Híper Filosofia
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VERSÃO DIGITAL
IMPRESSÃO NÃO AUTORIZADA
ISBN 978-85-368-2200-6.
12-14030 CDD-370
148 HIPERCONHECIMENTO
Filosofia
HIPERCONHECIMENTO 149
Filosofia
1
vou muitos a serem seus discípulos. Para ele,
o problema da salvação da alma, abstendo-se
Capítulo de tudo o que não gerasse o bem – única
felicidade para o homem – era seu objetivo;
Introdução por isso o homem deveria conhecer a si pró-
prio. Seu método consistia em fazer pergun-
tas e analisar as respostas até a verdade ser
“F
ilosofia” é uma palavra grega. Atribui-se a Pi-
conhecida, processo chamado de maiêutica.
tágoras (séc. VI a.C.) a primeira utilização do
termo “filósofo” (philos – amigo, amante; so- Foi acusado de corromper a juventude e de
phia – sabedoria). Determinar em que consiste a ati- ateísmo e foi condenado à morte por enve-
vidade do filósofo é uma tarefa extremamente difícil, nenamento com Cicuta.
porque cada pensador, cada corrente de pensamento
dá uma resposta diferente. Em linhas gerais, pode-
mos dizer que seu objetivo é o conhecimento.
Estátua de
É possível defini-la como a ciência dos princípios e Sócrates
das causas. O princípio abarcaria a totalidade das ciên- esculpida
cias, mas o avançar dos conhecimentos particulares fez
segundo
que eles se distanciassem do tronco filosófico original.
Prova disso é que os primeiros filósofos eram, entre ou- descrição
tras coisas, matemáticos, astrônomos, naturalistas etc. fisionômica
a ele
A corrente positivista tem afirmado que a Filosofia atribuída.
constitui a intenção de racionalizar todos os aspectos (British
que afetam a vida do homem que, em função da época
Museum,
cronológica, não podem ser tratados cientificamente.
Londres)
150 HIPERCONHECIMENTO
Capítulo
Objeto da Filosofia
2
Platão
E
xistem várias opiniões entre os próprios filóso-
fos e as correntes filosóficas sobre o verdadeiro
objeto da Filosofia. Platão, filósofo grego, viveu entre 427e
Para Kant, a matéria de estudo da Filosofia é a teoria
347 a.C. Foi discípulo de Sócrates, viajan-
do conhecimento, mas com um enfoque diferente das
outras ciências, até quando se analisa o mesmo fenô- do pelo Egito, Cirene e Magna Grécia.
meno. Segundo ele, a Filosofia estuda a possibilidade do Recolheu a herança filosófica de seu
conhecimento, e as demais ciências simplesmente co- mestre e expôs o problema da verdade,
nhecem.
Os existencialistas afirmam que o objeto de estudo
que conduz ao da salvação da própria
filosófico (que não se qualifica como ciência) é o su- alma. Fundou em Atenas a Academia,
prarracional, o que não é razão. que só foi fechada por Justiniano, em
Para outros, o ponto central de seu desenvolvimen-
529 d.C. Dedicou grande parte de seu
to é o homem visto como fundamento e base de tudo.
Além dessas, existem outras teorias a respeito pensamento e tempo ao estudo da
de quais elementos pertencem exclusivamente ao política e, em seu livro A República,
campo filosófico, mas a mais consensual é o estudo dos manifestou suas ideias, como a de que
fundamentos, dos métodos, da antologia, dos problemas-
a política deve visar ao bem público. Seu
-limite e das questões fundamentais do homem, com uma
característica própria de estudar (chegar à raiz, à essên- pensamento exerceu grande influência
cia profunda), diferentemente das outras ciências. em Plotino e nos neoplotinos.
• Lógica
• Ética
• Filosofia Política
• Estética
• Metafísica
• Antropologia
• Cosmologia
• Epistemologia
HIPERCONHECIMENTO 151
Filosofia
3
Com Platão, estabelece-se a filosofia idealista.
A influência das doutrinas pitagóricas e eleáticas revela-se
Capítulo em suas colocações sobre a existência do mundo sensível
e do inteligível.
Um pouco mais tarde, descobre a realidade, juntamen-
A Filosofia grega te com Aristóteles.
Outro grande pensador desse período foi Aristóteles
(384-322 a.C.). Ele concebia a Filosofia como essencialmen-
A
filosofia grega foi dividida em quatro períodos:1o te teorística. O seu problema fundamental é o problema do
Pré-socrático (séc. VI - IV a.C.): problemas cosmo- ser, e não o problema da vida. O objeto próprio da Filosofia,
lógicos. Conhecido também como Período Natura- em que está a solução de seu problema, são as essências
lista. Os pré-socráticos, e dentro deles os jônios, estavam imutáveis e a razão última das coisas, isto é, o universo e o
convencidos de que havia uma matéria-prima da qual to- necessário, as formas e suas relações.
das as demais seriam compostas. Tratado de maneira não 3o Pós-socrático (séc. IV a.C. - VI d.C.): problemas mo-
mitológica, eles contribuíram para o surgimento de um es- rais. Conhecido também como Período Ético, é a fase em
pírito filosófico. Destacou-se nesse período Tales de Mileto que o interesse filosófico é voltado para os problemas mo-
(624-? a.C.), considerado o primeiro filósofo grego. rais, decaindo, entretanto, a metafísica.
Não deixou nada escrito, mas sabe-se que ensinava O conceito de Filosofia como norma de conduta é
ser a água a substância única de todas as coisas. encontrado na escola estoica, que deixa de lado a física e a
2o Socrático (séc. IV a.C.): problemas metafísicos. Co- lógica; a epicúrea, cuja doutrina se concentra no princípio
nhecido também como Período Sistemático ou Antropoló- do prazer como supremo bem; a acética, que opta por du-
gico, o mais importante da história do pensamento grego vidar da realidade do mundo exterior e renunciar à busca
(Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natu- da verdade, e, finalmente, a eclética, que toma de diversas
reza é integrado pelo interesse do princípio ético com base doutrinas uma série de princípios que se incorporam ao seu
no qual construíram os sistemas filosóficos. sistema único.
O interesse de Sócrates (469-399 a.C.) volta-se para 4o Religioso: assim chamado pela importância dada à
o mundo humano-espiritual, com finalidades práticas e religião. A busca filosófico-religiosa tinha caráter sincrético,
morais. Sócrates é o fundador da ciência moral. Cético a que tem em comum a aspiração ao conhecimento salvador
respeito da cosmologia e da metafísica, sua ciência possí- de Deus. Fizeram parte desse período os neopitagóricos, os
vel era a da prática, mas dirigida pelos valores universais. gnósticos e os neoplatônicos.
Para ele, o saber está interiorizado, firmado na famosa
frase: “Conhece-te a ti mesmo”, que, em seu pensamento,
significa precisamente consciência racional de si mesmo
para organizar racionalmente a própria vida. O que signi- Aristóteles
fica consciência da própria ignorância inicial e, portanto, a
necessidade de superá-la pela aquisição da ciência, ou seja, Aristóteles, filósofo e naturalista grego, nasceu
a ignorância é vista como método para chegar ao saber. em Estagira e viveu entre 384 e 322 a.C. Foi o
Platão (428 ou 427 - 348 ou 347 a.C.) foi discípulo de pensador que mais influenciou o pensamento
Sócrates, mas sua genialidade aflorou antes mesmo de co-
nhecer o mestre.
medieval europeu. Discípulo de Platão, siste-
Para Platão, a Filosofia também tem um fim prático, matizou a Lógica (Organon), notabilizando-se
moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. por isso, que é o instrumento para o correto
Esse fim prático se realiza intelectualmente por meio da
e seguro pensamento, criou a Metafísica,
especulação e do conhecimento da ciência. Platão, dife-
rentemente de Sócrates, estende tal indagação ao campo que estuda os princípios últimos e as causas
metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade. primeiras do conhecimento, sendo que o
mundo é composto
por substâncias e seus
Sócrates, considerado o maior filósofo de acidentes, em que as
todos os tempos, nunca deixou registrada substâncias se caracte-
sequer uma linha de sua obra. Costumava rizariam como suporte
caminhar descalço e não tinha o costume de para as qualidades.
tomar banhos. Em muitas ocasiões parava o Fundou, como Platão,
que quer que estivesse fazendo, ficando imó- um centro de estudos
vel por horas a fio, meditando sobre algum em Atenas, que foi
problema. denominado Liceu.
152 HIPERCONHECIMENTO
Capítulo
Filosofia cristã e medieval
4 Santo Tomás de Aquino
Natural de Roccasecca, Itália, Santo Tomás
de Aquino nasceu em 1225 e faleceu em
1274. Foi educado em Monte Cassino, es-
A
Filosofia cristã e medieval desenvolveu-se durante
a Idade Média, considerada a “Idade das Trevas”, tudou em Nápoles as artes liberais e entrou
ou seja, período no qual eram perseguidos todos na ordem dominicana, renunciando a tudo,
aqueles que elaborassem teorias contrárias àquelas que salvo à ciência. Dedicou-se, em seguida, ao
se fundiam com a doutrinação realizada pela fé católi-
ca. Nesse sentido, pensar no desenvolvimento do pensa- estudo da Teologia e da Filosofia.
mento filosófico em um período em que a prática de re- As obras de Tomás de Aquino podem ser
fletir era perseguida exige astúcia por parte dos filósofos divididas em quatro grupos:
que encabeçaram esse movimento, como Santo Tomás
1) Comentários; 2) Sumas;
de Aquino.
A ideia de subordinação do homem em relação à 3) Questões; 4) Opúsculos.
Deus acabou predominando durante muito tempo o A verdade lógica não está nas coisas nem
pensamento filosófico medieval. sequer no mero intelecto, mas na adequa-
O pensamento filosófico da Idade Média caracte-
ção entre a coisa e o intelecto. O sinal pelo
rizou-se pela preocupação em conciliar a razão com a
fé, tentando harmonizar a herança da filosofia greco- qual a verdade se revela à nossa mente é a
-romana com os dogmas do cristianismo. Nessa época, evidência. A forma é a essência das coisas
a conceituação da Filosofia estava na dependência, so- – água, ouro, vidro – e é universal. Tomás
bretudo, das delimitações entre os territórios da religião
e da especulação filosófica, o que foi feito de diversas sustentou que Deus pode demonstrar-se
maneiras. unicamente mediante a razão, partindo da
A partir do século XI, aprecia-se um ressurgir natural experiência.
na Europa Ocidental, depois de um período em que a cul-
tura ficou confinada aos monastérios, determinado tam-
bém pelo fim das invasões e de um retorno ao intercâm-
bio pelo Mediterrâneo. Nesse contexto, podemos registrar
a presença de Roger Bacon (1210-1292) e Santo Tomás de
Aquino (1224-1274), que representou o ponto culminante
para a escolástica quando procurou adaptar as ideias aris-
totélicas à dogmática cristã.
Santo Tomás de
Aquino tornou
o trabalho de
Aristóteles aceitável
na Europa Ocidental
cristã por meio
de sua metafísica.
Deduziu que a
existência de Deus
poderia ser vista na
natureza.
HIPERCONHECIMENTO 153
Filosofia
5
formidade com as coisas e com a inteligência geradora,
da qual dependem: verdade lógica, que está de acordo
Capítulo com o pensamento e a ação; e verdade moral, que está
de acordo com o que se pensa e o que se diz; portanto, a
verdade é um valor ao qual todo ser humano busca.
Razão, verdade,
conhecimento e lógica
Maquiavel
D
e modo abrangente, podemos dizer que razão é
o poder do conhecimento intelectual, oposto à Niccolau Maquiavel, historiador e políti-
sensibilidade, é o poder de raciocinar, de ascender
co italiano, nasceu em 1469 e faleceu em
às ideias, pressupondo quatro termos que fazem parte da
Filosofia: certeza, lucidez, motivo e causa, sendo deno- 1527, vivendo em Florença no tempo dos
minada por luz e luz natural. Existem a razão subjetiva e a Médici. A Itália, na sua época, possuía um
razão objetiva. A primeira é a sustentação de que o objeto poder fragmentado, o que a levava a ser
do conhecimento é racional, e a segunda sustenta que o
uma presa fácil de outros povos estrangei-
sujeito do conhecimento e da ação é racional.
ros, por isso escreveu, em O Príncipe (1513),
A razão pressupõe quatro princípios: uma apologia de razão de Estado. A partir
dele, teve início a ciência política como a
1 Princípio de identidade;
compreendemos hoje, pois em seu livro é
2 Princípio da não contradição; apresentada a necessidade de o governan-
te possuir o apoio do povo; além disso, o
3 Princípio do terceiro excluído;
príncipe tem de ser um indivíduo especial,
dotado de força, valor e qualidade de lutar,
4 Princípio da razão suficiente.
representando as tendências políticas de
Esses princípios apresentam algumas caracterís- seu tempo, quando se constituem as mo-
ticas essenciais:
narquias.
• não têm conteúdo delimitado;
• têm valor universal;
• são imprescindíveis para o pensamento, vontade,
fatos e acontecimentos.
ATIVIDADE RACIONAL
A atividade racional engloba dois tipos: a ativi-
dade racional discursiva e a atividade racional intuitiva.
A primeira abrange a dedução (raciocínio que vai do
geral ao particular), a indução (raciocínio que vai do
específico, isto é, de dados particulares, para o geral) e
a abdução (espécie de intuição, mas que não ocorre de
uma só vez, indo gradualmente até chegar a uma con-
clusão); já a segunda abrange a intuição (conhecimen-
to imediato, feito sem intermediários, que é, portanto,
um ato intelectual de entendimento).
A corrente filosófica que defende o uso da razão é cha-
mada de corrente racionalista. Nessa corrente, a razão é
sempre utilizada em nome do interesse coletivo, princi-
palmente do planejamento da organização econômica de
uma sociedade. Os principais racionalistas, expoente da filo-
sofia são René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz.
Verdade
É a conformidade entre o conhecimento e o objeto,
dividindo-se entre verdade metafísica, que está em con-
154 HIPERCONHECIMENTO
6
O pensamento é a atividade racional do homem e
divide-se em pensamento teórico e pensamento prático.
Capítulo O primeiro tem por objetivo o entendimento conceitual do
mundo e o segundo busca estruturar a realidade. Pode ser
ele mítico ou lógico: é mítico quando faz parte da área de
Conhecimento atuação do pensamento simbólico, por meio de uma nar-
rativa, que encerra uma verdade, seja ela real, seja valorizada
D
esde o início da Filosofia, a preocupação com o pela imaginação popular; e é lógico quando produz concei-
conhecimento foi constante, tanto que desde De- tos de modo diverso e mesmo contrário ao do pensamento
mócrito, que desenvolveu uma teoria sobre o ser ou mítico, isto é, quando é realizado conforme os princípios de
sobre a natureza, o conhecimento está presente, e, por cau- identidade, contradição, razão e casualidade.
sa disso, gerou-se a Teoria do Conhecimento; isto é, uma
construção intelectual para explicar o conhecimento. Para
Bacon, o conhecimento humano seria reformado por meio
do crescimento dos conhecimentos e das técnicas, das
ciências e da própria Filosofia. Locke foi o criador da Teoria
do Conhecimento propriamente dita porque observou mi-
nuciosamente cada uma das formas do conhecimento que
temos; portanto, ele é basicamente uma reação do organis-
mo a um impulso conveniente.
PERCEPÇÃO E MEMÓRIA
A percepção e a sensação são dois modos essenciais
do conhecimento sensível. Dentro dessa dimensão, o em-
pirismo e o intelectualismo são duas correntes filosóficas
que as concebem, pois, para os empiristas, a sensação é ele-
mento da percepção sensorial, e tanto ela como a percep-
ção são causadas por estímulos externos que atuam sobre
os sentidos e o sistema nervoso; já para os intelectualistas,
tanto uma como outra dependem do sujeito do conheci-
mento e da coisa externa, que são somente fatores para que
a sensação e a percepção ocorram.
A memória é a lembrança do passado, é a qualidade
que tem o homem para segurar o tempo que já passou.
Ela, para os antigos gregos, caracterizava-se como uma
entidade sobrenatural. Filósofos como Bergson diferen-
ciaram dois tipos de memória: a memória hábito (adqui-
rida pela atenção deliberada e pela repetição de gestos
e palavras) e a memória pura (não tem necessidade de
repetição para guardar uma lembrança), a qual possui
dentro da relação memória e teoria do conhecimento al-
gumas funções, como a retenção de uma informação da
percepção, seja pela experiência, seja pelo conhecimento
adquirido, e a faculdade para lembrar o passado a partir
do tempo presente.
IMAGINAÇÃO E PENSAMENTO
A Filosofia sempre entendeu a importância da imagi-
nação, colocando-a como um subterfúgio do objeto que se
percebe e que fica retido em nossa consciência, sendo, por-
tanto, a capacidade de gerar imagens na mente, voltando a
vivenciar experiências perceptivas que passaram, combi-
nando, de forma livre, informações dessas experiências. Da
relação imaginação e teoria do conhecimento, a primeira
tem dois lados: de um, é subsídio importante para o conhe-
cimento da verdade, e, de outro, é um perigo muito grande
para o conhecimento verdadeiro.
HIPERCONHECIMENTO 155
Filosofia
Capítulo
Lógica
7 Capítulo
Desenvolvimento da Filosofia
8
A
lógica é entendida como a parte da Filosofia que A MODERNIDADE
estuda definições do pensamento segundo a sua
forma (conceitos, juízo, raciocínio) e suas relações Como evolução natural das características históri-
mútuas; portanto, trata do estudo que fixa normas para as cas que configuram a Baixa Idade Média, desenvolve-se
condições da verdade (do resultado e da verdade da argu- uma etapa, que inclui os séculos XV e XVI, conhecida
mentação). Foi sistematizada por Aristóteles e constituiu- como Modernidade.
-se durante toda a Idade Média como matéria essencial ao Nesse período, desenvolve-se na política xa monar-
lado da Filosofia e da Teologia, e na Idade Moderna teve quia autoritária, os avanços científicos são conhecidos
grande predomínio, pois ligou-se de forma íntima ao (Copérnico, Kepler, Galileu) e novas formas estéticas já
método e à ciência matemática. A lógica matemática ou não estão exclusivamente a serviço do religioso. A es-
simbólica visa superar as dificuldades de qualquer língua, colástica, característica da Idade Média, entra em crise.
por isso foi criada uma linguagem simbólica artificial, cujo
precursor foi Frege, no fim do século XIX, e que foi desen- Os representantes que mais se destacaram nesse
volvida no século XX por Bertrand Russell e Whitehead. A período foram:
lógica dialética fundamenta-se no princípio de identidade, • Descartes (1596-1650), que inaugurou a tradição
isto é, parte de uma concepção estática da realidade. racionalista e postulou uma verdadeira investi-
De acordo com Aristóteles, a lógica é dividida em ló- gação pessoal, cujo desenvolvimento propôs o
gica formal, ou menor, e lógica material, ou maior; e a pri- seguinte método: reunir em si o rigor da lógica
meira fixa a forma certa das operações do pensamento, e a formal e das matemáticas, usando as quatro regras
segunda é a parte da lógica que estuda o emprego segundo fundamentais – não aceitar como certo o que não
a matéria ou qualidade dos objetos a conhecer. resulte evidente à compreensão; analisar os pro-
A proposição é a significação lógica do juízo, a ar- blemas decompondo-os em seus elementos cons-
gumentação é o ato pelo qual o espírito adquire um novo titutivos; chegar à síntese partindo dos elementos
conhecimento, e a dedução, a indução, a analogia e a intui- simples e remontando-se progressivamente aos
ção são elementos da lógica, sendo que a última pode ser mais complexos; proceder a enumeração e a re-
dividida em intuição sensível, intuição racional, intuição visão da forma mais completa possível dos resul-
psíquica, intuição mística, intuição inventiva e intuição tados da investigação, a fim de certificar-se de que
metafísica. não incorreu em omissão.
A lógica é uma das áreas da filosofia que mais foi apro-
priada pela Matemática. Atualmente, exercícios de lógica
que envolvem estratégias, suposições e pensamento racio-
nal são amplamente utilizados como métodos de ensino Descartes
da Matemática.
René Descartes nasceu em Touraine, em
1596. Foi educado pelos jesuítas e faleceu
em Estocolmo, em 1650. Hoje é considera-
do o criador do racionalismo moderno e da
moderna filosofia, principalmente por causa
do seu método crítico e subjetivo, dedutivo
e matemático. Possui obras filosóficas e seu
método cartesiano pode ser entendido por
meio de quatro momentos: intuição, análise,
síntese enumeração completa. Para ele, a
alma espiritual é tirada do pensamento e a
existência de Deus é tirada por meio da alma
que pensa, por meio da ideia de perfeito.
156 HIPERCONHECIMENTO
• Spinosa (1632-1677), que achou um fim em Des- Representantes do Iluminismo: Jean-Jacques Rous-
cartes que seria o ponto de partida para sua espe- seau (1712-1778), autor da novela pedagógica Emílio, em que
culação, cuja centralização é no problema da subs- expõe como deve ser a educação da criança desde a mais ten-
tância, tal como via Descartes: a substância é o que ra idade, incluindo conselhos sobre como criar filhos.
é em si e concebe-se por si. Escrita em 1754, a obra O Discurso sobre a origem e
• Leibniz (1646-1716), cuja preocupação essencial os fundamentos da desigualdade entre os homens é consi-
era estruturar organicamente as relações entre a derada por muitos filósofos a principal obra de Rousseau.
tradição religiosa e a nova perspectiva do mundo Além de abordar temas políticos e filosóficos a respei-
do século XVII. to da relação homem-sociedade, explica também de
modo muito particular como o indivíduo pode con-
Já dentro do empirismo, versão inglesa do racio- servar sua bondade natural. A teoria de Rousseau sus-
nalismo, encontramos como precursor Francis Bacon tenta que ‘o homem é bom, a sociedade o corrompe’.
(1561-1628), que ambicionou repassar o aristotelismo Propunha a igualdade e a conciliação das liberdades indivi-
pelo seu próprio método. duais e as exigências da vida social, tudo presidido por uma
• Thomas Hobbes (1588-1679), fundamentado em ordem natural.
uma base cartesiana, chega a uma concepção ma- Voltaire (1694-1778), moralista, menos filósofo que
terialista do mundo. Além de John Locke (1632- Rousseau, rechaçou o obscurantismo, em que não via
1704), Berkeley (1685-1753) e Hume (1711-1776). muita saída para o homem, a não ser pela sã razão, clarifi-
cadora e ilustrada.
Da esquerda para
a direita, René
Descartes, Thomas Rousseau
Hobbes e Leibniz.
Jean-Jacques Rousseau, filósofo e escri-
tor suíço de língua francesa, nasceu em
Genebra, em 1712, e faleceu em 1778,
tendo vivido desde 1742 em Paris. Lá fez
amizade com o grupo de Diderot, ao qual
pertenciam, entre outros, D’Alembert e
Voltaire, os quais ficaram sendo conhe-
cidos como os enciclopedistas. Como
na França existiam as ideias liberais que
O Iluminismo culminaram na Revolução Francesa, sua
No pensamento iluminista, a razão é sinônimo de obra teve grande influência sobre esse
todas as forças espirituais fundamentais e independen- fato. Sua tese é a de que o homem é bom
tes. A manifestação axial desse período é a Enciclopé-
por natureza e quem o corrompe é a
dia, publicação que tem por objeto todos os conheci-
mentos da época e sua divulgação. Aparece entre 1751 sociedade, sendo que a vontade do povo
e 1780, editada por Diderot e D’Alembert, e dentre seus é a única origem da hegemonia das leis
colaboradores encontram-se Voltaire, Rousseau etc. No e, conforme sua obra O Contrato Social,
espírito enciclopedista confluem várias tendências,
que vão do deísmo inglês, que propunha uma religião este deve originar-se do consentimento
natural, desprovida de dogmas e ritos, às ideias dos re- de todos.
presentantes da primeira ilustração francesa.
O idealismo alemão
O pensamento de Kant (1724-1804), criador do Idealis-
mo crítico, admite a ciência universal, desde que haja um
conhecimento integrado apriorístico das coisas ou obje-
tos da possível experiência. Sua ideia era sintetizar as duas
correntes filosóficas da modernidade: o racionalismo e o
empirismo. Sua obra expressa com claridade e exatidão o
Da esquera para direita: Diderot, D’Alembert caráter autônomo da razão tal como a concebem os ilumi-
e Rousseau. nistas do século XVIII.
HIPERCONHECIMENTO 157
Filosofia
A superação do kantismo ocorre com Hegel (1770-1831). O pensamento hegeliano (que não se propõe de-
Sua filosofia tem, como poucas, uma clara, concreta e rica finir um ideal mais ou menos acessível, apenas com-
importância político-social que se alimenta e vive em estreita preender a realidade) influenciou a filosofia de nosso
relação com os acontecimentos de seu tempo; repensa e re- tempo, e, sem dúvida, o estudo e a interpretação de
sume toda a tradição ocidental e elabora uma teoria sobre a sua obra equivalem a enfrentar-se os problemas cru-
realidade na multiplicidade de suas formas e aspectos. ciais contemporâneos.
O materialismo e o positivismo
Em meados do século XIX, percebe-se um interesse
pela realidade imediata.
Stendhal e Balzac podem considerar-se os inicia-
Capa da dores dessa corrente, que culmina com o naturalismo
maior de Zola.
obra de
Immanuel Nesse cenário, surgiu Karl Marx (1818-1883). Depois
Kant: de se interessar pela filosofia de Hegel, conheceu En-
Crítica gels e estudou os economistas, materialistas e socialis-
da Razão
Pura tas utópicos franceses e, com base nisso, desenvolveu
(1787). sua teoria.
Marx aplicou o termo dialética à sua interpretação
da História: o método dialético aplica-se a uma realidade
objetiva para analisar seus aspectos e elementos contra-
ditórios, assim como as conexões entre eles, e chegar a
estabelecer sua unidade no conjunto de seu movimento.
Viu a alienação sob uma perspectiva sociológica: resulta
das condições a que as coletividades humanas estão sub-
metidas como consequência da divisão social do trabalho.
Os mecanismos sociais, alheios ao domínio racional dos
homens, engendram doutrinas enganosas (códigos mo-
rais e religiões). O marxismo implica a crítica dos sistemas
morais do passado, fruto das condições de existência que
a dinâmica histórica invalida constantemente.
Kant
Immanuel Kant, filósofo alemão de Königs-
berg, nasceu em 1724 e faleceu em 1804.
Sempre teve interesse pela ciência newto-
niana, já elaborada. Escreveu o livro Crítica
da Razão Pura, que apresenta a matéria do
conhecimento, por meio da experiência
realizada depois do fato e as formas do co-
nhecimento que não dependem de expe-
riência anterior e que se realizam sempre
questionando se existe uma razão pura que
não dependa de experiência. Para ele, o
correto é que o conhecimento deveria vir de
critérios universais, da mesma forma que a
experiência sensível. Seu pensamento ficou
conhecido como idealismo transcendental,
colocando na expressão transcendental tudo
o que é anterior à experiência. Ele acredita
que a religião depende da ética, e a existên-
cia de Deus é deduzida da lei moral.
Auguste Comte.
158 HIPERCONHECIMENTO
Como fundador do positivismo, temos Auguste Comte Uma célebre frase de Marx sobre a filosofia inspi-
(1798-1857), filósofo francês. O núcleo da filosofia positi- ra sua teoria de crítica à sociedade vigente, incitando
vista é a chamada lei dos três estágios (teológico, meta- `transformação social: “Os filósofos se limitaram a in-
físico e positivo), que se traduz em uma nova periodização terpretar o mundo de diversas formas. O que importa é
do processo histórico e uma nova classificação das ciências. transformá-lo”.
Para os existencialistas, o homem está condenado a
O existencialismo ser livre. Portanto, todas as ações humanas são possíveis
e nos dão direito à escolha, o que revela que o homem
O existencialismo não constitui propriamente uma é um ser com autonomia moral, política e existencial,
escola filosófica, mas sim uma tendência do pensamen- além de ter responsabilidades sobre seus atos. A liberda-
to contemporâneo, justificável pela atmosfera política e de é, portanto, uma condição inseparável da existência
cultural do século XX – século de tensões e de questio- humana.
namento de valores. Como filosofia, volta-se preferen-
cialmente para a questão da existência humana. Outras correntes e filosofias do século XX
O existencialismo opõe-se ao otimismo idealista e
positivista e aplica à investigação da realidade métodos No início do século XX, houve um novo flores-
assemelhados com a fenomenologia. cimento do pensamento neokantiano na Alemanha.
Na Inglaterra, seus filósofos divergem da maneira de
enfrentar o problema metafísico. Têm em comum a
Marx reação contra o idealismo hegeliano e a abordagem
de complexos problemas lógicos, matemáticos e epis-
Karl Marx, filóso- temológicos. Nesse contexto estão Moore e Russel.
fo e economista Como representante do realismo crítico, nos Estados
socialista Unidos aparece Santarjana.
Após a morte de Marx, sua teoria é reinterpretada por
judeu-alemão, vários pensadores: Kautsky, Lukács, pelo italiano Grams-
nasceu em ci (1891-1937), que traz um novo enfoque do marxismo
1818 e faleceu ao propor uma síntese entre a versão leninista daquela
em 1883. doutrina e a tradição filosófica ocidental, num cená-
rio italiano. Althusser (1918-1990) elabora sua própria
versão: aplica o método estruturalista ao pensamento de
Estudou Direito Marx, livrando-o de confrontos ideológicos.
e Filosofia e, A filosofia do fim do século XX deu um grande
migrando para destaque à investigação e ao estudo dos problemas do
homem.
Entre os campos de análise filosóficos figuram te-
Paris e depois para Bruxelas, tornou-se mas como a violência do homem, o terrorismo, a políti-
amigo de Engels e escreveu com ca do meio ambiente e as mudanças sociais produzidas
pelo avanço da tecnologia. A filosofia intercultural é
ele o Manifesto Comunista, sendo o
também abordada em diversos estudos.
criador do materialismo histórico e do
socialismo científico. Para ele, o homem
é um sujeito portador de necessidades
e que, para satisfazê-las, organiza-se
para produzir bens. A categoria
fundamental (ponto de partida)
não é o sujeito nem o objeto, e sim a
relação estabelecida entre eles, sendo
o trabalho transformador a categoria
fundamental da História. Da esquerda
para direita,
Sartre, Russel,
Kierkegaard (1813-1855) é considerado seu fun- Lukács, Gramsci,
dador e Jean-Paul Sartre (1905-1980), é uma as figuras
Althusser.
exponenciais do existencialismo. Suas ideias têm in-
fluenciado várias doutrinas políticas.
HIPERCONHECIMENTO 159
Filosofia
Exercícios
Em contrapartida, a Filosofia:
a) Admite contradições, fabulações e coisas incom-
preensíveis;
5 (UFU) Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo
que se supor sábio quem não o é, porque é supor que
sabe oque não sabe. Ninguém sabe o que é a morte,
b) Narra a origem das coisas por meio de genealogias e nem se, porventura, será para o homem o maior dos
rivalidades ou alianças entre forças sobrenaturais; bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o
160 HIPERCONHECIMENTO
EXERCÍCIOS
maior dos males. A ignorância mais condenável não d) Era o único jeito de fazer filosofia na época, assim, os
é essa de supor saber o que não se sabe? (Platão, A argumentos eram escritos como dialogo filosófico;
Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P.O que é a
Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola,1999, p. 61.)
Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates,
assinale a alternativa INCORRETA:
8 (UEG) O surgimento da filosofia entre os gregos (Séc.
VII a.C.) é marcado por um crescente processo de ra-
cionalização da vida na cidade, em que o ser humano
a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua abandona a verdade revelada pela codificação mítica
missão, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a ver- e passa a exigir uma explicação racional para a com-
dade, para além da mera aparência do saber. preensão do mundo humano e do mundo natural.
b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo- Dentre os legados da filosofia grega para o Ocidente,
-o tomar consciência das contradições que traz consigo. destaca-se:
c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos ou- a) a concepção política expressa em A República, de
tros que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a Platão, segundo a qual os mais fortes devem governar
todo custo, ainda que defendendo uma opinião não sob um regime político oligárquico.
devidamente examinada. b) a criação de instituições universitárias como a Acade-
d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colo- mia, de Platão, e o Liceu, de Aristóteles.
cado diante da própria ignorância, admite que nada c) a filosofia, tal como surgiu na Grécia, deixou-nos
sabe. Admitir o não-saber, quando não se sabe, define como legado a recusa de uma fé inabalável na razão
o sábio, segundo a concepção socrática. humana e a crença de que sempre devemos acreditar
nos sentimentos.
HIPERCONHECIMENTO 161
Filosofia
Com base no enunciado e considerando o itinerário a) Monarquia Censitária
seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento, b) Monarquia Absoluta
é correto afirmar: c) Sistema Parlamentar
a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser dis- d) Despotismo Esclarecido
cerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos e) Sistema Republicano
são falhos e limitados, portanto o conhecimento se-
guro detém-se nas opiniões que se apresentam certas
e indubitáveis.
b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-
13 (Fuvest) No início do século XVI, Maquiavel escre-
veu O Príncipe - uma célebre análise do poder po-
lítico, apresentada sob a forma de lições, dirigidas
-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias ao príncipe Lorenzo de Médicis. Assim justificou
coisas que são percebidas de acordo com as circunstân- Maquiavel o caráter professoral do texto:
cias em que ocorrem os fenômenos observados. Não quero que se repute presunção o fato de um ho-
c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência mem de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre
do conhecimento, uma vez que somente as coisas o governo dos príncipes; pois assim como os [cartógra-
percebidas por meio da experiência sensível possuem fos] que desenham os contornos dos países se colocam
existência real. na planície para considerar a natureza dos montes, e para
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que considerar a das planícies ascendem aos montes, assim
se pode observar no debate perpétuo e universal so- também, para conhecer bem a natureza dos povos, é ne-
bre o conhecimento das coisas, sendo a existência de cessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é
Deus a única certeza que se pode alcançar. necessário ser do povo. (trecho adaptado).
e) A condição necessária para alcançar o conhecimento Ao justificar a autoridade com que pretende ensinar
seguro consiste em submetê-lo sistematicamente a um príncipe a governar, Maquiavel compara sua missão à
todas as possibilidades de erro, de modo que ele re- de um cartógrafo para demonstrar que
sista à dúvida mais obstinada. a) o poder político deve ser analisado tanto do ponto de
vista de quem o exerce quanto do de quem a ele está
162 HIPERCONHECIMENTO
EXERCÍCIOS
TEXTO I
HIPERCONHECIMENTO 163