Sobre A Definição de Medicina
Sobre A Definição de Medicina
Sobre A Definição de Medicina
A Medicina tem sido definida deste a Antigüidade como ciência e arte de curar. Bem
mais recentemente, houve quem bem a definisse assim tecnificada: a medicina se
constitui em um conjunto de práticas e tecnologias de intervenção profissional,
tecnica e humanitária, as quais objetivam determinar uma alteração sobre o
organismo e a vida humana em direção a uma condição de maior bem-estar do ser
e da coletividade. 1
Entre estas e depois da última destas definições, muitas outras emergiram, em tal
número que não é exeqüível considerá-las todas neste estudo. Aqui se busca uma
síntese de algumas definições de Medicina, pelo menos das mais significativas e
comuns.
Da definição nominal (da palavra Medicina) e de sua definição real (da coisa real, da
profissão denominada Medicina, elemento da realidade social). É bem possível
definir a Medicina como a profissão cujos agentes se dedicam ao estudo e à
intervenção, a relação humanitária e técnica no campo da saúde, das enfermidades
humanas e do cuidado dos enfermos; especifica e especialmente no que respeita
aos atos privativamente médicos: o diagnóstico daquelas enfermidades e a
indicação terapêutica necessitada por aqueles enfermos e os demais
procedimentos decorrentes ou dependentes destes. Os atos profissionais que
implicam em fomento e promoção da saúde, profilaxia das enfermidades e
reabilitação dos enfermos podem ser compartilhados com agentes de outras
profissões, nos casos em que a lei assim determinar.
Ou, mais resumidamente.
Medicina é a profissão técnica e humanitária cujos agentes, os médicos, são
incumbidos privativamente do diagnóstico das enfermidades e do tratamento dos
enfermos e todos os demais atos profissionais decorrentes destes. Cabe-lhes,
adicionalmente e como práxis profissional compartilhada, a participação em
programas e procedimentos de promoção da saúde, profilaxia das enfermidades e
reabilitação dos casos de invalidez. Devendo-se destacar a primazia da relação
humanitária e ética dessa relação especial entre o enfermo e que o ajuda.
O traço característico mais essencial de uma profissão é sua
institucionalização pela lei. Pois, é na institucionalização legal que se
formalizam as demais exigências de profissionalidade. E tal
institucionalização de faz por meio de uma medida legal que deve ser
iniciada com a definição jurídica do objeto da ocupação profissionalizada
e seu campo de intervenção e se complete na determinação do campo de
atuação privativa de seus agentes, os profissionais que a realizam.
Questão preliminar importante consiste em estabelecer a “propriedade” da
Medicina. Não como prerrogativa profissional ou a quem ela pertence, pois, embora
a profissão Médica seja praticada, desenvolvida, organizada e controlada pelos
médicos, além instituída e fiscalizada pelo Estado, ela não pertence nem a este
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João de Almeida Bilolchini in DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.2 n.5
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nem àquele, pertence à sociedade toda. Como acontece com os profissionais de
todas as profissões. Nem os conhecimentos científicos que são praticados
profissionalmente podem ser propriedade de qualquer pessoa ou entidade social,
todo conhecimento científico é (ou deve ser) propriedade pública. Contudo, a
questão social aqui não se situa no campo do saber, é o fazer que interessa e o
fazer no mercado de trabalho. Entretanto, como sucede a todas as profissões, a
Medicina só pode ser legalmente exercitada por pessoas com capacitação
acadêmica e habilitação legal.
O conhecimento médico e a tecnologia que gera integram o patrimônio cultural da
humanidade. Mais que qualquer outro conhecimento, o saber médico é e deve ser
universal e comum a toda humanidade. A Medicina é uma atividade da humanidade
e deve existir e funcionar a seu serviço. Daí a necessidade de sua marca
essencialmente altruísta. Sempre que os interesses dos médicos ou do poder
estatal conflitarem com os interesses da humanidade e os direitos humanos, os
médicos devem escolher seu destino fundamental, optar pela humanidade e a
defesa dos direitos humanos e da felicidade dos seres humanos.
Embora os procedimentos profissionais da Medicina devam ser praticados
unicamente por quem esteja capacitado e habilitado para exercê-los, tais
procedimentos devem estar ao alcance de todos os que necessitem deles e não
apenas para os que podem pagar para recebê-los. Este objetivo humanitário deve
ser perseguido por todos, ainda que jamais (ou ainda não) tenha sido alcançado por
qualquer sociedade, este objetivo deve continuar a ser buscado e fomentado ao
menos pelos médicos. A Medicina deve ser uma atividade a serviço da humanidade,
pois esta é a mais valiosa de suas tradições e de seu compromisso social e ético de
seus agentes – os médicos.
Este é o motivo pelo qual, os médicos não podem nem devem exercer
seu mister guiados por preconceitos. Não apenas os preconceitos maiores
– de cor, etnia, idade, nacionalidade, gênero e os outros definidos em lei,
- mas também os menores como simpatia, interesse profissional ou
identidade.
Também deve-se ter presente que a Medicina não deve ser confundida com a
assistência médica em sentido amplo, embora o conceito de medicina
freqüentemente assuma esta significação adicional, principalmente porque a
atividade do médico costuma ser a práxis axial desta modalidade de política
pública sanitária. A assistência médica, embora se desenvolva à volta do trabalho
médico envolve outras profissões e outros profissionais além dos médicos que
devem prestar assistência aos pacientes em colaboração com os médicos, posto
que todos integram as equipes assistenciais. E cada um deve ter seu papel nela
Essa ampliação do universo profissional que deixou de incluir apenas médicos
reunidos em equipes multi-disciplinares (porque compostos por uma pluralidades de
disciplinas médicas) deu lugar a equipes multi-profissionais (porque compostas por
agentes profissionia de diferentes profissões). De fato, as equipes multi-
disciplinares reúnem agentes de disciplinas diferentes de uma mesma profissão,
enquanto as multi-profissionais, reúnem agentes de profissões diferentes.
Nas atividades de ensino e estudo científico, pode-se falar em equipes
multidisciplinares para mencionar atividade pessoas que integram diferentes
disciplinas acadêmicas ou científicas. Contudo, embora muitas profissões tenham
nomes idênticos às ciências ou às disciplinas acadêmicas que as fundamentam,
constituem atividades sociais qualitativamente muito diferentes. Tão diversas que
não devem ser confunfidas por que age preocupado com a correçao.
2
Aplicação de conhecimento refletido e experimentado .
3
Aplicação de conhecimento cientificamente verificado para realizar uma tarefa pratica e
util.
para os mais complexos, das elaborações mais imediatas para as mais distantes, do
ignorado para o sabido.
A busca de construir uma boa definição da Medicina é o marco inicial deste
trabalho. Responder o quê é deve ser a principal tarefa de quem começa a estudar
algum objeto de estudo ou de intervenção. Pois, isto responde lógica e
necessariamente à pergunta do tipo: o que é isto? O que é aquilo? Neste caso, a
pergunta é o que é a Medicina? Qual o traço essencial mais importante que pode
ser identificado na atividade do médico? Neste sentido, a Medicina será uma arte,
uma ciência, um trabalho, um saber, um conhecimento especializado ou um fazer,
um fazer sabido e autorizado? Ser uma relação comercial de produção e consumo
de um bem ou serviço? Ou será um encontro intersubjetivo e altruísta de ajuda a
uma pessoa enferma? Uma atividade social de ajuda aos doentes? Afinal, o que é a
Medicina? Volta a pergunta cuja resposta compõe o núcleo deste capítulo. A
resposta à pergunta “o que é a Medicina?“ encerra uma das mais importantes
questões postas diante dos médicos e dos estudantes de Medicina e de todos os
que se ocupam com os problemas sanitários da sociedade e com a identidade da
Medicina. Afinal, parece muito estranho que alguém faça algo sem saber o que faz.
Principalmente nos dias atuais, quando esta matéria deixou de ser considerada no
currículo de muitos cursos médicos.