Borges 2010
Borges 2010
Borges 2010
VEM DO NORTE
i
Universidade de Brasília
Instituto de Letras
Departamento de Teoria Literária e Literaturas
Programa de Pós-Graduação em Literatura
Brasília
2010.
ii
DOIS IRMÃOS DE MILTON HATOUM: UM OLHAR QUE
VEM DO NORTE
Brasília
2010.
iii
COMISSÃO JULGADORA
Titulares
______________________________________________________
____________________________________________________
_______________________________________________________
Suplente
____________________________________________________
Profa. Dra. Deane Maria Fonsêca de Castro e Costa
iv
NÃO SEI...
Não sei...
Não sei...
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.
Cora Coralina
v
DEDICATÓRIA
À minha amada mãe que fez da sua vida uma luta diária para que eu construísse a
minha história.
Tetê, por você tenho estímulo e força para continuar o meu caminho. Sem sua
constante dedicação eu jamais teria chegado até aqui. Amo-te mais do que o meu
coração pode caber.
vi
AGRADECIMENTOS
À professora Maria Isabel Edom Pires por me aceitar como aluna especial
na sua disciplina da Pós-Graduação e, também, pelo incentivo para
participar da seleção de mestrado.
vii
Ao professor Eduardo José Tollendal por ouvir, nos intervalos das aulas,
as minhas inquietações a respeito da Literatura Brasileira e, também, pelo
estímulo em continuar os estudos.
À família Silva & Vilas Boas por ter me acolhido e acreditado em mim
quando as minhas esperanças já se esvaiam. Obrigada meus querid@s por
me mostrarem que os “sonhos não envelhecem”!
À Dilma que me acolheu em sua casa, porque viu mim uma vontade de
fazer o meu próprio destino.
viii
A CASA DO TEMPO PERDIDO
Resposta nenhuma.
no bater e bater.
ix
RESUMO
O intuito do presente trabalho é averiguar a construção narrativa da obra Dois irmãos (2000),
do escritor amazonense, de origem libanesa, Milton Hatoum, como produção artística
pertencente ao corpus da tradição literária brasileira e os possíveis questionamentos
suscitados em torno dessa mesma tradição. Nesta análise da obra literária, pretende-se
compreendê-la atrelada ao contexto sócio-histórico, não como representação do
real enquanto documentário, mas perceber a realidade como instrumento (matéria-
prima) que o escritor utiliza para recriar, transfigurar, por meio de um discurso
ficcional, a realidade em que se insere. Desse modo, sabe-se que é estreita a relação
entre literatura e os fatores sociais no processo criativo de um escritor, ao se
considerar que, por meio de uma redução estrutural, a literatura produz um
mundo à parte e transfigura, por modo estético-ideológico, a realidade. Com essa
ressalva, faz-se necessário inferir a noção de espaço geográfico (no caso específico o
território amazônico brasileiro) como veículo problematizador das relações sociais no
âmbito da obra hatoumiana em questão, haja vista que tal concepção propicia uma
narrativa ambientada na Manaus das décadas de 1910 a 1960 (desde o fim do Ciclo da
Borracha, passando pela 2ª Guerra Mundial até a ditadura militar com O Golpe de 64).
Desse modo, tem-se a narrativa contemporânea Dois irmãos como produção
artística que engendra uma interpretação do Brasil na medida em que os processos
históricos de uma determinada época em Manaus e, também no restante do país,
são revelados pelo olhar de um arguto observador (o narrador-personagem Nael).
x
ABSTRACT
The purpose of this study is to examine the narrative construction of the book
Dois Irmãos (2000), from the Amazon writer (of Lebanese origin) Milton
Hatoum, as artistic production belonging to the corpus of Brazilian literary
tradition, and possible questions raised around this same tradition. This literary
work analysis intendes to understand the book tied to the socio-historical context,
but not as representation of reality as a documentary but, perceiving reality
as an instrument (feedstock) that the writer uses to recreate,
transfigure through a fictional discourse, the reality in which it
inserts. Thereby, it is known that the relationship between literature and
social factors, in the creative process of a writer, is closed, to consider that,
through a structural reduction, the literature produces a world apart
and transfigures by mode aesthetic-ideological the reality. With this
caveat, it is necessary to infer the notion of geographic space (in the case of
the particular Brazilian Amazon territory) as a social relations problematizing
vehicle within the work in hatoumiana, that is in question. Considering that this
concept provides a narrative thar occurs at Manaus from 1910 to 1960 (since the
Rubber's Cycle ending, through the 2nd World War until the military dictatorship
in 64). So, we have the contemporary narrative Dois Irmãos, as an
artistic production that generates an interpretation of Brazil to the extent
that the historical processes of a particular time at Manaus, and also
the rest of the country, are revealed by the look of a shrewd observer (the
Nael narrator-character).
xi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................102
xii
INTRODUÇÃO
Seus primeiros romances são Relato de um certo Oriente (1989), Dois irmãos
(2000) e Cinzas do Norte (2005). Esses relatos têm narradores em primeira pessoa, que
contam suas histórias a partir de uma observação das mudanças ocorridas tanto nas
casas em que habitam ou por onde transitam quanto na cidade de Manaus, que também
se modifica ao longo das narrativas. Tratam-se de histórias ancoradas pela memória, que
se torna, assim, o pilar da narrativa hatouniana. É por essa razão que alguns críticos
1
ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia Completa: conforme as disposições do autor. 1 ed., 3, impr.,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.
2
Cf. Milton Hatoum em recente entrevista na revista Caros Amigos, em março de 2010.
13
literários denominam o escritor manauara de o arquiteto da memória. Portanto, se a
memória é a pilastra da narrativa
Nael contará os fatos a partir do quarto dos fundos da casa, pois é o herdeiro
bastardo daquele núcleo ao ser o filho da empregada ―a sombra servil de Zana‖ –
matriarca dessa família.
14
que vende produtos eletroeletrônicos made-in-china. Em Dois irmãos, o narrador, filho
bastardo da família libanesa, conta-nos uma história de ruína tanto da casa quanto da
própria Manaus3.
No ano de 2008, Milton Hatoum lançou Órfãos do Eldorado, uma novela que
tem Manaus como uma cidade-miragem:
3
Cf. PELLEGRINI, Tânia. ―Regiões, Margens e Fronteiras: Milton Hatoum e Graciliano Ramos‖. In
Despropósitos: estudos de ficção brasileira contemporânea. 1.ª ed., São Paulo: Annablume; FAPESP, 2008.
15
decadência das últimas décadas, e pelo deslumbramento encarnado na exuberância
natural da região, com os seus rios, a fauna e a flora.
São contos permeados pela memória de narradores em trânsito, que mesmo não
estando na cidade reportam-se a ela para contar seus relatos. Esses contos fazem parte
da experiência do autor amazonense, um viajante que morou em várias cidades do
Brasil e do exterior, e que transformou sua experiência de ―expatriado‖, longe da sua
cidade e do seu país, em matéria literária.
4
Todos os romances de Milton Hatoum foram editados pela Companhia Das Letras.
16
a Amazônia não tem fronteiras; sim há uma delimitação de ‗fronteiras,
mas para nós não passam de fronteiras imaginárias. Que importa, para
os índios yanomamis, por exemplo, se eles foram assassinados na
Venezuela ou no lado brasileiro? Para os índios, o território, a terra
deles não tem fronteiras. E para todos nós, nascidos na Amazônia, a
noção de terra sem fronteiras está muito presente [...] Porque é um
horizonte vastíssimo, em que as línguas portuguesa e espanhola se
interpenetram em algumas regiões, onde as nações indígenas também
são bilíngües, às vezes poliglotas (índios que falam tucano, espanhol,
português). Há um mosaico de grandes nações, de tribos dispersas; na
verdade, cada vez mais dispersas [...] (HATOUM, 1993).
Desse modo, neste cenário, temos autores que se propõem a tecer um diálogo
com a História para trazer à tona questões vinculadas às disparidades socioeconômicas
que ainda estão vigentes em nossa sociedade. Por isso, Dois irmãos torna-se um
interessante material de pesquisa para gerar reflexões acerca da representação literária
das questões locais amazonenses.
5
Manaus recebeu este nome por causa da presença dos índios Manáos “que habitaram essa região, antes
de serem extintos pelo colonizador europeu, e cujo significado quer dizer mãe dos deuses‖ (PONTES
FILHO, 2000, p.114). Esta irônica homenagem feita pelos colonizadores tenta apagar todos os rastros de
violência e abandono promovidos naquela região com o extermínio de milhares de povos indígenas.
17
escravizados em que viviam os seringueiros, os quais continuaram os ciclos de miséria,
em suas ―vidas arruinadas‖, nas palavras do narrador de Dois irmãos.
Assim sendo, estudamos a narrativa como uma produção artística que engendra
uma interpretação do Brasil na medida em que os processos históricos de uma
determinada época em Manaus e, também no restante do país, são revelados pelo olhar
deste arguto observador, que é Nael, o narrador de Dois irmãos.
O texto literário de Hatoum traz para o leitor das outras regiões do país uma
concepção diferente da região amazônica. Seus dois primeiros romances descrevem o
conflituoso cotidiano da vida de famílias de imigrantes libaneses já radicados no Brasil.
Nestes dois relatos, a presença libanesa emerge em sua arquitetura literária tornando-se
matéria narrada para contar uma parte da história do Norte do Brasil, a partir do
povoamento de imigrantes sírio-libaneses, que se adaptaram ao clima e à região. Em
entrevista, Milton Hatoum menciona que
18
dizer, saber que o Brasil é também um país de imigração (HATOUM,
2010: 14).
Por essa razão, há uma parte da fortuna crítica que denomina os dois primeiros
romances de Hatoum como narrativas de memória ou literatura de imigrantes, pois
ressaltam a presença libanesa na região norte. Outros estudiosos as compreendem como
literatura de não-pertencimento ao lugar (Literatura do Desassossego).
A cidade narrada na obra, no início do século XXI, não é a mesma que o autor
conheceu na sua infância, quando havia uma cidade que carregava os ares da belle
époque com suas praças, cafés, colégios e cinemas6, lugares que cederam espaço à Zona
Franca no final dos anos 50, uma época em que a capital do Amazonas tornou-se uma
6
AGUIAR, José Vicente de Souza. Manaus: Praça, Café, Colégio e Cinema nos anos 50 e 60. Manaus:
Editora Valer; Governo do Estado do Amazonas, 2002. (Série Em Busca da Identidade Regional).
19
cidade industrializada, com uma periferia urbana totalmente desassistida pelo Estado,
vivendo na penúria em casas improvisadas às margens dos rios e igarapés.
20
implementação, e que não vislumbra um retorno positivo para a população local – os
ribeirinhos que ali se instalaram.
Eis o fim de um tempo: tanto o tempo cronológico real de que se podia ter feito
de Manaus uma cidade melhor habitável quanto o tempo ficcional em que o romance se
finda mergulhado na nostalgia e melancolia de um narrador presos às lembranças de um
passado inglório da cidade e de seu núcleo familiar.
21
CAPÍTULO I
22
CAPÍTULO I
23
ser propriamente sociais, para se tornarem a substância do ato criador
(CANDIDO, 1987:163-4).
7
A respeito da subdivisão deste estado adotada pelo Marquês de Pombal ver: PONTES FILHO,
Raimundo Pereira. A Lusitanização da Amazônia. In: _______. Estudos de História do Amazonas.
Manaus: Editora Valer, 2000.
25
que havia sido combinado, em 1750, com o Tratado de Madri‖ 8 (PONTES FILHO,
2000: 87).
Tendo em vista a amplidão do novo Estado, ainda restava uma grande área a
ser controlada chamada de ―Sertão do Amazonas‖. Assim, uma das medidas tomadas
pelo governador do novo estado foi a criação da capitania São José do Javari
(03/03/1755), que mais tarde seria chamada de Capitania do São José do Rio Negro,
atual Estado do Amazonas. A capitania desejava, porém, ter sua autonomia em relação
ao Estado do Pará. Foi, então, que começaram as lutas para atingir a emancipação.
Surgiu, assim, o Movimento dos Cabanos, mais conhecido como Cabanagem9, cujos
adeptos acreditavam que a ―desvinculação político-administrativa da Província do Pará
era, de fato, necessária para adotar uma política capaz de promover o desenvolvimento
da região‖ (idem, 2000: 111). Por isso, era necessário instalar
8
―Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, sob o critério da ocupação baseado no princípio
jurídico reivindicado pelo diplomata brasileiro Alexandre Gusmão, que defendia que ‗cada parte há de
ficar com o que atualmente possui‘, fica reconhecida legalmente a ocupação luso-brasileira na região. Em
troca, todavia, os espanhóis queriam o controle exclusivo do rio da Prata, o que foi concedido pelos
portugueses desde que esses recebessem ainda certa extensão de fronteira, que corresponde, hoje, o
Estado do Rio Grande do Sul. Como essa condição foi aceita, os jesuítas espanhóis e os índios guaranis
dos Sete Povos das Missões deveriam sair das terras gaúchas‖ (PONTES FILHO, 2000: 83).
9
Idem, 2000: 105-110.
26
O autor partiu de Manaus em 1904 e realizou a viagem até as cabeceiras do Rio
Purus, na fronteira com o Peru, viagem que durou um ano. No Relatório da Comissão
Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus, Euclides imprime sua
interpretação acerca daquela parte ignota do Brasil. Neste desafio de escrever sobre uma
terra desconhecida, o autor divulga uma terra povoada de seres que estão à margem da
história, como é o caso dos seringueiros, cujos costumes são analisados em Judas-
Asvero, um relato que compõe o livro À Margem da História, ensaio que apresenta ao
restante do país a triste realidade da população ribeirinha que povoava as margens do rio
Alto-Purus.
27
O olhar literário de Euclides acerca da vida de infortúnios dos trabalhadores
nordestinos nos seringais da região Norte mostra ao leitor que neste Éden decaído os
trabalhadores viviam ―expatriados dentro de sua própria pátria‖ (HATOUM, 2002).
Este trapo de pano, feito pelo sertanejo-seringueiro, ao navegar o rio, vai parar
em outra margem, na qual também encontrará a exploração, porque não há como se
desvencilhar da desagregação proporcionada pelo Ciclo da Borracha – mais uma etapa
para fortalecer o sistema vigente. Dessa forma, não há como fugir, porque o sertanejo
enfrentou a seca no nordeste, um fenômeno natural naquela região, agravado ainda
mais pelas disparidades sociais, o que torna o lugar humanamente impossível de se
viver, sem que haja as providências necessárias para a superação da seca
29
O boneco, descendo o rio, esculpido pelo seringueiro, cuja descrição elaborada
por Euclides se mostra por meio de ―uma admiração mesclada de repulsa‖10, é a
metáfora deste homem que após o fim da fase gomífera migrou para as grandes
cidades, muitos foram para Manaus, e formaram os bairros com as casas de palafitas,
continuando o ciclo de miséria como no período dos seringais.
10
GALVÃO, 1972: 19.
30
Esta implantação das ferramentas de civilização e progresso deu às cidades de
Belém e Manaus uma visibilidade que garantiu um diálogo econômico e cultural com as
potências europeias e norte-americanas, tendo em vista que essas estavam preocupadas
―em garantir o acesso a um bem de produção prioritário para as mais sofisticadas
indústrias da época e também em viabilizar o escoamento de vastos estoques de bens
industriais‖ (idem, 2000: 08).
11
Mais tarde na década de 1990 tornou-se ―matéria-prima para a produção de energia elétrica‖. Veja:
OLIVEIRA, José Aldemir de. Cidades na Selva. Manaus: Editora Valer, 2000.
12
A respeito das melhorias na cidade de Manaus ver: PONTES FILHO, Raimundo Pereira. O Apogeu da
Borracha. In: _______. Estudos de História do Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2000.
31
[...] numa cidade de intenso movimento comercial e com sensíveis
alterações e incorporações urbanas. Além das sociedades comerciais,
das instituições financeiras, dos meios de transporte, da estrutura de
saneamento básico e das arejadas praças e calçadas, Manaus possuía
uma vida cultural intensa. Sem qualquer exagero, a capital do
Amazonas nada devia ao geral das cidades européias da época
(PONTES-FILHO, 2000: 142).
13
―A esperança e a amargura... são parecidas‖ (HATOUM, Milton, 2000: 35).
32
Definitivamente, as coisas não mudam no Brasil republicano de Euclides e, menos
ainda, no de Milton Hatoum.
14
Sobre a noção de espaço na obra de Dalcídio Jurandir ver: FREIRE, José Alonso Torres. Entre
construções e ruínas: uma leitura do espaço amazônico em romances de Dalcídio Jurandir e Milton
Hatoum. 2007. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
33
ocultado, cheio de seres que improvisavam tudo para sobreviver‖ (HATOUM, 2000: 80-
1) –, o qual de alguma forma também pertence a estes ―viventes miúdos que povoam
nossa terra‖ na expressão de Graciliano Ramos.
Este narrador, apesar de ter nascido nos anos de 1950, torna-se uma testemunha
ocular dos fatos, pois
34
Esse período histórico que perpassa o romance é o fim do Ciclo da Borracha, a
Segunda Guerra Mundial, o processo de modernização tardia que o país experenciou
especialmente em São Paulo, sendo que em Manaus essa modernidade nem conseguiu
chegar como é constatado na obra e, por fim, termina com a tomada da cidade pela
Ditadura Militar com o Golpe de 1964, que contribuiu na criação da Zona Franca de
Manaus, período que colaborou para transfigurar mais ainda a cidade.
Aqui vale enfatizar a ideia do espaço que muda de acordo com as interferências
do homem num determinado local. Sendo este ―produto histórico e social resultante de
um processo de produção e conseqüência do trabalho humano‖ (OLIVEIRA, 2000:
105).
Esta cidade destacada por Márcio Souza como ―terra de ninguém‖ teve um
passado em que o progresso era visto como o redentor da capital. Sendo tal fato
percebido nos traços de sua arquitetura, os quais permaneceram como herança de uma
época em que se acreditou na modernização, simbolizada com obras belíssimas, tais
como: o pomposo Teatro Amazonas, a casa de confecções Au Bon Marché, o Mercado
Adolpho Lisboa, o Porto Flutuante de Manaus, a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, a
Universidade Livre de Manaós, o Colégio Amazonense D. Pedro II, o Palácio Rio
Negro, a Alfândega 16, dentre outros, que se tornaram símbolos da modernização e
civilização da cidade, convivendo atualmente com os camelôs e ambulantes que ocupam
o centro de Manaus.
16
Ver as fotografias no final deste capítulo.
36
foi toda importada de diversos países europeus, dos quais as partes chegavam pelos
navios a vapor. Por isso, compreende-se que
[...] entraram numa rua arborizada que dá na praça Nossa Senhora dos
Remédios. Pararam diante de um sobrado antigo, pintado de verde-
escuro. No alto, bem no centro da fachada, um quadrado de azulejos
portugueses azuis e brancos com a imagem de Nossa Senhora da
Conceição (HATOUM, 2000: 76).
Assim como ―O palácio dos Reinoso‖, nome dado pelo narrador à casa de
Estelita Reinoso, personagem símbolo da elite decadente da borracha, que vivia dos
louros do passado de sua família, e mantinha hábitos daquela época:
Dessa forma, Nael tem no quarto dos fundos o seu único legado, como ele
próprio narrador nos diz: ―[...] Eu mesmo ajudei a limpar e a pintar o quartinho. Desde
então, foi o meu abrigo, o lugar que me pertence neste quintal‖ (HATOUM, 2000: 80).
17
―um belo sobrado nas redondezas do Manaus Harbour‖ (idem, 2000: 253).
38
enriquecimento aos donos dos seringais e o começo de uma modernização vivenciada
por eles, também facultou a imigração tanto brasileira, como vimos anteriormente com
os nordestinos que povoaram as áreas ribeirinhas do estado, quanto estrangeira para
aquela região do Brasil.
Assim, com a ferrovia ficaria mais fácil alcançar a parte ―navegável do rio
Madeira e transportar a produção aos portos do rio Amazonas, em Manaus e Belém,
onde seria embarcada e conduzida ao exterior através do oceano Atlântico‖ (idem,
2000: 148). Contudo, houve a frustrante suspensão da construção da ferrovia e, assim,
muitos desses imigrantes libaneses foram, por exemplo, para Manaus e criaram seus
próprios
18
Sobre a construção da ferrovia Madeira-Mamoré ver os seguintes livros: HARDMAN, Francisco Foot.
Trem Fantasma: a ferrovia Madeira-Mamoré e a modernidade na selva. 2a ed.rev. e ampl., São Paulo:
Companhia das Letras, 2005; SOUZA, Márcio. Mad Maria. 2ª ed., São Paulo: Record, 2002.
39
refletia essa ascensão e o distanciamento em relação às populações
mais pobres, valorizando-se os casarões situados em amplos terrenos
ou chácaras (PELLEGRINI, 2004: 128).
19
Grifo Nosso.
40
Os sertanejos-seringueiros que foram para Manaus também têm suas vidas em
trânsito quando erguem suas casas flutuantes na beira dos igarapés, porque devido a
todo um processo de exclusão não tinham para onde ir a não ser ficar na margem. Aqui
o sentido da palavra é duplo: a margem dos igarapés e da história da sociedade.
41
ARQUITETURA URBANÍSTICA: MANAUS DA BELLE ÉPOQUE
Alfandêga
Inaugurado em 1906, arquitetura importada de Liverpool, Inglaterra.
42
Palácio Rio Negro
43
Mercado Adolpho Lisboa
44
Porto Flutuante de Manaus
Construído pelos ingleses em 1902. Acompanha o nível das águas do Rio Negro, na
época das cheias.
45
Igreja N. Senhora dos Remédios
46
Faculdade de Direito
47
Colégio Amazonense D. Pedro II
Fundado em 1869 que se consolidou como um dos mais importantes centros de ensino
do Amazonas. Este foi um dos colégios em que o escritor Milton Hatoum estudou.
48
Au Bon Marché
49
Teatro Amazonas
50
CAPÍTULO II
51
CAPÍTULO II
20
PELLEGRINI, Tânia. Milton Hatoum e o regionalismo revisitado. Revista Luso-Brazilian Review,
University of Wisconsin System, 2004: 126.
52
[...] não só averiguando o sentido de um contexto cultural, mas
procurando estudar cada autor na sua integridade estética [e assim,
posteriormente, surgirá] o desejo de compreender todos os produtos
do espírito, em todos os tempos e lugares, [o que nos] leva fatalmente
a considerar o papel da obra no contexto histórico, utilizando este
conhecimento como elemento de interpretação e, em certos casos,
avaliação (CANDIDO, 2007: 31).
21
Tradução: ―Aquém da linha do Equador não existe pecado‖. Termo utilizado por Casparus Barleaus e
do qual Sérgio Buarque de Holanda utilizou em Raízes do Brasil para explicar o processo de colonização
na América Latina.
53
sociedade calcada nos ditames do capitalismo, que inicialmente se estruturou com o
modelo escravagista. Por essa razão é que neste ―desmundo‖, criou-se uma literatura
que capta os interesses da elite local. Tal fato é o que Candido chama de ―imposição e
adaptação cultural‖, porque primeiramente exerceu a função de impor aos colonizados a
cultura europeia:
54
Com isso, a elite local utilizou a arte literária para produzir questionamentos a
respeito das contradições do domínio português no país. Após a Independência política
em 1822, entre os intelectuais brasileiros difundiu-se uma literatura empenhada na
construção do projeto de nação. Por isso, aumentaram as críticas acerca das
consequências do processo de expansão e, posteriormente, de modernização capitalista
no Brasil que, trazidas pela colonização para esse Novo Mundo, estavam imbuídas de
disparidades socioeconômicas.
22
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos 1750-1880. 11ª. ed.,
Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2007.
55
Estes denominadores são, além das características internas (língua,
temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica,
embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente
e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se
distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais
ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores,
formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive;
um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem,
traduzida em estilos), que liga uns a outros (CANDIDO, 2007: 25).
23
SCHWARZ, Roberto. Leituras em competição. Novos Estudos CEBRAP, n.75, jul. 2006: 61-79.
24
Quando houver referência ao texto de Machado de Assis não terá citação de página, pois se trata de
uma crônica breve.
56
leitor, atento às discussões sobre a nação, pode responder: a nossa literatura somente se
formou pelo fato de ter a europeia como herança cultural, tendo em vista que ―a nossa
literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de segunda ordem no
jardim das Musas‖ (CANDIDO, 2007: 11).
interferência é uma relação entre literaturas por meio da qual uma [...]
literatura-fonte pode tornar-se uma fonte de empréstimos diretos ou
indiretos [importação do romance, empréstimos diretos e indiretos,
dívida externa: repare como metáforas econômicas têm estado
subterraneamente em ação na história da literatura]. Uma literatura-
alvo, em geral, recebe a interferência de uma literatura-fonte que a
ignora completamente (EVEN-ZOHAR apud MORETTI, 2000: 175).
58
No Arcadismo predomina a dimensão que se pode considerar mais
cosmopolita, intimamente ligada às modas literárias da Europa,
desejando pertencer à mesma tradição e seguir os mesmos modelos, o
que permitiu incorporar a produção mental da colônia inculta ao
universo das formas superiores de expressão (CANDIDO, 1998: 36).
Para os escritores românticos, esta ideia de país novo, que precisava ser
construído no pensamento do povo, poderia ser realizada por meio da literatura que
encontrou
25
A noção de ruína será analisada no subtópico do capítulo III – A casa e seus habitantes: a ruína em Dois
irmãos.
59
Neste intuito de dar à cor local um caráter europeu, mostrou-se a complicada
relação entre o local e o universal que estruturou o sistema literário brasileiro. Ao se
tentar moldar o índio e o sertanejo – que são a nossa cor local – aos valores daqueles
que os colonizaram, surge na narrativa um regionalismo com tom exótico.
A cor local foi considerada como um ponto crucial das narrativas que
valorizavam os aspectos regionais por meio da natureza, a qual estava estritamente
ligada à noção de pátria. A nossa literatura ―compensava o atraso material e a debilidade
das instituições por meio da supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do
exotismo razão de otimismo social‖ (CANDIDO, 1987: 141). Os intelectuais
acreditavam que o atraso era um fato circunstancial e que alcançaríamos o patamar de
nação vinculada à modernidade, ou seja, que chegaríamos ao mesmo nível dos centros
desenvolvidos.
26
CANDIDO, Antonio. A Educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Editora Ática, 1987 (Série
TEMAS, vol. 1, Estudos Literários).
60
circunstancial ao tomarem consciência da noção de sermos um país subdesenvolvido, ou
seja, ao tomarem consciência da crise. Esta fase de pré-consciência do
subdesenvolvimento corresponde à década de 1930, quando o olhar do escritor
brasileiro direcionou-se às práticas sociais e ideológicas abandonando o ―encanto
pitoresco‖, porque não cabia mais o desejo de enaltecer as peculiaridades locais do país.
As características da região vão servir de tema, porém não mais como modelo de
exaltação da natureza exótica, mas como região vítima do atraso. O tom será aquele do
documento e do empenho social na literatura regionalista. Segundo Candido,
61
O afastamento dos elementos regionalistas mais ligados ao pitoresco só vão
conhecer uma superação depois do decênio de 1930, quando, na visão de Candido, ―as
tendências regionalistas, já sublimadas e como transfiguradas pelo realismo social,
atingiram o nível das obras significativas‖ (CANDIDO, 1987: 161). O romance dessa
fase possui domínio das técnicas narrativas mais modernas, importadas da Europa e
transformadas para dar conta da realidade local brasileira. A essa terceira fase do
regionalismo, Candido chama de ―super-regionalista‖, a qual corresponde à
―consciência dilacerada do subdesenvolvimento e opera uma explosão do tipo de
naturalismo que se baseia na referência a uma visão empírica do mundo‖ (idem, 1987:
162).
27
CHIAPPINI, Ligia. Do beco ao belo: dez teses sobre o regionalismo na literatura. Estudos Históricos,
vol. 8, n.15, Rio de Janeiro, p.153-159.
62
Nesta relação de proximidade do norte com as regiões centrais, o leitor
conhece o cotidiano de conflitos de uma família de imigrantes, na qual os filhos gêmeos
disputam o espaço e a atenção naquele núcleo consolidado em Manaus – espaço no qual
se desenvolve a trama.
Contudo, é preciso relativizar esse juízo, como nos mostra Chiappini (1994).
De fato, na narrativa de Milton Hatoum não ocorre tal limitação, haja vista que, se
estética é toda obra que provoca no leitor um processo catártico, a narrativa ilustra
momentos em que o leitor fica preso à espera da revelação acerca do pai de Nael –
revelação que surgirá somente no final do enredo.
28
Ver: LEITE, Ligia Chiappini Moraes. ―Velha Praga? Regionalismo literário brasileiro‖. In: PIZARRO,
Ana. (org.). América Latina: palavra, literatura e cultura. São Paulo: Editora da Unicamp, 1994, vol.2.
63
Temos, assim, um triplo segredo. O primeiro, é a própria identidade
do narrador que só se revela na página 73. O segundo, levado até o
fim do livro, através de indícios ambíguos, é o de sua origem paterna.
O terceiro segredo é urdido na própria trama narrativa, pelos anúncios
de um desenlace que só conhecemos nas últimas páginas. Encantos da
narratividade, que Aristóteles já descrevia como reconhecimento e
peripécia... (PERRONE-MOISÉS, 2000: s/n.).
Milton Hatoum retoma a tradição literária brasileira com três autores nacionais
de épocas distintas do Realismo brasileiro: Machado de Assis com a problemática da
disputa entre irmãos gêmeos como ocorre em Esaú e Jacó e, também, a condição de
agregado; Euclides da Cunha em À Margem da História, com a crônica Judas-Asvero
que foi analisada no primeiro capítulo e, por fim, Graciliano Ramos na narrativa
Angústia, porque esse romance também tem um narrador-personagem que se torna
escritor, assim com Nael.
64
festejado‖ (HATOUM, 2000: 131). Continuou fiel à decadente província manauara. E
Yaqub rendeu-se à metrópole paulista da ordem e do progresso.
Quase um século separam os dois romances, erigidos, um, pelo olhar fincado
no centro, outro, diretamente da periferia nacional. Porém, em ambos é flagrante o
sentimento de uma nação dividida, como estão divididos os irmãos gêmeos de Hatoum:
entre um subdesenvolvimento conservador e autoindulgente (Omar), de um lado, e a
modernização reacionária e excludente, de outro (Yaqub).
65
classe‖ para continuar fazendo o que sempre fizeram: delegar funções para que outros
as cumpram.
A falta de saída das opções que cada gêmeo apresenta, tanto em um romance
quanto em outro, coloca uma falta de utopia. Mas no esforço narrativo de Nael em falar
de uma história e de uma cidade outra, que não aquela legada pelos relatos oficiais,
reside um ato de liberdade e, em sua negatividade, uma afirmação de que outro projeto
nacional é possível.
Da mesma forma, é Nael que, ao observar os fatos que ocorrem na casa pelo
quarto dos fundos, vê passar diante dos seus olhos a ruína da família, da casa de Halim,
a formação da favela atrás do quintal e, também, da própria cidade, com o seu cotejo de
leprosos, pedintes e humilhados nas ruas de Manaus.
67
Nesse diálogo entre os autores provenientes de regiões tão distintas como o
manauara, originário do mundo das águas, dos peixes, dos índios, da floresta, como nos
diz o próprio escritor em entrevista, (HATOUM, 2005) 29 e o alagoano, proveniente de
uma região inóspita, árida, seca, percebemos que, apesar de pertencerem a territórios
completamente diferentes suas narrativas têm algo que as aproxima, porque nos contam
sobre personagens que estão à margem do processo de modernização que o Brasil viveu
durante as décadas de 1930 e 1950 do século XX.
29
Programa Os Mestres da Literatura – exibido na TV Senado em 2005. No qual Milton Hatoum
expressa sua impressão acerca da leitura de Vidas Secas, ainda quando estava no ginásio e o quanto
aquele universo de aridez contínua impressionou seu olhar de escritor que já se formava naquela época.
68
próprio e produzem resultado novo, esteticamente transmutado
(PELLEGRINI, 2008: 120)
A crítica de Graciliano Ramos à modernização nos mostra que sua obra rema
contra a maré da época – que exaltava a glorificação do progresso e a busca por uma
identidade nacional arquitetada pelo movimento Modernista –, porque
69
reverter o instrumento literário, evitando que ele cumpra a sua função
de sempre – a de legitimar o domínio? (BASTOS, 2001: 54).
30
PELLEGRINI, Tânia. Milton Hatoum e o regionalismo revisitado. Revista Luso-Brazilian Review,
University of Wisconsin System, 2004: 121-138.
70
[...] como um universo ‗outro‘, exótico mesmo, mas de um exotismo
claro apenas para um olhar de fora, não para quem, como o autor (e os
narradores)31, sendo parte dele, o vê sem idealização, com a lucidez
melancólica de quem conhece o calor e a chuva, as muitas águas,
frutas, pássaros e peixes, o cheiro do lodo e o da floresta
(PELLEGRINI, 2004, p.124).
Nesta incursão pelo espaço, o leitor se depara com os nomes indígenas dos
rios, cujo encantamento próprio permeia o universo de mitos e lendas criados e
repassados pelos ribeirinhos ―no paraná do Parauá, um velho muito sério, disse: ‗Vai
ver que o boto enfeitiçou os dois; devem estar encantados, lá no fundo do rio‘‖(idem,
2000: 162).
31
Aqui a autora refere-se também ao romance Relato de um certo Oriente (1989) do escritor.
71
Dessa forma, parece que a narrativa de Hatoum relativiza o regionalismo,
porque utiliza as temáticas de fundamento telúrico de maneira que as coloca num
ambiente propício, porque o mito do boto nas águas do Negro contado pela população
local é uma forma de preservar sua identidade, apesar dos vários processos de
aniquilamento de sua cultura.
Este olhar que vem do norte, arquitetado pela memória, mostra a região
amazônica, cuja presença dos mitos indígenas enriquece a cultura local, misturada com
a presença da cultura libanesa, que em vários trechos da obra tem um caráter mais
exótico do que a própria população local. Algumas atitudes dos membros da família e
amigos libaneses de Halim soam como caricaturas no mormaço amazônico.
Para Ligia Chiappini a obra literária regionalista tem sido definida como
―qualquer livro que, intencionalmente ou não, traduza peculiaridades locais (costumes,
crendices, superstições, modismo)‖32. Porque, em Hatoum o regionalismo é um
fenômeno que apresenta as particularidades locais da região amazônica, especialmente a
cidade de Manaus, como esclarece Leyla Perrone Moisés e Tânia Pellegrini em artigos
que iluminaram a compreensão do regionalismo produzido na obra, na qual Manaus
nem sempre está carregada do contexto estereotipado.
32
CHIAPPINI, M. L. L., 1994, s/n.
72
A narrativa de Hatoum segundo Pellegrini produz certa relativização do
exótico, oferecendo ao leitor um enredo no qual a cidade é pintada com o seu clima,
suas cores e, principalmente, seus odores – ―um cheiro que morreu nos tajás da minha
moita‖. O que se encontra na Manaus de Hatoum é uma mistura do cheiro do lodo
fétido das casas de palafitas que ficam à beira dos igarapés com o cheiro da floresta,
esse que por sua vez se mistura aos odores da culinária e das especiarias libanesas,
portanto esse é o universo do romancista Milton Hatoum que, apesar de ser arquiteto
por formação acadêmica, a construção que o escritor faz da cidade agora é literária,
mostrando a cidade pelos olhos de Nael. Por isso,
[...] não podemos dizer que a cidade deve ser apenas compreendida a
partir dos olhares e anotações dos arquitetos e dos urbanistas, pois ela
possui sua complexidade, suas nuanças que nem sempre são
percebidas por olhares isolados. É necessário descortinar o aparente
para ver o que se põe por trás das fachadas, por trás das avenidas
aparentemente belas, das grandes construções para atividades
comerciais, residenciais, de lazer. É necessário, sobretudo, situar o
homem dentro do contexto das grandes transformações da cidade, com
objetivo de procurar compreender o que está para além do aparente na
cidade (AGUIAR, 2002: 50).
Assim, essa ficção de Hatoum Manaus se torna região literária e dá a ver uma
cidade que está mergulhada na lucidez de quem a enxerga com proximidade e distância
ao mesmo tempo: não emerge dessa trama ―nenhuma utopia‖, como o próprio narrador
conta.
Conforme CURY,
73
Ao revisitar a região, pelo olhar do narrador, Hatoum promove uma literatura
que com o intento de mostrar a secular e portuária cidade amazônica, cujas
características sublinhadas neste trabalho revelam uma cidade muitas vezes fora do
contexto exótico.
74
Assim, em seus tempos de meninice, quando saía aos domingos para comprar
miúdos de boi para Zana, o narrador nos descreve o porto da Catraia de maneira tão
natural, sem torná-lo algo inusitado, que percebemos esse lugar como uma personagem
viva em sua memória infantil. Dessa forma, são os olhos de Nael que desenham um
mapa dos lugares por onde ele passa pela cidade:
75
Um dos pólos de tensão no romance é compreender a política do favor, isto é, a
condição do agregado como fator de suma importância para que se esclareça a luta de
classes no âmbito da literatura brasileira contemporânea, e, consequentemente, perceber
como se processa o eixo estruturante dessa narrativa arquitetada por elementos de
tensão: Domingas e Nael vivem de acordo com as vontades de Zana – a matriarca dessa
família que não o reconhece como neto, ou seja, como pertencente ao seu núcleo
familiar –, bem como são obrigados a suportar todas as brutalidades cometidas por
Omar.
Zana não dava tempo para que Nael pudesse estudar. Assim, ela delegava
funções a todo instante ao rapaz, privando-o de ir à escola. Talvez por receio de que
superasse seu filho caçula, que não gostava dos estudos:
76
A algazarra de um grupo de homens me despertou. Quando se
aproximaram do caramanchão, um deles apontou para mim e gritou:
―É o filho da minha empregada‖. Todos riram, e continuaram a andar.
Nunca esqueci. Tive vontade de arrastar o Caçula até o igarapé mais
fétido e jogá-lo no lodo, na podridão desta cidade (HATOUM, 2000:
179).
A violência instaurada nessa obra ocorre de modo tanto físico quanto moral e
psíquico, porque Domingas teve que se calar a respeito desta brutalidade, que fora o
estupro. Percebe-se nas reticências do seu diálogo uma vida fadada ao silêncio e
omissão da origem paterna de Nael. Tudo lhe fora negado até mesmo escolher o pai de
seu filho.
Talvez por isso, Nael se torne um escritor para provar que pertence tanto ao clã
quanto a Manaus, e que apesar desta característica de pertencimento, herda somente o
77
miserável quarto dos fundos, ou seja, ele tem a convicção de que não está do outro lado
da margem, porque metaforicamente, enquanto intelectual numa sociedade periférica,
também é mais um corpo neste navio negreiro chamado Brasil. Portanto, é neste meio
hostil que Nael extrai os elementos primordiais para a sua arquitetura literária.
Esse narrador, também, presencia alguns fatos, de longe, no quarto dos fundos,
que ocorrem no interior da família, pois tem a convicção de sua incapacidade de
representar as personagens dessa narrativa como, por exemplo, sua mãe Domingas
―uma mulher que não teve escolhas―33.
33
Fragmento retirado da apresentação do livro Dois Irmãos.
78
esse é um problema da arte moderna, que adquire aspecto peculiar nos
países colonizados, quando o escritor tem que lidar com a
ambivalência da literatura como instrumento de dominação e como
espaço que permite a manifestação das vozes reprimidas nesse
processo. Os dilemas da representação, então, adquirem dimensão de
aporia, em homologia com os dilemas das personagens representadas
no texto. Quando, nessa situação, o escritor problematiza o ato de
escrever e questiona sua condição de escritor, torna-se também
personagem de sua literatura (SANTOS, 2005: 128).
Isso é o que ocorre em Dois Irmãos, romance no qual nos deparamos com um
personagem-escritor que tem como lugar um espaço de ruína, no qual consegue
problematizar as contradições tanto sociais na Cidade Flutuante, a favela que se forma
atrás da casa, quanto a sua situação e de Domingas, ambos marginalizados nessa esfera
social.
Portanto, é nessa total desproteção dos pobres que o narrador, como referido
acima, irá reivindicar seu legado na narrativa e nos contar a sua história de vida, que se
tece atrelada à história coletiva tanto da família de imigrantes quanto do próprio Brasil,
especificamente de Manaus. Porque, não há uma memória individual, desvinculada do
grupo social e da cultura em que se está inserido .
79
CAPÍTULO III
80
CAPÍTULO III
81
Para dar conta dessa questão, abordaremos dois tópicos: i) Rochiram: símbolo
de um capitalismo mais perverso; ii) A casa e seus habitantes: a ruína em Dois irmãos.
82
[...] do início do século com suas colônias de imigrantes, seus
restaurantes franceses (que lhe garantiam o codinome de ―Paris das
selvas‖), e depois a decadência dos barões da borracha, a guerra e a
presença americana, a chegada de um outro comércio nos anos 60 e
70, a invasão militar na época do golpe, a perseguição política, a
destruição de bairros da cidade, para a construção daquilo que se
esperava ser um novo progresso. Contudo, (...) trata-se do início de
uma miséria ainda mais vasta e impiedosa, com o seu cotejo de
leprosos, pedintes, abandonados de todos os tipos. Assim, a chegada
do comércio eletrônico aparece mais como uma condenação à qual
está sujeita a cidade, ela também personagem dessa história. É
também a ocasião de uma nova leva de imigrantes, não só mais
preocupados com o progresso, mas com o acúmulo de dinheiro e de
poder. São os coreanos, chineses e indianos que chegam à cidade
atraídos pelo apelo fácil do comércio (SOUSA, 2001, s/n.).
Apesar de ser uma cidade portuária e que, portanto, deveria estar fadada à
modernização e ao progresso, Manaus é representada na obra de Hatoum, e
particularmente em Dois irmãos, como uma ruína. De fato, as ruínas, portos, sujeiras,
casas de palafitas e o comércio popular, mostram o contraste entre norte e sul do país.
83
[...] cidade ilhada pelo rio e pela floresta, que desde o fim da belle
époque da borracha, adaptou-se como foi possível a cada nova
circunstância dada pelo desenvolvimento do capitalismo. Nesse
sentido tem-se a história do país refletida num pequeno mundo e a ele
circunscrita, transmitindo valores humanos específicos, assim fazendo
a passagem do local para o universal (PELLEGRINI, 2004: 123).
84
manauara, leva-o a São Paulo, a capital promissora do país, descrita nas poucas cartas
que o jovem estudante de engenharia remetia aos seus pais:
34
Grifo nosso.
85
Essa ―colonização interna‖ imposta pelo regime militar não respeitou as
tradições e nem os hábitos culturais locais da população, em grande parte proveniente
da cultura indígena. Com a chegada da televisão, essas populações começaram a se
comparar com a do sul/sudeste do Brasil e a se sentirem inferiores ao restante do país.
Por isso, a ZFM se estabeleceu na cidade sem a resistência da população, que não lutou
contra a agressão ocorrida com a cidade, como, por exemplo, a destruição da ―Cidade
Flutuante‖.
86
Brasília e de outras cidades, íntimos de Rochiram. [...] Manaus crescia
muito e aquela noite foi um dos marcos do fausto que se anunciava
(HATOUM, 2000: 255-6).
em sua primeira versão, tal como foi criada pela Lei 3173, de
06/06/57, a partir do projeto do deputado federal Francisco Pereira da
Silva, operava tão-somente como área de livre comércio de
importação. A livre circulação de produtos estrangeiros, ou seja, a
entrada e saída de artigos produzidos em outros países, estimulados
pela redução das alíquotas do Imposto de Importação (I.I.) e outros
incentivos na área designada, visava gerar um intenso comércio,
elevar receitas portuárias e criar empregos, a exemplo do que também
ocorreu inicialmente noutras regiões do mundo, tais como Hong Kong
e Singapura, na Ásia (PONTES FILHO, 2000: 192).
87
Esse novo comércio do entesouramento, preconizado pelo indiano, é
completamente diferente daquele que Halim e tantos outros imigrantes libaneses faziam
na Manaus do final do século XIX e início do XX, o qual era praticado:
Esta cidade ―irreconciliável com o seu passado‖ teve os antigos sobrados dos
barões da borracha, assim como os bares e restaurantes tradicionais, destruídos para
ceder espaço à construção de pólos comerciais e industriais, tendo em vista que a
intenção era abrir lojas no centro da cidade para abrigar os produtos eletrônicos made-
in-china que arrastaram uma leva de imigrantes de várias partes do mundo para
enriquecerem no mormaço amazônico.
Esse processo foi acelerado a partir do regime militar de 1964 cujo ideal era
impulsionar a modernização até o norte do país. Para tanto os militares compreendiam
88
que era preciso uma efetiva intervenção do Estado como um veículo financiador,
planejador, gestor e controlador da economia nacional.
O que fortaleceu a entrada da Zona Franca na cidade foi que essa permaneceu
como uma província empobrecida e fragilizada. Conforme Márcio Souza ilustra,
Dessa forma, Nael apresenta essas mudanças ocorridas na cidade por meio de
um
Os novos bairros previstos nesta nova fase da cidade são inteiramente distintos
da implantação anterior que era ligada tradicionalmente com o rio Negro e seus
afluentes. Dessa forma, quando Nael diz ―eu respirava só de olhar para o rio‖
(HATOUM, 2000: 80), é porque nesta fase da infância do narrador ainda havia as casas
e comércios à beira dos igarapés, que estabeleciam essa relação de proximidade com o
rio. Se antes o Negro servia como um meio de sobrevivência para os povos ribeirinhos,
agora serve para beneficiar a população urbana – incrementada com a presença de
coreanos, chineses, indianos, americanos – que produzem e vendem bens de consumo
que a maioria da população da cidade não tem condições de usufruir.
90
Com a cidade sitiada pela ditadura militar, ficou mais fácil para o governo
implantar sua nova modalidade de economia facilitada pela letargia da população local,
a qual assistia a derrocada da Cidade Flutuante e, claro, do seu comércio popular, que
obrigou a população local a se desligar de sua principal forma de renda que sempre foi o
rio Negro, o qual agora servirá aos navios que lotados de produtos eletroeletrônicos
aportam na cidade e são distribuídos pelo restante do país. Por isso, talvez seja um
passado irreconciliável com o rio, porque quem irá se beneficiar com o rio não será a
população local e sim os navios que levarão pelos mesmos rios as mercadorias
produzidas ali.
91
FREIRE (2007) se baseia no estudo de Moretti a respeito da presença da cidade
no romance europeu para compreender a construção do espaço amazônico na narrativa
de Hatoum:
Pensando pela mesma lógica de Moretti, temos Manaus como uma cidade que
no decorrer do romance vai se transformando: primeiro havia um sonho de transformá-
la, em sua arquitetura, numa cidade europeia (belle époque amazônica) e até se
conseguiu por um tempo; surge, depois, a ―Cidade Flutuante‖, gueto dos ex-
seringueiros e povos ribeirinhos após a derrocada do sonho europeu; depois tornou o
espaço do processo de efetivação da Zona Franca sendo novamente reinventada, tendo
em vista que com esta nova ordem do capital, as casas construídas à beira dos igarapés
próximas ao rio Negro foram demolidas para que os navios se aportassem para
exportar produtos eletrônicos, que eram produzidos na cidade. Assim, a vinda desse
tipo de mercadoria para Manaus e, consequentemente, o aparecimento de Rochiram,
cujo intuito é apenas o lucro, faz de Manaus uma cidade totalmente modificada num
aspecto negativo pelo capital.
92
Na tessitura narrativa de Dois irmãos há um narrador que constrói sua história
num relato tensionado, que carregado de silêncio e opressão vai aos poucos revelando
―as ruínas de um mundo velho e as ruínas de um mundo novo, de uma modernidade que
não se completa, sendo ela também uma promessa vazia‖ (SOUSA, 2001: s/n). É nesta
lacuna que a realidade vai se revelando mais devassada no enredo e comprovando que a
promessa de um futuro mais digno para a população local encerra-se numa
inverossimilhança, talvez por isto a história seja contada do quarto dos fundos deste
mormaço amazônico:
Segundo Corrêa,
A casa começa a virar ruína após a morte de Halim, Domingas e Zana, que são
substituídos por mercadorias quando o sobrado é vendido e transformado num centro
comercial – a Casa Rochiram:
94
Calisto era um dos vizinhos do cortiço que cuidava dos macacos de Estelita
Reinoso e com a ZFM trabalhava de estivador no porto de Manaus para descarregar os
produtos eletrônicos, dos quais com certeza ela jamais poderá usufruir em sua casa.
Neste processo de compreender a ruína que toma conta tanto da cidade quanto
da casa a partir de onde foi gerado o enredo ―como retalhos de um tecido‖ (HATOUM,
2000: 51) esgarçado pelo tempo e que retoma os fatos passados para relatar uma história
silenciada pela memória oficial, porque Nael peregrina pela fragmentação da memória
e, como um exímio arquiteto, resgata uma Manaus e uma região, as quais haviam sido
encobertas por um olhar eurocêntrico.
Eis o fim de um tempo: tanto o tempo cronológico real de que se podia ter feito
de Manaus uma cidade melhor habitável quanto o tempo ficcional em que o romance se
finda mergulhado na nostalgia e melancolia de um narrador presos às lembranças de um
passado inglório da cidade e de seu núcleo familiar.
35
Cidade onde atualmente é zona de conflito pela posse da terra no estado do Amazonas.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
96
O romance Dois irmãos de Milton Hatoum, cuja narrativa começa in media
res, possibilita ao leitor conhecer a história de uma família de imigrantes libaneses
contada pelo narrador-personagem Nael, quase 30 anos depois da morte dos moradores
da casa. O romance é relatado por uma série de flashbacks na memória fragmentada de
Halim, o patriarca daquele núcleo familiar, que na reminiscência melancólica do amor
vivido com Zana discorre para o narrador os eventos passados no cotidiano da casa.
97
Ao percorrer em expedição a região amazônica, Euclides da Cunha deparou-se
com a miserável condição de vida da população ribeirinha, em grande parte formada
pelos trabalhadores dos seringais. É o que autor irá mostrar no conto Judas-Asvero, que
encena a triste sina dos sertanejos-seringueiros.
A ―nação moderna‖ que Euclides da Cunha acreditava existir não era possível
nos confins do Amazonas, onde o seringueiro trabalhava para escravizar-se,
alimentando durante décadas a elite gomífera. Findo este período, tiveram que migrar
para Manaus e viver conforme fosse possível, haja vista que ―os mesmos meios que
permitem o progresso podem provocar a degradação da maioria‖ (CANDIDO,
2004:169).
98
no mundo da mercadoria com a ZFM, transformando homens e bens culturais em
produto para ser consumido. Com a implantação dessa nova etapa do capital em Manaus
há ―a passagem de uma cidade caracteristicamente provinciana para uma interligada à
industrialização‖ (AGUIAR, 2002: 156).
Outra fase da modernização vai para o Norte do país como ecos da região
sudeste, porque enquanto Manaus ainda usava geladeira a querose, São Paulo se
industrializava cada vez mais. Assim, é neste contexto de pessimismo que a narrativa de
Nael se situa como uma lúcida interpretação do Brasil, pois ―a visão que resulta é
pessimista quanto ao presente e problemática quanto ao futuro [...]‖ (CANDIDO, 1987:
142).
Conforme PIZARRO,
Milton Hatoum está inserido no sistema literário brasileiro, pois dialoga com a
tradição literária, por meio da conversa que trava com Euclides da Cunha, sobre o Norte
99
do país, com Machado de Assis a respeito da questão do local/universal, e com
Graciliano Ramos acerca da representação dos problemas sociais.
Quantas Domingas existem neste país que sonham com seus sonhos de
liberdade? Domingas, assim como os moradores da Cidade Flutuante, os ex-
seringueiros, não escolhem suas vidas, apenas vão continuando os ciclos de miséria que
o sistema lhes obriga a viver. Não têm escolhas.
Esse narrador vive em meio às ruínas; ali, naquele canto, jamais conseguirá
libertar-se do passado, porque ele observa tanto a casa quanto a cidade mutiladas pelo
desenvolvimento do progresso que não deu certo naquele canto do país.
101
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