Padmasambava - Tesouros Do Pico Do Junipero
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Tesouros do
Pico do Junípero
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EMAHO
Nascido do Lótus, imutável como um vajra é a sua forma.
A sua voz dos conquistadores é livre de ego, os tons do
Darma ressoam.
Onisciente é a sua mente, uma fonte de tesouros de tudo
que é profundo.
A você, meu senhor e salvador de todos os seres, eu me
prostro com reverência.
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Sumário
Sumário .......................................................................................................................... 3
Prefácio do Tradutor........................................................................................................ 4
Ensinamentos Introdutórios ............................................................................................ 7
1) Conselho sobre Como Praticar as Instruções Profundas ............................................ 15
2) O Estado Desperto Autoliberado................................................................................ 17
3) As Vinte e Uma Instruções Essenciais ....................................................................... 22
4) A Instrução ‘Apontando para a Velha Senhora’ .......................................................... 34
5) Descer Mantendo a Visão Superior ............................................................................ 39
6) A Guirlanda de Cristal da Prática Diária ................................................................... 55
7) A Guirlanda Dourada Preciosa de Instruções de Meditação ....................................... 76
8) O Ciclo de Pontos Essenciais ................................................................................... 105
9) O Conselho sobre a Combinação de Desenvolvimento e Consumação, as Práticas
Dotadas e Desprovidas de Conceitos ........................................................................... 120
10) Instrução para Mulheres sobre Como Atingir a Iluminação Sem Abandonar as
Atividades Diárias ....................................................................................................... 124
11) A Iniciação da Manifestação da Mente Primordial .................................................. 134
12) Sinais e Níveis do Progresso .................................................................................. 140
13) O Conselho para Alcançar a Iluminação no Momento da Morte ............................. 146
14) Os Cinco Bardos ................................................................................................... 154
15) O Tesouro da Caverna de Cristal do Lótus............................................................. 166
Fontes ......................................................................................................................... 176
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Prefácio do Tradutor
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Notas:
1. Em Ensinamentos das Dakinis, histórias mais detalhadas sobre os dois tertöns
principais, Nyang Ral Nyima Özer e Sangye Lingpa, estão incluídas.
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Ensinamentos Introdutórios
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ruins. Às vezes achamos impossível meditar, muito difícil de sentar; nos sentimos
deprimidos ou raivosos - tais estados pertencem às experiências desagradáveis.
Esses dois tipos de experiências, agradáveis e desagradáveis, são ambos sinais da
prática. Mas não importa o que aconteça, todas essas experiências são apenas
nuvens no céu da pureza primordial. Às vezes o céu está nublado, às vezes está
limpo. Não importa se o sol brilha em um céu limpo embelezado por arco-íris, ou
se chove, ocorre uma tempestade ou neva, todas são apenas experiências.
Entretanto, entre os sinais da prática há dois estágios: experiência e
realização. O verdadeiro sinal da prática é que a sua mente está livre das
fixações, naturalmente e sem qualquer dificuldade. Outro sinal positivo e uma
das mais importantes realizações é quando a sua mente se sente tão pacífica que
está plena de devoção, fé e compaixão, como o céu preenchido pelo calor da luz
do sol. Entretanto, a realização verdadeira é permanecermos não afetados pelas
experiências de bem-aventurança, clareza e ausência de pensamentos, enquanto
estamos livres dos dois obstáculos para a meditação: o embotamento e a
agitação. O embotamento significa não saber realmente se sua consciência está
clara; na verdade ela está obscurecida. Há três tipos de embotamento: sentir-se
embotado, sonolento ou obscurecido. Também há três tipos de agitação: sentir-se
disperso, agitado ou distraído.
Em resumo, mesmo a menor fixação pode prejudicar a nossa prática.
Cortar através dos pensamentos deveria ser automático, mas se não percebermos
que estamos obscurecidos e nos tornarmos esquecidos, ou se ficarmos agitados,
será impossível para a mente permanecer em silêncio e sentiremos que não
conseguimos cortar através dos pensamentos. Uma vez livres de embotamento e
agitação, nossa visão não estará obscurecida. Quanto tempo a experiência da
mente primordial dura depende de quão habituados nos tornamos a ela.
O método perfeito para se tornar rapidamente habituado ao estado não
fabricado da mente primordial é ter devoção pelos seres iluminados e compaixão
pelos seres não iluminados. Então, como se diz: “no momento do amor, a
essência vazia se revela sem véus.”2 Devoção e compaixão são ambas amor.
Corpo, fala e mente podem ser tomados pelo amor, e se então olharmos para
dentro, isto será como o sol não obscurecido pelas nuvens. É assim que no
passado praticantes Kagyü e Nyingma puderam atingir a iluminação sem serem
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Notas:
2. Uma citação da famosa Aspiração do Mahamudra do terceiro Karmapa.
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mental. Mas, mesmo que esse estado natural seja agora uma realidade para você,
continue a cultivar uma vasta compaixão pelos seres sencientes e faça aspirações
de que o bem-estar dos outros possa ser espontaneamente realizado na maneira
da não ação.
Notas:
3. Pema Ösel Do-Ngak Lingpa é o nome de tertön de Jamyang Khyentse Wangpo e
Orgyen Chimey Tennyi Yundrung Lingpa é o nome de tertön de Jamgön Kongtrül
Lodrö Thaye.
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espaço.
Enquanto o espaço é o exemplo, o significado é dharmata, que como o
espaço é vazio deste o início primordial. E o sinal é de que dentro da mente vazia
similar ao céu as tendências habituais e as emoções perturbadoras são apenas
como nuvens e névoa. Ao aparecerem, elas aparecem dentro da mente vazia; ao
permanecerem, elas permanecem dentro da expansão da mente vazia; e quando
se dissolvem, elas se dissolvem dentro dessa mesma expansão da mente vazia.
Ao alcançar a realização de que tudo é assim, não se deixar macular pelas
falhas das tendências habituais para ações cármicas e pelas emoções
perturbadoras é conhecido como a reunião de tudo o que aparece e existe em um
único ponto essencial.
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10) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os estados mentais?
O mestre respondeu: A igualdade livre de confusões é o ponto essencial que
contém todos os estados mentais. Os outros estados mentais mudam e não
perduram. A mente dos budas está livre da delusão e é não elaborada; ela é uma
igualdade ilimitada na qual as falhas da confusão foram eliminadas e o estado
desperto da sabedoria desabrochou.5 O estado mental de um ser senciente falha
em compreender a si mesmo, e os fenômenos superficiais, ilusórios do
envolvimento com os veículos gerais são todos delusão. A mente desperta - livre
de erros e não elaborada, livre das limitações do esforço - contém cada estado
mental dos budas. A compreensão e a realização desta natureza são conhecidas
como a reunião de todos os estados mentais em um único ponto essencial.
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11) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os samayas?
O mestre respondeu: A expansão total é o ponto essencial que contém todos
os samayas, visto que ela está além da sustentação de forma atemporal. Os
outros samayas mudam e não perduram. A mente desperta é livre de falhas e
obscurecimentos, e portanto é pura e clara. Estando livre de objetos virtuosos a
serem aceitos e de objetos enganosos a serem rejeitados, a mente desperta não
consiste nem de algo a ser sustentando nem do ato de sustentar. Visto que não
há oscilações em tal natureza, o não afastamento deste estado realizado é
conhecido como a expansão total que transcende a sustentação de um samaya.
Os incontáveis milhões de samayas genéricos podem ser quebrados e, portanto, o
obrigam fortemente a sustentá-los. A compreensão e a realização desta natureza
são conhecidas como a reunião de todos os samayas em um único ponto
essencial.
12) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todas
as virtudes?
O mestre respondeu: Um estado de total equilíbrio é o ponto essencial que
contém todas as virtudes. Todas as outras virtudes mudam e não perduram. Em
relação às virtudes da mente desperta, todas as virtudes espirituais se originam
da mente. Quando sua mente é flexível, você está no comando de qualquer coisa
que possa desejar. É exatamente igual à joia que realiza desejos que é a fonte que
concede todas as necessidades e vontades. Em contraste, as virtudes menores do
aprendizado distorcido não são como o equilíbrio total e não geram a perfeição. A
realização e a estabilidade de uma mente flexível lhe dará total equilíbrio na
perfeição das virtudes iluminadas. A compreensão e a realização desta natureza
são conhecidas como a reunião de todas as virtudes em um único ponto
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essencial.
13) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todas
as atividades?
O mestre respondeu: A completitude espontânea além do esforço é o ponto
essencial que contém todas as atividades. Todas as outras atividades mudam e
não perduram. Desde o princípio sua mente autoconhecedora é uma presença
não fabricada espontânea; assim, visto que seu propósito já está completo, ela
não é algo que uma atividade possa realizar através de esforço e tentativas. Todos
aqueles engajados nos ensinamentos de causa e efeito acreditam que alcançarão
um estado desperto que resulta do esforço e das tentativas; mas esta atividade
essencial é como a afirmação: “Todas as atividades são completadas ao
estabelecer-se no estado livre de esforços. Livre de esforços, o dharmakaya é
atingido.” A compreensão e a realização desta natureza são conhecidas como a
reunião de todas as atividades em um único ponto essencial.
14) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os aspectos do Mantra Secreto?
O mestre respondeu: O Mantra Secreto da essência absoluta é o ponto
essencial que contém todos os aspectos do Mantra Secreto. Todos os outros
aspectos do Mantra mudam e não perduram. Saber disto é a essência do Mantra
Secreto. Entretanto, apesar de a natureza vazia deste conhecimento estar
presente em todas as pessoas, ela permanece um segredo pela dificuldade de ser
realizada por todos. A identidade deste Mantra Secreto da essência absoluta é
inefável e não fabricada desde o princípio e, portanto, permanece um segredo.
Ela é o Mantra Secreto da essência absoluta porque esta essência, revelada
através da instrução absoluta, é a causa da realização do estado búdico. Esperar
alcançar o estado búdico através do esforço laborioso no cultivo de uma deidade e
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15) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todas
as aspirações?
O mestre respondeu: A ausência de esperança e medo é o ponto essencial
que contém todas as aspirações. Todas as outras aspirações mudam e não
perduram. Em outras palavras, seguir e engajar-se nos veículos das perspectivas
gerais é sustentar uma visão dualista de esperança e medo. A aspiração no
veículo vajra do Mantra Secreto transcende a dualidade de esperança e medo,
como o trajeto do voo de um pássaro.6 Isto é como a afirmação: “O caminho da
perfeição é acessado sem trilhar o caminho em cinco etapas. O caminho do buda
é atravessado sem desejos.” No momento em que você simplesmente reconhece o
estado livre de erros da mente desperta, o dharmadhatu que por natureza está
espontaneamente presente, você nem espera atingir o estado búdico nem teme
cair no samsara. Desta forma, os desejos são fundamentalmente eliminados e os
caminhos estão fundamentalmente além da travessia. A compreensão e a
realização desta natureza são conhecidas como a reunião de todas as aspirações
em um único ponto essencial.
16) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os treinamentos de meditação?7
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17) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os tipos de conduta?
O mestre respondeu: A não ação é o ponto essencial que contém todos os
tipos de conduta.8 Todos os outros tipos de conduta mudam e não perduram.
Permita que as ações aconteçam enquanto está livre de esforços; então todas as
atividades serão realizadas. Seguir pensamentos e tendências é estar envolvido
nos darmas de causa e efeito, os veículos gerais dos seres sencientes.
Bem, então o que é a não ação? A conduta que não está envolvida pela
dualidade de esperança e medo é tal que, independente dos darmas com os quais
você se engajar, repousando na equanimidade da ausência de esforços você está
livre do anseio deliberado e apegado. O repouso na natureza da equanimidade
livre de esforços, não importando o que você perceba ou pense, é a conduta de
todos os budas. A compreensão e a realização disto são conhecidas como a
reunião de todos os tipos de conduta em um único ponto essencial.
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18) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto essencial contém todos
os tipos de fruição?
O mestre respondeu: O verdadeiro e completo estado búdico é o ponto
essencial que contém todos os tipos de fruição. Todos os outros resultados
mudam e não perduram. O verdadeiro e completo estado búdico está livre dos
limites de permanência e aniquilação. Transcendendo todos os tipos de objetos
concretos, ele é imutável e nem nasce nem cessa. Transcendendo as dimensões,
ele é como a afirmação:
Por outro lado, aqui não é ensinado que a liberação é alcançada pela
crença, como nos veículos gerais, de que a fruição do estado búdico é atingida em
algum outro lugar. A compreensão e a realização desta natureza são conhecidas
como a reunião de todos os tipos de fruição em um único ponto essencial.
Para beneficiar as gerações futuras, eu, Tsogyal, ocultei estas vinte e uma
instruções essenciais que condensam a realização de todos os budas.9 A
realização da pessoa valorosa de destino cármico enfraquecerá se ela as propagar
amplamente logo após recebê-las. Assim, oculte o fato de que elas são tesouros
terma, e apenas as propague gradualmente. Isto completa “As Vinte e Uma
Instruções Essenciais”.
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SELO DE TESOURO. ༔
SELO DE OCULTAÇÃO. ༔
SELO DE CONFIANÇA. ༔
Notas:
4. A palavras darma, apesar de suas muitas conotações, aqui se refere à verdade
ou ao ensinamento.
5. “Eliminada” e “desabrochado” são um jogo de palavras com os dois
componentes do termo tibetano para buda (sang-gye).
6. O trajeto do voo de um pássaro é o rastro que ele deixa para trás ao voar: não
há nada a ser visto.
7. A palavra tibetana gom, que normalmente é traduzida como “meditar”, carrega
os significados de cultivar, habituar-se, familiarizar-se e treinar. Aqui,
“treinamento de meditação” é usado para abranger ambas as conotações.
8. A palavra tibetana chöpa pode ser traduzida como “prática”, “conduta”, “ação”
ou “fazer”, bem como “desfrutar”, “participar” ou “engajar-se”.
9. O título deste capítulo é “Vinte e Uma Instruções Essenciais”, mas,
infelizmente, os vários textos fonte contêm respostas para dezoito questões. As
três questões restantes ou estão contidas dentro das outras, ou acabaram sendo
perdidas ao longo dos séculos de cópias manuais dos manuscritos.
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Então, ele instruiu a velha senhora e sua atendente com estas palavras:
Velha mulher, assuma a postura de pernas cruzadas e mantenha seu corpo
ereto. Por um instante, apenas permaneça com a atenção totalmente relaxada.
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O mestre apontou seu dedo para o coração da velha senhora e deu esta
instrução: Velha mulher, ouça-me. Se lhe perguntarem qual a diferença entre a
mente do verdadeiramente perfeito Buda e a mente dos seres sencientes dos três
reinos, ela nada mais é que a diferença entre realizar ou não a natureza da
mente.
Como os seres sencientes falham em realizar esta natureza, surge a
delusão e a partir desta ignorância as miríades de tipos de sofrimentos decorrem.
Assim, os seres vagueiam pelo samsara. O material básico do estado búdico está
dentro deles, mas eles falham em reconhecê-lo.
Em primeiro lugar, o material básico do estado búdico está dentro de você.
Especificamente, ele está nos seres humanos que obtiveram as liberdades e
riquezas. Além do mais, não é verdade que o material básico para o estado búdico
é abundante nos homens e deficiente nas mulheres. Assim, mesmo que tenha
renascido como uma mulher, você não está impedida de alcançar o estado
búdico.
As 84.000 portas do Darma foram ensinadas para reconhecer e realizar a
mente de sabedoria dos budas, mas esta compreensão está contida nas três
palavras de instrução do mestre. Assim, mesmo que seja de inteligência inferior e
possua fracas capacidades, você não se encontra em desvantagem.
Agora, o significado do Darma, a mente búdica, e as três palavras de
instrução do mestre são estes: Ao purificar os objetos percebidos externamente
suas percepções são liberadas em si mesmas. Ao purificar a mente interna que
percebe, a sua consciência livre de fixações é liberada em si mesma. Como o
estado desperto lúcido entre ambos é encantador, você reconhece sua própria
natureza.
Como são purificados os objetos percebidos externamente? Esta
consciência do momento, o estado desperto de sua mente, não é maculada pelo
pensamento e percebe como um brilho natural. Permita que ela repouse assim e
os objetos serão percebidos sem que haja fixação a eles. Desta forma, não
importa como as aparências surjam, elas não são na verdade reais e não são
sustentadas como sendo coisas reais. Assim, não importa o que você perceba,
seja terra ou rochas, montanhas ou penhascos, plantas ou árvores, casas ou
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são a natureza inata - mesmo sem conhecê-la você nunca esteve separado desta
natureza inata de dharmata.
Como isto é conhecido como o treinamento não fabricado, a mãe de
dharmata é o fato de que todos os fenômenos são desprovidos de natureza
própria; o local de permanência de dharmata é o reconhecimento de que eles são
desprovidos de natureza própria; e conhecer sua própria natureza por si mesmo é
assim chamado porque você reconhece que a sua própria consciência é o espaço
inato do dharmadhatu.
Ao reconhecer isto, não há nem nascimento superior nem inferior,
atividades mais elevadas ou menores, nem intelectos mais aguçados ou mais
fracos, nem inteligências maiores ou menores, nem conhecimento vasto ou
estreito, nem idade avançada ou pouca idade, nem mente clara ou obscurecida.
Esta é uma instrução de pequena dificuldade, mas simples de absorver,
fácil de aplicar, mas muito efetiva, com a qual você não terá medo no momento
da morte. Velha senhora, pratique-a! Seja diligente, pois a vida não espera! Você
não recebe recompensas por se escravizar para marido e filhos, portanto não
retorne de mãos vazias, mas leve consigo as provisões das instruções de seu
mestre! As tarefas desta vida são infindáveis; assim, alcance a perfeição na
prática de meditação!
Velha senhora, guarde este conselho como sua escolta para permanecer
destemida no momento da morte!
Assim ele disse. Uma vez que o mestre deu esta instrução enquanto
apontava seu dedo para o coração da velha mulher, ela é conhecida como “A
Instrução ‘Apontando para a Velha Senhora’”. Ao ouvi-la, a velha senhora e sua
atendente foram ambas liberadas e atingiram a realização.
Lady Tsogyal de Kharchen colocou-a por escrito para o benefício das
gerações futuras. Ela foi escrita na ladeira sul de Samye no décimo sétimo dia do
segundo mês do verão no Ano da Lebre.
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NAMO GHURU.
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11) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: O que é o abismo das seis classes
de seres?
O mestre respondeu: Aquilo que aparece como os múltiplos sofrimentos das
seis classes de seres não é criado por outra pessoa. Ele acontece porque você
falhou no reconhecimento de sua própria natureza.13 É a sua própria mente que
prejudica a si mesma. Você pode e deveria tomar a firme decisão de que a grande
vacuidade de sua própria mente está livre da base e da raiz do sofrimento.
12) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Esta natureza da mente pode ser
maculada pelo carma e pelas tendências habituais?
O mestre respondeu: Carma e tendências habituais, assim como tudo o que
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Você pode tomar a firme decisão de que isto está basicamente além do
obscurecimento.
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manifestar ou desaparecer?
O mestre respondeu:
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Sua mente vazia é o realizador de tudo, assim você pode tomar a firme
decisão de que as cinco emoções venenosas se dissolvem por si mesmas.
25) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Como os três kayas estão presentes
dentro de nós mesmos?
O mestre respondeu: A natureza vazia da mente é o dharmakaya; sua
capacidade cognitiva é o sambhogakaya; e sua qualidade ilimitada é o
nirmanakaya. Essencialmente livres dos três venenos, você pode tomar a firme
decisão de que os três kayas estão primordialmente presentes em você.
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aplicada na prática?
O mestre respondeu:
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confio a uma pessoa afortunada com a preparação cármica que abrirá a porta do
tesouro.
Assim ele disse.
Notas:
10. Isto se refere ao tempo primordial anterior à existência de budas a partir da
realização e de seres sencientes devido à não realização da natureza da mente.
11. A versão do Lama Gongdü diz aqui: “Sem qualquer coisa de qualquer tipo,
permaneça no estado natural.”
12. A versão do Lama Gongdü diz aqui: “Ela serve como a raiz de todas as
indicações.” A diferença em tibetano é pequena: “raiz” é soletrada rtsa enquanto
que “expressão” é soletrada rtsal.
13. A versão do Lama Gongdü diz aqui: “Isto aparece de você, mas você não
realiza isto.”
14. As entradas para o renascimento entre as seis classes de seres.
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• Uma visão que carece de confiança é como uma pena soprada pelo vento.
• Um treinamento de meditação que carece de método é como um abutre com
uma asa quebrada.
• Uma dedicação que carece de prática é como um líder confuso e
equivocado.
• A experiência que carece dos sinais de progresso é como a colheita do
outono destruída pelo gelo.
• Qualquer conduta que careça de estabilidade é como um homem cego
perdido nas planícies setentrionais.
• Uma fruição que careça de reconhecimento é como uma criança pequena
recebendo um baú cheio de ouro.
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Primeiro, a visão é como o exemplo do abutre que precisar usar suas asas
para subir até que tenha alcançado a vasta expansão do céu, mas assim que
alcança o céu aberto pode planar sem esforço ou qualquer coisa para conquistar.
Da mesma forma, neste caso, você deveria estabelecer a certeza da visão por meio
de três pontos - as palavras do Conquistador, sua própria inteligência e as
instruções de um mestre sublime - até que tenha realizado o estado natural.
Então você pode repousar na realização da visão absoluta do estado natural e
estará além de esforço e conquistas em corpo, fala e mente.
Além disso, reconheça que os objetos percebidos são sua própria mente,
como ver algo nos seus sonhos. Da mesma forma, reconheça que esta mente é
vazia, vendo-a como espaço vazio. Reconheça que esta vacuidade nunca nasce,
como a percepção de que o espaço não é matéria nem possui características que
o definam, e que ela está livre de quaisquer limitações, tais como nascer, cessar
ou permanecer.
Reconheça que este não surgimento se dissolve por si mesmo, como a visão
de que todo tipo de manifestação - assim como nuvens, névoa ou neblina - se
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Estas falhas se devem a não ter alcançado a decisão sobre a visão. Aqui
estão os métodos para remediá-las:
Não tente suprimir estes estados mentais, pois isto não irá pará-los, e não
siga quaisquer impressões dos sentidos. Ao invés disso, imagine esferas de luz do
tamanho de um polegar à distância de um braço de seu corpo nas quatro
direções, cada esfera estando firmemente conectada a você como se fosse com
cordas de tenda. Mantenha sua atenção sem oscilações nesta visualização.
Alternativamente sustente sua atenção sem oscilações no centro de uma
roda de um cúbito de altura girando diante de você. Ou, como no contexto de
encontrar a sua mente, procure-a por todos os lugares, dentro e fora, e
estabeleça-se no estado de não encontrá-la.
Ou ainda, foque exatamente o objeto de sua distração. Ou, quando um
pensamento repentinamente aparecer, olhe primeiro para a sua origem, depois
onde ele permanece, e finalmente para onde ele vai. Então, estabeleça-se no
estado de não ter encontrado.
Ou você pode imaginar que seu corpo nu está flutuando levemente sobre a
superfície de um oceano plácido e calmo e então afunda na água. Ou então você
pode manter sua atenção sobre qualquer coisa que seja jogada em um vaso que
flutua parcialmente submerso sobre a calma superfície de um espaço de água.
Ou você pode imaginar que está segurando uma tocha cujas chamas brilham
preenchendo todo o universo. Depois de ter utilizado qualquer um destes
métodos, aplique-se nos olhares dos três kayas.
Em geral, a agitação é a menor destas limitações; ela é como a chama de
uma lamparina de manteiga queimando com brilho sendo agitada pelo fluxo do
ar. Ela pode ser firmada contraindo a parte inferior enquanto é praticado o
grande êxtase da porta inferior.
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SAMAYA. ༔
• Nunca se cansar da prática do Darma, como nunca ser traído por um velho
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e íntimo amigo;
• Os seis sentidos estão livres e sem limitações, como uma criança pequena
ou um louco;
• Nenhum tipo de pensamento pode causar prejuízo, como ter identificado
um ladrão;
• Ter-se afastado do apego e da indolência, como uma jovem donzela que
saboreia o prazer;
• A mente não se fixa mais às excitações mundanas, como um homem sábio
olhando para um arco-íris;
• Ou, cada pensamento é reconhecido como sendo um não pensamento,
como sendo uma ilha de ouro onde não é possível encontrar pedras
comuns ou sujeira.
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• Uma profusão de conceitos sobre o que deveria ser descartado com quais
remédios;
• Insights sobre a conexão entre inteligência, proliferação de pensamentos e
interdependência externa e interna;
• Brilho, lucidez e uma ausência de sono profundo ou embotamento mental;
• Ou o sentimento de compreender tudo, assim como incontáveis outros
tipos de insights.
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SAMAYA. ༔
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Todos eles são a fruição perfeita que é para o benefício dos outros.
Estes três kayas são separados ou não? Na verdade os três não são
separados dentro do estado da mente original e não elaborado que é o corpo
essencial (svabhavikakaya).
Como os três kayas aparecem a partir do corpo essencial único? O
dharmakaya livre de qualquer tipo de construção aparece quando despertado e
libertado dos dois obscurecimentos. Os bodisatvas ainda possuem as máculas
cognitivas e, portanto, são incapazes de perceber além do sambhogakaya, a forma
adornada com as trinta e duas marcas maiores e as oitenta marcas menores de
excelência. Os seres sencientes com interesse dedicado ainda possuem máculas
emocionais e, portanto, são incapazes de perceber além dos nirmanakayas, que
são simplesmente um reflexo que corresponde ao seu estado individual de mente.
Os dois corpos da forma podem estar presentes para aqueles que ainda
estão no samsara, mas eles permanecem imaculados pela poeira do samsara. O
dharmakaya permanece no estado de grande paz, mas ele é imaculado pela
limitação do nirvana. Por isto ele é chamado de corpo de grande bem-
aventurança (mahasukhakaya).
Após a realização, o estado de mente dos budas dos três tempos, as mentes
dos seres sencientes dos três reinos, e o insight dos iogues estão todos dentro da
esfera desta realização. Isto é como um viajante que, ao voltar para casa, está
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Padmasambava - Tesouros do Pico do Junípero
livre das noções de ter ou não ter alcançado sua terra natal, e da noção de medo
de que perigos possam aparecer. Da mesma forma, você está agora livre do medo
do samsara e da esperança pelo nirvana.
Estas foram as instruções dharmakaya na natureza da mente que é em
essência livre de atributos conceituais e está além de qualquer tipo de
construção.
SAMAYA. ༔
SELO DE OCULTAÇÃO. ༔
SELO DE CONFIANÇA. ༔
SELO DE TESOURO. ༔
DHATHIM. ITHI. ༔
Notas:
15. Conceitos partidários de “eles e nós” em relação aos cidadãos.
16. A essência é a sílaba branca na coroa da cabeça, e o atung se refere à
pequena chama de calor interior na prática de tummo.
17. A “forma oca” se refere à forma insubstancial da deidade, cuja visualização
combate a crença de que a identidade pessoal é um corpo de matéria sólida.
18. O pássaro kalapinga por sua voz extremamente clara e bela.
19. Os dez sinais são vistos como fumaça, miragens, chamas, vaga-lumes, a luz
da lua, a luz do sol, o brilho do fogo, esferas vermelhas e brancas, arco-íris e
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estrelas cadentes.
20. As dez ações virtuosas são geralmente a abstenção das dez não virtudes -
matar, roubar, conduta sexual imprópria, mentir, difamar, fala abusiva, fala sem
sentido, cobiçar, má vontade e visões errôneas. Especificamente, elas são a
dedicação aos seus opostos: por exemplo, salvar vidas, ser generoso, e assim por
diante.
21. O manuscrito original inclui esta nota de rodapé: “tais como os Munis dos
seis reinos.”
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NAMO GHURU.
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nirvana são de fato reais. E você compreende isto como realização, além do
domínio das ideias, não apenas nas palavras, mas de forma decisiva das
profundezas de sua mente.
Entretanto, há pessoas que, sem terem alcançado esta realização, usam a
frase: “Nenhuma destas coisas nunca nasceu!”, e treinam na sustentação da ideia
de que: “tudo isto é vacuidade!” Fazer isto é conhecido como um mero humor da
meditação.22 Mantendo tal ideia na mente você não alcançará a certeza.
Depois de compreender que as coisas são assim, não foque ideias de que
elas sejam de qualquer forma específica. As coisas podem ser experienciadas de
uma forma ordinária, mas você não encontrará um fragmento de mente concreta
ou tangível que possa ser vista ou mantida como foco. Visto que nenhuma
impressão desta natureza pode ser experienciada nem qualquer coisa pode ser
percebida por alguém, o pensamento: “Sua natureza é assim e assim”, nem
mesmo ocorre. Apesar disto, você ainda não abandonou as tendências para o
pensamento deludido.
Nesse ponto todas as coisas são vistas com suas próprias características
individuais, apesar de evanescentes e insubstanciais como as cores que
aparecem diante de seus olhos sobre a superfície plácida da água. Além disso,
não há qualquer envolvimento com conceitos de “é assim” ou “é assado”, e você
enxerga a identidade desta mente conhecedora tão claramente e evidentemente
quanto o céu.
Este é o momento em que você perde a noção de si mesmo, sentindo-se
como se fosse o próprio céu. Ou você pode se sentir amedrontado ou nervoso por
enxergar aquele que percebe e o que é percebido como separados, e você não quer
mais permanecer nesse estado. Vendo-se simplesmente como nome e forma23,
você não sustenta a ideia de ser um ser senciente real. Depois de retornar desse
estado, quando brevemente investiga as coisas enquanto se dedica às atividades
diárias, você experimenta apenas um estado vívido de “não ver coisas concretas.”
Você não se sente como se estivesse realmente caminhando quando está
caminhando, e não há sensação de estar comendo quando come.
Nesse ponto, ao investigar as coisas você compreende que não há nem algo
a aceitar nem a rejeitar, que “as coisas e eu não somos nada além de ilusões
enganosas e mágicas.” Uma vez que você enxerga tudo como se fosse o espaço,
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não vê a si mesmo como sendo você e os outros como sendo outros. Ao fechar os
seus olhos e permitir que a mente volte-se para dentro, todos os objetos se
tornam levemente vagos, o fluxo de pensamento é interrompido e não há
aparências, e assim a lucidez da mente ganha uma qualidade de ser como o
espaço. Você não sente que possui um corpo, nem percebe o movimento de sua
respiração. O estado mental nesse ponto é semelhante ao brilho estático de um
espelho voltado para o céu ao alvorecer. Ele permanece totalmente lúcido, livre de
qualquer foco ou conceito enquanto é claramente evidente para si mesmo. Isto
continua, imutável, dia e noite. De tempos em tempos o fluxo do conhecimento
gradualmente se torna mais sólido, mas então suavemente a solidez desaparece
novamente.
Para aperfeiçoar isto, não se fixe a estar lúcido ou relaxado, não foque coisa
alguma e não se fixe a coisa alguma - simplesmente permita que esse estado
esteja consciente de si mesmo. Quando tenta sair desse estado não há a sensação
de que saiu, e mesmo se você brevemente sair dele, retorna suavemente.
Por ter determinado como as coisas são enquanto sentado, as coisas
percebidas aparecem de uma forma normal enquanto você permanece sereno.
Você nem se fixa a elas e nem as foca. Se puder permanecer de tal forma que
mesmo o anseio pela iluminação é visto como uma ilusão e não tiver qualquer
temor do samsara, então isto é conhecido como ver as coisas sem oscilações.
Para desenvolver isto, ponha de lado mesmo uma forma sutil de objeto e
pensador, incluindo o conceito de que “isto é assim e assim”. Em outras palavras,
no início não suprima nada, em seguida não sustente a sua presença, e
finalmente não busque nada. Em vez disso, permita que isto surja de você e
desapareça de volta em você. Esta capacidade de permanecer pelo tempo que
desejar é conhecida como mente flexível ou ausência de ação e esforços.24
Enquanto se mantém estável desta forma, você pode investigar as coisas
que experimenta, seja depois de se levantar dessa estabilidade ou durante o
próprio estado estável. Entretanto, você descobre que não é necessário modificar
um insight nem tentar deliberadamente analisar qualquer objeto percebido. Cada
pensamento - não importa o tipo - está lucidamente presente como dharmata;
cada emoção - não importa o tipo - surge como dharmata; cada dor - não importa
o tipo - não traz sofrimento; e cada prazer - não importa o tipo - não traz
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Nesse ponto há uma menor fixação a qualquer objeto sensorial, uma menor
fixação a “é dessa e dessa forma”, e uma menor timidez em qualquer assunto.
Egoísmo, preferências e aversões, preocupações, as oito considerações mundanas
e outros tipos de pensamento todos se tornam menos numerosos e menos
pronunciados. Até que esses sinais se manifestem você deve tentar da melhor
forma possível estar de acordo com eles. Você também pode adquirir alguns
poderes milagrosos menores, clarividência da mente dos outros e similares. Todos
esses são sinais menores.
Os sinais externos incluem:
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• Ver luz brilhando em seu corpo, ou ver várias luzes, cores ou formas no ar;
• Ver as formas corpóreas de budas e outros seres nobres;
• Ouvir as vozes deles e ver os seus gestos demonstrando-lhe respeito;
• Ou eles lhes oferecem ensinamentos, predições e assim por diante.
• Fixar-se a esses acontecimentos e acreditar em sua realidade duradoura
acarreta a falha de se deixar interromper por Mara.25 Quando você nem se
fixa a eles nem acredita neles eles indicam boas qualidades.
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seu guru e sua própria experiência - para reconhecer o estado desperto original
que tudo permeia como o espaço.
A presença imediata total do estado desperto original é como o sol
alcançando a superfície de um espelho. Da mesma forma, o iogue deveria
permanecer na presença imediata do estado desperto original, livre de quaisquer
imagens claras.
A instrução chave para a naturalidade das seis coleções27 é como uma
pessoa atingida por uma doença que não sustenta conceitos de timidez ou de
embaraço. Da mesma forma, o iogue deveria permanecer sem formar conceitos
sobre qualquer objeto percebido.
O encontro direto com o estado desperto original é como um curador
maravilhoso que pode usar tudo o que toca como meio para a cura. Da mesma
forma, uma vez que a ambrosia da visão seja obtida, o iogue deveria usar tudo
como meio para o estado desperto original.
A instrução essencial para silenciar a mente é como uma tartaruga incapaz
de se mover quando colocada em uma bacia. Da mesma forma, a mente do iogue
é incapaz de se mover uma vez que ele a tenha apreendido a partir da instrução
do guru. Todas essas instruções essenciais são o caminho para identificar o
estado desperto original que é dharmata.
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Aperfeiçoe-a como um ladrão em uma casa vazia - o ladrão vai embora, pois não
há nada para roubar. Da mesma forma, quando pensamentos grosseiros ou sutis
ocorrem, o iogue deveria observá-los e, então, simplesmente permanecer.
Aperfeiçoe-a como uma nuvem no céu. A nuvem que se forma no céu
desaparece por si mesma. Da mesma forma, um pensamento deveria ser deixado
para se dissipar por si mesmo.
Aperfeiçoe-a como se usasse uma mágica para combater um veneno. Uma
pessoa que conhece uma mágica que combate venenos é capaz de permanecer
protegida de tais venenos. Da mesma forma, o iogue que possui as instruções
essenciais pode experimentar todas as coisas como o estado desperto original
quando ele as envolve com a visão.
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Por que é assim? Porque deveria ser compreendido que todas as coisas são
o estado desperto original, uma vez que não há nada além da mente. É assim que
os pensamentos naturalmente se dissolvem, uma vez que são claramente vistos
como sendo dharmata.
20) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto chave explica como os
objetos experienciados não precisam ser rejeitados?
O mestre respondeu: Aqui eu ensinarei através de seis analogias das
escrituras sobre a mente autoliberada que descrevem como nada precisa ser
rejeitado uma vez que seja claramente visto:
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precisam ser suprimidos, uma vez que dharmata é claramente visto sem ser
suprimido e não pode ser suprimido mesmo ao tentar fazer isso.
21) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Qual ponto chave explica como a
mente e dharmata são indivisíveis?
O mestre respondeu: Estas seis analogias para a indivisibilidade exprimem
como a mente e dharmata são indivisíveis:
22) Lady Tsogyal perguntou ao mestre: Quais analogias ilustram que tudo o
que aparece e existe ocorre a partir de si mesmo?
O mestre respondeu: As mesmas seis analogias se aplicam para a ausência
de sequências, ilustrando como tudo o que aparece e existe é o estado desperto
original. As seis analogias simples mencionadas acima mostram a indivisibilidade
e uma ausência de sequências. Desta forma não há uma sequência entre
dharmata e todas as coisas que aparecem e existem (darmas), uma vez que todos
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• Elas são purificadas pela realização, uma vez que ao ter eliminado a
estreita passagem da percepção dualista o iogue permanece na fortaleza da
visão além da dualidade.
• Tendo purificado a passagem estreita dos pensamentos, o iogue permanece
na fortaleza da ausência de pensamentos.
• Tendo purificado a passagem estreita dos pontos de vista, o iogue
permanece na fortaleza além das visões.
• Tendo purificado a passagem estreita da aceitação e da rejeição, o iogue
permanece na fortaleza de não haver nada a ser rejeitado.
• Tendo purificado a passagem estreita da existência de alguém que percebe
e de algo percebido, o iogue permanece na fortaleza de ter transcendido
aquele que percebe e o que é percebido.
• Tendo purificado a passagem estreita da esperança e do medo, o iogue
permanece na fortaleza da mente desperta evidentemente vista em você
mesma.
• Tendo purificado a passagem estreita da fixação, o iogue permanece na
fortaleza da transcendência de haver algo para se agarrar e sustentar.
• Tendo purificado a passagem estreita do esforço e do resultado, o iogue
permanece na fortaleza da perfeição espontânea.
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purificadas sem aceitações ou rejeições. Uma vez que ele ou ela claramente vê
que tudo é mente, a estreiteza de esperança e medo é removida e o domínio
espaçoso, amplamente aberto é alcançado.
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enquanto que de forma relativa tudo é puro por ser as três famílias.
• No seguinte a realização se dá através de uma visão que é como o superior
e uma conduta como a do inferior, enquanto são utilizadas práticas de
ambos.32
• No último é realizado o corpo da deidade aceitando e rejeitando os quatro
mudras33 e o samadhi.
• Entre os três tantras internos do Mantra Secreto, a Mahayoga sustenta que
os fenômenos são não nascidos de forma absoluta, enquanto de forma
relativa eles são ilusões mágicas, conhecidos como a igualdade quádrupla e
a pureza tripla.34
• A Anu Yoga considera que a causa é a natureza do espaço puro, enquanto o
efeito é a mandala de sabedoria, e que o filho do grande êxtase surge
quando o estado desperto realiza este espaço básico que é completo como a
mandala das deidades masculinas e femininas; além disso, ela é cultivada
como completa sem ser desenvolvida.
• Todos os veículos até e incluindo a Anu Yoga sustentam posições e
possuem apegos, mas a Ati Yoga não possui nem posição nem apego.
• O que significa dizer que a Ati Yoga não possui posição ou apego? Significa
que, uma vez que já é claramente visto desde o princípio, não se presume
que o estado desperto possa ser fabricado. Por não estar apegado a
qualquer coisa conceitual, ele não possui apego.
Você não enxerga os níveis superiores ou inferiores nos veículos a não ser
que possa discernir estas diferenças entre eles, assim, é desta forma que você
deveria distinguir os nove veículos.
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Notas:
22. Os humores temporários de bem-aventurança, clareza e ausência de
pensamentos são experienciados em estados meditativos.
23. A frase “nome e forma” se refere aos cinco agregados - o primeiro sendo a
forma e os últimos quatro sendo nome - que aqui são vistos como não sendo
possuídos por um dono.
24. A versão do Lama Gongdü acrescenta: “... também conhecido como a essência
naturalmente não elaborada da mente ou vendo o estado desperto completo,
lúcido.”
25. Um mara é um demônio ou influência demoníaca que cria obstáculos para a
prática e para a iluminação. Mitologicamente, mara é conhecido como um
poderoso deus que habita na morada mais elevada do reino do desejo e é o
mestre da ilusão que tentou impedir o Buda de atingir a iluminação em
Bodhgaya. Para um praticante do Darma, Mara simboliza a própria fixação ao ego
e a preocupação com as oito considerações mundanas. Geralmente, há quatro
maras ou obstruções à prática do Darma: os maras das negatividades, da morte,
dos agregados e o mara dos deuses da sedução. Às vezes os quatro maras são
mencionados pelos nomes: Klesha, Senhor da Morte, Skandha e Filho dos
Deuses.
26. A Arya Bhadracharya Pranidhana Raja (‘Phags pa bzang po´i spyod pa´i smon
lam kyi rgyal po), uma famosa aspiração encontrada no final do Sutra do
Ornamento de Flores.
27. As seis coleções se referem à percepção dos cinco objetos sensoriais mais os
objetos mentais.
pensamento. Ao aplicar isto em sua experiência, permita que seu estado natural
não elaborado, sua natureza verdadeira e básica, não seja perturbada pelo
pensamento, mas permaneça silenciosa, livre de pensamentos e vividamente
desperta. Reconheça-a como o estado natural tanto no caso da base de tudo, da
consciência e da natureza básica das coisas. Portanto, este é o ponto essencial de
naturalmente se dissolver no dharmakaya. Tsogyal, este conselho de extrema
importância eu ofereço a você.
fixar. Olhe para o outro e veja que ele não consiste de uma categoria com uma
única face à qual você possa se fixar. Tanto eu quanto outro são mente. Esta
qualidade vazia da mente é o ponto chave de naturalmente dissolver o eu e o
outro sem divisões. Tsogyal, este conselho de extrema importância eu ofereço a
você.
que aquele que percebe e o que é percebido são indivisíveis como uma vacuidade
aparente. Tsogyal, este conselho de extrema importância eu ofereço a você.
aplicar isto experiencialmente ao seu fluxo de ser, a natureza não nascida de sua
mente - sua vacuidade que não possui identidade alguma - é discernida
aplicando meios hábeis, enquanto ela é conhecida e vista através da sabedoria.
Este é o ponto essencial de realizar a vacuidade não nascida e a sabedoria de
dharmata como indivisíveis. Tsogyal, este conselho de extrema importância eu
ofereço a você.
SELO DE TESOURO. ༔
SELO DE OCULTAÇÃO. ༔
SELO DE CONFIANÇA. ༔
Notas:
36. A estrutura da frase aqui provém da versão do Lama Gongdü, enquanto que a
versão Martri diz: “Ao ver e realizar que o pensamento desta forma se dissolve por
si mesmo...”
37. Em outro texto fonte, Shri Singha define Ati como “autoexistência livre de
nascimento”.
38. Shri Singha diz: “Sabedoria (rigpa) é a sabedoria do estado desperto original
que é experiência pessoal.”
39. A frase “chegar à outra margem” é uma tradução literal de paramita.
Tendo dito isto, ele ofereceu uma mandala de ouro e acompanhou seu
pedido com uma oferenda de festim. Então, o mestre deu as seguintes instruções:
OM AH HUNG
Aqui está a instrução para reconhecer que três sílabas são o grande selo de
Corpo, Fala e Mente:
Onde quer que esteja é o local de retiro, a montanha de seu corpo. Aqui
vive a sua mente, o meditador eremita.
De início visualize-se como a deidade yidam, completa em um instante de
recordação. Reconheça que a vívida presença da forma corpórea da deidade é o
sambhogakaya, com sua cor, implementos, adornos e vestimentas. Reconheça
que sua forma corpórea é o nirmanakaya, que é visto, porém insubstancial e não
tem substância material.
Enquanto visualiza isto, reconheça que sua mente não é a miríade de
formações de pensamentos, mas sim o dharmakaya, e ela permanece lúcida e
livre de pensamentos como a chama de uma lamparina de manteiga protegida do
vento. Reconheça que esta deidade visualizada não é encontrada em qualquer
outro lugar além de sua mente vista como sendo a identidade da deidade.
Então consagre essa deidade com as bênçãos de Corpo, Fala e Mente.
Reconheça que o OM branco, visualizado sobre uma roda de quatro raios na
coroa de sua cabeça, é a identidade do Corpo de todos os sugatas. Reconheça que
pensa nem por um instante na prática do Darma que é necessária. Quando você
se posiciona para observar a natureza da mente, é incapaz de olhar mesmo por
um momento; em vez disso você incansavelmente mantém um olho para observar
sua aparência, o que é desnecessário. Sem conquistar força na prática de
meditação, você enfatiza as conversas inúteis, incessantes como a baba de uma
vaca velha.
Eu nunca vi nenhum sucesso ao ensinar tais mulheres. Se você deseja
perseverar, faça isto seguindo a prática do Darma.
água.
O giro no samsara é impermanente; ele não tem substância de qualquer
tipo. Não importa como você possa circular através da manifestação incessante
de nascimento, velhice, doença e morte, como aparições mágicas nenhum deles
possui qualquer substância, uma vez que todos ocorrem a partir de sua própria
mente. Compreenda que eles são ilusões mágicas, são experienciados, porém são
irreais.
A crença em uma essência é uma delusão, assim, não acredite que um ego
ou essência tenham qualquer substância. Casa e propriedades, marido e filhos,
riquezas e pertences são todos como objetos em um sonho; trate-os como
fantasias, uma vez que são irreais e ilusórios.
Todas as atividades mundanas são dolorosas por natureza. Como o fio
criado da saliva do bicho da seda, elas se manifestam a partir de você, e então
você as acorrenta. O que quer que faça, faça com o selo da ausência de conceitos,
e dedique suas ações como a acumulação de mérito. Se praticar desta forma,
cada ação que realizar se tornará um dharma que conduz à realização do estado
búdico.
Apesar disto, mulheres simples como você possuem pouca coragem. Tendo
inimigos físicos, vocês não podem praticar o Darma, mas são forçadas a se
casarem. O seu carma negativo as envolve em tarefas incontáveis, e assim vocês
nunca pensam sobre o Darma. Muito poucas mulheres obtêm sucesso na prática
do Darma, assim, fortaleça-se com a perseverança.
reconquistado através do esforço. Uma vez que esta natureza da mente não é algo
concreto, treinar em seu reconhecimento significa não cultivar coisa alguma de
qualquer tipo. Ela não é um objeto a ser cultivado, nem há alguém para cultivá-
la.
Visto que o seu pensamento é um estado desperto original, não considere o
embotamento e a agitação como defeitos. Como eles não possuem identidade, os
seus pensamentos naturalmente se dissolvem e a presença natural de dharmata
se apresenta. O embotamento desaparece à medida que surge desta natureza e
nela se dissolve. A agitação também desaparece no espaço básico uma vez que
surge desta natureza.
Visto que a fruição não é algo a ser alcançado, é suficiente simplesmente
realizar a sua própria mente. Uma vez que a sua mente nem morre nem
transmigra, ela é a esfera única do dharmakaya. Uma vez que compreenda este
significado, a realização do corte único, isto mesmo é o estado desperto de um
buda.
Apesar disto, mulheres volúveis e desconfiadas como você são incapazes de
seguir o conselho de seus mestres com suas rígidas e incorrigíveis emoções.
Apenas poucas de vocês podem chegar ao fim da prática do Darma; mas se
praticar, valorize as instruções de seu mestre. Esteja disposta a enfrentar pelo
menos algumas dificuldades.
Então, Lady Mati de Ruyang perguntou ao Mestre do Lótus: Uma vez que a
minha diligência é fraca, por favor, conceda-me uma instrução sobre a não ação.
O mestre respondeu: Lady Mati de Ruyang, ouça-me. A natureza de
dharmata não é uma substância concreta, portanto, não é algo que possa ser
produzido. Visto que esta natureza de dharmata está presente desde o princípio,
ela não resulta de prostrações. A natureza de dharmata está dentro de você,
presente e não obscurecida. Quando você realizar que sua mente não possui
identidade, isto mesmo é o estado desperto. Não é algo que precise ser alcançado.
Todo esforço e dedicação apenas a acorrentam ao desejo. Repouse, não elaborada
e sem meditar.
Apesar disto, mulheres insensatas como você não entendem, não importa o
quanto sejam ensinadas. Mesmo quando o dharmakaya é apontado vocês não o
reconhecem. Ao serem introduzidas ao estado desperto vocês ainda não o veem.
Mesmo quando ensinadas, é difícil para vocês compreenderem o corte da não
ação. A maioria de vocês irá distorcer este ensinamento para mulheres, assim,
vista uma armadura mais forte e cuide-se para não ser apanhada pelo mara de
ter um marido. Não gere filhos, em vez disso pratique em isolamento, mesmo que
isto seja difícil.
Notas:
40. Formas alternativas de soletrar Lady Matingma de Dro são “Tingpangma” e
“Mapema”.
“A EXPLICAÇÃO DA INICIAÇÃO DA
MANIFESTAÇÃO DA MENTE PRIMORDIAL”
DE A Realização Livre de Obstáculos de Samantabadra
A Samantabadra e Vajrasattva,
A Prahevajra e Manjushrimitra,
A Shri Singha e todos os outros mestres,
Aos mestres da linhagem dos três kayas eu presto homenagem.
Novamente eles perguntaram: Por favor, ouça, grande mestre. Por favor,
explique em detalhes o significado de apontar a natureza da mente como sendo o
dharmakaya ao conferir todas as quatro iniciações de forma completa.
O Mestre disse: Ouçam agora, Rei e Tsogyal. Em geral, todas as
experiências pertencentes ao samsara e ao nirvana são a união de aparência e
vacuidade, sendo que a qualidade vazia é predominante. Este mundo todo -
acima e abaixo e nas direções cardinais e intermediárias - está dentro da
expansão vazia do espaço. Entre eles, a terra, as montanhas e rochas todas
perecem e se tornam vazias no final. As fases da lua e a mudança das quatro
estações também são sinais de sua vacuidade.
Todos os seres sencientes e as formas de vida nascem e morrem da mesma
forma. Comparados aos seres que obtêm um corpo físico, um número muito
maior não possui corpo. Além disso, atingir o nirvana significa ser liberado no
espaço dharmadhatu da vacuidade. Desta forma, tudo se torna vazio, e assim,
tudo o que aparece e existe é o estado de vacuidade. Portanto, não se apegue e
não se fixe à dualidade. Sem se apegar a qualquer tipo de coisa, permaneça na
continuidade do grande estado que tudo permeia da realização da vacuidade, que
não pertence a qualquer tipo de categoria. Repouse no estado que é livre de
construções mentais.
Esteja certa de que a vacuidade é a essência da maioria dos ensinamentos.
Desde o princípio essa é a qualidade especial da visão pretendida. Se você falhar
na compreensão do significado da vacuidade, acabará se envolvendo na fixação
aos objetos percebidos das seis coleções e continuará a vagar no samsara. Se
conquistar a certeza a respeito da natureza da vacuidade você interromperá o
fluxo do samsara, e a delusão será completamente purificada. Por outro lado, se
ao invés da verdadeira vacuidade você se desviar para a ideia de vacuidade, ou
falhar em compreender o estado de igualdade e ao invés se dissipar em um
estado de indolência, não há desvio mais grave que essa vacuidade errônea.
Portanto, confie em um mestre para o ponto chave das instruções profundas e
persevere na prática.
Assim ele disse.
Novamente eles perguntaram: Por favor, ouça, grande mestre. Por favor,
explique em detalhes o significado de conferir a mais suprema de todas as
iniciações - a iniciação da manifestação da mente primordial - assim como os
pontos chave da prática e o significado de alcançar a maestria da mente
primordial.
O mestre disse: Ouçam agora, Rei e Tsogyal. As quatro iniciações
mencionadas acima são assumidas progressivamente. Os caminhos e níveis são
trilhados em sucessão e não é possível despertar instantaneamente. Os
ensinamentos do caminho gradual são ensinados pelos nirmanakayas para o
benefício dos seres sencientes.
A iniciação da manifestação da sabedoria primordial é ensinada pelos
budas que são por natureza perfeitos e, enviando suas emanações compassivas
do dharmadhatu de Akanishtha, eles a ensinam para o benefício de despertar
instantaneamente aqueles seres mais afortunados. Portanto, não é possível
alcançar o estado búdico sem ter recebido a iniciação da manifestação da mente
primordial.
Todos os budas do passado despertaram após receber a iniciação da
manifestação da mente primordial. Todos que atualmente atingem a iluminação
também despertam depois de receber a iniciação da manifestação da mente
primordial. E cada buda que atinge a iluminação no futuro também despertará
depois de ter recebido a iniciação da manifestação da mente primordial. É
impossível alcançar a iluminação a não ser que você a obtenha.
Quando uma pessoa pratica com perseverança existem dois tipos de sinais
no caminho, indefinidos e definidos, que indicam que o resultado será
rapidamente atingido. Os indefinidos são conhecidos como sinais básicos e
aparecem devido à conexão prévia da pessoa, mesmo sem ter praticado. Como
eles não são confiáveis, eu não os descreverei aqui.
Os sinais definidos aparecem devido à prática, e eles são de dois tipos:
temporários e imutáveis. Os sinais temporários podem aparecer de fato ou como
humores. O primeiro tipo ocorre ao fazer as preliminares e as práticas de
separação e o seu corpo se sente à beira de um colapso como as paredes de uma
casa em ruínas, sua voz se sente esgotada, como se tivesse sido exaurida, ou você
tem convulsões como alguém possuído. Estes sinais indicam que você separou
samsara e nirvana. Os humores são o desencantamento com o corpo, a fala e a
mente samsáricos. Eles indicam ter purificado os obscurecimentos dos três
reinos e se separado do samsara. Sua ausência indica não ter alcançado a
experiência, assim, repita as práticas.
Os sinais de fato - baseados na fadiga do corpo, fala e mente - se dão
através da bem-aventurança de seu corpo; sua fala deseja se expressar; e sua
mente experimenta tudo como espaço. Você sente: “Agora nada existe!”, assim
como compaixão pelos seres que não percebem o mesmo que você; e o
entusiasmo pelo Darma também surge. Como humores, você esquece que possui
um corpo, não percebe sua respiração e mentalmente não deseja se afastar do
estado de ausência de pensamentos, pensando: “É isto!”. Estes são os sinais de
estar sustentando o tipo nirvânico de estabilidade mental. A ausência deles
indica que o treinamento ainda não é bom o bastante, assim, esforce-se e
continue.
Todos estes são sinais apenas temporários, eles mudam e não são
confiáveis.
Em seguida vêm os sinais da prática principal, ou seja, os sinais de ter
estabelecido rigpa de fato através da visão. Os sinais propriamente ditos são a
sensação de desencantamento com corpo, fala e mente de uma forma que seja
visível tanto para você quanto para os outros, e também a ausência de interesse
pelas atividades desta vida. Sua voz é como a de um mudo. Mentalmente você
está cansado dos assuntos samsáricos, você sente uma profunda devoção por seu
guru e brota uma compaixão por todos os seres até as lágrimas rolarem. Há
confiança na consequência das ações e você se esforça em abandonar as ações
errôneas e praticar a virtude. Os sinais de humor incluem a leveza do corpo, às
vezes até mesmo esquecendo que possui um corpo, não percebendo o movimento
da respiração e mentalmente sentindo que tudo é insubstancial e evanescente.
Todos estes sinais são mutáveis e não perduram.
Os sinais de valor duradouro são os seguintes. Dentro do espaço amplo da
visão, quando a mente primordial é totalmente revelada, sem flutuações, e sem
projetar a experiência como sendo “outra”, este é o sinal de ter ancorado a mente
fato são de que não há apego a um corpo, tal como não ter medo da água. Além
do mais, sinais de excelência anteriormente não vistos podem ser testemunhados
tanto por você como pelos outros.41 Sua voz pode expressar ensinamentos do
Darma benéficos simplesmente direcionando sua vontade para os outros. Em sua
mente surge uma clarividência imaculada.
Os sinais como humores da meditação são de que você nem se lembra nem
pensa na fixação ao seu corpo, fala e mente; de que tudo que experimenta é
espaçoso e não é tomado como real; e a sensação de que pode se mover
livremente através de pedra, montanhas etc.
SARVA MANGALAM. ༔
Notas:
41. As marcas de excelência se referem às trinta e duas marcas maiores e oitenta
menores de excelência que embelezam o corpo de um supremo buda
nirmanakaya.
Depois de dizer isto, ele curvou sua cabeça com grande devoção e chorou.
O mestre o observou e, extraindo seu conselho mais essencial, concedeu o
seguinte: Emaho! É extremamente maravilhoso que você possua fé sentida no
fundo de seu coração. Vossa Majestade, não tenha medo do momento da morte.
Eu possuo uma instrução para o caminho curto do Mantra Secreto, através da
qual mesmo um grande pecador pode atingir a iluminação antes dos outros. Esta
é uma instrução para evitar o bardo, assim, ouça agora, Vossa Majestade.
Primeiro, nós entramos no útero devido à incidência de nossa ignorância e
pelo poder do carma. Em seguida, permanecemos por um curto período nesta
terra. No final, morreremos e este corpo será deitado no solo enquanto a mente
viaja pela força do carma. A mente assumirá outro corpo entre as seis classes de
seres, e assim continuará a vagar no samsara.
Mesmo se tivermos êxito em viver uma vida plena de cem anos, passamos
metade dela dormindo à noite como um cadáver. Enquanto sonhamos passamos
por uma profusão de alegrias e tristezas. Assim, no melhor caso, nossas horas
despertos não constituem mais do que cinquenta anos.
Antes de termos nascido de nossas mães, a morte era nossa posse natural.
• Morrer como um rei é quando alguém como você morre ainda apegado ao
seu domínio e posses; esta é a forma inferior de morte. No momento da
morte, esteja livre de apegos.
• Morrer como um mendigo é morrer sem o menor apego a objetos e
utensílios. Esta é a forma intermediária de morte.
• Também há a forma de morrer como um cervo das montanhas. Morrer em
isolamento, totalmente livre mesmo da noção de apego ou fixação é a forma
mais elevada de morte.
fervente. Na realidade ela não é nenhuma destas, assim há seis visões errôneas.
Duas perspectivas devem ser vistas como errôneas. Os extremistas
eternalistas afirmam que causa e efeito são ambos permanentes, de modo que
um homem que morre renasce como um homem, um cavalo novamente como um
cavalo, e assim por diante. Os extremistas niilistas alegam que o corpo é
assimilado pelos quatro elementos e que a mente é assimilada pelo espaço, que
os eventos do momento são inconsequentes e que não há renascimento após a
morte. Ambas são concepções errôneas.
Bem, então, qual é o estado real? Todos os fenômenos não são
absolutamente nada e são totalmente livres de qualquer coisa a ser sustentada
pela mente. Em relação a estas aparências do momento como pedras e rochas,
montanhas e florestas, árvores e plantas, e assim por diante, não guarde a crença
de que elas são qualquer coisa de qualquer tipo, e não afirme que elas são
qualquer coisa. Não negue o que aparece e não afirme que aquilo é ou não é. Sua
aparência é uma aparência natural, e sua vacuidade é uma vacuidade natural.
Como a identidade do espaço, permita que sua identidade seja naturalmente
vazia, e permita que sua aparência esteja livre de uma natureza própria.
Ao não apreender a aparência destes objetos, você não dá nascimento a
fixação ou apego. Assim, você corta através da raiz do mundo externo que é como
um receptáculo. Estando livre do renascimento nas seis classes de seres, você
terá esvaziado as seis causas. E por que é assim? É porque a experiência das seis
classes de seres é uma delusão. Estando livre desta delusão, a aparência de seus
objetos não poderá ser vista em lugar algum.
O rei perguntou: O que se quer dizer com determinar a raiz da mente que
percebe internamente como sendo a identidade da cognição vazia?
O mestre respondeu: Vossa Majestade, ouça agora. Determinar que a raiz
da mente interna que percebe é uma cognição vazia e esvaziar a porta do útero
para a mente interna é conhecido como estar livre da raiz do renascimento.
O que se quer dizer com “mente interna que percebe?” Ela inclui [a mente
Sendo assim, ao reconhecer que tudo é a delusão de sua mente, você terá
determinado a natureza das coisas e estará livre da raiz da bondade ou maldade.
O mestre concluiu com esta instrução para o rei: Vossa Majestade, entenda
isto. Não há tempo para desperdiçar! Treine na experiência desta natureza
profunda de dharmata! Mesmo que você compreenda o significado profundo, não
deixe de realizar ações condicionadas virtuosas. Em qualquer coisa que faça
coloque o selo de não sustentar qualquer conceito.
Se revelar este ensinamento para outras pessoas ele se tornará base para
mal-entendidos, assim, não o propague, oculte-o como um terma. No final desta
era, Rei, você o encontrará novamente.
NAMO GHURU.
A não ser que atravesse estes cinco bardos você não terá chance de cortar a
raiz do samsara.
preocupada e recolhida.
Estas são as quatro formas de desvios. Para eliminar as suas falhas, não
dirija sua mente para qualquer uma destas formas de desvio.
Sua essência não é permanente, uma vez que ela está selada pela
vacuidade. Ela não é uma nulidade niilista, visto que é desperta e ilimitada. Ela
não é algo que se torna iluminado, visto que permanece como o próprio
dharmakaya. Não há medo de [continuar] em samsara, visto que samsara é
liberado no dharmakaya. Uma vez que os pensamentos sejam utilizados como
estado desperto e o sofrimento desponte como sabedoria, não há qualquer coisa a
ser purificada.
Quando você sabe praticar desta forma, estará livre de erros. Treine
prolongando isto. Sem interrupções, treine deliciando-se. Quando tiver treinado
desta forma as suas tendências anteriores à fixação diminuirão. Pelo poder deste
treinamento clareza, bem-aventurança e a sensação de não ter corpo ocorrerão.
Sem este treinamento você não atravessará o pensamento deludido
momentâneo, e não interromperá suas tendências anteriores à fixação. Portanto,
treine completamente em nunca separar a sua mente de dharmata, como uma
grande bandeira não agitada pelo vento.
Além disso, assim como uma garota vaidosa olha para o espelho para ver se
há qualquer mancha em seu rosto, sempre treine, através do samadhi,
inspecionando se há qualquer falha do embotamento ou da agitação em sua visão
e conduta. Esta foi a instrução para o treinamento no bardo do samadhi.
Assim ele disse.
mantenha a noção de que tudo é como um sonho. Aceite que todos os fenômenos
são sonhos e que todo prazer e dor são delusões. Traga à mente a experiência
meditativa anterior.
Então, quando o seu treinamento tiver se desenvolvido ao ponto de não
haver diferença entre os sonhos e o estado desperto, como o sonhar é similar ao
bardo você será capaz de atravessar os estados do bardo por ter treinado no
significado acima.
Além do mais, assim como o fluxo de um rio é ininterrupto, continue o
treinamento sem pausas durante o dia, os sonhos e em todos os momentos.
Estas foram as instruções para a conduta durante o bardo do sonho.
Assim ele disse.
mente do iogue se separar de seu corpo ele não permanecerá na forma corporal
da vida anterior, mas no exato momento em que sua mente se separar do corpo
ele atingirá o dharmakaya, o que é conhecido como despertando para o estado
búdico no bardo.
Além do mais, os seis poderes superiores surgem; as cinco emoções
perturbadoras são abandonadas e despontam como as cinco sabedorias; as
84.000 portas do Darma são manifestadas simultaneamente; e você agirá para o
bem-estar dos seres através do sambhogakaya e nirmanakaya. Assim como
acender uma lâmpada em um quarto escuro, você despertará para o estado
búdico em uma única vida, o que é conhecido como a fruição espontaneamente
aperfeiçoada.
SELO DE TESOURO. ༔
SELO DE OCULTAÇÃO. ༔
SELO DE CONFIANÇA. ༔
Notas:
42. “Na continuidade da realização da visão” também pode ser estruturado como
“enquanto a visão é uma realidade.”
43. Parece que há uma discrepância no tibetano aqui, pois são citados seis, mas
na verdade oito são listados.
44. Normalmente o conselho é de combinar com o foco para dentro de um dos
chakras.
Meu guru disse: “Treine sua mente no Tripitaka.” Portanto, na direção leste
do Trono Vajra eu estudei os sutras; na direção sul eu estudei o Vinaya; na
direção oeste eu estudei o Abhidharma; e na direção norte eu estudei as
paramitas. Então eu fui até Shri Singha, ofereci presentes e estudei o Tripitaka
completo.
Eu lhe supliquei para me aceitar. Meu guru respondeu: “Filho, primeiro
você precisa treinar sua mente nos ensinamentos do Mantra Secreto.”
Assim, no reino de Uddiyana eu estudei as três yogas; no reino de Sahor eu
estudei o Mahayoga tantra e a Seção Mental da Grande Perfeição; no reino de
Nairanjara eu estudei Kilaya; no reino de Singha eu estudei Padma Maheshvara;
no reino de Vasudhara eu estudei Kriya; no reino do Nepal eu estudei
Yamantaka; no reino de Merutse eu estudei Mamo; no Trono Vajra eu estudei as
oito sadhanas dos herukas; e no reino de Lantsha eu estudei Guhya Samaja,
consistindo das quatro seções dos tantras pai e mãe.
Tendo realizado todos os fenômenos como sendo simplesmente oníricos,
ilusórios, irreais e falsos, eu fui até o guru que estava expondo o Darma a uma
audiência de 5500 pessoas, incluindo alguns reis. Quando eu cheguei, Guru Shri
Singha disse: “O que você quer, noviço?”
Eu respondi: “Eu estudei os ensinamentos do mantra secreto
extensamente. Agora eu gostaria de receber seus ensinamentos.”
Guru Shri Singha disse: “Você é um homem sábio que primeiro estudou o
Tripitaka e depois estudou o Mantra Secreto. Que se disperse esta assembleia.”
Então ele continuou: “Você compreende que todos os fenômenos são falsos,
mas isto não ajuda em nada. Esta compreensão - de que tudo é como um sonho,
ilusório, irreal e falso - deveria ser assimilada em seu ser. Sem tomá-la no
coração isto se torna apenas superficialidade. Isto não resulta na iluminação.”
Eu disse: “Se isto é assim, então, por favor, me dê um ensinamento para
tomá-la em meu coração.”
O guru respondeu: “Primeiro, faça uma oferenda de mandala!”
Eu fiz uma mandala de uma medida de ouro em pó e a ofereci a ele.
Shri Singha disse: “Agora, fique diante de mim. Mantenha os seus pés na
posição das pernas cruzadas, suas mãos em equanimidade e sua coluna ereta.
Este é o ponto chave do corpo.
“Direcione os seus olhos para a expansão do céu. Este é o ponto chave dos
canais.
“Aperte o vento inferior e suprima o vento superior. Este é o ponto chave
dos ventos.
“Visualize um E de um bindu vermelho no nirmana-chakra no centro do
umbigo. Visualize um bindu branco de um BAM no mahasukhachakra de centro
da coroa. Este é o ponto chave do bindu.
“Foque a sua mente no BAM sendo derretido pelo fogo intenso do E, depois
do que os bindus branco e vermelho se unem no dharma-chakra do centro de seu
coração. Este é o ponto chave da mente.
“Permita que os bindus branco e vermelho se tornem menores e menores, e
finalmente, não sustente coisa alguma em sua mente. Este é o ponto chave da
iluminação perfeita e completa.”
Eu pratiquei desta forma e algumas experiências surgiram, tais como não
sentir o corpo, não sentir a inalação e exalação da respiração, a sensação de
poder mover-se sem obstáculos através das aparências, e a sensação de ser
imortal. Quando estas experiências aconteceram, eu me senti orgulhoso e as
relatei ao guru.
O guru disse: “É extremamente tolo ter orgulho por ser tocado pelas
bênçãos de um mestre e considerar isto como suficiente. Agora vá para um local
Encantado com estas experiências, eu as relatei ao guru. Ele disse: “Há três
ocasiões na Grande Perfeição: a ocasião da presença espontânea, a ocasião do
estado inconcebível, e a ocasião da grande bem-aventurança. Destas três, suas
experiências são a ocasião da presença espontânea. Depois de permanecer em
um estado de frescor, o estado inconcebível e a grande bem-aventurança se
manifestarão.
“O samsara é enganoso e a mente é crédula! Não se apegue à experiência de
meditação, mas expanda sua mente.”
“Como se espera que alguém expanda a própria mente?” eu perguntei.
Guru Shri Singha respondeu: “Não há diferença entre budas e seres
sencientes além do escopo de suas mentes. Aquilo que é chamado de mente,
consciência ou mente primordial, é de uma única identidade. A mente de um ser
senciente é limitada, a mente de um buda tudo permeia. Assim, desenvolva um
escopo mental que seja como o céu, que não possui limites a leste, oeste, norte
ou sul.”
Então eu fui para um local solitário e desenvolvi um escopo mental que era
como o espaço, a partir do qual estas convicções surgiram:
Eu tive experiências de sentir uma vívida clareza, uma pureza total, uma
abertura completa, que tudo permeia - totalmente abrangente, totalmente livre e
completamente difusa. A experiência de clareza era como o sol elevando-se no
céu; a experiência de vacuidade era como o espaço; e a experiência de bem-
aventurança era como o oceano. Eu tive uma variedade de experiências que eram
mestre.”
Assim eu fui pessoalmente à Terra das Neves, e no caminho encontrei os
mensageiros.48
SAMAYA. ༔
SELO DE CONFIANÇA. ༔
SELO DE SEGREDO. ༔
ITHI. ༔
Notas:
45. Outra versão deste texto é encontrada na coleção de termas revelados por
Rigdzin Gödem com o nome Dzogchen Rangjung Rangshar. Esta versão difere
aqui no trecho: “Você ainda não capturou o trono da estabilidade, e assim a
brasa ardente da delusão ainda explodirá em chamas.”
46. A outra versão coloca aqui: “’Agora, você e eu não nos encontraremos mais!’
eu disse: ‘Eu ainda desejo vê-lo e pedir ensinamentos.’ ‘Você ficará satisfeito em
me ver e infeliz se não me encontrar?’ ‘Eu ficarei exultante se puder apenas
encontrá-lo novamente!’”
47. A versão Dzogchen Rangjung Rangshar apresenta: “Como um cadáver
abandonado em um terreno de cremação, eu estava livre de formar quaisquer
julgamentos sobre qualquer percepção que surgisse.”
48. Os mensageiros do Rei Trisong Deutsen que foram enviados para convidar
Padmasambava ao Tibete.
49. Daklha Shampo é um dos espíritos nativos do Tibete que jurou guardar os
ensinamentos de tesouro de Padmasambava.
Fontes
10. “Instrução para Mulheres sobre Como Atingir a Iluminação Sem Abandonar
as Atividades Diárias.”
Traduzido de “Sem Título”, de Nyang Ral Nyima Özer. Martri, no Rinchen Terdzö,
vol. 92, pag. 474-494.