ARIANISMO
ARIANISMO
ARIANISMO
QUANDO SURGIU?
Arianismo é uma doutrina filosófica que surgiu no século IV d.C. (por volta do ano 319 d.C.)
Ário ou Arius foi o fundador da doutrina cristã do arianismo. Foi um presbítero cristão de Alexandria
pelo que também é conhecido como Arius de Alexandria.
Nascimento: 256 d.C. – Líbia
Falecimento: 336 d.C. – Constantinopla, Turquia
Atanásio (298-373 d.C.) defendia a doutrina de uma só substância, possuída pelo Pai e pelo Filho.
Alicerçava seus argumentos não em seus raciocínios acerca do Logos, mas na natureza da redenção. Na
redenção, faz parte do plano de Deus levar os remidos a compartilharem de sua natureza. Para realizar
isso, Deus precisou assumir a natureza humana. Portanto, Deus encamou-se. E foi em seu estado
encarnado que ele resolveu o problema do pecado, tendo igualmente aberto o caminho para o homem
progredir até Deus. E isso deve incluir uma transformação tão radical da alma humana que, finalmente,
através da transformação metafísica, aquilo que antes era apenas humano, tornar-se-á divino,
compartilhando da real natureza de Deus. Os filhos realmente participarão da natureza do Pai, embora
em sentido infinito. Não obstante, sempre haverá um maior desenvolvimento nessa participação, pois,
visto que há uma infinitude com que seremos cheios, também deverá haver um preenchimento infinito
(ver Col. 2:10; II Cor. 3:18). A glorificação será um processo eterno, e não um acontecimento dentro do
tempo.
O CONCÍLIO DE MILÃO
No ano 355, Constâncio quer reunir um Concílio em Milão, estando presentes mais de trezentos bispos
do Ocidente. “Com este sínodo teve início uma humilhante tragédia que manchou muito gravemente o
imperador, que não tolerou a mínima oposição à sua vontade e se deixou tomar por medidas sempre
mais duras”. Libério convence Santo Eusébio de Vercelli a participar nele, com a esperança de fazer
triunfar a fé católica. Mas em Milão os arianos fizeram com que Eusébio e os legados pontifícios
esperassem dez dias, sem iniciar o concílio, para organizarem melhor as suas maquinações. De facto, na
abertura do Concílio, eles quiseram que se começasse com a condenação de Atanásio; os católicos
guiados pelos bispos Santo Eusébio, Lucífero de Cagliari e São Dinis de Milão, responderam que era
preciso primeiro subscrever o símbolo de Nicéia, para assegurar-se da catolicidade dos presentes. Surgiu
uma grande agitação: o povo, ouvindo o tumulto, acorreu e, escandalizado, começou a deplorar a falta
de fé dos bispos arianos. Estes últimos, temendo o pior, refugiaram-se no palácio do imperador.
Constâncio decide então transferir as seguintes sessões para seu palácio, em vez da igreja onde ele
havia começado, e com ameaças ele obteve o mesmo resultado que em Arles. Os arianos leram um
édito de Constâncio cheio das suas heresias. Não conseguindo fazê-lo aceitar, Constâncio fez vir à sua
presença os três opositores: Lucífero, Eusébio e Dinis, e pede-lhes em nome da sua autoridade de
imperador que assinem a condenação de Atanásio. Mas os três bispos recusam-se firmemente, embora
ameaçados de morte. Constâncio então mandou-os para o exílio, enquanto Ursácio e Valente fizeram
espancar o diácono Hilário que acompanhava Lucífero. Assim a maior parte dos bispos assinou, por
debilidade ou por coação, a condenação de Atanásio. Quem não assinou foi caluniado, destituído da sua
sede logo, ou pouco tempo depois. Eusébio foi mandado para a Palestina, Lucífero para a Síria, Dinis
para a Capadócia. O Papa Libério escreveu-lhes uma carta: “Que conforto posso dar-vos, dividido como
estou entre a dor da vossa ausência e a alegria da vossa glória? A melhor consolação que posso
oferecer-vos é a de me considerardes exilado convosco. Oh quanto teria desejado, diletíssimos irmãos,
ser imolado em vosso lugar! (…) Suplico, pois, à vossa caridade que me considereis presente ao vosso
lado e que penseis que a minha maior dor é ver-me separado da vossa companhia”. Este desejo de
Libério realizar-se-á pouco tempo depois. Os arianos, com efeito, sabiam que para ter um sucesso
definitivo, era preciso alcançar o seu consentimento.
Enquanto isso, os mensageiros imperiais foram enviados aos bispos ausentes para obter sua assinatura
de qualquer maneira: mas na Gália encontraram uma forte oposição à frente da qual estava Santo
Hilário de Poitiers. Para contornar isso, é reunido um sínodo em Béziers, no ano 356, e Santo Hilário foi
coagido a participar nele: a assinatura para a condenação de Atanásio foi tomada à maioria dos bispos
com violência e ameaças. Recusaram-se apenas Santo Hilário e Rodânio de Tolosa, que foram exilados
para a Frígia.
LIBÉRIO E CONSTÂNCIO
O imperador pensou, portanto, enviar a Libério um seu mensageiro, o eunuco Eusébio, com presentes,
para obter o seu favor e ao mesmo tempo para lhe pedir a sua adesão à condenação de Atanásio e a sua
comunhão com os arianos. Diante da recusa dos presentes, Eusébio ficou irritado e ameaçou Libério
asperamente; dali dirigiu-se à igreja de São Pedro e ali deixou os seus presentes. Quando Libério o
soube, indignou-se com o guardião que os tinha aceitado e mandou deitar fora aquela oferenda
profana.
Regressado Eusébio a Milão, Constâncio escreveu ao governador de Roma, Leôncio, para que conduzisse
Libério a Milão às boas ou às más. Um grande terror se espalha então por toda a Roma: muitas famílias
foram ameaçadas, vários fugiram, as portas da cidade foram postas sob vigilância, em suma, queria
isolar-se o Pontífice. Também Roma conheceu bem a violência dos arianos, de quem até agora somente
tinha ouvido falar. Por fim Libério foi arrebatado de noite, por temor do povo que o amava.
Junto a Milão, Constâncio concede-lhe audiência, ou antes o interrogou, diante do seu consistório e na
presença de estenógrafos que registavam as suas palavras. «O imperador queria que Libério sancionasse
cegamente a condenação de Atanásio. Mas Libério mantém firme aquele princípio romano de que a
Sede Apostólica só condena os processados e julgados por ela… No seu colóquio com César, o Papa
requer um processo eclesiástico a Atanásio, “visto que não pode acontecer que nós condenemos
alguém de quem não se fez julgamento”. Constâncio replicou com uma verdade oficial: que “todo o
mundo o condenou”. Libério responde: “Aqueles que subscreveram a sua condenação, não tiveram em
conta os factos, mas somente quiseram conquistar o teu favor ou fugir da tua ira e da tua má fama” (…).
Então o tirano insistia: “Só te é pedido isto (condenar Atanásio); por isso pensa na paz e subscreve-a,
para que possas voltar a Roma”. Heroica foi a resposta de Libério: “Em Roma eu já disse adeus aos
irmãos; é, pois, mais importante para mim observar as leis da Igreja do que morar em Roma”».
Constâncio deu lhe três dias para refletir, mas dois dias depois, visto que o Pontífice não mudava de
parecer, mandou-o para o exílio em Bereia, na Trácia. Era o ano de 356. Logo que Libério saiu,
Constâncio fez-lhe chegar 500 soldos de ouro para as suas despesas, mas Libério respondeu a quem lhos
levava: “Devolve os ao imperador, que tem necessidade deles para os seus soldados”. O mesmo fez a
imperatriz e Libério, ao dar a mesma resposta ao portador, acrescentou que se o imperador não tinha
necessidade do dinheiro, o desse aos bispos arianos que o rodeavam, os quais certamente precisavam
dele. Até o eunuco Eusébio lhe ofereceu dinheiro, mas Libério disse-lhe: “Tu tornaste desertas todas as
igrejas do mundo e ofereces-me uma esmola como a um condenado! Vai, e começa a fazer-te cristão”.
A PERSEGUIÇÃO
Logo que o Papa partiu, Constâncio fez colocar no seu lugar, como bispo de Roma, Félix II, antipapa. Não
obstante este tivesse aceitado o Concílio de Nicéia, pelo simples facto de que ele estava em comunhão
com os arianos, o povo romano não queria entrar na igreja da qual tinha tomado posse.
A perseguição começou em todo o império. Os arianos convenceram Constâncio que era conveniente
que o velho Ósio14 assinasse também ele a condenação de Atanásio. Depois de uma troca de cartas,
onde Ósio afirmou a fé nicena e recordou como Atanásio foi sempre reconhecido inocente de todas as
falsas acusações feitas pelos arianos, o imperador mandou-o para o exílio em Sírmio. Então foram
enviados por toda a parte ministros de Constâncio com ordens ameaçadoras: aos bispos, para que
assinassem a condenação de Atanásio e entrassem em comunhão com os arianos, sob pena de
banimento, prisão, castigo corporal e confisco dos próprios bens; aos juízes, para que fizessem cumprir
tais ordens aos bispos. Além do mais, os ministros de Constâncio foram acompanhados de clérigos de
Valente e Ursácio, que denunciavam os juízes mais negligentes. Assim aconteceu que muitos bispos
foram conduzidos à presença dos juízes para assinar a condenação de Atanásio. Quem se recusava a
assinar, depois de algum tempo era acusado de um qualquer delito (calúnia, blasfémia…) e então
mandado para o exílio, enquanto o seu lugar era tomado por um ariano.
Entretanto, Constâncio enviou tropas para Alexandria com a ordem de prender Atanásio: estas
entraram à meia-noite na igreja onde Atanásio celebrava um ofício noturno da vigília de uma festa. O
bispo não quis mover-se até que todos os fiéis não estivessem a salvo, e então – quando a maioria já
estava protegida – alguns dos seus clérigos o tomaram à força e o fizeram fugir. Atanásio escondeu-se
por um longo tempo, primeiro em Alexandria, e depois no deserto. Para o seu lugar foi nomeado Jorge
da Capadócia, enquanto em todo o Egito começava a perseguição dos bispos católicos. Jorge, o novo
bispo de Alexandria, comportava-se com tal crueldade, que até os pagãos se queixavam dele ao
imperador. Os católicos de Alexandria reuniam-se agora fora da cidade: aconteceu uma ocasião em que,
enquanto estavam reunidos num cemitério, aparece um capitão, Sebastião, com três mil homens
armados, a mando dos arianos, e fez acender uma fogueira enorme, ameaçando queimar quem não
quisesse seguir a fé dos arianos. Uma vez que as ameaças não aterrorizavam os católicos, Sebastião
mandou que fossem açoitados com vergastas entrelaçadas, pelo que muitos morreram com as dores e
os seus corpos foram deitados aos cães; os fiéis honraram estes confessores da fé como mártires. Jorge,
por causa da sua crueldade, teve de sair de Alexandria uma primeira vez; em seguida, voltando, foi
morto durante uma sublevação dos pagãos.
FIM DO ARIANISMO
A questão só seria debelada quando, em fins do reinado de Teodósio, ao tornar-se religião oficial do
império, o cristianismo ortodoxo-romano afirmou-se em definitivo.
Após o século V, devido às perseguições, o movimento desapareceu gradualmente.