Aula 1 - Uveítes

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UVEÍTES

Dra. Caroline Franco Machado


INTRODUÇÃO
• Significado: inflamação da úvea (íris, corpo ciliar e coroide)

• 10% dos pacientes com cegueira legal no mundo

• Pode acometer pacientes de qualquer idade

• No Brasil: 15,7% dos pacientes que frequentam instituições de


reabilitação visual

• Possíveis causas são: doenças infecciosas, inflamatórias ou


secundárias como trauma, neoplasias, etc
CLASSIFICAÇÃO
PRECIPITADOS CERÁTICOS (PKs)
• Aglomerados celulares localizados na superfície posterior da
córnea

• Podem ser granulomatosos e não granulomatosos

• Coloração acinzentada com uma rede de fibrina entre eles


sugere ser recente, enquanto a coloração pigmentada sugere
ser mais antigo
ATIVIDADE DA INFLAMAÇÃO OCULAR
• Pode ser mensurada de acordo com a quantidade de células
presentes na câmara anterior

• Para quantificá-la, a luz da lâmpada de fenda é regulada em


sua intensidade máxima, usando-se a fenda de 1x1 mm e
direcionando-se o raio de luz em um ângulo oblíquo ao plano
iriano de 45-60 graus
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Sinais e sintomas variam de acordo com a causa específica da
uveíte e o sítio primário de inflamação

• Uveítes anteriores agudas: dor, fotofobia, hiperemia ocular e


visão embaçada

• Uveítes anteriores crônicas: leve diminuição da acuidade


visual às vezes secundária a complicações como edema
macular, catarata ou ceratopatia em faixa
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Uveítes intermediárias: opacidades no campo visual e moscas
volantes eventualmente com baixa acuidade visual

• Uveítes posteriores: perda de visão, moscas volantes,


fotopsias, metamorfopsias, escotomas, nictalopia ou uma
combinação das queixas anteriores
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• No Brasil, as causas infecciosas são responsáveis pela maioria
dos casos de uveítes, seguidas pelas causas inflamatórias

• Artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite


idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistêmico, doença de
Behçet e sarcoidose podem apresentar a uveíte como
primeira e única forma de manifestação ocular

• Causas secundárias, como trauma, síndromes mascaradas


como linfoma intraocular ou metástases podem causar
quadros sugestivos de uveíte
UVEÍTES ANTERIORES
UVEÍTE ANTERIOR ASSOCIADA AO HLA-B27
• Uveíte anterior não granulomatosa, sinequiante bilateral e
assimétrica

• Acomete principalmente homens jovens, acometendo


alternadamente os olhos

• Mais de 50% dos pacientes tem uma doença sistêmica


associada como espondilite anquilosante, síndrome de Reiter,
doença inflamatória intestinal ou artrite psoriásica

• Além dos sintomas oculares, os pacientes podem queixar-se


de dor lombar, artrite, psoríase, diarreia crônica e uretrite
UVEÍTE ANTERIOR ASSOCIADA AO HLA-B27
• A uveíte é aguda e recorrente, mas pode ser crônica

• Sintomas na fase aguda são intensos, com muita hiperemia


conjuntival, fotofobia e dor

• Uma intensa reação de câmara anterior com hipópio


geralmente fibrinoso pode ser observada, assim como
sinéquias posteriores

• Tratamento: corticóides tópicos ou perioculares,


midriáticos/cicloplégicos e corticoides sistêmicos
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL
• Uveíte anterior bilateral, não granulomatosa, sinequiante,
crônica, geralmente assintomática

• Acomete principalmente meninas com artrite idiopática


juvenil oligoarticular

• Pode não ser percebida pela família, pois os olhos não ficam
inflamados externamente e não há sintomas dolorosos

• Muitas vezes é diagnosticada somente quando há


complicações como catarata, ceratopatia em faixa e glaucoma

• Tratamento: corticóides e midriáticos tópicos além de


corticóides sistêmicos e imunossupressores
HERPES SIMPLES
• Uveíte anterior granulomatosa ou não granulomatosa,
geralmente unilateral, recorrente

• Edema de córnea com PKs atrás do edema e transiluminação


setorial de íris

• Associada ou não à ceratite e aumento da pressão intraocular

• Podem-se formar neovasos estromais corneanos profundos

• Tratamento: antivirais sistêmicos e cicloplégicos/midriáticos

• Também pode causar uma uveíte posterior


UVEÍTES INTERMEDIÁRIAS
DEFINIÇÃO
• São classicamente descritas como aquelas que têm o vítreo
como sítio primário de inflamação

• Com frequência apresentam muitas alterações vasculares e de


polo posterior, com edema macular

• Pode apresentar associação com esclerose múltipla,


sarcoidose, tuberculose, doença de Lyme, HTLV-1, sífilis e
outras doenças
PARS PLANITE
• Toda uveíte intermediária idiopática recebe o nome de pars
planite

• É o tipo de uveíte mais relacionado ao edema macular


cistóide (complicação)

• Inflamação é muitas vezes assintomática e pode ser percebida


apenas quando há complicações

• Sintomatologia principal é a de opacidades flutuantes no


campo visual
PARS PLANITE
• Classicamente é uma doença crônica, mais freqüente em
mulheres jovens

• Os sinais incluem células vítreas, snowballs, condensações


vítreas arredondadas que se situam principalmente no vítreo
inferior e snowbanking, condensação vítrea maciça em forma
de bancada na periferia inferior retiniana

• Tratamento: esteróides perioculares ou intraoculares


SARCOIDOSE
• Doença granulomatosa sistêmica, crônica, de etiologia
desconhecida

• Menos frequente em indivíduos da raça negra

• O acometimento sistêmico é principalmente pulmonar, e em


até 50% dos casos podem ter comprometimento ocular

• Geralmente estes pacientes apresentam anergia ao teste de


PPD e tem história prévia de eritema nodoso ou rash cutâneo
SARCOIDOSE
• Pode acometer qualquer parte do olho, incluindo pálpebras e
glândula lacrimal

• Forma mais comum de acometimento ocular é a uveíte


granulomatosa bilateral, podendo esta ser anterior,
intermediária, posterior ou pan-uveíte

• O diagnóstico presumido de sarcoidose ocular é feito quando


não há sinais de doença extraocular e o definitivo é realizado
mediante a demonstração de granulomas não caseosos nos
tecidos biopsiados

• Esteróides são a base do tratamento


UVEÍTES POSTERIORES
TOXOPLASMOSE
• Causada pelo Toxoplasma gondii

• Protozoário adquirido pela ingestão de carne de porco ou


frango mal passada, águas e alimentos contaminados por
fezes de gato ou via transplacentária

• Principal causa de uveíte posterior no Brasil e no mundo

• Infecção sistêmica: percebida como uma gripe e muitas vezes


é assintomática
TOXOPLASMOSE
• Toxoplasmose ocular congênita ocorre quando a mãe adquire
a infecção durante a gravidez

• Acometimento ocular clássico: recém-nascido apresenta


lesões de retinocoroidite macular em roda de carroça

• Principal forma de evitar a toxoplasmose ocular congênita é


educar as mães sobre a forma de contágio e orientações em
relação à alimentação
TOXOPLASMOSE
• Toxoplasmose ocular adquirida: uveíte posterior com
retinocoroidite necrosante exsudativa, classicamente
adjacente a uma cicatriz de toxoplasmose prévia, com vitreíte
localizada principalmente acima da lesão

• Sintomas visuais dependem da localização da lesão na retina,


mas em geral os pacientes queixam-se de moscas volantes,
seguido por baixa acuidade visual
TOXOPLASMOSE
• Tratamento clássico: sulfadiazina 4g/dia, pirimetamina
25mg/d + ácido folínico e corticóides quando necessário

• Tratamento também pode ser feito com a combinação de


sulfametoxazol 800mg + trimetropim 160mg
TUBERCULOSE
• Endêmica no Brasil, é uma doença granulomatosa sistêmica
causada pelo Mycobacterium tuberculosis

• Principal forma de apresentação é a tuberculose pulmonar,


entretanto, pode disseminar-se via hematogênica e causar
infecção em outros órgãos

• Manifestações oculares diversas, e podem envolver pálpebra,


conjuntiva, íris, retina e até o nervo óptico

• Classicamente pode apresentar-se como uma uveíte anterior


granulomatosa, intermediária ou posterior (forma mais
comum)
TUBERCULOSE
• O teste PPD (purified protein derivative) é um teste de
triagem que avalia exposição prévia á micobactéria e
pode auxiliar no diagnóstico de TB ocular

• PPD> 15mm: considerado positivo em pacientes sem


fatores de risco

• Tratamento para a doença de base

• Ministério da Saúde recomenda tratamento por seis


meses
CITOMEGALOVÍRUS
• Retinite causada pelo citomegalovírus (CMV) é a principal
doença ocular relacionada ao HIV

• Atualmente houve um declínio na incidência, variando de 5 a


10% em diferentes países

• Pacientes que desenvolvem retinite por CMV geralmente


apresentam CD4 <50/µL (média de 17/µL)

• Baixa acuidade visual associada a moscas volantes e perda de


campo visual, mas pode ser assintomática em 15% dos casos
CITOMEGALOVÍRUS
• Quadro clínico: retinite necrosante não exsudativa que se
inicia ao redor dos vasos e progride centrípetamente,
geralmente associada a hemorragias (lesão em “queijo com
catchup”)

• Comprometimento anterior leve, com pouca ou nenhuma


reação de câmara anterior e PKs finos no endotélio + vitreíte
leve

• As lesões cicatrizam deixando a retina atrófica e predispondo


a descolamento de retina

• Tratamento padrão: agentes antivirais como ganciclovir,


foscarnet, cidofovir endovenosos e valganciclovir oral
PANUVEÍTES
DOENÇA DE BEHÇET
• Vasculite oclusiva não granulomatosa sistêmica crônica

• Etiologia desconhecida, associada ao HLA-B51

• Mais frequente na Ásia, oriente médio e também no Brasil

• Diagnóstico é clínico e envolve a presença de úlceras orais


dolorosas, úlceras genitais, uveíte, assim como alterações
cutâneas
DOENÇA DE BEHÇET
• Até cerca de 80% dos pacientes apresentam acometimento
ocular

• Geralmente bilateral e assimétrico (95% dos casos)

• Pode acometer segmento anterior (iridociclite), posterior


(vasculite retiniana) ou ambos

• Uveíte, observada em 70% dos pacientes com


comprometimento sistêmico, pode ser o primeiro sintoma da
doença

• Geralmente é uma pan-uveíte bilateral com hipópio móvel e


vasculite dos vasos retinianos
DOENÇA DE BEHÇET
• Doença completa: 4 critérios maiores

• Incompleta: 3 critérios maiores ou 1 critério maior associado a


envolvimento ocular

• Suspeita: 2 critérios maiores sem envolvimento ocular

• Possível: 1 critério maior


OBRIGADA!

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