Projeto Estimulação Do Desenvolvimento Infantil - Por Gaac
Projeto Estimulação Do Desenvolvimento Infantil - Por Gaac
Projeto Estimulação Do Desenvolvimento Infantil - Por Gaac
Desenvolvimento Infantil
Uma Tecnologia Social a Favor da Vida e do
Desenvolvimento Saudável
Sistematização de Experiência
Projeto:
Estimulação do Desenvolvimento Infantil
Produção:
Grupo de Apoio às Comunidades Carentes – Gacc
Colaborações:
Felipe Peixoto Pinheiro de Oliveira
Elane Sousa
Verônica Maciel Ribeiro
Declaração:
Este texto pode ser reproduzido, total ou parcialmente, por quaisquer meios,
desde que não tenha fins comerciais e seja citada a fonte.
A produção é de inteira responsabilidade do Grupo de Apoio às Comunidades Carentes – Gacc.
Projeto gráfico:
André Cavalcanti e Juliana Lotif
Impressão:
Gráfica LCR
Apoio:
Fundação Itaú Social / FIES
P962 Projeto estimulação do desenvolvimento infantil: uma tecnologia social a favor
da vida e do desenvolvimento saudável – sistematização de experiência /
Maguidarela Tavares de Sousa Caldas; Pablo de Alburquerque Robles.
– Fortaleza: Grupo de Apoio às Comunidades Carentes, 2009.
125p.: il.
CDD 155.7
Às crianças, que com um simples e sincero sorriso, nos motivam a continuar em busca de novos
horizontes e novas conquistas.
Às famílias que, mesmo com as dificuldades e adversidades do dia a dia, acreditam na mudança.
O Grupo de Apoio às Comunidades Carentes -Gacc é uma organização não governamental brasileira,
fundada em 1985, cuja missão é “contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural de
comunidades carentes urbanas e rurais do Estado do Ceará, buscando o fortalecimento da cidadania
para o alcance da equidade social”.
Sua origem foi motivada pelos graves problemas de estiagem e pobreza que castigavam o Ceará, na
década de 1980, especialmente o Município de Aurora, Região do Cariri. Sensibilizados com a situação
relatada por lideranças comunitárias locais, representantes da entidade francesa Inter Aide visitaram
esta comunidade rural em 1981 para conhecer de perto suas demandas. Da visita resultou o apoio às
primeiras ações: projetos de barragem, curso profissionalizante e de atenção primária à saúde.
Anos depois, na periferia de Fortaleza, técnicos da Inter Aide e um grupo de profissionais cearenses
viabilizaram a implantação de projetos de: horta, creche comunitária, curso profissionalizante, acom-
panhamento familiar por agentes de saúde e saneamento. As ações iniciaram nos bairros Lagamar
e São Miguel, estendendo-se, posteriormente, ao Jangurussu (Conjunto João Paulo II), Água Fria e
Parque Genibaú.
Nascidas da aliança entre brasileiros e franceses, as ações do Gacc abragem bairros periféri-
cos da capital e municípios mais pobres do Ceará. Desde essa época, adota-se como premissa
metodológica, componente central da filosofia institucional, a atuação em parceria com associações
comunitárias em cada território beneficiado. Em 1993 foi constituída, no Estado do Maranhão, uma
filial do Gacc, hoje independente.
A trajetória de atuação do Gacc foi sendo materializada, essencialmente, por um conjunto de ações
estratégicas que se complementam e contribuem para favorecer o desenvolvimento integral das
comunidades. São elas: atividades de orientação para saúde e cidadania; educação complementar
para crianças, adolescentes e jovens; formação profissionalizante e acesso ao mercado de trabalho;
agropecuária familiar e desenvolvimento de lideranças comunitárias. Norteando-se por estes eixos
temáticos, o Gacc desenvolve atualmente os seguintes programas, projetos e ações:
PROGRAMAS PROJETOS E AÇÕES
Organização Sociocultural e Produtivo-ambiental dos/as Jovens
Multiplicadores Rurais – Oficinas de formação no contexto do desenvol-
Fortalecimento
vimento territorial, promoção da convivência com o semi-árido, e definição
da Agropecuária Familiar
de propostas técnicas.
Avicultura, Apicultura, Plantio de Fruteiras
Educação Integrada - desenvolvimento integral de crianças de 7 a
12 anos com oficinas de integração, saúde e arte; orientação às tarefas
escolares; atividade manual; esporte; passeios; acompanhamento escolar e
Educação festividades.
Complementar
para Crianças, Ressignificando o Aprender – inserção escolar de crianças e adoles-
Adolescentes e Jovens centes de 12 a 17 anos que nunca estudaram ou abandonaram a escola.
É oportuno acrescentar que os programas e projetos desenvolvidos pela instituição, não obstante
as diversidades temática e geográfica de sua intervenção, pautam-se por um conjunto de diretrizes
gerais, representadas pelos princípios do não assistencialismo, trabalho voltado aos mais carentes,
independência política religiosa e participação dos beneficiados no processo de desenvolvimento.
Site: www.gacc.org.br
indice
APRESENTAÇÃO 11
1.INTRODUÇÃO 12
2. Resumo 15
3. ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO 16
3.1. Contexto social, político, cultural 16
4. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA 22
4.1. O que é o Projeto Estimulação do
Desenvolvimento Infantil, quais os objetivos
e onde acontecem as atividades 22
7. POTENCIALIDADES E LIMITES 80
7.1. Potencialidades 80
7.2. Limites 84
9. AUTORES E COLABORADORES;
PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO PROJETO 92
9.1. Colaboradores para a presente publicação 93
12. ANEXOS 99
figuras:
Figura 1 – Localização geográfica dos centros comunitários de atividades no mapa de Fortaleza
Figura 2 – Passos metodológicos do projeto
quadros:
Quadro 1 - Estágios da aprendizagem infantil segundo Piaget
Quadro 2 - Fases do desenvolvimento infantil segundo Freud
Quadro 3 - Estágios do desenvolvimento infantil segundo Wallon
Quadro 4 - Descrição ilustrativa de atividades do atendimento
Quadro 5 - Custos básicos do projeto
Quadro 6 - Resultados quantitativos do projeto
Quadro 7 - Principais temas abordados nos encontros com as famílias
Quadro 8 - Dificuldades apontadas pelos representantes das associações e pelos agentes de estimulação
Gráficos:
Gráfico 1 - Aplicação de recursos financeiros no projeto estimulação
Gráfico 2 - Evoluções observadas no desenvolvimento infantil
Gráfico 3 – Principais aprendizados dos agentes de estimulação registrados no diário de bordo
Gráfico 4 – Aprendizado dos representantes das associações comunitárias
APRESENTAÇÃO
Não parar de sonhar, ter fé, acreditar sempre, seguir em frente, fazer hoje o amanhã..., é a mensagem
que o Projeto delega a cada pessoa que o conhece ou que mantem o mínimo de contato com as
crianças que dele participam.
Este livro resume a vivência de um Projeto que, construído por um conjunto de mãos, grandes e peque-
nas, é certificado como tecnologia social e comprova resultados quanti-qualitativos, concretos e subjeti-
vos, na melhoria de vida de crianças em situação de vulnerabilidade da periferia de Fortaleza - Ceará.
Longe de ser apenas o retrato de uma experiência exitosa, é a oportunidade de aproximação com
uma realidade e um universo até então desconhecidos para muitos. E, vai além: sobrepõe-nos a
vontade de conhecer, de aprender mais a cada dia e de agir na busca de um amanhã melhor, para
todos os que acreditam na vida, no homem e na sua capacidade de mudança. Boa leitura!
Muitas crianças nascem e crescem em condições adversas, não conseguindo apresentar os níveis
normais e esperados de desenvolvimento característicos de outras crianças da mesma faixa etária.
Por que isso acontece? O que faz muitas crianças terem suas potencialidades de crescimento
reduzidas e visivelmente prejudicadas? Como as famílias podem contribuir para a identificação
precoce dos atrasos no desenvolvimento e oferecer suporte ao tratamento de tais deficiências, de
modo a acelerar seus processos de recuperação e evitar seqüelas ou o agravamento destas?
Cada um de nós veio ao mundo para tentar construir uma história bonita e feliz, brindando
cada geração com novos sorrisos e alegrias. Se engatinhamos, tropeçamos e caímos, é para
aprendermos a andar, correr e levantar. Correr em busca de descobertas, aprendizados, sonhos,
realizações.
12
Por razões de ordem biológica, econômica, psicológica, afetiva e sócio-cultural, a trajetória inicial
INTRODUÇÃO
de milhões de seres humanos é muitas vezes marcada por uma série de dificuldades, privações e
sofrimentos. Embora possam incidir, de forma isolada ou associada, em qualquer lugar do mundo,
tais problemas assumem proporções evidentemente maiores nas regiões e bairros mais pobres.
Muitas crianças podem demorar a andar, sofrer enormes entraves para falar ou enfrentar graves obs-
táculos de socialização. Em casos mais críticos, a persistência de tais problemas pode deixar ou aprofun-
dar seqüelas que as acompanharão por toda a vida. E aquelas que já manifestam alguma desvantagem
física ou mental, têm ou terão certamente maiores dificuldades, seja para a compreensão ou aceitação
pelas famílias, seja para a garantia de atendimento e tratamento mais especializados.
O Grupo de Apoio às Comunidades Carentes - Gacc vem mostrando que o futuro de crianças
em situação de vulnerabilidade social, por mais comprometido que tenha sido o seu desenvolvi-
mento, não está necessariamente perdido. Ciente das diferentes demandas e circunstâncias, o
Gacc mobilizou sua missão social, através do Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil,
para ajudar a transformar o destino de crianças como Bárbara, Diego, Felipe, Fernando Luís,
Gabriel, Isabela, João Lucas, João Vítor, Joice, Leandro, Luana, Maria Rita, Miguel, Monique,
Nicole, Paulo Vítor, Raynara, Sandra, Tainara, Vinicius..... Regado com doses contínuas de amor e
esperança, o Projeto, há 17 anos, tem se constituído como forte vetor na recuperação de atrasos
no desenvolvimento dessas crianças.
O documento agora apresentado, desenvolvido no âmbito da parceria Gacc / Itaú, tem o intuito de
sistematizar a experiência do Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil, pesquisando e relatando
processos, registrando a metodologia, fundamentos teóricos e demais elementos pertinentes, apre-
sentando e demonstrando resultados, apontando críticas e sugestões, para visibilidade, replicação e
sustentabilidade desta ação. É resultado de um conjunto de processos realizados por um consultor,
Pablo Robles1, contratado pelo Gacc em 2008, cuja tarefa foi coletar subsídios para a sistematização.
1 Pablo Robles - graduado em Administração de Empresas e em Administração Pública pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); e
estudante de Graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui uma trajetória vinculada ao Terceiro Setor,
13
A metodologia utilizada pelo consultor para coleta das informações pautou-se na: sondagem
INTRODUÇÃO
Os dados e registros coletados foram de extrema importância para preparação desta publicação,
que traz em sua essência a trajetória e evolução do Projeto Estimulação do Desenvolvimento
Infantil, suas dificuldades e necessidades, resultados e impactos... Peculiaridades que não teriam
significado se não fossem compartilhadas com diferentes atores sociais. Peculiaridades que per-
mitem a valorização e a visibilidade de tecnologias sociais, a concretude e a transparência das
ações das organizações envolvidas.
tendo fundado e coordenado por três anos o Núcleo de Estudos e Projetos do Terceiro Setor (NEPTS), na UECE, e o Instituto Sinergia Social.
Estagiou nas ONGs ESPLAR – Centro de Pesquisa e Assessoria e CEDECA/CE - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará.
Atua como Consultor Autônomo de Projetos Sociais, com foco em elaboração de projetos, desenvolvimento institucional e pesquisas, tendo
prestado serviços a: LRA - Leprosy Relief Association; CDVHS - Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza; Encine - Comunicação para
Leitura de Mundo; ITEVA - Instituto Tecnológico e Vocacional Avançado; Instituto Aba-Yby de Educação, Meio Ambiente e Pesquisa Cientí-
fica; e Gacc - Grupo de Apoio às Comunidades Carentes. Coordenou de Projetos Sociais na ADELCO - Associação para o Desenvolvimento
Local Co-Produzido e na (ONG) Terra da Sabedoria. Atualmente coordena Projeto com catadores de materiais recicláveis, no Movimento
Emaús Amor e Justiça.
2 Ressalta-se que grande parte do texto apresentado nesta publicação advém do relatório final da sistematização elaborado pelo consultor
em 2009.
14
2. Resumo
RESUMO
O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil, iniciado em Fortaleza no ano de 1993, des-
tina-se a atender crianças na faixa etária de 06 meses a 06 anos que apresentam atrasos de
ordem neuropsicomotora e sócio-afetiva. Com o objetivo de promover a superação de atrasos no
desenvolvimento, a metodologia do Projeto Estimulação foi reconhecida como tecnologia social,
pois proporciona atividades para crianças através da interação desta com objetos, ambientes
e pessoas, bem como o reconhecimento da família sobre a importância do lúdico para o de-
senvolvimento infantil. Além disso, detecta casos de necessidades especiais, atende e viabi-
liza o encaminhamento a serviços de referência no diagnóstico e tratamento. Em 17 anos de
execução, o Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil atendeu a 5.797 crianças, 705 delas
com desvantagem funcional, tendo recuperado atrasos no desenvolvimento de 1.455 crianças.
Os principais parceiros para o alcance dos resultados apontados foram instituições francesas,
brasileiras e associações comunitárias das comunidades de atendimento.
15
3. Antecedentes e
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
Contextualização
“...Hoje é a semente do amanhã...”
Nesse período, o Brasil apresentava-se como um país com graves problemas econômicos, soci-
ais, culturais: perdeu posições no ranking da economia global; teve baixo crescimento econômi-
co, o PIB 3 percapta se manteve quase estagnado - média de crescimento de 1% ao ano, altas
16
taxas de juros; o desemprego aumentou; as condições de trabalho foram precarizadas. Houve
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
conquistas na saúde e na educação, mas foram acanhadas: elevação do índice de vida ao nascer;
a mortalidade infantil no Brasil foi reduzida em mais de 20%, passando de 44.3‰ para 34,6‰
no período de 1992 a 1999; implantação do Sistema Único de Saúde - SUS, aprovação da Lei
Orgânica da Saúde; queda generalizada no número de famílias vivendo com até meio salário
mínimo per capita (mas se diferenciava conforme a cor da pele e a origem).
No Ceará, a realidade não era diferente: o estado tinha um dos mais baixos IDH4 do Brasil (0,597)
e alta concentração de renda – 0,61. Na saúde, os problemas mais freqüentes eram: desnutrição
das crianças, doenças sazonais, atraso na vacinação das crianças, verminoses. A crescente urba-
nização do Estado ocorrida entre 1980 a 1996, passando de 53% para 70%, contribuía significati-
vamente para o aumento desses problemas, especialmente entre as pessoas de baixa renda.
Nos anos 90, inicia-se também o processo de implementação da declaração mundial sobre a
sobrevivência, a proteção e o desenvolvimento da criança. O seu Plano de Ação direcionava
orientação para ações voltadas à: saúde infantil, alimentação e nutrição, educação básica e
alfabetização, proteção da criança; criança e meio ambiente, entre outros aspectos relacionados
à família. A Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada em 20 de Novembro de 1989
na Assembléia Geral das Nações Unidas, regulamentava as ações com crianças em 54 artigos
referidos nas seguintes categorias:
A Convenção orientou diretrizes das ações com as crianças, principalmente no que se refere à
educação, onde se preconiza o desenvolvimento da personalidade, de aptidões, da capacidade
mental e física; respeito aos direitos humanos, à família, aos seus valores, sua cultura, ao meio
ambiente; preparando-as para a vida.
17
3.2 Diagnóstico da Situação - Problemática encontrada
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
A realidade de bairros pobres não costuma passar despercebida aos olhos de quem acredita
que as questões sociais enfrentadas nestas localidades podem e devem ser sanadas com o
apoio das instituições e a necessária participação dos sujeitos e famílias que sentem na pele tais
problemas.
Esse conjunto de constatações agregava os principais motivos para elaboração de um projeto com
objetivo de prevenir atrasos no desenvolvimento infantil e deficiências graves que comprometessem
a integridade física e mental das crianças, e interferissem no seu desenvolvimento biopsicossocial.
18
3.3 Origem e Trajetória do Projeto
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil nasceu do desdobramento de projetos,
executados pelo Gacc, que ensejaram a percepção in loco de contextos sócio-familiares notoria-
mente prejudiciais às crianças. Constitui-se como uma das vertentes do Programa de Orientação
para a Saúde e Cidadania, denominado anteriormente Programa Saúde / Acompanhamento Fa-
miliar e desenvolvido pela instituição no período de 1991 a 2007.
O marco inaugural do Projeto remonta ao ano de 1992, quando surgiu a primeira proposta de
implementação do trabalho, intitulada “Prevenção à Deficiência Motora e Mental: Promovendo a
Estimulação Precoce”, elaborada pela enfermeira Verônica Maciel Ribeiro, na época coordena-
dora do Programa Saúde do Gacc. O documento contou com aportes técnicos das profissionais
Almita Cortez e Ariane Delgrange52.
“atender a criança com atraso psicomotor, como também desenvolver atividades educa-
tivas preventivas junto à família, a fim de prevenir deficiências graves que possam com-
prometer a integridade física e mental do indivíduo e venham interferir no seu desem-
penho biopsicossocial... [mediante as ações de] acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento; avaliação das crianças; exercícios de estimulação; reuniões educativas
individuais ou coletivas” (GACC, 1992).
Um ano após sua proposição o Projeto foi implantado no bairro Genibaú, o qual ilustra a realidade
precária que muitas comunidades da periferia ostentavam naquela época, muito distante dos
relativos avanços decorrentes da urbanização, incrementos da economia local e investimentos
básicos que aos poucos foram aportando e ajudando a minorar o drama destas populações. A
versão primeira do Projeto apresenta um resumo de como era o Genibaú outrora:
5 Almita Cortez – Terapeuta Ocupacional, Psicopedagoga; Ariane Delgrange – Terapeuta de Psicomotricidade, Assistente de Direção Essor.
19
ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
A partir daí, o Projeto Estimulação assumiu os objetivos principais de: atender as crianças que
apresentam atraso de desenvolvimento ou desnutrição; orientar os pais ou responsáveis quanto
aos cuidados com a criança e às questões do desenvolvimento infantil; avaliar e encaminhar
crianças com desvantagem funcional para serviços especializados, prestando acompanhamento
e apoio aos atendimentos, dentro das possibilidades técnicas e estruturais. Com isso, novas fer-
ramentas e atividades foram introduzidas.
20
- 1.455 Crianças recuperadas
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
- 705 Crianças com desvantagem funcional atendidas
- 4.640 Famílias Beneficiadas
21
4. Descrição da
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Experiência
“Para não ter medo que esse tempo vai passar... Não se desespere,
nem pare de sonhar...”
4.1 O que é o Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil, quais os objetivos e onde acontecem
as atividades
O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil é uma iniciativa do Grupo de Apoio às Comu-
nidades Carentes – Gacc, desenvolvida há 17 anos no Estado do Ceará, especificamente em
bairros da periferia de Fortaleza que apresentam baixos indicadores socioeconômicos.
7 Atraso de Desenvolvimento: A criança com atraso de desenvolvimento é portadora de alguma disfunção, seja orgânica, mental, emocio-
nal, ou social que impede de um desenvolvimento satisfatório (PFEIFE,1997,p.76)
22
nal8 , atende e viabiliza o encaminhamento a serviços de referência no diagnóstico e tratamento.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Em 2001, a metodologia foi certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil e,
em 2007, premiada pela Fundação Itaú Social.
8 Desvantagem Funcional Termo utilizado na nova definição da OMS, texto 15-81 DAFET II ( 03.04.98) para definir crianças que tenham
algum tipo de deficiência seja ela sensorial, motora ou mental.
23
Bairro Antônio Bezerra (0,497): situado na zona oeste de Fortaleza, sua população é superior
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
a 35.000 habitantes. Ocupações desordenadas constituem o bairro que tem cinco comunidades
de baixa renda: Sossego, Mangueiral, Malvinas, Garibaldi e Capim. Conta com os equipamentos
públicos: 02 postos de saúde, 01 hospital, 13 escolas de ensino fundamental - quatro delas
com extensão ao ensino médio e dois anexos, 05 creches comunitárias, 01 ABC, 02 Centros
Comunitários, 02 delegacias, 02 postos policiais, 01 fórum de pequenas causas e 01 abrigo. A
economia gira em torno dos pequenos comércios, mercearias, padarias, depósitos de material
de construção, indústrias têxteis, entre outros. O Centro Comunitário de Antônio Bezerra está
localizado à Rua 04, nº 1015, Parque Boatã, Bairro Antônio Bezerra.
Bairro Granja Portugal (0,394): localiza-se na região sudeste da capital – na área do Grande Bom
Jardim, conta com população de 37.369 habitantes dispõem de oito escolas, 02 creches comunitárias,
02 postos de saúde e 03 unidades sociais (ABC; CAIC e CRAS). A economia do bairro gira em torno
do comércio, sendo que a grande parte está na informalidade; há também fábricas de confecção e
sapatos. Atualmente, a Granja Portugal destaca-se pela implementação de uma cozinha popular, onde
as famílias de baixa renda estão sendo engajadas para prestação de serviços, bem como na utilização
do artesanato como fonte de renda crescente. Paralelamente, é um dos bairros que tem vivenciado
concretamente uma nova forma de economia – a Economia Solidária. O Centro de Desenvolvimento
Comunitário está localizado à Rua Antônio Neri, nº 1350, Bairro Granja Portugal.
Bairro Jardim União/Passaré (0,423): situado na zona sudeste de Fortaleza, população superior
a 25.000 pessoas, reconhecido como bairro em agosto/1988, resultado da luta de 500 famílias. O
nome traduz a característica do local: “Jardim” devido às inúmeras árvores e pássaros, e “União”
pela luta e movimento dos moradores para obterem a posse da terra e o direito à moradia. Em mo-
mento de crescimento geográfico, o conjunto Jardim União integra a região do Passaré, junto com
as comunidades Riacho Doce, Raimundo Maciel e Rosalina. Os equipamentos públicos constituem-
se de: 01 posto de saúde, 02 creches, 02 escolas de ensino fundamental uma delas com extensão
para o ensino médio e dois anexos, 02 unidades de atendimento socioeducativo de adolescentes e
jovens em conflito com a lei, e 01 posto policial. A economia do bairro gira em torno dos pequenos
comércios, depósitos de material de construção, e outros. O Núcleo de Apoio Comunitário está
localizado à Rua Moura Matos, nº 1396, Conjunto Jardim União II, Bairro Passaré.
Bairro Parque Genibaú (0,378): situado à oeste de Fortaleza, população média de 30.000
pessoas, reconhecido como bairro em 28 de dezembro de 1981, depois de muita luta da popu-
lação local. Organizações financiadas pelo Estado e/ou por ONGs foram instaladas. Três escolas
públicas, 02 postos de saúde, 03 creches comunitárias e 01 vila olímpica, são equipamentos
públicos existentes a serviço da comunidade. Muitas famílias vivem na miséria, principalmente
as que residem às margens do rio Siqueira – considerada uma das maiores áreas de risco de
24
Fortaleza, sofrendo inundações durante o inverno. A economia do bairro é gerada por pequenos
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
comércios, como mercearias, depósitos, farmácias, lojas de móveis, frigoríficos, mecânicas e su-
catas. O Centro Comunitário de Apoio à Saúde e Educação está localizado à Rua Nossa Senhora
Aparecida, nº 500, Bairro Parque Genibaú.
Também foram agregadas referências de outros estudiosos como William K. Frankenburg e J.B.
Dobbs - pediatras que criaram e introduziram o teste de Denver (teste de triagem do desenvol-
vimento que analisa os aspectos pessoal – social, motor-adaptativo, linguagem e motor de zero
à seis anos); e Heloísa Marinho – educadora e psicóloga que desenvolveu em 1957 a escala de
avaliação para o desenvolvimento da criança brasileira.
Os primeiros anos do ser humano são essenciais para o desenvolvimento integral e equilibrado de
sua inteligência, linguagem, personalidade, sociabilidade, autonomia e valores morais, dentre outros
aspectos físicos, mentais e sociais. Nesse estágio delicado e altamente dinâmico da vida, é funda-
25
mental oferecer às crianças condições positivas e ambientes favoráveis ao seu desenvolvimento.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Entretanto, há crianças que não têm oportunidades nem condições de vivenciarem um pro-
cesso de desenvolvimento saudável, principalmente quando nascidas em bairros e comunidades
pobres, pois enfrentam realidades bastante adversas, intimamente associadas às precárias
condições de vida de suas populações. Por conta de uma série de fatores que incidem sobre sua
trajetória, as famílias não conseguem, muitas vezes, oferecer condições e estímulos propícios ao
desenvolvimento regular e sadio de suas crianças.
De acordo com estudiosos como Browne apud Giddens, 2008, algumas variáveis – de cunho nota-
damente material e cultural – podem afetar o bem-estar das pessoas, como relacionado abaixo:
- Cuidados médicos e sociais inadequados e falta de acesso a serviços sociais e de saúde; Fumar
e beber em excesso, usar drogas ilegais, não praticar sexo seguro;
- Habitação precária, úmida, fria e saturada; Viver em áreas industriais, com riscos de poluição,
próximo a estradas movimentadas e com baixa qualidade do ar; Viver em uma área de alta
criminalidade;
- Educação precária (em particular com respeito à saúde) e ignorância sobre os cuidados à saúde
e sobre serviços disponíveis;
- Isolamento e exclusão social – estar às margens da sociedade e ter pouco controle sobre a própria vida.
26
O somatório desses ingredientes emoldura um cenário potencialmente nefasto para o desenvol-
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
vimento harmonioso das crianças nele implicadas. A falta de alimentação ou a má alimentação,
por exemplo, compõe uma dessas ameaças que podem custar caro às crianças, como demonstra
trecho do relatório anual do Projeto:
“As crianças malnutridas estão expostas a terem seu crescimento retardado, além da pro-
babilidade de apresentarem baixo desenvolvimento cognitivo, sofrer danos neurológicos, ter
menos resistência a doenças, além de quando adultas serem mais propensas a doenças
cardiovasculares, diabetes, altas taxas de colesterol, entre outras. (GACC, 2006)”
Não obstante, por maiores que sejam os riscos de uma infância marcada por problemas socio-
econômicos e afetivos, é preciso buscar as melhores alternativas para superar os obstáculos gera-
dos ou no mínimo torná-los suportáveis. O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil é um
poderoso aliado nessa direção.
27
a) Jean Piaget
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Para este autor, portanto, a aprendizagem infantil se processa em quatro etapas sucessivas,
assinaladas por capacidades que só emergem quando os recursos biológicos da criança encon-
tram-se suficientemente prontos para suportá-las. Tais etapas da aprendizagem infantil segundo
Piaget podem ser verificadas no Quadro 1, como descreve Antunes, 2008a:22:
28
Uma das virtudes raras de Jean Piaget é a sua sensibilidade apurada e esforço metódico em
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
tentar ouvir e entender as crianças, na busca de “compreender não apenas o que dizem, mas
porque o dizem” (PULASKI, 1986:52). Uma das conclusões a que chegou reveste-se de grande
importância educativa: o ser humano é capaz de aprender, a seu modo, em qualquer idade. Com
isso, ele contradiz
“a concepção, ainda que tola, mas influente, de que ´criança não aprende e, portanto,
basta para a Educação Infantil a garantia do alimento e recreação`... Nenhuma criança
é um adulto em miniatura e que, assim, pode aprender de modo simplificado o que os
adultos aprendem de modo mais complexo... [É preciso] que se respeitem os limites de
suas formas de pensamento” (ANTUNES, 2008a:22-23).
b) Lev Vygotsky
A obra do psicólogo russo Lev Vygotsky trouxe eminentes contribuições ao desenvolvimento in-
fantil, especialmente no âmbito das interações históricas da criança com o seu meio cultural,
tendo em vista o esforço científico do autor de aplicar à luz da psicologia a teoria do materialismo
histórico e dialético, formulada por Karl Marx para analisar o funcionamento da sociedade e suas
transformações.
Vygotsky foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em
função das interações sociais e condições de vida. Para ele, o contexto social exerce ascendên-
cia sobre o individual, o que determina inclusive a direção das aquisições de conhecimento e
experiência junto à coletividade, uma vez que “o desenvolvimento cultural sempre se dá primeiro
no nível social e depois no nível individual” (ANTUNES, 2008a:39), exceto quando a consciência
humana ainda não está sedimentada:
“O ser humano é criado histórica e socialmente, e suas relações com a natureza e com os
outros ocorrem de forma espontânea, apenas quando não se tem consciência sobre as
coisas que se faz e, por isso, à medida que toma consciência disso, mais e mais de seus
atos deixam de ser espontâneos para se tornarem sociais”. (ANTUNES, 2008:31).
29
O psicólogo também trouxe relevantes subsídios para a educação. Ele distinguiu dois níveis de
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
aprendizado: “um natural, já adquirido e formado, que determina o que [o aprendiz] é capaz de
fazer por si próprio; e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa” (AN-
TUNES, 2008a:33). Partindo dessa constatação, o autor criou a idéia da zona de desenvolvimento
proximal, definida como:
A implicação imediata deste conceito é que o desenvolvimento cognitivo individual não pode
ser concebido de forma padronizada, ignorando-se as capacidades e ritmos singulares de cada
criança. Daí a importância consagrada pelo autor à figura do mediador (que no caso do Pro-
jeto são técnicos e Agentes de Estimulação), instado a “sugerir desafios, propor dificuldades,
arquitetar problemas e estimular competências necessárias a sua superação” (ANTUNES,
2008a:37), com vistas a dinamizar os processos de aprendizagem e crescimento infantil.
c) Sigmund Freud
Contribuição original e relevante foi dada por Sigmund Freud, o pai da psicanálise - área li-
gada à psicologia e fundamentada no fato de que grande parte das experiências vividas pelos
seres humanos tem significados de natureza inconsciente que, embora desconhecidos por eles
próprios, contribuem para a estruturação de suas percepções e comportamentos. Segundo
Xavier, “a psicanálise foi a primeira corrente da psicologia a atribuir aos primeiros anos de vida
uma importância primaz na estruturação da personalidade”. (XAVIER ET AL, 2004).
Para Freud, a infância e a sexualidade eram dois aspectos fundamentais para o entendimento
da mente humana. Durante investigações sobre as causas e funcionamento das neuroses, Freud
descobriu que a grande maioria de pensamentos e desejos reprimidos ligava-se a conflitos de
ordem sexual, ocorridos nos primeiros anos de vida dos indivíduos, confirmando que as ocor-
rências durante a infância deixam marcas profundas na estruturação da personalidade. Na vida
infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como
origem dos sintomas atuais. Com isso, a teoria psicanalítica desenvolveu o conceito ‘sexualidade
infantil’. Em consonância com a abordagem psicossexual de Freud, o conceito se relaciona ao
desenvolvimento infantil, que percorre cinco estágios, como Xavier et al. (2004) e Ferreira (2001)
demonstram abaixo no Quadro 2:
30
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Quadro 2 - FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO FREUD
Faixa
Estágios Zona Erógena Características Principais
Etária
ORAL 0a2 Lábios e cavidade A maior fonte de prazer reside na alimentação e é
anos bucal tipicamente representada no ato de chupar o seio.
A criança ainda não sabe distinguir seu corpo do da
mãe.
ANAL 2a3 Região anal e A criança demonstra prazer no controle das fezes e
anos mucosa intestinal da urina, mediante a retenção, liberação e contato
com tais materiais. Ênfase na relação da criança com
o meio.
FÁLICA 3a6 Região genital A criança se descobre como agente de prazer por
anos meio da auto-estimulação de seu corpo. A diferença
anatômica entre os sexos começa a ser percebida.
LATÊNCIA 6a9 As energias sexuais são adormecidas e sublimadas para atividades intelec-
anos tuais e sócio-culturais. Surgem inclinações morais e sentimentos como pudor
e vergonha. A criança reconhece os papéis sexuais.
GENITAL Posterior Ocorre a partir da puberdade. Aspectos da fase fálica reaparecem. Alguns
adolescentes enfrentam dificuldades psíquicas de adaptação que os levam, por
exemplo, a reprimir ou substituir seus impulsos sexuais.
“À medida que a criança desenvolve seus hábitos de limpeza, ordem e higiene pessoal,
sublima suas pulsões anais para fins socialmente mais aceitáveis. A fantasia de manipu-
lar sua matéria fecal desloca-se sucessivamente para o jogo com barro ou areia, massa
de modelar, trabalhos rudimentares em cerâmica, pintura com as mãos e com os pincéis”
(GRIFFA & MORENO, 2008:134-135).
d) Arnold Gesell
Teórico do desenvolvimento infantil, Gesell, psicólogo americano, direcionou suas investigações
para o aspecto motor e o crescimento físico das crianças. Partindo da análise do desenvolvimento
embrionário, estruturou os princípios do desenvolvimento morfológico aplicáveis ao desenvolvi-
mento do indivíduo como um todo:
31
“Cada pessoa tem seu próprio ritmo de maturação... o desenvolvimento ocorre nas
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
direções céfalo-caudal [da cabeça aos pés] e próximo-distal [de dentro para fora]... [o
desenvolvimento progride] dos sistemas mais gerais para os específicos... o organismo
avança da instabilidade para a estabilidade... [e o desenvolvimento também é ordenado
pelo] surgimento da lateralidade ou dominância cerebral” (ECKERT citado por ROCHA,
2000:12).
Seus estudos são importantes para percebermos se os movimentos externados pelas crianças
estão seguindo suas tendências normais de crescimento. Gesell procurou explicar o desenvolvi-
mento infantil com base em fatores eminentemente endógenos, levando-se em conta os padrões
de maturação neurológica.
e) Henri Wallon
Outro importante e salutar referencial para o Projeto Estimulação reside nas teorias de Henri Wal-
lon, filósofo, médico e psicólogo francês, cuja dedicação à infância motivou-se pelo esforço de
conhecer a gênese dos processos psíquicos da humanidade. Em síntese, sua obra:
O autor evidencia as complexas relações entre os recursos da criança e de seu meio, configu-
rando o que ele chama de dinâmica de determinações recíprocas, pois o ambiente altera-se
junto com a criança. No Quadro 3, apresentam-se os estágios propostos por Wallon, nos quais
se percebe que a ênfase das interações oscila entre as dimensões afetivas e cognitivas (GALVÃO,
2008:43-44):
9 Cinesiologia é a ciência que tem como enfoque a análise dos movimentos do corpo humano. Sua finalidade é compreender as forças que
atuam sobre um objeto ou o corpo humano e manipular estas forças em procedimentos de tratamento tais que o desempenho humano
possa ser melhorado e a lesão adicional possa ser prevenida.
32
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Quadro 3 - ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO WALLON
Faixa
Estágio Descrição sumária
etária
Impulsivo- Primeiro ano “O colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado de
emocional interação da criança com o meio...; a exuberância de suas manifes-
tações afetivas é diretamente proporcional a sua inaptidão para agir
diretamente sobre a realidade exterior”
Adolescência A partir “A crise pubertária... impõe a necessidade de uma nova definição dos
dos 11 ou contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações
12 anos corporais (...). Este processo traz à tona questões pessoais, morais e
existenciais, numa retomada da predominância da afetividade”
33
Mais recentemente, entre 2006 e 2007, com a avaliação metodológica do Projeto, foi definido,
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
pela equipe técnica em conjunto com os agentes de estimulação, que a Teoria Histórico-cultural,
proposta por Vygotsky, seria o paradigma do Projeto, devido sua visão contextual e sistêmica do
desenvolvimento infantil.
“Na primeira infância a brincadeira é uma atividade automática e integral na vida de uma
criança. Todas elas se envolvem em algum tipo de brincadeira, seja ela espontânea ou
dirigida, e é por meio dela que desenvolvem um entendimento do mundo e competên-
cia para interagir com ele. É através do brincar que a criança revela suas capacidades
motoras, cognitivas e mecanismos de participação social, independência, imaginação e
imitação” (GACC, 2006).
Portanto, é preciso compreender: o que significa o brincar para a criança e seu desenvolvimento?
Que estruturas e recursos infantis são mobilizados neste ato aparentemente tão simples? Que
prejuízos a privação do direito ao brincar pode trazer aos futuros adultos?
Brincar, para a criança, é uma atividade que pode ser comparada ao trabalhar, para o adulto. As
crianças entregam-se à brincadeira de forma tão ou mais intensa quanto os adultos se dedicam
ao trabalho. Aliás, os afazeres profissionais mais produtivos tendem a ser justamente aqueles
que incorporam o espírito lúdico do jogo, garantindo satisfação e conferindo sentido às pessoas
envolvidas, sob um clima espontâneo de disciplina:
“Para a criança, escreveu Claparède, ´o jogo é o trabalho, o bem, o dever, o ideal da vida.
34
É a única atmosfera na qual seu ser psicológico pode respirar e, consequentemente,
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
agir`. A criança é um ser que brinca/joga, e nada mais. Perguntar por que a criança
brinca, é perguntar por que é criança” (CHATEAU, 1987:13-14).
O brincar é um fenômeno humano tão universal e mesmo vital quanto, por exemplo, os atos
de falar, conhecer e criar. Sem brincar, seria impossível ou insuportável viver. “O homem só
é completo quando brinca” (SCHILLER apud CHATEAU, 1987:13). “A capacidade de brincar é
intrínseca ao ser humano... O início das relações entre a criança e o mundo se dá através do
brincar. Brincando, a criança (se) descobre, experimenta, conhece, cria, relaciona, compreende e
transforma” (BRASILIENSE, 2005:15).
A brincadeira está incrustada na essência da infância. Nesta fase, a brincadeira constitui o motor
fundante das expressões, motivações e realizações infantis. Sem dúvida, “a natureza da criança é
lúdica, de movimento, de curiosidade, de espontaneidade. Negar essa natureza é negar a própria
criança” (RODRIGUES apud BRASILIENSE, 2005:11).
Embora as idéias de jogo e brincadeira se aproximem e em muitos contextos possam ser em-
pregadas sem distinção, é oportuno atentarmos para sua diferença, instaurada pela orientação
declaradamente lúdica (e regrada) do jogo:
O jogo ganha relevância e abrangência na vida infantil à medida que as crianças vão elevando
seus graus cognitivos de percepção e entendimento, propiciando dessa forma a exploração das
potencialidades lúdicas do brinquedo. Em conseqüência, “o brinquedo passa a ser mais elabo-
rado, sendo o indivíduo capaz de aprender, criar estratégias e regras dos jogos, explorar situa-
ções e desafios, usar o corpo com destreza, apresentar situações do cotidiano ou de fantasia”
(BRASILIENSE, 2005:14). Eis uma amostra do potencial descortinado pelo brinquedo, que se
torna ainda mais rico e complexo quando o papel lúdico do jogo entra em cena. Na prática do
jogo deve estar embutido um caráter de preparação para a vida adulta:
35
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
“Pode-se conceber o jogo, portanto, como um artifício que conduz finalmente à vida séria,
como um projeto de vida séria que esboça, por antecipação, essa vida. Através do jogo,
a criança conquista essa autonomia, essa personalidade, e mesmo aqueles esquemas
práticos necessários à vida adulta. Ela não as conquista em coisas concretas e pesadas
para manipular, mas através de substitutos imaginários”. (CHATEAU, 1987:23)
Não se pode ignorar ou minimizar os benefícios significativos e duradouros gerados pelo brincar.
“O jogo possui implicações importantíssimas em todas as etapas da vida psicológica de uma
criança e representa erro inaceitável considerá-lo como atividade trivial ou perda de tempo.”
(ANTUNES, 2008:10). Conforme Oliveira apud Brasiliense, 2005:16-17, é, através do brincar, da
utilização do jogo que se tem o(a):
Portanto, na concepção teórica do projeto, considera-se que a criança que não costuma brincar
no ambiente doméstico, em condições próximas das outras crianças de mesma faixa etária, pode
sinalizar atrasos no seu desenvolvimento:
“É pelo jogo, pelo brinquedo, que crescem a alma e a inteligência. É pela tranqüilidade,
pelo silêncio – pelos quais os pais às vezes se alegram erroneamente – que se anunciam
freqüentemente no bebê as graves deficiências mentais. Uma criança que não sabe brincar,
uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar” (CHATEAU, 1987:14).
36
Assim, não é sem motivos que o lúdico figure como um elemento central da abordagem de trata-
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
mento e na busca de recuperação dos atrasos no desenvolvimento infantil, avaliados e atendidos
pelo Projeto de Estimulação.
Quando o quadro de desvantagem funcional é de grau moderado, as crianças podem ser atendidas
diretamente pelo Projeto. No entanto, quando há casos de maior complexidade, as mães são ori-
entadas e encaminhadas a procurarem atendimento especializado para os filhos junto aos serviços
de saúde e reabilitação disponíveis, cabendo ao Gacc acompanhar esse processo e, se possível,
prestar atendimento complementar na sala de Estimulação estruturada em cada comunidade.
10 A Escala de Heloísa Marinho foi projetada especificamente para a realidade brasileira, visando retratar e avaliar o comportamento físico,
psicológico e social das crianças. É um instrumento de fácil manuseio e que proporciona aos pais, educadores e médicos uma visão geral
do desenvolvimento infantil.
37
A Figura 2 abaixo indica a dinâmica de funcionamento do Projeto Estimulação do Desenvolvi-
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
mento Infantil que pode ser descrita em quatro grandes passos, os quais não obedecem a uma
lógica necessariamente linear:
[D] Desligamentos
O processo inicia com a chegada da família aos centros comunitários – estrutura física implantada em
cada bairro de atendimento onde o Gacc atua em parceria com as associações locais para a realização de
seus programas e onde se dispõe de salas montadas e equipadas para execução das atividades do Projeto
Estimulação. Em cada bairro, a meta do projeto é atender 100 crianças com atrasos no desenvolvimento.
As famílias tomam conhecimento do projeto por meio de: informação de vizinhos e pessoas da
família; divulgação pela equipe do centro comunitário e associação parceira; visitas e convites
38
realizados pelos Agentes de Estimulação; recomendações de profissionais das instituições locais,
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
sobretudo de postos de saúde.
As orientações técnicas compõem o Plano de Tratamento [B], traçado pelo Terapeuta Ocupacio-
nal, com o objetivo de recuperar os atrasos neuropsicomotores que a criança apresenta.
Dentre as atividades que compõem as sessões de atendimento individual e/ou em grupo, alguns
exemplos são elencados abaixo no Quadro 4:
11 Esse e outros instrumentos citados neste tópico serão descritos no item que tratará da descrição de tais ferramentas.
39
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
40
O trabalho do Projeto Estimulação, todavia, não se limita somente à rotina de atendimentos
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
específicos para recuperação de atrasos neuropsicomotores. Mas, agrega outras atividades que
enriquecem as potencialidades do serviço:
Saúde Bucal: ao final das sessões de atendimento, as crianças são orientadas pelos Agentes
de Estimulação na escovação bucal. O objetivo é trabalhar a higiene e a autonomia, contribuindo
para que as crianças desenvolvam o hábito de escovar os dentes diariamente, prevenindo a
formação de cáries, os problemas na gengiva e outras complicações dentárias.
“veio para complementar e engrandecer... o atendimento grupal (...); ela desperta o gosto
pelos livros... a imaginação da criança, sua atividade simbólica, proporcionando ainda o
desenvolvimento de aspectos cognitivos e sócio-afetivos” (GACC, 2003; 2006).
Salienta-se que as atividades e exercícios propostos são estruturados a partir de uma aborda-
gem lúdica, privilegiando o uso de jogos, brincadeiras e recreação como estratégia primordial
para fomentar estímulos motores, cognitivos e comportamentais, que desenvolvam a linguagem,
facilitem a coordenação de movimentos, a socialização grupal, a imaginação, a criatividade, a
capacidade de raciocínio; agucem as percepções externas da criança, desenvolvimento da per-
cepção do eu (personalidade), dentre outros.
41
A cada seis meses a criança é reavaliada [A], para que se verifique o grau de evolução dos
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
As crianças que apresentam quadro de desvantagem funcional são encaminhadas [D] a instituições de
referência no diagnóstico e tratamento12 de tais demandas. As áreas de neurologia, traumo-ortopedia,
oftalmologia e otorrinolaringologia constituem algumas especialidades médicas às quais as crianças
são encaminhadas. Durante o atendimento em outra instituição, as crianças são acompanhadas pelo
Projeto, que, dependendo da circunstância, pode prestar-lhes atendimento complementar.
Para garantir e viabilizar o devido atendimento das crianças, além da intermediação de contatos e
visitas a instituições de saúde, sempre que possível e comprovadamente necessário, providencia-
se o repasse de vale-transportes para deslocamento e de recursos financeiros para pagamento
de taxas exigidas pelos serviços e/ou aquisição de medicamentos necessários ao tratamento.
Um aspecto que também corrobora para a evolução positiva do desenvolvimento infantil é o tra-
balho de acompanhamento às crianças que já estão no ensino regular, por meio do qual se pode
verificar a sua adaptação à escola formal.
Uma ação que não pode deixar de ser mencionada, haja vista sua relevância para o alcance do
objetivo do Projeto Estimulação, é o trabalho desenvolvido com as famílias [C]. O sucesso na
recuperação dos atrasos não depende exclusivamente do projeto, mas depende imensamente do
compromisso das famílias. Pois, além de protagonistas na aquisição de novos saberes e informa-
ções, são coadjuvantes na integração e socialização das crianças.
Com esse intuito, o trabalho junto às famílias associa momentos de orientações específicas
para o adequado estímulo ao desenvolvimento da criança, acompanhamento, monitoramento e
realização de atividades de caráter preventivo e educativo.
12 Instituições de referência no diagnóstico e tratamento contatadas pelo Projeto: ABCR - Associação Beneficente de Reabilitação; NAMI
- Núcleo de Assistência Médica Integrada; Hospital do Aparelho Locomotor Sara Kubistchek; Hospital Infantil Albert Sabin; APADA - As-
sociação de Pais e Amigos do Deficiente Auditivo; CAIC - Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente; Maternidade Escola Assis
Chateaubriand; IPREDE - Instituto de Prevenção à Desnutrição e a Excepcionalidade, e outras.
42
As atividades com as famílias permitem maior aproximação da realidade da criança, do contexto
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
no qual ela vive, com a dinâmica familiar da qual participa; sensibilização dos responsáveis para
as necessidades da criança e cumprimento do Plano de Tratamento; esclarecimentos e orienta-
ções, acompanhamento à situação e evolução do desenvolvimento infantil. São viabilizadas por
meio de três modalidades:
Visitas domiciliares: possibilitam maior aproximação com a realidade das famílias e constituem
um mecanismo fundamental para perceber, acompanhar e sensibilizar as famílias para promoção
extensiva e continuada das atividades do Projeto Estimulação;
13 Multimistura: composto utilizado para o combate à desnutrição e à anemia, é produzido com farelos de arroz, sementes de abóbora,
gergelim, farinha de milho, pó da folha da mandioca, e outros ingredientes que são triturados e misturados à alimentação da criança.
43
parte, mantendo os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento da criança, preocupando-se
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
• instrumentos clínicos de diagnóstico, avaliação e reavaliação das crianças, que tratam de ob-
servar aspectos do desenvolvimento infantil;
• instrumentos gerenciais de monitoramento e relatoria das atividades, que buscam registrar e
acompanhar o andamento dos indicadores de resultados do Projeto.
44
b) Teste do Desenvolvimento de Denver14 (Anexo III): aplicado pelas Agentes de Estimula-
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
ção sob a orientação técnica da Terapeuta, o teste conta com ainda com a colaboração da família.
Este instrumento contribui para avaliar, em uma perspectiva de observação dinâmica, o estágio
de desenvolvimento da criança a partir de um conjunto de características, movimentos, atitudes,
gestos e respostas obtidas durante o teste.
14 Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver, um dos mais conhecidos e utilizados, foi publicado em 1967, com o objetivo de ajudar na
detecção de possíveis problemas do desenvolvimento de crianças durante os seis primeiros anos de vida. Em 1990, foi reformulado – Denver
II – com os objetivos de ampliar as observações, principalmente as relacionadas à linguagem, omitir itens com pouco valor clínico ou de difícil
realização e adequá-lo a grupos de diferentes etnias, regiões (urbanas ou rurais) e aos níveis de escolaridade (Frankenburg et al, 1992). O
Denver II foi designado para ser um método de triagem em crianças entre o nascimento e os seis anos de idade, para confirmação de suspeitas
na avaliação subjetiva do desenvolvimento e para sua monitorização em crianças com risco de apresentar alterações. O teste é subdivididos em
quatro domínios de funções: pessoal-social, motor-adaptativo, linguagem e motor grosseiro. A duração do teste varia entre 35 e 45 minutos
- aplicação e interpretação (Glascoe et al, 1997). Por ser um recurso de triagem, o teste de Denver não deve ser utilizado como avaliação de
inteligência ou como preditivo do desenvolvimento posterior da criança, não sendo também apropriado seu uso com finalidade diagnóstica.
(Frankenburg, Dodds, 1990). http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=90&id_detalhe=1967&tipo_detalhe=s
45
necem amplos subsídios para a readequação e o aprimoramento continuado da intervenção. São
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
a) Quadro das Metas Mensais (Anexo IV): tabela-resumo, preenchido pelas Agentes de Es-
timulação, que se destina a fixar as metas da Atividade de Estimulação estabelecidas para o ano
e sobretudo indicar mensalmente a consecução progressiva de tais metas.
b) Formulário de Relatório Mensal (Anexo V): Preenchido também mensalmente, este for-
mato de relatório apura o balanço completo das ações executadas a cada mês. Os dados levanta-
dos, após revisão da coordenação técnica, são utilizados como base informativa para a confecção
dos relatórios técnicos enviados aos financiadores.
c) Quadro de Objetivos Operacionais (Anexo VI): planilha preenchida pelo técnico respon-
sável pelo Projeto, com o objetivo de monitorar a concretização das metas quantitativas / in-
dicadores de resultados. As informações coletadas, provenientes das fichas e relatórios, são
agregadas à planilha a cada três meses, sendo para cada indicador verificado o percentual de
alcance do projeto em relação ao previsto.
No decorrer dos anos de realização do projeto, foram incluídos e/ou excluídos diferentes instru-
mentos clínicos e gerenciais.
Em 2007, a avaliação do projeto realizada por consultoria externa, a ser abordada adiante,
constituiu um marco dentro desse contexto, pois influiu significativamente na implementação de
novos processos e no melhoramento de metodologias, estratégias, procedimentos do Projeto, e
instrumentos descritos.
46
4.5 Estudos, Avaliações e Pesquisas realizadas sobre o Projeto:
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Ao longo de sua existência, o Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil vivenciou mo-
mentos de estudos, pesquisas e avaliação da sua metodologia, em decorrência das seguintes
necessidades:
E, embora não seja intenção descrever em detalhes esses momentos, dois deles merecem
destaque:
47
Os dados coletados basearam-se na observância de 94 crianças na faixa etária de 3 e 9 anos de
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
idade, de ambos os sexos e matriculadas na escola regular, que foram divididas em dois grupos:
Para isso, a metodologia do estudo utilizou dois tipos distintos de questionários estruturados,
aplicados junto aos responsáveis pelas crianças, cujo preenchimento foi auxiliado pelos Agen-
tes de Estimulação e pelos professores das crianças que já estudavam. Complementarmente,
utilizou-se o diário de campo, para anotação de dados qualitativos. O conteúdo dos questionários
esteve relacionado a:
- Cerca de 90% das crianças atendidas pelo Projeto revelaram atrasos no seu desenvolvimento,
durante avaliação inicial, devido a fatores nutricionais, ambientais e sociais que se manifestam,
sobretudo, devido falta de correção das palavras erradas, de experiências potencializadoras e de
convívio com outras crianças e ambientes;
48
- A maioria dos pais percebe avanços no desenvolvimento dos filhos após passarem pelo Pro-
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
jeto Estimulação e reconhece a importância do serviço; isso gera maior assiduidade ao Projeto,
evolução satisfatória das crianças e, em termos psicossociais, dos próprios pais.
Uma mudança significativa suscitada pelo Projeto Estimulação, consiste na sociabilização, que é
trabalhada a partir da interação e integração das crianças por meio de eventos sócio-recreativos
como passeios, festividades e outras atividades.
- Quanto ao ingresso na escola regular, ao se comparar os dois grupos, observa-se que as crian-
ças não engajadas no Projeto, de acordo com pais e professores, enfrentam dificuldades maiores
em níveis de freqüência, aprendizagem e permanência na escola, do que as crianças que são
estimuladas. Isso decorre do fato de que os pais, das crianças que integraram o Projeto, apre-
sentam maior nível de informação, atenção e preparação para lidar com obstáculos que envolvem
questões de adaptação, sociabilização e realização de tarefas pelas crianças.
Empreendida pela Terapeuta Ocupacional Marilene Munguba, a avaliação durou um ano e en-
globou os bairros Antônio Bezerra, Genibaú, Jardim União e Granja Portugal, compreendendo
três momentos chaves: estudo diagnóstico; capacitação; acompanhamento das recomendações
implantadas. Conforme o relatório final da avaliação, a operacionalização deste trabalho teve
como destaques as etapas de:
49
a) O papel do Agente de Estimulação e o do Terapeuta Ocupacional
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Durante mais de uma década, o projeto priorizou o atendimento às crianças com uma atenção especial
dos Agentes de Estimulação. Esses profissionais, residentes nos bairros de abrangência do projeto e
capacitados pelo Gacc na linha teórico-metodológica adotada, tinham, em grande maioria, apenas o
nível médio. Poucos iniciaram formação superior, geralmente na área da Educação (Pedagogia).
O papel dos Agentes de Estimulação, desde o início do Projeto, esteve relacionado a algumas
das funções do Terapeuta Ocupacional. Isso foi, e continua a ser, motivo de reflexão institucio-
nal. O fato é que não há curso técnico para formação dos Agentes de Estimulação, mas eles
efetivam grande parte das atividades propostas no plano de tratamento das crianças, pois estão
diariamente na comunidade, em contato permanente com elas e vivenciam de mais perto sua
evolução. A avaliação apontou com maior ênfase que esse profissional, por mais preparado que
seja, não pode assumir tarefas específicas e direcionadas ao profissional de terapia ocupacional.
Assim, uma das indicações foi aumentar o número de Terapeutas Ocupacionais, de maneira a
ampliar o atendimento especializado às crianças, delimitando ao Agente de Estimulação tarefas
de aspectos técnico, lúdico e pedagógico.
Observou-se, com isso, que a presença maior dos Terapeutas Ocupacionais na comunidade
representou uma conquista importante para o Projeto e o público atendido.
A partir da avaliação metodológica, foram definidos mais claramente os papéis de cada profis-
sional e os aspectos a serem priorizados para seleção do Técnico e para o Agente de Estimula-
ção, que são descritos abaixo, respectivamente:
- Terapeutas Ocupacionais: técnicos responsáveis pelo Projeto, contratados pelo Gacc, têm
como atribuições: avaliar e admitir a clientela; contatar e orientar as mães/famílias; reavaliar a cli-
entela; organizar a rotina; encaminhar as crianças para serviços de referência; visitar as famílias
e instituições; mediar a aprendizagem das agentes; realiza a evolução diária dos atendimentos
individuais; acompanhar os atendimentos; atender crianças com desvantagem funcional; definir
desligamentos.
O perfil orientador do técnico do Projeto se compõe dos seguintes requisitos:
Nível superior completo em Terapia Ocupacional;
iniciativa;
proatividade;
manejo de grupo;
experiência em trabalhos sociais;
experiência em atividades com criança e com ações de estimulação do desenvolvimento infantil;
conhecimento sobre saúde coletiva, Terceiro Setor / organização não governamental.
50
- Agentes de Estimulação: vinculados à Associação parceira do Gacc na comunidade, têm o
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
papel de realizar atendimentos grupais, elaborar evoluções das crianças atendidas em grupo e
aplicar algumas atividades e exercícios sob a supervisão e orientação do terapeuta ocupacional,
realizar visitas domiciliares e institucionais, organizar e/ou aplicar reuniões com famílias.
O perfil do Agente de Estimulação é:
2º grau completo;
identificação com a proposta do Projeto;
habilidade para trabalhar com criança;
experiência de trabalho com crianças;
sensibilidade, paciência, habilidade de escuta (saber ouvir) e empatia;
flexibilidade; capacidade de lidar com o imprevisto, de análise e crítica;
postura ética;
objetividade e clareza de idéias;
desinibição;
habilidade / facilidade no trabalho em equipe;
residir na comunidade de atendimento.
Mas, cabe aqui compreendermos que os Agentes de Estimulação cumprem uma lógica de atu-
ação comunitária que se situa em um plano distinto de análise, uma vez que seu papel engloba
saberes e vivências populares que, em parte, não podem e mesmo não devem ser traduzidos
tecnicamente e confrontados com o universo acadêmico e especializado da terapia ocupacional,
imbuído igualmente de olhares e premissas próprios. Deve-se ter clareza de que o Projeto, como
intervenção de base comunitária capitaneada pela sociedade civil, não pode assumir um aparato
técnico-institucional de maior complexidade e abrangência, uma vez que a responsabilidade
e sustentação de estruturas mais especializadas, de maior capacidade técnica (número maior
de profissionais engajados), são inerentes ao poder público e instituições privadas de saúde ou
reabilitação, fugindo à capacidade institucional do Gacc e associações parceiras.
Entretanto, deve-se observar que a dinâmica do Projeto e os múltiplos elementos que o permeiam
não podem desconsiderar a inspiração e contribuição singulares que outros autores consagrados
(apresentados no item Autores de Referência) adicionaram ao Projeto.
51
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A redução e a mudança dos instrumentos de registro, aliadas a uma linguagem mais clara e
acessível, facilita aos Agentes de Estimulação o preenchimento adequado e mais qualitativo dos
documentos utilizados para acompanhamento da criança e monitoramento do Projeto. E, quanto
mais esse procedimento – de análise e registro - for ajustado aos ritmos operacionais da inter-
venção, sem perder de vista suas funcionalidades gerenciais, maior será o sucesso do Gacc e das
ONGs que primam pelo registro de experiências e impactos de projetos sociais.
15 O FICAS é uma organização social sem fins lucrativos criada em 1997 por um grupo de profissionais, a maioria mestres e doutores de
diversas áreas do saber, movidos pelo desejo de compartilhar o conhecimento adquirido no âmbito acadêmico, muitas vezes restrito às
universidades, com pessoas e comunidades que pudessem se beneficiar direta ou indiretamente desses conhecimentos.
16 Diário de Bordo: instrumento padrão, implementado pelo FICAS, para registro de aspectos relevantes da prática social. Ele utiliza for-
mulário com cinco perguntas abertas: (a) O que aconteceu? (b) Como aconteceu? (c) Quem estava envolvido? (d) Quando e onde ocorreu?
(e) Quais os aprendizados? (f) Quais os desafios?
52
equipamentos essenciais que facilitam a avaliação e o tratamento das crianças em atendimento.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O custo médio de uma criança por ano, adotando-se como hipótese o atendimento a 100 cri-
anças, é de R$ 365,00 (trezentos e sessenta e cinco reais), conforme montante estimado de
investimento observado abaixo no Quadro 5:
53
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Barra lateral; Espelho; Mesa com cadeiras infantis de madeira; Carrinho de madeira;
Porta-arquivo (móvel); Cavalinho de madeira; Colchão (tatame);Escada de madeira
Equipamentos com escorregador e cilindro vazado; Mesa e cadeiras para adultos; Armário de
parede.
Brinquedos variados para a faixa etária entre 06 meses a 06 anos; Lápis de cêra;
Lápis de cor; Massa para modelar; Tinta guache; cola colorida; papel ofício; carto-
Consumíveis lina; papel madeira, Kit para escovação dentária e outros.
17 O período anterior não está registrado, pois os arquivos não são digitalizados e não foi possível ao setor Administrativo Financeiro
recuperar os arquivos originais.
54
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Gráfico 1 - Aplicação de recursos financeiros no Projeto Estimulação
32%
41% 27%
Desse total, Partage aportou a soma de R$ 377.933,00; o Itaú - FIES aportou, em 2008, o mon-
tante de R$ 166.356,89.
Uma observação que se faz necessária sobre os percentuais descritos no gráfico, refere-se às
despesas com Recursos Humanos. Elas constituíram o investimento maior do Projeto (68%),
se somados os valores destinados aos Agentes de Estimulação e aos Técnicos Gacc. Porém,
salienta-se que os Agentes de Estimulação, mesmo sendo indicados como Recursos Huma-
nos, são considerados rubrica de Atividades, haja vista a maior, diária e exclusiva implicação na
realização da ação junto ao público beneficiado, enquanto o Terapeuta Ocupacional, mesmo
tendo a dedicação cotidiana, divide seu tempo entre as quatro comunidades de atendimento do
Projeto. Compreende-se que as especificidades técnicas e profissionais do serviço é que exigem
um investimento maior em Recursos Humanos, mas se houver parceria com outras organizações
públicas e/ou privadas, o Projeto Estimulação, que já tem baixo custo percapta e resultados im-
pactantes, terá mais ainda seu custo reduzido.
55
5. Atores e organizações
ATORES E ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDOS NA AÇÃO
envolvidos na ação
“...Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs...”
56
5.1 Perfil das Instituições Parceiras Financiadoras
A ESSOR tem por objetivo “ajudar as populações mais desfavorecidas a adquirirem meios para
melhorar sua condição de vida”. Seu apoio resulta na concepção e execução de ações concretas
que facilitam a apropriação dos processos de desenvolvimento local, favorecendo o exercício da
cidadania e a justiça social.
Em sua filosofia de cooperação, a ESSOR enfatiza parcerias com associações locais que podem
funcionar como bases de operação e posterior multiplicação dos programas da entidade. As
ações desenvolvidas integram um trabalho de formação e organização das comunidades com
vistas à sustentabilidade.
A organização viabilizou o primeiro parceiro financeiro para o Projeto: a Fundação Lord Michelham.
Essor também propiciou a articulação com Inter Aide e CFCF (Comité Français Contre la Faim).
57
Inter Aide:
ATORES E ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDOS NA AÇÃO
Criada em 1980, Inter Aide é uma organização humanitária especializada na realização de progra-
mas de desenvolvimento, que visa oferecer aos menos favorecidos acesso ao desenvolvimento.
Através das ações, objetiva reforçar as capacidades das populações mais desfavorecidas para me-
lhorar por elas mesmas as suas condições de vida.
PARTAGE
Partage é uma associação humanitária francesa, criada em 1973 para ajudar as crianças vítimas
da guerra do Vietnã por meio da captação de fundos para apoio às crianças carentes ou órfãs.
Para além de uma ajuda pontual, Partage desejava assegurar a essas crianças melhorias no
longo prazo.
58
Para alcançar sua missão de “fazer crescer dignamente as crianças do mundo”, Partage trabalha
A partir da captação na França, Partage articulou financiamento da empresa Grupo SCOR para a
ação em 2001. O Grupo SCOR é uma resseguradora de empresas, com 52 escritórios presentes
nos cinco continentes. No Brasil, a sede da SCOR se encontra no Rio de Janeiro.
ITAÚ - FIES
Em 1993, o Banco Itaú criou o Programa de Ação Comunitária para articular as ações sociais
que vinha desenvolvendo pontualmente. Em 2000, o projeto ganhou maior amplitude com a
constituição da Fundação Itaú Social, criada para estruturar e implementar os investimentos
sociais da empresa, tendo como foco a melhoria das políticas públicas de educação e a avaliação
sistematizada de projetos sociais.
Para isso, o Itaú criou um fundo patrimonial que, em dezembro de 2008, era de R$ 643 milhões. O
orçamento anual da Fundação é resultante do superávit da aplicação nesse fundo. No ano corrente de
2009, o valor destinado à aplicação nos programas sociais da organização é de R$ 49,5 milhões.
O FIES (Fundo Itaú de Excelência Social) é uma opção de investimento socialmente responsável
que destina 50% das taxas de administração a organizações não-governamentais voltadas para
as áreas de educação infantil, educação ambiental e educação para o trabalho.
59
Secretaria Municipal de Assistência Social – Prefeitura Municipal de Fortaleza
ATORES E ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDOS NA AÇÃO
A SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social foi criada através da Lei Complementar Nº
0039, de 10 de julho de 2007, publicada no Diário Oficial do Município em 13 de julho de 2007.
Tem por finalidade coordenar a Política Municipal de Assistência Social, através da implementa-
ção do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Formula políticas, elabora diretrizes gerais e
identifica prioridades que deverão nortear ações visando ao desenvolvimento social e à melhoria
das condições de vida da população.
Em 2009, a SEMAS lançou edital Seleção de Projetos da Política Municipal de Assistência Social,
em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, para apoio às ações
de Proteção Social Básica, no qual o Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil obteve
aprovação.
Os senhores Carlão e Toinho do Genibaú figuram como duas lideranças de destaque na história
do bairro, cujo crescimento também foi marcado por conflitos com grileiros e pelo surgimento
das ocupações Pantanal e Moçambique. As primeiras lutas coletivas da Associação, em con-
junto com outras entidades e conselhos comunitários, resultaram nas conquistas de saneamento
básico, pavimentação de ruas e construção de moradias. A paisagem do bairro, posteriormente,
foi dando lugar a conjuntos habitacionais, escolas, postos de saúde, vila olímpica e igrejas.
60
A Associação, em parceria com o Gacc, no Centro Comunitário de Apoio à Saúde e Educação,
Desde então, a maioria dos membros que gerenciam a Associação é de jovens outrora benefi-
ciados pela entidade. Em 2005, o Gacc propôs à associação uma parceria conveniada para a
administração do CEDEC (Centro de Desenvolvimento Comunitário).
61
Bairro: Antônio Bezerra
ATORES E ORGANIZAÇÕES ENVOLVIDOS NA AÇÃO
Dentre as principais conquistas da entidade, destacam-se o projeto ABC, o CECAB (Centro Comu-
nitário do Antônio Bezerra) e a viabilização de água no Conjunto São Francisco. O Conselho tem
ainda parceria com instituições como COELCE, ONG Grande Abraço, Amigos Voluntários, Caixa
Econômica Federal e Banco do Nordeste do Brasil. A Associação contou também com o apoio do
IPREDE no acompanhamento de 100 crianças com alto grau de desnutrição.
62
6. Indicadores e
O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil, como pode ser verificado ao longo desta
publicação, apresenta significativos resultados para o conjunto de atores sociais a ele relaciona-
dos: crianças, famílias, agentes de estimulação, terapeutas ocupacionais, organizações governa-
mentais, organizações não governamentais e comunidade.
Em quinze anos de execução do Projeto, os resultados são inúmeros e merecem destaque. Quan-
titativamente, os principais resultados podem ser expressos no número de crianças atendidas
– mais de 5.700, conforme consolidado abaixo no Quadro 6:
63
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
Crianças Atendidas
514 733 1263 338 563 583 460 403 414 526 5797
em Geral
Crianças
33 183 493 122 93 169 121 60 53 128 1455
Recuperadas
Crianças Avaliadas 289 1157 1025 136 381 221 175 141 237 862 4624
Crianças
124 324 589 130 93 300 229 123 96 194 2202
Reavaliadas
Crianças com Desvan-
tagem 36 57 103 56 68 70 70 79 83 83 705
Funcional Atendidas
Sessões de Atendi-
10280 14660 30293 4312 9194 8816 6303 6489 8382 9468 108197
mento Realizadas
Visitas Domiciliares 8738 9980 25319 4310 8788 9989 9098 7874 6398 10123 100617
Famílias
421 601 884 288 466 476 387 348 343 426 4640
Beneficiadas
Familiares Presentes
1179 1469 4022 579 1346 1204 1022 1132 977 1242 14172
nas Reuniões
Pesagens Efetuadas - - - 699 1304 1664 1262 875 835 921 7560
Escovações
- - - 2249 6494 6671 4033 4558 5067 5980 35052
(higiene bucal)
Outro destaque quantitativo observado é o número de encontros realizados com as famílias das
crianças. No período de 2003 a 2008, foram realizados 174 encontros. Neles evidencia-se a
abordagem das seguintes temáticas: “A importância do brincar” e “Violência doméstica”, como
pode ser verificado no Quadro 7, cuja ênfase remete ao contexto vivenciado no país quanto à
defesa e garantia de Direitos e quanto à luta contra a Violência doméstica contra a criança, o
adolescente e a mulher.
64
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
Quadro 7 – PRINCIPAIS TEMAS ABORDADOS NOS ENCONTROS COM AS FAMÍLIAS
Temas Temáticas abordadas Frequência de abordagem das temáticas por ano
Geradores nos Encontros 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Projeto
O compromisso das
Estimulação
famílias e as atividades
do Desenvolvi-
do projeto
mento Infantil
A importância do brincar
Desenvolvi-
e do estímulo para o de-
mento Infantil
senvolvimento da criança
Limites na educação dos
filhos
Ética e valores
Educação
humanos
O Papel da família na vida
escolar dos filhos
Cidadania, direitos e
deveres
Cidadania
Estatuto da Criança e do
Adolescente
Responsabilidade dos
pais no acompanhamento
Convivência dos filhos
Familiar Convivência e afetividade
entre pais e filhos
Violência doméstica
Planejamento familiar /
DST/AIDS
Saúde
Acidentes domésticos e
preventiva
primeiros socorros
Reeducação alimentar
TOTAL DE ENCONTROS REALIZADOS 7 40 21 47 48 11
65
Percebe-se que, ao lado do tema Estimulação, a questão da violência tem sido pautada com
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
igual proporção em quase todos os anos assinalados, o que pode indicar a existência de conflitos
domésticos e suas eventuais implicações na relação pais e filhos, e a constante preocupação da
equipe com essas questões.
“Nesse ano foi iniciado um trabalho especifico com as mães de crianças com necessi-
dades especiais... Aconteceram 12 encontros registrando a freqüência de 88 mães... Um
destaque desses momentos foram as reuniões realizadas em parceria com o CAMPE –
Centro de Apoio a Mães de Portadores de Deficiência, na qual as mães puderam debater
sobre... aspectos relacionados à saúde, acessibilidade, educação inclusiva, preconceito
e a importância da família.” (GACC, 2006).
Com isso, observa-se que, enquanto as visitas domiciliares se constituíram como uma ferramenta
básica de acompanhamento, os encontros mensais com famílias consagraram-se como um mo-
mento privilegiado de orientação. Cada encontro é uma valiosa oportunidade de desenvolvimento
e comprometimento das famílias com o Projeto. É ainda o momento de escuta, compartilhamento
das angústias, renovação da esperança coletiva e fortalecimento de atitudes participativas.
66
Uma outra estratégia que merece destaque no trabalho com as famílias, implementada em 2004
42%
29%
13% 38%
17% 21%
É interessante perceber que uma parte considerável das mães citou sobre a potencialidade dos
estímulos inerentes ao brincar, reiterando sua importância substancial para o crescimento das
estruturas infantis. Associa-se a isso as atividades lúdicas desenvolvidas pelo Projeto, que levam
à confirmação de que o brincar para a criança não é um ato aparentemente inútil e provisório de
entretenimento. Mas, significa também para a criança a possibilidade de se desenvolver, apren-
der, ampliar horizontes, galgar os desafios próprios de sua idade.
67
De acordo com os depoimentos das famílias colhidos durante visitas domiciliares, as melhorias
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
no desenvolvimento dos filhos podem ser agrupadas em três aspectos: desenvolvimento motor,
linguagem e sociabilidade.
Como ressaltou Dona Ivonilda, mãe de uma criança em atendimento no Jardim União:
“Eu só tenho a agradecer por meu filho estar aqui... para mim já ajudou em muita coisa...
em pouco tempo ele já aprendeu a falar, a brincar, a estudar... tá uma maravilha”.
[Com a ajuda do Projeto] minhas filhas já conhecem as cores, o alfabeto. Todo mundo
pergunta: ´valha, tuas filhas já conseguem formar palavras?` E pela idade delas eu acho
muito avançado. (mãe de criança em atendimento no Centro Comunitário de Apoio à
Saúde e Educação – Parque Genibaú)
Outras mães preferiram focalizar o tipo de melhoria que consideraram mais relevante e marcante
para o amadurecimento de seus filhos.
“Meu menino era muito atormentado, porque ele não tinha convivência com outras pes-
soas, era só eu, meu marido trabalha e eu não tenho parentes aqui, então ele vivia
naquele mundo só. Então [quando] eu pude trazer ele pra cá eu vi outro mundo, porque
conheci as pessoas, fiz amizades e aí pronto (...), meu filho se entende muito bem com
os amiguinhos, na sala tem muita participação e cada vez mais eu vejo que ele vem
mudando totalmente em termos de convivência e até no jeito de falar. Ele teve dificuldade
pra falar que até hoje ainda tem; (...) ele pronuncia totalmente trocando as letras, mas es-
tou vendo cada vez mais ele mudando.” (depoimento de mãe de criança em atendimento
no Núcleo de Apoio Comunitário – Jardim União)
68
tremamente quietas, que não acompanham movimentos e brincadeiras desenvolvidos por outras
“A minha filha sentia muita dificuldade; ela era muito quieta. Eu colocava ela no canto, ela
ficava e pronto... depois que ela entrou no Projeto, ela começou a participar... Falaram para
eu botar ela no ‘colégio’ porque ela era muito paradinha. Ela evoluiu muito mesmo.”
69
Mesmo com o Plano de Tratamento traçado, M. apresentou uma evolução lenta. Isso pode ter ocor-
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
rido pela exagerada proteção que a mãe aplicava à criança, que não conseguia realizar bem as ativi-
dades propostas e tampouco interagir apropriadamente com os Agentes de Estimulação. Também
pelo fato de que a família comprometia o tratamento de M., pois não a levada a todas as sessões
de atendimento. Apesar da baixa assiduidade, M. participou do Projeto durante 3 anos e 7 meses,
entre idas e vindas. Durante esse período, foi possível trabalhar os atrasos diagnosticados, tendo M.
evoluído e apresentado as seguintes evoluções, compatíveis com a idade cronológica:
O segundo caso foi protagonizado por A.. Avaliado em 2005, a criança apresentou os seguintes
problemas: timidez, dependência de sua cuidadora; pouca fluência verbal; desconhecimento de
cores primárias e secundárias; dificuldade para se vestir e calçar sapatos; pouco equilíbrio cor-
poral ao se manter sobre um pé; dificuldade pra montar pequenos quebra-cabeças.
Para superação dos déficits apresentados, foi traçado um plano de tratamento para a criança,
o qual incluía atividades lúdicas, psicomotoras, auto-expressivas e socializantes. Em paralelo,
ações de orientação à família foram indicadas para que o tratamento tivesse extensão e continui-
dade na casa da criança.
A. era assíduo aos atendimentos realizados na sala de estimulação, e sua família sempre esteve
presente às atividades, recebendo bem as orientações, participando das reuniões e atendendo
às solicitações feitas pela equipe do projeto. A timidez do garoto foi atenuada ao longo do trata-
mento, dando lugar à empatia entre ele e as Agentes de Estimulação.
70
6.2 Principais Aprendizados
a) Para as Famílias:
O Projeto parte da premissa de que as famílias são elementos chaves para o processo de es-
timulação integral das crianças. O desinteresse e a omissão dos pais podem erguer obstáculos
intransponíveis à recuperação plena das crianças. Por outro lado, quando a família é compro-
metida, a criança evolui mais rápido.
Os grupos focais, realizados para a sistematização, trouxeram à tona relatos que ilustram, na
prática cotidiana e doméstica das mães, que algumas orientações aprendidas com o Projeto
permanecem aplicadas junto aos filhos.
As mães destacam o cuidado e a preocupação dos Agentes de Estimulação com o pleno desen-
volvimento da criança:
“Não temos como dizer que não temos orientação... Até com o peso da criança elas se
preocupam. Também orientam sobre a liberdade e o limite [no trato com a criança]..., o
tempo que você tem que reservar para compartilhar com a família é importante”. (depoi-
mento de uma mãe atendida no Núcleo de Apoio Comunitário – Jardim União)
As mães também discorrem sobre orientações que apontam para seu papel como cidadãs, pas-
sando a se ver como sujeitos ativos e transformadores:
“as Agentes buscam pessoas para nos ajudar, tirar todas nossas dúvidas das coisas do
dia-a-dia... [ensinar] como adquirir nossos direitos”. (depoimento de uma mãe atendida
no Centro Comunitário de Apoio à Saúde e Educação – Parque Genibaú)
As diversas orientações repassadas pela equipe técnica do Projeto são colocadas em prática
pelos familiares por meio de diferentes formas e regularidades. Os tipos de atrasos apresentados
em cada caso, o grau de conscientização e envolvimento das mães, bem como a cooperação
71
recebida dos demais familiares do lar, influem muito na qualidade desse processo; que se torna
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
tanto mais efetivo e exitoso quanto maiores são os aprendizados adquiridos pelas famílias.
Portanto, tomando-se como base os grupos focais, as lições relatadas pelas mães no cuidado
com suas crianças resumem-se, nesta ordem de freqüência, a cinco grandes gestos: ter paciên-
cia com as crianças; respeitá-las; evitar violências (como agressões, ofensas e discussões com
o marido na frente delas); conversar com os filhos; e alimentá-los melhor.
A busca de carinho, que muitas vezes está ausente da relação pais e filhos, passou a percorrer e
contagiar esse universo. Os pais se permitiram enxergar seus filhos com mais atenção e ternura.
Vínculos afetivos que pareciam esquecidos foram revitalizados pela força do sentimento:
“Se não fosse o Projeto eu não iria aprender a amar meu filho... e respeitar o próximo”.
(depoimento de uma mãe atendida no Centro Comunitário de Antônio Bezerra)
Alguns dos aprendizados foram mais específicos: adequado desenvolvimento motor; hábitos sau-
dáveis frente à mídia (priorizar programas com linguagem e mensagem adequadas à criança, não
permitir programas que enfatizem a violência); ampliação da capacidade de imaginação; desem-
penho escolar mais positivo, reserva de tempo para brincar com a criança; não deixar as crianças
sem resposta; não utilizar o andajar com elas; corrigir palavras e zelar pela higiene.
72
b) Para os profissionais:
Da mesma forma, técnicos envolvidos no Projeto enumeram alguns dos aprendizados adquiridos:
- a atividade de Estimulação “é de suma importância para o desenvolvimento da criança”, opor-
tunizando também o crescimento da família;
- o ser humano precisa ser trabalhado em sua integralidade;
- o Projeto “é um exemplo de tecnologia social com baixo custo e alto benefício”,
demonstrando a importância “do trabalho ´extra-muro` das entidades”; as parcerias são “deter-
minantes para o sucesso e impacto da ação”.
4% 4%
8%
4%
6% 4%
5% 4%
Merecem ainda serem pontuados registros complementares feitos pelos Agentes de Estimulação,
que podem ser classificados em aprendizados de aspectos técnico-metodológicos e de aspectos
familiares e comunitários.
73
Os aprendizados voltados aos aspectos técnico-metodológicos evidenciam questões ligadas ao
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
25%
10%
20%
10%
10% 15%
10%
74
- Aprendizado obtido com as diversas formações, estudos, seminários e capacitações temáticas
- O segundo aprendizado mais destacado (15%), decorrente em larga medida do anterior, re-
fere-se ao aprimoramento dos atendimentos, indicando que as teorias assimiladas repercutem
satisfatoriamente no desempenho concreto das ações. A capacidade de diálogo e abordagem da
família, são exemplos desse aprendizado.
Aparece ainda um conjunto de outros aprendizados, que merecem ser citados e que somam 25%
das respostas obtidas: enriquecimento da convivência em grupo; fortalecimento da relação com o
próprio filho; importância de repassar e multiplicar os aprendizados. Este último ganha expressão
no depoimento da gestora da Associação dos Moradores do Riacho Doce, Bairro Jardim União:
“O que eu aprendo aqui eu levo comigo no meu dia-a-dia”.
Do ponto de vista dos parceiros locais de âmbito técnico, representante da Escola Mundo do
Mickey, do Jardim União, enfatizou a singularidade própria inerente a cada criança: “Aprendi
sobre como lidar com a realidade de cada criança... Cada criança é uma realidade diferente; [em
seu] modo de ser, de andar, de se expressar.”
Para as instituições que viabilizaram técnica e financeiramente o Projeto, como Essor e Partage,
ambos ONGs francesas, os principais aprendizados são:
75
tos e atitudes, bastante favoráveis ao desenvolvimento infantil. Esse aspecto é sinal de que o Pro-
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
jeto tem um significado para além da recuperação dos atrasos neuropsicomotores identificados.
Ele consegue penetrar no âmago das relações afetivas, humanas e sociais.
Representantes das duas organizações internacionais financiadoras (Essor e Partage)19 puderam apreciar
e acompanhar de perto o desenrolar do Projeto por um largo período de tempo. Conhecedores, portanto,
dos fundamentos e desdobramentos desse trabalho, ambos identificaram como conquistas e impactos:
19 Por Essor: Ariane Delgrange; por Partage: Arnaud Béchade. Ambos os representantes das ONGs francesas acompanharam o desenvol-
vimento do Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil por vários anos, durante o apoio técnico e financeiro viabilizado.
76
programas do Gacc, contribuindo para a geração de um efeito multiplicador local;
Quanto ao último ponto elencado, acrescenta-se que dos parceiros locais entrevistados, também se
reconhece os esforços qualificados da equipe do Projeto: “é um trabalho bem feito... a gente vê o
empenho das pessoas que trabalham lá com as crianças”, afirma um parceiro do Conselho Comuni-
tário de Antônio Bezerra. O depoimento de outro parceiro, Associação Sebastião Gabriel, do Parque
Genibaú, ecoa na mesma direção, agregando a motivação e a confiança das mães no projeto:
“Observo que as agentes são muito capacitadas... É um Projeto muito bem-vindo... Acho
que as crianças estão cada vez mais progredindo... A gente nota uma certa credibilidade
das mães [em relação à Atividade]... Elas ficam bem mais confiantes quando vêem que
as crianças são atendidas [lá]”
“O meu filho entrou aqui [quando] ele tinha 7 meses. Agora ele já tá com 1 ano e 5 me-
ses, ai eu venho sempre na reunião (...). A gente nunca tinha tempo. Hoje não; hoje eu
já sento com ele, já brinco com ele e nessa brincadeira a criança vai se desenvolvendo
(...), vai aprendendo (...). [Antes] a gente não dava importância, aí eu pude aprender que
aquele momento é muito importante (...). Elas passam isso pra gente (...); a cada reunião
vou descobrindo coisa nova.” (depoimento de mãe de criança atendida pelo projeto no
bairro Jardim União)
Um impacto de enorme valia refere-se às mudanças de percepção e postura das mães quanto
à Estimulação, levando-as a se tornarem multiplicadoras autênticas e espontâneas do Projeto,
como aborda relatório anual do Gacc:
“Cada vez mais as famílias que já são beneficiadas contribuem para a divulgação,
mostrando os avanços que seu filho adquiriu, e isso permite que [se] amplie o alcance na
comunidade com a extensão da atividade a outras famílias... Paralelamente visualiza-se
77
uma maior consciência das famílias sobre as necessidades de seus filhos,... fazendo com
INDICADORES E RESULTADOS ALCANÇADOS
que elas busquem melhores condições para suas crianças.” (Gacc, 2005).
Outras conquistas referem-se à mudança de hábito adotada pela família a partir das orientações
do projeto: o cuidado com a higiene, a saúde bucal, a alimentação da criança, o brincar....
“Houve uma reunião com as mães [em que] foi trabalhada a importância de brincar... A
facilitadora ficou botando as mães para brincar... foi explicar o porquê dos brinquedos, e
aí abriu a mente delas de que as crianças não estão aqui só para brincar. Elas brincam,
lógico, mas esse brincar tem um porquê. Se eu pego o cubo, além de brincar de ensinar
as quantidades, eu tô brincando as cores, a geometria, tô trabalhando a coordenação
motora... Não é só lazer, é o atraso do filho que tá sendo trabalhado a partir desse
brinquedo... Elas mudaram a maneira de encarar a estimulação.”
A partir dessa vivencia, muitas delas internalizaram a importância do brincar, como conclui uma
mãe do Jardim União:
“A partir do momento que você relaxa, larga a pia cheia de louça e vai dar atenção ao
seu filho, você tá valorizando os dois lados: tanto a criança quanto você [mesmo], porque
você também está relaxando e está fazendo o que ela queria, tá brincando. Você está
aprendendo e ele tá aprendendo também. Faz bem.”
78
O estabelecimento de parcerias técnicas, embora não sendo estas regularizadas por convênio,
“Antigamente era mais difícil [fazer encaminhamento] porque não [se] tinha um contato
direto com nenhuma instituição. Aí, depois a gente começou a fazer parceria; primeiro
a gente fez parceria com o posto [de saúde] , que encaminha quando a médica vê que
aquela criança tem algum atraso. Para encaminhar crianças com necessidades especiais
sempre foi para o Sara [Kubitschek], que foi o nosso primeiro contato (...)”.
79
7. Potencialidades
POTENCIALIDADES E LIMITES
e limites
“...Fé na vida, fé no homem, fé no que virá...”
7.1 Potencialidades
Durante o processo de sistematização da experiência foram identificados diferentes aspectos que
referendam a necessidade de existência e continuidade do Projeto Estimulação do Desenvolvi-
mento Infantil. Dentre eles, sobressaem-se:
80
A presença do Projeto nos bairros de baixo IDH representa um grande incentivo para que a popu-
POTENCIALIDADES E LIMITES
lação mais carente usufrua com mais facilidade dos benefícios por ele indicados. E, não faltam
pessoas que necessitam do serviço.
Um dos fatores para isso pode estar relacionado à carência de estímulos adequados à infância,
conforme descrito em relatório institucional:
“O número de crianças que apresentaram atraso é alto, e esse fato se dá, devido à
privação de estímulos necessários e indispensáveis para o pleno desenvolvimento das
estruturas motoras, cognitivas e afetivas que estão em formação nessa faixa etária.
Nesse caso, vale ressaltar a importância da Atividade de Estimulação para a detecção e
superação de atrasos o mais precoce possível e [para] favorecer à criança uma melhor
qualidade de vida” (GACC, 2006).
É um serviço que, por sua relevância, precisa estar perto das famílias, inclusive para que o tema ‘de-
senvolvimento infantil’ ganhe mais espaço nas agendas de construção e gerenciamento de políticas
sociais para a infância. O relato de uma gestora da Granja Portugal explicita bem essa questão:
“É um projeto que deveria ser muito mais valorizado... Existe quem realiza esse trabalho,
mas não estão na comunidade como nós estamos, então, o fato de estar na comunidade,
na periferia é importante, porque as mães vão ter muito mais acesso, pois é perto da
sua casa, isso não quer dizer que elas se comprometam mais, mas aqui é um estímulo
maior pra elas estarem lá.” (depoimento da coordenadora do Centro de Desenvolvimento
Comunitário)
O Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil, nesse sentido, tem contribuído para oportuni-
zar o acesso a um serviço que é diferencial na vida de crianças com atraso no desenvolvimento e
que deveria ser prestado pelo poder público, haja vista a necessidade das crianças e a limitação
de recursos do Gacc para ampliação do serviço em número de beneficiados ou em número de
comunidades atendidas.
81
“É muito importante as mães estarem nas reuniões, porque as temáticas são todas
POTENCIALIDADES E LIMITES
voltadas pra relação mãe e criança... Elas não sabem porque acontece [determinado
atraso] com a criança. Ela sabe que existe alguma dificuldade, mas ela não sabe detectar
porque, então é importante elas estarem participando das reuniões.”
Entretanto, por vezes, e pela pouca ou nenhuma instrução, há mães que ignoram as necessi-
dades de estímulo das crianças, o que pode comprometer seu crescimento e amadurecimento
até a fase adulta. Assim, o Projeto Estimulação tem um papel de suma relevância para o esclare-
cimento e orientação a essas famílias.
De forma a ilustrar o papel educativo do Projeto em relação às famílias, uma gestora da Associa-
ção Sebastião Gabriel do Parque Genibaú pontuou que “tem mães aqui que não sabiam o que...
[fazer] com as crianças em casa. Depois que vieram para cá, as crianças estão bem desenvolvi-
das, estudando, já conversam”.
Associado a esse aspecto, identifica-se que o acompanhamento às famílias tem uma importância
primordial para o pleno desenvolvimento das crianças atendidas. O diálogo entre Agentes de
Estimulação, Terapeutas Ocupacionais e famílias é uma preocupação constante. De nada adianta
ao projeto proporcionar os melhores estímulos à criança, se o comportamento da família caminha
na contramão de todo esse esforço. Nesse sentido, cabe à metodologia do projeto e à equipe
envolvida, estimular e motivar as famílias cotidianamente. Quando as famílias não comparecem
ao Projeto, os Agentes de Estimulação entram em cena e realizam a tradicional e sistemática
visita domiciliar.
“Através das visitas, a gente tá mostrando que tá preocupada com aquelas crianças, com
a família em si”, aponta uma Agente de Estimulação do Bairro Granja Portugal, enquanto
que a outra Agente acrescenta: “Sempre que alguma família, por algum motivo, não está
indo, a gente vai ao encontro dela saber o quê que tá acontecendo, oferecer orientações,
alguns encaminhamentos”. Quando o Agente de Estimulação vai à casa da família que se
afastou do Projeto, referenda o compromisso assumido para o pleno desenvolvimento da
criança e a importância da continuidade do trabalho de Estimulação.
Uma das mães atendidas no Bairro Granja Portugal, reconheceu que “as Agentes se preocupam,
querem o melhor... Se tem algum problema, [procura] saber o que está acontecendo. Quando a
criança não vem, querem que a gente avise”.
Outro fator preponderante, que demonstra também o potencial do Projeto, é o aumento do núme-
ro de crianças com desvantagem funcional que foram atendidas. Após os sete primeiros anos
82
de existência do Projeto, esse número elevou-se proporcionalmente, segundo consta em um
POTENCIALIDADES E LIMITES
relatório plurianual do Gacc, passando a exigir da equipe técnica uma maior atenção e preparo
para lidar com essa nova realidade, ensejada pelo interesse crescente da população:
Merece ainda destaque o instrumental técnico de registro e avaliação do projeto e do seu im-
pacto. Dentre estes instrumentais, o mais recentemente implementado foi o “Diário de Bordo”, a
partir da parceria com o Itaú FIES / FICAS. O Diário de Bordo aguçou a capacidade reflexiva das
agentes, apresentando-se como um ponto forte para o registro de aprendizados e acontecimen-
tos relevantes.
Por fim, precisa ser pontuado como uma potencialidade do Projeto o quadro de profissionais
envolvidos. Envolver-se com a Estimulação do Desenvolvimento Infantil é deixar-se contagiar
83
pela causa da esperança, do carinho e da emoção, sem deixar-se esquecer da razão. Cabe
POTENCIALIDADES E LIMITES
7.2 Limites
Antes de enumerar limites e pontos fracos do Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil,
cabem algumas considerações sobre o contexto da mobilização comunitária.
Cada comunidade possui diferentes histórias e realidades sociais e é como se fosse um micro-
cosmo do mundo. Vitórias, soluções e alegrias se misturam, em proporções por vezes desiguais,
com derrotas, dificuldades e tristezas.
A situação das populações que vivem em situação vulnerável, alojadas em lugares pouco
agradáveis, amistosos e equipados, denuncia a olho nu, sob vários ângulos sociais, um conjunto
de mazelas que o poder público e as diversas instituições sociais não conseguiram solucionar. E
quando surgem alternativas para isso, as pessoas que vivenciam essa realidade não costumam
ser incentivadas a opinar, decidir e participar das ações implantadas. No Ceará, muitas dessas
mazelas decorrem da cultura clientelista e assistencialista apregoada durante várias décadas.
Uma cultura do pedir, receber e acomodar, do não questionar, da negação da participação e da
cidadania.
Diante dessa seara de lacunas, omissões e carências, demarcada por tensões, dramas e con-
tradições de cada bairro, a sociedade local, organizada em associações, grupos e iniciativas
diversas, é instada a se unir, a reivindicar, a propor e a agir, ciente de que muita coisa precisa ser
feita e que cabe a ela, enquanto rede de sujeitos e atores, se engajar ativamente nas lutas sociais
por melhorias coletivas.
Esse breve panorama introduz a importância histórica e fundamental dos agentes civis e movi-
mentos locais na busca por melhores condições de desenvolvimento comunitário. Quanto maior,
portanto, as capacidades, os mecanismos e as alternativas locais de ação, organização e influên-
cia, mais sólidas, legítimas e sustentáveis serão as possibilidades concretas de enfrentamento e
superação dos problemas, necessidades e desafios existentes.
84
A realidade comunitária nos bairros onde o Projeto tem sido desenvolvido, embora tenha avança-
POTENCIALIDADES E LIMITES
do significativamente em termos de conquistas coletivas, ainda padece de algumas fragilidades
estruturais e limites organizativos, reflexos mesmo de uma conjuntura não raro viciada por con-
dutas assistencialistas, demandas pulverizadas, relações clientelistas e valores estigmatizados.
É parte inerente da missão emancipadora de ONGs como o Gacc entender, acompanhar e intervir
junto à relativa complexidade desses fenômenos comunitários, que nem sempre se traduzem em
patamares elevados, efetivos e perenes de desenvolvimento local, capital social e protagonismo
coletivo. O assessor comunitário de uma instituição parceira do Antônio Bezerra evocou um relato
elucidativo e sincero das questões debruçadas aqui:
Essa apatia que às vezes contamina as pessoas e muitas vezes podem fazê-las desacreditar até
em si mesmas, pode contagiar perigosamente a mentalidade de famílias que vivenciam situações
de extrema vulnerabilidade, como é o caso de muitas das atendidas pelo Projeto.
Mas, para que isso não ocorra, o trabalho movido pela sociedade civil deve ser perseverante e ter
como essência o ‘ensinar a pescar’ e não apenas dar o peixe. E, na maioria das vezes, ‘ajudar a
segurar a vara’ nos primeiros momentos, para encorajar famílias e comunidades a lutarem por
mais dignidade, justiça e felicidade.
85
7.3 Dificuldades e Desafios Enfrentados
POTENCIALIDADES E LIMITES
Como visto, o Projeto construiu uma atuação sólida, guiada por uma abordagem sistêmica do
desenvolvimento infantil e operacionalizada em múltiplas frentes de intervenção, buscando sem-
pre envolver as famílias e as instituições locais competentes, respectivamente, na efetivação de
estímulos às crianças e na viabilização do direito à saúde e educação pública com qualidade.
Para fins didáticos, as dificuldades apontadas pelos Agentes de Estimulação e sobretudo pe-
los representantes das Associações Comunitárias foram divididas em dois aspectos: um enfoca
características de ordem mais interna, refletindo o posicionamento das pessoas sobre a
execução diária do Projeto; o outro evidencia características mais gerenciais e políticas,
exprimindo a visão dos membros quanto à viabilidade, legitimidade e conjuntura da Atividade.
É o que pode ser verificado no Quadro 8:
86
Paralelamente, considerando-se os relatórios anuais do Projeto no período de 2003 a 2007,
POTENCIALIDADES E LIMITES
as principais dificuldades apontadas relacionam-se à operacionalidade das atividades do Pro-
jeto: cumprimento das metas de pesagem das crianças; redução na freqüência das crianças ao
Projeto devido às doenças sazonais e/ou decorrente do desinteresse das famílias; dificuldade
de encaminhamento das crianças com desvantagem funcional para atendimento especializado,
devido à intensa procura; inconstância / baixa permanência das famílias nas comunidades de
atendimento, o que ocasiona desligamento por mudança de endereço.
Um fator preponderante para essa inconstância das famílias nas comunidades está relacionado
à insegurança, à violência urbana. Muitas famílias mudam de suas moradias em busca de locais
que sejam menos perigosos ou tragam maiores oportunidades, como constatado em um relatório
anual: “a violência e a falta de subsídios para suprir as necessidades básicas têm feito com que
muitas famílias mudem para outros bairros e/ou cidades a procura de melhores condições de
sobrevivência” (GACC, 2005).
Porém, outras dificuldades apontam para questões de ordem cultural. Por exemplo: a falta de
hábito de algumas famílias para a pratica da higiene bucal.
“As crianças não possuem esse hábito, algumas não têm escova em casa, conseqüência
da falta de conhecimento dos pais e da pouca importância que é dada para a primeira
dentição. Com isso, além das escovações, as Agentes reforçam cotidianamente junto aos
pais a importância da higiene bucal” (GACC, 2005).
Outro item que também merece a atenção da equipe é o desestímulo e baixa participação dos
familiares nos encontros mensais. A demora de algumas crianças em reagirem positivamente às
sessões de atendimento, provavelmente agravada pela ausência de estímulos da própria família,
pode ser um fator para o reduzido número de pessoas nos encontros. Uma Agente de Estimu-
lação da Granja Portugal registrou suas preocupações nesse sentido: “A gente tá conversando,
tá falando pras mães da importância delas na atividade, não é só trazer a criança; as mães têm
que tá presente, têm que saber o que tá acontecendo... que ela tá sendo ajudada a ajudar o filho
a se desenvolver”.
Porém, no entendimento da maioria dos gestores e Agentes de Estimulação ouvidos, essa difi-
culdade hoje se mostra em menor intensidade, pois as famílias apresentam melhores níveis de
assiduidade e envolvimento. Uma das razões deste avanço, segundo a coordenadora da Granja
Portugal, foi a solidez, eficácia e credibilidade alcançadas pelo Projeto, que passou a ser mais
reconhecido e valorizado por escolas e postos de saúde, ressaltando a finalidade e relevância co-
87
munitária do Projeto. Ou seja, outros atores sociais também motivaram as famílias a participarem
POTENCIALIDADES E LIMITES
Um dos dilemas, que remete a reflexões de natureza sociocultural, haja vista ser um fator tido
como ‘algo comum, normal, característico do povo brasileiro’, é o fato de que muitas pessoas
participam dos encontros e momentos de orientação se houver benefícios imediatos e materiais.
A título de exemplo, uma Agente de Estimulação do Antônio Bezerra lembra que, no começo, as
mães que chegavam mais cedo para as reuniões recebiam pequenos brindes. Porém, o que de-
veria incentivar, tornou-se inoportuno, pois a estratégia perdeu seu caráter educativo, para gerar
competitividade e disputa entre os participantes.
Entretanto, não cabe aqui uma crítica generalizada à atitude das pessoas que manifestam com-
portamentos e interesses acima descritos. Mas, cabe o alerta e a compreensão de que: os valores
essenciais e a dignidade do ser humano precisam ser resgatados; os direitos fundamentais das
crianças devem ser respeitados; cada pessoa é plenamente capaz de ser sujeito no processo de
mudança dessa realidade.
Algumas mães entrevistadas reconhecem que precisam fazer sua parte. “[Nós temos] que par-
ticipar no que é preciso... estar sempre presente, acompanhar o dia-a-dia do filho, porque não
adianta só matricular seu filho”, confessa uma mãe do Jardim União, demonstrando um grau de
consciência elevado no tocante à sua cota de responsabilidade no Projeto e no acompanhamento
ao desenvolvimento de seu filho.
Um fato que merece atenção é a ínfima participação dos homens (pai, avô, tio, irmão, parente do
sexo masculino) no acompanhamento ao projeto, às atividades e ao desenvolvimento da criança.
Nos quatro bairros onde o Projeto Estimulação do Desenvolvimento Infantil acontece, o percentual
de homens que participam do processo alcança somente 2%. Essa questão nos remete à reflexão
do “tradicional” papel do homem e da mulher na sociedade, especialmente no âmbito familiar,
onde, na maioria das vezes, se afirma que o cuidado dos filhos é tarefa exclusivamente feminina.
Pelos depoimentos das mães presentes nos grupos focais durante a sistematização, a pouca
participação masculina parece ser a situação mais comum: “meu marido não conhece bem o
que é que está acontecendo [no Projeto]... não tem assim a oportunidade [vontade, curiosidade]
de perguntar o que é”, confirma uma mãe da Granja Portugal.
88
atrasos mais sérios: dificuldade de contato e articulação com os postos de saúde, para o aten-
POTENCIALIDADES E LIMITES
dimento prioritário às crianças; quantidade e qualidade insatisfatórias no atendimento público
prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Afora as questões socioculturais existem ainda alguns dilemas que impactam na questão dos
direitos humanos e sociais. Nem todos os adultos conhecem ou respeitam os direitos das crian-
ças e dos adolescentes. Da mesma forma, com o Projeto: nem todos o compreendem, o valorizam
ou o reconhecem; nem todos estão dispostos a um real engajamento. A questão é: não se pode
obrigar a família a participar do Projeto, a engajar a criança. Mas, não se deve deixar que essa ati-
tude se torne negligência ou descaso para com a criança, nem permitir que ela exerça profundas
implicações na vida e no desenvolvimento infantil. O fato não é apenas garantir o atendimento à
criança e a recuperação dos seus atrasos, mas sensibilizar as famílias, pessoas, comunidades,
para a essência do direito da criança à vida e ao desenvolvimento saudáveis, possibilitando a
todos sermos protagonistas e a militantes na defesa desse direito. Esta é uma questão que vem
demandando uma reflexão coletiva, um olhar conjunto e uma análise mais detalhada.
89
8. Demandas e sugestões
DEMANDAS E SUGESTÕES LEVANTADAS RECOMENDAÇÕES METODOLÓGICAS
levantadas; recomendações
metodológicas
“...Nós podemos tudo, nós podemos mais...”
A presente sistematização, pela natureza mesma de seu processo, não tem a preocupação em
avaliar tecnicamente o Projeto.
O somatório dos dados coletados junto aos atores envolvidos possibilitou a compilação de uma
série representativa de demandas e sugestões, agrupadas em três blocos:
90
Agentes de Estimulação e Gestores (coordenadores dos Centros Comunitários e lideranças)
Salienta-se que, embora existam sugestões pertinentes e coerentes à boa execução da ação,
algumas merecem ser melhor estudadas e adaptadas à condição técnico-financeira do Gacc e
parceiros, e de outras instituições que pretendam desenvolvê-la. Da mesma forma, compreende-
se que muitas das indicações feitas referem-se ao nível gerencial / institucional que meramente
técnico / operacional; outras demandam decisões políticas que estão a cargo dos governantes
(para tornar a ação uma política pública); outras fazem interface com as políticas públicas já
existentes, requerendo ampliação ou inserção em programas e serviços, que independem da
capacidade institucional das organizações não governamentais.
91
9. Autores e colaboradores;
AUTORES E COLABORADORES; PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO PROJETO
profissionais envolvidos
no projeto
“...Vamos lá fazer o que será”
92
9.1 Colaboradores para a presente publicação:
93
9.2 profissionais envolvidos no projeto (em 15 anos de execução):
AUTORES E COLABORADORES; PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NO PROJETO
Agentes de Estimulação
94
10. Rede de Contatos
REDE DE CONTATOS
INSTITUIÇÃO Contatos / Endereço / Telefone Referências
Av. Visconde do Rio Branco, 2847. Raimundo Bezerra de Sousa –
Piedade. Fortaleza -Ceará. Diretor Geral
CEP: 60.055-171 Maguidarela Tavares de Sousa
Telefone: (85) 3252.4910 Caldas - Diretora de Desenvolvi-
Gacc – Grupo de ax: (85) 3252.4630 mento Institucional
Apoio às Comunidades Site: www.gacc.org.br
Carentes Emails: gacc@gacc.org.br ,
raimundo@gacc.org.br ,
magda@gacc.org.br
95
REDE DE CONTATOS
Rua Moura Matos, 1396 – Conj. Jardim Marcos Antônio Barbosa de Lima
União II, Passaré – Fortaleza – Ceará. - Presidente
Associação Comunitária
CEP: 60.861-350
de Ação e Cidadania
Telefone: (85) 3295.1620
Rua Baixa dos Milagres, 3671, Conjunto Rita Barbosa de Lima - Presidente
Conselho Comuni- São Francisco - Bairro Antonio Bezerra
tário do Conjunto São – Fortaleza – Ceará. CEP: 60.352-570
Francisco Telefone: (85) 3481.1156 / 3479.9165
96
11. Referências
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bibliográficas
ANTUNES, Celso. O Jogo e a educação infantil: falar e dizer / olhar e ver / escutar e ouvir. 6
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
________. Piaget, Vygotsky, Paulo Freire e Maria Montessori em minha sala de aula.
São Paulo: Ciranda Cultural, 2008a.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 18 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
GRIFFA, Maria Cristina; MORENO, José Eduardo. Chaves para a psicologia do desenvolvi-
mento: vida pré-natal e etapas da infância. 4 ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
97
PULASKY, Spencer. Compreendendo Piaget: uma introdução ao desenvolvimento cognitivo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Silvia Maria Cintra da. Mediação Cultural – Reflexões a Partir da Teoria Historico-
Cultural. Palestra apresentada no IX Congresso de Psicologia Escolar e Educacional, ABRAPEE,
São Paulo, Julho 2009.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
98
12. Anexos
ANEXOS
ANEXO I – Instrumentos utilizados para sistematização
ROTEIRO GERAL DOS GRUPOS FOCAIS
1.Qual seu conhecimento sobre o Projeto de Estimulação do Desenvolvimento Infantil? Qual seu ponto
de vista sobre esta intervenção? Em caso positivo, comente sobre as atividades do Projeto que você
já presenciou.
2.Quais os avanços e conquistas que você percebeu no desenvolvimento deste Projeto?
3.Quais as principais lições que você e sua organização aprenderam com este Projeto?
4.Quais as estratégias relevantes e aspectos inovadores que você identificou neste Projeto?
5.Alguma ação metodológica do Projeto foi adaptada para outras intervenções sociais no âmbito de sua
atuação profissional ou de sua instituição? Em caso positivo, comente de que forma isso aconteceu.
6.Você observou alguma replicação do Projeto de Estimulação em outros países e regiões do mundo?
Relate o que você sabe sobre tais esforços.
7.Como você avalia as perspectivas de sustentabilidade futura do Projeto? Que outros setores e
instituições poderiam ser sensibilizados para este trabalho? Justifique.
8.Fique à vontade para acrescentar, de maneira livre e opcional, outras informações, vivências e
depoimentos relacionados a este Projeto?
99
ANEXOS
1.Identificação
2.1. Compare o desenvolvimento do seu filho antes e depois de ser beneficiado pelo Projeto?
______________________________________________________________________
2.2. Como é sua relação com as Agentes de Estimulação e a Terapeuta Ocupacional? O que você tem
aprendido com elas?
Agentes:_________________________________________________________
Terapeuta:________________________________________________________
2.3. Quais os cuidados e exercícios de estimulação que você costuma realizar com seu filho em
casa?
Com que periodicidade isso acontece? Utiliza brinquedos e outros recursos?
______________________________________________________________
2.4. Seu marido e outros familiares também colaboram nestas tarefas? De que forma?
______________________________________________________________
2.5. Cite três sugestões de melhoria para o Projeto?
______________________________________________________________
3.1. Com que freqüência você vai às reuniões e capacitações do Projeto? Qual foi o encontro mais
importante que você teve através do Projeto? Por quê?
________________________________________________________________
3.2. Como você avalia sua participação nas atividades do Projeto? O que dificulta sua participação e
o que
você sugere para aumentar o envolvimento das mães no Projeto?
____________________________________________________________________
3.3. O Projeto lhe incentivou a buscar e lutar pelos direitos de encaminhamento e atendimento de seu
filho nas instituições e serviços públicos? Cite dois exemplos:
____________________________________________________________________
3.4. O Projeto fortaleceu seu papel como cidadã e melhorou suas relações comunitárias? Por quê?
____________________________________________________________________
100
ANEXO II – Ficha de anamnese
ANEXOS
101
ANEXOS
102
ANEXO III – Teste do desenvolvimento de Denver
ANEXOS
103
ANEXO IV – Quadro de metas mensais
ANEXOS
104
ANEXOS
105
ANEXO V – Formulário de relatório mensal
ANEXOS
106
ANEXOS
107
ANEXO VI – Quadro de objetivos operacionais
ANEXOS
108
ANEXOS
QUADRO DE ACOMPANHAMENTO DAS AÇÕES DO PROJETO ESTIMULAÇÃO
Responsável
Mensal 0
Mensal 0
Mensal 0
Mensal
Mensal
Mensal
Data Março Junho Setembro Dezembro
Periodo Acomp.
% Realizado % Realizado % Realizado % Realizado % Realizado
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Mensal
Semestral
Mensal
Semestral
109
ANEXO VII – Controle de compra de medicamentos
ANEXOS
110
ANEXO VIII –Diário de bordo
ANEXOS
1.O que aconteceu?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
2.Como aconteceu?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
5.Quais os aprendizados?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
6.Quais os desafios?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
111
13. Resumo
RESUMO
Público: crianças, na faixa etária de 06 meses a 06 anos, que apresentam atrasos no desenvol-
vimento neuropsicomotor, sócio-afetivo e necessidades especiais, residentes em bairros de baixo
índice de desenvolvimento humano (IDH) de Fortaleza.
112
14. Fotos
registro FOTOgráfico
Estrutura física da sala de estimulação
Avaliação
113
registro FOTOgráfico
114
registro FOTOgráfico
Exercício dirigido - Empurrar e andar
115
registro FOTOgráfico
116
registro FOTOgráfico
Atendimento em grupos - Pintura
117
registro FOTOgráfico
Atividade sócio-recreativa
118
registro FOTOgráfico
Atividade sócio-recreativa
Tenda de leitura
119
registro FOTOgráfico
Pesagem
Hora do lanche
120
registro FOTOgráfico
Higiene Corporal
Saúde Bucal
121
registro FOTOgráfico
Festividade - Carnaval
122
registro FOTOgráfico
Passeio
Visita Domiciliar
123
registro FOTOgráfico
124