TCC - Arteterapia (Final) (2163)

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO: PSICOLOGIA

ALINE CONSTANTINO SOARES – C5616J-7


ESTER BATISTA MOTTA – C4839H-1
JULIA MARIANA DYNA VENDRAMETO – T73683-8
KEIDYMA DA ROSA - C60452-6
MARIANA DURIGAN GIANONI – C41JJH-9
THAYS APARECIDA GODOY RUBIO – C4140F-8

ARTETERAPIA: UM ESTUDO SOBRE O RECURSO TERAPÊUTICO


NA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO WINNICOTTIANO

SOROCABA
2019
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO: PSICOLOGIA

ALINE CONSTANTINO SOARES – C5616J-7


ESTER BATISTA MOTTA – C4839H-1
JULIA MARIANA DYNA VENDRAMETO – T73683-8
KEIDYMA DA ROSA - C60452-6
MARIANA DURIGAN GIANONI – C41JJH-9
THAYS APARECIDA GODOY RUBIO – C4140F-8
PS0A/B17
PS9A17

ARTETERAPIA: UM ESTUDO SOBRE O RECURSO TERAPÊUTICO


NA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO WINNICOTTIANO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


para o Curso de Psicologia da Universidade
Paulista - UNIP, campus Sorocaba, para
obtenção do Título de Psicólogo, sob a
orientação da Professora Doutora Cybele
Moretto.

SOROCABA
2019
AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer à Professora Doutora Cybele Moretto, por todo apoio,


orientação e paciência ao longo da elaboração do nosso projeto final.

Aos nossos pais, que apesar de todas as dificuldades, nos ajudaram na realização
do nosso sonho.

Aos nossos colegas de sala e parceiros de trabalho, por toda a ajuda e apoio
durante este período tão importante da nossa formação acadêmica.

E a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização do


nosso sonho em nos tornamos psicólogas, como a professora Fabiana Cristina, que
apresentou e incentivou a procura por esta profissão.
RESUMO

Arteterapia: Um Estudo Sobre o Recurso Terapêutico na Atuação do Psicólogo


Winnicottiano. GIANONI, M. D.; MOTTA, E. B.; ROSA, K.; RUBIO, T. A. G.;
SOARES, A. C.; VENDRAMETO, J. M. D.; MORETO, C. C. (orientadora). Curso de
Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, Unip – Universidade Paulista, 2019.

A Arteterapia é uma prática terapêutica que trabalha com os saberes de forma


pluridisciplinar, com o intuito de promover qualidade de vida tanto de forma
individual, quanto de forma grupal. Atualmente a Arteterapia vem sendo utilizada nas
áreas de psicologia escolar, psicologia organizacional, psicologia social e psicologia
hospitalar, onde é permitido que se tenha acesso à subjetividade humana, e auxilia
facilitando a relação entre psicólogo e paciente em seu relacionamento terapêutico.
O objetivo deste trabalho é facilitar a atuação de profissionais, em auxiliar o melhor
entendimento do paciente em relação à sua subjetividade e também entender
melhor os significados do mundo. Nos baseamos na teoria winnicottiana para
compreender os fenômenos psicológicos que ocorrem no processo arteterapêutico,
como por exemplo a expressão da criatividade, o resgate do brincar; são elementos
que propiciam ao sujeito o resgate de sentido e novas possibilidades de existir no
mundo. Através dos estudos realizados acerca deste tema, obtivemos dados sobre
os espaços de saúde no qual a Arteterapia está inserida, a prática do psicólogo, e
como isso contribui na melhora da saúde mental dos que procuram por este tipo de
terapia. De acordo com o que levantamos através de pesquisas para a realização
deste trabalho, vimos que a Arteterapia na atenção psicossocial, permite
principalmente através da expressão simbólica, promove à auto-organização, além
de estimular o protagonismo do indivíduo propiciando a sua autonomia, desenvolve
a criatividade, permite uma melhor expressão de emoções e possibilita também
novas formas de ser, agir, enxergar e sentir o mundo.

Palavras-chave: Arteterapia, Winnicott, criatividade, brincar, Psicologia.


“Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do
inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão; é
sensibilidade, criatividade, é vida.” (Jung, 1920)
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 7

1.1. Apresentação .................................................................................... 7

1.2. Arteterapia: definição e conceitos ..................................................... 9

1.3. A Arteterapia: Articulação téorica Winnicottiana ............................. 14

1.4. Objetivos ......................................................................................... 19

1.4.1. Objetivo Geral .............................................................................. 19

1.4.2. Objetivos Específicos ................................................................... 19

1.5. Justificativa...................................................................................... 19

2. MÉTODO ............................................................................................... 22

3. RESULTADOS ...................................................................................... 23

3.1. A contribuição da teoria Winnicottiana para a Arteterapia .............. 23

3.2. Recursos artísticos como objetos mediadores do processo


terapêutico .................................................................................................... 23

3.3. A prática do psicólogo em Arteterapia: técnicas e estratégias ........ 24

3.4. Os espaços de saúde na qual a Arteterapia está inserida .............. 25

4. DISCUSSÃO.......................................................................................... 26

4.1. Psicanálise Winnicottiana na Arteterapia ........................................ 26

4.2. Possibilidades de atuação e técnicas em Arteterapia ..................... 36

4.3. A Arteterapia no contexto de saúde brasileiro ................................. 42

5. CONCLUSÃO ........................................................................................ 47

6. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 51
1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação

O trabalho que será apresentado a seguir, se baseou no tema geral da Unip:


“A psicologia na promoção da saúde dos indivíduos, grupos, organizações e
comunidade: estudos sobre fundamentos, limites e possibilidades das práticas”.
Nosso grupo optou por pesquisar diversos aspectos da Arteterapia, como por
exemplo, o uso dela na prática psicológica, onde pode ser utilizado como
instrumento de intervenção profissional. A Arteterapia é uma prática terapêutica que
trabalha com a multidisciplinaridade de saberes, com o intuito de promover
qualidade de vida do sujeito, bem como uma boa saúde. Tendo como abrangências
diversas linguagens, tais como: plástica, sonora, literária, dramática e corporal, a
partir de técnicas expressivas como desenho, pintura, modelagem, música, poesia,
dramatização e dança.

Temos conhecimento de que o desenvolvimento de oficinas focadas na


Arteterapia vem a cada dia ganhando espaço considerável no setor de saúde,
principalmente, se tratando do campo da saúde mental, buscando minimizar efeitos
negativos produzidos por adoecimento psíquico. Emergiram assim novos serviços
nas redes de cuidados à saúde de portadores de sofrimento psíquico, como os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleos de Atenção Psicossocial,
Residências Terapêuticas (RT’s) e centros de convivência, em prol da reabilitação e
inclusão social.

Atualmente a Arteterapia vem sendo utilizada nas áreas de psicologia escolar,


psicologia organizacional, psicologia social e psicologia hospitalar, onde é permitido
que se tenha acesso à subjetividade humana que na relação entre psicólogo e
cliente seja possível trabalhar conteúdos emocionais através da expressão artística.
Por trás dessa arte é possível que sejam abordados temas como traumas, conflitos
emocionais, identidade pessoal, gênero, sexualidade e expectativas profissionais.
Nessa linha, é possível ampliar a possibilidade de expressão, indo além da
abordagem tradicional baseada apenas na linguagem verbal. Durante esse
7
processo, encontram-se diferentes explicações em função da perspectiva teórica
considerada pelo arteterapeuta, além de que cada caso será analisado de modo
individual.

A Arteterapia vem sendo usada como mais um método de trabalho do


psicólogo, onde o profissional opta por quais objetivos procura alcançar; são
diversas as abordagens teóricas que abrangem esse tipo de método, onde cabe ao
psicólogo a escolha da linha que mais se identifique. Embora cada linguagem teórica
tenha seu modo próprio de trabalho, todas reconhecem a importância que a arte
desempenha no campo de autoconhecimento, aumentando as habilidades que
propiciam o desenvolvimento e a criatividade.

Um dos requisitos básicos para trabalhar com arte, é a criatividade. Neste tipo
de trabalho, é importante deixar a criatividade fluir, o que atualmente, não é
realizada facilmente, pois acaba sendo insuficientemente promovida pela nossa
cultura. Mesmo não sendo incentivada de maneira eficaz, observamos que a
sociedade expressa um breve entendimento a respeito dos benefícios de trabalhar
com as mãos, o corpo e a voz, que acabam sendo as atividades que trazer o prazer
e o equilíbrio para o indivíduo.

Dentro da Arteterapia existem alguns campos de atuação, entre estes, três


áreas requerem destaque. Na área da arte, é incluída as práticas de ateliê, que
englobam a história da arte, teorias de criatividade, e fundamentos da arte no meio
educacional; a linhagem terapêutica, que consiste na fundamentação filosófica e
psicológica que envolve o trabalho do arteterapeuta, como sua conduta, modo de
pensar e sua postura; e da Arteterapia em si, que diz respeito a sua história, sua
metodologia, e a prática supervisionada.

Pensando na atuação do arteterapeuta, compreendemos que o conhecimento


se estabelece pela integração das diferenças, do diálogo entre saberes. No contexto
clínico, alguns profissionais acabam se fechando diante de diferenças teóricas,
fazendo de regras, técnicas específicas de uma teoria, impedindo que relações
horizontais entre arteterapeuta e sujeito possam se estabelecer.

Refletindo sobre as relações humanas estabelecidas no mundo dinâmico que


se expressa na contemporaneidade, podemos observar que as relações frágeis que
se originam nesse momento acabam por gerar nos indivíduos sentimento de
8
insegurança, angústia e sofrimento. É nesse momento que podemos pensar em
maneiras de ajudar na manutenção da saúde mental, buscando atuar em programas
que visam o bem-estar, como por exemplo, a implementação de uma oficina
arteterapêutica.

Pensar a Arteterapia no contexto atual da sociedade moderna, é considerar


as angústias que afetam a sociedade, também nos leva a elaborar ações que visam
proporcionar saúde e uma melhor qualidade de vida. Isso possibilita para a
Arteterapia meios de intervenções, a partir de utilização de técnicas características
da área, como por exemplo: dançaterapia, terapia pelo movimento, terapia pelo
teatro (psicodrama) musicoterapia e, terapia pela escrita.

1.2. Arteterapia: definição e conceitos

Historicamente, na psicologia a configuração do campo teórico e prático da


Arteterapia se deu em grande parte a partir da psiquiatria, onde se deram as
primeiras experiências com uso da arte para fins terapêuticos. Destacam-se, no
Brasil, a contribuição do psiquiatra e psicanalista Osório César, e o trabalho de Nise
da Silveira, psiquiatra junguiana que criou o famoso Museu de Imagens do
Inconsciente, considerado por Frayze-Pereira como um marco que articula
psicologia, arte e política. (Reis, 2014)

Os primeiros trabalhos nessa área que englobam arte e psiquiatria são de


1876, com Mark Simon, médico e psiquiatra, que apresentou pesquisas sobre
manifestações artísticas de doentes mentais e classificou as patologias conforme as
produções. Conforme descreve Andrade (2000), Lombroso, um advogado
criminalista, fez análises psicopatológicas dos desenhos dos doentes mentais para
tentar classificar as doenças. Somente Lombroso acreditou no valor do diagnóstico
desse tipo de terapia e deu continuidade aos estudos.

Pensando em Arteterapia como uma atividade de cunho terapêutico, o que se


pretende executar não é arte propriamente dita, e sim se exercitar a criatividade,
propiciando que no fazer criativo sejam efetuados outros meios de objetivação e de
subjetivação. Dessa forma, na Arteterapia o fazer artístico é compreendido como a
9
mediação expressada no processo de autoconhecimento e de ressignificação que o
indivíduo realiza em relação a si próprio e em sua relação com o mundo. Portanto o
sentido que o psicólogo emprega na arte como ferramenta não fica restrita a uma
atividade de cunho expressivo, mas se amplia a partir da força de transformação que
a arte em si exibe enquanto meio de ação criadora. Compreende-se então a arte
como um processo de formatividade, noção descrita pelo autor Pareyson, que a
descreve definiu a prática artística como um formar, onde o resultado é um existir de
maneira completamente novo, pois a arte “é um tal fazer que, enquanto faz, inventa
o por fazer e o modo de fazer”. (Luigi Pareyson, 1918)

A Arteterapia é um tipo de terapia que facilita de alguma forma a maneira de


enfrentar alguns conflitos interiorizados no sujeito. Ela acaba trazendo uma tradição
de utilizar alguns recursos artísticos como uma ferramenta para se autoconhecer, se
comunicar e se relacionar com o mundo. É uma forma criativa e prazerosa de fazer
com que haja uma melhor harmonia nos aspectos físicos, mentais e emocionais do
cliente. Ela deve ser vista como uma forma de expressão, de comunicação e de
liberação de emoções do sujeito em atendimento, onde o cliente é auxiliado a
distinguir os problemas reais dos problemas fictícios e assim, acaba por ajudar a
ressignificar suas ideias e ajudá-lo a aceitar com mais facilidade o seu estado atual.
(Reis, 2011).

A Arteterapia, segundo Aucuri (2006), é uma forma de comunicação para


aqueles clientes que tem alguma limitação na parte da fala. É a partir de seus
métodos que a Arteterapia surge através de pinturas, recortes e colagens, costura e
tecelagem, fotografias, construção de materiais com sucatas, entre outros. Existem
outras modalidades dentro da Arteterapia como a dança, música e teatro, que
acabam se complementando dentro dessa terapia. Cada uma dessas modalidades,
tem a sua propriedade terapêutica específica, e cabe ao arteterapeuta avaliar qual a
necessidade do cliente e propor a atividade específica.

“A Arteterapia pode ser considerada uma terapia expressiva que faz o uso
da arte [...] como ferramenta de trabalho, e exalta e liberta as qualidades do
indivíduo na práxis da vida, ajudando-o a sentir-se, pensar-se e a agir de
acordo consigo mesmo, criando um canal de comunicação entre seus
conteúdos conscientes e seus conteúdos inconscientes, ao longo de sua
existência.”

10
Segundo Gaspar (2013, p. 46) a arte é o que sustenta a Arteterapia, é a base
para todo o processo acontecer. Mas temos que ter em mente também que o criar
não deve ser somente pensado como um fazer artístico, mas sim como uma
manifestação da vida, da nossa própria existência. Um dos aspectos que se destaca
no pensamento dele, é o de que a criatividade como uma fonte de criação como
uma mera forma de expressão, onde se é promovido o desenvolvimento do
indivíduo.

As autoras Ciornai e Norgren (2015, p. 5-6), falam de elementos da


personalidade que promovem a criatividade nos sujeitos, que são comuns a vários
autores pesquisadores desse tema, onde eles expõem que para a convivência em
uma comunidade mais justa os seguintes elementos devem estar presentes:

“[...] sensibilidade, percepção e apreensão empática, flexibilidade,


independência de julgamento, receptividade ao diferente e a novas ideias,
capacidade de apaixonar-se por causas e pessoas e a capacidade de
adaptar-se criativamente, criar e apreciar novas realidades.”

Ainda segundo Ciornai e Norgren (2015, p. 6), por meio da criação o processo
de expressão de sentimentos, da imaginação, de percepções, desenhos, ideias, são
facilitados. A utilização de recursos, técnicas e pensamento terapêutico frente a
Arteterapia, acaba ensinando os sujeitos a desconstruir o olhar, e lançar um novo
olhar sobre o conhecido a partir de perspectivas diferentes, para assim alcançar uma
reconstrução de novos conceitos de forma mais afetiva e harmoniosa, deixando para
trás a intolerância e o preconceito. O arteterapeuta pode se ver diante de um
processo que auxilia os indivíduos a se redescobrirem, recuperar suas esperanças e
seus sonhos. As autoras ainda falam de que enquanto formos profissionais que
utilizam de instrumentos, técnicas, teorias que abrangem o trabalho com o sensível,
precisamos repensar nossa atuação além do contexto do consultório e de salas de
aulas, para realizar uma ajuda para as pessoas em um geral a se reconectarem um
com os outros, recuperarem a essência da humanidade.

A Arteterapia junguiana se desenvolveu no Brasil com influências do próprio


Jung e do trabalho executado no hospital psiquiátrico por Nise da Silveira. Contudo,
enquanto Freud define que o inconsciente seja formado por conteúdos reprimidos do
indivíduo, Jung vai além da noção de inconsciente pessoal, e fala da existência de
um inconsciente coletivo que se origina pelos instintos e arquétipos do indivíduo.
11
Esse aspecto resulta, que a abordagem junguiana em Arteterapia não se baseia nas
interpretações de imagens como representações isoladas do inconsciente, onde sua
compreensão viria posteriori, e dependeria da verbalização do sujeito. É chegado ao
entendimento de que o importante ao indivíduo é a forma como ele consegue se
expressar e ser compreendido além das palavras.

Após Jung e muitos outros autores e pesquisadores, observou-se que essa


prática se espalhou no período compreendido entre a década de 1920 até a década
de 1940, como uma alternativa ao tratamento “modelo” existente. E a continuidade
desses trabalhos trouxe resultados satisfatórios, o que os consolidaram e foram
sendo aceitos. Assim, essa prática contribuiu para avanços significativos na
pesquisa psiquiátrica, podendo seus benefícios serem definidos por Arcuri como “a
utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos, baseando-se na
percepção de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e
enriquecedor da qualidade humana”.

A abordagem gestáltica em Arteterapia foi desenvolvida por Janie Rhyne, que


a sistematizou no livro “Arte e Gestalt: Padrões que Convergem”, escrito em 1973.
Pôr a Psicologia da Gestalt se tratar de uma teoria que trabalha muito com o
conceito de percepção, esse é um aspecto fundamental na atuação em Arteterapia
gestáltica, onde a vivência artística busca expandir a percepção que indivíduo tem
de si mesmo. É nesse sentido em que Rhyne (apud REIS, 2014) entende a atividade
artística como um modo consciente de integração entre fantasia e realidade, que se
encontram de maneira construtiva na obra criada. Ciornai define que o papel do
arteterapeuta gestáltico é de prestar um acompanhamento ao sujeito em relação as
suas buscas, se utilizando dos diversos meios artísticos para que o mesmo entre em
contato consigo mesmo, com os outros e com o mundo, desse modo a arte é um
viés de aprendizado e de experiência, onde o sujeito pode vir a encontrar novas
significações em sua vida.

Para Liebmann (apud FRANCO, et al., 2015) a Arteterapia nada mais é do


que um método de expressão que considera desde os rabiscos de uma criança até
os desenhos mais detalhados. Além disso, os desenhos, pinturas e outras
expressões se dão como algo concreto que pode futuramente ser avaliado pelo

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terapeuta ou até pelos próprios participantes da sessão, o que vai diferenciar a
Arteterapia dos outros métodos de terapias
Dentro a Arteterapia o fazer artístico é um meio de promoção a saúde e de
qualidade de vida. Pois a Arteterapia propicia recursos terapêuticos que podem ser
utilizados em variadas intervenções que envolvem, como por exemplo, modelagem,
música, desenho, pintura, dança, dramatização e o poema. Essas atividades têm
como objetivo facilitar a expressão da pessoa por meio de outros tipos de
linguagem, como por exemplo, a sonora, escrita e corporal, indo além da que
usamos normalmente, que é a verbal, fazendo com que se amplie as possibilidades
de comunicação e auxilie no processo de autoconhecimento e da promoção do
desenvolvimento da criatividade.

Segundo Reis (2014), mesmo a Arteterapia sendo uma área totalmente ligada
a psicologia clínica, ela é uma área de conhecimento interdisciplinar, onde se
encontra diversos outros âmbitos como o escolar, social e o comunitário Segundo
Andrade (2014, p. 44 apud REIS, A. C.), a expressividade e a arte podem ser
utilizadas na educação, psicoterapia, reabilitação e prevenção, pois a força que à
impulsiona que é a criatividade, é aspecto que influência o desenvolvimento da
personalidade do sujeito. Segundo Ciornai, (1995, p. 59-63 apud CARVALHO, M. M.
M. J.) o criar artístico ajuda a pessoa aprender formas diferentes de lidar
criativamente com o que enfrenta em sua vida, propiciando oportunidades de
estabelecimento de um contato mais íntimo e eficaz na relação terapêutica.

Atualmente, o terapeuta é, ao mesmo tempo, um solitário e um solidário: ele


caminha na direção do outro e retorna a si. Em seu trabalho há ética para ver o outro
e reconhece o divino em cada ser humano. Aprende a abençoar mais do que
qualquer técnica, cultiva o silêncio, uma antropologia aberta, se recicla, e é atento no
despertar da presença. Escuta ao mesmo tempo o silêncio, o corpo, as expressões
artísticas e o sussurro da alma. É então capaz de gratuidade, como aquele
momento, em que verdadeiramente experimentamos o prazer de fazer as coisas
para o outro, sem pensar em nós mesmos, espontaneamente.

Ao arteterapeuta, no entanto, não cabe somente observar, abrem-se


comentários sobre os encontros, os últimos trechos da experiência imediatamente
anterior cujo impacto retorna seguidamente nos temas abordados na produção

13
simbólica. Em seguida, compreendem-se os comentários frente às tarefas
propostas, entusiastas, desdenhosas e as questões sobre a atividade, colocadas, às
vezes, mais como meio de comunicação que de informação. É interessante um
tempo para os comentários para surgir às ansiedades frente às novidades.

Gaspar (2013, p.30) fala sobre a atenção afetiva do arteterapeuta, que é


dirigida sobre a relação que cada sujeito estabelece com a manipulação do material,
dos instrumentos e dos movimentos eficazes. Além do resultado propriamente
plástico, é interessante constatar o prazer ou o desprazer do contato sensorial do
sujeito com o material, a manifestação de seus gestos, o prazer da apropriação
progressiva da técnica.

Indo ao encontro do pensamento de Ciornai e Norgren (2015, p. 7),


percebemos que a Arteterapia e seus executores, se encontram nos dias de hoje
diante da tarefa de reconectar os humanos que existe dentro de todos nós. Além de
esse trabalho propiciar um reencontro dos sujeitos com as ditas crianças internas
que os habitam. O trabalho frente a Arteterapia então, é o resgate da beleza, da
sensibilidade, do valor, da dignidade que habita cada sujeito.

1.3. A Arteterapia: Articulação téorica Winnicottiana

A atuação de psicólogos em Arteterapia no contexto brasileiro é abordado por


diversas áreas do saber da Psicologia. Neste trabalho nos atemos a estudar os
aspectos psicológicos da Arteterapia frente a um olhar psicanalítico. Percebe-se que
a partir desse olhar para as produções artísticas feitas num contexto arteterapêutico,
conseguimos notar manifestações do inconsciente, que sendo trazidos a consciência
do sujeito, ele poderia se apropriar de seus conflitos sem que seus mecanismos de
defesa o atrapalhem no processo terapêutico, o levando a um autoconhecimento e
vida mental mais saudável.

Procuramos compreender os aspectos psicológicos presentes em uma oficina


arteterapêutica através dos referenciais winnicottianos. Dado que através dos
recursos expressivos, as produções artísticas que derivam desse, acabam por
promover um encontro verdadeiro entre um sujeito e um objeto, que até então não
14
existia. Onde esse objeto quando criado, consegue expressar ao sujeito criador, algo
sobre si, sobre sua história e suas angústias, possibilitando o sujeito de nomear,
organizar e significar algum conteúdo.

Winnicott (1945/2000) escreveu em “Desenvolvimento Emocional Primitivo”,


que os relacionamentos primitivos podem aparecer tanto em crianças quanto em
adultos, pois eles se apresentam como uma fuga dos estágios posteriores, que são
citados em estudos e teorias psicanalíticas de desenvolvimento. O autor ressalta
que é de extrema importância que o analista em formação saiba lidar com o caráter
ambivalente presente em relacionamentos externos e de repressão simples, para
que assim consiga compreender as fantasias expostas pelo cliente, essas que
apresentam características internas e externas de sua personalidade. Ele elabora
então, uma teoria que compreende os estágios do processo de desenvolvimento
emocional, onde elas são: integração, personalização, e adaptação à realidade.

A integração é o estágio primitivo de não integração dos elementos sensórios


e motores, onde a experiência de integração da personalidade do bebê se dá
através do cuidado materno e das experiências pulsionais (prazer), que constrói a
integração do Ego em um elemento mais coeso até que possamos chamar de Self.
O autor ainda cita que a não-integração primária pode resultar numa
despersonalização, que pode gerar uma condição psiquiátrica:

“A tendência a integrar-se é ajudada por dois conjuntos de experiências: a


técnica pela qual alguém mantém a criança aquecida, segura-a e a dá-lhe
banho, balança-a e a chama pelo nome, e também as agudas experiências
instintivas que tendem a aglutinar a personalidade a partir de dentro.”

Conforme Winnicott (1945/2000, p. 225), personalização é o estágio de


desenvolvimento do sentido que se está dentro do próprio corpo. Nesse momento é
vital que a mãe consiga prover cuidados para com o bebê, pois é a partir disso que
ele constrói uma personalização satisfatória. O autor trata de falar na descrição
desse estágio que um estado psicótico da despersonalização do indivíduo tem
ligação com funções iniciais retardadas na personalização.

A adaptação à realidade é o estágio em que a realidade se torna fator


importante para o desenvolvimento do bebê, onde esta experiência é construída a
partir da relação conjunta entre mamãe-e-bebê, pois quando a mãe oferece o seio

15
real ao seu filho ela acaba concretizando a experiência alucinatória do seio que o
bebê tinha. Winnicott (1945/2000, p. 227), ainda completa seu pensamento dizendo:
“assim, suas ideias (bebê) são enriquecidas por detalhes reais de visão, sensação,
cheiro e na próxima vez esses materiais serão usados na alucinação”. As falhas
recorrentes desse estágio se apresentam como prejuízo da objetividade e
reconhecimento da realidade externa.

Durante a leitura do texto “Desenvolvimento Emocional Primitivo”


encontramos ideias de Winnicott que contemplam a importância da criação artística
nesse processo de desenvolvimento emocional, por ela aos poucos tomar lugar do
sonho, ou suprir a falta dessa, gerando um bem-estar no indivíduo e se mostrando
ser de caráter vital para a humanidade, o próprio expressa esse pensamento numa
nota de rodapé:

“Através da expressão artística esperamos manter-nos em contato com


nossos selves primitivos, de onde provêm os mais intensos sentimentos e
as sensações mais intensamente assustadoras, e de fato, quando apenas
sãos, somos decididamente pobres.” (WINNICOTT, 1945/2000, p.225)

Segundo Winnicott (1975, p. 123), uma característica de grande relevância no


conceito de objetos seria o paradoxo e a aceitação desse paradoxo; o sujeito cria o
objeto, porém o objeto já estava ali presente, aguardando ser criado pelo indivíduo,
para ser nomeado, organizado e significado, tornando-se um objeto catexisado. E
para usar esse objeto, é necessário que o sujeito tenha desenvolvido essa
capacidade, que não deve ser considerada inata e o seu desenvolvimento no
indivíduo não pode ser dada como certa, ela é parte de um processo de maturação,
que depende de um ambiente adequado, ou seja, um ambiente favorável para tal.

A Arteterapia privilegia a transformação das imagens simbólicas que


transmitem e expressam sentimentos, afetos, experiências que seriam consideradas
de extrema dificuldade de acesso, que ocasionalmente são consideradas
impossíveis de serem verbalizadas; esse tipo de trabalho acaba contribuindo para
uma melhor capacidade de o sujeito organizar suas emoções, o permitindo uma vida
mental mais equilibrada e saudável.

Para Winnicott (1945/2000, p. 219-220) a fantasia tem um jeito mágico de


funcionar, pois ela não tem limites, e é onde o amor e o ódio possuí consequências

16
alarmante. Seguindo esse pensamento podemos chegar a uma compreensão de
que a fantasia é mais do que algo criado pelo indivíduo para lhe ajudar a lidar com
frustações que se apresentem em sua realidade externa, fato que o autor atribui
sendo processo do devaneio. A fantasia é anterior à realidade externa, seu
enriquecimento ou empobrecimento depende da experiência que têm com a ilusão.

Dentro do entendimento winnicottiano sobre o contexto arteterapêutico, a


relação do arteterapeuta com seu cliente deve ser estabelecida em um ambiente
considerado suficientemente bom, para propiciar um desenvolvimento emocional
saudável, visto que o autor compreende que a criatividade está essencialmente
conectada à saúde.

Winnicott (1975, p. 61) discorre sobre o seu entendimento do brincar dizendo


que clientes, sendo crianças ou adultos, em seu relacionamento transferencial com o
terapeuta, realizam juntos uma atividade que permita ambos de serem criativos na
hora de utilizar suas personalidades. Pois é nesse momento do brincar em que o
sujeito traz objetos ou fenômenos de sua realidade externa e os manipula a serviço
de seus sonhos, para que assim possam ser trabalhados os conteúdos intrínsecos.

“A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do


cliente e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam
juntas. Em consequência, onde o brincar não é possível, o trabalho
efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de um estado em que
não é capaz de brincar para um estado em que o é.”

De acordo com Winnicott (1975, p. 79) “é no brincar, e talvez apenas no


brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação”. As obras teriam
um sentido mais comunicativo, possuindo dois diferentes posicionamentos, um que
visa transmitir algum aspecto ao ambiente externo e outro que prefere manter-se
indecifrável. Haveria então uma ligação entre o subjetivo e o objetivo. Winnicott
ressalta a importância de como o artista cria sua obra e o que a mesma pode
significar. Nos aponta dois tipos divergentes de artistas, um que usaria de um falso
self, expressando superficialmente seus conteúdos intrínsecos, mas que poderia se
passar por um artista que expõe seu verdadeiro self. Já no caso em que o artista
apresenta seu verdadeiro self, suas produções agradam a si mesmo e as demais
pessoas, por aproximar os conteúdos internos e externos que no início estavam
separados.
17
Segundo Cruz (2013, p. 1), as intervenções terapêuticas utilizadas com
clientes em Arteterapia, se consistem a partir do processo criativo:

"A arte e o processo de produção criativa são considerados como


elementos que, em si mesmos, favorecem por meio da criação de um objeto
estético, a ação de forças psicológicas com um potencial curativo ou
benéfico para a expressão e reorganização ou regulação dos afetos."

O sujeito compreende que sua vida é digna de ser vivida a partir do momento
em que se percebe como um ser criativo. Winnicott (1975, p. 95) diz que é possível
estabelecer um vínculo entre o viver criativo e o viver propriamente dito. E em uma
situação contrária, o estado de submissão da realidade externa, acaba evocando no
sujeito um sentimento de inutilidade associada a ideia de que não vale a pena viver.

“A criatividade é própria do estar vivo de tal forma que, a não ser que a
pessoa esteja em estado de repouso, ela está sempre tentando, de algum
modo, alcançar algo, de maneira que, se houver um objeto no caminho,
pode haver um relacionamento.”

O uso de objetos mediadores no processo terapêutico possibilita o acesso à


conteúdos reprimidos pelo sujeito, enquanto se apresenta a oportunidade de ser
trabalhado e refletido durante uma sessão. No momento em que o indivíduo elabora
atividades que contemplem, desenhos, pinturas, esculturas, recortes de figuras,
mesmo não compreendendo o que está fazendo, ele está permitindo acesso ao seu
inconsciente e o moldando, da maneira que melhor lhe convenha. O que o sujeito
trabalha na sessão acaba manifestando-se de uma maneira diferente daquela que
temos concebida como uma imagem de psicoterapia, se expressa então através de
produções artísticas, utilizando do método descrito por Freud como associação livre
através do uso alternativo de materiais artísticos.

Quando conseguimos perceber no sujeito, em processo arteterapêutico,


conteúdos que anteriormente eram de difícil acesso e de tão pouco serem passíveis
de reestruturação, passam a ganhar um novo significado e uma nova maneira de ser
compreendida, entendemos que esse sujeito gerou transformações significativas em
seus elementos psíquicos. Os objetos mediadores que Winnicott apresenta em sua
teoria, são elementos que quando desenvolvidos auxiliam o sujeito a ter acesso ao
inconsciente e a compreende-lo. O sofrimento sentido pelo sujeito agora pode, por

18
meio de um objeto mediador, ser cuidado e refletido a partir da contextualização
desse sofrimento em sua vida.

O olhar que debruçamos sobre a nossa existência e de sua relevância, vai


depender dos significados que damos a ela. As produções artísticas realizadas em
um processo arteterapêutico podem refletir esse nosso olhar. Reconhecemos que a
psicoterapia, de forma geral, consegue oferecer aos indivíduos a oportunidade de
terem contato novamente com o brincar.

A contribuição da psicanálise para uma atuação em Arteterapia reside nesse


olhar reflexivo sobre nossa existência, pois é a partir desse que os indivíduos
realizam modificações por meio da arte. A produção artística, portanto, é portadora
de um processo de representação que faz um convite ao sujeito, de que por meio de
um objeto mediador, os processos do pré-consciente quando estimulados viabilizam
o acesso ao conteúdo que permanecia inconsciente e que por meio do objeto
construído se mostra, porém já ressignificado, apresentando-se como obra ao
criador, exigindo um nome e um significado.

1.4. Objetivos

1.4.1. Objetivo Geral

• Pesquisar a modalidade de arte como recurso terapêutico do universo


psíquico.

1.4.2. Objetivos Específicos

• Compreender os fenômenos psicológicos a partir da Arteterapia


• Refletir sobre a atuação do psicólogo com formação em Arteterapia e
suas possibilidades

1.5. Justificativa
19
A reflexão acerca do uso da Arteterapia no processo da psicoterapia, tem
gerado diversos estudos, que contribuem com a disponibilidade de diversas
ramificações nas áreas das artes e das ciências psicológicas, que tendem a facilitar
a integração das pessoas que necessitam de outros meios de lidar com os
significados do mundo. A Arteterapia é um método baseado no uso de várias formas
de expressão artística com uma finalidade terapêutica. A reflexão desenvolvida
mostra que, apesar das diferentes teorias, esta modalidade é processada por uma
concepção estética do humano, visto como um ser criativo, capaz de se transformar
em artista de sua própria vida.

Ao longo do tempo, a Arteterapia vem se consolidando em campos de


atuação, onde atinge a uma grande parte da população, que por algum motivo ou
outro, tem vivido de maneira estática. A arte disponibiliza o uso de técnicas que
envolve música, dança, teatro, artes plásticas, e unidas a uma fundamentação com
intuito terapêutico, é vista como um modo de atuação no campo da psicologia,
também em diversas áreas, não só na atuação clínica, mas também, em escolas,
hospitais, instituições que não visam um fim lucrativo, enfim, para aqueles que
buscam a arte como meio de expressar-se, e encontra aquilo que procura da melhor
forma, e que atenda suas expectativas.

Embora possa ser desenvolvida a partir de diferentes referenciais teóricos, a


Arteterapia se define em todos eles por um ponto em comum: o uso da arte como
meio à expressão da subjetividade. Sua noção central é que a linguagem artística
reflete, em muitos casos melhor do que a verbal, nossas experiências interiores,
proporcionando uma ampliação da consciência acerca dos fenômenos subjetivos.

Após estudos realizados pelo grupo, pudemos notar que, no âmbito da


Arteterapia, as atividades expressivas não têm uma finalidade estética, ou seja, a
produção artística não é realizada e analisada por seu valor estético como obra de
arte. Talvez por isso seja pouco difundida. Enquanto realizava pesquisas, o grupo
desenvolveu um olhar mais amplo a respeito deste assunto, o que antes de tal
estudo, era pouco mencionado em nosso meio. A Arteterapia ainda não tem tanto
reconhecimento quanto a atendimentos em clínicas usando apenas a linguagem

20
verbal. Visto que mesmo com tantos recursos presentes, ainda tem muito o que se
desenvolver, mesmo em pontos onde já existem estudos a respeito.

Como atividade terapêutica, o que aqui se pretende, dentro do campo da


Arteterapia, não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade,
proporcionar que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de
subjetivação, bem como da expressão, na busca de significados relevantes à vida
do sujeito. Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é
compreendida como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos
de sua experiência, combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o
novo.

Com relação ao atendimento que faz o uso da Arteterapia, propriamente dito,


em instituições, Rabelo (apud MENDONÇA, 2013. p. 2) aponta que as ações
realizadas nos CAPS visam à potencialização e valorização de formas de livre
criação dos usuários, melhora da autoestima, desenvolvimento do equilíbrio
emocional e minimização dos efeitos negativos da doença mental, sendo deste
modo que a Arteterapia vem sendo inserida nestes centros de assistência e
atendimento psicológico.

Os CAPS vêm desenvolvendo um trabalho articulado à arte na saúde mental,


após a Reforma Psiquiátrica, propondo-se a viabilizar e dinamizar os processos em
grupos terapêuticos, empregando as variadas expressões artísticas, sendo
executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores e profissionais de saúde
mental com formação em Arteterapia.

Com a escolha deste tema, procuramos estudar como a arte pode ser uma
ferramenta de grande importância para o trabalho do psicólogo nos mais diversos
campos e contextos, juntamente a seu compromisso ético de contribuir para que o
indivíduo se construa, e desenvolva-se como responsável pela própria história.

21
2. MÉTODO

Dentre os estudos sobre Arteterapia, podemos citar os estudos de Winnicott


(1975), que em sua obra “O brincar e a realidade” fala sobre sonhos, fantasias e a
vida real. Explica que o sonho se relaciona com o mundo real, e que de alguma
forma esses sonhos acaba por ter um sentido que pode estar relacionado a certas
coisas que vivenciamos no nosso dia a dia.

Também nos baseamos nos trabalhos da autora Bonafé (2009) onde a


mesma visa a Arteterapia como um meio estratégico de intervenção terapêutica,
onde o principal objetivo é promover a qualidade de vida do ser humano através dos
recursos artísticos. Segundo a autora, o indivíduo é visto por uma totalidade, mas
com um foco em especial em suas necessidades expressivas.

Para a elaboração do presente trabalho, utilizamos artigos científicos, teses,


que se encontram em bases de dados, as quais apresentam-se como um conjunto
de arquivos que se relacionam entre si, possibilitando um auxílio para a realização e
compreensão dos conteúdos abordados sobre Arteterapia. As bases de dados
usadas nesse trabalho são: Scielo, Pepsic, Periódico, Unincor, Repositório
Institucional-Universidade Fernando Pessoa.

Para o presente Projeto de Pesquisa utilizamos as seguintes palavras-chaves:


arteterapia; criatividade; brincar; expressões; psicanálise.

O período-tempo que estabelecemos para fazer o levantamento bibliográfico


dessa pesquisa em diferentes bases de dados se dá do ano de 2007 até o ano de
2019.
Para análise dos dados, segundo Gadamer (1999), a contraposição entre o
método histórico e dogmático não possui uma verdade absoluta de acordo com a
visão hermenêutica filosófica, mostrando a necessidade de se questionar até onde
ele possui validade. O autor fala que o método indutivo é a base da ciência
experimental, e mesmo nas ditas ciências morais, é preciso encontrar a
uniformidade, regularidade, legalidade que fazem os fenômenos e processos
individuais serem previsíveis.

22
3. RESULTADOS

A partir dos estudos realizados acerca do tema, o grupo obteve dados sobre,
os espaços de saúde no qual a Arteterapia está inserida, a prática do psicólogo, a
contribuição de Winnicott para o tema e como os recursos artísticos são utilizados
como objetos mediadores do processo terapêutico. Os dados coletados nos
mostraram os seguintes resultados:

3.1. A contribuição da teoria Winnicottiana para a Arteterapia

Buscamos compreender os aspectos psicológicos da Arteterapia por meio do


viés psicanalítico, onde no fazer arteterapêutico o sujeito consegue manifestar seu
inconsciente de forma lúdica. Pois as utilizações de recursos expressivos nesse tipo
de atuação permitem que um objeto novo seja criado, e que através dele o sujeito
criador possa entrar em contato com sua história e suas angústias, criando a
possibilidade de ressignificação.

Dentre as contribuições da teoria winnicottiana, devemos destacar a


importância do resgate do brincar, que é defendido pelo autor, pois essa ação
permite um relacionamento transferencial entre o terapeuta e o paciente, onde em
conjunto realizarão uma atividade que permita toda e qualquer expressão criativa. A
expressão criativa se dará por meio do uso de objetos mediadores, conforme citado
no próximo item.

3.2. Recursos artísticos como objetos mediadores do


processo terapêutico

Os objetos mediadores podem ser definidos como recursos que atuam nos
processos psíquicos, tanto internos como externos, dos indivíduos, mediando as
ligações entre eles, de forma que articule ambas as percepções desses processos

23
de forma representativa/simbolizante. Esses recursos visam a habilidade associativa
do pré-consciente, sendo que este depende do que é oferecido pelas relações com
outros indivíduos, com a cultura, com o contexto a qual o sujeito está inserido.

Para exemplificar tais objetos, podemos citar a música, a dança, o desenho, a


fotografia, a poesia, a pintura, o teatro. A utilização desses objetos, no contexto
terapêutico, ao articular as representações, serve de auxilia para uma melhor
expressão, uma melhor comunicação dos conflitos e dos conteúdos trazidos pelo
sujeito, promovendo a criatividade e o autoconhecimento. O contato consigo mesmo
promove a autonomia, essencial para que este indivíduo possa se tornar sujeito de
sua própria existência.

3.3. A prática do psicólogo em Arteterapia: técnicas e


estratégias

A prática do psicólogo na Arteterapia está indo além dos consultórios, já que


essas intervenções podem estar presentes em diversas áreas da Psicologia, sendo
elas social, escolar, organizacional, da saúde e hospitalar. E isso possibilita que o
profissional possa atuar em múltiplos contextos, e que utilize da abordagem teórica
que mais se identifica para realizar seu trabalho. Portanto, precisa-se manter uma
postura ética, se desprendendo das preconcepções do que é certo ou errado, pois a
arte não é generalizada, visto que, a singularidade do indivíduo estará presente
durante todo o momento em que ele estiver participando do processo
psicoterapêutico.

A arte é um poderoso instrumento para a expressão da subjetividade humana,


o arteterapeuta irá buscar, através dos momentos proporcionados por ela, meios que
consigam possibilitar o acesso a essa subjetividade. As atividades realizadas visam
a potencialização e valorização de formas livres, tendo uma melhora na autoestima,
no desenvolvimento do equilíbrio emocional e minimização dos efeitos negativos da
doença mental. Ou seja, os objetivos do trabalho do psicólogo nesse contexto é
promover a qualidade de vida, buscando compreender os aspectos psíquicos que
constituem o sujeito através dos recursos artísticos.
24
3.4. Os espaços de saúde na qual a Arteterapia está inserida

A Arteterapia atuará no meio da saúde através dos Centros de Atenção


Psicossocial (CAPS), Núcleos de Atenção Psicossocial, Residências Terapêuticas
(RT’s) e centros de convivência. A Arteterapia trabalhará de forma terapêutica afim
de valorizar a criatividade destes indivíduos, e utilizar a arte como ferramenta para
redesenhar seus traumas e recriar sua história de vida.

A prática da Arteterapia realizada nos CAPS e em outros programas de


assistência psicossocial, visam proporcionar ao paciente, uma interação entre as
clínicas e disponibilizar um programa de reabilitação, que respeite os princípios de
cidadania e que também inclua projetos terapêuticos, que promovam a melhoria de
vida do usuário que se beneficia desse tipo de atendimento.

A prática da Arteterapia realizada em grupos terapêuticos, tem como objetivo


oferecer uma possibilidade de amenizar o sofrimento do sujeito e, oferecer um jeito
diferente para que este expresse seus sentimentos e pensamentos através da arte.
Bem como, está é uma prática utilizada como meio de promoção da qualidade de
vida dos usuários destes serviços, e de suas famílias, e que de um modo acaba
refletindo e afetando a sociedade em que esse indivíduo está inserido.

25
4. DISCUSSÃO

4.1. Psicanálise Winnicottiana na Arteterapia

Em nossa pesquisa procuramos apresentar as contribuições que a teoria


psicanalítica tem a oferecer no fazer arteterapêutico. Visto que essa área de atuação
do psicólogo-arteterapeuta visa se utilizar as mais variadas expressões artísticas
como instrumento de análise clínica. Conforme Sei (2009, p. 20), ao se utilizar um
referencial psicanalítico estamos considerando a existência e a influência do
inconsciente no indivíduo.

As diferentes formas de expressões artísticas produzidas por pacientes em


atendimento arteterapêutico, podem ser analisadas como conteúdo de medos,
memórias, fantasias, sonhos, conflitos. Por se tratar de um atendimento
psicoterapêutico que foge da clínica tradicional, a arte é usada como alternativa ao
discurso falado. Os significados e possíveis interpretações das obras criadas pelo
sujeito se dá na relação transferencial com o arteterapeuta, que estimula o uso da
associação livre, para que através de palavras o sujeito entre em contato com seus
pensamentos e sentimentos, que outrora foram expressos por meio da arte.

Em alguns escritos de Freud, o autor buscou refletir as Artes em geral, a partir


do viés psicanalítico, demonstrando interesse em compreender tanto as obras
quanto seus artistas, e a relação entre obra e biografia. Quando ele apresenta o
método científico para a interpretação dos sonhos (FREUD, 1900), afirma que deve
existir uma relação entre a criação poética e a associação livre do paciente, para
exemplificar o que quer dizer Freud narra a carta do poeta e filósofo Friedrich
Schiller. O pensamento contido nessa carta abarcava as limitações da “razão” no
fazer criativo da imaginação, onde a razão seria uma barreira à imaginação por
criticar pensamentos que não demonstrem um sentido aparente. Para o autor, as
pessoas consideradas possuidoras de mentes criativas, conseguiam ultrapassar
essa barreira permitindo que suas ideias fluíssem, culminando na criação de algo
novo e criativo.

26
“Por outro lado, onde existe uma mente criativa, a Razão – ao que me
parece – relaxa sua vigilância sobre portais, e as ideias entram
precipitadamente, e só então ela as inspeciona e examina com um grupo.
Vocês, críticos, ou como quer que os denominem, ficam envergonhados ou
assustados com as mentes verdadeiramente criativas, e cuja duração maior
ou menor distingue o artista pensante do sonhador. Vocês se queixam de
sua improdutividade porque rejeitam cedo demais e discriminam com
excessivo rigor.” (FREUD, 1900, p. 137-138)

Para expressar o que Freud compreende sobre os processos de criação


artística, ele compara o brincar infantil com a atividade do escritor criativo, já que
tanto a criança quanto o escritor têm a capacidade de criar um mundo fantasioso e
saber a diferença do que é e o que não é real.

Ainda segundo Sei (2009, p. 21-22), para Freud toda fantasia é a realização
de um desejo que outrora não foi satisfeito e que motiva o sujeito a buscar diferentes
maneiras de se satisfazer:

“a arte constitui um meio-caminho entre uma realidade que frustra os


desejos e o mundo dos desejos realizados na imaginação – uma região em
que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo ainda
se acham em pleno vigor” (FREUD, 1913, p. 189)

Alguns autores psicanalíticos não corroboram do pensamento de Freud


acerca da Arte, já que para estes o autor estaria limitado ao realizar análises das
razões psicológicas que levaram o artista a produzir sua obra, dando a entender que
a criatividade teria motivações intrínsecas ao indivíduo.

Muitos autores do passado e da atualidade escrevem sobre o conceito de


criatividade, numa tentativa de elaborar uma explicação única que abarque as
diferentes percepções que se tem sobre esse tema, ou elaborar conceitos
contraditório e excludentes sobre os já existentes. Ao começarmos a presente
pesquisa pensávamos que o termo criatividade seria de fácil compreensão, já que
seu uso está presente em quase tudo o que vivenciamos no cotidiano.

De maneira geral o conceito de criatividade nos remete a pensar na Arte, seja


como produto, por exemplo, esculturas, pinturas, danças, livros; seja como um estilo
de vida, que atribuímos aos artistas. A criatividade nesse sentido se atrela a criação

27
de algo que consiga retratar os sentimentos, e que ao ser observado desperta no
espectador as mais variadas emoções.

Loparic (2006) escreveu sobre algumas reformulações que a psicanálise


sofreu enquanto ciência, já que o paradigma freudiano entrou em crise com o
acúmulo de casos clínicos que seus pressupostos teóricos não davam conta. É
nesse contexto que Winnicott apresenta sua teoria do desenvolvimento emocional,
onde o autor propõe que é inato a tendência à integração com pessoas, coisas, e
também para a parceria psicossomática.

No item 1.3 desta pesquisa procuramos introduzir o leitor a teoria


Winnicottiana, discorrendo brevemente o que Winnicott escreveu sobre o
desenvolvimento emocional primitivo. Como o autor iniciou sua carreira como
pediatra, em um contexto histórico em que a medicina passava a se interessar em
estudar o desenvolvimento infantil e quais seriam as condições necessárias para um
desenvolvimento saudável.

É importante frisar que Winnicott fala em sua teoria sobre o desenvolvimento


emocional do bebê, levando em consideração motivos internos (inconsciente) e
externos (ambiente). O ambiente, em um primeiro momento é representado pela
mãe, pois a criança se encontra em um estado de dependência desta, que poderá
atender suas necessidades. Em seguida, essa representação se estende para
integrar o restante desta família e a sociedade. Utilizamos destes estudos para
compreender os aspectos psicológicos que envolvem os pacientes em tratamento
arteterapêutico. Já que tanto os cuidados necessários que esse bebê recebe da
mãe, o acolhimento e a estrutura oferecidos pelos familiares, assim como os
aspectos presentes no ambiente irão influir no seu desenvolvimento, constituindo a
base da sua saúde mental. Winnicott (1945, p. 305), em caso de uma situação
considerada patológica, explica que: “quando o ambiente não consegue ocultar ou
resolver as distorções do desenvolvimento emocional, leva a criança a organizar-se
em torno de uma linha de defesa que se torna reconhecível como uma entidade
patológica”.

Ou seja, o desenvolvimento emocional saudável tem seu início durante a


gestação e perdura por toda a vida, ou até quando um sujeito não-integrado alcança
a integração, conseguindo distinguir o eu e o não-eu. Se as condições forem
28
favoráveis e suficientemente boas, o sujeito é capaz de chegar a um estado em que
se sente como uma pessoa inteira e é capaz de se relacionar com outras pessoas
inteiras.

Winnicott em sua teoria diferencia as necessidades básicas dos bebês das


pressões instintuais, ou dos desejos que surgem da satisfação dessas tensões. Ele
traz como um aspecto do ser humano, a necessidade de ser e de continuidade do
ser, ideia que não era considerada pela psicanálise tradicional. São por essas novas
perspectivas de se compreender o sujeito diante do viés psicanalítico que Winnicott
é descrito como um autor revolucionário. Fulgencio (2010) diz que Winnicott não
reduz o homem aos seus impulsos instintuais, pois o autor mostra a existência de
outros fatores que influenciam o processo de amadurecimento emocional, “que não
os ligados às excitações corporais e ao princípio do prazer”.

Para Winnicott a criatividade é própria ao estar vivo, em que ser criativo é


uma experiência e necessidade universal, fundamental a todos os seres humanos, o
autor chega a dizer que é mais importante que comer ou sobreviver. O autor ressalta
que independentemente da definição de criatividade a qual cheguemos, essa deverá
estar atrelada a ideia de que “a vida vale a pena - ou não - ser vivida, a ponto de a
criatividade ser - ou não - uma parte da experiência de vida de cada um.”
(WINNICOTT, 1986/1999, p. 31)

É a partir dessa noção de criatividade que elaboramos a presente pesquisa,


em que o fazer arteterapêutico, por mais que tenha um cunho livre e espontâneo do
arteterapeuta e do paciente, tem uma intencionalidade, onde a criatividade é o
resultado desse processo terapêutico.

Winnicott é o autor psicanalítico que lançou o olhar para as influências do


ambiente e escreve sobre sua importância, em que destaca como um dos fatores
que sustentam o desenvolvimento emocional do bebê, através da apresentação e
manipulação em parcelas do mundo real, possibilitando a assimilação deste. O ego
é fortalecido conforme as condições suficientemente boas são fornecidas pelo
ambiente facilitador.

Esses pressupostos ficam visíveis quando falamos da Arteterapia, em que


este se torna um ambiente facilitador para o paciente quando o acolhe, propicia um
bom setting terapêutico, é flexível quanto às necessidades do indivíduo, estimula um
29
fazer criativo através do uso de objetos mediadores. Segundo Winnicott (1945/2000,
p. 306), “a saúde mental, portanto, é produto de um cuidado incessante que
possibilita a continuidade do crescimento emocional”.

Um fazer criativo, normalmente, se finda com a criação de uma obra, estando


este carregado de sentidos e significados, em que o autor tenta comunicar algo ao
meio externo. Winnicott (1963/1983, p. 166) fala sobre a “teoria da comunicação”,
em que quando um dado objeto passa a ser analisado objetivamente ao invés de
subjetivamente, ocorre uma mudança de comunicação e de propósito, que pode ser
explícita ou confusa. Agora, quando um dado objeto é analisado de maneira
subjetiva, não há uma necessidade de clareza quanto à comunicação e propósito.
Esse pressuposto ajuda a compreender um conflito comum a artistas, em que ao
mesmo tempo que querem passar uma mensagem por meio de sua obra, não
querem que as obras sejam decifradas.

Outra grande contribuição winnicottiana é a noção de saúde estar associada


a capacidade de brincar e de ser criativo. As autoras Sei e Pereira (2005, p. 39)
definem a psicoterapia como um brincar conjunto entre o psicólogo e o paciente, em
que o profissional propicia um ambiente suficientemente bom, que possibilite o
brincar do sujeito. As atividades realizadas a partir da Arteterapia conseguem
propiciar um espaço único e sensível às necessidades dos sujeitos em atendimento,
promovendo sua criatividade e desenvolvimento. Segundo Winnicott (1975, p.), “o
brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos
relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na
psicoterapia”.

Winnicott (1945/2000) reivindica a existência de uma terceira parte na vida de


um sujeito, a qual ele chamou de “experimentação”, que recebe contribuições tanto
da realidade interna como da vida externa. Para designar essa área intermediária
das experiências, o autor faz usos das expressões “objeto transicional” e “fenômeno
transicional”. A experimentação teria a função de trazer repouso ao indivíduo
empenhado em separar ambas as suas realidades e ao mesmo tempo mantê-las
integradas.

A relação do sujeito com os objetos transicionais se dá logo nos primeiros


meses de vida, sendo o seio da mãe o primeiro objeto manipulado. A criança, em
30
seu desenvolvimento, tende a substituir esse objeto como, por exemplo, fazendo
sucção do polegar, fazendo uso de algum tecido ou algum item disponível no
ambiente. Caracterizando assim, o que Winnicott (1945/2000 p. 319) chama de
fenômenos transicionais.

Esses objetos passam a ter uma importância notável para essa criança, que
faz seu uso com frequência durante seu dia a dia, funcionando como uma defesa
contra a ansiedade. Ele mantém sua relevância através do reconhecimento do meio
como, por exemplo, quando a criança se mostra muito apegada a um brinquedo e os
pais reconhecem e permitem que ela o carregue por onde for, se tornando um objeto
transicional.

No contexto arteterapêutico, essa relação com os objetos transicionais pode


ser vista quando o paciente é estimulado a produzir, utilizando de recursos artísticos
expressivos, tais como pincéis, tintas, cerâmica, massa de modelar ou o próprio
corpo. O sujeito então usa da criatividade para brincar com estes recursos,
atribuindo a eles sentidos e significados, transformando-os em objetos transicionais.

Winnicott (1945/2000 p. 320) fala sobre quando, em um momento posterior na


vida deste indivíduo, a necessidade deste objeto pode aparecer em um contexto
similar, por exemplo, uma criança que costumava abraçar um ursinho quando se
sentia triste, pode vir a sentir falta dos sentidos e significados que este possuía. Na
Arteterapia, há um resgate de memórias, sonhos, desejos reprimidos e idealizações,
em um ambiente suficientemente bom, com um grupo de pessoas engajadas sob a
mesma demanda e com um manejo clínico adequado advindo do arteterapeuta.

Um objeto transicional, conforme o passar do tempo é descatexizado


gradativamente. Ele não é esquecido, porém ele vai perdendo o seu sentido, isso se
deve ao fato de que os fenômenos transicionais se espalham sobre a realidade
interna do indivíduo e a realidade externa, tal qual como pode ser percebida. É neste
momento que a noção de objetos transicionais se amplia para abranger o brincar, o
apreciar das artes, a possibilidade de criação, o sonho.

Assim como a noção dos objetos sofre uma ampliação para abarcar mais
aspectos quanto as realidades deste indivíduo, o simbolismo também passa por
esse processo. No início, o bebê é quem vai moldar esse simbolismo com base nas
suas necessidades adaptativas. Esse processo vai se integrando e apresentando,
31
aos poucos, os sinais de exterioridade nos objetos. Neste momento, porém, ainda
não há um espaço para que um objeto seja símbolo de outro, isso se dará de acordo
com o desenvolvimento de relações simbólicas, no reconhecimento dos objetos
externos.

O objeto transicional pode ser entendido, mesmo que a natureza do


simbolismo não possa ainda ser compreendida inteiramente. O simbolismo só pode
ser estudado através do processo de amadurecimento do sujeito e, possivelmente,
os significados irão variar. O objeto transicional simbolizará um objeto subjetivo do
indivíduo, ganhando importância não porque toma o lugar de algo, mas sim por ser
criação deste sujeito. (WINNICOTT, 1945/2000, p. 321-322)

Se pensarmos em um paciente no contexto arteterapêutico, quando surge


uma ideia para dar início a sua produção, ao começar a esboçar este objeto, não
necessariamente ele irá colocar algum simbolismo ou significado, já que da mesma
maneira que a associação livre ocorre no divã, a expressão artística ocorre de
maneira similar. Conforme o objeto mediador é manipulado pelo sujeito, seu
simbolismo vai variando de acordo com as ressignificações, e mesmo que a
produção tenha acabado, os significados atribuídos a ela podem e provavelmente
irão ser ressignificadas de acordo com as necessidades do paciente.

Na concepção de Winnicott (1975, p.149) o espaço arteterapêutico é similar


ao espaço transicional, intermediário entre o que seria interno e o que seria externo.
Os materiais oferecidos neste ambiente o caracteriza como suficientemente bom, o
que favorece a comunicação apoiada no brincar. O terapeuta deve se manter
presente de maneira ativa e atenta, oferecendo os materiais e as técnicas
necessárias, mas não deve fazer tentar fazer interpretações tendenciosas. Esses
materiais são apresentados com o objetivo de promover a expressividade do
indivíduo e são oferecidos de maneira gradativa para estimular o indivíduo a trilhar
seu próprio caminho.

Acerca dessa autonomia, Winnicott (1975, p. 150) diz:

“[...] Onde há confiança e fidedignidade há também um espaço potencial,


espaço que pode tornar-se uma área infinita de separação, e o bebê, a
criança, o adolescente e o adulto podem preenchê-la criativamente com o
brincar, que, com o tempo, se transforma na fruição da herança cultural.”

32
Este lugar onde a brincadeira e a experiência cultural se posicionam, seria o
espaço potencial, que se caracteriza na dependência das experiências vividas, e
não tendências herdadas. Isso irá variar de como a pessoa passou pelo processo de
separação mãe-bebê, se foi de uma maneira considerada como adequada, a área
para a brincadeira será de grandes proporções. Se for de uma maneira infeliz, seu
desenvolvimento poderá ficar comprometido e o espaço potencial não terá
significado, já que os sentimentos de confiança não puderam ser construídos
corretamente.

Na experiência do indivíduo que passou por tal processo de maneira


adequada, a noção de separação não irá surgir no ato da separação em si, mas sim
através do brincar criativo, que se origina naturalmente de um estado relaxado.
Surgindo assim o uso de símbolos que representarão os fenômenos do mundo
externo e os fenômenos individuais do sujeito.

Winnicott (1975, p. 151), nos traz sobre esse desenvolvimento da confiança e


como ela influi na vida desse indivíduo da seguinte forma:

“A mãe adapta-se às necessidades de seu bebê e de seu filho que


gradativamente se desenvolve em personalidade e caráter, e essa
adaptação concede-lhe certa medida de fidedignidade. A experiência que o
bebê tem dessa fidedignidade, durante certo período de tempo, origina nele,
e na criança que cresce, um sentimento de confiança. A confiança do bebê
na fidedignidade da mãe e, portanto, na de outras pessoas e coisas, torna
possível uma separação do não-eu a partir do eu. Ao mesmo tempo,
contudo, pode-se dizer que a separação é evitada pelo preenchimento do
espaço potencial com o brincar criativo, com o uso de símbolos e com tudo
o que acaba por se somar a uma vida cultural.”

Essa noção de confiança se expande na vida deste indivíduo, inclusive no


que diz respeito ao setting terapêutico e arteterapêutico. Esse espaço preenchido
pelo brincar criativo é onde o indivíduo fará uso dos recursos artísticos e se há
confiança no arteterapeuta, o ambiente irá se configurar como suficientemente bom,
propiciando condições adequadas para que este possa se expressar, trabalhar seus
conteúdos.

Após o processo de separação entre o eu e o não-eu, Winnicott (1975, p. 26)


chama atenção para o conceito de ilusão. Desde que nasce, o ser humano passa

33
por conflitos na relação com o que é objetivamente percebido e o que é
subjetivamente concebido. Os primeiros estádios do uso da ilusão são
representados pelos fenômenos transicionais, que não existiriam para o ser humano
significado na ideia de relação, que para os outros o objeto seria percebido como
externo do sujeito em questão.

A ilusão começa quando uma mãe considerada suficientemente boa


corresponde às necessidades do bebê, dando a este a ilusão da existência de uma
realidade externa que irá corresponder a essas vivências, ou seja, o que essa mãe
oferece sobrepõe o que a criança poderia conceber. A área da ilusão seria, então, a
função principal tanto do objeto transicional quanto dos fenômenos transicionais,
estes que iniciam o que será importante para os sujeitos, sendo uma área que não
pode ser contestada no campo das experiências. Winnicott (1975, p. 28), então
esclarece da seguinte forma:

“Do objeto transicional, pode-se dizer que se trata de uma questão de


concordância, entre nós e o bebê, de que nunca formulemos a pergunta:
‘Você concebeu isso ou lhe foi apresentado a partir do exterior?’ O
importante é que não se espere decisão alguma sobre esse ponto. A
pergunta não é para ser formulada.”

É tarefa da mãe desiludir o bebê de maneira gradativa, porém nenhum


indivíduo irá solucionar completamente essa questão. Esse pontapé inicial
ocorrendo de maneira adequada irá dar abertura para as frustrações. Do contrário,
os processos que se seguirão irão ficar comprometidos. Pensando nesse processo
ilusão-desilusão, Winnicott (1975, p. 28-29) diz:

“Presume-se aqui que a tarefa de aceitação da realidade nunca é


completada, que nenhum ser humano está livre da tensão de relacionar a
realidade interna e externa, e que o alívio dessa tensão é proporcionado por
uma área intermediária de experiência que não é contestada (artes, religião
etc.). Essa área intermediária está em continuidade direta com a área do
brincar da criança pequena que se “perde” no brincar.”

A área intermediária se faz crucial para iniciar o relacionamento da criança


com o mundo, mas só é possível se provinda de uma relação suficientemente boa
com a mãe nas fases iniciais. A sequência temporal do ambiente emocional e dos
elementos específicos no ambiente físico (objetos ou mesmo objetos transicionais),

34
é essencial. O indivíduo tentar exigir uma compreensão, uma aceitação dos seus
fenômenos subjetivos seria tratada como insano. Mas se este indivíduo consegue
obter prazer dessa área intermediária subjetiva, isto é, sem exigir a aceitação, fará
com que os sujeitos em sua volta possam reconhecer seus próprios fenômenos
subjetivos, o que pode ser visto em grupos que são voltados para filosofia, religião e
também na arte.

Francisquetti e Freire (2017, p. 29-46) descrevem um relato de experiência


que foi realizado no VII Fórum Paulista de Arteterapia, cujo objetivo é mostrar a
importância do som, da música ao longo da vida dos indivíduos, e refletir o quanto a
música pode induzir o indivíduo a criar, seja um desenho ou mesmo uma pintura.

A experiência foi dividida em seis passos, sendo o primeiro com o foco de


ouvir seus batimentos cardíacos, a respiração. O segundo seria o de tomar
consciência dos sons que o corpo faz, a música interna. Já o terceiro passo é o de
percepção corporal, onde o indivíduo escutava a música e deveria prestar atenção
em qual parte do corpo algum tipo de resposta seria eliciada. O quarto passo é
chamado de espelho, onde o indivíduo trabalha a importância da troca, formando
duplas para a sua realização. No quinto passo o objetivo é abrir-se para a escuta e
conduzir o gesto criador. O sexto, que seria o último passo, consiste em observar os
processos, sensações e percepções.

As contribuições de Winnicott para a presente pesquisa, resumidamente, são


a teoria do desenvolvimento, o brincar e a criatividade, os objetos mediadores e
espaço potencial. Pensando nesses aspectos, na experiência descrita por
Francisquetti e Freire (2017), vemos que a conceituação de criatividade está
expressa quando os sujeitos participantes da experimentação, são convidados a
formar duplas e quando a música começar devem se movimentar junto dela.

A noção de objetos mediadores pode ser visto no recursos que foram


utilizados durante o experimento, os materiais em si (os lápis, papel, giz de cera, os
desenhos realizados, as músicas) as técnicas utilizadas pelo arteterapeuta, como
por exemplo, prestar atenção no próprio corpo, na respiração, nos batimentos
cardíacos, observar as sensações, as percepções, tudo o que poderia ser usado
naquele espaço para que o sujeito conseguisse se expressar.

35
O espaço potencial foi o próprio local onde a atividade se realizou, em que o
ambiente estava suficientemente bom e favorável para que os sujeitos se
expressarem. As seis etapas foram realizadas de maneira que permitia ao sujeitos
uma atividade com início, meio e fim, congruentes com suas necessidades.
Francisquetti e Freire ao utilizar músicas e sons diferentes, tinham o propósito de
que estes promovessem uma comunicação além da verbal, propiciando novas
maneiras de interação social.

Os conceitos trazidos por Winnicott valorizam uma prática com menor


estruturação, priorizando uma liberdade maior para esse paciente se expressar
através de recursos artísticos, remetendo ao brincar. O contato estabelecido no
setting arteterapêutico capacita a criação de uma ponte entre o inconsciente e o
consciente comum das vivências do sujeito, e a partir disso, a Arteterapia surge
como um instrumento para este entrar em contato com seus conteúdos, sejam esses
bons ou ruins, possibilitando o olhar para si, o contato consigo mesmo.

4.2. Possibilidades de atuação e técnicas em Arteterapia

A Arteterapia é considerada como um processo terapêutico, que utiliza da arte


e entende-se que ela é uma representação simbólica da vida intrapsíquica do sujeito
e, além disso, torna-se um recurso mediador da interação com as pessoas, Jung
(2008) apud Loiola e Andriola (2017, p.20), apontava que: “há aspectos do
inconsciente na nossa realidade, onde a arte se torna um mediador, se tornando a
conexão entre o inconsciente e consciência e oposições do sujeito”.

No momento da Arteterapia, o psicólogo atua como guia do processo, embora


ele não tenha o poder de mudar o indivíduo, ele passa a auxiliar em seu
desenvolvimento através dos recursos oferecidos na sessão, como materiais que
possam trabalhar as suas expressões e criatividades, o que poderá ocasionar
transformações significativas na vida do paciente.

Essa relação terapêutica proporcionará que o indivíduo passe a conhecer a si


mesmo, tendo um contato maior com a realidade, tornando-se assim um sujeito ativo
no momento da terapia. A arte é uma oportunidade do psicólogo poder atuar em
36
diferentes contextos, levando em consideração seu compromisso ético, buscando
contribuir para que o indivíduo se reconstitua e consiga ser autor da sua própria
história.

“O que se quer mostrar aqui é que a arte é um poderoso canal de


expressão da subjetividade humana, que permite ao psicólogo e a seu
cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo, acessar conteúdos
emocionais e retrabalhálos através da própria atividade artística. Uma
grande diversidade de temas, desde traumas e conflitos emocionais,
aspectos das relações interpessoais em um grupo, expectativas
profissionais, gênero e sexualidade, identidade pessoal e coletiva, entre
outros, podem ser abordados pelo psicólogo através da arte.” (REIS, 2014
p.144).

Nise da Silveira, foi uma renomada médica psiquiátrica brasileira, aluna de


Carl Jung. Considerada como uma das pioneiras que auxiliou na chegada da arte na
psiquiatria do Brasil, trabalhou com intervenções voltadas aos psicóticos utilizando a
Arteterapia, embora ainda não existisse esse conceito formalizado. Com esse
trabalho que realizou, a médica também ajudou na compreensão dos aspectos
psicopatológicos dos indivíduos, segundo ela, a arte tocava a alma através de
formas de se expressar e comunicar. Reis (2014) apud Loiola e Andriola (2017,
p.22) cita que:

“Nise da Silveira explicou em sua teoria que algumas expressões de


vivências não podiam ser verbalizadas, que estavam na inércia do
inconsciente e impossibilitava uma elaboração verbal. Sua proposta
estabelecia ao terapeuta fazer as conexões das imagens com o cotidiano do
indivíduo como forma de liberação do inconsciente.”

Atualmente pode-se encontrar a Arteterapia se expandindo para além dos


consultórios, sendo possível notar isso através do que é citado abaixo:

“Tendo em vista a formação do profissional e o público com o qual trabalha,


a arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção,
tratamento e reabilitação voltados para a saúde, como instrumento
pedagógico na educação e como meio para o desenvolvimento (inter)
pessoal através da criatividade em contextos grupais. Desse modo, o
campo de atuação da arteterapia tem se ampliado, abrangendo além do
contexto clínico também o educacional, o comunitário e o organizacional.”
(REIS, 2014 p.143)

37
O arterapeuta precisa ser profissional, ter um manejo na preparação do local
de trabalho, se atentando a um setting terapêutico propício para que o paciente se
sinta confortável. Compreender também que cada indivíduo apresenta uma
subjetividade, portanto, ele precisará adequar e analisar quais matérias e qual
cenário poderá proporcionar um resultado satisfatório para determinadas pessoas,
por isso necessita-se saber a modalidade expressiva que será mais eficiente para
utilizar com cada sujeito. Portanto, Avellar (2004) apud Loiola e Andriola (2017, p.24)
menciona:

“O holding como parte fundamental da integração e adaptação do paciente


ao ambiente. Inicialmente é traduzido como o segurar físico da mãe,
representando o acolhimento e a confiança. Os materiais a serem utilizados
devem abrigar suas demandas trazidas e que o paciente se sinta livre.”

O psicólogo passou a ter uma atuação diferenciada, podendo trabalhar como


arteterapeuta em contextos diferentes, o que é importante, já que a vida do indivíduo
se constitui em detrimento de vários cenários em que ele está inserido, portanto, é
interessante explorar esses espaços com a inserção da Arteterapia. Ressaltando
que, esse trabalho não é feito somente com uma única pessoa, mas também em
grupos e até mesmo com famílias, como é exemplificado a seguir:

“Pensa-se que os recursos artístico-expressivos podem colaborar para


melhor investigar a composição familiar, as histórias e segredos partilhados,
os papéis assumidos por cada membro, assim como o material inconsciente
que subjaz à dinâmica da família, promovendo a reestruturação ou o
equilíbrio dos vínculos. Tais recursos ainda podem ser empregados no
contexto da avaliação da demanda familiar, nas entrevistas preliminares [...]
ou durante o processo terapêutico, com o objetivo’ de favorecer a
comunicação no setting terapêutico [...] e promover a elaboração de
conteúdos concernentes às relações estabelecidas e às questões trazidas
pelos familiares.” (ZANETTI, 2013 apud FRANCO, ALMEIDA e SEI ,
2016, p. 42).

Em outra área de atuação, denominada como Arte-Reabilitação podemos


trabalharvários aspectos através das expressões artísticas, deixando ampla suas
potencialidades cognitivas, simbólicas e também sensório-motor. Para que esse
processo ocorra, Freire (2016) menciona que, “é preciso conhecê-lo de forma total,

38
ver como era sua rotina anterior a lesão, seu trabalho, ambiente familiar e social. É
importante avaliar a condição física do paciente, em relação a sua doença”.

No setor da Arte-Reabilitação da Associação de Assistência à Criança


Deficiente (AACD), é solicitado ao paciente, que desenhe a si mesmo, e que elabore
uma cópia de figura. Dessa forma, conseguimos fazer a avaliação do mesmo, e
refletir sobre sua capacidade de compreensão a ordens simples e sua familiaridade
com o desenho. (FREIRE, 2016)

Após a avaliação inicial, é necessária a realização de um plano de


reabilitação para o paciente, por meio do CIF, pois através dele é possível elaborar
um processo de reabilitação, criando assim um foco.

“A CIF representa uma mudança de paradigma para se pensar e trabalhar a


deficiência e a incapacidade, constituindo um instrumento importante para
avaliação das condições de vida e para a promoção de políticas de inclusão
social. A classificação vem sendo incorporada e utilizada em diversos
setores da saúde e equipes multidisciplinares.” (BUCHALLA e FARIAS,
2005, p.187)

Na Arte-Reabilitação, é necessário que o paciente tenha oportunidades de


experimentar novos materiais, conteúdos e linguagem. O arteterapeuta, deve se
atentar nas reações do paciente, ao se deparar com um material ou linguagem
explorada, para que assim, o instrumento não seja o causador de frustrações ao
paciente, mas também, pode ser que algum material possa causar um
encantamento. (FREIRE, 2016)

A arte é mais do que fazer, torna-se essencial, quando por exemplo é


estimulado ao paciente a realizar uma obra de arte, pois assim trabalha-se diversos
fatores, sendo eles: sua visão, percepção, memória e principalmente sua emoção.
Segundo Marzano (1996, apud Francisquetti, 2005), nosso papel de arteterapeuta
no centro de reabilitação, é de estimular o paciente a criar, sem certo ou errado,
estaremos estimulando a tomada de consciência da importância do processo, os
sentimentos que o material desperta.

Francisquetti (2005, 35), ressalta que é importante proporcionar situações


motivadoras, mas isso não é suficiente na arte-reabilitação, pois é necessário:

39
“Fazer adaptações tanto ao nível individual-corporal como no espaço físico,
para que se possa obter respostas, da maneira apropriada, aos estímulos.
Temos algumas crianças dependentes, que fazem uso da cadeira de rodas
e por vezes necessitam de auxílio físico de outra pessoa para desenhar,
uma vez que atendemos também aos casos mais graves, por entender que
as crianças devem vivenciar todas as fases do desenvolvimento infantil. Às
vezes, temos crianças ou jovens semi-indenpendentes que fazem uso de
órteses ou aparelhos ortopédicos e, outros ainda, independentes.”

Com base no relato acima, nota-se que existe uma concepção de que a
criança com algum tipo de deficiência torna-se incapaz de algumas habilidades,
fazendo com que fique limitada as possibilidades de expressões, mas podemos ver
que isso não faz sentido, pois temos como exemplo o artista plástico Antônio
Lizarraga, que trabalha com artes belíssimas, com auxílio de outros profissionais.

Além de um trabalho de arte-reabilitação individualizado, existe também, a


possibilidade de se trabalhar em grupo na arte infantil. Por ser uma atividade que
trabalha com a expressão, o aspecto cognitivo é o que nos chama mais atenção,
através de suas várias maneiras de expressão, sendo elas: imitações jogo simbólico,
imagem mental, desenhos, linguagem corporal, entre outros. Essas formas de
expressão permitem a comunicação, podendo ser através da criatividade diante do
cenário lúdico.

“Na arteterapia o fazer artístico é um instrumento para a promoção da


saúde e da qualidade de vida. Nela podem ser usadas como recursos
terapêuticos as mais diversas atividades artísticas: desenho, pintura,
modelagem, música, poesia, dramatização e dança. Estas atividades visam
a facilitar a expressão do sujeito por meio de outras linguagens (plástica,
sonora, escrita, corporal) além da verbal, ampliando as possibilidades de
comunicação, facilitando o autoconhecimento e promovendo o
desenvolvimento da criatividade.” (REIS, 2014 p. 247)

Quando se trata de criações Winnicott (1975) apud Loiola e Andriola escreveu


que:

“Crianças e adultos são seres criativos, e utilizam de suas produções para


moldar sua personalidade construindo seu self. Nas experiências na clínica
o indivíduo produz artes para sua comunicação com o outro. Pois, bem
como pontua “os indivíduos vivem criativamente e sentem que a vida

40
merece ser vivida ou, então, que não podem viver criativamente e têm
dúvidas sobre o valor do viver.”

Segundo Pereira (2015), devido às dificuldades de tratamento, com crianças


em idade precoce, causando muitas vezes a não correspondência dos métodos de
medicamentação, cabe o arteterapeuta, entender algumas reações que o paciente
transmite, tendo um olhar diferente, investigativo e humano.

O arteterapeuta possibilita através da demanda, diversas atividades lúdicas e


recreativas, sendo eles: produções de desenhos, colagens, pinturas, musicoterapia,
dançoterapia, escrita criativa, contar história, dramatização, entre outras
possibilidades de materiais que podem ser utilizados para a expressão livre e
produtiva de cada indivíduo.

De acordo com Olivier (2011, p.36),

“Esse é um processo que costuma ser demorado porque requer muita


prática por parte do terapeuta e muita dedicação por parte do paciente. Não
basta entender regras e conceitos, é preciso ter muita sensibilidade e
experiência para reconhecer um rabisco perdido em um desenho ou um
traço, um borrão em uma pintura, porém mais sensibilidade e experiência
ainda exigida do terapeuta que se dispõe a analisar processos
psicodramáticos ou expressivo-corporais e vocais, pois os sinais são muito
sutis e rápidos.”

Na interpretação da análise com crianças, o material lúdico se torna uma


fonte de comunicação da criança, devido ao fato das crianças não fazerem
associações livres como os adultos. Dessa forma, a criança expõe suas angústias
através de jogos, brinquedos e brincadeiras, cabendo ao analista dar base e
sustentação ao brincar para que a criança construa sua subjetividade através de
suas próprias significações.
Percebe-se que o trabalho do arterapeuta revigora possibilitando resultados
nos diversos cenários em que o sujeito está inserido, pois a Arteterapia retoma a
importância da compreensão de si, do desenvolvimento da sociabilidade, e questões
de inclusão social, visto que, a arte não segrega, ela entende a singularidade de
cada um, e o sujeito passa a ser visto através de uma totalidade, sem pré-
concepções do que é certo ou errado. Por meio da arteterapia o indivíduo passa a

41
conhecê-lo, melhorar suas relações sociais, e consequentemente seu
desenvolvendo psíquico.
“Pode-se notar o quanto a inserção da arteterapia é importante no processo
de psicoterapia do indivíduo, visto que o psicólogo contribui através de
estratégias que liberam para a consciência conteúdos inconscientes, e até
mesmo latentes, antes desconhecidos, mas que geram reflexão e
transformação da psique humana.” (LOIOLA e ANDRIOLA, 2014, p. 29)

Visto que a Arteterapia vem como um meio facilitador para o indivíduo


entender o mundo e novas formas de pensar e agir, as consequências de se utilizar
deste meio são extremamente benéficas, no que se diz respeito a formas reais de
auxiliar o indivíduo a compreender sua própria subjetividade. Além de compreender
um pouco mais sobre os campos de atuação, a Arteterapia veio como forma de um
maior aprofundamento sobre o relacionamento entre terapeuta e paciente nas
diversas áreas em que este trabalho pode estar inserido.

4.3. A Arteterapia no contexto de saúde brasileiro

A Reforma Psiquiátrica colocou em cena novas discussões e novas formas de


se pensar a saúde e a doença mental. Os debates instigaram também reflexões
sobre a prática profissional, com a finalidade de encontrar uma melhoria na
qualidade de assistência oferecida. Emergiram assim novos serviços na rede de
cuidados à saúde dos portadores de sofrimento psíquico no SUS, como os Centros
de Atenção Psicossocial (CAPS) e Núcleos de Atenção Psicossocial, Residências
Terapêuticas (RTs) e centros de convivência, em prol reabilitação e a inclusão social
do paciente egresso das instituições psiquiátricas (AMARANTE, 2008).

Existiu um longo e duro caminho até o surgimento do sistema único de saúde.


O marco mais importante para o nascimento do SUS segundo Lopes e Ratolo
(2017), foi a construção da 8ª Conferência Nacional de Saúde onde foi pautado os
princípios de um novo Sistema Nacional de Saúde, no qual deveria ser Único,
Universal, Integral e Equânime. Tamanho impacto a conferência gerou, que estes
princípios acabaram fazendo parte da nossa Constituição Federal em 1988,

42
reconhecendo a saúde no brasil como um direito de todos os cidadãos e sendo um
dever do próprio estado.

Para Lopes e Ratolo (2017, p. 10):

“Só faz sentido defender a universalidade do SUS - que significa que todos
devem ter acesso ao sistema de saúde, independente de classe social,
raça, gênero, geração, local de moradia, ou credo religioso - quando
afirmamos a saúde enquanto direito humano e social. Da mesma forma, por
trás da equidade está o princípio maior da justiça social, pois não basta
afirmarmos a universalidade, sem reconhecer que existem desigualdades
abissais entre os indivíduos e classes sociais, sendo necessário que se faça
um esforço no sentido de superar essas desigualdades, respondendo a
cada um, não de forma ‘igual’ - no sentido de homogêneo -, mas de acordo
com suas necessidades sociais e singulares”.

Além destes dois princípios, existe o princípio de Integralidade tão


fundamental quanto os outros. Lopes e Ratolo (2017) dizem que a integralidade não
deixa e ser um princípio chave ao pensarmos na saúde ampliada. A integralidade
mesmo focando nos aspectos sociais e políticos na produção da saúde, irá orientar
a relação profissional-usuário se baseando no princípio horizontal da relação sujeito-
sujeito, esta que é baseada no acolhimento, vínculo e reconhecimento da
experiência do outro.

A Arteterapia é uma técnica terapêutica utilizada para a prevenção da doença


e promoção da saúde tanto em consultórios particulares, quanto nas Redes de
Atenção à Saúde (RAS) e na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). (CAPS,
Residências Terapêuticas).

Segundo Moraes (2017, p. 24):

É com o SUS que a partir de agora a Arteterapia entra em composição,


transpondo membranas que devem se manter permeáveis de modo a
assegurar o trânsito dentro/fora, fora/dentro da política e de si, afetando e
se deixando afetar, pois é natureza do trabalho em saúde que ele aconteça
no encontro, na conversa, no afeto. Cuidar é cuidar da vida, produzir saúde
é produzir vida, essa experiência comum de sermos humanos.

Ainda sobre o SUS, Lopes e Ratolo (2017) afirmam que em 2006 surgiu a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, que
tem como principal objetivo incorporar as principais práticas fundamentadas em
43
concepções integrais a saúde. E é a partir do PNPIC que surge a implementação da
Arteterapia no SUS, onde tem como dever ser implantada em todos os níveis de
atenção do SUS, como forma de garantir um cuidado contínuo, humanizado e
integral em saúde.

A partir da Portaria 849/MS, a Arteterapia pode ter como definição de seu


trabalho, uma prática que utiliza a arte como base do processo terapêutico (BRASIL,
2017).

Segundo Coqueiro (2010), a Arteterapia na área da saúde, vem ganhando


cada vez mais espaço, principalmente na área da saúde mental. Esta atividade
proporciona mudanças nos campos da afetividade, interpessoal, e relacional,
fazendo assim, com que haja um maior equilíbrio emocional ao final de cada sessão
na qual a Arteterapia está presente.

A Arteterapia seguindo o conceito de arte como um processo de se expressar


sendo criativo, mostra que o fazer artístico é uma ferramenta muito importante no
processo de comunicação não-verbal, tendo como objetivo auxiliar a produção de
novas ressignificações (PHILIPPINI, 2017).

Ainda segundo Coqueiro (2010), sintomas como angústia, estresse, medo,


agressividade, isolamento social, e apatia, são minimizados, pois com a prática da
Arteterapia, é possível que a pessoa vá se apropriando de seus próprios conteúdos,
e conhecendo mais a si mesma, se tornando ativa no processo terapêutico, quando
começa a interpretar e a refletir sobre seus próprios conteúdos.

Conforme a Cartilha da UBAAT (2017), o arteterapeuta pode contribuir para


promoção integral à saúde em diferentes níveis da atenção básica, tanto pela
educação, quanto com as ações de reparação e recuperação da saúde dos
indivíduos.

Algumas atividades realizadas pelo arteterapeuta são: instruir em relação ao


uso do álcool, tabagismo e outras drogas; ressaltar a importância da realização de
exames de rotina; instruir sobre o planejamento familiar; cuidados na gestação e
amamentação; participar de programas intersetoriais com escolas (PSE) e
comunidades; participar e promover ações nos Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador; bem como realizar trabalhos de acolhimento e ressignificação de

44
traumas sofridos como violência doméstica e abuso sexual; realizar trabalhos
no âmbito hospitalar seja nas salas de espera ou em outros locais, em comum
acordo com a equipe da saúde, para amenizar o sofrimento físico e emocional dos
pacientes e seus familiares. São diversas ações envolvendo todas as faixas etárias
do desenvolvimento humano e suas especificidades.

A Arteterapia pode ser trabalhada com qualquer público e sem uma faixa
etária específica segundo Lopes e Ratolo (2017), pois não demanda nenhuma
necessidade de domínio artístico. Pode também ser trabalhada nos mais diversos
settings também, em âmbito grupal, individual, familiar e casais. Com um leque
muito extenso de materiais expressivos, a Arteterapia pode ser uma excelente
ferramenta no apoio a criação de modos de vida mais criativos e significativos,
contribuindo na promoção da qualidade de vida a nível individual e também em
processos coletivos.

No atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o arteterapeuta


pode integrar a equipe multidisciplinar da atenção básica, participar da elaboração e
implementação de diversos níveis e projetos da RAPS, como: participar do
Programa de Desinstitucionalização, na elaboração e implementação de Projetos
Terapêuticos Singulares, participar nos Serviços Residenciais Terapêuticos, no
Serviço de Atenção em Regime Residencial, nas Unidades de Acolhimento, dentre
outros.

A Arteterapia na atenção psicossocial, principalmente através da expressão


simbólica, promove à auto-organização, estimula o protagonismo do indivíduo
propiciando a autonomia dele, desenvolve a criatividade, permite uma melhor
expressão das emoções e novas formas de ser, agir e sentir o mundo. O
atendimento pode ser individual ou em grupo, sempre visando o acolhimento do
sujeito que está em sofrimento psíquico e sua reintegração na sociedade e na
família.

Paín (2009) elucida que a Arteterapia como a conhecemos hoje só foi


possível devido à transformação da concepção de doença mental em nossa
sociedade e, com isso, da transformação da clínica psicoterapêutica. Pois, como
explicado por Amarante (2011), só com a transformação sociocultural do
entendimento do que seja um sujeito em sofrimento psíquico é que se podem
45
realizar outras mudanças estratégicas no campo da saúde mental. A arteterapia,
como definiu Sei (2009), enfatiza o indivíduo em suas necessidades, na sua
expressividade e experiência em seu sofrimento, esse destaque está de acordo com
a mudança epistêmica teórico, conceito proposta por Basaglia ao se suspender a
doença e priorizar o sujeito e sua experiência.

Sei (2009) ressalta a preocupação em ofertar um ambiente propício para a


expressividade desse sujeito, assim como preconiza a dimensão técnico-assistencial
apresentada por Amarante (2011), que visa promover novas subjetividades e,
principalmente, em relação a aberturas de ateliês em espaços sociais diferentes das
sedes de serviços CAPS, o que esse autor aponta como tendência mundial de
estratégia de prestação de serviços de base territorial que atuam na comunidade,
permitindo dessa forma a socialização indiscriminada de diversos sujeitos, estando
em sofrimento psíquico ou não, o que nos leva novamente a dimensão sociocultural
de transformação das representações sociais que se tem dos sujeitos em sofrimento
mental.

A partir da fala de Philippini (2017, p. 2-3):

“A expressão artística é um caminho que favorece a comunicação de


desconfortos ou experiências contraditórias, de difícil comunicação apenas
em palavras. As ações de desenhar, pintar, modelar, construir e tantas
outras, podem constituir uma experiência pessoal de potencialização de
autonomia, uma vez que envolvem um processo ativo de escolha de
materiais, estilos, cores, formas, linhas e texturas. Este fazer criativo
contribui para fortalecer sentimentos de autonomia e dignidade, que podem
ser fatores de importância primordial na adoção, manutenção e
fortalecimento de comportamentos saudáveis e sentimentos positivos em
relação a si mesmo, favorecendo a recuperação da saúde”.

É possível notar que a expressão artística possibilita ao indivíduo manifestar


aquilo que por meio da comunicação verbal muitas das vezes não consegue
apresentar, já que no momento da produção o sujeito tem de tomar decisões como
que cores usar, que tipo de desenho elaborar, entre outros detalhes que passa a se
atentar, assim, notamos um olhar do ser humano voltado a si mesmo, aos seus
gostos, aos seus conflitos, e fica perceptível sua autonomia muitas das vezes sendo
resgatada. Esse cenário possibilita que o indivíduo se desenvolva e influência de
maneira positiva na sua saúde.
46
5. CONCLUSÃO

Concluímos que a reflexão acerca do uso de recursos artísticos no processo


psicoterapêutico tem propiciado diversos estudos, que contribuem com a
disponibilidade das áreas artísticas e das ciências psicológicas. A integração dessas
áreas permite aos indivíduos diferentes meios de expressão e de significação de seu
mundo.

Pensando na Arteterapia como atividade terapêutica, o que percebemos ao


longo dessa pesquisa, é que esta atividade propicia exercitar a criatividade, permitir
ao indivíduo que em seu fazer criativo seja possível a produção de objetivação e
subjetivação, ressignificando sua realidade.

Consideramos também que obtivemos conhecimento de que o


desenvolvimento de oficinas focadas na Arteterapia veio e vem a cada dia ganhando
espaço considerável no setor de saúde, principalmente, se tratando do campo da
saúde mental, buscando minimizar efeitos negativos produzidos por adoecimento
psíquico.

Acreditamos que com estas pesquisas, conseguimos compreender alguns


fenômenos, em que atualmente, a Arteterapia vem sendo utilizada, como nas áreas
de psicologia escolar, psicologia organizacional, psicologia social e psicologia
hospitalar. Em que é permitido que se tenha acesso à subjetividade humana que na
relação entre psicólogo e paciente seja possível trabalhar conteúdos emocionais
através da expressão artística. Por trás dessa técnica é possível que sejam
abordados temas como traumas, conflitos emocionais, identidade pessoal, gênero,
sexualidade e expectativas profissionais.

Concluímos também que a Arteterapia vem sendo utilizada como uma técnica
de trabalho do psicólogo, em que o profissional opta por quais objetivos procura
alcançar; são diversas as abordagens teóricas que abrangem esse tipo de técnica,
contudo cabe ao psicólogo a escolha da linha que mais se identifica. Embora as
opções de técnicas sejam amplas, nota-se uma possível falta de conhecimento do
profissional, já que é um método consideravelmente novo e pouco divulgado no
meio acadêmico.

47
Além disso, consideramos que um dos requisitos básicos para trabalhar em
Arteterapia, é a criatividade. Nesta forma de atuação, é importante criar um
ambiente que permita a manifestação da criatividade, o que atualmente, não é
realizada com facilidade, pois acaba sendo insuficientemente promovida pela cultura
brasileira atual.

Compreendemos que no contexto brasileiro de atuação de psicólogos em


Arteterapia, há diversas abordagens que pesquisam e se utilizam da técnica, porém
neste trabalho focamos na abordagem psicanalítica winnicottiana. O processo
arteterapêutico propicia ao sujeito uma representação simbólica de sua vida
intrapsíquica, em que no brincar, as manifestações do inconsciente são trazidas a
consciência, permitindo que o psicólogo seja um mediador do processo de
apropriação da subjetividade do paciente.

A Arteterapia enquanto ferramenta do psicólogo pode ser utilizada em


diversos contextos em que a Psicologia enquanto ciência atua. Essa atuação é
diferenciada de outras áreas que utilizam a arte como instrumento facilitador, pois o
trabalho do arteterapeuta se concentra no processo de criação, em que os recursos
artísticos são utilizados como objetos mediadores de conflitos subjetivos do
paciente, ou seja, o artefato criado não é o foco principal neste tipo de trabalho.

Vale ressaltar que existe uma grande diferença no papel do psicólogo na


Arteterapia em comparação com outros profissionais, como por exemplo terapeutas
ocupacionais. Os psicólogos irão utilizar os conhecimentos originados da Psicologia
em sua atuação, como por exemplo, entender as defesas psíquicas diversas, a
tranferência e a contra-tranferência, que podem e irão ocorrer nesse processo
arteterapêutico. Outro aspecto importante é que o psicólogo valoriza a criação, sem
expectativa em termos de valor estético ou de utilização de aspectos formais dos
recursos artísticos, ou seja, não interessa o produto que se faz, pois o paciente tem
total liberdade para criar, e o arteterapeuta vai estar ali, incentivando o paciente e
facilitando o contanto com o inconsciente, sem julgamentos, críticas, ou valorização
estética do produto final.

Pudemos perceber através de estudos levantados que a Arteterapia é um tipo


de terapia que facilita de alguma forma a maneira de enfrentar alguns conflitos
interiorizados no sujeito. Ela acaba trazendo uma tradição de utilizar alguns recursos
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artísticos como uma ferramenta para se autoconhecer, se comunicar e se relacionar
com o mundo. É como foi visto, uma forma criativa e prazerosa de fazer com que
haja uma melhor harmonia nos aspectos físicos, mentais e emocionais do paciente.
Ela deve ser vista como uma forma de expressão, de comunicação e de liberação de
emoções do sujeito em atendimento, em que o paciente é auxiliado a distinguir os
problemas reais dos problemas fictícios e assim, acaba por ajudar a ressignificar
suas ideias e ajudá-lo a aceitar com mais facilidade o seu estado atual

Notamos que no processo da Arteterapia o fazer artístico é um meio de


promoção a saúde e de qualidade de vida. Pois tal técnica propicia recursos
terapêuticos que podem ser utilizados em variadas intervenções que envolvem,
como por exemplo, modelagem, música, desenho, pintura, dança, dramatização e a
poesia. Essas atividades têm como principal objetivo facilitar a expressão da pessoa
por meio de outros tipos de linguagem, como por exemplo, a sonora, escrita e
corporal, indo além da que as pessoas utilizam mais frequentemente, que é a verbal,
fazendo com que se amplie as possibilidades de comunicação e auxilie no processo
de autoconhecimento e da promoção do desenvolvimento da criatividade e
espontaneidade.

Através de pesquisas acerca deste tema, levantamos dados nos quais ao


arteterapeuta, no entanto, não cabe somente observar, pois abrem-se comentários
sobre os encontros, os últimos trechos da experiência imediatamente anterior cujo
impacto retorna seguidamente nos temas abordados na produção simbólica. Em
seguida, compreendem-se os comentários frente às tarefas propostas, entusiastas,
desdenhosas e as questões sobre a atividade, colocadas, às vezes, mais como meio
de comunicação que de informação.

O que extraímos deste estudo é que a Arteterapia privilegia a transformação


das imagens simbólicas que transmitem e expressam sentimentos, afetos,
experiências que seriam consideradas de extrema dificuldade de acesso, que
ocasionalmente são consideradas impossíveis de serem verbalizadas

Verificamos, ainda, através de pesquisas realizadas que a Arteterapia é um


método baseado no uso de várias formas de expressão artística com uma finalidade
terapêutica. A reflexão desenvolvida mostra que, apesar das diferentes teorias, esta

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modalidade é processada por uma concepção estética do humano, visto como um
ser criativo, capaz de se transformar em artista de sua própria vida.

Finalizando, o que extraímos com este tema, é que certamente, seria


importante a realização de novas pesquisas neste campo, visto que esta prática vem
sendo utilizada além dos consultórios, e não conseguimos encontrar tantos estudos
disponíveis no período de tempo em que pesquisamos. Encontramos na literatura
profissionais atuando em múltiplos contextos, e utilizando de abordagem teórica que
mais se identificam para realizar seu trabalho. Os profissionais atuantes em
Arteterapia devem manter uma postura ética, se desprendendo das preconcepções
do que é certo ou errado, pois a arte não é generalizada, visto que, a singularidade
do indivíduo estará presente durante todo o momento em que ele estiver
participando do processo psicoterapêutico.

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