LAURENT, ERIC. Sobre A Saúde Mental
LAURENT, ERIC. Sobre A Saúde Mental
LAURENT, ERIC. Sobre A Saúde Mental
ÉRIC LAURENT
O mestre antigo não era de modo algum embaraçado com as cifras, era
ele quem enunciava a ordem do mundo. Se uma mina de sal produzia
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Este artigo foi publicado no primeiro número da Revista Mental, junho de 1995 e está publicado no site
EFP Federação Européia de Psicanálise com o título “Apresentação da Revista por Eric Laurent”.
mais do que os mandarins haviam estabelecido, tornava-se urgente fechá-
la para o bem do império. Do mesmo modo, o mestre do Antigo regime
não se preocupava com os sujeitos ou com a saúde deles, ele só se
preocupava com a sua, a saúde do reino vindo por acréscimo. Foi com as
Luzes e depois com os Direitos do Homem que se introduziu a
preocupação com a saúde e com o mental. A partir daí, o saber considera
a organização social, a crítica e a cifra. Desde então, ele não cessa de
pressionar o mestre. O saber faz aparecer possibilidades – de vida ou de
sobrevida –, cuja utilidade ninguém sabe. Isso é bom, é mau? Os comitês
de ética tentam apreciar, avaliar, repartir esses efeitos nos registros
compatíveis não apenas com o mestre, mas com a vida. É preciso
acompanhar detalhadamente o embaraço das definições nas quais o
mestre tenta utilizar a ciência e os procedimentos para cingir o que é
dever de Estado na saúde, ou seja, para legitimar seu desengajamento. O
Estado contemporâneo, essencialmente endividado, propõe uma nova
definição do horizonte democrático prometido ao cidadão. Não se trata
mais de garantir a felicidade, nem a seguridade (Welfare). É preciso,
agora, se limitar ao que tem um efeito cientificamente demonstrado. O
que é pouco, no que diz respeito à felicidade.
A psicanálise por certo não é para todos, seu lugar não é em toda parte,
mas, por toda parte ela pode lembrar que o sujeito decorre da fala, ser
falante, ser falado, falasser. Através das idades e das culturas, as
estruturas clínicas e as línguas, ela avalia a potência da fala, propõe uma
alternativa ao peso angustiante do determinismo científico que não é a
esperança do milagre. Ela situa o campo do necessário e mantém o lugar
do contingente2.