todos os aspectos, desde a
cerimônia de abertura, até as balizas da pista, na arbitragem, a
tecnologia que na época foi usada para a medição de provas e os
resultados automatizados, que era uma novidade lá fora. Muitas
vezes fomos questionados sobre como um país de terceiro
mundo faria o mundial. O que foi feito em Três Coroas, mesmo
para a época, nunca tinha sido feito na canoagem slalom.
Não se pensou somente na parte técnica do evento, que foi
impecável. O evento foi grandioso para o circuito internacional
da canoagem. As entidades do município estavam bastante
envolvidas, ou no credenciamento, ou na alimentação, ou no
encaminhamento de qualquer necessidade. A comunidade
toda abraçou o evento”. Recorda Cristian Krummenauer. “Eu
lembro que quando entramos no ginásio municipal para a
abertura, foi um grande espetáculo o lançamento do mundial
de Três Coroas. Ali os atletas do mundo todo perceberam que
estavam em um evento diferente. Estavam sendo acolhidos por
uma comunidade que realmente estava abraçando o evento.
Eu desconheço algum outro mundial de canoagem, mesmo
posterior, que teve toda essa questão emocional envolvida”.
“Antes de 1997, a gente era muito querido por todos do
circuito internacional, mas apesar desse carinho, era muito
difícil a gente ter um grande respaldo. Depois de 1997 tudo
mudou, todos viam em nosso grupo um pouco daquela
experiência que foi compartilhada com todos remadores de alto
rendimento do mundo. Foi realmente um evento surpreendente.
Então existia uma preocupação de todas as nacionalidades, em
nos receber bem, em todas as competições”. Considera Cristian
Krummenauer.
“Depois do mundial de 1997, nas nossas viagens as
pessoas perguntavam sobre como estava a cidade. Todo
50
mundo se sentiu muito bem acolhido aqui. O conceito de
canoagem no circuito mundial era ir lá, fazer a prova e ir
embora. Ter show, festejar, foi uma experiência nova pra eles
também.” Avalia Leonardo Selbach.
Aquela primeira ida para conhecer a canoagem slalom, em
Minas Gerais, deu resultados, pois muito daquilo foi aplicado
em Três Coroas. Mas agora, o intercâmbio era internacional.
“Antes do mundial de 1997, tivemos um período
com muita movimentação de atletas em Três Coroas.
Tivemos a realização do  pré-mundial em 1996, também um
campeonato  Pan-Americano  em 1995. Procuramos trazer
pessoas para nos orientar dentro e fora da água. De 1992 até
1997, tivemos muitos intercâmbios e tudo isso nos fortaleceu
bastante. Algumas equipes vieram para treinar. A equipe
da Eslovênia ficou algumas semanas aqui, em 1997. Depois a
foi a vez da seleção da Espanha, isso tudo foi bem importante
para nós. Três Coroas se estruturou, também aprendeu muito
em questão de treinamentos e organização”. Considera Gustavo
Selbach. “A gente observava tudo que acontecia lá fora. Como
funcionava a questão das informações dentro de um evento, as
reuniões de chefes de equipe, a programação, o que deveríamos
manter e o que poderíamos inserir. Tentamos nos alinhar ao
padrão deles em todos os aspectos, desde a estrutura física até
a um roteiro que estivesse alinhado aos eventos internacionais”. 
“O mundial de 1997, foi uma quebra de paradigma para a
canoagem mundial. Muitos consideravam nossa pista natural
abaixo do nível das pistas artificiais da Europa. Por outro lado,
muitos europeus achavam importante trazer uma competição
deste nível para o Brasil, saindo do eixo entre América do
Norte e Europa”. Recorda Gustavo Selbach. “O mundial de
1997 foi uma aprendizagem muito grande, nos doamos para
51
realização do evento, sacrificando qualquer possibilidade
de resultado pelo sucesso da competição. Três Coroas se
tornou uma referência, por aqui passou atletas campeões
olímpicos, todos muito bem tratados e com muitas boas
lembranças para levar” .
“Um dos momentos que mais marcou os atletas europeus
foi a abertura do mundial de 1997, que aconteceu no Ginásio
Municipal lotado, com cinco mil pessoas. Tinha gente que já
havia participado de muitos eventos do tipo, ou mesmo de
olimpíadas, todos gostaram bastante da experiência, que foi
emocionante. As pessoas até hoje lembram de Três Coroas com
muito carinho”. Considera Gustavo Selbach.
“A  cidade começou a entrar no ritmo do mundial um
ano antes, no  pré-mundial de 1996. Os países com mais
recursos ficaram hospedados em  hotéis  de cidades vizinhas,
nas cidades da serra. Os países que tinham menos recursos
ficaram hospedados em casas de famílias, proporcionando
uma experiência também pra comunidade”. Recorda Leonardo
Selbach. “A solenidade de abertura no ginásio foi sensacional,
o público participando junto”.
Um ano depois da definição do mundial, as melhorias
começaram a ser feitas no Parque das Laranjeiras.  
“Em 1995, o mundial de  Nottingham, na Inglaterra, foi
em um canal artificial. Deu pra ver que, para Três Coroas, seria
preciso fazer alguns ajustes. Tivemos uma enchente um tempo
antes do mundial, precisamos reconstruir a pista, ajustar o que
ficou alterado”. Diz Gustavo Selbach.
“A gente teve bastante dificuldade, principalmente na parte
técnica de montagem da pista. Isso porque tivemos o cuidado
para fazer melhorias na pista sem agredir a natureza, sem usar
máquinas pesadas no rio, o que foi um pouco demorado e
52
difícil”. Recorda Flávio Belotto.
Com isso, a  essência  do Rio  Paranhana  foi mantida,
preservando a virtude de sua relação com a natureza. 
“No início do Parque das Laranjeiras, o trecho com a curva
do S era ideal para uma boa pista, mas no trecho final precisamos
fazer alterações para melhorar as corredeiras”. Destaca Flávio.
“Além da pista, a gente tinha outra questão que poderia
ser complicada, que seria preparar uma equipe de trabalho
para receber mais de 30 países”.  Considera Flávio. “O  Pan-
Americano  de 1995 foi o primeiro evento teste para servir
de aprendizado. Também  para capacitar as pessoas para
arbitragem, credenciamento, refeições e tudo que deveria ser
aprendido na prática”. 
Em 1996, a última etapa da copa do mundo de canoagem
aconteceu em Três Coroas e contou com a participação de 16
países. Era o último evento teste. 
Nos quatro dias ocorreu escalas de arbitragem
podendo revezar quem atuava nas provas. “Chegamos ao
mundial muito  bem  organizados. Após a etapa da copa
do mundo, ficamos muito bem preparados, com mais de
100 árbitros brasileiros”.  Recorda Flávio Belotto. “Por ter
sido o primeiro mundial no país, buscamos muitas pessoas
envolvidas com a canoagem de outros lugares do Brasil,
essa integração foi muito bacana”. 
“Em 1997, quando as delegações internacionais vieram
para o mundial de canoagem em Três Coroas, o governo
paranaense realizou os jogos mundiais da natureza. Foi um
grande evento em Foz do Iguaçu,  considerado por muitos a
olimpíada do esporte de natureza, que teve somente uma
edição. O campeonato de Três Coroas terminou no domingo,
após isso, tive o privilégio de embarcar na mesma noite em
53
um voo da Varig, junto com toda delegação mundial, de Porto
Alegre para Foz do Iguaçu. Na ocasião, fizemos o lançamento
da pedra fundamental da construção da primeira pista artificial
da América do Sul, que recebeu o mundial de 2007, 10 anos
depois”. Recorda Cristian Krummenauer.
Após participar do mundial de 1997, vieram os
jogos da natureza, que foram realizados nas Cataratas do
Iguaçu, onde Cássio  Petry  fez uma aquisição de novos
equipamentos. “Comprei um barco um pouco melhor, de um
canadense. A gente trocava o equipamento uma vez por ano,
as vezes duas. Sempre foi difícil importar, então a gente já
fazia contato com os gringos, pra quando viessem ao Brasil,
vender o equipamento no final do período passado aqui.
Nas competições por aqui, nos anos de 1996 e 1997, muitos
materiais de qualidade ficaram no Brasil”. Recorda. “Já existia
um projeto para fazer essa pista artificial em Foz, usando o
canal da piracema que seria construído junto à barragem”.
Realmente teve muito equipamento de qualidade sendo
trazido para o Brasil e ficando por aqui, colaborando com o
desenvolvimento da canoagem. 
“Era o jeito que tínhamos pra adquirir um equipamento
melhor. Alguns dos gringos que vinham para o Brasil, mais gente
boa, vendiam o barco mesmo no início da temporada”. Revela
Édrei Ascencio, que em 1996, participou pela primeira vez de
uma prova em Três Coroas, o Pré-mundial, e voltou para a
cidade Piracicaba, em São Paulo, com a bagagem carregada de
experiências. Além de um novo barco”.
As associações no Brasil se organizaram bastante após
o mundial de 1997.  “A gente veio para Três Coroas adquirir
experiência mesmo. Nossa associação era bem pequena,
estávamos bem no início em Piracicaba”. Diz Édrei Ascencio.
54
“Os gringos até hoje falam de Três Coroas como sendo a
realizadora de um mundial fora do eixo, em 1997. Para nós,
o legado pós evento foi incrível. Focamos em qualificar a
Associação de Canoagem de Piracicaba, que já existia na
informalidade. Colocamos ela no papel, corremos atrás de
patrocínios e nos inserimos em projetos sociais da prefeitura”. 
Eventualmente, comentarista de canoagem pelo
canal Sportv, Édrei também fez parte de um grupo de treinadores
de um programa que trabalhava com o desenvolvimento da
modalidade para países  sulamericanos.    “O evento de 1997
foi de fundamental importância para o desenvolvimento do
esporte no Brasil e na América Latina”.
“Os espaços que no Mundial de 1997 era sala de imprensa,
sala antidoping, check in de atletas e tudo mais, virou a pousada,
restaurante, e toda a estrutura que temos hoje. É um modelo
que deu certo”. Considera Édrei Ascencio.
Após competir na modalidade C2 no Mundial de
1997, a competitividade ficou um pouco de lado para
impulsionar o esporte no estado de São Paulo.  “Uma das
características da Associação de Canoagem de Piracicaba,
a  Ascapi, também da  trescoroense  Asteca, que carregam
uma forma de pensamento parecida, é, além de preparar
atletas para o alto rendimento, também desenvolver a
cidadania”. Finaliza Édrei Ascencio.

55
O TURISMO DE AVENTURA

Entrar na água para se divertir deixou de ser um privilégio


dos atletas e passou a ser algo mais popular no Rio Paranhana,
assim como era com aqueles jovens que brincavam na água
antes mesmo da canoagem chegar. O rio que corre ligeiro
passou a ser também um importante destino para o turismo de
aventura e a prática do rafting. 
“No passado, era só os remadores que tinham esse
privilégio, agora é mais comum essa busca das pessoas por
momentos de conexão com a natureza. Quando começamos,
não imaginávamos que Três Coroas se tornaria um dos principais
polos de turismo de aventura”. Considera Gustavo Selbach. “Essa
relação do rafting com a canoagem em Três Coroas foi positiva,
pois permite que os atletas possam se dedicar aos treinos e
trabalhar nos finais de semana e durante a temporada. Alguns
entraram tanto na vida de instrutor que deixaram de competir.
Outros não se dedicaram ao rafting e ficaram na canoagem
mesmo. Mas essa relação foi bem positiva para os remadores não
irem parar numa fábrica de calçados, mas a partir da canoagem
contribuir no desenvolvimento do turismo de aventura”.
“Em Três Coroas, o rafting abriu muito as portas para
os atletas conciliar os treinamentos durante a semana com as
descidas de rafting, quase sempre nos finais de semana. Com
isso, muitos puderam comprar seus equipamentos, também ter
seu dinheiro, sem precisar ficar numa fábrica de calçados, mas
56
sim, se dedicando aos treinos”. Também avalia, Cássio Petry.
“A canoagem e o rafting sempre estiveram muito próximos
no Brasil. Muitas pessoas que andam no meio do turismo de
aventura tiveram um pé na canoagem”. Avalia Édrei Ascencio.
“Não é difícil encontrar algum guia de rafting que é atleta de
canoagem”. 
Ex-atleta e atualmente empresário do turismo de
aventura, Édrei Ascencio faz questão de valorizar suas origens
na canoagem. “Hoje, os melhores atletas conseguem se manter
treinando, tempos atrás, isso não era possível. Embora pareça
que não é pesado, se manter em alto rendimento exige muito
esforço. É difícil conciliar uma rotina de atleta, com treinos e
algum trabalho. Até hoje, temos a ideia de ter jovens da Asteca
inseridos no contexto do rafting”. 
“A gente teve oportunidade de participar do início do
rafting, fui um dos primeiros guias de rafting da cidade”.
revela  Fabio Fritz Haack. “Muita gurizada fazia o trabalho
de guia para ter uma renda extra e com isso comprar os
equipamentos”. 
“O Parque das Laranjeiras acaba gerando uma alternativa
de atividade extra com o rafting. Muitos que iniciam remando
na escola de canoagem da Asteca, se tornam instrutores de
rafting nas empresas de turismo da cidade”.  Revela Cristian
Krummenauer. “É uma forma de gerar uma renda pra trocar
equipamentos. O rafting acontece principalmente nos finais
de semana, então é possível se organizar pra treinar durante
a semana”.
A canoagem formou muitos guias de rafting, da mesma
forma que o rafting formou atletas da canoagem.
“Comecei a remar depois do trabalho no atelier de calçados.
Depois que parei por uns meses, voltei e comecei treinar firme.
57
O rafting que me manteve, quando inicie fazendo a filmagem”.
Recorda Guilherme Mapelli.
“O rafting começou com a canoagem, até porque são
praticados nos mesmos lugares. Depois de umas viagens pra
competições de canoagem, conhecemos melhor o rafting”.
Conta Márcio Tomazoni.
“O primeiro bote usado na cidade, não era adequado e
não resistiu a primeira descida. Depois vieram os primeiros
barcos importados e as empresas começaram a se organizar”.
Revela Fabio Fritz Haack.
“Todo mundo via a gente descendo o rio, mas muita gente
jamais iria conseguir descer dentro de um caiaque ou canoa.
O rafting proporcionou isso. Mesmo quem não sabe nadar
pode conhecer o rio e viver uma aventura dentro de um bote”.
Analisa Roger Eckhard.
“Em todos os rios do mundo onde tem canoagem também
tem rafting, um liga ao outro”. Comenta Cristiano Arozi. “Para
um canoísta que conhece o rio, sabe a linha da água, se torna
muito mais fácil de aprender a guiar um bote”. 
“O Parque das Laranjeiras foi fundamental pro rafting na
cidade. Nosso rio é um dos melhores do Brasil e da América
do Sul. No  Paranhana.  qualquer pessoa pode praticar”.  Diz
Cristiano Arozi, que também afirma ser possível realizar uma
descida mais leve ou mais ousada. “Se é um rio muito fraco,
não tem graça pra quem busca mais aventura, se é um rio
muito forte já limita a participação de alguns públicos”. 
“O primeiro bote que veio pra Três Coroas foi através de
um canoísta de São Paulo. Através da Asteca, surgiu a ideia
de operar rafting na cidade, mas não teve continuidade.
Depois, empresas começaram a operar rafting no Parque das
Laranjeiras”. Recorda Cristiano Arozi.
58
“Anos atrás, muitos atletas da canoagem do circuito
internacional também eram instrutores de rafting. Diferente de
hoje, que o atleta consegue certo apoio, quando consegue uma
bolsa pra se dedicar aos treinos, na nossa época não tinha isso”. 
Recorda Leonardo Selbach. “Se não tivesse canoagem. talvez
não tivesse o rafting na cidade, nosso potencial do turismo é
fruto de um trabalho que toda a comunidade se envolveu”.
“Hoje, estamos conseguindo resgatar essa vida ao ar livre
com o turismo em Três Coroas”.  Reflete Leonardo Selbach.
“Eu até vou pra cidade grande, mas prefiro Três Coroas. As
pessoas estão valorizando esse contato com a natureza, somos
um destino importante pra muita gente escapar por um dia da
região metropolitana e recarregar as energias”. 
Rafting e canoagem estão muito ligados. na opinião de
Cristian Krummenauer. “Uma coisa está completamente ligada
na outra. Com o desenvolvimento de equipamentos em busca
de experiências do turismo de aventura, o esporte evoluiu no
mundo todo. São atividades distintas, mas em muitas delas.
são usados os mesmos equipamentos. A base do turismo
de aventura foi construída por esportistas, que são técnicos
naquela atividade. Em Três Coroas não foi diferente”. Revela.
No ano de 1993, um carioca fez contato com um grupo
de Três Coroas que estava competindo em Juquitiba, São Paulo,
falando que estaria vindo para a cidade com intuito de montar uma
operadora turística. A iniciativa para colocar uma embarcação
na água foi da Asteca, alguns anos antes. A construção da
alternativa de descer o rio como uma atividade turística foi
construída por nós, trescoroenses”, Afirma Cristian. “Quem já
está na água quer permanecer na água. Eu sempre vislumbrei a
oportunidade de continuar esse vínculo com o rio, mesmo após
encerrar a carreira de atleta. As viagens que a canoagem me
59
proporcionou, principalmente aos Estados Unidos, se mostrou
como uma grande oportunidade”.  Considera. “Quando eu
conheci o rafting nos Estados Unidos, usado como atividade
esportiva e também suporte na segurança da competição,
achei tudo incrível. Desde a embarcação, o conceito de várias
pessoas remando junto, o coletivismo. Em 1993. eu fui um dos
primeiros a topar essa ideia de montar um rafting para Três
Coroas”. 
“Muitos atletas de canoagem da cidade passaram pelo
rafting, além da afinidade com a atividade, o suporte econômico
de ter uma renda e continuar comprando equipamentos e se
dedicando aos treinos e competições foi importante”. Recorda
Cristian Krummenauer.
“Acho que a cidade está se dando conta do quanto esse rio
é importante, com um potencial turístico, como uma forma de
gerar novas oportunidades. Muitas pessoas ligadas a canoagem
fazem parte do Conselho de Turismo”.  Considera Cristian
Krummenauer.

60
OLIMPÍADAS DE 2000 NA AUSTRÁLIA

Pela terceira edição seguida, a canoagem slalom brasileira


foi representada nos jogos olímpicos por atletas da Asteca.
Desta vez, somente um barco brasileiro esteve na competição.
“Eu não pensava em jogos olímpicos, aconteceu”. Recorda
Cássio Petry.
Para as Olimpíadas de 2000, pela primeira vez as vagas
foram disputadas internacionalmente. “Sinceramente, eu não
pensava muito nisso. Eu queria remar e vencer, sempre. Fomos
para o Mundial da Espanha em 1999, que por ser um ano antes,
decidia as vagas olímpicas de 2000. Antes disso, as vagas eram
definidas para os países, então a disputa era nacional para ver
quem seriam os representantes”. Revela.
“Eu sempre gostei do esporte, fiz dele uma forma de vida
para mim. Aconteceu por muita dedicação e treino. Nada
acontece de graça”. Complementa.
“Em 1996, eu ainda era muito jovem, nem disputei as
vagas internas para os jogos olímpicos. Naquele tempo, ainda
não trabalhávamos ciclos olímpicos no Brasil. A gente seguia
vivendo cada ano. Vai ter mundial? vamos lá! Até porque eu
era bastante jovem”. Lembra Cássio Petry. “Hoje é diferente, a
preparação é para chegar em alto nível na disputa dos jogos
olímpicos. Eu acho um pouco errado isso, não dá pra pensar só
em olimpíada. Entendo que é importante, mas toda competição
deveria ser considerada importante”. 
61
“Quando viajamos ao Mundial de 1999,  estávamos  sem
treinador. Após conseguir a vaga para 2000, chegou o treinador
francês,  Alain  Jordan, para auxiliar na preparação para os
jogos olímpicos. Ele ficou um tempo em Três Coroas, fizemos
toda a preparação na Asteca”.  Conta Cássio. “A gente estava
longe de um nível alto, o treinador chegou seis meses antes dos
jogos. A grande conquista foi ter participado. Estávamos muito
abaixo dos demais países, com mais tradição e competitividade
na canoagem slalom”. 
Foi um tempo importante. segundo o ex-atleta, que se
tornou técnico da seleção brasileira de canoagem. “Naquela
época a gente só competia, hoje brigamos por medalhas.
Aquilo precisou acontecer”. 
De volta à cidade, após os jogos, a participação se tornaria
estímulo. “Sempre repercutiu positivamente, poucas cidades
de nossa região tiveram atletas olímpicos”. 
Algumas coisas que ficaram dos jogos olímpicos vale
mais do que qualquer medalha. “Amadureci bastante, não só
enquanto atleta, mas na vida. Os jogos olímpicos me abriram
muitas portas, tudo mudou muito. Posso afirmar que eu era uma
pessoa antes das olimpíadas, outro depois”. Reflete Cássio Petry.

62
MODERNIZAÇÃO DA CANOAGEM BRASILEIRA

Com a criação dos centros de treinamento para a


canoagem, atletas de outros lugares do país surgiram a partir
desses locais, mas sem diminuir a importância de Três Coroas
para a canoagem nacional. A cidade se manteve recebendo
competições importantes e sendo tratada com certo prestígio
pelos atletas de todo o país.
As novas pistas surgiram no Brasil elevando ainda mais
o nível da canoagem nacional. O país voltou a receber edições
de mundiais nessas modernas pistas, em Foz do Iguaçu no ano
de 2007, depois no Rio de Janeiro em 2018. 
“Em Foz do  Iguaçu,  a pista artificial é muito boa, mas
ela está dentro de uma reserva com operação de geração de
energia. Muitas vezes, a pista não é usada por falta de água, para
não diminuir a geração, outras, por questões ambientais
em  função  do canal ser usado para a piracema. No Rio de
Janeiro, não existe atletas de tradição na canoagem slalom”.
Avalia Flávio Belotto.
A pista que foi  construída  para os Jogos  Olímpicos  de
2016, no Rio de Janeiro, está em desuso. Esse tipo de projeto
vem sendo muito questionado, onde a  água precisa ser
bombeada para a pista funcionar, consumindo uma grande
quantidade de  combustível  para simular o que a natureza
oferece naturalmente. Além disso, o custo é muito alto.

63
“É uma ideia que não tem relação com o  início  da
canoagem, que é descer o rio em uma corredeira. Isso, nós
temos que valorizar em Três Coroas, o contato com a natureza.
Recebemos muitos elogios desde a época do Mundial de 1997,
por remanejar o rio sem destruir a natureza”. Considera Flávio
Belotto.
Mesmo nas pistas do circuito internacional, nem sempre
têm essas características de manter a vegetação e funcionar em
harmonia com a natureza. 
“Nossos rios e nosso clima permite uma pista única,
uma virtude do Brasil. Na  Europa,  muitas pistas ficam sem
condições de uso no inverno, além do frio extremo, as
corredeiras diminuem com a falta de chuva”. Comenta Flávio
Belotto. “Aqui, temos uma pista sempre em atividade. Assim
como a Associação sempre está com condições de garantir
uma estrutura. Inclusive, recebendo atletas de outros países
para treinar”. 
“Fui prestigiar o Mundial de 2007 (Foz do Iguaçu), mesmo
não remando mais. Foi um divisor de águas. A tecnologia e
os investimentos já tinham evoluído bastante em relação a
1997”. Revela Fabio Fritz Haack.
Os investimentos no Paraná começaram a ser projetados
após o Mundial de 1997. “A gente duvidava que tivesse uma
pista artificial em Foz do Iguaçu”. Diz Édrei Ascencio.
“Existia esse projeto e muitos duvidavam que essa
pista junto da usina, no canal da piracema, fosse realmente
concluída”.  Comenta Gustavo Selbach. “Uma  década  após o
mundial de 1997, a canoagem brasileira vivia outro momento.
A competição foi na primeira pista artificial construída no
Brasil”.
“Era outro momento, a estrutura em uma cidade grande
64
também ajudou no esporte. Mesmo que não tenha acontecido
resultados importantes, uma cidade grande deu uma
visibilidade importante para a canoagem brasileira. Se o esporte
não fosse levado a sério não teria entrado em Itaipu. Aos olhos
do mundo, foi uma evolução do esporte no Brasil”. Considera
Gustavo Selbach.
“1996 e 1997 foram anos de grande reconhecimento da
canoagem slalom no Brasil, com isso, novos centros de canoagem
começaram a se organizar em diversos lugares do país. Para o
alto rendimento, isso foi muito bom, inclusive com a criação
de um centro de treinamento para atletas da seleção. Com isso,
as associações perderam um pouco do protagonismo”. Reflete
Flávio Belotto. “A pista de Foz do Iguaçu deu um novo patamar
para a canoagem brasileira.”
Em 2001, foi construído o primeiro Centro de Treinamento
de Canoagem Slalom do Brasil, em Tibagi no Paraná.
“Em 2001, com a inauguração do Centro de Treinamento
em Tibagi, eu optei por não treinar lá, priorizei permanecer em
Três Coroas”. Diz Gustavo Selbach.
“Fiquei de 2002 até 2006 treinando em Tibagi. Tinha uma
estrutura, salário, treinador, alimentação”. Fala Cássio Petry.
“Depois de 2006, com a inauguração da primeira pista artificial
do Brasil em Foz do Iguaçu/PR, o CT foi transferido para lá”. 
“Três Coroas recebeu o Campeonato Sul-Americano em
2001. Eu era bastante reconhecido pelos resultados  e
pela participação nas olimpíadas”. Recorda Cássio Petry, sobre
aquele ano que entrou para a história pelo cancelamento do
Mundial de Canoagem que seria realizado nos Estados Unidos.
“Treinei o ano todo e a principal prova do ano não
aconteceu, que seria o mundial nos Estados Unidos. No dia
que iria embarcar, com as malas prontas, liguei o rádio do
65
carro e ouvi algumas coisas. Fui pra televisão e vi que os voos
estavam cancelados”. Revela Gustavo Selbach. “De primeiro
momento, tentaram adiar o mundial, mas depois de alguns
dias a principal prova do ano foi realmente cancelada”. 
Algumas equipes já estavam lá, mas outros países não
conseguiram ir devido aos cancelamentos de voos após os
atentados de 11 de setembro daquele ano. Cássio Petry também
estaria na prova. “Eu vi na televisão que estavam cancelados os
voos para os Estados Unidos. Eu estava trabalhando na Canoe e
teria o voo no dia seguinte. Uns quatro dias após o atentado,
o mundial foi cancelado, pois já começariam os treinos
oficiais”. Revela.
No ano de 2002, o Mundial foi disputado na França. “O
rio era tão forte, que antes de um competidor largar, ainda
no aquecimento, acima da pista, ele virou e passou com
barco virado pela largada”.  Recorda Cássio Petry. “Um rio
natural, mas modificado. Poucos rios naturais são usados no
circuito atualmente”. Completa.
Em 2003,  na Alemanha,  continuava a busca pelos bons
resultados, mesmo com pouca estrutura. “Foi um bom resultado,
no começo da prova eu estava entre os 12 melhores do mundo.
Acabei ficando na semifinal daquela competição”. Diz Cássio
Petry. “Muitas vezes, eu chegava dois dias antes de iniciar uma
competição internacional. Um atleta de alto rendimento não
consegue bons resultados dessa forma”. 
“O esporte mudou muito, as provas estão muito mais
rápidas, o nível aumentou. Apesar disso, as planilhas de
treino, os métodos de treinamento que eram usados, ainda
são importantes. Não precisamos muito mais do que temos
hoje, o mais importante é manter o foco que os resultados
acontecem”. Comenta Cássio Petry.
66
O mundial de 2003 foi em uma pista bastante técnica, a
prova foi seletiva olímpica. “Após 45 dias na Europa, chegamos
na competição muito bem. Ficamos muito perto da vaga. Foi
uma competição de nível  técnico  muito equilibrado. No ano
seguinte, aconteceu outra seletiva, em Atenas na Grécia, em um
canal de água salgada, uma pista forte e muito difícil”. Considera
Gustavo Selbach.
Em 2003, aconteceu um campeonato Pan-Americano nos
Estados Unidos.
“Não tinha expectativa de disputar, mas 10 dias antes
da competição a confederação me ligou e pediu se queria
participar. Tinha voltado a pouco tempo do mundial e
um período de treinos na Europa. Fomos e conseguimos bons
resultados”. Comenta Gustavo Selbach.
Cássio Petry conquistou a prata na categoria C1. Enquanto
Gustavo  Selbach trouxe o  bronze no K1. Ambos estiveram
muito próximos dos primeiros colocados. 
Desde a volta da canoagem slalom aos jogos olímpicos,
em 1992, somente nos jogos de 2004 o Brasil não
teve  representantes  na modalidade. “Nas seletivas para 2004,
não conseguimos a vaga  olímpica. Para 2008, foram mais
investimentos, isso mudou muita coisa. Na nossa época,
buscávamos apoio para comprar equipamentos. Hoje temos
atletas que podem se preocupar somente em treinar, com
equipamentos da confederação e bolsa de auxílio para se
manter”. Avalia Cássio Petry. “Não se forma um atleta em seis
meses, ou um ano”. Conclui.

67
MODERNIZAÇÃO DA CANOAGEM BRASILEIRA II

“Em 2004, o Leonardo  Selbach, que era o presidente


da Asteca, me ligou para eu ir trabalhar em Três Coroas. A
Asteca era referência em alto desempenho, meu antecessor
foi o técnico francês Alain Jordan, que posterior ao trabalho
realizado, assumiu a Seleção Brasileira de Canoagem”. Recorda
Édrei Ascencio, sobre a época de sua mudança para a cidade
onde permanece até os dias de hoje. “A gente tinha poucas
crianças na água, poucos competidores, começamos um novo
trabalho na escolinha de canoagem”.
No ano de 2005,  o mundial foi na Austrália. “Naquele
período viajamos pouco, concentramos nossa participação
no mundial. Tivemos problemas pra embarcar os barcos, que
chegaram pouco antes da prova”.  Recorda Gustavo Selbach.
“A Austrália começou a ter uma história na canoagem a partir
dos anos 90. Fizeram muitos investimentos em pesquisa, nos
institutos de esportes. Eles têm uma escola muito forte, um
reflexo desse trabalho é a Jessica Fox, uma australiana, a maior
vencedora de mundiais”. Analisa Gustavo Selbach.
Os mundiais, que eram disputados a cada dois anos, a
partir de 2006, na República Tcheca, começaram a ser realizados
anualmente, com exceção do ano das olimpíadas. “República
Tcheca é sempre uma referência na canoagem slalom”. Observa
Gustavo Selbach, que esteve naquela competição.
Para o Pan-Americano do Canadá, em 2009, o treinador
68
local que tivesse mais atletas com as vagas, acompanharia a
seleção brasileira na competição.
“Estávamos sem treinador na Confederação Brasileira.
O coordenador local que colocasse mais atletas no time, iria
comandar a delegação naquele  Pan-Americano.” Diz Édrei
Ascencio, que garantiu a Asteca enquanto maior delegação e
acompanhou os atletas brasileiros na competição.
“O Canadá e os Estados Unidos têm bastante tradição no
slalom, eles estavam em casa, mas mesmo assim conquistamos
bons resultados. No C2 conquistamos segundo lugar com o
Anderson e o Jean”. Analisa Édrei.
Pouca gente se dedicava ao C2 na época. Quem se destacava
eram os também trescoroenses, Cássio e Emilio. “Numa prova
em Cerquilho, São Paulo, conseguimos a vaga pra representar
o Brasil no Campeonato Pan-Americano do Canadá”. Lembra
Anderson Weber.
“O pessoal sempre se ajudou bastante durante os treinos,
dando orientações e dicas, sempre foi assim na Asteca. Mas
na competição, cada dupla estudava e se dedicava pra usar a
melhor estratégia e conseguir o melhor desempenho. Com
muita ajuda do treinador, que era o Édrei na época. Com as
orientações dele, o Jean e eu montávamos a estratégia”. Revela
Anderson Weber.
“Na seletiva em Cerquilho, vencemos por uma diferença
mínima, na última descida. A gente treinava juntos, eles nos
ensinaram bastante. Evoluímos muito com eles”. Revela Jean Möller.
“Passamos a usar o barco usado por eles, que era a melhor
canoa, isso nos destacou ainda mais”. Recorda Anderson Weber.
“O treinamento era pra chegar lá e ganhar, mas sabíamos que
a dificuldade era bem grande, competir com os americanos é
sempre muito difícil, pelo alto nível, tradição e equipamentos
69
deles. Muito na raça, conseguimos o segundo lugar naquele
Pan-Americano”.
“A gente focou bastante nessa categoria, muitas vezes
deixada de lado. Treinadores e todo mundo da Asteca
viram potencial e acreditaram em nós. Baixamos a cabeça e
começamos a treinar e estudar para a categoria C2”. Conta
Anderson Weber. Com isso, a dupla voltou para o Brasil com a
vaga para o mundial na bagagem.
“Eu remava C1, um dia falei pro Anderson pra gente
brincar na C2, a gente gostou e começamos a treinar forte”.
Recorda Jean Möller. Foram três anos treinando forte, do final
de 2008 ao final de 2011. “A gente se tornou a melhor canoa
daquela fase. No final de 2011, já eram sete canoas competindo
no C2”.
Édrei Ascencio, que foi o técnico da seleção naquele Pan-
Americano de 2009, tinha uma relação bastante próxima com
a categoria C2, pela qual havia disputado o mundial de 1997
em Três Coroas. “Sou suspeito pra falar da categoria C2, fiz
parte da primeira canoa dupla que representou o Brasil em
uma competição internacional”. Revela.
“O  Jean  e o Weber remavam, no final dos treinos eles
pegavam um pouco a C2 e se davam bem. O mais difícil era
fazer o trabalho fora do barco, estudar a pista”. Considera Édrei
Ascencio. “Por vontade própria, eles decidiram focar os treinos
e se aprimorar na C2. Essa modalidade, infelizmente, teve sua
última participação olímpica em 2016”. 
“Depois desses resultados positivos, a modalidade C2 teve
mais gente fechando duplas e se dedicando aos treinos”. Conclui
Édrei Ascencio.
“O Anderson e o Jean priorizaram o C2 e se dedicaram
muito mesmo. Eles eram bem mais novos, por ter um pouco
70
mais de experiência, a gente se ajudava”. Conta  Cássio Petry.
“Algumas associações começaram a se dedicar mais ao C2,
após isso”. 
No Mundial de 2010, na Eslovênia, Gustavo Selbach,
além de atleta, também foi chefe de equipe. “Treinei bastante
junto com o  Jean  e o Anderson. Eu sempre achei bonito ver
o C2, infelizmente foi retirado das olimpíadas. Acho que a
modalidade não deveria ter morrido, por ser bonito de assistir
e por ter a possibilidade de juntar dois atletas que remam em
categorias diferentes, isso desenvolve outras habilidades no
atleta”.  Considera. “Eu nunca remei  C2,  mas sempre gostei
bastante. Em toda minha trajetória, acompanhei a modalidade,
em um determinado momento, ela evoluiu bastante, com  os
irmãos  eslovacos  que ganharam vários ouros em mundiais
e olimpíadas. Além deles serem competitivos, era bonito de ver
a harmonia deles remando”. 
“A cultura lá fora é bem forte na canoagem slalom, tem
muita tradição, são várias competições com atletas de alto
nível. Participar de uma competição com atletas olímpicos
e campeões mundiais é um aprendizado muito grande”.
Considera Anderson Weber.
Após a categoria C2 sair das olimpíadas, acabou sendo
deixada um pouco de lado pelas associações. “Cada um tem
uma função, fazendo coisas diferentes no tempo certo pra
movimentar o barco pela pista. É uma categoria muito bonita,
uma pena ter saído das olimpíadas”. Analisa Anderson Weber.
“Quando eu comecei a remar e competir, meu objetivo era
participar de um mundial, treinar e chegar lá”. Recorda Weber.
“Eu mudei de modalidade para me dedicar ao C2,
pois tínhamos maiores chances de representar o Brasil nas
competições internacionais”. Diz Anderson Weber, que
71
realizou seu objetivo no Mundial de 2010 na Eslovênia. “Aí
sim mudou o foco e trabalhamos bastante. Olhamos muitos
vídeos dos melhores. Estudamos muito. Foi uma dedicação na
parte técnica, física e psicológica para aquele objetivo. É muito
gratificante”.
Após um período na Europa, voltar para o Brasil, comer
o que está acostumado, estar próximo dos amigos e família,
faz bem para o atleta que chega carregando um pouco mais de
experiência. Isso tudo, reflete na água.
“Lá a alimentação é um pouco diferente da nossa no
Brasil”. Recorda Anderson Weber. “Emagreci quatro quilos
num período na Europa. A comida era um pouco diferente,
eu não comia muito, treinava forte. No café da manhã eu fazia
um sanduíche pra guardar para a tarde”. Revela Jean Möller. A
alimentação pode inclusive alterar o desempenho dos atletas
nos treinos e competições.
Sobre a temporada na Europa e o aprendizado que carrega
na bagagem e aplica enquanto dirigente da Asteca, Jean Möller
define com a frase: “É basicamente um antes e um depois”.
Segue explicando os motivos. “Depois de ter visto que o treino
deles não é muito mais do que o nosso, percebemos que não
estávamos muito longe. O que nos faltava era competição. No
Brasil temos, quando muito, quatro competições por ano. Na
Europa, só de copa do mundo, são cinco etapas, o Mundial Júnior
e o Sub-23, geralmente são lá, mais as competições nacionais
deles. Então eles chegam a fazer de 10 a 15 competições por
ano”. Reflete.
“A partir de 2009, a Confederação começou a priorizar
os barcos da categoria júnior. Com isso, a categoria sênior
dificilmente viajava. Tanto que o Gustavo Selbach e o Cássio
Petry, mesmo sendo os melhores barcos, perderam muitas
72
oportunidades. Outros atletas muito mais jovens, que
não chegavam nem perto do tempo deles, mas atingiam a
porcentagem mínima exigida pela confederação, ficavam com
a vaga. Os de fato melhores, ficavam de fora. Isso também
aconteceu comigo. Quando eu tinha o melhor tempo do Sub-
23, estava ainda bem atrás do Cássio, mas bem na frente dos
outros da categoria júnior, mas acabava sem a vaga porque
tinha um pouco mais de idade”. Recorda Jean Möller.
“Em 2012, teve o Campeonato Pan-Americano em Foz
do Iguaçu, que foi seletiva para os Jogos Olímpicos. Eu já não
remava mais C2, estava bem focado na C1. Lá, eu andei muito
mal, mas acabei comprando outra canoa. Eu tinha uma canoa
boa, mas não era ideal para mim. Depois disso eu comecei
andar bem, fui para o Mundial Sub-23 nos Estados Unidos”.
Lá Jean Möller foi a melhor canoa brasileira, sendo um dos
semifinalistas. Em março de 2013, foi a melhor canoa da
seletiva brasileira. Com isso, embarcou para uma temporada
na Europa. “Fiquei três meses lá, fiz etapas da Copa do Mundo,
Mundial Sub-23 e o Mundial Sênior na República Tcheca”.
“Em Praga, capital da República Tcheca, onde participei do
Mundial, tem uma pista que envolve muito a população. Durante
o dia é fechada para os treinos da equipe, mas depois das cinco
da tarde é aberta. Qualquer pessoa pode ir remar lá, e vão mais
de 100 pessoas por dia, dos 10 aos 80 anos”. Lembra Jean Möller.
“Aqui em Três Coroas é mais difícil, temos hoje (2019) pouco
mais de 20 pessoas remando, incluindo escola e equipe de treino.
Tem muita gente que parou de remar, que às vezes vai remar no
Parque, num final de semana”. Conclui Jean Möller.

73
REMAR NO PARQUE DAS LARANJEIRAS É
DIFERENTE!

Algumas coisas não mudam com o passar dos anos,


uma delas, a magia em remar no Parque das Laranjeiras.
“Faz a diferença, parece que a torcida ajuda a empurrar o
barco”. Considera Guilherme Mapelli.
“Remar em Três Coroas sempre teve uma motivação
diferente. O evento com atividades culturais. todo mundo
indo pro Parque, torcendo na beira da água. O contato com a
natureza faz um ambiente com uma energia diferente”. Afirma
Gustavo Selbach.
Muita gente se sente em casa em Três Coroas, mesmo
sendo de outras cidades.
“A falta do sinal de telefone no Parque também conecta
mais as pessoas. Além do ambiente acolhedor, a água limpa, a
mata”. Conclui Gustavo Selbach.
“A galera que vêm de outros lugares do Brasil gosta
muito de remar aqui, é um rio bem técnico. Nossa pista tem
um pouco de tudo, tem remanso, tem onda, tem refluxo”.
Considera Anderson Weber. “Três Coroas é uma pista natural,
é totalmente diferente das outras do Brasil, temos um rio muito
privilegiado”.
“Remar fora é sempre mais difícil, remar no Parque das
Laranjeiras é diferente. A cidade, a torcida, a energia positiva da
74
galera na beira da pista. Tudo isso deixa o atleta mais confiante”.
Reflete Anderson Weber. “Quando se está no meio da pista e
escuta um ‘Vai! Vai! Vai!’, por mais que esteja cansado, aquele
gás a mais vem pra poder representar bem a torcida”.
Em 2012, o Campeonato Brasileiro Sênior foi no Parque
das Laranjeiras. “Foi a primeira vez que ganhei um Campeonato
Sênior. O Cássio ainda treinava forte. Ele é meu ídolo. Ganhar
dele mostrou que eu tinha chegado no alto nível”. Revela Jean
Möller.
A Copa Brasil de 2013 também foi em Três Coroas, no
Parque das Laranjeiras. “Quando voltei, depois de três meses
na Europa. Faltava 10 dias pra competição. Mas a companhia
aérea não transportou minha canoa”. Conta Jean.
Quando o treinador da Seleção Brasileira, que era um
italiano, Etori Ivaldi, veio para o Brasil, depois de passar
uma semana na Itália, conseguiu embarcar a canoa em outro
aeroporto. “Fiquei até o dia da prova sem minha canoa,
treinando com barco emprestado, que é totalmente diferente”.
Relata Jean Möller. “Naquela prova, eu estava muito cansado
fisicamente, voltando de seis competições na Europa. Minha
descida foi empurrada pela galera torcendo por mim. Quando
me lembro daquele dia, me arrepio. Muita gente gritando.
Foi aquele gás a mais. Eu acho que se não tivesse esse apoio,
naquele dia eu não conseguiria”.
No Campeonato Brasileiro de 2014, que também aconteceu
em Três Coroas, novamente no Parque das Laranjeiras,
Guilherme Mapelli foi destaque, quando surpreendeu
chegando em segundo lugar. “Com o resultado, também
fiquei em segundo no ranking nacional. No ano seguinte, fui
chamado para a equipe permanente no Centro de Treinamento
em Foz do Iguaçu”. Recorda.
75
“Eu estava um pouco atrás dos primeiros barcos, até
porque  estava saindo da categoria  júnior  e ingressando
na sênior. Foi uma das minhas melhores provas no sentido de
superação”. Considera Guilherme Mapelli.

76
MUNDIAL MASTER 2013

O Prêmio Brasil Olímpico escolhe, desde o ano 2000,


o melhor atleta brasileiro de cada modalidade olímpica.
Cássio Petry e  Gustavo Selbach foram os dominantes nos
primeiros anos, uma hegemonia que demonstra a qualidade
desses dois atletas olímpicos da Asteca. Cássio Petry  foi
escolhido em quatro ocasiões, nos anos 2000, 2002, 2004 e
2011. Já Gustavo Selbach, foi vencedor em cinco anos, 2001,
2003, 2005, 2006 e 2007. 
“Tive a oportunidade de ver o Cássio e o Gustavo ganharem
o Mundial Master de 2013, na Itália. O Cássio sempre foi muito
pilhado pra competição, era difícil vencer ele, da mesma forma
o Gustavo, que se concentra e faz acontecer. Consegui absorver
um pouco dessa competitividade deles. Quando eles entram na
água, sabem competir”. Revela Guilherme Mapelli. “Na Europa
são muitas competições de alto nível, muitas provas durante o
ano, isso ajuda a evoluir no esporte”. 
­“Eu abri a pista do Mundial Master de 2013, fiz o melhor
tempo da pista”. Recorda Guilherme. Que naquele ano também
participou do Open de Canoagem na República Tcheca, ficando
em quarto lugar.
“Fomos por conta própria, também pra pegar
equipamentos. Foi minha última viagem pra outro continente.
Foi muito bom ter participado e ter vencido aquela prova.

77
Recentemente, teve outro mundial master, no mesmo lugar,
às vezes eu recebo convite de amigos pra participar”. Conta
Gustavo Selbach.
“A gente foi com nosso próprio dinheiro, também para
comprar equipamentos”.  Recorda, também, Cássio Petry.
“Tinha muita gente com quem já tinha competido em outros
momentos da carreira. Foi uma das minhas últimas viagens
enquanto atleta e a última conquista internacional. Depois
desse campeonato, voltei a competir somente no Brasil”.
“Os equipamentos, no início, eram os fabricados no Brasil
mesmo. Barcos modelo surfinho e remos com pá de plástico,
muitos com cabo de madeira, que eram bem mais pesados.
Os caiaques tinham o dobro do peso de hoje”. Recorda Roger
Eckhard.
O esporte está sempre em evolução, o material de
ponta também chegou quando os atletas locais começaram
a viajar para as provas internacionais. Lá adquiriam novos
equipamentos, então passavam os usados para os demais
atletas da cidade.
“Pra gente ter acesso a equipamento de competição,
só depois das primeiras viagens pro exterior. Depois que
começaram a vir os gringos, eles deixavam algum equipamento,
que era muito disputado. Além disso, quando a gente vinha
de competições na Europa, trazia equipamentos e acabava
repassando pros atletas daqui”. Revela Márcio Tomazoni. “O
maior volume de estrangeiros por aqui foi no Pré-mundial de
1996 e no Mundial de 1997, então, muito equipamento ficou
por aqui”.
“Mudaram muito os equipamentos. Nossos barcos eram
de 4 metros, de carbono, hoje são de 3,5 metros, e mais leves
ainda, conforme as mudanças das regras”.  Comenta Cristian
78
Krummenauer. “O slalom está sempre em evolução. Hoje
existe um colete salva vidas com 1 centímetro de  espessura,
que antigamente era de 5 centímetros, uma diferença que
muda bastante a mobilidade para o atleta de alto rendimento”. 
Conclui.
“Quando comecei a me dedicar para o slalom, meu
primeiro barco foi de uma fabricante de Minas Gerais, que fazia
um equipamento mais específico para a modalidade, produzido
em fibra de vidro. Mas o que foi importante para aquisição
de equipamentos melhores foram as viagens para o circuito
internacional, de onde sempre trazíamos novidades”. Recorda
Gustavo Selbach. “Todos os anos, ao trocar de equipamentos,
o que estava sendo usado era vendido aos demais remadores.
Dessa forma, aos poucos, conseguimos deixar o pessoal da
cidade com um equipamento melhor”. 
“Em uma viagem, cheguei a trazer 12 remos novos para
repassar pro pessoal. Sem interesse financeiro, mas para ver o
esporte evoluir”. Comenta Gustavo Selbach, que confirma que
ficaram muitos barcos em Três Coroas após a Copa do Mundo
de 1996. “Foi um prato cheio, não só pra nós, mas pra todo
mundo da América do Sul”.

79
OLIMPÍADAS 2016 E A ARBITRAGEM

“Em 2013, já havia indicativo de que o Brasil precisaria


de um árbitro com exame internacional, por ser a sede das
Olimpíadas de 2016. Dentro disso, fui enviado em 2013 para
o Mundial Júnior Sub-23, onde arbitrei e passei no exame.
Na sequência, já fui convocado para o Mundial Sênior da
República Tcheca, que aconteceu três meses depois”. Recorda
Luiz Ebert. “A abertura em Praga foi fantástica, pois eles estavam
completando 120 anos de canoagem. O berço da canoagem é
lá. Tinha arquibancada para cinco mil pessoas e nenhum lugar
vazio. Eles levam um grande público para a canoagem”.
Lá, Luiz Ebert foi avaliador do Comitê Olímpico Brasileiro,
ou seja, além de trabalhar na arbitragem, também verificou
toda a estrutura de prova, que foi para um relatório após o
evento. “Em todas as remontas, que são as portas vermelhas,
tem uma filmadora própria. Lá, mesmo se questionou por
que manter um árbitro na pista para essas portas. A resposta
é: para não perder a pessoalidade da prova. Também porque
eliminar o árbitro a nível mundial dificulta criar árbitros
nos locais de base da canoagem, onde os recursos de vídeo
para auxiliar na arbitragem vão demorar muito para chegar”.
Considera Ebert, que após essas duas provas, foi chamado
para provas internacionais na Austrália, Estados Unidos, Foz
do Iguaçu e Londres, para depois fazer parte do evento teste
e da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. “É uma reação em
80
cadeia, foram quatro anos de processo”.
No ciclo  olímpico em  que antecedeu os jogos de 2016,
ocorreram muitas mudanças na canoagem brasileira,
preparando o esporte para as  Olimpíadas  do Rio de Janeiro.
“Antes disso, não se pensava muito nos Ciclos  Olímpicos,
também não existia dinheiro para isso”. Comenta Cássio Petry.
“A canoagem foi uma brincadeira que deu certo
para Três Coroas, muita gente apoiou e é responsável por tudo
isso. Se tivesse feito um plano pra fazer um esporte e ir para
as olimpíadas, não teria acontecido. Ter tido a oportunidade
de carregar a chama olímpica em 2016, foi uma coisa que eu
nunca pensei que iria fazer, me deu noção do real significado
de tudo que aconteceu”. Reflete Leonardo Selbach.
Os trescoroenses carregaram a tocha após um movimento
dos atletas  olímpicos. “Iriam participar do revezamento da
tocha, 12 mil pessoas em todo Brasil, e tínhamos em 2016
cerca de 700 atletas olímpicos vivos”. Conta Gustavo Selbach,
que fez parte do carregamento da chama olímpica na cidade de
Gramado, no mês de julho de 2016. “Eu tive a honra de passar
a chama para o Leonardo, meu irmão. Nós ganhamos a tocha,
por sermos atletas olímpicos”.
“Quando carregamos, muita gente de  Três  Coroas foi
prestigiar. Isso demonstra o envolvimento de um grupo”. Avalia
Leonardo Selbach. “No começo, todo mundo apoiava. Era
um esporte novo, tudo a ver com a cidade. Tinha que dar
certo”. Conclui Leonardo Selbach.
“A pista do Parque de Deodoro, que recebeu a canoagem
slalom nos Jogos  Olímpicos de 2016, teve participação
de  trescoroenses  na parte  técnica  de construção da prova. A
equipe  técnica  da prova tinha muita participação de pessoas
de Três Coroas”. Pontua Cristian Krummenauer, lembrando
81
também que trescoroenses foram comentaristas nas
transmissões pela televisão.
Além de comentar os Jogos  Olímpicos  de 2016, no
Rio. Gustavo Selbach também comentou os Jogos de 2004,
2008 e 2012, além de outras competições internacionais. “É
um pouco do que estou colhendo depois de ser atleta. Esse
reconhecimento me ajuda com o que trabalho hoje, que é o
treinamento corporativo”. Considera.
Além de atletas e comentaristas, foram muitos os árbitros
de Três Coroas para contribuir no desenvolvimento da
canoagem slalom brasileira ao longo da história.
“A equipe de arbitragem foi crescendo, quando percebemos
estava indo arbitrar provas em outros estados, de tão bem
preparada que ficou”. Lembra Márcio Tomazoni.
“De 2001 em diante, não perdi nenhuma prova em Três
Coroas. Antes disso, arbitrei no Mundial de 1997, também em
algumas provas nacionais. Para algumas competições mais
importantes, como Campeonato Brasileiro, a organização ligava
para Três Coroas solicitando alguns árbitros, que seguiam no
ônibus com os atletas para algumas provas em outros estados”.
Recorda Luiz Ebert.
A importância de Três Coroas para a canoagem vai além
das participações olímpicas dos atletas. “Temos dois árbitros
olímpicos em Três Coroas, o André Behs também participou
de diversas edições. Nenhuma outra modalidade esportiva tem
isso.” Afirma o também árbitro olímpico, Luiz Ebert.
Dos anos 1990 até os dias atuais a canoagem evoluiu bastante
no Brasil, o nível de exigência da arbitragem ajudou a preparar
os atletas para o alto desempenho no exterior. “Antes, alguns
atletas andavam bem, mas na Europa sofriam penalizações que
comprometiam o desempenho”. Avalia Luiz Ebert.
82
“A arbitragem passou para um nível de exigência maior.
Em algumas situações, a falta de convivência com alguma
penalidade, não habilitava o árbitro a penalizar aquela situação”.
Diz Luiz Ebert. “Na final, são dez atletas que vão descer a pista,
a arbitragem precisa estar atenta e não errar”. Finaliza.

83
ESCOLA DE CANOAGEM DA ASTECA

Centenas de pessoas passaram pela Asteca, muitos alunos


da escola de canoagem não conquistaram resultados expressivos
nas competições que participaram, mas a canoagem não foi
menos importante na vida deles por isso. 
“Vários remadores e ex-atletas assumiram a escolinha, que
teve muitos altos e baixos. Todo ano tem esse ciclo, que começa
com a entrada da primavera, passa pelo verão, que quando
acaba, traz uma desistência muito grande do número inicial
de alunos. Para continuar durante o inverno e fechar o ciclo de
um ano remando é preciso gostar bastante do esporte”. Avalia
Flávio Belotto. “Desde o início até os dias de hoje, a escolinha
sempre foi gratuita, quem quiser conhecer a canoagem pode
fazer isso, com um monitor orientando e o equipamento da
Asteca. Claro que é um equipamento simples, mas sempre
tivemos essa proposta de ensinar a canoagem”. 
O dirigente ainda considera que é preciso se dedicar,
por vezes abrir mão de algumas coisas. Um grupo motivado
também é importante. “Só funciona com a união do grupo, uns
puxando os outros”. Afirma Flávio Belotto.
“A Asteca é a entidade mais antiga da canoagem slalom
em funcionamento no Brasil. Todo o ano recebe alguma prova
nacional em Três Coroas. Também, segue a escolinha sempre
formando atletas”. Finaliza Flávio Belotto.
“Nos anos 90, ainda não era possível viver do esporte. A
84
gente trabalhava, estudava e treinava. A Asteca sempre apoiou
os atletas, nunca deixou na mão, a prefeitura de Três Coroas
também sempre ajudou”.  Recorda Cristian Krummenauer.
“Hoje, os melhores resultados da canoagem brasileira são os
conquistados sob o comando técnico de um trescoroense. Não
tem como falar da canoagem slalom no mundo sem lembrar de
Três Coroas”. Considera.
“A Asteca ajudou muito a trazer técnicos, os melhores
atletas eram daqui. A iniciativa sempre era nossa pra melhorar
o desempenho do Brasil nas provas internacionais”.  Comenta
Cristiano Arozi.
“Quando eu comecei na canoagem, em 1992, a Asteca
ainda não tinha uma organização de escolinha, mas eu usava
o material da Associação. Todo mundo se ajudava. Anos mais
tarde, a escolinha passou a ter um instrutor, mas até hoje, todo
mundo se ajuda bastante colaborando nos treinos”.  Observa
Cássio Petry. “Nem todo mundo que entra na Asteca se torna
um atleta, mas o esporte é importante para todos. O papel da
Associação é apresentar o esporte pra todo mundo”.
“O pessoal da Asteca sempre me ajudou muito, não só
dentro da água, mas fora também. A Asteca tem esse papel
acolhedor, mostrar o que é certo e o que é errado”.  Revela
Guilherme Mapelli. “A Asteca nunca chegou a cobrar
mensalidade, não tem custo pra aprender a remar. Fornecemos
colete, capacete, barco, remo e instrutor para os iniciantes”. 
“Quem era do caiaque, puxava a galera pra trocar ideia.
Eu remava canoa, então sempre era na conversa, mas também
olhando vídeos na televisão. Depois, quando tivemos técnicos,
entramos num outro momento. Foi quando a gente percebeu
que dava pra chegar lá e incomodar um pouco mais”. Recorda
Roger Eckhard.
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“Às vezes, a gente revezava com uma câmera filmadora
na beira do rio, pra gravar as descidas e avaliar o que poderia
ser melhorado. Nos ajudávamos bastante uns aos outros. A
busca para melhorar os resultados era nos detalhes”. Pondera
Gustavo Selbach.
“Para aprender a fazer o rolamento, praticamos por  uns
dias na piscina da casa do Dr. Mauro. O Ludgero e eu ficamos
assistindo um vídeo de um alemão fazendo rolamento. Depois,
quando chegamos na beira do rio, com uma hora de treino as
pessoas já aprendiam a fazer”. Revela Fabio Fritz Haack.
“Teve um período que fizemos divulgação da canoagem na
cidade, indo também nas escolas, convidando as crianças para
participar da escolinha de canoagem, que é uma experiência
importante para a vida das pessoas”. Diz Leonardo Selbach. “A
canoagem é uma maneira de causar um contato das pessoas
com o esporte e com a natureza. O esporte acaba sendo
importante mesmo para quem não continua praticando”. 
“A maioria dos atletas se torna professor quando pode
passar seu conhecimento das competições, as técnicas, e pode
ajudar os que estão começando”. Conta Anderson Weber. “O
meu objetivo era treinar e competir, ser instrutor da Asteca foi
uma oportunidade de ensinar o que eu sabia. É bom ensinar e
ver o desenvolvimento dos alunos”. Finaliza.

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O NOVO MOMENTO DA CANOAGEM
BRASILEIRA

Evolução da canoagem brasileira sempre passou pelas águas


do rio que corre ligeiro. “Um dia alguém começou, passaram o
conhecimento para nós, agora estamos tentando passar adiante”.
Reflete Cássio Petry, que em janeiro de 2017 assumiu a função
de treinador da Seleção Brasileira de canoagem slalom. Os
resultados foram expressivos em várias competições, no Mundial
da França  em 2017, no Mundial do Rio de Janeiro em 2018,
também em competições de 2019 como o Mundial Júnior e Sub-
23, etapas da copa do Mundo e nos Jogos Pan-Americanos de
Lima, no Peru.
Em 2020 chegaram as inéditas conquistas do bronze no k1
masculino, em etapa realizada em Tacen, na Eslovênia. Também
o ouro no C1 feminino, na mesma competição. Levando
respectivamente os brasileiros Pedro Gonçalves e Ana Sátila ao
pódio.
“Os resultados aumentam a confiança. Sempre vai haver
algum tipo de crítica. Agora estamos nos preparando para
as Olimpíadas de Tóquio, acho que estamos no caminho
certo”. Avalia Cássio Petry. No ano de 2000, quando foi para
a olimpíada enquanto atleta, a busca por resultados era algo
muito longe da realidade da canoagem brasileira. Participar já
era um fato de grande importância. Na condição de treinador,
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além de buscar a vaga, o sonho da medalha olímpica já não é
algo tão distante da realidade que se encontra a canoagem
brasileira duas décadas depois. “Naquela época, participar já era
algo importante, tanto para a Confederação, para a Associação e
para o atleta. Hoje, a gente tem que competir e tem condições de
buscar medalhas. A cobrança é maior”. Considera Cássio Petry.

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CAMPEONATOS PAN-AMERICANOS DE 2018
E 2019 EM TRÊS COROAS

Em 2018, após 10 anos sem receber competições


internacionais, o Campeonato Pan-Americano de Canoagem
Slalom aconteceu novamente em Três Coroas. Nesse intervalo
de tempo, o esporte cresceu muito no Brasil. “Três Coroas
nunca ficou um ano sem sediar algum campeonato importante,
desde o início do Parque das Laranjeiras”. Observa Jean Möller.
“A Federação Internacional de Canoagem está com uma
tendência de voltar com as pistas naturais. As principais provas,
atualmente, são em pistas artificiais. Isso tem um custo muito
alto, difícil pagar e manter. Tanto que por isso, a pista feita para
as olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, fica bastante fechada”.
Afirma Jean Möller. “Lá, a água é movida por bombas, que
tiram a água da parte de baixo da pista e levam novamente para
a parte alta. Isso consome muita energia. Em Três Coroas, a
gente usa a água que segue o fluxo natural do rio”.
“Em 2019, era pra acontecer o Mundial Júnior e Sub-23
no Rio de Janeiro, mas a Confederação informou, dois anos
antes, que não iria conseguir fazer. Mantiveram somente o
Mundial Sênior de 2018 por lá. As competições de 2019 foram
transferidas para a Polônia”. Complementa Jean Möller.
“O Pan-Americano de 2019 poderia ter acontecido nos

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Estados Unidos. Mas um próprio americano, que faz parte da
Confederação Panamericana, sugeriu fazer em Três Coroas
novamente”. Revela Jean Möller. “A princípio, a competição
seria no Peru, como um evento teste para a pista dos jogos
Pan-Americanos. A pista não ficou pronta a tempo. As opções
então foram na Argentina, que tem poucas pistas e sem muita
qualidade técnica, mas sempre é uma opção. Além da pista
artificial de Charlotte, nos Estados Unidos”.
Mas o Campeonato Pan-Americano de 2019 foi no Parque
das Laranjeiras novamente, seis meses após o realizado em
2018.
“Os atletas ficaram satisfeitos com a estrutura, o nível do
rio e a oportunidade de desenvolvimento no esporte. Alguns
peruanos permaneceram após o Pan-Americano de 2019
treinando em Três Coroas, fazendo a preparação para os Jogos
Pan-Americanos de Lima, em seu país. A gente tem uma
estrutura muito boa”. Destaca Jean Möller.
“Três Coroas tem credibilidade dentro do contexto Pan-
Americano. todo mundo gosta da cidade. Juntando isso com
a  capacidade de organização que a cidade oferece, com boa
estrutura,  o rio bom, e temos atletas muito bons, isso tudo
ajuda”.  Destaca Gustavo Selbach. “A  cidade continua sendo
importante, uma referência para o esporte. Eu diria que no
Brasil não existe um local com melhores possibilidades e uma
estrutura que se sustenta ao longo do tempo igual Três Coroas”.
No  campeonato Pan-Americano  de 2018, o instrutor da
Asteca e atleta, Guilherme Mapelli, teve a torcida dos alunos
que o viram participar de uma competição internacional.
Não teria como deixar de ser um exemplo. “Me dedicando na
canoagem e estudando, sigo tentando ser um bom exemplo aos
mais jovens”.
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“Hoje existe uma discussão mundial para não construção
de pistas que não tenham água por vertentes naturais, isso não
é mais sustentável. Ainda foi construída uma pista assim no Rio
de Janeiro, que fica abandonada. Existe um amadurecimento e
Três Coroas faz parte disso, pois mesmo depois de 20 anos,
continua sendo uma pista importante. Muito bela, com uma
comunidade participativa. Isso faz diferença na modalidade”.
Considera Cristian Krummenauer.
“Há mais de 30 anos Três Coroas sempre realiza algum
campeonato importante, alguma etapa da Copa Brasil,
Campeonato Brasileiro, Sul-americano, Pan-Americano, Copa
do Mundo ou Mundial. Hoje, podemos dizer que a cidade
está entre as melhores estruturas do Brasil para a prática da
canoagem slalom. O Rio de Janeiro tem um custo e não tem
atletas locais, já no Paraná a pista tem as questões ambientais
e nem sempre tem disponibilidade no canal. Em Três Coroas,
mesmo com o rafting, a canoagem pode ser praticada o ano
todo. Quando tem prova marcada para Três Coroas, todos os
atletas do Brasil esperam e sabem que vai acontecer um bom
evento. A Asteca tem um papel fundamental pra fazer as coisas
acontecerem”. Analisa Cássio Petry.
“A Asteca é uma das únicas associações de canoagem
que tem autonomia no Brasil, muito pela concessão de uso
do Parque das Laranjeiras. Com isso a Asteca consegue
angariar fundos e não precisa bater na porta de político, ou
construir projeto pra conseguir algum dinheiro e organizar as
competições”. Observa Édrei Ascencio.
“Nossa pista não perde nada para muitos lugares do
mundo. Temos água o ano todo, em qualquer momento podemos
fazer um bom evento, temos um lugar ótimo”. Destaca Fabio Fritz
Haack.
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“A gente tem a melhor estrutura de organização de uma
competição no Brasil. Tem tudo na mão”.  Observa Cristiano
Arozi.
“Três Coroas é mais que uma pista, é um contexto. Poucas
entidades no Brasil conseguem ter esse apoio da comunidade.
A canoagem consegue se manter através do Parque das
Laranjeiras, que é municipal, que garante a continuidade
do esporte. Três Coroas é a válvula de escape da canoagem
brasileira, com uma estrutura e um custo que a associação
consegue manter”. Considera Leonardo Selbach. “É um motivo
de orgulho não ficar dependendo de recursos públicos pra
tudo, a Associação consegue se manter e gerar sustentabilidade
através do Parque”. 
“A gente conseguiu se manter. Todos os anos tivemos
provas nacionais, muitas vezes o campeonato brasileiro, que é
a prova principal”. Comemora Flávio Belotto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Escrever sobre a canoagem tem sido uma acertada e


satisfatória escolha, que por consequência, proporciona
experiências inéditas, como esse livro.
Sinto-me realizado com esse projeto, que permite andar
por caminhos que a pouco tempo atrás nem poderiam ser
imaginados, que levam para onde não podemos ver.
Em diferentes cadeiras, na universidade, repeti que o
jornalismo é uma importante ferramenta de cidadania. Esse
trabalho tem o objetivo de valorizar a história local, estimular
o esporte e a leitura. É trazer para a vida real aquela teoria dos
livros acadêmicos, que algumas vezes pareciam tão distantes.
Todas as entrevistas me fizeram perceber que o amor em
comum das pessoas pela canoagem precisaria estar registrado.
Foram muitos finais de semana transcrevendo e estudando
as pautas passadas, também preparando as seguintes, para
chegar ao entrevistado e arrancar um conteúdo que pudesse dar
continuidade à narrativa. Dessa forma, foi possível intercalar
as entrevistas pra conduzir a história.
Muitas curiosidades também surgiram durante o processo,
como a caçamba que era o transporte para as competições estaduais.
Quando tocava nesse assunto, durante as entrevistas, o sorriso
chegava junto com a emoção dos entrevistados, que misturavam a
surpresa pela pergunta com a alegria daquela lembrança.
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As falas também ganhavam entusiasmo quando chegava
no assunto da curva do S, assim chamada antes mesmo de
lá existir o Parque das Laranjeiras, e mesmo depois do local
receber competições, o entusiasmo gerado com o assunto
causou boas lembranças em todos.
A relevância do conteúdo sempre foi algo que considerei
importante. Deixar o conteúdo interessante para pessoas com
diferentes níveis de entendimento sobre a canoagem, também
foi um cuidado que fez parte do projeto o tempo todo.
As entrevistas, de forma geral, foram realizadas em
agências, empresas ou casas dos entrevistados. Algumas
conversas também aconteceram no café junto à Biblioteca
Municipal, que agora podemos dizer que faz parte da história
desse livro.
Fica registrado o agradecimento aos entrevistados, que
também estendo aos atletas de canoagem da cidade, aqueles
que participaram de importantes competições internacionais
ou brasileiras, mas também aqueles que se divertiram fazendo
algumas aulas na escolinha da Asteca. A admiração de todos
pela canoagem é inspiradora. Espero um dia transmitir, de forma
parecida, minha agora não mais oculta paixão pela escrita.
A pandemia fez muita coisa mudar. O lançamento do livro
foi adiado. A versão e-book, disponibilizada de graça na internet,
pra facilitar a leitura no período de distanciamento social.
Durante a escrita desse livro, aprendi que parte importante
da escrita está além das palavras, mas nos sentimentos que as
geram e sustentam.
Enquanto as ideias repousam no texto, elas estão ganhando
força para se agarrar em quem as lê.
Esse último texto mesmo, não me sentia inspirado
por vários dias a melhorar a escrita burocrática que trazia
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constatações finais sobre o livro. Tem muita coisa que não
precisa ser escrita aqui. Quero que essas palavras só gerem
bons sentimentos em quem se permitir abrigar eles.
Já com o livro em andamento, participei da formação
do Conselho de Política Cultural de Três Coroas. Ao formar
o Conselho, criamos o regimento interno, onde fiz questão
de incluir o objetivo de fazer da cultura uma ferramenta para
movimentar a economia e desenvolver o turismo da cidade.
Além de fazer da cultura uma alternativa para melhorar a
qualidade de vida da população local. Os mesmos objetivos
nortearam esse projeto.

Admito que algumas vezes duvidei que esse livro pudesse


realmente acontecer. Escrever um livro era algo que parecia tão
distante. De tanto insistir, está aqui, pronto para ser criticado.
Espero que gostem.
Talvez já tenha se percebido, ou nem mesmo seja
importante. Mas gostaria de registrar que esse projeto tem
assinatura de um sagitariano entusiasta pela cidade de Três
Coroas.

Três Coroas, setembro de 2020

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